Protocolo Aleita Materno
Protocolo Aleita Materno
Protocolo Aleita Materno
ALEITAMENTO MATERNO
Gestão 2020
Formatação: Revisão:
Andréia Heloisa Costa da Cruz – DEMISP - Mirela Módolo Martins do Val – Equipe técnica
EERP - USP DAB
Thatiane Dellatorre – Equipe técnica DAB
Suraia Zaki Sammour Vigarani – Diretora DASP
PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO
Secretaria Municipal da Saúde
Departamento de Atenção à Saúde das Pessoas
Programa de Aleitamento Materno
PROTOCOLO E DIRETRIZES DE ATENDIMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO
Sumário
Apresentação do Programa...................................................................................... 9
I Introdução .............................................................................................................. 11
I.1 Benefícios do aleitamento materno ............................................................................. 11
I.2 Promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno.................................................. 12
I.3 Definições e duração do aleitamento materno ............................................................. 16
I.4 Indicadores de aleitamento materno em Ribeirão Preto .............................................. 17
I.5 Objetivos do Programa de Aleitamento Materno ......................................................... 19
I.5.1 Geral ..................................................................................................................... 19
I.5.1.1 Específicos ..................................................................................................... 19
Referências .............................................................................................................. 97
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I Introdução
O Aleitamento Materno exclusivo tem sido apontado por diversos estudos como
prática favorável à saúde materno-infantil, com destaque para as crianças, principalmente em
países em desenvolvimento (JIMENEZ et al., 2017).
O leite materno demonstra a sua superioridade em relação ao leite de outras
espécies na alimentação até os dois anos de idade da criança, fato evidenciado por inúmeros
estudos científicos (DEL CASTANHEL; DELZIOVO; ARAÚJO, 2016). Deste modo, tratamos
de um processo de profunda interação entre mãe e filho, com repercussão física, cognitiva,
nutricional, emocional, refletindo na saúde física e psíquica materna (BRASIL, 2015).
Mediante inúmeros benefícios apontados, incluindo esforços de organismos
nacionais e internacionais visando proteger o Aleitamento Materno, ainda observa-se
prevalências deste no Brasil inferiores ao desejado; fato que fortalece a necessidade de
profissionais de saúde proativos, que estejam engajados neste movimento para o sucesso da
amamentação. Destarte, tais profissionais precisam de olhar abrangente, atento à mulher
como protagonista deste processo; figura carente de rede de apoio tanto no contexto familiar,
social, cultural, com necessidade de valorização, escuta profissional e empoderamento
(BRASIL, 2015).
Dentre as evidências apontadas pela literatura envolvendo os benefícios do
Aleitamento Materno, encontra-se que este é capaz de evitar mortes infantis, doenças
diarreicas, infecção respiratória, diminuir o risco de alergias, de hipertensão arterial, colesterol
alto e diabetes; reduzir a chance de obesidade; estabelecer melhor nutrição; promover efeito
positivo na inteligência, melhor desenvolvimento da cavidade bucal. para a mulher, o
aleitamento materno pode proteger contra câncer de mama, de ovário, e útero, com a
possibilidade de evitar nova gravidez, além de proteger contra o diabete tipo 2. No caso da
família, observa-se menores custos financeiros, promoção do vínculo afetivo entre mãe e filho
e melhor qualidade de vida (BRASIL, 2015; DEL CASTANHEL; DELZIOVO; ARAÚJO, 2016).
O leite materno possui inúmeros fatores capazes de proteger contra infecções,
colaborando efetivamente com a redução da mortalidade infantil entre crianças amamentadas
(BRASIL, 2015). Informação confirmada pelo estudo de Victora et al. (2016), publicado
internacionalmente, mostra que 13% das mortes entre menores de 2 anos de idade em
aleitamento materno podem ser evitadas.
11
Introdução
12
Introdução
A figura a seguir ilustra, por meio de uma linha do tempo, marcos históricos de
relevância em prol da amamentação no país (BRASIL, 2017a).
13
Introdução
14
Introdução
15
Introdução
maternidade para 180 dias para as servidoras municipais, que também contam com o horário
para amamentação na jornada diária de trabalho até que a criança complete 12 meses de
idade. Cabe ressaltar a legislação municipal que protege a mãe que amamenta em público e
a parceria do Programa com a Vigilância Sanitária para o cumprimento da NBCAL (Norma
Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes), esta, será mais detalhada
adiante.
Outra estratégia utilizada é a implantação das Salas de Apoio à amamentação, que
ocorre com apoio técnico do PALMA e vem procurando incentivar a expansão desta ação para
o maior número de setores possível.
No quesito apoio ao AM, o Programa se destaca pela disponibilização de material
educativo a todas as Unidades, que devem oferecer à população; além disso participa de
atividades em grupo e de atendimentos individuais quando acionado pelas equipes das
Unidades de Saúde.
Por fim, o município conta com a assessoria do Comitê de Aleitamento Materno e
Alimentação Complementar Saudável como importante apoiador da implementação das
ações de promoção, proteção e apoio ao AM; este é de responsabilidade do PALMA, que
também colabora com o Comitê Municipal de Prevenção de Mortalidade Materno-Infantil
visando melhorar estes indicadores em Ribeirão Preto.
16
Introdução
▪ Aleitamento materno (AM) – quando a criança recebe leite materno (direto da mama ou
ordenhado), independentemente de receber ou não outros alimentos.
▪ Aleitamento materno complementado (AMC) – quando a criança recebe, além do leite
materno, qualquer alimento sólido ou semissólido com a finalidade de complementá-lo, e
não de substituí-lo.
▪ Aleitamento materno misto ou parcial (AMM) – quando a criança recebe leite materno
e outros tipos de leite.
A OMS, endossada pelo Ministério da Saúde do Brasil, recomenda que a criança seja
amamentada já na primeira hora de vida e continue por dois anos ou mais, sendo exclusivo
nos primeiros seis meses. Não há vantagens em se iniciar os alimentos complementares antes
dos seis meses, podendo, inclusive, haver prejuízos à saúde da criança.
No segundo ano de vida, o leite materno continua sendo importante fonte de
nutrientes. Estima-se que dois copos (500 ml) de leite materno no segundo ano de vida
fornecem 95% das necessidades de vitamina C, 45% das de vitamina A, 38% das de proteína
e 31% do total de energia. Além disso, o leite materno continua protegendo contra doenças
infecciosas.
17
Introdução
I.5.1 Geral
O PALMA tem por objetivo geral incentivar, promover, proteger e apoiar a prática do
Aleitamento Materno (AM) no município de Ribeirão Preto - SP, bem como a prática da
alimentação complementar saudável para menores de 2 anos de idade, visando a redução da
morbimortalidade infantil e a qualificação da assistência à mulher, ao seu filho e à sua família
com relação ao AM.
I.5.1.1 Específicos
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II Articulação do PALMA com a rede de serviços municipais
e intersetoriais
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Articulação do PALMA com a rede de serviços municipais e intersetoriais
Comitê de Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável
O PALMA atua em parceria com diversos setores do município, fato que aliado à
necessidade de qualificação da assistência, de aperfeiçoamento das ações de promoção, de
proteção e de apoio do AM e AC e da articulação de políticas de saúde possibilitou a criação,
em 2014, do Comitê Municipal de Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável
(Diário Oficial do Município - Decreto 106 de 08/05/2014), cuja presidência é de
responsabilidade da Coordenação deste Programa.
Este Comitê é interinstitucional e multiprofissional de caráter eminentemente
educativo, ético, técnico, informativo, normativo, mobilizador e de assessoria, congregado por
instituições governamentais, privadas e da sociedade civil organizada.
As atividades desenvolvidas pelo Comitê envolvem reuniões mensais em diversos
setores do município, participação nos eventos comemorativos da SMAM, discussões técnicas
de questões relacionadas ao AM e a alimentação complementar (AC), indicadores, auxílio na
elaboração da política municipal de Aleitamento Materno e Alimentação Complementar, e no
diagnóstico situacional do AM e AC no município além da proposição de estratégias e metas
para melhoria dos indicadores.
Além deste Comitê, o PALMA possui representação no Comitê de Investigação de
Mortalidade Materno-Infantil, contribuindo com as políticas de saúde direcionadas à redução
das mortes evitáveis, por meio de discussões que permitem compreender as circunstâncias de
ocorrência dos óbitos e identificação dos fatores de risco relacionados.
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Articulação do PALMA com a rede de serviços municipais e intersetoriais
Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil
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Articulação do PALMA com a rede de serviços municipais e intersetoriais
Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil
1674
649
325
264
202
111 89 66
1 34 3 15 11 8 24 4
Oficinas Profissionais
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Articulação do PALMA com a rede de serviços municipais e intersetoriais
Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil
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Articulação do PALMA com a rede de serviços municipais e intersetoriais
Responsabilidades institucionais
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Articulação do PALMA com a rede de serviços municipais e intersetoriais
Responsabilidades institucionais
- continuação -
ESFERA DE
COMPONENTE COMPETÊNCIA
COMPETÊNCIA
PROTEÇÃO LEGAL À Municipal Propor leis relacionadas à proteção do AM; divulgar
AMAMENTAÇÃO as legislações vigentes, promover a vigilância,
aplicação e fiscalização do cumprimento das leis;
promover condições que garantam o direito da
mulher de amamentar e de manter a amamentação
após o retorno ao trabalho no âmbito do seu
território.
Unidades de Divulgar as legislações vigentes, promover a
Saúde vigilância do cumprimento das leis no âmbito do seu
território.
Municipal Instituir e coordenar Estratégia Amamenta e
Alimenta Brasil no âmbito municipal; indicar tutores
ESTRATÉGIA AMAMENTA E
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Articulação do PALMA com a rede de serviços municipais e intersetoriais
Responsabilidades institucionais
- conclusão -
ESFERA DE
COMPONENTE COMPETÊNCIA
COMPETÊNCIA
Municipal Apoiar o Banco de Leite Humano e postos de coleta
BANCOS DE LEITE
do município.
Unidades de Organizar a sala de apoio à amamentação na
HUMANO
do município.
Unidades de Organizar a sala de apoio à amamentação na
HUMANO
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Articulação do PALMA com a rede de serviços municipais e intersetoriais
Atribuições dos profissionais
▪ Orientar quanto o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês e complementado até 2
anos de idade ou mais;
▪ Incentivar a alimentação complementar saudável para as crianças menores de 2 anos de
idade;
▪ Acompanhar se a gestante está indo às consultas de pré-natal;
▪ Realizar a busca ativa da gestante faltosa às consultas de pré-natal;
▪ Orientar quanto à amamentação (desde o pré-natal até o puerpério) – abordar os
benefícios e vantagens da amamentação, técnica correta, posição da mãe e do bebê,
doação de leite humano, armazenamento de leite e retorno ao trabalho; informar a gestante
e puérpera que o tipo de mamilo não impede a amamentação, pois para fazer uma boa
pega o bebê tem que abocanhar uma parte maior da mama (aréola), e não somente o
mamilo; contraindicar o uso de chupetas, bicos artificiais e mamadeiras;
▪ Envolver a família nas orientações;
▪ Estimular a mãe a amamentar o bebê, caso não haja contraindicação;
▪ Identificar mulheres com dificuldade na amamentação e encaminhar para atendimento na
Unidade de Saúde;
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Articulação do PALMA com a rede de serviços municipais e intersetoriais
Atribuições dos profissionais
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Articulação do PALMA com a rede de serviços municipais e intersetoriais
Atribuições dos profissionais
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Articulação do PALMA com a rede de serviços municipais e intersetoriais
Atribuições dos profissionais
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Articulação do PALMA com a rede de serviços municipais e intersetoriais
Atribuições dos profissionais
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Articulação do PALMA com a rede de serviços municipais e intersetoriais
Atribuições dos profissionais
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Articulação do PALMA com a rede de serviços municipais e intersetoriais
Atribuições dos profissionais
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III Protocolos Clínicos
Aréola
Aréola
Mamilo
Mamilo
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Protocolos Clínicos
Anatomia e fisiologia do Aleitamento Materno
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Protocolos Clínicos
Anatomia e fisiologia do Aleitamento Materno
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Protocolos Clínicos
Composição do Leite Humano
Todo leite materno é adequado, possuindo calorias, gorduras, proteínas, vitaminas, água
e outros nutrientes essenciais na dose certa para o crescimento e desenvolvimento adequado
das crianças (BRASIL, 2019). Além das vantagens nutricionais e imunológicas, o aleitamento
materno também possui benefícios econômicos, pois o consumidor recebe gratuitamente,
evitando gastos adicionais com compras de mamadeiras, fórmulas lácteas e não há desperdícios
(ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2004).
A quantidade de leite que a mulher produz depende principalmente de quanto leite está
sendo consumido pela criança e/ou sendo retirado da mama, no caso da ordenha mamária.
Portanto, quanto maior o consumo e/ou retirada de leite, mais leite a mulher irá produzir. Cabe
pontuar que, durante uma mamada apenas parte do leite está guardado no peito, sendo assim, a
maior parte é produzida enquanto a criança está sugando (BRASIL, 2019).
Em geral, do terceiro ao quinto dia após o parto costuma ocorrer a “descida do leite”, ou
apojadura, caracterizada pelo aumento das mamas e a mulher, então, passa a produzir mais leite
(BRASIL, 2019).
O leite dos primeiros dias da amamentação é chamado de colostro, especialmente
produzido para os bebês nessa fase. Sua composição é caracterizada por significativa presença
de proteínas, anticorpos e outras substâncias que ajudam a criança na proteção contra doenças
(BRASIL, 2019) e com menor presença de gorduras quando comparado ao leite maduro, ou seja,
o leite secretado a partir do sétimo ao décimo dia pós-parto (BRASIL, 2015).
A cor e a composição do leite podem variar dependendo da dieta da mãe e, também, do
momento da mamada, porém todo leite materno é de boa qualidade, independente do seu aspecto.
Cabe pontuar que, apesar da composição do leite ser semelhante para todas as mulheres,
pequenas variações ocorrem para adaptar o leite a necessidades específicas, como no caso das
mães de crianças prematuras (BRASIL, 2019).
O primeiro leite que sai, durante a mamada, pode parecer “ralo” ou “fraco” por ser mais
transparente, porém é rico em água e anticorpos, sendo importante para hidratação e proteção
da criança, respectivamente. Em seguida, sua aparência se torna mais esbranquiçada ou
amarelada, por conter mais gordura, trazendo a sensação de saciedade à criança (BRASIL,
2019), sendo chamado de leite posterior (BRASIL, 2015). Portanto, ressalta-se a importância de
a criança mamar bastante em uma mama, antes de ser ofertada outra.
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Protocolos Clínicos
Habilidades de ouvir e aprender
Sabemos que o processo da maternidade envolve não apenas gestar, parir, mas
principalmente cuidar do filho, além de gerar mudanças que exigem da mulher uma adaptação
a essa nova condição de vida, seja esta primípara ou não.
A amamentação é um dos fenômenos contidos nessa condição de vida, vinculado a
esse processo de adaptação que envolve várias esferas de seu mundo.
Silva (1997) revela que o ato de amamentar é um processo que se expande além da
interação mãe-filho, expande-se nas demais interações da vida materna, determinado pela
percepção que a mulher tem de si, do ato de amamentar e das implicações que este tem em
sua vida, nas relações das esferas familiar e social, nas dimensões de suas emoções e de
seu corpo.
Nesse sentido, surge a responsabilidade do profissional em procurar participar dessa
vivência, mostrando-se disponível a compartilhar das inúmeras situações que envolvem a
experiência de amamentar da mulher com o intuito de ajudá-la. Para isso, mostra-se
necessária a compreensão da nutriz em todas as suas dimensões, ou seja, nas diversas faces
de sua totalidade feminina e como ser humano.
O fato de cuidar da criança, logo após o nascimento, pode deixar a mulher ansiosa,
principalmente no que se refere a problemas com a amamentação, problemas estes, que
devem ser trabalhados por todo profissional envolvido em sua assistência e a do seu recém-
nascido.
À medida que a mulher encontra soluções para os problemas iniciais, outros podem
surgir durante o processo da amamentação, concomitante ao desenvolvimento da criança e
às novas situações vivenciadas por ela.
Além da influência da amamentação na saúde da mulher, em que esta avalia os
desconfortos causados por problemas com as mamas, ou pelo cansaço e desgaste físico e
emocionais, também avalia a amamentação quanto às suas restrições no desempenho de
suas atividades domésticas e profissionais, acarretando limitações de sua liberdade, lazer,
enfim, riscos para sua individualidade e bem estar. Muitas vezes, esses sentimentos são
encobertos, ou não revelados pela mulher e influenciam implicitamente o curso da
amamentação, já que não são expressos claramente (BRASIL, 2016).
Desta forma, é necessário que a mulher seja assistida continuamente por
profissionais que estejam dispostos a ajudá-la e apoiá-la nas mais diversas situações com as
quais ela está sujeita a deparar-se. Assim, podemos usar de habilidades desenvolvidas a
partir de conhecimentos sobre comunicação para ajudar uma pessoa que se encontra em
tensão temporária a procurar soluções para seus problemas. Para tal, é necessário entendê-
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Protocolos Clínicos
Proteção Legal do Aleitamento Materno
la procurando “entender seu mundo”, ou seja, procurando saber o que está além do que ela
nos possa dizer, pois nem sempre o problema real é verbalizado por ela, mas pode ser
percebido pelo profissional. Para isso é necessário que saibamos nos interagir com esta
pessoa, procurando abordá-la de forma que propiciemos um relacionamento terapêutico com
a mesma.
As “Habilidades de ouvir e aprender” contidas no curso de “Aconselhamento em
alimentação de lactentes e crianças na primeira infância” da Organização Mundial da Saúde
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2006) podem ser consideradas como técnicas de
comunicação terapêutica, pois orientam o profissional a fazer uso da comunicação verbal e
não verbal com o objetivo de identificar e compreender as situações que envolvem o processo
de amamentar da mulher.
No geral, as habilidades de ouvir e aprender são técnicas que facilitam a coleta de
dados objetivos e subjetivos em pouco tempo, além de despertar na mulher a confiança no
profissional que procura ajudá-la.
Usando essas habilidades, os profissionais podem detectar situações e problemas
que nem sempre estão explícitos no discurso da nutriz, ou por esta não conseguir percebê-
los ou mesmo por omiti-los, revelando outros problemas que, na verdade não são os que
realmente justificam seu estado emocional. Para que isso aconteça é necessário estarmos
disponíveis, ou seja, ao querermos ouvir esta mulher, devemos “ouvi-la sensivelmente”.
Nesse contexto, percebe-se a necessidade de os profissionais de saúde se tornarem
fonte de apoio e agentes na prática da atenção à mulher que amamenta, não se limitando ao
desempenho de ações prescritivas, impositivas e de supervisão (LACERDA; MAIA, 2009;
SILVA et al., 2009). O profissional de saúde deve desenvolver competência para uma
comunicação eficiente com a mãe a fim de ajudá-la na tomada de decisão, ouvi-la
demonstrando interesse, sem julgamentos ou imposições (LACERDA; MAIA, 2009;
STEFANELLI; CARVALHO, 2012), além de proporcionar informações relativas ao cuidado ao
bebê de maneira contínua, considerando as necessidades singulares de cada nutriz.
O grande desafio é a equipe de saúde estabelecer um vínculo com a mãe, sua família
e essa rede de apoio que se constitui a seu redor, e manter um canal de confiança para que
se estabeleça um relacionamento terapêutico que a auxilie no cuidado do filho e,
consequentemente, na amamentação (TOMELERI; MARCON, 2009).
Assim, podemos acreditar que se o profissional se dispuser a realmente ouvir a
mulher, usando de sensibilidade, promoverá uma relação terapêutica na qual poderá trabalhar
com ela procurando medidas para solucionar seus problemas que envolvem a amamentação.
Dessa, forma facilitará que a mulher deposite confiança em quem a assiste.
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Protocolos Clínicos
Proteção Legal do Aleitamento Materno
Além de um período de adaptação no qual a mulher passa a assumir papéis que até
então não havia vivenciado anteriormente, seja ela primípara ou multípara, o puerpério
representa para ela muitas vezes, uma fase na qual ela é menos notada pelos familiares e
amigos, sentindo dessa forma que todo carinho e preocupação demonstrados por eles
durante a gestação, já não mais existe para ela e estão agora direcionados para a criança.
Enquanto gestante, todos voltam-se exclusivamente para a mulher. As pessoas que
fazem parte do seu mundo, mostram-se sempre preocupadas com ela, auxiliam-na em suas
tarefas e geralmente demonstram considerá-la como alguém muito importante que “está em
estado de Graça” e precisa ser muito bem tratada.
Após o nascimento do bebê, a atenção que até então recebia de todos, passa a ser
voltada prioritariamente à criança.
Dessa forma, além de vivenciar um novo momento, que frequentemente se
caracteriza por um estado depressivo, sua autoestima torna-se prejudicada, passando a
confiar cada vez menos em si. É nesse momento que as pessoas que convivem com a mulher
e principalmente os profissionais precisam trabalhar com ela no sentido de aumentar sua
confiança e autoestima.
Porém, não é só no puerpério que a nutriz precisa ser estimulada a desenvolver sua
autoestima. É necessário que a mesma acredite em suas capacidades durante todo o período
em que for amamentar seu filho, pois sabemos que há também elevados índices de desmame
após o terceiro mês do nascimento do bebê, pois é nessa fase que a mulher precisa criar
alternativas para que possa voltar a trabalhar, ou retomar outras atividades, resultando no
desmame. Nesse sentido, observa-se, quanto os fatores sociais envolvem as decisões da
nutriz acerca da amamentação.
O enfrentamento de dificuldades não esperadas dos conflitos e ambivalências,
acarretam sentimentos de ansiedade e culpas nas mães. A mulher exposta a estados de
ansiedade, estresse de qualquer ordem, está sujeita a interferências em sua dimensão
biológica, alterando os reflexos de produção e ejeção do leite e ao menor sinal interpretado
pela mãe, de que a criança não está sendo alimentada adequadamente, pode resultar em
avaliação negativa sobre a qualidade do leite que produz, implicando em uma reavaliação da
sua capacidade para amamentar, que gera ações para solucionar o problema identificado,
geralmente induzindo o desmame precoce (SILVA et al., 2009).
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Protocolos Clínicos
Proteção Legal do Aleitamento Materno
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Protocolos Clínicos
Proteção Legal do Aleitamento Materno
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Protocolos Clínicos
Proteção Legal do Aleitamento Materno
dos Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância). A composição desses três
documentos é conhecida como a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para
Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras – NBCAL.
O objetivo da NBCAL é contribuir para a adequada nutrição de lactentes e crianças
de primeira infância, protegendo o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade e
continuado por dois anos ou mais por meio da regulamentação da promoção comercial e
orientações de uso apropriado dos alimentos infantis, bem como o uso de bicos, chupetas e
mamadeiras.
Em janeiro de 2006 a NBCAL foi elevada ao status da Lei 11.265/06, representando
importante avanço, exigindo, porém, necessidade de uma regulamentação para a efetiva
aplicação de seus dispositivos, conforme disposto em seu artigo 2914.
As pesquisas apontam que estratégias de marketing empregadas pelos fabricantes
de alimentos destinados a bebês e crianças de primeira infância com a finalidade de ampliar
suas vendas e lucros, influenciam as decisões das famílias, com tendência à adoção de
produtos que são prejudiciais à saúde.
Nesse sentido, o Código Internacional e a NBCAL são instrumentos imprescindíveis
para a manutenção de um ambiente em que as famílias possam de fato fazer as melhores
escolhas para uma alimentação saudável das crianças desde o início da vida. A experiência
brasileira, assim como de alguns países, ilustra a relevância da sociedade civil no
enfrentamento de questões que envolvem interesses econômicos (BRASIL, 2015).
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Protocolos Clínicos
Proteção Legal do Aleitamento Materno
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Protocolos Clínicos
Proteção Legal do Aleitamento Materno
CLT (artigo 389 – As empresas com mais de 30 mulheres devem ter local
parágrafos 1º e 2º) apropriado para alojar bebês durante o período de
PROTEÇÃO LEGAL À AMAMENTAÇÃO
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Protocolos Clínicos
Proteção Legal do Aleitamento Materno
- conclusão -
COMPONENTE DOCUMENTO OBJETO DE INTERESSE
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Protocolos Clínicos
Manejo Clínico das principais dificuldades e intercorrências mamárias
Toda intercorrência e / ou dificuldade no Aleitamento Materno deve ser acompanhada pelos profissionais da Atenção
Básica em saúde, uma vez que possuem recursos adequados para a assistência, além de competências e habilidades necessárias
para atendimento qualificado e para a promoção da amamentação. Deste modo, elencamos a seguir as principais ocorrências e
os procedimentos adequados a serem realizados.
Ingurgitamento Mamário Ocorre no início da 1. Inspeção, exame das mamas; 1. Uso de compressas quentes ou
lactação ou no 2. Se RN estiver presente colocá-lo para mamar; banho quente
processo de desmame: 3. Orientar a testar a flexibilidade da aréola antes da mamada e
aumento das mamas, caso esteja tensa, proceder a massagem e a ordenha do 2. Uso de gelo
Definição:
presença de dor, complexo mamilo-areolar;
3. Uso de bomba tira leite
Retenção anormal de leite 4. Realizar e ensinar a mãe e acompanhante ordenha manual para
acompanhado de dor à
tensão na região alívio da dor (POP - Técnica de ordenha manual das mamas – 4.Outra criança /companheiro
areolar, presença de ANEXO C); mamar
palpação na mama, podendo
edema. 5. Orientar uso de sutiã com alças largas e firmes;
apresentar hipertermia e
6. Mamadas frequentes em livre demanda;
rubor discreto. Há um
7. Em situações de maior gravidade, realizar compressas com
desequilíbrio entre a oferta água fria de 2 em 2 horas. Importante: o tempo de aplicação
(produção do leite materno) e das compressas frias não deve ultrapassar 20 minutos devido
a procura (sucção pela ao efeito rebote (aumento de fluxo sanguíneo para compensar
criança). a redução da temperatura local) (BRASIL, 2015);
8. Realizar ordenha manual, a cada 2-3 h até que RN consiga
mamar ou, se RN estiver mamando, fazer ordenha de alivio
após as mamadas, se tiver presença de dor nas mamas;
9. Em caso de desmame realizar a ordenha até esvaziamento das
mamas e fazer o enfaixamento;
10. Agendar retorno.
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Protocolos Clínicos
Manejo Clínico das principais dificuldades e intercorrências mamárias
Traumas Mamilares Presença de dor e 1. Inspeção, exame das mamas; 1. Uso de pomadas, óleos e cremes
traumas (fissura, 2. Remover o fator causal; (com exceção da lanolina
escoriação, vesícula, 3. Ensinar pega e posição correta do RN na mama;
erosão, dilaceração) 4. Passar leite materno na região areolar antes e após as purificada);
Definição:
nos mamilos e mamas; mamadas; 2. Uso de casca de banana e outros
Solução de continuidade às vezes, ocorre crosta 5.Oferecer primeiro a mama com mamilo íntegro;
6.Se dor ou sangramento, suspender temporária/e a mamada e produtos;
e/ou alteração do tecido e sangramento nos
mamilar causada, traumas mamilares. realizar ordenha manual; 3. Produtos secativos (violeta
geralmente, por erro na
7.Oferecer leite ordenhado no copinho, em relactação no peito sem
lesões ou finger feeding (POP - Métodos / técnicas para genciana, mertiolate)
aplicação da força da
oferecimento de complemento lácteo ao recém-nascido – 4. Uso de bombas tira-leite;
gengiva do RN no mamilo ANEXO B)
da mãe. 8.Nos casos de fissuras grandes ou outros traumas que causem 5. Tratamento seco das lesões
muita dor e/ou sangramento, deve-se suspender a amamentação mamilares (banho de luz, banho
por 48h a 72h no mamilo traumatizado. Após a suspensão
oferecer a mama comprometida por 5 min. com aumento de sol, secador de cabelo).
gradativo a cada dia.
9.Se a puérpera sair da maternidade com prescrição de lanolina
purificada, deve fazer o uso nos mamilos após as mamadas,
limpar com o próprio leite e, o mais importante, corrigir a pega.
10. Após recuperação do trauma orientar a amamentação em livre
demanda;
11. Avaliar necessidade de analgésico,
12. Agendar retorno.
50
Protocolos Clínicos
Manejo Clínico das principais dificuldades e intercorrências mamárias
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Protocolos Clínicos
Manejo Clínico das principais dificuldades e intercorrências mamárias
Hipogalactia Pode estar relacionada a: 1. Orientar a mãe que a descida do leite costuma ocorrer entre o 2º e 3º dia pós parto, 1.Oferecer mamadeira,
antes disso, a mulher produz em média 40 à 160 ml de colostro nas primeiras 48hs,
- Pega incorreta. chuquinha ou qualquer
quantidade suficiente para saciar a fome do RN (CHAVES et. al. 2008);
2. Orientar que o volume de leite produzido na lactação varia de acordo com a tipo de bico artificial;
Baixa produção de leite – - Mamadas pouco demanda da criança.
ocorre pela ação dos frequentes ou curtas. 3. Observar os sinais do bebê quando há insuficiência de leite: ficar inquieto na mama, 2.Deixar de agendar
peptídeos inibidores da chorar muito, querer mamar com muita frequência e ficar muito tempo no peito nas
lactação, quando a mama - Mamadas seguindo retorno;
mamadas.
não é esvaziada horário rígido.
4. Aumentar a frequência das mamadas;
corretamente, devido a uma 5. Oferecer as duas mamas em cada mamada; 3.Oferecer complemento
- Sucção ineficiente.
série de fatores. 6. Ingerir líquidos em quantidade suficiente, principalmete quando tiver sede (líquidos lácteo sem indicação.
- Ausência de mamadas em excesso não aumentam a produção de leite, podendo até a diminuir);
noturnas. 7. Contraindicar consumo de álcool;
4. Medicamentos
8. Repousar sempre que possível, pois a prolactina tem seu pico de produção durante
- Ingurgitamento o sono profundo; se possível, acionar rede de apoio; alopáticos como
mamário. 9. Massagear a mama durante as mamadas ou ordenhar o leite residual após as metroclopamida (plasil)
mamadas;
- Uso de alimentação 10. Trocar de mama várias vezes em uma mamada, se a criança estiver sonolenta ou deve ser usado com muita
complementar (fórmulas se não sugar vigorosamente; cautela e Sulpirida
infantis) ou de chupetas 11. Evitar o uso de mamadeiras, chupetas e protetores (intermediários) de mamilos;
e protetores de mamilo 12. Consumir dieta balanceada; (equilid) é contraindicado
que podem levar ao 13. Perguntar se mãe tem alguma cirurgia de redução ou proteses na mama . Estas pelo MS.
esvaziamento práticas podem interferir na produção de leite.
inadequado das mamas. Observar:
- Fatores psicológicos – ● Ganho de peso que deve ser maior ou igual a 20g/dia;
estes podem levar a ● Número de micções: no mínimo 6 a 8 vezes ao dia;
práticas pouco eficazes ● Sinais clínicos de desidratação: turgor da pele diminuído, fontanela deprimida, RN
de aleitamento materno. muito irritado, chora muito;
● Melhorar o posicionamento e a pega do bebê, quando não adequados;
- Cansaço, dor e stress ● Dar tempo para o bebê esvaziar bem as mamas;
materno. ● Após a mamada, ordenhar o leite residual;
● Caso estas medidas não tenham êxito, orienta-se realizar a relactação;
● Caso estas medidas não farmacológicas não funcionem pode ser útil o uso de
galactogogos (Medicamentos fitoterápicos como chá da mamãe ou tintura de
algodoeiro; medicamentos homeopáticos como pulsatila, indicados por profissional
treinado e habilitado).
52
Protocolos Clínicos
Manejo Clínico das principais dificuldades e intercorrências mamárias
Fenômeno de Raynaud Sinais e sintomas: os 1. Orientar o uso de compressas mornas exclusivamente no mamilo para o alívio
mamilos ficam pálidos da dor. Porém deve-se avaliar o risco em relação ao ingurgitamento mamário e
inicialmente, em seguida mastite;
podem tornar-se 2. Caso não ocorra melhora do quadro, encaminhar para consulta médica;
Definição: Trata-se de uma 3. Avaliar necessidade de analgésico;
cianóticos e posterior-
isquemia intermitente 4. Evitar uso de drogas vasoconstritoras, como cafeína e nicotina;
mente, avermelhados pelo
causada por vaso espasmo, 5. Estimular RN na mama, não deixá-lo fazer sucção ineficiente (chupetar o mamilo)
déficit de irrigação
que acomete os mamilos. ou dormir no peito;
sanguínea. A mulher refere
Em geral, ocorre em 6. Caso houver piora do quadro, encaminhar para consulta médica para ver
dor antes, durante e após a
resposta à exposição ao necessidade de medicamento conforme protocolo do MS.
mamada em “fisgadas” e
frio, à compressão anormal
em queimação, o que pode
do mamilo na boca da
ser confundido com
criança ou a trauma mamilar
candidíase ou com a ação
importante.
da a ocitocina na descida
do leite.
53
Protocolos Clínicos
Manejo Clínico das principais dificuldades e intercorrências mamárias
Bebê que não suga ou Possíveis causas: 1. Orientar a ordenha manual para estimular a mama, em média 1. Oferecer mamadeira,
tem sucção fraca 5 vezes ao dia;
chuquinha ou qualquer tipo
Presença de dor quando o bebê é 2. Suspender o uso de chupeta ou mamadeira;
posicionado para mamar em determinada 3. Estimular o bebê introduzindo o dedo mínimo na sua boca, de bico artificial;
posição (fratura de clavícula, por com a ponta tocando a junção do palato duro e mole;
exemplo); 4. Mudar a posição da mamada como por exemplo a posição 2. Deixar de agendar retorno;
Pressão na cabeça do bebê ao ser invertida, onde o bebê é apoiado no braço do mesmo lado da
apoiado; mama a ser oferecida, a mão da mãe apoia a cabeça da
criança, e o corpo da criança é mantido na lateral, abaixo da
Não conseguem pegar a aréola
axila;
adequadamente ou não conseguem
5. Se estiver sonolento, estimular enquanto está mamando,
manter a pega; fazendo massagens nos pés ou nas costas e retirando um
Não abre a boca suficientemente; pouco das roupas, para que ele tenha um ligeiro desconforto
Língua presa (anquiloglossia); que o mantenha alerta;
Alguma diferença entre as mamas 6. trocar a fralda do RN e limpar o umbigo antes da mamada,
(mamilos, fluxo de leite, ingurgitamento); para acordá-lo e estimulá-lo;
Mãe com dificuldade para posicioná-lo 7. Agendar retorno do RN na unidade para avaliar ganho de
adequadamente em um dos lados; peso.
Sonolência do bebê ou alguma doença.
Mamilos semi-protrusos, Podem dificultar o início da 1. Promover a confiança e empoderar a mãe; 1. Oferecer mamadeira,
invertidos ou amamentação, mas não necessariamente 2. Ajudar a mãe a favorecer a pega correta; chuquinha ou qualquer tipo
hipertróficos a impedem, pois grande parte dos RNs 3. Tentar diferentes posições para ver em qual delas a mãe e o
fazem o “bico” com a aréola. bebê adaptam-se melhor; de bico artificial;
4. Desestimular o uso de intermediário. O RN deve aprender a
mamar no peito da mãe; 2. Desencorajar a mãe
5. Mostrar à mãe manobras que podem ajudar a aumentar o
mamilo antes das mamadas, com estímulo (toque) do mamilo, quanto à amamentação em
utilização de seringa de 10 ml ou 20 ml adaptada (cortada virtude da anatomia de seus
para eliminar a saída estreita e com o êmbolo inserido na
extremidade cortada); POP – Exame clínico das mamas mamilos.
gravídica e puerperal - ANEXO A
6. Recomenda-se esta técnica antes das mamadas e nos 3. Aleitamento cruzado.
intervalos se assim a mãe o desejar;
7. O mamilo deve ser mantido em sucção por cerca de 30 a 60
segundos ou menos, se houver desconforto;
8. Fazer ordenha e oferecer leite ordenhado (no copinho, por
relactação ou finger feeding enquanto RN não mamar
diretamente no peito.
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Protocolos Clínicos
Manejo Clínico das principais dificuldades e intercorrências mamárias
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Protocolos Clínicos
Manejo Clínico das principais dificuldades e intercorrências mamárias
56
Protocolos Clínicos
Técnicas de amamentação
A seguir estão descritos os elementos para que a mãe se prepare para amamentar
envolvendo aspectos da amamentação tais como: postura, posição, prega, e pega
adequadas:
▪ O preparo para amamentar envolve a higienização das mãos com água e sabão (VINHA,
2000). As mamas não precisam de limpeza antes ou após as mamadas. O banho diário é
suficiente (BRASIL, 2007). A boca do recém-nascido deve ser limpa desde o nascimento,
após cada mamada e/ou refeição, com gaze ou com a ponta de uma fralda de pano ou
outro tecido macio, limpo e umedecido em água filtrada e fervida (CONSELHO REGIONAL
DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO, 2019).
57
Protocolos Clínicos
Técnicas de amamentação
▪ Escolher o local que propicie conforto e tranquilidade para mãe e filho (VINHA, 2000).
▪ As roupas da mãe e do bebê devem estar adequadas, sem restringir movimentos.
Recomenda-se que as mamas estejam completamente expostas, sempre que possível, e
o bebê vestido de maneira que os braços fiquem livres (BRASIL, 2015).
▪ Antes de iniciar a amamentação, verificar se a região areolar está flexível: segurando as
bordas da aréola e fazendo movimentos para os lados, para cima e para baixo (figura 7).
O excesso de leite ao ser eliminado torna a aréola flexível e em condições de ser
abocanhada pelo bebê, dessa forma ele poderá mamar de forma eficiente (VINHA, 2000).
▪ Quando a mama está muito cheia, a região areolar pode estar tensa, endurecida, o que
dificulta a pega. Nessa situação, recomenda-se antes de oferecer o peito ao bebê, retirar
manualmente (ordenhar) um pouco de leite da aréola ingurgitada (figura 8) (BRASIL, 2015;
VINHA, 2000).
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Protocolos Clínicos
Técnicas de amamentação
▪ O bebê deve estar calmo e alerta. Bebês sonolentos ou muito agitados e chorosos não
conseguem mamar. Assim, na hora da mamada é preciso acordá-lo se estiver dormindo
(CARVALHO; GOMES, 2017).
o Alguns estímulos podem ser necessários para que ele acorde: retirar a roupa do bebê,
deixando-o somente com a fralda; movimentar a cabeça e o tronco do bebê para frente
e para trás, mantendo cabeça e pescoço apoiados nas mãos; fazer movimentos
giratórios suaves de 180° alternando um lado, depois o outro, mantendo a cabeça e o
pescoço apoiados nas mãos; amamentar na posição a cavaleiro (bebê sentado), pois
estimula o bebê a ficar alerta; conversar com o bebê antes e durante a mamada,
massageando suas costas, seu peito, pés e axilas; caso ele durma antes de finalizar a
mamada, deve-se retirá-lo do peito e movimentá-lo; trocar ou dar um banho rápido, para
que o bebê acorde (CARVALHO; GOMES, 2017).
o Se o bebê for agitado, é necessário acalmá-lo. O bebê pode estar agitado por vários
fatores. Entre os motivos relacionados com a mãe estão: tabagismo, ingestão excessiva
de cafeína, uso de álcool, ingestão de leite de vaca, uso de medicamentos que
estimulam o sistema nervoso central ou de anticoncepcional combinado. Um fator
relacionado ao bebê é a erupção dos primeiros dentes. Para acalmar o bebê choroso e
agitado: tentar descobrir com a mãe a causa da agitação e ajudá-la a reduzir os efeitos
(por exemplo: reduzir o número de cigarros por dia). Acalentar o bebê: colocá-lo em
posição confortável, conversar com ele calmamente ou cantar canções de ninar; manter
o ambiente calmo e tranquilo; no caso de desconforto gengival, sugerir que a mãe
ofereça um mordedor; orientar a mãe a se acalmar também e caso ela esteja nervosa
com o choro do bebê, orientá-la a delegar o cuidado a outro cuidador até que ela se
acalme e possa amamentar (CARVALHO; GOMES, 2017).
A mãe escolhe a posição que desejar a fim de que tenha conforto e relaxamento,
pode ser deitada, sentada, recostada ou em qualquer outra posição que seja agradável,
familiar e mais adequada ao momento (BRASIL, 2019; CARVALHO; GOMES, 2017).
Todo profissional de saúde que oferece assistência a mães e bebês deve considerar
alguns itens na observação da mamada e na orientação à mãe, independentemente da
posição escolhida pela mãe (BRASIL, 2015):
▪ A mãe deve estar confortavelmente posicionada, relaxada, bem apoiada, não curvada para
trás nem para a frente. O apoio dos pés acima do nível do chão é aconselhável (uma
banqueta pode ser utilizada);
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Protocolos Clínicos
Técnicas de amamentação
▪ O corpo do bebê deve encontrar-se bem próximo ao da mãe, todo voltado para ela (barriga
com barriga);
▪ O corpo e a cabeça do bebê devem estar alinhados (pescoço não torcido);
▪ O braço inferior do bebê deve estar posicionado de maneira que não fique entre o corpo
do bebê e o corpo da mãe;
▪ O corpo do bebê deve estar curvado sobre a mãe, com as nádegas firmemente apoiadas;
▪ O pescoço do bebê deve estar levemente estendido (BRASIL, 2015).
▪ Mãe sentada em uma cadeira, poltrona ou mesmo na cama (figura 10) (CARVALHO;
GOMES, 2017);
▪ Apoiar as costas seja no encosto da poltrona ou da cadeira, em travesseiros ou almofadas
(CARVALHO; GOMES, 2017);
▪ Mãe não ficar curvada para frente nem para trás (CARVALHO; GOMES, 2017);
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Protocolos Clínicos
Técnicas de amamentação
Figura 11 – Mãe na posição sentada, com bebê na sua lateral, na posição invertida.
61
Protocolos Clínicos
Técnicas de amamentação
Legenda: As mãos da mãe podem ficar livres (A) ou podem tocar o bebê (B).
Fonte: Carvalho e Gomes (2017).
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Protocolos Clínicos
Técnicas de amamentação
Essa posição pode ser utilizada para crianças com refluxo gastroesofágico ou com
fissura labial e/ou fenda palatina (CARVALHO; GOMES, 2017):
▪ a mãe fica relaxada e levemente inclinada para frente;
▪ o bebê fica sentado no colo da mãe com as pernas abertas, posicionadas uma de cada
lado da coxa materna;
▪ com uma das mãos a mãe sustenta a cabeça, o pescoço e o tronco do bebê e, com a outra,
apoia a mama com a palma da mão e com os dedos médio, anular e mínimo, pressionando-
a e comprimindo-a para dentro da boca do bebê (CARVALHO; GOMES, 2017).
Para conseguir uma boa pega do bebê, deve-se orientar a mãe a segurar a mama
com uma das mãos, posicionando o polegar bem acima da aréola, e os outros dedos e toda
a palma da mão na região inferior da mama, formando a letra “C” com o polegar e os outros
dedos (figura 14) (CARVALHO; GOMES, 2017). Não se recomenda que a mãe coloque os
dedos em forma de tesoura, pois podem se constituir em obstáculo entre a boca do bebê e a
aréola (BRASIL, 2015).
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Protocolos Clínicos
Técnicas de amamentação
A cabeça do bebê deve estar no mesmo nível da mama, com o nariz na altura do
mamilo (BRASIL, 2015).
É importante que a mãe espere o bebê abrir bem a boca e abaixar a língua antes de
colocá-lo no peito (BRASIL, 2015).
Nesse sentido, existem alguns sinais que indicam que o posicionamento da dupla
mãe-bebê está adequado: rosto do bebê de frente para a mama, com nariz na altura do
mamilo; corpo do bebê próximo ao da mãe; bebê com cabeça e tronco alinhados (pescoço
não torcido) e; bebê bem apoiado (BRASIL, 2015).
Independentemente da posição, o importante é a pega estar adequada (figura 15). A
pega é o encaixe da boca da criança ao peito da mãe para poder iniciar a amamentação
(BRASIL, 2019). Quando o bebê consegue abocanhar a mama de maneira adequada: com
ampla abertura da boca e abocanhando o mamilo e o máximo possível de aréola
(aproximadamente 2 cm além do mamilo), ocorre a formação de vácuo, indispensável para
que o mamilo e aréola permaneçam dentro da boca do bebê, de forma a proteger o mamilo
da fricção e compressão, prevenindo, assim, lesões mamilares. O bebê retira o leite
comprimindo os ductos lactíferos com as gengivas e a língua (BRASIL, 2009; BRASIL, 2015;
CARVALHO; GOMES, 2017).
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Protocolos Clínicos
Técnicas de amamentação
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Protocolos Clínicos
Técnicas de amamentação
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Protocolos Clínicos
Técnicas de amamentação
- conclusão –
Seção C
Pega
( ) visualiza-se mais aréola acima do lábio superior ( ) visualiza-se mais aréola abaixo do lábio
do bebê inferior do bebê
( ) a boca do bebê está bem aberta ( ) a boca do bebê não está bem aberta
( ) o lábio inferior está virado para fora ( ) lábios voltados para a frente ou virados
para dentro
( ) o queixo do bebê toca a mama ( ) o queixo do bebê não toca a mama
Seção D
Sucção
( ) sucções lentas e profundas com pausas ( ) sucções rápidas e superficiais
( ) bebê solta a mama quando termina ( ) mãe tira o bebê da mama
( ) mãe percebe sinais do reflexo da ocitocina ( ) não se percebem sinais do reflexo da
ocitocina
( ) mamas parecem mais leves após a mamada ( ) mamas parecem duras e brilhantes
Fonte: World Health Organization (2004).
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Protocolos Clínicos
Técnicas de amamentação
fortalecer os mamilos durante a gravidez, como esticar os mamilos com os dedos, esfregá-los
com buchas ou toalhas ásperas, tomar sol na região mamilo-areolar e uso de óleos ou cremes,
não são recomendadas, pois na maioria das vezes não funcionam e podem ser prejudiciais,
podendo inclusive induzir o trabalho de parto ou deixar a pele mais sensível e fina (BRASIL,
2015).
O uso de conchas ou sutiãs com um orifício central para alongar os mamilos também
não são eficazes. A maioria dos mamilos curtos apresenta melhora com o avançar da
gravidez, sem nenhum tratamento. Os mamilos costumam ganhar elasticidade durante a
gravidez e o grau de inversão dos mamilos invertidos tende a diminuir em gravidezes
subsequentes. Em mulheres com mamilos semi-protrusos ou invertidos, a intervenção logo
após o nascimento do bebê é mais importante e efetiva que intervenções no período pré-natal.
O uso de sutiã adequado ajuda na sustentação das mamas, pois na gestação elas apresentam
o primeiro aumento de volume. Se ao longo da gravidez a mulher não notou aumento nas
suas mamas, é importante fazer acompanhamento rigoroso do ganho de peso da criança após
o nascimento, pois é possível tratar-se de insuficiência de tecido mamário (BRASIL, 2015).
É papel de toda equipe da unidade de saúde preparar a mulher para o processo de
AM, estabelecer vínculo com ela e familiares para apoiá-la na amamentação no pós parto
imediato. Deve ocorrer a entrega de materiais educativos relacionados ao AM, fazer leitura
gradativa com explicações ou explanações com bonecos, mamas de tecido e outros materiais
didáticos durante o pré-natal.
No puerpério o cuidado deve ser singularizado de acordo com as necessidades da
mulher, de modo que o profissional de saúde possa exercer uma escuta acolhedora, num
ambiente livre de julgamentos e preconceitos. Neste contexto, ressaltamos que a prática do
aleitamento é complexa e multifatorial, uma vez que sofre influência de fatores socioculturais,
econômicos e emocionais além de fatores biológicos (BRASIL, 2016).
71
Protocolos Clínicos
Ordenha, coleta, armazenamento e doação do leite materno
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Protocolos Clínicos
Ordenha, coleta, armazenamento e doação do leite materno
Os exames do pré-natal são verificados e caso não tenham sido realizados, deve ser
coletada amostra de sangue para sua realização. A unidade de saúde pode passar o telefone
para a possível candidata a doação de LH e, esta entra em contato com BLH para receber as
orientações.
É importante ressaltar que o BLH oferece o material para a coleta do leite humano
no caso de doação e é o responsável pelo transporte deste da residência da doadora até o
BLH. O frasco de leite congelado deve ficar no máximo por 10 dias no congelador do domicílio
até ser encaminhado ao Banco de Leite.
O leite pasteurizado congelado tem validade de 6 meses no congelador e, após
degelo, deve ser conservado na geladeira e utilizado em até 24 horas (ALMEIDA, 1998).
No caso de Leite Humano Ordenhado - LHO “cru”, não pasteurizado, da mãe para
seu filho internado, somente deverá ser oferecido quando for coletado no Banco de Leite, sala
de ordenha, ou ordenha beira leito sob supervisão de profissionais no hospital (ALMEIDA,
1998).
O leite que for coletado no domicílio deverá passar obrigatoriamente pelo processo
de pasteurização e controle de qualidade, antes de ser distribuído aos bebês internados.
As mães devem ser orientadas quanto a estes procedimentos e devem receber
material educativo referente à continuidade do aleitamento materno.
73
Protocolos Clínicos
Situações especiais
III.8.1 Prematuridade
74
Protocolos Clínicos
Situações especiais
Como fazer:
▪ Acolher todas as dúvidas, angústias que os pais expressarem e apresentar o cenário da
unidade a eles;
▪ Logo após o parto, ajudar/orientar a mãe a realizar ordenha de estímulo se o bebê não
puder mamar e após passar a apojadura, que geralmente ocorre entre o 3º e 4º dia pós-
parto, orientar a mãe a retirar o leite para ser oferecido pela sonda para o RN, é importante
que essa ordenha seja realizada beira-leito;
▪ Colocar o RN em Método Canguru, que consiste em colocar o bebê apenas de fralda em
posição vertical no colo da mãe e cobrir com a camisola o neonato, o mais rápido possível,
pois o contato pele a pele auxilia na termorregulação, nas normalidades do padrão
respiratório, além de ajudar no seu desenvolvimento e também favorece o aumento da
produção de leite;
▪ Incentivar os pais a visitarem, tocarem e realizarem pequenos cuidados com o RN, assim
que possível, e garantir que a mãe tenha um local adequado para ficar perto do bebê;
▪ Quando a mãe fica com o seu RN na unidade de tratamento intensivo neonatal, seu corpo
pode começar a produzir fatores protetores contra muitos dos vírus aos quais o seu bebê
é exposto na unidade e produz anticorpos que são passados para o mesmo pelo
aleitamento materno;
▪ Se o RN está sendo alimentado por sonda, estimular a mãe a realizar a ordenha beira leito
e oferecer seu leite pela sonda para o seu bebê;
▪ Colocar o bebê em Método Canguru enquanto recebe alimentação por sonda para associar
a sensação de saciedade com a mama;
▪ Descrever que serão momentos de aproximação com a mama/amamentação, explicando
que é esperado que o bebê não faça mamadas inteira.
IMPORTANTE: O peso e idade gestacional não é uma medida precisa para avaliar a
capacidade de sucção-deglutição-respiração. A maturidade é um fator mais importante e
avaliação individualizada de cada RN para início do AM. Até que o bebê consiga mamar
no peito, ele pode receber leite materno por sonda ou copo.
Algumas orientações:
▪ Acolher todos os sentimentos, angústias e medos dos pais, sendo uma rede de apoio para
os mesmos;
▪ Encorajar o contato desde cedo e o início precoce da alimentação, avaliando o padrão de
sucção e realizar amamentação assistida do binômio;
▪ Observar o estado de sono e vigília do bebê, que precisa estar acordado para mamadas
frequentes/efetivas e ser estimulado para permanecer alerta durante as mamadas;
▪ Ajudar com o posicionamento e a pega da mama pelo bebê.
▪ Orientar a mãe, a colocar o neonato na posição de cavaleiro a apoiar sua mama com a
mão e segurar o queixo do bebê com o polegar e o indicador formando a letra “c” para
estabilizar a mandíbula do bebê e a outra mão segurando na base da cabeça do RN
(posição de Dancer).
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Protocolos Clínicos
Situações especiais
III.8.3. Gemelaridade
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Protocolos Clínicos
Situações especiais
Quando ocorre uma formação inadequada da cavidade oral, podem surgir algumas
más formações como o lábio leporino e a fenda palatina.
O lábio leporino pode ser simples ou completo, uni ou bilateral. A forma simples
compromete apenas a parte mole dos lábios, sob forma de fenda, que eventualmente avança
até a narina. Já nas formas completas, todo o palato é comprometido, o nariz é deformado e
os dentes serão anormais. As formas bilaterais podem ser simples ou totais (DEL
CASTANHEL; DELZIOVO; ARAÚJO, 2016).
78
Protocolos Clínicos
Situações especiais
A fissura palatina pode abranger o palato mole e/ou duro. Há ainda formas intermediárias
podendo a anomalia estar ou não associada ao lábio leporino (DEL CASTANHEL; DELZIOVO;
ARAÚJO, 2016).
Essas condições podem acarretar problemas para a criança, tais como: dificuldade
na amamentação, infecções frequentes de vias aéreas superiores, problemas na dentição e
na fonação. No entanto, o aleitamento materno é possível nestes casos, porém precisa ser
avaliado por uma equipe multidisciplinar para liberação da amamentação.
A época ideal para o tratamento cirúrgico do lábio leporino é após o primeiro mês de
vida e a fissura palatina em torno do 18º mês, associando tratamento com fonoaudiólogo e
ortodontista.
Orientações na amamentação:
▪ Orientar/reforçar a importância do AM para bebês com fendas, devido ao maior risco de
apresentar otite média e infecções do trato respiratório superior;
▪ Se o RN estiver usando sonda orogástrica, estimular a ordenha e oferecimento do leite da
mãe para o bebê;
▪ Orientar a mãe a oferecer o copo com o próprio leite ordenhado;
▪ Segure o bebê de modo que seu nariz e garganta estejam acima da mama. Isso evitará
que o leite vaze para a cavidade nasal, que dificultaria a respiração do bebê durante a
mamada. O tecido da mama ou o dedo da mãe podem tapar a fenda no lábio para ajudar
o bebê a manter a sucção.
79
Protocolos Clínicos
Amamentação e uso de medicação materna
80
Protocolos Clínicos
Amamentação e uso de medicação materna
sanguínea. A variação na composição lipídica do leite (leite anterior, leite posterior) influi na
quantidade da droga nele contida. O epitélio alveolar mamário representa uma barreira lipídica,
mais permeável na fase de colostro. O volume e a composição do leite, que são variáveis,
podem afetar os níveis de drogas excretadas. O leite de mães de recém-nascidos pré-termo
tem baixo teor de gordura e alto teor de proteína, o que pode implicar em diferentes
concentrações da droga (BRASIL, 2014).
Dentre os fatores relacionados com o lactente, a grande maioria dos efeitos adversos
é descrita em recém-nascidos, lactentes jovens e prematuros que ainda não atingiram 40
semanas de idade corrigida. A relação entre idade do lactente e risco de efeito adverso sofre
influência do tipo de aleitamento praticado, se exclusivo ou não, da taxa de absorção das drogas
pelo trato digestório do lactente, do grau de maturidade dos principais sistemas de eliminação
de fármacos, e da presença de complicações como hipóxia, acidose metabólica, sepses e
outras doenças, que podem interferir no metabolismo e excreção das drogas pela criança
(BRASIL, 2014).
Os fatores relacionados com a droga estão associados às características
farmacológicas e às vias de administração. Assim, o conhecimento farmacológico pode auxiliar
o profissional no momento da prescrição, devendo-se optar por fármacos com baixa excreção
do plasma para o leite. Drogas de uso prolongado em geral oferecem um maior risco para o
lactente pelos níveis que podem atingir no leite materno. Outro aspecto importante é o pico
sérico da droga no leite materno, que usualmente coincide com o pico da corrente sanguínea
da mãe. Portanto, conhecer o pico sérico de um medicamento é útil para adequar os horários
de administração da droga e de amamentação da criança (BRASIL, 2014).
A interação entre fármacos utilizados pela nutriz também deve ser avaliada, pois o risco
de efeitos tóxicos de um fármaco pode ser potencializado pela ação de outro.
Apesar dos vários métodos para avaliar a segurança do uso de fármacos na
amamentação, ainda não existe um que seja confiável e eficaz. Por isso, devem ser
considerados também outros fatores tais como potencial tóxico, dose, duração do tratamento,
idade do lactente, volume de leite consumido, segurança para o lactente, biodisponibilidade
tanto para a mãe quanto para o lactente e risco de redução do volume de leite secretado
(BRASIL, 2014).
O princípio fundamental da prescrição de medicamentos para nutrizes baseia-se,
sobretudo, no risco versus benefício, a amamentação somente deverá ser interrompida ou
desencorajada, se existirem evidências de que a droga usada pela nutriz é nociva para o
lactente, ou quando não existirem informações a respeito e a droga não puder ser substituída
por outra que seja compatível com a amamentação (BRASIL, 2014).
81
Protocolos Clínicos
Amamentação e uso de medicação materna
82
Protocolos Clínicos
Situações que contraindicam a amamentação
São poucas as situações em que pode haver indicação médica para a substituição
parcial ou total do leite materno. Nas seguintes situações o aleitamento materno não deve ser
recomendado:
▪ Mães infectadas pelo HIV;
▪ Mães infectadas pelo HTLV1 e HTLV2;
▪ Uso de medicamentos incompatíveis com a amamentação. Alguns fármacos são
considerados contraindicados absolutos ou relativos ao aleitamento materno, como por
exemplo, os antineoplásicos e radio fármacos. Como essas informações sofrem frequentes
atualizações, recomenda-se que previamente a prescrição de medicações às nutrizes o
profissional de saúde consulte o manual “Amamentação e uso de medicamentos e outras
substâncias” (BRASIL, 2014); disponível no site do MS e um exemplar impresso em todas
unidades de saúde do município;
▪ Criança portadora de galactosemia, doença rara em que ela não pode ingerir leite humano
ou qualquer outro que contenha lactose.
83
Protocolos Clínicos
Situações que contraindicam a amamentação
contato próximo com a criança por causa da transmissão potencial por meio das gotículas
do trato respiratório. Nesse caso, o recém-nascido deve receber isoniazida na dose de 10
mg/kg/dia por três meses. Após esse período, deve-se fazer teste tuberculínico (PPD): se
reator, a doença deve ser pesquisada, especialmente em relação ao acometimento
pulmonar; se a criança tiver contraído a doença, a terapêutica deve ser reavaliada; em caso
contrário, deve-se manter isoniazida por mais três meses; e, se o teste tuberculínico for não
reator, pode-se suspender a medicação, e a criança deve receber a vacina BCG;
▪ Hanseníase: por se tratar de doença cuja transmissão depende de contato prolongado da
criança com a mãe sem tratamento, e considerando que a primeira dose de rifampicina é
suficiente para que a mãe não seja mais bacilífera, deve-se manter a amamentação e iniciar
tratamento da mãe;
▪ Hepatite B: a vacina e a administração de imunoglobulina específica (HBIG) após o
nascimento praticamente eliminam qualquer risco teórico de transmissão da doença via leite
materno;
▪ Hepatite C: a prevenção de fissuras mamilares em lactantes HCV positivas é importante,
uma vez que não se sabe se o contato da criança com sangue materno favorece a
transmissão da doença;
▪ Dengue: não há contraindicação da amamentação em mães que contraem dengue, pois há
no leite materno um fator antidengue que protege a criança;
▪ COVID-19: Até o presente momento não há evidências científicas sobre a transmissão do
novo coronavírus por meio da amamentação, logo, o Ministério da Saúde considera os
benefícios do aleitamento materno. Em caso de infecção pela SARS-CoV-2, desde que a
mãe deseje amamentar e esteja em condições clínicas adequadas para fazê-lo, a
amamentação deverá ser mantida (BRASIL, 2020). Caso a mulher não se sinta segura em
amamentar enquanto estiver com coronavírus, deve ser encorajada a retirar seu leite e
ofertar à criança.
A mãe deverá ser orientada para observar as medidas apresentadas a seguir, com o
propósito de reduzir o risco de transmissão do vírus através de gotículas respiratórias durante
o contato com a criança, incluindo a amamentação (BRASIL, 2020):
1. Lavar as mãos por pelo menos 20 segundos antes de tocar o bebê ou antes de retirar o
leite materno (extração manual ou na bomba extratora);
2. Usar máscara cirúrgica (cobrindo completamente nariz e boca) durante as mamadas e
evitar falar ou tossir durante a amamentação; deverá ser imediatamente trocada em caso de
tosse ou espirro ou a cada nova mamada;
84
Protocolos Clínicos
Situações que contraindicam a amamentação
3. Em caso de opção pela extração do leite, devem ser observadas as orientações disponíveis
no Procedimento Operacional Padrão - Técnica de ordenha manual das mamas e as
informações contidas no impresso “Amamentação nas creches” (Orientações para a
continuidade do aleitamento materno);
4. Seguir rigorosamente as recomendações para limpeza das bombas de extração de leite
após cada uso;
5. Deve-se considerar a possibilidade de solicitar a ajuda de alguém que esteja saudável para
oferecer o leite materno em copinho, xícara ou colher ao bebê. É necessário que a pessoa
que vá oferecer ao bebê aprenda a fazer isso com a ajuda de um profissional de saúde.
Toda a equipe de profissionais de saúde da atenção básica pode em menor ou maior
grau, a depender da situação, fazer orientações relativas a esta temática.
OBS. Todas unidades de saúde dispõe do manual de amamentação e uso de
medicamentos ou outras substâncias do MS. (forma impressa e online).
O uso de drogas de abuso deve ser desencorajado tanto durante a gestação quanto
no puerpério e em toda a lactação, uma vez que podem ocorrer danos à saúde da criança
relacionado à toxicidade, além de prejudicar o julgamento da mãe e interferir no cuidado com
seu filho (BRASIL, 2014; SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2017).
Há carência de publicações com orientações sobre o tempo necessário de
suspensão da amamentação após uso de drogas de abuso. No entanto, alguns autores já
recomendaram determinados períodos de interrupção. Ainda assim, recomenda-se que as
nutrizes não utilizem tais substâncias. Se usadas, deve-se avaliar o risco da droga versus o
benefício da amamentação para orientar sobre o desmame ou a manutenção da
amamentação. Consulte o manual “Amamentação e uso de medicamentos e outras
substâncias” (BRASIL, 2014).
A Sociedade Brasileira de Pediatria – SBP traz as recomendações sobre tempo de
interrupção da amamentação após uso de droga de abuso pela nutriz, conforme quadro
abaixo:
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Protocolos Clínicos
Situações que contraindicam a amamentação
LSD 48H
MACONHA 24H
Ressaltamos que a nutriz deve ser desencorajada quanto ao uso de drogas de abuso.
Caso manifeste desejo de cessar o uso e de receber tratamento, os profissionais da equipe
devem discutir e considerar a possibilidade de encaminhamento para serviço de referência do
município, como o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas – CAPS – AD.
Os casos em que a mãe mantém o consumo de drogas de abuso devem ser
discutidos com equipe multiprofissional e intersetorial, considerando não somente os fatores
ligados à lactação, mas também a exposição da criança a outros riscos. Cabe ressaltar a
importância da condução destes casos desde o pré-natal.
O Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria apontam a importância
do desestímulo do consumo de bebidas alcoólicas, uma vez que a ingestão de 0,3 g/kg de
álcool (conteúdo presente em uma lata de cerveja com 350 ml) pode reduzir em até 23% a
ingestão de leite pela criança; além da possibilidade de alteração do odor e do sabor do leite
materno após uso de bebidas alcoólicas, podendo levar à recusa do leite pelo lactente
(BRASIL, 2014; SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2017).
O tabaco, droga considerada lícita, também deve ser evitado tanto na gravidez quanto
na lactação. Este tem sido associado à redução da produção láctea, menor tempo de
aleitamento materno e risco de síndrome de morte súbita do lactente. Porém, os benefícios
do leite materno superam os possíveis malefícios da exposição à nicotina via leite materno.
Há evidência de que os efeitos negativos da exposição intrauterina ao tabaco no desempenho
cognitivo das crianças aos 9 anos de idade são limitados às crianças que não foram
amamentadas (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2017).
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Protocolos Clínicos
Situações que contraindicam a amamentação
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Protocolos Clínicos
Desmame
III.11 Desmame
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Protocolos Clínicos
Desmame
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Protocolos Clínicos
Fluxograma de atendimento
III.12 Fluxograma de atendimento para a promoção do aleitamento materno na atenção básica em saúde
Ações
Gestantes e puérperas
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Protocolos Clínicos
Fluxograma de atendimento
III.13 Fluxograma de atendimento para o manejo das intercorrências mamárias na atenção básica em saúde
Desfecho
Identificação da
Ações
intercorência mamária
• Acolhimento realizado por • Acolhimento com escuta • Agendar retornos até
membro da equipe de saúde qualificada resolução da intercorrência e
(Recepção, ACS, Enfermeiro, • Atendimento individual estabelecimento do AM
Auxiliar de enfermagem, (estimular presença de • Discutir com o PALMA os
médico, dentista, ASB, acompanhante e do bebê) casos em que houver maior
farmacêutico, dentre outros) • Avaliação e identificação dificuldade no atendimento
da(s) intercorrência(s) • Procurar resolver a
• Paciente é encaminhada • Conduta de acordo com o demanda na AB, evitando a
para atendimento por protocolo peregrinação das puérperas
profissional treinado da em outros serviços
equipe (Enfermeiro, Auxiliar • Se houver necessidade de
de Enfermagem, Médico, atendimento aos finais de
Dentista) semana e feriados, verificar o
fluxo de atendimento da
maternidade de origem*
• Atentar-se para a
continuidade da assistência
* Atendimento de intercorrências mamárias aos finais de semana e feriados de acordo com o serviço:
Mater, Unaerp e Santa Casa – atendem demanda espontânea
HC – Criança – discutir caso durante a semana com o Banco de Leite Humano
Maternidades privadas – atendimento de demanda espontânea via Pronto Atendimento privado
Fonte: Próprio autor, 2020.
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Protocolos Clínicos
Fluxograma de atendimento
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Protocolos Clínicos
Fluxograma de atendimento
Equipe da Unidade de Saúde Equipe da Unidade de Saúde Equipe da Unidade de Saúde Equipe da Unidade de Saúde mantém
realiza intervenção na técnica mantém acompanhamento na realiza intervenção na técnica de acompanhamento na rotina de puericultura
de amamentação, reavalia e rotina de puericultura e registra amamentação, reavalia e e registra no Hygia.
registra no Hygia. no Hygia. registra no Hygia.
Se for necessário, encaminha a criança
Se for necessário, encaminha a para a Especialidade Odontopediatria, on-
criança para a Especialidade line, no Sistema Hygia para que seja
Odontopediatria, on-line, no avaliada a necessidade de realização da
Persistindo a dificuldade na Persistindo a dificuldade na
Sistema Hygia para que seja frenectomia.
amamentação, a equipe da amamentação, a equipe da
avaliada a necessidade de Unidade de Saúde pode
Unidade de Saúde pode Avaliação do frênulo lingual na Unidade de
realização da frenectomia. encaminhar a criança para a
encaminhar a criança para a Saúde
Especialidade Odontopediatria, Especialidade Odontopediatria,
on-line, no Sistema Hygia para on-line, no Sistema Hygia para Em crianças não amamentadas, com
que seja avaliada a que seja avaliada a necessidade dificuldade na alimentação ou na fala,
necessidade de realização da de realização da frenectomia, de avaliadas na UBS pela enfermagem,
frenectomia. acordo com a situação da pediatra, MSF ou dentista, deverão ser
amamentação. encaminhadas para a Especialidade
Odontopediatria, on-line, no Sistema Hygia
para que seja avaliada a necessidade de
Fonte: Ribeirão Preto (2019).
realização da frenectomia.
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Protocolos Clínicos
Material Educativo
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Protocolos Clínicos
Material Educativo
▪ Folder: Aleitamento Materno - Código: 027.004.003.000008
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Protocolos Clínicos
Material Educativo
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Referências
Referências
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Referências
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GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 13. ed. Rio de Janeiro:
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JIMENEZ, B. C. et al. Beneficios a corto, medio y largo plazo de la ingesta de leche humana
en recién nacidos de muy bajo peso. Nutr. Hosp., Madrid, v. 34, n. 5, p. 1059-1066, oct.
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16112017000500007&lng=es&nrm=iso. Acesso em: 25 fev. 2020.
PEREIRA, M. J. B.; REIS, M. C. G.; QUELUZ, M. C.; SOUZA, L. A.; MARTINEZ, G. L.;
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regulação: acesso à rede de saúde. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
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Robe, 1997.
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Referências
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WORLD HEALTH ORGANIZATION. Indicators for assessing infant and young child
feeding practices: conclusions of a consensus meeting held 6-8 November. Washington,
DC: WHO, 2007.
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Anexos
Anexos
Anexo A – POP Exame clínico das mamas gravídica e puerperal
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