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Uti CH Volume1

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Caro aluno

Você está recebendo o primeiro livro da Unidade Técnica de Imersão (U.T.I.) do Hexag Vestibulares.
Este material tem o objetivo de retomar os conteúdos estudados nos livros 1 e 2, oferecendo um
resumo estruturado da teoria e uma seleção de questões dissertativas que preparam o candidato
para as provas de segunda fase dos principais vestibulares. Além disso, as questões dissertativas per-
mitem avaliar a capacidade de análise, organização, síntese e aplicação do conhecimento adquirido.
É também uma oportunidade de o estudante demonstrar que está apto a expressar suas ideias de
maneira sistematizada e com linguagem adequada.
Aproveite este caderno para aprofundar o que foi visto em sala de aula, compreender assuntos que
tenham deixado dúvidas e relembrar os pontos que foram esquecidos.
Bons estudos!

Herlan Fellini

SUMÁRIO
HISTÓRIA
HISTÓRIA GERAL 73
HISTÓRIA DO BRASIL 101

ENTRE PENSAMENTOS E ENTRE SOCIEDADES


FILOSOFIA 125
SOCIOLOGIA 139

GEOGRAFIA
GEOGRAFIA 1 151
GEOGRAFIA 2 193

71
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2020
Todos os direitos reservados.

Autores
Eduardo Antôno Dimas
Tiago Rozante
Alessandra Alves
Vinicius Gruppo Hilário
Márcio Cavalcanti de Andrade

Diretor-geral
Herlan Fellini

Diretor editorial
Pedro Tadeu Vader Batista

Coordenador-geral
Raphael de Souza Motta

Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica


Hexag Sistema de Ensino

Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Imagens
Freepik (https://www.freepik.com)
Shutterstock (https://www.shutterstock.com)

ISBN: 978-85-9542-129-5

Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo
o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à dis-
posição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos
direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não repre-
sentando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.

2020
Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino.
Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP
CEP: 04043-300
Telefone: (11) 3259-5005
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HISTÓRIA GERAL

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ANTIGUIDADE ORIENTAL

EGITO o culto monoteísta ao deus Áton, simbolizado pelo dis-


co solar, chegando a mudar seu nome para Akhenaton
A civilização egípcia desenvolveu-se no nordeste da África. A (“aquele que agrada a Aton”).
vida girava em torno do ciclo de cheias e vazantes do rio Nilo. Tutancáton, seu sucessor, restaurou o deus Amon e pôs fim
O rio Nilo dividia o Egito em duas partes bem distintas: o à revolução. Mudou o próprio nome para Tutancâmon.
Alto e o Baixo Egito. O Alto Egito é a região do interior Os faraós da dinastia de Ramsés II (1320-1232 a.C.) enfren-
do território, com cerca de 10 quilômetros de largura e taram novos obstáculos, como a invasão dos hititas, vindos
que chega até a primeira catarata. O Baixo Egito é a da Ásia Menor. O Império entrava em declínio. Em 525 a.C.,
região do delta, cheia de alagadiços e que se alarga à o rei persa Cambises derrota o faraó Psamético III. A inde-
medida que se aproxima do Mediterrâneo.
pendência acabou. Nos séculos seguintes, os povos do Nilo
seriam dominados pelos gregos e, finalmente, cairiam nas
Império Antigo (3200-2200 a.C.) mãos do imperialismo romano, em 30 a.C.
A história do Egito começa quando as populações que vi-
viam às margens do Nilo tornam-se comunidades dedica- Sociedade e Economia
das mais à agricultura do que à caça ou à pesca. No quarto
A agricultura de regadio era a principal atividade eco-
milênio antes de Cristo, evoluem para pequenas unidades
nômica no Egito Antigo. Estava diretamente ligada às
políticas, chamadas nomos. Formaram-se dois reinos, um
obras hidráulicas que tornavam possível o controle das
ao norte e outro ao sul. Por volta de 3200 a.C., o faraó
Menés (ou Narmer) unificou os reinos, com capital em Tínis, águas do Nilo.
daí o período até 2800 a.C. chamar-se Tinita. A economia egípcia pode ser enquadradada no modo
Os sucessores de Menés organizaram uma monarquia de produção asiático, em que coexistiam comunida-
poderosa e de maior prosperidade do Antigo Império. des caracterizadas pela propriedade coletiva do solo e
Entre 2700 e 2600 a.C., foram construídas as célebres organizadas sobre as relações de parentesco, com um
pirâmides de Gizé, atribuídas aos faraós Quéops, Qué- poder estatal que representava a unidade verdadeira ou
fren e Miquerinos, da terceira dinastia, fundada por Djo- aparente de tais comunidades.
ser em cerca de 2850 a.C. , com a nova capital era Mênfis. O Estado organizava as atividades produtivas por meio
de uma rígida estrutura repressiva. A população campone-
Império Médio (2000-1750 a.C.) sa pagava impostos em produto ou em trabalho, numa
Entre 1800 e 1700 a.C., chegam os hebreus, mas são os estrutura denominada servidão coletiva.
hicsos, vindos da Ásia, que criam as maiores dificulda- O governo do Egito antigo era teocrático. O faraó era con-
des. Trazem cavalos e carros de combate, que os egípcios siderado filho de Amon-Rá, o deus Sol, e encarnação
desconhecem. Dominaram a região e instalaram-se no de Hórus, simbolizado pelo falcão. A nobreza era formada
delta de 1750 a 1580 a.C. pelos parentes do faraó, altos funcionários do palácio, oficiais
do exército, chefes administrativos e sacerdotes.
Império Novo (1580-1085 a.C.) Camponeses e artesãos eram a camada inferior da socieda-
Depois da expulsão dos hicsos, a nova fase, de enorme desen- de, mas deles dependia a prosperidade do país. Recebiam
volvimento militar, transformou o Egito em potência imperia- míseros pagamentos em forma de produtos, moravam em
lista. O Novo Império marca o apogeu da civilização egípcia. cabanas, vestiam-se pobremente e comiam pouco. Aquilo
No reinado de Tutmés III (1480-1448 a.C.), o império que poupavam, guardavam para o funeral, para garantir
atingiu sua maior expansão territorial, ampliando-se até o uma vida melhor após a morte.
rio Eufrates, na Mesopotâmia.
Marido da rainha Nefertiti, Amenófis IV empreendeu Cultura e religião
uma revolução religiosa, provavelmente para anular o Os egípcios eram politeístas, ou seja, adoravam vários deu-
poder e a autoridade da camada sacerdotal, instituindo ses. Antropozoomórficos esse deuses apresentavam forma

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de homem e animal. As principais divindades eram: Osíris, Primeiro Império Babilônico
Amon-Rá, Isis, Hórus, Ápis e Anúbis. (1800-1600 a.C.)
Para os egípcios, a morte apenas separava o corpo da alma. Hamurábi foi um dos primeiros reis babilônicos (1728-
Por isso, era preciso conservar o corpo. Com essa finalidade, 1686 a.C.). Ampliou o Império e foi sobretudo um legis-
os egípcios desenvolveram técnicas de mumificação. lador, responsável pelo primeiro código de leis que se
conhece: o Código de Hamurábi.
Ciência e arte
Império Assírio (1875-612 a.C.)
Com origem por volta de 1800 a.C., o Império Assírio teve
seu período de maior expansão entre 883 e 612 a.C., con-
quistando a Síria e o Egito. O Império Assírio chegou ao
fim com a invasão e o domínio dos medos.

Novo Império ou Segundo


Império Babilônico
PIRÂMIDES DE QUÉOPS, QUEFREN E MIQUERINOS
(612-539 a.C.)
Nabucodonosor (605 a 563 a.C.) tomou Jerusalém em
A arquitetura egípcia é reconhecida pelos seus templos,
587 a.C., levou numerosos israelitas cativos para a Babi-
as pirâmides, as mastabas e os hipogeus.
lônia), conquistou a Síria, a Fenícia e construiu grandiosas
Seus escritores se inspiravam em temas morais, poéticos ou obras, como os Jardins Suspensos da Babilônia e a Torre de
religiosos, como o Texto das Pirâmides e o Livro dos Mortos. Babel. O Segundo Império Babilônico foi tomado por Ciro
Tinham três tipos de escrita. Uma sagrada, em túmulos e em 539 a.C.
templos, a hieroglífica; uma versão mais simplificada, a
hierática, em documentos administrativos; e a demócri- Cultura e religião
ta, mais popular.
Estado teocrático, a religião mesopotâmica tinha cará-

MESOPOTÂMIA ter politeísta.


A escrita era em forma de cunha (cuneiforme). Na literatura,
Mesopotâmia (atual Iraque), é uma palavra de origem grega as principais obras foram o Poema da Criação e a Epopeia
que significa “terra entre rios”. Localizava-se numa exten- de Gilgamesh. Também avançaram em Matemática, criando
sa faixa de terra conhecida como Crescente Fértil, entre tábuas de multiplicação e divisão. Na astronomia, desenvol-
os rios Tigre e Eufrates veram um calendário baseado nos ciclos da Lua. A arquite-
tura se destacou pela construção de palácios e zigurates.
A Mesopotâmia era formada por cidades-Estado com au-
tonomia religiosa, política e econômica e governadas por
um sacerdote.
HEBREUS
A Palestina, localizada no Oriente Próximo, era formada
Sua cidade mais famosa foi Acad, que deu origem ao termo
pelo vale do rio Jordão, as áridas terras da Judeia e a
acádios. Estes estabeleceram uma organização centralizada
planície costeira. Inicialmente habitada por cananeus,
em seu Império, afastando a influência dos sacerdotes. Por filisteus e arameus, foi povoada por volta de 2000 a.C.
volta de 2330 a.C., o rei semita Sargão unificou as cidades pelos hebreus, povo de origem semita.
sumérias, criando o Primeiro Império Mesopotâmico.
Segundo a Bíblia, Abraão foi o primeiro patriarca, tendo
conduzido seu povo à terra prometida por Deus, Canaã,
Sociedade e economia ou Palestina. De seu neto, Jacó, originaram-se as 12 tribos
Marcadas pela agricultura de regadio e pela servidão de Israel.
coletiva, várias civilizações mesopotâmicas inseriram-se Por volta de 1800 a.C., as secas obrigaram os hebreus a
no chamado modo de produção asiático. A estrutura social emigrarem para o Egito. Os hebreus deixaram o Egito rumo
mesopotâmica assemelhava-se à egípcia à Palestina por volta de 1250 a.C.

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A luta pela reconquista da Palestina desencadeou um pro-
cesso de unificação das tribos hebraicas e centralização polí-
Sociedade e economia
tica, cujo desfecho foi a fundação do reino de Israel. Na Fenícia, a agricultura cedeu lugar ao comércio, à pesca
e a um rico artesanato. As vastas florestas de cedros e
As relações comerciais com a Fenícia foram intensificadas. os bons portos naturais favoreceram a atividade marítimo-
A morte do rei Salomão, em 933 a.C., desencadeou uma -comercial. Isso fez dos fenícios os principais navegantes
crise política conhecida como o cisma hebraico, resul- e comerciantes da antiguidade. Era uma sociedade de
tando na divisão do reino em duas partes: o Reino de Judá castas constituída por sacerdotes, aristocratas, comerciantes,
(duas tribos), situado ao sul, e o Reino de Israel (dez tri- homens livres e escravos.
bos), localizado no norte. Em 722 a.C., o Reino de Israel
A Fenícia não constituiu um Estado unificado com um go-
foi conquistado por Sargão II e transformado em província
verno centralizado. Agrupavam-se em cidades-Estado,
do Império Assírio. O Reino de Judá foi conquistado por
de governo autônomo e soberano.
Nabucodonosor em 587 a.C. O Templo de Jerusalém foi
destruído e os hebreus foram levados como escravos para
a Babilônia (Cativeiro da Babilônia). Cultura e religião
Em 539 a.C. termina o Cativeiro da Babilônia. Os he- A religião era politeísta, de divindades associadas às forças
breus retornam à Palestina, reconstroem o Templo de da natureza. A principal contribuição dos fenícios foi a in-
Jerusalém e se tornam parte do Império Persa. Situados venção do alfabeto fonético. Criaram 22 sinais dos sons
nos territórios da antiga tribo de Judá, os habitantes das palavras. Com as vogais, tornou-se o alfabeto grego.
dessa região passaram a ser chamados de judeus.
Os judeus foram dominados por vários povos. Em 63 a.C.,
a Palestina foi conquistada por Pompeu e transformada em
IMPÉRIO PERSA
província do Império Romano. Em 70 d.C., os judeus se Dois grupos arianos ocuparam o Irã a partir de 2000 a.C.,
rebelaram contra o domínio dos romanos, que destruíram os medos e os persas. Tornaram-se pequenos reinos rivais
Jerusalém, inclusive o Templo, e expulsaram os judeus da no século VIII a.C.. No século VI a.C., Ciro I, rei dos persas,
Palestina. A dispersão dos judeus pelo mundo ficou conhe- conquistou o Reino da Média, provocando a unificação po-
cida como Diáspora. lítica dos povos do Planalto Iraniano em 550 a.C.

Sociedade e economia Sociedade e Economia


A economia era predominantemente agropastoril. Duran- Ocorreu um rápido expansionismo territorial durante o go-
te o Período dos Reis, a terra ficou concentrada nas mãos verno de Ciro I (559-529 a.C.). O dárico, moeda-padrão
da aristocracia ligada ao Estado. Camponeses, pastores e cunhada em ouro e prata, facilitou a integração econômica
uma pequena parcela de escravos estavam subordinados das regiões e dos povos do império.
a essa aristocracia. A rede de estradas reais, o dárico e a padronização dos pesos
e medidas possibilitaram o desenvolvimento das ativi-
Cultura e religião dades comerciais.
No Direito, os hebreus produziram o Código Deuteronômio, A elite persa era composta pelo imperador e sua família e
e sua literatura está contida no Antigo Testamento. Constitu- por altos burocratas, comandantes militares e sacerdotes.
íram a única civilização monoteísta da antiguidade orien- A massa da população era sujeita ao trabalho compulsório
tal. Vale dizer que o monoteísmo judaico exerceu grande nos sistemas de regadio e/ou nas obras públicas, e ainda
influência sobre o cristianismo e o islamismo. tinha que pagar uma pesada tributação.

FENÍCIOS Cultura e religião


OIs persas desenvolveram uma arquitetura monumental. Ti-
Os fenícios nham uma religião dualista, em que o deus do bem, Ahura-
A estreita faixa de terra entre as montanhas e o mar -Mazda (ou Ormuz), opunha-se ao deus do mal, Arimã. E fun-
Mediterrâneo, atualmente região do Líbano, começou damentava-se na crença do Juízo Final, onde o bem triunfaria
a ser ocupada por povos de origem semita por volta de sobre o mal, descritos no livro sagrado Zend Avesta, escrito
3000 a.C. pelo lendário Zoroastro ou Zaratustra.

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GRÉCIA

GEOGRAFIA O nome “homérico” é baseado em dois poemas épicos atri-


buídos a Homero: a Ilíada e a Odisseia.
O território grego era composto por duas regiões distintas: a Depois do século XII a.C., a célula básica da sociedade
parte continental, ao sul da península dos Balcãs, e a Grécia grega era o genos (comunidade gentílica), uma grande fa-
insular, que ocupava as ilhas do mar Egeu e a costa da Ásia mília. Os descendentes de um mesmo antepassado viviam
Menor. Com a expansão colonial, ela ocupou também a cos- no mesmo lar. Cada membro (gens) dependia da unidade
ta egeia da Ásia Menor e o sul da península Itálica. da família, cujo chefe era o páter-famílias. Seu poder era
passado para o filho mais velho.
Período Pré-homérico A sociedade era igualitária e sem classes sociais. Os meios
(2000-1200 a.C.) de produção e o resultado da produção pertenciam à comu-
nidade. A falta de terras férteis e o crescimento demográfico
De origem indo-europeias, os gregos ou helenos chegaram levou as comunidades gentílicas a lutas internas e desagre-
à Grécia em cerca de 2000 a.C. gação. Era o fim do Período Homérico.
Antes deles, os aqueus já ocupavam as melhores terras. Os Os gregos passaram do sistema de propriedade coletiva para
aqueus formaram os núcleos urbanos de Micenas, Tirinto e o de propriedade privada. Os parentes mais próximos do pa-
Argos. Os habitantes de Micenas integraram sua cultura à ter, os eupátridas, ficaram com as áreas mais férteis; aos seus
dos cretenses, cuja civilização era bastante avançada, o que parentes mais distantes, os georgóis (agricultores) destirna-
deu origem à civilização creto-micênica. ram as restantes. Os denominados thetas (marginais) fica-
ram sem terra. Uma parte deles se dedicou ao comércio e ao
Com a chegada de novos grupos indo-europeus, os jônios e artesanato. Os demais deixaram a Grécia e fundaram colô-
os eólios, por volta de 1700 a.C., os núcleos arianos instala- nias nos mares Negro e Mediterrâneo, processo conhecido
dos na Grécia foram fortalecidos. Os troianos, outra impor- como Segunda Diáspora Grega (século VIII a.C.).
tante civilização pré-helênica, desenvolveram-se ao norte da
Foram os eupátridas que originaram a aristocracia grega,
Anatólia. Troia tinha uma população aparentada com os pri-
cujo poder resultava da posse de terra. Eles uniam-se em
meiros gregos, e foi erguida por volta de 1900 a.C. No início
irmandades, as frantrias, que se uniam em tribos. Da reu-
do século XII a.C., os gregos destruíram Troia. nião de seus vilarejos surgiu a organização política da
Os dórios, último grupo de povos arianos a penetrar na antiga Grécia: a cidade-Estado (pólis).
Grécia, chegaram enquanto a civilização micênica se ex-
pandia em direção à Ásia. Aguerridos, nômades e conhe- Período Arcaico (séc. VIII-VI a.C.)
cedores de armas de ferro, os dórios arrasaram as cidades
gregas, causando fugas para o interior e para o exterior. A evolução e consolidação das cidades-Estado foi o que
Numerosas colônias gregas formaram-se na costa da Ásia marcou o Período Arcaico grego. Isoladas geograficamente,
Menor e nas ilhas do mar Egeu. Essa foi a Primeira evoluíram de modos distintos, gerando modelos por vezes
Diáspora Grega. antagônicos e rivais.

Período Homérico (séc. XII-VIII a.C.) Esparta, a cidade-estado militarista.


Esparta foi uma das primeiras cidades-Estado gregas, fun-
dada pelos invasores dórios no século IX a.C. Sem saída
para o mar e isolada pelas montanhas, Esparta era uma
cidade-estado avessa a influências externas.
A sociedade espartana se dividida em: espartanos
ou esparciatas, a camada dominante; periecos, agri-
cultores livres, dedicavam-se também ao artesanato e
ao comércio; hilotas, a camada mais baixa da socieda-
de espartana, servos pertencentes ao Estado e à dispo-
sição dos esparciatas para o cultivo da terra.

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Política Em 507 a.C., ocorreu uma insurreição do partido popular
(demos) e a ascensão de Clístenes ao governo de Atenas.
A economia e sociedade imobilistas explicam o governo
espartano menos progressista e mais conservador.
A democracia ateniense
Apenas uma minoria de cidadãos, os esparciatas, par-
ticipava do governo oligárquico, os homoioi (iguais). Clístenes, apesar de sua origem aristocrática, traçou um
Seu objetivo fundamental era conservar o status quo, governo baseado na isonomia, a igualdade dos cidadãos
a situação vigente de privilégios da aristocracia e de perante a lei. A primeira medida foi a divisão da popula-
dominação sobre os escravos. ção da Ática em três zonas: o litoral (parália), o interior
(mesógia) e a cidade (ásty). Cada uma dessas zonas foi
Esparta regrediu culturalmente com as mudanças es-
dividida em dez unidades. Da reunião das unidades de
truturais do século VII a.C. O governo passou a esti-
cada zona formou-se uma tribo, totalizando dez tribos. A
mular o laconismo: falar tudo em poucas palavras,
o que limitava a capacidade de raciocínio e o espírito menor unidade de divisão eram as demos, base desse sis-
crítico dos falantes. tema de governo, razão pela qual a reforma de Clístenes
ficou conhecida pelo nome de democracia.
Rigidamente militarista, a educação dos esparciatas con-
tribuía significativamente para a manutenção dessa es-
trutura política e social fechada. Aos sete anos de idade, Período Clássico (séc. V e IV a.C.)
os meninos eram entregues aos cuidados do Estado para Período de hegemonias e imperialismo no mundo grego.
que tivessem uma rígida educação militar. Dos dezoito Atenas foi a primeira potência dominante, seguida por Es-
aos sessenta anos, serviam no exército. Só depois dos parta e Tebas. A vitória dos gregos nas guerras médi-
trinta anos, quando então recebiam seu lote de terra e cas ou pérsicas projetaram a hegemonia ateniense até a
passavam a ser cidadãos, poderiam casar.
Guerra do Peloponeso. Filipe II anexou o mundo grego ao
A fim de evitar mudanças radicais e de garantir o domí- Reino da Macedônia e, na fase seguinte, ao Império Helê-
nio da minoria dória sobre a maioria escrava, Esparta nico de Alexandre Magno.
permaneceu nesse sistema até o século IV a.C.
A hegemonia de Atenas (443-429 a.C.)
A cidade-estado democrática, Atenas. Atenas alcançou seu apogeu sob o governo de Péricles.
Atenas foi fundada numa planície, a Ática, uma península O controle do mar Egeu, o comando da Confederação de
do mar Egeu. Os atenienses se consideravam originários Delos e a prosperidade econômica contribuíram para o
dos povos aqueus, eólios e jônios. fortalecimento do partido democrático formado pelos ricos
comerciantes e armadores. Sob a direção desse partido,
A economia de Atenas, no século VIII a.C., era ainda essen-
Atenas desenvolveu, ao mesmo tempo, uma política de-
cialmente rural. Mas atividades artesanais e comerciais já
mocrática e imperialista.
ultrapassavam os limites da Ática. A proximidade de Ate-
nas do mar Egeu abriu-a a influências externas, facilitou
sua participação no movimento de colonização e transfor-
mou-a numa pólis de navegadores e comerciantes.
Os eupátridas, grandes proprietários de terras, eram a
camada social dominante. Os georgois eram agriculto-
res donos de terras pouco férteis perto das montanhas. Os
thetas eram os marginalizados (recebiam menos de 200
medimnos por ano).
Na região litorânea, concentravam-se os artesãos (demiur-
gos), trabalhadores livres. Cerca de 100 mil estrangeiros
residiam em Atenas, os metecos, dedicados ao artesanato PARTENON
e ao comércio. A maioria da população de Atenas era de es-
cravos, que desempenhavam todas as atividades manuais. A Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.)
A primeira forma de governo de Atenas foi a monarquia ou A Grécia foi assolada por uma terrível guerra, envolvendo
realeza. No século VII a. C. ocorreu a substituição da realeza todas as cidades-Estado gregas. A disputa era entre a Liga
pelo arcontado, órgão de caráter executivo. Assim o regime do Peloponeso, liderada por Esparta, e a Confederação de
de governo passou de monárquico para oligárquico. Delos, por Atenas.

78
Essa disputa entre as duas pólis foi se tornando tão acir- Atenas abrigou alguns dos maiores pensadores e artistas
rada que desembocou em um conflito de grandes propor- que a humanidade conheceu.
ções. No final do conflito, do qual Esparta saiu vencedora, a A filosofia grega divide-se em antes e depois de Sócrates.
Grécia se encontrava materialmente arrasada, com grande Foram pré-socráticos: Tales de Mileto (fim do século VII-in-
diminuição de sua população masculina mais jovem e en- ício do século VI a.C.); Pitágoras (582-497 a.C.); Demócri-
fraquecida militarmente. Esparta, assim como Atenas, ado- to (460-370 a.C.); Heráclito (535-475 a.C.); e Parmênides
tou uma política imperialista. (540-? a.C.). No tempo de Sócrates, predominava a escola
dos sofistas, que se serviam da reflexão para atingir fins
Período Helenístico (séc. IV-I a.C.) imediatos, ainda que por falsos argumentos. O maior dos
sofistas foi Protágoras.
No século IV a.C., Filipe apoderou-se da Grécia. Conhece-
dor do individualismo das cidades-Estado e de muita astúcia Sócrates (470-399 a.C.) – fundou a filosofia humanista.
política, respeitou-lhes a autonomia. Assim, foi proclamado Platão (427-347 a.C.) – principal discípulo de Sócrates,
hegemon (líder), com o direito de chefiar uma liga contra os fundou a Academia de Atenas.
persas, a Liga de Corinto.
Aristóteles (384-322 a.C) – considerado por muitos o
Filho de Filipe II, Alexandre Magno assumiu o trono maior filósofo de todos os tempos, compreendeu todos os
com uma Macedônia organizada e bem armada pelo exér- conhecimentos de seu tempo: Lógica, Física, Metafísica,
cito, usou de violência e arrasou as cidades gregas, exceto Moral, Política, Retórica e Poética.
Atenas. Como líder supremo do helenismo, deveria libertar
Marcada pela harmonia, a simplicidade, o equilíbrio e uma
as cidades da Ásia e levar os gregos à vingança contra os
decoração perfeitamente adaptada ao conjunto, a arte
persas. Alexandre rumou para a Ásia com 40 mil homens, 12
grega era religiosa e manifestada em templos e esculturas
mil dos quais na infantaria, o forte de seu exército.
representando deuses e passagens mitológicas.
Recusou o acordo de paz oferecido por Dario III, derrotou-o
em pleno centro do Império Persa em 331 a.C. Já impera-
dor persa, avançou para a Índia, percorreu a região do rio
Indo e só não chegou ao Ganges porque os soldados recu-
saram-se ir com ele. Aos 33 anos, morreu na Babilônia em
323 a.C., deixando um dos mais vastos impérios já criados.

CULTURA E RELIGIÃO
Os gregos eram politeísta: cultuavam grandes deuses, que
habitavam o Olimpo, e os heróis, homens que praticaram
ações extraordinárias e se igualavam aos deuses. Mito-
logia é o conjunto dos mitos, as lendas que contam as
aventuras de deuses e heróis.

A arquitetura grega desenvolveu três estilos: o dórico, mais


antigo, era simples e despojado; o jônico, leve e flexível; o
coríntio, mais recente, era complexo e rebuscado.
A Acrópole é um de seus monumentos mais belos. O es-
plendor da arte grega ainda pode ser admirado nas ruínas
do Partenon e na Acrópole de Atenas.
A Matemática de Euclides e os teoremas de Tales e Arqui-
medes foram incorporados ao patrimônio cultural da hu-
manidade. Hipócrates, o mais ilustre médico da Antiguida-
de, impulsionou o conhecimento do corpo humano.
Atenas e seu regime democrático serviu de exemplo para
ESTÁTUA DE POSEIDON - O DEUS DOS MARES - EM HUA HIN, TAILÂNDIA. todos os povos.

79
ROMA: MONARQUIA E REPÚBLICA

ORIGENS Roma teve sete reis, dos quais os quatro primeiros foram
latinos, e os três últimos, etruscos, de acordo com a tradição
Acredita-se que Roma tenha sido fundada por latinos em lendária. Durante o período de reinado etrusco, houve uma
fuga das invasões etruscas. Roma era um pequeno povo- série de tentativas dos reis de limitarem o poder patrício ao
ado na península Itálica influenciado por diversos povos. se aliarem a setores populares. Tarquínio, o Antigo (616-578
a.C.), iniciou a construção de grandes obras públicas. Sérvio
O poeta Virgílio, em sua obra Eneida, leva a crer na mítica
Túlio (578-534 a.C.) edificou a primeira muralha de Roma e
fundação de Roma por Rômulo e Remo, descendentes do
estabeleceu um regime censitário, dividindo a população em
guerreiro troiano Enéas.
cinco categorias sociais de acordo com sua renda.
Por fim, o terceiro rei etrusco, Tarquínio, o Soberbo, edificou
o Templo de Júpiter e construiu a Cloaca Máxima (sistema
de esgoto de Roma). Governou com o apoio dos plebeus
e latinos inimigos dos patrícios. Dessa forma, manteve os
patrícios praticamente fora do poder político decisório das
cidades. Em razão disso, os patrícios conspiraram e o der-
rubaram por meio de um golpe de Estado, no ano 509 a.C.

REPÚBLICA (SÉC. VI-I A.C.)


A LOBA CAPITOLINA REPRESENTA A LOBA DAS NARRATIVAS ROMANAS A queda da monarquia foi um ato reacionário dos patrícios,
SOBRE A FUNDAÇÃO DE ROMA.
que afastaram a realeza comprometida com as camadas

SOCIEDADE E ECONOMIA populares. O monopólio do poder passou ao patriciado, e a


plebe ficou à margem.
Em razão de sua terra de melhor riqueza e graças ao caráter
aristocrático de sua sociedade, Roma baseou sua economia
em atividades agropastoris. Grandes proprietários rurais,
os patrícios, formavam a camada social dominante. Os não
proprietários, clientes, prestavam serviços e beneficiavam-
-se da proteção de famílias patrícias. Estrangeiros, artesãos,
pastores, comerciantes e donos de pequenos lotes pouco
férteis eram os plebeus e não pertenciam a um clã.
Os escravos não possuíam grande peso na sociedade e
na economia romanas, pois ainda eram pouco numerosos.
Isso mudaria em consequência das guerras de expansão,
quando as conquistas externas transformaram a economia
romana num sistema de produção escravista. CÍCERO ACUSANDO CATILINA NO SENADO (AFRESCO
DE CESARE MACCARI, SÉCULO XIX)

MONARQUIA (SÉC. VIII-VI A.C.) O Senado era, sem dúvida, uma das mais importantes
instituições da República, pois praticamente detinha o po-
Da fundação de Roma até a implantação da República, exis- der, apesar das demais instituições. Era composto por 300
tiu um governo monárquico, em que o rei (rex) tinha função senadores de origem patrícia. Entre outras tarefas, cabia-
de chefe supremo, sumo sacerdote e juiz, poderes esses de -lhes eleger os magistrados, autorizar ou não a concessão
origem divina. A realeza apoiava-se no Imperium (comando das honras do triunfo aos generais vencedores, conduzir a
supremo) e no Auspicium (conhecimento da vontade divi- política externa, administrar as províncias, dar seu parecer
na). Os chefes das principais famílias patrícias assessoravam sobre a escolha de um ditador e zelar pela tradição e pela
o rei e compunham o Conselho de Anciãos e o Senado. religião, além de supervisionar as finanças públicas

80
Os mais altos magistrados eram os cônsules, respon-
sáveis pelo comando do exército e pelo controle da
Conquistas, a expansão romana
administração, além de exercer o Poder Executivo. Par- A dominação da península Itálica constitui a primeira fase
ticipavam das reuniões do Senado e propunham leis. das conquistas romanas. Inicialmente, dominaram as tribos
latinas próximas de Roma. A conquista da Campânia, em
Seriamente discriminados, os plebeus recebiam sempre a 290 a.C., região ameaçada pelos samnitas, abriu as portas
menor parte dos espólios de guerra; se precisassem contrair para a conquista das cidades gregas do sul da Itália. Poste-
empréstimos, não conseguiam pagar os juros; julgados por riormente, Roma subjugou o norte (Etrúria), cujos domínios
magistrados patrícios e com base em leis orais, os devedo- compreendiam a Itália central e parte da Itália setentrional.
res acabavam escravizados por dívida. Há indícios de cinco Os romanos demonstraram um talento notável para conver-
revoltas levadas a cabo pelos plebeus, entre 494 e 287 a.C. ter antigos inimigos em aliados e finalmente cidadãos roma-
ƒ Primeira revolta (494 a.C.) – a primeira greve de nos, ao estender seu domínio sobre a península Itálica.
caráter social da História, em razão da qual os patrí-
cios tiveram de conceder a criação dos tribunos da As guerras púnicas
plebe, magistrados que atuavam em defesa
dos direitos e interesses da plebe no Sena-
do. Em 471 a.C., os plebeus constituíram a Assem-
bleia da Plebe para eleger seus tribunos, o que
aumentou seu poder de veto e de ação.
ƒ Segunda revolta (450 a.C.) – os patrícios enviaram
representantes a Atenas para estudar as leis com a
promessa de resolver os problemas da plebe. O re-
sultado foi a criação do primeiro código de direito
escrito em Roma, a Lei das Doze Tábuas. A plebe
conseguiu que as leis votadas em sua Assembleia ti-
vessem validade, mesmo dependendo da aprovação
do cônsul ou do Senado. DISPONÍVEL EM: <HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/
GUERRAS_PÚNICAS>. ACESSO EM: 22 DEZ. 2015.
ƒ Terceira revolta (445 a.C.) – a Lei das Doze Tábuas
manteve a proibição de casamento entre patrícios e Roma travou longa guerra contra Cartago, outra grande
plebeus, o que levou os plebeus a se revoltarem pelo potência do Mediterrâneo ocidental, assim que consoli-
fim da proibição, conscientes de que os casamentos dou sua supremacia na Itália. Fundada em 800 a.C. pelos
mistos quebrariam a tradição patrícia de exercer o fenícios, a cidade norte-africana tornara-se um próspero
entreposto comercial. Um império que abrangia a África
poder com exclusividade. A reivindicação foi atendida
do Norte, as regiões do litoral meridional da Espanha, a
com a Lei Canuleia, mas apenas para os plebeus
Sardenha, a Córsega e a Sicília ocidental.
que tinham mais posses.
O confronto romano-cartaginês acabou se transformando
ƒ Quarta revolta (367-366 a.C.) – a pressão da plebe numa disputa pela hegemonia marítimo-comercial no Me-
resultou na Lei Licínia Sextia, promulgada pelo diterrâneo ocidental e desdobrou-se em três guerras púnicas.
senado romano, obrigando que, a cada ano, um dos
Em seguida, os romanos ocuparam a Espanha e a Gália do
dois cônsules fosse um plebeu. Mais tarde, em 326
sul, constituindo a província da Gália. A conquista da região
a.C., foi abolida a escravidão por dívidas por meio do Mediterrâneo Oriental foi completada por uma rápida
da Lei Papiria Poetelia. sucessão de campanhas militares. No fim do século I a.C.,
ƒ Quinta revolta (287-286 a.C.) – os plebeus conse- o Mediterrâneo havia se transformado num “lago romano”
guiram impor aos patrícios a validade das leis vota- (mare nostrum = nosso mar). Foram também conquistados
das na Assembleia da Plebe para todo o Estado: era os reinos do Ponto, Bitínia, Síria, Egito, Macedônia e Grécia.
a decisão da plebe ou plebiscito.
A preocupação com as leis levou os romanos a desen- A expansão romana e
volver minuciosamente o seu direito. Sendo adotado suas consequências
por vários outros povos europeus, o Direito Romano Com a expansão, o vasto comércio que se desenvolvia
mantém e conserva sua importância até os dias atuais. ocupava o lugar antes pertencente à atividade agrícola.

81
A concorrência com gêneros advindos das províncias Expansão romana
e do latifúndio patrício, cujo crescimento dependia da
Com a conquista do Mediterrâneo, foram criadas condi-
mão de obra escrava, levou ao desaparecimento da am-
ções para um grande desenvolvimento da manufatura e do
pla camada de pequenos proprietários.
comércio. A consequência dessa prosperidade econômica
Efeito direto da expansão, o crescimento da escravi- foi a formação de uma nova classe de comerciantes e mi-
dão esteve ligado à miséria da plebe, visto que gran- litares que enriqueceram com as guerras: os homens no-
de parte dos escravos era prisioneira de guerra. Mesmo vos ou cavaleiros. Ao mesmo tempo em que sua condi-
abolida a escravidão por dívida, denominada “nexo” na ção plebeia impunha-lhes uma situação de marginalização
Roma Antiga, ao plebeu endividado só restava entregar política, sua riqueza tornava-os naturalmente adversários
a terra ao patrício em troca da dívida. Paulatinamente, da oligarquia patrícia, fato que também representou um
Roma entrou em um processo de concentração fundiária, elemento a mais a conspirar contra a ordem republicana.
com as grandes propriedades patrícias transformadas em No rastro das conquistas romanas e da necessidade de
latifúndios voltados para a produção extensiva de expor- uma força militar mais eficiente, o exército romano pas-
tação, ideal para o trabalho escravo. sou por um processo de profissionalização, uma força
Um processo de êxodo rural, devido à miséria da plebe sem permanente cujos guerreiros recebiam o soldo para com-
terra e sem trabalho no campo, acabou concentrando em bater (origem do termo soldado). Uma força à margem
da estrutura republicana, que alimentou as ambições po-
Roma uma massa miserável, aumentando a tensão social
líticas dos generais.
e política. Com a finalidade de alienar essa multidão, cuja
potencialidade revolucionária era evidente, o Estado fornecia Novas lutas sociais assinalaram a crise da República,
pão, vinho e espetáculos (política do pão e circo). desencadeadas por essas transformações em Roma.

ROMA: CRISE DA REPÚBLICA E IMPÉRIO

CRISE NA REPÚBLICA sultou no massacre de seus seguidores. Foi morto por um


escravo, seguindo suas próprias ordens.
(133-27 A.C.) Mario e Sila, duas ditaduras
Alguns senadores, depois das transformações resultantes militares (107-79 a.C.)
da conquista do Mediterrâneo, concluíram que a estrutura
do Estado precisava de reformas. Uma das primeiras medi- A crise da República, agravada pelo fracasso das reformas
das, a votação secreta nas assembleias, permitiu a eleição propostas pelos irmãos Graco, mergulhou Roma numa
de magistrados bem-intencionados, os irmãos Tibério e sangrenta guerra civil, abrindo caminho para as ditadu-
Caio Graco. ras militares dos generais Mario e Sila. De origem plebeia,
Mario era o homem mais rico de Roma, um homem novo
Tibério Graco foi eleito tribuno da plebe e conseguiu a que, graças à sua riqueza, foi galgando postos dentro do
aprovação de uma lei agrária que limitava a extensão dos exército romano, no qual chegou a general. Mario foi eleito
latifúndios da aristocracia patrícia e autorizava a distribui- para o cargo de cônsul, já que dispunha de grande prestí-
ção de terras para os desempregados. Tibério Graco e mais gio entre as camadas populares.
de 300 partidários seus foram assassinados e lançados ao
rio Tibre por proprietários rurais que se opuseram-se à apli- Com o apoio do exército, Mario implantou uma ditadura
cação da lei agrária em 132 a.C. em Roma e, violando as leis, reelegeu-se seis vezes para o
consulado. Aumentou o poder dos cavaleiros e reduziu a
Caio Graco, irmão mais novo de Tibério, eleito tribuno da
autoridade do Senado.
plebe em 123 a.C, retomou e aplicou a lei de reforma agrá-
ria em Cápua e Tarento; permitiu aos cavaleiros o acesso Em 86 a.C, após a morte de Mario, o general Sila, aristocra-
aos tribunais que julgavam as finanças provinciais; prome- ta apoiado pelos patrícios e pelo Senado, assumiu o poder
teu a cidadania romana aos aliados itálicos e decretou a e proclamou-se ditador perpétuo de Roma. Líder da reação
Lei Frumentária, que determinava a venda de trigo a preços do partido aristocrático, Sila realizou uma violenta repres-
baixos aos plebeus. Reeleito em 122 a.C., mas derrotado são contra os cavaleiros e as camadas populares, restabe-
no ano seguinte, Caio tentou um golpe de Estado, que re- lecendo os privilégios da aristocracia patrícia e restaurando

82
a autoridade do Senado. A crise da República piorou com a César instigou a plebe contra o Senado a fim de se tor-
ditadura de Sila, que morreu em 79 a.C. nar rei, título que era sinônimo de traição depois que o
Senado abolira a monarquia. Sofrendo forte oposição
O primeiro triunvirato (60-48 a.C.) do Senado, que via nele uma clara ameaça graças a
sua ambição de instaurar uma monarquia hereditária,
em 44 a.C., Julio César foi assassinado por um grupo
de aristocratas liderados por Cássio e Bruto.

O segundo triunvirato (43-30 a.C.)


Marco Antônio sublevou o povo contra os assassinos de
César, que não tomaram o poder. Cícero aconselhou o
PRIMEIRO TRIUNVIRATO: (DA ESQUERDA PARA A DIREITA) Senado, que entregou o poder ao sobrinho e herdeiro de
POMPEU, JULIO CÉSAR E CRASSO César, Caio Otávio, que parecia não ter ambições políticas.
A República estava ainda ameaçada por comandantes mi- Os senadores tinham-no como um instrumento em suas
mãos. Otávio atacou Antônio em Módena para, em segui-
litares que se serviam das tropas em seu próprio interesse
da, aliar-se a ele e a Lépido, banqueiro que havia fornecido
político. O Senado não conseguiu impor efetivamente a au-
dinheiro para a guerra contra os assassinos de César. O
toridade que lhe fora restituída. Em 60 a.C., Julio César,
Segundo Triunvirato estava formado.
um político, Pompeu, um general, e Crasso, um abastado
banqueiro, compuseram um triunvirato para tomar o poder Em 40 a.C., os triúnviros dividiram novamente o Império
em Roma. pelo Acordo de Brindisi. A Itália foi considerada neutra. An-
tônio ficou com o Oriente; Lépido, com a África; e Otávio,
Pontífice Máximo, questor eleito pela assembleia do povo com o Ocidente.
e cônsul, Júlio César subiu depressa. Pompeu havia voltado
do Oriente, e o Senado desaprovara seu trabalho de reor- Otávio aumenta suas posses na África ao conseguir elimi-
ganizar as províncias orientais. O ambicioso Crasso fez uma nar Lépido do triunvirato, no ano 36 a.C.
aliança secreta com César e Pompeu a fim de tomar o poder
do Senado: nascia o primeiro triunvirato.
Em 55 a.C., Pompeu ficou com a Espanha; Crasso, com
as províncias no Oriente; e César, com a Gália (França
atual). Em 53 a.C., Crasso morreu combatendo os partas
na Síria, povo que reconstruiu o Império Persa. Sobreveio
uma crise agravada pela ação de bandos armados que
espalhavam o terror em Roma. Contra as ambições polí- SEGUNDO TRIUNVIRATO: (DA ESQUERDA PARA A DIREITA)
ticas de César, em 49 a.C., o Senado confiou a Pompeu a MARCO EMÍLIO LÉPIDO, MARCO ANTÔNIO E OCTAVIO AUGUST
defesa da República. Para garantir a fidelidade de Antônio, Otávio tinha arran-
Julio César entrou em Roma à frente de seus exércitos, jado o casamento dele com sua irmã, Otávia. Porém, An-
pronunciando a famosa frase Alea jacta est, (A sorte está tônio separou-se de Otávia em 36 a.C. para se casar com
Cleópatra. Deixou sua herança para ela, nomeada também
lançada), configurando um inegável golpe de Estado. Aba-
regente do filho que tivera com César, a quem Antônio con-
lado com o prestígio popular de César, Pompeu fugiu para
siderava igualmente herdeiro, Cesarion.
a Grécia, onde foi derrotado em 48 a.C.
Revoltado, Otávio partiu para combater Antônio. Em Ácio,
perto da Grécia, Antônio foi derrotado e fugiu com Cleópa-
A ditadura de César (48-44 a.C.) tra para o Egito. Antônio e Cleópatra se suicidaram.
O Senado concedia cada vez mais títulos a César. Tais po-
O Egito era considerado por Otávio sua conquista pessoal.
deres permitiram numerosas reformas. César acabou com
Apoderou-se do tesouro dos faraós, acumulado durante
a guerra civil, começou a construção de obras públicas e
milênios, e, com essa fortuna, organizou 70 legiões, o que
pôs as finanças em ordem.
o tornou indestrutível. Otávio voltou à Roma triunfante, re-
Tentou unificar o mundo romano, chegou a elevar gauleses cebido como um deus. Otávio ganhou o controle das duas
ao Senado. Nomeava pessoalmente os governadores e maiores fontes de poder: o exército e a plebe romana. Surgia
mantinha-os sob controle, para evitar que espoliassem o imperator, uma nova forma de governo exercido pelo co-
as províncias. mandante do exército.

83
Em 27 a.C., Otávio recebeu o título de Augusto (escolhi- O cristianismo
do dos deuses), fato que marcou o fim da República e o
início do principado, inaugurando o culto ao imperador. Sob controle romano desde 64 a.C., a região da Palestina
foi o local do surgimento do cristianismo, uma dissidên-
cia do judaísmo.
O IMPÉRIO ROMANO O cristianismo se fundamenta nas pregações de Jesus, que
(27 A.C.-476 D.C.) se dizia o Messias, isto é, o Filho de Deus. A crença na exis-
tência de um só Deus, que enviou à Terra seu filho para
redimir os homens, era o princípio fundamental do cristia-
O Alto Império (27 a.C.-235 d.C.) nismo. Foram os discípulos de Jesus, os apóstolos, que
difundiram a nova religião pelo mundo romano.
O Império Romano se dividiu em duas fases: o Alto Impé-
rio e o Baixo Império. A primeira fase assinalou o apogeu No século I da Era Cristã, durante a Dinastia Júlio-Claudia-
do Império Romano. A segunda marcou o declínio do Im- na, começou a perseguição aos cristãos, que, crentes na
pério Romano e sua destruição pelas invasões germâni- existência de um único Deus, recusavam-se a reconhecer
cas. A cidade de Roma chegou a possuir uma população os deuses oficiais do politeísmo romano e negavam-se a
de 1,2 milhão de habitantes, e o império abrangia uma prestar culto ao imperador. Além disso, graças a sua mensa-
área de 5 milhões de km2 em seu auge. gem redentora, o cristianismo obteve enorme sucesso entre
os excluídos da sociedade romana, o que lhe rendeu um
O governo de Augusto (27-14 a.C.) caráter subversivo.

Otávio Augusto, durante seu governo, assumiu o controle


das principais magistraturas, concentrando mais poderes O Baixo Império (284-476)
ainda em suas mãos. Foi reconhecido como Princeps Sena- Em 313, Constantino (313-337) promulgou o Édito de
tus, ou seja, o líder do Senado (razão pela qual seu governo Milão, concedendo liberdade religiosa aos cristãos. Em
também ficou conhecido como principado). Como impera- 330, fundou uma nova capital, Constantinopla, no local da
dor, assumiu o comando supremo do exército. antiga colônia grega de Bizâncio.
A política do pão e circo foi a forma que Augusto encon- Em 391, Teodósio (379-395) transformou o Cristianismo
trou de apaziguar a plebe romana, distribuindo alimentos gra- em religião oficial do Império Romano pelo Édito de
tuitamente e realizando monumentais espetáculos públicos. Tessalônica. Em 395, dividiu o império em duas unidades
Otávio Augusto inaugurou o que os romanos chamavam de político-administrativas: o Império Romano do Ocidente e
pax romana, período esse em que as províncias romanas o Império Romano do Oriente.
foram pacificadas, estradas foram construídas, portos foram Os bárbaros esfacelaram o Império do Ocidente ao lon-
reformados e pântanos foram drenados. Os aquedutos le- go do século V. Os visigodos saquearam Roma em 410, os
vavam água fresca para grandes parcelas da população ro- vândalos, em 455, e, em 476, os hérulos depuseram Rômu-
mana e o sistema de esgoto eficaz melhorou a qualidade lo Augústulo, o último imperador.
de vida. Na política externa, as guerras de conquista foram
substituídas pela política de consolidação das fronteiras. O Império Romano e a crise
Em14 d.C., Otávio morreu, e recebeu a apoteose, isto é, o O Império Romano começou a declinar a partir do século
direito de ter um lugar entre os deuses. III. Entre inúmeras razões, destaca-se a crise do escra-
Dinastias que governaram Roma durante o Alto Império: a vismo. Desde o final do século II, as guerras de conquista
praticamente cessaram, fato que diminuiu muito o nú-
Dinastia Julio-Claudiana (Tibério, Calígula, Cláudio e Nero)
mero de escravos à venda. Com isso, o preço deles foi
estava ligada à aristocracia patrícia romana; a Dinastia
ficando cada vez mais alto. Os proprietários começaram
Flávia (Vespasiano, Tito e Domiciano) ascendeu ao poder
a arrendar partes das suas terras a trabalhadores livres
pelo exército e estava associada aos grandes comercian- denominados colonos. A partir do momento em que os
tes da Itália central; a Dinastia Antonina (Nerva, Trajano, colonos ganhavam o direito de cultivar a terra, eram
Adriano, Antonino Pio, Marco Aurélio e Cômodo) ligava-se obrigados a ceder parte de sua colheita para o senhor
às famílias italianas estabelecidas na Espanha e na Gália e a trabalhar, gratuitamente, alguns dias da semana nas
(o governo dessa dinastia marcou o apogeu do Império plantações do senhorio. Esse novo sistema de trabalho
Romano); a Dinastia Severa (Sétimo Severo, Caracala, He- foi denominado colonato. A diminuição da produção e
liogábalo e Severo Alexandre) assinalou a transição do Alto o declínio do comércio foram resultantes da crise do es-
para o Baixo Império. cravismo e do advento do colonato.

84
O desequilíbrio entre a arrecadação fiscal do Estado e sua e Plutarco. As grandes obras da arquitetura romana foram
despesa com a manutenção do aparelho administrativo e o Panteon e o Coliseu. Na filosofia, o epicurismo de Lu-
militar foram a origem da crise financeira. A falta de crécio e o estoicismo de Sêneca, Epiteto e Marco Aurélio
gêneros alimentícios e a inflação provocaram o êxodo deixaram legado. Gaio, Ulpiano e Paulo foram os maiores
urbano e o despovoamento das cidades. jurisconsultos romanos.
De 235 a 285, grassaram os motins militares e guerras Os etruscos deixaram muitos legados para os romanos,
civis, e muitos imperadores foram assassinados. Ao mes- mas o maior foi o uso do arco e da abóbada nas cons-
mo tempo em que desmoronavam os pilares internos truções. Esses elementos arquitetônicos permitiram aos ro-
do império, nas fronteiras do Reno, do Danúbio e do
manos criar amplos espaços internos. Assim, nos edifícios
Eufrates, as contínuas pressões externas abriam novas
destinados à apresentação de espetáculos – os anfitea-
brechas no dispositivo de defesa militar provocadas pe-
tros – os construtores romanos, usando filas sobrepostas
las invasões bárbaras.
de arcos, obtiveram apoio para construir o local destinado
Descendentes dos indo-europeus ou arianos, os povos ao público. Isso pode ser observado no mais belo dos anfi-
bárbaros germânicos habitavam os territórios da Europa teatros romanos: o Coliseu.
Centro-Oriental. Enfraquecido por uma crise mais agu-
da, o Império Romano do Ocidente foi destruído pelas
invasões germânicas. Sob o impacto delas, o Império
fragmentou-se e seus territórios foram ocupados por dife-
rentes povos germânicos, que neles fundaram os Reinos
Bárbaros da Idade Média.

A CULTURA VINDA DE ROMA


A cultura grega influenciou a cultura desenvolvida pelos ro-
manos. Na religião politeísta, os deuses romanos tinham por
modelo os deuses gregos. A literatura romana teve grandes
nomes: Cícero, Virgílio (Eneida), Horácio, Ovídio, Tito Lívio COLISEU

IMPÉRIO BIZANTINO E CIVILIZAÇÃO MUÇULMANA

IMPÉRIO BIZANTINO O comércio proporcionou o enriquecimento de Bizâncio,


que se tornou a maior metrópole do Oriente. Centro de
A morte do imperador Teodósio, em 395 d.C., determi- importantes rotas comerciais, a cidade passou a controlar o
nou o fim da unidade do Império Romano, que foi divi- intercâmbio de produtos entre o mar Mediterrâneo e o mar
dido entre os seus filhos em duas partes: o Império Ro- Negro. No setor agrícola, predominavam os latifúndios. A
mano do Ocidente e o Império Romano do Oriente, com Igreja concentrava em suas mãos uma ampla porcentagem
sede em Constantinopla, antiga Bizâncio. Dessa forma, da riqueza agrária, tornando os mosteiros as entidades
mais ricas do império.
o Império Romano do Oriente se consolidou como Im-
pério Bizantino. A sociedade era urbanizada. Banqueiros, mercadores, ma-
nufatureiros e grandes proprietários de terras constituíam
uma elite extremamente enriquecida. Nas camadas inter-
Economia e sociedade mediárias estavam os trabalhadores urbanos do comércio
A região oriental, dotada de estruturas econômica, política e e das manufaturas. No campo, predominavam os servos,
administrativas mais sólidas, teve mais capacidade de absorver proibidos de saírem das terras onde nasceram. Os escravos
a crise do Império Romano. Sua agricultura sofreu um peque- realizavam trabalhos domésticos.
no declínio, mas a manufatura e o comércio mantiveram-se O Estado beneficiou-se do enriquecimento proporciona-
articulados. As levas bárbaras do Oriente chegaram a ocupar do pelo comércio, possibilitando seu fortalecimento como
algumas províncias, mas Constantinopla conseguiu manter uma monarquia centralizada, despótica, teocrática e here-
sua autoridade. ditária. O imperador tinha grandes poderes políticos, além

85
de ser o chefe do Exército e da Igreja, com direito de intervir do Oriente levou à formação de duas igrejas distintas:
nos assuntos eclesiásticos (cesaropapismo). a Igreja Católica Apostólica Romana, dirigida pelo
Papa, e a Igreja Cristã Ortodoxa, liderada pelo Patriar-
O auge do império: Justiniano ca de Constantinopla.
(527-565 d.C.)
O principal imperador bizantino foi Justiniano (527-565).
Durante seu governo, o poder imperial atingiu seu auge.
Os gastos militares forçaram a elevação dos impostos a
níveis insuportáveis. As pressões da arrecadação desenca-
dearam, em 532, um violento levante conhecido por Re-
volta de Nika, que foi duramente reprimida por Justiniano.
A publicação do Corpus Juris Civilis ou Código de
Justiniano, que serviu de referência para códigos civis de
diversas nações, foi a grande realização de Justiniano no
campo jurídico. O código resultou de uma compilação do
Direito Romano.

A Igreja bizantina
No Oriente, o cristianismo foi integrado à cultura local, in-
corporando aspectos da realidade bizantina, inteiramente di-
versos da realidade ocidental. Assim, o cristianismo oriental A ENTRADA DE MAOMÉ II EM CONSTANTINOPLA,
passou a ter características próprias, diferenciando-se cada DE JEAN-JOSEPH-BENJAMIN CONSTANT

vez mais do ocidental, com grande ênfase na valorização da


espiritualidade.
Decadência do Império Bizantino
Além do fortalecimento do poder dos grandes proprietários
Os cristãos orientais denominavam de ícones quaisquer
imagens tridimensionais de Cristo ou santos incorporadas rurais, do enfraquecimento do poder do imperador e das
às cerimônias religiosas. Dentre os principais produtores disputas religiosas, contribuíram para o declínio do Império
de ícones encontravam-se os monges, que auferiam grandes Bizantino os constantes ataques que Bizâncio passou a so-
lucros nesse ramo comercial. Isentos de tributação, proprie- frer, especialmente das cidades italianas, a partir do século
tários de grandes propriedades, exercendo grande influência XIII, e das investidas de bárbaros e árabes.
na sociedade, representavam uma ameaça ao poder central. Depois de um longo cerco, em 1453, os turcos otomanos,
A corriqueira utilização de ícones nos templos e mesmo nas comandados pelo sultão Maomé II, conquistaram a cida-
casas era vista por muitos como uma prática idólatra, ou de de Constantinopla, ou Bizâncio, destruindo o Império
seja, de adoração de ídolos. Bizantino. Constantinopla tornou-se a capital de outro Es-
tado poderoso, o Império Otomano, passando a se chamar
Com o intuito de enfraquecer o poder dos monges, o
imperador Leão III, em 725, proibiu o uso de imagens tridi- Istambul e permanecendo, até os dias atuais, como a maior
mensionais nos templos, determinando sua destruição ou e mais importante cidade da República da Turquia.
iconoclastia. O papa manifestou-se declarando herética A tomada de Constantinopla marcou a transição
a proibição de imagens, aprofundando os desentendimen- da Idade Média para a Idade Moderna.
tos entre o imperador e a Igreja.

O Cisma do Oriente (1054) CIVILIZAÇÃO MUÇULMANA


A Arábia é uma península árida localizada no Oriente Mé-
O patriarca de Constantinopla era a figura eclesiástica de dio. Os diversos povos da Arábia estavam divididos em
maior poder no Oriente. Ele recusava a supremacia do várias tribos; portanto, não formavam um Estado com
papa sobre sua Igreja, considerando-se o supremo man- unidade política. Mas tinham elementos culturais co-
datário do povo cristão. muns, como o idioma árabe e certas crenças religiosas. A
As inúmeras divergências levaram à separação entre as principal cidade árabe era Meca, onde havia um san-
igrejas orientais e ocidentais em 1054. O chamado Cisma tuário religioso, Caaba (casa de Deus), que reunia as

86
principais divindades de toda a Arábia (mais de 300 ído- implantada por Maomé, no início do século VII, quando
los pertencentes às tribos do deserto). Ali estava a Pedra foi criado um estado teocrático islâmico.
Negra, provavelmente um pedaço de meteorito protegido
por uma tenda de seda preta, na forma de um cubo, que
Fases da expansão
era bastante venerada, pois se acreditava ter sido trazida Depois da morte de Maomé, os membros mais influentes
do céu pelo anjo Gabriel. dos conselhos municipais das cidades de Meca e Medi-
na decidiram apontar um califa, isto é, um sucessor de
O santuário ajudou a transformar Meca no centro re-
Maomé, que deveria concentrar em suas mãos o poder
ligioso e comercial dos árabes, já que a cidade era o
político, militar e religioso. O primeiro califa foi Abu Bekr,
ponto de encontro de pessoas e de mercadorias de di-
sogro de Maomé, e os outros três que o sucederam foram
versas regiões.
também apontados entre seus familiares.
O responsável pela unidade política e religiosa da península
As conquistas tiveram início com esses califas de Meca.
Arábica foi Maomé, criador e divulgador da religião mu-
Sucessivamente, a partir de 634, a Síria, a Palestina, a Ásia
çulmana. Nas suas viagens, Maomé entrou em contato com
Menor, a Mesopotâmia, a Pérsia, o Egito e a Tunísia caíram
povos e religiões diferentes. Esteve várias vezes no Egito,
sob o domínio muçulmano.
Palestina, Pérsia, regiões onde fervilhava o espírito religioso.
Conheceu principalmente o cristianismo e o judaísmo, so- Alguns anos depois dessas conquistas, o novo império foi
frendo profunda influência dessas crenças religiosas. abalado por lutas internas, e o controle do califado passou
para as mãos de outra família, os Omíadas, que transferiram
Por volta de 610, já com quase 40 anos, Maomé teve sua
a capital para Damasco, na Síria. Sob a liderança dos Omía-
primeira visão do anjo Gabriel, que lhe teria ordenado “reci-
das (660-750), os árabes retomaram o processo de expan-
tar o nome do Senhor” e que “havia um só deus, Alá, e um
são conquistando territórios na Ásia central (Índia), Norte da
só profeta, Maomé”. No ano de 622, Maomé teria realizado
África e península Ibérica. Os muçulmanos só foram contidos
um milagre para provar que era profeta de Alá: “quebrou” a
na Europa pelos francos, liderados por Carlos Martel, da di-
Lua. Provavelmente tratava-se de um eclipse e talvez Mao-
nastia carolíngia, em 732, na Batalha de Poitiers. O domínio
mé tivesse informações sobre o acontecimento, porque tinha
árabe sobre a costa do Mediterrâneo contribuiu para a crise
muito contato com o Oriente, onde a astronomia era alta-
do comércio e a feudalização europeia.
mente desenvolvida.
Em 750, a dinastia Omíada chegou ao fim, sendo derrota-
Perseguido pelos coraixitas, que mandaram assassiná-
da por uma conspiração interna que inaugurou a dinastia
-lo, Maomé fugiu para Iatreb (Yathrib), cidade rival de Meca,
Abássida (750-1258). A capital passou de Damasco para
onde já possuía seguidores. Esse evento ficou conhecido
Bagdá, mudança essa que provocou a primeira divisão do
como Hégira, e é utilizado como marco inicial do calendário
mundo islâmico. A divisão do Império Islâmico foi uma con-
muçulmano. Em latreb, Maomé conquistou rapidamente
sequência de sua enorme expansão, obtida em um período
prestígio e poder, controlando a cidade que passou a ser
muito curto de tempo. As seitas religiosas sunita e xiita
chamada de Medina al Nabi – a Cidade do Profeta.
contribuíram para esse fenômeno.
Depois da conquista de Iatreb, o alvo principal passou a ser a
cidade de Meca. O crescente número de seguidores possibi-
litou a formação de um exército numeroso, que cercou a ci-
A religião muçulmana
dade, preservando apenas a Caaba. Em seguida, Maomé fez
um acordo com os coraixitas, estabelecendo a peregrinação
a Meca como uma das obrigações da religião muçulmana.
Em 632, Maomé morreu, deixando difundida sua doutrina
religiosa. Ao mesmo tempo, a península Arábica, que era
um aglomerado de tribos e clãs dispersos, teve sua unifi-
cação política realizada por meio da unificação religiosa.

Expansão islâmica
A partir do século VII, os árabes muçulmanos expandiram-
-se, dominando vasta extensão territorial que se estendia
da Ásia à Europa, passando pelo Norte da África. Essa
expansão teve origem na unidade política e religiosa CAABA, GRANDE MESQUISTA EM MECA

87
A doutrina islâmica, muçulmana ou maometana é marcada
pelo sincretismo religioso. Possui elementos do cristianis-
A cultura árabe
mo e do judaísmo, de onde provêm suas bases fundamen- Os árabes foram os responsáveis pela difusão, no Oci-
tais. O principal fundamento da religião é o monoteísmo, a dente, dos conhecimentos adquiridos pelos impérios bi-
crença no Deus único Alá e em seu profeta Maomé. zantino e persa.
Os fundamentos da religião estão no livro sagrado – Alco- Na Astronomia, os muçulmanos traduziram a obra de Pto-
rão ou Corão –, que determina a total submissão do lomeu, que passou a ser conhecida pelo nome de Alma-
homem à vontade de Alá (Islão). gesto. Na Matemática, desenvolveram a álgebra e a trigo-
nometria, além dos conhecimentos deixados pelos gregos.
Um aspecto importante da religião islâmica são as inter-
Propagaram o sistema numérico arábico, cuja invenção
pretações e os significados que foram sendo agregados à
provém dos hindus. Na Química, descobriram substâncias
jihad, que passou cada vez mais a ser interpretada como
como o álcool, o ácido sulfúrico e o salitre. Foram os pri-
Guerra Santa e vinculada ao expansionismo. Foi graças à
meiros a descrever os processos químicos de destilação,
concepção do jihadismo como “esforço” de difusão da fé
filtração e sublimação.
no islamismo que a expansão territorial foi estimulada e as
conquistas de vários territórios pelos árabes muçulmanos Na Medicina, fizeram importantes descobertas, como o con-
foram consumadas. tágio proveniente da água e do solo e o diagnóstico
de doenças como a varíola e o sarampo. O mais famoso
Outra característica importante do islamismo é o secta-
médico muçulmano foi Avicena, cuja obra Canon foi o
rismo, com a formação de seitas rivais desde a morte de
manual médico na Europa até o século XVII. Na Literatu-
Maomé, quando ocorreram sérias divergências em rela-
ra, destacam-se os poemas épicos e de amor e contos de
ção à liderança religiosa e política dos muçulmanos. As
aventura, como a coletânea As mil e uma noites e Ru-
principais seitas são xiitas e sunitas. Os primeiros acei-
baiat. Nome célebre é o de Averróis, filósofo de Córdova,
tam somente o Corão como fonte de verdade, bem como
que traduziu as obras de Aristóteles para a língua árabe e
um chefe político religioso descendente de Maomé. Os
introduziu-as no Ocidente.
sunitas admitem, além do Alcorão, os ensinamentos con-
tidos no Suna, livro de relatos de seguidores próximos de Merece destaque a arquitetura de palácios e mesquitas. Gra-
Maomé, bem como admitem que o chefe possa ser esco- ças à dominação da península Ibérica, o árabe influenciou a
lhido entre os fiéis que reúnam as virtudes necessárias. formação da língua portuguesa.

REINO FRANCO E A IGREJA CATÓLICA

REINO FRANCO damental para manter a conquista do território, atualmente a


França. A formação desse reino teve início no período da Alta
Rômulo Augusto, o último imperador romano, foi deposto, Idade Média europeia, a expansão territorial ocorreu entre as
em 476, por Odoacro, líder hérulo que decretou o fim do dinastias Merovíngia e Carolíngia.
Império Romano do Ocidente, marco utilizado pelos his-
toriadores para determinar o fim da Idade Antiga e o Dinastia Merovíngia (481-751)
início da Idade Média. Chefiados por Meroveu, os francos venceram os hunos no
Os reinos bárbaros final do século V, na Batalha dos Campos Catalúnicos. Mas
a dinastia Merovíngia foi consolidada, efetivamente, por seu
O encontro entre romanos e bárbaros reuniu características neto, Clóvis, a partir da unificação das tribos francas. Clo-
culturais de ambos os povos e deu início à estrutura do vis reinou durante os anos de 482 a 511. Nesse período,
sistema feudal.
aliou-se à Igreja Católica, oferecendo-lhe proteção militar;
À medida que os bárbaros entravam no Império Romano do em troca, obteve o apoio do papado, o que contribuiu para
Ocidente, formavam reinos que, de maneira geral, não tinham o fortalecimento da sua autoridade real. Com a morte de
longa duração. Por esse motivo, os povos germânicos não Clóvis, em 511, o Reino Franco foi dividido em quatro partes,
resistiram às pressões externas e foram dominados ou des- entre seus filhos, de acordo com o costume germânico de
truídos. Entretanto, os francos conseguiram organizar uma divisão do poder. Mais tarde, uma nova divisão ocorreu entre
estrutura política na Gália. A centralização do poder foi fun- os netos de Clóvis.

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Nesse período, um novo sistema econômico se estru- ao Papa e fortalecendo ainda mais a aliança entre a Igreja
turou – o feudalismo –, com a ruralização da econo- e o reino fanco. Os territórios da Igreja ficaram conhecidos
mia e o fortalecimento das relações pessoais entre o como Patrimônio de São Pedro.
rei a seus vassalos. A fidelidade ao rei, suserano de
Pepino foi sucedido por seu filho Carlos Magno, em 768,
um feudo, era estabelecida mediante o juramento da
que governou até 814, tornando-se o mais importante rei
vassalagem,composta pelos senhores feudais e pelos
franco, concedendo seu nome à dinastia Carolíngia. Carlos
cavaleiros, que assumiam o compromisso de servir ao
Magno ampliou as fronteiras do reino franco, anexando a
soberano. Em troca, o rei oferecia proteção, terras e
Itália lombarda, a Saxônia, a Frísia e a Catalunha, tornan-
outros bens, mantendo o sistema de servidão e enfra-
do-se o único rei da Europa cristã.
quecendo o poder dos monarcas merovíngios.
A expansão foi favorecida pelo apoio da Igreja e da nobre-
O poder nobiliárquico também se baseava no contato
za guerreira. O reino de Carlos Magno tornou-se o maior
direto dos majordomus (mordomos ou prefeitos do
Império Ocidenta, durante o período medieval. No Natal do
palácio) com os reis. Oriundos de famílias nobres, os
ano 800, Carlos Magno foi coroado pelo Papa Leão III im-
majordomus passaram a exercer o poder no reino, a
perador romano do Ocidente.
partir do comando do exército, da administração e di-
visão das terras e, por fim, da coleta de impostos. Aos O imperio de Carlos Magno também foi marcado pelo estímu-
reis eram atribuídas funções cerimoniais. lo imperial ao desenvolvimento cultural. Ocorreu um grande
incentivo à cultura e às artes, quando houve um florescimento
Pepino de Heristal, majordomus do Reino da Austrásia,
cultural e intelectual, o Renascimento Carolíngio.
conseguiu submeter os outros majordomus, promovendo
a centralização do Reino Franco. Mas foi somente com seu Em 806, Carlos Magno fez seu testamento dividindo o império
sucessor, Carlos Martel, que os majordomus passaram a ser entre seus filhos, conforme o costume sucessório germânico,
considerados reis. mas acabou sendo sucedido por seu filho mais novo, Luís I, o
Piedoso, que governou de 814 a 841, mantendo o império e
Carlos Martel conquistou prestígio e poder ao liderar os
a estrutura político-administrativa herdados de seu pai.
francos na vitória contra os muçulmanos na Batalha de
Poitiers, na França, no ano de 732, contendo o avanço A decadência do Império Carolíngio teve início após a mor-
islâmico sobre a Europa ocidental. te de Luís I, em 841, quando se iniciou um conflito entre
seus filhos pelo trono. Lotário, Carlos e Luís travaram várias
batalhas, arruinando as finanças e enfraquecendo militar-
mente o império.
Em 843, a disputa foi solucionada com a assinatura do Tra-
tado de Verdun, que estabeleceu a divisão do império en-
tre os netos de Carlos Magno: Lotário recebeu a Lotaríngia,
que correspondia aos Países Baixos, Suíça e Norte da Itália;
a Luis, o Germânico, coube a parte oriental do Império (Ger-
mânia); e a Carlos, O Calvo, coube o território da França. O
Tratado de Verdun marcou, segundo as divisões dos
períodos da História, o final da Alta Idade Média.
CARLOS MARTEL NA BATALHA DE POITIERS. CHARLES STEUBEM (1788-1856)
A quebra da unidade política e o enfraquecimento militar
Ao ser considerado pela Santa Sé como o “salvador do cris- favoreceram as invasões externas – magiares, árabes e vi-
tianismo ocidental”, Carlos Martel fortaleceu sua autoridade kings –, levando o império franco ao declínio.
pessoal, fato aproveitado por seu filho Pepino, o Breve, que,
com o apoio do papa Zacarias, destronou o último rei merovín-
gio Childerico III, no ano de 751, e proclamou-se rei dos fran- IGREJA CATÓLICA MEDIEVAL
cos, iniciando a Dinastia Carolíngia, que perdurou até 987. A Igreja católica foi a grande catalisadora dos aconteci-
mentos e da vida medieval; nesse período, sua trajetória foi
Dinastia Carolíngia (751-987) marcada pelo crescimento e desenvolvimento em virtude
Pepino iniciou a administração de seu reinado lutando con- do grande poder conquistado.
tra os lombardos na Itália. Os territórios conquistados, no O crescente poder da Igreja católica na Europa ocidental
centro da península Itálica, foram cedidos à Igreja, que pela durante a Idade Média pode ser explicado pelo acúmulo
primeira foi dona de suas terras, concedendo maior poder dos poderes espiritual e temporal. O poder espiritual cor-

89
responde ao controle sobre a religião e o monopólio da in- Um importante instrumento de manutenção do domí-
terpretação das Escrituras Sagradas, permitindo o controle nio da Igreja Católica Medieval foi a criação do Tribunal
ideológico e a interpretação da realidade vigente. O poder da Santa Inquisição, em 1231, pelo papa Gregório
temporal era exercido politicamente como resultado do con- IX. A principal função do Tribunal era julgar e punir
trole da Igreja sobre um número crescente de populações as heresias. As penas variavam de simples penitências
que a alimentavam mediante pagamento dos dízimos, do- ao confisco de bens, além da excomunhão, torturas e
ações, além de outras ações realizadas por fiéis crentes da morte na fogueira.
salvação em troca de seus recursos materiais.
A Igreja contava com uma rígida organização hierárquica.
A Igreja concentrava uma grande quantidade de terras, re- Havia o alto clero e o baixo clero; este era composto de
sultado da acumulação de um montante significativo de elementos vindos das camadas mais pobres da sociedade;
riquezas materiais. aquele, ligado à aristocracia, detinha os cargos de direção:
dele faziam parte o Papa, os bispos, os abades, etc.
A Igreja era responsável pela educação, mantendo uma
série de escolas nos mosteiros, conventos e, mais tarde, Os mosteiros eram os responsáveis pela preservação da
nas paróquias. No século XIII, começou a organizar as uni- cultura, além de serem importantes centros econômicos. O
versidades. Com isso, o poder da Igreja sobre os fiéis era clero regular era constituído por todos os clérigos consa-
incontestável. Os pecadores deviam cumprir penitências, grados da Igreja católica, que seguiam as regras de uma
que variavam de orações e jejuns a peregrinações e partic- determinada ordem religiosa, dona de sua própria hierar-
ipação nas Cruzadas. quia e de títulos específicos.

SISTEMA FEUDAL

ORIGENS DO FEUDALISMO
Na Europa, a Idade Média caracterizou-se pelo surgimento de um sistema econômico, político e social denominado feuda-
lismo. Esse sistema foi fruto de uma lenta integração entre algumas características de duas estruturas sociais: a romana e a
germânica. Esse processo de integração, que resultou na formação do feudalismo, ocorreu no período histórico compreen-
dido entre os séculos V e IX.
A nova onda de invasões dos séculos VIII ao X

FONTE: <28NAVEGADORES.BLOGSPOT.COM.BR/2013_04_01_ACHIVE.HTML>.

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Próximo ao fim do Império Romano do Ocidente, os gran- culo IX, os normandos também se lançaram à conquista
des senhores romanos começaram a abandonar as cida- da Europa. Penetraram no continente europeu pelos rios,
des, fugindo da crise econômica e das invasões germâni- saqueando suas cidades. A leste, os magiares (húngaros),
cas. Os senhores rumaram para latifúndios no campo, onde cavaleiros nômades originários das estepes euroasiáticas,
passaram a desenvolver uma economia agrária voltada invadiram a Europa oriental.
para a subsistência.
O comércio, com o desaparecimento quase total da moe-
Um grande contingente de romanos de menos posses pas- da, regrediu ao patamar da troca direta. Com a agrarização
sou a buscar proteção e trabalho nas terras desses grandes da economia, as cidades foram despovoadas, completando
senhores. Para utilizar as terras, eram obrigados a ceder ao o processo de ruralização da sociedade. O poder político
proprietário parte do que produziam. Dessa forma, nesses descentralizou-se em uma multiplicidade de poderes loca-
centros rurais conhecidos por vilas romanas, começaram a lizados e particularistas. O feudalismo se estabeleceu em
ser criados os feudos medievais. Com algumas alterações fu- sua plenitude.
turas, esse sistema de trabalho resultou nas relações servis
de produção, um dos traços fundamentais do feudalismo.
Com a contínua ruralização do Império Romano, o poder
CARACTERÍSTICAS GERAIS
central foi perdendo controle sobre os grandes senhores A sociedade feudal era estamental, ou seja, os indivídu-
agrários. Gradativamente, as vilas romanas tornaram-se os nasciam num determinado estamento (grupo social) e
cada vez mais autônomas, à medida que o poder político dificilmente poderiam ascender a outro; tendiam a perma-
descentralizava-se, permitindo ao proprietário de terras ad- necer sob a própria condição de nascimento. Segundo a
ministrar de forma independente sua vila. divisão clássica, a sociedade medieval era formada pelos
seguintes estamentos: clero, nobreza e servos.
O contato dos romanos com os povos de origem germâni-
ca promoveu a troca de hábitos e costumes entre eles, prin- Os senhores feudais eram os proprietários ou os pos-
cipalmente num momento de ruralização e de organização suidores do feudo. Originários da nobreza e do clero, for-
de uma economia baseada nas atividades agropastoris. As mavam uma aristocracia dominante. A nobreza se subdivi-
várias tribos germânicas viviam de maneira autônoma, es- dia em duques, condes, barões e marqueses.
tabelecendo relações apenas quando se defrontavam com Os senhores feudais eclesiásticos, vinculados à Igreja
um inimigo comum, unindo-se, nessas ocasiões, sob o co- Romana, também pertenciam à alta hierarquia do clero.
mando de um só chefe. Em geral, eram bispos, arcebispos e abades.
As relações entre o suserano e o vassalo, fundamentadas O estamento dos dependentes, que compreendia a maioria
na honra, lealdade e liberdade, tiveram suas origens no da população medieval, compunha-se de servos e vilões.
comitatus germânico. O comitato era um grupo forma- Os servos não tinham a propriedade da terra, embora,
do pelos guerreiros e seu chefe com obrigações mútuas na maioria dos casos, tivessem posse parcial dela, o que
de serviço e lealdade. Os guerreiros juravam defender seu justificava o fato de estarem adstritos a ela. É importante
chefe, que se comprometia a equipá-los com cavalos e observar que, embora fossem trabalhadores semilivres –
armas. Mais tarde, essas relações de honra e lealdade de- donos de seus instrumentos de trabalhos, sementes, etc. –,
ram origem às relações de suserania e vassalagem. apenas uma pequena parcela do que produziam era desti-
nada ao próprio sustento.
A formação do Direito no feudalismo também teve influên-
cia germânica. Baseando-se nos costumes orais, e não nas Em número reduzido, havia outro tipo de trabalhador me-
leis escritas, o direito era considerado uma propriedade do dieval: o vilão. Os vilões não estavam presos à terra e des-
indivíduo, um direito inerente a ele em qualquer local em cendiam de antigos pequenos proprietários romanos. Não
que estivesse. Essa forma do Direito, produto dos costumes podendo defender suas propriedades, entregavam suas
e da sua prática reiterada e constante, sem ser resultado de terras em troca de proteção de um grande senhor feudal.
um processo formal de criação das leis escritas, é denomi-
nada direito consuetudinário. Economia feudal
As invasões dos séculos VIII e IX aceleraram a lenta in- As terras eram divididas em domínio senhorial, cuja pro-
tegração entre aspectos da sociedade romana e da so- dução destinava-se ao senhor feudal, manso servil, cujo
ciedade germânica. Em 711, os muçulmanos, vindos do produto do trabalho pertencia aos servos, e terras comu-
Norte da África, conquistaram a península Ibérica, a Sicília, nais, isto é, pastos e florestas utilizadas tanto pelos senhores
a Córsega e a Sardenha, fechando o mar Mediterrâneo à como pelos camponeses. O feudo, cujas terras eram des-
navegação e ao comércio dos europeus. Ao norte, no sé- contínuas, constituía-se como a unidade geral de produção.

91
A terra arável era dividida em três partes: o terreno de plantio ou trabalho pelo uso de instrumentos do senhor: ferra-
da primavera, o de plantio do outono e outro que ficava em mentas, moinhos, armazéns;
pousio (descanso). Esse sistema surgiu na Europa, no século ƒ capitação: pagamento de imposto per capita dos fa-
VIII, e ficou conhecido como sistema dos três campos. miliares dos servos; e
Nessa sociedade rural, de economia essencialmente
agrária, a propriedade e a posse da terra determinavam a ƒ mão-morta: pagamento de imposto pelos filhos do
posição do indivíduo na hierarquia social. A terra era a ex- servo morto para que continuassem ocupando as terras
pressão da riqueza, da influência, da autoridade e do poder. fornecidas a seu pai pelo senhor.

Além da obediência e fidelidade por juramento que os ser- O feudo produzia tudo o que necessitava e consumia tudo
vos deviam ao seu senhor, as obrigações nas formas de que produzia. Era uma economia autossuficiente, orga-
trabalho e produtos eram as seguintes: nizada para suprir as necessidades do próprio feudo. O co-
mércio não desapareceu da Europa, mas era retraído e sem
ƒ corveia: obrigação de trabalhar nas terras do senhor
feudal sem direito ao que era produzido; relevância econômica. A troca de mercadorias realizava-se
semanalmente dentro do próprio feudo, em um mercado
ƒ talha: obrigação de entregar parte da produção no junto de uma Igreja, de um castelo ou na própria aldeia.
manso servil ao seu senhor; As trocas ocorriam de bens por bens. O uso de moedas
ƒ banalidades: pagamento de impostos com produtos não era frequente.

O senhorio medieval
Manso comum
Os produtos retirados dessas terras eram de uso tanto dos servos quanto dos
senhores. As terras comunais eram constituídas de pastos para criar animais
e de florestas e baldios, onde os camponeses colhiam frutos e raízes, extraíam
a madeira e o mel. A caça nas florestas era exclusiva dos senhores.

No senhorio, em geral, também havia coleiros para armazenar a colheita;


um moinho para triturar os grãos; e fornos para assar os pães.

Domínio Senhorial
Os produtos dessas
terras perteciam
exclusivamente
ao senhor. Nelas
trabalhavam servos
e outros camponeses.
Ali se produzia tudo o
que o senhor necessitava
para manter sua família
e outros dependentes.

Manso servil
Terras destinadas aos servos. Nelas os servos
produziam o que era necessário para a sua
sobrevivência, devendo em troca cumprir
Ilustração atual de
uma série de obrigações para com o senhor.
como poderia ter sido
um senhorio medieval.

FONTE: <HISTORIADEMESTRE.BLOGSPOT.COM.BR/2014/10/A-IDADE-MEDIA-E-O-FEUDALISMO.HTML>.

feudal, proprietário de grandes porções de terra, doava


Política feudal uma parcela dela a outro nobre. O doador passava a ser
Notadamente durante os séculos de IX ao XII, havia um rei, o suserano, e o recebedor, o vassalo. Essas relações eram
cujo poder era meramente formal. estabelecidas por contrato de direitos e deveres. Entre ou-
No feudo, cada senhor feudal era o soberano supremo e tras obrigações, o vassalo obrigava-se a pôr seu exército
detinha o monopólio da força como chefe do exército. Esse à disposição do suserano, a dar-lhe hospedagem quando
monopólio, porém, não ultrapassava seu pequeno exérci- necessário, a contribuir para o dote e o armamento de seus
to mantido dentro de seus domínios feudais. Quando em filhos. Ao suserano, por seu vez, cabia proteger militarmen-
estado de guerra, havia uma centralização político-militar te o vassalo, garantir a posse do feudo doado, tutelar os
desses exércitos sob as ordens e comando do rei. herdeiros e a viúva do vassalo depois de sua morte. Para
Os laços de suserania e vassalagem estabeleciam os oficializar a vassalagem, havia uma série de cerimônias
vínculos e a hierarquia entre a nobreza feudal. Um senhor conhecida como homenagem. O vassalo ajoelhava-se

92
diante do senhor, com a cabeça descoberta e sem espada, cultura teocêntrica foi gradualmente substituída pela an-
punha as mãos entre as mãos do suserano e pronuncia- tropocêntrica – o homem como centro do Universo.
va as palavras sacramentais do juramento. Em seguida,
o senhor permitia que ele se levantasse, beijava-o e rea- Cultura feudal
lizava a investidura com a entrega de um objeto simbóli-
co – um punhado de terra, um ramo, uma lança ou uma A cultura feudal era fundamentalmente teocêntrica, ou
chave – que representava a terra enfeudada. Os laços de seja, caracterizou-se pela visão do homem voltado para
suserania e vassalagem vinculavam toda a nobreza feudal. Deus e para a vida após a morte.
Nos últimos anos do século XI, no início das Cruzadas, o A moral religiosa condenava o comércio, o lucro e a usura
feudalismo entrou em gradativa decadência. O Renasci- (empréstimo a juros). As artes, as letras, as ciências e a
mento comercial fez com que as estruturas feudais fossem filosofia eram determinadas pela visão religiosa imposta
progressivamente modificadas: as cidades ressurgiram, a pela Igreja, sempre com predominância de temas e inspi-
figura do rei voltou a ganhar progressiva centralização e a ração religiosos.

BAIXA IDADE MÉDIA

AS CRUZADAS (1095-1270) O contexto político do período criou um ambiente favorável


para que os nobres despossuídos ou empobrecidos engros-
As Cruzadas foram expedições de cunho religioso-militar que sassem o contingente de voluntários a atender os desejos da
ocorreram a partir dos últimos anos do século XI com o intuito Igreja de lutar contra os heréticos e pagãos como modo de
de combater os inimigos da cristandade. As Cruzadas tam- manter seu poder, conquistar novas terras e riquezas e con-
bém atuaram como uma forma de aliviar as pressões provo- trolar uma população cada vez mais difícil de ser dominada.
cadas pelo aumento populacional ocorrido a partir do século Para a Igreja romana, a conquista dos locais santos da Ásia
X. Uma de suas principais consequências foi a reabertura ocidental pelas Cruzadas configurava-se instrumento de
do Mediterrâneo ao comércio europeu. Ao lado do expansão do cristianismo, da supremacia do papado sobre
fervor religioso, fatores de ordem econômica, social e política o Império e da expansão de sua influência religiosa.
atuaram como elementos determinantes das Cruzadas.
O movimento das Cruzadas teve como causa imediata o blo-
Com o fim das invasões bárbaras no século X, a Europa pas- queio à peregrinação dos cristãos ao Santo Sepulcro (túmulo
sou por um período de relativa tranquilidade.Com a diminui- de Cristo em Jerusalém), dominado pelos muçulmanos.
ção das guerras e o quase desaparecimento das epidemias,
criou-se um ambiente favorável à estabilidade social, que
favoreceu o crescimento populacional.
Cruzadas do Ocidente:
As novas técnicas agrícolas permitiram o aumento da pro-
a Guerra de Reconquista
dução, e os excedentes passaram a ser comercializados. Em 711, os árabes muçulmanos haviam conquistado e sub-
Por outro lado, bens produzidos fora da Europa passaram a metido ao seu poder a península Ibérica, com exceção das
ser adquiridos. Os mercados bizantino e muçulmano tam- Astúrias, onde se formaram os pequenos reinos cristãos de
bém passaram a demandar matérias-primas e gêneros ali- Leão, Castela, Aragão e Navarra. Reunidos, esses reinos ini-
mentícios ocidentais. O incremento desse comércio de am- ciaram no século XI a Guerra de Reconquista.
bos os lados do Mediterrâneo favoreceu muito as cidades As terras reconquistadas dos muçulmanos foram doadas
italianas de Veneza e Gênova, que viram suas condições ao clero ou incorporadas pela nobreza. Esses territórios
econômicas aumentarem, bem como suas possibilidades foram explorados segundo as regras do sistema feudal de
de desempenharem um papel importante, quando não produção. Da Guerra de Reconquista, resultou a formação
fundamental, nas Cruzadas. das monarquias nacionais de Portugal e Espanha.
A produção do excedente agrícola permitia que os campo- Na Itália, os muçulmanos haviam conquistado a Sicília, a
neses vissem no comércio uma alternativa mais vantajosa. Córsega e a Sardenha. A Guerra de Reconquista na Itália
A vida urbana passou a ser expressão da liberdade em con- teve início no século X. Entretanto, o contato entre cristãos e
traposição à vida rural ligada à servidão. Essa situação fez muçulmanos, inicialmente bélico, assumiu gradualmente um
aumentar a população que buscava viver do comércio e caráter mercantil e resultou na reabertura do Mediterrâneo
das atividades artesanais. para os europeus.

93
Cruzadas do Oriente

Dominíos muçulmanos, 1095


Metz Primeira Cruzada, 1096-1099
Ratisbona
Segunda Cruzada, 1147-1149
Vézelay
Terceira Cruzada, 1189-1192
Quarta Cruzada, 1202-1204
Clermont Veneza

Marselha

Roma
Constantinopla

Edessa

Antioquia

Tripoli
Acre

Jerusalém

FONTE: <PT.SLIDESHARE.NET/LUCAO1NAVARRO/AS-CRUZADAS-SET-FINAL>.

ƒ Primeira Cruzada (1095-1099): As peregrinações foram derrotados pelos turcos na Ásia Menor em 1148.
de cristãos ao Santo Sepulcro não eram raras. Os ca- Algumas décadas mais tarde, em 1187, Saladino, um
lifas árabes não se opunham às visitas, que acabavam sultão muçulmano, reconquistou Jerusalém, causando
sendo lucrativas paras os muçulmanos. Contudo, na grande comoção na Europa.
segunda metade do século XI, os turcos dominaram ƒ Terceira Cruzada (1189-1192): Com a notícia da
grande parte da Ásia ocidental, expulsaram os cristãos perda da Terra Santa, o papa passou a preparar a Terceira
e proibiram suas peregrinações no local. Cruzada. Os três mais importantes soberanos da Europa
O papa Urbano II incentivou a Primeira Cruzada sob o pre- atenderam ao chamado do papa. Em 1190, Frederico
texto de libertar a Terra Santa e impedir o avanço muçul- Barba Ruiva, do Sacro Império, Felipe Augusto, da Fran-
mano na Europa oriental. ça, e Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra, lideraram a
Cruzada dos Reis. Barba Ruiva avançou por terra, venceu
As terras conquistadas dos muçulmanos foram organizadas os turcos na Ásia Menor, mas morreu acidentalmente ao
em Estados cristãos: o reino de Jerusalém, o principado de banhar-se em um rio. Ricardo e Felipe Augusto seguiram
Antioquia e os condados de Edessa e Trípoli. Nesses Estados, por mar. Obtiveram algumas vitorias na Síria, mas Feli-
doados a nobres europeus, foi implantada uma estrutura es- pe decidiu retornar à França. Ricardo Coração de Leão
sencialmente feudal, comparável à da Europa medieval. não conseguiu retomar Jerusalém. No entanto, obteve
Foram fundadas novas ordens religiosas, integradas por do sultão Saladino a autorização para que os cristãos
soldados religiosos, entre os quais os mais importantes pudessem peregrinar até Jerusalém.
eram os hospitalários, os cavaleiros da Ordem Teutônica e ƒ Quarta Cruzada (1202-1204): Com o ardor religio-
os templários, que se alojaram no local do antigo templo so já bastante arrefecido, os comerciantes de Gênova
de Jerusalém. Em 1140, os muçulmanos passaram à con- e Pisa, enriquecidos pelo comércio com o Oriente, pre-
traofensiva e reconquistaram o condado de Edessa. Pres- tendiam conquistar os portos de suas cidades rivais. Em
sionados, os Estados cristãos recorreram aos europeus. 1200, durante o pontificado de Inocêncio III, foi organi-
zada a Quarta Cruzada. Desvirtuada de seus objetivos,
ƒ Segunda Cruzada (1147-1149): Em 1147, Luis VII,
tornou-se a primeira cruzada contra cristãos. Como condi-
rei da França, Conrado III, imperador do Sacro Império,
ção para seu financiamento, Veneza exigiu a destruição
e um grupo formado por europeus do norte – ingleses,
de Zara, cidade cristã e sua rival mercantil no comércio
flamengos e frísios – organizaram a Segunda Cruzada.
no Mar Adriático.
Esse terceiro grupo atravessou a península Ibérica aju-
dando os cristãos a expulsarem os muçulmanos de Lis- Depois da destruição de Zara, os cruzados marcharam so-
boa. Entretanto, os integrantes dessa segunda cruzada bre Constantinopla. A Quarta Cruzada assinalou o declínio

94
mercantil de Constantinopla, região que passou a ser co- Ambas foram um fracasso. Luis IX morreu vítima da pes-
nhecida por Império Latino, e a ascensão das cidades italia- te, em Tunis, e foi canonizado pela Igreja.
nas, que passaram a monopolizar o comércio de especiarias
no Mediterrâneo. Consequências das Cruzadas
ƒ Quinta Cruzada (1217-1221): Tornou-se conhecida Do ponto de vista econômico, a maior conquista das Cru-
como a Cruzada das Crianças. Para justificar as derrotas zadas foi a reabertura do Mediterrâneo à navegação
anteriores, foi difundida a lenda de que o Santo Sepulcro e ao comércio da Europa, fator que permitiu o reatamento
só poderia ser conquistado por crianças, uma vez que das relações entre Ocidente e Oriente, interrompidas pela
suas almas eram puras e livres de pecados. Em 1212, expansão muçulmana, e contribuiu para acelerar o renasci-
foram reunidas 20 mil crianças alemãs e 30 mil france- mento comercial no ocidente da Europa.
sas em uma cruzada que seria enviada para Jerusalém.
As que não foram exterminadas foram aprisionadas ou O malogro das Cruzadas acelerou indiretamente a deca-
vendidas como escravas nos mercados do Oriente. dência do sistema feudal. A conjugação de fatores polí-
ticos, econômicos e sociais agravou significativamente essa
ƒ Sexta Cruzada (1228-1229): Organizada por André situação. De um lado, houve enfraquecimento da aristocracia
II, rei da Hungria, e comandada por Frederico II, do Sa- feudal e da servidão como forma de trabalho; de outro lado,
cro Império, a Sexta Cruzada resultou em um acordo ocorreu o fortalecimento da burguesia comercial, bem como
com o sultão, que determinava a posse de Jerusalém o reaparecimento do comércio, que se intensificou com a re-
pelos cristãos durante dez anos. Mais tarde, os muçul- abertura do Mediterrâneo, propiciando o renascimento das
manos dominaram a região e o acordo foi rompido. Je- cidades e o crescimento da burguesia mercantil. Em síntese,
rusalém voltou a ser controlada pelos turcos até 1917. o renascimento comercial e urbano da Europa ocidental, a
ƒ Sétima (1248-1250) e Oitava Cruzadas (1270): decadência do feudalismo, o declínio do poder da nobreza e
A Sétima e a Oitava Cruzadas foram organizadas entre o fortalecimento da burguesia foram, direta ou indiretamen-
1248 e 1270, sob o comando de Luís IX, rei da França. te, consequências das Cruzadas.

RENASCIMENTO COMERCIAL
Principais rotas comerciais da Europa, durante o renascimento comercial

FONTE: <SLIDESHARE.COM.BR/SLIDE/1865844>.

95
Ao possibilitarem as condições para o desenvolvimento in- todas foi a Hansa Teutônica ou Liga Hanseática, que reuniu
cipiente da atividade mercantil, as Cruzadas, conjugadas às cerca de noventa cidades do norte da Europa.
condições intrínsecas ao modo de produção feudal, impul-
sionaram o que se transformou no renascimento comercial.
A abertura do mar Mediterrâneo aos mercados da Europa RENASCIMENTO URBANO E
ocidental restabeleceu as relações entre Ocidente e Oriente FORMAÇÃO DA BURGUESIA
e dinamizou as atividades comerciais.
O processo de reurbanização da Europa, caracterizado pelo
O comércio se desenvolveu principalmente por rotas flu- ressurgimento das cidades, está estreitamente ligado ao re-
viais e marítimas, devido às péssimas condições das estra- nascimento comercial, que, embora não tenha sido o único fa-
das. Os mares Mediterrâneo, ao sul, e do Norte e Báltico, tor do renascimento urbano, foi, sem dúvida, o fator principal.
ao norte, foram os eixos econômicos da Europa entre os Prova disso é o fato de as cidades ressurgirem com mais inten-
séculos XI e XIV. sidade onde primeiro renasceu o comércio: Itália e Flandres.
O Mediterrâneo voltou a ser a via principal das atividades À medida que o comércio se ampliava, surgiam cidades. Nas
mercantis. As cidades italianas de Veneza, Gênova e Pisa cidades medievais, conhecidas genericamente como burgos,
redistribuíam pela Europa os produtos vindos do Oriente. foi-se formando uma nova classe social ligada ao comércio,
Ao norte da Europa florescia outro eixo comercial impor- que passou a ser conhecida como burguesia.
tante. Os produtos vindos do mar Báltico e do Norte en- Para criar condições básicas para a expansão da nova eco-
contravam na região de Flandres (parte das atuais Holanda nomia mercantil e monetária, era preciso abolir as relações
e Bélgica) um dinâmico polo comercial nas suas principais de vassalagem e o direito consuetudinário, bem como
cidades, Bruges e Antuérpia. unificar o mercado, diminuir os impostos, padronizar a le-
gislação, a moeda, os pesos e as medidas. Para isso, seria
A região de Champagne, no leste da França, passou a ser
necessário subordinar a nobreza e fortalecer o poder cen-
um ponto de confluência entre Flandres\e a Itália. Mercado- tralizador do rei, que poderia impor essas reformas.
res de todo o continente se dirigiam para Champagne, o que
dinamizava um comércio intenso e diversificado. As feiras A formação do Estado moderno, como expressão do mo-
nopólio do poder e da força, seria, no plano político, a res-
realizadas em Champagne ganharam fama.
posta para os novos problemas que impediam a expansão
Os últimos dias das feiras eram dedicados às transações do comércio e das cidades.
financeiras. Faziam-se empréstimos, liquidavam-se velhas
dívidas, movimentavam-se letras de câmbio. A terra deixa-
va de ser a única riqueza na Europa Ocidental. Essa verda-
CRISE DO SÉCULO XIV E
deira revolução econômica enfraquecia a nobreza, ligada DECADÊNCIA DO FEUDALISMO
à terra, e fortalecia a burguesia, ligada ao comércio e A partir do início do século XIV, uma profunda crise se dis-
às finanças. seminou pela Europa. Fome, pestes, guerras e rebeliões
camponesas atingiram a essência do sistema feudal já
As associações de artesãos bastante desgastado. Ao fim do século XV, as monarquias
nacionais estavam consolidadas, a nobreza enfraquecida
e comerciantes e as obrigações feudais contestadas pelas frequentes re-
Os artesãos organizaram-se em associações para defender voltas camponesas.
seus interesses. Todos que trabalhavam em uma mesma ati-
vidade juntavam-se e formavam uma associação denomina-
da corporação de ofício.
As corporações tinham o objetivo de regulamentar a
profissão evitando excesso de pessoas no mesmo ofício,
controlar a qualidade e o preço do produto dificultando a
concorrência, dirigir o aprendizado da profissão e amparar
os artesãos necessitados.
Os mercadores também associaram-se para defender seus
interesses. No século XII, as hansas ou guildas aglutina-
vam mercadores de diversas cidades. A mais poderosa de

96
U.T.I. - Sala lhe apraz, nem o olhamos com ares de reprovação que,
embora inócuos, lhe causariam desgosto. Ao mesmo
tempo que evitamos ofender os outros em nosso con-
1. O filósofo Aristóteles (384-322 a.C.) definiu a cidada- vívio privado, em nossa vida pública nos afastamos
nia em Atenas da seguinte forma: da ilegalidade principalmente por causa de um temor
reverente, pois somos submissos às autoridades e às
A cidadania não resulta do fato de alguém ter o domi-
leis, especialmente àquelas promulgadas para socor-
cílio em certo lugar, pois os estrangeiros residentes e os
rer os oprimidos e às que, embora não escritas, trazem
escravos também são domiciliados nesse lugar e não
aos agressores uma desonra visível a todos.
são cidadãos. Nem são cidadãos todos aqueles que par-
ticipam de um mesmo sistema judiciário. Um cidadão Oração fúnebre de Péricles, 430 a.C. In: Tucídides.
História da Guerra do Peloponeso. Brasília:
integral pode ser definido pelo direito de administrar Editora UnB, 2001, p. 109. Adaptado.
justiça e exercer funções públicas.
Adaptado de Aristóteles, Política. a) Quais as principais características do regime político
Brasília: Editora UnB, 1985, p. 77-78. de Atenas?
b) Qual a cidade que foi a principal adversária de Ate-
Relacionando aquilo que você aprendeu sobre o tema nas na Guerra do Peloponeso?
com o texto acima, quais as duas principais condições c) Cite e comente as principais diferenças entre elas.
para que um ateniense fosse considerado cidadão na
Grécia clássica? 5. Cite o nome e a principal característica de cada um
dos três Períodos da História de Roma.
2. Num antigo documento egípcio, um pai dá o seguinte
conselho ao filho: 6. O historiador grego Heródoto (484-420 a.C.) viajou
muito e deixou vivas descrições com reflexões sobre os
Decide-te pela escrita, e estarás protegido do trabalho povos e as terras que conheceu. Deve-se a ele a seguin-
árduo de qualquer tipo; poderás ser um magistrado de te afirmação: “o Egito, para onde se dirigem os navios
elevada reputação. O escriba está livre dos trabalhos gregos, é uma dádiva do rio Nilo“.
manuais [...] é ele quem dá ordens [...]. Não tens na mão
a palheta do escriba? É ela que estabelece a diferença “No Antigo Egito, existia uma profunda ligação entre o
entre o que és e o homem que segura o remo. meio natural e a vida daquele povo.”
Apud Luiz Koshiba. História – origens, estrutura e processos. Explique a afirmação acima, relacionando seus conhe-
cimentos sobre o tema com o texto.
Lendo o texto e lembrando o que você aprendeu sobre
o tema, argumente sobre a seguinte afirmação: 7. “Com relação ao ornamento, Roma não correspondia,
Nas Civilizações do Antigo Oriente, a Escrita é um dos absolutamente, à majestade do Império e, além disso,
fundamentos da própria ideia de “Civilização”. estava exposta às inundações, como também aos in-
cêndios. Porém, Augusto fez dela uma cidade tão bela
3. Alguns povos da Antiguidade foram mercadores e que pode se envaidecer, principalmente por ter deixado
praticavam intensamente o comércio marítimo. uma cidade de mármore no lugar onde encontrara uma
a) Qual a relação entre a localização geográfica da Fení- de tijolos”.
cia e as características econômicas de seu povo? Adaptado de: Suetônio. A vida dos doze Césares.
b) Cite o nome de suas três principais cidades. São Paulo: Martin Claret, 2006, p. 91.

c) Cite e comente um legado importante que os fenícios Considerando o texto e o período de Otávio Augusto no
deixaram na História. governo de Roma, responda:
a) Qual a relação da reurbanização de Roma durante o
4. Vivemos numa forma de governo que não se baseia
Governo de Otávio Augusto, com aquilo que simboliza-
nas instituições de nossos vizinhos; ao contrário, ser-
va a PAX ROMANA?
vimos de modelo a alguns, ao invés de imitar outros.
[...] Nela, enquanto no tocante às leis todos são iguais b) Identifique uma medida social e uma medida políti-
para a solução de suas divergências privadas, quando ca estabelecidas por Augusto para adaptar as tradições
se trata de escolher (se é preciso distinguir em algum romanas àquele momento histórico.
setor), não é o fato de pertencer a uma classe, mas o
mérito, que dá acesso aos postos mais honrosos; in- 8. Durante o período das Cruzadas, São Bernardo de
versamente, a pobreza não é razão para que alguém, Claraval (1090-1153) escreveu:
sendo capaz de prestar serviços à cidade, seja impedi- “Mas os soldados de Cristo combatem confiantes nas
do de fazê-lo pela obscuridade de sua condição. Con- batalhas do Senhor, sem nenhum temor de pecar por
duzimo-nos liberalmente em nossa vida pública, e não pôr-se em perigo de morte e por matar o inimigo.
observamos com uma curiosidade suspicaz [desconfia- Para eles, morrer ou matar por Cristo não implica
da] a vida privada de nossos concidadãos, pois não qualquer crime, pelo contrário, traz a máxima glória.
nos ressentimos com nosso vizinho se ele age como (...) Em outras palavras: o soldado de Cristo mata

97
com a consciência tranquila e morre com a consciên- a) Do ponto de vista religioso e cultural, qual o signifi-
cia mais tranquila ainda.” cado dessa batalha para as regiões ocidentais do con-
(São Bernardo de Claraval apud COSTA, Ricardo da. tinente europeu?
Apresentação: A Cruzada Renasceu? BLASCO VALLÈS, b) Qual a nova força militar que desempenhou um pa-
Almudena, e COSTA, Ricardo da (coord.). Mirabilia 10. A Idade pel fundamental nessa batalha e que depois se tornaria
Média e as Cruzadas. jan.-jun. 2010/ISSN 1676- 5818, p. XIII) durante todo o período medieval uma das instituições
de sustento ao feudalismo?
No que se refere às Cruzadas no período medieval, de-
termine quem eram esses soldados de Cristo referen-
4. Qual o significado simultaneamente político e religio-
ciados no trecho acima, quais as motivações para em- so da coroação de Carlos Magno, ocorrida no Natal do
preender suas batalhas e quais as suas consequências ano 800?
para o mundo ocidental daquele período.
5. Observe a ilustração e leia a citação a seguir. Em se-
9. Godrici de Finchale foi um mercador que viveu no sécu- guida, responda ao que se pede.
lo XI, na Baixa Idade Média, no leste da atual Inglaterra.
"Quando o rapaz, depois de ter passado os anos da in-
fância sossegadamente em casa, chegou à idade varo-
nil, principiou a aprender com cuidado e persistência o
que ensina a experiência do mundo. Para isso decidiu
não seguir a vida de lavrador, mas estudar, aprender e
exercer os rudimentos de concepções mais sutis. Por
esta razão, aspirando à profissão de mercador, come-
çou a seguir o modo de vida do vendedor ambulante,
aprendendo primeiro como ganhar em pequenos ne-
gócios e coisas de preço insignificante; e, então, sendo
ainda um jovem, o seu espírito ousou pouco a pouco
comprar, vender e ganhar com coisas de maior preço.”
(Adaptado de Reginald of Durnham, "Libellus de
Vita et Miraculis S. Godrici", em Fernando Espinosa,
Antologia de textos históricos medievais. 3ª ed.,
Lisboa: Sá da Costa Editora, 1981, p. 198.) Nascida nos quadros do Império Romano, a Igreja ia
a) Segundo o texto, o ofício de mercador exigia uma aos poucos preenchendo os vazios deixados por ele
preparação diferente daquela do lavrador. Quais eram até, em fins do século IV, identificar-se com o Estado,
as diferenças entre esses dois ofícios? quando o cristianismo foi reconhecido como religião
oficial. (...) Estreitavam-se, portanto, as relações Esta-
b) Cite duas características do renascimento comercial do-Igreja. (...) No Império Carolíngio, a aliança entre
e urbano ocorrido no final do período medieval. os reis e a Igreja foi fundamental para a consolidação
de ambos os poderes e, por vezes, a Igreja assumia

U.T.I. - E.O.
funções que hoje consideramos ser do Estado e este
por sua vez interferia nos assuntos religiosos.
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média. Nascimento do
1. A palavra árabe iman significa ‘ter certeza’ e designa Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2001. p. 67 e 71.
fé, no sentido da certeza. A fé, por conseguinte, não con-
tradiz o conhecimento nem a compreensão. Pelo contrá- Sobre as relações entre Estado e Igreja, no período me-
rio, o desejo de saber é uma obrigação religiosa, e os dieval, responda:
tempos pré-islâmicos (século VI) na Arábia são chamados a) Qual o papel administrativo desempenhado pela
pelos islâmicos de jahiliya, ignorância. Igreja católica durante o Período Medieval?
Adaptado de: Burkhard Scherer (Org.). As grandes religiões: b) Como o Poder Real dos francos – merovíngios e caro-
temas centrais comparados. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 77. língios – contribuiu para a expansão do cristianismo na
Europa ocidental?
Como a fé e o conhecimento científico estavam relacio-
nados entre si no mundo islâmico na Alta Idade Média? 6. Qual a importância do ponto de vista geopolítico da-
quele período, o surgimento, estabelecimento e expan-
2. “O desenvolvimento da arte bizantina da produção são do Islão a partir do século VII?
de ícones em mosaicos não contradiz as razões que ori-
ginaram o Cisma do Oriente, em 1054.” 7. O Imperador Justiniano (527-565) entre outras reali-
zações, consolidou o conceito e as práticas do Cesaro-
Explique essa afirmação justificando-a.
papismo, que iriam ter muitas consequências ao longo
do tempo naquela região, particularmente no Leste eu-
3. A famosa “Batalha de Poitiers”, ocorrida no ano de
ropeu e na Rússia.
732, teve em Carlos Martel, líder dos francos e avô de
Carlos Magno uma figura central. O que é Cesaropapismo?

98
8. “O aparecimento da polis constitui, na história do 11. Considere os dois trechos de documento a seguir:
pensamento grego, um acontecimento decisivo (...).
1º trecho (século XI):
O que implica o sistema da polis é primeiramente
uma extraordinária preeminência da palavra sobre “I- A Igreja Romana foi fundada só pelo Senhor. (...)
todos os outros instrumentos do poder. Torna-se o III- Só ele [o pontífice romano] pode depor ou absolver
instrumento político por excelência, a chave de toda os bispos. (...)
a autoridade no Estado, o meio de comando e de do- IX- O papa é o único homem a quem todos os príncipes
mínio sobre outrem (...). Uma segunda característica beijam os pés. (...)
da polis é o cunho de plena publicidade dada às ma- XII- É-lhe permitido depor os imperadores. (...)”
nifestações mais importantes da vida social. Pode-se
mesmo dizer que a polis existe apenas na medida em (Papa Gregório VII – 1075 apud ESPINOSA,
Fernanda. Antologia de textos medievais.
que se distinguiu um domínio público, nos dois senti- Lisboa: Sá da Costa Editora, 1981, p. 289)
dos diferentes mas solidários do termo: um setor de
interesse comum, opondo-se aos assuntos privados; 2º trecho (século XIV):
práticas abertas, estabelecidas em pleno dia, opon-
“E aprendemos das palavras do Evangelho que nesta
do-se a processos secretos. Essa exigência de publici-
Igreja e em seu poder estão duas espadas, a espiritual
dade leva a apreender progressivamente em proveito
e a temporal. Uma espada, portanto, deverá estar sob a
do grupo e a colocar sob o olhar de todos o conjunto
outra, e a autoridade temporal sujeita à espiritual. (...)
de condutas, dos processos, dos conhecimentos que
constituíam na origem o privilégio exclusivo.” Por tudo isso que declaramos, estabelecemos e defini-
mos que é necessário para a salvação de toda criatura
(Jean-Pierre Vernant. As origens do pensamento grego. 1984.)
humana estar submetida ao pontífice romano”
a) O que era a polis? (Papa Bonifácio VIII, 1302 apud ESPINOSA,
Fernanda. Antologia de textos medievais.
b) Por que a PALAVRA é tão importante nesse contexto Lisboa: Sá da Costa Editora, p. 337-338).
ao qual o autor se refere?
Identifique nesses dois trechos o conflito a que os dois
9. O que significa o termo “Mesopotâmia” e qual a rela- papas se referem e explique as razões de sua persistên-
ção entre esse significado e as civilizações que surgiram cia no período da Baixa Idade Média europeia.
nas várias cidades-Estado daquela região?

10. As perseguições aos cristãos no Império Romano 12. No início do século XIV, o inquisidor Bernardo Guy
estavam ligadas especialmente a uma atitude dos cris- escreveu um Manual do Inquisidor, no qual descrevia
tãos com relação à figura do Imperador e que era ao como se ingressava na seita herética que ficou conhe-
mesmo tempo política e religiosa. cida pelo nome de pseudoapóstolos: “Perante algum
altar, na presença de membros da seita, o candidato se
a) Qual era essa questão? despe de suas roupas, como sinal de renúncia a tudo
que possui, para seguir com perfeição a pobreza evan-
b) Por que ela era simultaneamente política e religiosa? gélica. Também se exige que ele prometa não obede-
cer a nenhum mortal, mas só a Deus, como se fosse um
apóstolo sujeito apenas a Cristo e a ninguém mais.”
(Adaptado de Nachman Falbel, Heresias medievais.
São Paulo: Perspectiva, 1977, p. 66.)

a) Por quais razões essa heresia era uma ameaça para a


Igreja do período?
b) Caracterize a relação entre o poder religioso e o pod-
er temporal na baixa Idade Média.

99
HISTÓRIA DO BRASIL

101
FORMAÇÃO DE PORTUGAL E
NAVEGAÇÕES ULTRAMARINAS

PORTUGAL E SUA FORMAÇÃO


Guerra de reconquista
Da guerra dos cristãos contra os mouros (muçulmanos do
norte da África) nasceram os reinos de Aragão, Leão, Castela
e Navarra.
Com a união desses reinos cristãos, iniciou-se a Guerra de
Reconquista, com o objetivo de expulsar os mouros da pe-
nínsula Ibérica.
Henrique de Borgonha (nobre francês), em virtude da sua BATALHA DE ALJUBARROTA (1385)
atuação na Guerra de Reconquista, recebeu do rei Afonso
A burguesia, a pequena nobreza e a população pobre
VI, de Leão, em 1094, o condado Portucalense e a mão de
derrotaram os castelhanos na Batalha de Aljubarrota (Pa-
sua filha Tereza. Afonso Henriques foi fruto deste casamento.
deira), consolidando a independência portuguesa em
Ele lutaria contra a submissão do condado Portucalense a
1385. A aliança entre a dinastia de Avis e a burguesia for-
Leão, no ano de 1139, proclamando sua independência
taleceu a centralização monárquica e abriu caminho
e tornando-se o primeiro rei da dinastia de Borgonha.
para as grandes navegações.

A Borgonha (1139-1383)
Foi a primeira dinastia e configurou plenamente as ca- AS GRANDES NAVEGAÇÕES
racterísticas do feudalismo português. Durante os séculos XV e XVI, os europeus, principalmente
Sem se mostrar capaz de acompanhar as transformações so- portugueses e espanhóis, lançaram-se aos oceanos com
ciais e econômicas ocorridas em Portugal, a dinastia de Bor- dois objetivos principais: descobrir uma nova rota marítima
gonha se indispôs com a classe dos mercadores, que cresce- para as Índias e encontrar novas terras.
ra bastante nesse período; assim a dinastia de Avis, mais As navegações ajudaram a marcar a passagem da Idade
ligada aos interesses comerciais e urbanos, tomou seu lugar.
Média para a Idade Moderna e impulsionaram o aumento
Portugal era predominantemente agrário, e nos fins do sé- do comércio da Europa com a Ásia e a África. Além disso,
culo XIV, passou a desenvolver uma economia mais voltada resultaram na descoberta, em 1492, de um novo continen-
para a navegação e o comércio. te a ser explorado pelos europeus: a América.

Revolução de Avis (1383-1385) O “Novo Mundo” dividido


A morte de D. Fernando desencadeou uma luta pela su-
Os reis da Espanha e de Portugal passaram a disputar en-
cessão do trono português, em 1383, e serviu de estopim
tre si a posse das terras descobertas e das terras a serem
para a Revolução de Avis. O rei não havia deixado um filho
descobertas, assim que a notícia do descobrimento da
varão, e sua filha, D. Beatriz, era casada com D. João I, de
América chegou à Europa.
Castela. Se ela herdasse a coroa, o reino se tornaria domí-
nio de Castela e perderia a independência política. Em 1493, os reis da Espanha obtinham o apoio do papa
A nobreza portuguesa era partidária da união com Cas- Alexandre VI, espanhol de nascimento, na edição da Bula
tela, que era feudal. A burguesia, que considerava a per- Inter Coetera. A Bula determinava uma divisão do mun-
da da independência uma ameaça aos seus interesses, do ultramarino, tomando-se por base um limite a 100 lé-
apoiava as pretensões de D. João, mestre de Avis, irmão guas a oeste de Cabo Verde. Portugal ficaria com as terras
bastardo do rei. Quando D. João foi proclamado rei, Cas- a leste dessa linha. As terras situadas a oeste dessa linha
tela invadiu Portugal. imaginária caberiam à Espanha.

102
Tratado de Tordesilhas A expansão ultramarina e suas consequências
ƒ implantação do trabalho compulsório indígena na Amé-
rica espanhola; expansão do comércio europeu;
ƒ afluxo de metais preciosos para o continente europeu,
Ilhas
Canárias

Cabo

que gerou uma enorme inflação na Europa, processo


Verde
ilhas
Equador

conhecido como a Revolução dos Preços, em razão


Linhas de demarcação coloniais
entre Espanha e Portugal nos
da desvalorização da moeda e do aumento geral dos
séculos XV e XVI.
Linha do Papa Alexandre VI
(Bula Inter Caetera, 1493)

Tratado de Tordesilhas (1494)


preços; diversificação dos artigos de consumo: batata,
Tratado de Zaragoza (1529)
tabaco, cacau e o milho oriundos da América;
DISPONÍVEL EM: <HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/ERA_DOS_
DESCOBRIMENTOS>. ACESSO EM 23 DEZ. 2015. ƒ destruição das civilizações pré-colombianas astecas
e incas;
Devido à insignificância dos territórios lusos, Portugal se opôs
ƒ enriquecimento da burguesia mercantil europeia;
a essa Bula,o que levou a sua revogação e assinatura, em
1494, do Tratado de Tordesilhas. Pelos termos do novo ƒ fortalecimento dos Estados absolutistas;
Tratado, deslocava-se para 370 léguas a oeste de Cabo ƒ europeização do mundo, ou seja, a difusão da cultura
Verde o limite entre os domínios portugueses e espanhóis. europeia (vestimentas, língua, hábitos alimentares).
ƒ mudança do eixo econômico europeu do mar
Algumas nações europeias não iriam respeitar O Tratado de
Mediterrâneo para o oceano Atlântico;
Tordesilhas, pois julgavam injusta a partilha do mundo en-
tre as nações ibéricas. Os países mais contrariados foram: a ƒ expansão do mercantilismo;
Grã-Bretanha, o Reino dos Países Baixos e a França. ƒ implantação do sistema colonial na América;
ƒ adoção do trabalho escravo e consequente intensifica-
ção do tráfico negreiro;
ƒ expansão da fé cristã.

AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA, MERCANTILISMO E


ADMINISTRAÇÃO ESPANHOLA NA AMÉRICA

AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA .
Conheciam a astronomia, uma vez que foram encontrados
registros de datas muito antigas. Também conheciam a es-
crita e sistemas matemáticos. Muitos traços e tradições dos
Olmecas olmecas sobreviveram entre as diversas culturas que os su-
cederam, como é o caso das culturas dos astecas e maias.
Originada na costa sul do golfo do México, a cultura olmeca
é considerada a primeira cultura elaborada da Mesoaméri-
ca e matriz de todas as culturas posteriores dessa área. As Maias
características marcantes do Império olmeca, que se esten- Ocupando as planícies da península do Iucatã, os maias
deu do México ocidental à Costa Rica, foram a presença de elaboraram uma das mais complexas e influentes culturas
centros cívicos religiosos a que se subordinavam áreas da América.
periféricas e a escultura monumental.
A economia agrícola considerava o milho um alimen-
A população olmeca era bastante desenvolvida. Espalhada to sagrado do qual teria se originado o homem. A terra era
pelo império, dividia-se entre uma minoria (sacerdotes, cultivada coletivamente e os camponeses eram obrigados
artífices de elite), que habitava os centros cerimoniais, a pagar o imposto coletivo. A pecuária ainda era des-
e a maioria do povo (camponeses), que vivia nas aldeias. conhecida, e a caça e a pesca atividades complementares.
A arte olmeca se caracterizou pela valor religioso. A escultura
era bastante desenvolvida: monumentais cabeças de pedra Os maias formavam uma sociedade rigidamente hie-
com rosto redondo, lábios grossos e nariz achatado; estatue- rarquizada, em que a posição social era determinada pelo
tas com formas humanas; e outras apresentando uma mistu- nascimento. Uma elite (militares e sacerdotes) constituía
ra de traços humanos e felinos. o grupo dominante, de caráter hereditário, que habitava os

103
numerosos centros cerimoniais circundados pelas aldeias a base da pirâmide social. A maior parte de terra pertencia
onde vivia a numerosa mão de obra de camponeses sub- aos sacerdotes e elites locais (líderes dos clãs), enquanto as
metidos ao regime de servidão coletiva. comunidades camponesas conservavam pequena parcela
para uso familiar.
Responsável pela política interna e externa e pelo recolhi-
mento do imposto coletivo das aldeias, acredita-se que o go-
verno maia fosse uma teocracia de caráter hereditário

PIRÂMIDE DO SOL

PIRÂMIDE DE KUKULCÁN, EM CHICHÉN ITZÁ O imperador possuía representação religiosa, militar e políti-
ca, seja por suas conquistas, seja pelo domínio sobre vários
Os maias construíram templos de forma retangular sobre povos, o que tornou o Império Asteca um Estado milita-
pirâmides truncadas com escadarias que se estendiam ao rista e teocrático.
redor de praças. Também edificaram palácios, que prova-
velmente serviam de residências dos sacerdotes. Construíram obras arquitetônicas colossais: templos e pa-
lácios com terraços em forma piramidal, objetos decorati-
Ao preverem os eclipses solares, o movimento dos planetas vos, obras de ourivesaria em prata, ouro e pedras preciosas
e elaborarem um calendário cíclico, bem como ao desen- utilizadas na decoração de palácios e templos. Os astecas
volverem noções avançadas, como um símbolo para o zero também se destacaram na astronomia, ao elaborarem um
e o princípio do valor relativo, os maias fizeram notáveis calendário solar que lhes possibilitava planejar as épocas
progressos na astronomia e na matemática. de plantio e colheita.
Por volta do ano 900, a civilização maia sofreu declínio de A religião asteca era politeísta, com prática de sacrifícios
população. Há estudiosos que atribuem o abandono dos humanos. Na crença asteca, para que o mundo fosse pre-
centros maias à guerra, à insurreição, à revolta social, a servado, os deuses exigiam oferendas do bem mais precio-
invasões bárbaras, etc. A exploração intensiva de meios de so que os homens possuíam: a vida.
subsistência inadequados, que provocaram a exaustão do
solo, ao lado dos intensos conflitos entre as cidades-Esta-
do, são as hipóteses mais prováveis. Até a conquista defi- Incas
nitiva pelos espanhóis, a cultura maia posterior se fundiu A região ocupada pelos incas ainda se estendia ao lon-
com a dos toltecas. go da cordilheira dos Andes, ocupando parte dos atuais
territórios de Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile e Ar-
Astecas gentina. Originariamente nômades, os incas faziam parte
do grupo quéchua. Entre os séculos XII e XIII, realizaram
Os astecas ocuparam originalmente a região noroeste do
várias conquistas na região andina (civilizações de Tiahua-
atual México. Guerreiros e expansionistas, domi-
naco, Huari e Chimu), alcançando seu apogeu na época da
naram os toltecas e outros povos da região. Construíram pa-
conquista espanhola no século XVI.
lácios, templos, mercados e canais de irrigação e, em 1325,
fundaram a cidade de Tenochtitlán, capital do império. A propriedade era divida em terras do Estado, terras dos
sacerdotes e terras comunitárias. Rigidamente estratifica-
Com destaque para o cultivo do milho, do algodão, do fei-
das, essa sociedade experimentou a formação de classes
jão e do cacau, cuja semente era utilizada como moeda, a
sociais, tornando-se estamental. Abaixo do imperador,
economia era essencialmente agrária.
havia uma elite de sacerdotes e militares (nobreza);
A sociedade era rigidamente hierarquizada: o imperador e artífices do Estado, médicos e contabilistas com-
sua família ocupavam a posição mais elevada da pirâmi- punham o grupo intermediário; a base da pirâmide so-
de social; em posição intermediária estavam os artesãos cial era constituída por escravos e uma grande massa
e comerciantes; os camponeses e os escravos ocupavam de camponeses.

104
Em 1503, a Coroa espanhola criou as Casas de Con-
tratação, órgão responsável por fiscalizar a cobrança
do quinto. Com o passar do século XVI, a Espanha foi
aprimorando seu sistema de administração colonial e
foram criadas as Audiências, instituições com compe-
tência jurídica instaladas nas mais importantes regiões
da América hispânica. Para centralizar a administração
da colônia espanhola, foi criado o Conselho das Ín-
dias em 1524.
O passo final para a melhor administração das terras ame-
MACHU PICCHU FOI, AO LADO DE CUZCO, UM DOS DOIS ricanas foi sua divisão em Capitanias (terras de menor
MAIS IMPORTANTES CENTROS URBANOS DA CIVILIZAÇÃO INCA.
representatividade econômica) e Vice-Reinos (terras de
O imperador era considerado um deus (Sapa Inca), descen- maior valor econômico).
dente direto do Sol. Os incas acreditavam em vários deuses
vinculados a elementos da natureza. Construíram grandes
templos e faziam sacrifícios animais e humanos.
Mercantilismo
A estruturação do capitalismo comercial coincidiu com
Sem escrita, a cultura era transmitida oralmente. O idio-
ma quéchua serviu de instrumento unificador do Império a formação dos Estados nacionais, organizando e impondo
Inca. Um conjunto de nós e barbantes coloridos, denomi- uma série de práticas econômicas visando a proporcionar o
nados quipus, permitiu aos Incas desenvolverem um en- acúmulo de metais preciosos como forma de dinami-
genhoso sistema de contabilidade. Na astronomia, foram zar as relações comerciais e fortalecer as moedas nacionais.
autores de um calendário. Na matemática, utilizavam o Essa política econômica dos Estados modernos ficou conhe-
sistema numérico decimal. cida como mercantilismo.
A intervenção do Estado na economia e o me-
A CONQUISTA ESPANHOLA E O talismo (acúmulo de metais preciosos) foram as princi-
pais bases do mercantilismo. A principal forma de obtenção
CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES e acúmulo de metais era o comércio, o que levou os gover-
Os impérios existentes na América foram vistos pelos coloni- nos a estimularem as exportações e a inibirem, mediante
zadores espanhóis como as principais ameaças ao projeto de protecionismo marcado por altas taxas alfandegárias, as
exploração do novo território. Os astecas e os incas foram os importações de artigos estrangeiros, caracterizando, assim,
que mais sofreram com o contato com os europeus. uma balança comercial favorável. Eram muito fortes os
estímulos governamentais à produção de artigos manufatu-
Uma grande vantagem dos espanhóis sobre os ameríndios
rados cujos preços eram bastante elevados no exterior e nas
foi o fato de possuírem armas de fogo, canhões e cavalos,
áreas coloniais.
todos elementos desconhecidos na América. Outro fator
que contribuiu para uma rápida conquista por parte dos Chamado também de sistema colonial, o colonialismo
europeus foi a disseminação de doenças até então inexis- figura como parte integrante da política mercantilista. Ele
tentes na América (ex.: gripe). correspondia ao conjunto de relações entre metrópoles
e colônias, quando aquelas impuseram uma série de re-
strições à economia colonial. As determinações metropoli-
Sob a administração da Espanha
tanas às colônias baseavam-se no monopólio e na comple-
No início, a Coroa espanhola não desejava gastar muitos mentaridade, conhecidas por Pacto Colonial.
recursos com a exploração das colônias americanas. Assim,
indivíduos que investiam seus recursos particulares para Matérias-primas – gêneros tropicais
explorar as novas terras eram chamados de adelanta-
dos. Eles ganhavam uma série de prerrogativas jurídicas
e militares, como o direito de fundar núcleos de ocupação, Colônia Pacto colonial Metrópole
explorar o solo e erguer fortalezas. Em troca, entregavam
um quinto de tudo o que fosse explorado na América e
Manufaturas – escravos
promoviam a cristianização dos ameríndios.

105
PERIODO PRÉ-COLONIAL, ADMINISTRAÇÃO
COLONIAL E INVASÕES FRANCESAS

BRASIL: PERÍODO A partir de 1530, a posição de Portugal em relação ao Brasil


mudou. As necessidades portuguesas de garantir a posse
PRÉ-COLONIAL (1500-1530) do território e obter uma nova fonte de lucros que substitu-
ísse o decadente comércio oriental levaram a Coroa a dar
Logo depois do Descobrimento, o Brasil permaneceu ligado início à colonização da nova terra.
à sua Metrópole por umas poucas expedições ocasionais
Para dar início ao empreendimento, foi organizada a expedi-
que aqui chegavam com o objetivo de reconhecer mais
ção comandada por Martim Afonso de Souza, em 1530,
amplamente o litoral ou de explorar o pau-brasil, ma-
com o objetivo de percorrer o litoral e, quando necessário,
deira com possibilidade de comercialização, ou, ainda, de
explorar o interior em busca de ouro e prata, expulsar os
afugentar os franceses, atraídos pela mesma mercadoria.
franceses, criar núcleos de povoamento e aumentar o domí-
As primeiras expedições de reconhecimento e explo- nio português até o Rio da Prata.
ração foram comandadas respectivamente por Gaspar Le-
Em 1532, ao voltar do Rio da Prata, Martin Afonso fundou
mos, em 1501, e Gonçalo Coelho, em 1503.
São Vicente, no litoral do atual estado de São Paulo. São
A crescente presença de franceses exigiu mais esforços para Vicente foi dotado de um engenho para produzir açúcar,
garantir a segurança das novas terras. A mão de obra além de ser o primeiro núcleo de colonização no Brasil.
livre dos índios mediante escambo, que consistia na tro-
ca de objetos de pouco valor – espelhos, miçangas, objetos Capitanias hereditárias (1534)
de ferro – pelo corte e transporte do pau-brasil até locais
na costa, era favorável aos contrabandistas franceses, que O Estado português adotou o sistema de capitanias he-
não tinham compromisso com o Tratado de Tordesilhas. reditárias. Assim, a iniciativa privada arcaria com os gas-
tos da colonização.
Esses fatores forçaram a colonização do litoral, que mu-
dou radicalmente a política oficial do Estado português e o Em 1534, a costa brasileira foi dividida em quinze faixas
montante de investimentos por parte da burguesia. de terra. Chamavam-se capitanias hereditárias, pois pas-
sariam dos donatários a seus herdeiros. Os donatários
Os portugueses criaram as feitorias – estabelecimentos
dispunham de grandes poderes sobre as terras, inclusive o
fundados no litoral da Colônia para armazenar o pau-brasil
de distribuir sesmarias (porções de terra que permane-
e assegurar a posse do território contra os invasores.
ceriam em poder do sesmeiro e seus descendentes desde
A exploração do pau-brasil era monopólio do rei (Estan- que eles as cultivassem) àqueles que as requeressem para
co Régio), como toda atividade ultramarina. Só poderia estimular a colonização.
se dedicar a ela quem tivesse uma concessão da Coroa,
que cobrava por isso o quinto (20% do lucro adquirido Martim Afonso de Sousa, em São Vicente, e Duarte Co-
com o produto). elho, em Pernambuco, foram os únicos donatários que
tiveram sucesso (em parte porque receberam muita ajuda

INÍCIO DA COLONIZAÇÃO BRASILEIRA


do rei de Portugal e de banqueiros flamengos). Ataques
constantes de índios, falta de recursos, a longa distância

(1530-1580) até a Metrópole, as dificuldades de comunicação entre as


capitanias e a descentralização político-administrativa fo-
ram os principais motivos do fracasso do sistema de capi-
tanias hereditárias.

Governo-Geral (1548)
Depois do fracasso do sistema de capitanias, Portugal
criou o Governo-Geral, que deveria corrigir as falhas das
capitanias hereditárias e não extingui-las. O novo órgão
OBRA DE BENEDITO CALIXTO, “FUNDAÇÃO DE SÃO VICENTE”, MOSTRA A VISÃO deveria centralizar a administração colonial,
DO ARTISTA SOBRE A CHEGADA DOS PORTUGUESES NO LITORAL PAULISTA. sendo o Governador-Geral a maior autoridade da Colônia

106
e representante direto do rei. O sistema de Governo-Geral Além disso, problemas internos na França colaboraram
foi criado por D. João III (o colonizador), que, por meio do para a formação de um núcleo colonial no Brasil: a Fran-
Regimento de 1548, determinou as principais funções do ça Antártica.
Governo: ajudar os donatários no que fosse necessário;
ƒ Mem de Sá (1558-1572)
combater índios e piratas; fundar núcleos de povoamento;
estimular a catequese e defender a fé cristã e organizar O terceiro Governador-Geral iniciou a luta contra os
expedições em busca de metais preciosos. franceses. O Forte de São Sebastião do Rio de Janeiro,
que seria o núcleo inicial da cidade do Rio de Janeiro, foi
fundado, em 1565, pelo sobrinho do governador, Estácio
Câmaras municipais de Sá, para auxiliar na luta contra os franceses. Dois anos
As vilas e cidades coloniais eram administradas pelas câ- depois, os franceses foram expulsos da região e a França
maras municipais, que representavam os interesses Antártica foi destruída.
de ricos proprietários chamados de homens bons.
D. Luís de Vasconcelos, nomeado como quarto Go-
Por vezes, as câmaras municipais gozavam de enorme au- vernador-Geral, não chegou ao Brasil, pois sua es-
tonomia, ignorando leis impostas pela capital e apostando quadra foi destroçada por corsários franceses. Também
na ausência de qualquer punição, considerando a precarie- morreram nessa ocasião quarenta jesuítas que acompa-
dade dos meios de comunicação e transporte. nhavam o governador. Ficaram conhecidos na história
como os Quarenta Mártires do Brasil.
Governadores-Gerais O Brasil foi dividido em dois governos: o do norte, com
ƒ Tomé de Souza (1549 – 1553) capital em Salvador e governado por Luís de Brito
Almeida, e o do sul, com capital no Rio de Janeiro e
Primeiro Governador-geral do Brasil. Chegou acompa-
governado por Antônio Salema.
nhado de aproximadamente mil homens (soldados, pro-
fissionais, funcionários públicos, etc.) a fim de construir Luís de Brito Almeida ficou apenas quatro anos no poder.
a primeira cidade do Brasil, Salvador, que se tornou Ele foi substituído por Lourenço da Veiga, que governava
a capital, sendo originalmente denominada Salvador da quando, em 1580, Portugal e sua Colônia passaram para o
Bahia de Todos os Santos. domínio espanhol, na chamada União Ibérica.
ƒ Duarte da Costa (1553-1558)
Um novo grupo de jesuítas, dentre os quais o padre José
Conselho Ultramarino
de Anchieta, desembarcou no Brasil acompanhado do se- D. João IV se tornou rei, pondo fim à União Ibérica depois
gundo Governo-Geral, que, juntamente com Manuel da da restauração do trono português, em 1640, quando foi
Nóbrega, fundou, em 1554, o colégio de São Paulo criado o Conselho Ultramarino, regulamentado em 1642.
de Piratininga, origem do povoado que se transforma- O novo órgão nasceu subordinado à Secretaria de Estado
ria na cidade de São Paulo. dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos e esta-
A invasão francesa no Rio de Janeiro, em 1555, foi va encarregado exclusivamente da administração colonial,
também um fato marcante desse governo. Ela estava concluindo o processo iniciado em 1548 com a instalação
vinculada aos problemas enfrentados pelos franceses na do Governo-Geral, sendo um passo decisivo para a centra-
extração do pau-brasil por causa do maior policiamento. lização administrativa colonial.

ECONOMIA COLONIAL, SOCIEDADE


E INVASÕES HOLANDESAS

A CANA-DE-AÇÚCAR ƒ A possibilidade de atrair investimentos externos.


ƒ Solo e clima favoráveis, especialmente o solo de massa-
(SÉCULOS XVI E XVII) pé e o clima quente e úmido do Nordeste.
ƒ O açúcar era um produto altamente lucrativo.
A cana-de-açúcar foi o produto escolhido para dar início
à ocupação econômica do Brasil por uma série de razões: ƒ A aceitação do produto no mercado europeu.

ƒ A experiência portuguesa na produção de cana na cos- No Brasil, a atividade açucareira funcionava da seguinte ma-
ta africana (Cabo Verde, Madeira, São Tomé). neira: os portugueses ficavam responsáveis pela produção, e

107
os holandeses financiavam a montagem dos engenhos, bem A substituição da escravidão indígena pela escravidão dos
como controlavam o transporte, o refino e a comercialização negros foi favorecida pela questão da obtenção de escra-
do açúcar, obtendo a maior porcentagem de lucros. vos. Os índios brasileiros eram nômades e seminômades e,
portanto, migravam constantemente. Além disso, a exten-
A primeira grande divisão de terras foi fundamental para
são do território era outro fator que dificultava a captura
determinar o modelo de colonização. Esse modelo ficou co-
de índios. Já os negros eram obtidos na África por meio
nhecido como plantation e baseava-se em três elementos:
de escambos entre os traficantes e os próprios africanos,
grande propriedade (latifúndio), monocultura e tra-
que capturavam negros de tribos rivais e trocavam-nos por
balho escravo (escravismo).
aguardente, rapadura e fumo trazido do Brasil.
O rei simplesmente legalizava a escravidão do índio sob pre-
texto de defendê-lo. Para aprisionar índios, foram organiza-
dos as chamadas bandeiras, expedições que se tornaram
um dos principais fatores da atual extensão do território
brasileiro, principalmente na região mais ao sul do Brasil
Colônia (atual Sudeste).

A organização da produção
do engenho
A grande produção só começa oficialmente com Martim NEGROS NO PORÃO DE UM NAVIO NEGREIRO
Afonso de Souza, em 1533, em São Vicente. As construções Havia a prática de aborto, infanticídio, suicídio e o banzo”(-
principais são a casa-grande, a senzala, as estrebarias e caracterizando por greve de fome e depressão por conta da
as oficinas. As principais instalações do engenho são: moen- privação da liberdade). Menos comum, mas ocorrente, era o
da, caldeira e casa de purgar. ataque à casa do senhor e a sua família. A resistência negra
A unidade produtora da agromanufatura açucareira era o podia se dar por meio de fugas indivíduais, fugas coletivas e
engenho, que se constituía basicamente de: a formação de quilombos.
ƒ Casa do engenho: formada pelas instalações desti-
nadas à produção de açúcar. Engenhos e a sociedade
ƒ Casa-grande: residência, geralmente assobradada, Essencialmente a sociedade colonial era:
onde viviam o senhor e sua família. Nela também mo-
ƒ Inculta – pois mesmo os membros da elite só recebiam
ravam os empregados de confiança (capatazes) que
o ensino das “letras básicas”, que não passavam do
cuidavam de sua segurança. Era a central administra-
aprender a ler, escrever e contar de modo primário.
tiva das atividades econômicas do engenho.
ƒ Aristocrática – porque dominada pelos ricos propri-
ƒ Capela: local das cerimônias religiosas.
etários de terras e de escravos.
ƒ Senzala: habitação de um único compartimento, rústi-
ƒ Rural – porque a vida econômica baseava-se na agri-
ca e pobre, onde viviam os escravos.
cultura. A vida urbana ainda era muito incipiente, com
a quase totalidade da população habitando o campo.
ƒ Escravista – porque a força de trabalho baseava-se
na escravidão do índio ou do negro.
ƒ Sem mobilidade social – porque não havia opor-
tunidade para trabalhadores e escravos saírem de sua
condição e ascenderem socialmente.
ENGENHO DE AÇÚCAR MOVIDO A ÁGUA
ƒ Patriarcal – porque o proprietário rural e pai de família,
ao considerar-se responsável pelo provimento material
Escravidão negreira do lar, impôs a obrigação de ser respeitado e obedeci-
A escravidão dos negros permitia a obtenção de grandes do no âmbito familiar. Esse poder sobre a família era
lucros por parte dos traficantes portugueses, que domina- estendido à sociedade, já que, como dono das riquezas
vam áreas fornecedoras de escravos na África, como Ango- materiais, o senhor considerava toda a população não
la, Goa, São Tomé e, posteriormente, Moçambique. proprietária dependente dele.

108
INVASÕES HOLANDESAS Bahia e a invasão holandesa
(SÉCULO XVII) (1624-1625)
A Companhia das Índias Ocidentais planejou a conquista
da Bahia. Para os holandeses, conquistar o Nordeste bra-
União Ibérica (1580-1640) sileiro significava assegurar o controle da produção açuca-
Em 1578, ocupava o trono português D. Sebastião, que reira, manter o funcionamento da economia metropolitana
viria a ser o último monarca da Dinastia de Avis. As dificul- e opor-se com eficácia ao embargo espanhol.
dades socioeconômicas e o espírito cruzadista levaram-no a Atacadas de surpresa, as forças luso-brasileiras, coman-
lutar contra os mouros no norte da África. dadas pelo bispo D. Marcos Teixeira e pelo governador
D. Sebastião desapareceu, não deixando herdeiros, durante Mendonça Furtado, foram forçadas a uma rápida rendi-
a batalha de Alcácer-Quibir. O velho cardeal D. Henri- ção em maio de 1624. O bispo escapou e refugiou-se no
que, único sobrevivente masculino da linhagem de Avis, as- Arraial do Espírito Santo, nos arredores de Salvador, de
sumiu a regência enquanto não se solucionava o problema onde iniciou a resistência, apoiado pelo governador de
da sucessão. Em 1580, o cardeal-regente morreu. Felipe II, Pernambuco, Matias de Albuquerque.
rei da Espanha, neto de D. Manuel, o Venturoso (o mes- Embora tivessem obtido com certa facilidade a rendição
mo que organizara a esquadra de Pedro Álvares Cabral), luso-brasileira, Jacob Willekens e Johan van Dorth, os co-
achou-se no direito de ocupar o trono português. mandantes das forças holandesas, não conseguiram con-
Portugal ficou submetido à Espanha durante 60 anos. Con- solidar a conquista. Faltou-lhes maior apoio da Holanda
sequentemente, o Brasil também passou para o domínio que, envolvida na Guerra dos Trinta Anos contra a Espa-
espanhol, sofrendo alterações em sua estrutura interna e no nha, não enviou reforços, suprimentos, armas e munições.
seu relacionamento internacional. A ocupação holandesa ficou ameaçada e não resistiu aos
Em 1580, quando da união das Coroas Ibéricas, Portu- frequentes ataques de grupos de guerrilheiros sediados no
gal viu-se envolvido pelas rivalidades espanholas, so- Arraial do Espírito Santo. Em maio de 1625, os holandeses
foram expulsos da Bahia.
bretudo com relação à Holanda. Rebelados desde 1567
contra os altos impostos e a repressão religiosa do cató-
lico Felipe II contra o calvinismo, os holandeses tiveram Invasão holandesa em
de sustentar longos anos de lutas para preservar sua Pernambuco (1630-1654)
liberdade diante do poderio espanhol. Visando preju-
Em 1630, os holandeses decidiram atacar a Capitania de
dicá-los, Felipe II decretou o fechamento dos portos do
Pernambuco, a maior produtora de cana-de-açúcar, que
Brasil, de Portugal e de qualquer domínio espanhol aos tinha uma defesa menos eficiente que a da Bahia, além
navios e comerciantes flamengos. de ser mais próxima da Europa.
A Holanda não teve outra alternativa senão lançar-se em A resistência foi organizada pelo Governador-Geral Matias
busca de mercadorias nas áreas produtoras. Paulatinamen- de Albuquerque, mas os flamengos não encontraram difi-
te, a hegemonia holandesa se firmou no Oriente, à custa do culdades para ocupar Olinda.
recuo dos portugueses que, sem autonomia, dependiam de
Os holandeses contaram com o apoio de Domingos Fer-
ações espanholas na região.
nandes Calabar, profundo conhecedor da região que os au-
Assim, já nos últimos anos do século XVI, os holandeses ti- xiliou em várias batalhas, inclusive na conquista do Arraial
nham atingindo o Oriente pela rota do Cabo, e, em 1602, do Bom Jesus.
fundaram a Companhia das Índias Orientais, que con- Apesar da resistência, os holandeses conquistaram novas
quistou o monopólio do comércio oriental, compreendido posições, consolidando sua ocupação de uma área que
entre o Cabo da Boa Esperança e o Estreito de Magalhães ia do Rio Grande do Norte ao Sergipe. A Companhia das
por todo o Índico e o Pacífico. Índias Ocidentais passou a organizar a administração da
Os holandeses fundaram, então, a Companhia das Ín- região conquistada.
dias Ocidentais, também conhecida pela sigla em inglês Tanto os senhores de engenho como os holandeses queriam
WIC (West Indian Company), monopolizando o comércio um ambiente de ordem e paz para que pudessem obter lu-
no Atlântico. A luta entre Espanha e Holanda impediu que cros com a atividade açucareira. A Companhia enviou ao Bra-
os holandeses se abastecessem de produtos americanos sil o conde João Maurício de Nassau Siegen, nomeado
como o açúcar e o tabaco. Governador-Geral do Brasil holandês (Nova Holanda).

109
Nassau, um governo habilidoso a Espanha, enfrentando dificuldades econômicas. Essas
dificuldades provocaram mudanças na atitude da Com-
(1637-1644) panhia das Índias Ocidentais em relação ao Brasil, ele-
Maurício de Nassau chegou ao Brasil em 1637 e desen- vando impostos e cobrando dívidas dos senhores de en-
volveu uma habilidosa política administrativa: genho. Os colonos passaram a lutar pela expulsão dos
holandeses, movimento iniciado em 1645 e conhecido
ƒ Obras urbanas – a cidade do Recife foi remodelada e
como Insurreição Pernambucana. Essa mudança
foram construídas pontes e obras sanitárias.
de atitude levou ao desentendimento entre Nassau e
ƒ Concessão de crédito – a Companhia concedeu
a Companhia.
créditos aos senhores de engenho, destinados ao rea-
parelhamento dos engenhos, à recuperação dos cana- Com o fim da trégua dos dez anos assinada em 1641, Por-
viais e à compra de escravos. tugal passou a lutar abertamente contra os holandeses, que
ƒ Vida cultural – o governo de Nassau promoveu a se renderam em 1654.
vinda para o Brasil de artistas, médicos, astrônomos,
naturalistas, etc. As invasões holandesas e
ƒ Tolerância religiosa – as diversas religiões da po- suas consequências
pulação (catolicismo, protestantismo, judaísmo, etc.) A decadência da lavoura de cana-de-açúcar pode
foram toleradas pelo governo de Nassau. Deve-se notar, ser apontada como a principal consequência da expulsão
entretanto, que a religião oficial era o protestantis- dos holandeses do Brasil.
mo calvinista,.
Os flamengos dominaram as técnicas de produção de ca-
Insurreição Pernambucana na-de-açúcar (plantation) e e se estabeleceram na região
das Antilhas. Assim, dominaram completamente o merca-
(1645-1654) do, mas sem depender de Portugal e da produção brasilei-
O trono português foi restaurado com a ascensão de D. ra, que não tinha como vencer a concorrência.
João IV, dando início à Dinastia de Bragança. Portugal as-
Restou a Portugal se aproximar da Inglaterra, que viria a se
sinou, em 1641, uma trégua de dez anos com a Holanda.
aproveitar da crise da lavoura açucareira para colocar Por-
A Holanda se beneficiaria com essa trégua por estar en- tugal sob sua esfera de influência, gerando uma tutela eco-
volvida na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) contra nômica e política que penduraria por quase dois séculos.

BANDEIRISMO, MINERAÇÃO E TRATADOS DE LIMITES

BANDEIRISMO E EXPANSÃO em meados do século XVI. Ela faz parte da lógica de


exploração colonial numa região sem condições econô-
TERRITORIAL micas de utilizar o escravo africano em virtude do seu
alto custos.
Em janeiro de 1554, os jesuítas fundaram o colégio que
deu origem à vila de São Paulo de Piratininga. Se, por Essa empreitada de captura dos índios pode ser dividida
um lado, a localização geográfica de São Paulo dificulta- em duas fases. A primeira vai de meados do século XVI
va o contato com a região litorânea, por outro facilitava ao início do século XVII. Nesse período, os grupos de
o acesso ao interior. apresamento, os sertanistas, pouco preparados e inex-
perientes, saíam de São Vicente, alcançavam o povoado
Em São Paulo foi organizada a maior parte das bandei-
ras em direção ao interior. A prática comum na região de São Paulo e partiam para capturar os índios no inte-
acabou por dar a São Paulo a futura alcunha de “Terra rior da mata inexplorada e desconhecida.
dos Bandeirantes”. No final do século XVII, essas expedições, denominadas ban-
deiras, tornaram-se grandes negócios, verdadeiras empresas
Bandeirismo de apresamento que envolviam centenas de homens e muitos recursos.
A atividade de apresamento de indígenas, com o obje- O tráfico negreiro e os centros de abastecimento de es-
tivo de escravizá-lo, remonta ao início da colonização, cravos na África haviam sido dominados pelos holandeses.

110
Com isso, o apresamento dos indígenas tornou-se muito
Bandeirismo de caça ao ouro ou
cobiçado em razão dos grandes lucros que rendia.
sertanismo de prospecção
Nesse período, os jesuítas de São Paulo tentaram impedir
A perda do grande mercado comprador de mão de obra indí-
a saída das expedições, despertando uma reação imediata
gena em decorrência da crise da economia agrícola obrigou
dos colonos paulistas. Em 1641, tentaram expulsar os je- o bandeirismo a transferir seus esforços para outro objetivo:
suítas de São Paulo, fato conhecido como a botada dos a procura de metais preciosos.
padres para fora.
Percorrendo extensas regiões à procura de índios para es- Formação de missões jesuíticas
cravizar, os bandeirantes, simultaneamente, abriram cami- O Governador-Geral Tomé de Sousa trouxe para o Brasil, em
nho para a integração e ocupação do interior. 1549, o primeiro grupo de jesuítas, liderados por Manuel da
Nóbrega. O principal motivo de sua presença na América era
A rivalidade entre jesuítas e bandeirantes se estendeu pe-
promover a catequese dos nativos. Com esse intuito, funda-
los séculos XVII e XVIII, ficando muito violenta em várias
ram vários aldeamentos conhecidos como missões ou redu-
situações, levando os dois lados a recorrer à Coroa Por- ções, onde educavam e catequisavam os nativos.
tuguesa. A contenda entre eles só foi resolvida durante o
governo do Marquês de Pombal, o qual, por não concordar Os jesuítas entravam com frequência em atrito com os colo-
nos, pois não aceitavam a escravidão indígena. Eram cons-
com as práticas dos jesuítas, expulsou-os do Brasil, mas
tantes os ataques de colonos, especialmente bandeirantes,
também proibiu a escravização de indígenas.
aos aldeados, com o objetivo de capturar índios para utilizá-
-los como escravos.
Sertanismo de contrato Os jesuítas foram os principais responsáveis pela educação
O bandeirismo, ou sertanismo de contrato, era formado por colonial até sua expulsão, em 1759, de Portugal e do Brasil,
expedições de caráter militar, contratadas por governantes, por ordem do Marquês de Pombal, primeiro-ministro do rei
donatários e proprietários rurais para capturar escravos fu- D. José I.
gidos das lavouras, arrasar quilombos e submeter popula-
ções indígenas hostis.
MINERAÇÃO
O sertanismo de contrato assegurou aos grandes proprie-
As primeiras jazidas de metais preciosos foram descobertas
tários de engenhos e plantações do litoral e aos criadores na última década do século XVII, por volta de 1693, por
de gado do sertão a posse de largas extensões de terras. bandeirantes paulistas, no território do atual estado de Mi-
nas Gerais. As expedições para a região das Gerais se mul-
Ataque a Palmares tiplicaram, e a região se povoou rapidamente, tornando-se
o mais importante centro econômico da Colônia no século
Os quilombos eram agrupamentos de escravizados fugi-
XVIII. Depois do ouro de Minas Gerais, foram realizadas
dos que resistiam em várias partes do sertão, desde o século descobertas menos importantes no Mato Grosso (1718) e
XVI, tornando-se uma das mais relevantes formas de rebe- em Goiás (1725). Dessa forma, a atividade mineradora deu
lião dos cativos. Palmares, liderado por Zumbi, foi um dos impulso à ocupação do interior do Brasil.
quilombos mais importantes, situado ao sul de Pernambuco,
no atual estado de Alagoas.. 2.5. Consequências da mineração
A Coroa contratou um grupo de sertanistas já fixados em As minas esgotaram-se no final do século XVIII, e a ati-
fazendas de gados no sertão da Bahia. Formavam um bando vidade mineradora entrou em declínio, bem como toda a
de quase mil homens, liderados por Domingos Jorge Velho. região, uma vez que não existia outra atividade que pu-
Depois de uma primeira tentativa fracassada, os sertanistas desse substituí-la. A mineração provocou profundas trans-
organizaram uma nova expedição com a ajuda governa- formações e consequências econômicas, sociais, políticas e
mental, e um novo ataque iniciou-se em janeiro de 1694. culturais na Colônia.

Comandados por Zumbi e entricheirados na serra da Bar- ƒ Aumento populacional, em razão da descober-
riga, os palmarinos resistiram até a morte. Zumbi e alguns ta das minas.
companheiros ainda conseguiram romper o cerco e fugir, ƒ Urbanização, com a fundação de vilas e cidades,
mas foram capturados e mortos algum tempo depois. como Mariana, Vila Rica, São João del-Rei, Sabará e

111
Congonhas do Campo, onde se desenvolveram ativi- comércio no estuário platino.
dades tipicamente urbanas de comércio, artesanato,
ƒ Tratado de Lisboa (1681): a Espanha reconheceu a
marcenaria, etc.
Colônia de Sacramento como legítima possessão portuguesa.
ƒ Crescimento e diversificação de um segmento
ƒ Tratado de Utrecht (1713): estabelecia que o rio
médio na sociedade e ampliação da camada dos ho-
Oiapoque, ou Vicente Pinzón, seria considerado como
mens livres.
limite entre o Brasil e a Guiana Francesa.
ƒ Mais mobilidade social, pois a mineração possibilitou
ƒ Tratado de Utrecht (1715): assinado entre Portugal
o enriquecimento e a melhoria na vida de muitas pessoas.
e Espanha, na cidade de Ultrech, na Holanda, restabe-
ƒ Surgimento do mercado interno para abastecer a lecia a posse da Colônia de Sacramento a Portugal, que
região mineradora e desenvolvimento de rotas comerciais. havia sido tomada pelos espanhóis.
ƒ Melhoria das estradas, com o intuito de favorecer o ƒ Tratado de Madrid (1750): em relação à Colônia de
abastecimento das minas e controlar o fluxo do ouro. Sacramento, vigoraria o velho princípio de direito ro-
mano do “uti possidetis, ita possideatis”, ou seja, as-
ƒ Mudança do eixo econômico do Nordeste para o
sim “como possuis, assim possuais”. Quem possui de
Centro-Sul.
fato deve possuir de direito. A propriedade da terra foi
ƒ Transferência da capital da Colônia de Salvador para atribuída a Portugal, seu ocupante de fato. Portugal, no
o Rio de Janeiro (1763). entanto, aceitaria negociar a Colônia de Sacramento
ƒ Incentivo às artes, bem como desenvolvimento cultu- recebendo em troca as terras de colonização portugue-
ral da Colônia. sa além de Tordesilhas e uma região denominada Sete
Povos das Missões, localizada a noroeste do Rio
ƒ Conflitos, como a Guerra dos Emboabas, entre paulis- Grande do Sul, onde existiam aldeamentos guaranis di-
tas e forasteiros, pelo direito de explorar as minas, sobre rigidos por jesuítas espanhóis. Portugal aceitou de ime-
as quais os paulistas queriam exclusividade. diato. Ficou estabelecido também que, se porventura
ƒ Aumento da opressão fiscal, em razão da minera- as duas nações entrassem em guerra na Europa, a paz
ção, que fez aumentar os impostos e acirrar a fiscalização deveria continuar reinando nas colônias da América.
administrativa, burocrática e militar por parte da Coroa. ƒ Tratado de El-Pardo (1761): assinado entre Es-
ƒ Revoltas, em razão da forte opressão e dos altos impos- panha e Portugal, revogou o Tratado de Madrid. Em
tos, como a Revolta de Vila Rica e a Inconfidência Mineira. face da vigorosa resistência dos jesuítas espanhóis dos
Sete Povos das Missões, Portugal teve muitas dificul-
dades para ocupar aquela região, recebida em troca da
TRATADOS DE LIMITES Colônia de Sacramento. De 1754 a 1756, as tropas
portuguesas e espanholas atacaram e venceram
Posteriormente ao Tratado de Tordesilhas, de 7 de junho de
um grande número de índios na região. Todavia,
1494, Portugal celebrou uma série de outros tratados com
terminada a luta, o comandante português, Gomes
países europeus, visando solucionar problemas de frontei-
Freire, julgou seguro apoderar-se da área que ain-
ras do Brasil Colonial.
da contava com muitos índios rebelados. Todo o
O Tratado de Tordesilhas foi deixado de lado, uma vez que Tratado de Madrid perdera sua validade, sendo anulado
os bandeirantes, as missões jesuíticas e os criadores de gado pelo Tratado de El Pardo.
não o respeitavam mais.
ƒ Tratado de Santo Ildefonso (1777): no reinado de
As desavenças entre portugueses e espanhóis no Sul giravam D. Maria I, os portugueses cederam os Sete Povos das
em torno da Colônia de Sacramento, surgida em 1680, na Missões à soberania espanhola, celebrando o acordo
margem esquerda do rio da Prata. Os portugueses fundaram que transferia à Espanha o controle exclusivo sobre o
essa colônia comprometendo a segurança de Buenos Aires, rio da Prata.
prestes a se tornar vice-reino espanhol. Os espanhóis ataca-
ƒ Tratado de Badajós (1801): os conflitos travados
ram Sacramento e aprisionaram todos os seus ocupantes.
em solo europeu entre Portugal e Espanha surtiram
efeitos sobre os seus territórios na América e resul-
Colônia de Sacramento taram na assinatura do Tratado de Badajós. Embora
A Colônia do Santíssimo Sacramento foi fundada em 1680, ele tenha determinado que a Colônia de Sacramento
na margem esquerda do rio da Prata, próxima a Buenos Ai- passaria para a Espanha e tenha se omitido em relação
res, pelo governador e capitão-mor da capitania do Rio de aos Sete Povos das Missões, passado algum tempo, os
Janeiro, D. Manuel Lobo. O avanço português em direção gaúchos recuperaram a região de Sete Povos e incor-
ao Sul, especialmente na região da Bacia do Prata, visava poraram-na definitivamente ao Brasil, em 1804, com o
garantir acesso às minas de prata de Potosí, bem como ao reconhecimento da Espanha.

112
CRISE DO SISTEMA COLONIAL, REVOLTAS
NATIVISTAS E MOVIMENTOS EMANCIPACIONISTAS

SISTEMA COLONIAL EM CRISE prietários de terras foi a escravização de indígenas. Contudo,


logo se defrontaram com a resistência dos jesuítas, que se
A crise do sistema colonial brasileiro resultou, além do co- opunham à escravização dos índios.
lapso do mercantilismo português, das próprias contradi- Em busca de uma solução para a questão da escassez de mão
ções internas da colonização. A partir da segunda metade de obra escrava, a coroa portuguesa criou, em 1682, a Com-
do século XVIII, exatamente por ocasião do apogeu da eco- panhia Geral de Comércio do Maranhão, que seria responsável
nomia mineradora, as relações e interesses entre a Colônia pelo monopólio do comércio de escravos na região pelo perí-
e a Metrópole começaram a apresentar suas contradições. odo de 20 anos. Ela deveria garantir a entrega, na capitania,
de 500 escravos negros por ano.

REBELIÕES NATIVISTAS Entretanto, a Companhia Geral de Comércio não cumpriu


suas funções de modo satisfatório: trazia poucos e caros
As primeiras rebeliões não ocorreram em defesa da inde- escravos. A companhia também não oferecia valores sa-
pendência do Brasil. Na verdade, eram a expressão dos tisfatórios pelos produtos produzidos pelos colonos. Esses
conflitos de interesses entre os habitantes da Colônia e fatos causaram grande descontentamento e provocaram
os portugueses ou reinóis. Essas manifestações, denomi- uma revolta contra a Companhia e contra os jesuítas.
nadas rebeliões nativistas, por serem comandadas pela
Comandados por Jorge Sampaio e pelos irmãos Manoel
população “nativa”, a princípio contestavam aspectos
e Tomás Beckman, grandes proprietários de terras, auxi-
específicos do pacto colonial e não a dominação da Me-
liados por outros fazendeiros, expulsaram os jesuítas do
trópole. Elas eram regionalistas e não expressavam uma Maranhão, fecharam os armazéns da Companhia Geral de
consciência nacional, uma vez que a ideia de nação foi Comércio e tomaram o poder na capitania.
construída posteriormente.
A revolta levou à abolição do monopólio da Companhia e à
Aclamação de Amador Bueno (1641) nomeação de Gomes Freire de Andrade como novo gover-
nador do Maranhão. Contudo, ao chegar de Portugal em
Em 1641, os paulistas, incitados pelos espanhóis que mo-
1685, o governador determinou a prisão e o enforcamento
ravam na região, tentaram se desligar de Portugal e acla-
de Manoel Beckman, líder da rebelião, e a condenação dos
maram rei Amador Bueno de Ribeira, membro de uma rica
demais envolvidos à prisão perpétua ou ao degredo.
família de origem hispânica.
O que incomodava os espanhóis era o fato de Portugal ter
restaurado seu trono e coroado D. João IV, rei que os hispâ-
Guerra dos Emboabas (1708-1709)
nicos não reconheciam. Os paulistas ficaram profundamente incomodados com
esse grande fluxo de forasteiros em Minas Gerais, uma
A notícia da coroação do novo rei foi recebida festivamen- vez que atribuíam a si a façanha de descobridores das
te. Os motivos para isso foram a atitude dos espanhóis de minas. Os portugueses, por sua vez, como representantes
insuflar a população contra Portugal e o desejo dos pau- da coroa na Colônia, acharam-se no legítimo direito des-
listas em manter o comércio com a região do rio da Prata. se privilégio e assumiram a exclusividade da exploração
Um grande número de pessoas se dirigiu à casa de Ama- das minas.
dor Bueno, aclamando-o rei de São Paulo. Contudo, gra- Uma série de conflitos armados ocorreu na região.
ças à insistente recusa do aclamado, o ânimo da popu- Derrotados, muitos paulistas saíram da região em direção
lação esfriou e o movimento não chegou a passar de um ao oeste de Minas Gerais. Ali, descobriram novas minas e
episódio histórico que deixou um legado significativo: a iniciaram a ocupação dos territórios dos atuais estados de
noção de que era possível unir pessoas contra Portugal. Mato Grosso e Goiás.

Revolta de Beckman (1684) Guerra dos Mascates (1710-1711)


No Maranhão, a falta de escravos para as plantações tor- O conflito denominado Guerra dos Mascastes ocorreu
nou-se um grave problema. A solução encontrada pelos pro- em função das diferenças de interesses entre os senhores

113
de engenho, cuja maioria morava em Olinda, então sede dos Estados Unidos ajudaram a desenvolver na Colônia a
do poder público da capitania de Pernambuco, e os co- consciência da opressão colonial.
merciantes do Recife, de maioria portuguesa, chamados Gradativamente, foi amadurecendo uma incipiente ideia
pejorativamente de mascates. da necessidade de defesa da liberdade política, econômica
Em 1709, Recife ganhou autonomia em relação à Olinda, e cultural da Colônia. As lutas não mais se restringiam à
uma vez que foi elevada à categoria de vila. Inconformados, simples resistência aos monopólios ou aos impostos, mas
os senhores de engenho, moradores de Olinda, invadiram se voltavam contra o pacto colonial e a favor do rompimen-
Recife e destruíram o pelourinho, símbolo da autonomia da to político de dependência da Metrópole.
vila. Os mascates revidaram o ataque, desencadeando uma
série de conflitos entre as duas vilas. Inconfidência Mineira (1789)
Os combates só terminaram em 1711, mediante a firme A Inconfidência Mineira foi o primeiro movimento a pregar
intervenção das autoridades coloniais. No mesmo ano a separação política da capitania de Minas Gerais em rela-
chegaram à Colônia as novas autoridades enviadas pela ção a Portugal, uma vez que a ideia de Brasil ainda não era
Coroa portuguesa. Embora conciliador, o novo governa- consistente. A Inconfidência Mineira ocorreu em 1789, em
dor vindo de Portugal confirmou a autonomia de Recife, Vila Rica, hoje cidade de Ouro Preto. Entre as causas que
que foi transformada em capital de Pernambuco. determinaram o movimento, é possível destacar:
ƒ os excessos cometidos pelas autoridades portuguesas
Revolta de Filipe dos Santos para administrar a região das Minas;
ou de Vila Rica (1720) ƒ a decadência da produção de ouro e o sistema de co-
brança dos quintos. Caso a arrecadação do ouro não
Em 1719, devido à criação das casas de fundição em Mi-
chegasse a 100 arrobas (cerca de 1,5 mil quilos), era
nas Gerais, a circulação de ouro em pó foi proibida, fa-
decretada a derrama: a diferença que faltava para com-
tor que criou diversos inconvenientes para a população
pletar a quantia determinada era cobrada de toda a
da cidade, que estava acostumada a usá-lo como moeda
população pela força das armas;
corrente. Além disso, as casas de fundição tornavam mais
efetivo o controle da Coroa portuguesa sobre o imposto do ƒ as ideias liberais trazidas por brasileiros que estudavam
quinto, ou 20% do ouro encontrado no Brasil. Ao fundir as nas universidades europeias; e
barras de ouro, já era realizada a cobrança do imposto. As ƒ a independência dos Estados Unidos, cujos colonos,
punições sobre quem fosse pego sonegando o pagamento também revoltados contra o sistema fiscal de sua me-
do imposto aumentaram e se tornaram mais severas. trópole, tinham conseguido se libertar da Inglaterra.
Essas medidas causaram forte impacto sobre os minera- Os objetivos dos inconfidentes eram os seguintes:
dores, provocando uma revolta, que eclodiu em 1720, sob ƒ estabelecer um governo independente de Portugal,
a liderança de Filipe dos Santos. As principais reivindica- abolindo todos os vínculos coloniais;
ções do movimento eram: redução de impostos sobre ƒ adotar o regime republicano;
a atividade mineradora, diminuição dos preços dos
ƒ instituir o serviço militar obrigatório;
produtos cujo comércio era monopolizado pelos por-
ƒ adotar uma bandeira com o lema Libertas quae sera
tugueses e fechamento das casas de fundição.
tamen (Liberdade ainda que tardia);
Os revoltosos procuraram o governador das minas – o
ƒ criar indústrias, particularmente a têxtil e a bélica;
conde de Assumar – e apresentaram suas reivindicações.
ƒ transformar São João del-Rei na sede do governo; e
O governador prometeu atendê-los. Na verdade, ganhou
tempo para organizar tropas e, em seguida, ordenou que ƒ criar uma universidade em Vila Rica.
suas tropas invadissem Vila Rica, prendessem os insurretos Os inconfidentes foram traídos e denunciados por três partici-
e reprimissem violentamente qualquer tipo de manifestação. pantes da conspiração. Eles procuraram o então governador,
Alguns mineradores foram punidos com o degredo e Filipe Visconde de Barbacena, e delataram o movimento.
dos Santos foi enforcado e esquartejado.
Barbacena expediu ordens de prisão contra os inconfidentes e
MOVIMENTOS EMANCIPACIONISTAS deu início ao processo de devassa, que durou até 1792. Feita
a triagem, 30 conjurados, acorrentados e algemados, ouvi-
O aumento do número de profissionais liberais e de ho- ram a sentença pelos seus “hediondos crimes e infâmias”
mens livres, o desenvolvimento das classes proprietárias, a praticados contra Portugal: nove foram condenados à morte
influência das ideias liberais da Europa e da independência na forca, e os outros, ao degredo perpétuo. Sobre Joaquim

114
José da Silva Xavier, o Tiradentes, considerado líder, recaiu a A insatisfação popular foi impulsionada pelos ideais da
violência maior da devassa: foi condenado à morte na forca Revolução Francesa, pelo sucesso da independência das
e ao esquartejamento. Treze Colônias Inglesas, pelas ideias iluministas divulga-
das por lojas maçônicas, como a dos Cavaleiros da Luz,
e pelo propagandista dessas ideias, o cirurgião e filósofo
Cipriano Barata.
A rebelião baiana propunha mudanças verdadeiramente re-
volucionárias na estrutura da Colônia. Pregava a igualdade
de raça e cor, o fim da escravidão (inspirados nos processo
de independência do Haiti) e a abolição de todos os privi-
BANDEIRA DOS INCONFIDENTES QUE INSPIROU A légios, o que permite considerá-la a primeira tentativa de
ATUAL BANDEIRA DOESTADO DE MINAS GERAIS.
revolução social no Brasil. No dia 12 de agosto de 1798,
a cidade de Salvador amanheceu com os muros cheios de
Conjuração Baiana ou panfletos. Os rebeldes desejavam conclamar o povo por
Revolta dos Alfaiates (1798) meio dos informes espalhados pela cidade.

Em 1798, ocorreu em Salvador a Conjuração Baiana, resulta- Entretanto, a pouca organização e preparação dos rebeldes
do da insatisfação das camadas médias urbanas e da popula- e o grande número de analfabetos facilitaram a rápida ação
ção pobre com o agravamento da crise econômica da região. do governo. No dia 25 de agosto, a prisão da maioria dos
envolvidos destruiu qualquer possibilidade de levante. Os
Foi um movimento de caráter popular, também denominado líderes negros e mestiços foram presos. Os únicos brancos
Revolta dos Alfaiates (ou Revolta dos Búzios), graças ao consi- detidos foram Cipriano Barata e Aguilar Pantoja. Depois do
derável número de participantes que exerciam essa profissão. julgamento, quatro envolvidos foram condenados à forca:
A situação econômica provocou desemprego, fome e mi- os mestiços João de Deus Nascimento, Manuel Faustino dos
séria, além de deixar a região fora do interesse dos comer- Santos, Lucas Dantas e Luís Gonzaga das Virgens. Como
ciantes, que preferiam enviar seus produtos para o Sudeste sempre acontecia nesses casos, foram executados e esquar-
e o Sul, onde encontravam melhores preços. tejados para servir de exemplo.

PERÍODOS POMBALINO E JOANINO

AS REFORMAS POMBALINAS Entre as alterações na divisão administrativa da Colônia,


foi extinto o sistema de capitanias hereditárias, e
(1750-1777) o Estado do Brasil foi elevado à categoria de vice-reino,
com o objetivo de possibilitar maior controle dos exce-
Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pom- dentes coloniais.
bal, foi primeiro-ministro do Rei D. José I entre os anos de Quando morreu D. José I, Em 1777, o governo de Pom-
1750 a 1777. Influenciado pelas ideias iluministas, procu- bal apresentava fortes sinais de desgaste. Havia acu-
rou realizar em Portugal um governo nos moldes do des- mulado vários fracassos e assistia ao crescimento da
potismo esclarecido. oposição de seus velhos inimigos: clero e nobreza, que
Os objetivos de Pombal eram: modernizar a administra- tiveram um momento de triunfo com a ascensão de D.
ção pública portuguesa; implementar uma série de medi- Maria I, adversária das “ideias francesas”, como eram
das com o intuito de ampliar e maximizar os lucros pro- conhecidas as ideias Iluministas. Pombal foi demitido e
o novo governo revogou boa parte de sua obra, num
venientes da exploração colonial; e tornar a Metrópole
processo denominado sugestivamente de Viradeira.
menos dependente das importações de produtos indus-
trializados, incentivando a instalação de manufaturas em
Portugal e na colônias (principalmente o Brasil). PERÍODO JOANINO (1808-1821)
Outro objetivo da política pombalina foi perseguir im-
placavelmente os jesuítas, expulsá-los da Metrópole e A transferência da Corte
das colônias e confiscar-lhes os bens. portuguesa para o Brasil
115
No início do século XIX, a Europa estava quase inteira- O embarque e fuga da Corte portuguesa para o Brasil foi re-
mente sob o domínio de Napoleão Bonaparte, impe- alizado às pressas, com cerca de 15 mil pessoas fugindo ape-
rador da França. Em 1806, em mais uma investida contra a nas um dia antes das tropas napoleônicas ocuparem Lisboa.
Inglaterra, Napoleão decretou o Bloqueio Continental,
Na manhã do dia 29 de novembro de 1807, partia a es-
obrigando todas as nações da Europa a fecharem seus por-
quadra britânica, transportando o Estado luso para o Rio
tos ao comércio inglês.
de Janeiro.
Portugal era governado pelo Príncipe Regente D. João, pois
A população portuguesa assistiu atônita a toda essa movi-
sua mãe, a rainha D. Maria I, encontrava-se impedida de
mentação. Não podia acreditar que estava sendo abando-
exercer suas funções por sofrer das faculdades mentais.
nada pela Coroa e demais membros do Estado, ficando to-
Portugal não queria aderir ao Bloqueio Continental por- talmente desamparada para enfrentar as tropas francesas.
que a economia portuguesa dependia basicamente da
Junot, general francês responsável pela tomada de Lisboa,
Inglaterra. A Inglaterra, por sua vez, também não queria
apesar de estar com sua tropa muito desfalcada, não en-
perder seu velho aliado, principalmente porque o Brasil
controu dificuldade para tomar a cidade.
representava um excelente mercado consumidor de seus
produtos. Além disso, Portugal tinha uma grande dívida
financeira com a Inglaterra. A abertura dos portos às
Pressionado pelo embaixador inglês Lorde Strangford, D. nações amigas (1808)
João assinou uma convenção secreta com a Inglaterra, Ao desembarcar em Salvador, o Príncipe Regente D. João as-
mediante a qual a Família Real Portuguesa seria transfe- sinou a Carta Régia de 28 janeiro de 1808, determinando
rida para o Brasil escoltada por uma esquadra britânica. O a abertura dos portos brasileiros às nações amigas de
acordo estabelecia ainda que a Inglaterra teria direito a um Portugal. Essa medida marcou o fim do Pacto Colonial,
porto livre na Ilha da Madeira e outro em Santa Catarina, uma vez que extinguiu o monopólio português sobre o co-
bem como poderia comercializar livremente com o Brasil. mércio brasileiro. No entanto, tal medida tinha caráter tran-
sitório; deveria vigorar apenas no período em que a Corte
portuguesa permanecesse no Brasil.
Com a Família Real instalada no Rio de Janeiro, iniciou-se
um período de desenvolvimento econômico e político no
Brasil, criando bases fundamentais para sua independên-
cia política.

A liberdade industrial e outras


medidas econômicas
D. João assinou o Alvará de Liberdade Industrial,
permitindo a instalação de manufaturas e fábricas no Brasil
e anulando as proibições impostas pelo Alvará de 1785,
assinado por sua mãe, D Maria I.
D. JOÃO VI. PARTIDA DO PRÍNCIPE REGENTE DE PORTUGAL PARA Com a criação de algumas manufaturas têxteis e siderúrgi-
O BRASIL, 27 DE NOVEMBRO DE 1807. LITOGRAVURA, DE F.
cas, ocorreu um relativo surto industrial, mas a medida não
BARTOLOZZI (GRAVADOR) E H.L.E. VÊQUE (DESENHISTA).
foi suficiente para promover a industrialização no Brasil. Não
Ao tomar conhecimento do acordo anglo-português, Na- havia capital suficiente para ser aplicado em fábricas, o mer-
poleão Bonaparte assinou com a Espanha o Tratado de cado consumidor era pequeno, a concorrência inglesa era in-
Fontainebleau, estabelecendo a invasão de Portugal por superável, e, principalmente, o investimento do capital estava
tropas franco-espanholas, a deposição da dinastia de Bra- voltado quase exclusivamente para o mercado de escravos.
gança e a divisão das colônias portuguesas entre os dois O Príncipe Regente determinou a criação da Casa da Moe-
países. Entretanto, Napoleão rompeu o acordo com a Es- da, responsável pela emissão monetária, e do Banco do
panha e, durante a marcha francesa em direção a Portugal, Brasil, que serviria para atender às necessidades bancá-
ocupou o território espanhol com suas tropas, depondo o rias das elites portuguesas e brasileiras e regulamentar a
rei da Espanha. Ao mesmo tempo, era iniciada a invasão arrecadação tributária, extremamente necessária para cus-
francesa no território português. tear o aparelho burocrático montado no Brasil.

116
Tratados de 1810 A Revolução Pernambucana de 1817
Em 1810, Lorde Strangford, representante inglês, e Sousa A presença da Corte portuguesa no Rio de Janeiro deman-
Coutinho, ministro de D. João, firmaram os seguintes acor- dava altos gastos para o Estado e, para sustentá-la, D. João
dos: o Tratado de Aliança e Amizade e o Tratado de promovia constantes aumentos de tributos, elevando
Comércio e Navegação, que estabeleciam: ainda mais o custo de vida e a expropriação dos brasileiros.
ƒ nomeação de juízes ingleses para julgar os súditos bri- Esse cenário levou alguns segmentos sociais pernambuca-
tânicos que viviam no Brasil; nos, influenciados pelas ideias iluministas, pela Revolução
ƒ liberdade religiosa para os ingleses (na sua maioria pro- Francesa e pelo liberalismo político do movimento de Inde-
testantes anglicanos); pendência dos EUA, a organizarem um movimento revolu-
cionário cujo objetivo era a independência de Pernambuco.
ƒ cobrança de taxa de 15% na importação de mercadorias
inglesas, mais baixa que os 16% cobrados das mercado- Os revolucionários pernambucanos queriam a adoção de
rias portuguesas e que os 24% cobrados de mercadorias uma República Federalista, o fim dos monopólios
de outras nacionalidades; comerciais e dos tributos excessivos, a adesão de
ƒ um porto livre: o de Santa Catarina; outras províncias do norte e nordeste contrárias à presença
da Corte portuguesa no Brasil e o fim das políticas imple-
ƒ proibição da atuação da Santa Inquisição no Brasil, que mentadas pelos portugueses.
julgava quaisquer desvios da fé católica;
Os revoltosos anteciparam o levante, tomando o poder e
ƒ gradual extinção do tráfico negreiro para a Colônia. instituindo um governo provisório. Enquanto não era con-
O resultado direto desses acordos foi a total abertura do mer- vocada uma Assembleia Constituinte, foi instituída uma
cado consumidor brasileiro aos produtos ingleses. Lei Orgânica, que determinava a adoção do regime re-
publicano e a liberdade de comércio e de imprensa.
Nos 13 anos em que permaneceu no Brasil, D. João tomou
uma série de medidas que contribuíram para o desenvolvi- A reação do governo português foi imediata. Enviou
mento e a autonomia do Brasil: tropas da Bahia e do Rio de Janeiro, que bloquearam o
porto de Recife e atacaram os revoltosos por terra e mar.
ƒ instalação da imprensa e da Biblioteca Régia;
Despreparado, o exército revolucionário foi derrotado fa-
ƒ criação do Horto Real (Jardim Botânico); cilmente pelas tropas leais ao governo Joanino.
ƒ criação das Escolas de Medicina de Salvador e do Rio
de Janeiro; A política externa
ƒ criação da Escola de Comércio e da Escola Real de Ar- O Período Joanino foi marcado por intensos combates
tes, Ciências e Ofícios; visando à defesa do território ou à anexação de alguma
região, sempre usando como pretexto a ameaça francesa
ƒ financiamento de uma Missão Artística Francesa, lide-
ou espanhola.
rada por Joachim Lebreton, que trouxe para o Brasil
pintores como Nicolas Taubay e Jean-Baptiste Debret, Em 1809, com o apoio militar britânico, D. João VI orde-
o escultor Auguste Taunay, o arquiteto Grandjean de nou a invasão da Guiana Francesa. Embora tenha sido
Montigny e o gravador Marc Ferrez; a Missão lançou as anexado pelo Brasil, o território foi devolvido para a Fran-
bases para a Real Academia de Belas Artes; ça em 1817, por determinação do Congresso de Viena.
ƒ fundação da Academia Real Militar e Academia da Em 1816, o velho sonho português de estender as frontei-
Marinha; ras brasileiras até o rio da Prata se tornou realidade com a
invasão do Uruguai. Liderados pelo general Lecor, as tropas
ƒ criação da Fábrica de Pólvora;
luso-brasileiras dominaram Montevidéu em 1821. A região
ƒ criação das fábricas de ferro Ipanema (Sorocaba-SP) e foi anexada ao Brasil com o nome de Província Cispla-
Patriótica (Congonhas-MG); tina. Em 1828, ao conquistar sua Independência, ganhou o
ƒ inauguração do Real Teatro São João, no Rio de nome de Estado Oriental do Uruguai.
Janeiro;
ƒ instalação de novos bairros, sistema de esgoto, drena-
Revolução Liberal do Porto (1820)
gem dos pântanos e calçamentos das ruas principais Depois da queda de Napoleão Bonaparte, o seu Império
do Rio de Janeiro. esfacelou-se. Os governos europeus trataram de se unir

117
para planejar a reordenação política da Europa. Organi- Dessa forma, os burgueses que defendiam uma Monarquia
zou-se, então, de 2 de maio de 1814 a 9 de julho de 1815, Constitucional começaram a se sentir fortalecidos. Entre
o Congresso de Viena, que, de fato, foi uma conferência 1817 e 1818, ocorreu o primeiro levante burguês de cunho
entre os embaixadores das principais potências europeias liberal; e, em 1820, teve início a Revolução Liberal do
com o objetivos de reordenar o mapa político da Europa, Porto, que reivindicava a volta de D. João VI para Portugal
restabelecer a colonização e tentar reviver o mundo colo- e a assinatura e o juramento de fidelidade à Constituição
nial, além de reconduzir ao trono as famílias reais subjuga- que seria elaborada, transformando o país numa Monar-
das por Napoleão, resgatando o Absolutismo. quia Constitucional.
No Brasil, com a morte da rainha-mãe, D. Maria I (1816), D. João Quanto ao Brasil, os liberais portugueses resolveram
foi, em 1818, aclamado rei com o título de D. João VI. que todas as concessões feitas aos colonos deviam ser
Em Portugal, por sua vez, o rei era representado pela Regência anuladas, uma vez que defendiam a recolonização do Bra-
do governo militar britânico de William Carr Beresford, o que sil. Sob a ameaça de perder o trono, D. João VI voltou para
provocava o descontentamento da população e o acirramento Lisboa no dia 25 de abril de 1821. Um de seus filhos, D.
da oposição ao governo do marechal inglês. Pedro, ficou como príncipe regente do Brasil.

PROCESSOS DE INDEPENDÊNCIA DO
BRASIL E DA AMÉRICA ESPANHOLA

PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA integrantes temiam que a luta pela independência cau-


sasse mudanças na estrutura econômico-social do país,
DO BRASIL como a extinção do escravismo.
ƒ O grupo dos Radicais Liberais, liderado por Gonçal-
Em 1820 a burguesia de Portugal conseguiu se desven- ves Ledo, defendia que a independência fosse acom-
cilhar da ocupação inglesa, processo que deu início à re- panhada por reformas – abolição da escravatura, esta-
volução liberal e à convocação extraordinária das Cortes belecimento de um sufrágio amplo e mais autonomia
Constituintes de Lisboa para a elaboração da primeira das províncias.
Constituição portuguesa.
Os grupos dos Brasileiros e dos Radicais Liberais se uniram
Depois de algumas hesitações, D. João VI partiu no dia 25 nos anos de 1821 e 1822, lutando pela mesma causa: a
de abril de 1821, deixando D. Pedro como regente no go- independência.
verno do Brasil.
Era importante que houvesse um posicionamento claro do
O caráter recolonizador das Cortes gerou a reação príncipe regente. Pressionado pelo presidente do Senado e
anticolonialista dos brasileiros. Porém, a burguesia da Câmara, comprometeu-se diante do povo a permanecer
portuguesa não permitiu a separação. Por outro lado, a aris- no Basil. Essa decisão foi solenizada no Dia do Fico (9 de
tocracia rural brasileira não podia admitir a volta ao status janeiro de 1822). Além disso, foi convocada uma Assem-
colonial. Os grupos anticolonialistas haviam se fortalecido e bleia Geral e Constituinte.
seus ideais foram propagados e popularizados.
As tropas metropolitanas sediadas no Brasil movimenta-
Perante a ação das Cortes e a regência de D. Pedro, forma- ram-se contra o regente D. Pedro. Em desespero, as Cortes
ram-se três grandes agrupamentos políticos no Brasil: de Lisboa tomaram medidas radicais: declararam ilegítima
ƒ o Partido Português, formado principalmente por mi- a Assembleia Constituinte reunida no Brasil, o governo do
litares reinóis e por comerciantes portugueses radicados príncipe foi declarado ilegal e ele foi convocado a regressar
nas cidades brasileiras mais importantes, beneficiários imediatamente para Portugal.
da antiga política mercantilista e defensores da política Em agosto de 1822, D. Pedro viajou para São Paulo. José
recolonizadora das Cortes. Bonifácio enviou um mensageiro ao encontro de D. Pedro,
ƒ o Partido Brasileiro, formado por grandes proprie- no Ipiranga, em São Paulo. D. Pedro proclamou a inde-
tários de terras e de escravos, altos funcionários da pendência em 7 de setembro de 1822.
burocracia governamental e comerciantes brasileiros e O Império de D. Pedro I consolidaria a hegemonia dos lati-
ingleses. Liderado por José Bonifácio, o Partido Brasi- fúndios; o regime de trabalho escravo esvaziaria o ideal re-
leiro era a principal força no processo de independência, publicano, refutando o federalismo e optanado por uma for-
embora fosse caracterizado pelo conservadorismo. Seus ma unitarista, com o poder centralizado no Rio de Janeiro.

118
É possível associar a Independência do Brasil aos interesses federativa, renunciando ao centralismo que provocara
externos, com destaque para a atuação da Inglaterra, uma disputas acirradas.
vez que o país ambicionava a ampliação dos mercados con- Na América Central, depois da vitória de Iturbide, os cabil-
sumidores para seus produtos manufaturados. Ressalte-se dos começaram a declarar sua independência. Em 1823,
ainda que a maior parte da população não participou do formaram as Províncias Unidas da América Central.
processo de independência do Brasil, uma vez que ele foi Em face da tentativa de domínio da Guatemala sobre os
tão somente um acordo entre os detentores do poder eco- demais, a união começou a desintegrar-se, originando as
nômico e político que seria mantido no futuro Império. regiões autônomas da Guatemala, Nicarágua, Honduras, El
A Independência brasileira foi sui generis no contexto america- Salvador e Costa Rica. Esse processo de separação foi con-
no. O Brasil foi o único país, com exceção do México, a adotar cluído somente em 1888.
a monarquia como forma de governo. O processo de rompi-
mento com a metrópole foi liderado por um representante das América do Sul
elites dominantes, ou seja, por um defensor dos seus interesses
e os de outros países, como os da Inglaterra, por exemplo, que A campanha de Bolívar
não precisava, nem desejava, o apoio popular. Simon Bolívar teve uma importante participação nas in-
O liberalismo da Independência brasileira era essencial- dependências da Colômbia (1819), da Venezuela (1821),
mente econômico, não político nem social. O que explica a do Equador (1830) e da Bolívia (1825). A origem desses
marginalização popular e a manutenção da escravidão. países não fazia parte do seu projeto, que visava à consti-
tuição de uma nação forte e coesa, formada pela união dos
Os grupos dominantes temiam que a América Portuguesa se povos de uma mesma língua.
fragmentasse politicamente, como ocorria na América Espa-
nhola. Em razão disso, firmaram com D. Pedro um acordo por
meio do qual a monarquia aproveitaria o aparelho burocrático
Independência do Vice-reino de Nova
já instalado, mantendo um governo centralizado e afastando Granada e da Capitania Geral da Venezuela
os grupos sociais indesejados das decisões políticas. Em 1806, ocorreu uma primeira tentativa de independên-
cia num movimento liderado por Francisco de Miranda.

A INDEPENDÊNCIA DA Com receio, no entanto, de que se repetissem os aconte-


cimentos ocorridos no Haiti, a própria elite criolla aliou-se
AMÉRICA ESPANHOLA ao exército realista. Em 1810 foi instalado um congresso
eleito num pleito em que apenas os homens com emprego
A Independência das colônias espanholas na América foi autônomo e renda poderiam votar. Em 5 de julho daquele
um processo que resultou na fragmentação dos anti- ano, foi proclamada a independência da Venezuela. A
gos vice-reinos e na criação de diferentes países. Primeira República tinha uma característica federalista: as
diversas províncias que a constituíam tinham grande poder
de decisão e autonomia.
México e América Central
O federalismo foi duramente criticado por Bolívar, que via
O Vice-Reino da Nova Espanha corresponde à parte do ter- nele um instrumento fragilizado. A situação em Nova Gra-
ritório do México atual. As notícias a respeito da deposição nada era de disputa entre federalistas, que defendiam a au-
de Fernando VII, em 1808, pelas tropas napoleônicas, foram tonomia das diversas províncias, e centralistas, defensores
o estopim para o acirramento dos conflitos políticos entre os de um poder unitário centralizado. Em 1813, em Caracas,
peninsulares (espanhóis de nascimento), denominados rea- Bolívar liderou o movimento contra o domínio espanhol.
listas, e os criollos (espanhóis nascidos na América), chama- A Segunda República também não resistiu e, em 1814,
dos autonomistas. A proposta de subordinação à Espanha Bolívar e seus seguidores voltaram para Nova Granada.
acabou vencendo a disputa contra os autonomistas criollos.
Em 1819, o exército de Bolívar cruzou os Andes e entrou
O ambiente de tensão política persistiu no México e na Amé- na cidade de Bogotá. A repercussão da vitória na Colômbia
rica Central. Em 1821, foi promulgado o Plano de Iguala, abriu caminho para negociações e mais apoio ao exército
que defendia os princípios liberais da Constituição de Cádiz. bolivariano, que libertou a Venezuela em 1821.
O plano tinha por objetivo estabelecer a base constitucional
para um Império Mexicano Independente.
A campanha de San Martín e as
O idealizador do Plano de Iguala, assinado na cidade de Igua-
la, atual Guerrero, Agustín de Iturbide, tornou-se imperador em
independências da Argentina, Chile e Peru
1821, marcando a ruptura política definitiva com a Espanha. O libertador da porção meridional do continente foi José
Por ser muito centralista, o Império de Agustín teve curta de San Martín, que nasceu em 1778, na atual província
duração. Em 1824, o México estabeleceu uma república de Corrientes (Argentina).

119
Durante as discussões sobre a legitimidade do governo de enfrentou novos distúrbios e, em 1825, teve início um levan-
Bonaparte na Espanha, Buenos Aires jurou lealdade ao rei te que contou com a ajuda dos argentinos. Em 1828, houve
Fernando VII, mas recusou fidelidade à Junta Central. Nesse o estabelecimento do Estado Oriental do Uruguai,
imbróglio, a cidade, em 1810, declarou-se cabildo abier- livre dos domínios tanto brasileiro como argentino e garan-
to. O vice-rei, que não tinha apoio suficiente, entregou tido pela Grã-Bretanha, que desejava o mercado local para
o cargo e o poder ficou nas mãos do cabildo, que, dessa seus produtos.
forma, iniciava uma nova fase política, desencadeada pela
Revolução de Maio. A junta afirmou a igualdade básica Paraguai
entre indígenas e descendentes de espanhóis e esboçou a A região do atual Paraguai também pertencia à vice-pro-
adoção de princípios liberais. víncia do Prata. No entanto, não se juntou a Buenos Aires
no rompimento com a Metrópole, manifestando apoio à
Após sucessivas juntas de governo e disputas internas, foi
Espanha. Pouco depois, em virtude das ameaças argenti-
declarada, em 1816, a independência das Províncias
nas, buscou uma forma de convívio com esse país. Retirou
Unidas do Rio da Prata, na cidade de Tucumán. seu apoio à Metrópole e proclamou sua independência
Em 1813, San Martín passou a integrar o exército. Estava em em 1811. No entanto, tropas portenhas foram enviadas
curso a libertação do Peru. As lutas na região do Alto e Baixo para reprimir os paraguaios, que conseguiram vencer as
Peru não ocorreram como os portenhos supunham. Havia forças da futura Argentina. José Gaspar Francia assumiu
muito mais resistência leal à Espanha do que se pensava. o poder e obteve o título de “Ditador supremo” e, depois,
“Ditador perpétuo”. Francia exerceu o poder até 1840.
Foi nesse instante que San Martín ganhou destaque. Estra-
tegista, elaborou um plano para a libertação do Peru a partir
da consolidação da unidade territorial. A proposição de San Bolívia
Martín era de que a revolução não seria vitoriosa enquanto o Boa parte do território da Bolívia integrava o Vice-Reino do
Peru, realista, não fosse liberado, considerando sua indepen- Prata, região que despertava grande interesse em Buenos
dência fundamental para a liberdade de todo o continente. Aires por causa da prata. As disputas entre realistas e por-
As campanhas de Chacabuco (1817) e de Maipú tenhos fez com que os bolivianos passassem a alimentar o
(1818) consolidaram a independência do Chile, ten- desejo de um governo independente.
do Bernardo O’Higgins, militar e político chileno, assu- O clima de guerra civil na região levou a uma intervenção
mido o poder. das tropas peruanas. Em 1825, o general Sucre ajudou a
Usando Valparaíso, no Chile, como base, em 1820 San Mar- derrotar os partidários da Espanha e promoveu a inde-
tín e seu exército partiram de barcos para tomar a cidade pendência nomeando o novo país de Bolívia, em
de Lima, então capital do Vice-Reino do Peru. Após cercar a homenagem ao líder da independência, Simon Bolívar.
cidade, finalmente em julho de 1821, San Martín entrou em
Lima e proclamou a independência do Peru no dia 28 A independência do Haiti (1804)
de julho daquele ano, apoiado pelo general Sucre.
Em 1789, Santo Domingo (ex-Hispaniola, hoje Haiti) era
uma colônia francesa. Em 1791, parte da população
As independências de Uruguai, branca foi massacrada num levante de escravos. O es-
Paraguai e Bolívia cravo liberto Toussaint-Louverture liderou esse movi-
mento emancipacionista, enfrentando tropas francesas
Uruguai que vieram em socorro dos brancos. Toussaint-Louverture
Com os movimentos portenhos de 1810, o território conhe- saiu vitorioso, aboliu a escravidão e deu uma Constitui-
cido como Banda Oriental (à direita do rio da Prata) dividiu- ção à colônia.
-se. Aos poucos, os grupos ligados à Espanha venceram a Em 1802, Napoleão enviou um exército para derrotar Lou-
disputa interna, e os derrotados, liderados por José Gervá- verture, mas não obteve sucesso. Assinaram um tratado
sio Artigas, apoiavam Buenos Aires por causa do rompi-
de paz, mas Louverture foi traído, e acabou morrendo em
mento com a Metrópole espanhola. O caminho do Uruguai,
Paris, no cárcere.
que fazia parte do Vice-Reino do Prata, foi a negação da
unificação perseguida por Buenos Aires. Nesse contexto de O movimento emancipacionista foi retomado por Jean-Ja-
divisão, Portugal invadiu a Província Oriental, pois desejava cques Dessalines, Henri Cristophe e Alexandre Pétion, que
acesso ao rio da Prata e temia a propagação das ideias de in- conquistaram a independência do Haiti em 1804.
dependência. Em 1821, o Uruguai foi incorporado ao Reino
Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Com a independência
do Brasil (1822), a Província Cisplatina, região incorporada,

120
U.T.I. - Sala
1. O triunfo holandês seria coroado com a chegada do conde Maurício de Nassau-Siegen, que desembarcou como
governador em janeiro de 1637. Transformado em mito de nossa história seiscentista, Nassau ficaria também ce-
lebrizado pela missão de pintores e naturalistas que financiou no seu governo. Frans Post (1612-1680) foi o mais
renomado componente da missão nassoviana, dedicando-se à pintura de paisagens, retratando a natureza tropical e
as construções humanas.

Adaptado de: VAINFAS, R. “Tempo dos Flamengos: a experiência colonial holandesa”.


In: FRAGOSO, J.L.R.; GOUVEA, M. de F. (Org.). O Brasil colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.

a) Quais as principais realizações do Governo Maurício de Nassau?


b) Do ponto de vista colonial, quais as principais diferenças entre a administração holandesa e a administração por-
tuguesa no Brasil?

2. No Brasil, costumam dizer que para o escravo são necessários PPP, a saber, pau, pão e pano. E, posto que comecem
mal, principiando pelo castigo que é o pau, contudo, prouvera a Deus que tão abundante fosse o comer e o vestir
como muitas vezes é o castigo, dado por qualquer causa pouco provada, ou levantada; e com instrumentos de muito
rigor, ainda quando os crimes são certos, de que se não usa nem com os brutos animais...
Adaptado de: ANTONIL, A.J. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. 3. ed. Belo Horizonte: Itatiaia/Edusp, 1982. p. 89.
Coleção Reconquista do Brasil. Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000026.pdf>. Acesso em: 1 ago. 2012.

De acordo com o texto, como o padre Antonil se posiciona perante a questão da escravidão?

3. Durante o processo de independência do Brasil, não haviam ideias claras sobre o federalismo. Empregava-se “fed-
eração” como sinônimo de “república” e de “democracia. Mas a historiografia oficial da independência procurou
ocultar a existência do projeto federalista, encarando-o apenas como resultado de impulsos anárquicos e de am-
bições personalistas e antipatrióticas.
a) Identifique no texto os dois significados opostos para o federalismo.
b) Qual o projeto político que dominou a conclusão do nossa independência?

4. “A sede insaciável do ouro estimulou a tantos a deixarem suas terras e a meterem-se por caminhos tão ásperos
como são os das minas, que dificultosamente poderá dar-se conta do número das pessoas que atualmente lá estão.“
(ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas.)

De acordo com o texto, quais as principais consequências da corrida do ouro no Brasil?

5. No início do século XIX, iniciaram-se as revoltas coloniais na América hispânica, acompanhando os movimentos
separatistas ocorridos no Brasil.

Qual a principal característica do processo de independência das colônias hispânicas e as diferenças marcantes entre
sua emancipação política e a emancipação ocorrida no Brasil?

6. As expedições destinadas ao apresamento dos nativos, como se pode observar no mapa abaixo,eram a principal
atividade econômica dos bandeirantes paulistas entre os séculos XVI e XVIII.

121
a) Qual a relação existente entre as expedições de apresamento e as atividades econômicas realizadas pelos mora-
dores da Capitania de São Vicente?
b) Cite um efeito dessas expedições para a colônia portuguesa na América nesse período.

7.

a) Identifique e analise dois elementos representados na imagem, ligados ao contexto histórico de Portugal na se-
gunda metade do século XVIII.
b) Cite e explique duas medidas tomadas pelo governo português com relação ao Brasil, nesse período.

8. A transformação do Rio de Janeiro em corte real começou apenas dois meses antes da chegada do príncipe re-
gente, quando notícias do exílio real – tão “agradáveis” quanto “chocantes”, cheias de “sustos e alegrias” – foram
recebidas. Entretanto, como descobriram os residentes da cidade, os preparativos iniciais para acomodar Dom João e
os exilados marcaram apenas o começo da transformação do Rio de Janeiro em corte real, pois o projeto de construir
uma “nova cidade” e capital imperial perdurou por todo o reinado brasileiro do príncipe regente. Construir uma corte
real significava construir uma cidade ideal; uma cidade na qual tanto a arquitetura mundana como a monumental,
juntamente com as práticas sociais e culturais dos seus residentes, projetassem uma imagem inequivocamente pode-
rosa e virtuosa da autoridade e do governo reais.
Adaptado de: Kirsten Schultz. Versalhes tropical. 2008.

a) Qual o principal motivo que trouxe a corte portuguesa para o Brasil?


b) Cite duas transformações ocorridas na cidade do Rio de Janeiro com a chegada e presença da corte portuguesa.

122
U.T.I. - E.O.
1. Frans Post chegou ao Brasil em 1637 e fazia parte do grupo de artistas ligados ao governo holandês sob o comando
de Maurício de Nassau. Paisagens, cenas cotidianas e personagens foram os temas principais representados por Post
durante essa época. Observe atentamente a imagem abaixo, de sua autoria, e depois responda às questões.

Identifique na pintura: a instalação representada; a força motriz utilizada; a mão de obra predominante e o produto
processado.

2. “Por mais de um século, o Brasil foi o principal exportador mundial de açúcar. De 1600 a 1650, o açúcar respondia
por 90% a 95% dos ganhos brasileiros com exportações. Mesmo no período em torno de 1700, quando o setor açu-
careiro declinou, ele continuava a representar 15% dos ganhos do Brasil com exportações.”
SKIDMORE, Thomas E. Uma história do Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 1998, p. 36.

Qual o principal acontecimento, ocorrido ainda no século XVII, que iniciou esse vertiginoso declínio?

3. “A primeira coisa que os moradores desta costa do Brasil pretendem são índios escravizados para trabalharem nas
suas fazendas, pois sem eles não se podem sustentar na terra”.
Adaptado de: GANDAVO, Pero Magalhães. Tratado descritivo da terra do Brasil. São Paulo: Itatiaia e Edusp, 1982, p. 42 [1576]

Nesse trecho, percebe-se que o autor compactua com sua afirmação sobre o Brasil do final do século XVI. Com base
no texto e considerando que Portugal era governado por uma hierarquia social aristocrática e católica, explique por
que, quando desembarcavam na América portuguesa da época, os colonos imediatamente procuravam se utilizar da
mão de obra escrava.

4. “O ser senhor de engenho, diz o cronista, é título a que muitos aspiram porque traz consigo o ser servido, obedecido
e respeitado de muitos.”
ANTONIL, A.J. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas

Relacionando esse texto acima com seus conhecimentos sobre o período colonial no Brasil, faça um comentário
a respeito.

5. No Brasil, em finais do século XVIII, havia grande descontentamento e revolta contra o governo metropolitano e
isso deu origem a rebeliões que questionavam o domínio político português. As rebeliões, que tiveram caráter clara-
mente separatistas, foram as Conjurações Mineira (1789) e Baiana (1798).

“Aviso ao Povo Bahiense


Ó vós, Povo, que nascestes para ser livres e para gozar dos bons efeitos da Liberdade, ó vós, Povos, que viveis flagela-
dos com o pleno poder do indigno coroado, esse mesmo rei que vós criastes; esse mesmo rei tirano é quem se firma
no trono para vos vexar, para vos roubar e para vos maltratar. Homens, o tempo é chegado para a vossa ressurreição,
sim, para vós ressuscitardes do abismo da escravidão, para levantardes a sagrada Bandeira da Liberdade. As nações
do mundo todas têm seus olhos fixos na França, a liberdade é agradável para todos. O dia da nossa revolução, da
nossa Liberdade e da nossa felicidade está para chegar. Animai-vos que sereis felizes.”
Trecho do panfleto revolucionário afixado nas ruas de Salvador na manhã de 12 de agosto de 1798. Adaptado de
PRIORE, M. del e outros. Documentos de história do Brasil: de Cabral aos anos 90. São Paulo: Scipione, 1997.

123
a) Qual a diferença essencial entre as duas conjurações?
b) Relacione cada uma delas com os respectivos movimentos que as inspiraram.

6. Analise a imagem a seguir.

Pintada em 1822, esta obra era uma alegoria do Estado brasileiro na época da independência. Com ela se construiu
uma imagem positiva do Império e da figura política do monarca, chamado de “Defensor Perpétuo do Brasil”.
Mas durante o Primeiro Reinado, entretanto, a imagem de D. Pedro foi se modificando.
Diante disso e analisando a pintura, cite e explique:
a) uma característica do projeto político monárquico do Primeiro Reinado;
b) um dos motivos que levaram à mudança da imagem de D. Pedro I durante seu governo.

7. Os historiadores são quase unânimes em reconhecer que a atividade mineradora do século XVIII resultou numa
forma específica de colonização que a diferenciava do resto do Brasil.
FARIA, Sheila de Castro. Dicionário do Brasil colonial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, p. 397.

Considere o contexto histórico da América portuguesa, no que se refere à sociedade e à economia colonial do século
XVIII, e diferencie esta forma de colonização daquela realizada no Nordeste açucareiro, dos séculos XVI e XVII.

8. Alguns historiadores afirmam que a história econômica do Brasil se divide em ciclos econômicos desde o período
colonial até a época atual.
Defina no contexto histórico brasileiro o conceito de “ciclo econômico”.

9. A solução dada à questão dinástica portuguesa, após o desaparecimento do rei D. Sebastião em Alcácer-Quibir
(1578), teve consequências na Europa e nas colônias.
No contexto da produção açucareira no Brasil, qual foi a consequência imediata?

10. Os tratados de 1810 trouxeram consequências econômicas para o Brasil bastante prejudiciais.
Quais foram elas?

124
FILOSOFIA

125
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA GREGA

O mundo helenístico se beneficiou do momento histórico, caráter transitório e mutável das coisas – para explicar esse
quando as cidades-Estados na Grécia antiga eram prós- pensamento, emerge a metáfora que “não podemos nos
peros centros comerciais e culturais. Desse modo, favore- banhar no mesmo rio duas vezes”.
ceu-se o desenvolvimento do pensamento humano, isto
é, ocorreu a supremacia do logos, que significa “palavra”, Parmênides de Eleia (530-460 a.C.)
“discurso”, “razão”.
O filósofo Parmênides concentrou seu pensamento no imo-

PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO
bilismo universal, indo contra o mobilismo de Heráclito. Se-
gundo Parmênides, o ser era uno, indivisível, pleno e eter-
no, de modo que não há espaço para o não ser. Visto que,
OU COSMOLÓGICO para o pensador, as coisas não surgiram do nada, isto é,
Sendo uma explicação racional e sistemática diante da ori- tudo que existe sempre existiu.
gem e da transformação da Natureza, a cosmologia nega
que as coisas tenham surgido do nada, pois a própria Empédocles (490-430 a.C.)
Natureza está em transformação. Os pensadores desse
período tiveram a preocupação de compreender a physis, O pensamento de Empédocles consistia em que as coisas
ou seja, os aspectos da Natureza ou da nossa realidade, eram constituídas por quatro elementos: fogo, terra, água
que se encontra em movimento. Assim, o termo filósofo e ar. Ele observa que o amor e o ódio aproximam e afastam
significa “investigador da Natureza”. os indivíduos, caracterizando-os como forças antagônicas
cósmicas. Isso quer dizer que o semelhante atrai o seme-
Tales de Mileto (624-546 a.C.) lhante e o dessemelhante repulsa o dessemelhante, num
Tales é um famoso matemático. Ele foi o primeiro a afir- movimento eterno – assim, ao se ter harmonia, o amor
mar que a água era a origem de todas as coisas, sendo a prevalece e, caso tenha desequilíbrio, o ódio está atuando.
fonte originária de explicação da physis. Diante disso, o filósofo inaugura o pluralismo, que orienta
e ordena a Natureza; não mais um único elemento, como
pensavam os outros filósofos.
Anaximandro (610-547 a.C.)
Anaximandro foi o primeiro a formular o conceito de uma Demócrito (460-370 a.C.)
lei universal presidindo o processo cósmico total, numa cla-
ra ampliação da visão de Tales. Segundo o pensamento de Demócrito, tudo o que existe
na physis, ou seja, na Natureza, é composto por átomos,
que eram partículas indivisíveis e eternas. Seu método foi
Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.) a observação.
Heráclito preocupou-se com a questão da transformação,
ou seja, da physis. A base de seu pensamento consiste no

FILOSOFIA DE ATENAS

A cidade-Estado de Atenas tornou-se um centro cultu-


ral, feito este ocorrido no século de Péricles, época de SOFISMO
maior florescimento da democracia ateniense. Com o Com o crescimento da polis grega, surgiu uma prática edu-
controle de quaisquer ataques de outras cidades, Ate- cacional, em que os seus integrantes eram chamados
nas se favoreceu econômica e culturalmente, desenvol- de sofistas, sábios que vendiam o conhecimento, mas di-
vendo a Filosofia. recionavam esse conhecimento conforme as suas próprias

126
convicções. Os principais sofistas foram Protágoras de Ab-
dera (490-421 a.C.), Górgias de Leontinos (487-380 a.C.),
Dialética socrática
Pródico de Creos (465-395 a.C.), dentre outros. Apresenta- O método de investigação desenvolvido por Sócrates, co-
vam-se como mestres da oratória, de modo que, para eles, nhecido como dialética, consistia em alcançar a verdade
era possível ensinar as técnicas de oratórias e da persuasão por meio do diálogo. O objetivo dessa dialética era des-
para qualquer cidadão. Devido a isso, muitos jovens procu- mascarar a falsa sabedoria, chegando a um conhecimento
ravam os sofistas para alcançarem status na cidade, onde da natureza do homem.
o logos era elemento fundamental. Afinal, numa cidade
democrática, o cidadão precisava saber falar e ser capaz de Das aparências ao mundo das ideias
persuadir os outros com o auxílio das palavras.
Com o pensador ateniense Platão (428-354 a.C.), a Filoso-
fia ganhou uma característica epistemológica. Após a mor-
de Sócrates, ele fundou a Academia, um recinto onde se
discutiam diversos temas, da Matemática, passando pela
Astronomia e até a Música. Na Academia, o conhecimento
deveria ser baseado numa episteme, ou seja, numa ciência,
com o intuito de ultrapassar o plano instável da opinião.

Reminiscência
Segundo o filósofo grego, o ato de conhecer as coisas signifi-
ca, necessariamente, o ato de lembrar, sustentando a hipóte-
PARTHENON se da reminiscência, contida no diálogo Ménon. Nesse diálo-
go, Sócrates demonstra que, através de um escravo, o homem
Sócrates (469-399 a.C.) só precisa recordar as coisas que sua alma um dia aprendeu.
Nesse momento, Platão salienta que a alma é eterna.
O filósofo ateniense foi um dos maiores críticos à prática
Para o filósofo Platão, a concepção de mimesis significa “imi-
do sofismo, pelo direcionamento da verdade pelo sofista,
tação”. Nesse momento, o pensador faz uma separação do
além de discordar que eram filósofos, visto que não investi-
conhecimento e da arte, pautando a filosofia como o conhe-
gavam nada, só reproduziam fatos. Sócrates foi um marco
cimento baseado na verdade, enquanto a arte se postula na
na história da Filosofia, por modificar a investigação do
reprodução, na imitação, de modo a construir uma posição
pensamento, pretendendo direcionar para uma análise do
de superioridade e inferioridade entre esses elementos.
indivíduo, e não mais para a compreensão da physis.

MITO DA CAVERNA

O MUNDO DAS IDEIAS


Platão apresenta que o conhecimento é elaborado quando
o indivíduo alcança a ideia, rompendo com as aparências,
enquanto que a opinião nasce da percepção da aparência.
Nesse instante, o filósofo compreende uma separação en-
tre dois mundos: o mundo inteligível e o mundo sensível.
ƒ Mundo inteligível: o filósofo encontra os elementos
com o olhar da ciência.
ƒ Mundo sensível: o homem vê as coisas não muito
claramente.
Com essa concepção, Platão questiona a realidade do mun-
do sensível, pois esse universo está em constante transfor-
mação, o que nos leva ao mundo das incertezas.

127
ALEGORIA DA CAVERNA gível. Isso ocorre, pois no mundo inteligível estão as ideias
perfeitas, como a beleza, a coragem, a justiça e a felicidade.
Segundo Platão, o filósofo é o sujeito que consegue enxer-
gar as coisas mais claramente do que as outras pessoas. Política
Para ilustrar essa ideia, surge a alegoria da caverna, conti-
Para o filósofo, todos os tipos de governo existentes no
do no Livro VII de A República:
mundo são degenerados por natureza, pois a sua forma
Um grupo de pessoas acorrentado numa caverna só vê original tende a ter uma versão degenerada.
sombras e julga que elas são a realidade.
Forma original Forma degenerada
Um homem consegue escapar das correntes e sai da ca-
verna. Lá fora, ele vê um mundo bem diferente, o mundo Aristocracia Oligarquia
real. Ele volta à caverna para contar a novidade ao resto
das pessoas, porém, ofuscado pela luz (da verdade), parece Monarquia Tirania
abobado. Com isso, os outros prisioneiros não acreditam
na sua versão maluca e acabam matando o pobre infeliz. Democracia Anarquia

Diante disso, Platão defende que o melhor sistema de gover-


A felicidade, segundo Platão no deveria ser a monarquia, associada com o saber filosófico,
Para o filósofo grego Platão, o conceito de felicidade con- visto que somente indivíduos que detêm o conhecimento po-
sistia no resultado final de uma vida dedicada a um conhe- dem efetuar com melhor desempenho para o coletivo, sem
cimento progressivo. Numa valorização pelo conhecimen- sofrerem as interferências do pensar e agir particular. Sendo
to, Platão vai interligar a felicidade com a ciência. assim, os melhores governantes seriam os reis-filósofos.

Dessa maneira, o homem só atingirá a felicidade quando


abandonar o mundo sensível em direção ao mundo inteli-

ARISTÓTELES

ARISTÓTELES (384-323 A.C.)


Aristóteles foi o último e mais influente dos grandes filó-
sofos gregos. Tornou-se o crítico mais feroz do pensa-
mento platônico.
Em 343 a.C., Filipe da Macedônia confiou a Aristóteles a
educação de seu filho, Alexandre. O jovem imperador da
Macedônia, já ganhando as titulações de senhor do mun-
do conhecido, mencionou que “Se a meu pai devo a minha
existência, a meu preceptor devo à arte de me saber con-
duzir. Se governo com alguma glória, a ele sou devedor”.
Em 335 a.C., em Atenas, fundou sua própria escola, o Li-
ceu, que foi muito superior à Academia.
O filósofo deixou muitos escritos, sendo a maioria tratados
bem fundamentados. Dividiu e subdividiu áreas de investiga-
ção, sendo o primeiro a fazer uma classificação do conheci-
mento, de modo que versou perante diferentes áreas, como
biologia, retórica, lógica, ética, dentre outras.
A crítica para Platão consiste em analisar corretamente os
REPRESENTAÇÃO DE PLATÃO (À ESQUERDA, APONTANDO PARA CIMA) E DE
fenômenos da natureza, indo além da superficialidade inte-
ARISTÓTELES (QUE APONTA PARA BAIXO)
ligível, construindo uma nova concepção de conhecimento.

128
Entre seus textos temos: bloco de construção básico de qualquer argumento era
o silogismo; constituído por premissas e uma conclusão,
ƒ A Física: aborda a relação dos quatro elementos (ter-
desenvolvendo um primeiro estudo da linguagem de ar-
ra, água, ar e fogo) com o planeta Terra. Seus princípios
gumentação baseada na coerência lógica. Logo, a lógi-
não são descritos com exatidão. Porém, essas estrutu-
ca se torna uma ferramenta na busca do conhecimento.
ras auxiliaram outros experimentos e tecnologias.
ƒ A Metafísica: trata da ciência das causas primeiras Todos os homens são mortais. premissa 1
do ser enquanto ser geral. O filósofo define quatro cau-
Sócrates é mortal. premissa 2
sas das coisas:
1. causa formal (a forma da coisa); Logo, Sócrates é mortal. conclusão
2. causa material (matéria de que uma coisa é feita);
ƒ Arte Poética: examina as formas de poesia – epo-
3. causa eficiente (a origem da coisa); e
peia, comédia e tragédia –, que tentam imitar a reali-
4. causa final (a finalidade do objeto). dade, porém, de modos diferentes. A poesia é o gênero
ƒ Ética a Nicômaco: apresenta a ética como algo pal- literário que mais se aproxima da filosofia, pois tende
pável, não sendo um elemento abstrato. Seguindo a para o conhecimento do universal.
teoria da justa-medida, ou seja, do equilíbrio, o filósofo ƒ Arte Política: define que o homem é um animal po-
demonstra que, ao seguirmos esse equilíbrio em nossos lítico – politikón zoón – que vive naturalmente em so-
atos particulares, conseguimos atingir a felicidade, sen- ciedade. Ao tratar do tema em Política, Aristóteles, ao
do que existe uma inclinação para essa finalidade últi- contrário de Platão, não se interessa por idealizar uma
ma do ser humano. Entretanto, o conceito de felicidade cidade justa. Ele classifica as formas de governo em três:
varia de indivíduo para indivíduo e de como é sua vida. o governo de um só indivíduo (monarquia), de alguns
Para o filósofo, existem três tipos de vida: (aristocracia) e de todos (democracia). Cada um desses
1. vida dos prazeres: onde o ser se tor- regimes políticos apresenta vantagens e desvantagens,
na refém daquilo que deseja; formas boas e corrompidas. Aristóteles não questionou a
2. vida política: onde o ser busca a hon- escravidão e achava as mulheres despreparadas para a
ra pelo convencimento; e liberdade e para os direitos políticos.
3. vida contemplativa: onde o ser busca os ele- ƒ A Arte: entende que o Belo é o resultado da justa-
mentos dentro de si, o prazer intelectual – essa -medida, da simetria. Assim, o Belo faz parte do ser hu-
vida contém a essência da felicidade. mano, podendo imitar a natureza, mas também abor-
dar o impossível e o inverossímil, podendo completar o
ƒ A Lógica: explica que a lógica não é uma ciência, mas
que falta na natureza.
um instrumento para o correto pensar. Para Aristóteles o

FILOSOFIA MEDIEVAL

Durante o período que corresponde ao Império Romano e à


Idade Média, a filosofia sofreu um processo de reclusão ao
acesso popular, estando cada vez mais reservada a poucos
nichos intelectuais. Desse modo, entre os séculos V e XV,
a filosofia e a religião estiveram interligadas intimamente,
tendo diversas correntes filosófico-católicas que monopoli-
zaram o conhecimento nesse período.

AGOSTINHO (354-430 D.C.)


Com Agostinho – figura mundana que, já adulto, se con-
verteu de livre vontade para o mundo espiritual –, a filoso-
fia se mesclou com o cristianismo.

129
Agostinho propôs uma conciliação entre fé e razão. Com
a dualidade platônica, o pensador medieval ressaltou que PEDRO ABELARDO (1079-1142)
o conhecimento se consolida quando o homem tem aces- Na Idade Média, significou uma mudança do pensamen-
so ao eterno, ao divino, ou seja, tem acesso ao mundo in- to dos dominantes, seguiu-se o ideal de ora et labora
teligível platônico. (reza e trabalha). Assim, iniciou-se a “querela dos univer-
Para o pensador, Deus é eterno, portanto, está fora do sais”, a qual discutia a relação entre o nome e a coisa, a
tempo – que sempre existiu, num eterno presente; porém, linguagem e a realidade.
para o homem, o tempo começou quando o mundo foi
criado. Com o intuito de ilustrar esse procedimento, Agos- O nome da rosa
tinho propôs uma cidade de Deus, feita com as virtudes do
homem, e uma cidade do Diabo, constituída pelos vícios A palavra “rosa” pode sobreviver à morte ou ao desapare-
do ser humano. Essa ideia está contida em sua obra mais cimento da própria rosa; então, a palavra fala até de coisas
famosa, intitulada A cidade de Deus. Nesse instante, o fi- inexistentes. Como podemos entender isso? Nesse instan-
lósofo direciona os hábitos das pessoas, com o intuito de te, acontece uma questão ou querela de como os nomes
conseguir a iluminação divina. dos objetos não estão atrelados com os objetos. Os nomes
são elementos arbitrários que rotulam as coisas, não tendo
nenhuma relação direta com o próprio objeto.

Segundo Pedro Abelardo, os universais só existem no inte-


lecto, mas, ao mesmo tempo, mantêm relação com as coisas
particulares, à medida que lhes dão significado. Desse modo,
é como significado que os universais subsistem às coisas.
Sua obra mais conhecida é Sic et Non (Sim e Não), a qual
revitaliza a dialética, afirmando que esse processo era a
via para a verdade e fazia bem à mente.

TOMÁS DE AQUINO (1226-1274)


Com Tomás de Aquino, existe um domínio comum à razão
e à fé. Diante de uma forte influência de Aristóteles, buscou
organizar todos os ramos do conhecimento em um sistema
ILUSTRAÇÃO DO LIVRO A CIDADE DE DEUS, DE AGOSTINHO completo. Foi um dos principais representantes da escolás-
Essa cidade de Deus só pode ser conhecida através da au- tica, uma das escolas medievais.
toridade infalível da Igreja. Assim, Agostinho comenta que o
Estado deve subjugar-se ao poder do clero, demonstrando
que o ser humano pode atingir o entendimento mediante
as leituras das Escrituras Sagradas, fato este que propicia a
esse indivíduo a felicidade. Entretanto, nem todos os homens
recebem a graça das mãos de Deus, sendo que somente al-
guns são predestinados à salvação. Agostinho se tornou o
principal filósofo da patrística.

Patrística
A patrística é a doutrina religiosa elaborada pelos pais
ou padres da Igreja (por isso o nome), nos séculos II ao
VIII, que tinha como objetivo ordenar as verdades da fé,
para defender-se dos ataques dos hereges. Para conso-
lidar o dogma religioso, tem uma construção lógica das
ideias. Os inúmeros textos dessa doutrina almejavam
orientar as ações dos indivíduos de dentro e de fora dos
muros da Igreja católica.

130
O pensamento de Aquino procura apresentar o equilíbrio
entre a fé e a razão. Para ele, quando há algum desacordo, ESCOLÁSTICA
a razão é sempre o elemento que se apresenta em equívo- A escolástica foi o método utilizado nos recintos educacio-
co, pois a razão que se excede torna-se indiscreta e invade nais da Idade Média, durante o século XI, principalmente
o terreno exclusivo da fé, que são os mistérios divinos – nas universidades. Seguindo um modelo romano de ensi-
fato que provoca, devido à desconfiança, a impossibilidade no, eram ensinadas Gramática, Retórica, Dialética, Geome-
de demonstrar a existência de Deus. Seu pensamento assu- tria, Aritmética, Astronomia e Música.
miu a condição de doutrina oficial do catolicismo.
A influência do aristotelismo na escolástica adentra no sé-
Em sua Summa contra gentilles, Aquino propõe-se a provar
culo XII, salientando a concepção de divisão de matérias,
para um não cristão, mediante um raciocínio natural, a im-
em que existem diversos tipos de conhecimento.
portância do cristianismo e a existência de Deus. Essa obra
é considerada um manual de teologia destinado a conver-
ter os muçulmanos, evitando, assim, o avanço do islã.

FILOSOFIA POLÍTICA

Diante das transformações sociais e políticas que a Europa que esse poder ficará eternamente para esse ser, pois o
passava durante a Baixa Idade Média – conjunto com os que vai garantir tal poder são suas ações no agrupamento
ideais e as ações do Renascimento Cultural, que privilegia social. Desse modo, o principal objetivo desse governante
o ser humano e as suas próprias criações –, emerge um é perpetuar-se no poder.
novo ramo na área da filosofia – a filosofia política –, que
Assim, para o pensador, a figura mais importante dessa so-
se debruça perante os limites e a organização do Estado
ciedade é o governante. Isso ocorre, pois esse indivíduo pos-
frente ao indivíduo. O termo “política” já existia na polis
sui algo que poucos têm: a virtù.
grega; porém, essa nova concepção representa um novo
olhar perante as relações da sociedade. Os pensadores com A virtù representa as qualidades que esse indivíduo terá
maior destaque nessa área foram Maquiavel e Hobbes. em determinadas situações, sendo ações ou atitudes que
devem ser tomadas rápidas, sem prejuízos ao seu maior

NICOLAU MAQUIAVEL objetivo, sem precisar seguir qualquer moral religiosa.


Só que esse governante também precisa ter ao seu favor
(1469-1527) a fortuna, ou seja, a sorte, de modo que ele não pode, de
forma alguma, renegar as situações de sorte que podem
O filósofo da região de Florença é considerado um teórico
surgir em seu caminho. Assim, para conseguir perpetuar-se
da política. Com uma observação perspicaz da história dos
no poder, o bom governante precisa, necessariamente, unir
governos, Maquiavel analisa as atitudes dos governantes e
a virtù e a fortuna.
como esse Estado é organizado.
Em sua obra mais conhecida, O príncipe (1513), Maquiavel
tinha como pretensão propiciar a união das províncias ita-
lianas, para garantir a paz nessas terras.

Tendo uma experiência de análise histórica, em conjunto


com uma orientação de valorização do governante, Ma-
quiavel tem a preocupação de saber como os governan-
tes agem de fato e como essas atitudes podem garantir ou
não a sua permanência no poder.

A estrutura do poder para Maquiavel


O poder, segundo Maquiavel, foi adquirido pelo uso da
força excessiva ou pela herança. Entretanto, não significa MAQUIAVEL, PINTURA DE SANTI DI TITO, SÉCULO XV

131
THOMAS HOBBES (1588-1679) Para romper essa situação de guerra, os homens decidem
sair do estado de natureza e partir para a sociedade civil,
criando um pacto social entre os integrantes dessa comu-
nidade, visando à tranquilidade e à paz. O que fundamen-
tará esse pacto é a preservação da vida, o grupo decide
ceder suas forças (ou armas) para um líder soberano, que
deveria cumprir com alguns deveres, como trazer a paz
para o grupo e o bem comum. Diante desse pacto, os ho-
mens não devem se rebelar contra o governante escolhido,
com a intenção de fomentar a tranquilidade desejada.

O leviatã: o perigo do monstro


O filósofo inglês Thomas Hobbes explanou a sua teoria sobre Hobbes aponta que nessa sociedade civil insurge um líder
a formação da sociedade. Foi um pensador jusnaturalista, supremo que precisa utilizar-se da força para se manter no
isto é, acreditava que os princípios e direitos dos homens poder. O problema é que, tendo o poder legal nas mãos, o
têm-se como ideia universal e imutável de justiça. Hobbes governante, se não tiver destreza, inclinará para um poder
foi uma das bases filosóficas para a consolidação do abso- incontrolável, absoluto, transformando-se num monstro com
lutismo europeu. poderes ilimitados. Aqui, Hobbes compara esse governante
incontrolável, tendo o aval das leis criadas por ele próprio,
Em seu livro O leviatã (1651), ele pretende compreender
com o monstro que dá título à sua obra, o leviatã (um pei-
a formação da sociedade. Segundo o filósofo, no início,
xe feroz citado no Antigo Testamento), que deve concentrar
os homens viviam no Estado de natureza, onde os seres
todo o poder em torno de si, para, assim, ordenar todas as
sobrevivem num conflito de todos contra todos, onde a re-
decisões da sociedade. Isso prejudica completamente a con-
gra máxima era a lei da sobrevivência. Nesse instante, a
solidação do pacto social, perdendo com isso o objetivo de
competição entre os indivíduos fazia com que a paz ficasse
preservação da paz entre os homens.
cada vez mais longe do convívio humano.

FILOSOFIA MODERNA

ERASMO DE ROTTERDAM MICHEL DE MONTAIGNE


(1466-1536) (1533-1592)
Nascido Herasmus Gerritzsoon, o pensador humanista ne- O filósofo francês Michel de Montaigne reintroduz a ideia de
erlandês faz uma crítica mordaz e feroz sobre a insensibi- investigação crítica permanente, concebeu uma nova manei-
lidade dos detentores do poder, sobre a perda dos valores ra de descobrir o conhecimento.
da vida, com uma sátira da sociedade dos séculos XV e Com formação em Direito, acabou adentrando na política,
XVI. Assim, ele redigiu o seu Elogio da Loucura. sendo prefeito de Bordeaux, entre 1580 e 1581. No fim da
Nesse caso, a Loucura é uma deusa que se apresenta como vida, escolheu a reclusão, a fim de escrever a sua maior obra,
condutora das ações humanas, ou seja, a Loucura domina intitulada Ensaios, niciada em 1572.
o mundo, do modo que a felicidade suprema do homem Em seu ensaio mais famoso, intitulado Dos canibais, Mon-
está nas loucuras que comete. Com isso, Loucura é o próprio taigne apresenta uma crítica aos europeus, em relação às
mundo que o homem construiu, pois os seres se tornam práticas com os povos do Novo Mundo.
medíocres e hipócritas.
Analisa o cotidiano constituído por homens “estranhos” e
A crítica maior recai sobre a Igreja, sua hierarquia e suas ins- “absurdos”, mas também “milagres”. O homem é um ser
tituições. Assim, Erasmo propõe o retorno da Igreja à simpli- verdadeiro em sua contínua mutação; equívocas são as teo-
cidade dos tempos iniciais. Foi considerado o homem mais rias e as convenções sociais e políticas que pretendem apri-
erudito de sua época. sioná-lo em uma única imagem.

132
RENÉ DESCARTES (1596-1650) 1. Só aceitar ideias claras e definidas.
2. Dividir cada problema em tantas partes necessárias
O francês René Descartes é considerado o pai da filosofia à solução.
moderna. Na intenção de encontrar a certeza de alguma
3. Ordenar os pensamentos do simples ao complexo.
coisa, o filósofo utiliza a sua maior arma – a dúvida –, pro-
curando, assim, uma base de certeza em suas próprias fa- 4. Verificar exaustivamente se existe alguma falha.
culdades racionais. Esse pensamento está contido no Discurso do método: o
homem deve desconfiar de seus sentidos. Descartes, notou
que o único momento de que não se pode duvidar é quando
pensa, mesmo que pense estar sonhando ou se iludindo. As-
sim, se duvido, penso e, ao pensar, logo, existo.
Descartes supôs que a essência do ser era o pensamento, e
que a mente era separada do corpo. Surgira, assim, o pro-
blema mente–corpo, a qual o corpo tinha os seus próprios
princípios de movimento, agindo de forma mecânica.
Em seguida, era necessário comprovar a existência de Deus,
O ceticismo cartesiano consiste numa formulação sistemá- para garantir que nossas ideias claras e definidas são ver-
tica, em que não se trata mais de duvidar por duvidar, mas dadeiras e que não estamos sendo iludidos por um gênio
de examinar criteriosamente todas as coisas, a fim de nelas maligno. Se Deus é perfeito por ter uma causa, o homem, por
descobrir elementos sobre os quais possa recair alguma possuir inúmeros defeitos, não pode ser essa causa. Assim,
suspeita. A dúvida é conduzida por um método rigoroso: Deus deve ser a causa de nossa ideia de perfeição dele.

RACIONALISTAS

BARUCH DE ESPINOZA foi que o conteúdo bíblico não se refere à verdade, mas
apenas estabelece preceitos de conduta para guiar os ho-
(1632-1677) mens, o que reduz a nada todo o esforço da teologia.
Segundo Espinoza, existe uma só substância, que é um prin-
cípio científico unificador, figurando-se em Deus ou Nature-
za, do modo que a mente e a matéria são apenas atributos
da substância única. Deus é a causa primeira e eficiente de
todas as coisas, porém, isso não significa que seja o criador,
pois, sendo Deus a única substância, nada pode existir fora
dele. Assim, Deus é a causa do mundo, mas o mundo existe
em Deus, que é, por isso, causa imanente, isto é, causa que
produz efeito em si mesma. Em outras palavras, Deus é Na-
tureza (Deus sive Natura).
A filosofia de Espinoza tinha como propósito esclarecer a
identidade existente entre nossa mente e a natureza. Essa
identidade só acontece, quando conhecemos a nós mes-
mos e a própria natureza, como uma coisa una. Diante disso,
o conhecimento da natureza se concretiza quando enten-
demos a essência dos objetos.
O filósofo holandês Espinoza foi um dos grandes raciona-
listas do século XVII. Em sua obra Tratado teológico-polí- Espinoza foi um daqueles raros filósofos que, além de acre-
tico (1670), o filósofo submete o Velho Testamento a uma ditar no que dizia, era fiel a seus princípios. Chegou a recu-
rigorosa crítica, baseando-se numa análise gramatical da sar uma cátedra de Filosofia em Heidelberg, posição que,
língua hebraica e na história do povo judeu. A conclusão por ser oficial, implicava aceitar ideias e limitações oficiais.

133
Definições de Espinoza
I. Por sua causa entendo aquilo cuja essência implica a exis-
tência e cuja natureza só pode ser concebida como existente.
II. Diz-se finita no seu gênero uma coisa que pode ser li-
mitada por uma outra da mesma natureza. Por exemplo,
dizemos que um corpo é finito porque concebemos sempre
um outro maior. Do mesmo modo, um pensamento é limi-
tado por um outro pensamento. Mas nem um corpo pode
ser limitado por um pensamento nem um pensamento por
um corpo.
III. Por substância entendo aquilo que existe em si e por si
é concebido, isto é, aquilo cujo conceito, para ser formado,
não precisa do conceito de uma outra coisa.
Leibniz escreveu prodigiosamente sobre muitos temas das
IV. Por atributo entendo aquilo que o intelecto percebe
áreas filosófica e matemática. O filósofo procurou a harmo-
como a essência da substância.
nia entre elementos aparentemente díspares: o mundo na-
V. Por modo entendo aquilo que existe em outra coisa pela tural e o mundo moral; o corpo e a alma; Platão e Aristóteles.
qual também é concebido.
Em sua maior obra filosófica intitulada Monadologia, o
VI. Por Deus entendo o ente absolutamente infinito, isto é, pensador apresenta como a natureza é constituída, de
uma substância que consta de infinitos atributos, cada um modo a salientar uma lógica racional. A força motora da
dos quais exprime uma essência eterna e infinita. natureza é acionada por Deus, que também está conti-
Destinada aos homens livres, o filósofo trata também sobre da na própria natureza.
a Ética, obra escrita em axiomas, no ano de 1677. Para Es- Segundo Leibniz, todos os elementos da natureza são com-
pinoza, o que os indivíduos pensam reflete diretamente na postos por mônadas (do grego monas, que significa “uni-
sua maneira de viver, colhendo frutos positivos ou negati- dade”, o que é uno), concebidas como verdadeiros átomos
vos de suas ações. Seguindo uma lógica racional, o filósofo da natureza, elementos das coisas, fechadas, sem janelas,
tenta provar a natureza racional de Deus. reguladas, em seu funcionamento pela harmonia preestabe-
lecida, de modo que, cada mônada é diferente e reflete o

GOTTFRIED WILJHELM universo inteiro; porém, não está no espaço e nem no tempo.

LEIBNIZ (1646-1716)
Cada elemento que existente no universo é composto por
inúmeras mônadas, da sendo que alguns possuem mais
O filósofo alemão Leibniz é uma figura central na história que outras. Deus, por exemplo, também é composto por
da matemática e da filosofia, que concebeu as ideias de mônadas, sendo uma substância infinita, perfeita, criadora
cálculo diferencial e integral, sem sofrer influência dos es- de todas as coisas e da harmonia preestabelecida. As mô-
tudos de Isaac Newton. nadas que compõem Deus, criam as mônadas da natureza.

134
U.T.I. - Sala “O deus é dia noite, inverno verão, guerra paz, sacie-
dade fome; mas se alterna como fogo, quando se mis-
tura a incensos, e se denomina segundo o gosto de
1. (UEL) Leia o diálogo a seguir. cada.” (Fr. 67)

Glauco: — Que queres dizer com isso? “Por fogo se trocam todas (as coisas) e fogo por to-
das, tal como por ouro mercadorias e por mercadorias
Sócrates: — O seguinte: que me parece que há muito ouro.” (Fr. 90)
estamos a falar e a ouvir falar sobre o assunto, sem nos
apercebermos de que era da justiça que de algum modo Os pré-socráticos. São Paulo: Abril Cultural,
1973, p. 85 e 87. Col. Os pensadores.
estávamos a tratar.
Glauco: — Longo proémio – exclamou ele – para quem A partir das citações acima:
deseja escutar! a) explicite quais são esses temas.
Sócrates: — Mas escuta, a ver se eu digo bem. O princípio b) comente cada um deles de modo a caracterizar a Fi-
que de entrada estabelecemos que devia observar-se em losofia de Heráclito.
todas as circunstâncias, quando fundamos a cidade, esse
princípio é, segundo me parece, ou ele ou uma das suas 5. (UFU) Há um abismo imenso que separa esta escala
formas, a justiça. de valores que Sócrates proclama com tanta evidência
e a escala popular vigente entre os gregos e expressa
PLATÃO. A República. 7. ed. Lisboa: Fundação na famosa canção báquica antiga:
Calouste Gulbenkian, 1993. p. 185-186.
O bem supremo do mortal é a saúde;
Com base nesse fragmento, que aponta para o debate
em torno do conceito de justiça na obra A República, de O segundo, a formosura do corpo;
Platão, explique como Platão compreende esse conceito. O terceiro, uma fortuna adquirida sem mácula;
O quarto, desfrutar entre amigos o esplendor da juventude.
Leia o texto a seguir para responder às questões 2 e 3. JAEGER, W. Paideia. São Paulo: Martins
Fontes, 1995, p. 528-529.
“... não é fácil determinar de que maneira, e com quem e
por que motivos, e por quanto tempo devemos encol- a) O que é o homem para Sócrates?
erizar-nos; às vezes nós mesmos louvamos as pessoas b) Qual é a relação entre o que define o homem e a
que cedem e as chamamos de amáveis, mas às vezes máxima délfica “Conhece-te a ti mesmo”?
louvamos aquelas que se encolerizam e as chamamos
6. (UFU) A respeito da fortuna, Maquiavel escreveu:
de viris. Entretanto, as pessoas que se desviam um
pouco da excelência não são censuradas, quer o façam [...] penso poder ser verdade que a fortuna seja árbitra
no sentido do mais, quer o façam no sentido do menos; de metade de nossas ações, mas que, ainda assim, ela
nos deixe governar quase a outra metade.
censuramos apenas as pessoas que se desviam consid-
eravelmente, pois estas não passarão despercebidas. MAQUIAVEL, N. O príncipe. Tradução de: Lívio Xavier. São
Mas não é fácil determinar racionalmente até onde e Paulo: Nova Cultural, 1987. Coleção “Os Pensadores”. p. 103.
em que medida uma pessoa pode desviar-se antes de Com base na citação, responda:
tornar-se censurável (de fato, nada que é percebido
a) O que é a fortuna para Maquiavel?
pelos sentidos é fácil de definir); tais coisas dependem
de circunstâncias específicas, e a decisão depende b) Como deve agir o príncipe em relação à fortuna?
da percepção. Isto é bastante para determinar que a
7. (Unesp)
situação intermediária deve ser louvada em todas as
circunstâncias, mas que às vezes devemos inclinar-nos TEXTO 1
no sentido do excesso, e às vezes no sentido da falta,
pois assim atingiremos mais facilmente o meio-termo Para santo Tomás de Aquino, o poder político, por ser
e o que é certo.” uma instituição divina, além dos fins temporais que jus-
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Livro II. São Paulo: tificam a ação política, visa outros fins superiores, de
Nova Cultural, 1996, p. 150 (Col. Os Pensadores). natureza espiritual. O Estado deve dar condições para a
realização eterna e sobrenatural do homem. Ao discutir
2. (UFPR) Agir de modo virtuoso é, segundo Aristóteles, a relação Estado-Igreja, admite a supremacia desta so-
agir sempre do mesmo modo? Por quê? bre aquele. Considera a Monarquia a melhor forma de
governo, por ser o governo de um só, escolhido pela sua
3. (UFPR) Uma vez que Aristóteles antes define as vir- virtude, desde que seja bloqueado o caminho da tirania.
tudes como disposições de caráter e, na passagem acima,
TEXTO 2
acrescenta que as virtudes situam-se num “meio-termo”,
de que modo devem ser definidos os vícios? Por quê? Maquiavel rejeita a política normativa dos gregos, a qual,
ao explicar “como o homem deve agir”, cria sistemas
4. (UFU) Os fragmentos abaixo representam três te- utópicos. A nova política, ao contrário, deve procurar a
mas fundamentais que configuram o pensamento de verdade efetiva, ou seja, “como o homem age de fato”.
Heráclito de Éfeso. O método de Maquiavel estipula a observação dos fatos,

135
o que denota uma tendência comum aos pensadores 9. (UFU) Segundo Agostinho de Hipona (354-430),
do Renascimento, preocupados em superar, através as ideias ou formas originárias de todas as coisas,
da experiência, os esquemas meramente dedutivos razões estáveis e imutáveis das coisas de nosso mun-
da Idade Média. Seus estudos levam à constatação de do, estão contidas na mente divina e não nascem
que os homens sempre agiram pelas formas da cor- nem morrem, e tudo o que, em nosso mundo, nasce
rupção e da violência. e morre é formado a partir delas. Essas ideias eter-
Adaptado de: ARANHA, Maria Lúcia; MARTINS, nas não são criaturas, antes, participam da Sabedoria
Maria Helena. Filosofando. 1986.
eterna, mediante a qual Deus criou todas as coisas e
Explique as diferentes concepções de política expressa- são idênticas a Ele. Assim, conhecemos verdadeira-
das nos dois textos. mente quando nos voltamos para tais ideias; sendo
o fundamento da natureza das coisas são também
8. (UFU) Leia a afirmação a seguir e responda. o fundamento para o conhecimento dessas mesmas
coisas; assim, por meio delas podemos formar juízos
A função que Hobbes atribui ao pacto de união é a de verdadeiros sobre elas.
fazer passar a humanidade do estado de guerra para o INÁCIO, Inês. C.; LUCA, Tânia R. de. O pensamento
estado de paz, instituindo o poder soberano. medieval. São Paulo: Ática, 1988, p. 26.

BOBBIO, Norberto. Thomas Hobbes. Rio Levando em consideração o texto acima e a teoria da
de Janeiro: Campus, 1991. p. 43.
iluminação de Agostinho, responda:
a) Por que, sem o pacto, não há paz entre os homens? a) O que são as ideias eternas?
b) Por que a instituição do poder soberano é resultado b) Qual o seu papel ou função em nosso conhecimento
de uma passagem? do mundo?

10. (UEL) Leia o texto e o quadrinho a seguir.

Aqueles que somente por fortuna se tornam príncipes pouco trabalho têm para isso, é claro, mas se mantêm muito
penosamente. Não têm nenhuma dificuldade em alcançar o posto, porque por aí voam; surge, porém, toda sorte de
dificuldades depois da chegada. Tais príncipes estão na dependência exclusiva da vontade e boa fortuna de quem lhes
concedeu o Estado, isto é, duas coisas extremamente volúveis e instáveis.
Adaptado de: MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 55.

a) Desenvolva os conceitos de fortuna e de virtù, em conformidade com Maquiavel.


b) O que diferencia o pensamento político de Maquiavel daquele concebido pela tradição cristã?

U.T.I. - E.O. 3. Em 399 a.C., o filósofo Sócrates é acusado de graves


crimes por alguns cidadãos atenienses. (...) Em seu jul-
gamento, segundo as práticas da época, diante de um
1. O que significa dizermos que os primeiros filósofos júri de 501 cidadãos, o filósofo apresenta um longo
tinham uma “preocupação cosmológica”? discurso, sua apologia ou defesa, em que, no entanto,
longe de se defender objetivamente das acusações,
2. Platão considera as opiniões e as percepções senso- ironiza seus acusadores, assume as acusações, dizen-
riais, ou conhecimento das imagens das coisas, como do-se coerente com o que ensinava, e recusa a declarar-
fonte de erro, pois nunca alcançam a verdade plena. se inocente ou pedir uma pena. Com isso, ao júri, tendo

136
que optar pela acusação ou pela defesa, só restou como Com base na leitura desse trecho e em outras infor-
alternativa a condenação do filósofo à morte. mações presentes na obra em referência, explique por
(Danilo Marcondes). que não é toda e qualquer semelhança entre os homens
que motiva uma amizade verdadeira.
Com base no texto apresentado, explique quais foram
os motivos da condenação de Sócrates à morte. 6. (Unesp) “O homem é o lobo do homem” é uma das
frases mais repetidas por aqueles que se referem a
4. (UFPR) Se há, então, para as ações que praticamos, Hobbes. Essa máxima aparece coroada por uma outra,
alguma finalidade que desejamos por si mesma, sen- menos citada, mas igualmente importante: “guerra de
do tudo mais desejado por causa dela, e se não escol- todos contra todos”. Ambas são fundamentais como
hemos tudo por causa de algo mais (se fosse assim, síntese do que Hobbes pensa a respeito do estado nat-
o processo prosseguiria até o infinito, de tal forma ural em que vivem os homens. O estado de natureza
que nosso desejo seria vazio e vão), evidentemente é o modo de ser que caracterizaria o homem antes de
tal finalidade deve ser o bem e o melhor dos bens. seu ingresso no estado social. O altruísmo não seria,
Não terá então uma grande influência sobre a vida portanto, natural. No estado de natureza o recurso à
o conhecimento deste bem? Não deveremos, como violência generaliza-se, cada qual elaborando novos
arqueiros que visam a um alvo, ter maiores proba- meios de destruição do próximo, com o que a vida se
bilidades de atingir assim o que nos é mais conve- torna “solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta,
niente? Sendo assim, cumpre-nos tentar determinar, na qual cada um é lobo para o outro, em guerra de to-
mesmo sumariamente, o que é este bem, e de que dos contra todos”. Os homens não vivem em cooper-
ciências ou atividades ele é o objeto. Aparentemente ação natural, como fazem as abelhas e as formigas. O
ele é o objeto da ciência mais imperativa e predomi- acordo entre elas é natural; entre os homens, só pode
nante sobre tudo. Parece que ela é a ciência política. ser artificial. Nesse sentido, os homens são levados a
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, 1094a, p. 18-28. estabelecer contratos entre si. Para o autor do Leviatã,
o contrato é estabelecido unicamente entre os mem-
Que razões Aristóteles alega para justificar a afirmação bros do grupo, que, entre si, concordam em renunciar
de que a ciência mais imperativa e predominante sobre a seu direito a tudo para entregá-lo a um soberano
tudo parece ser a ciência política? capaz de promover a paz. Não submetido a nenhuma
lei, o soberano absoluto é a própria fonte legisladora.
5. (Ufmg) Na Ética a Nicômaco, Aristóteles propõe uma A obediência a ele deve ser total.
compreensão da amizade em que a semelhança entre
João Paulo Monteiro. Os pensadores. 2000.
os homens é importante, embora não a caracterize
completamente, como se comprova neste trecho: Caracterize a diferença entre estado de natureza e
vida social, segundo o texto, e explique por que a é
A amizade perfeita é a dos homens que são bons e afins atribuída a Hobbes a concepção política de um “ab-
na virtude, pois esses desejam igualmente bem um ao solutismo sem teologia”.
outro enquanto bons, e são bons em si mesmos. Ora, os
que desejam bem aos seus amigos por eles mesmos são 7. (UFMG) Leia este trecho:
os mais verdadeiramente amigos, porque o fazem em
razão da sua própria natureza e não acidentalmente. Ouvi dizer a um homem instruído que o tempo não é
Por isso sua amizade dura enquanto são bons – e a bon- mais que o movimento do sol, da lua e dos astros. Não
dade é uma coisa muito durável. E cada um é bom em concordei. Por que não seria antes o movimento de
si mesmo e para o seu amigo, pois os bons são bons em todos os corpos? Se os astros parassem e continuasse
absoluto e úteis um ao outro. […] Uma tal amizade é, a mover-se a roda do oleiro, deixaria de haver tempo
como seria de esperar, permanente, já que eles encon- para medirmos suas voltas? [...] Ou, ao dizermos isto,
tram um no outro todas as qualidades que os amigos não falamos nós no tempo, e não há nas nossas pala-
devem possuir. vras sílabas longas e sílabas breves, assim chamadas,
porque umas ressoam durante mais tempo e outras du-
Com efeito, toda a amizade tem em vista o bem ou o rante menos tempo?
prazer – bem ou prazer, quer em abstrato, quer tais que SANTO AGOSTINHO. Confissões (Livro XI: o Homem
possam ser desfrutados por aquele que sente a amiza- e o Tempo). Tradução de: SANTOS, J. Oliveira; PINA,
de –, e baseia-se numa certa semelhança. E à amizade Ambrósio de. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 286.
entre homens bons pertencem todas as qualidades que
mencionamos, devido à natureza dos próprios amigos, Nesse trecho, o autor argumenta contra a identificação
pois numa amizade desta espécie as outras qualidades do tempo ao movimento dos astros. Apresente o argu-
também são semelhantes em ambos; e o que é irrestri- mento proposto por Santo Agostinho.
tamente bom também é agradável no sentido absoluto
do termo, e essas são as qualidades mais estimáveis 8. (Unesp) “Três maneiras há de preservar a posse de
que existem. Estados acostumados a serem governados por leis
próprias; primeiro, devastá-los; segundo, morar neles;
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de:
VALLANDRO, L.; BORNHEIM, G. In: Os pensadores. terceiro, permitir que vivam com suas leis, arrancando
São Paulo: Abril, 1979, VIII, 3, 1156b. um tributo e formando um governo de poucas pessoas,

137
que permaneçam amigas. Sucede que, na verdade, a A partir da leitura das informações acima, responda às
garantia mais segura da posse é a ruína. Os que se seguintes perguntas.
tornam senhores de cidades livres por tradição, e não a) De acordo com Hobbes, os seres humanos são natu-
as destroem, serão destruídos por elas. Essas cidades ralmente sociáveis? Justifique sua resposta.
costumam ter por bandeira, em suas rebeliões, tanto a
b) Quais seriam, para esse filósofo, as principais carac-
liberdade quanto suas antigas leis, jamais esquecidas,
terísticas do homem em estado de natureza?
nem com o passar do tempo, nem por influência dos
favores que receberam. c) Tendo em vista o fragmento da reportagem publi-
cada pelo jornal Folha Online, é correto dizer que o
Por mais que se faça, e sejam quais forem os cuidados, Estado, hoje, do ponto de vista hobbesiano, cumpre
sem promover desavença e desagregação entre os ha- sua obrigação em relação aos cidadãos?
bitantes, continuarão eles a recordar aqueles princípios
e a estes irão recorrer em quaisquer oportunidades 10. (UFU) Leia com atenção o texto abaixo em que o
e situações”. autor comenta e cita Santo Agostinho, e, em seguida,
responda as questões apresentadas.
Adaptado de: Nicolau Maquiavel. Publicado
originalmente em 1513.
“Deus cria as coisas a partir de modelos imutáveis e eter-
Partindo de uma definição de moralidade como con- nos, que são as ideias divinas. Essas ideias ou razões não
junto de regras de conduta humana que se pretendem existem em um mundo à parte, como afirmava Platão,
válidas em termos absolutos, responda se o pensamen- mas na própria mente ou sabedoria divina, conforme o
to de Maquiavel é compatível com a moralidade cristã. testemunho da Bíblia.”
Justifique sua resposta, comentando o teor prático ou
“Que a mesma sabedoria divina, por quem foram cria-
pragmático do pensamento desse filósofo.
das todas as coisas, conhecia aquelas primeiras, divinas,
9. (UFU) Ser vítima de bala perdida é o maior medo at- imutáveis e eternas razões de todas as coisas antes de
ual dos cariocas e moradores da região metropolitana serem criadas, a Sagrada Escritura dá este testemunho:
do Rio. Foi o que responderam 57% dos 4500 entrevis- No princípio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e
tados em levantamento do ISP (Instituto de Segurança o Verbo era Deus. Todas as coisas foram feitas pelo Verbo
Pública), órgão ligado à Secretaria de Segurança do Rio, e sem Ele nada foi feito. Quem seria tão néscio a ponto
divulgado na tarde desta terça-feira. [...] um quinto dos de afirmar que Deus criou as coisas sem conhecê-las? E
entrevistados (21,7%) foi vítima de um dos 21 tipos de se as conheceu, onde as conheceu senão em si mesmo,
crimes elencados na pesquisa (agressão, furto...). junto a quem estava o Verbo pelo qual tudo foi feito?”
(Santo Agostinho, Sobre o Gênese, V, 29). COSTA,
BELCHIOR, L. Mais da metade dos moradores do RJ
José Silveira da. A Filosofia Cristã. In: RESENDE,
não confia na PM. In: Folha Online, 19/08/2008.
Antônio. Curso de Filosofia. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar/SEAF, 1986, p. 78, capítulo 4.
Estatísticas como essas retratam a situação de medo
e de insegurança geral vivenciada nas metrópoles bra- a) Explique a relação, sugerida neste texto, entre a teo-
sileiras e conferem atualidade a teorias como a do filó- ria das Ideias de Platão e o pensamento de Agostinho.
sofo Thomas Hobbes. Para ele, a função do Estado e do
b) Explique como Agostinho usa essa teoria para expli-
corpo político é a de garantir a paz e o direito de cada
car o conhecimento humano, na sua conhecida Doutri-
um à vida, impedindo o desencadeamento natural da
na da Iluminação Divina.
guerra de todos contra todos.

138
SOCIOLOGIA

139
A SOCIOLOGIA: AUGUSTE COMTE

A Sociologia surge como um fruto das diversas transfor- Pensando no controle da sociedade, Comte estruturou que
mações do cotidiano, oriundo da Revolução Industrial, que todos os elementos deveriam ter a razão científica como
impulsionou ainda mais as desigualdades sociais entre os norteador dessas ações. Esse pensamento ganhou força na
homens – fato este que modificou as relações interpesso- Europa durante o século XIX, entre governos monárquicos
ais, tendo como referência as relações do trabalho e sua e republicanos. Uma nação que seguiu com toda ênfase o
desvalorização do trabalho humano. pensamento positivista foi o Império Austro-Húngaro.
Diante disso, emerge uma ciência que se preocupava em
oferecer uma explicação para os novos fenômenos sociais. Positivismo no Brasil
Com o início da República, no século XIX, o positivismo
AUGUSTE COMTE (1798-1857) ganhou força, principalmente na cidade do Rio de Janeiro.
Com suas características de que existe uma hierarquia, a
Comte introduz o positivismo, corrente filosófica que buscava
qual deve seguir uma ordenação científica, o positivismo
uma reorganização intelectual, moral e política da ordem so-
teve muitos adeptos dos altos oficiais do Exército e algu-
cial, com o intuito de controle de todas as instituições sociais.
O seu pensamento consistia em três estágios, contida em seu mas camadas da burguesia brasileira. Diante disso, a nova
Curso de filosofia positiva: bandeira do Brasil ganhou um lema positivista.

ƒ Estado teológico: corresponde à infância da humanida-


de, pois a mente humana se baseia a um conhecimento
provisório, ilusório, ou seja, tenta explicações da realida-
de por meio de entidades sobrenaturais. Segundo Com-
te, a religião se encaixa nesse estado, pois ela inicia o
processo do conhecimento; porém, é um tipo de conhe-
cimento não tão confiável.
ƒ Estado metafísico: as explicações dos fenômenos da re-
alidade são feitas por entidades abstratas, mas contêm
traços de elementos teológicos. Sendo um estado inter-
mediário para o conhecimento definitivo.
ƒ Estado positivo: representa a realidade, sendo a forma
definitiva. Aqui a ciência predomina, de modo que se
busca os fatos e não as causas ou princípios; se preo- BANDEIRA DO IMPÉRIO BRASILEIRO
cupa com o processo do conhecimento, e não com os
motivos dessas causas.

Positivismo
O pensamento científico e experimental é o único guia para
o ser humano, de forma que a ciência é a base dessa doutri-
na, com o intuito de organizar todos os elementos da socie-
dade, inclusive a área religiosa.
Em sua obra Sistema de política positiva (1854), Comte cria
a religião da humanidade ou a religião positivista, que tem
como princípios ou diretrizes “o amor, por princípio”, “a
BANDEIRA DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
ordem, por base” e “o progresso, por fim”.
Esse processo evolutivo também recairia entre as ciências Entre os brasileiros que propagaram o pensamento positivis-
positivas – matemática, física, astronomia, química, biologia ta, podemos destacar os primeiros presidentes da República
–, e teria como a maior entre essas ciências uma nova ciên- Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, os militares Benjamin
cia – a sociologia –, que englobaria todas elas. Constant e Cândido Rondon e o escritor Euclides da Cunha.

140
ÉMILE DURKHEIM

A Europa passava por um momento de tranquilidade polí- Já as características dos fatos sociais devem ter traços de:
tica e econômica, chamada de Belle Époque, entre o fim da ƒ generalidade: comum a todos ou à maioria dos inte-
Guerra Franco-Prussiana, em 1871, e o começo da Primeira grantes desse grupo social;
Guerra Mundial, em 1914. ƒ exterioridade: não depende do indivíduo; e
Diante da efervescência tecnológica da época, ocorreu uma ƒ coercitividade: se impõe de diversas formas.
grande transformação nos hábitos das pessoas, que direcio-
nou os indivíduos para o consumo de bens de consumos e o A religião para Durkheim
encantamento desses produtos perante os indivíduos.
Émile Durkheim nota que o elemento primordial que entre-
laça todos os seres é a religião, pois, mesmo serem monote-
ÉMILE DURKHEIM (1858-1917) ístas ou politeístas, todas as religiões separam radicalmente
o mundo profano do mundo sagrado. Ele considera todas as
religiões como iguais, contendo um sistema de crenças e de
cultos, conjuntos de atitudes rituais, nas quais os seus “movi-
mentos são estereotipados”. A religião constrói a sociedade,
na qual “as divisões em dias, semanas (...) correspondem à
periodicidade dos ritos, das festas”, sendo assim uma mani-
festação natural da atividade humana.
A religião, para Durkheim, é uma espécie de especulação de
tudo que escapa à ciência, ou seja, o sobrenatural, possuin-
do assim na sua essência um conjunto de símbolos (os ritos).
O homem é um ser social, porque pensa por conceitos. A
Um dos precursores da escola sociológica francesa, o soci- concepção de mito é entendida como a representação de
ólogo Émile Durkheim sofreu uma forte influência do positi- uma espécie de herói histórico.
vismo comteano, contendo traços do funcionalismo social,
em que considera as funções sociais contidas em seu obje-
to de pesquisa, trabalhando a moral, a religião etc. O método científico
Ele compreende a “cultura” como algo coletivo, um elemen- Durkheim inaugura o processo de investigação sobre os
to vivo por assim dizer, que acaba se transformando ao fenômenos sociais, pautado na observação dos fatos. Esse
longo do tempo. Assim, a sociedade se constrói mediante procedimento deve ser guiado por uma análise neutra do
essas transformações culturais, consolidando ou rejeitando pesquisador, pois é necessário a esse observador suprimir
princípios morais e éticos. todos os seus juízos de valores pessoais para que conclusões
não sejam precipitadas. Precisa, ainda, apresentar um retrato
fiel do objeto analisado, observando todos os elementos que
O fato social compõem essa estrutura vista. Nesse momento, Durkheim
Os fatos sociais são maneiras de pensar, agir e sentir que apresenta a importância da sociologia como a ciência.
existem independentemente das manifestações individu-
Nesse processo, é saliente notar que Durkheim aponta al-
ais, isto é, são ações exteriores ao indivíduo, sendo gene-
guns direcionamentos:
ralizados na sociedade, de modo que são dotados de uma
força imperativa e coercitiva perante os indivíduos. ƒ o processo deve ser objetivo;
ƒ os fatos analisados podem ser normais ou anômicos; e
Segundo Durkheim, existem tipos de fatos sociais:
ƒ e como esses fatos se interligam ou afetam os inte-
ƒ Fato social normal: é o fato social coercitivos, feitos de
forma exterior, desencadeando ações coletivas e gerais. grantes desse grupo estudado.
ƒ Fato social patológico: é o fato que aponta elementos Assim, aconteceram fatos corriqueiros, que serão caracteri-
de desequilíbrio. zados como normais; e também fatos que fogem desse es-
ƒ Fato social anômico: é o fato que apresenta uma au- tereótipo de normalidade, que acarretarão anomias sociais,
sência de normas e de valores morais. isto é, coisas estranhas que fogem da normalidade.

141
DIVISÃO DO TRABALHO DURKHEIMIANA

O SUICÍDIO O sociólogo afirma que a sociedade existe pela reprodução


dos fatos sociais, transcendendo um consenso entre seus
Em sua obra intitulada O suicídio, de 1897, Durkheim pre- membros. Essa sociedade é constituída por duas formas de
tende provar que o suicídio é um fato social, ocasionado solidariedade, que distingue dois tipos de sociedade.
pela coerção exterior e independente do indivíduo. ƒ Sociedades tradicionais: consolidadas pela solidarie-
Construindo uma definição útil do suicídio, classificando em dade mecânica, isto é, é um acordo presente em grupos
três tipos: sociais que compartilham os mesmos valores e crenças
sociais, os quais são responsáveis pela coesão social.
ƒ Egoísta: ato desencadeado pelo individualismo extre-
mo, de forma que o indivíduo encontra-se isolado de ƒ Sociedades modernas ou contemporâneas: con-
seus grupos sociais. Esse tipo de suicídio predomina nas solidadas pela solidariedade orgânica, isto é, esses indi-
sociedades modernas. víduos não compartilham das mesmas crenças religiosas,
pois cada indivíduo possui uma consciência própria. Nes-
ƒ Altruísta: ato que desencadeado pelo indivíduo toma-
se tipo de sociedade, a divisão do trabalho é crescente,
do pela obediência coercitiva do coletivo. Um exemplo
sendo reproduzida pelas formas legais da sociedade,
desse altruísmo são os terroristas, chamados “homens/
com regras e leis.
mulheres-bombas”, que por uma ideologia, tiram as
suas próprias vidas em prol de um ideal. Solidariedade mecânica Solidariedade orgânica
ƒ Anômico: ato que representa uma mudança abrup- Sociedade simples Sociedade complexas
ta, anormal na taxa de normalidade do suicídio.
Apontada por uma crise social, como o desemprego Com inúmeras formas
Sem divisão do trabalho
de divisão do trabalho
ou por processos de transformações sociais, como a
modernização, que substituiu o homem no mercado Seres iguais Seres diferentes
de trabalho.
Funções iguais Funções especializadas

A DIVISÃO DO TRABALHO SOCIAL Consciência social menor Consciência social maior

Para Durkheim, a divisão do trabalho concretiza-se mediante Coerção pelo


Coerção pela força e violência
uma interação social, inserida na sociedade. controle formalizado

KARL MARX

KARL HEINRICH MARX


(1818-1883)
O filósofo alemão analisou as transformações ocorridas na
sociedade durante a Revolução Industrial no século XIX,
quando as máquinas começaram a substituir o trabalho
manual dos homens, modificando radicalmente as relações
humanas e os seus hábitos na sociedade. Com isso, Marx vai
ser um dos responsáveis em promover uma discussão crítica
da sociedade capitalista, bem como da origem dos proble-
mas sociais que este tipo de organização social originou. TIPO DE FÁBRICA DO SÉCULO XIX

142
Segundo Marx, nas sociedades capitalistas, a forma princi- Segundo Marx, o trabalhador acaba sendo alienado pelo
pal de conflito ocorre entre duas classes sociais fundamen- próprio processo de produção, do modo que esse traba-
tais: a burguesia e o proletariado. Essa formação assim se lhador não tem consciência do seu próprio papel na so-
constitui, porque a classe assalariada (o proletariado), que ciedade, pois ele, devido às suas necessidades, constitui
não tendo os meios de produção, cedem a sua força de toda a sua vida em torno do seu trabalho.
trabalho em troca de um benefício econômico, sendo parte Em 1848, redigiu com Friedrich Engels, o Manifesto do Parti-
fundamental do enriquecimento da burguesia, ou seja, os do Comunista. Nele, Marx convoca o proletariado à luta pelo
donos dos meios de produção exploram aqueles que não socialismo. Nesse período, ocorreram diversas manifestações
detêm os artifícios, pois só vendem o seu trabalho humano. de cunho liberal, socialista e democrático, denominada Pri-
Desse modo, o conflito entre essas duas classes acaba ge- mavera dos Povos.
rando uma mudança na história da humanidade, pois um Fundou, em 1864, a Associação Internacional dos Traba-
grupo pretende conquistar novas condições, que alguns lhadores – depois chamada de Primeira Internacional dos
entenderam como direitos, e o outro grupo não pretende Trabalhadores –, com o objetivo de organizar a conquista do
ceder essas condições, modificando-se a consciência e as poder pelo proletariado em todo mundo. Em 1867, publicou
próprias relações humanas. Entretanto, a classe dominante o primeiro volume de sua obra mais importante, O capital, na
(a burguesia) tem maiores chances de construir a história qual faz uma crítica ao capitalismo e à sociedade burguesa.
como deseja, visto que possuem o poder econômico e polí-
Marx é o principal idealizador do socialismo e do comu-
tico nas mãos; algo bem diferente da classe proletária, que
nismo revolucionário. O marxismo – conjunto das ideias
não têm esses meios de produção.
político-filosóficas de Marx – propõe a derrubada da clas-
Mediante a isso, Marx observa que no capitalismo o mer- se dominante (a burguesia) por uma revolução do prole-
cado é o centro das relações sociais, sendo que, no merca- tariado. Marx critica o capitalismo e seu sistema de livre
do, a força de trabalho é comercializada como mercadoria. empresa que, segundo ele, pelas contradições econômi-
Quando o trabalhador excede o tempo de trabalho neces- cas internas, levaria a classe operária à miséria. Propunha
sário, ele cria uma riqueza para os donos da produção, de- uma sociedade na qual os meios de produção fossem de
nominada mais-valia. toda a coletividade.

IDEOLOGIA

IDEOLOGIA
O processo de dominação social se utiliza de artifícios que
iludem a população. Esse encantamento se perfaz com o
auxílio das propagandas, que disseminam imagens e men-
sagens para um condicionamento social. Essas propagan-
das têm a tarefa de conquistar o outro para vender o pro-
duto, estimulando um comportamento social capitalista.
Segundo Karl Marx, a ideologia dominante, será respon-
sável por repassar ideias, formas de pensar e explicar o
mundo. Marx questiona que ao seguir uma ideologia, os
indivíduos não fazem uma crítica de seus atos. A ideologia
A CAPA DA PRIMEIRA REVISTA TRAZ O CAPITÃO AMÉRICA
vem para enfeitiçar o público a um estilo ou a um condi- DANDO UM SOCO EM HITLER. A SUA ARMA É UM ESCUDO,
cionamento social. SIMBOLIZANDO QUE ELE SÓ ATACA PARA SE DEFENDER.

Essa prática se consolida mediante ao processo de aliena-


A ideologia nos quadrinhos ção, que os indivíduos sofrem um processo de exterioriza-
As histórias em quadrinhos é um tipo de arte, que influen- ção de uma essência humana e um não-reconhecimento
ciam a indústria cinematográfica, apresentam também uma de sua atividade. Marx atrela a alienação ao trabalho, que
ideologia contida em seus quadrinhos e textos. Buscando condiciona ao ser a não pensar sobre os seus atos, tendo
privilegiar uma nação ou uma forma de governo. um estranhamento diante os seus atos.

143
Marx retrata a alienação em quatro tipos: Fetiche da mercadoria
ƒ em relação ao produto do trabalho;
O conceito de fetichismo da mercadoria foi desenvolvido por
ƒ no processo de produção; Marx, em sua obra “O Capital”, atrelado ao conceito de alie-
ƒ em relação à existência do indivíduo enquanto mem- nação. O produto perde a relação com o produtor e parece
bro do gênero humano; ganhar vida própria, ganhando novas formas em si.

ƒ em relação aos outros indivíduos. Para compreendermos esse processo de fetichismo, é preci-
so retornar a uma definição a mercadoria.
A estranheza de não se reconhecer no produto criado, isso
representa o primeiro tipo. Segundo Marx, todo e qualquer objeto, no sistema capitalis-
ta, possui um valor de mercadoria. Tendo uma utilidade nesse
No segundo tipo, essa alienação está no próprio proces- produto, quando foi pensado para a sua produção. Esse seria o
so do trabalho, condicionando ao indivíduo a viver pelo seu valor de USO, o que os condiciona a consumi-lo. Enquanto
trabalho, deixando de viver apenas para satisfazer às ati- o valor de TROCA do produto representa no sistema capi-
vidades laborais. talista, atrelado a esse produto um valor mercadológico.
O terceiro tipo, por sua vez, representa o individualismo, Assim, as mercadorias adquirem uma forma fantástica, ga-
que só pensará as suas atividades do trabalho referentes a nhando mais de uma utilidade ao indivíduo, podendo ser
si mesmo, sem se importar as outras pessoas. um status, um poder ou uma felicidade. Com esse proces-
O último tipo, representa no sujeito que não se reconhece so, o sujeito acaba dando novos elementos a mercadoria,
no trabalho e nem é reconhecido como parte essencial da de forma a humanizá-la, e consequentemente a própria mer-
vida humana. cadoria coisifica esse ser.

MAX WEBER

MAX WEBER (1864-1920) Observador da sociedade


O alemão Maximilian Karl Emil Weber consolida a ciência O sociólogo analisa as estruturas das sociedades, não se
sociológica, analisando os processos do capitalismo na so- concentrando nas particularidades individuais. Apropria-se
ciedade contemporânea. Grande parte de seus estudos se de um método compreensivo para suas análises. Para We-
ber, a Sociologia é uma ciência que pretender compreender a
preocupou para o capitalismo e no seu processo racionali-
Ação Social. Toda ação social segue certos requisitos:
zado, conjunto com um estudo sobre o desencantamento
do mundo. Seus trabalhos desenvolveram descobertas do ƒ o ser lhe dá um sentido;
papel da subjetividade na ação e na pesquisa social. Weber ƒ esse sentido se remete ao outro.
não admite que existe uma lei preexistente que regule o
desenvolvimento da sociedade. Ação Afetiva Determinada por sentimentos
Determinada por cos-
Ação tradicional
tumes ou hábitos
Ação racional com Determinada por um valor
relação a valores e se realiza pelo mesmo
Determinada pelos fins que
Ação racional com
perseguem, predominante-
relação a fins mente na vida econômica.

Weber faz uma crítica aos positivistas, entre eles Comte


e Durkheim, por não concordar que todos os tipos de ciên-
cias seguem o mesmo procedimento. Segundo Weber, a
sociologia precisa desenvolver procedimentos de investiga-
ção que permitem verificar os valores e as motivações que
condicionam as ações humanas.

144
O poder da religião Dominação - É a dominação burocrática no Estado;
Weber empreendeu análises comparativas entre as religiões,
com o objetivo de compreender as razões do desenvolvi- - Constituído por formas legais, hierárquicas,
mento do capitalismo europeu. Ele conclui que o mundo Legal mediante uma formação eleita ou nomeada;
oriental não oferecia condições para este tipo de orga- - Deve seguir um estatuto.
nização econômica, pois pregava valores de harmonia; - Dominação patriarcal;
enquanto as religiões cristãs incentivaram o trabalho e - Controle feito pelo “senhor” perante seus
Dominação
a competição. “súditos”;
Tradicional
- Não é possível criar novos direitos diante
das normas da tradição.
A dominação
- Dominação por uma devoção afetiva;
Para Weber, o capitalismo é dominado pela ascensão da ciên- Dominação
- Sendo um “líder” que constrói uma imagem
cia e da burocracia. Weber aponta uma relação entre domi- Carismática
de adoração, controlando seus “súditos”.
nantes e dominados, constituídas com bases legítimas.

CAPITAL HUMANO

PIERRE BOURDIEU (1930-2002) Econômico Atrelado aos meios de produção e renda.


A saber: institucionalizado, com títulos e diplomas.
Com uma análise das sociedades capitalistas, que privile-
Cultural Incorporado: pela forma da expressão oral.
gia a reprodução social, o francês Pierre Bourdieu denota a
presença de trocas simbólicas. Objetivo: pela posse de quadros ou obras de arte.
Sendo o conjunto das relações sociais que dispõe
Social
um indivíduo, a reprodução das relações sociais.
Atrelado ao reconhecimento, correspondendo ao
Simbólico
conjunto de rituais, como etiquetas, protocolo.

Diante disso, um indivíduo que possui o capital econômi-


co teria mais oportunidades de adquirir e se apropriar dos
outros capitais.

Habitus
O habitus, para Bourdieu, condiciona que os indivíduos con-
vivam em um mesmo agrupamento social, tendo estilos de
O bem simbólico é um conjunto de práticas sociais regidas
vida parecidos, onde os “fatos sociais” se assemelham. O
pelo poder, consolidando uma dominação social, que con-
habitus qualifica a relação do sujeito com a sociedade, ten-
tém hierarquias e subdivisões, propagando uma desigual-
do uma base estratificação de poder.
dade nessa sociedade.

A escola A violência simbólica


Para Bourdieu, a instituição escolar é um exemplo de titulari- Segundo Bourdieu, a violência simbólica é uma violência
zação de bens simbólicos, pelo seu caráter de reprodutora de “invisível”, concretizada por formas de comunicação, ten-
costumes desiguais. Isso ocorre, porque a escola transmite do uma relação de subjugação e submissão, numa típica
aos estudantes a forma de conhecimento da classe domi- situação de dominação. Só que o dominado é cúmplice e
nante, tendo um discurso aparentemente neutro e oficial. aceita essa dominação.
O capital é um conceito que discute a quantidade de acú- A violência simbólica pode ser tomada pelas instituições da
mulo de forças dos agentes em suas posições no campo. Os sociedade, como o Estado, a mídia, a escola. Consolidando
quatro tipos de capital humano, a saber: uma forma de opressão entre os segmentos da sociedade.

145
JESSÉ SOUZA (1960) Camada popular que consegue melhorar a renda.
Características:
O sociólogo desenvolveu uma pesquisa empírica da realidade Trabalhadores Não desenvolveram e consolidaram
brasileira que caracterizou quatro classes nessa sociedade, que o capital cultural; trabalham em 2 a
segue a mesma lógica do capital humano de Bourdieu: 3 empregos; são pentecostais.
Pessoas que abaixo da linha de dignidade.
Camada que comanda o mercado.
Características:
Endinheira- Características: Ralé Serviços braçais, não são valorizados e nem re-
Tem elevado capital cultural e eleva- conhecidas; não recebem estímulos familiares;
dos
do capital econômico; controlam e correspondem a 1/3 da população brasileira;
condicionam as ações sociais. precisam de proteção do Estado.
Classe que possui capital cultural
e parte do capital econômico. Segundo Jessé, as desigualdades socioculturais são frutos de
Classe média uma reprodução de costumes ordenados por uma elite do-
Características:
tradicional minante. Evidenciando, com isso, uma continuidade de uma
Possui a ilusão da meritocracia; domina
a classe subalterna (os trabalhadores).
divisão social brasileira, que segregam culturalmente e espa-
cialmente boa parte da população.

O PROBLEMA DA VIOLÊNCIA

VIOLÊNCIA ƒ Tradição cultural violenta: a repetição cultural da violência


entre os indivíduos, seja pela forma verbal de tratamen-
A sociologia se debruça sobre como a violência afeta as to, seja pelo contato físico. Como consequência de uma
relações humanas, tendo a preocupação em analisar os prática histórica, que trata os seus membros da sociedade
fenômenos recorrentes na sociedade (não só tratando da com uma violência cotidiana, naturalizada com o tempo.
violência física, mas a violência simbólica), a sociologia
precisa estudar esses dados que tendem a ser escondi- Violência doméstica
dos, mascarados ou abordados com excessiva sutileza.
Na sociedade brasileira, a violência doméstica ainda é um
Violência urbana tema alarmante, estando presente em todas as classes so-
ciais, com mais frequência nas classes de menos favorecidas,
A definição para violência urbana é o fenômeno social de
sendo a parcela das vítimas crianças, mulheres e idosos.
comportamento agressivo e transgressor exercido por in-
divíduos ou coletivamente nos limites do espaço urbano. O perfil do agressor, homem adulto na maioria dos delitos,
é caracterizado pelo autoritarismo, falta de empatia, irri-
Os fatores para a existência da violência urbana são:
tabilidade, grosseiras e xingamentos constantes, acompa-
ƒ Instituições frágeis: os órgãos fiscalizadores sociais, re- nhado com o uso de drogas lícitas e ilícitas.
gidos por regras que sofrem alterações por aqueles que
precisam segui-las, condicionam hábitos de descredibi-
lidade nessas próprias instituições. Aqui estão contidos
Violência psicológica
alguns órgãos institucionais e a própria família. Na violência psicológica, se destrói a moral e a autoestima
ƒ Mal funcionamento dos mecanismos de controle jurídi- do indivíduo, desencadeada por ações repetitivas de injúrias
co: as falhas no exercício da coerção legal, o que impede e humilhações.
a realização das normas legais da sociedade.
ƒ Invisibilidade social: quando uma parcela da população Violência sexual
se torna invisível socialmente, perdendo a sua relevân- A violência sexual configura-se mediante abuso, violação
cia na constituição social. e assédio sexual, de modo que não existe consentimento
ƒ Desigualdade social: quanto mais a região apresentar do ato de violação, sendo uma agressão focalizada na se-
uma desigualdade social entre os seus integrantes, maior xualidade da pessoa. A maioria das vítimas são mulheres
será desequilíbrio nos acessos territoriais e econômicos. e crianças, e o agressor é conhecido pela vítima.

146
U.T.I. - Sala objeto de estudo dessa nova ciência os fatos sociais,
compreendidos como “coisa”. O texto adaptado retrata
as características dos fatos sociais.
1. (UFU) Segundo Aron, para Marx, “o tempo de trabalho
necessário para o operário produzir um valor igual ao Não somos obrigados a falar a língua do nosso país,
que recebe sob forma de salário é inferior à duração efe- usar a moeda vigente ou adaptar-nos à tecnologia mo-
tiva do seu salário”. derna; mas se assim não o fizermos, nossas vidas serão
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. um fracasso, portanto, não temos escolha, todos nós
São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 148. somos coagidos a acatá-las. Estas decisões não são
determinadas individualmente, são exteriores à nossa
Com base no trecho, faça o que se pede.
vontade, elas já estão prontas na sociedade.
a) A proposição apresentada por Aron está ligada a
qual conceito dentro da teoria marxista? Explique BOELTER, C.; PLUMER, E. Sobre o pensamento de Durkheim
esse conceito. e Weber. In: TESKE, Ottmar (Coord.). Sociologia: textos e
contextos. Canoas: Ed. Ulbra, 1999, p. 41. Adaptado.
b) Como este conceito, dentro da teoria marxista, pode
ser desdobrado como absoluto e relativo? Explique es- Explique as características dos fatos sociais, na visão de
ses desdobramentos, caracterizando-os e definindo-os. Émile Durkheim, contidas no texto acima.

2. (Ufpr) O fragmento abaixo foi retirado do livro O que 4. (UEL) Leia o texto a seguir.
é Sociologia? e refere-se ao pensamento do sociólogo
Max Weber. O homem faz a religião, a religião não faz o homem. E a
religião é de fato a autoconsciência e o sentimento de
A Sociologia por ele [Max Weber] desenvolvida con- si do homem, que ou não se encontrou ou voltou a se
siderava o indivíduo e a sua ação como ponto-chave perder. Mas o homem não é um ser abstrato, acocorado
da investigação. Com isso, ele queria salientar que fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Esta-
o verdadeiro ponto de partida da Sociologia era a do, a sociedade. Este Estado e esta sociedade produzem
compreensão da ação dos indivíduos e não a análise a religião, uma consciência invertida do mundo, porque
das “instituições sociais” ou do “grupo social”, tão eles são um mundo invertido.
enfatizadas pelo pensamento conservador. Com essa
MARX, Karl. Crítica à Filosofia do Direito de
posição, não tinha a intenção de negar a existência ou
Hegel. São Paulo: Boitempo, 2005. p. 145.
a importância dos fenômenos sociais, como o Estado,
a empresa capitalista, a sociedade anônima, mas tão Na teoria do pensador Karl Marx, há um conceito que
somente a de ressaltar a necessidade de compreender explica essa inversão da realidade (por conseguinte,
as intenções e motivações dos indivíduos que vivenci- da consciência) e, em razão dela, da relação do sujeito
am estas situações sociais. A sua insistência em com- (seres humanos) com aquilo que, objetiva e subjetiva-
preender as motivações das ações humanas levou-o a mente, ele produz.
rejeitar a proposta do positivismo de transferir para
a Sociologia a metodologia de investigação utilizada Com referência às ideias de Marx, responda aos itens
pelas ciências naturais. Não havia, para ele, funda- a seguir.
mento para essa proposta, uma vez que o sociólogo a) Qual é esse conceito?
não trabalha sobre uma matéria inerte, como acon-
b) O que significa inverter a relação sujeito-objeto? Ex-
tece com os cientistas naturais [...]. Vivendo em uma
plique como isso se manifesta na religião.
nação retardatária quanto ao desenvolvimento capi-
talista, Weber procurou conhecer a fundo a essência
5. (UEL 2017) Max Weber é considerado pioneiro em
do capitalismo moderno. Ao contrário de Marx, não
definir o Estado por duas características fundamentais.
considerava o capitalismo um sistema injusto, irracio-
A primeira é o monopólio legítimo do uso da força físi-
nal e anárquico. Para ele, as instituições produzidas
ca. A segunda reside no fato de que tal monopólio é
pelo capitalismo, como a grande empresa, constituíam
restrito a determinado território. O controle das fron-
clara demonstração de uma organização racional que
teiras, incluindo a permissão de quem pode adentrar
desenvolvia suas atividades dentro de um padrão de
e permanecer em seu território segundo aquelas car-
precisão e eficiência.
acterísticas, seria prerrogativa do Estado. É necessário
(MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia? São Paulo: lembrar, entretanto, que o conceito de Estado elabora-
Brasiliense, 2011, p. 69 e 72. Coleção Primeiros Passos.)
do por Weber é um tipo ideal.

Com base nos conhecimentos sociológicos, caracterize Com base nessas informações e nos acontecimentos
a Sociologia na perspectiva weberiana, discorrendo so- da recente “crise migratória na Europa”, cujo fluxo de
bre os aspectos relevantes dessa perspectiva aponta- refugiados exemplifica alterações significativas dos pa-
dos no texto-base. péis atribuídos ao Estado moderno, cite e explique um
fato que se afasta do tipo ideal de Estado definido por
3. (Uema) Émile Durkheim (1858-1917) é considerado um Weber, apontando para algumas configurações recen-
dos teóricos fundadores da Sociologia e definiu como tes das ações ou reações dos Estados nacionais.

147
6. (UEL) Émile Durkheim considera o fato social o objeto TEXTO 1
de estudo da Sociologia e propõe regras para explicá-lo. Ora, a propriedade privada atual, a propriedade bur-
Duas dessas regras são formuladas da seguinte maneira: guesa, é a última e mais perfeita expressão do modo de
produção e de apropriação baseado nos antagonismos
I. A causa determinante de um fato social deve ser bus- de classes, na exploração de uns pelos outros. Neste
cada entre os fatos sociais anteriores, e não entre os sentido, os comunistas podem resumir sua teoria nesta
estados de consciência individual. fórmula única: a abolição da propriedade privada. (…)
II. A função de um fato social deve ser sempre buscada
na relação que mantém com algum fim social. A ação comum do proletariado, pelo menos nos países
DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. civilizados, é uma das primeiras condições para sua
5. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1968. p. 102. emancipação. Suprimi a exploração do homem pelo
homem e tereis suprimido a exploração de uma nação
Com base nas regras I e II e nos conhecimentos sobre o por outra. Quando os antagonismos de classes, no inte-
fato social, explique como se dá a relação entre indivíduo rior das nações, tiverem desaparecido, desaparecerá a
e sociedade para Durkheim. Exemplifique essa relação. hostilidade entre as próprias nações.
Marx e Engels. Manifesto comunista. 1848.
7. Cada um desses estágios do desenvolvimento da bur-
guesia se fez acompanhar do correspondente progresso
político. Estamento oprimido sob a dominação dos sen- TEXTO 2
hores feudais, associação armada e autogovernante na Os comunistas acreditam ter descoberto o caminho para
comuna, ora república municipal independente, ora ter- nos livrar de nossos males. Segundo eles, o homem é in-
ceiro estamento tributável da monarquia; depois, à época teiramente bom e bem disposto para com seu próximo,
da manufatura, contrapeso para a nobreza na monarquia mas a instituição da propriedade privada corrompeu-lhe
estamental ou na absoluta, fundamento central de todas a natureza. (…) Se a propriedade privada fosse abolida,
as grandes monarquias – a burguesia por fim conquistou possuída em comum toda a riqueza e permitida a todos
para si, desde o estabelecimento da grande indústria e a partilha de sua fruição, a má vontade e a hostilidade
do mercado mundial, a exclusiva dominação política no desapareceriam entre os homens. (…) Mas sou capaz de
moderno Estado representativo. O moderno poder es- reconhecer que as premissas psicológicas em que o siste-
tatal é apenas uma comissão que administra os negócios ma se baseia são uma ilusão insustentável. (…) A agres-
comuns de toda a classe burguesa. sividade não foi criada pela propriedade. (…) Certamente
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O manifesto do (…) existirá uma objeção muito óbvia a ser feita: a de que
Partido Comunista. São Paulo: Penguin Classics/ a natureza, por dotar os indivíduos com atributos físicos e
Companhia das Letras, 2012, p. 46. capacidades mentais extremamente desiguais, introduziu
A partir do texto, responda: Para Marx, qual a relação injustiças contra as quais não há remédio.
entre sistema político e sistema econômico? Sigmund Freud. Mal-estar na civilização. 1930. Adaptado.

8. (UEL) Considere os trechos a seguir. Qual a diferença que os dois textos estabelecem sobre
a relação entre a propriedade privada e as tendências
A classe operária não pode apossar-se simplesmente da
de hostilidade e agressividade entre os homens e as
maquinaria de Estado já pronta e fazê-la funcionar para
nações? Explicite, também, a diferença entre os méto-
os seus próprios objetivos.
dos ou pontos de vista empregados pelos autores dos
MARX, Karl. A revolução antes da revolução. São textos para analisar a realidade.
Paulo: Expressão Popular, 2008, p. 399.

U.T.I. - E.O.
Também do ponto de vista histórico, contudo, o “pro-
gresso” a caminho do Estado regido e administrado se-
gundo um direito burocrático e racional e regras pensa-
das racionalmente, atualmente, está intimamente ligado 1. Em seu estudo sobre o suicídio, Émile Durkheim pro-
ao moderno desenvolvimento capitalista. curou chamar a atenção para a dimensão sociológica
WEBER, Max. Parlamento e governo na Alemanha
deste fato. Assim, “considerando que o suicídio é um
reordenada: crítica política do funcionalismo e da ato da pessoa e que só a ela atinge, tudo indica que
natureza dos partidos. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 43. deva depender exclusivamente de fatores individuais e
que sua explicação, por conseguinte, caiba tão somen-
Com base nos trechos, compare as concepções clás-
te à psicologia. De fato, não é pelo temperamento do
sicas de Estado formuladas nas obras de Karl Marx e
suicida, por seu caráter, por seus antecedentes, pelos
Max Weber.
fatores de sua história privada que em geral se explica
9. (UFPR) Descreva dois dos principais acontecimentos a sua decisão.[...]”. E complementa: “o suicídio varia na
históricos que favoreceram o surgimento da sociolo- razão inversa do grau de integração dos grupos sociais
gia na Europa do século XIX. de que faz parte o indivíduo.”
O suicídio. Estudo de Sociologia.
10. (Unesp) Leia os textos. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

148
a) Explique os tipos de suicídio definidos por Durkheim. 7. (UFF) Escrito em 1880, o livro de Friederich Engels, Do
b) Discorra a respeito da relação estabelecida por Socialismo Utópico ao Socialismo Científico, buscou dis-
Durkheim entre os tipos de suicídio e os tipos de sol- cutir os limites do chamado Socialismo Utópico. Os filó-
idariedade por ele definidos. sofos do Socialismo Utópico acreditavam que a partir da
compreensão e da boa vontade da burguesia se poderia
transformar a sociedade capitalista, eliminando o indi-
2. Qual o princípio da lei dos três Estados na teoria de vidualismo, a competição, a propriedade individual e os
Auguste Comte? lucros excessivos, todos responsáveis pela miséria dos
trabalhadores. Como alternativa àquela corrente, Engels
3. Segundo Augusto Comte, a sociedade humana deve e Marx propunham o Socialismo Científico.
passar por três estados: o teológico, o metafísico e, por
último, o positivo. É nesse último estado que, para Com- Com base nessa informação:
te, a Sociologia se torna tão importante. a) caracterize a alternativa proposta por Engels e Marx
a) Qual a razão dessa importância? – o Socialismo Científico – em relação ao papel dos tra-
b) Esse tipo de argumento continua sendo válido? balhadores na transformação da sociedade.
b) mencione uma proposta levada a efeito pelos social-
4. Explique qual a importância do conceito de coerção istas utópicos.
segundo Émile Durkheim e o conceito de fato social.
8. (Unesp)
5. (Uel) A análise do tema modernidade, por pensado-
res clássicos da Sociologia, está presente também em TEXTO 1
autores contemporâneos, atentos às condições da so- O positivismo representa amplo movimento de pensa-
ciedade atual. No século XIX, Karl Marx, em seu livro mento que dominou grande parte da cultura europeia,
O manifesto comunista, de 1848, refere-se à sociedade no período de 1840 até às vésperas da Primeira Guerra
burguesa de seu tempo como formação social em que Mundial. Nesse contexto, a Europa consumou sua trans-
tudo o que era sólido desmancha no ar, tudo que era formação industrial, e os efeitos dessa revolução sobre
sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente for- a vida social foram maciços: o emprego das descobertas
çadas a encarar com serenidade sua posição social e científicas transformou todo o modo de produção. Em
suas relações recíprocas. poucas palavras, a Revolução Industrial mudou radical-
mente o modo de vida na Europa. E os entusiasmos se
MARX, K.; ENGELS, F. O Manifesto Comunista. In:
COUTINHO, C.N. et al. O Manifesto Comunista: 150 anos cristalizaram em torno da ideia de progresso humano e
depois. Rio de Janeiro: Contraponto, 1998. p. 11. social irrefreável, já que, de agora em diante, possuíam-se
os instrumentos para a solução de todos os problemas. A
Zigmunt Bauman, em Confiança e medo na cidade, afir- ciência pelos positivistas apresentava-se como a garan-
ma que se, entre as condições da modernidade sólida, a tia absoluta do destino progressista da humanidade.
desventura mais temida era a incapacidade de se con- Giovanni Reale; Dario Antiseri.
formar, agora – depois da reviravolta da modernidade História da filosofia. 1991. Adaptado.
“líquida” – o espectro mais assustador é o da inade-
quação. Temor bem justificado quando consideramos a
TEXTO 2
enorme desproporção entre a quantidade e a qualidade
de recursos exigidos por uma produção efetiva de segu- O “progresso” não é nem necessário nem contínuo. A
rança do tipo “faça você mesmo”. humanidade em progresso nunca se assemelha a uma
pessoa que sobe uma escada, acrescentando para cada
Adaptado de: BAUMAN, Z. Confiança e medo na cidade.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. p. 21-22. um dos seus movimentos um novo degrau a todos aque-
les já anteriormente conquistados. Nenhuma fração da
Com base nesses trechos e nos conhecimentos sobre humanidade dispõe de fórmulas aplicáveis ao conjunto.
modernidade, apresente: Uma humanidade confundida num gênero de vida único
a) uma característica particular para Marx e uma para é inconcebível, pois seria uma humanidade petrificada.
Bauman; Claude Lévi-Strauss. A noção de estrutura
em etnologia. 1985. Adaptado.
b) duas características comuns para ambos os autores.
a) Considerando o texto 1, explique o que significa “eu-
6. (UFU) Para Weber, a Sociologia é uma ciência que pro- rocentrismo” e por que o conceito de progresso pres-
cura compreender a ação social; a compreensão implica suposto pelo positivismo é eurocêntrico.
a percepção do sentido que o ator atribui à sua conduta.
b) Por que o método empregado pelo autor do texto 2
ARON, R. As etapas do pensamento sociológico. é considerado relativista? Como sua concepção de pro-
São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 465.
gresso se opõe ao conceito de progresso positivista?
Em vista do exposto, faça o que se pede.
9. (UFPR) Leia com atenção o fragmento abaixo.
a) Defina o que é ação social para Weber.
b) Caracterize os quatro tipos puros de ação social para Segundo a citação de Maia e Pereira (2009, p. 7-8), re-
Weber. tirada do livro Pensando com a Sociologia, “em seu

149
famoso livro sobre as formas de fazer sociologia, Wri- na sociedade e no período no qual sua situação e seu
ght Mills utilizou a expressão ‘imaginação sociológica’. ser se manifestam. Mills também sugere que “por meio
[...] essa imaginação poderia ser aprendida e exercida da ‘imaginação sociológica’ os homens podem perce-
por qualquer pessoa educada que se mostrasse curiosa ber o que está acontecendo no mundo e compreender
a respeito das relações entre biografia e história. Ou o que acontece com eles, como minúsculos pontos de
seja, a sociologia não seria simplesmente uma disci- cruzamento da biografia e da história, na sociedade”
plina acadêmica ou uma ciência ultrassofisticada, mas (MILLS, 1969, p. 14).
uma forma de argumento público capaz de revelar as MAIA, João Marcelo Ehlert; PEREIRA, Luís Fernando Almeida.
conexões entre as transformações na vida cotidiana e Pensando com a Sociologia. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009.
os processos mais amplos de mudança histórica”. Nas
palavras de Wright Mills: “A ‘imaginação sociológica’ No fragmento de texto acima, o autor usa o divórcio
é um ato que permite ir além das experiências e das para exemplificar de que forma as experiências individ-
observações pessoais para compreender temas públi- uais se conectam com as transformações sociais mais
cos de maior amplitude. O divórcio, por exemplo, é um amplas. Com base nos conhecimentos sociológicos, car-
fato pessoal inquestionavelmente difícil para o mari- acterize a “imaginação sociológica”, discorrendo sobre
do e para a esposa que se separam, bem como para os aspectos relevantes dessa perspectiva apontados no
os filhos. Entretanto, o uso da ‘imaginação sociológi- texto-base, e mencione e explique outro fato social para
ca’ permite compreender o divórcio não apenas como exemplificar o raciocínio da “imaginação sociológica”.
problema pessoal individual, mas também como uma
preocupação social. O aumento da taxa de divórcio re- 10. (UFU) Considere a seguinte citação.
define uma instituição fundamental – a família”. Cabe
salientar que a ‘imaginação sociológica’ não consistiria É evidente que, tecnicamente, o grande Estado moder-
simplesmente em aumentar o grau de informação das no é absolutamente dependente de uma base burocrá-
pessoas, mas numa “[...] qualidade de espírito que lhes tica. Quanto maior é o Estado e principalmente quanto
ajude a usar a informação e a desenvolver a razão, a mais é, ou tende a ser, uma grande potência, tanto mais
fim de perceber, com lucidez, o que está ocorrendo no incondicionalmente isso ocorre.
mundo e o que pode estar acontecendo dentro deles WEBER, Max. Ensaios de Sociologia. 5. ed. Rio de
mesmos” (MILLS, 1969, p. 11). A imaginação sociológica Janeiro: Guanabara Koogan, 1982, p. 246.
é uma forma crítica de pensar em sociologia, que nos
a) De acordo com a Sociologia de Max Weber, explique
permite conectar a nossa experiência vivida (e a expe-
a diferença entre poder e dominação.
riência vivida dos outros) no contexto mais amplo das
instituições sociológicas em que ocorre. A utilização da b) Cite os três tipos puros de dominação legítima e ex-
‘imaginação sociológica’ se fundamenta na necessida- plique cada um deles.
de de conhecer o sentido social e histórico do indivíduo

150
GEOGRAFIA 1

151
MOVIMENTOS DA TERRA

MOVIMENTOS DA TERRA
Do ponto de vista da ciência, a Terra possui um único movimento, que pode, dependendo de suas causas, ser dividido nos
seguintes componentes:
ƒ movimento de rotação em torno de seu eixo;
ƒ movimento de translação em torno do Sol;
ƒ movimentos de precessão e de nutação;
ƒ movimento dos polos;
ƒ movimento em torno do centro de nossa galáxia.
Os dois primeiros são os principais, pois suas influências podem ser sentidas diariamente.

Movimento de rotação

O movimento de rotação ocorre quando a Terra gira em torno de si mesma, de oeste para leste, isto é, em torno de um eixo
imaginário que passa por seus polos. A duração do chamado dia sideral, ou seja, o tempo necessário para a Terra completar
uma volta em torno de seu eixo (360º exatos), é de 23 horas, 56 minutos, 4 segundos e 9 décimos. Em relação ao Sol, o
tempo de rotação médio, o chamado dia solar médio, é de 24 horas. O dia solar é compreendido como o período entre duas
passagens sucessivas do Sol sobre o meridiano local e varia ao longo do ano, sendo sempre superior ao dia sideral.

Movimento de translação
A Terra, ao mesmo tempo em que gira em torno do seu eixo, também realiza o movimento de translação, que consiste em dar
uma volta completa em torno do Sol. Para realizar esse movimento, ela utiliza cerca de 365 dias – ou precisamente 365 dias, 5
horas, 48 minutos e 46 segundos. O trajeto percorrido com esse movimento é denominado órbita terrestre.
A órbita terrestre é elíptica, onde o Sol está ligeiramente deslocado em relação ao centro do movimento.
A Terra está mais próxima do Sol entre 4 a 7 de janeiro e mais distante entre 4 e 7 de julho.

152
Periélio e afélio
O periélio é o ponto da órbita de um corpo, seja ele planeta, asteroide ou cometa, que está mais perto do Sol. Quando um corpo
está no periélio, ele tem a maior velocidade de translação de toda a sua órbita.
O afélio, por sua vez, é o ponto da órbita em que um planeta ou um corpo está mais distante do Sol. Quando um astro está
no afélio, ele tem a menor velocidade de translação de toda a sua órbita, proporcionando invernos mais longos no HS e
verões mais longos no HN.
MOVIMENTO ACELERADO TERRA

SOL

PERIÉLIO AFÉLIO

MOVIMENTO RETARDADO

EQUINÓCIO, SOLSTÍCIO E ESTAÇÕES DO ANO


Quatro pontos do trajeto de translação são significativos ao longo do ano: dois solstícios e dois equinócios. Os dois equinócios
são os momentos nos quais os raios solares incidem perpendicularmente no Equador. Dias 21 ou 22 de março e 23 de setembro
são datas que marcam, respectivamente, o início do outono e da primavera no hemisfério Sul e o início da primavera e do outono
no hemisfério Norte.

Já os solstícios são os momentos nos quais os raios solares incidem perpendicularmente sobre um dos trópicos. Eles
ocorrem em 22 de junho, no Trópico de Câncer (no hemisfério Norte), e em 21 de dezembro, no Trópico de Capricórnio
(hemisfério Sul). Essas duas datas marcam, respectivamente, o início do inverno e do verão no hemisfério Sul, e o início
do verão e do inverno no hemisfério Norte. No dia de solstício, os raios solares tangenciam um dos polos, fazendo com
que este tenha 24 horas de luz, e o outro, 24 horas de escuridão.

COODERNADAS GEOGRÁFICAS E FUSO HORÁRIO

COORDENADAS GEOGRÁFICAS
Meridianos
Os meridianos são linhas imaginárias que ligam os Polos Norte e Sul, formando “meias circunferências” na Terra.
O meridiano de Greenwich divide a Terra em dois hemisférios: ocidental e oriental. A partir dele, é possível traçar diversos
meridianos, até o limite de 180°, tanto para Oeste quanto para Leste, o que totaliza os 360° da “circunferência” da Terra.

153
Paralelos
A linha imaginária traçada na parte mais larga da Terra é o paralelo de zero grau (0°), cujos pontos são equidistantes dos
polos. Ele foi denominado Equador, o principal paralelo, e divide o planeta em dois hemisférios, Norte e Sul.
Os outros paralelos são traçados seguindo a linha do Equador, tanto para o Norte quanto para o Sul. Além do Equador,
existem quatro paralelos notáveis: no hemisfério Norte, há o Círculo Polar Ártico (90° N) e o Trópico de Câncer (23° N); no
hemisfério Sul, há o Círculo Polar Antártico (90° S) e o Trópico de Capricórnio (23° S).

MERIDIANOS PARALELOS
antimeridiano Polo norte 90º N Latitudes
180º
de Greenwich norte


Greenwich

Equador

© César da Mata/Schäffer Editorial


Latitudes
0º sul
Longitudes Longitudes
oeste leste

Latitude e longitude
ƒ Latitude é a distância, medida em graus, que separa a linha do Equador de um ponto qualquer da superfície terrestre.
Ela varia de 0° a 90° ao Norte e ao Sul.
ƒ Longitude é a distância, medida em graus, do meridiano de Greenwich a um ponto qualquer da superfície da Terra. Ela
varia de 0° a 180° a Leste ou a Oeste.

LONGITUDES LATITUDES

ZONAS DE ILUMINAÇÃO
Nas áreas próximas aos polos, onde a curvatura da Terra é mais acentuada, os raios do sol se distribuem por uma superfície
menor, determinando menor concentração de calor.
Nas baixas latitudes (próximas ao Equador), os raios solares tocam perpendicularmente a superfície do planeta, determinan-
do maior concentração e, consequentemente, maior aquecimento. Temperaturas médias ocorrem nas latitudes médias (entre
os trópicos e os círculos polares).
1. Zona Tropical ou Tórrida (ou de baixas latitudes) – situada entre os trópicos.
2. Zona Temperada do Norte (ou de médias latitudes) – situada entre o Trópico de Câncer e o Círculo Glacial Ártico.
3. Zona Temperada do Sul (ou de médias latitudes) – situada entre o Trópico de Capricórnio e o Círculo Glacial Antártico.
4. Zona Glacial Ártica (ou de altas altitudes) – situada ao Norte do Círculo Glacial Ártico.
5. Zona Glacial Antártica (ou de altas latitudes) – situada ao Sul do Círculo Glacial Antártico.

154
FUSO HORÁRIO
Dividindo-se os 360º da “esfera” terrestre pelo número de horas em que a Terra leva para completar seu movimento de
rotação, tem-se 15º (quinze graus), ou seja, a cada hora, a Terra gira 15º. Partindo desse raciocínio, o planeta foi dividido em 24
fusos horários, correspondentes às 24 horas do dia e limitados por meridianos, distantes 15º uns dos outros.
O meridiano 0º tem como referência o observatório de Greenwich. Como a Terra gira de Oeste para Leste, os fusos à leste de
Greenwich têm as horas adiantadas em relação ao fuso inicial. Os fusos situados à oeste, por sua vez, têm as horas atrasadas
em relação à hora de Greenwich.

MERIDIANO 0, MARCADO NO OBSERVATÓRIO REAL DE GREENWICH, A LESTE DE LONDRES

Definiu-se o antimeridiano de Greenwich, ou seja, a linha de longitude 180º, oposta ao meridiano inicial, chamada Linha
Internacional de Mudança de Data. Esse meridiano divide um fuso em que todos os lugares têm a mesma hora, mas,
a oeste da linha, a data está um dia na frente da data a leste.

155
Fuso horário legal
Fusos horários do Brasil
ƒ primeiro fuso (UTC-2): Atol das Rocas, Fernando de Noronha, Arquipélago de São Pedro e São Paulo, Trindade e
Martim Vaz;
ƒ segundo fuso – horário de Brasília (UTC-3): regiões Sul, Sudeste e Nordeste; Estados de Goiás, Tocantins, Pará e
Amapá; e o Distrito Federal;
ƒ terceiro fuso (UTC-4): Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima e a parte do Amazonas que
fica a leste da linha que interliga Tabatinga e Porto Acre;
ƒ quarto fuso (UTC-5): Estado do Acre e a porção do Amazonas que fica a oeste da linha.

Brasil: fuso horário


70° O 60° O GUIA NA 50° O 40° O
VENEZUELA FRA NCESA N
SURINA ME
COLÔMBIA
- 4:30 O
GUIANA
horas RR
OC S
AP EA
Linha do Equador NO
AT
L Â

N
TI
AM PA

CO
MA CE
RN
PB
PI
PE
AC AL
10° S TO
RO SE

MT BA
PERU

DF
GO

BOLIVIA MG
MS ES
20° S

PA RA GUA I
SP RJ
Capricórnio
O

Trópico de CHILE PR
IC

T
PACÍFICO

N
OCEANO

SC LÂ
AT
ARGENTINA RS O
N
A
E

Escala 1:40 000 0


30° S
C

400 200 0
O

URUGUA I

Horário de verão

NOÇÕES DE CARTOGRAFIA

CARTOGRAFIA
Definições de mapas e cartas
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), “carta é a representação no plano, em escala média ou
grande, dos aspectos artificiais e naturais de uma área tomada de uma superfície planetária, subdividida em folhas delimitadas
por linhas convencionais – paralelos e meridianos – com a finalidade de possibilitar a avaliação de pormenores, com grau de pre-
cisão compatível com a escala”. Ainda segundo o IBGE, “mapa é a representação no plano, normalmente em escala pequena,
dos aspectos geográficos, naturais, culturais e artificiais de uma área tomada na superfície de uma figura planetária, delimitada
por elementos físicos, político-administrativos, destinadas aos mais variados usos, temáticos, culturais e ilustrativos”.
ƒ cadastrais – escalas de 1:500 a 1:10.000;
ƒ topográficos – escalas de 1:25.000 a 1:250.000;
ƒ geográficos – escalas de 1:500.000 a 1:1.000.000.

156
Escala
ƒ Escala numérica: representada por uma fração, na qual o numerador indica a distância no mapa, e o denominador
indica a distância na superfície real. Uma escala 1:100.000 (um por cem mil) significa que a superfície representada foi
reduzida 100 mil vezes. Nesse caso, 1 cm no mapa = 100.000 cm = 1.000 m = 1 km na realidade.
ƒ Escala gráfica: é uma linha reta graduada, por meio da qual se indica a relação da distância real com as distâncias
representadas no mapa. Por exemplo: 1 cm = 100 km.

2 1 0 2 4

km © César da Mata/
Schäffer Editorial

A fórmula para calcular a distância real entre dois pontos em um mapa é D = E × d, em que D é distância real, d é a distância
no mapa e E é a escala.

CONSTRUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS MAPAS


Orientação no mapa
A maioria dos mapas traz uma rosa dos ventos ou uma seta indicando o Norte. Quando não há essa indicação, convencionou-se
que o Norte está na parte superior do mapa.
N

Elementos de um mapa
ƒ Título: informa o tema que está sendo representado.
ƒ Legenda: mostra o significado dos símbolos e é importante para explicar o que o mapa comunicou visualmente.
ƒ Escala: indica quantas vezes o mapa foi reduzido, possibilitando o cálculo das distâncias e das dimensões reais do
espaço representado.

157
Topografia e curvas de nível

EXEMPLO DE CURVA DE NÍVEL E PERFIL TOPOGRÁFICO

A interpretação das curvas de nível exige o conhecimento de algumas noções básicas:


ƒ Quanto maior a declividade do terreno representado, mais próximas são as curvas de nível; elas são mais afastadas na
representação de terrenos pouco íngremes.
ƒ Há sempre a mesma diferença de altitude entre duas curvas de nível.
ƒ Pontos situados na mesma curva de nível têm a mesma altitude.
ƒ Os rios nascem nas áreas mais altas e correm para as áreas mais baixas.

EXEMPLO DE UMA ÁREA MAIOR REPRESENTADA EM CURVAS DE NÍVEL

Sensoriamento remoto
O sensoriamento remoto é uma tecnologia de obtenção de imagens e dados da superfície terrestre por meio da captação e
registro da energia refletida/emitida pela superfície, sem que haja contato físico entre o sensor e a superfície estudada (por
isso é denominado remoto).

158
Quando a imagem for capturada, ela será analisada, transformada em mapas ou constituirá um banco de dados georrefe-
renciados, caracterizando o que é chamado de geoprocessamento.

ESQUEMA DE UM SIG

PRINCIPAIS PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS


Quanto à superfície
Projeção cônica
Os paralelos formam círculos concêntricos, e os meridianos são linhas retas que convergem para os polos.
© César da Mata/Schäffer Editorial

Projeção cilíndrica
© Pearson Prentice Hall, Inc.

Os paralelos e os meridianos são linhas retas que convergem entre si.

159
Projeção azimutal, plana ou polar
Parte sempre de um ponto para a representação da(s) área(s) – por isso é usada para pequenas áreas. Pode ser de três tipos:
polar, equatorial e oblíqua (chamada também de horizontal).

Equador

Eq
ua
do
r

Quanto às propriedades
ƒ Projeção conforme: preserva os ângulos e deforma as áreas.
ƒ Projeção equivalente: preserva as áreas e altera os ângulos.
ƒ Projeção afilática: não conserva propriedades, mas minimiza as deformações em conjunto (ângulos, áreas e distâncias).
ƒ Projeção equidistante: as distâncias se preservam, e as áreas e os ângulos (consequentemente, a forma) são deformados.

Projeção de Mercator ou cilíndrica conforme


Conserva a forma dos continentes, direções e ângulos, mas altera a proporção das superfícies, principalmente as regiões
de alta latitude.
© César da Mata/Schäffer Editorial

PROJEÇÃO DE MECATOR

Projeção de Peters ou cilíndrica equivalente


Conserva as áreas das superfícies representadas, apesar de distorcer suas formas.
© César da Mata/Schäffer Editorial

PROJEÇÃO DE PETERS

160
ELEMENTOS DO CLIMA E FATORES CLIMÁTICOS

CLIMA E TEMPO
O tempo é algo momentâneo, de curta duração. Tempo é a condição atmosférica de um determinado lugar em um dado
momento.
O clima é algo duradouro, permanente, que não muda de um momento para outro. Clima é a sucessão habitual dos tipos de
tempo num determinado lugar da superfície terrestre.

Elementos do clima
Radiação solar
Uma parte da energia em forma de radiação eletromagnética emitida pelo Sol é interceptada pelo sistema Terra-atmosfera
e convertida em outras formas de energia, como calor e energia cinética da circulação atmosférica.

Temperatura do ar
Temperatura é a medida da energia cinética média das moléculas ou átomos individuais. A temperatura do ar é variável de
acordo com os seguintes fatores: radiação solar, massas de ar, aquecimento diferencial do continente e da água, correntes
oceânicas, altitude e posição geográfica.

Umidade do ar
Trata-se da presença de vapor de água no ar. As principais maneiras de descrever quantitativamente a presença de vapor
d’água no ar são a umidade absoluta e a umidade relativa (U.R.), que é a relação entre a quantidade de água existente no ar
(umidade absoluta) e a quantidade máxima que poderá haver na mesma temperatura (saturação). Isso significa que, em vez
de indicar a real quantidade de vapor de água no ar, esse índice indica quão próximo o ar está de se tornar saturado. Quando
o ar está saturado, a umidade relativa é de 100%.

Precipitação
Em meteorologia, precipitação descreve qualquer tipo de fenômeno relacionado à queda de água do céu. Isso inclui neve,
chuva e chuva de granizo. A precipitação é uma parte fundamental do ciclo hidrológico, sendo responsável por retornar a
maior parte da água doce ao planeta.

Tipos de chuvas

REPRESENTAÇÃO DOS DIFERENTES TIPOS DE CHUVA

161
ƒ As chuvas convectivas ou de convecção (I) são típicas da região intertropical, principalmente na Zona Equatorial, e
de verão, no interior dos continentes, devido às altas temperaturas. O calor do Sol esquenta o ar, que tende a subir e a esfriar
enquanto sobe. Dessa forma, o vapor de água contido no ar esfria e precipita. A evaporação também é intensa; assim, esse
ar que sobe carrega muita umidade; à medida que aumenta a quantidade de vapor no ar, aumenta também a instabilidade,
ou seja, o ar está à beira de atingir o ponto de saturação. A umidade elevada de tal forma atingirá níveis muito altos por
volta das 15/16 horas, desencadeando tempestades e aguaceiros. A chuva manifesta-se intensamente e é de curta duração,
sendo fácil identificá-la, pois decorrem de nuvens brancas, densas e algodoadas, os cúmulos. Quando há muita umidade, o
branco torna-se cinza-escuro e a nuvem ganha o nome de cumulonimbus, que verterá sua carga de modo particularmente
intenso, acompanhada de tormenta, raios e, às vezes, granizos. As chuvas são ditas de convergência, pois as massas de ar
sobem com a ajuda de ventos alísios, que convergem para as áreas equatoriais.
ƒ As chuvas frontais (II) resultam do encontro de duas massas de ar com características distintas de temperatura e
umidade. A partir desse choque, a massa de ar quente sobe e o ar esfria, aproximando-se do ponto de saturação,
originando nuvens e, é claro, chuva. São do tipo chuvisco, à passagem de uma frente quente; e do tipo aguaceiro, de
frente fria. Essas precipitações são típicas em áreas de baixa pressão, principalmente nas zonas dos trópicos ou tempe-
radas, onde ocorrem o encontro das massas de ar polares com as massas de ar tropicais. Caracteriza-se uma frente fria
quando ocorre precipitação pelo ar frio procedente dos polos. Contudo, também poderá ser causada por um processo
oposto: uma frente quente e úmida que atropela massas de ar em região fria.
ƒ As chuvas orográficas ou de relevo (III) são as que derivam de uma subida forçada do ar, quando, no seu traje-
to, apresenta-se uma cadeia de montanhas. Ao subir, o ar esfria, o ponto de saturação diminui, a umidade relativa
aumenta e dá-se a condensação e, consequentemente, a formação de nuvens e chuva. Essas chuvas são frequentes
nas áreas de relevo acidentado, ao longo de serras, de onde sopram ventos úmidos. Um bom exemplo de obstáculo
orográfico é a Serra do Mar em São Paulo.

Pressão atmosférica
Trata-se da força exercida pelo ar em um determinado ponto da superfície. Está intimamente relacionada à temperatura, ao
vapor d’água, à altitude e à latitude. Quanto mais baixa a altitude, maior a pressão atmosférica.

Velocidade e direção do vento


O vento consiste na circulação da atmosfera. Os ventos são denominados a partir da direção de onde eles sopram. Um vento norte
sopra do norte para o sul; um vento leste sopra de leste para oeste. Assim, a direção do vento é o ponto cardeal de onde vem o
vento: N, NE, E, SE, S, SW, W e NW. As medidas básicas do vento referem-se à sua direção e velocidade.

FATORES CLIMÁTICOS
Latitude
Altitude

O aumento da altitude faz com que o ar se torne mais rarefeito e frio.

162
Massas de ar
Correntes marítimas

Maritimidade e continentalidade
Relevo
Vegetação

DINÂMICAS CLIMÁTICAS

ATMOSFERA
A atmosfera é uma camada relativamente fina de gases e material particulado (aerossóis) que envolve a Terra. Cerca de 97%
da massa total da atmosfera concentra-se nos primeiros 302 km, contados a partir da superfície terrestre.
ƒ Troposfera;
ƒ Estratosfera;
ƒ Mesosfera;
ƒ Termosfera.

Circulação geral da atmosfera


ƒ de nordeste, entre cerca de 30°N e o equador, e de sudeste entre 30°S (os quais existem e chamam-se “ventos alíseos”);
ƒ de sudoeste entre 30°N e 60°N, e no noroeste entre 30°S e 60°S (os quais existem e chamam-se “ventos de oeste”);
ƒ de noroeste entre 60°N e 90°N, e de sudeste entre 60°S e 90°S (os quais existem e chamam-se “ventos polares”).
Como a convergência e divergência dos ventos na superfície estão ligados à regiões de baixa e alta pressão. A região de con-
vergência dos alíseos na região equatorial é chamada Zona de Convergência Intertropical (ZCIT).

163
Analisando essa atmosfera descrita numa seção vertical, observamos o aparecimento de três pares de células de circulação,
na escala global:
ƒ Célula de Hadley (entre 0° e 30°);
ƒ Célula de Ferrel (entre 30° e 60°); e
ƒ Célula Polar (entre 60° e 90°).
Célula polar

Alta polar

Célula de Ferrel
60º Frente polar

Baixa subpolar
Célula
Ventos contra alísios
de
Hadley

A Alta A
subtropical

Zona de
Ventos alísios
convergencial
Baixa 0º Intertropical
Equatorial (ZCTT)

B
B B

30º
A Alta A
subtropical

60º

FENÔMENOS METEOROLÓGICOS DEVASTADORES


Tornados
Quanto mais intensas as correntes de ar ascendentes e descendentes dentro da nuvem, maior será a possibilidade de formar-se
um rodamoinho que evolui para o tornado e que aparece como uma protuberância na base da nuvem. Quando ocorrem sobre
o mar ou sobre grandes corpos d’água, os tornados recebem o nome de tromba d’água.

FORMAÇÃO DE UMA TROMBA D’ÁGUA

164
2

3 4

Furacão, tufão e ciclone


Furacões e tufões são o mesmo fenômeno meteorológico: ciclones tropicais.
Para ser classificado como furacão, tufão ou ciclone, uma tempestade deve atingir velocidades de vento de pelo menos
119 km/h. São aglomerados de tempestades que têm origem em oceanos onde a temperatura superficial da água está
acima de 27 ºC.

El Niño
De tempos em tempos, as águas equatoriais do Pacífico aquecem de maneira anormal, resultando no aparecimento do
fenômeno El Niño, que altera profundamente o clima em escala planetária. Esse aquecimento manifesta-se nos meses de
setembro/outubro.
No Brasil, os efeitos de El Niño foram sentidos em diferentes regiões. O Nordeste foi flagelado por uma forte seca, enquanto
o Rio Grande do Sul enfrentava enchentes. Na úmida região Norte choveu muito menos do que o esperado, propiciando o
aparecimento de grandes incêndios, como o que devastou 15% do estado de Roraima.

La Niña
La Niña também é um fenômeno cíclico cuja manifestação opõe-se a do El Niño. Acontece quando ocorre um resfriamento
maior que o normal das águas do Pacífico, em média, a cada dois ou sete anos, e pode durar aproximadamente um ano.
No Brasil, La Niña alterou o regime de chuvas nordestino e provocou uma primavera atípica na região Sudeste, com índices plu-
viométricos maiores do que a média nesse período, e temperaturas mais baixas que o normal, provocadas pela sucessão de dias
nublados ou chuvosos. As áreas em azul representam regiões frias, onde ocorre o fenômeno do La Niña.

165
AS MANCHAS EM AZUL INDICAM QUE AS ÁGUAS DO PACÍFICO EQUATORIAL ESTÃO MAIS FRIAS

frio

frio
seco e
quente

chuvoso
frio chuvoso seco
seco e frio seco chuvoso
e frio

frio e frio
chuvoso

Dezembro, Janeiro e Fevereiro

chuvoso frio e
chuvoso
frio chuvoso quente e seco
chuvoso
frio
quente
seco
chuvoso

Junho, Julho e Agosto


LA NIÑA E SEUS EFEITOS SOBRE O CLIMA

OS GRANDES CLIMAS DO PLANETA TERRA


Clima equatorial
As temperaturas médias anuais situam-se entre 24 ºC e 27 ºC.
As chuvas são abundantes o ano todo.

166
Clima mediterrâneo
Podemos afirmar que esse clima tem como características
gerais um verão quente, seco e prolongado e um inverno
suave, chuvoso e curto.

Clima tropical
A amplitude térmica anual é 15 ºC e 20 ºC. Clima temperado continental
O clima tropical caracteriza-se genericamente pela ex- ƒ Considerável amplitude térmica anual.
istência de duas estações ou períodos: a estação mais
ƒ Pluviosidade é baixa.
úmida e a estação seca.

Clima desértico Clima temperado oceânico


ƒ As temperaturas médias anuais giram em torno de 20
A aridez, reforçada pela presença de correntes frias que
ºC e a amplitude térmica anual é considerável.
fornecem pouquíssima umidade para os litorais, é a princi-
pal característica do clima desértico. ƒ Não há meses secos.

167
Clima subpolar Clima polar
As temperaturas médias anuais são muito baixas, e a A média do mês mais quente não chega a 10 ºC, e a média
média do mês mais quente não supera os 10 ºC; As chuvas do mês mais frio é muito inferior a 0 ºC. As chuvas inex-
são escassas e a maior parte das precipitações ocorre sob istem, e as precipitações ocorrem sob forma de neve.
forma de neve ao longo do ano.

Clima frio de montanha ou clima de altitude


Todas as precipitações ocorrem sob forma de neve, e as temperaturas chegam, nos pontos mais frios, a –30 ºC; durante o
verão não chegam a 10 ºC.

CLIMAS DO BRASIL

ELEMENTOS DO CLIMA DO BRASIL: AS MASSAS DE AR


Frentes quentes e frentes frias
ƒ Frente quente: as frentes quentes deslocam-se do equador para os polos.
ƒ Frente fria: as frentes frias deslocam-se dos polos para o Equador.

O mecanismo das massas de ar no Brasil


As massas de ar constituem elemento determinante dos climas brasileiros porque podem mudar bruscamente o tempo nas
áreas onde atuam.
O Brasil sofre a influência de praticamente todas as massas de ar que atuam na América do Sul, exceto as que têm origem no
oceano Pacífico (oeste), cuja influência é limitada pela cordilheira dos Andes que barra a sua passagem para o interior do continente.
O mecanismo das massas de ar no Brasil depende da circulação geral da atmosfera na Terra.
Por ter 92% de seu território na zona tropical e estar localizado no Hemisfério Sul, onde as massas líquidas (oceanos e
mares) ocupam mais espaço do que as massas sólidas (terras), o Brasil é influenciado predominantemente pelas massas
de ar quente e úmida.

168
Massa equatorial continental (mEc)
Quente e úmida.

Massa equatorial atlântica (mEa)


Quente e úmida

Massa tropical atlântica (mTa)


Quente e úmida.

Massa tropical continental (mTc)


Quente e seca.

Massa polar atlântica (mPa) FONTE: <PROFWLADIMIR.BLOGSPOT.COM.BR/2012/09/


MAPAS-BRASIL-CLIMA.HTML>. (ADAPTADO)
Fria e úmida.

Atuação das massas de ar no Brasil – inverno e verão


Clima tropical continental
O clima tropical envolve a maior parte da região Cen-
Brasil - Massas de ar Brasil - Massas de ar
Verão Inverno
tro-Oeste, do Sudeste e partes do Nordeste.
mEa
Equador mEa Equador

mEc mEc

mEa oEquatorial
atlântica
mEc oEquatorial
continental
mTa o Tropical
atlântica
mTc mTc o Tropical mTc mTa
continental
mTa mPa oPolar atlântica Alísio de
mPa sudeste
Fonte: educação.globo.com/geografia

OS FATORES DO CLIMA NO BRASIL FONTE: <PROFWLADIMIR.BLOGSPOT.COM.BR/2012/09/


Diversos fatores podem modificar os elementos que compõem MAPAS-BRASIL-CLIMA.HTML>. (ADAPTADO)

o clima. No caso brasileiro, destacamos a altitude, a latitude, a


continentalidade, a maritimidade e as correntes marinhas, que Clima tropical semiárido
podem ter maior ou menor influência no clima brasileiro.
O clima semiárido abraça uma região, cujo limite apre-
senta algumas variações nos diferentes mapas. É o clima
Altitude denominado sertão nordestino.

Latitude semiárido

Continentalidade e maritimidade
Correntes marítimas
Corrente do Brasil e a corrente das Guianas.

CLIMAS DO BRASIL
Clima equatorial
O clima equatorial abrange a região norte brasileira, o norte FONTE: <PROFWLADIMIR.BLOGSPOT.COM.BR/2012/09/
do Mato Grosso e de Tocantins e, ainda, o oeste do Maranhão. MAPAS-BRASIL-CLIMA.HTML>. (ADAPTADO)

169
Clima tropical úmido

FONTE: <PROFWLADIMIR.BLOGSPOT.COM.BR/2012/09/MAPAS-BRASIL-CLIMA.HTML>. (ADAPTADO)

Vai da divisa do Paraná e de São Paulo até próximo ao “cotovelo” do Rio Grande do Norte.

Clima tropical de altitude


Nos planaltos e serras do leste e sudeste do Brasil.

FONTE: <PROFWLADIMIR.BLOGSPOT.COM.BR/2012/09/MAPAS-BRASIL-CLIMA.HTML>. (ADAPTADO)

Em geral, as precipitações são pouco mais acentuadas que na região de clima tropical. A região com as maiores médias plu-
viométricas do Brasil estão na serra do Mar, no estado de São Paulo, e o lugar no qual já foram registrados os maiores índices de
precipitação do Brasil é Itapanhaú (próxima à cidade paulista de Mogi das Cruzes), onde já choveu 4500 mm num único ano.
No domínio do clima tropical de altitude, sobreleva-se a ação da massa tropical atlântica. Além disso, é frequente a ação
da massa polar atlântica. O encontro dessas duas traz muitas chuvas à região, sobretudo no verão, quando a mPa faz um
caminho quase marinho, chegando carregada de umidade às regiões serranas.

170
Clima subtropical
A parte do Brasil ao sul do Trópico de Capricórnio.

FONTE: <PROFWLADIMIR.BLOGSPOT.COM.BR/2012/09/MAPAS-BRASIL-CLIMA.HTML>. (ADAPTADO)

HIDROLOGIA E BACIAS HIDROGRÁFICAS

INTRODUÇÃO À HIDROLOGIA
Ciclo hidrológico
Vapor transportado para
terra firme

Precipitação
Transpiração

Evaporação
Percolação Precip
Evaporação

Lago

Rio
Terra
Oceano

Fluxo subterrâneo

171
MARES E OCEANOS
ƒ Oceano.
ƒ 71% do planeta.
ƒ Pacífico, Atlântico, Índico e Glacial Ártico.
Mares fazem parte dos oceanos. Grandes massas de água salgada cercadas por terra, parcial ou completamente.
ƒ Mar fechado: é aquele que não possui nenhuma ligação com o oceano.
ƒ Mar interior (ou Mediterrâneo): possui uma pequena ligação com o oceano;
ƒ Mar aberto: é aquele que tem grande ligação com o oceano.

Mares da Europa

Oceano Atlântico Mar do Norte Mar Báltico


Mar da Irlanda

Canal da Mancha

Golfo de Vizcaya
Mar de Azov
Mar Caspio
Mar Negro
Mar Adriático

Mar de Mármara
Mar Mediterrâneo
Mar Egeo

IMAGENS DO MAR CÁSPIO (FECHADO), DO MAR DO NORTE OU DE BERENTS (ABERTO) E DO MAR MEDITERRÂNEO (CONTINENTAL)

Glacial Ártico

Oceano
Pacífico

Oceano
Oceano Oceano Índico
Pacífico Atlântico

Oceano Antártico

DISTRIBUIÇÃO DOS OCEANOS NO PLANETA TERRA

172
Ondas e marés
As ondas são produzidas pelos ventos.

As marés correspondem ao movimento diário das águas que avançam e recuam, fenômeno esse resultante de forças gravi-
tacionais que o Sol e a Lua exercem sobre a Terra.

Correntes marítimas
As correntes marítimas são massas menores de água que se deslocam em direções distintas. Elas mantêm suas carac-
terísticas de cor, salinidade e temperatura, ou seja, não se misturam. Esse deslocamento é causado pela ação dos ventos
e pelo movimento de rotação da Terra. Em razão disso, as correntes marítimas se deslocam de acordo com os hemisférios
da Terra. No Hemisfério Norte, seguem no sentido horário e, no Hemisfério Sul, no sentido anti-horário.
Corrente do Golfo, corrente do Brasil, corrente de Humboldt e a corrente de Benguela.

CORRENTES MARÍTIMAS – TEMPERATURA E DIREÇÃO

Degradação e poluição marinha


Derramamento de petróleo, lançamento de esgotos urbanos e de lixo atômico em águas marítimas e oceânicas são preocupantes.
Resultado: contaminação das águas marinhas com prejuízo de pontos turísticos litorâneos, da oferta e da saúde de peixes.

173
INFOGRÁFICO DAS PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS DOS VAZAMENTOS DE PETRÓLEO

ÁGUAS CONTINENTAIS
Uma pequena parte de toda a água do mundo localiza-se nas áreas continentais. Os rios representam apenas uma pequena
porcentagem delas, e suas águas sempre foram um fator determinante para a fundação das cidades.
Será que as pessoas que vivem em áreas urbanizadas conseguem imaginar qual a origem dos rios que cortam sua cidade?

Diagrama de barras da distribuição da água na Terra

174
Rios

Boa porosidade e
Nível boa permeabilidade
hidroestático

Aquifero livre

Camada Fraca porosidade e


impermeável fraca permeabilidade

Aquífero cativo

Camada Boa porosidade e


impermeável boa permeabilidade

LENÇOL DE ÁGUA FREÁTICO OU AQUÍFEROS

Origem:
ƒ Pluvial.
ƒ Glacial.
ƒ Lacustre.
Lençol freático, se esses lençóis atingirem a superfície, dão origem às nascentes dos rios.
Alguns nascem do degelo.
Existem rios perenes, ou seja, que nunca secam.

Regime fluvial
A variação do volume de água dos rios durante o ano.
Fatores também interferem no comportamento de um rio, como relevo, cobertura vegetal e natureza do solo.
Os rios que deságuam em outros rios são chamados de afluentes. Ponto onde termina o curso de um rio recebe o nome de foz.
ƒ Estuário.
ƒ Delta.
ƒ Mista.

FOZ EM ESTUÁRIO E FOZ EM DELTA

175
Bacias e rede hidrográficas
Rede hidrográfica corresponde ao conjunto de rios de uma bacia.
Bacia hidrográfica corresponde à rede hidrográfica e à sua área de captação de água.
Tipos de drenagem:
ƒ Exorreica.
ƒ Endorreica.
ƒ Arreica.
ƒ Criptorreica.

A MODELAGEM DO RELEVO
Os rios realizam um trabalho ininterrupto de destruição, transporte e sedimentação, denominado ciclo de erosão fluvial. Eles
escavam seu próprio leito, enquanto que, em suas margens, a erosão forma as vertentes dos vales por onde eles correm. A
velocidade de suas águas é determinada pela declividade dos terrenos que cortam.

GRAND CANYON SENDO ERODIDO PELO RIO COLORADO

Lagos
A maioria deles é formada por depressões ou falhas preenchidas por águas na superfície terrestre; outros, no entanto, como o
caso dos lagos do Canadá, possuem origem glacial.

176
Poluição das águas
Decorrente da expansão das atividades industriais e agrárias e do crescimento das cidades e da população mundial.
Principais fontes poluidoras são:
ƒ lixo sólido.
ƒ agrotóxicos em geral.
ƒ esgotos sem tratamento.
ƒ resíduos das mineradoras.

ESPUMA RESULTANTE DA CONCENTRAÇÃO DE DETERGENTES ORIUNDA DO ESGOTO NO RIO TIETÊ

BACIAS HIDROGRÁFICAS
Principais bacias hidrográficas do Brasil
Bacia Amazônica

BACIA HIDROGRÁFICA AMAZÔNICA

Maior bacia hidrográfica do mundo. Nasce no Peru, com o nome de Apurimac; ao entrar no Brasil, recebe o nome de Soli-
mões. Depois do encontro com o rio Negro, perto de Manaus, recebe o nome de Amazonas.

177
As águas dos rios amazônicos são barrentas, claras e negras.
Transporte hidroviário. É o caso dos rios Madeira, Xingu, Tapajós, Negro, Trombetas e Jari.

ENCONTRO DAS ÁGUAS DOS RIOS NEGRO E SOLIMÕES

Hidrelétricas na Amazônia
ƒ Santo Antonio
ƒ Jirau
ƒ Balbina
ƒ Belo Monte

USINA DE BELO MONTE

178
Bacia do São Francisco
Nasce em Minas Gerais, na serra da Canastra, corta o sertão da Bahia, na divisa com Pernambuco e entre Alagoas e Sergipe,
e deságua no Atlântico.
Navegação, irrigação e produção de energia.

BACIA HIDROGRÁFICA DO SÃO FRANCISCO

Plenamente navegável até Petrolina, em Pernambuco. Paulo Afonso, Sobradinho e Itaparica, que são três usinas hidrelé-
tricas de grande porte.
Transposição do rio São Francisco.

MAPA DOS EIXOS DA TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO

Bacia do Tocantins-Araguaia
É a maior bacia localizada totalmente em território brasileiro, com 813 mil km2 e formada pelos rios Tocantins e Araguaia. O rio
Tocantins nasce em Goiás, ao norte da cidade de Brasília, percorre 2,6 mil km e desemboca na foz do rio Amazonas, junto à ilha
de Marajó. Usina de Tucuruí, no Pará. Rio Araguaia nasce na serra das Araras, no Mato Grosso, próximo à divisa com Goiás, e
desemboca no rio Tocantins.

179
BACIA HIDROGRÁFICA DO TOCANTINS-ARAGUAIA

Hidrovia Araguaia-Tocantins tem sido muito questionada pelas ONGs em razão dos impactos socioambientais.

ESCOAMENTO DE RECURSOS MINERAIS NA HIDROVIA TOCANTINS-ARAGUAIA

Bacia do Prata
É formado pelas bacias dos rios Paraguai, Paraná e Uruguai. Banha a área mais desenvolvida e urbanizada do país.

BACIA HIDROGRÁFICA PLATINA

Bacia do Paraguai
ƒ Amplamente navegável;
ƒ Pequeno potencial hidrelétrico;
ƒ Pantanal.

180
Bacia do Uruguai
Pouco aproveitada para navegação e para geração de energia. Essa bacia é fronteiriça entre Brasil e Argentina e, portan-
to, exige acordos internacionais para a realização de projetos.

Bacia do Paraná
Maior potencial hidrelétrico
Garante o abastecimento de energia elétrica para a região Sudeste, região Sul e Centro-Oeste.

Bacias secundárias

As 12 Regiões
Hidrográficas Brasileiras
Amazonas
Tocantins-Araguaia
Atlântico NE Ocidental
Parnaíba
Atlântico NE Oriental
São Francisco
Atlântico Leste
Atlântico Sudeste
Paraná
Paraguai
Uruguai
Atlântico Sul

Fonte: ANA - Agência Nacional das Águas, 2005

Bacias hidrográficas mundiais

181
Grandes rios da África
Rio Nilo e Rio Congo.

MAPA FÍSICO DA REDE HIDROGRÁFICA DO CONTINENTE AFRICANO

Principais rios da Europa


Rio Reno é famosa por abrigar o vale do Ruhr, rio Pó, rio Volga e o rio Ródano.

PRINCIPAIS RIOS DA EUROPA

182
Principais rios da América do Norte
Rio São Lourenço, Colorado, rio Mackenzie, rio Yukon e a bacia do Mississipi-Missouri.

MAPA FÍSICO DA REDE HIDROGRÁFICA DA AMÉRICA DO NORTE

Principais rios da Ásia


Rio Jordão, rios Tigre e Eufrates, rio Huang-ho (rio Amarelo), Yang-tsé (rio Azul), rios Ganges e Indo e rio Mekong.

DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS I

DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS
Formações florestais
Domínio das terras baixas florestadas da Amazônia (floresta Amazônica)
ƒ clima quente e úmido;
ƒ relevo com predomínio de planícies;
ƒ floresta latifoliada (folhas largas);
ƒ ombrófila;
ƒ higrófila;

183
ƒ perene (sempre verde);
ƒ densa (de difícil penetração);
ƒ heterogênea;
ƒ biodiversa;
ƒ solos pouco férteis (pouco húmus e muito lixiviado);
ƒ acelerado processo de desvastação;
ƒ política de integração intensificam os fluxos migratórios.

Domínio dos mares de morros florestados


ƒ clima quente e úmido;
ƒ relevo com predomínio de planaltos;
ƒ floresta latifoliada (folhas largas);
ƒ ombrófila;
ƒ higrófila;
ƒ perene (senpre verde);
ƒ densa (de difícil penetração);
ƒ heterogênea;
ƒ biodiversa;
ƒ ficou reduzida a menos de 7% da cobertura original.

Domínio do planalto das araucárias


ƒ clima frio e úmido
ƒ relevo planáltico;
ƒ floresta subtropical aciculifoliada;
ƒ aberta (de fácil penetração);
ƒ homogênea;
ƒ restam apenas pouco mais de 10% da mata original;
ƒ solos férteis (terra roxa).

Formações arbustivas
Domínio das depressões interplanálticas do semi-árido do nordeste
ƒ clima quente e seco;
ƒ relevo com predomínio de depressões;
ƒ vegetação xerófila e caducifólia;
ƒ solos ricos em sais minerais e pobre em húmus;
ƒ ocorrência de brejos em regiões mais úmidas;
ƒ produção de frutas;
ƒ rios intermitentes em sua maioria.

184
Domínios dos chapadões recobertos por cerrados e penetrados por mata galeria
ƒ clima tropical (chuvas no verão e estiagem no inverno);
ƒ relevo planáltico com chapadas;
ƒ solos com baixa fertilidade (alta concentração de alumínio);
ƒ 45% devastado em função da expansão agropecuária;
ƒ nascentes de rios importantes como o São Francisco.

Formação herbácea
Domínio das Pradarias mistas do Rio Grande do Sul
ƒ clima frio e úmido;
ƒ terras baixas com colinas (cochilias);
ƒ vegetação de gramíneas;
ƒ imensa pastagem (favoreceu a pecuária de corte);
ƒ rizicultura.

Formações complexas
ƒ Pantanal.
ƒ Mata dos Cocais.
ƒ Manguezais.

Brasil: domínios morfoclimáticos

185
BIOMAS DO BRASIL
Formações florestais: vegetação com árvores de grande porte
ƒ Floresta Amazônica.
ƒ Mata Atlântica.
ƒ Floresta de araucárias.
Formações arbustivas e herbáceas: constituíta por arbustos dispersos e isolados por vegetação rasteira
ƒ Cerrado
ƒ Caatinga.
ƒ Campos.
Formações complexas: ocorrem em áreas de transição entre formações a apresentam características de duas ou mais
dessas formações
ƒ Mata dos cocais.
ƒ Pantanal.
ƒ Mangue.

Áreas protegidas no Brasil


Unidades de conservação
São espaços destinados à conservação de paisagens naturais. Existem unidades de uso indireto, onde os recursos não po-
dem ser explorados. São elas: estação ecológica, monumento natual, parque nacional, refúgio de vida silvestre e
reserva biológica.
Outra categoria é a unidade é a unidade de uso sustentável (como a reserva extrativista), onde é permitido o uso racional dos recusos
naturais. São elas: área de proteção ambiental, área de relevante interesse ecológico, floresta nacional, reserva de
desenvolvimento sustentável, reserva de fauna, reserva extrativista e reserva particular do patrimônio natual.

PROBLEMAS AMBIENTAIS NO BRASIL


Problemas urbanos
ƒ Poluição atmosférica;
ƒ Efeito estufa;
ƒ Inversão térmica;
ƒ Chuva ácida;
ƒ Ilha de calor;
ƒ Carência de áreas verdes;
ƒ Problemas no abastecimento de água e poluição dos rios.

Problemas no espaço agrário


ƒ Agrotóxicos;
ƒ Poluição do solo;
ƒ Perda de nutrientes;
ƒ Desertificação.

186
U.T.I. - Sala
1. (UFPR 2019) As figuras A, B, C e D abaixo fazem a representação cartográfica da sede do município de Cornélio Pro-
cópio, obtidas de distintas bases de dados.

Diferencie-as sob o ponto de vista cartográfico e explique por que elas apresentam conteúdos distintos.

2. (Enem 2014 - Modificada) Quando é meio-dia nos Estados Unidos, o Sol, todo mundo sabe, está se deitando na França.
Bastaria ir à França num minuto para assistir ao pôr do sol.
SAINT-EXUPÉRY, A. O Pequeno Príncipe. Rio de Janeiro: Agir, 1996.
A diferença espacial citada é causada por qual característica física da Terra?

3. (AVAJ 2020) A taxa de mortalidade infantil expressa o número de crianças de um determinado local que morre antes
de completar 1 ano de vida a cada mil nascidas vivas. Esse dado é um indicador da qualidade dos serviços de saúde,
saneamento básico e educação.

O mapa acima determina as regiões geográficas mundiais com maiores taxas de mortalidade infantil. Discorra sobre
a forma que as regiões do globo se apresentam no mapa, destacando qual técnica de representação cartográfica foi
escolhida no mapa.

187
4. (UFU 2019)

De acordo com a projeção cartográfica de Peters, utilizada para representar o mapa-múndi, responda.
a) Por que essa projeção do mapa-múndi é criticada e pouco utilizada?
b) Quais são as principais características dessa projeção?

5. (ENEM 2010 / Modificada) Pensando nas correntes e prestes entrar no braço que deriva da Corrente do Golfo
para o norte, lembrei-me de um vidro de café solúvel vazio. Coloquei no vidro uma nota cheia de zeros, uma bola
cor rosa-choque. Anotei a posição e data: Latitude 49°49’N, Longitude 23°49’W. Tampei e joguei na água. Nunca
imaginei que receberia uma carta com a foto de um menino norueguês, segurando a bolinha e a estranha nota.
KLINK, A. Parati: entre dois pólos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998 (adaptado).

Defina o conceito de coordenada geográfica.

6. (CBM/SC 2018) Diariamente, os telejornais e os jornais, em seus serviços de previsão do tempo, mostram imagens de
satélites onde se veem as posições das frentes frias e quentes e das áreas de instabilidade, acompanhadas de informa-
ções de interesse meteorológico. A cada dia a situação muda, e mesmo dentro de um mesmo período de 24 horas podem
ocorrer alterações significativas, exigindo uma observação permanente para entender e, se possível, prever a variação
dos elementos que compõem o complicado mecanismo do clima. Indique quais são os elementos constitutivos do clima.

7. “El Niño é um fenômeno atmosférico-oceânico caracterizado por um aquecimento anormal das águas superficiais no
oceano Pacífico Tropical, e que pode afetar o clima regional e global, mudando os padrões de vento a nível mundial, e
afetando assim, os regimes de chuva em regiões tropicais e de latitudes médias”.
(Fonte: Copyright ©INPE/CPTEC 1995-2011 ).

“Os efeitos do ‘El Niño’ no Brasil podem causar prejuízos e benefícios. Mas os danos causados são superiores aos bene-
fícios, por isso o fenômeno é temido, principalmente, pelos agricultores.”
Laboratório de Meteorologia da universidade Estadual do Maranhão. Disponível em: WWW.uema.br. Acesso em: 6 de jul. 2009.

No Brasil esse fenômeno caracteriza-se por provocar: Estiagem no Sul seguida de estação chuvosa e aumento da seca
em todo o Nordeste. Considerando o texto Quais outros prejuízos esse fenômeno pode ocasionar?

8. (CONSULPLAN 2018) Representar a superfície terrestre com a maior precisão possível tem sido um desafio enfrentado
pela humanidade desde a Antiguidade. Diante disso, vêm sendo criadas, desde o século XVI e por diversos cartógrafos, as
projeções cartográficas, que são técnicas usadas para representar a superfície terrestre num plano, como o mapa-múndi
ou planisfério. O termo projeção sugere que continentes, oceanos, mares e demais porções da superfície terrestre são

188
“projetados” num plano, sobre o qual se desenha um sistema de coordenadas geográficas. Observe a imagem da pro-
jeção cartográfica a seguir.

“Tal projeção mantém a proporção real entre terras e águas. Possibilita a visão de conjunto da superfície terrestre, asso-
ciada à esfericidade, graças ao seu ‘formato de coração’. As distorções da forma dos continentes são menores ao longo
do Meridiano de Greenwich e do Polo Norte, que estão no centro dessa projeção.” Trata-se de qual Projeção cartográfia?:

9. (AVAJ 2020) Um avião decolou do aeroporto Internacional de Guarulhos (cidade A; 45°W) às 7 horas com destino à
cidade B (126°W). O vôo tem duração de oito horas. Que horas serão na cidade B quando o avião pousar?

U.T.I. - E.O.
1. Mapa de fuso horário

Fonte: <www.estudopratico.com.br/wp-content/uploads/2013/01/fuso-horario-mapa-conceito-em-geografia.jpg>

Um fotógrafo sai do Rio de Janeiro às 18:00 hs do dia 1º (sábado), em direção à Hong Kong. A duração do voo foi de
12 horas. Que horas será no Rio de Janeiro quando essa pessoa chegar no seu destino?

2. Os climogramas abaixo representam dois tipos climáticos que ocorrem no Brasil. Observe-os e responda:

189
a) Quais são os tipos de clima nas localidades A e B?
b) Discorra sobre as características dos dois climas e quais são as massas de ar que atuam nessas localidades.

3. O sabiá no sertão
Quando canta me comove
Passa três meses cantando
E sem cantar passa nove
Porque tem a obrigação
de só cantar quando chove

“Chover, ou invocação para um dia líquido”


Mas o povo que sente na pele os efeitos diretos desse calor – extensivos à economia regional, pela ausência de
perenidade dos rios e de água nos solos – não tem dúvida em designá-lo simbolicamente por “verão”. Em con-
trapartida, chama o verão chuvoso de “inverno”. Tudo porque os conceitos tradicionais para as quatro estações
somente são válidos para as regiões que vão dos subtrópicos até a faixa dos climas temperados, tendo validade
muito pequena ou quase nenhuma para as regiões equatoriais, subequatoriais e tropicais.
AB’SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003, p. 85.

Como bem exemplificou o professor Aziz Ab’Saber, os sertanejos costumam chamar o verão de inverno porque, irregular-
mente, a Massa Equatorial Continental traz chuvas esporádicas à região. A partir do texto e da música do grupo “Cordel
do Fogo Encantado“, explique a origem da mancha semiárida no Nordeste brasileiro e o por quê desse deficit hídrico, já
que a mEc é uma massa úmida.

4. Os homens que vivem ao longo dos igarapés foram fadados a conviver com as sombras e a solidão. Trabalharam ou
trabalham para alguém que mal conhecem. Na qualidade de serem gregários, para garantir um tributo básico da con-
dição humana, transformaram os igarapés em caminhos vicinais. O “caminho da canoa” do índio tornou-se a via vicinal
dos amazônides, oriundos de muitas procedências étnicas e subculturas em contato. Ninguém melhor do que Euclides
da Cunha conseguiu fixar o drama dos habitantes da beira dos igarapés, tal como está gravado em seus escritos, como
o Judas Asverus, de “A Margem da História”.
AB’SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003, p. 73.

Com base no texto, responda:


A qual domínio morfoclimático o texto se refere? Explique suas principais características, levando em consideração
os três patamares de vegetação existentes.

5. (UNESP 2018) O sensoriamento remoto é a técnica que permite a obtenção de informações acerca de objetos, áreas
ou fenômenos localizados na superfície terrestre. O termo restringe-se à utilização de energia eletromagnética no
processo de obtenção de informações, as quais podem ser apresentadas na forma de imagens, sendo as mais utili-
zadas, atualmente, aquelas captadas por sensores ópticos orbitais instalados em satélites, como ilustrado na figura.

190
a) Considerando a fonte de emissão de energia, especifique o tipo de sensor representado na figura e descreva o seu
funcionamento.
b) Mencione duas aplicações dos produtos derivados do sensoriamento remoto.

6. Observe a figura que mostra o esquema de circulação geral da atmosfera e responda:

a) O que são ventos alísios e contra alísios?


b) Qual é a relação dos ventos alísios com o fenômeno El Niño?

7. Dentre as estratégias de aproveitamento dos recursos hídricos superficiais do Nordeste Brasileiro, admite-se a
transposição de águas entre bacias hidrográficas. Sobre este tema, resolva os itens a seguir.
a) Indique dois possíveis projetos de transposição de águas entre bacias hidrográficas, que são discutidos na
mídia.
b) Descreva dois prováveis impactos ambientais negativos resultantes desses projetos.

8. (Unesp) No mapa estão indicadas as principais correntes marítimas.

Explique a influência da corrente do golfo no Atlântico Norte sobre a Europa ocidental, e destaque os motivos das
cidades de Londres e Paris terem invernos mais amenos do que Montreal e Nova Iorque.

9. (UFPR) A bacia hidrográfica como unidade de análise ambiental tem ganhado destaque, o que pode ser exemplifi-
cado com o caso do Brasil, onde, nas últimas décadas, ela tem sido considerada um importante recorte espacial para
o planejamento e para diagnósticos ambientais. Explique o que é uma bacia hidrográfica, apresentando os elementos
que a compõem, e justifique por que ela é utilizada como recorte espacial para diagnósticos ambientais.

191
10. (Uerj) O potencial de produção de energia hidrelétrica está relacionado a um grupo de fatores naturais que inter-
ferem na construção de barragens em bacias hidrográficas. Observe no mapa abaixo a localização das dez principais
bacias hidrográficas brasileiras:

Considerando as características socioambientais da bacia I, cite duas consequências negativas ocasionadas pela cons-
trução de hidrelétricas nessa área.
Indique, ainda, dois fatores que favorecem a geração de energia elétrica nas usinas instaladas na bacia V.

192
GEOGRAFIA 2

193
INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO GEOGRÁFICO

Princípios da Geografia
ƒ Princípio da extensão: Segundo ele, o geógrafo, ao estudar um fato ou
área, deve proceder a sua localização e delimitação, utilizando os recursos
da cartografia. Nesse princípio, o importante é localizar fenômenos na
superfície terrestre.
ƒ Princípio da analogia ou geografia geral: Segundo eles, após a área
ser observada e delimitada, o geógrafo deve compará-la com outras áreas
buscando as semelhanças e as diferenças existentes.
ƒ Princípio da causalidade: princípio que propõe explicar as causas do
fato observado.
ƒ Princípio da conexão ou interação: esse princípio estabelece que os fa-
tos geográficos, físicos ou humanos nunca aparecem isolados; estão sempre
interligados por elos de relacionamento. Seu objetivo é identificar e analisar
as relações existentes.
ƒ Princípio da atividade: o princípio da atividade estabelece o caráter dinâ-
mico do fato geográfico que deve ser estudado em seu passado para poder
ser compreendido no presente e se ter uma imagem do seu futuro. ALEXANDER VON HUMBOLDT

1.2. Espaço geográfico

ALEXANDER VON HUMBOLDT


Espaço geográfico, um produto social, fruto das interações sociais e naturais da superfície terrestre. Esse conceito possui
várias visões conflitantes entre si. No entanto, há um consenso: o espaço geográfico representa a intervenção do homem
sobre o meio, ou seja, um produto (que, dependendo da abordagem, pode também ser um produtor) das relações humanas
e suas práticas sobre o substrato natural.

Determinismo geográfico (Séc XIX)


O homem é considerado um produto do meio, portanto, a natureza seria o fator determinante do seu modo de vida.

194
Possibilismo geográfico (Início do Séc XX)
Seus defensores acreditam na possibilidade de haver influências recíprocas entre o homem e o meio natural, e que o homem
se adapta ao meio natural. Como ser racional, o homem é elemento ativo e, portanto, tem condições de modificar o meio
natural e adaptá-lo às suas necessidades.

Método regional (1940)


Método que enfatiza a diferenciação de área não a partir das relações entre o homem e a natureza, mas a partir da integra-
ção de fenômenos heterogêneos em uma dada porção da superfície da Terra.

KARL RITTER

Nova Geografia / Geografia quantitativa (1950)


Uso de técnicas estatísticas e matemáticas para analisar os dados coletados e as distribuições espaciais dos fenômenos.
Geografia Quantitativa.

Geografia Crítica (1960 - 70)


De orientação marxista.

KARL MARX

Procurava analisar primeiramente os processos sociais, e não os espaciais, o oposto do que se costumava praticar na geografia
teórica quantitativa.

195
CONCEITOS IMPORTANTES
Conceito de Lugar
“O homem não vê o universo a partir do universo, o homem vê o universo desde um lugar.”
MILTON SANTOS

As análises geográficas pautadas no conceito de lugar concebem o espaço analisado não de uma maneira direta ou racional,
mas por meio da compreensão humana e, muitas vezes, com base em valores afetivos ou de identidade.

Conceito de Paisagem
“Tudo aquilo que nós vemos, que a nossa visão alcança, é a paisagem [...]. Não apenas for-
mada de volumes, mas também de cores, odores, movimentos, sons, etc.”
MILTON SANTOS

Em algumas análises, a paisagem é diretamente definida como o “aquilo que a visão alcança” ou como o “mundo conforme
a sua aparência externa”. Portanto, a paisagem costuma ser definida como formas que se revelam diante dos nossos olhos
na produção do espaço geográfico.
Outras concepções desse modelo são apresentadas a partir da contestação desse conceito. Em muitas abordagens acadê-
micas, a paisagem é concebida não apenas a partir da visão, mas da multissensorialidade, ou seja, da utilização dos demais
sentidos (tato, olfato, paladar e audição). Além disso, a paisagem é, muitas vezes, reveladora de experiências e atrelada a
fatores da expressão humana e pessoais, o que lhe dá uma dimensão cultural.

PAISAGEM NATURAL PAISAGEM MODIFICADA

Conceito de Território
“[...] o território é um nome político para o espaço de um país. Em outras palavras, a existência de
um país supõe um território. Mas a existência de uma nação nem sempre é acompanhada da pos-
se de um território e nem sempre supõe a existência de um Estado. Pode-se falar, portanto, de territoria-
lidade sem Estado, mas é praticamente impossível nos referirmos a um Estado sem território.”
MARIA LAURA SILVEIRA E MILTON SANTOS

O território, um termo muito empregado no âmbito da política, é normalmente definido como uma área delimitada por
fronteiras. Entretanto, nem sempre essas fronteiras são visíveis ou bem delineadas. Na maioria das abordagens geográficas,
o conceito de território está relacionado a uma configuração de poder. É, por isso, uma área apropriada, uma porção do
espaçogeográfico onde uma relação hierárquica se estabelece.

Conceito de Região
Na Geografia, a região é definida como uma porção superficial designada a partir de uma característica que lhe é marcante
ou que é escolhida por aquele que concebe a região em questão. Assim, existem regiões naturais, econômicas, políticas, entre
muitas outras.
Portanto, a região não existe diretamente, mas é uma construção intelectual humana. No âmbito da Literatura, essa noção
está vinculada ao conceito de regionalismo, que expressa o conjunto de costumes, expressões linguísticas e outros valores
que apresentam variação entre uma região e outra, dando uma identidade coletiva para os diferentes lugares.

196
GEOLOGIA

As eras geológicas
A história geológica do planeta é dividida em fases chamadas eras geológicas, divididas em períodos.

Escala geológica
Datação (em
Era Período Eventos no Planeta Eventos no Brasil
milhões de anos)
ƒ Solidificação dos minerais e
formação das primeiras rochas
Azoica - cristalinas - 4500 a 3800
ƒ Inexistência de vida
ƒ Formação das rochas magmáti-
Arque- cas e metamórficas ƒ Formação das serras do Mar e da Man-
tiqueira 3800 a 2500
ozoico ƒ Formação dos escudos cristali-
Pré-cambriana nos
Protero- ƒ Formação das primeiras rochas ƒ Formação dos escudos brasileiro e guiano 2500 a 590
zoico sedimentares

Cambriano 590 a 500


Ordovi- ƒ Glaciação e diastrofismo 500 a 438
ciniano ƒ Formação das bacias sedimentares antigas,
ƒ Rochas sedimentares e do varvito de Itu (SP), e do carvão mineral
Siluriano metamórficas 438 a 408
Paleozoica do sul do Brasil
Devoniano ƒ Início da formação da bacia sedimentar do 408 a 360
Início do processo de formação do Paraná e do São Francisco
Carbonífero 360 a 286
carvão mineral
Permiano - 286 a 248
Triássico 248 a 213
ƒ Formação das bacias sedimentares do
Paraná, Sanfranciscana e do meio Norte
Jurássico 213 a 144
ƒ Grande atividade vulcânica ƒ Formação das ilhas de Trindade, Martin Vaz
Mesozoica e do arquipélago de Fernando de Noronha
ƒ Formação de baciais sedimen- e Penedos de São Pedro e São Paulo
tares
Cretáceo ƒ Derrames basálticos na região Sul 144 a 65

ƒ Fomação do planalto arenito basáltico

Formação das grandes cadeias de


Formação da bacia sedimentar (Ex.: bacia sedi-
Terciário montanhas (dobramentos moder- 65 a 2
Cenozoica mentar Amazônica)
nos)
Quaternário Surgimento do homem moderno Formação da bacia sedimentar do Pantanal 2 a hoje

A ESTRUTURA DA TERRA
ƒ Litosfera – camada sólida da Terra formada por minerais e rochas, também chamada de crosta terrestre. Para fins eco-
nômicos, sua utilização limita-se a poucos quilômetros de profundidade, de onde são extraídas algumas riquezas minerais.
ƒ Hidrosfera – camada líquida formada por oceanos, mares, rios e aquíferos, lagos subterrâneos e água. Os interesses do
homem limitam-se a mais ou menos mil metros de profundidade.
ƒ Atmosfera – camada gasosa, formada por uma mistura de gases (oxigênio, gás carbônico e nitrogênio). Ela envolve a Terra
e a protege. É dividida em cinco camadas: troposfera, estratosfera, mesosfera, ionosfera e exosfera. A troposfera é a mais
importante, mais próxima da superfície terrestre (onde vive o homem e ocorrem quase todos os fenômenos metereológicos).

197
ƒ Biosfera – é o conjunto de todos os ecossistemas da Terra; ela inclui a biota e os compartimentos terrestres com os quais a
biota interage (Litosfera, Hidrosfera e Atmosfera).

As camadas da estrutura interna da Terra


A estrutura da Terra é formada por camadas de diferentes formações químicas (modelo 1) e físicas (modelo 2).

1) MODELO BASEADO NA COMPOSIÇÃO 2) MODELO BASEADO NA RIGIDEZ DOS MATERIAIS


DOS MATERIAIS DO INTERIOR DA TERRA. DO INTERIOR DA TERRA. (B) MAGMA PASTOSO
(A) LITOSFERA OU CROSTA TERRESTRE

Os dados que se tem a respeito do interior da Terra foram obtidos através de perfurações para extrair petróleo, e não ultra-
passam os 5 mil metros ou 6 mil metros de profundidade. Essas perfurações são executadas em bacias sedimentares, não
alcançando as estruturas rígidas mais profundas.
A divisão da estrutura da Terra foi baseada principalmente nos estudos sobre abalos sísmicos, pois o comportamento das
ondas sísmicas altera-se na passagem de uma camada para a outra em função da natureza dos materiais.

O modelo atualmente aceito da estrutura interna do planeta revela três grandes camadas: o núcleo (NiFe), o manto e a crosta
terrestre (litosfera).

Núcleo
Acredita-se que o núcleo da Terra, formado por níquel e ferro, possua uma divisão entre núcleo externo e núcleo interno.
Provavelmente o núcleo externo encontra-se no estado líquido, envolvendo o núcleo interno que, por estar submetido a altas
pressões, esteja no estado sólido, exibindo temperaturas superiores a 5.000 ºC.

Manto
O manto, encontrado em estado pastoso ou magmático, é responsável por 80% do volume total do planeta. As perturba-
ções geológicas que atingem a crosta, como terremotos e vulcanismos, são provocadas pela pressão exercida por ele. Para
entender melhor: o magma (composto essencialmente de silicatos de magnésio), que é expelido pelas erupções vulcânicas,
é componente do manto. O manto terrestre estende-se desde cerca de 30 km de profundidade até 2.900 km abaixo da
superfície (transição para o núcleo).

Crosta terrestre
A crosta terrestre é subdividida em duas camadas ou crostas: a crosta oceânica ou inferior (de constituição basáltica, com predo-
mínio de silicatos de magnésio e ferro – SIMA), que recobre toda a superfície do planeta, e a crosta continental ou superior, que
fica sobre a oceânica. Na crosta continental predominam silicatos de alumínio (SIAL), com espessura que varia de 30 a 70 quilô-
metros. É formada de rochas – granitos, migmatitos, basaltos e rochas sedimentares –, semelhantes às que afloram na superfície.

198
A GÊNESE DAS ROCHAS
Sua origem pode ser orgânica ou inorgânica e apresentam composição química definida.
As rochas se classificam em três grandes grupos conforme sua origem e características minerais de textura:

Rochas magmáticas ou ígneas


Exemplo: granito, basalto.
As rochas magmáticas foram formadas em ambiente com temperaturas muito elevadas, o que permitiu a existência de
materiais rochosos em fusão (magma). Formadas pela lenta solidificação (cristalização) do magma pastoso.
ƒ Rochas intrusivas ou plutônicas ƒ Rochas extrusivas ou vulcânicas

GRANITO BASALTO

Rochas sedimentares
Exemplo: calcário, arenito.
As rochas sedimentares podem ser provenientes da erosão de rochas preexistentes e da precipitação de substâncias ou,
ainda, de material correspondente a conchas e esqueletos de organismos mortos.

ARENITO EM PARIA CANYON-VERMILLION CLIFFS WILDERNESS, ARIZONA, EUA.

Sedimentação num lago


ou num mar

Mais recente
Mais antiga

ILUSTRAÇÃO DE BACIA SEDIMENTAR, LOCAL DE OCORRÊNCIA


DAS ROCHAS SEDIMENTARES.

Rochas metamórficas
Exemplo: mármore, calcário. Elas são provenientes das transformações (metamorfismos) sofridas pelas rochas mag-
máticas, pelas rochas sedimentares ou por outras rochas metamórficas. Essas mudanças ocorrem em função das
condições de temperatura e pressão no interior da Terra.

199
GEOLOGIA DO BRASIL E EXPLORAÇÃO MINERAL

AS MACROESTRUTURAS E SUAS CARACTERÍSTICAS


As macroestruturas do relevo terrestre estão representadas pelos escudos cristalinos, pelas bacias sedimentares e pelas cadeias oroge-
néticas; esta última não ocorre no território brasileiro.

Escudos cristalinos
Exemplo: Quadrilatero ferrífero (MG), Serra dos Carajós (PA).
Constituído durante o período Pré-cambriano.
Basicamente, é a porção das placas continentais que, durante um período mínimo de 100 milhões de anos, não sofre ações
diretas do tectonismo e do vulcanismo, o que caracteriza a sua estabilidade. É composto de rochas cristalinas (magmáticas
e metamórficas).
Os escudos são divididos em dois tipos principais de estruturas: os crátons cristalinos e as plataformas.

Bacia sedimentar
As bacias sedimentares começaram a se constituir efetivamente na era Paleozoica. Correspondem a 64% da estrutura
geológica brasileira – Amazônica, Meio Norte (Maranhão e Piauí) e Paranaica (Paraná).

Durante esse processo de constituição das bacias sedimentares muitos corpos ou restos de animais mortos e materiais
orgânicos foram “enterrados” pelos sedimentos que foram depositados no fundo dos oceanos. E, conforme as condições de
temperatura e pressão, parte dos restos desses materiais foi conservada, e deu origem aos fósseis.
Contudo, quando a pressão e as temperaturas (geralmente influenciadas pelo aquecimento provocado pelas camadas mais
baixas da Terra) são elevadas, a tendência é que esses restos orgânicos passem pelo processo de litificação e se tornem líquido.
Assim, conforme as condições de armazenamento, esse material acumula-se e transforma-se em petróleo.

200
Cadeias orogenéticas: dobramentos modernos

CADEIAS DO HIMALAIA

Os dobramentos modernos, também conhecidos como cadeias orogênicas ou cinturões orogênicos, são estruturas geológicas
que resultaram das ações do tectonismo e correspondem à formação de cadeias montanhosas, que apresentam as maiores
altitudes do planeta. Em geral, são compostos por rochas magmáticas e metamórficas. Como exemplo temos a Cordilheira dos
Andes, na América do Sul, e a Cordilheira do Himalaia, na Ásia, onde se encontra o monte Everest.
Do ponto de vista do tempo geológico, os dobramentos modernos são considerados de origem recente, com cerca de 250
milhões de anos.

Figura A Figura B

AÇÕES TECTÔNICAS DAS PLACAS CONVERGENTES

Combustíveis fósseis
Petróleo
O termo petróleo, a rigor, envolve todas as misturas naturais de compostos de carbono e hidrogênio, os chamados hidrocar-
bonetos, que incluem o óleo e o gás natural, embora seja também empregado para designar somente os compostos líqui-
dos. Na natureza ele ocupa os vazios existentes entre grãos de areia e rocha, ou pequenas fendas com intercomunicações.
Sua formação ocorre em regiões deprimidas da crosta terrestre depois do acúmulo de sedimentos trazidos pelos agentes
erosivos. A teoria mais aceita é a de sua origem orgânica, ou seja, da deposição de matéria orgânica e do seu consequente
soterramento em condições de falta de oxigênio, altas pressões e temperaturas.

Gás Natural
Se os materiais provenientes de plantas e animais são enterrados em profundidade e temperatura suficientes, elesse trans-
formam quimicamente em petróleo e gás natural. No Brasil, a produção de gás Natural se dá predominantemente no estado
do Rio de Janeiro (52%). Amazonas (19%), Bahia (9%) e Rio Grande do Norte (9%) também são estados produtores.

Carvão mineral
O carvão mineral, além de ser insuficiente no Brasil, apresenta baixo teor colorífico, alto teor de umidade, cinzas e sulfeto de
ferro. No Brasil, Santa Catarina (62,8%), Rio Grande do Sul (36,4%) e Paraná (0,8%) são os estados produtores.

201
GEOMORFOLOGIA: FORÇAS ESTRUTURAIS E ESCULTURAIS

A DINÂMICA DO RELEVO
Os agentes modificadores do relevo podem, certamente, ser divididos em dois grandes grupos, de acordo com as origens de
suas ações: os agentes estruturais (internos) e os agentes esculturais (externos).
Os agentes estruturais, como o tectonismo, o vulcanismo e os abalos sísmicos ocorrem no interior da Terra e atuam de forma
temporária e concentrada.
Os agentes esculturais, como o intemperismo, as águas correntes, o mar, o vento, os animais, o homem, modificam externamente
a crosta terrestre e atuam de forma constante.

Teoria da tectônica de placas: o tectonismo


Os movimentos convergentes correspondem ao choque de duas placas tectônicas que se movimentam uma no sentido
da outra, como é o caso na cordilheira dos Andes, na América do SuL. No movimento divergente, as placas tectônicas,
quando se afastam, formam regiões geradoras de placas. A principal consequência disso é a abertura do oceano Atlântico.

Dorsal
Médio-Atlântica

Placa ricana Euro Placa


-Asi
Ame ática
Norte-

DORSAL MESOATLÂNTICA

Limites transformantes – um tipo de limite entre placas tectônicas em que elas deslizam e roçam uma na outra. Normal-
mente não há nem destruição nem criação de crosta.

AGENTES INTERNOS (ESTRUTURAIS)


Vulcanismo
Tectonismo ou diastrofismo
Orogênese
São os movimentos geológicos que levam à formação de montanhas ou cadeias montanhosas.
Epirogênese
Lento movimento de subida e descida de grandes porções da crosta.

Sísmicos
Terremoto ou abalo sísmico é uma vibração da superfície terrestre.

202
AGENTES EXTERNOS (ESCULTURAIS) Marinha ou abrasão
Duas formas básicas: o intemperismo e a erosão. O intem- Erosão acelerada (Antrópica)
perismo é responsável pelo desgaste e/ou fragmentação
das estruturas e a erosão é responsável pelo transporte do
material desagregado pelo intemperismo. UNIDADES GEOMORFOLÓGICAS
Principais formas de relevo, relacionadas com a geomor-
Intemperismo fologia local:
Físico, químico e biológico.

Erosão (tipos)
Eólica (ventos)

ƒ Planícies;
ƒ Planaltos;
ƒ Depressões;
ƒ Montanhas;
ƒ Serras;
ƒ Escarpas;
ƒ Tabuleiros;
ƒ Chapadas;
TAÇA OU CÁLICE, EM PONTA GROSSA, PARANÁ ƒ Cuestas;
ƒ Inselberg.
Pluvial
Fluvial RELEVO SUBMARINO
Plataforma continental
Talude continental ou vertente continental
Região pelágica
Região abissal

O GRAND CANYON É UM EXEMPLO DE INTEMPERISMO FÍSICO COM GÊNESE FLUVIAL.

Glacial

203
SOLOS

GÊNESE DO SOLO
O solo é a camada superficial de terra arável dotada de vida microbiana. Pode ser espesso ou formado por uma delgada película.
As rochas que afloram na superfície do globo estão submetidas a ações modificadoras dos diversos agentes exodinâmicos. Um
dos processos mais importantes na formação dos solos é a alteração do material inicial, que fica no próprio local sem ser trans-
portado. O que pode ser solo também pode ser rocha decomposta. A diferença primordial é dada pelo estado mais avançado da
decomposição da rocha que não tem vida microbiana. Os solos possuem vida nascida geralmente com a alteração das rochas,
cujas associações vegetais desenvolvem-se com elas.
A pedogênese tem início com o aparecimento da vida microbiana.

O solo é o único ambiente em que se encontram reunidos em associação íntima os quatro elementos: domínios das rochas
(litosfera); domínio das águas (hidrosfera); domínio do ar (atmosfera); e domínio da vida (biosfera).
É um mundo vivo; pode ser jovem (de formação incompleta), adulto (bem formado), velho e morto (fóssil). Deve ser consi-
derado um quarto reino.

O solo é um ambiente poroso onde circulam a água e os gases; atmosfera do solo. Não há luz nem fotossíntese, predominando
os processo de respiração ou oxidação. Em consequência, os solos possuem menos oxigênio e muito mais CO2.
Siltes, areias e argilas apresentam proporções que determinam uma das características mais importantes do solo, a textura, que
determinará a facilidade ou não da penetração de raízes, a quantidade de água, a temperatura, a oração e o fluxo dos nutrientes.

204
Intemperismo e composição dos solos
O intemperismo é o conjunto de modificações físicas (desagregação) e químicas (decomposição) que as rochas sofrem ao
aflorarem na superfície da Terra.
Os fatores que controlam a ação do intemperismo são:
a) clima – que se expressa na variação sazonal da temperatura e na distribuição das chuvas;
b) relevo – que influencia no regime de infiltração e drenagem das águas pluviais;
c) flora e a fauna – que fornecem matéria orgânica para reações químicas e remobilizam materiais;
d) rocha – que, segundo sua natureza, apresenta resistência diferenciada aos processos de alteração intempérica;
e) tempo – que a rocha fica exposta aos agentes intempéricos.

Tipos de intemperismo
ƒ Intemperismo Físico;
ƒ Intemperismo Químico.

O relevo na formação dos solos


ƒ Infiltração;
ƒ Escorrimentos superficiais;
ƒ Temperatura e umidade.

O clima na formação dos solos


ƒ Temperatura;
ƒ Precipitação pluvial;
ƒ Deficiência e o excedente hídrico;
ƒ Latitude.

Na região amazônica: solos bastantes intemperizados, profundos, essencialmente cauliníticos, muito pobres quimicamente,
com reações bastante ácidas.
No Nordeste semiárido: solos pouco desenvolvidos, rasos ou pouco profundos, cascalhentos ou pedregosos e/ou com relativa
abundância de minerais primários pouco alterados e minerais de argila de elevada atividade coloidal.
Nos planaltos sulinos: solos com espessas camadas superficiais escuras e ricas em matéria orgânica.

Os organismos na formação dos solos


Microflora, macroflora, microfauna e macrofauna.

205
O tempo na formação dos solos
O tempo é o mais passivo dos fatores de formação.
A idade (cronologia) do solo é a medida dos anos transcorridos desde seu início até determinado momento, enquanto a
maturidade (evolução) é expressa pela evolução sofrida, manifestada por seus atributos em dado momento de sua existên-
cia. Dessa forma, alguns solos podem apresentar idade absoluta relativamente pequena e serem bem mais maduros do que
outros com idade absoluta bem maior.

CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS


Os solos estão agrupados em três categorias:

Zonais
Apresentam os horizontes (A, B e C) bem caracterizados.

Interzonais
Características do relevo local ou da rocha de origem.

Azonais
Referem-se aos solos cujas características não se apresentam bem desenvolvidas. São geralmente recentes e desprovidos
do horizonte B.
Quanto à origem, os solos podem ser:
ƒ Eluviais.
ƒ Aluviais.
ƒ Avermelhados.
ƒ Amarelados.
ƒ Claros.

HORIZONTES OU CAMADAS DO SOLO


Horizontes são seções horizontais isoladas encontradas no perfil do solo que sofreram a pedogênese.
Características: padrão granulométrico, composição mineralógica, hidratação e coesão.
Se bem formados, os solos apresentam horizontes, identificados pelas letras O, A, B e C e situados acima da rocha matriz (R):

206
SOLOS DO BRASIL
Os solos férteis de fato ocorrem em pequena quantidade e compreendem uma parcela relativamente restrita do território
brasileiro.
ƒ Espessura – profundos.
ƒ Origem – subdivide-se em: eluviais e aluviais.

Grupos de solos
ƒ Latossolos – profundos (espessos), lixiviados e áreas tropicais úmidas.
ƒ Litossolos – rasos, sem diferenciação de horizontes. Relevo acidentado (encostas) e áreas secas (sertão nordestino).
ƒ Podzólicos – pouco profundos, vermelhos ou amarelos, e típicos de climas úmidos frios.
ƒ Aluviões – O horizonte superficial é cinzento. Espalham-se por todo o país, preferencialmente nas várzeas.

Problemas dos solos brasileiros


ƒ Lixiviação.
ƒ Laterização.
ƒ Compactação.
ƒ Salinização.

A “CANGA” PODE SER OBSERVADA NA PARTE SUPERIOR DO SOLO.


ƒ Erosão.

VOÇOROCA NO INTERIOR PAULISTA

207
5.2.1. Combate à erosão e ao esgotamento dos solos
ƒ o terraceamento e as curvas de nível;
ƒ o reflorestamento;
ƒ o emprego de adubos e fertilizantes; e
ƒ a rotação de culturas e o pousio da terra.

SOLOS FÉRTEIS DO BRASIL


ƒ Terra-roxa.
ƒ Massapé ou massapê.
ƒ Salmourão.
ƒ Solos aluviais.

PRINCIPAIS TIPOS DE SOLOS DAS REGIÕES BRASILEIRAS

Regiões Tipos e características dos solos


Norte Solos rasos, formados por acumulação de sedimentos fluviais (litos solos aluvionais), com
presença de materiais orgânicos.
1. Várzea
Solos profundos (latossolos), ricos em óxido de ferro e alumínio (apresentando intensa
2. Tessos e terra firme laterização), ácidos, de baixa fertilidade e coloração vermelho-amarela.
Solos profundos (latossolos) argilosos, originários da decomposição do calcário e gnaisse –
massapé ou massapê – de cor escura devido à presença de materiais orgânicos; são férteis
Nordeste e utilizados principalmente no cultivo de cana-de-açúcar.
1. Zona da Mata Solos resultantes da decomposição do granito e gnaisse em clima semiárido; são rasos
2. Sertão nordestino e Agreste (litossolos) e ricos em sais minerais. No sertão, os solos são mais rasos e sujeitos à erosão
devido às chuvas que aparecem concentradas e torrenciais. No Agreste apresentam maior
profundidade e estão menos sujeitos à erosão.
Latossolos – solos profundos de cor vermelho-escuro e vermelho-amarelado, formados em
clima subúmido; apresentam lateritas; em geral, são pobres em materiais orgânicos. Cobertos
Centro-Oeste pelos cerrados, são usados principalmente para a pecuária. Solos de terra roxa – principal-
mente no sul de Mato Grosso do Sul, onde aparecem em manchas. Solos orgânicos nos vales
fluviais no sul de Mato Grosso do Sul e de Goiás.
Latossolos roxos – solos profundos com a presença de óxido de ferro. Ocorrem principal-
mente no Triângulo Mineiro e Nordeste de São Paulo.
Terra roxa – manchas de solo rico em materiais orgânicos, formado pela decomposição do
Sudeste
basalto e dotado de muita fertilidade. Ocorrem principalmente no Estado de São Paulo.
Salmourão – solo argiloso originado da decomposição de granito e gnaisse em clima úmi-
do. Aparece em áreas do planalto Atlântico.
Solos pouco desenvolvidos, rasos, de cor avermelhada, formados em clima subtropical e
originados de rochas ricas em ferromagnesianos, o basalto. São os solos da floresta Ar-
aucária; Solos lateríticos, rasos, muito meteorizados, ligados também à presença de basalto,
Sul
aparecem nas porções elevadas do planalto meridional, do Sudeste do Paraná até o Norte
do Rio Grande do Sul. Litossolos podzólicos de cor acinzentada, ricos em material orgânico
e pouco ácidos. São os solos da Campanha Gaúcha.

208
PROBLEMAS AMBIENTAIS MUNDIAIS

OSCILAÇÃO DECADAL DO PACÍFICO


A Oscilação Decadal do Pacífico (ODP) representa as alterações climáticas da Terra decorrentes das variações de temperatura
das águas do oceano Pacífico.
Uma positiva, quando as temperaturas são mais elevadas, e outra negativa, quando elas diminuem.
ODP positiva, a tendência mais considerável são manifestações climáticas do tipo El Niño, na costa do Peru, que costumam ser
mais intensas do que a média. Por outro lado, na ODP negativa, a tendência mais considerável são manifestações climáticas
do tipo La Niña, que costumam ser mais frequentes e intensas do que a média de acontecimentos climáticos desse tipo.
Anomalias.
Oscilação Interdecadal do Pacífico (OIP). Essas mudanças influenciam na pressão do ar, na temperatura do mar e na di-
reção do vento, fenômenos que podem durar de semanas a décadas, dependendo da oscilação.

El Niño
Aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico tropical, influenciando diretamente a distribuição da temperatura da super-
fície da água e o clima de diversas regiões do planeta.
Ventos alísios. O El Niño faz com que esses ventos soprem com menos intensidade, interrompendo a ressurgência e
provocando mudanças significativas nos climas de várias regiões.

Anomalia de temperatura da superfície do mar – dezembro de 1997

Esquema explicativo do funcionamento do El Niño

209
Influência do El Niño
Os Estados Unidos são afetados por secas intensas. Na Índia, as temperaturas sobem consideravelmente, e tempestades
torrenciais castigam todo o território australiano.

Efeitos do El Niño no Brasil


ƒ Norte.
ƒ Centro-Oeste.
ƒ Nordeste.
ƒ Sudeste.
ƒ Sul.

La Niña
Esquema explicativo do funcionamento do La Niña.

O La Niña é um fenômeno exatamente inverso ao El Niño. Em virtude do aumento da força dos ventos alísios, o La Niña
provoca o esfriamento irregular das águas do Pacífico. No Brasil, o La Niña causa intensificação das chuvas na Amazônia,
no Nordeste e em partes do Sudeste. Na América do Norte e na Europa, por exemplo, ocorre queda das temperaturas.

Aquecimento global
Causas do aquecimento global
Causa do aquecimento global é a intensificação do efeito estufa, fenômeno natural responsável pela manutenção, a
emissão dos chamados gases-estufa seria o principal problema em questão.
ƒ Dióxido de carbono
ƒ Gás metano
ƒ Óxido nitroso
ƒ Hexafluoreto de enxofre
ƒ CFC

O DIÓXIDO DE CARBONO (CO2) SERIA O GRANDE VILÃO DO AQUECIMENTO GLOBAL.

210
ƒ Desmatamento das florestas.
ƒ Poluição dos mares e oceanos.

Consequências do aquecimento global


ƒ aumento das temperaturas dos oceanos e derretimento das calotas polares;
ƒ eventuais inundações de áreas costeiras e cidades litorâneas em razão da elevação do nível dos oceanos;
ƒ aumento da insolação e radiação solar em razão do aumento do buraco na camada de ozônio;
ƒ intensificação de catástrofes climáticas – furacões, tornados, secas, chuvas irregulares, entre outros fenômenos meteorológi-
cos de difícil controle e previsão; e
ƒ extinção de espécies em razão das condições ambientais adversas para a maioria delas.

Como combater o aquecimento global?


Fontes renováveis e não poluentes de energia e diminuir significativamente ou mesmo abandonar o uso de combustíveis fósseis.
Conscientização social, diminuir a produção de lixo e estimular a reciclagem.
Preservação da vegetação dos grandes biomas e dos domínios morfoclimáticos.

GRANDES BIOMAS DO MUNDO

GRANDES BIOMAS DO MUNDO

MAPA COM OS PRINCIPAIS BIOMAS NO MUNDO

211
Definições e histórico
ƒ Ecossistema é um sistema integrado e autofuncionante que consiste em interações dos elementos bióticos e abióticos cujas
dimensões podem variar consideravelmente.
ƒ Bioma é um conjunto de vida (vegetal e animal) definida pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificá-
veis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, resultando em uma
diversidade biológica própria.

UMA CIDADE COMO LOS ANGELES PODE SER UM ECOSSISTEMA, MAS NÃO UM BIOMA.

Sistema de Holdridge

Florestas tropicais

ƒ Baixas altitudes e próximas do equador, entre os trópicos de Câncer (30o N) e Capricórnio (30o S). No Brasil: floresta
Amazônica e mata Atlântica.

212
ƒ 6% da Terra, abriga mais da metade das espécies de plantas e animais do planeta.

A DIVERSIDADE BIOLÓGICA É A GRANDE CARACTERÍSTICA DAS FLORESTAS TROPICAIS.

ƒ Maior produtividade biológica da Terra.


ƒ Árvores que alcançam entre 18 e 46 metros de altura.

Queda de folhas forma a serrapilheira, lixiviação, o solo de uma floresta tropical seja pobre em nutrientes.

FLORESTA ESTACIONAL NO OUTONO

213
Florestas temperadas
ƒ Entre os polos e os trópicos.
ƒ Decídua.
ƒ Florestas decíduas caducifólias.

ENTRE OS POLOS E OS TRÓPICOS, AS FLORESTAS TEMPERADAS


TÊM AS ESTAÇÕES DOS ANOS BEM DEFINIDAS.

ƒ Solos são abundantes em matéria orgânica


ƒ Poucas espécies de plantas.

Savanas

ƒ América do Sul, África e Austrália.


ƒ Longos períodos de seca com incidência de fogo.
ƒ A vegetação é herbácea com arbustos espaçados.
ƒ Bosques e campos.

214
Campos temperados
A vegetação é herbácea, geralmente baixa.
De todos os biomas, esse é o mais utilizado e transformado por ações humanas. Diversos alimentos são produzidos nesses
biomas, como arroz e milho, além da criação de bovinos para leite e corte.

A AGROPECUÁRIA CONFUNDE E MUDA A PAISAGEM DOS CAMPOS TEMPERADOS.

Desertos
ƒ Reduzida precipitação.
ƒ Áreas de alta pressão.
ƒ Clima é geralmente quente, embora existam desertos frios.
ƒ Oscilação de temperatura, que pode variar em até 30 °C entre a manhã e a noite.

OS DESERTOS POSSUEM POUCA VIDA ANIMAL E VEGETAL.

ƒ Vegetação é rara e espaçada.


ƒ Plantas perenes.

SAGUARO

ƒ A diversidade animal é pequena.

215
Taiga ƒ Círculo Polar Ártico, acima dos 57° N.
ƒ Um inverno longo e frio, com noites contínuas, e um
verão curto, com temperaturas amenas.

Chaparrais
ƒ Região do Mediterrâneo.
ƒ Califórnia.
ƒ México.
ƒ Floresta setentrional de coníferas. ƒ Chile.
ƒ Abaixo do Círculo Polar Ártico, limitando o domínio.
ƒ Estações bem distintas, com o predomínio do inverno
sobre o verão.

ƒ Arbustos e árvores de pequeno e médio porte.


ƒ O fogo é um fator ecológico relevante.

ƒ Árvores de conífera.

Tundra

MORADIA NA REGIÃO PRÓXIMA AO MAR MEDITERRÂNEO

Hotspots ambientais
Em biogeografia, hotspots são pontos ou manchas de altís-
sima biodiversidade.

ƒ Baixa temperatura.
ƒ Estações de crescimento curtas impedem o desenvolvi-
mento de árvores.
ƒ Líquenes, musgos, ervas e arbustos baixos. A MATA ATLÂNTICA É UM DOS HOTSPOTS AMBIENTAIS DA TERRA.

216
Existência de espécies endêmicas, isto é, restritas a um ecossistema específico, e grandes taxas de destruição do habitat.

OS 34 HOTSPOTS AMBIENTAIS DO MUNDO

CLASSIFICAÇÕES DO RELEVO

AS CLASSIFICAÇÕES DO RELEVO BRASILEIRO


A classificação de Aroldo de Azevedo

217
A classificação de Aziz Ab’Saber

A classificação de Jurandyr Ross

218
CONCEITUANDO AS Planalto em intrusões e coberturas
residuais de plataforma
FORMAS DE RELEVO ƒ Planalto e chapada do Parecis.

Planalto ƒ Planaltos residuais Norte-Amazônicos.

ƒ Planaltos residuais Sul-Amazônicos

PLANALTO EM FORMA DE SERRA (SERRA DA MANTIQUEIRA)

Planaltos em bacias sedimentares


ƒ Planalto da Amazônia Oriental.

ƒ Planaltos em cinturões orogênicos.


ƒ Planaltos e serras do Atlântico Leste-Sudeste.

ƒ Planaltos e chapadas da bacia do Parnaíba.

ƒ Planaltos e serras de Goiás-Minas.


ƒ Serras residuais do Alto do Paraguai.

Planaltos em núcleos
cristalinos arqueados
ƒ Planalto da Borborema.
ƒ Planaltos e chapadas da bacia do Paraná.

ƒ Planalto Sul-Rio-Grandense.

219
Feições de planaltos
ƒ Relevo cuestiforme.

FRENTE DE CUESTA DE BOTUCATU, SÃO PAULO, BRASIL

ƒ Relevo em chapada. MARES DE MORROS, ENTRE SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO

ƒ Coxilhas.

CHAPADA DIAMANTINA

ƒ Serra.
CANELA, RIO GRANDE DO SUL

Planície
ƒ Fluvial.
ƒ Fluvio-marinha.
ƒ Costeira.
ƒ Do Pantanal.

SERRA DA MANTIQUEIRA ƒ Amazônica.

ƒ Inselberg.

INSELBERG, PEDRA AZUL, MG

ƒ Mares de morro.
PLANÍCIE COSTEIRA, EM IPANEMA, RIO DE JANEIRO

220
PLANÍCIE DO PANTANAL MATO-GROSSENSE

Depressão
Formação de depressões relevantes na geomorfologia brasileira
ƒ Periférica.
ƒ Marginal.
ƒ Interplanáltica.
ƒ Relativa.
ƒ Absoluta.

DEPRESSÕES ABSOLUTA E RELATIVA

221
U.T.I. - Sala 5. (Comvest 2003 / Adaptado) identifique às formas de
relevo encontradas no bloco-diagrama, obedecendo à
sequência da ordem alfabética (A, B, C, D e E).
1. (AVAJ 2020) A ciência representa todo o conhecimen-
to adquirido através da pesquisa, estudo, ou da prática,
baseado em princípios certos. Ela pode ser definida a
partir de seus objetos de estudo e princípios metodo-
lógicos, relacionando – se aos fenômenos humanos
ou naturais. A geografia é muito importante para a
compreensão do mundo em que vivemos, pois é a ci-
ência que estuda o espaço geográfico e todas as suas
inter-relações (sociedade X natureza), o qual está em
constante transformação. Além do espaço geográfico,
as Categorias de Análise geográficas são conceitos fun-
damentais para a geografia, a exemplo da paisagem e 6. (IFSul-2019) “São formas do relevo mais ou menos
do território. Com base em seus conhecimentos sobre o planas ou suavemente onduladas, em geral de grande
assunto, defina essas categorias. extensão e que o processo de deposição de sedimentos
supera o de desgaste”.
2. (Adaptado - Uece) A partir da citação de E. Huntington :
ADAS, Melhem; ADAS, Sergio. Expedições Geográficas
“Os climas temperados são excelentes para a civilização...
(6º ano). São Paulo: Moderna, 2015. p. 109.
o calor excessivo, debilita... e o frio excessivo, estupidifi-
ca”. Indique qual a corrente do pensamento geográfico O fragmento de texto revela o conceito de qual forma
presente no texto e justifique sua resposta. de relevo?
3. (UFPR-2019) Os desastres naturais constituem um 7. (COPEVE / UFAL 2017) A figura mostra os processos
tema cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, tectônicos que formam o território japonês.
independentemente de residirem ou não em áreas de
risco. Ainda que num primeiro momento o termo nos
leve a associá-los com terremotos, tsunamis, erupções
vulcânicas, ciclones e furacões, os desastres naturais
contemplam, também, processos e fenômenos mais
localizados, tais como deslizamentos, inundações, sub-
sidências e erosão, que podem ocorrer naturalmente ou
induzidos pelo homem.
No [...] Brasil de uma forma geral, embora estejamos
livres dos fenômenos de grande porte e magnitude,
como terremotos e vulcões, é expressivo o registro de ac-
identes e mesmo de desastres associados principalmente
a escorregamentos e inundações, acarretando prejuízos
e perdas significativas, inclusive de vidas humanas.
(TOMINAGA et al., 2009.) O mergulho das placas tectônicas mostrado na figura
representa o movimento de placas do tipo:
Nos textos os autores afirmam que o Brasil está livre
de fenômenos como terremotos e vulcões. Justifique 8. (AVAJ / Modificada)
essa afirmativa.

4. (UEPI) A Teoria da Tectônica de Placas explica diversos


tipos de estrutura verificados na Litosfera. Observe a
ilustração a seguir.
De acordo com essa teoria, esse desenho esquemático
ilustra o (a):

Fonte: http://geoconexaomundo.blogspot.com.br/2012/08/
charges-aquecimento-global.html. Acesso em: 26-03-20
Que praticas seriam mais viáveis para minimizar o efeito
acelerado do aquecimento global provocado pelas ativi-
dades da civilização moderna?

222
9. (IESES 2017 / adaptada) COMPACTAÇÃO

ROCHA SEDIMENTAR

O esquema acima é chamado de diagênese, que des-


creve o processo de formação das rochas sedimentares.
Discorra sobre esse processo.

2. As bacias sedimentares se formaram a partir da era


Paleozoica, entrando também pela Mesozoica e pela
Cenozoica. Nesses terrenos, encontramos recursos com-
bustíveis fósseis, como o petróleo, o gás natural e o car-
vão mineral. A partir dos seus conhecimentos, explique
a formação do petróleo em áreas oceânicas.
Fonte: https://slideplayer.com.br/
slide/15455465/, acesso em:27-03-20
3. A chuva é um dos agentes erosivos mais ativos, pois
Sobre o perfil dos solos, caracterize cada horizonte do solo: provoca enchentes e enxurradas. Dependendo do grau
de intensidade das chuvas, ocorre erosão pluvial do
tipo superficial, laminar, de sulcos e de ravinamento.
10. (COPEVE/ UFAL 2017)

A figura anterior representa um processo de erosão. De-


fina esse processo e explique por que ele ocorre.

4. Analise a charge e responda à questão a seguir.

As figuras mostram uma forma de identificar quais sis-


remas de dobras?

U.T.I. - E.O.
1.
EROSÃO

TRANSPORTE

DEPOSIÇÃO
Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/-
uMjY1GOwDic/TwM9u81ySLI/AAAAAAAADUE/
BxkMN-hoCYc/s400/image040.gif>

SEDIMENTAÇÃO O cartunista satiriza a ordem mundial do pós-Guerra


Fria, cuja principal característica é a hegemonia do cap-
italismo mundializado.
Descreva as diferenças dos países centrais e periféricos.

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