Saber e Fazer Agroecologico Páginas 1,3 4,11 15,17 29
Saber e Fazer Agroecologico Páginas 1,3 4,11 15,17 29
Saber e Fazer Agroecologico Páginas 1,3 4,11 15,17 29
Editora CRV
Curitiba – Brasil
2021
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Revisão: Analista de Escrita e Artes
SA113
Saber e fazer agroecológico / Antônio Marcio Haliski, Keila Cássia Santos Araújo Lopes,
Paulo Rogério Lopes, Rosana de Fátima Silveira Jammal Padilha (organizadores) – Curitiba :
CRV, 2021.
186 p.
Bibliografia
ISBN Digital 978-65-251-0850-6
ISBN Físico 978-65-251-0851-3
DOI 10.24824/978652510851.3
1. Agricultura 2. Agroecologia – saberes - práticas I. Haliski, Antônio Marcio, org. II. Lopes,
Keila Cássia Santos Araújo, org. III. Lopes, Paulo Rogério, org. IV. Padilha, Rosana de Fátima
Silveira Jammal, org. V. Título VI. Série
2021
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 - E-mail: sac@editoracrv.com.br
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PREFÁCIO
A atual crise civilizatória, demonstrada nessa situação de pandemia, que
nosso planeta enfrenta, jamais esperada em nossos pensamentos, afetando a
vida de todos os seres da Terra, nos leva a refletir profundamente, o que apren-
demos com isso e como podemos evoluir como humanidade a partir desse
penoso aprendizado. Temos lido e ouvido informações e relatos científicos,
demonstrando que o alarmante aumento na ocorrência de zoonoses tem sua
origem intimamente vinculada ao acentuado processo de degradação ambiental,
que é fruto do processo de desenvolvimento hegemônico, que se baseou em
longas cadeias de exploração indevida dos recursos naturais e das pessoas. Esse
modelo, além de causar a perda da biodiversidade do planeta, também meca-
niza as relações dos seres humanos com a natureza, e entre eles, reafirmando
que a história da modernidade é a história da dissociação do ser humano com a
natureza, a qual culmina agora em uma situação de calamidade socioambiental.
Um pensamento que surge em relação à sustentabilidade, é que essa situação
ideal que se busca, só pode ser alcançada a partir do reconhecimento da relação
e interação harmoniosa entre todos os seres, como condição básica. Assim,
vemos que a agricultura, como fruto da cultura e da ação dos seres humanos
e que afeta todos os seres, assume, desde o seu início, o papel primordial e
simbólico na construção da vida. A Agroecologia, enquanto ciência, prática e
movimento social, traz em seu bojo os princípios essenciais, para a busca do
bem viver para todas as pessoas do campo e das cidades. Para isso, reconhece
como ponto de partida a construção de saberes e conhecimentos, na luta por
uma sociedade justa e igualitária, em diálogo com as práticas cotidianas dos
povos do campo, das águas, das florestas e das cidades, no saber fazer da vida
sustentável. E quando afirmamos essa ecologia de saberes como meio de vir a
ser da Agroecologia, trazemos de forma clara, a crítica ao agronegócio e aos
demais projetos do capital que violam territórios, negam a história, desrespeitam
a diversidade em todos os seus aspectos e comprometem o futuro das pessoas.
Buscando reforçar essa construção sociopolítica e científica da Agroeco-
logia, o presente livro Saber e Fazer Agroecológico começa trazendo o Rio do
Tempo, ou Linha da Vida, da Agroecologia no Brasil com o capítulo do Baltasar,
memória viva desse processo; e, seguindo nessa mesma linha, o capítulo mos-
trando o exemplo histórico da Zona da Mata mineira, com a Irene Cardoso e
colaboradores, que aprofunda muito a questão da construção do conhecimento,
trazendo aspectos metodológicos, como as instalações artístico pedagógicas,
os círculos de cultura, as caravanas e todo o tecer das redes, culminando nos
sistemas participativos de garantia e tantos outros elementos que ecoam por lá,
das montanhas de Minas, nos trazendo muita esperança no caminhar. Outra luz
trazida, enfatizando a importância das raízes da nossa ancestralidade, o capítulo
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1 O governo é pressionado de várias formas, uma delas é por meio de financiamentos privados, ou ainda um
membro de alto cargo da empresa ocupando cargos públicos. No filme “O mundo segundo a Monsanto” é
mostrado o conceito de “porta giratória”, no qual diretores da empresa se tornam ministros ou membros da
órgãos públicos que determinam a liberação de inovações científicas.
SABER E FAZER AGROECOLÓGICO 19
que determina que a terra é de quem tem capital para pagar por ela, e não de
quem nela trabalha.
Já os incentivos para aqueles que tem recursos os deixam com mais
acesso ainda às novas tecnologias. Em 1890 foi fundado o Instituto Agro-
nômico de Campinas para estudar o uso de recursos locais, melhoramento
genético, adaptação de espécies exóticas (a partir dos anos 30 pesquisas para
utilização de agroquímicos). Incrementos tecnológicos voltados para o grande
produtor. A partir de 1900 começam a investir em Instituições de Ensino e
pesquisa, frequentada e dirigida pelas mesmas classes sociais dominantes.
Mais tarde, com grande incentivo do bloco capitalista mundial a dita-
dura militar (1964-1985) abriu nossas fronteiras para o pacote tecnológico
derivado da indústria bélica: maquinaria pesados, herbicidas, inseticidas,
fungicidas, entre outros (ANDRADES, GANIMI, 2007). O uso de insumos
foi se tornando hegemônico, ampliando os investimentos científicos para seu
desenvolvimento, ainda que críticas estivessem sendo feitas.
O Brasil sempre se pautou em políticas para atender à grande e média
escala de produção e as universidades eram vinculadas às tecnologias quí-
mica e mecânica atendendo aos interesses dos grandes ruralistas e gru-
pos econômicos.
A ditadura militar brasileira (1964-1985) não permitia críticas sociais
ou políticas ao regime, mas críticas ambientais tinham espaço na mídia. Foi
nesse contexto que, na segunda década dos anos 70, foram organizados os
primeiros eventos da denominada agricultura alternativa. O protagonismo dos
agrônomos desdobraria no engajamento destes profissionais em movimentos
ambientais e sociais.
O lançamento em 1964 do livro “A moderna agricultura intensiva” por
Anna Maria Primavesi e Artur Primavesi é um marco na crítica ao avanço das
tecnologias modernas neste período. O tema central é a biocenose do solo na
produção vegetal, pela qual se compreende a complexidade da fertilidade dos
diferentes solos brasileiros, e a importância dos ciclos biogeoquímicos promo-
vidos por diversos seres vivos que não sobreviviam ao uso dos agrotóxicos.
Em 1976 Lutzemberger, lançou o Fim do Futuro? Manifesto Ecológico
Brasileiro, subscrito por nove entidades ecológicas do Brasil. Teve grande
importância no movimento ambientalista depois de ter se demitido da BASF,
empresa que produzia insumos agroquímicos. Agrônomo, despertou questio-
namentos em parte de seus colegas, que aderiram às críticas sobre sua atuação
profissional. A formação acadêmica desconsiderava os aspectos ambientais e
sociais, focando-se apenas na questão produtiva e financeira.
Adilson Dias Paschoal, em 1979, publicou o livro “Pragas, Pragui-
cidas e a Crise Ambiental: problemas e soluções”, que discorre sobre os
efeitos dos organoclorados nos ecossistemas. Os desequilíbrios biológicos
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REFERÊNCIAS
ALMEIDA, S. G; PETERSEN, P; CORDEIRO, A. Crise sócio ambiental
e conversão ecológica da agricultura brasileira: subsídios à formulação
de diretrizes ambientais para o desenvolvimento agrícola. Rio de Janeiro:
AS-PTA, 2001. 122p.