Desafios para Alfabetizar em Tempos de Pandemia
Desafios para Alfabetizar em Tempos de Pandemia
Desafios para Alfabetizar em Tempos de Pandemia
RESUMO
O relato tem por objetivo destacar as estratégias e ações voltadas para a alfabetização em um
dos momentos mais difíceis para a educação. Empenhadas em acolher os alunos e suas famílias e em
meio a um cenário de isolamento social e analfabetismo digital, nos deparamos com o desafio de
alfabetizar a distância, cerca de 20 crianças do primeiro ano do ensino fundamental em uma escola da
rede privada. Na ocasião, tive a oportunidade de trabalhar como professora assistente da turma.
ABSTRACT
The report aims to highlight the strategies and actions aimed at literacy in one of the most
difficult moments for education. Committed to welcoming students and their families and in the midst
of a scenario of social isolation and digital illiteracy, we face the challenge of literacy at a distance,
about 20 children in the first year of elementary school in a private school. At the time, I had the
opportunity to work as an assistant teacher in the class.
INTRODUÇÃO
Segundo pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho
Docente da Universidade Federal de Minas Gerais (Gestrado/UFMG) cerca de 89% dos professores no
país não tinham experiência anterior à pandemia para dar aulas remotas e 42% dos entrevistados
afirmam que seguem sem treinamento, aprendendo tudo por conta própria. Para 21%, é difícil ou muito
difícil lidar com tecnologias digitais.
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Adaptar o conteúdo de forma a atender ao formato de aulas remotas não foi uma tarefa fácil. Os
professores passaram a se organizar e planejar as aulas de forma intuitiva e proativa. Em princípio, todas
as ações foram improvisadas a fim de atender a uma necessidade por um curto período. Afinal, os
professores, assim como a população mundial, não tinham noção por quanto tempo seria a quarentena.
Ainda com dificuldade para conduzir o processo de educação num formato que não se sabia por
quanto tempo ficaria em vigor, a professora Valquiria Bregondi, regente do 1º ano, imediatamente se
preocupou em providenciar material didático (atividades matemáticas e de alfabetização), assim como
os cadernos quadriculados e de caligrafia. A escola tentou se nortear pelo apostilado, intercalando com
projetos educativos, material digitalizado, aulas ao vivo, vídeos e podcasts.
O volume de tarefas e as aulas ao vivo foram as questões mais polêmicas, tendo em vista que
eram ações que exigiam a presença e a ajuda dos adultos responsáveis pela criança.
Após reuniões entre professores e gestores foram definidos novos horários e a divisão de
atividades por disciplina. Assim, as aulas síncronas foram feitas através de plataformas de
videoconferência três vezes por semana, intercaladas com as aulas com professores especialistas (Arte,
Língua Inglesa e Educação Física).
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No decorrer do processo, a escola optou por utilizar a Plataforma Classroom, uma ferramenta
do Google App, para publicar atividades e aulas gravadas, assim como receber as tarefas concluídas. As
aulas ao vivo foram realizadas através de videoconferências da plataforma Webex. Os vídeos eram
produzidos inicialmente no próprio dispositivo de celular, transformados em link e inseridos diretamente
na plataforma.
Para que conseguíssemos atrair a atenção de crianças entre 6 e 7 anos foi muito importante
desenvolver estratégias voltadas para este público. Os vídeos e podcasts serviam como orientadores para
elaboração das atividades da apostila, com uma abordagem simples e didática, sempre com o cuidado de
se levar em conta a pouca idade e a falta de autonomia de alguns alunos.
As perguntas mais comuns dos familiares eram “quando vamos voltar ao normal?”, “depois as
crianças terão reforço?”. Questões sem respostas só aumentavam a angústia dos diretores e da
comunidade escolar.
Por se tratar do primeiro ano do ensino fundamental, a pressão sobre os professores e gestores
da escola era ainda maior. Mesmo esclarecendo que o primeiro ano faz parte de um processo de
alfabetização que se inicia na pré-escola e termina por volta do terceiro ano, a expectativa era que todos
os filhos terminassem o ano letivo lendo e escrevendo. A busca por resultados fez com que nós nos
debruçássemos na construção de soluções para o grande desafio de alfabetizar.
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Desde o segundo bimestre, as reuniões com os pais passaram a ser remotas, na mesma
plataforma utilizada para as aulas ao vivo. Inicialmente, as reuniões eram rápidas e objetivas. A maioria
teve a presença da Direção da escola, diante da expectativa e ansiedade dos pais pelo retorno às aulas.
Porém apesar da quase totalidade dos pais presentes, poucos tomavam a palavra.
Ouvimos cada uma das famílias, suas angustias e reais necessidades. Desta forma, foi possível
ter um “raio x” da situação. Alguns trabalhavam durante a quarentena e não tinham tempo para ajudar os
filhos. Outros, deprimidos com a situação, não sabiam como ajudar os filhos e que não se sentiam à
vontade, tampouco motivados para ajudar. Em alguns momentos, tivemos familiares que interrompiam,
queriam corrigir ou interferir no trabalho pedagógico do professor e no aprendizado dos alunos. A
maioria não entendia como se dava o processo de desenvolvimento alfabético. Eram pais e familiares
que não sabiam o que fazer e como pedir ajuda.
As reuniões foram acolhedoras, fizeram com que todos ficassem mais próximos. Acabou se
tornando uma estratégia eficiente para articular e engajar a comunidade escolar num momento difícil e
desafiador para todos. O espaço para estudar foi uma questão desafiadora. Segundo Pacheco (2019), “o
espaço é considerado o terceiro educador, é flexível devido ao seu mobiliário e reconta o vivido no
cotidiano. O espaço é pensado e organizado a partir das experiências das crianças e de suas
investigações diárias” (p.24). Salientamos com cada familiar a importância do espaço e da rotina para o
melhor aproveitamento do estudante. Pedimos que eles identificassem um local próprio para que a
criança pudesse estudar de forma organizada todos os dias.
Durante o ano letivo, ficamos à disposição para atender as famílias no horário
correspondente ao período de aula, com o objetivo de esclarecer dúvidas sobre o conteúdo, assim como
fazer acolhimento das crianças. Os familiares se tornaram verdadeiros parceiros, trabalhando em
conjunto com a escola, de forma colaborativa e participativa.
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O segundo passo foi ouvir cada um dos alunos. Vale destacar a importância desta etapa para o
diagnóstico das necessidades. As crianças eram muito objetivas e sinceras. Só queriam voltar à escola
pra brincar e ver os amigos. Apesar da maioria ter se adaptado muito bem estudando em casa, eles não
tinham autonomia e familiaridade com computadores e celulares para estudar.
Foram feitas duas entrevistas com as crianças ao longo do ano. A primeira reunião individual
foi desenvolvida com o objetivo de aferir como as crianças estavam lidando com a nova forma de
aprender e fazer o acolhimento afetivo. Já no segundo momento, o objetivo foi identificar o
desenvolvimento das crianças com relação ao sistema de escrita alfabética e o sistema numérico para
averiguar a necessidade ou não de aulas de reforço.
Após a segunda reunião individual foram identificados os alunos com dificuldade. Em seguida,
as crianças passaram a fazer encontros individuais como reforço para o aprendizado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Acreditamos que vários foram os fatores que determinaram a alfabetização de mais de 80% da
classe ao final do ano letivo. Tal resultado já seria satisfatório em tempos de aula presenciais, se torna
além das expectativas em meio a um período de pandemia. Um dos fatores mais relevantes foi a atuação
da família como parceiros, respondendo as mudanças e adaptações de forma positiva e participativa.
Nós, professoras buscamos o aprendizado, atualização para a melhor utilização dos recursos
digitais, e em formação continua para acompanhar as mudanças que a pandemia trouxe para educação.
Os familiares colaborando para adaptação a uma nova realidade. Foi transformador. A educação
precisou ser repensada e reinventada em tempos difíceis.
REFERÊNCIAS
FERRARI, Ana Claudia, MACHADO, Daniela, OCHS, Mariana, Guia da Educação Midiática – 1. ed.
– São Paulo : Instituto Palavra Aberta. 2020.
LIMA, Lauro de Oliveira, Por que Piaget? A educação pela inteligência, Petrópolis-RJ Editora Vozes,
1998.
PACHECO, José. Dicionário de valores — 1. ed. — São Paulo: Edições SM, 2012.
PACHECO, José. Aprender em comunidade - 1. ed. -- São Paulo : Edições SM, 2014.
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Revista Educação em Foco – Edição nº 13 – Ano: 2021
PONZIO, Eloisa PACHECO, José. Reggio Emilia e Ponte – 1ª ed – São Paulo – Edições Mahatma
2018.
Sites consultados:
Como fica a alfabetização e o letramento durante a pandemia? Artigos & Tendências Futura Educação,
Entrevista Magda Soares. Disponível em: https://www.futura.org.br/como-fica-a-alfabetizacao-e-o-
letramento-durante-a-pandemia/ acessado em 11/12/2020.
Jornada digital | Como fica o processo de letramento e alfabetização durante e após a pandemia? Editora
Moderna. Youtube . 23 jun. 2020. 1h7min35s. Disponível em: Acesso em 18 de novembro de 2020.
No chão da Escola, Aprender como um direito e corpo em movimento (formação parte 2) , Instituto
Alana, https://youtu.be/uI0VU6iKehA acessado em 27/01/2021.
No chão da Escola, Esperanças – construindo novos sentidos para a escola (formação parte 3) ,Instituto
Alana, https://youtu.be/uI0VU6iKehA acessado em 28/01/2021.
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