Manual Metodo Canguru Seguimento Compartilhado PDF
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MINISTÉRIO DA SAÚDE
e a Atenção Básica
rasília – DF
B
2015
MINISTÉRIO
MINISTÉRIO DADASAÚDE
SAÚDE
Secretaria
Secretaria
de Atenção
de Atenção
à Saúde
à Saúde
Departamento
Departamentode Ações
de Ações
Programáticas
Programáticas
Estratégicas
Estratégicas
Brasília
Brasília
– DF
– DF
2014
2015
2015 Ministério da Saúde.
Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição –
Não Comercial – Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a
reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.
A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do
Ministério da Saúde: <www.saude.gov.br/bvs>. O conteúdo desta e de outras obras da Editora do Ministério da
Saúde pode ser acessado na página: <http://editora.saude.gov.br>.
Tiragem: 1ª edição – 2015 – 10.000 exemplares
Elaboração, distribuição e informações:
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Atenção à Saúde
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas
Coordenação Geral de Saúde da Criança e Aleitamento Materno
SAF Sul, trecho 2, Lote 5/6, torre II, Edifício Premium, bloco 2
1º Subsolo, sala 1
CEP: 70070-600 – Brasília/DF
Coordenação: Apoio:
Denise Streit Morsch Hospital Universitário da Universidade Federal do
Paulo Vicente Bonilha Almeida Maranhão (HUFMA)
Zeni Carvalho Lamy Fundação Josué Montello
Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
Organização:
Olga Penalva Vieira da Silva Capa, projeto gráfico e diagramação:
Fabiano Bastos
Revisão:
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Ione Maria Fonseca de Melo Secretaria-Executiva
Olga Penalva Vieira da Silva Subsecretaria de Assuntos Administrativos
Sérgio Tadeu Martins Marba Coordenação-Geral de Documentação e Informação
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SIA, Trecho 4, lotes 540/610
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Ivana Drummond Cordeiro E-mail: editora.ms@saude.gov.br
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Karoline Corrêa Trindade Equipe editorial:
Luiza Geaquinto Machado Normalização: Delano de Aquino Silva
Marcia Borck Revisão: Paulo Henrique de Castro e Tamires
Rosimeiry Pereira Santos Alcântara
Foto da capa:
Evandro Martin
Ficha Catalográfica
_________________________________________________________________________________________
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas
Estratégicas.
Manual do Método Canguru : seguimento compartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica /
Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. –
Brasília : Ministério da Saúde, 2015.
274 p. : il.
ISBN 978-85-334-2283-4
A saúde da criança no Brasil, nas últimas duas décadas, vem em um contexto de notáveis avanços, com
destaque para uma grande redução da mortalidade na infância (menores de 5 anos), de 62 mortes por
1.000 nascidos vivos em 1990 para 14 em 2012, o que equivale a uma redução de 77%, uma das maiores
do mundo, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o que permitiu ao País o cum-
primento do Objetivo de Desenvolvimento do Milênio nº 4 com três anos de antecedência. Entretanto, a
meta de garantir a toda criança brasileira o direito à vida e à saúde ainda não foi alcançada.
No que tange à mortalidade neonatal, embora também em queda, esta redução tem sido mais lenta, e é
neste período (e, em especial, no primeiro dia de vida e mais especificamente na primeira hora de vida)
que se concentra hoje boa parte dos óbitos na infância.
Uma das estratégias para a redução da mortalidade neonatal, utilizada pelo governo brasileiro, é o
Método Canguru, que integra a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC),
do Ministério da Saúde.
O Método Canguru, no Brasil, foi instituído desde o ano 2000 e reúne diretrizes de cuidado e atenção
a recém-nascidos internados em unidades neonatais utilizando os melhores conhecimentos acerca
de suas especificidades físicas e biológicas e das necessidades de cuidado singular envolvendo os
pais e a família. Trabalha, ainda, formas e manejos de cuidados com a equipe de profissionais em
suas ações como cuidadores.
Ações de implantação e implementação vêm sendo desenvolvidas por cinco centros nacionais de referência.
Esses centros estão localizados em diferentes estados e têm o objetivo de capacitar, monitorar e oferecer
suporte às maternidades brasileiras.
Ao longo desses anos, a expansão e o fortalecimento do Método Canguru contribuíram para a consolidação
de seus quatro fundamentos básicos: acolhimento ao bebê e à sua família, respeito às individualidades, pro-
moção do contato pele a pele o mais precocemente possível e envolvimento da mãe nos cuidados com o bebê.
A visão brasileira do Método Canguru trouxe uma mudança do paradigma da atenção perinatal, das quais
as questões pertinentes à atenção humanizada não se dissociam, mas se complementam com os avanços
tecnológicos clássicos.
A Estratégia Saúde da Família (ESF) constitui grande aliada e suas ações devem garantir a continuidade da
assistência prestada ao bebê e à sua família, garantindo visitas domiciliares, atendimento na Unidade Básica
de Saúde (UBS) e retorno do lactente às consultas hospitalares previamente agendadas até atingir 2.500 g.
Este Manual de Seguimento Compartilhado entre as equipes da maternidade e da Atenção Básica consti-
tui uma das ofertas que objetiva apoiar os profissionais de saúde na atenção à criança egressa de unidade
neonatal, qualificando o cuidado e promovendo uma articulação em rede.
Como vocês poderão ver, este Manual divide-se em duas partes. A primeira apresenta conceitos, infor-
mações de cuidados e estratégias de atenção abrangendo as diretrizes do Método Canguru em suas três
etapas. Nesses primeiros módulos, encontram-se conteúdos que pretendem facilitar o acompanhamento
compartilhado entre Método Canguru e Atenção Básica até a criança chegar aos 2.500 g e receber alta desta
metodologia. A segunda parte traz informações sobre futuras aquisições e possíveis comprometimentos
desta população. Conhecendo essa realidade, os profissionais envolvidos com o Método Canguru inseriram
tais módulos para permitir a consulta dos colegas responsáveis pelo acompanhamento destas crianças
nas Unidades Básicas de Saúde, nos Núcleos de Atendimento à Saúde da Família, entre outros. Ao final,
encontram-se módulos contendo fluxograma, protocolos e tabelas que participam de forma interativa com
o atendimento ambulatorial e a avaliação das crianças na Rede de Atenção Básica, facilitando a observação
de critérios indicativos de seu encaminhamento para equipes especializadas.
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PRIMEIRA PARTE
MÓDULO 1
Prematuridade, fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 2
A vida da criança nascida pré-termo após a alta da unidade neonatal:
por que devemos acompanhá-la
MÓDULO 3
Vigilância do desenvolvimento da criança que nasceu pré-termo e triagem
de risco nas Equipes da Atenção Básica
MÓDULO 4
Aspectos afetivos: a prematuridade na família
e possíveis repercussões comportamentais na criança que nasceu pré-termo
MÓDULO 5
O Método Canguru
MÓDULO 6
A família e o RN Pré-termo: estrategias psicológicas
e sociais em seu cuidado e atenção
MÓDULO 7
Amamentando uma criança que nasceu pré-termo
MÓDULO 8
Vacinação para a criança que nasceu pré-termo
Prematuridade, MÓDULO 1
fatores de risco e outros conceitos
Objetivo:
• Apresentar e discutir o nascimento pré-termo, os problemas neonatais mais
frequentes e os indicadores de risco para o desenvolvimento
e crescimento desta população
Nascer antes do tempo e nascer muito pequeno não é o desejado para nenhum recém‑nas‑
cido (RN). Porém, um número significativo de recém‑nascidos acaba chegando ao mundo
antes do tempo previsto. Durante seu crescimento e em seu desenvolvimento, tais crianças
poderão encontrar adversidades na dependência de suas condições de nascimento. Quanto
menor ou quanto mais precoce for o seu nascimento (idade gestacional pequena), maiores
serão suas vulnerabilidades – fisiológicas, metabólicas, psicológicas –, o que também deter‑
mina o período de sua internação hospitalar. Tais ocorrências no RN preocupam quanto ao
seu crescimento, ao seu desenvolvimento e às suas necessidades de cuidado após a alta hos‑
pitalar. Isso mostra que é importante refletirmos sobre a prematuridade e seus indicadores
de risco no RN e em sua família.
Quadro‑Resumo
Idade gestacional (IG) e peso de Quanto menores forem a IG e o PN, maior será o risco para o
nascimento (PN) são indicadores de risco desenvolvimento e o crescimento.
IG corrigida para a prematuridade. É um “ajuste” para sabermos que idade o recém‑nascido pré-
O que é? ‑termo (RNPT) teria se tivesse nascido a termo, o que nos
ajuda a acompanhar seu crescimento e seu desenvolvimento,
de acordo com sua idade maturativa.
IG corrigida. Para quê? Para avaliação do crescimento e desenvolvimento.
Também usamos para a introdução da dieta complementar,
feita a partir de 6 meses (idade corrigida).
IG corrigida. Para quem? Todos os RNPTs com IG ≤ 34 semanas.
IG corrigida. Até quando? Geralmente até 2 anos de idade e até 3 anos, se o IG for me-
nor do que 28 semanas.
Anotar na ficha do ambulatório PN, IG e os fatores de risco para desenvolvimento e cresci-
informações importantes mento, exames importantes: FO, USTF, TCC* e ecocardiogra-
do relatório de alta ma, TAN, TB.
* FO (fundo de olho), USTF (ultrassom transfontanela), TCC (tomografia computadorizada de crânio); TAN (triagem
auditiva neonatal, biológica, ocular).
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Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
de sua temperatura, de sua nutrição, de sua respiração), pois não seria ainda o momento de
ele ser responsável por todas essas funções.
Pensando assim, podemos entender que os riscos estão associados às faixas de prematuridade
pela idade gestacional (IG) e pelo peso de nascimento (PN). Portanto, são considerados de
maior risco todos os recém‑nascidos com PN abaixo de 1.500 g e de extremo risco aqueles que
nasceram com menos de 1.000 g e/ou IG menor do que 32 semanas. Tais critérios são usados
pelos serviços especializados no acompanhamento dos RNPT para incluí‑los em seus proto‑
colos de cuidados e na atenção após a alta hospitalar. Também são essas as crianças que neces‑
sitam da maior vigilância pelas equipes da Atenção Básica quanto ao seu crescimento, ao seu
desenvolvimento e especialmente às suas necessidades de acompanhamento especializado.
Vale lembrar que os RN pré‑termo tardio, quando comparados aos recém‑nascidos a termo
(RNT), têm um risco de morbidade neonatal sete vezes maior, uma taxa de readmissão que
é de duas a três vezes maior nos primeiros 15 dias após alta, um risco de mortalidade três ve‑
zes maior, além de maior risco para distúrbios neuromotores e dificuldades de crescimento.
Ou seja, são crianças que devem receber atenção cuidadosa, pois – caso apresentem sinais
sugestivos de que não seguem os padrões de crescimento e de desenvolvimento propostos
pela Caderneta da Criança – devem ser encaminhados para avaliações em instituições que
realizam acompanhamento especializado.
Conceitos fundamentais
Para um mais adequado conhecimento dessas crianças, precisamos conhecer algumas de
suas particularidades:
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MÓDULO 1
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
ção correta por parte da gestante. Por outro lado, o USG para esta finalidade é mais
confiável quanto mais cedo for realizado (até 12 semanas), pois após este período a
margem de erro poderá ser de até duas semanas.
Em nosso meio são usados dois métodos de avaliação da IG, após o nascimento do
bebê, que consideram as características do RN e dão pontos para cada aspecto ava‑
liado: o Capurro Somático (CS) e o New Ballard (NB). O CS é indicado para os RN a
termo. Já o único método de avaliação pós‑natal indicado para os RNPT é o NB. Caso
a unidade neonatal ainda esteja utilizando o CS, embora não seja indicado para RN
com peso abaixo de 1.500 g, deve‑se conferir a idade gestacional com o ultrassom (US)
do primeiro trimestre e/ou com a DUM para tentar dar maior confiabilidade à IG.
AIG, PIG, GIG: adequados, pequenos ou grandes para a idade gestacional. O que é isso?
Já se fez referência aos RNPT como “de tempo” ou “de peso”. Atualmente, seria o
equivalente ao uso da IG e do PN aplicado a uma curva ou tabela, como a de Fenton,
própria para recém‑nascidos pré‑termo. Nas Unidades Básicas de Saúde, no Brasil,
são usadas as curvas da Organização Mundial da Saúde (OMS) para esta classificação
e também para o seguimento ambulatorial (o Módulo 10 traz esta informação mais
detalhadamente). Nesses gráficos/tabelas, podemos verificar para cada semana de
idade gestacional se o peso do RN está adequado para a IG, isto é, se o PN está bom,
se está abaixo ou acima do esperado. Tais resultados terão significados diferentes no
acompanhamento dessas crianças, bem como quanto aos riscos associados no período
neonatal. Para fins de seguimento (ambulatórios especializados), usamos os cortes
abaixo de 3 para PIG e acima de 95 para GIG, embora para classificação tais cortes se‑
MÓDULO 1
riam de 10 e 90, respectivamente. Portanto: AIG = PN adequado; PIG = PN pequeno;
e GIG = PN grande para a idade gestacional. Este é um dado que pode ser encontrado
no resumo da alta que acompanha os bebês quando de sua saída do hospital e que o
responsável pelo bebê deverá entregar para as equipes que o acompanharem.
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Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
caso sejam observadas alterações, estas deverão ser valorizadas e investigadas ade‑
quadamente.
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MÓDULO 1
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 1
recionado pela própria unidade neonatal. A Atenção Básica deve acompanhar a evo‑
lução dos problemas, conferindo o uso adequado das medicações prescritas, a adesão
ao tratamento, a marcação e a realização de exames complementares, além da fre‑
quência às consultas com especialistas, sempre em parceria com o hospital ou o “pro‑
grama de seguimento” que acompanha a criança. Entrar em contato com esses locais
para tirar dúvidas e verificar que apoio eles disponibilizam para a ida da criança (pas‑
sagem, almoço, grupos de orientação etc.) poderá facilitar a condução desta situação.
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Quadro‑Resumo
Indicadores de Risco para o Desenvolvimento e o Crescimento Associados
à Prematuridade e às Complicações do Período Perinatal
Problema Neonatal Comentário Risco para Desenvolvimento
Prematuridade Quanto menores a IG e o PN, Desenvolvimento neuromotor, de com-
maior será o risco para distúrbios. portamento, distúrbios de visão, audição
e linguagem.
Déficit estatural: cerca de 10% dessas
crianças podem ficar com baixa estatu-
ra na vida adulta. Mesmo nos RNPT ade-
quados para a idade gestacional (AIG),
isso ocorre quando há restrição de cres-
cimento pós‑natal, pela dificuldade de
aporte nutricional adequado.
Risco para desenvolvimento de doença
metabólica.
Asfixia Perinatal Apgar menor ou igual a 3 no Encefalopatia hipóxico‑isquêmica,
Grave 5° minuto ou manifestações comprometimento neurológico,
clínico‑laboratoriais de asfixia. paralisia cerebral.
Alterações Hipotonia, hipertonia, Comprometimento neurológico,
Neurológicas hiper‑reflexia, irritabilidade, paralisia cerebral, distúrbio convulsivo.
Convulsão sonolência, coma, convulsão.
Exames de Leucomalácia, hemorragia Comprometimento neurológico,
Neuroimagem: intra/periventricular, infartos paralisia cerebral, hidrocefalia.
MÓDULO 1
Continua
14
MÓDULO 1
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Conclusão
MÓDULO 1
Broncopulmonar respiratória, é o indicador desenvolvimento ponderoestatural.
isolado mais associado à PC, Aspectos clínicos: BE e
talvez pela hipóxia crônica. PNM**** de repetição.
Infecção Grave Antibioticoterapia acima de 21 dias São fatores associados que indicam
Enterocolite (vários esquemas antibióticos), uso que o RNPT foi enfermo grave e tem
Necrosante de drogas vasoativas, enterocolite efeito somatório com os outros.
necrosante (grau III ou IV).
Retinopatia da RNPT < IG 34 sem* e/ou PN< Risco para baixa acuidade visual,
Prematuridade 1.500 g tem risco para ROP e erros de refração e estrabismo.
(ROP) também devem ser seguidos
pelo oftalmologista. * Obs.: para alguns serviços,
inferior a 32 semanas.
Baseado no Manual de Atenção Humanizada ao RN de baixo‑peso MC, p. 155.
* USTF: ultrassom transfontanela; TCC: tomografia computadorizada de crânio; RM: ressonância magnética; ** Ciur:
crescimento intrauterino retardado: ***EXSTF: exsanguineotransfusão; **** BE e PNM: broncoespasmo e pneumonia.
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Conclusão
MÓDULO 1
Leituras sugeridas
Manual de Atenção Humanizada ao RN de BAIXO‑PESO Método Canguru, Brasília – DF,
2011.
Manual de Atenção à Saúde do RN vol. 3 e 4, Brasília – DF, 2011.
Late preterm infants. Link: <www.uptodate.com>, 2012.
Long‑term complications of the premature infant. Link: <www.uptodate.com>, 2012.
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A vidada criança que nasceu pré‑termo MÓDULO 2
após a alta da unidade neonatal:
por que devemos acompanhá‑la?
Objetivos:
• Discutir por que os RNPT devem ser acompanhados de forma criteriosa após sua
alta nas possíveis repercussões de seu crescimento e de seu desenvolvimento.
• S ituar as possíveis repercussões em seu crescimento para sua adequada atenção.
• Situar as possíveis repercussões em seu desenvolvimento para sua adequada atenção.
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Quadro‑Resumo
Possíveis Repercussões da Prematuridade
Desenvolvimento Neuromotor • Paralisia cerebral.
Sequelas neuromotoras e sensitivas. • Deficiência auditiva.
• Deficiência visual.
Desenvolvimento Neuromotor • Anormalidades do desenvolvimento cognitivo.
Alterações “menores”. • Distúrbios do comportamento.
• Disfunção neurológica leve.
• Distúrbios emocionais.
Metabólicas • Síndrome plurimetabólica.
• Resistência à insulina.
Crescimento Baixa estatura, baixo peso ou déficit no
crescimento do perímetro cefálico.
Como observamos no quadro, os riscos existem para estas duas grandes áreas:
De uma forma exclusivamente didática, para nosso estudo, vamos aqui classificar os riscos
para o crescimento e também para o desenvolvimento em riscos biológicos e psicossociais:
1. Biológicos
1. Genético.
2. Perinatal.
3. Pós‑natal.
2. Psicossociais
1. Hospitalizações.
2. Ambiental: familiar e social.
Fonte: SAS/MS.
Riscos biológicos: abrangem qualquer fator que se comporte como “agressão” ao feto du‑
rante a gestação e continuam após o nascimento, com as doenças que acometem o recém‑
‑nascido, o lactente e a criança. No caso dos bebês pré‑termo, as situações de risco podem
ser maternas ou fetais. O ambiente inadequado para o desenvolvimento e o crescimento de
seus órgãos e de suas habilidades e competências pode se iniciar ainda dentro do útero. O
cuidado obstétrico e uma assistência perinatal criteriosos podem modificar a evolução da
gestação e consequentemente melhorar a condição de vida dessas crianças. Daí porque as
equipes do Método Canguru acreditam que, por intermédio do trabalho da Atenção Básica,
a detecção precoce daquelas gestantes de risco e o seu encaminhamento ao pré‑natal espe‑
cializado trarão melhoria à gestação, bem como oferecerão melhores recursos para a saúde
18
MÓDULO 2
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
integral do bebê. Ou seja, já teremos aqui uma intervenção, com diminuição de riscos para
essas mulheres e também para com diminuição de riscos para essas mulheres e suas crianças.
As crianças nascidas pré‑termo são mais suscetíveis às doenças após a alta hospitalar, prin‑
cipalmente as respiratórias. Isso exige monitoramento contínuo de sinais sugestivos de sua
presença, com uma boa vigilância dos cuidados ambientais, especialmente domiciliares (vi‑
sitas, parentes contaminados por viroses, limpeza da casa, poeira...).
Muitas vezes, é impossível separar esses fatores de risco (chamados de biológicos) de outros,
próprios da esfera psicossocial, que, ao se encontrarem, potencializam uns aos outros:
MÓDULO 2
• Alimentação inadequada: tanto no período de internação na UTI neonatal quanto
após a alta hospitalar, o que traz repercussões metabólicas, bem como repercussões no
crescimento dessas crianças. O abandono do aleitamento materno exclusivo é uma das
situações de risco que mais preocupam os profissionais do Método Canguru e, por sua
causa, ocorrem alguns dos maiores pedidos de intervenção dos agentes comunitários
de saúde e das unidades básicas de saúde.
Podemos, ainda, nos lembrar de alguns mecanismos patogênicos já comprovados que po‑
dem trazer múltiplas repercussões ao crescimento e desenvolvimento das crianças:
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Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
• Bilirrubina: em níveis elevados, tem conhecida ação lesiva nas células cerebrais do re‑
cém‑nascido, principalmente nos que são de pré‑termo, cuja barreira hematoliquórica
é ineficiente, permitindo a passagem livre da bilirrubina pelas membranas celulares.
• Oferta inadequada de nutrientes: tanto na vida fetal, resultando em recém‑nascidos
pequenos para a idade gestacional (PIG), quanto após o nascimento, contribui para a
restrição do crescimento. Ambas as situações estão associadas a repercussões metabó‑
licas e no crescimento ao final da infância. Estas também poderão se estender até a vida
adulta, com maior risco para síndrome metabólica e, consequentemente, para doenças
crônicas não transmissíveis.
Fica fácil entender que o crescimento e o desenvolvimento da criança são resultantes da in‑
teração de todos estes fatores. Quando não ocorrem estes fatores de risco ou estes são peque‑
nos e os ambientes familiar e social são positivos, a criança está protegida para desenvolver
todo o seu potencial. No entanto, a população de recém‑nascidos pré‑termo, especialmente
os de mais baixo peso ou de menor idade gestacional, inicia sua vida em desvantagem, uma
vez que grande parte do início do seu crescimento e desenvolvimento se dará em uma uni‑
dade de terapia intensiva neonatal, em condições muitas vezes adversas para o seu momento
evolutivo (veja o Módulo 1).
Os cuidados realizados durante a internação nas UTIs neonatais objetivam garantir a sobre‑
vida do recém‑nascido, minimizando, sempre que possível, os riscos em relação ao seu de‑
senvolvimento. Uma das técnicas que contribuem para melhorar a evolução desses bebês é
o Método Canguru, que – por intermédio de sua proposta de cuidados singulares para com
o recém‑nascido e sua família – mostra‑se atento a essas questões. Ao mesmo tempo, busca
MÓDULO 2
propiciar à família seu lugar de legítima cuidadora do recém‑nascido, por meio de um es‑
paço que apoia a interação entre a mãe, o pai e a criança.
Alterações do desenvolvimento
A) Iremos inicialmente discorrer sobre aquelas chamadas “graves”:
Paralisia cerebral
A paralisia cerebral (ou encefalopatia crônica não progressiva) é uma alteração neurológica
secundária à lesão ou disfunção do sistema nervoso central. Sua incidência é estimada em
cerca de 2 a 3/1.000 nascidos vivos na população em geral. Porém, é mais frequente entre
as crianças nascidas pré‑termo e de muito baixo peso ao nascer (PN < 1.500 g), nas quais a
estimativa é de 40 a 152/1.000 nascidos vivos. É observado que, quanto menores forem a IG
e o PN, maiores são as probabilidades desse tipo de sequela.
Com a sobrevivência de RNPT de PN e IG cada vez menores, pensou‑se que essa incidência
iria aumentar. Porém, estudos temporais realizados nos Estados Unidos,1 no Canadá2 e na
Europa3 não evidenciaram mudança na prevalência de paralisia cerebral entre os recém‑nas‑
cidos de muito baixo peso, embora o risco de paralisia cerebral se mantenha elevado nos
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MÓDULO 2
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
RNPTs extremos. Em parte, isso se deve aos melhores cuidados perinatais disponibilizados
a essas crianças, resultantes da melhoria das práticas obstétrica e neonatal.
Alterações sensitivas
As deficiências auditivas e visuais são mais frequentes na população de crianças nascidas
pré‑termo. Por tal razão, o rastreamento dessas deficiências deve ser iniciado ainda na UTI
neonatal e mantido ao longo do seu acompanhamento. As perdas auditivas permanentes
podem ter início tardio e ser progressivas, acometendo cerca de 2% a 4% dos recém‑nas‑
cidos que necessitaram de UTI neonatal. Tais crianças também têm, com mais frequência,
perda auditiva por condução, por serem mais suscetíveis à hiper‑reatividade brônquica
e à associação da otite média aguda de repetição. Também a avaliação visual das crianças
pré‑termo não se restringe ao rastreamento da retinopatia da prematuridade. Crianças
nascidas antecipadamente têm maior probabilidade de apresentar alterações na refração,
principalmente miopia. Portanto, há necessidade de acompanhamento oftalmológico pe‑
riódico além do período de internação na UTI neonatal. Nos módulos 11 e 12 deste manual
encontram‑se informações detalhadas sobre tais questões.
B) Em relação às alterações conhecidas como “menores”:
Neste grupo, encontramos o comprometimento em áreas executivas que envolvem o pen‑
samento, o planejamento de ações e as estratégias mentais, o processamento da lingua‑
gem, os déficits de atenção e os distúrbios emocionais e de comportamento.
Apesar de definidas como “menores”, estas alterações poderão se refletir em falhas no apren‑
dizado escolar, podendo representar um grande transtorno para as crianças e suas famílias.
MÓDULO 2
Isso porque sabemos que uma criança com dificuldades na aprendizagem escolar pode apre‑
sentar sintomatologia em área emocional, como depressão, baixa autoestima e alterações em
seu comportamento, como isolamento, retraimento social e, outras vezes, condutas agres‑
sivas e dificuldades em aceitar limites, por exemplo. Trata-se aqui de comportamentos ou
situações que irão provocar limitações em seu convívio familiar e social.
Um trabalho atento ao desenvolvimento inicial – como os pequenos atrasos nas aquisições
psicomotoras, o atraso na aquisição da linguagem, a agitação do bebê, suas respostas exa‑
geradas ao som e às mudanças de ambiente, bem como as dificuldades para dormir – deve
levar a equipe da Unidade Básica de Saúde a orientar e encaminhar a família a equipes ca‑
pazes de avaliar e intervir nessas situações. A avaliação de desenvolvimento proposta pela
Caderneta da Criança oferece recursos para uma avaliação inicial (screening), confirmando
a necessidade de encaminhamentos para prováveis intervenções.
C) A chamada disfunção neurológica leve:
Muitas vezes, o RNPT apresenta, durante o seu acompanhamento evolutivo, exame neu‑
rológico anormal, com alterações discretas, que podem até passar despercebidas e que não
preenchem critérios para um diagnóstico como paralisia cerebral. Existe na literatura uma
grande discussão sobre a melhor definição para essas alterações, que são mais evidentes
na idade pré‑escolar e escolar4 e que, na adolescência, podem não ser mais observadas. A
melhor denominação para tais alterações seria disfunção neurológica leve,5 que podem ser
observadas nos lactentes mediante indícios como: a) atraso do início da marcha espontânea
(esperada em seu início entre os 18 e 24 meses de idade corrigida); b) alterações de tônus
em membros inferiores; c) hiper‑reflexia, persistência dos reflexos primitivos; e d) postura
anormal dos pés ou assimetrias. Também são incluídas alterações persistentes do equilíbrio
e da coordenação. A prevalência dessas alterações no exame neurológico é elevada em re‑
cém‑nascidos com idade gestacional abaixo de 33 semanas.6
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Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Intervenção
Se considerarmos que os riscos se encontram em duas grandes áreas (a biológica e a psicos‑
social), podemos pensar que uma maior atenção a essas famílias na gestação, durante a in‑
ternação e posteriormente no pós‑alta oferecerá fatores de proteção a essas vulnerabilidades.
Além disso, a observação criteriosa ajuda a detectar, em um tempo hábil, a necessidade de
uma avaliação com equipes que se apresentam capacitadas para tal.
Lembramos ainda que a criança pequena possui como necessidade sentir-se segura e prote‑
gida por sua família de origem. Isso só será possível graças a mães e cuidadores empodera‑
dos de sua função. Daí porque as dúvidas, as informações e as orientações devem ser priori‑
dades de todos os atendimentos realizados tanto na Atenção Básica quanto nos ambulatórios
especializados. Com isso, torna‑se mais fácil para a família e também para a equipe enfren‑
tar adversidades que porventura se apresentem e corrigi‑las. Da mesma maneira se tornará
mais tranquilo fazer frente às necessidades de intervenções sistematizadas.
Um fator importante ao se considerar a evolução das crianças com alterações ou compro‑
metimento do desenvolvimento neuromotor refere‑se aos recursos disponíveis em relação
aos programas de intervenção. É da maior importância que os pais estejam orientados e
apoiados quanto à sua relevância. Estimulá‑los em sua participação e ajudar a criar estraté‑
gias para que possam frequentar os programas indicados é fundamental, especialmente nos
3 primeiros anos de vida, pois se trata do período evolutivo, em que os resultados poderão
se dar de forma mais expressiva.
Os conhecimentos atuais do funcionamento do sistema nervoso central, como o conceito de
plasticidade cerebral, são fundamentais quando pensamos em formas de ajudar essas crian‑
ças. A plasticidade cerebral é a capacidade de modificação do sistema nervoso em função
de suas experiências. Ou seja, é uma propriedade do sistema nervoso central de modificar
22
MÓDULO 2
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 2
quência o desenvolvimento de baixa estatura24,25 e de resistência à insulina e diabetes,26 o
desencadeamento de hipertensão arterial sistêmica e hiperlipidemia: a síndrome plurime‑
tabólica.27,28 Portanto, crianças nascidas pré‑termo, em especial aquelas que foram pequenas
para a idade gestacional (PIG), devem ser acompanhadas com atenção também em relação
à possibilidade de alterações metabólicas e à persistência de baixa estatura.
23
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
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MÓDULO 2
25
Vigilância do desenvolvimento do RNPT e MÓDULO 3
triagem de risco nas Equipes da Atenção Básica
Objetivo:
• Abordar e discutir a importância da vigilância do desenvolvimento do RNPT e seu
encaminhamento quando do surgimento de riscos.
A atenção ao desenvolvimento infantil deve estar sempre presente quando examinamos qual‑
quer criança, especialmente os RNPT, pelas questões que viemos discutindo nos dois primeiros
módulos deste manual. Ao se examinar uma criança pré‑termo nos ambulatórios da Unidade
Básica de Saúde, a observação e a avaliação de seu desenvolvimento devem estar sempre in‑
cluídas no roteiro da consulta.
É importante conhecer a avaliação proposta pela Caderneta de Saúde e saber o que ela mos‑
tra como esperado para cada idade. Isso permite a identificação de desvios, ou seja, o que está
diferente do habitual e que merece um olhar diferenciado ou um encaminhamento para o es‑
pecialista. Deve ser sempre lembrada a correção da idade corrigida para que a criança seja
corretamente avaliada.
Quadro‑Resumo
A prematuridade aumenta a possibilidade da ocorrência de problemas motores, cognitivos, de linguagem,
de aprendizagem e de comportamento na criança.
A preocupação com o desenvolvimento do RNPT deve estar presente em todas as consultas de rotina, para
permitir um encaminhamento para avaliação e intervenções o mais cedo possível.
Nas unidades básicas de saúde, a avaliação do desenvolvimento é realizada rotineiramente por intermédio
da Tabela de Vigilância do Desenvolvimento da Caderneta da Criança.
Quando tal avaliação for realizada com um bebê que apresenta história de prematuridade, deve ser usada
a correção da idade cronológica até os 2 anos de idade.
Na ocorrência de uma suspeita de atraso ou dificuldade da criança na aquisição de competências e habi-
lidades esperadas para a sua faixa etária, a criança deverá ser encaminhada imediatamente para equipes
especializadas.
Pretende‑se que tais equipes realizem a avaliação e, sendo necessário, encaminhem a criança para as tera-
pêuticas indicadas (fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicologia, entre outras), informando
os resultados das avaliações e a indicação de intervenções às equipes da Atenção Básica que acompanham
a criança na comunidade de origem.
A equipe da UBS participará desse atendimento, mantendo suas observações contínuas durante as con-
sultas e conversando com a família da importância desse atendimento para o momento atual e futuro
da criança.
As visitas dos ACS deverão observar na família a adesão ao tratamento e as condições ou as necessidades
de auxílio para a ida ao atendimento.
27
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
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MÓDULO 3
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Cabe lembrar que toda avaliação deve ser sequencial e que um exame normal, em nossa
população de alto risco, não exclui a possibilidade de alterações menores ou de proble‑
mas futuros, como distúrbios de linguagem, distúrbios de aprendizado, distúrbios motores
etc., que podem, muitas vezes, aparecer somente mais tarde.
Ao mesmo tempo, as equipes devem estar atentas a situações familiares ou sociais que po‑
dem, em certos momentos de vida da criança, determinar condutas sugestivas de disfunções
ou alterações. Abandono, perdas por morte e doenças em seus cuidadores podem determi‑
nar alterações. Daí a importância das entrevistas detalhadas com o familiar durante as con‑
sultas, para que tais situações sejam comentadas e avaliadas como prováveis determinantes
da disfunção, no momento. Como exemplo, teríamos uma pequena criança que, quando
seu irmão mais velho apresentou quadro oncológico, mostrou‑se pouco reativa a estímulos
durante sua avaliação, sugerindo baixo desempenho em área cognitiva. Caso essa situação
persista, apesar de intervenção familiar e profissional mais próxima na Atenção Básica, há
indicação de um acompanhamento especializado.
As etapas do desenvolvimento não são estáticas e as idades em que são alcançadas ser‑
vem apenas como guias para o reconhecimento dos desvios da normalidade. Por isso,
os testes de avaliação e triagem trabalham sempre com um intervalo em que as aquisições
podem ser observadas.
Para mais informações sobre o desenvolvimento dos RNPTs, pode ser feito download do
Manual Técnico do Método Canguru, no site: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
metodo_canguru_manual_tecnico_2ed.pdf>.
MÓDULO 3
Existem vários testes de avaliação e diagnóstico, alguns só para profissionais treinados e cer‑
tificados. Para a equipe da Atenção Básica, propomos o uso do Instrumento de Vigilância
do Desenvolvimento da Caderneta da Criança. Por intermédio do referido instrumento,
poderão ser observados indicativos que apoiam a preocupação das equipes, orientando as
famílias na busca de uma observação detalhada, especialmente entendendo o desenvolvi‑
mento como um processo no qual cada aquisição, em determinado período evolutivo, serve
como base para outra aquisição mais complexa. Não podemos deixar de nos preocupar com
que isso ocorra da melhor maneira possível. Falhas ou dificuldades em áreas do desenvol‑
vimento exigem orientações de acompanhamentos facilitadores e de apoio à criança e à sua
família.
Mediante o contato com as equipes especializadas, a Atenção Básica poderá encontrar
uma nova parceria para seus cuidados à população. Por sua vez, estes ambulatórios espe‑
cializados, como os chamados follow‑up ou de seguimento, deverão encaminhar o resul‑
tado de suas avaliações para as equipes da UBS, para que estas tomem conhecimento das
necessidades da criança e dos resultados de suas intervenções. Com isso, ambas poderão
trabalhar adequadamente o envolvimento e a participação familiar nos cuidados especiali‑
zados, monitorar e intervir no aparecimento de dificuldades de sua adesão a esses cuidados,
promovendo o mais adequado desenvolvimento das crianças atendidas.
29
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
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30
Aspectos afetivos: a prematuridade na família e MÓDULO 4
possíveis repercussões comportamentais no RNPT
Objetivos:
• Apresentar fatores psicoafetivos que fazem parte da história da prematuridade
na família e discutir possíveis repercussões no futuro comportamento do RNPT.
31
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
ções ou são condescendentes com suas atitudes e seus comportamentos. Ou seja, mostram‑
‑se muitas vezes permissivos, o que permite que hábitos, rotinas e a organização não sejam
levados em conta, pois, afinal, seu filho foi “uma criança que já sofreu muito no hospital”.
Com essas condutas familiares, o bebê e a criança pequena não aprendem quais são suas
melhores competências ou que existem limites para as suas condutas, o que traz dificulda‑
des para que as crianças possam lidar com frustrações. Assim, elas acabam criando uma ilu‑
são de onipotência irrestrita, pois podem tudo ou não podem nada, não experimentam ou
não se avaliam para posteriormente buscarem novas estratégias ou possibilidades de ação.
Entretanto, no dia a dia, em suas relações mais amplas e mesmo em suas experiências pes‑
soais, isso não será verdadeiro, pois essas crianças podem querer levar para casa um brin‑
quedo da escola ou de um amigo e não podem, querem abrir uma porta, mas ainda não têm
força para tal, por exemplo. Ou deixam de tentar realizar atividades por não se sentirem ca‑
pacitadas, reagindo com sentimentos depressivos ou agressivos diante da ideia de que não
são capazes.
Além desses aspectos, questões como a separação precoce da mãe, seus sentimentos de não
ter sido capaz de cuidar adequadamente do bebê durante a gestação também são fatores que
devem ser lembrados, pois estão diretamente relacionados ao estabelecimento do vínculo
afetivo. Sabemos que a formação de vínculos é um processo bastante complexo. Trata‑se de
uma construção que exige, no pós‑parto, experiências de continuidade e proximidade física
e psíquica entre a mãe e o bebê. A ida da mãe para uma enfermaria e do bebê para a unidade
neonatal pode atrapalhar essa necessária proximidade, determinando que, para além da se‑
paração física, ocorra um distanciamento afetivo entre ambos. Para entendermos um pouco
mais sobre esses aspectos, vamos conhecer melhor o que acontece com os pais.
32
MÓDULO 4
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 4
Atualmente, preocupa muito o aumento de depressão paterna após o nascimento de um
bebê (não necessariamente na prematuridade), o que acaba multiplicando os efeitos da de‑
pressão familiar no cuidado do recém‑nascido. Ou seja, o pai não consegue suprir os cui‑
dados que a mãe não vem conseguindo dedicar ao filho e, ao mesmo tempo, não consegue
apoiá‑la em suas necessidades como puérpera. Temos aí mais um dos motivos de preocu‑
pação dos profissionais do Método Canguru para a participação efetiva desse cuidador para
que ele também possa ser avaliado e cuidado em suas necessidades.
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Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Muitas vezes, isso não ocorre por problemas clínicos. Tais bebês são mais vulneráveis para a
apresentação dessas condutas em função de aspectos ambientais, mais especificamente dos
cuidados familiares. Obviamente, existem questões como escolaridade materna, desamparo
financeiro e condições de vizinhança, fatores que, ao se somarem, potencializam os com‑
portamentos ditos difíceis. Caso existam ainda fatores temperamentais, temos a possibili‑
dade de encontrar crianças e famílias necessitando de muita ajuda. São situações que levam
a família ao cansaço, com relações desgastadas, frustração e sensação de incompetência nos
pais, que muitas vezes nos parecem como pessoas “sem pulso no manejo das crianças”.
Caso perceberem, durante a consulta no ambulatório, apenas este aspecto do que vem acon‑
tecendo com os pais e a criança, corremos o risco de aumentar suas dificuldades. Ao usar‑
mos uma abordagem de falar para os pais que eles não conseguem “lidar com seus filhos”,
estaremos dizendo que eles estão falhando novamente (a primeira foi quando as mães não
conseguiram chegar ao final da gestação e agora eles não sabem como cuidar dos filhos).
Podemos, então, reforçar a ideia de que apenas os especialistas o sabem. Ajudá‑los a enten‑
der que as crianças estão solicitando que alguém lhes ofereça segurança e estabilidade é pri‑
mordial, porque esta é uma função da família e não de especialistas. Estes podem ajudar
nesta situação, mas não a realizar tal cuidado, que é parental.
Existem casos que trazem muita dificuldade para as equipes, pois algumas famílias se
mostram de difícil cuidado e vão apresentar risco para o abandono do acompanhamento
ambulatorial. Disponibilizar mais tempo para conversar, sugerir recursos da comunidade
para a inclusão da criança ou mesmo da mãe em atividades esportivas, de música, teatro,
além das intervenções, sem cobranças indevidas para com estes cuidadores, poderá faci‑
litar essas relações.
Outros recursos podem ser utilizados, como grupos de “massagem” nos bebês realizada pe‑
las mães (shantala) ou em como brincar com os bebês ou, ainda, como criar brinquedos para
34
MÓDULO 4
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 4
tentativa de provocar alguma mudança nos pais (externalização). Ou, então, pode escolher
repetir os padrões de conduta e relacionamento demonstrados pelos pais e passa também a
ser distante e pouco ativo (internalização)9.
▶▶ Na família:
• Depressão materna e paterna, muitas vezes encoberta por certa irritabilidade e pela
dificuldade dos pais em responder às necessidades de seu bebê.
• Dificuldades familiares, problemas sociais, estresse por alguma doença ou situação de
perda na família, doença, morte de alguém, por exemplo, que determine uma baixa
atenção às solicitações do bebê. Ele até pode estar sendo cuidado, mas não ocorre uma
disponibilidade real para as suas demandas.
• Falhas no relacionamento do casal e deste com os demais filhos ou outros familiares,
trazendo estresse, ansiedade familiar e, consequentemente, uma resposta muito vigi‑
lante do bebê.
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Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
• No bebê: alguns bebês são mais responsivos, mostram desconforto com barulho, com
determinados toques ou manuseios, têm dificuldades para aceitar a introdução de no‑
vos alimentos e conciliar o sono. Esses sinais são indicativos da necessidade do bebê de
ser “trabalhado”. Por isso, a família deve ser orientada por terapeutas em relação aos
aspectos de sua organização (integração sensorial). Lembramos que não podemos sim‑
plesmente dizer que se trata apenas de “jeito” ou “temperamento” do bebê, mas sim de
um funcionamento sensorial, que exige uma atenção e uma intervenção criteriosa para
que eles adquiram um estado de maior organização e integração face aos estímulos que
lhe chegam.
Ou seja, são bebês que merecem uma atenção especial, com avaliação e orientação conjunta pe‑
los diferentes profissionais da equipe de seguimento. É importante que as famílias entendam isso
para que não se sintam incapazes de “dar conta do filho”. Da mesma maneira, as equipes de
atendimento ambulatorial devem avaliar bem essa situação para não criticarem os pais ou lhes
exigirem apenas condutas mais rígidas para com seus filhos como a solução de tais problemas.
Pequenas entrevistas podem identificar a presença de questões familiares ou relacionadas ao
bebê e, apesar de que nem sempre teremos profissionais que possam atender o bebê, a equipe
da Atenção Básica pode ajudar, indicando algumas atividades, como as apresentadas a seguir.
Nos cuidados com o bebê, podem e devem ser recomendados: relaxamento, conversas, cui‑
dados com seu corpo, colo ritmado, balanceio, a hora do banho, de troca de roupas. Abraço
com a toalha (que, então, enrola o corpo, dando uma sensação de integridade corporal para
a criança) é outra atividade ideal. Conversas calmas, procedimentos como diminuir o ba‑
rulho na casa, explicar mudanças que irão ou estão ocorrendo, como a ausência de pessoas
MÓDULO 4
próximas, também são fundamentais (por exemplo, o retorno da mãe ao trabalho, a saída
da avó dos cuidados, a substituição de cuidadores).
Por outro lado, manejos familiares que explicam com clareza e firmeza o que o filho
pode fazer e o que não pode ajudam a criança a ter uma avaliação mais correta de suas
competências. Condutas mais firmes, esclarecedoras e até impeditivas para evitar que a
criança se coloque em risco (físico e até emocional) oferecem segurança, dando a ela a
noção de que é “cuidada”, provocando uma confiança maior no ambiente e na preocupação
familiar.
Salientamos que, embora essas últimas indicações ocorram mediante expressão verbal, sabe‑
mos que, se o conceito das palavras ainda não se estabeleceu, a capacidade de avaliar a inten‑
ção e a preocupação do entorno em são preexistentes ao surgimento da palavra na criança.
36
MÓDULO 4
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
teimosia” com seus cuidadores. Ou seja, acabam dificultando muito a relação afetiva segura,
fundamental para esse momento de suas vidas, quando a autonomia deve ser experimentada
como um grande trunfo e não como um sofrimento.
Para outras crianças, algumas situações – como o excesso de estimulação, a demora na aqui‑
sição da linguagem e dificuldades em participar de atividades lúdicas – podem se tornar
estressantes e também provocar frustração. São comuns crises de choro, irritabilidade, em‑
purrões, disputas, mordidas na escola ou mesmo na família. Além disso, mesmo para qual‑
quer criança, o tempo prolongado em creches ou na pré‑escola também pode ser um desen‑
cadeador de tais condutas. Isso porque um período em que elas ficariam nas suas próprias
casas, convivendo com menos pessoas, livres para suas descobertas, é substituído por outro
com muitas pessoas, regras e solicitações desconhecidas e não individualizadas: servem para
todo o grupo e não para uma situação particular.
A sensação que fica, muitas vezes, é que são crianças que não cabem dentro de seu próprio
corpo: são pequenas demais para lidar com tantas mudanças e cobranças e nos mostram isso
utilizando condutas disruptivas – batem, jogam coisas no chão, gritam, deixando clara a enor‑
me inquietação que se passa dentro delas. A chegada dos 3 anos faz tais comportamentos di‑
minuírem muito quando são apenas “evolutivos” (próprios da idade). A vinda do momento
rico em “faz de conta” (quando príncipes, princesas e super‑heróis passam a povoar as his‑
tórias e brincadeiras das crianças) possibilita que suas angústias diante das novas aquisições
e a sua maior autonomia deixem de ser tão provocadoras. Este novo funcionamento do
pensamento lhes permite boas formas de lidar com tantas solicitações. Ou seja, o lúdico, o
mundo da imaginação na criança, ajuda a buscar alternativas de conduta mais adequadas,
por intermédio de seus heróis e das ações que eles propõem.
MÓDULO 4
Portanto, as atividades de “brincar” e construir um mundo imaginativo são excelentes
ajudas ao desenvolvimento infantil.
Devemos orientar as famílias de todas as crianças quanto à importância de se ter tempo
livre para brincar e poder construir um mundo de “faz de conta”.
37
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
explique que ela “não precisa” fazer algo de uma forma inadequada, pois existem outras ma‑
neiras para ela poder brincar, conversar e se divertir. Algumas atividades são próprias para
essa situação e envolvem massagem corporal, banhos calmos e trabalho do corpo. Deve‑se
brincar com a criança e também diminuir os estímulos (evitar que TV, rádio, música, com‑
putador, todos estejam ligados ao mesmo tempo). Essas abordagens permitem que a criança
se sinta mais organizada e segura.
Devemos lembrar, ainda, que as crianças podem apresentar tais condutas por depressão,
muitas vezes associada à excitabilidade (hiperatividade). Realizar essa hipótese diagnóstica
é difícil mesmo para especialistas muito capacitados, mas são possibilidades que devem ser
pensadas em relação às nossas crianças. Assim, muitas poderão apresentar sintomas de dé‑
ficit de atenção como comorbidade de quadros como os citados ou causados pela ansiedade,
pela depressão, pela agitação e por não conseguirem acalmar as demandas provocadas pelo
seu mundo afetivo/relacional.
Conclusão
Como vimos, a história da prematuridade poderá implicar uma potencialização de condutas
difíceis em nossas crianças, que são queixas comuns em nossos ambulatórios. A origem des‑
ses comportamentos considerados difíceis que crianças pré‑termo podem apresentar envolve
tanto aspectos biológicos e de temperamento, além de condutas de externalização/internali‑
zação, quanto à interação entre pais e bebê e os cuidados familiares, que podem ser caracteri‑
zados pela presença de sintomas depressivos ou ansiosos na mãe e/ou no pai.
Por outro lado, a severidade dessas manifestações está na dependência das habilidades fami‑
MÓDULO 4
liares e da própria equipe em lidar com essas predisposições. Conversar com os pais, buscan‑
do informações sobre a história familiar que os acompanha, sobre suas percepções do filho,
desde os seus primeiros encontros na unidade neonatal, além de conhecer o momento no
qual a família se encontra, é fundamental, pois situações de amplo estresse podem ocasionar
comportamentos que chamamos disruptivos na infância.
Não temos dúvida de que estudos futuros envolvendo questões do funcionamento do siste‑
ma nervoso, da neuroquímica cerebral, de sua implicação com características inatas do bebê
e de aspectos ambientais e familiares com melhor mapeamento permitirão uma leitura mais
correta do que hoje estamos tentando entender.
O que temos hoje é que nossa disponibilidade para escutarmos as famílias e especialmente o
que nos pede uma criança que se mostra exigente e teimosa é o grande diferencial do que ela
fará com tantos desafios de seus mundos, seja o mundo externo/ambiental, seja seu mundo
interno/psíquico‑afetivo.
Leituras sugeridas
Manual Técnico – Atenção humanizada ao recém‑nascido de baixo peso: Método Canguru.
Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 238 p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos; n. 145).
Disponível em: <www.saude.gov.br> (Saúde do recém‑nascido).
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MÓDULO 4
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
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39
O Método Canguru MÓDULO 5
Objetivo:
• Apresentar o Método Canguru e um breve histórico de sua implantação no Brasil.
Quadro‑Resumo
O Método Canguru (MC) é uma intervenção baseada no cuidado singular ao bebê e à sua família, no
contato pele a pele precoce, buscando minimizar os efeitos do nascimento pré-termo.
As estratégias usadas são: contato precoce entre o RNPT e sua família, contato pele a pele, o cuidado
individualizado, a parceria com a família, o incentivo/apoio à amamentação, intervenções nos cuidados e
manuseio da dor voltados para o desenvolvimento neuropsicomotor.
Podemos dividir a aplicação do Método Canguru em três etapas:
• A 1ª etapa ocorre na unidade neonatal.
• Na 2ª etapa, o RNPT é transferido para uma unidade, onde recebe cuidados de sua mãe, unidade que é
chamada de UCINCa (Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru).
• A 3ª etapa é domiciliar, com seguimento ambulatorial e complementação dos protocolos neonatais até
o peso de 2.500 g.
Na 3ª etapa, a primeira consulta deverá ser em 48 a 72h após a alta, preferencialmente no hospital onde
o bebê obteve alta. A agenda deve ser “aberta”, permitindo o retorno sem necessidade de marcação de
consulta. Na primeira semana, o bebê deverá passar por três avaliações, caso obtenha alta hospitalar com
menos de 2.000 g de peso.
A Terceira Etapa do Método Canguru será compartilhado com as Equipes da Atenção Básica de Saude.
O Método Canguru é aplicado no Brasil como uma política pública desde 2000, e cada vez
mais unidades neonatais utilizam essa metodologia de cuidado. Muitas crianças pré‑termo que
são acompanhadas na Atenção Básica foram “bebês‑canguru”, sendo, portanto, natural que
compartilhem a terceira etapa do método com o hospital. Por tudo isso, é bom conhecer esta
metodologia de cuidado e atenção.
O que é?
O Método Canguru é uma intervenção individual, baseada no cuidado singular ao RNPT
e à sua família, que incentiva a proximidade do contato pele a pele entre o recém‑nascido
pré‑termo (RNPT) e seus pais. Pode‑se dizer, de uma forma mais ampla, que se trata de uma
intervenção biopsicossocial, abrangendo vários aspectos do cuidado neonatal.
41
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
neuropsicomotor e psicoafetivo. Isso quer dizer que cada bebê e sua família são tratados de
acordo com suas individualidades e necessidades. Especialmente o bebê, o qual é observa‑
do a partir de seu momento evolutivo, de suas condições clínicas e de seu comportamento.
A participação da família é fundamental, porque no final desse processo devemos observar
o empoderamento da mãe, do pai ou dos cuidadores mediante uma transferência gradual
tanto de conhecimento como de responsabilidade nos cuidados ao bebê, para que se tornem
mais preparados para atender às suas necessidades físicas e emocionais.3
Como é aplicado?
As estratégias citadas perpassam toda a internação do bebê, mas para efeitos práticos pode‑
mos dividir o MC em 3 etapas, conforme o local de internação do RNPT:10
A 1ª etapa ocorre na Unidade Intensiva Neonatal ou na Unidade de Cuidado Intermediário
Neonatal Convencional (UCINCo). Dependendo da condição clínica do RN e da disponi‑
bilidade materna e paterna, poderá já ter início o contato pele a pele por algumas horas do
dia ou até pelo dia inteiro.
Na 2ª etapa, o RNPT é transferido para uma Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal
Canguru (UCINCa) próxima ou dentro da Unidade Neonatal. Nessa situação, o bebê já res‑
pira espontaneamente, recebe alimentação enteral (amamentação, dieta via oral ou dieta via
sonda gástrica) e está estável clinicamente. Passa, então, a receber de forma mais sistemática
os cuidados de sua mãe, que fica como acompanhante do bebê e, com a presença contínua
da mãe, a posição canguru é realizada dia e noite, segundo a disponibilidade dela.
A 3ª etapa é domiciliar, com seguimento ambulatorial. A alta hospitalar poderá ser dada a
partir de 1.600 g, dependendo de cada RN/família e, a partir daí, define‑se o retorno ambu‑
42
MÓDULO 5
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
latorial, que poderá ser de uma a três vezes por semana. Nesse período, até o bebê alcançar
2.500 g, a posição canguru deve ser realizada durante o dia e à noite (quando a mãe deverá
providenciar uma elevação para dormir), em função das necessidades da criança.
É importante lembrar que a primeira consulta deverá ser em 48 a 72h após a alta. A
agenda deve ser “aberta”, permitindo o retorno do bebê sem a necessidade de marca-
ção de consulta. Na primeira semana, o bebê deverá passar por três avaliações, caso
obtenha alta hospitalar com menos de 2.000 g de peso.
Esta etapa, em geral, é realizada pelo serviço no qual o RNPT obteve alta hospitalar e deve
ser compartilhada com a Atenção Básica. Na verdade, este acompanhamento vem comple‑
mentar e finalizar o tratamento recebido no hospital, porém sem a necessidade de uma es‑
trutura de suporte hospitalar.
Devem‑se garantir a evolução segura do RNPT, sua amamentação, a observação do ganho de
peso adequado, o tratamento das intercorrências e sua reinternação, caso seja necessária. Ou
seja, esta etapa envolve seguimento clínico e complementação dos protocolos neonatais até o
peso de 2.500 g, quando então o RN obtém alta da 3ª etapa do Método Canguru e seu acom‑
panhamento passará a ser feito pela Atenção Básica e/ou pelos ambulatórios especializados.
MÓDULO 5
encaminhados, após a alta do Método Canguru, para programas de s eguimento, que são
serviços especializados no acompanhamento de RN de risco (follow‑up).
Esses programas deverão realizar o seguimento de forma compartilhada com a Atenção
Básica.
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Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Também é usado no pós‑parto como transporte onde não existem possibilidades seguras
para o bebê ou como procedimento analgésico.13,14
Considerando‑se o tamanho e a diversidade do Brasil, acreditamos que, mesmo nos locais
onde o MC não possa ser implantado de forma estruturada nas três etapas, também poderá
ser aplicado de forma parcial, dependendo de cada situação, trazendo benefícios aos bebês
pré‑termo.
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MÓDULO 5
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 5
A equipe da Atenção Básica deverá conhecer o Método Canguru, as características dos
RNPT e de sua família, assim como orientar os cuidados diários, mesmo que o bebê
esteja em seguimento pelo hospital e/ou por serviço especializado.
A criança é a mesma e todos devem participar, cada um a seu modo, do acompanha-
mento.
Os agentes comunitários de saúde (ACS) devem ser orientados a identificar os sinais de
risco e encaminhar o caso para avaliação da equipe: enfermeiro ou médico do ESF, que,
por sua vez, irá avaliar a necessidade de orientar a família na busca de atendimentos
especializados.
• O primeiro retorno do bebê ao hospital após a alta deverá ser feito em até 72h.
• A agenda é aberta e o RN poderá vir quando for necessário, mesmo que não tenha
consulta marcada, com a garantia do atendimento das suas intercorrências clínicas,
dúvidas e as inseguranças da mãe e da família, minimizando o risco de desmame e/ou
o abandono do acompanhamento e seguimento do bebê.
• A reinternação deve ser garantida pela instituição enquanto o RN estiver na 3ª etapa
do MC.
• Tentar agrupar as consultas do MC, quando possível, com os exames e as avaliações
pendentes para otimizar tais retornos e facilitar a organização da família.
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Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
2ª semana: 2 atendimentos:
• Retorno à maternidade de origem.
• Consulta na UBS ou visita domiciliar.
A partir da 3ª semana:
• Uma vez por semana até completar 2.500 g.
• Alternando maternidade/UBS.
Suporte emocional? Se tem outros filhos, quem vai ajudar? Essa pessoa mora na rua?
Além das citadas, algumas situações de risco devem ser consideradas, tais como: gemela‑
ridade, mãe adolescente e/ou situação familiar “complicada”. Nesses casos, poderá ser ne‑
cessária uma visita domiciliar antes da alta para avaliar as condições de segurança para o
bebê. No caso de residir na rua, caberá à equipe da Atenção Básica articular atividades com
os dispositivos disponíveis no território, como o Centro de Referência de Assistência Social
(Cras), o Conselho Tutelar e outros parceiros, para avaliar a segurança do bebê.
Todos esses aspectos devem ser avaliados pela equipe multidisciplinar para decidir a alta e
planejar os retornos e recursos necessários.
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MÓDULO 5
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Em casa é diferente
Embora o bebê esteja clinicamente estável e a mãe e os familiares aptos para a alta hospitalar,
quando chegam à sua casa, eles podem se deparar com uma situação diversa da apresentada
no hospital, o que mostra a importância do seguimento.
A seguir, apresentamos alguns exemplos comumente observados:
• A rede de apoio não consegue de fato ajudar: todos trabalham, não podem faltar ao
serviço e as promessas ficam na categoria das “boas intenções”.
• A mãe tem de dar conta do serviço da casa e do bebê: por isso, ela permite que ele fique
dormindo muito tempo para que ela possa realizar as tarefas domésticas e, consequen‑
temente, o bebê mama pouco.
• Apesar do treinamento e da orientação, a mãe e/ou os familiares não fazem contato
pele a pele (posição canguru) e o bebê ganha pouco peso.
• Os familiares e vizinhos vão visitar: estabelece‑se uma rotina de visitação, que inter‑
fere na rotina da mãe e do bebê, impedindo o descanso e as mamadas.
• Todos querem “pegar” o bebê ou ainda os irmãos estão resfriados: risco para infec‑
ções respiratórias (gripe, resfriado e bronquiolite) e reinternação.
• Conflito de orientações: as avós, as comadres e a comunidade a que a família pertence
têm crenças e culturas próprias e, no desejo de ajudar, muitas vezes interferem negati‑
vamente. Por exemplo: “o neném mama toda hora porque o seu leite está fraco; dá logo
uma mamadeira para ele” ou “tudo isso que o médico falou é bobagem, já criei cinco
filhos...” etc.
• Quando a residência é a rua: fatores como amamentação, clima (frio ou calor), local
MÓDULO 5
onde irá dormir, cuidados gerais com a higiene, todos esses fatores estão em situação
de risco.
Na consulta:
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Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Exame físico
O exame físico é de rotina. Lembramos apenas de alguns aspectos mais comuns que devem
ser observados nos RNPT:
• Ausculta pulmonar: os roncos de transmissão por obstrução nasal são frequentes e
desaparecem com o crescimento do bebê. Se na ausculta o profissional identificar a
presença de outros ruídos, deve tomar a conduta necessária.
• Ausculta cardíaca: sopros e taquicardia podem indicar anemia descompensada. Confi‑
ra no relatório de alta presença de malformação cardíaca algo que justifique o sopro e
avalie a anemia mediante exames laboratoriais feitos na urgência.
• Hérnias: a hérnia umbilical geralmente regride sem interferência, mas a hérnia inguinal
deverá ser referenciada para a cirurgia pediátrica pelo risco de encarceramento.
• Hidrocele: também regride com frequência e geralmente a conduta é expectante. En‑
caminhe o caso quando ela for volumosa ou dolorosa e para diagnóstico diferencial de
hérnia inguinal.
48
MÓDULO 5
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Enfim, cada profissional usará sua criatividade nos exemplos e nas explicações, evitando
sempre orientações com uma linguagem muito técnica que não atinjam o objetivo deseja‑
do. Devem ser evitadas críticas, que poderão acarretar a quebra da parceria com a mãe ou
com os demais familiares e mesmo trazendo dificuldades para a adesão às orientações da‑
das. Quando necessárias, as críticas do profissional devem ser feitas oportunamente, com
abordagem cuidadosa, inclusive perguntando à mãe se algumas coisas poderiam estar sendo
feitas de outra forma.
MÓDULO 5
• Precisou dar algum outro leite? Como foi ofertado esse leite?
• Como ele está dormindo?
• E o xixi? Como está? Quantas fraldas você está trocando em 24 horas?
• Você está conseguindo “fazer canguru”?
• Quem está ajudando você?
• Conseguiu a medicação? Como você está dando os medicamentos?
• Você está com alguma dificuldade? Tem alguma dúvida?
Com essas perguntas, dá para o profissional rastrear vários problemas que podem interferir
na mamada e no ganho de peso e que poderão ser resolvidos com reforço nas orientações.
Quando o bebê não ganhou peso como o esperado, observe as seguintes situações
• Manejo inadequado da mamada: a mãe deixa a criança pouco tempo no seio materno
ou alterna muito os seios e o bebê não mama o leite posterior (leite gordo).
• O bebê está dormindo demais e não mama: reforce que o RNPT nem sempre dá sinais
vigorosos de fome e pode não chorar. Ofereça o seio quando o bebê estiver ativo/agita‑
do ou com a boca aberta, procurando sugar. Lembre que o intervalo entre as mamadas
pode variar muito, de cada 30 minutos até eventualmente três horas, mas que não se
deve deixar o bebê manter um intervalo longo por várias vezes durante o dia.
• Contato pele a pele (posição canguru) insuficiente: a mãe e/ou o cuidador (familiar)
deixou o bebê no berço e não fez “canguru”. Reforce a importância do “calor pronto”
para os bebês abaixo de 2.000 g e para os locais frios. Saliente também o quanto essa
posição ajuda no desenvolvimento e no crescimento do bebê.
=> Se o exame físico estiver normal, tranquilize a mãe e/ou o familiar, reforce as orientações
e agende retorno em 48h.
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Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Lembre que mesmo os RNPT tardios têm uma possibilidade de reinternação três vezes
maior do que em relação aos RNT, sendo as causas mais comuns: icterícia, dificuldades
de alimentação, ganho de peso pobre e apneia.15
• Hipoatividade, hipotonia.
• Irritabilidade, febre.
• Regurgitação frequente, vômitos.
• Diminuição ou recusa do peito/dieta.
• Ganho ponderal insuficiente ou perda de peso.
• Icterícia.
Nestes casos, encaminhe a criança imediatamente para a unidade neonatal ou para a pe‑
diatria para internação de urgência ou, se não for possível, para o serviço de urgência mais
próximo.
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MÓDULO 5
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
As orientações da equipe são muito importantes nesta etapa, porque a mãe e/ou o familiar
interpretam esse comportamento das mamadas como uma falha, acreditando que o leite ma‑
terno é fraco ou insuficiente e se sentem inseguros. Além disso, eles também precisam estar
capacitados a lidar com as situações de urgência e saber o que fazer e onde buscar ajuda.
Essas características mudam a cada semana, com o amadurecimento do bebê, que se tor‑
na cada vez mais eficiente para mamar e controlar o sono e a temperatura corporal. Esses
aspectos devem ser informados à família para que ela compreenda tais cuidados como um
período de transição.
A posição canguru (contato pele a pele) também se torna desnecessária a partir de um certo
momento. Entretanto, se a mãe e o bebê sentirem‑se bem, a posição pode continuar por um
período maior. Observa‑se que o próprio bebê, a partir de seu desenvolvimento, mostra‑se
diferente quando acordado na posição canguru. Mostra interesse em olhar o ambiente, em
olhar para o rosto de quem o abriga em seu colo e olhar para suas expressões enquanto o
adulto conversa, canta... e pode mostrar interesse em se comunicar de maneira diferente.
Geralmente, isso acontece após ter alcançado a idade de termo.
Banho
Lembre que é dispensável. O importante é manter a higiene da região perineal após cada
troca de fraldas. O bebê poderá receber o banho em dias alternados ou ficar sem banho por
alguns dias. O banho deve ser evitado nos dias frios. Recomende que o ambiente esteja fe‑
chado, aquecido, com tudo separado e preparado antecipadamente (roupas, fraldas, toalhas
MÓDULO 5
etc.). O banho deve ser de imersão, o sabonete deve ser neutro e o bebê deve ser secado ra‑
pidamente e aquecido após o banho, com contato pele a pele.
Troca de fraldas
Mantenha a cabeça e o corpo do bebê mais elevados do que o quadril dele. Não o deixe na
posição horizontal. Abra a fralda e vire o bebê de lado para a troca e higiene da região, sem‑
pre com movimentos da frente para trás. Se necessário, vire o bebê do outro lado para acabar
de limpá‑lo. Preferencialmente, use algodão umedecido com água na higiene e evite o uso de
produtos industrializados na pele do bebê. Não aperte demais as fraldas. Nunca eleve ou fle‑
xione as pernas e o quadril, porque, dessa forma, aumentamos a pressão intra‑abdominal e
facilitamos o RGE. É comum que as mães levantem o bebê pelas pernas para limpá‑los. É im‑
portante reforçar que, se a limpeza for feita dessa forma, eles podem “golfar” e se “engasgar”.
Posturação
Após as mamadas, mantenha o bebê na posição canguru por 30 a 40 minutos e, caso seja
necessário, coloque o RN deitado, sempre mantendo a cabeça e o corpo do bebê mais eleva‑
dos do que o quadril dele, para que ele fique numa posição de estar quase sentado. Reforce
com os cuidadores que os bebês não podem usar travesseiros (para evitar a flexão exagerada
da cabeça). É comum que, quando orientados a manter o RN elevado, usem um travesseiro
para apoio da cabeça do bebê, muitas vezes ocasionando uma flexão exagerada da cabeça
dele, com obstrução das suas vias aéreas altas e com risco de apneia.
Posição canguru
A posição canguru é recomendada enquanto for confortável para o binômio que o realiza
ou até que o bebê obtenha o peso de 2.500 g. Para os locais mais frios, recomendamos o uso
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Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
de gorros, para evitar a perda de calor pela cabeça. Nessa etapa, o contato pele a pele deve
ser contínuo e a mãe é orientada a dormir com o bebê “amarrado” com a faixa‑canguru em
posição semissentada.
A posição canguru também pode ser usada para aquecer o bebê após o banho e como pos‑
turação para evitar regurgitações após as mamadas.
Em algumas regiões, existe a cultura de dividir o leito (cama) com o RN (coleito), o que con‑
traindicamos e salientamos que não deve ser confundido com posição canguru. Sugerimos
que se pergunte como está sendo realizado o contato pele a pele durante a noite e se oriente
a mãe e os familiares dos riscos de trauma mecânico, asfixia e broncoaspiração se o RN for
colocado ao lado dela na cama.
Conclusão
Conhecer o Método Canguru e as características dos RNPTs poderá não só facilitar o acom‑
panhamento pela Atenção Básica, como torná‑lo mais seguro para o bebê e sua família.
Leituras recomendadas
• Disponíveis em: <www.saude.gov.br> (Saúde do Recém‑Nascido).
• Manual de ‘Atenção Humanizada ao Recém‑Nascido de Baixo Peso – Método Canguru’,
2ª edição, Brasília, DF, 2010.
• Manual de ‘Atenção à Saúde do Recém‑Nascido – Guia para Profissionais de Saúde.
MÓDULO 5
52
MÓDULO 5
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
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Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
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MÓDULO 5
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 5
5. GARANTIA DE DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS
Implementar estratégias de comunicação social e programas educativos relacionados
à saúde sexual e reprodutiva; promoção, prevenção e tratamento das DST/Aids; orien‑
tação e oferta de métodos contraceptivos.
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Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
ANEXO
I ‑ INTRODUÇÃO
Os avanços tecnológicos para o diagnóstico e a abordagem de recém‑nascidos enfermos, no‑
tadamente os de baixo peso, aumentaram de forma impressionante as chances de vida desse
grupo etário. Sabe‑se, ainda, que o adequado desenvolvimento dessas crianças é determina‑
do por um equilíbrio quanto ao suporte das necessidades biológicas, ambientais e familiares,
portanto, cumpre estabelecer uma contínua adequação tanto da abordagem técnica quanto
das posturas que impliquem mudanças ambientais e comportamentais com vistas à maior
humanização do atendimento.
A presente Norma deverá ser implantada nas Unidades Médico‑Assistenciais integrantes do
Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde – SUS. As Unidades que
já possuem esse Método de atendimento deverão manter o que vêm fazendo, introduzindo
apenas as novas adaptações que visam melhorar a eficiência e a eficácia da atenção.
A adoção dessa estratégia contribui para a promoção de uma mudança institucional na
busca da atenção à saúde, centrada na humanização e no princípio de cidadania da família.
Entende‑se que as recomendações aqui contidas deverão ser consideradas como um míni‑
mo ideal para a tomada de condutas que visem a um atendimento adequado ao recém‑nas‑
cido de baixo peso, com procedimentos humanizados, objetivando maior apego, incentivo
ao aleitamento materno, melhor desenvolvimento e segurança, inclusive quanto ao relacio‑
namento familiar.
Definição
1. O Método Canguru é um modelo de assistência perinatal voltado para o cuidado huma‑
nizado que reúne estratégias de intervenção bio‑psico‑social.
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Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
2. O contato pele‑a‑pele, no Método Canguru, começa com o toque evoluindo até a posição
canguru. Inicia‑se de forma precoce e crescente, por livre escolha da família, pelo tempo que
ambos entenderem ser prazeroso e suficiente. Esse Método permite uma maior participação
dos pais e da família nos cuidados neonatais.
3. A posição canguru consiste em manter o recém‑nascido de baixo peso, em contato
pele‑a‑pele, na posição vertical junto ao peito dos pais ou de outros familiares. Deve ser
realizada de maneira orientada, segura e acompanhada de suporte assistencial por uma
equipe de saúde adequadamente treinada.
Normas Gerais
1. A adoção do Método Canguru visa fundamentalmente uma mudança de atitude na abor‑
dagem do recém‑nascido de baixo peso, com necessidade de hospitalização.
2. O método descrito não é um substitutivo das unidades de terapia intensiva neonatal, nem
da utilização de incubadoras, já que estas situações têm as suas indicações bem estabelecidas.
3. O Método não objetiva economizar recursos humanos e recursos técnicos, mas funda‑
mentalmente aprimorar a atenção perinatal.
4. O início da atenção adequada ao RN antecede o período do nascimento. Durante o pré‑na‑
tal, é possível identificar mulheres com maior risco de recém‑nascidos de baixo peso; para
elas devem ser oferecidas informações sobre cuidados médicos específicos e humanizados.
5. Nas situações em que há risco de nascimento de crianças com baixo peso, é recomendável
encaminhar à gestante para os cuidados de referência, uma vez que essa é a maneira mais
MÓDULO 5
segura de atenção.
6. Na 2ª etapa não se estipula a obrigatoriedade de tempo em posição canguru. Essa situação
deve ser entendida como um fato que ocorre com base na segurança do manuseio da crian‑
ça, no prazer e na satisfação da criança e da mãe.
7. Deverá ser também estimulada a participação do pai na colocação da criança em posição
canguru.
8. A presença de berço no alojamento de mãe e filho, com possibilidade de elevação da ca‑
beceira, permitirá que a criança ali permaneça na hora do exame clínico, durante o asseio da
criança e da mãe e nos momentos em que a mãe e a equipe de saúde acharem necessários.
9. São atribuições da equipe de saúde:
–– orientar a mãe e a família em todas as etapas do método
–– oferecer suporte emocional e estimular os pais em todos os momentos
–– encorajar o aleitamento materno
–– desenvolver ações educativas abordando conceitos de higiene, controle de saúde e
nutrição
–– desenvolver atividades recreativas para as mães durante o período de permanência
hospitalar
–– participar de treinamento em serviço como condição básica para garantir a
qualidade da atenção
–– orientar a família na hora da alta hospitalar, criando condições de comunicação
com a equipe, e garantir todas as possibilidades já enumeradas de atendimento
continuado.
57
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Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Vantagens
–– aumenta o vínculo mãe‑filho
–– reduz o tempo de separação mãe‑filho
–– melhora a qualidade do desenvolvimento neurocomportamental e psico‑afetivo do
RN de baixo‑peso.
–– estimula o aleitamento materno, permitindo maior freqüência, precocidade e
duração
–– permite um controle térmico adequado
–– favorece a estimulação sensorial adequada do RN
–– contribui para a redução do risco de infecção hospitalar
–– reduz o estresse e a dor dos RN de baixo peso
–– propicia um melhor relacionamento da família com a equipe de saúde
–– possibilita maior competência e confiança dos pais no manuseio do seu filho de
baixo peso, inclusive após a alta hospitalar
–– contribui para a otimização dos leitos de Unidades de Terapia Intensiva e de
Cuidados Intermediários devido à maior rotatividade de leitos
População a ser atendida
–– Gestantes de risco para o nascimento de crianças de baixo peso
–– Recém‑nascidos de baixo peso
–– mãe, pai e família do recém‑nascido de baixo peso
Aplicação do método
O método será desenvolvido em três etapas:
MÓDULO 5
1ª etapa
Período que se inicia no pré‑natal da gestação de alto‑risco seguido da internação do RN na
Unidade Neonatal. Nessa etapa, os procedimentos deverão seguir os seguintes cuidados especiais:
–– Acolher os pais e a família na Unidade Neonatal.
–– Esclarecer sobre as condições de saúde do RN e sobre os cuidados dispensados,
sobre a equipe, as rotinas e o funcionamento da Unidade Neonatal.
–– Estimular o livre e precoce acesso dos pais à Unidade Neonatal, sem restrições de horário.
–– Propiciar sempre que possível o contato com o bebê.
–– Garantir que a primeira visita dos pais seja acompanhada pela equipe de profissionais.
–– Oferecer suporte para a amamentação.
–– Estimular a participação do pai em todas as atividades desenvolvidas na Unidade
–– Assegurar a atuação dos pais e da família como importantes moduladores para o
bem‑estar do bebê.
–– Comunicar aos pais as peculiaridades do seu bebê e demonstrar continuamente as
suas competências.
–– Garantir à puérpera a permanência na unidade hospitalar pelo menos nos primeiros
cinco dias, oferecendo o suporte assistencial necessário.
–– Diminuir os níveis de estímulos ambientais adversos da unidade neonatal, tais como
odores, luzes e ruídos.
–– Adequar o cuidar de acordo com as necessidades individuais comunicadas pelo bebê.
–– Garantir ao bebê medidas de proteção do estresse e da dor.
–– Utilizar o posicionamento adequado do bebê, propiciando maior conforto,
organização e melhor padrão de sono, favorecendo assim o desenvolvimento.
–– Assegurar a permanência da puérpera, durante a primeira etapa:
58
MÓDULO 5
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
–– Auxílio transporte, para a vinda diária à unidade pelos Estados e/ou Municípios
–– Refeições durante a permanência na unidade pelos Estados e/ou Municípios
–– Assento (Cadeira) adequado para a permanência ao lado de seu bebê e espaço que
permita o seu descanso.
–– Atividades complementares que contribuam para melhor ambientação, desenvolvidas
pela equipe e voluntários.
2ª etapa
Na segunda etapa o bebê permanece de maneira contínua com sua mãe e a posição cangu‑
ru será realizada pelo maior tempo possível. Esse período funcionará como um “estágio”
pré‑alta hospitalar.
2.1 São critérios de elegibilidade para a permanência nessa etapa:
2.1.2 Do bebê
–– estabilidade clínica
–– nutrição enteral plena (peito, sonda gástrica ou copo)
–– peso mínimo de 1.250g
2.1.2 Da mãe
–– desejo de participar, disponibilidade de tempo e de rede social de apoio
–– consenso entre mãe, familiares e profissionais da saúde
–– capacidade de reconhecer os sinais de estresse e as situações de risco do
recém‑nascido.
–– conhecimento e habilidade para manejar o bebê em posição canguru
MÓDULO 5
2.2 Permitir o afastamento temporário da mãe de acordo com suas necessidades.
2.3 Acompanhar a evolução clínica e o ganho de peso diário.
2.4 Cada serviço deverá utilizar rotinas nutricionais de acordo com as evidências científicas atuais.
2.5 A utilização de medicações orais, intramusculares ou endovenosas intermitentes não
contra‑indicam a permanência nessa etapa.
2.6 São critérios para a alta hospitalar com transferência para a 3ª etapa:
–– mãe segura, psicologicamente motivada, bem orientada e familiares conscientes
quanto ao cuidado domiciliar do bebê
–– compromisso materno e familiar para a realização da posição pelo maior tempo possível
–– peso mínimo de 1.600g
–– ganho de peso adequado nos três dias que antecederem a alta
–– sucção exclusiva ao peito ou, em situações especiais, mãe e família habilitados a
realizar a complementação
–– assegurar acompanhamento ambulatorial até o peso de 2500g
–– a primeira consulta deverá ser realizada até 48 horas da alta e as demais no mínimo
uma vez por semana
–– garantir atendimento na unidade hospitalar de origem, a qualquer momento, até a alta
da terceira etapa.
3ª etapa
Esta etapa se caracteriza pelo acompanhamento da criança e da família no ambulatório e/ou
no domicílio até atingir o peso de 2.500g, dando continuidade à abordagem biopsicossocial.
59
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
1. Recursos Humanos
Recomenda‑se que toda a equipe de saúde responsável pelo atendimento do bebê, dos pais
e da família, esteja adequadamente capacitada para o pleno exercício do Método.
A equipe multiprofissional deve ser constituída por:
–– médicos
–– pediatras e/ou neonatologistas (cobertura de 24 horas)
–– obstetras (cobertura de 24 horas)
–– oftalmologista
–– enfermeiros (cobertura de 24 horas)
–– psicólogos
–– fisioterapeutas
–– terapeutas ocupacionais
–– assistentes sociais
–– fonoaudiólogos
–– nutricionistas
–– técnicos e auxiliares de enfermagem (na 2ª etapa, uma auxiliar para cada 6 binômios
com cobertura 24 horas).
2. Recursos físicos
2.1 Os setores de terapia intensiva neonatal e de cuidados intermediários deverão obedecer
às normas já padronizadas para essas áreas e permitir o acesso dos pais com possibilidade
de desenvolvimento do contato tátil descrito nas etapas 1 e 2 dessa Norma. É importante
que essas áreas permitam a colocação de assentos removíveis (cadeiras – bancos) para, ini‑
cialmente, facilitar a colocação em posição canguru.
60
MÓDULO 5
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
3. Recursos materiais
3.1 Na 2ª etapa, na área destinada a cada binômio, serão localizados: cama, berço (de utili‑
zação eventual, mas que permita aquecimento e posicionamento da criança com a cabeceira
elevada), aspirador a vácuo, central ou portátil, cadeira e material de asseio.
3.2 Balança pesa‑bebê, régua antropométrica, fita métrica de plástico e termômetro.
3.3 Carro com equipamento adequado para reanimação cardiorrespiratória, que deverá es‑
tar localizado nos postos de enfermagem.
Avaliação do método
MÓDULO 5
Sugere‑se que, periodicamente, sejam realizadas as seguintes avaliações:
–– morbidade e mortalidade neonatal.
–– taxas de reinternação.
–– crescimento e desenvolvimento
–– grau de satisfação e segurança materna e familiar
–– prevalência do aleitamento materno
–– desempenho e satisfação da equipe de saúde
–– conhecimentos maternos adquiridos quanto aos cuidados com a criança
–– tempo de permanência intra‑hospitalar
A equipe técnica da Saúde da Criança/MS dispõe‑se a fornecer modelo de protocolo para
obtenção dos dados dessas avaliações.
61
A família e o RN pré-termo: estratégias MÓDULO 6
psicológicas e sociais em seu cuidado e atenção
Objetivos:
• Abordar aspectos da ligação afetiva entre os pais e seu bebê pré‑termo.
• Abordar estratégias para auxiliar na comunicação da equipe de saúde com as
mães e/ou os familiares.
O nascimento é uma fase vital do núcleo familiar e oferece desafios durante a gestação e na
chegada do filho. Vivenciar um parto prematuro traz novas exigências, muitas vezes desco‑
nhecidas para o enfrentamento da família à nova situação. Recursos afetivos precisam ser
fortalecidos, competências precisam ser aprendidas, habilidades necessitam ser modeladas.
A mãe e a família precisam do suporte das equipes em todas as esferas de atendimento,
seja hospitalar, seja ambulatorial e mesmo domiciliar. Tudo isso para melhor se adaptarem
às solicitações próprias do período de hospitalização, da permanência da mãe na unidade
neonatal, aos contatos e às conversas frequentes com as equipes, à compreensão de novas
orientações no cuidado do filho.
63
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
cognitivas e de suas histórias familiares, elas entendem as orientações dos profissionais. Isso
pode parecer complicado, mas vocês podem lidar bem com essas situações, pois possuem
longo treinamento no cuidado com famílias.
Apenas lembrando, o nascimento de um bebê é sempre envolvido em muita emoção.
Oferecer cuidados básicos ao recém‑nascido parece ser muito óbvio para as diferentes equi‑
pes de saúde, mas isso não é assim para algumas mães, pais ou mesmo para os demais fami‑
liares. Em nosso dia a dia, encontramos mães de diferentes meios sociais e diversas cultu‑
ras familiares. Algumas estão tendo seu primeiro filho, mas outras, mais um filho. Algumas
possuem boas referências sobre como cuidar de um bebê, aprendidas em seu grupo familiar
ou social. Outras mães não tiveram essas mesmas oportunidades, o que deixa mais difícil
encontrarem dentro de si habilidades que lhes facilitem entender e responder às necessida‑
des do filho recém‑nascido. Na ocorrência do parto prematuro, lembramos que isso tudo
se potencializa.
Muitas vezes, no ambulatório, nas visitas domiciliares, em grupos de orientações, alguns
comentários ou mesmo algumas atitudes maternas ou de familiares no cuidado ao bebê
parecem se referir a questões bastante óbvias, sem necessitarem de uma discussão mais cri‑
teriosa ou de melhor informação. No entanto, o cuidador familiar dessas crianças oferece
muitas vezes um significado diferente para o seu choro, para a sua postura, para o seu com‑
portamento, pois ainda tem registros que fizeram parte da internação, quando pequenas
observações podiam ser indicadores de questões significativas. Ou seja, na correria do dia
a dia, com muitas mães e crianças para atender, você pode acabar preocupado em oferecer
um atendimento criterioso para os bebês e pode deixar de observar e investigar questões
que parecem de rotina, deixando algumas orientações de lado. Por isso, iremos sugerir es‑
MÓDULO 6
tratégias que poderão ajudar na comunicação eficaz com tais mães e/ou familiares, o que
facilitará o atendimento da família.
64
MÓDULO 6
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Muitas vezes, você dá várias dicas para a mãe sem sucesso. Tente observar o compor-
tamento da mãe com o bebê e procure escutá‑la. Somente após esse contato, passe
as orientações necessárias com base naquilo que você viu e ouviu, avaliando com ela
a adequação das informações.
MÓDULO 6
sobre novas formas de realizá‑los.
• Dar um significado às percepções da mãe sobre o seu bebê e ajudá‑la a conhecer melhor
as necessidades do filho, mediante orientações simplificadas.
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Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Se ela estiver muito estressada, diga‑lhe que isso acontece com muitas mulheres. Incentive‑a
a pedir ajuda às pessoas próximas.
3) Solicite a mãe a demonstrar, se possível com o bebê, o que ela entendeu sobre as
orientações citadas sobre como proceder nos cuidados com a criança.
Acolher o bebê junto ao corpo, falar em tom suave.
Observar a coloração da sua pele, sua respiração, seu sono.
Quando a mãe mostrar o que aprendeu, sugira mudanças em suas dificuldades e apoie com
elogios suas tentativas bem‑sucedidas.
Ajude a mãe a se organizar nas manobras e nos cuidados com o seu bebê e elogie suas ten‑
tativas adequadas. O estímulo, conhecido também por reforço positivo, é importante para a
autoconfiança da mãe.
Passe as orientações de modo simples, fale com voz firme e com tom de voz acolhedor. Se
você observar que a mãe tem dificuldades para compreender, passe as informações também
para o pai (caso a mãe conviva com ele) ou para o acompanhante da mãe na consulta. Caso
ela esteja sozinha, peça‑lhe que venha com alguém na próxima consulta.
Estimule a mãe a receber auxílio da rede de apoio: companheiro, avós do bebê, amigos, padri‑
nhos, vizinhos.
Caso a mãe esteja numa relação estável com o pai do bebê e/ou resida com ele ou outro(a)
companheiro(a), lembre a ela que é importante para o bebê incluí‑lo(a) nos seus cuidados.
Além da dedicação ao bebê, isso em alguns momentos alivia a mãe nos cuidados com o filho.
MÓDULO 6
“Para uma mãe poder ‘maternar’, ela também precisa ser ‘maternada’”.
Isso significa que, para que ela possa exercer seu papel de mãe e cuidadora, alguém
deve lhe oferecer cuidado, um “colo”, escutá‑la e, principalmente, dar‑lhe apoio. Pode
ser a avó, o marido, as amigas e a equipe de saúde.
A psicoeducação tem como objetivo dar informações sobre os cuidados com a saúde
do bebê. Orienta sobre os sinais de doenças e promove ensinamentos teóricos e prá-
ticos, para que a mãe descubra a melhor maneira de cuidar do bebê.
66
MÓDULO 6
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
A relação entre o profissional de saúde e a mãe do bebê deve ser harmônica, para que
os objetivos da consulta sejam atingidos.
Entretanto, algumas pacientes apresentam várias queixas e as orientações dadas pare-
cem não ser suficientes e, muitas vezes, o profissional não sabe o que fazer.
MÓDULO 6
Dica: verifique se a mãe está com algum acompanhante e passe a ele as orientações. Sempre
forneça as orientações por escrito. Se ela estiver sozinha, acione o serviço social da rede de
referência para o acompanhamento da mãe e a proteção ao bebê.
Lembre‑se de que a mãe precisa da atenção do profissional de saúde. Portanto:
Escute a mãe com atenção e observe se ela está entendendo o que você
está dizendo. Se for necessário, explique de novo de forma bem simples
e com uma linguagem que ela compreenda.
67
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Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Conclusão
Ao adotar uma postura mais acolhedora, reforçando as competências da mãe, a equipe pode
observar os seguintes resultados:
• A mãe adquire habilidades necessárias para realizar os cuidados básicos do bebê.
• A mãe estabelece uma relação mais próxima e saudável com o bebê.
• A mãe demonstra satisfação pelo reconhecimento de sua competência.
• A mãe assimila as estratégias que favorecem a interação saudável com o bebê e passa a
adequar seu comportamento a cada período do desenvolvimento da criança.
• O bebê, ao perceber a segurança materna, desenvolve‑se tranquilamente, sem sinais de
psicossomatização, como, por exemplo, infecções com frequência, febres, dores.
Referências
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68
MÓDULO 6
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Quadro‑Resumo
As redes sociais são relações que compreendem não apenas a família, mas também os vínculos interpes-
soais ampliados (como os amigos, os colegas de trabalho ou de estudo) e as relações que são estabelecidas
na comunidade.
O apoio social é fundamental ao longo do desenvolvimento humano, sendo mais importante durante os
períodos de transição e mudanças, como, por exemplo, o nascimento de um filho pré-termo.
A percepção da equipe de saúde do grau de dificuldade da situação vivenciada pela família é fundamental,
pois identifica a necessidade de se acionar uma rede de apoio que possibilite à família seguir acompa-
nhando a criança e promovendo o seu desenvolvimento.
O Ecomapa é um diagrama das interações entre a família e a comunidade e pode ser utilizado pelos pro-
fissionais de saúde para o planejamento, a avaliação e as intervenções em saúde. É de fácil confecção e
deve ser construído em parceria com a família durante a consulta na Unidade Básica de Saúde (UBS) ou
na visita domiciliar. Este diagrama ajuda a avaliar os apoios e suportes disponíveis e sua utilização pela
família de uma forma dinâmica.
MÓDULO 6
Funções da rede de apoio social: apoio emocional, companhia social, guia cognitivo, ajuda prática, ajuda
material, ajuda espiritual e ajuda de serviços.
A Atenção Básica e suas equipes integram um dos serviços de saúde que compõem a rede de apoio social,
cujo objetivo é fornecer apoio técnico e integral aos bebês e às suas famílias.
Quem nunca passou por uma situação difícil, na qual o apoio da família e dos amigos foi fun‑
damental? Poder contar com algum tipo de ajuda, como alguém para ouvir suas angústias, para
ajudar na casa ou com os outros filhos, pode fazer diferença. Tal apoio permite que você tenha
mais recursos para enfrentar uma determinada situação, e isso é ter uma rede de apoio social.
69
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
As mães de bebês pré‑termo passam por uma vivência intensa, na qual se misturam desejo,
culpa, medo e ansiedade e, por isso, apresentam uma necessidade especial de acolhimento
para os seus sentimentos. As mães que são cuidadas e acolhidas, consequentemente, aumen‑
tam sua capacidade de reconhecer e atender às necessidades do bebê, ou seja, de ser mais
responsivas com ele.6,7
Essas duas questões devem ser avaliadas para o planejamento das intervenções realizadas
pela equipe da Atenção Básica. A percepção da equipe de saúde do grau de dificuldade da
situação vivenciada pela família é fundamental, pois identifica a necessidade de se acionar
uma rede de apoio que possibilite à família seguir acompanhando a criança e promovendo
o seu desenvolvimento.8
70
MÓDULO 6
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
forma, permite a visualização do desenho, pela família, com os símbolos que indicam o seu
padrão de interações, permitindo fazer as correções necessárias e acrescentar informações.
MÓDULO 6
• Além da Atenção Básica, o bebê está sendo acompanhado por algum outro serviço?
Qual?
• Vocês (familiares) estão sendo acompanhados pela UBS ou por outro serviço? Por quê?
• Se pudessem mudar a rede de apoio de vocês agora, o que escolheriam para mudar?
• Densidade: diz respeito às interações entre os próprios membros que compõem a rede,
o que favorece a sua integração, permite a troca de impressões sobre a família, além da
identificação das suas necessidades. Tais interações podem ocorrer entre a creche e a
UBS, a creche e os pais ou entre os pais e a família de origem, por exemplo.
71
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
de que o membro da rede sirva como modelo de cuidado. Observa‑se essa função, por
exemplo, quando a avó materna orienta a mãe nos cuidados com o banho do bebê em
casa ou quando o profissional esclarece as dúvidas dos pais sobre o desenvolvimento
do bebê.
• Ajuda prática: é a interação que permite ajuda prática tanto na organização quanto na
execução das rotinas da família, nas atividades domésticas e nos cuidados prestados ao
bebê, como, por exemplo, a vizinha que cuida das crianças mais velhas, levando‑as para
a escola, ou mesmo ajuda no serviço da casa.
• Ajuda material: apoio prestado pelo fornecimento ou encaminhamento de recursos
materiais, como cesta básica, condução para transportes, ajuda financeira e até mesmo
conseguir alojamento ou abrigo para a mãe que é moradora de rua, entre outros.
• Ajuda espiritual: apoio percebido ou recebido pela família mediante crenças religiosas
e espiritualistas, o que permite uma mudança na perspectiva subjetiva do processo saú‑
de‑doença. Isso quer dizer que esse apoio permite à família atribuir outro significado
para a sua experiência, facilitando o processo de enfrentamento.
• Ajuda de serviços: refere‑se aos serviços de saúde que oferecem atendimento e acom‑
panhamento aos bebês e às suas famílias, bem como o tipo de apoio técnico recebido.
72
MÓDULO 6
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
A crise que surge com o nascimento do bebê pré-termo pode ser geradora de mais
conflitos, desagregação conjugal e familiar. Portanto, o relacionamento familiar, espe-
cialmente do casal, deve ser muito cuidado por todos, seja nos ambulatórios especia-
lizados, seja pelas equipes da Atenção Básica.
MÓDULO 6
• Da rede de apoio social.
Conclusão
O apoio técnico oferecido à família pelos profissionais da Atenção Básica no momento de
transição poderá ajudar na gestão e na resolução de possíveis conflitos, contribuindo para o
enfrentamento e a adaptação da família às mudanças.
Da mesma forma, mediante o mapeamento da rede, o apoio técnico identificará quais mem‑
bros da rede de apoio poderiam desempenhar as funções que atendam às necessidades da
família durante a trajetória de desenvolvimento da criança.
A UBS e o Nasf são serviços de saúde que compõem a rede de apoio social e cujo
objetivo é fornecer apoio técnico e integral aos bebês e às suas famílias, de forma a sa-
tisfazer as suas necessidades individuais de saúde, protegê-los dos riscos e p romover
o seu desenvolvimento.
73
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Referências
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Carter B, McGoldrick M. As mudanças no ciclo de vida familiar: Uma estrutura para a terapia familiar (M.
12
74
MÓDULO 6
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Anexo 3 – Ecomapa
Enfermeira
Psicóloga
Médico
Agente
Avós Unidade comunitário
paternos Básica de saúde
de Saúde
Trabalho Marido
(Luís)
Luís Lúcia
Tia Grupo de
paterna família
Lílian Lucas Tios
maternos
Creche
Avó
Tios materna
maternos
UBS Pai/mãe
MÓDULO 6
Pediatra
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MÓDULO 6
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Tais aspectos são importantes para a mudança das práticas em saúde que devem ser exer‑
citadas. Além disso, a visita domiciliar também permite o fortalecimento do vínculo e da
humanização da atenção às famílias.
As práticas curativistas, ainda bastante utilizadas, mostraram‑se pouco eficazes para gerar
mudanças de comportamento e hábitos saudáveis, necessários na prevenção de doenças. Por
isso, é necessário o reforço destes mediante orientações e atividades educacionais.
Por outro lado, se – quando orientamos – não tivermos o cuidado de evitar que tais ativida‑
des sejam verticais e hierarquizadas (tipo “eu sou o dono do saber e você deve seguir o que
eu digo”), elas terão o potencial de mudança reduzido. É importante dar autonomia e cor‑
responsabilizar as famílias no cuidado à saúde. Devemos buscar a construção compartilha‑
da e dar aos sujeitos envolvidos os “papéis principais” e não os de “figurantes”. Como pode
ser lembrado, tal manejo fez parte da internação do bebê quando aos pais foi facilitado um
trabalho em parceria com a equipe hospitalar.
A visita domiciliar para a família do recém‑nascido pré‑termo (RNPT) permite um amplo
campo de compreensão da dinâmica familiar e do espaço para as modificações necessárias,
mediante intervenções propiciadoras de um melhor desenvolvimento e assistência à criança.
Auxilia muito à equipe da ESF se, durante a internação na unidade neonatal, os componen‑
tes da chamada “família Canguru” já tenham sido identificados e estimulados a participar
dos cuidados, assumindo a corresponsabilidade nos cuidados ao RNPT ou no auxílio à mãe
nas tarefas da casa ou com os outros filhos.
As famílias de prematuros passam por uma experiência difícil desde o parto fora do tem‑
MÓDULO 6
po esperado, o estresse pós‑nascimento e durante a internação na unidade neonatal. Isso
permite que, muitas vezes, exacerbe‑se um perfil de temperamento frequentemente de‑
nominado de “difícil” pelos profissionais de saúde. É preciso compreendê‑los e ouvi‑los
para saber lidar com essa situação especial (veja o Módulo 6, Seção 1: “Mães de RNPT:
como cuidar e orientar?”).
Neste módulo, pretendemos destacar alguns aspectos da VD a serem observados no aten‑
dimento às famílias dos RNPT, no intuito de modificar hábitos e facilitar práticas cons‑
truídas em conjunto com a família, para que estas propiciem um melhor desenvolvimento
dessa população.
Objetivos:
• Identificar o sistema de funcionamento da família.
• Fornecer subsídios para que as famílias se tornem autônomas e corresponsáveis pelos
cuidados.
• Estabelecer um processo de interação e comunicação horizontal entre os profissionais
de saúde e as famílias.
• Buscar uma interação de mesma maneira e intensidade entre os sujeitos.
• Considerar as representações do processo saúde‑doença para entender o significado da
doença para a família (neste caso, como os familiares estão entendendo o processo do
nascimento de um bebê pré‑termo e quais devem ser seus cuidados?).
77
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Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
1) Em relação ao ambiente
Avalie situações de risco ambiental, biológico, social e psicológico:
Observe aspectos gerais da residência e se esta tem condições adequadas ou não para o
crescimento e desenvolvimento do RNPT. Considere o número de familiares, bem como de
crianças presentes na casa, assim como a frequência de manuseio do bebê por seus familia‑
res, o que poderá influenciar no aumento do estresse para o RN se este não estiver em local
mais protegido em casa. É importante orientar os familiares para que o RNPT seja preser‑
vado de um manuseio estressante, como passar de colo em colo, principalmente após as re‑
feições e durante o período de sono. Considere que, quando o domicílio é a rua, tais riscos
multiplicam‑se quanto à segurança, à alimentação, à presença de animais e até com relação
ao local onde o RN poderá dormir.
• As paredes próximas ao berço têm bolor e rachaduras salientes que possam abrigar
poeira, ácaros e insetos?
• Pergunte onde o bebê fica durante o dia e qual é o local de maior permanência.
• O aparelho de som ou rádio fica ligado o dia inteiro? Em que volume?
• Alguém da casa é fumante? Se for, onde fuma? No quarto ou fora de casa?
• Observe se os animais ficam próximos ao berço. Quem cuida do animal cuida também
do bebê?
Se a casa for insalubre, converse com a família para buscar soluções anteriormente à
alta do bebê. Algumas orientações poderão ajudar:
• Conserte vazamentos e troque telhas quebradas.
• Conserte o revestimento da parede e pinte‑a com cal.
• Abra uma janela nova para melhorar a ventilação ou entrada da luz solar.
• Troque o local do berço.
• Os fumantes não devem fumar perto ou no mesmo cômodo do bebê (devem ficar, de
preferência, fora da casa).
• Os animais não devem ficar perto da criança (devem ficar, de preferência, fora da casa).
• Lave ou passe álcool nas mãos antes de pegar no bebê e depois de trocar fralda e/ou
pegar nos animais.
• Evite que as outras crianças peguem no bebê se estiverem doentes e/ou sem lavar as
mãos.
• Oriente os familiares sobre a importância de um ambiente mais calmo, especialmente
à noite.
78
MÓDULO 6
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
• Oriente os familiares sobre cuidados com a casa, tais como: mantê‑la arejada, passar
pano úmido no chão em vez de varrer (para não levantar poeira).
• Periodicamente, deixe os colchões no sol, lave tapetes e cortinas ou retire‑os.
• Evite o uso de amaciante e sabão em pó com perfume nas roupas do RN. Não se deve
usar perfume nos bebês. A pessoa que realizar a posição canguru com o bebê também
não deve usar perfumes, desodorantes, além de limpar o excesso de suor ou de sujida‑
des do seu próprio corpo.
Com essas simples orientações, poderemos permitir que o bebê possa ficar mais tranquilo
e confortável e possa descansar. Além disso, poderemos prevenir doenças respiratórias.
Onde o bebê dorme? Existe um berço ou outro espaço definido para ele em ambiente
preservado do trânsito de outros familiares?
Se o RNPT não possuir um quarto ou espaço privado, é necessário construir com a família
arranjos e pactuações na dinâmica da casa, cuidando para que o local onde ele permanece
a maior parte do tempo não seja de alta exposição à luz e aos ruídos frequentes, o que causa
estresse no bebê.
Durante a noite, é necessário que se garantam períodos maiores de silêncio, como, por exem‑
plo, desligando o rádio e a TV, controlando‑se a intensidade da voz das pessoas durante as
conversas, mantendo‑se meia luz etc.
Durante o dia, também são necessários períodos de descanso para o bebê, com os mesmos
cuidados.
MÓDULO 6
Observe sempre quais são as condições nas quais o recém‑nascido pré‑termo de baixo peso
(RNPTBP) dorme:
• Veja se a moradia tem berço e onde ele fica.
• Oriente a elevação da cabeceira a 40º, usando um apoio para os pés do berço, como,
por exemplo, tijolos ou livros ou apoio debaixo do colchão, como um cobertor ou uma
colcha dobrada, o que representa uma medida de prevenção de refluxo gastroesofágico
(RGE).
• Reforce que bebês não podem dormir com “paninhos” soltos e travesseiros que possam
sufocá‑lo durante o sono.
• Informe os familiares sobre os riscos de morte súbita e broncoaspiração e reforce as
orientações preventivas.
79
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
podem acontecer se o RN for colocado na cama, junto à mãe, sem nenhuma barreira ou
mesmo sem inclinação.
Uma família com poucos recursos pode e deve ser estimulada a procurar apoio e ajuda
existentes na comunidade, por intermédio de instituições de promoção social, ins-
tituições religiosas e grupos comunitários, para receber auxílio quanto a mudanças
necessárias, para que o bebê receba conforto em sua casa.
2) Em relação à família
Reveja com a mãe e os familiares quais são os arranjos realizados para os cuidados ao bebê:
• Quem está fazendo a “posição canguru” com o bebê, ou seja, o contato pele a pele?
Sugere‑se o método para bebês até 2.500 g.
• Quem é o principal cuidador? Certifique‑se de sua real disponibilidade.
• Caso seja a mãe, certifique‑se de que ela consiga estar presente nos principais cuidados
dirigidos ao bebê.
• O principal cuidador ou a mãe tem o apoio da família no desempenho de suas tarefas
de cuidado?
• O principal cuidador ou a mãe consegue ter tempo para o seu próprio cuidado e des‑
canso?
• Quem e/ou quantos são os outros cuidadores?
• Todos estão devidamente capacitados para os cuidados de um RNPT?
• Todos sabem como lidar com suas singularidades?
• Como se estrutura a relação conjugal em relação aos cuidados ao RNPT?
• O pai participa dos cuidados? A família permite ou não a sua real participação e, além
disso, o incentiva? Ele é presente nas decisões?
• Há muita influência de opiniões de outros membros familiares nas decisões dos pais,
dificultando o exercício da parentalidade?
É necessário incluir na rotina das visitas domiciliares a identificação da rede de apoio fami‑
liar e social e o ecossistema que envolve o RNPT, o qual não pode ser abordado de maneira
fragmentada.
80
MÓDULO 6
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Lembramos que também devem ser identificados os riscos sociais e psicológicos, tais como
o desemprego, as drogas, o álcool, a violência e os conflitos, para uma abordagem mais
eficaz. Este assunto é abordado em uma dada publicação do Ministério da Saúde: Linha
de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde de Crianças, Adolescentes e suas Famílias em
Situação de Violência.
MÓDULO 6
inteiro até o companheiro chegar do trabalho ou se vê sobrecarregada com as demandas,
que se multiplicam: o bebê, outras crianças, a casa, o marido, as opiniões diversas, enfim,
nem todas conseguem lidar com essa situação. Por isso, é necessário um olhar diferenciado
para ela, permitindo a identificação da necessidade de apoio, seja familiar, seja psicoterápi‑
co. Veja o Módulo 4 (“Aspectos afetivos: a prematuridade na família e possíveis repercussões
comportamentais no RNPT”) para saber como intervir.
81
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Alimentação
Amamentar parece uma tarefa “simples e quase natural”, mas na prática não é assim que
acontece. Existem muitos fatores que interferem negativamente, especialmente nessa popu‑
lação (veja o Módulo 7: “Amamentando um RNPT”).
Amamentação:
• Tente agendar um horário da VD para que seja realizada uma “observação da mamada”,
para avaliar e conversar com a mãe e retomar orientações, pois o processo da amamen‑
tação já foi iniciado durante a internação hospitalar.
• Caso seja possível, organize visitas mais frequentes logo após a alta hospitalar, princi‑
palmente se estiverem ocorrendo problemas de amamentação (além do encaminha‑
mento obrigatório para os especialistas nos casos de bebês de risco, de acordo com as
orientações da Atenção Básica).
82
MÓDULO 6
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
• Caso seja necessária alguma técnica diferenciada, oriente os cuidadores, confira se a fa‑
mília e especialmente o companheiro estão auxiliando a mãe na amamentação, apoian‑
do, entendendo suas necessidades nesse momento ou se as sugestões são aquelas do
tipo: “seu leite está fraco”, “dê logo mamadeira para essa criança” etc.
• Reforce a autoestima da mãe, diga que “ela consegue”, que existe o cansaço e, aos pou‑
cos, a auxilie a identificar todos os pontos positivos e tudo o que ela já superou.
MÓDULO 6
Muitos brinquedos podem ser confeccionados a partir de sucata e ser igualmente interes‑
santes para o bebê. Criança gosta de brilhos, de objetos coloridos e “barulhinhos”. Chamam
especialmente a atenção dos bebês, quando ainda pequenos, contrastes entre o claro e o es‑
curo, como, por exemplo, vermelho e amarelo, azul escuro e branco. Podemos fazer choca‑
lhos com recipientes vazios e limpos, nos quais colocamos, por exemplo, um pouco de arroz
(tendo o cuidado de colar a tampa com uma cola realmente eficaz) e os embrulhamos com
pano colorido. Enfim, podemos orientar a família a buscar e adaptar brinquedos com base
em seus próprios recursos. Outras atividades importantes referem‑se a cantar e a embalar
o bebê, pois não é isso que o deixará “mal‑acostumado”, mas sim lhe oferecerá experiências
prazerosas, que o deixarão mais próximo ao cuidador, permitindo que a criança vá se tor‑
nando independente com segurança. Experiências como mostrar‑lhe o seu ambiente próxi‑
mo, contar o que está acontecendo em seu dia a dia, atividades que podemos considerar uma
bela comunicação (entre os pais e o bebê) que já teve início na internação. É nessa linha de
atuação que devemos fazer um grande investimento, o que poderá mudar ou colaborar na
melhoria de seu prognóstico.
O profissional de saúde, durante a VD, deve ter este olhar diferenciado ao avaliar o ambiente:
• Há preocupação familiar em tornar o ambiente interessante (colorido, alegre, com estí‑
mulos visuais, tipo móbiles e brinquedos) para o desenvolvimento do bebê?
• Ocorrem estímulos sonoros e estes são adequados (mais suaves inicialmente para o
RNPT)?
• O bebê tem alguns brinquedos? Eles estão de acordo com a sua idade para que ele possa
se interessar, brincar ou para fazer brincadeiras com os cuidadores?
• O tempo de atenção, de cuidados e de estimulação dispensado ao bebê por dia é suficiente?
• A mãe e os familiares conversam com o bebê? O tom de voz é suave e agradável?
83
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Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Conclusão
A VD, quando realizada adequadamente, é um instrumento valioso, que pode facilitar a
compreensão e o cuidado oferecido pelas famílias ao RNPT e de baixo peso. O atendimen‑
to pelas equipes de saúde, ao incorporar tecnologias no cuidado, respeitando a família e os
seus modos de vida, suas crenças, sua cultura e seus padrões de comportamento, permite
um melhor desenvolvimento dessa população.
Entretanto, é necessária uma reflexão em torno dessa prática, acerca de suas potencialida‑
des e limitações, especialmente as relacionadas ao preparo dos profissionais de saúde para
executarem a VD. É preciso considerar as práticas promotoras de saúde e de educação para
as famílias e seus bebês como uma construção coletiva acerca do processo saúde‑doença,
considerando‑se as pessoas e o contexto que as envolve.
Referências
1
Ministério da Saúde (Brasil). Política Nacional de Atenção Básica. Brasília, DF, 2006.
2
Borges R, D’Oliveira, AFPL. A visita médica domiciliar como espaço para interação e comunicação em
MÓDULO 6
Florianópolis, SC, Brasil. Interface ‑ comun. saúde educ; 2011; 5(37): 461‑72.
3
Cerveny CMO. A família como modelo: desconstruindo a patologia. Campinas: Livro Pleno, 2003.
4
Cruz MM, Bourget MMM. A visita domiciliária na estratégia de saúde da família: conhecendo as percepções
das famílias. Rev Saúde Soc. 2010; 19(3): 605‑13.
5
Filgueiras AS, Silva ALA. Agente Comunitário de Saúde: um novo ator no cenário da saúde do Brasil. Physis
Rev Saude Coletiva (Rio J.). 2011; 21(3): 899‑916.
6
Gabardo RM, Junges JR, Selli L. Arranjos familiares e implicações à saude na visão dos profissionais do
Programa Saúde da Família. Rev. Saúde Pública, 2009; 43(1):91‑7.
7
Mandú ENT, Gaíva MAM, Silva MA, Silva AMN. Visita domiciliária sob o olhar de usuários do Programa
Saúde da Família. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2008; 17(1): 131‑40.
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Melo WA, Uchimura TT. Perfil e processo da assistência prestada ao recém‑nascido de risco no Sul do Brasil.
Rev Bras Epidemiol. 2011; 14(2): 323‑37.
9
Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo/UNICEF/Associação Comunitária Monte Azul /Unesco. Manual
de Apoio: Toda hora é hora de cuidar. São Paulo, março de 2003.
84
Amamentando um RNPT MÓDULO 7
Objetivo:
• Abordar e discutir a amamentação na perspectiva de garantir o aleitamento
materno do RNPT após a alta hospitalar.
Sem dúvida, um dos momentos de maior proximidade entre a mãe e seu bebê envolve a
amamentação. Amamentar é o movimento sutil da aproximação, do silêncio prolongado
em vários minutos, de conversas íntimas e trocas. Nesta terceira etapa do Método Canguru,
compartilhado com a Atenção Básica, devemos avaliar, incentivar, encorajar e apoiar o alei‑
tamento materno, trabalho este já iniciado e cuidado durante a hospitalização do bebê. Isso
poderá ser uma tarefa fácil, se o nosso conhecimento e as nossas habilidades como orienta‑
dores e apoiadores encontrarem uma mãe e uma família engajados e desejosos para que tal
aconteça. E, nessa parceria, a pequena criança receberá, de todos, a melhor alimentação, seja
do ponto de vista nutricional, seja do ponto de vista afetivo.
Quadro‑Resumo
O leite materno é o melhor alimento para todos os bebês e para o bebê pré‑termo é ainda mais, pois
oferece importante fator de proteção contra infecções, ajuda em seu crescimento e desenvolvimento
neurológico e orgânico.
Os RNPT fazem parte de um grupo com alto índice de desmame e as dificuldades na amamentação podem
ser explicadas pelos inúmeros fatores que envolvem o bebê e sua família.
Um bebê pré‑termo e/ou de baixo peso geralmente necessitam de cuidados diferenciados na sua alimen
tação mesmo após a alta hospitalar. Assim, visitas domiciliares e a primeira visita à UBS devem ser consi-
deradas uma prioridade para a equipe de saúde.
O profissional, durante a consulta, deve deixar espaço para que a mãe e/ou a família mostrem as suas
reais necessidades, as quais poderão ser a causa das dificuldades observadas. Atitudes de compreensão,
estímulo e apoio pela equipe de saúde podem ajudar a manter a amamentação.
Devido à sua imaturidade cerebral, na hora da mamada, os RNPT poderão apresentar mais dificuldades
para se manter acordados, ficarão sonolentos, chorosos ou estressados. Poderão também ter dificuldades
em se organizar, podem apresentar reflexos orais fracos ou mostrar poucos sinais de fome/sede. Condutas
como essas são esperadas e receberão cuidados especiais durante a internação. Caso elas sejam observadas
no domicílio ou nas consultas ambulatoriais, a ajuda especializada deverá ser recomendada.
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Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Introdução
Aspectos gerais
O leite materno é o melhor alimento para todos os bebês. Possui nutrientes que ajudam em
seu crescimento, em sua maturação orgânica e neurológica, além de representar um impor‑
tante fator de proteção contra infecções, diarreia e meningites. O bebê pré‑termo recebe al‑
gumas proteções extras do leite materno, pois – reconhecendo as necessidades que a criança
possui quanto ao crescimento e ao aporte de substâncias que a ajudem nesse período – ele
adéqua‑se ao momento evolutivo do recém‑nascido.
Apesar disso, a prevalência da amamentação nos recém‑nascidos pré‑termo (RNPT) ainda é
muito baixa em comparação com a efetivada para os bebês nascidos a termo, principalmente
no que se refere ao aleitamento materno exclusivo (AME).
As dificuldades na amamentação devem ser observadas considerando‑se os inúmeros fato‑
res que envolvem o bebê e sua família. Devem ser levados em conta as situações relacionadas
às condições da gestação, o nascimento prematuro, a internação prolongada, fatores socioe‑
conômicos e culturais e a rede sociofamiliar de apoio disponível. Associadas a esse quadro
estão as particularidades no manejo do aleitamento materno para essa população, além da
pouca integração da equipe hospitalar com a Atenção Básica.
O Método Canguru agregou mudanças significativas a esse quadro, acarretando um au‑
mento nas taxas de aleitamento materno, inclusive após a alta hospitalar, nos serviços que
implantaram o citado programa. Mesmo assim, ainda se observa uma queda considerável
nessas taxas nas primeiras semanas após a alta.
MÓDULO 7
Isso foi observado em São Paulo, a partir de um estudo realizado em uma região periférica
da cidade em 2008. Foram avaliados 170 RN de baixo peso, que foram acompanhados na
Atenção Básica, após a alta hospitalar, até o seu 3º mês de vida. Verificou‑se decréscimo na
prevalência de AME de 58% na primeira consulta para 33% na terceira consulta. Pôde‑se ve‑
rificar também a presença de “queixas” maternas, que persistiram até o 3º mês, tão comuns
em nosso dia a dia no seguimento ambulatorial, tais como: dificuldades no posicionamento
e na pega (44%), leite fraco ou pouco leite (65%), choro do bebê (35%) e comportamento
mais sonolento (28%). Com a alta prevalência dessas “queixas maternas” e, principalmente, a
permanência destas até o 3º mês, o estudo aponta a necessidade de equipes interdisciplinares
mais preparadas para o manejo do aleitamento materno dessa população, que vai além dos
conhecimentos e da técnica sobre o assunto, mas também no tocante ao acolhimento das
angústias das mães e das famílias.
Por isso, a atuação dos profissionais de saúde – acolhendo, ouvindo as queixas das mães, res‑
peitando sua individualidade e valorizando o diálogo e suas experiências anteriores – pode
mudar esse quadro.
Deve‑se investir no fortalecimento da rede sociofamiliar de apoio, respeitando as crenças
e a cultura de cada família, a fim de estabelecer condutas apropriadas e facilitadoras para o
aleitamento materno exclusivo. Por outro lado, hoje sabemos da importância da participa‑
ção paterna no tempo de permanência da amamentação, o que nos lembra a necessidade de
buscarmos sua participação nas orientações, no cuidado com o bebê e com a companheira.
Caso a mãe não tenha companheiro, é necessário detectar quem é seu maior apoio nessa
tarefa e facilitar informações e orientações a essa pessoa para o seu melhor desempenho.
86
MÓDULO 7
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
A maioria das mães de bebês pré‑termo deseja amamentar seus filhos; entretanto, a
vivência materna de situações estressantes a que elas estão expostas (tanto no hospital
como em casa) influenciam sua autoestima, colaborando para diminuir a produção e
a ejeção do leite, favorecendo o desmame precoce.
MÓDULO 7
especial de gordura: os ácidos graxos poli‑insaturados de cadeia longa (LC‑Pufas), que aju‑
dam no desenvolvimento cerebral. No início da vida, o bebê pré‑termo cresce em um ritmo
mais lento e, depois de algumas semanas, tem esse crescimento acelerado. Mesmo assim,
devemos lembrar que, nos primeiros meses de vida, é normal que esses bebês sejam menores
no peso e na estatura do que os nascidos a termo.
87
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
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MÓDULO 7
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 7
da família, além de insegurança em relação ao bem‑estar do bebê, falta de fluxograma
de assistência para os bebês e fraca rede de apoio para a família.
Algumas doenças podem interferir tanto na mamada quanto no ganho de peso adequa‑
do: síndromes, malformações, cardiopatias, distúrbios respiratórios, distúrbios neurológicos
ou gastrintestinais, como enterocolite, com ressecção de parte do intestino. Todas essas pos‑
sibilidades devem ser consideradas na avaliação das dificuldades na amamentação do bebê
e em seu ganho ponderal. Neste caso, contatos entre as equipe da UBS e os agentes comu‑
nitários devem ser priorizados para o melhor acompanhamento da situação. Muitas vezes,
tais crianças necessitarão de encaminhamento a serviços especializados.
Roteiro de avaliação
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Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
As doenças mais comuns que contribuem para o baixo ganho ponderal do RNPT em
AME são as seguintes:
• Doença do refluxo gastroesofágico (irritabilidade, interrupção das mamadas).
• Problemas respiratórios (maior gasto energético, cansaço às mamadas).
• Anemia com repercussão clínica (sucção mais débil, gasto energético).
• Hipotonia (sucção débil, mamadas ineficientes).
• Disfunções orais no RNPT (mamadas ineficientes referentes às alterações do funcio‑
namento oral).
• Infecções (ITU).
MÓDULO 7
Avaliação da mamada
90
MÓDULO 7
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Deve‑se evitar a região orofacial para não confundir o bebê com informações que são ne‑
cessárias para uma mamada mais efetiva.
Estresse e desorganização: se o bebê estiver cansado e estressado, ele pode apresentar com‑
portamentos como: estender o corpo e os braços, cobrir o rosto com as mãos, alterar a fre‑
quência da respiração, apresentar reflexos orais débeis, entrar em sono profundo ou até
chorar e agitar‑se, gastando mais energia e dificultando a mamada. Poderá também entrar
em um estado de “hiperalerta”, com sérias dificuldades em se desligar dos estímulos noci‑
vos do ambiente.
MÓDULO 7
RNPT organizado, envolvido em coeiro para RNBP organizado para se aconchegar, após crise
facilitação da pega na amamentação. de choro.
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Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
deprimida e pouco atenta às solicitações do bebê ou muito intrusiva, além de bebê apático,
muito sonolento...).
E) Observe o posicionamento:
A posição escolhida para a amamentação depende das condições das mamas, do peso e da
idade do bebê, da experiência da mãe, da facilitação para a pega, entre outras questões. É
um fator muito importante a ser trabalhado entre a mãe e o filho e deverá ser decidido para
cada dupla: mãe e filho juntos.
Em qualquer posição assumida pela mãe/filho, devem‑se observar sinais de tensão corporal
da mãe: se fica debruçada sobre o bebê ou se tem apoio de costas e braços, se está devida‑
mente apoiada e confortável e se não há barreiras entre os corpos da mãe e do bebê.
Muitas vezes, é necessário o uso de um pequeno apoio para elevar o bebê e facilitar o encaixe
da sua boca com o mamilo (a ser colocado entre a perna da mãe e o bebê) e uma almofada
ou manta dobrada.
RNPT em posição de
cavaleiro com apoio
nas nádegas para
auxílio da pega.
Observe sempre que
a boca do bebê deve
estar na altura do
mamilo, para evitar a
extensão de cabeça.
92
MÓDULO 7
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
• Posição invertida (ou bola de futebol americano): nesta posição, a mãe deve segurar o
bebê como se fosse uma bola de jogo de futebol americano, ou seja, deixando o bebê ao lado
do seu corpo e usando sua mão desse mesmo lado para apoiar a cabeça e o tronco do bebê,
mantendo um discreto padrão de flexão entre o corpo e a cabeça.
Deve‑se tomar cuidado para não empurrar a cabeça do bebê, apenas apoiá‑la. Atenção para
que a cabeça, o pescoço e o tronco permaneçam mais elevados, de modo que o bebê fique
com a parte superior do tórax bem encostada na mama, de frente para a mãe.
RNPT em
posição
invertida.
MÓDULO 7
Como ajudar uma mãe a posicionar o bebê para mamar?
▶▶ Aplicando as habilidades de comunicação:
• Cumprimente a mãe e pergunte‑lhe como está indo a amamentação.
• Avalie a mamada.
• Explique o que pode ajudar e pergunte se ela gostaria que você lhe mostrasse.
• Veja se ela está confortável e relaxada.
• Explique a ela como segurar o bebê e mostre‑lhe, se necessário.
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Ministério da Saúde
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• Traga o bebê rapidamente ao seio, fazendo que seu lábio inferior fique abaixo do mamilo.
▶▶ Note como ela responde e pergunte‑lhe como está sentindo a sucção do bebê.
▶▶ Procure sinais de pega correta.
Se a pega não estiver correta, tente outra vez, corrigindo os eventuais problemas detectados.
F) Pega e ordenha:
Na pega correta, deverá haver um lacre perfeito entre a boca do bebê e a mama da mãe, com
vedamento labial adequado.
No caso de bebês pré‑termo, observam‑se alguns achados que podem ocorrer inicialmen‑
te na pega/ordenha: reflexo de procura/sucção débeis, com pouca força de sucção e língua
posteriorizada na sucção, que já devem ter melhorado até o momento da alta hospitalar.
Muitas vezes, os bebês não conseguem manter a mama e o mamilo dentro da boca e, nesses
casos, a sustentação da mama ajuda a pega, mantendo a mama e o mamilo dentro da boca
do bebê.
Nessa sustentação, a posição da mão da mãe fica semelhante à letra “C”, com o dedo po‑
legar no limite superior da aréola e o restante dos dedos sustentando o peso da mama.
Lembramos ser uma sustentação inadequada quando as mães usam os dedos em posição
de tesoura, o que ocasiona o pinçamento dos canalículos de leite, interferindo na extração
do leite.
MÓDULO 7
Para mamas maiores, é fundamental o uso de sutiã (para ajudar a sustentar o peso da mama)
e de um auxílio facilitador na pega, realizando‑se uma prega lateral na pele, diminuindo‑se
o diâmetro da aréola, de modo que o bebê realmente abocanhe e sustente a pega correta.
Tipoia feita com pano ou fralda, para a elevação da mama grande na amamentação
e o auxílio da pega correta.
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MÓDULO 7
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Em outros casos, quando a boca do bebê é ainda muito pequena ou o mamilo muito grande
ou se o bebê não consegue ainda realizar uma grande abertura da boca, de modo a aboca‑
nhar o mamilo e parte da aréola, a pega poderá ocorrer somente no mamilo. Nesses casos, é
necessário auxiliar o bebê a conseguir uma pega correta. Isso pode ser feito estimulando‑se
várias vezes o reflexo de procura do bebê (tocando o lábio inferior seguidamente, de cima
MÓDULO 7
para baixo, para ele abrir bem a boca, principalmente se a mama ou o mamilo forem gran‑
des). Quando os reflexos estiverem mais ativos, pode‑se colocá‑lo no peito. Tal estímulo
pode ser repetido até se observar que o bebê realiza uma abertura ampla da boca e a mus‑
culatura perioral cede à tensão excessiva.
Observe a
“pega” correta.
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Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Se a pega não estiver correta, tente outra vez, corrigindo os eventuais problemas detectados.
O bebê deve estar alerta e ativo e bastante organizado durante a mamada. Observa‑se
que, após alguns grupos de sucções vigorosas, há uma pequena pausa para deglutição e
respiração. Se o fluxo de leite estiver abundante, é possível até se ouvir o ruído da deglutição
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MÓDULO 7
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
do leite. Em seguida, o bebê deverá retornar novamente à sucção, e assim por diante, no mí‑
nimo de uns 25 a 30 minutos no peito.
Na fase de aprendizagem, poderão ocorrer pausas frequentes e até pequenos momentos de
sono leve (com retomada da sucção) ou mesmo mamadas mais longas e sinais leves de can‑
saço. Porém, mesmo com mais pausas e pequenos descansos durante a mamada, a força de
sucção e coordenação dessas funções deve ser mantida para que o bebê consiga fazer a reti‑
rada da quantidade de leite de que ele necessita.
A mamada deve ser observada até o final, pois muitas vezes, no início desta, a sucção apre‑
senta‑se muito vigorosa, mas logo em seguida perde a força e as pausas se fazem cada vez
mais presentes, atrapalhando a ingestão necessária de leite por mamada.
Sinais de risco: se ocorrer alguma alteração mais séria no padrão respiratório, caracterizan‑
do um desconforto respiratório, a mamada deve ser imediatamente interrompida até que a
criança se estabilize e se reorganize para voltar ao peito de sua mãe. Entre os sinais a serem
observados estão os seguintes: cianose, queda brusca do tônus global da criança, palidez, refle‑
xo de proteção da orofaringe (mordida), escape de leite, tosse, soluço, engasgos, entre outros.
MÓDULO 7
I) Observe o ganho de peso:
O ganho de peso traduz a eficiência das mamadas com retirada adequada do leite. Em casos
de baixo ganho de peso, os retornos devem ser mais frequentes, especialmente para aquela
mãe que necessita de orientação para modificar algo no manejo da amamentação, garan‑
tindo assim um seguimento dessa aprendizagem. Sempre se deve valorizar e reforçar a su‑
peração dos obstáculos, tais como: o bebê ficar mais tempo acordado, melhorar o padrão
de pega/sucção, o aumento de grupos de sucções entre as pausas, entre outros. Isso poderá
favorecer a autoestima e encorajar a mãe a vencer os obstáculos do dia a dia.
Redução
de abertura
da boca,
dificultando a
pega correta.
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Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Algumas alterações motoras orais são frequentes nos RNPT e podem perdurar durante o
tempo de seguimento ambulatorial. A redução da abertura da boca durante o reflexo de pro‑
cura e a tensão perioral (vide foto) dificultam a pega correta. Além disso, algumas modifi‑
cações no posicionamento da língua dentro da boca, durante os movimentos para ordenhar
o leite (como, por exemplo, o padrão “mordedor”), dificultam a retirada do leite. Em casos
mais persistentes, a dupla mãe‑bebê deve ser encaminhada para serviços especializados,
como um banco de leite humano ou para atendimento fonoaudiológico.
No início do processo da amamentação, logo após a alta, são frequentes também a dificulda‑
de de retirada do leite posterior e mamadas longas e improdutivas, bem como intervalos pe‑
quenos entre cada mamada. Ordenhar o leite anterior antes da mamada, facilitando o bebê
a chegar mais rápido ao leite posterior, e oferecer o leite materno ordenhado pelo copinho
no final da mamada (mesmo que em pequenas quantidades, como 20 ml, em média) auxilia
nesse processo, evitando baixo ganho de peso e insegurança da mãe. Lembre que a técnica
correta do uso do copinho, estimulando o reflexo de procura, abaixando a boca do bebê e
fazendo‑o retirar o leite com a língua projetada, é imprescindível.
Obtenha mais informações sobre o assunto nas publicações: “Manual Técnico: Atenção
Humanizada ao Recém‑Nascido de Baixo Peso: Método Canguru” e “Caderno de Atenção
Básica nº 23”, como leituras sugeridas.
MÓDULO 7
98
MÓDULO 7
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
final da mamada. Também lhe pergunte a respeito de onde e como ela fica em casa para
amamentar: veja se ela tem um local confortável para se sentar, com apoio para as costas e
os braços, um copo e/ou uma jarra de água próximos para saciar sua sede. Oriente o que
for necessário.
Relactação
É o processo de volta da produção do leite em mulheres que já tenham cessado sua produ‑
ção láctea e desmamado o bebê.
Sempre será mais fácil quanto menor for o bebê e em mulheres que tenham parado mais
recentemente; no entanto, é possível que se consigam resultados positivos mesmo em cir‑
cunstâncias menos favoráveis, como, por exemplo, em mães adotivas.
Encaminhe a dupla mãe/bebê, caso a mãe de fato deseje voltar a amamentar, para um banco
de leite local ou para uma equipe treinada para esse procedimento.
Confusão de bicos
Durante o aprendizado da técnica correta de sucção, o contato precoce com bicos artificiais
de mamadeira, chupeta ou protetores de mamilos pode causar interferências no padrão cor‑
reto da ordenha da mama.
Este fenômeno, denominado de “confusão de bicos”, incluído entre as disfunções orais, é de‑
finido como a dificuldade do bebê em realizar a configuração oral correta para uma pega e
MÓDULO 7
uma ordenha adequadas.
O bebê tem uma habilidade limitada para se adaptar a diversas configurações orais (por
exemplo, para obter o leite na mamadeira, o bebê não precisa abrir muito a boca, nem fazer
muito esforço, e a língua geralmente se posiciona mais posteriormente, ou seja, totalmente
diferente da pega e da ordenha durante a amamentação).
Alguns recém‑nascidos apresentam o fenômeno da confusão de bicos mediante apenas um
ou dois contatos com um bico artificial: mamadeira, chupeta e bicos intermediários (pro‑
tetor de mamilo), enquanto outros conseguem passar mais tempo com a utilização destes
e mamar no peito concomitantemente. Embora muitos desses problemas possam ser cor‑
rigidos em poucos dias, os fatores que interferiram nas primeiras mamadas podem causar
“impressões” inadequadas no funcionamento oral de tal modo que se tornam extremamente
difíceis de modificação.
Práticas facilitadoras
Finalizando, sugerem‑se algumas práticas facilitadoras que podem auxiliar na prática da
amamentação dessa população, tais como:
• Atenção especial aos bebês e às mães que apresentam algumas dificuldades.
• Construção de um fluxo de atendimento para esses bebês afixado nas UBS.
• Fortalecimento da rede de apoio sociofamiliar.
• Acompanhamento frequente e regular, conforme protocolo da visita domiciliar.
• Grupos de apoio para as famílias.
• Capacitação para lidar com o manejo do aleitamento materno para esses bebês.
• Fortalecimento da referência e da contrarreferência com a rede hospitalar.
99
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Embora possa ser “trabalhosa” a prática da amamentação para essa população de alto
risco para desmame, é com certeza um investimento em curto, médio e longo prazo!
Mais do que outras pessoas envolvidas neste processo, os bebês agradecem!
Leituras sugeridas
Manual Técnico: Atenção Humanizada ao Recém‑Nascido de Baixo Peso: Método Canguru.
Ministério da Saúde, Brasília: Módulo 3, seção 8, pág. 95, disponível em: <www.saude.gov.
br> (Saúde do Recém‑Nascido).
Caderno de Atenção Básica no 23 – Saúde da Criança: Nutrição Infantil: Aleitamento
Materno e Alimentação Complementar. Ministério da Saúde, Brasília, 2009. Disponível em:
<www.saude.gov.br> (http://189.28.128.100/nutricao/docs/geral/cadernoatenaaobasica_23.
pdf).
Artigo de revisão: A Commentary by the ESPGHAN Committee on Nutrition. Journal of
Pediatric Gastroenterology and Nutrition, 2009.49:112–125. (ESPGHAN: European Society
for Pediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition and North American Society for
Pediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition).
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101
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Vínculo emocional
Carrega o bebê de forma segura e confiante Nervosa ou carrega o bebê vacilante
Atenção da mãe face a face Contato olho no olho ausente
Muito toque materno Pouco toque ou sacolejando o bebê
Anatomia
Seios macios após a mamada Seios ingurgitados
Mamilos exteriorizados, protrácteis Mamilos planos ou invertidos
A pele parece saudável Fissuras ou vermelhidão da pele
Os seios parecem redondos na mamada Os seios parecem estirados ou caídos
Sucção
Boca bem aberta Boca pouco aberta, aponta para a frente
Lábio inferior virado para fora Lábio inferior virado para dentro
Língua acoplada em torno do seio Língua do bebê não visível
Bochechas redondas Bochechas tensas ou para dentro
Mais aréola acima da boca do bebê Mais aréola abaixo da boca do bebê
Sugadas lentas e profundas, pausas Apenas sugadas rápidas
Pode‑se ver ou ouvir a deglutição Ouvem‑se ruídos altos
Tempo gasto na sucção
Bebê solta o seio Mãe retira o bebê do seio
Bebê sugou por ______________minutos
Material extraído do “Curso de Aconselhamento em amamentação: um curso de treinamento”
Organização Mundial de Saúde/ Fundo das Nações Unidas/ Ministério da Saúde São Paulo,
Instituto de Saúde/OMS/OPAS; 1995
102
MÓDULO 8
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Objetivos:
• Apresentar e discutir o calendário vacinal para os RNPTs.
• Fornecer orientações para efeitos adversos e cuidados.
Quadro-Resumo
A vacinação do recém-nascido pré-termo segue, geralmente, o calendário vacinal de rotina a partir da
sua idade cronológica.
As doses usadas são as mesmas para RNT e as vacinas podem ser administradas simultaneamente.
A vacina BCG deve ser feita quando o bebê atingir o peso de 2 kg.
Rotavírus: atenção para as idades máximas para a primeira dose (14 semanas de vida) e para a segunda
dose (24 semanas). É contraindicada para crianças com malformação intestinal ou que tiveram enterocolite
necrosante.
Existem riscos? Toda vacina implica algum risco para qualquer criança, mas os benefícios suplantam esses
riscos. O importante é fornecer orientações adequadas à família, pois é preciso garantir a compreensão do
que deve ser observado e instruir os cuidadores quanto à possibilidade de efeitos adversos e cuidados.
Quem é o grupo de maior risco entre os RN pré-termo?
Os RNPT com IG ≤ 31 semanas e aqueles com doença crônica (displasia broncopulmonar) e que foram
‘criticamente doentes’.
Antitérmico profilático: a administração profilática de antitérmicos, para reduzir a intensidade da febre ou
tentar prevenir convulsões febris, resultou em baixa imunogenicidade após a vacinação. Por isso, o uso
de antitérmico profilático não deve ser recomendado de rotina. Entretanto, o tratamento da febre após a
vacinação pode ser feito normalmente.
Na primeira consulta, confira as vacinas realizadas durante a internação hospitalar para programar a se-
quência da vacinação. A Caderneta de Vacinação deve ser conferida em todas as consultas.
E o que vem a ser o palivizumabe? Este imunobiológico não é uma vacina. Trata-se de um anticorpo contra
o vírus sincicial respiratório (VSR). É recomendado para alguns RNPT: nos quais existe um risco maior de
que a bronquiolite evolua para um quadro grave, com necessidade de reinternação, às vezes em unidade
de terapia intensiva. Seu uso não previne a infecção pelo vírus sincicial respiratório, mas evita as formas
graves nessa população de alto risco.
Ainda hoje, é comum que os RNPT tenham sua vacinação atrasada pelo medo e pela desinfor‑
mação das equipes de saúde, ficando expostos a uma série de doenças e ao risco de hospitali‑
zação por infecções que seriam preveníveis pela vacinação.
103
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
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MÓDULO 8
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Existem riscos?
Toda vacina implica algum risco para qualquer criança, o que reforça a necessidade de
orientações adequadas à família, pois é preciso garantir a compreensão do que deve ser ob‑
servado e instruir os cuidadores como agir numa situação de urgência.
MÓDULO 8
A DPT acelular garante que não haverá efeito adverso? Não. Todo bebê (inclusive o RNT)
apresenta risco e deverá receber as mesmas orientações de observação e cuidados.
105
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
sido realizada com o paracetamol, o mesmo pode ocorrer com qualquer antitérmico. Por
isso, o uso de antitérmico profilático não deve ser recomendado de rotina. Entretanto, o trata‑
mento da febre após a vacinação pode ser feito normalmente.
Ao Dose Dose ao
nascer única nascer
2 1 1 dose 1 1
meses dose com VIP dose dose
3 1
MÓDULO 8
meses dose
Crianças
4 2 2 doses 2 2
meses doses (com VIP) doses doses
5 2
meses doses
3 doses
6 3 3
(com
meses doses doses
VOP)
O uso do palivizumabe não previne a infecção pelo vírus sincicial respiratório, mas evita
as formas graves na população de alto risco, para a qual há indicação da sua utilização.
106
MÓDULO 8
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Deve ser indicado para as crianças de maior risco nos meses de maior circulação do VSR, o
que ocorre geralmente de março a setembro, exceto na Região Norte, onde a circulação do
vírus ocorre em janeiro e fevereiro. Quando a profilaxia do VSR for iniciada, deverá conti‑
nuar mensalmente durante toda a estação.
Está disponível na rede pública, nos Crie dos estados, segundo a Portaria nº 522, de 13 de
maio de 2012, somente para os grupos de maior risco:
• RNPT com IG < 28 semanas e menores de 1 ano de idade, após alta hospitalar.
• Crianças menores de 2 anos de idade portadoras de cardiopatia congênita, com reper
cussão hemodinâmica importante ou com doença pulmonar crônica da prematuridade,
que necessitaram de tratamento nos seis meses anteriores ao período de sazonalidade
do VSR.
Conclusão
Os RNPT, pela sua condição de vulnerabilidade, devem ser vacinados de acordo com o ca‑
lendário vacinal de rotina. Para isso, devemos nos esforçar para informar tanto pais e cui‑
dadores quanto os profissionais de saúde dessa importância.
MÓDULO 8
Leituras sugeridas
“Atenção à Saúde do Recém‑Nascido: Cuidados com o Recém‑Nascido Pré‑Termo”, Vol. 4,
Acompanhamento Após a Alta Hospitalar, pág. 138.
Sites sugeridos
<http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1448>.
<http://www.sbim.org.br>.
<http://www.sbp.com.br>.
107
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
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Weckx LY, Kfouri Ra, Amato Neto V. Controvérsias em imunizações. São Paulo: Segmento Farma, 2009.
MÓDULO 8
108
SEGUNDA PARTE
MÓDULO 9
Nutrição na infância
MÓDULO 10
Seguimento ambulatorial do RNPT
MÓDULO 11
Saúde bucal: orientações e cuidados
MÓDULO 12
Avaliação do crescimento do RNPT: particularidades e o que podemos esperar
MÓDULO 13
Visão: seguimento visual do RNPT
MÓDULO 14
Audição: avaliação audiológica
MÓDULO 15
Linguagem: aquisição, desenvolvimento e alterações frequentes
MÓDULO 16
A criança com paralisia cerebral: fale com ela
MÓDULO 17
Fluxograma de atendimento ao RN de risco na Rede Básica
MÓDULO 18
Fluxograma: avaliação de risco
MÓDULO 19
Diretrizes de avaliação no acompanhamento da Atenção Básica
Nutrição na infância MÓDULO 9
Objetivo:
• Apresentar e discutir os aspectos nutricionais das crianças nascidas pré-termo.
Nos últimos anos, a adequação e os benefícios do leite humano para as crianças
pré‑termo têm sido objeto de vários estudos. Além das vantagens da amamentação,
os estudos atuais mostram que o leite humano oferece a elas vantagens adicionais.
Queremos discutir e contribuir para que na Atenção Básica possa ser avaliado
o impacto da alimentação oferecida aos RNPT sobre suas condições de saúde e
desenvolvimento.
Quadro‑Resumo
• Até os 6 meses: aleitamento materno exclusivo.
• Dos 6 aos 24 meses: aleitamento materno complementado.
• Aos 6 meses: introdução de papa de frutas (duas vezes ao dia) e da primeira
papa = refeição principal (almoço ou jantar),composta por cereais e tubérculos,
carnes (gado, frango, peixes) e ovos, leguminosas, legumes e verduras.
Alimentação • Dos 7 aos 8 meses: introdução da segunda papa = duas refeições principais
complementar (almoço e jantar).
• Dos 9 aos 11 meses: gradativamente passar para a consistência da comida da
família.
• Aos 12 meses: comida da família.
• RNPT: iniciar a dieta complementar a partir dos 6 meses da idade corrigida,
considerando-se inclusive o desenvolvimento neuropsicomotor da criança.
• Gorduras: baixos teores de ácido linoleico (importante no processo de mielini-
zação) e de ácido linolênico (necessário para a formação da retina).
• Carboidratos: quantidade insuficiente.
Inadequação do leite • Proteínas: taxas elevadas de proteínas e relação caseína/proteínas do soro ina-
de vaca integral dequada, dificultando a digestão e a absorção.
no 1º ano de vida • Minerais: ferro de baixa biodisponibilidade, taxas elevadas de sódio, potássio,
cloretos e fósforo, acarretando a anemia ferropriva e sobrecarga renal.
• Vitaminas: baixos níveis de vitaminas D, E, C e niacina.
• Oligoelementos: teores insuficientes de todos, principalmente de zinco.
• Vitamina D até os 2 anos: avalie as indicações para o RNPT (SBP 2012, que
varia de acordo com o peso do RNPT, até 1.500 g, de 1.500 a 1.000 e abaixo
Suplementação de 1.000 g).
vitamínica de rotina • Ferro: RNPT de 1 mês até 2 anos.
• Ferro: RNT de 6 meses até 2 anos, se não estiver usando fórmula infantil.
OMS diretriz: Suplementação de Vitamina A em bebês de 1-5 meses de vida. Genebra, Organização Mundial da Saúde, 2013.
113
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Embora este texto não seja específico para os RNPT, ele foi incluído neste manual porque é
fundamental que o médico da Atenção Básica possua o conhecimento correto e atualizado so‑
bre alimentação para saber avaliar, orientar e reforçar a nutrição adequada para a criança.
Atualmente e cada vez mais, tem se falado da importância da alimentação para a qualidade
de vida e a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis na idade adulta, como hiperten‑
são arterial, diabetes mellitus, arterioesclerose, osteoporose etc., especialmente no 1º ano de
vida, devido ao crescimento e ao desenvolvimento acelerados, que aumentam as necessidades
nutricionais nessa fase. Muitas vezes, as famílias fazem escolhas inadequadas por desconhe‑
cimento ou questões culturais e repetem modelos sugeridos pela vizinha ou pelos avós. Outras
vezes, são limitações financeiras ou por priorizarem demandas de menor importância quando
comparadas à alimentação adequada da criança. Nestes casos, devemos orientar e reforçar a
questão nutricional.
114
MÓDULO 9
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Fórmulas infantis
Na impossibilidade do aleitamento materno, deve ser indicada uma fórmula infantil
que cumpra a Lei nº 11.265, de 3 de janeiro de 2006, e a NBCAL (Norma Brasileira para
Comercialização de Alimentos para Lactentes, Crianças e Primeira Infância). Nenhum ou‑
tro tipo de leite (de vaca ou de cabra, por exemplo) supre a demanda nutricional do lactente
no primeiro ano de vida, mesmo com uma alimentação complementar adequada.
As fórmulas infantis podem ser classificadas pela idade e por necessidades nutricionais es‑
pecíficas. As fórmulas são produtos modificados para que se aproximem da composição do
leite materno e têm como funções a nutrição adequada e a segurança alimentar, atendendo
aos padrões do Codex Alimentarius/FAO/OMS.
MÓDULO 9
Tipos de fórmulas infantis:
• Fórmula infantil para lactente: até os 6 meses de idade.
• Fórmula infantil de seguimento: dos 6 aos 12 meses de idade.
• Fórmula infantil de seguimento para lactentes à base de soja.
• Fórmula infantil de seguimento para lactentes destinada a necessidades dietoterápicas
específicas isentas de lactose.
• Fórmula infantil de seguimento para lactentes destinada a necessidades dietoterápicas
específicas: com proteína hidrolisada.
• Fórmula infantil para RNPT.
115
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
• Não coloque a fórmula pronta na geladeira, mesmo que não a tenha usado.
• Jogue fora a fórmula que sobrar na mamadeira. Germes e bactérias da saliva do bebê
conseguem sobreviver e se reproduzir nos restos.
Por que não devemos dar leite de vaca integral no primeiro ano de vida?
O leite de vaca integral “in natura” na forma líquida ou desidratada (em pó) é um alimento
inadequado para crianças menores de 1 ano, pois está associado a quadros de carência nu‑
tricional e ao aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis do adulto. É importante
conhecer um pouco das fórmulas infantis para saber compará‑las ao leite de vaca integral e
orientar as mães sobre as deficiências deste último.
116
MÓDULO 9
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 9
• Se o bebê tem a capacidade de se manter sentado com apoio.
A água deve ser oferecida quando em uso de fórmula infantil, mesmo antes dos 6 meses de
idade. Podem‑se sugerir, por exemplo, 50 ml/2x/dia e, se estiver calor, pode ser até 3x/dia
ou 20 ml/de 5 a 6x/dia.
117
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Por outro lado, a introdução tardia da alimentação está associada ao déficit de crescimento
e ao risco de deficiência de micronutrientes (principalmente de ferro, zinco e vitamina A),
de energia e de proteínas.
Os alimentos complementares podem ser chamados de transicionais quando são especial‑
mente preparados para o reconhecimento da criança nos primeiros dias. Eles devem sofrer
alteração na consistência para se adequar à maturação da criança. Inicialmente, são ofere‑
cidos em forma de papa, passando para pequenos pedaços e, a partir do 9º mês, pode‑se
passar para a mesma consistência dos alimentos consumidos pela família. Cabe ao pediatra/
médico ou ao nutricionista da ESF avaliar os hábitos alimentares da família (que, muitas ve‑
zes, não são adequados) e corrigir as inadequações nutricionais.
MÓDULO 9
Lembramos que não há evidência científica que justifique o atraso na introdução de alimen‑
tos potencialmente alergênicos, como ovos e peixe.
A papa principal pode ser iniciada tanto no almoço quanto no jantar, conforme o melhor
horário para a família.
As frutas devem ser oferecidas “in natura”, amassadas ou raspadas, em vez do suco de frutas
ou das frutas liquidificadas. O consumo de suco natural deve ser limitado e, se oferecido,
deve ser feito em pequena quantidade após as refeições principais e não em substituição a
uma refeição ou um lanche.
118
MÓDULO 9
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
O Ministério da Saúde, em seu CAB 23, traz orientações em relação à alimentação da pe‑
quena criança:
• Passo 1: “Dar somente leite materno até os seis meses, sem oferecer água, chás ou qual‑
quer outro alimento”.
Dica ao profissional e à equipe: revejam se as orientações sobre o aleitamento materno são
fornecidas desde o acompanhamento pré‑natal até a época da alimentação complementar.
• Passo 2: “A partir dos seis meses, introduzir de forma lenta e gradual outros alimentos,
mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou mais”.
Dica ao profissional e à equipe: antes de darem a orientação deste passo, perguntem à
mãe ou ao cuidador como ela(ele) imagina ser a alimentação correta da criança e, a se‑
guir, convidem‑na(no) a complementar os seus conhecimentos de forma elogiosa e in‑
centivadora.
• Passo 3: “Após seis meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes,
leguminosas, frutas, legumes), três vezes ao dia, se a criança receber leite materno, e cinco
vezes ao dia, se estiver desmamada”.
Dica ao profissional e à equipe: sugiram receitas de papas, tentando dar a ideia de pro‑
porcionalidade, de forma prática e com linguagem simples.
• Passo 4: “A alimentação complementar deve ser oferecida de acordo com os horários de
refeição da família, em intervalos regulares e de forma a respeitar o apetite da criança”.
Dica ao profissional e à equipe: uma visita domiciliar pode ser uma estratégia interes‑
sante para aumentar o vínculo e orientar toda a família sobre alimentação saudável.
MÓDULO 9
• Passo 5: “A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida de
colher; começar com consistência pastosa (papas/purês) e, gradativamente, aumentar a
consistência até chegar à alimentação da família”.
Dica ao profissional e à equipe: organizem, em parceria com a comunidade, oficinas de
preparação de alimentos seguros e/ou cozinhas comunitárias. Convidem famílias com
crianças sob risco nutricional.
• Passo 6: “Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é uma
alimentação colorida”.
Dica ao profissional e à equipe: conversem sobre a estimulação dos sentidos, enfocando
que a alimentação deve ser um momento de troca afetuosa entre a criança e a família.
• Passo 7: “Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições”.
Dica ao profissional e à equipe: peçam à mãe que ela faça uma lista das hortaliças mais
utilizadas. Depois, aumentem essa lista, acrescentando outras opções não lembradas,
destacando alimentos regionais e típicos da estação.
• Passo 8: “Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras
guloseimas nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação”.
Dica ao profissional e à equipe: articulem com a comunidade e outros setores uma cam‑
panha sobre alimentação saudável.
• Passo 9: “Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos: garantir o seu arma‑
zenamento e conservação adequados”.
Dica ao profissional e à equipe: realizem um grupo com pais, avós e/ou crianças para
lhes dar dicas sobre cuidados de higiene em geral, alimentar e bucal.
119
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Cará
Fonte: SAS/MS.
As refeições principais (almoço e jantar) devem conter um alimento de cada grupo desde a
primeira oferta.
É importante lembrar:
1) Leite: o consumo de fórmulas infantis não deve ultrapassar 500 mL por dia.
2) Frutas: nenhuma fruta é contraindicada. As frutas devem ser introduzidas preferen‑
cialmente raspadas ou amassadas. Se oferecidas na forma de sucos, deve‑se respeitar
a quantidade máxima de 100 mL/dia. Recomenda‑se a ingestão diária de três porções
de frutas.
3) Papa principal: desde o início, deve incluir um alimento de cada grupo (Tabela 1).
Deve ser oferecida amassada e, a partir do 8o mês, começamos a deixar pedaços maio‑
res, até que aos 12 meses estejam na consistência da comida da família. Já foram do‑
cumentados a contribuição do sal na sobrecarga renal e o papel da exposição precoce
ao sal na predisposição à hipertensão arterial. Isso porque, com o tempo, as papilas
gustativas se acostumam com o sabor salgado e, com isso, cada vez mais aumenta
o seu consumo. Daí a indicação do uso do sal iodado em pouquíssima quantidade.
• A carne bovina deve ser picada ou desfiada e deve ser oferecida todos os dias na quan‑
tidade de 50 a 70 g, para as duas papas, dos 6 aos 12 meses.
• Peixes são fontes de ômega 3 e devem ser consumidos pelo menos duas vezes/semana.
• Óleo vegetal: o MS orienta o uso do óleo para refogar durante o preparo da comida;
porém, ele pode ser adicionado ao final da preparação, devendo ser preferencialmente
120
MÓDULO 9
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
de soja ou canola. Deve ser usado o equivalente a 30% do total calórico das porções, o
que equivale de 3 a 4 mL por cada 100 mL ou 100 gramas de preparação.
• Micronutrientes: deve‑se verificar a ingestão adequada principalmente de ferro, zinco, vi‑
tamina A, por intermédio da variedade de alimentos ofertados à criança (veja a Tabela 1).
• As hortaliças compreendem os legumes e as verduras. Legumes são vegetais cujas partes
comestíveis não são folhas (como, por exemplo: cenoura, beterraba, abóbora, chuchu,
vagem, berinjela, pimentão). Verduras são vegetais cujas partes comestíveis são as folhas
(como, por exemplo: agrião, alface, taioba, serralha, beldroega, acelga, almeirão).
• Os tubérculos são caules curtos e grossos, ricos em nutrientes (como, por exemplo:
batata, mandioca, cará, inhame).
MÓDULO 9
6) Não são permitidos: açúcar, doces e alimentos como embutidos, frituras, refrigeran‑
tes, chocolates, sal e mel, assim como não é permitido o uso de temperos industrializa‑
dos nas preparações da comida (como, por exemplo: caldos de carne e de legumes).
Obs.: consulte o site <www.saude.gov.br/dab> para saber sobre alimentos regionais e a
Tabela 1 para conhecer a tabela com as principais fontes de vitaminas e minerais.
Cuidados de higiene:
▶▶ Utilize água tratada filtrada ou fervida.
É importante orientar as mães sobre a higiene das mãos, dos alimentos e dos utensílios, em
especial da mamadeira, quando for utilizada:
• Para a mamadeira e os utensílios do lactente: coloque‑os em imersão em água com
hipoclorito de sódio a 2,5% por 15 a 20 minutos (20 gotas de hipoclorito para 1 litro
de água).
121
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Fonte: SAS/MS.
122
MÓDULO 9
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Lembre que a exposição solar adequada deverá ser orientada a partir das
características do clima e da temperatura de cada região do país.
Obs.: em áreas endêmicas de malária, não deve ser usado ferro.
MÓDULO 9
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Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Seção 4 – Obesidade
Além da questão da prematuridade como um fator de risco para a obesidade, em função
da mudança dos hábitos alimentares da população (introdução de fast‑foods e de alimentos
industrializados, além da atuação da propaganda de forma intensa no setor de alimentos),
aliados a uma redução das atividades físicas (por causa de hábitos sedentários, como ver te‑
levisão, acessar a internet, jogar videogames), os pediatras têm assistido a uma transforma‑
ção: deixamos de ser um país de desnutridos e estamos caminhando para ser uma nação de
obesos. Isso exige uma mudança na nossa prática clínica, além de atualização em informa‑
ções sobre doenças que antigamente eram predominantes nos adultos, como aumento do
colesterol, diabetes, síndrome plurimetabólica etc.
Pensando não somente na questão do sobrepeso, mas também nas dislipidemias, que podem
estar presentes mesmo em uma criança de peso adequado, sugerimos que seja incluído entre
os exames de rotina, a partir de 2 anos de idade, um perfil lipídico: triglicérides e coleste‑
rol total e frações. Por que pedir também as frações? Porque, eventualmente, o aumento do
colesterol total pode ser por causa do HDL (bom colesterol) e, neste caso, não é necessária
nenhuma restrição dietética.
124
MÓDULO 9
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 9
Atividades físicas preferência,
estruturadas Criar áreas caminhar
Realizar atividades
Educação física de lazer ou andar de
no horário do
voltada para a bicicleta em
recreio, após a
promoção da vez de usar o
escola e nos fins
saúde na escola carro
de semana
125
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Valores de
Exames
referência
< 100 mg/dL Adequado
De 100 a 126 mg/dL Duvidoso
Glicemia de jejum (ampliar a investigação com teste
(jejum de 8 horas) de tolerância oral à glicose)
> 126 mg/dL Diabetes mellitus
126
MÓDULO 9
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Conclusão
É muito importante a observação da alimentação no primeiro ano (assim como também du‑
rante toda a vida) e também dos hábitos e do estilo de vida (praticar atividade física), para
que se viva de forma saudável e com qualidade.
Para saber mais: consulte o site: <www.sbp.com.br>, do Departamento de Nutrologia: “Manual
de Orientação para a Alimentação do Lactente, do Pré‑Escolar, do Escolar, do Adolescente e
na Escola”, de 2012, e o manual “Saúde da Criança: Nutrição Infantil, Aleitamento Materno
e Alimentação Complementar – Caderno de Atenção Básica nº 23”, de 2009, no site: <http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_nutricao_aleitamento_alimentacao.pdf>.
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MÓDULO 9
128
Seguimento ambulatorial do RNPT MÓDULO 10
Objetivo:
• Apresentar e discutir os problemas clínicos mais comuns do recém‑nascido
pré‑termo.
129
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Quadro-Resumo
• Exames laboratoriais para anemia da prematuridade:
• Hematócrito; hemoglobina; contagem de reticulócitos (ou hemograma com
reticulócitos).
• Ferro sérico e ferritina.
Periodicidade: 40 semanas e/ou na alta hospitalar/3ª etapa do MC.
Geralmente, devem ser feitos com 4 a 6 meses, se o RN apresentar bons in-
dicadores de recuperação (aumento de reticulócitos, ferritina adequada) e
boa evolução clínica. Caso contrário, deve-se monitorar o caso mensalmente
até que isso aconteça.
Anemia da • Os exames podem ser agrupados com outros, como, por exemplo, para
prematuridade DMO, para evitar expoliação.
• Devem-se refazer os exames com 12 meses, conforme a rotina recomen-
dada para todas as crianças.
• Suplementação de ferro oral para RNPT: de 2 a 4 mg/kg/dia até 1 ano.
Geralmente, o RNPT já sai de alta com essa prescrição. A partir de 1 ano,
segue a mesma recomendação de doses para a população de RNT.
• Suplementação profilática com ferro oral: para todas as crianças a partir de
4 a 6 meses de idade = 1 mg/kg/dia até 2 anos. Crianças com uso de fórmula
devem iniciar com 2 meses.
• Para a identificação precoce dos estágios de deficiência de ferro e anemia,
MÓDULO 10
Anemia
Os procedimentos de identificar e tratar a anemia são fatores importantes no seguimento de
qualquer criança, não só pelas consequências físicas, mas também pelo comprometimento
irreversível das áreas cognitivas e de aprendizado. Somando isso a todos os outros fatores
de risco que envolvem os RNPT, este é um aspecto que deve ser acompanhado de perto pelo
profissional da Atenção Básica.
A deficiência de ferro envolve múltiplos sistemas, tais como: alteração do crescimento, dis‑
função da tireoide, alteração da imunidade e instabilidade térmica. Mas a grande preocupa‑
ção refere‑se aos efeitos no cérebro em desenvolvimento, porque a atuação do ferro no siste‑
ma nervoso engloba funções metabólicas, de mielinização e neurotransmissão. Lembramos
que outros oligoelementos podem estar envolvidos ou agravar o quadro de anemia.
130
MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Anemia da prematuridade
Todos os RNs irão apresentar uma queda nos valores da série vermelha em função da redu‑
ção da produção de eritropoetina após o nascimento e, consequentemente, da produção das
hemácias (eritropoiese). Embora a anemia provoque a liberação de eritropoetina, para os
RNPTs esses níveis são mais baixos quando comparados com os de crianças de mais idade e
mesmo grau de anemia. Nos RNTs, o valor da hemoglobina (Hb) chegará a um valor médio
de 11 g/dl, aproximadamente, entre 8 e 12 semanas de idade.
Nos RNPTs, essa queda será mais precoce e acentuada em torno de 3 a 12 semanas de vida
(especialmente nos RNPTs com IG < 32 semanas) e espera‑se que se normalize em torno de
3 a 6 meses de idade, geralmente com a substituição da hemoglobina fetal (HbF) pela HbA..
Obs.: o tipo de hemoglobina do bebê só pode ser determinado quando há a substituição da
HbF e é por isso que o “teste do pezinho” para RNPT é refeito com 120 dias.
No ambulatório, eles poderão se apresentar assintomáticos mesmo com valores de Hb de 7
e de hematócrito (Htc) de 20 e manterão o catch‑up (crescimento rápido que ocorre em de‑
terminados períodos de crescimento do RNPT), apesar da deficiência de ferro e da anemia.
MÓDULO 10
Daí a importância do controle laboratorial.
Eritropoetina: atualmente, ela tem o seu uso restrito por ser uma medicação injetável (EV
ou SC) de alto custo e com eficácia limitada.
Transfusão de concentrados de hemácias: é uma medida temporária para a correção da
anemia e está indicada quando há um quadro de descompensação: taquicardia, ganho de
peso insuficiente, aumento da necessidade de oxigênio. Geralmente, faz parte do tratamento
intra‑hospitalar. Por outro lado, a transfusão não só pode acarretar um “atraso” na recupe‑
ração da anemia (porque retarda o aumento da produção de eritropoietina), como também
acarreta um aumento do depósito de ferro (Fe) em consequência da hemólise. Em geral,
quanto menores forem a IG e o PN, maior será o número de transfusões. Observe no re‑
sumo da alta hospitalar o número de transfusões que o bebê recebeu para avaliar melhor o
tratamento e a sua recuperação.
A suplementação de ferro não irá prevenir a anemia da prematuridade, mas a sua defi-
ciência poderá impedir a recuperação, quando a eritropoiese for novamente estimulada
pelo aumento da produção de eritropoietina.
Embora o leite materno possa atender às necessidades de ferro de um RNT, para os
RNPTs é necessária uma suplementação precoce.
Existem outros fatores envolvidos na anemia da prematuridade que podem agravar o qua‑
dro: depleção por coleta repetida de exames de sangue, vida média reduzida das hemácias e
déficit do estoque de ferro corporal, que piora com a redução da IG e do PN (o ferro é acu‑
mulado no terceiro trimestre de gestação).
131
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
O crescimento acelerado do RNPT contribui ainda mais para a redução mais rápida do es‑
toque de ferro.
O RNPT tem uma necessidade maior de ferro para garantir uma eritropoiese eficaz
durante a fase de crescimento rápido (catch‑up).
Exames laboratoriais:
• Hematócrito, hemoglobina e contagem de reticulócitos (ou hemograma com reticu‑
lócitos).
• Ferro sérico e ferritina.
Quanto ao ferro sérico, embora não seja o melhor indicador de deficiência de Fe (porque
apresenta variações durante o período do dia e diminui durante processos inflamatórios),
ele pode nos dar uma ideia sobre a adesão ao tratamento e a necessidade de ajuste de dose.
132
MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Suplementação de ferro
Geralmente, o RNPT já sai de alta com a prescrição de sulfato ferroso, o qual é iniciado aos
30 dias de vida, conforme o protocolo de cada serviço e a situação clínica de cada bebê. Tal
suplementação deverá ser mantida até 1 ano de idade numa dose mais alta do que o reco‑
mendado para o RNT.
Existem orientações variadas para a suplementação com ferro conforme o PN, o tipo de
dieta e a condição de ser RNPT ou não, as quais ficam entre 2 a 4 mg/kg/dia. Veja o quadro
a seguir:
SITUAÇÃO RECOMENDAÇÃO
Recém‑nascido a termo, de peso adequado para 1 mg de ferro elementar/kg/dia a partir
a idade gestacional, em aleitamento materno. do 6º mês (ou da introdução de outros
alimentos) até o 24º mês de vida.
Recém‑nascido a termo, de peso Não recomendado.
adequado para a idade gestacional, em
uso de 500 ml de fórmula infantil.
Recém‑nascido pré‑termo e/ou de baixo peso 2 mg/kg/dia durante um ano e, posteriormente,
(até 1.500 g) a partir do 30º dia de vida. 1 mg/kg/dia por mais um ano.
Recém‑nascido pré‑termo com 3 mg/kg/dia durante um ano e, posteriormente,
peso entre 1.000 e 1.500 g. 1 mg/kg/dia por mais um ano.
Recém‑nascido pré‑termo com 4 mg/kg/dia durante um ano e, posteriormente,
peso menor que 1.000.g 1 mg/kg/dia por mais um ano.
MÓDULO 10
Na verdade, a dosagem terapêutica deve ser ajustada para cada criança individualmente,
considerando‑se a evolução clínica, a dieta e os exames laboratoriais. Lembre que os RNs
politransfundidos poderão ter estoques suficientes de Fe e que a suplementação deverá ser
ajustada, a fim de evitar efeitos indesejáveis do excesso desse elemento.
A deficiência de vitamina A pode interferir negativamente na mobilização do Fe. Por isso,
também se recomenda a suplementação de vitamina A e de vitamina D durante o 1º ano de
idade corrigida. Como esse também é o tratamento preventivo para a doença metabólica
óssea, o RNPT receberá não só o sulfato ferroso, como também as vitaminas A e D.
Confira e reoriente a dieta apesar de todas as recomendações, porque muitas vezes os RN es‑
tão recebendo uma dieta inadequada (leite de vaca integral), o que agrava o risco para anemia.
Embora não seja possível aumentar a concentração do Fe no leite materno a partir da suple‑
mentação da dieta materna, é aconselhável – considerando‑se as condições socioeconômicas
da nossa população – que as mães também recebam uma suplementação vitamínica para
evitar carências nutricionais. O Programa Nacional de Suplementação de Ferro recomen‑
da a suplementação de ferro desde a gestação até o terceiro mês pós‑parto ou pós‑aborto.
Confira se a mãe está realmente usando a medicação. Dependendo da avaliação de cada si‑
tuação, considere a necessidade de manter a suplementação para a mãe durante o período
de amamentação exclusiva.
No acompanhamento após a alta, observe os seguintes pontos:
• Taquipneia, respiração periódica e/ou apneia.
• Diminuição da atividade, letargia e diminuição da sucção.
• Dificuldade de ganho de peso.
133
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Leituras sugeridas
“Anemia Ferropriva em Lactentes: Revisão com Foco em Prevenção”. Departamento
Científico de Nutrologia/SBP, 2012. Link: <www.sbp.com.br>.
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MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Quadro-Resumo
É uma doença de hipomineralização óssea relacionada à prematuridade. A DMO
DMO acomete cerca de 30% dos recém-nascidos pré-termo de muito baixo peso e até
mais do que 50% dos menores de 1.000 g.
Exames laboratoriais para diagnóstico e seguimento da doença metabólica óssea:
cálcio, fósforo e fosfatase alcalina.
Periodicidade: 40 semanas e/ou na alta hospitalar/3ª etapa do MC e com 3 e 6
Exames meses, conforme os exames e a evolução clínica e radiológica.
MÓDULO 10
bioquímicos
gestivo de DMO.
Valores muito altos são sugestivos de raquitismo = avaliação radiológica.
O Raio X de ossos longos permite classificar a doença em 3 graus:
1 = metáfise rarefeita, apagamento da linha branca na metáfise, aumento da
transparência submetafisária e cortical adelgaçada.
Sinais radiológicos
2 = alterações do grau 1 e metáfise irregular, além de epífise alargada com as-
pecto em taça.
3 = alterações do grau 2 e presença de fraturas.
O raquitismo é a manifestação da forma grave da doença e evidencia-se a partir
de 6 a 12 semanas de vida.
135
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
que esse é um dos principais fatores de risco para DMO, considerando‑se que essas crianças
podem apresentar fraturas sem outras alterações do raquitismo.
Raquitismo
O raquitismo é a manifestação da forma grave da doença e se evidencia a partir de 6 a 12 se‑
manas de vida. O quadro clínico apresenta diminuição do crescimento, proeminência fron‑
tal, craniotabes, alargamento da junção costocondral das costelas e/ou das articulações do
punho e do tornozelo, fraturas e, posteriormente, hipoplasia do esmalte dentário.
136
MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Os valores podem ser expressos em mg, mmol/L ou mEq/L. Assim, é preciso conhecer os
fatores de conversão:
Cálcio = 2 mEq = 1 mmol = 40 mg.
Fósforo = 1 mEq = 1 mmol = 31 mg.
Os resultados observados na doença metabólica óssea são os seguintes:
• Fósforo: < 4 mg/dL ou no limite inferior da normalidade.
• Cálcio: geralmente normal, mas pode estar aumentado quando existe hipofosfatemia.
• Fosfatase alcalina: é a soma de 3 subtipos = do fígado, do intestino e dos ossos, mas este
último contribui com 90% do valor. Por isso, apresenta 100% de sensibilidade e 70%
de especificidade.
Obs.: valores de fosfatase alcalina acima de 1.200 UI têm sido associados à baixa estatura
na infância.
Sugere‑se fazer um controle bioquímico ambulatorial com 40 semanas se a criança estiver
na terceira etapa do MC e, posteriormente, com 3 e 6 meses de idade corrigida.
MÓDULO 10
Diagnóstico por imagem
O Raio X de ossos longos permite classificar a doença em 3 graus:
Grau 1 = metáfise rarefeita, apagamento da linha branca na metáfise, aumento da transpa‑
rência submetafisária e cortical adelgaçada.
Grau 2 = alterações do grau 1 e metáfise irregular com epífise alargada com aspecto em taça.
Grau 3 = alterações do grau 2 e presença de fraturas.
Na nossa rotina ambulatorial, talvez este seja o exame de imagem mais acessível.
As alterações radiológicas só aparecem quando ocorre perda de 30% a 40% do conteúdo
mineral ósseo.
Existem exames mais específicos, como a densitometria óssea de dupla emissão com fontes de
Raio X (Dexa), que é considerada o padrão‑ouro no diagnóstico. Permite determinar o con‑
teúdo mineral ósseo, bem como a densidade mineral óssea, com mínima radiação, alta resolu‑
ção e precisão. Entretanto, é um exame pouco disponível mesmo para as unidades neonatais.
Também poderá ser usada a ultrassonografia óssea para diagnóstico de imagem, por ser um
método acessível, de baixo custo. Porém, com o pequeno tamanho dos ossos do prematuro,
tal exame se torna pouco preciso. Recentemente, tem sido proposto um ultrassom quanti‑
tativo, que permite avaliar a densidade óssea, a espessura da cortical, a elasticidade e a mi‑
croarquitetura óssea.
Tratamento
As estratégias que incluem aumentar a oferta desses minerais e reavaliar o uso de medica‑
ções que prejudicam a mineralização óssea são intra‑hospitalares.
137
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Lembre‑se de orientar as mães que os bebês precisam tomar sol em horários adequados,
como forma de prevenção de déficit de vitamina D e raquitismo.
138
MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
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Cap. 14.
MÓDULO 10
139
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Quadro‑Resumo
Refluxo O refluxo gastroesofágico (RGE) é definido pela volta do alimento do estômago até o
gastroesofágico esôfago. Pode ser um evento normal em diversas situações, devido ao relaxamento do
(RGE) esfíncter esofagiano inferior.
A regurgitação é definida como o retorno do conteúdo gástrico até a orofaringe. Já o
vômito é a sua expulsão.
A doença do RGE ocorre quando o RGE causa sintomas. Apenas 10% das crianças que têm
refluxo apresentarão o quadro de doença do refluxo gastroesofágico (DRGE).
Clínica da A apresentação clínica varia conforme a idade: lactentes apresentam vômitos recorrentes,
doença regurgitação, pouco ganho de peso e recusa alimentar. Crianças maiores e adolescentes
do refluxo referem dor abdominal recorrente, epigastralgia e pirose.
gastroesofágico Os sintomas podem estar presentes: laringite posterior, sinusite, tosse crônica, quadro de
(DRGE) broncoespasmo (BE), otite de repetição, pneumonias, apneias e alteração do esmalte dos
dentes. Embora a disfagia seja pouco frequente, é sinal de alarme importante.
A síndrome de Sandifer é uma manifestação de DRGE, em que a criança apresenta ar-
queamento do tronco e torção do pescoço, tentando elevar o queixo para alongar o
esôfago, evitando o refluxo ácido. A síndrome de Sandifer pode, às vezes, ser confundida
com outras doenças.
A esofagite é uma das complicações do RGE e é caracterizada por comprometimento
inflamatório do esôfago. Crianças maiores com esofagite podem apresentar dificuldade
de deglutição (disfagia).
MÓDULO 10
140
MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
O que é RGE?
O refluxo é definido pela volta do alimento do estômago até o esôfago. Acontece com qual‑
quer pessoa, embora seja mais frequente entre as crianças. Ocorre geralmente após as re‑
feições, por um breve período de tempo, devido ao relaxamento espontâneo do esfíncter
esofágico inferior. A regurgitação é definida como o retorno do conteúdo gástrico até a oro‑
faringe. Já o vômito é a sua expulsão.
O RGE é extremamente comum em lactentes saudáveis. Durante o dia, episódios de refluxo
podem ocorrer em 30 ou mais vezes, embora nem todos resultem em regurgitação.
Cerca de 70% dos bebês vomitam várias vezes ao dia até os 4 meses de idade, enquanto 95%
deles estão assintomáticos com 1 ano de idade. Tal melhora é atribuída a uma combinação
MÓDULO 10
de fatores, incluindo o crescimento em altura, o aumento do tônus do esfíncter esofagiano
inferior, uma posição mais ereta e uma dieta mais sólida. Portanto, regurgitações e vômitos
são incomuns nas crianças maiores de 18 meses.
A patogênese do RGE é multifatorial e complexa e envolve a frequência do refluxo, a acidez
gástrica, o esvaziamento gástrico, os mecanismos de esvaziamento esofagiano, a barreira
mucosa do esôfago, a hipersensibilidade visceral e a responsividade das vias aéreas, sendo o
mecanismo primário o relaxamento do esfíncter esofagiano inferior.
No RGE sem complicações, as crianças estão saudáveis, alimentam‑se bem e ganham peso:
elas são chamadas de “vomitadores felizes” e não requerem nenhuma avaliação diagnóstica,
nem tratamento.
Apenas 10% das crianças que têm refluxo apresentarão o quadro de doença do refluxo gastroe‑
sofágico (DRGE). Observou‑se que, em geral, essas crianças ingerem grandes quantidades
de alimento por dia, engolem ar (aerofagia) e apresentam um esôfago abdominal mais curto.
Nem todo vômito é refluxo e nem todo refluxo chega a ser vômito.
141
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Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
mento do tronco e torce o pescoço, tentando levantar mais o queixo, para alongar o esôfago
e evitar o refluxo ácido, o que pode, às vezes, ser confundido com outras doenças.
Sintomas de alerta
Estes sinais podem indicar outras doenças associadas ou não ao RGE:
• Sinais de obstrução gastrointestinal ou doença.
• Vômito bilioso.
• Sangramento gastrointestinal.*
• Início dos vômitos após os 6 meses de idade.*
• Constipação intestinal.
• Diarreia.
• Abdômen distendido ou doloroso.
142
MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Diagnóstico
O diagnóstico de RGE é feito com base nos sintomas clínicos. O impacto dos sintomas sobre
a vida da criança deve ser valorizado antes da solicitação de exames complementares. O pe‑
diatra/médico da Estratégia Saúde da Família (ESF) deve avaliar se o sintoma é causado por
outra doença ou se há evidência de que o refluxo está causando complicações secundárias.
Sintomas como regurgitação, choro e despertares noturnos são mais frequentes em lactentes
com RGE, apesar de serem comuns a todos os bebês.
Então, quando podemos considerar o RGE uma situação normal?
Quanto ao choro, lactentes saudáveis podem chorar até 2 a 2,5h por dia com 2 meses de idade.
Isso se reduz após os 4 meses para menos de 1h por dia. Nessa idade, apenas 10% ainda cho‑
ravam 3h por dia, o que poderia ser usado como referência para o sintoma de “muito choro”.
No tocante a acordar à noite, é comum que os bebês acordem mais à noite; porém, foi no‑
tado entre as crianças com RGE que 50% delas acordavam mais de três vezes no período
noturno, em comparação com apenas 13% dos bebês saudáveis.
• Esofagite
A esofagite é uma das complicações do RGE e pode se apresentar como disfagia ou dificul‑
dade de deglutição em crianças maiores. A inflamação do esôfago pode causar perda san‑
guínea com anemia secundária, hematêmese, hipoproteinemia e melena. A cicatrização do
esôfago, quando ocorre de forma circular, pode comprometer a anatomia e a funcionalidade
do órgão. A inflamação crônica também pode, ainda, ocasionar a substituição da mucosa
normal por um epitélio metaplásico potencialmente maligno (esôfago de Barrett).
MÓDULO 10
O diagnóstico de esofagite é realizado por endoscopia. Nos casos de esofagite erosiva, o exa‑
me deve ser repetido periodicamente até a confirmação da recuperação do epitélio mucoso.
Entretanto, se a esofagite for leve, a eficácia do tratamento pode ser avaliada pelo grau de
alívio dos sintomas.
• Exames
Radiografia contrastada do esôfago, do estômago e do duodeno (EED).
O EDD não é um exame diagnóstico para RGE e está indicado para avaliação da anatomia,
sendo útil para excluir outras doenças associadas, tais como: estenose pilórica, membranas
duodenais (brida), hérnia de hiato, má‑rotação e estreitamento esofágico.
A limitação do exame é que ele não serve para o diagnóstico de RGE, porque a sua presença ao
exame não quer dizer doença e sua ausência pela curta duração do exame também não o exclui.
• PH‑metria
É um exame laboratorial que tem por objetivo quantificar o refluxo ácido e relacionar os
episódios de refluxos ácidos gastroesofágicos com os sintomas apresentados pelo paciente.
O refluxo ácido é definido como aquele que apresenta PH < 4, com duração maior do que
15 a 30 segundos.
O índice de refluxo é calculado a partir da soma de todos os períodos nos quais o esôfago é
exposto a um PH < 4,0, como um percentual do tempo total de monitoramento.
Os valores aceitáveis como normais variam com a idade: em adultos, até 6%; em crianças,
até 5,4%; e, nos lactentes, até 11,7%.
143
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A limitação do exame é que ele não identifica os episódios de refluxo não ácidos presentes
principalmente no período pós‑prandial dos lactentes. Neste grupo, tanto a alimentação
predominantemente alcalina quanto uma secreção ácida menor pode interferir com o re‑
sultado do exame.
• Impedanciometria esofágica
Esta nova técnica permite detectar movimentos de fluidos no interior do esôfago, mediante
a colocação de um cateter com vários eletrodos, que permitem medir as mudanças da impe‑
dância elétrica entre eles quando passa o alimento. Este método complementa a PH‑metria,
permitindo identificar os episódios de refluxo não ácidos e até que altura do esôfago foi al‑
cançada. Alguns trabalhos identificaram 40% de refluxos não ácidos em pacientes com qua‑
dros respiratórios e que não tinham sido detectados com a PH‑metria convencional.
A limitação do exame é que ele constitui uma técnica nova de acesso limitado e ainda requer
mais tempo para avaliação. Não existem valores normativos em neonatos.
• Endoscopia com biópsia
É indicada para aqueles que não responderam aos testes empíricos de dieta/medicação ou
nos quais se suspeita de alguma intolerância alimentar.
É indicada para o diagnóstico e a classificação da gravidade de esofagite. Deve ser sempre
acompanhada por biópsia e repetida ao final do tratamento para assegurar a regressão das
lesões. É importante para identificar outras doenças, tais como: estenoses de esôfago, esofa‑
gite eosinofílica, esôfago de Barrett, doença de Crohn e esofagite infecciosa.
A aparência normal da mucosa não exclui a esofagite histopatológica; por isso, a biópsia é
MÓDULO 10
necessária. A biópsia pode identificar causas atípicas de vômitos, como a esofagite eosinofí‑
lica, encontrada em 10% a 15% das crianças com DRGE e que está associada à alergia a pro‑
teína do leite de vaca ou a outras alergias alimentares e não irá responder bem ao tratamento
com supressor ácido. A gravidade da esofagite não se correlaciona com o “índice de refluxo”.
• Cintilografia
Após a ingestão de uma fórmula de radioisótopo misturada com a mamadeira ou com a co‑
mida, é realizada uma varredura nas regiões do estômago, do esôfago e dos pulmões. Este
exame permite a identificação de RGE (inclusive o não ácido) e de aspirações pulmonares.
Episódios de aspiração pulmonar podem ser identificados no período de duração do exame
(1 hora) e 24 horas após.
Assim como o EED, tal exame também pode ter alguns falsos positivos e negativos.
Tratamento
Os objetivos do tratamento consistem em dar alívio aos sintomas do paciente, promover o
ganho de peso e o crescimento adequados, regressão dos processos inflamatórios e prevenir
doenças respiratórias, entre outras complicações.
O tratamento medicamentoso não está indicado para crianças com RGE sem complicações.
Orientações
Antes de tudo, devem‑se orientar os pais de que os sintomas são benignos e que desapare‑
cem na maioria dos casos até 1 ano de idade. Lembre que a obesidade, a exposição à fumaça
de cigarro e o álcool também estão associados ao RGE.
144
MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Posturação
Esta é uma questão muitas vezes controversa: a inclinação melhora ou não o refluxo? Qual
seria a melhor posição? Antigamente, recomendava‑se que os bebês ficassem de barriga para
baixo (prona), mas, por outro lado, essa posição está associada com a síndrome de morte
súbita no lactente (SMSL).
Então, como estamos orientando a posturação agora?
Após uma pesquisa de Vandenplas, publicada em 2010, podemos recomendar a posição
supina com inclinação de 40º. Nesse trabalho com 30 bebês entre 3 semanas e 3 meses de
idade com DRGE, demonstrou‑se uma redução dos episódios de regurgitação de 6,5 para
2,6, além do índice de refluxo na PH‑metria de 14,4% para 8,8% apenas com essa postura‑
ção e sem medicação.
MÓDULO 10
Morte súbita versus RGE
A síndrome da morte súbita, assim como a regurgitação e o RGE ocorrem mais frequen‑
temente nos 6 primeiros meses de vida. Foi demonstrada a redução da morte súbita com
a posição supina, na qual justamente a presença do RGE é mais frequente. Nesta posição,
o período de sono é mais curto, com mais ciclos de sono REM (“rapid eye movement” ou
“movimento rápido dos olhos”) e vários despertares do que na posição prona. Especula‑se,
talvez por isso, que o RGE possa ter um efeito “protetor” contra a SMSL.
A posição prona e a posição lateral não são recomendadas porque estão associadas ao risco
de morte súbita do lactente.
145
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Alimentação
Recomendações:
• Caso o bebê faça parte do grupo de crianças que não se encontram em aleitamento mater‑
no, deve haver redução do volume da mamadeira se ele for maior do que 150 ml/kg/dia.
• Quanto ao espessamento da dieta: deve ser feito com a adição de cereais de arroz ou de
fórmulas “AR”. Na verdade, isso pode reduzir o número de regurgitações, mas o índice
de refluxo não se altera. Por outro lado, a dieta mais espessa demora mais tempo na
luz do estômago, aumentando a chance de refluir. Parece melhorar discretamente os
sintomas de regurgitação e os vômitos, embora não interfira no índice de refluxo; por
isso, deve ser avaliado individualmente.
• Leite materno versus fórmula: a amamentação parece ter um efeito protetor contra a
regurgitação dos lactentes. Parece que os bebês amamentados apresentam menor expo‑
sição ácida do esôfago durante a noite do que aqueles que recebem fórmula. Isso pode
estar relacionado às diferenças no tempo de esvaziamento gástrico.
• Alergia à proteína do leite de vaca: pode se sobrepor ou ser a causa dos sintomas.
Alguns estudos relatam que até 40% das crianças com RGE têm alergia à proteína do
leite de vaca. Algumas são sensíveis também à proteína da soja; por isso, a substituição
por fórmulas à base de soja não é indicada, sendo recomendado o uso de fórmulas
lácteas extensamente hidrolisadas. Faça um teste com reavaliação em 2 a 3 semanas. Se
este for o caso, o uso da fórmula especial reduz os vômitos após 24h.
• Alergia ao leite de vaca em crianças amamentadas exclusivamente pelo seio materno:
devem ser excluídos da dieta da mãe todos os derivados lácteos, a carne bovina e as
MÓDULO 10
Testes terapêuticos
É aceitável se a criança não responder às mudanças posturais e dietéticas após 2 a 3 semanas.
Pode‑se iniciar tratamento, com reavaliação, após o mesmo período.
• Inibidores da secreção ácida.
• Antagonista dos receptores H2 (histamina): ranitidina = primeira linha de tratamento.
Dose: 2,5 a 5 mg/kg/dose, duas vezes ao dia. No caso de falha no tratamento, é possível au‑
mentar a dose para 10 mg/kg/dose, antes de utilizar o omeprazol (dose máxima: 300 mg/dia).
Entretanto, o seu efeito diminui rapidamente por taquifilaxia, ou seja, quer dizer que o efeito
terapêutico é reduzido durante um tratamento prolongado.
• Inibidores de bomba de próton: eles têm eficácia superior à ranitidina para o alívio dos
sintomas e a recuperação da esofagite por refluxo, mas só podem ser usados em crianças
acima de 1 ano de idade.
146
MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 10
• Procinéticos
Seu uso é controverso.
Desde a suspensão da comercialização da cisaprida, o uso da domperidona tornou‑se mais
comum. Embora existam controvérsias sobre a sua eficácia, ela pode ser prescrita em situa‑
ções de risco de broncoaspiração e após considerações sobre os efeitos colaterais.
• Domperidona
Dose: 0,1 a 0,3 mg/kg/dose a cada 8 horas.
Aumenta a motilidade e o esvaziamento gástrico, reduzindo o refluxo pós‑prandial. A dom‑
peridona tem relativamente poucos efeitos colaterais e pouca ação sobre o sistema nervoso
central, porém são descritos raros casos com sintomas extrapiramidais e episódios de mo‑
vimentos oculógiros. O nível sérico da droga pode aumentar com o uso concomitante de
derivados imidazólicos e antibióticos macrolídeos. O prolongamento do intervalo Q‑T pode
ocorrer com o uso associado de cetoconazol e domperidona.
A bromoprida também apresenta efeitos colaterais e, apesar do uso comum, não existem
estudos controlados em pediatria, além do fato de que ela não está incluída em nenhum
trabalho de pesquisa sobre RGE. Deve‑se evitar seu uso.
Os demais procinéticos citados na literatura (como metocloparmida, betanecol, baclofen e
eritromicina) quase não são usados e também têm efeitos colaterais comprovados, além de
eficácia questionada.
• Antiácidos
Neutralizam os ácidos do estômago, propiciando momentaneamente o alívio da sintomato‑
logia em pacientes com esofagite leve a moderada.
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O hidróxido de alumínio é eficaz em crianças entre 2 e 42 meses, mas não deve ser usado
continuamente, porque o alumínio pode acarretar quadros de osteopenia, anemia microcí‑
tica e neurotoxicidade. A eficácia e a segurança do hidróxido de magnésio em crianças ainda
não estão comprovadas.
• Cirurgia
A fundoplicatura de Nissen tem sua indicação restrita àqueles casos que não responderam
ao tratamento ou apresentaram recorrência mais de uma vez ou ainda naqueles que reque‑
rem tratamento contínuo. É também uma alternativa para pacientes com refluxo não ácido,
crianças com paralisia cerebral e/ou risco de broncoaspiração. Raramente é indicada para
antes de 1 ano de idade.
As complicações pós‑operatórias devem ser consideradas antes da indicação da cirurgia. As
mais comumente relatadas são as seguintes: rompimento da fundoplicatura (0,9% a 13%),
obstrução do intestino delgado (1,3% a 11%), distensão abdominal por retenção gasosa
(1,9% a 8%), infecção (1,2% a 9%), atelectasia ou pneumonia (4,3% a 13%), perfuração (2%
a 4,3%), estreitamento/constrição permanente do esôfago (1,4% a 9%) e obstrução do esô‑
fago (1,4% a 9%).
Há um índice de reoperação de 3% a 18,9%. Os resultados e as complicações da cirurgia
com laparoscopia parecem ser os mesmos da laparotomia tradicional, apenas com uma in‑
ternação reduzida.
148
MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
1 VÔMITOS RECORRENTES
E/OU REGURGITAÇÃO
EXISTEM AVALIAR
3 SINAIS DE SIM
DEPOIS
ALERTA? 4
NÃO
SÃO SINAIS
5 DE RGE AVALIAR
SIM
DEPOIS
COMPLICADO? 6
NÃO
MÓDULO 10
7 RGE SEM COMPLICAÇÕES
("vomitadores felizes")
NENHUM EXAME
8
ORIENTAÇÃO AOS PAIS – sinais de alerta
CONSIDERAR ESPESSAMENTO
RESOLVE CRIANÇA
9 COM 18 SIM
10 SAUDÁVEL
MESES?
NÃO
ENCAMINHAR PARA
11 GASTROENTEROLOGISTA;
CONSIDERAR ENDOSCOPIA E BIÓPSIA
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EXISTEM
AVALIAR
3 SINAIS SIM
4 DEPOIS
DE ALERTA?
NÃO
OFERTA
5 ORIENTAÇÃO
CALÓRICA NÃO
6 MONITORAMENTO
ADEQUADA?
SIM
MÓDULO 10
AJA DE ACORDO
8 ANORMAL? SIM
9 COM RESULTADOS
NÃO
ORIENTAÇÃO
11 MELHOROU? SIM
12
MONITORAMENTO
NÃO
150
MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
AZIA/QUEIMAÇÃO
1
RETROESTERNAL CRÔNICA
ORIENTAÇÕES: MUDANÇAS
3 NO ESTILO DE VIDA; TERAPIA
DE SUPREÇÃO ÁCIDA POR 2-4 SEMANAS
MÓDULO 10
CONTINUAR COM TRATAMENTO
5
POR 8-12 SEMANAS
SUSPENDER A TERAPIA
6
DE SUPREÇÃO ÁCIDA
7
ENCAMINHAR PARA
RECAÍDA? SIM
8 GASTROENTEROLOGISTA
NÃO
9 OBSERVAÇÃO
151
Ministério da Saúde
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152
MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Quadro-Resumo
Oxigenioterapia de duração mínima de 28 dias, com uma avaliação da gra-
Critérios diagnósticos vidade do quadro com 36 semanas de IG ou 56 dias de vida, dependendo
da IG (maior ou menor do que 32 semanas).
A displasia broncopulmonar tem causa multifatorial, envolvendo fatores
Causas inflamatórios, infecciosos, nutricionais, genéticos, barotrauma/volutrauma.
Porém, a prematuridade e a terapia com oxigênio são aquelas causas mais
diretamente relacionadas com a referida doença.
Retinopatia da prematuridade.
Doença metabólica óssea.
Grupos de risco Déficit pôndero-estatural.
Hipertensão arterial pulmonar e cor pulmonale.
Comprometimento neuromotor.
Déficits sensoriais.
MÓDULO 10
Maior risco para síndrome da morte súbita do lactente.
Dificuldade de sucção.
Desmame precoce.
Intercorrências respiratórias.
Reinternações e óbito no primeiro ano de vida.
Oftalmologia/ROP.
Pneumologista.
Acompanhamento Cardiologista.
Fisioterapia respiratória.
Fonoaudiologia.
Nutricionista.
Palivizumabe.
Exames de rotina: anemia e doença metabólica óssea.
Raio X de tórax basal.
Exames conforme a Oximetria.
gravidade do quadro Gasometria arterial.
US do abdômen.
Tomografia computadorizada de tórax.
Ecocardiograma.
Prova de função pulmonar (espirometria).
Polissonografia.
Diuréticos.
Medicações Manejo e prevenção das crises de broncoespasmo.
Oxigênio.
Cuidados ambientais.
Orientações Orientação quanto ao tabagismo.
Evitar contato com pessoas com infecção respiratória.
Continua
153
Ministério da Saúde
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Conclusão
Por isso, quando o bebê nasce prematuramente, seus alvéolos pulmonares ainda não estão
MÓDULO 10
desenvolvidos e se apresentam numa forma rudimentar. A forma sacular (de 26/28 a 32/36
semanas de IG) funciona como um “pré‑alvéolo”. Assim, todos os fatores citados pré e pós‑
‑natais podem interferir nessa maturação, sendo que bastaria apenas o oxigênio para inter‑
romper a septação dos alvéolos.
154
MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Definição
Como já foi citado, durante os últimos anos, foram propostos vários nomes e definições para
a doença, o que fica mais bem demonstrado no quadro a seguir. Observe também que, de‑
pendendo da definição usada, a incidência de DBP pode variar; por isso, é importante saber
qual foi a definição usada para poder comparar os resultados das pesquisas.
Para se ter uma ideia da importância de uma definição, nesta pesquisa, feita na Universidade
de Miami (Jackson Memorial Center), durante o período de 1995 a 2000, foram aplicadas vá‑
rias definições para um mesmo grupo de RNPT e a incidência de DBP variou quase dez vezes:
MÓDULO 10
Além disso, se propôs uma definição que usa a duração mínima de 28 dias com uma avalia‑
ção da gravidade do quadro com 36 semanas de IG ou 56 dias de vida, dependendo da IG
(maior ou menor do que 32 semanas). O uso do conceito de prematuridade, por intermédio
do corte pela IG, contribuiu para melhorar a definição, permitindo também uma classifica‑
ção de gravidade. Os achados radiológicos não foram usados na nova definição.
Veja a tabela a seguir:
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Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Neurodesenvolvimento e crescimento
Esta pesquisa envolveu 4.866 RNPT com IG < 32 semanas e PN < 1.000 g que sobreviveram até 36
semanas de IG. Destes, 79% (3.848) foram avaliados com 18 a 22 meses de idade corrigida e classificados
por gravidade de DBP (segundo o consenso): Ehrenkranz, 2005.
DBP Sem DBP Leve Moderada Grave
Total = 3.848 (n = 876) (n = 1.186) (n = 1.143) (n = 643)
Paralisia cerebral (%) 8,1% 11,3% 17% 26,8%
Estima‑se que cerca da metade dessas crianças tenha sintomas respiratórios induzidos pelo
exercício.
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MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Roteiro de seguimento
Como foi visto, a DBP tem vários desfechos associados. Por isso, um pequeno roteiro pode‑
rá nos ajudar no seguimento dessas crianças e deve ser considerado conforme a gravidade
do quadro.
Devemos conferir o seguimento e/ou encaminhar para:
• Oftalmologia/avaliação de retinopatia da prematuridade (ROP) = se IG < 35 semanas.
• Pneumologista = se houve alta com oxigênio, internações repetidas e/ou clínica respi‑
ratória exacerbada: broncoespasmo (BE), pneumonia (PNM) de repetição.
• Cardiologista = todos aqueles com displasia broncopulmonar oxidependentes.
MÓDULO 10
• Fisioterapia respiratória = se houve alta com oxigênio, internações repetidas e/ou clínica
respiratória exacerbada.
• Fonoaudiologia = avaliação e seguimento auditivo, dificuldade de sucção/alimentação.
• Nutricionista = para suporte nutricional, se houve ganho de peso insatisfatório.
• Palivizumabe = conforme protocolo (veja o Módulo 8: “Vacinação para o RNPT”).
Exames
Entre os exames que podem ser solicitados no seguimento, conforme a gravidade do qua‑
dro, estão os seguintes:
• Exames de rotina = para anemia e doença metabólica óssea (grupo de risco pelo uso
de diuréticos).
• Raio X de tórax basal = quando a DBP for assintomática, para servir de comparação
em situações futuras. Oriente a mãe a mostrar o exame ao plantonista do PS quando a
criança apresentar intercorrências clínicas.
• Oximetria = a medida de saturação de oxigênio pode ajudar, mas um valor isolado
ao repouso é pouco preditivo da tolerância ao esforço ou dos valores durante o sono.
Os registros prolongados de saturação de O2 são mais indicativos para avaliação da
adequação da oxigenioterapia e, dependendo de cada situação, pode ser feita ambula‑
torialmente (titulação de O2).
• Gasometria arterial = informa‑nos sobre a saturação de oxigênio (PaO2) num deter‑
minado momento de uma forma mais precisa do que a oximetria. A PaCO2 é outra
informação útil obtida nesse exame (deve ser < 50 mmHg).
• US do abdômen = indicado pelo risco para colelitíase e nefrocalcinose, em função do
uso de diuréticos.
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Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Medicações
Diuréticos: é comum que os bebês obtenham alta com prescrição de diuréticos. Geralmente,
é usada uma associação entre hidroclorotiazida e espironolactona. A principal função deles
é tentar melhorar a complacência pulmonar. A redução do tratamento é feita progressiva‑
mente, ao não se ajustar as doses pelo peso da criança. O tratamento é suspenso quando
a dose alcançada é desprezível ou se não houver nenhum benefício evidente em mantê‑lo.
Nestes casos, o diurético poderá ser retirado mais rapidamente, reduzindo‑se a dose à me‑
tade a cada semana.
MÓDULO 10
A manutenção dos diuréticos após os 6 meses de idade não traz benefícios evidentes, exceto
se existirem complicações adicionais.
Manejo e prevenção das crises de broncoespasmo (BE): o mesmo que se usa para outras
crianças (broncodilatadores e corticoides orais para as crises e corticoides inalatórios para
prevenção, conforme orientação do pneumologista).
Oxigênio: também é considerado como uma medicação e deve ser mantido até a suspensão
pelo especialista.
Orientações
As orientações têm como objetivo minimizar as crises de BE e prevenir infecções respira‑
tórias virais:
• Cuidados ambientais = o mesmo para crianças asmáticas (Anexo C). O ambiente deve
ser livre de animais, fumaça (cigarro, fogão à lenha, lareira), vapores orgânicos (quero‑
sene) e uma higiene rigorosa deve ser recomendada.
• Tabagismo = oriente os familiares para que não fumem dentro de casa e principalmente
para que, quando adolescentes, essas crianças também evitem o cigarro.
• Evitar contato com pessoas com infecção respiratória = oriente para que os outros
moradores da mesma casa (especialmente as crianças) higienizem as mãos antes de
segurar o bebê e cubram o rosto com lenço ou máscara quando apresentarem sinais
claros de infecção respiratória. Também pode ser uma tarefa difícil, considerando‑se
as condições de moradia da nossa população.
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MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 10
E o que fazemos quando chega à UBS uma criança com oxigenioterapia?
Em primeiro lugar, toda alta hospitalar de um RN com DBP oxidependente deve ser comu‑
nicada à Atenção Básica, para permitir um bom planejamento do seguimento.
Por isso, é importante que o hospital ou a maternidade conheça sua área de referência e
mantenha um bom relacionamento com a rede básica.
• Prioridade na recepção ao chegar à UBS, para evitar espera no atendimento e exposição
às outras crianças com quadros virais.
• Confira se algum familiar recebeu treinamento e orientação para que possa ajudar a
mãe nos cuidados.
• Garanta o fornecimento de medicação, instalação do oxigênio/concentrador em casa e
torpedo de oxigênio portátil.
• Assegure o retorno para consultas com ambulância ou transporte com torpedo de oxi‑
gênio portátil.
• Relatório para a empresa de fornecimento de energia elétrica, caso a criança use um
concentrador de oxigênio. Em caso de falta de eletricidade programada, a família deverá
ser avisada, para buscar uma alternativa, como um torpedo de oxigênio ou remoção
para o pronto‑socorro próximo. Da mesma forma, o retorno da energia deverá ser
prioritário nestes casos.
• Inclusão do RN na ESF: vacinação em casa, programação de visita domiciliar logo após
a alta hospitalar para intervenção ambiental, sugestão para o local do berço e do oxigê‑
nio, posturação antirrefluxo, orientação sobre cuidados ambientais (fumantes, mofo,
poeira, animais domésticos). Veja as orientações gerais no Anexo D.
• Medicações especiais: diuréticos, inalações com beta‑2, corticoides etc., conforme a
necessidade.
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MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Conclusão
Em função do aumento da incidência de DBP e com mais crianças obtendo alta hospitalar
em uso de oxigênio domiciliar, o pediatra/médico da ESF precisa estar familiarizado com os
riscos clínicos e neurológicos que envolvem esse grupo de crianças em longo prazo e deve
se adaptar para atender tal demanda.
Referências
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MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Lembre‑se de que outras situações também podem levar a uma crise de asma:
• Mudanças bruscas de temperaturas (tempo frio) podem levar à crise de asma. Prestar
atenção a sintomas de tosse; se for persistente, e levar ao médico.
• Situações emocionais intensas como, por exemplo, provas escolares, viagem de férias,
também podem desencadear crise de asma.
Fisioterapia respiratória:
• Encher bexigas (lavar antes).
• Brincar com língua de sogra.
• Passar líquidos de uma garrafa para a outra utilizando canudinhos etc.
• Estimular a prática esportiva gradualmente. Quando a asma for induzida por exercícios
físicos, orientar o uso de medicação antes da prática esportiva.
• A natação fica contraindicada em crianças portadoras de rinite grave ou otite de repetição.
MÓDULO 10
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Orientações gerais
• Pingue soro fisiológico (0,5 ml em cada narina, quatro vezes ao dia) para evitar o res‑
secamento do nariz.
• Para a inalação com umidificador (garrafinha), encha‑o com água filtrada e troque sua
água todos os dias ou quando ela estiver abaixo do nível mínimo (veja a marca). Na tro‑
ca, jogue fora o resto de água, lave a garrafinha com água filtrada e encha‑a novamente.
• Se a criança estiver com tosse ou catarro, faça suas inalações com soro fisiológico a
MÓDULO 10
0,9%.
• A utilização de medicamentos só deve ser feita com orientação médica.
• As secreções nasais podem ser aspiradas com a “perinha” ou com aspirador a vácuo
portátil.
• Se a criança apresentar dificuldades para respirar ou ficar com os lábios e os dedinhos
arroxeados, aumente o oxigênio para o dobro do que a criança estiver usando, até o
máximo de 2 litros por minuto, enquanto procura o serviço médico mais próximo.
• A limpeza da casa deve ser feita com pano úmido enrolado em uma vassoura, para não
levantar poeira.
• Animais domésticos (gato, cachorro) devem ficar fora de casa.
• O bebê não pode ter bichinhos de pelúcia no quarto para enfeitar ou brincar.
• Não fume dentro de casa ou próximo do bebê.
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MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 10
Quadro‑Resumo
Grupos de risco RN com IG < 32 semanas e PN < 1.500 g
Este termo se refere a um conjunto de lesões, que inclui a leucomalácia
Encefalopatia da periventricular (LPV), que acomete a substância branca (assim como c ausa
prematuridade lesões de neurônios e axônios) em vários locais do cérebro, tais como:
tálamo, núcleos da base, tronco cerebral e cerebelo.
Leucomalácia A LPV refere‑se à lesão da sustância branca cerebral classicamente com dois
periventricular componentes: focal e difuso.
Ocorre na matriz germinativa localizada na região periventricular e pode
Hemorragia ocasionar complicações imediatas (convulsões, hidrocefalia) e, em longo
peri‑intraventricular (HPIV) prazo, problemas no desenvolvimento global, especialmente nos casos
mais graves.
Classificação da HPIV Classificação de I a IV (segundo o critério de Papile) e de I a III graus, além de
lesão densa (segundo o critério de Volpe), sendo que os comprometimentos
estão relacionados aos graus III e IV ou III e à lesão densa.
Ultrassom transfontanela (USTF) em todo RN < 32 semanas ou < 1.500 g nas
Exames primeiras 72 horas de vida. Repita o exame com uma semana, sobretudo
nas crianças de PN < 1.000 g. Repita o exame com 40 semanas de IG e/ou
na alta hospitalar/3ª etapa do MC (Método Canguru), mesmo que o exame
seja normal. Se ele se apresentar alterado, repita o exame até a estabilidade
do quadro. O USTF ambulatorial deve ser feito a critério médico, conforme
a evolução do quadro neurológico. Exame a ser feito, conforme a evolução
complementar, com RM.
Continua
165
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Conclusão
O exame de USTF sem alterações não garante uma evolução normal e o contrário também é possível. Por
isso, devemos ser muito cautelosos em antecipar prognósticos. Lembramos que esses exames não têm
boa sensibilidade/especificidade para lesões não motoras.
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Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 10
intraventricular graus III e IV, LPV e ventriculomegalia) podem ser detectadas durante a inter‑
nação. O USTF realizado na ocasião da alta ou próximo de 40 semanas de IG torna‑se impor‑
tante para traçar o prognóstico e planejar o acompanhamento e a intervenção, até porque essas
lesões podem se apresentar nessa IG mesmo naqueles que tiveram exames iniciais normais.
A USTF ambulatorial deve ser feita a critério médico, conforme a evolução do quadro neu‑
rológico, se o quadro já estiver estável (lembre‑se de que, para esse exame, a fontanela ainda
deve estar aberta).
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E a hemorragia peri‑intraventricular?
Esse quadro pode ocasionar complicações imediatas (convulsões, hidrocefalia) e, em longo pra‑
zo, problemas no desenvolvimento global, especialmente nos casos mais graves (graus III e IV).
A HPIV está associada a múltiplos eventos pré e perinatais (veja as leituras recomendadas) e,
com a melhoria dos cuidados neonatais, tem apresentado um declínio acentuado, passando
de 50% a 80%, na década de 1980, para cerca de 10% a 15% atualmente. A questão é que tal
incidência depende de bons cuidados neonatais, que começam desde o pré‑natal e passam
pelo transporte da gestante para um centro de referência, compreendem a qualificação da
unidade neonatal e vão até o manuseio adequado do RN.
MÓDULO 10
Outras formas de hemorragia (tais como: subaracnóidea, subdural e intracerebelar) são mais
comuns nos RN a termo, consequência de tocotraumatismos.
168
MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Classificação de Volpe:
Grau I: hemorragia restrita à matriz germinativa ou menos de 10% de sangue no ventrículo
lateral, em corte parassagital.
Grau II: hemorragia intraventricular com 10% a 50% de sangue no ventrículo lateral, em
corte parassagital.
Grau III: hemorragia intraventricular com mais de 50% de sangue no ventrículo lateral, em
corte parassagital.
Ecodensidade periventricular: com descrição de localização e extensão.
Hidrocefalia pós‑hemorragia
Apesar de 35% dos RN evoluírem com dilatação ventricular progressiva, apenas 15% ne‑
cessitarão de derivação ventrículo‑peritoneal (DVP) e necessitam de um seguimento com
USTF seriado para os profissionais se decidirem sobre a necessidade ou não de uma inter‑
venção cirúrgica.
Entretanto, em alguns casos, tal diagnóstico será feito no ambulatório; por isso, ressalta‑se
a importância de medir o perímetro cefálico semanalmente e de conhecer alguns sinais su‑
gestivos de hidrocefalia, que podem ser observados no exame físico:
• Aumento do perímetro cefálico (PC) acima de 2 cm por semana.
• Disjunção de suturas.
• Fontanela ampla e tensa.
MÓDULO 10
Lembramos que, quando isso acontece, o diagnóstico de hidrocefalia pode ser considerado
tardio, a qual poderia ter sido identificada precocemente por USTF seriado e tratada ainda
na unidade neonatal, com um melhor prognóstico para o bebê.
Existem situações que necessitam de vigilância constante e seguimento por até um ano:
são aquelas crianças em que há uma dilatação moderada de progressão lenta sem sinais de
aumento da pressão intracraniana, a qual não se manifesta porque a fontanela ainda está
aberta. Tais crianças necessitam de um acompanhamento clínico, com medida do perímetro
cefálico e realização de ultrassom seriado. Mesmo que o tamanho do ventrículo se estabili‑
ze, o seguimento deve ser mantido durante um ano, porque 5% desses casos podem evoluir
para dilatação rapidamente progressiva.
Alguns conceitos
As lesões ultrassonográficas raramente se apresentam de forma isolada: além da hemorragia
intraventricular, existem outras lesões comumente associadas que definem o prognóstico.
A seguir, apresentamos algumas descrições e diagnósticos presentes no USTF:
• Hemorragia na matriz germinativa: definida como a presença de sangue na região su‑
bependimária.
• Hemorragia intraventricular: presença de sangramento dentro do ventrículo.
• Leucomalácia periventricular: é o resultado de uma lesão na substância branca peri‑
ventricular, que pode ser difusa ou focal.
• Lesões císticas intraparenquimatosas: esta descrição traduz a LPV cística (lesão focal).
• Infarto hemorrágico periventricular: pode ser uma complicação da hemorragia intra‑
ventricular, embora em 15% dos casos possa ocorrer sem estar associado a alguma
169
Ministério da Saúde
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Laudos descritivos
Atualmente, há uma tendência de serem usados laudos descritivos nos trabalhos de pesqui‑
sa. Os termos “ecolucência” e “ecodensidade” são descrições ultrassonográficas usadas para
definir as lesões de substância branca. Podem ser a tradução de leucomalácia periventricular
ou de hemorragia parenquimatosa ou até mesmo de ambas, que podem coexistir.
De uma forma geral, poderia se dizer o seguinte:
• Ecolucência: definida como a presença de pequenos cistos na substância branca, geral‑
mente associada à LPV.
MÓDULO 10
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MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
É interessante notar que o risco associado à presença de pequenos cistos (ecolucência) e ven‑
triculomegalia é três vezes maior para tetra e hemiparesia do que para diplegia.
Segundo a pesquisa, os problemas de 11,5% das crianças evoluíram para paralisia cerebral,
sendo que 6% (quase a metade) dos casos apresentavam USTF sem anormalidades.
Fazendo o caminho inverso, buscando quais alterações no ultrassom as crianças com PC
teriam, os pesquisadores descobriram que 43% das crianças apresentavam USTF normais
no período neonatal. Quando classificadas pelo tipo de PC, 34% daquelas com tetraparesia
MÓDULO 10
e 60% com diparesia apresentavam exames normais.
Por que os exames podem ser normais mesmo nas crianças com comprometimento
neurológico?
Isso provavelmente acontece porque essas crianças apresentam lesões microestruturais ou
de substância branca que não são detectáveis pelo ultrassom. Estudos recentes têm sugeri‑
do que o USTF não detecta o aspecto mais difuso das lesões do parênquima cerebral (subs‑
tância branca) e que as anormalidades de ecodensidade representam apenas a “ponta do
iceberg” dentro de um cenário mais amplo de comprometimento cerebral.
Alguns trabalhos com RNPT com IG < 30 semanas mostraram que a sensibilidade e o valor
preditivo positivo da RM foram mais do que o dobro em comparação com o ultrassom na
identificação desse tipo de lesão.
O cerebelo também não é avaliado nos exames de USTF e, com isso, não se identificam le‑
sões que poderiam contribuir para o prognóstico.
Os exames de USTF sem alterações não garantem uma evolução normal e o contrário tam‑
bém é possível. Por isso, devemos ser muito cautelosos em antecipar prognósticos.
A tabela a seguir demonstra bem isso. Observe que as lesões, na maioria das vezes, estão
associadas e que algumas estão mais fortemente associadas a um prognóstico desfavorável,
enquanto outras não apresentaram paralisia cerebral, apesar das alterações no USTF.
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Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Tabela 1 – Percentual de crianças com cada combinação das lesões encontradas pelo
USTF, o tipo de paralisia cerebral e o comprometimento associado
Lesões no US Paralisia cerebral e gravidade da disfunção
Tetraparesia Diparesia Hemiparesia Sem PC GMFCS
HIV VM EC EL N
(%) (%) (%) (%) ≥2
+ + + + 45 5 27 23 27 22
+ + + − 25 5 5 65 25 20
+ + − + 0 67 0 33 0 3
+ + − − 17 10 0 74 19 42
+ − + + 20 0 10 70 20 10
+ − + − 4 0 4 92 0 24
+ − − + 0 0 0 100 0 3
+ − − − 4 4 1 90 2 93
− + + + 67 0 33 0 67 3
− + + − 0 0 0 100 0 1
− + − + 100 0 0 0 100 1
− + − − 23 8 8 62 8 13
− − + + 40 10 0 50 40 10
− − + − 2 6 0 92 2 48
− − − + 24 5 5 67 29 21
MÓDULO 10
− − − − 3 3 1 94 2 739
Número de crianças 64 37 19 933 55 1.053
HIV = hemorragia intraventricular; VM = ventriculomegalia; EC = ecogenicidade;
EL = ecolucência; PC = paralisia cerebral.
Fonte: SAS/MS.
Em resumo
A morbidade associada à HIPV está relacionada às manifestações mais graves da doença.
É raro que o caso de RN com HIPV, graus I e II, evolua com hidrocefalia ou que a criança
desenvolva déficit cognitivo/motor.
Pelos resultados do Elgan Study, a presença de pequenos cistos e a ventriculomegalia são
os preditores mais potentes para PC, especialmente tetraparesia, embora não tenham sido
identificadas alterações no USTF de quase a metade das crianças com PC.
Pode‑se considerar que a ventriculomegalia, a ecodensidade e a ecolucência são marcadores
de lesão da substância branca. Por isso, as crianças com tais marcadores devem ser “acom‑
panhadas de perto”. Ao sinal de suspeita de alteração em seu neurodesenvolvimento, elas
devem ser encaminhadas precocemente para centros de reabilitação.
O cerebelo também tem importância no desenvolvimento cognitivo. Essa conclusão surgiu
a partir de estudos que correlacionaram o tamanho do cerebelo com escores em testes cog‑
nitivos e outros que avaliaram o desenvolvimento cognitivo após quadros de hemorragia
cerebelar. Por isso, seria interessante que tal questão também fosse avaliada durante o USTF.
Deve‑se lembrar que tais exames têm sensibilidade e especificidades baixas para prever
lesões não motoras. Por isso, existe a necessidade de um acompanhamento especializado
idealmente até a idade escolar.
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MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Conclusão
O risco para paralisia cerebral e distúrbios do neurodesenvolvimento pode, em parte, ser
antecipado pelas alterações no USTF ou na RM; entretanto, problemas cognitivos e compor‑
tamentais podem ocorrer mesmo na ausência de alteração de neuroimagem.
Existe sempre a possibilidade de lesões microestruturais. Por isso, um exame sem alterações
não quer dizer normal, apenas quer dizer que, para aquele método de neuroimagem, não
foram identificadas alterações visualizáveis ao exame.
Leituras sugeridas
“Atenção à Saúde do Recém‑Nascido: Guia para os Profissionais de Saúde: Problemas
Respiratórios, Cardiocirculatórios, Metabólicos, Neurológicos, Ortopédicos e
Dermatológicos”, Volume 3: Hemorragia Peri‑Intraventricular, 27, p. 117‑131, Brasília (DF),
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173
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Quadro-Resumo
As cardiopatias apresentam-se comumente com sopros, cianose ou hipoxemia, insuficiência cardíaca
congestiva (ICC) e distúrbios de ritmo (disritmias).
É importante definir se as queixas ocorrem associadas a esforço físico.
Pontos primordiais da avaliação: a anamnese e o exame físico.
Forame oval pérvio (FOP): não há indicação de exames seriados. A criança será reavaliada por volta do 6º
ano de vida para a confirmação do fechamento.
Tratamento: não é necessário.
Comunicação interatrial ostium secundum (CIA OS): representa a grande maioria dos casos de CIA. Existem
outros tipos de CIA: CIA ostium primum, CIA seio venoso e CIA do seio coronário.
Tratamento: nas grandes comunicações, correção cirúrgica ou fechamento por prótese, no cateterismo.
Comunicação interventricular (CIV). Há quatro tipos de CIV: perimembranosa, subarterial, CIV de via de
entrada e CIV muscular (trabecular ou apical).
Tratamento: cirúrgico ou fechamento por prótese, por cateterismo. Nas CIV pequenas, sem repercussão
hemodinâmica, não há indicação cirúrgica.
Defeito do septo atrioventricular (DSAV). Tipos: DSAV total, DSAV intermediário e DSAV parcial.
MÓDULO 10
Tratamento: cirúrgico, na forma total (entre o 4º e o 6º mês de vida) e na forma parcial (por volta do 5º
ano de vida).
Persistência do canal arterial (PCA).
Tratamento: depende da idade e do quadro clínico. Pode ser clínico, cirúrgico ou por cateterismo.
Estenose pulmonar: trata-se de uma lesão obstrutiva. Pode ser no nível do infundíbulo, valvar ou supra-
valvar.
Tratamento: cateterismo/cirúrgico. Valvas sem displasia, em geral, respondem bem à dilatação por balão,
via cateterismo. Valvas displásicas: cirurgia (prótese).
Estenose aórtica: pode ser subvalvar, valvar ou supravalvar. Pode causar sintomas no período neonatal
quando existe estenose crítica, com gradientes superiores a 60 mmHg, havendo, nesses casos, necessidade
de intervenção nos primeiros dias de vida.
Tratamento: dilatação com cateter balão, por cateterismo ou cirúrgico, com resultados muito próximos
e, em geral, paliativos.
Coarctação de aorta: precisa ser avaliada de forma individualizada.
Tratamento: pacientes assintomáticos e com pressão arterial normal devem ser acompanhados para de-
finição do melhor período e do melhor método terapêutico. Pacientes sintomáticos, menores de 1 ano,
geralmente têm melhores resultados com abordagem cirúrgica. Nas crianças maiores e sintomáticas:
valvoplastia.
Todo RN cianótico deve ser visto como um paciente grave que necessita de cuidados intensivos. O primeiro
passo objetiva estabilizá-lo, enquanto aguarda remoção para um centro de referência.
Diante de uma criança cianótica, o teste da hiperóxia, a oximetria de pulso e a medida de PA (pressão
arterial) dos membros superiores e inferiores auxiliaram no esclarecimento diagnóstico.
Raio X de tórax e ECG são fundamentais na avaliação das cardiopatias congênitas ou adquiridas. Toda
criança encaminhada para uma avaliação cardiopediátrica deve chegar à consulta com, pelo menos, esses
dois exames.
174
MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 10
É importante definir se as queixas ocorrem associadas a esforço físico. Os pontos primor‑
diais da avaliação da criança são a anamnese e o exame físico.
175
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Cardiopatias acianóticas
176
MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Estenose pulmonar
Em aproximadamente 90% dos casos, ocorre em nível valvar. A estenose infundíbulo valvar
pulmonar ocorre, na maioria das vezes, como um dos quatro defeitos da tetralogia de Fallot.
Em valvas sem displasia significativa, um gradiente maior ou igual a 50 mmHg é indicativo
da necessidade de dilatação por cateter balão, por cateterismo. Nas valvas displásicas, os re‑
sultados cirúrgicos são melhores.
Estenose aórtica
É mais frequente no sexo masculino (em 80% dos casos). Pode ocorrer em nível valvar
(70%), subvalvar (14%) ou supravalvar (7%) e mista nos demais casos. Quando for supraval‑
var, é necessário afastar ou confirmar a síndrome de Williams. É comum a valva ser bicúspi‑
de. Classifica‑se como leve (até 30 mmHg), moderada (de 30 a 70 mmHg) e grave (acima de
75 mmHg). As ocorrências de sintomas como precordialgia (angina) ou síncope, alterações
no ECG em repouso ou no teste ergométrico e de gradiente acima de 60 mmHg são indica‑
tivas da dilatação valvar, por cateter balão ou valvotomia.
Coarctação de aorta
MÓDULO 10
Nos RN, a opção cirúrgica é a mais indicada. Nos maiores de 6 meses de vida com sinais de
ICC, HAS (hipertensão arterial sistêmica) e gradiente pressórico com transcoarctação su‑
perior a 30 mmHg, a valvoplastia por balão está indicada.
Cardiopatias cianóticas
As mais frequentes são a tetralogia de Fallot, a transposição das grandes artérias, a atresia
tricúspide, a atresia pulmonar com o septo íntegro, a síndrome do coração esquerdo hi‑
poplásico, a anomalia de Ebstein e a drenagem anômala total das veias pulmonares. É im‑
portante a avaliação cardiopediátrica para definir o diagnóstico, para saber se a resolução
será clínica ou cirúrgica e, sendo cirúrgica, para acertar qual será o melhor momento para
a abordagem.
Todo RN cianótico deve ser visto como um paciente grave que necessita de cuidados intensivos.
O primeiro passo objetiva estabilizá‑lo, enquanto aguarda remoção para um centro de referência.
As medidas gerais incluem:
• Ventilação pulmonar mecânica, quando indicada.
• Normotermia (berço aquecido).
• Acesso venoso central (via umbilical).
• Adequação do aporte hídrico, a depender do diagnóstico.
• Correção dos distúrbios ácido‑básico.
• Correção dos distúrbios metabólicos e eletrolíticos.
• Uso de inotrópicos, caso ocorra disfunção ventricular.
• Tratamento de infecções, quando presentes.
• Manutenção de Hb/Ht entre 14 e 16.
177
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Conclusão
É infrequente uma criança com Raio X de tórax e ECG normais apresentar alguma car‑
diopatia. Portanto, uma boa anamnese, um exame físico pormenorizado e o auxílio de
exames complementares possibilitam o diagnóstico e a condução desses pacientes de for‑
MÓDULO 10
ma adequada.
178
MÓDULO 10
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Leituras sugeridas
Disponíveis em: <www.saude.gov.br> (Saúde do Recém‑Nascido).
“Manual de ‘Atenção à Saúde do Recém‑Nascido”, Vol. 3, Cardiopatias Congênitas, 24, p.
83‑97, Brasília (DF), 2011.
“Manual de Atenção à Saúde do Recém‑Nascido”, Vol. 4, Persistência do Canal Arterial, 27,
p. 103‑109, Brasília (DF), 2011.
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14
179
Saúde bucal: orientações e cuidados MÓDULO 11
Objetivo:
• Abordar os aspectos de higiene e educação para a saúde bucal.
Os cuidados com a saúde bucal devem ter início muito precocemente. Recomenda‑se que
a primeira consulta odontológica aconteça antes mesmo do surgimento do primeiro dente,
com consequente programação de visitas periódicas para cada criança. As ações propostas
pelas equipes da Atenção Básica caracterizam‑se por seu caráter preventivo, que envolve in‑
tervenções intersetoriais e educativas, com a preocupação de uma intensa participação da
família na higiene bucal e na formação de hábitos na criança. Dessa forma, estímulos, in‑
formações e orientações para os pais e cuidadores fazem parte desse processo, facilitando o
seu envolvimento nesses cuidados de saúde.
Quadro‑Resumo
Para a prevenção precoce, os cuidados com a saúde bucal do bebê na Atenção Básica devem ter início
nas primeiras visitas domiciliares dos agentes de saúde e nas primeiras consultas nas unidades básicas
de saúde, mediante a observação e a orientação familiar sobre os procedimentos para uma adequada
higiene bucal.
Ou seja, todos os bebês necessitam de cuidados de higiene bucal, mesmo que ainda não tenham dentes.
São importantes a educação e a conscientização dos pais sobre a saúde bucal de seus filhos, porque a
família exerce uma enorme influência na definição dos diferentes hábitos de higiene da criança.
181
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
A necessidade de atenção à saúde bucal, ainda no primeiro ano de vida, é enfatizada pela
possibilidade de prevenir o aparecimento de sinais e sintomas da doença cárie ou, ao menos,
na tentativa de minimizar sua incidência e extensão, contribuindo dessa forma para a manu‑
tenção dos dentes de leite (dentição decídua) e para favorecer o bem‑estar geral da criança.
Outro ponto fundamental e comum aos programas de assistência odontológica da primeira
infância é a necessidade de educação e conscientização dos pais sobre a saúde bucal de seus
filhos, em razão da enorme influência que a família exerce na definição dos hábitos dietéti‑
cos e de higiene bucal da criança.2
182
MÓDULO 11
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
E quando atrasa o nascimento dos primeiros dentes no recém‑nascido pré‑termo? O que fazer?
A cronologia dentária pode variar, dependendo de cada criança e de seu estado geral. Entre
os 6 meses de idade e os 8 anos, podemos observar variações no aparecimento dos dentes
nas crianças e, apenas quando o período de erupção tiver retardo importante, deverá ser
realizada uma avaliação criteriosa, pelo cirurgião‑dentista.
Que orientações devem ser dadas aos pais e/ou cuidadores sobre a limpeza da boca do bebê?
A limpeza da cavidade bucal pode ser iniciada antes mesmo da erupção dental, com a fina‑
lidade de se estabelecer desde cedo o hábito da higienização. Essa limpeza é feita na gengi‑
va, na bochecha e na língua e, para isso, pode ser utilizada uma fralda de pano ou uma gaze
limpa umedecida em água filtrada ou fervida. É importante lembrar que a higienização não
deve ser feita no final do banho do bebê e deve ocorrer sempre antes de se colocar a criança
na água, para que se tenha a certeza de que a água utilizada encontra‑se bem limpa.
Com o surgimento da dentição, recomenda‑se escovar os dentes com escova pequena, de
cerdas macias, duas vezes ao dia, com pasta dental com flúor em pequena quantidade (equi‑
valente a um grão de arroz). Deve‑se cuidar para que a criança não engula a espuma que se
MÓDULO 11
forma durante a escovação. O creme dental deve ser mantido fora do alcance das crianças.
O uso do fio dental está indicado quando os dentes estão juntos, sem espaços entre eles, uma
vez ao dia (Caderneta da Criança, MS, 2014, no prelo).
183
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
184
MÓDULO 11
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
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MÓDULO 11
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Ministério da Saúde (Brasil). Cadernos de Atenção Básica, Saúde Bucal, 2014 (no prelo).
185
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Lembre‑se que escovar a gengiva é tão importante quanto escovar os dentes. Massageie
sempre as gengivas em direção à raiz dos dentes (de cima para baixo). Quando escovar o
lado de fora da arcada (as gengivas e os dentes), faça movimentos circulares, mantendo os
maxilares fechados.
Além disso, é importante higienizar as outras estruturas bucais, como a parte interna das
bochechas e dos lábios, o céu da boca e a língua, com movimentos que devem ir da dire‑
ção anterior para a posterior, conforme a tolerância da criança (pode‑se utilizar uma gaze
se a criança não tolerar a escova de dente). Isso também ajuda no trabalho terapêutico, para
adequar a sensibilidade dessas estruturas, além de diminuir a contaminação da saliva e evi‑
tar as consequências decorrentes de sua aspiração.
Com o tempo, a criança aprenderá a cuspir a água acumulada, a saliva e a pasta de den‑
tes. Como primeiro passo, permita que a água se acumule e saia. Faça isso antes de abrir
os maxilares para escovar o lado de dentro das gengivas e dos dentes. Antes de fazer isso, é
importante verificar se a cabeça da criança está na posição vertical, porque se estiver caída
para trás ela poderá engasgar e, possivelmente, aspirar o conteúdo.
186
Avaliação do crescimento do RNPT: MÓDULO 12
particularidades e o que podemos esperar
Objetivo:
• Abordar as características próprias do crescimento em crianças que foram
pré‑termo e apresentar o que precisamos cuidar em seu crescimento.
A sobrevida dos bebês pré‑termo, especialmente dos RN de muito baixo peso ao nascimen‑
to, aumentou muito e cada vez mais essas crianças chegam aos nossos serviços de saúde com
características clínicas próprias, que precisamos conhecer. Como devemos avaliar e monito‑
rar o seu crescimento? O que podemos esperar? O que dizer para os pais?
Quadro‑Resumo
Idade corrigida (IC): • Use o gráfico da OMS.
• Em geral, até 2 anos. • Inicie com 40 semanas de idade corrigida ou após a transição do
• Se IG < 28 semanas até 3 anos. gráfico de Fenton.
Catch‑up: • Velocidade acelerada do crescimento: 0,67 EZ.
• A maioria até 3 anos de idade. • Recuperação rápida entre 36 e 40 semanas de idade.
• Pode ser até na adolescência.
• Se completa: 1º = o perímetro cefálico (PC); 2º = o comprimento;
3º = o peso.
RNPT com maior risco para • PN < 1.500 g (MBP), pequeno para a idade gestacional (PIG) e com
falha no crescimento. displasia bronco‑pulmonar.
Escore Z • Permite‑nos comparar as medidas do paciente com a média da
• É o desvio‑padrão a partir da mediana população normal.
da população. • Tem a vantagem de permitir a realização de cálculos, como média
e desvio‑padrão. É usado para avaliação e comparação estatística.
Existem curvas específicas para RNPT (Fenton, até 50 semanas de IG); entretanto, a orientação, no
Brasil, é utilizar as curvas da OMS, disponíveis na Caderneta da Criança, com a idade corrigida.
O crescimento é a resultante tanto dos potenciais genéticos quanto das condições nu-
tricionais que envolvem o feto e o RN e pode ser influenciado também pelas doenças
associadas às condições perinatais, além das condições ambientais.
Isso quer dizer que o potencial genético poderá ou não ser atingido, dependendo das con‑
dições de vida do indivíduo desde a concepção, o que inclui não só uma nutrição adequada,
mas também dependerá das condições de saúde da criança e de sua mãe.
187
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Espera‑se uma perda inicial de peso, que ocorre principalmente entre o 4º e o 9º dias de
vida, mas que poderá durar semanas no RN pré‑termo extremo com doença grave. A recu‑
peração do peso de nascimento geralmente ocorre entre o 8º e o 24º dias de vida. Segundo
Ehrenkranz, um ganho de peso de 14,4 a 16,1 g/kg/dia equivaleria ao intrauterino.
188
MÓDULO 12
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Isso é bem demonstrado pela pesquisa do NICHD (National Institute for Child and Human
Development) e da Rede de Pesquisa Neonatal (Neonatal Research Network), que acompa‑
nhou 4.438 bebês com peso de nascimento (PN) entre 501 e 1.500 g, entre janeiro de 1995 e
dezembro de 1996. Observou‑se que, embora a restrição do crescimento intrauterino ao nas‑
cimento tenha sido observada em 22% dos bebês, quando reavaliados com 36 semanas de ida‑
de corrigida, 97% destes apresentavam falha de crescimento, com peso abaixo do percentil 10.
Sabemos que o crescimento restrito pós‑natal produz danos celulares e interfere no meta‑
bolismo e na composição corporal, mas quando e como interferir precocemente nessas mu‑
danças? Toda a estratégia nutricional que está sendo empregada atualmente nas unidades
neonatais objetiva oferecer taxas de crescimento para o RNPT e MBP, que tentam mimetizar
o seu crescimento intrauterino.
MÓDULO 12
O que é catch‑up e quando acontece?
A dinâmica do crescimento de RNPT tem fases distintas e a mais importante é a fase de
crescimento acelerado ou catch‑up (recuperação).
O catch‑up caracteriza‑se pelo crescimento em velocidade acelerada e acredita‑se que, ao ser
completado, o RNPT tenha recuperado o seu potencial de crescimento.
Consideramos um catch up adequado quando no gráfico de crescimento se obtém ao me‑
nos um aumento do seu escore Z (EZ) > 0,67 ou que lhe permite subir um canal de EZ entre
duas medidas consecutivas.
Inicialmente, o catch up acontece de forma muito acelerada, entre 36 e 40 semanas de idade
corrigida.
Depois, essa recuperação vai se completando aos poucos na sequência:
1º = o perímetro cefálico;
2º = o comprimento;
3º = o peso.
Nos RNPTs de extremo baixo peso (EBP),2 com PN < 1.000 g, a recuperação pode ser mais
tardia, pois a criança se mantém com parâmetros antropométricos muito abaixo do percen‑
til mínimo das curvas. Já os adolescentes podem ficar com 6 a 7 kg a menos e de 4 a 6 cm
menores do que o padrão esperado para a idade.
189
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
O catch‑up, nos primeiros anos, pode não ser suficiente para garantir um crescimento ade‑
quado em longo prazo. Rugolo10, em trabalho nacional, mostra que, embora com evolução
favorável, o catch‑up não foi suficiente para equiparar o RNPT de EBP a crianças nascidas
sadias a termo no 2º ano de vida. Aos 2 anos, 56% das crianças avaliadas para peso, 28% para
comprimento e 36% para perímetro cefálico não atingiram o percentil 5 da curva do NCHS,
o que caracteriza falha de crescimento.
Lembramos que usamos o “zero” do gráfico somente quando o bebê atinge 40 semanas.
MÓDULO 12
As curvas da OMS
São as curvas recomendadas pelo Ministério da Saúde e que se encontram em uso na Caderneta
da Criança. Também podem ser encontradas no site da OMS (www.who.int/childgrowth/
standards/em) ou, ainda, em <http://nutricao.saude.gov.br/sisvan.php?conteudo=curvas_
cresc_oms/> e <http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_vigilancia_alimentar.php>.
190
MÓDULO 12
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
O que é escore Z?
O escore Z é o desvio‑padrão a partir da mediana daquela população, para aquele sexo e
aquela idade. O cálculo do escore Z nos permite medir a distância entre as medidas do pa‑
ciente e a média da população normal.
Tem a vantagem de permitir a realização de cálculos, como média e desvio‑padrão e é útil
para avaliação e comparação estatística de grupos de crianças ou adolescentes. Por isso, esta
é a forma mais indicada para uso em pesquisas científicas.
MÓDULO 12
• Perímetro cefálico: deve ser usado até 2 ou 3 anos. Atenção ao crescimento inadequado.
É um importante indicador do desenvolvimento neurológico aos 8 meses.
• Perímetro braquial: medida confiável e prática para avaliação nutricional.
191
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
ÍNDICES ANTROPOMÉTRICOS
CRIANÇAS DE 0 A 5 ANOS CRIANÇAS DE 5 A 10 ANOS
Valores INCOMPLETOS INCOMPLETOS
Críticos
Peso para Peso para IMC para Estatura Peso para IMC para Estatura
idade estatura idade para idade idade idade para idade
Muito
Muito baixa Muito baixo Muito baixo
baixo Magreza Magreza Magreza
<Percentil 0,1 <Escore z-3 estatura peso para peso para
peso para acentuada acentuada acentuada
para a idade a idade a idade
a idade
Baixo Baixo Baixo
≥Percentil 0,1 ≥Escore z-3 e Baixo peso
peso para Magreza Magreza estatura Magreza estatura
e <percentil 3 <escore z-2 para a idade
a idade para a idade para a idade
Fonte: Adaptado de Organización Mundial de la Salud. Curso de capacitación sobre la evaluación del crecimiento del niño. Versión 1,
Noviembre 2006. Ginebra, OMS, 2006.
192
MÓDULO 12
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 12
se refere à relação peso/comprimento ao nascimento abaixo de dois desvios‑padrão (> 2
DP) (veja a tabela de Olsen, no Anexo X). Não se deve confundir com o retardo de cres‑
cimento intrauterino (RCIU), que é o processo de redução da velocidade do crescimento
intrauterino. Um RN que nasceu pequeno para a idade gestacional não necessariamente
teve um RCIU, pois existem outras causas que podem acarretar um “tamanho pequeno” ao
nascimento (síndromes, infecções congênitas etc.).
Os RNPTs AIG, em sua maioria, alcançam o catch‑up aos 2 anos de idade; mais de 80% dos
RN a termo PIG o fazem até 6 meses de idade; enquanto os pré‑termo PIG podem demorar
um pouco mais (até os 5 anos).
Porém, por consenso, se um RNPIG não tiver alcançado o catch‑up até os 3 anos de idade,
ele deverá ser encaminhado para um endocrinologista. O fato de um RN ser PIG não ex‑
clui outros distúrbios do crescimento, como deficiência de GH (hormônio do crescimento).
O problema desse grupo não se resume apenas a uma questão de estatura. Foi relatado um
risco ampliado para síndrome metabólica, diabetes tipo 2, hipertensão e hiperlipidemia na‑
queles RNPIG que evoluíram com obesidade.
Os mesmos fatores que resultaram em um “tamanho pequeno” ao nascimento colocam essas
crianças no grupo de risco para distúrbios neurológicos, de aprendizado e de socialização.
As crianças PIG devem ser avaliadas durante o primeiro ano de vida a cada 3 meses e, du‑
rante o segundo ano, a cada 6 meses, preferencialmente com medidas‑padrão e por equipe
previamente treinada.
193
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Sabendo‑se que os RNPTs e os PIG são grupos de risco para obesidade e doença metabólica,
o acompanhamento destes deverá incluir um monitoramento de ganho de peso por inter‑
médio do IMC e de exames laboratoriais, quando necessário (veja o Módulo 5).
É importante lembrar que a prevenção pela amamentação exclusiva e pelas orientações nu‑
tricionais/alimentares, reforçando a importância de hábitos saudáveis, deve fazer parte da
rotina de seguimento dos RNPTs.
Para aprofundar o assunto, sugerimos que os profissionais de saúde consultem os
manuais da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) no site: <http://www.sbp.com.br/
nutrologia‑e‑suporte‑nutricional.aspx>.
Conclusão
Em resumo, a população com PN < 1.500 g (MBP) continua a ter uma incidência extre‑
mamente elevada de restrição do seu crescimento extrauterino ainda na unidade neonatal,
condição que é associada a uma taxa elevada de falha do crescimento com aproximadamen‑
te 2 anos de idade e de um resultado do desenvolvimento neurológico mais pobre. Com a
participação da família e a atuação multiprofissional, poderemos levar esses bebês ao mais
próximo possível de seu potencial genético na idade adulta.
194
MÓDULO 12
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Leituras sugeridas
• “Avaliação Nutricional da Criança e do Adolescente: Manual de Orientação”, Departa‑
mento de Nutrologia/SBP, 2009.
• “Obesidade na Infância e Adolescência: Manual de Orientação”, Departamento de Nu‑
trologia/SBP, 2008.
• Brasil. Ministério da Saúde. “Orientações para Coleta e Análise de Dados Antropo‑
métricos em Serviços de Saúde: Norma Técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e
Nutricional (Sisvan)”. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. (Série G. Estatística e Infor‑
mação em Saúde).
Para fazer essas medidas adequadamente, acesse o site do Ministério da Saúde e consulte os
seguintes documentos:
“Orientações para Coleta e Análise de Dados Antropométricos em Serviços de Saúde”,
encontrado na página: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacoes_
coleta_analise_dados_antropometricos.pdf>; “Protocolos do Sistema de Vigilância
Alimentar e Nutricional – Sisvan”, com acesso pela página: <http://189.28.128.100/
nutricao/docs/geral/protocolo_sisvan.pdf>; além dos seguintes sites: <http:‑‑dab.saude.
gov.br‑portaldab‑biblioteca.php conteúdo=publicações> e <http:‑‑dab.saude.gov.
br‑portaldab‑biblioteca.php conteúdo=publicações‑ manual equipamentos>.
MÓDULO 12
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195
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
196
Visão: seguimento visual do RNPT MÓDULO 13
Objetivo:
• Abordar a acuidade visual do RNPT. O que devemos saber?
Quadro‑Resumo
O sistema visual depende da sua função para o amadurecimento de suas estruturas e o desenvolvimento
infantil. Por isso, qualquer barreira (catarata) ou desalinhamento dos olhos (estrabismo) pode interferir
no desenvolvimento físico, intelectual e visual da pessoa.
Retinopatia da prematuridade (ROP): esta é uma doença vasoproliferativa de etiologia multifatorial que
afeta principalmente (embora não acometa exclusivamente) RNPT. Tal doença acomete a retina imatura
e pode evoluir com o descolamento total da retina, a depender da gravidade.
Rastreamento para ROP em todos os RN com IG < 32 semanas e PN < 1.500 g. O primeiro exame é reali-
zado ainda durante a internação da criança ou próximo da alta. É muito importante conferir se a criança
realizou o exame (veja no relatório de alta e nos agendamentos pós-alta). Caso não tenha sido realizado
ou agendado, encaminhe o caso para um especialista.
Continua
197
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Conclusão
Teste do reflexo vermelho (chamado de “teste do olhinho”): é um exame simples, rápido e indolor. Esse
teste é realizado com oftalmoscópio comum e serve para identificar qualquer opacificação no eixo vi-
sual – tais como alterações no reflexo vermelho: catarata, leucoma (opacificação da córnea), doenças da
retina –, detectando qualquer alteração que cause obstrução no campo visual. Se o reflexo está presente,
uniforme e simétrico entre os dois olhos, isso indica normalidade. Se o reflexo estiver alterado, o paciente
deverá ser encaminhado ao especialista para investigação mais aprofundada e confirmação diagnóstica.
É recomendado que o exame seja repetido com 2 meses, 6 meses, 12 meses e após 1 ano de idade, duas
vezes por ano, para rastreamento de outras doenças, como, por exemplo, retinoblastoma.
Erros de refração: a refração é um fenômeno que acontece quando o feixe de luz proveniente de um am-
biente externo atravessa o globo ocular, formando a visão na retina. Quando os feixes de luz são desviados
e não chegam focados na retina, com falta de nitidez da visão, chamam-se erros de refração. Apresentam-se
como uma das principais causas de baixo rendimento escolar, sendo sua prevalência muito ampliada
nos grupos de alunos com histórico de repetência. Na idade escolar, cerca de 20% a 25% das crianças
apresentam algum tipo de problema ocular, tendo destaque os vícios de refração (miopia, hipermetropia,
astigmatismo).
Ambliopia: acontece durante os primeiros anos de vida, durante o desenvolvimento da visão, ocasionando
problemas relacionados à nitidez da imagem na retina. No estrabismo (olho torto), um dos olhos assume
a preferência e enxerga bem, enquanto o outro é menos participativo (chamado de “olho preguiçoso”),
pois deixa de desenvolver a capacidade visual plena. Existe também a ambliopia, que é causada por lesões
oculares que dificultam a passagem da luz até a retina (úlcera de córnea cicatrizada, cicatriz retiniana por
toxoplasmose etc.). Portanto, a ambliopia é sempre causada por alguma coisa que atrapalha ou prejudica
a qualidade da formação da imagem. E se a imagem se forma de maneira incorreta na retina, o cérebro
não a capta com toda a precisão. Se nada for feito, o olho que não tem imagem perfeita é deixado de
lado pelo cérebro, resultando em não desenvolvimento da visão e baixa visual permanente. Se não for
diagnosticada e tratada no período de plasticidade cerebral, não haverá como corrigi-la posteriormente
MÓDULO 13
198
MÓDULO 13
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 13
da função (ambliopia ou “vista preguiçosa”), ou seja, baixa visão com origem no sistema
nervoso central. As crianças com baixa visão/cegueira têm as suas experiências limitadas e,
consequentemente, comprometimento do seu desenvolvimento neuropsicomotor, mesmo
na ausência de doenças associadas.
Alguns aspectos devem ser valorizados porque podem estar associados a dificuldades
visuais na infância:
• Dores de cabeça.
• Desconforto após esforço visual.
• Desinteresse por leitura.
• Aproximar‑se muito para ler cadernos ou livros.
• Aproximar‑se muito para assistir à televisão ou observar brinquedos.
• Franzir a testa para enxergar objetos distantes etc.
Entretanto, nem sempre essa observação é tão clara e esses pontos não são tão óbvios, princi‑
palmente quanto menor é a criança. Isso torna necessárias as avaliações oftalmológicas de ro‑
tina, que devem ser realizadas tanto pelo pediatra/médico da ESF quanto pelo oftalmologista.
199
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
oculares devem ter sua acuidade visual aferida a partir de 2 a 3 anos de idade, quanto mais
precoce possível, porque permite a identificação e a correção da ambliopia com melhores
resultados. O teste a ser usado deve ser o mais complexo que as habilidades da criança per‑
mitirem. Todas as crianças que apresentarem anormalidades ao exame ou não fornecerem
respostas adequadas após duas tentativas em datas diferentes devem ser encaminhadas ao
oftalmologista com experiência no atendimento pediátrico.
Já as crianças com alto risco de problemas oculares devem ser encaminhadas precocemente
ao especialista.
200
MÓDULO 13
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 13
por altos contrastes e figuras geométricas simples.
2 meses Fixação bem desenvolvida. O bebê acompanha objetos na vertical, pisca em res-
posta a ameaças visuais, percebe objetos periféricos e está mais interessado em
objetos novos e complexos.
3 meses Acomodação e convergência semelhantes às do adulto. O seguimento de objetos
está bem desenvolvido. Acuidade visual de 0,1. Campo visual de 60°. O bebê olha
as mãos.
6 meses Acuidade visual próxima aos valores do adulto. A criança já apresenta:
Campo visual de 180°.
Convergência fusional bem desenvolvida (convergência com fusão da imagem
em ambas as fóveas).
Estereopsia bem desenvolvida (visão tridimensional, de profundidade).
Os movimentos sacádicos dos olhos são rápidos e exatos (sacádicos são movimen-
tos rápidos desencadeados pela mudança de fixação foveal).
Fonte: Manual de Follow Up do Recém‑Nascido de Alto Risco – Soperj.
201
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
O que é?
Sabe aquele “olho vermelho” que aparece quando você tira fotografia com flash? No teste
do reflexo vermelho (TRV), também chamado de “teste do olhinho”, o reflexo é o mesmo,
só que realizado com oftalmoscópio comum. O reflexo vermelho não pode ser obtido com
o uso de lanternas ou otoscópios, pois estes não possuem o sistema de espelhos do oftal‑
moscópio, necessário para avaliar se o cristalino tem alguma opacificação. Se o reflexo está
presente e é uniforme, ele indica que o olho se encontra normal. No caso de reflexo altera‑
do, o paciente deverá ser encaminhado ao especialista para investigação mais aprofundada
e confirmação diagnóstica.
202
MÓDULO 13
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 13
parência dos meios oculares, para identificar qualquer opacificação no eixo visual, as quais
provocarão alterações no reflexo vermelho: catarata (alteração da transparência do crista‑
lino), leucoma (opacificação da córnea), doenças da retina (descolamento, retinoblastoma
etc.), sendo necessário o diagnóstico diferencial por exames especializados.
Vale lembrar que o TRV não é a forma adequada de identificação precoce dos descolamen‑
tos de retina.
Não se devem perder oportunidades: caso você atenda alguma criança que não acom-
panha rotineiramente, faça o exame, mesmo que fora das faixas etárias, pois isso pode
ser determinante para o prognóstico.
203
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
1
Protocolos de acompanhamento. Os protocolos variam de acordo com a região de nascimento e a qualidade do atendimento neonatal.
A média utilizada em nosso País tem sido incluir no rastreamento da ROP todos os RN com IG < 32 semanas e PN < 1.500 g. Porém, podem
necessitar de ajustes em função da epidemiologia própria de cada local. Por exemplo: em algumas regiões, usa-se a IG de 34 semanas para
definir a população de risco (Anexo H). No primeiro exame, os RNPT devem ser avaliados por médico especialista, para visualização da
retina, por intermédio do exame chamado de oftalmoscopia indireta. O primeiro exame é realizado entre a 4ª e a 6ª semanas de vida, o que
quer dizer que geralmente é feito ainda durante a internação da criança ou próximo da alta. Esse exame será repetido várias vezes até que
toda a retina esteja completamente vascularizada. O acompanhamento após o primeiro exame deve ser mantido para avaliar se a doença
evoluirá com indicação de tratamento ou se irá regredir espontaneamente, o que acontece nos estágios iniciais.
204
MÓDULO 13
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Erros de refração
E nos RNPTs?
Nos RNPTs, a incidência de erros refrativos é maior do que a esperada na população a ter‑
mo, principalmente alta miopia e astigmatismo, segundo os estudos.
MÓDULO 13
mente do tamanho do olho, mas também do formato da córnea. A imagem virtual pode se
formar:
• Antes da retina (miopia).
• Depois da retina (hipermetropia).
• “Distorcida” (astigmatismo).
Miopia
A) Não corrigida, com raios paralelos focalizados em frente à retina, e PR, mais próximo
do que o infinito.
B) Corrigida com lente negativa (côncava).
205
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
A) Não corrigida, com raios paralelos focalizando‑se atrás da retina, e PR (ponto remoto),
“além do infinito”.
B) Corrigida por lente positiva (convexa).
Astigmatismo regular
MÓDULO 13
Ambliopia
O que é?
Chamada também de “olho preguiçoso”, acontece quando o “cérebro apaga a visão” origi‑
nada por um dos olhos. Pode ser uma diminuição uni ou bilateral da acuidade visual sem
lesão orgânica ocular ou até com uma lesão, mas que não justifica a intensidade da perda
visual. Acontece durante os primeiros anos de vida, durante o desenvolvimento da visão,
ocasionando problemas relacionados à nitidez da imagem na retina. Pode ser consequente
a um estrabismo, a erros de refração ou privação sensorial, como ocorre nas cataratas, opa‑
cificação corneana, ptose palpebral significativa etc.
206
MÓDULO 13
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Qual é o tratamento?
O tratamento seria a oclusão do olho com melhor acuidade visual com um tampão, que po‑
derá ser usado de forma intermitente, de forma a estimular o olho com pior acuidade visual.
O período de oclusão variará com a idade da criança. Também é importante a correção das
condições associadas, sempre que possível (erros de refração, cataratas, ptose palpebral etc.).
Alguns autores não acham justificativa para realizar a terapia oclusiva após os 7 anos de ida‑
de, quando já se teria atingido a visão plena, desenvolvida em todos os seus aspectos, similar
àquela do adulto. Outros defendem tal procedimento até os 10 anos de idade.
MÓDULO 13
Estrabismo
O que é?
É um desalinhamento dos eixos visuais, que é condição essencial para o desenvolvimento da
visão binocular. No estrabismo (olho torto), um dos olhos assume a preferência e enxerga
bem. Já o outro, menos participativo, deixa de desenvolver a capacidade visual plena.
Como avaliar?
Durante a consulta, aproveite os momentos em que a criança faz contato visual para conferir
o alinhamento dos olhos. Recomenda‑se o uso da lanterna para um teste simples de triagem:
• Aponte a luz da lanterna para os olhos da criança e observe se o reflexo da luz está no
mesmo quadrante em ambos os olhos.
• Movimente a lanterna para cima, para baixo e para os lados, para conferir.
• Se o reflexo estiver assimétrico, ou seja, em quadrantes diferentes em cada olho, de‑
ve‑se encaminhar o RNPT para o oftalmologista. Por outro lado, se estiver simétrico,
provavelmente a impressão de estrabismo se deve à presença de uma prega de epicanto
e, na realidade, não há desvio ocular. Atenção: é importante que, durante a avaliação,
a criança mantenha a cabeça na linha média e o olhar direcionado para frente (direto
para o estímulo apresentado pelo examinador).
207
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Quando encaminhar?
O estrabismo é considerado fisiológico no RN até o 6° mês de vida, quando é bilateral e oca‑
sional, sendo mais frequente no sentido horizontal, podendo ser convergente ou divergente.
O encaminhamento deve ser imediato se ainda estiver presente após o 6° mês de idade ou
até mesmo antes (com 3 a 4 meses), se for persistente ou unilateral, o que indicaria a neces‑
sidade de pesquisar uma causa e instituir tratamento.
Qual é o tratamento?
O tratamento dependerá do fator que desencadeia o estrabismo.
O estrabismo pode ser devido a fatores acomodativos, sendo muito frequente associar‑se
com graus mais elevados de hipermetropia. Neste caso, a correção do erro de refração acar‑
retará a ortoforia, com alinhamento ocular.
Nos estrabismos em que há alteração funcional da musculatura ocular extrínseca, a atuação
variará de acordo com o músculo envolvido e a idade do paciente.
Em outros casos, pode ser um pouco dos dois: parcialmente acomodativo (erro refrativo)
associado a alterações musculares. Nestes casos, a intervenção se fará por correção do erro
refrativo e cirurgia no momento adequado.
Algumas vezes, é necessário o uso de oclusor ocular para evitar a ambliopia, o que pode ge‑
rar dificuldades de comportamento e atenção, principalmente no período letivo.
MÓDULO 13
Em alguns casos, o desvio ocular ou, com maior frequência, o desvio da cabeça é realizado
pelo paciente para utilizar áreas periféricas da retina com melhor acuidade visual do que a
da área central (mácula) devido a lesões nesse local. Quando isso ocorre, a atuação do pro‑
fissional deve ser muito cuidadosa, de forma a não provocar perda funcional para o paciente.
Doenças oculares mais graves que acarretem o comprometimento severo da acuidade visual
e, com isso, a perda da fixação ocular, como o retinoblastoma, também podem ter no estra‑
bismo sua manifestação inicial ou mais proeminente.
Prevenção de acidentes
Traumatismos
Todos os profissionais de saúde, inclusive o pediatra e o /médico da ESF, devem desenvolver
ações de promoção de saúde abordando temas como a prevenção de acidentes e medidas de
segurança. Destacam‑se, por sua relevância, os traumas oculares, pois são muito frequentes
nas idades escolar e pré‑escolar.
Orientações para pais e responsáveis:
• Guardem as substâncias inflamáveis e químicas e os medicamentos fora do alcance das
crianças.
• Objetos pontiagudos e cortantes (como facas e tesouras) não devem ser manuseados
por crianças pequenas e as maiores devem receber supervisão.
• Brinquedos potencialmente perigosos (como estilingues, dardos e flechas) devem ser
evitados.
• Usem o cinto de segurança no carro.
• Transportem as crianças no banco de trás do carro e, de acordo com a idade, usem
cadeiras apropriadas.
208
MÓDULO 13
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Conclusão
A detecção precoce e o pronto tratamento das doenças oculares na infância são os princi‑
pais fatores para evitar deficiências visuais permanentes. Todas as crianças com suspeita de
anormalidade ocular ou que não obtiveram resultados adequados no exame de screening
visual devem ser encaminhadas ao oftalmologista pediátrico. As observações dos familiares
devem ser valorizadas. Já o trabalho conjunto da família, dos profissionais de saúde, do of‑
talmologista e dos professores contemplará o paciente com maiores possibilidades de visão
funcional adequada ao seu pleno desenvolvimento social, afetivo e intelectual.
Sites sugeridos
Para mais informações, consulte os sites das seguintes entidades:
• Sociedade Brasileira de Pediatria (www.sbp.com.br).
• Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (www.sbop.com.br).
MÓDULO 13
• Academia Americana de Pediatria (www.aap.org).
• Academia Americana de Oftalmologia (www.aao.org).
• Associação Americana de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo (www.aapos.org).
Leituras sugeridas
“Manual de Atenção Integral ao Desenvolvimento e Reabilitação, Soperj, Ed. Revinter, 2007
– Desenvolvimento Visual e Seus Desvios”, parte 3, pág. 113.
“Atenção à Saúde do Recém‑Nascido – Cuidados com o Recém‑Nascido Pré‑Termo‑
Retinopatia da Prematuridade”, vol. 4, pág. 111.
“Atenção Humanizada ao Recém‑Nascido de Baixo Peso – Método Canguru – Manual
Técnico, 2011 – As Sequelas Visuais a Longo Prazo”, seção 14, pág. 171.
“Diretrizes de Atenção à Saúde Ocular na Infância – Detecção e Intervenção Precoce para
Prevenção de Deficiências Visuais”, DAPES/SAS/MS, 2013, pág. 40.
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Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
212
Audição: avaliação audiológica MÓDULO 14
Objetivo:
• Abordar e discutir o que o pediatra precisa saber sobre deficiência auditiva, sobre
seu cuidado e sobre suas formas de atenção.
Ainda hoje, centenas de crianças com deficiência auditiva são diagnosticadas tardiamen‑
te, a partir da queixa dos pais de que a criança não fala. Em raríssimos casos, a queixa ou a
suspeição dos pais é investigada pelo médico precocemente. Como consequência disso, o
Brasil é um país com grande incidência de deficiência auditiva. Se tantos bebês passam pelas
unidades básicas de saúde durante o seu primeiro ano de vida, por que isso ainda acontece
no Brasil?
Quadro‑Resumo
A incidência da perda auditiva é mais comum A prevalência da deficiência auditiva varia de 1 a 6 neona-
do que outras doenças do desenvolvimento e tos para cada 1.000 nascidos vivos, enquanto que, para as
as doenças observadas na triagem biológica. doenças detectadas na triagem biológica, a prevalência
é de 1:10.000 para fenilcetonúria e 2:10.000 para anemia
falciforme.
Existe uma “janela de oportunidade” até os 6 Deve‑se a isso a urgência do diagnóstico e do tratamento
meses de idade. precoce da deficiência auditiva.
A triagem auditiva neonatal (TAN) deve ser uni- A TAN, o diagnóstico funcional e a reabilitação fazem
versal, ou seja, deve ser realizada em todos os parte de um processo contínuo e indissociável, para que
recém‑nascidos. se alcance o desfecho esperado em crianças com perdas
auditivas permanentes.
A TAN deve ser realizada em duas etapas (teste Além da realização do teste e do reteste, são fundamen-
e reteste) até o primeiro mês de vida. Caso fa- tais o monitoramento e o acompanhamento do desenvol-
lhe no reteste, o neonato deve ser encaminha- vimento da audição e da linguagem da criança e, sempre
do para avaliação e diagnóstico da deficiência que necessários, o diagnóstico e a reabilitação auditiva.
auditiva. O diagnóstico funcional da deficiência auditiva do bebê
deve estar fechado até os seus 3 meses de idade.
Caso se confirme o diagnóstico de deficiência Inicie a protetização e a terapia fonoaudiológica logo
auditiva. após o diagnóstico (no prazo máximo até os 6 meses de
idade).
Se o RN tiver indicador de risco, mantenha o Pelo menos com 6 meses, 24 meses e até o surgimento
acompanhamento audiológico. da linguagem.
As alterações transitórias de orelha média Pesquise doenças como alergias respiratórias e principal-
podem alterar temporariamente o desenvol- mente alimentares (além de RGE) e mantenha o segui-
vimento da fala, da linguagem e da saúde em mento audiológico.
geral da criança.
213
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Sabendo disso, por que ainda não despendemos esforços para a identificação e o tratamen‑
to das crianças com deficiência auditiva da mesma maneira? Talvez seja porque a deficiên‑
cia auditiva não seja aparente como as outras doenças. É uma deficiência invisível em uma
criança perfeita que ri e emite alguns sons. Uma das maneiras de detecção precoce da defi‑
ciência auditiva é a realização da triagem auditiva neonatal (TAN), chamada popularmente
de “teste da orelhinha”. A TAN deve ser realizada, preferencialmente, nos primeiros dias de
vida do neonato (de 24h a 48h) na maternidade e, no máximo, durante o primeiro mês de
vida. Quanto mais precoce a criança for diagnosticada com deficiência auditiva e (conse‑
quentemente, se for o caso) protetizada, melhor poderá ser o desenvolvimento da sua lin‑
guagem e fala. Vale ressaltar que é importante observar, na rotina do pediatra/médico da
ESF, o desenvolvimento auditivo, de linguagem e de fala.
Sabia que uma criança que não ouve poderá falar normalmente se for diagnosticada e
tratada precocemente?
Existe uma “janela de oportunidade” até os 6 meses de idade, quando crianças detectadas ao
nascimento e que receberam intervenção durante os primeiros 6 meses de vida chegam aos
3 anos de idade exibindo rendimento linguístico apenas 10% abaixo das ouvintes (Yoshinaga
e Itano). A partir dos 6 meses de idade, a plasticidade do cérebro diminui significativamente
para o aprendizado da fala e da linguagem e, por tal razão, deve‑se a urgência do diagnós‑
tico e do tratamento.
214
MÓDULO 14
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
rebral e o córtex auditivo são estruturas mais plásticas do que o sistema nervoso periférico,
é possível desenvolver a percepção auditiva remanescente (mediante o uso de aparelho au‑
ditivo e terapia fonoaudiológica) e realizar a cirurgia do implante coclear entre os 6 e os 12
meses. Essa cirurgia vem dando excelentes resultados nessa população, se diagnosticada em
idade adequada. Ela já tem cobertura dos planos de saúde e também é realizada pelo SUS
em diversos estados.
MÓDULO 14
Pais ouvintes e saudáveis podem gerar filhos com deficiência auditiva?
Sim. Essa é mais uma razão para se avaliar a audição de todo RN e não somente daqueles
com indicadores de risco. Os pais que escutam normalmente podem ser portadores de uma
alteração genética que causa uma mutação no gene da conexina 26, proteína essencial ao
funcionamento do ouvido interno. A probabilidade de que pais portadores gerem filhos com
deficiência auditiva é de 25% em cada gestação. Estima‑se que a metade das perdas auditivas
seja de origem genética. A triagem auditiva neonatal é, inclusive, embasada por lei.
A Lei Federal nº 12.303, de 2 de agosto de 2010, dispõe sobre a obrigatoriedade da realiza‑
ção do exame denominado emissões otoacústicas evocadas. Em seu art. 1º, a referida lei diz
que é obrigatória a realização gratuita do exame denominado emissões otoacústicas evocadas,
em todos os hospitais e nas maternidades, nas crianças nascidas em suas dependências. O
pediatra/médico da ESF deve verificar na Caderneta da Criança o item “triagem auditiva”
para saber se ela realizou o teste auditivo. Caso não se tenha realizado o teste na criança na
maternidade, a mãe deve ser orientada quanto à importância de realizá‑lo, no máximo, até
os 28 dias de vida, o que não será adequado para os nossos RNPT, que irão realizar o refe‑
rido teste próximo à alta ou logo depois dela.
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Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
mentares. Para os RNPT, essas questões estarão pouco presentes, pois a sua avaliação pro‑
vavelmente só acontecerá muito tempo após o seu nascimento.
A ausência de resposta na realização da TAN não significa que o bebê tenha um problema
permanente de audição; na maioria dos casos, ele pode indicar a presença de uma altera‑
ção transitória na orelha média, podendo necessitar apenas de tratamento medicamentoso
e/ou cirúrgico.
Alguns programas de TAN realizam, além do exame de EOA e Peate, a pesquisa do re‑
flexo cócleo‑palpebral (RCP), ou seja, o ato de piscar mediante estímulo para os sons in‑
tensos. Essa pesquisa objetiva despistar as possíveis alterações na transmissão neural do
estímulo acústico e, com isso, aumentar a probabilidade de detectar um RN com possível
deficiência auditiva.
A alteração transitória na orelha média geralmente está associada a uma alteração de pres‑
são. Por isso, alguns aspectos podem ajudar nesse diagnóstico diferencial: presença de ruí‑
do respiratório, pigarro, obstrução nasal constante, constipação, intolerância a leite de vaca,
regurgitações frequentes ou até mesmo a história familiar de refluxo gastroesofágico (RGE)
em outros filhos.
Embora seja uma alteração transitória, ela não é menos importante, uma vez que, se não
tratada a tempo, poderá transformar‑se numa deficiência auditiva permanente.
no cérebro; por isso, não é possível avaliá‑lo utilizando‑se apenas um único método.
Fonte: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo‑humano‑sistema‑sensorial/anatomia‑da‑orelha.php>.
216
MÓDULO 14
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 14
funcional das vias auditivas nervosas (nervo auditivo) desde a orelha interna até o córtex
cerebral. O exame é indolor, não invasivo e objetivo.
Para cada idade, há um protocolo de exame mais adequado:
• Para neonatos (de zero a 28 dias): Tanu (triagem auditiva neonatal universal).
• Para lactentes e crianças de até 3 anos: podem‑se realizar a audiometria comportamen‑
tal, a audiometria de reforço visual e a impedanciometria, feitas pela fonoaudióloga.
• Para pré‑escolares (de 3 a 5 anos): audiometria infantil lúdica condicionada e impedan‑
ciometria. Nessa fase, já é possível obter, em 80% das crianças, os limiares separados por
orelha para sons graves, médios e agudos (de 250 a 8.000 Hz), utilizando‑se condicio‑
namento lúdico e boa combinação de habilidade e paciência. A maioria já aceita a colo‑
cação de fones e vibrador ósseo (audiometria infantil lúdica condicionada). Juntando‑se
todos esses resultados com uma avaliação clínica otorrinolaringológica, a análise da
história do paciente e uma boa dose de experiência do audiologista pediátrico, pode‑se
chegar a um parecer audiológico de cada caso.
Bera ou Peate?
A nomenclatura atual Peate (potencial evocado auditivo de tronco encefálico) começou a ser
utilizada para corrigir as distorções de interpretação inadequadas criadas pelo nome “Bera”
(“brain evoked response audiometry” ou “audiometria de respostas evocadas”). O uso do ter‑
mo audiometria é inadequado, pois, no Peate, o limiar obtido, limiar eletrofisiológico, nem
sempre representa o limiar auditivo subjetivo do paciente. Além disso, se a resposta obtida
for feita utilizando‑se fones por via aérea no Peate, não será possível determinar o tipo da
perda: neurossensorial, condutiva ou mista.
217
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Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
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MÓDULO 14
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Observação comportamental
Pergunte à mãe se a criança acorda, pisca ou se assusta com o barulho.
Teste de sobressalto ou despertar: se o RN, quando em estado de sono leve, acorda ou “super‑
ficializa” o sono, quando é executado um som de moderada intensidade, como um chocalho.
Teste o RCP (reflexo cócleo‑palpebral): se o RN pisca quando é executado um som alto,
como, por exemplo, um agogô (de 90 db NA).
Avaliação comportamental: uma avaliação simples com a utilização de instrumentos mu‑
sicais de sons graves, agudos, altos e baixos. O Instituto Nacional de Educação de Surdos
(Ines) idealizou um teste chamado de “kit auditivo”, que é composto de emissores de espec‑
tro sonoro e intensidade conhecidos.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico funcional deve estar completo até, no máximo, 3 meses de idade, já que são
considerados tardios os diagnósticos realizados entre os 6 e os 24 meses. A plasticidade má‑
xima acontece entre o nascimento e os 6 meses de vida. Por isso, trata‑se de uma corrida
contra o tempo.
O atraso do diagnóstico de deficiência auditiva traz grandes prejuízos, pois há perda do pe‑
ríodo crítico para aprendizagem da linguagem, o que prejudica a sua evolução cognitiva e o
desenvolvimento global da criança.
Caso haja suspeita de um problema de deficiência auditiva, não espere: encaminhe imedia‑
MÓDULO 14
tamente a criança para confirmação diagnóstica e tratamento especializado.
A reabilitação inclui o aparelho auditivo, a terapia fonoaudiológica e, no caso da decisão
familiar, o aprendizado da Língua Brasileira de Sinais (Libras). A cirurgia do implante co‑
clear já é realizada pelo SUS e tem cobertura obrigatória dos planos de saúde. Os exames de
imagem (tomografia e ressonância das mastoides) são de grande valia nesse período. Uma
cóclea mal formada e/ou uma agenesia do nervo auditivo podem contraindicar o uso de um
aparelho auditivo e uma reabilitação auditivo‑oral. Nesses casos, será necessária uma meto‑
dologia visual com o uso de Libras.
Conexina 26: trata‑se de outro exame que pode auxiliar na conclusão diagnóstica nos casos
em que não há um fator de risco aparente, mas sim uma causa genética.
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Alta
+
Orientação
+
Audiometria com
EOA impedanciometria aos 4 anos
+ Passou
RCP
Se o RN tiver indicador de risco:
• Acompanhamento aos 6 meses, aos
24 meses e até adquirir a linguagem.
Avaliação ORL
• Do ponto de vista audiológico, o RN que não passa no reteste deve ser encaminhado
para a etapa seguinte do programa de Tanu, que é o diagnóstico audiológico.
• O diagnóstico inclui: consultas com audiologista pediátrico e ORL, exames de audiome‑
tria infantil comportamental, impedanciometria e possivelmente o Peate. O diagnóstico
de deficiência auditiva necessita da parte audiológica: tipo, grau e configuração da perda
auditiva associada ao diagnóstico médico (condições anatômicas da orelha média e
interna, presença ou ausência do VIII par, correlações com todas as outras condições
220
MÓDULO 14
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
físicas e genéticas do paciente e sua família) e correlação do resultado dos exames com
a opinião clínica dos especialistas.
MÓDULO 14
tria. O mais adequado nos serviços em que somente o Peate está disponível por via
aérea é alertar a família que ela deverá complementar o exame por via óssea após a alta
hospitalar. Num grande número de casos, você obtém um limiar com fones no Peate,
o que sugere uma perda de grau moderado/acentuado e, quando avalia o caso utili‑
zando o vibrador ósseo, as respostas estão dentro da normalidade até 25 dB. Isso gera
muita confusão para os pais, que não entendem se tratar de uma perda de condução.
A conduta é a protetização por via óssea o mais breve possível, antes dos 3 meses, para
possibilitar a organização dos mapas tonotópicos corticais de forma adequada.
221
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• Essas crianças se comportam como deficientes auditivos, mas apresentam baixo ren‑
dimento com o uso do aparelho auditivo. O implante coclear vem demonstrando bons
resultados. É recomendada, independentemente do grau da perda, a utilização con‑
comitante da língua de sinais, diante da dificuldade na análise temporal do estímulo
acústico. A linguagem expressiva pode atingir um bom desenvolvimento, mas não com‑
patível com a receptiva, que estará muito comprometida. Na literatura, são relatadas
como causas mais frequentes da neuropatia a hiperbilirrubinemia e a asfixia nos RN
de risco e, na população em geral, a presença de uma mutação genética, DFNB9, que
determina uma alteração no funcionamento das células ciliadas internas e sua conexão
com nervo auditivo.
222
MÓDULO 14
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 14
Em outro caso hipotético, uma audiometria demonstrou uma perda auditiva do tipo condutiva
de grau leve e um perfil timpanométrico tipo “B” compatível com alteração (provável presença
de efusão na orelha média) bilateral.
Muitos pais são surpreendidos com esse resultado do exame, uma vez que se trata de um
processo silencioso associado a processos alérgicos, hipertrofia de amígdalas e adenoides ou
até mesmo sinusites como possíveis causadores de uma alteração no ouvido.
Nessa faixa etária, é importante um entrosamento maior entre a escola, o médico e o audio‑
logista. Neste caso, deve‑se realizar exame clínico ORL.
Em casos crônicos, ainda que em perdas de grau leve ou moderado, especialmente durante
o período da alfabetização, é possível utilizar o Sistema de Frequência Modulada Pessoal
(ou Sisja ou Sistema FM). O Sistema FM funciona como um microfone sem fio para o im‑
plante coclear e/ou o aparelho auditivo. Tem como finalidade melhorar a percepção da voz
do professor dentro da sala de aula pelo aluno. Outras recomendações educacionais podem
ser necessárias.
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Conclusão
A avaliação da audição deve fazer parte do acompanhamento do desenvolvimento infantil
e do ser humano ao longo da vida, pois é essencial à comunicação e à sua interação social
e afetiva.
Referências
1
Azevedo MF. Triagem auditiva neonatal. In: Ferreira LP, Befi‑Lopes DM, Limongi sco. Tratado de
Fonoaudiologia. São Paulo: Roca, 2004; cap 47.
2
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Hearing, v.20, n.4, p.307‑315, 1999.
3
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Estratégicas. Diretrizes de Atenção da Triagem Auditiva Neonatal/Ministério da Saúde, Departamento de
Ações Programáticas Estratégicas e Departamento de Atenção Especializada. – Brasilia: Ministério da Saúde,
2012.
4
Costa HPF. Tempo de permanência hospitalar do recém nascido. Sociedade Brasileira de pediatria.
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Media with Effusion. Otol Neurotol. 2004; 25(3): 318‑22.
6
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new concepts in Brazil. Scand Audio. 2001; 30(53): 33‑36.
7
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8
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Fonoaudiológica. Rio de Janeiro: Revinter, 2004; cap.05
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224
MÓDULO 14
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 14
225
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MÓDULO 14
226
Linguagem: aquisição, MÓDULO 15
desenvolvimento e alterações frequentes
Objetivo:
• Apresentar e discutir o desenvolvimento e as alterações frequentes da linguagem
Quadro‑Resumo
Por que avaliar?
• A linguagem desempenha um papel fundamental na formação do pensamento e, portanto, da cognição e da
aprendizagem espontânea e sistematizada, uma vez que é a base para o desenvolvimento da leitura e da escrita.
• Crianças nascidas pré‑termo são de alto risco para o atraso na aquisição e no desenvolvimento da
linguagem.
O que devemos observar na criança, a depender de seu momento evolutivo?
• Se ela localiza e discrimina os sons.
• Se ela compreende ordens ou perguntas simples e complexas.
• Se ela emite sons, palavras e frases.
Verifique nas consultas de rotina:
=> Se o desenvolvimento da linguagem da criança está dentro do esperado para a sua idade
(veja o Quadro 1).
Quando encaminhar o caso?
=> Quando identificar algum atraso e/ou alteração (veja o Quadro 3) ou observar:
• Ausência de resposta a sons ambientais.
• Dificuldade para compreender ordens ou perguntas simples.
• Ausência de balbucio com 9 a 10 meses.
• Fala ininteligível após os 2 anos.
• Permanência de “trocas de sons na fala” após a idade‑limite (veja o Quadro 2).
• “Trocas de sons na fala” não observadas no desenvolvimento normal (veja o Quadro 2).
• Narrativa pobre após os 4 anos.
Desenvolvimento da linguagem
A comunicação e a linguagem iniciam‑se desde o momento em que o bebê nasce e todas as
ações do bebê nos informam sobre a sua aquisição e o desenvolvimento da sua linguagem,
bem como sobre o seu desempenho cognitivo e social.1 A linguagem é um sofisticado sis‑
tema de comunicação que, além da fala, inclui a linguagem corporal, mediante as posturas,
os gestos e as expressões faciais.2
Os dois primeiros anos de vida são cruciais para essas aquisições. O desenvolvimento da
linguagem está fortemente relacionado ao ambiente em que a criança se encontra inserida,
227
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ao contexto linguístico que a cerca (representado pela escolaridade), à cultura e aos hábitos
de fala da família à qual ela pertence. A função do adulto é fornecer, no dia a dia, por inter‑
médio do cuidado e da atenção afetiva/familiar, os instrumentos que facilitem e possibilitem
a comunicação e a linguagem à criança.1
O surgimento de vocábulos conhecidos como de uso convencional inicia‑se ao redor dos
12 meses, quando as crianças normalmente emitem suas primeiras palavras. Entretanto,
mesmo antes desse período, a criança é extremamente comunicativa, usa gestos, olha fi‑
xamente, vocaliza, balbucia e responde aos estímulos. Ela sabe pedir e fazer referências a
objetos e pessoas por intermédio de uma intensa atividade motora e de seu balbucio, com
uma entonação bem marcada. Assim, consegue comunicar‑se e obtém respostas por parte
dos adultos,1 que – ao entenderem as demandas da criança – reforçam o desenvolvimento
da sua linguagem. Dessa forma, gradativamente, o balbucio transforma‑se nas primeiras
palavras com significado.
Entre os 12 e os 18 meses, há um rápido aumento da compreensão e da expressão, verificado
pela ampliação do vocabulário utilizado.1
No período entre os 18 e os 24 meses, as crianças compreendem a necessidade de responder
de acordo com a fala do outro, e perguntam e respondem questões rotineiras. Podem come‑
çar a tomar parte da conversa com a troca de turnos, ou seja, começam a entender a dinâmi‑
ca na qual cada um fala a seu turno. A expansão do vocabulário e das demais características
da fala vai depender da riqueza das relações sociais que circundam a criança e também está
relacionada às suas habilidades cognitivas.1
Dos 2 aos 5 anos de idade, observa‑se que a linguagem dá lugar a um pensamento organi‑
MÓDULO 15
zado e sofisticado, que reflete o fazer, as ações da criança. Ela já é capaz de falar sobre um
passado próximo1 ou mesmo narra acontecimentos e expressa emoções e vontades atuais e
futuras.
Além da comunicação, a linguagem desempenha um papel importante na formação do pen‑
samento, participa das aquisições e ampliações cognitivas e será muito requisitada na apren‑
dizagem escolar, especialmente para a aquisição da leitura e da escrita.
O “pré‑termo” e a linguagem
Os recém‑nascidos pré‑termo (RNPT) representam uma população de alto risco para anor‑
malidades neurológicas e atraso no desenvolvimento. Quanto menores forem o peso de
nascimento e a idade gestacional, maior será a probabilidade de atraso no desenvolvimento
cognitivo e de linguagem, tanto receptiva quanto expressiva, além de aumentarem as inci‑
dências de alterações neurológicas, motoras, neurossensoriais e funcionais.5‑12
Os RNPT podem ter os seus desenvolvimento cognitivo e de linguagem alterados mesmo
na ausência de déficits neurodesenvolvimentais.13‑15 O atraso no desenvolvimento cognitivo
pode ser observado desde os primeiros 18 meses de idade corrigida,16‑19 e essa defasagem
influencia o desenvolvimento da linguagem expressiva.19 Além disso, desordens cognitivas
associadas com fatores de risco ambientais ou sociais tornam‑se mais pronunciadas confor‑
me a criança fica mais velha.5
Por isso, é importante observar e acompanhar o desenvolvimento da linguagem dessa po‑
pulação desde os primeiros anos de vida, para que os devidos encaminhamentos e a inter‑
venção apropriada sejam realizados o mais precocemente possível.
228
MÓDULO 15
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 15
Idades Linguagem receptiva Linguagem expressiva
Com 1 mês • Assusta‑se com sons altos. • Produz choro diferenciado
• Acalma‑se com a voz humana. (entre 1 mês e meio e os 2 meses).
Aos 3 meses • Localização: começa a procurar • Vocaliza em resposta à fala.
os sons. • Esboça o “sorriso social”
(entre os 2 e os 4 meses).
Aos 4 meses • Responde quando ouve seu • Inicia balbucio com consoantes como:
nome, virando a cabeça (dos 4 “p”, “b”, “d” e “g”.
aos 6 meses). • Produz jogo vocal quando brinca com
Aos 5 meses • Distingue as entonações na voz brinquedos (ex.: gritos e sons orais
(raiva, carinho) = mudanças na diversos).
expressão facial e/ou nos gestos. • Troca turnos com sons.
• Reconhece os sons ambientais
familiares.
Aos 6 meses • Começa a compreender palavras • Duplica sílabas no balbucio.
familiares (“papai”, “mamãe”, • Responde ao seu nome com vocalização
“tchau”). (em 50% das vezes).
Aos 8 meses • Responde ao “não”. • Produz cinco ou mais consoantes:
“p”, “b”, “t”, “d”, “m”, “n”.
• Balança a cabeça para “não”.
• Começa a bater palmas e dar tchau.
Aos 9 meses • Dá um objeto quando solicitado. • Tenta imitar*** sons.
• Segue direções simples quando • Utiliza gestos = apontar, chamar, dar.
uma ação é acompanhada de
gestos (“pega a bola!”) e aponta
para locais.
• Compreende perguntas simples
(“onde está a mamãe?”).
Continua
229
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Continuação
Aos 12 meses • Responde ordens simples não • Produz as primeiras palavras (entre os 12 e
acompanhadas de gestos (“pega os 14 meses).
a bola!”, “vem!”). • Utiliza gestos ou vocalizações para pedir
• Compreende algumas situações objetos (entre os 12 e os 14 meses).
sociais (repreensão, brincadeiras • A maioria das palavras tem uma ou duas
etc.). sílabas (entre os 12 e os 18 meses).
• Identifica** uma parte do corpo. • A fala é 25% inteligível (entre os 12 e os 18
• Compreende até dez palavras. meses).
• Imita*** sons de animais (entre os 12 e os
15 meses).
Aos 15 meses • Aponta para objetos comuns • Produz de quatro a sete palavras (entre os
quando nomeados (“cadê o 14 e os 16 meses).
carrinho?”). • Comunica‑se utilizando gestos
acompanhados de vocalizações e/ou
verbalizações (entre os 14 e os 16 meses).
Dos 16 aos • Produz de 6 a 12 palavras.
18 meses • Usa palavras para expressar desejos e se
comunicar.
• Imita*** a maioria das palavras.
Aos 18 meses • Responde a algumas perguntas • Começa a combinar duas palavras (entre os
como “o quê?” e “onde?” (entre 18 e os 24 meses).
os 18 e os 24 meses). • Nomeia* uma figura (entre os 18 e os 24
• Aponta para três partes do corpo. meses).
• Presta atenção em figuras e • Imita*** sentenças com até três palavras
identifica uma ou mais. (entre os 18 e os 24 meses).
• Compreende até 50 palavras. • Nomeia* algumas partes do corpo (entre os
MÓDULO 15
18 e os 24 meses).
Dos 21 aos • Compreende alguns pronomes • Utiliza entonação interrogativa (entre os 20
22 meses pessoais. e os 22 meses).
Aos 2 anos • Aponta pelo menos quatro partes • Produz a maioria das vogais e consoantes.
do corpo. • Produz de 50 a 200 palavras.
• Aponta cinco ou mais figuras. • A fala é 65% inteligível.
• Compreende a preposição “em”. • Utiliza sentenças de duas a três palavras.
• Utiliza alguns pronomes.
Aos 3 anos • Compreende perguntas com “o • Inicia a produção de frases complexas.
quê?”, “onde?” e “por quê?”. • Faz perguntas com “o quê?”, “onde?” e
• Conhece as cores básicas. “quem?”.
• Possui as noções de igual e • Regulariza os verbos no passado.
diferente. • Produz as consoantes: “p”, “b”, “t”, “d”,
• Separa objetos em grupos “k”, “g”, “f”, “v”, “s”, “z”, “l”, “m”, “n”, “x”,
básicos (brinquedos, comidas). “j” e “r” (aos 3½ anos).
Aos 4 anos • Responde corretamente a • Nomeia* as cores básicas.
questões sobre atividades da vida • Conta até cinco.
diária. • Usa os pronomes pessoais adequadamente.
• Compreende rimas (palavras que • Utiliza frases negativas e interrogativas.
terminam com o mesmo som = • Utiliza as conjunções (“mas”, “e”).
ex.: “pão” e “cão”) e aliterações • Utiliza os pronomes relativos (“que”).
(palavras que começam com • Produz o som “LH” (ex.: “espeLHo”) e
o mesmo som = ex.: “pato”, sílabas com a consoante final “s” (ex.:
“panela”). “paSta”).
• Inicia o uso de encontros consonantais (ex.:
“PRato”).
Continua
230
MÓDULO 15
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Conclusão
Aos 5 anos • Entende conceitos de tempo • Domina a maioria das regras sintáticas e
(antes/depois, ontem/amanhã). conversa facilmente.
• Compreende ordens complexas. • Conta histórias curtas e bem estruturadas.
• Conhece as letras do alfabeto. • Utiliza os tempos verbais no passado e no
• Entende materiais com futuro corretamente.
parágrafos curtos (ex.: livros • Produz sílabas com a consoante final “r”
de histórias infantis lidos pelo (ex.: “poRco”).
adulto).
Aos 5½ anos • Compreende as conjunções “se”, • Continua a dominar formas sintáticas e
“quando”, “porque”. morfológicas irregulares.
• Compreende sentenças
complexas, inclusive a voz
passiva.
Observação: usamos os termos *nomear = quando a criança dá nome ao objeto; **identificar = quando, ao ser perguntada, a criança
mostra o objeto; e ***imitar = quando a criança repete a palavra.
MÓDULO 15
Quadro 2 – Processos fonológicos observados durante o desenvolvimento20
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Alterações Características
Atraso de linguagem Atraso tanto na linguagem receptiva quanto expressiva,
porém, quando as adquirem acompanham a mesma sequência
do desenvolvimento Normal (descrita no Quadro 1).
Distúrbio fonológico Alteração na fonologia (“trocas de sons na fala”), sendo que
as demais áreas linguísticas* encontram‑se adequadas.
Distúrbio específico Desvio do desenvolvimento normal, com alterações
de linguagem em uma ou várias áreas linguísticas.*
Gagueira Repetições, prolongamentos ou bloqueios frequentes
de sons, sílabas ou palavras ou hesitações ou pausas
frequentes que perturbam a fluência verbal.
Transtorno de espectro Além do comprometimento em áreas da linguagem e da comunicação,
autista (TEA) ocorrem também falhas significativas no contato afetivo, insistência
na manutenção de rotinas, interesse por objetos estranhos.
*Áreas linguísticas = fonologia (sons da língua), léxico (vocabulário), sintaxe (estrutura frasal), semântica (significado/sentido da mensa-
gem) e pragmática (uso social da linguagem).
232
MÓDULO 15
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
• Procure falar de frente para a criança e de maneira bem clara, sem usar diminutivos
nem frases muito longas.
• Não a corrija quando a criança falar algo que você não entendeu ou quando ela falar
de forma errada. Repita o vocábulo ou reformule a frase da criança como se quisesse
confirmar o que ela lhe pediu. Dessa forma, você estará lhe fornecendo um modelo
correto, para que ela possa utilizá‑lo.
• Estimule a criança a falar de forma natural e em contextos significativos, ou seja, não
peça para a criança falar ou repetir uma palavra que não faça parte do seu contexto e
que não possua significado naquele momento.
• Brinque e interaja com a criança, além de permitir e incentivar o contato dela com
outras crianças.
• Proporcione a participação da criança em atividades escolares logo que possível, esti‑
mulando, assim, a troca comunicacional com os seus pares, pois o estímulo do grupo é
importante para o seu desenvolvimento social e também para a sua linguagem.
• Estimule a brincadeira simbólica ou o “faz‑de‑conta”, objetivando o desenvolvimento do
pensamento verbal e, consequentemente, a formação de estratégias comportamentais e
de enriquecimento da comunicação.
Importante
A comunicação é uma troca. Há sempre um falante e um ouvinte. É importante você mos‑
trar que está atento às tentativas de comunicação da criança. Dê‑lhe atenção sempre que a
criança disser ou tentar expressar alguma coisa. Pode‑se balançar a cabeça, mostrar por ex‑
MÓDULO 15
pressões faciais o interesse despertado, encorajando‑a a falar, ou mesmo acompanhá‑la para
ver algo que ela deseja compartilhar.
Deve‑se ouvir, tentar entender, responder. Ao tentar entender o que a criança quer comu‑
nicar, ensina‑se, pelo modelo, o que o ouvinte deve fazer. A criança deve tornar‑se uma boa
ouvinte para aprender a linguagem.
xado quando em conversa, evitando a fala rápida. Pausas breves entre as palavras e as
sentenças são muito eficientes.
233
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Conclusão
• Pare um segundo ou mais antes de responder. Esse tempo vai possibilitar que a criança
se sinta menos preocupada e fique mais relaxada para processar sua resposta.
• Evite apressar ou gritar com a criança quando ela estiver tentando falar e, porventura,
estiver gaguejando.
• Reserve um tempo, diariamente, para dar atenção exclusiva à criança. Isso evita que a
criança tenha de competir com os outros para ser ouvida e até de usar a gagueira para isso.
• Forneça à criança um modelo apropriado de fala. Utilize sentenças e vocabulário apro‑
priados à idade da criança. Evite usar sentenças muito longas e complexas. Procure falar
mais pausadamente as frases mais longas.
• Promova um ambiente familiar de conversação não competitiva. Tente mostrar à criança
que ela é ouvida por todos da família e que ela pode ter sucesso ao controlar uma conversa.
Conclusão
Considerando‑se que as crianças nascidas pré‑termo são de alto risco para atrasos no de‑
senvolvimento da linguagem tanto receptiva quanto expressiva, é de suma importância que
todos os profissionais que têm contato com essa população conheçam um pouco sobre o
desenvolvimento normal da linguagem e suas alterações. Dessa forma, poderão fazer os de‑
vidos encaminhamentos, além de saber como orientar os cuidadores e esclarecer adequa‑
damente as suas dúvidas sobre o que é esperado ou está inadequado em determinada fase
do desenvolvimento das crianças.
Ressaltamos que a avaliação da linguagem também pode ser um instrumento para identi‑
MÓDULO 15
ficar outras alterações, tais como: a perda auditiva, o déficit cognitivo e o autismo (TEA), o
que reforça a necessidade da sua observação rotineira. Assim, estaremos atingindo o nosso
principal objetivo de diminuir as comorbidades, além de propiciar e promover um desen‑
volvimento adequado em todas as áreas para essa população.
Leituras sugeridas
Ferreira LP, Befi‑Lopes DM, Limongi SCO. Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo: Roca, 2004.
Limongi SCO. Fonoaudiologia informação para a formação ‑ Linguagem: desenvolvimento
normal, alterações e distúrbios. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
Andrade CRF. Manual para se conhecer a gagueira. Barueri, SP: Pró‑Fono, 2006.
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21
235
A criança com paralisia cerebral: fale com ela MÓDULO 16
Objetivos:
• Definir a paralisia cerebral.
• Discutir sobre paralisia cerebral para fornecer informações técnicas que auxiliem
no cuidado à criança.
Quadro‑Resumo
Definição de paralisia cerebral: a paralisia cerebral descreve um grupo de desordens permanentes do
desenvolvimento do movimento e da postura, grupo este atribuído a um distúrbio não progressivo que
ocorre durante o desenvolvimento do cérebro fetal ou infantil, podendo contribuir para limitações no
perfil de funcionalidade da pessoa. A desordem motora na paralisia cerebral pode ser acompanhada por
distúrbios sensoriais, perceptivos, cognitivos, de comunicação e comportamentais, por epilepsia e por
problemas musculoesqueléticos secundários1.
Mesmo que a criança não consiga falar, ela entende. Existem várias formas de comunicação além da verbal:
o olhar, a expressão corporal, o gestual, o toque etc. Por isso:
• Converse com ela quando chegar para a consulta (ex.: “e aí, João, como você está?”).
• Avise o que irá fazer em seguida (ex.: “vou te examinar”).
• Descreva as etapas (“vou levantar sua camisa, escutar o seu peito, ver a sua orelha etc.”).
• Avise que não vai doer e que não tem injeção (os pais costumam ameaçar as crianças dizendo que, se elas
não obedecerem, o “médico vai dar injeção”).
• Faça a “devolutiva”: “você está doente, mas vai ficar bem”, “você está de parabéns”, “você se comportou muito
bem” etc.
O pediatra/médico da ESF depende da história indireta, colhida por intermédio dos pais/cuidadores. Essas
informações devem ser valorizadas, porque o cuidador está sintonizado com a criança e pode detectar
as variações do seu estado basal.
O conhecimento das doenças frequentes e de suas causas ajuda no diagnóstico e no tratamento.
A avaliação e o tratamento são interdisciplinares, ou seja, envolvem profissionais de várias áreas.
As intervenções devem ter como objetivo melhorar a qualidade de vida e devem ser discutidas com os
pais/cuidadores.
Toda criança, não importando o grau de deficiência, merece tratamento individualizado.
Este texto foi escrito de uma forma objetiva e prática para auxiliar você no seu dia a dia no
ambulatório. Dividimos este módulo em três partes distintas:
1) Paralisia cerebral = para entender melhor: informações técnicas.
2) Problemas clínicos mais comuns.
3) Como lidar com a criança e a família?
237
Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Informações técnicas
Era uma vez, um grupo de amigos que foi visitar um castelo na Escócia. Sem conhecer a
“maldição do castelo”, um deles resolveu vestir uma das armaduras para assustar os demais.
Quando os amigos se aproximaram, ele já estava preparado para sair correndo atrás deles, mas
não conseguiu se mexer! Tentou gritar, mas a voz saiu de um jeito esquisito, sem as palavras.
Então, ele se deu conta de que a armadura havia se incorporado a ele e, por isso, não conse‑
guia se mover, não controlava mais seus movimentos e, quando falava, ninguém o entendia.
Por sorte, os amigos perceberam aquela armadura esquisita e entenderam a situação. Após
uma negociação com o dono do castelo, levaram o amigo para casa. Chegando à sua casa,
ele foi bem cuidado. A armadura era lustrada diariamente e ele sempre era trocado de lugar.
Mas, com o passar do tempo, ninguém mais falava com ele ou perguntava suas preferências,
indagando se ele queria ficar no jardim ou na sala... Então, ele passou a ser tratado como uma
estátua. “Se, ao menos, me avisassem o que iriam fazer comigo”, pensou ele, “eu não viveria
nesta ansiedade permanente!”.
Agora que vocês leram a história, vejam a definição de paralisia cerebral:
mento que levam à limitação na atividade e que ocorrem pela lesão do cérebro em
desenvolvimento.
238
MÓDULO 16
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Etiologia
A etiologia da paralisia cerebral (PC) é multifatorial e varia conforme a idade da criança,
podendo afetar diferentemente um RN pré‑termo, um RN a termo e uma criança maior. Na
verdade, quando se fala em etiologia da PC, não se pode atribuir tal condição a uma única
causa, mas a uma sequência de eventos que acarretam o dano motor.
As causas pré‑natais correspondem a cerca de 75% dos casos de paralisia cerebral, embo‑
ra, até o momento, muito pouco se saiba sobre os detalhes dessa causalidade. É importante
lembrar que, embora a asfixia seja uma causa conhecida, atualmente ela contribui com so‑
mente 6% a 8% dos casos.
Embora o trauma e as infecções no sistema nervoso central (SNC) sejam as maiores causas
de PC adquirida no período pós‑natal em países desenvolvidos, eles representam uma pe‑
quena fração da totalidade dos casos (aproximadamente entre 10% e 18%). Como exemplos,
temos os seguintes: acidentes cerebrovasculares, acidentes automobilísticos, afogamento e
quase afogamento, meningite e encefalite.
Identifique, no relatório de alta hospitalar, alguns dos eventos citados a seguir, os quais
estão relacionados à paralisia cerebral.
Estas são as crianças de maior risco e deverão ser acompanhadas “mais de perto”.
Crianças que têm ou tiveram:
• Asfixia neonatal grave e/ou encefalopatia hipóxico‑isquêmica (que afeta mais os RNT
e cujo risco para sequelas depende da gravidade do quadro).
MÓDULO 16
• Hemorragia intracraniana (incomum nos RNT).
• Infarto hemorrágico no período neonatal (consequente a um tromboembolismo): ge‑
ralmente, tais casos são descobertos por exames de imagem em um RNT (é diferente
daquele descrito como uma extensão da hemorragia intraventricular nos RNPT).
• Infecções congênitas na gestação: toxoplasmose, citomegalovírus e rubéola.
• Outras infecções intrauterinas (com acometimento cerebral), varicela e sífilis. Também
é citada a corioamnionite, a qual estaria associada à patogênese da periventrículo‑leu‑
comalácia do RNPT (possivelmente mediada pela resposta inflamatória fetal).
• Infecções congênitas com acometimento cerebral: sífilis, toxoplasmose, citomegaloví‑
rus, varicela e rubéola.
• Corioamnionite, associada à patogênese da leucomalácia periventricular do RNPT
(possivelmente mediada pela resposta inflamatória fetal).
• Icterícia grave e/ou não tratada: o quadro de encefalopatia bilirrubínica (Kernicterus)
pode estar associado a um quadro motor de coreoatetose. Nestes casos, o risco para
surdez é alto e a avaliação da audição deve ser feita periodicamente.
• Hipoglicemia grave/recorrente.
• Outros: malformação cerebral, susceptibilidade genética, erros inatos do metabolismo
e síndromes genéticas.
239
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Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Epidemiologia
Nos países desenvolvidos, a prevalência encontrada varia de 1,5 a 5,9 por 1.000 nascidos
vivos. Estima‑se que a incidência de PC nos países em desenvolvimento seja de 7 por
1.000 nascidos vivos2,3
Para efeito de comparação entre RNT e bebês pré‑termo, podemos dizer que, na população
em geral, 0,2% dos nascidos vivos apresentam paralisia cerebral, enquanto os RNPT nascidos
com IG menor do que 28 semanas apresentam um risco 50 vezes maior quando comparados
aos RN a termo, com uma prevalência que varia de 6% a 26%. A paralisia cerebral está inver‑
samente relacionada ao PN e à IG, o que equivale a dizer que, quanto menores forem a idade
gestacional e o peso ao nascer, maiores serão as probabilidades desse tipo de comprometi‑
mento. Recentemente, o estudo Elgan (Extremely Low Gestational Age Newborns), realizado
nos Estados Unidos, compreendendo 1.056 RNPT menores do que 28 semanas, avaliados
aos 2 anos de idade, encontrou uma taxa de 11,4% de RNPT que apresentavam paralisia ce‑
rebral, distribuídos assim: 52% com tetraparesia, 31% com diparesia e 17% com hemiparesia.
Observou‑se um aumento da prevalência de paralisia cerebral e da extensão das sequelas
nos RNPT nascidos nas décadas de 1960 a 1980 por conta do aumento da sobrevivência da‑
queles bebês mais imaturos. Entretanto, entre as décadas de 1980 e 1990, a prevalência per‑
maneceu estável. Pesquisas internacionais demonstram uma queda nessa prevalência entre
os RNPT com IG entre 28 e 31 semanas em função da melhoria dos cuidados neonatais. No
entanto, na população de crianças nascidas a termo, a prevalência tem‑se mantido estável, a
MÓDULO 16
240
MÓDULO 16
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
• Tipo discinético ou extrapiramidal: é menos frequente (em cerca de 10% a 15% das ocor‑
rências). É mais bem caracterizado pela presença de movimentos involuntários com
alteração flutuante do tônus muscular. Este tipo compreende os tipos: coreoatetoide,
atetoide e distônico.
• Tipo atáxico: apresenta‑se por intermédio do comprometimento do equilíbrio e da
coordenação.
MÓDULO 16
E para que serve esta classificação?
Os fatores de risco, as lesões cerebrais e os comprometimentos associados variam conforme
a referida classificação, seguindo um padrão de maior para menor comprometimento, na
sequência “tetraparesia‑hemiparesia‑diplegia”, sendo este último menos afetado.
Na tabela a seguir, são mostrados os resultados do estudo Elgan citado anteriormente:
Classificação
RNPT < 28 semanas
Tetraparesia Hemiparesia Diparesia
IG SEM PC
Microcefalia 42% 21% 8% 8%
GMFCS > 2 76% 11% 8% 0,3%
MDI* <70 (Bayley mental) 72% 58% 34% 22%
PDI ** <70 (Bayley motor) 93% 63% 62% 25%
N° de crianças – total 1.056 64 19 37 936
*MDI – Mental Development Index.
**PDI – Psicomotor Development Index.
241
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inatos do metabolismo.
Nestes casos, os exames complementares são importantes para que se possa fazer o diagnós‑
tico: exames de neuroimagem, bioquímicos, de avaliação genética, entre outros.
Em todas essas situações, o papel do pediatra/médico da ESF é fundamental. Ele deve colher
uma história clínica detalhada na tentativa de identificar os fatores de risco e, ao examinar
a criança, observar se existem sinais que sugiram alguma síndrome genética. Para a correta
identificação, a criança deve ser avaliada rotineiramente em todas as consultas quanto ao
desenvolvimento infantil (vigilância do desenvolvimento).
Avaliação do desenvolvimento
Existem várias escalas específicas para a avaliação do desenvolvimento e até se pode utilizar
um instrumento simples de vigilância como a Caderneta de Saúde da Criança.
As avaliações seriadas que usam as aquisições motoras podem ser úteis para a triagem e a
identificação da paralisia cerebral. A observação do tônus (hipotonia/hipertonia), da exacer‑
bação/persistência dos reflexos de Moro, do RTCA (reflexo tônico cervical assimétrico) e de
outros, além do comportamento da criança (irritabilidade/apatia), pode tornar sua avaliação
ainda mais eficaz (veja as leituras recomendadas).
242
MÓDULO 16
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
O papel da equipe de reabilitação é não somente intervir, mas fazer o seguimento clínico
com o profissional de saúde, a fim de delinear o diagnóstico definitivo e as prioridades do
tratamento conforme seu desenvolvimento e crescimento. Além disso, a equipe de reabili‑
tação deve garantir, dependendo da necessidade, a prescrição, a concessão, a adaptação e a
manutenção de OPMs (órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção), e tecnologias as‑
sistivas que sejam compatíveis com as atividades desse ciclo de vida. Essas crianças necessi‑
tam de uma rede de cuidados devidamente articulada, envolvendo todos os aspectos de sua
saúde, não focalizando apenas nas condições atreladas à paralisia cerebral.
Embora a lesão neurológica seja estável, os sinais clínicos mudam com o desenvolvi-
mento do sistema nervoso e pioram sem a intervenção adequada.
O diagnóstico definitivo requer avaliações seriadas, inclusive pela equipe de reabilitação.
MÓDULO 16
A consulta com o neurologista infantil deve ser considerada quando existe dúvida/suspeita
a respeito do diagnóstico, para determinar a etiologia, quando existem sinais clínicos que
sugerem uma condição progressiva da doença e em casos que cursam com convulsões.
243
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É recomendável que algumas diretrizes sejam levadas em conta para a comunicação da sus‑
peita ou do diagnóstico de paralisia cerebral à família:
• O diagnóstico de paralisia cerebral deve ser feito pelo médico.
• A comunicação à mãe deve ser feita preferencialmente na presença do pai ou, na sua
ausência, de outro membro da família que represente um relacionamento significativo.
• O local deve ser reservado e protegido de interrupções.
• O pediatra deve ter tempo disponível para comunicar o diagnóstico ou a suspeita de
paralisia cerebral, bem como esclarecer os familiares sobre dúvidas e estigmas que esti‑
mulam o preconceito e a não aceitação da criança. Os pais devem ser esclarecidos sobre
os sinais clínicos que definiram o diagnóstico de paralisia cerebral.
244
MÓDULO 16
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Exames complementares
Não existe nenhum exame específico para paralisia cerebral. O diagnóstico é funcional e de
exclusão, já que existem outras possibilidades de alteração do desenvolvimento que podem
estar presentes ou podem coexistir com a prematuridade ou mesmo com PC.
Os exames de neuroimagem podem nos dar a ideia da extensão da lesão das áreas compro‑
metidas e do prognóstico, embora em alguns casos os exames possam ser normais.
A importância do exame de neuroimagem para uma criança com distúrbio do desenvol‑
MÓDULO 16
vimento está no acompanhamento evolutivo das lesões e nas situações que necessitam de
esclarecimento diagnóstico para descartar doenças degenerativas, progressivas e genéticas
em crianças com paralisia cerebral.
A Academia Americana de Neurologia e a Sociedade de Neurologia fizeram uma revisão
sistemática, publicada em 2004, na qual registraram a observação de anormalidades na res‑
sonância magnética de crânio em 89% das crianças com paralisia cerebral, ou seja, em 11%
não existiam alterações.
Um exame de neuroimagem deve fazer parte da investigação de rotina em toda criança com
alteração motora ou alteração do desenvolvimento:
• USTF (ultrassom transfontanela): indicado para o período neonatal e a pós‑alta en‑
quanto a fontanela estiver aberta. É utilizada para diagnóstico e seguimento de hemor‑
ragias intracranianas/lesões neonatais. Tem uma boa equivalência qualitativa com ou‑
tros exames de neuroimagem. Embora o USTF seja uma técnica efetiva no diagnóstico
de LPV cística, o seu diagnóstico do componente não cístico da lesão periventricular é
limitado quando comparado à RM. Seu valor diagnóstico é maior se os exames forem
seriados e comparativos.
• TCC (tomografia computadorizada de crânio): é um exame útil, mas necessita de se‑
dação e expõe a criança à radiação. Nos casos de LPV, a TCC consegue identificar as
lesões císticas (como no US) e, para as lesões difusas, é inferior à RM.
• RM (ressonância magnética de crânio): também necessita de sedação e transporte (pou‑
cos são os locais que têm esse exame). É um exame muito mais preciso (se comparado
com o US) para definir melhor a extensão e o tipo da LPV. Entretanto, ainda é um
exame caro e, por isso, é usado para casos selecionados.
245
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Nas crianças com quadro atípico de alteração no desenvolvimento, devem ser inves-
tigadas também as doenças metabólicas e genéticas.
Exames de rotina
Os exames laboratoriais de rotina são os mesmos recomendados para qualquer criança, mas
para aquelas que usam anticonvulsivantes e relaxantes musculares (dantrolene/baclofen),
os quais podem ser hepatotóxicos, os exames devem incluir a avaliação da função hepática.
Radiografia de quadril
As crianças com PC que não adquirem marcha e/ou não são colocadas de pé com uso de
suporte (parapodium)/terapia podem apresentar uma desordem da articulação do quadril
(subluxação). Essa alteração, comum nas crianças com PC espástica, causa dor e degenera‑
MÓDULO 16
ção articular.
Isso acontece em função de uma alteração adquirida do acetábulo, com um desequilíbrio de
forças musculares causado pela espasticidade. A intervenção cirúrgica precoce está associada
com um melhor prognóstico.
Por tal razão, é recomendada a realização de uma radiografia panorâmica de quadril (po‑
sição neutra) anual, iniciando‑se aos 18 meses para toda criança com PC que tem compro‑
metimento bilateral e não adquiriu marcha.
Tratamento
Em relação ao tratamento, ressaltamos alguns pontos principais, para melhor entendimento
das propostas e dos objetivos.
• As intervenções são direcionadas para maximizar a qualidade de vida, melhorar as ati‑
vidades da vida diária e reduzir a extensão da deficiência. É importante compreender
que o tratamento aumenta as possibilidades de inserção social, inclusive de trabalho.
Neste sentido, a utilização de muletas é melhor do que o uso de cadeira de rodas, que
– por sua vez – é melhor do que ficar acamado.
• A intervenção demanda uma equipe interdisciplinar e a participação da família. Uma
família orientada e treinada terá melhores condições de dar o suporte emocional, físico
e financeiro para que a criança atinja o máximo de seu desempenho no seu cotidiano.
• A intervenção não melhora apenas a função motora. A estimulação correta ajuda a
equilibrar os sentidos, facilita a comunicação e melhora o posicionamento para carregar
a criança. Tudo isso, em conjunto, facilita a vida da criança com sua família e melhora
a inserção social.
246
MÓDULO 16
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Portanto, a criança deve ser encaminhada para a equipe de reabilitação e para intervenção
o mais oportunamente possível.
Em caso de dúvida, encaminhe a criança também. Sabemos que há um tempo de espera
para os serviços especializados e o melhor que pode acontecer é que, quando a criança for
chamada para avaliação, o tratamento seja desnecessário.
Déficits associados: lembre‑se de que, para melhorar a qualidade de vida da criança, é ne‑
cessário encaminhá‑la também para a avaliação de possíveis déficits associados, com direito
aos tratamentos que se fizerem necessários: óculos, prótese auditiva etc.
Saúde oral das crianças: não se deve esquecer de implementá‑la para esses pacientes. Os
hábitos de higiene oral são importantes de ser conferidos. A consulta com odontologista é
fundamental na prevenção. Quando a higiene não é feita adequadamente, a boca pode ser
foco de micro‑organismos patogênicos e, consequentemente, de infecção.
MÓDULO 16
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Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Problemas gastrointestinais
A grande maioria (de 80% a 90%) das crianças com paralisia cerebral tem distúrbios gas‑
trointestinais, que vão desde a incoordenação da deglutição até o refluxo gastroesofágico
(RGE), a constipação intestinal e a má nutrição. Um estudo realizado em 1999, em que fo‑
ram acompanhadas 58 crianças com PC por um período de seis meses a um ano, demonstra
bem essa questão:
• Refluxo gastroesofágico = 77%.
• Distúrbios de deglutição = 60%.
• Aspiração pulmonar crônica = 41%.
• Regurgitação/vômitos = 32%.
• Dor abdominal = 32%.
• Constipação crônica = 74%.
• Desnutrição e tetraplegia = 90%; hemiplegia = de 20% a 30%.
MÓDULO 16
Dificuldades de alimentação
Os distúrbios da deglutição na criança com PC podem ser responsáveis pela má nutrição e
por episódios recorrentes de aspiração pulmonar. Geralmente, tais distúrbios se apresentam
de forma moderada a grave, associados com a tetraparesia e, mesmo na diplegia, também
foi observada uma forma leve de disfunção.
Algumas crianças podem apresentar um comportamento aversivo à alimentação e, em ou‑
tros casos, uma hipersensibilidade para as diferentes texturas de comida, ocasionando uma
aceitação ou uma recusa alimentar.
Se a dieta de uma criança com múltipla deficiência leva mais de uma hora para ser dada,
uma vez que a criança apresenta sintomas sugestivos de incoordenação orofaríngea e aspi‑
ração, incluindo tosse, engasgos/sufocação, RGE ou refluxo nasofaríngeo, então, a opção de
uma alimentação enteral deve ser avaliada.
Aspiração
Causas: falhas na formação e na ejeção do bolo alimentar, na peristalse do esôfago, no fecha‑
mento glótico e dificuldade de alternar respiração e deglutição. Mesmo entre as refeições,
pode haver aspiração de secreções orais e respiratórias para as vias aéreas inferiores pela fa‑
lha nos reflexos de proteção.
248
MÓDULO 16
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Aspiração: geralmente de líquidos, é silenciosa em 80%, sem sinais de tosse e/ou engasgos/
sufocação. Nas crianças com tetraplegia espástica, até 40% dos sólidos podem ser aspirados.
Aspiração recorrente: resulta em infecções respiratórias agudas e inflamação crônica das vias
aéreas inferiores. Pode acarretar bronquiectasia e lesão no parênquima pulmonar. Algumas
crianças parecem tolerar a aspiração sem desenvolver doença pulmonar grave.
Aspiração consequente ao RGE: nestes casos, deve‑se inicialmente tratar clinicamente o re‑
fluxo antes de se pensar em cirurgia.
Tratamento: intervenção fonoaudiológica, espessamento das dietas, bom posicionamento
para alimentação e alimentação enteral (sonda enteral,* gastrostomia) (este último trata‑
mento a ser decidido em equipe).
*Obs.: as sondas enterais não devem permanecer por longo tempo, devido ao alto risco para
complicações: fácil deslocamento e endurecimento da sonda, podendo acarretar perfuração
intestinal ou congestão nasal, sinusite, otite média e irritação da pele ou da mucosa.
Vômitos
É sempre importante excluir outras causas de vômitos, porque nem todo vômito é causado
por RGE. Primeiramente, devem‑se excluir gastroenterite e infecções urinárias. Outras cau‑
sas são: obstrução da derivação ventrículo‑peritoneal, má‑rotação intestinal e oclusão arté‑
rio‑mesentérica do duodeno (síndrome de Wilkie). Esta última se apresenta com um quadro
de saciedade precoce nas refeições, desconforto pós‑prandial ou posicional, náusea, disten‑
são e vômitos biliares nos estágios finais. Além disso, ela deve ser considerada nas crianças
MÓDULO 16
com tetraparesia espástica com perda de peso grave, perda da gordura retroperitoneal, lor‑
dose e escoliose lombar graves ou imobilização prolongada com órtese para a coluna.
Refluxo gastroesofágico
Causas: posição supina prolongada, aumento da pressão abdominal pela escoliose ou espas‑
ticidade e influência do SNC na motilidade do esôfago distal e do esfíncter esofágico infe‑
rior. O esvaziamento gástrico demorado acompanha de 25% a 50% das crianças com RGE,
mesmo aquelas sem alteração neurológica. A gastrostomia pode evoluir com RGE em 50%
dos casos, mas destes apenas 5% a 10% requerem tratamento cirúrgico.
Complicações: o refluxo predispõe a criança a infecções respiratórias e pode provocar apneia
e laringoespasmo, além de esofagite e desconforto.
Tratamento: posturação, antagonistas do receptor de H2 (ranitidina) ou com inibidores da
bomba de prótons (como o omeprazol) e com orientação nutricional.
Cirurgia: a cirurgia de fundoplicatura gástrica deve ser pensada depois da falha terapêutica
com o correto tratamento medicamentoso. Entretanto, está associada com uma alta taxa de
recorrência e de fracasso cirúrgico, assim como de morbidade e mortalidade significativas.
Assim, apesar de ser um importante recurso terapêutico, a cirurgia deve ser pensada em
equipe.
O baclofen, usado para diminuir a espasticidade, tem efeito também no esfíncter esofágico
inferior, propiciando um relaxamento transitório e reduzindo o refluxo, por facilitar o es‑
vaziamento gástrico.
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Helicobacter pylori: lembre que as crianças institucionalizadas têm uma alta positividade
para o H. pylori na mucosa gástrica, razão pela qual ele deve ser pesquisado e tratado, pela
sua associação com a gastrite.
Dor abdominal
Crianças com múltiplas deficiências podem ter esofagite, gastrite e úlcera péptica, que de‑
vem ser excluídas por endoscopia. Entre outras causas de dor, pode‑se considerar também
a constipação intestinal crônica.
Constipação intestinal
Causas: dieta pobre em fibras, redução da ingestão de líquidos, tônus muscular do abdômen
reduzido, imobilidade prolongada, falta de exercícios, falta da postura ereta e da urgência de
defecar. Nessas crianças, a defecação permanece como uma ação reflexa, como nos lactentes.
Foi observado também um trânsito prolongado no cólon.
Tratamento: não difere do indicado para outras crianças. Pode‑se usar um enema por três
dias consecutivos (Minilax®), seguido do tratamento com lactulose associado ou não a óleo
mineral (cuidado com o risco de aspiração). O aumento gradual de fibras na dieta (de 2 g
a 17 g) durante um período de seis semanas evitou os efeitos colaterais de flatulência e dis‑
tensão, resultando em melhoria das evacuações e em redução no uso de laxativos. O mesmo
pode ser feito com a dieta por gastrostomia.
Gastrostomia
MÓDULO 16
A gastrostomia pode ser feita por procedimento não cirúrgico (como a gastrostomia per‑
cutânea por endoscopia) ou cirúrgico. Como ela não é isenta de riscos, por ter um índice
razoável de efeitos colaterais e pelo fato de poderem permanecer alguns sintomas (como o
refluxo), a decisão pela gastrostomia deve envolver uma equipe interdisciplinar e a família.
Devem‑se considerar, para tal decisão, o comprometimento pulmonar, as reinternações por
quadros respiratórios quando causados por broncoaspiração, a capacidade funcional oral, o
prazer da criança em receber a alimentação oral e o grau de desnutrição.
A síndrome de Dumping é uma resposta fisiológica à presença de grande quantidade de
alimento na porção proximal do intestino delgado e pode ocorrer após a cirurgia de gas‑
trostomia. No entanto, quando ocorre no período pós‑cirúrgico, é devido ao rápido esva‑
ziamento gástrico e apresenta‑se com sudorese, taquicardia, distensão abdominal, dor ab‑
dominal, entre outros. Os sintomas podem aparecer logo nos primeiros 10 a 30 minutos ou
após horas da introdução do alimento. Neste caso, o tratamento deve ser uma mudança na
alimentação. Para isso, uma nutricionista deve ser consultada, de modo a atender às neces‑
sidades nutricionais da criança.
Problemas respiratórios
Os problemas respiratórios têm um importante papel na qualidade e na expectativa de vida
dessas crianças, sendo causa comum de reinternação e procura por atendimento médico.
Essas complicações foram citadas como causa de óbitos entre as crianças com PC na popu‑
lação americana (2002) da seguinte forma:
• Instituições: 77% dos óbitos por pneumonia.
• Comunidade: 52% dos óbitos por problemas respiratórios.
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MÓDULO 16
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Mecanismos respiratórios
A tosse ineficaz e a limpeza ineficiente das vias aéreas acontecem pela falta de contração
efetiva dos músculos intercostais e abdominais, além de incoordenação do tempo expirató‑
rio e dos músculos glóticos. Por isso, não conseguem proteger as vias aéreas inferiores nem
limpar adequadamente essas vias das secreções.
As crianças com PC parecem ter uma sensibilidade diminuída para a tosse, talvez por uma
dessensibilização dos receptores das vias aéreas pela aspiração crônica. Podem não tossir
mesmo durante infecções respiratórias graves, o que pode retardar o reconhecimento e o
tratamento da doença.
Cifoescoliose
Restringe a função pulmonar, ocasionando uma expansão desigual, com alteração da rela‑
ção de ventilação/perfusão. Esses fatores acarretam um aumento do trabalho respiratório e
predispõem a pessoa à insuficiência respiratória. Se acontecer muito cedo na infância, pode
comprometer o desenvolvimento pulmonar. Essa condição merece avaliação da ortopedia,
porque piora o quadro neuromuscular.
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Sibilância
Hiper‑reatividade brônquica: o RGE, a aspiração recorrente e a bronquiectasia estão associa‑
dos com a hiper‑reatividade brônquica.
Displasia broncopulmonar: pode ser um fator complicador naqueles que foram pré‑termo
extremos.
Asma: é difícil de identificar e o diagnóstico é baseado na história clínica sugestiva.
Apneia do sono
Causa: normalmente, o centro respiratório estimula o tensionamento da faringe antes da
contração do diafragma, evitando o seu colapso durante a expiração. Nas crianças com PC,
esse processo sofre um distúrbio, ocasionando uma obstrução respiratória superior, que
pode ser constatada pela respiração ruidosa, que piora durante o sono.
A apneia obstrutiva do sono é comum em crianças com PC, o que lhes causa distúrbio do
sono, dificuldade de crescimento e hipertensão pulmonar.
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Avalie, encaminhe e trate a dor sempre que possível, assim como a causa primária.
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Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
A família
Os estágios do luto
No primeiro momento, a família precisa de muito apoio e tempo para elaborar essas perdas.
Funciona como um processo de luto por tudo o que foi perdido: o bebê desejado e os planos
que já tinham sido feitos para ele.
Cada um tem um tempo de elaboração diferente e, por isso, quando a criança chega para o
acompanhamento no ambulatório, a família poderá ainda estar passando por um desses es‑
tágios, que poderão demorar até anos, se não obtiver a ajuda adequada da equipe de saúde
MÓDULO 16
ou até mesmo uma abordagem terapêutica. Veja os estágios a seguir para entender em qual
deles a família se encontra e para procurar a melhor abordagem na consulta.
Os estágios são os seguintes:
Negação e isolamento: “Isso não pode estar acontecendo”.
Cólera (raiva): “Por que eu? Não é justo!”. “Se os médicos tivessem feito..., isto não teria
acontecido”.
Negociação: “Eu prometo que... se o meu filho for curado”.
Depressão: “Estou tão triste! Nada mais tem importância”.
Aceitação: “Vamos enfrentar esta situação juntos e tudo vai acabar bem”.
Obs.: Kübler‑Ross elaborou os estágios de luto originalmente para qualquer forma de perda
pessoal catastrófica. O importante é saber que tais estágios, mesmo após terem sido viven‑
ciados, não cessam e podem se repetir em qualquer ordem. Por outro lado, nem sempre to‑
dos eles são experimentados por todo mundo; entretanto, qualquer pessoa sempre apresen‑
tará pelo menos dois deles. Para Worden, os últimos estágios são chamados de adaptação e
recolocação, em vez de aceitação, visto que o sujeito passa a se adaptar à realidade e recoloca
a sua energia emocional para continuar a viver.
A mãe
O choque inicial pelo diagnóstico de paralisia cerebral ocorre com toda a família, mas –
como acontece com a maioria das crianças – é a mãe quem mais acompanha seu filho nas
consultas. É preciso compreender que essas mães, no início, sentem‑se impotentes, entris‑
tecidas e assustadas, mas – conforme a criança cresce – o vínculo se estabelece e ela aprende
a se comunicar com o filho, colaborando com informações muito importantes. Ela vive a
sua maternidade como qualquer outra mãe. Por vezes, ela pode parecer irritada, porém isso
ocorre quando não se sente compreendida, quando há demonstração de pena ou quando a
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FAMÍLIA
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PEDIATRA
MÉDICO ESF
ENFERMEIRA NEURO
ASSISTENTE PNEUMO
SOCIAL OFTALMO
EQUIPE DE REABILITAÇÃO OTORRINO
ORTOPEDISTA
FISIATRA CIRURGIA PEDIÁTRICA
FISIOTERAPEUTA OUTROS
FONOAUDIÓLOGO
TERAPIA OCUPACIONAL
PSICÓLOGO
PSICO-PEDAGOGO
A escuta pode ser terapêutica, pois, muitas vezes, a mãe não tem com quem conversar sobre
a criança e ouvir seus desabafos, suas dificuldades e valorizar as pequenas conquistas tanto
da criança quanto da família, que – nas adaptações para as atividades diárias – são muito
mais relevantes do que se possa pensar. Por isso, reserve um espaço para ouvir o cuidador.
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Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Portanto:
• Entenda que, muitas vezes, a família pode estar estressada pelo cuidado complexo de
uma criança com doença crônica, que é trabalhoso e consome muito tempo e energia.
• Aponte os sinais positivos da criança, elogiando suas conquistas e a dos cuidadores.
• Oriente a mãe a evitar um comportamento que estimule a dependência emocional da
criança, pois isso a impede de que ela tenha conquistas.
• Esclareça que a criança precisa de estímulos e que ela pode fazer isso dentro das rotinas
normais em sua casa, proporcionando que a criança se distraia com brinquedos sob a
sua supervisão.
• Auxilie os familiares na comunicação com a criança, orientando‑os quanto ao desen‑
volvimento de sua linguagem. Assim, todos se sentirão competentes.
MÓDULO 16
• Registrar com palavras de elogio todas as suas tentativas de comunicação, que podem
ser pelo olhar, pelo movimento desordenado ou por pequenos sons.
• Oferecer estímulos visuais, auditivos, táteis.
• Não adivinhar seus desejos, mas a estimular que ela se expresse sem se acomodar no
isolamento.
A criança
As orientações a seguir são para qualquer criança que esteja sendo avaliada:
• Converse com ela quando chegar para a consulta: “E aí, João, como você está?”.
• Avise o que irá fazer em seguida: “Vou te examinar”.
• Descreva as etapas: “Vou levantar sua camisa, escutar o seu peito, ver o seu ouvido” etc.
• Avise que não vai doer e que não tem injeção (pois os pais costumam ameaçar as crian‑
ças, dizendo a elas que, se não obedecerem, o “médico vai dar injeção”). Lembre que,
caso ocorra um procedimento doloroso ou desconfortável, isso deve ser dito à criança.
• Faça a “devolutiva”: “Você está doente, mas vamos cuidar de você. Você vai tomar remé‑
dios” ou, então, “Você vai ter que fazer mais fisioterapia respiratória etc., mas vai ficar
bom” ou, ainda, “Você está de parabéns! Comportou‑se muito bem”. Preste atenção nas
mudanças observadas na criança e comente com ela: “Olha só, você cortou o cabelo” ou
“está com um perfume gostoso”.
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grande dificuldade de cuidar dessas crianças no seu cotidiano, seja por ter medo de fazer
“algo errado”, por achar que a criança não entende ou que nada vai fazer diferença mesmo.
Enfim, cada família tem muitas questões subjetivas envolvidas nessa situação.
Resumindo: quando você trata a criança com carinho, conversando e mostrando as qualida‑
des dela, poderá estar facilitando o vínculo da família com o seu filho, inclusive mostrando
que a criança responde ao seu modo de examinar e falar.
A comunicação e o cuidador
Dependendo da severidade do quadro da criança, a comunicação verbal pode estar compro‑
metida e fica difícil entender o que ela pode estar sentindo.
Apesar disso, a comunicação é feita de outras maneiras: pelo olhar, pelo comportamento,
pelas emissões vocálicas, pelas expressões faciais, enfim, existe todo um repertório subjetivo
que é usado para a comunicação.
Neste quesito, o cuidador tornou‑se um “expert”, que poderá servir de “intérprete” para a
criança, nos ajudando muito a obter as informações e entender o quadro clínico.
A dificuldade de comunicação e um repertório limitado de respostas comportamentais di‑
ficultam o diagnóstico. O pediatra/médico da ESF depende da história indireta, colhida por
intermédio dos pais/cuidador. Essas informações devem ser valorizadas, porque o cuidador
está sintonizado com a criança e pode detectar as variações do seu estado basal.
O que dizer para a família que apostou todas as suas energias/fichas na criança?
A sintonia estabelecida com a família irá guiar a sua fala. Para cada família, a morte de um
ente querido tem um significado. A morte de uma criança com doença crônica, às vezes,
confunde os profissionais na sua postura frente aos pais. Muitos compreendem como um
momento de alívio, pois viam os pais estressados, desgastados pela rotina extenuante.
Entretanto, ainda que a dor pela perda de um filho tenha um significado próprio e ative
um sentimento “exclusivo” nos pais, podemos apenas imaginar, mas nunca dimensionar
o que eles sentem.
A doença crônica absorve em demasia os cuidadores, os quais, muitas vezes, se dedicam
com exclusividade às rotinas da criança e, com isso, após a perda, vem um sentimento
de vazio intenso.
Algumas vezes, podemos simplesmente ficar ao lado dos pais/cuidadores, o que vale mais do
que várias palavras. Nos casos de uma reação extrema diante da notícia da morte, apresen‑
tada pelo silêncio absoluto ou pela agitação intensa, é importante proporcionar o equilíbrio
emocional, o que pode ser tentado com uma breve checagem de evidências do investimento
que fizeram na criança.
É importante fazer esse teste de realidade para favorecer a correção das distorções que estão
ocorrendo, geralmente relacionadas aos sentimentos de culpa e fracasso. Você pode auxi‑
liar ao pedir que repitam tudo o que fizeram de positivo e negativo para cuidar da criança.
Se quiser, você pode escrever enquanto falam, dividindo suas anotações em duas colunas.
Depois disso, faça a devolução sobre o que disseram, pois a lista com os aspectos positivos
sempre é maior do que a enumeração dos negativos. Quando os pais visualizam que fizeram
tudo o que podiam e que a morte era inevitável, eles sentem‑se mais confortados.
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MÓDULO 16
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
A mãe, como geralmente é a pessoa com maior vínculo com a criança, demonstra um sofri‑
mento maior. Permita que ela entre em contato com o vazio para poder se organizar frente
ao luto.
É necessário um tempo para vivenciar o luto, que passa a ser elaborado aos poucos, fazendo
que a mãe se adapte à morte de seu filho.
Conclusão
A nossa formação curricular não nos prepara para lidar com situações de perdas e doenças
crônicas. E, por não “sabermos lidar com elas”, muitas vezes não damos a atenção devida a
essas crianças e às suas famílias.
Os sentimentos de pena, embora sejam um “senso comum”, não ajudam em nada na supera‑
ção das limitações e dificuldades do dia a dia. Quando compreendemos que a família pode
ser feliz (apesar dessas dificuldades) e que a vida pode ser normal (embora mais trabalhosa),
isso nos ajuda a nos tornar parceiros da família na jornada.
A criança com paralisia cerebral merece toda a atenção e os cuidados dispensados a qual‑
quer outra criança. Lembre que, antes da doença, existe uma criança, um cuidador e uma
família.
Filmes recomendados
• “Meu Pé Esquerdo” (título original: “My Left Foot”. Direção: Jim Sheridan. Com Daniel
MÓDULO 16
Day‑Lewis e Brenda Fricker. Gênero: drama. Ano: 1989).
• “Gaby, Uma História Verdadeira” (título original: “Gaby: A True Story”. Direção: Luis
Mandoki. Com Liv Ullmann e Rachel Chagall. Gênero: drama. Ano: 1987).
Links sugeridos
O dia em que me disseram...
<http://www.youtube.com/watch?v=LpRjDk0Qfnw&feature=related>
Programas de TV sobre deficiência
<http://www.lavoroproducoes.com.br/cinema‑e‑tv/programas‑de‑tv/>.
Leituras sugeridas
“Manual de Atenção Integral ao Desenvolvimento e Reabilitação”, Soperj, Ed.Revinter, 2007.
“O Desenvolvimento Neuropsicomotor Normal nos Primeiros Anos de Vida”, cap. 9, pág. 91.
“Manual de Atenção Integral ao Desenvolvimento e Reabilitação”, Soperj, Ed.Revinter, 2007.
“Disfunção Neuromotora”, cap. 10, pág. 103.
“Atenção à Saúde do Recém‑Nascido – Cuidados com o Recém‑Nascido Pré‑Termo: Desenvolvimento”, vol. 4,
pág. 144.
“Atenção Humanizada ao Recém‑Nascido de Baixo Peso – Método Canguru – Manual Técnico, 2011 – O
Seguimento do Recém‑Nascido de Risco”, seção 14, pág.151.
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“Desenvolvimento Normal e Seus Desvios no Lactente – Diagnóstico e Tratamento Precoce do Nascimento até
o 18º mês”. Inge Flehmig, Livraria Atheneu.
“Diretrizes de Atenção à Pessoa com Paralisia Cerebral”, 2013, Dapes/SAS/MS, pág. 80.
Referências
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Ministério da Saúde
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Fluxograma de atendimento MÓDULO 17
à criança de risco na Rede Básica
Introdução
Este fluxograma para atendimento da criança que nasceu pré‑termo traz uma proposta de
avaliação de risco rápida, considerando‑se os dados obtidos a partir da Caderneta de Saúde
da Criança e da Gestante e as informações adicionais do resumo de alta da internação na
unidade neonatal. A partir dessa avaliação de risco, são traçadas estratégias para o atendi‑
mento na rede básica com foco em determinados aspectos: crescimento e desenvolvimen‑
to. Inclui roteiro e tabela para facilitar a identificação de anormalidades na avaliação neu‑
ropsicomotora e indicação dos sinais que demandam avaliação especializada. Desta forma,
pretendemos facilitar o entendimento da lógica do atendimento de bebês prematuros para
profissionais de saúde.
O atendimento do pré‑termo deve seguir alguns passos. Para simplificar, vamos primeiro
estabelecer uma ordem relativa de prioridades na consulta:
A) Avalie o risco do bebê mediante a análise da Caderneta de Saúde da Criança, do Car‑
tão da Gestante e da história neonatal.
B) Classifique o risco com o levantamento da história familiar e socioeconômica.
C) Detecte as potencialidades e os prováveis problemas na família em relação ao cuidado
físico e afetivo com o bebê.
D) Confira os exames de triagem: teste da orelhinha, teste do pezinho, reflexo vermelho.
E) Identifique, no resumo da alta, achados como retinopatia da prematuridade (ROP),
displasia broncopulmonar (DBP), alteração de neuroimagem (HIC, LPV), asfixia gra‑
ve/encefalopatia hipóxico‑isquêmica e convulsões, assim como a presença de malfor‑
mações congênitas, síndromes ou alterações da visão/audição e do exame neuropsi‑
comotor => a presença dessas intercorrências demanda seguimento especializado.
F) Para os lactentes com IG < = 32 semanas e/ou PN = < 1.500 g, cheque: USTF, ecocar‑
diograma e avaliação de fundo de olho (para ROP), assim como rastreamento para
anemia e DMO.
G) Classifique o risco e programe se é necessário o seguimento especializado.
H) Avalie a necessidade de repetir ou solicitar novos exames.
I) Cheque o calendário vacinal e as especificações do RNPT (Módulo 7).
J) Pergunte à mãe questões sobre medicações em uso, intercorrências clínicas e/ou in‑
ternações.
K) Avalie a alimentação: oriente e estimule o aleitamento materno e corrija os erros
alimentares (Módulo 5).
L) Pese e meça o peso (sem roupa), o comprimento e o perímetro cefálico (PC): coloque
os dados na curva usando a idade corrigida.
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Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
M) Durante o exame físico, busque a presença de sinais mais comuns no lactente pré‑
‑termo e que demandem seguimento, tais como: RGE, sibilâncias, hérnia inguinal,
tremores, alteração de formato craniano e PC, convergência do olhar, alterações de
tônus muscular, postura e movimentação, entre outros.
N) Avalie o desenvolvimento: confira as etapas do desenvolvimento por intermédio da
tabela na Caderneta de Saúde da Criança e/ou aplique o Denver (Módulo 8).
O) Avalie a necessidade de consulta com especialistas.
P) Prescreva vitaminas A e D (até 1 ano) e sulfato ferroso (até 2 anos), conforme a neces‑
sidade, a partir dos resultados de exames recentes. Confira a necessidade de manuten‑
ção das outras medicações, conforme os protocolos (veja o Módulo 6, seções 1, 2, 4).
q) Programe o retorno.
1) Prematuridade.
2) Asfixia perinatal grave (Apgar ≤ 3 no 5º minuto).
3) Alterações neurológicas (hipertonia, hipotonia, tremores, outros).
4) Convulsão.
5) Exames de neuroimagem: USTF/TCC/RM alterados.
6) Meningite.
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Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Se o PN ≤ 32 semanas e/ou PN < 1.500 g, cheque se foram feitos: USTF, ecocardiograma, fundo de
olho (ROP), assim como rastreamento para anemia e DMO, além dos exames de triagem.
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Estime o risco por intermédio dos indicadores de risco (Quadro1). Avalie também os indicadores de
risco social: mais de duas pessoas por dormitório, crianças em creche ou em escola, baixa escolaridade
materna, situação de violência, uso de drogas, mãe sozinha ou suporte social precário, baixa renda fami-
liar, entre outros. Lembre que uma família de alto risco social pode demandar seguimento especializado
mesmo que o risco biológico não seja significativo. Tal avaliação deve ser feita, sempre que possível, por
equipe multiprofissional antes da alta.
Apneias repetidas.
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Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
MÓDULO 18
que fazem visita domiciliar.
• Se as idas à emergência diminuem com a regularidade nas consultas.
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Ministério da Saúde
Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
Exame neuromotor
O exame neuromotor completo inclui a avaliação dos marcos do desenvolvimento, da pos‑
tura/atitude, do equilíbrio estático e dinâmico, do tônus muscular, da força muscular, da
pesquisa dos reflexos primitivos e dos reflexos profundos.
O desenvolvimento motor do pré‑termo, apesar de suas peculiaridades, segue a mesma se‑
quência do desenvolvimento normal, devendo ser avaliado de acordo com a idade corrigi‑
da. No entanto, como o exame motor do lactente pré‑termo, pode apresentar variações nos
primeiros meses de vida.
É importante lembrar:
• Que o acompanhamento dos marcos do desenvolvimento deve ser feito com cautela,
seguindo‑se os parâmetros esperados, porém respeitando‑se as variações da normali‑
MÓDULO 18
dade. Como todo exame do pré‑termo, o profissional deve considerar a idade corrigida
e interpretar os dados em associação com o restante do exame neuromotor.
• Da avaliação da movimentação espontânea quanto aos critérios de qualidade, amplitu‑
de, variabilidade e simetria.
• De avaliar o desenvolvimento como um conjunto que inclui funções como visão, audi‑
ção e oromotricidade, verificando as repercussões da limitação de uma sobre a outra,
para a melhor avaliação do desenvolvimento e a possível indicação do tratamento.
• Que as alterações neuromotoras que os lactentes pré‑termo apresentam nem sempre
são claramente anormais, mas frequentemente representam ajustes à força da gravidade,
por exemplo. No entanto, quando identificadas, merecem intervenção, com acompa‑
nhamento e orientação para postura e posicionamento e, se necessário, tratamento com
equipe de reabilitação multidisciplinar.
Apresentamos, a seguir, alguns quadros para facilitar a detecção de certos sinais de alerta e
que, em conjunto com a tabela da Caderneta, ajudam a identificar aqueles que demandam
avaliação especializada por equipe de reabilitação e consulta com neurologista infantil. No
Quadro 2, a seguir, apresentamos um quadro desses sinais por áreas de desenvolvimento,
mais abrangentes, dispostos de maneira didática.
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MÓDULO 18
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
A criança não sustenta a cabeça após os 4 meses ou se cansa facilmente nessa posição após os 6 meses.
A criança não senta sem apoio após os 9 meses ou se cansa facilmente nessa posição após os 12 meses.
Presença de hipotonia
Presença de hipertonia
Postura dos membros superiores em candelabro: rotação externa dos braços e flexão dos antebraços.
MÓDULO 18
Marcha em tesoura.
Sucção ineficaz.
Fonte: Adaptado da Rede NAIRR – Núcleo de Atenção Interdisciplinar ao Recém‑Nascido de Risco – SMSDC/RJ Acessível em: <http://
redenairr.blogspot.com.br/>.
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Diretrizes de avaliação no acompanhamento MÓDULO 19
da Atenção Básica
Diretrizes gerais para detecção de sinais de alerta para alterações no desenvolvimento infantil
Referência em
6 meses 9 meses 12 meses 18 meses 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos
qualquer idade
• Não sorri ou • Não • Não percebe • Falta de • Quando • Não apresenta • Reluta ou • Apresenta um • Não adquire os
emite sons compartilha pessoas interesse brinca, prefere interesse em é incapaz modo de jogar marcos motores.
em resposta prazer com estranhas. em jogar atirar, bater em outras pessoas de jogo diferente daquele • Preocupação
Sócio ‑ emocional
às pessoas. outros • Não joga ou interagir vez de fazer ou em jogos cooperativo. de seus pares. paterna.
utilizando utilizando com outras uso funcional simbólicos. • Perda de
contato turnos, como pessoas. dos objetos, habilidades
ocular ou no escon como ninar significativa.
expressão de‑esconde ou uma boneca • Ausência de
facial. jogando bola. ou montar resposta a
cubos. estímulos sonoros
Ausência de contato visual ou contato limitado ou visuais.
• Não começa • Não utiliza • Não balbucia • Não fala • Não fala 50 • Dificuldade • Dificuldade em • Apresenta • Interação ruim
a balbuciar gestos frases que soam palavras palavras, no em se se entender dificuldade com seus pares
(“adah”, “agú”). (dar adeus, como conversa claras. mínimo. entender o o que fala em dizer o que ou com adultos.
apontar). (jargão • Não • Não junta que fala. • Não consegue está errado. • Diferenças de
tônus entre os
Comunicação
• Não balbucia, imaturo). consegue duas palavras: • Não utiliza seguir um • Não responde
não utilliza • Não responde a entender “quero água”. sentenças comando com a perguntas em dimídios direito
duas sons familiares. comandos • Não entende simples. dois passos: uma conversa e esquerdo em
consoantes simples (Onde a maioria “vá ao quarto simples. força, movimento
(“baba”, está a bola?). das coisas e pegue ou tônus.
“dada”). que se fala. o chinelo • Movimentos
debaixo da soltos ou fracos
cama”. (tônus baixo) ou
endurecidos ou
• Não alcança ou • Incapaz de • A alimentação • Não segura • Não se • Dificuldade • Não utiliza • Professor está
tensos (tônus alto).
segura objetos. segurar ou que aceita é ou não interessa em em ajudar nas o banheiro preocupado
• Mãos largar objetos predominante- rabisca com atividades de atividades de durante o dia. quanto à sua
frequentemente de sua mão. mente líquida o lápis. autocuidado: autocuidado. • Incapaz de prontidão escolar.
Motor fino e cognição
fechadas. • Não ou em forma • Não faz vestir‑se, • Dificuldade desenhar • Não se veste
consegue de purê. torres com alimentar‑se em manipular linhas ou ou se alimenta
transferir • Não consegue os blocos. etc. objetos círculos. de maneira
objetos de mastigar pequenos independente.
uma mão comida sólida. (como passar • Não consegue
para a outra. • Não consegue contas em um desenhar uma
pegar objetos cordão, por pessoa de
utilizando o exemplo). forma simples
indicador e (com traços).
o polegar.
• Não rola. • Não senta • Não engatinha • Não tenta • Não consegue • Não corre • Não consegue • Parece
• Não mantém sem suporte. ou se arrasta caminhar correr. bem. pedalar um desajeitado
cabeça • Não se move de nádegas. sem suporte. • Não consegue • Não consegue triciclo. quando
e tronco (arrastar ou • Não se puxa • Não fica subir escadas subir e descer • Não consegue caminha,
elevados do engatinhar). para ficar parado com apoio. escadas. agarrar corre, utiliza as
Motor grosso
plano quando • Não suporta em pé. sozinho. • Não consegue • Não consegue ou chutar escadas etc.
em prono. bem o peso • Não jogar uma chutar ou uma bola. • As habilidades
nas pernas permanece bola. jogar uma • Não se com a bola são
quando apoiado bola. equilibra em distintas das
segurado por em pé. • Não consegue um pé só. de seus pares.
um adulto. pular com • Não consegue
os dois pés pular cinco vezes
juntos. em cada pé.
Fonte: Adaptado de <http://www.health.qld.gov.au/rch/professionals/brochures/red_flag.pdf>.
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Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica – Manual do Método Canguru
RM e/ou TCC A critério médico para lactentes maiores com fontanela fechada, a TCC é indicada
quando não temos possibilidade de realizar a RM.
Anemia Ferropriva Hemograma para • Entre 9 a 12 meses. • Tratamento de anemia com ferro oral – 3 a 5 mg/
do Lactente avaliação de: • A triagem kg/dia por 3 a 4 meses = até a normalização dos
pág. 134 • Hb, Htc, VCM, para anemia é exames e reposição dos estoques de Fe.
HCM e RDW. recomendada para • Lembrar‑se de identificar e tratar parasitoses
• Ferro sérico todas as crianças. e conferir e estimular uma dieta saudável
e ferritina. com boa disponibilidade de ferro.
Se PN ≤ 1.500 g ou • Fósforo 3ª etapa MC. para prematuros = 400u/dia até 1 ano de idade
IG ≤32 sem, DBP, • Fosfatase alcalina • Com 3 e 6 meses, (não há benefícios em doses maiores).
uso de diuréticos, conforme exames • Tratamento com fosfato tricálcico a 12,9% (solução
NPP prolongada, e evolução clínica manipulada) – 1 a 2 ml/kg/dia até a normalização
uso de corticóides. e radiológica. dos exames (geralmente até 3.500g de peso ou 3
pág. 139 meses de idade). Obs.: cada serviço de Neonatologia
tem uma formulação usada de rotina.
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MÓDULO 19
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
Consultas PERIODICIDADE 3ª Etapa MC – 3 x por semana até 2.000 g; 2 x sem até 2.500 g; retorno com 3.000 g opcional.
pág. 267 1ª consulta UBS – sete dias após alta do programa MC, com retorno em 15 dias.
Após esse período, sugerimos consultas mensais até os 8 meses.
Depois, a cada 2 meses até os 18 meses.
A partir de 18 meses, poderá ser trimestral até os 2 anos, e a cada 4 meses até os 3 anos.
A partir de 3 anos: semestral.
Nessas idades cronológicas, as consultas atenderão à necessidade de seguimento: do de-
senvolvimento, linguagem, vacinas, introdução de dieta complementar etc.
Lembrar de acompanhar o desempenho escolar (ficar atento para intervir quando neces-
sário.
Vacinação ORIENTAÇÕES Seguir o calendário vacinal de rotina a partir da idade cronológica, usar as mesmas
pág. 107 PARA doses do RNT.
PREMATUROS O BCG deve ser feito quando o bebê atingir o peso de 2 kg.
Os RNPMTs com PN < 2 kg e/ou IG< 33 semanas devem receber 4 doses de vacina para
hepatite B – ao nascer e com 1, 2 e 6 meses.
Toda vacina implica em algum risco para qualquer criança, mas os benefícios suplantam
esses riscos. Atenção: RNPMT com IG ≤31 semanas e aqueles com doença crônica (displasia
broncopulmonar) e que foram “criticamente doentes” – estes necessitam de orientação
quanto à observação, por serem de maior risco.
MÓDULO 19
Crescimento IDADE Usamos, em geral, até 2 anos. Mas, se IG < 28 semanas, corrigimos até 3 anos.
pág. 193 CORRIGIDA Peso vai até 2anos.
PC vai até 18 meses.
Usar o gráfico da OMS. Iniciar com 40 semanas idade corrigida ou após transição de gráfico
de Fenton.
CATCH‑UP A maioria faz o catch‑up até 3 anos de idade, mas pode ser também na adolescência.
COMO SE Basta dividir o peso (kg) pela estatura (metro) e depois dividir de novo pela estatura
CALCULA O IMC?
BAIXA ESTATURA Roteiro para investigação de baixa estatura para aqueles abaixo de 2 escores Z (‑2) aos
2 anos:
• Afastar patologia genética.
• Solicitar exames: T4 livre, TSH, bioquímica, TGO, TGP, FA, ureia, creatinina, Na, K, Ca, P, he-
mograma e troteínas totais e frações.
• Avaliação de idade óssea (Raio X de punho).
• Se tudo estiver normal, devemos encaminhar ao endocrinologista pediátrico para inves-
tigação e tratamento.
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Elaboração
Augusto César de Oliveira Trigueiro
Carmen Ferreira Elias
Cristina Simonek
Denise Streit Morsch
Geisy Maria de Souza Lima
Honorina de Almeida
Lenice de Fátima da Silva‑Munhoz
Maria Amélia Sayeg Porto
Maria Dalva Barbosa Baker Méio
Maria Teresa Cera Sanches
Marisa Marantes Sanchez
Marynéa Silva do Vale
Márcia Cortez Bellotti de Oliveira
Nicole Oliveira Gianini
Olga Penalva
Roberto Elias
Virginia Resende Silva Weffort
Viviane Lan
Zaira Aparecida de Oliveira Custódio
Coordenação‑Geral de Saúde da Criança e Aleitamento Materno
Amanda Souza Moura
Enia Maluf Amui
Fernanda Ramos Monteiro
Gilvani Pereira Grangeiro
Ione Maria Fonseca de Melo
Neide Maria da Silva Cruz
Paulo Vicente Bonilha Almeida
Renara Guedes Araújo
Sérgio Tadeu Martins Marba
Coordenação‑Geral de Gestão da Atenção Básica
Charleni Inês Scherer
Daniela Cristina Moreira Marcelino Figueiredo
Euzeli Araujo
Márcia Helena Leal
Coordenação‑Geral da Saúde Bucal
Alejandra Prieto de Oliveira
Ana Silvia Pavani Lemos
Coordenação‑Geral de Alimentação e Nutrição
Fernanda Rauber
Gilsiane Nascimento Espinosa
Gisele Ane Bortolini
Renata Guimarães Mendonça de Santana
Simone Costa Guadagnin
Vivian Siqueira Santos Gonçalves
Coordenação‑Geral da Pessoa com Deficiência
Vera Lúcia Ferreira Mendes
MÓDULO 19
Prematuridade,fatores de risco e outros conceitos
LISTA DE SIGLAS
MÓDULO 19
ECR Equipes de Consultórios na Rua
ESF Equipes de Saúde da Família
EXSTF Exsanguineotransfusão
FOS Frutooligossacarídeos (prebióticos)
GIG Grandes para a idade gestacional
GOS Galactooligossacarídeos (prebióticos)
HPIV Hemorragia peri-intraventricular
IG Idade gestacional
ITU Infecção no trato urinário
LA Leite artificial
LC-PUFAS Ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa
LMO Leite materno ordenhado
MC Método Canguru
NASF Núcleos de Apoio à Saúde da Família
NB New Ballard
NIDCAP Newborn Individualized Developmental Care and Assessment
Program
OMS Organização Mundial da Saúde
PC Perímetro cefálico
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MINISTÉRIO DA SAÚDE Manual do Método Canguru – Seguimento Campartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica
MINISTÉRIO DA SAÚDE
e a Atenção Básica
rasília – DF
B
2015