Uti CH Volume1
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Uti CH Volume1
Você está recebendo o primeiro livro da Unidade Técnica de Imersão (U.T.I.) do Hexag Vestibulares.
Este material tem o objetivo de retomar os conteúdos estudados nos livros 1 e 2, oferecendo um
resumo estruturado da teoria e uma seleção de questões dissertativas que preparam o candidato
para as provas de segunda fase dos principais vestibulares. Além disso, as questões dissertativas per-
mitem avaliar a capacidade de análise, organização, síntese e aplicação do conhecimento adquirido.
É também uma oportunidade de o estudante demonstrar que está apto a expressar suas ideias de
maneira sistematizada e com linguagem adequada.
Aproveite este caderno para aprofundar o que foi visto em sala de aula, compreender assuntos que
tenham deixado dúvidas e relembrar os pontos que foram esquecidos.
Bons estudos!
Herlan Fellini
SUMÁRIO
HISTÓRIA
HISTÓRIA GERAL 73
HISTÓRIA DO BRASIL 101
GEOGRAFIA
GEOGRAFIA 1 151
GEOGRAFIA 2 193
71
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2020
Todos os direitos reservados.
Autores
Eduardo Antôno Dimas
Tiago Rozante
Alessandra Alves
Vinicius Gruppo Hilário
Márcio Cavalcanti de Andrade
Diretor-geral
Herlan Fellini
Diretor editorial
Pedro Tadeu Vader Batista
Coordenador-geral
Raphael de Souza Motta
Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva
Imagens
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ISBN: 978-85-9542-129-5
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HISTÓRIA GERAL
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ANTIGUIDADE ORIENTAL
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de homem e animal. As principais divindades eram: Osíris, Primeiro Império Babilônico
Amon-Rá, Isis, Hórus, Ápis e Anúbis. (1800-1600 a.C.)
Para os egípcios, a morte apenas separava o corpo da alma. Hamurábi foi um dos primeiros reis babilônicos (1728-
Por isso, era preciso conservar o corpo. Com essa finalidade, 1686 a.C.). Ampliou o Império e foi sobretudo um legis-
os egípcios desenvolveram técnicas de mumificação. lador, responsável pelo primeiro código de leis que se
conhece: o Código de Hamurábi.
Ciência e arte
Império Assírio (1875-612 a.C.)
Com origem por volta de 1800 a.C., o Império Assírio teve
seu período de maior expansão entre 883 e 612 a.C., con-
quistando a Síria e o Egito. O Império Assírio chegou ao
fim com a invasão e o domínio dos medos.
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A luta pela reconquista da Palestina desencadeou um pro-
cesso de unificação das tribos hebraicas e centralização polí-
Sociedade e economia
tica, cujo desfecho foi a fundação do reino de Israel. Na Fenícia, a agricultura cedeu lugar ao comércio, à pesca
e a um rico artesanato. As vastas florestas de cedros e
As relações comerciais com a Fenícia foram intensificadas. os bons portos naturais favoreceram a atividade marítimo-
A morte do rei Salomão, em 933 a.C., desencadeou uma -comercial. Isso fez dos fenícios os principais navegantes
crise política conhecida como o cisma hebraico, resul- e comerciantes da antiguidade. Era uma sociedade de
tando na divisão do reino em duas partes: o Reino de Judá castas constituída por sacerdotes, aristocratas, comerciantes,
(duas tribos), situado ao sul, e o Reino de Israel (dez tri- homens livres e escravos.
bos), localizado no norte. Em 722 a.C., o Reino de Israel
A Fenícia não constituiu um Estado unificado com um go-
foi conquistado por Sargão II e transformado em província
verno centralizado. Agrupavam-se em cidades-Estado,
do Império Assírio. O Reino de Judá foi conquistado por
de governo autônomo e soberano.
Nabucodonosor em 587 a.C. O Templo de Jerusalém foi
destruído e os hebreus foram levados como escravos para
a Babilônia (Cativeiro da Babilônia). Cultura e religião
Em 539 a.C. termina o Cativeiro da Babilônia. Os he- A religião era politeísta, de divindades associadas às forças
breus retornam à Palestina, reconstroem o Templo de da natureza. A principal contribuição dos fenícios foi a in-
Jerusalém e se tornam parte do Império Persa. Situados venção do alfabeto fonético. Criaram 22 sinais dos sons
nos territórios da antiga tribo de Judá, os habitantes das palavras. Com as vogais, tornou-se o alfabeto grego.
dessa região passaram a ser chamados de judeus.
Os judeus foram dominados por vários povos. Em 63 a.C.,
a Palestina foi conquistada por Pompeu e transformada em
IMPÉRIO PERSA
província do Império Romano. Em 70 d.C., os judeus se Dois grupos arianos ocuparam o Irã a partir de 2000 a.C.,
rebelaram contra o domínio dos romanos, que destruíram os medos e os persas. Tornaram-se pequenos reinos rivais
Jerusalém, inclusive o Templo, e expulsaram os judeus da no século VIII a.C.. No século VI a.C., Ciro I, rei dos persas,
Palestina. A dispersão dos judeus pelo mundo ficou conhe- conquistou o Reino da Média, provocando a unificação po-
cida como Diáspora. lítica dos povos do Planalto Iraniano em 550 a.C.
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GRÉCIA
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Política Em 507 a.C., ocorreu uma insurreição do partido popular
(demos) e a ascensão de Clístenes ao governo de Atenas.
A economia e sociedade imobilistas explicam o governo
espartano menos progressista e mais conservador.
A democracia ateniense
Apenas uma minoria de cidadãos, os esparciatas, par-
ticipava do governo oligárquico, os homoioi (iguais). Clístenes, apesar de sua origem aristocrática, traçou um
Seu objetivo fundamental era conservar o status quo, governo baseado na isonomia, a igualdade dos cidadãos
a situação vigente de privilégios da aristocracia e de perante a lei. A primeira medida foi a divisão da popula-
dominação sobre os escravos. ção da Ática em três zonas: o litoral (parália), o interior
(mesógia) e a cidade (ásty). Cada uma dessas zonas foi
Esparta regrediu culturalmente com as mudanças es-
dividida em dez unidades. Da reunião das unidades de
truturais do século VII a.C. O governo passou a esti-
cada zona formou-se uma tribo, totalizando dez tribos. A
mular o laconismo: falar tudo em poucas palavras,
o que limitava a capacidade de raciocínio e o espírito menor unidade de divisão eram as demos, base desse sis-
crítico dos falantes. tema de governo, razão pela qual a reforma de Clístenes
ficou conhecida pelo nome de democracia.
Rigidamente militarista, a educação dos esparciatas con-
tribuía significativamente para a manutenção dessa es-
trutura política e social fechada. Aos sete anos de idade, Período Clássico (séc. V e IV a.C.)
os meninos eram entregues aos cuidados do Estado para Período de hegemonias e imperialismo no mundo grego.
que tivessem uma rígida educação militar. Dos dezoito Atenas foi a primeira potência dominante, seguida por Es-
aos sessenta anos, serviam no exército. Só depois dos parta e Tebas. A vitória dos gregos nas guerras médi-
trinta anos, quando então recebiam seu lote de terra e cas ou pérsicas projetaram a hegemonia ateniense até a
passavam a ser cidadãos, poderiam casar.
Guerra do Peloponeso. Filipe II anexou o mundo grego ao
A fim de evitar mudanças radicais e de garantir o domí- Reino da Macedônia e, na fase seguinte, ao Império Helê-
nio da minoria dória sobre a maioria escrava, Esparta nico de Alexandre Magno.
permaneceu nesse sistema até o século IV a.C.
A hegemonia de Atenas (443-429 a.C.)
A cidade-estado democrática, Atenas. Atenas alcançou seu apogeu sob o governo de Péricles.
Atenas foi fundada numa planície, a Ática, uma península O controle do mar Egeu, o comando da Confederação de
do mar Egeu. Os atenienses se consideravam originários Delos e a prosperidade econômica contribuíram para o
dos povos aqueus, eólios e jônios. fortalecimento do partido democrático formado pelos ricos
comerciantes e armadores. Sob a direção desse partido,
A economia de Atenas, no século VIII a.C., era ainda essen-
Atenas desenvolveu, ao mesmo tempo, uma política de-
cialmente rural. Mas atividades artesanais e comerciais já
mocrática e imperialista.
ultrapassavam os limites da Ática. A proximidade de Ate-
nas do mar Egeu abriu-a a influências externas, facilitou
sua participação no movimento de colonização e transfor-
mou-a numa pólis de navegadores e comerciantes.
Os eupátridas, grandes proprietários de terras, eram a
camada social dominante. Os georgois eram agriculto-
res donos de terras pouco férteis perto das montanhas. Os
thetas eram os marginalizados (recebiam menos de 200
medimnos por ano).
Na região litorânea, concentravam-se os artesãos (demiur-
gos), trabalhadores livres. Cerca de 100 mil estrangeiros
residiam em Atenas, os metecos, dedicados ao artesanato PARTENON
e ao comércio. A maioria da população de Atenas era de es-
cravos, que desempenhavam todas as atividades manuais. A Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.)
A primeira forma de governo de Atenas foi a monarquia ou A Grécia foi assolada por uma terrível guerra, envolvendo
realeza. No século VII a. C. ocorreu a substituição da realeza todas as cidades-Estado gregas. A disputa era entre a Liga
pelo arcontado, órgão de caráter executivo. Assim o regime do Peloponeso, liderada por Esparta, e a Confederação de
de governo passou de monárquico para oligárquico. Delos, por Atenas.
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Essa disputa entre as duas pólis foi se tornando tão acir- Atenas abrigou alguns dos maiores pensadores e artistas
rada que desembocou em um conflito de grandes propor- que a humanidade conheceu.
ções. No final do conflito, do qual Esparta saiu vencedora, a A filosofia grega divide-se em antes e depois de Sócrates.
Grécia se encontrava materialmente arrasada, com grande Foram pré-socráticos: Tales de Mileto (fim do século VII-in-
diminuição de sua população masculina mais jovem e en- ício do século VI a.C.); Pitágoras (582-497 a.C.); Demócri-
fraquecida militarmente. Esparta, assim como Atenas, ado- to (460-370 a.C.); Heráclito (535-475 a.C.); e Parmênides
tou uma política imperialista. (540-? a.C.). No tempo de Sócrates, predominava a escola
dos sofistas, que se serviam da reflexão para atingir fins
Período Helenístico (séc. IV-I a.C.) imediatos, ainda que por falsos argumentos. O maior dos
sofistas foi Protágoras.
No século IV a.C., Filipe apoderou-se da Grécia. Conhece-
dor do individualismo das cidades-Estado e de muita astúcia Sócrates (470-399 a.C.) – fundou a filosofia humanista.
política, respeitou-lhes a autonomia. Assim, foi proclamado Platão (427-347 a.C.) – principal discípulo de Sócrates,
hegemon (líder), com o direito de chefiar uma liga contra os fundou a Academia de Atenas.
persas, a Liga de Corinto.
Aristóteles (384-322 a.C) – considerado por muitos o
Filho de Filipe II, Alexandre Magno assumiu o trono maior filósofo de todos os tempos, compreendeu todos os
com uma Macedônia organizada e bem armada pelo exér- conhecimentos de seu tempo: Lógica, Física, Metafísica,
cito, usou de violência e arrasou as cidades gregas, exceto Moral, Política, Retórica e Poética.
Atenas. Como líder supremo do helenismo, deveria libertar
Marcada pela harmonia, a simplicidade, o equilíbrio e uma
as cidades da Ásia e levar os gregos à vingança contra os
decoração perfeitamente adaptada ao conjunto, a arte
persas. Alexandre rumou para a Ásia com 40 mil homens, 12
grega era religiosa e manifestada em templos e esculturas
mil dos quais na infantaria, o forte de seu exército.
representando deuses e passagens mitológicas.
Recusou o acordo de paz oferecido por Dario III, derrotou-o
em pleno centro do Império Persa em 331 a.C. Já impera-
dor persa, avançou para a Índia, percorreu a região do rio
Indo e só não chegou ao Ganges porque os soldados recu-
saram-se ir com ele. Aos 33 anos, morreu na Babilônia em
323 a.C., deixando um dos mais vastos impérios já criados.
CULTURA E RELIGIÃO
Os gregos eram politeísta: cultuavam grandes deuses, que
habitavam o Olimpo, e os heróis, homens que praticaram
ações extraordinárias e se igualavam aos deuses. Mito-
logia é o conjunto dos mitos, as lendas que contam as
aventuras de deuses e heróis.
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ROMA: MONARQUIA E REPÚBLICA
ORIGENS Roma teve sete reis, dos quais os quatro primeiros foram
latinos, e os três últimos, etruscos, de acordo com a tradição
Acredita-se que Roma tenha sido fundada por latinos em lendária. Durante o período de reinado etrusco, houve uma
fuga das invasões etruscas. Roma era um pequeno povo- série de tentativas dos reis de limitarem o poder patrício ao
ado na península Itálica influenciado por diversos povos. se aliarem a setores populares. Tarquínio, o Antigo (616-578
a.C.), iniciou a construção de grandes obras públicas. Sérvio
O poeta Virgílio, em sua obra Eneida, leva a crer na mítica
Túlio (578-534 a.C.) edificou a primeira muralha de Roma e
fundação de Roma por Rômulo e Remo, descendentes do
estabeleceu um regime censitário, dividindo a população em
guerreiro troiano Enéas.
cinco categorias sociais de acordo com sua renda.
Por fim, o terceiro rei etrusco, Tarquínio, o Soberbo, edificou
o Templo de Júpiter e construiu a Cloaca Máxima (sistema
de esgoto de Roma). Governou com o apoio dos plebeus
e latinos inimigos dos patrícios. Dessa forma, manteve os
patrícios praticamente fora do poder político decisório das
cidades. Em razão disso, os patrícios conspiraram e o der-
rubaram por meio de um golpe de Estado, no ano 509 a.C.
MONARQUIA (SÉC. VIII-VI A.C.) O Senado era, sem dúvida, uma das mais importantes
instituições da República, pois praticamente detinha o po-
Da fundação de Roma até a implantação da República, exis- der, apesar das demais instituições. Era composto por 300
tiu um governo monárquico, em que o rei (rex) tinha função senadores de origem patrícia. Entre outras tarefas, cabia-
de chefe supremo, sumo sacerdote e juiz, poderes esses de -lhes eleger os magistrados, autorizar ou não a concessão
origem divina. A realeza apoiava-se no Imperium (comando das honras do triunfo aos generais vencedores, conduzir a
supremo) e no Auspicium (conhecimento da vontade divi- política externa, administrar as províncias, dar seu parecer
na). Os chefes das principais famílias patrícias assessoravam sobre a escolha de um ditador e zelar pela tradição e pela
o rei e compunham o Conselho de Anciãos e o Senado. religião, além de supervisionar as finanças públicas
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Os mais altos magistrados eram os cônsules, respon-
sáveis pelo comando do exército e pelo controle da
Conquistas, a expansão romana
administração, além de exercer o Poder Executivo. Par- A dominação da península Itálica constitui a primeira fase
ticipavam das reuniões do Senado e propunham leis. das conquistas romanas. Inicialmente, dominaram as tribos
latinas próximas de Roma. A conquista da Campânia, em
Seriamente discriminados, os plebeus recebiam sempre a 290 a.C., região ameaçada pelos samnitas, abriu as portas
menor parte dos espólios de guerra; se precisassem contrair para a conquista das cidades gregas do sul da Itália. Poste-
empréstimos, não conseguiam pagar os juros; julgados por riormente, Roma subjugou o norte (Etrúria), cujos domínios
magistrados patrícios e com base em leis orais, os devedo- compreendiam a Itália central e parte da Itália setentrional.
res acabavam escravizados por dívida. Há indícios de cinco Os romanos demonstraram um talento notável para conver-
revoltas levadas a cabo pelos plebeus, entre 494 e 287 a.C. ter antigos inimigos em aliados e finalmente cidadãos roma-
Primeira revolta (494 a.C.) – a primeira greve de nos, ao estender seu domínio sobre a península Itálica.
caráter social da História, em razão da qual os patrí-
cios tiveram de conceder a criação dos tribunos da As guerras púnicas
plebe, magistrados que atuavam em defesa
dos direitos e interesses da plebe no Sena-
do. Em 471 a.C., os plebeus constituíram a Assem-
bleia da Plebe para eleger seus tribunos, o que
aumentou seu poder de veto e de ação.
Segunda revolta (450 a.C.) – os patrícios enviaram
representantes a Atenas para estudar as leis com a
promessa de resolver os problemas da plebe. O re-
sultado foi a criação do primeiro código de direito
escrito em Roma, a Lei das Doze Tábuas. A plebe
conseguiu que as leis votadas em sua Assembleia ti-
vessem validade, mesmo dependendo da aprovação
do cônsul ou do Senado. DISPONÍVEL EM: <HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/
GUERRAS_PÚNICAS>. ACESSO EM: 22 DEZ. 2015.
Terceira revolta (445 a.C.) – a Lei das Doze Tábuas
manteve a proibição de casamento entre patrícios e Roma travou longa guerra contra Cartago, outra grande
plebeus, o que levou os plebeus a se revoltarem pelo potência do Mediterrâneo ocidental, assim que consoli-
fim da proibição, conscientes de que os casamentos dou sua supremacia na Itália. Fundada em 800 a.C. pelos
mistos quebrariam a tradição patrícia de exercer o fenícios, a cidade norte-africana tornara-se um próspero
entreposto comercial. Um império que abrangia a África
poder com exclusividade. A reivindicação foi atendida
do Norte, as regiões do litoral meridional da Espanha, a
com a Lei Canuleia, mas apenas para os plebeus
Sardenha, a Córsega e a Sicília ocidental.
que tinham mais posses.
O confronto romano-cartaginês acabou se transformando
Quarta revolta (367-366 a.C.) – a pressão da plebe numa disputa pela hegemonia marítimo-comercial no Me-
resultou na Lei Licínia Sextia, promulgada pelo diterrâneo ocidental e desdobrou-se em três guerras púnicas.
senado romano, obrigando que, a cada ano, um dos
Em seguida, os romanos ocuparam a Espanha e a Gália do
dois cônsules fosse um plebeu. Mais tarde, em 326
sul, constituindo a província da Gália. A conquista da região
a.C., foi abolida a escravidão por dívidas por meio do Mediterrâneo Oriental foi completada por uma rápida
da Lei Papiria Poetelia. sucessão de campanhas militares. No fim do século I a.C.,
Quinta revolta (287-286 a.C.) – os plebeus conse- o Mediterrâneo havia se transformado num “lago romano”
guiram impor aos patrícios a validade das leis vota- (mare nostrum = nosso mar). Foram também conquistados
das na Assembleia da Plebe para todo o Estado: era os reinos do Ponto, Bitínia, Síria, Egito, Macedônia e Grécia.
a decisão da plebe ou plebiscito.
A preocupação com as leis levou os romanos a desen- A expansão romana e
volver minuciosamente o seu direito. Sendo adotado suas consequências
por vários outros povos europeus, o Direito Romano Com a expansão, o vasto comércio que se desenvolvia
mantém e conserva sua importância até os dias atuais. ocupava o lugar antes pertencente à atividade agrícola.
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A concorrência com gêneros advindos das províncias Expansão romana
e do latifúndio patrício, cujo crescimento dependia da
Com a conquista do Mediterrâneo, foram criadas condi-
mão de obra escrava, levou ao desaparecimento da am-
ções para um grande desenvolvimento da manufatura e do
pla camada de pequenos proprietários.
comércio. A consequência dessa prosperidade econômica
Efeito direto da expansão, o crescimento da escravi- foi a formação de uma nova classe de comerciantes e mi-
dão esteve ligado à miséria da plebe, visto que gran- litares que enriqueceram com as guerras: os homens no-
de parte dos escravos era prisioneira de guerra. Mesmo vos ou cavaleiros. Ao mesmo tempo em que sua condi-
abolida a escravidão por dívida, denominada “nexo” na ção plebeia impunha-lhes uma situação de marginalização
Roma Antiga, ao plebeu endividado só restava entregar política, sua riqueza tornava-os naturalmente adversários
a terra ao patrício em troca da dívida. Paulatinamente, da oligarquia patrícia, fato que também representou um
Roma entrou em um processo de concentração fundiária, elemento a mais a conspirar contra a ordem republicana.
com as grandes propriedades patrícias transformadas em No rastro das conquistas romanas e da necessidade de
latifúndios voltados para a produção extensiva de expor- uma força militar mais eficiente, o exército romano pas-
tação, ideal para o trabalho escravo. sou por um processo de profissionalização, uma força
Um processo de êxodo rural, devido à miséria da plebe sem permanente cujos guerreiros recebiam o soldo para com-
terra e sem trabalho no campo, acabou concentrando em bater (origem do termo soldado). Uma força à margem
da estrutura republicana, que alimentou as ambições po-
Roma uma massa miserável, aumentando a tensão social
líticas dos generais.
e política. Com a finalidade de alienar essa multidão, cuja
potencialidade revolucionária era evidente, o Estado fornecia Novas lutas sociais assinalaram a crise da República,
pão, vinho e espetáculos (política do pão e circo). desencadeadas por essas transformações em Roma.
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a autoridade do Senado. A crise da República piorou com a César instigou a plebe contra o Senado a fim de se tor-
ditadura de Sila, que morreu em 79 a.C. nar rei, título que era sinônimo de traição depois que o
Senado abolira a monarquia. Sofrendo forte oposição
O primeiro triunvirato (60-48 a.C.) do Senado, que via nele uma clara ameaça graças a
sua ambição de instaurar uma monarquia hereditária,
em 44 a.C., Julio César foi assassinado por um grupo
de aristocratas liderados por Cássio e Bruto.
83
Em 27 a.C., Otávio recebeu o título de Augusto (escolhi- O cristianismo
do dos deuses), fato que marcou o fim da República e o
início do principado, inaugurando o culto ao imperador. Sob controle romano desde 64 a.C., a região da Palestina
foi o local do surgimento do cristianismo, uma dissidên-
cia do judaísmo.
O IMPÉRIO ROMANO O cristianismo se fundamenta nas pregações de Jesus, que
(27 A.C.-476 D.C.) se dizia o Messias, isto é, o Filho de Deus. A crença na exis-
tência de um só Deus, que enviou à Terra seu filho para
redimir os homens, era o princípio fundamental do cristia-
O Alto Império (27 a.C.-235 d.C.) nismo. Foram os discípulos de Jesus, os apóstolos, que
difundiram a nova religião pelo mundo romano.
O Império Romano se dividiu em duas fases: o Alto Impé-
rio e o Baixo Império. A primeira fase assinalou o apogeu No século I da Era Cristã, durante a Dinastia Júlio-Claudia-
do Império Romano. A segunda marcou o declínio do Im- na, começou a perseguição aos cristãos, que, crentes na
pério Romano e sua destruição pelas invasões germâni- existência de um único Deus, recusavam-se a reconhecer
cas. A cidade de Roma chegou a possuir uma população os deuses oficiais do politeísmo romano e negavam-se a
de 1,2 milhão de habitantes, e o império abrangia uma prestar culto ao imperador. Além disso, graças a sua mensa-
área de 5 milhões de km2 em seu auge. gem redentora, o cristianismo obteve enorme sucesso entre
os excluídos da sociedade romana, o que lhe rendeu um
O governo de Augusto (27-14 a.C.) caráter subversivo.
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O desequilíbrio entre a arrecadação fiscal do Estado e sua e Plutarco. As grandes obras da arquitetura romana foram
despesa com a manutenção do aparelho administrativo e o Panteon e o Coliseu. Na filosofia, o epicurismo de Lu-
militar foram a origem da crise financeira. A falta de crécio e o estoicismo de Sêneca, Epiteto e Marco Aurélio
gêneros alimentícios e a inflação provocaram o êxodo deixaram legado. Gaio, Ulpiano e Paulo foram os maiores
urbano e o despovoamento das cidades. jurisconsultos romanos.
De 235 a 285, grassaram os motins militares e guerras Os etruscos deixaram muitos legados para os romanos,
civis, e muitos imperadores foram assassinados. Ao mes- mas o maior foi o uso do arco e da abóbada nas cons-
mo tempo em que desmoronavam os pilares internos truções. Esses elementos arquitetônicos permitiram aos ro-
do império, nas fronteiras do Reno, do Danúbio e do
manos criar amplos espaços internos. Assim, nos edifícios
Eufrates, as contínuas pressões externas abriam novas
destinados à apresentação de espetáculos – os anfitea-
brechas no dispositivo de defesa militar provocadas pe-
tros – os construtores romanos, usando filas sobrepostas
las invasões bárbaras.
de arcos, obtiveram apoio para construir o local destinado
Descendentes dos indo-europeus ou arianos, os povos ao público. Isso pode ser observado no mais belo dos anfi-
bárbaros germânicos habitavam os territórios da Europa teatros romanos: o Coliseu.
Centro-Oriental. Enfraquecido por uma crise mais agu-
da, o Império Romano do Ocidente foi destruído pelas
invasões germânicas. Sob o impacto delas, o Império
fragmentou-se e seus territórios foram ocupados por dife-
rentes povos germânicos, que neles fundaram os Reinos
Bárbaros da Idade Média.
85
de ser o chefe do Exército e da Igreja, com direito de intervir do Oriente levou à formação de duas igrejas distintas:
nos assuntos eclesiásticos (cesaropapismo). a Igreja Católica Apostólica Romana, dirigida pelo
Papa, e a Igreja Cristã Ortodoxa, liderada pelo Patriar-
O auge do império: Justiniano ca de Constantinopla.
(527-565 d.C.)
O principal imperador bizantino foi Justiniano (527-565).
Durante seu governo, o poder imperial atingiu seu auge.
Os gastos militares forçaram a elevação dos impostos a
níveis insuportáveis. As pressões da arrecadação desenca-
dearam, em 532, um violento levante conhecido por Re-
volta de Nika, que foi duramente reprimida por Justiniano.
A publicação do Corpus Juris Civilis ou Código de
Justiniano, que serviu de referência para códigos civis de
diversas nações, foi a grande realização de Justiniano no
campo jurídico. O código resultou de uma compilação do
Direito Romano.
A Igreja bizantina
No Oriente, o cristianismo foi integrado à cultura local, in-
corporando aspectos da realidade bizantina, inteiramente di-
versos da realidade ocidental. Assim, o cristianismo oriental A ENTRADA DE MAOMÉ II EM CONSTANTINOPLA,
passou a ter características próprias, diferenciando-se cada DE JEAN-JOSEPH-BENJAMIN CONSTANT
86
principais divindades de toda a Arábia (mais de 300 ído- implantada por Maomé, no início do século VII, quando
los pertencentes às tribos do deserto). Ali estava a Pedra foi criado um estado teocrático islâmico.
Negra, provavelmente um pedaço de meteorito protegido
por uma tenda de seda preta, na forma de um cubo, que
Fases da expansão
era bastante venerada, pois se acreditava ter sido trazida Depois da morte de Maomé, os membros mais influentes
do céu pelo anjo Gabriel. dos conselhos municipais das cidades de Meca e Medi-
na decidiram apontar um califa, isto é, um sucessor de
O santuário ajudou a transformar Meca no centro re-
Maomé, que deveria concentrar em suas mãos o poder
ligioso e comercial dos árabes, já que a cidade era o
político, militar e religioso. O primeiro califa foi Abu Bekr,
ponto de encontro de pessoas e de mercadorias de di-
sogro de Maomé, e os outros três que o sucederam foram
versas regiões.
também apontados entre seus familiares.
O responsável pela unidade política e religiosa da península
As conquistas tiveram início com esses califas de Meca.
Arábica foi Maomé, criador e divulgador da religião mu-
Sucessivamente, a partir de 634, a Síria, a Palestina, a Ásia
çulmana. Nas suas viagens, Maomé entrou em contato com
Menor, a Mesopotâmia, a Pérsia, o Egito e a Tunísia caíram
povos e religiões diferentes. Esteve várias vezes no Egito,
sob o domínio muçulmano.
Palestina, Pérsia, regiões onde fervilhava o espírito religioso.
Conheceu principalmente o cristianismo e o judaísmo, so- Alguns anos depois dessas conquistas, o novo império foi
frendo profunda influência dessas crenças religiosas. abalado por lutas internas, e o controle do califado passou
para as mãos de outra família, os Omíadas, que transferiram
Por volta de 610, já com quase 40 anos, Maomé teve sua
a capital para Damasco, na Síria. Sob a liderança dos Omía-
primeira visão do anjo Gabriel, que lhe teria ordenado “reci-
das (660-750), os árabes retomaram o processo de expan-
tar o nome do Senhor” e que “havia um só deus, Alá, e um
são conquistando territórios na Ásia central (Índia), Norte da
só profeta, Maomé”. No ano de 622, Maomé teria realizado
África e península Ibérica. Os muçulmanos só foram contidos
um milagre para provar que era profeta de Alá: “quebrou” a
na Europa pelos francos, liderados por Carlos Martel, da di-
Lua. Provavelmente tratava-se de um eclipse e talvez Mao-
nastia carolíngia, em 732, na Batalha de Poitiers. O domínio
mé tivesse informações sobre o acontecimento, porque tinha
árabe sobre a costa do Mediterrâneo contribuiu para a crise
muito contato com o Oriente, onde a astronomia era alta-
do comércio e a feudalização europeia.
mente desenvolvida.
Em 750, a dinastia Omíada chegou ao fim, sendo derrota-
Perseguido pelos coraixitas, que mandaram assassiná-
da por uma conspiração interna que inaugurou a dinastia
-lo, Maomé fugiu para Iatreb (Yathrib), cidade rival de Meca,
Abássida (750-1258). A capital passou de Damasco para
onde já possuía seguidores. Esse evento ficou conhecido
Bagdá, mudança essa que provocou a primeira divisão do
como Hégira, e é utilizado como marco inicial do calendário
mundo islâmico. A divisão do Império Islâmico foi uma con-
muçulmano. Em latreb, Maomé conquistou rapidamente
sequência de sua enorme expansão, obtida em um período
prestígio e poder, controlando a cidade que passou a ser
muito curto de tempo. As seitas religiosas sunita e xiita
chamada de Medina al Nabi – a Cidade do Profeta.
contribuíram para esse fenômeno.
Depois da conquista de Iatreb, o alvo principal passou a ser a
cidade de Meca. O crescente número de seguidores possibi-
litou a formação de um exército numeroso, que cercou a ci-
A religião muçulmana
dade, preservando apenas a Caaba. Em seguida, Maomé fez
um acordo com os coraixitas, estabelecendo a peregrinação
a Meca como uma das obrigações da religião muçulmana.
Em 632, Maomé morreu, deixando difundida sua doutrina
religiosa. Ao mesmo tempo, a península Arábica, que era
um aglomerado de tribos e clãs dispersos, teve sua unifi-
cação política realizada por meio da unificação religiosa.
Expansão islâmica
A partir do século VII, os árabes muçulmanos expandiram-
-se, dominando vasta extensão territorial que se estendia
da Ásia à Europa, passando pelo Norte da África. Essa
expansão teve origem na unidade política e religiosa CAABA, GRANDE MESQUISTA EM MECA
87
A doutrina islâmica, muçulmana ou maometana é marcada
pelo sincretismo religioso. Possui elementos do cristianis-
A cultura árabe
mo e do judaísmo, de onde provêm suas bases fundamen- Os árabes foram os responsáveis pela difusão, no Oci-
tais. O principal fundamento da religião é o monoteísmo, a dente, dos conhecimentos adquiridos pelos impérios bi-
crença no Deus único Alá e em seu profeta Maomé. zantino e persa.
Os fundamentos da religião estão no livro sagrado – Alco- Na Astronomia, os muçulmanos traduziram a obra de Pto-
rão ou Corão –, que determina a total submissão do lomeu, que passou a ser conhecida pelo nome de Alma-
homem à vontade de Alá (Islão). gesto. Na Matemática, desenvolveram a álgebra e a trigo-
nometria, além dos conhecimentos deixados pelos gregos.
Um aspecto importante da religião islâmica são as inter-
Propagaram o sistema numérico arábico, cuja invenção
pretações e os significados que foram sendo agregados à
provém dos hindus. Na Química, descobriram substâncias
jihad, que passou cada vez mais a ser interpretada como
como o álcool, o ácido sulfúrico e o salitre. Foram os pri-
Guerra Santa e vinculada ao expansionismo. Foi graças à
meiros a descrever os processos químicos de destilação,
concepção do jihadismo como “esforço” de difusão da fé
filtração e sublimação.
no islamismo que a expansão territorial foi estimulada e as
conquistas de vários territórios pelos árabes muçulmanos Na Medicina, fizeram importantes descobertas, como o con-
foram consumadas. tágio proveniente da água e do solo e o diagnóstico
de doenças como a varíola e o sarampo. O mais famoso
Outra característica importante do islamismo é o secta-
médico muçulmano foi Avicena, cuja obra Canon foi o
rismo, com a formação de seitas rivais desde a morte de
manual médico na Europa até o século XVII. Na Literatu-
Maomé, quando ocorreram sérias divergências em rela-
ra, destacam-se os poemas épicos e de amor e contos de
ção à liderança religiosa e política dos muçulmanos. As
aventura, como a coletânea As mil e uma noites e Ru-
principais seitas são xiitas e sunitas. Os primeiros acei-
baiat. Nome célebre é o de Averróis, filósofo de Córdova,
tam somente o Corão como fonte de verdade, bem como
que traduziu as obras de Aristóteles para a língua árabe e
um chefe político religioso descendente de Maomé. Os
introduziu-as no Ocidente.
sunitas admitem, além do Alcorão, os ensinamentos con-
tidos no Suna, livro de relatos de seguidores próximos de Merece destaque a arquitetura de palácios e mesquitas. Gra-
Maomé, bem como admitem que o chefe possa ser esco- ças à dominação da península Ibérica, o árabe influenciou a
lhido entre os fiéis que reúnam as virtudes necessárias. formação da língua portuguesa.
88
Nesse período, um novo sistema econômico se estru- ao Papa e fortalecendo ainda mais a aliança entre a Igreja
turou – o feudalismo –, com a ruralização da econo- e o reino fanco. Os territórios da Igreja ficaram conhecidos
mia e o fortalecimento das relações pessoais entre o como Patrimônio de São Pedro.
rei a seus vassalos. A fidelidade ao rei, suserano de
Pepino foi sucedido por seu filho Carlos Magno, em 768,
um feudo, era estabelecida mediante o juramento da
que governou até 814, tornando-se o mais importante rei
vassalagem,composta pelos senhores feudais e pelos
franco, concedendo seu nome à dinastia Carolíngia. Carlos
cavaleiros, que assumiam o compromisso de servir ao
Magno ampliou as fronteiras do reino franco, anexando a
soberano. Em troca, o rei oferecia proteção, terras e
Itália lombarda, a Saxônia, a Frísia e a Catalunha, tornan-
outros bens, mantendo o sistema de servidão e enfra-
do-se o único rei da Europa cristã.
quecendo o poder dos monarcas merovíngios.
A expansão foi favorecida pelo apoio da Igreja e da nobre-
O poder nobiliárquico também se baseava no contato
za guerreira. O reino de Carlos Magno tornou-se o maior
direto dos majordomus (mordomos ou prefeitos do
Império Ocidenta, durante o período medieval. No Natal do
palácio) com os reis. Oriundos de famílias nobres, os
ano 800, Carlos Magno foi coroado pelo Papa Leão III im-
majordomus passaram a exercer o poder no reino, a
perador romano do Ocidente.
partir do comando do exército, da administração e di-
visão das terras e, por fim, da coleta de impostos. Aos O imperio de Carlos Magno também foi marcado pelo estímu-
reis eram atribuídas funções cerimoniais. lo imperial ao desenvolvimento cultural. Ocorreu um grande
incentivo à cultura e às artes, quando houve um florescimento
Pepino de Heristal, majordomus do Reino da Austrásia,
cultural e intelectual, o Renascimento Carolíngio.
conseguiu submeter os outros majordomus, promovendo
a centralização do Reino Franco. Mas foi somente com seu Em 806, Carlos Magno fez seu testamento dividindo o império
sucessor, Carlos Martel, que os majordomus passaram a ser entre seus filhos, conforme o costume sucessório germânico,
considerados reis. mas acabou sendo sucedido por seu filho mais novo, Luís I, o
Piedoso, que governou de 814 a 841, mantendo o império e
Carlos Martel conquistou prestígio e poder ao liderar os
a estrutura político-administrativa herdados de seu pai.
francos na vitória contra os muçulmanos na Batalha de
Poitiers, na França, no ano de 732, contendo o avanço A decadência do Império Carolíngio teve início após a mor-
islâmico sobre a Europa ocidental. te de Luís I, em 841, quando se iniciou um conflito entre
seus filhos pelo trono. Lotário, Carlos e Luís travaram várias
batalhas, arruinando as finanças e enfraquecendo militar-
mente o império.
Em 843, a disputa foi solucionada com a assinatura do Tra-
tado de Verdun, que estabeleceu a divisão do império en-
tre os netos de Carlos Magno: Lotário recebeu a Lotaríngia,
que correspondia aos Países Baixos, Suíça e Norte da Itália;
a Luis, o Germânico, coube a parte oriental do Império (Ger-
mânia); e a Carlos, O Calvo, coube o território da França. O
Tratado de Verdun marcou, segundo as divisões dos
períodos da História, o final da Alta Idade Média.
CARLOS MARTEL NA BATALHA DE POITIERS. CHARLES STEUBEM (1788-1856)
A quebra da unidade política e o enfraquecimento militar
Ao ser considerado pela Santa Sé como o “salvador do cris- favoreceram as invasões externas – magiares, árabes e vi-
tianismo ocidental”, Carlos Martel fortaleceu sua autoridade kings –, levando o império franco ao declínio.
pessoal, fato aproveitado por seu filho Pepino, o Breve, que,
com o apoio do papa Zacarias, destronou o último rei merovín-
gio Childerico III, no ano de 751, e proclamou-se rei dos fran- IGREJA CATÓLICA MEDIEVAL
cos, iniciando a Dinastia Carolíngia, que perdurou até 987. A Igreja católica foi a grande catalisadora dos aconteci-
mentos e da vida medieval; nesse período, sua trajetória foi
Dinastia Carolíngia (751-987) marcada pelo crescimento e desenvolvimento em virtude
Pepino iniciou a administração de seu reinado lutando con- do grande poder conquistado.
tra os lombardos na Itália. Os territórios conquistados, no O crescente poder da Igreja católica na Europa ocidental
centro da península Itálica, foram cedidos à Igreja, que pela durante a Idade Média pode ser explicado pelo acúmulo
primeira foi dona de suas terras, concedendo maior poder dos poderes espiritual e temporal. O poder espiritual cor-
89
responde ao controle sobre a religião e o monopólio da in- Um importante instrumento de manutenção do domí-
terpretação das Escrituras Sagradas, permitindo o controle nio da Igreja Católica Medieval foi a criação do Tribunal
ideológico e a interpretação da realidade vigente. O poder da Santa Inquisição, em 1231, pelo papa Gregório
temporal era exercido politicamente como resultado do con- IX. A principal função do Tribunal era julgar e punir
trole da Igreja sobre um número crescente de populações as heresias. As penas variavam de simples penitências
que a alimentavam mediante pagamento dos dízimos, do- ao confisco de bens, além da excomunhão, torturas e
ações, além de outras ações realizadas por fiéis crentes da morte na fogueira.
salvação em troca de seus recursos materiais.
A Igreja contava com uma rígida organização hierárquica.
A Igreja concentrava uma grande quantidade de terras, re- Havia o alto clero e o baixo clero; este era composto de
sultado da acumulação de um montante significativo de elementos vindos das camadas mais pobres da sociedade;
riquezas materiais. aquele, ligado à aristocracia, detinha os cargos de direção:
dele faziam parte o Papa, os bispos, os abades, etc.
A Igreja era responsável pela educação, mantendo uma
série de escolas nos mosteiros, conventos e, mais tarde, Os mosteiros eram os responsáveis pela preservação da
nas paróquias. No século XIII, começou a organizar as uni- cultura, além de serem importantes centros econômicos. O
versidades. Com isso, o poder da Igreja sobre os fiéis era clero regular era constituído por todos os clérigos consa-
incontestável. Os pecadores deviam cumprir penitências, grados da Igreja católica, que seguiam as regras de uma
que variavam de orações e jejuns a peregrinações e partic- determinada ordem religiosa, dona de sua própria hierar-
ipação nas Cruzadas. quia e de títulos específicos.
SISTEMA FEUDAL
ORIGENS DO FEUDALISMO
Na Europa, a Idade Média caracterizou-se pelo surgimento de um sistema econômico, político e social denominado feuda-
lismo. Esse sistema foi fruto de uma lenta integração entre algumas características de duas estruturas sociais: a romana e a
germânica. Esse processo de integração, que resultou na formação do feudalismo, ocorreu no período histórico compreen-
dido entre os séculos V e IX.
A nova onda de invasões dos séculos VIII ao X
FONTE: <28NAVEGADORES.BLOGSPOT.COM.BR/2013_04_01_ACHIVE.HTML>.
90
Próximo ao fim do Império Romano do Ocidente, os gran- culo IX, os normandos também se lançaram à conquista
des senhores romanos começaram a abandonar as cida- da Europa. Penetraram no continente europeu pelos rios,
des, fugindo da crise econômica e das invasões germâni- saqueando suas cidades. A leste, os magiares (húngaros),
cas. Os senhores rumaram para latifúndios no campo, onde cavaleiros nômades originários das estepes euroasiáticas,
passaram a desenvolver uma economia agrária voltada invadiram a Europa oriental.
para a subsistência.
O comércio, com o desaparecimento quase total da moe-
Um grande contingente de romanos de menos posses pas- da, regrediu ao patamar da troca direta. Com a agrarização
sou a buscar proteção e trabalho nas terras desses grandes da economia, as cidades foram despovoadas, completando
senhores. Para utilizar as terras, eram obrigados a ceder ao o processo de ruralização da sociedade. O poder político
proprietário parte do que produziam. Dessa forma, nesses descentralizou-se em uma multiplicidade de poderes loca-
centros rurais conhecidos por vilas romanas, começaram a lizados e particularistas. O feudalismo se estabeleceu em
ser criados os feudos medievais. Com algumas alterações fu- sua plenitude.
turas, esse sistema de trabalho resultou nas relações servis
de produção, um dos traços fundamentais do feudalismo.
Com a contínua ruralização do Império Romano, o poder
CARACTERÍSTICAS GERAIS
central foi perdendo controle sobre os grandes senhores A sociedade feudal era estamental, ou seja, os indivídu-
agrários. Gradativamente, as vilas romanas tornaram-se os nasciam num determinado estamento (grupo social) e
cada vez mais autônomas, à medida que o poder político dificilmente poderiam ascender a outro; tendiam a perma-
descentralizava-se, permitindo ao proprietário de terras ad- necer sob a própria condição de nascimento. Segundo a
ministrar de forma independente sua vila. divisão clássica, a sociedade medieval era formada pelos
seguintes estamentos: clero, nobreza e servos.
O contato dos romanos com os povos de origem germâni-
ca promoveu a troca de hábitos e costumes entre eles, prin- Os senhores feudais eram os proprietários ou os pos-
cipalmente num momento de ruralização e de organização suidores do feudo. Originários da nobreza e do clero, for-
de uma economia baseada nas atividades agropastoris. As mavam uma aristocracia dominante. A nobreza se subdivi-
várias tribos germânicas viviam de maneira autônoma, es- dia em duques, condes, barões e marqueses.
tabelecendo relações apenas quando se defrontavam com Os senhores feudais eclesiásticos, vinculados à Igreja
um inimigo comum, unindo-se, nessas ocasiões, sob o co- Romana, também pertenciam à alta hierarquia do clero.
mando de um só chefe. Em geral, eram bispos, arcebispos e abades.
As relações entre o suserano e o vassalo, fundamentadas O estamento dos dependentes, que compreendia a maioria
na honra, lealdade e liberdade, tiveram suas origens no da população medieval, compunha-se de servos e vilões.
comitatus germânico. O comitato era um grupo forma- Os servos não tinham a propriedade da terra, embora,
do pelos guerreiros e seu chefe com obrigações mútuas na maioria dos casos, tivessem posse parcial dela, o que
de serviço e lealdade. Os guerreiros juravam defender seu justificava o fato de estarem adstritos a ela. É importante
chefe, que se comprometia a equipá-los com cavalos e observar que, embora fossem trabalhadores semilivres –
armas. Mais tarde, essas relações de honra e lealdade de- donos de seus instrumentos de trabalhos, sementes, etc. –,
ram origem às relações de suserania e vassalagem. apenas uma pequena parcela do que produziam era desti-
nada ao próprio sustento.
A formação do Direito no feudalismo também teve influên-
cia germânica. Baseando-se nos costumes orais, e não nas Em número reduzido, havia outro tipo de trabalhador me-
leis escritas, o direito era considerado uma propriedade do dieval: o vilão. Os vilões não estavam presos à terra e des-
indivíduo, um direito inerente a ele em qualquer local em cendiam de antigos pequenos proprietários romanos. Não
que estivesse. Essa forma do Direito, produto dos costumes podendo defender suas propriedades, entregavam suas
e da sua prática reiterada e constante, sem ser resultado de terras em troca de proteção de um grande senhor feudal.
um processo formal de criação das leis escritas, é denomi-
nada direito consuetudinário. Economia feudal
As invasões dos séculos VIII e IX aceleraram a lenta in- As terras eram divididas em domínio senhorial, cuja pro-
tegração entre aspectos da sociedade romana e da so- dução destinava-se ao senhor feudal, manso servil, cujo
ciedade germânica. Em 711, os muçulmanos, vindos do produto do trabalho pertencia aos servos, e terras comu-
Norte da África, conquistaram a península Ibérica, a Sicília, nais, isto é, pastos e florestas utilizadas tanto pelos senhores
a Córsega e a Sardenha, fechando o mar Mediterrâneo à como pelos camponeses. O feudo, cujas terras eram des-
navegação e ao comércio dos europeus. Ao norte, no sé- contínuas, constituía-se como a unidade geral de produção.
91
A terra arável era dividida em três partes: o terreno de plantio ou trabalho pelo uso de instrumentos do senhor: ferra-
da primavera, o de plantio do outono e outro que ficava em mentas, moinhos, armazéns;
pousio (descanso). Esse sistema surgiu na Europa, no século capitação: pagamento de imposto per capita dos fa-
VIII, e ficou conhecido como sistema dos três campos. miliares dos servos; e
Nessa sociedade rural, de economia essencialmente
agrária, a propriedade e a posse da terra determinavam a mão-morta: pagamento de imposto pelos filhos do
posição do indivíduo na hierarquia social. A terra era a ex- servo morto para que continuassem ocupando as terras
pressão da riqueza, da influência, da autoridade e do poder. fornecidas a seu pai pelo senhor.
Além da obediência e fidelidade por juramento que os ser- O feudo produzia tudo o que necessitava e consumia tudo
vos deviam ao seu senhor, as obrigações nas formas de que produzia. Era uma economia autossuficiente, orga-
trabalho e produtos eram as seguintes: nizada para suprir as necessidades do próprio feudo. O co-
mércio não desapareceu da Europa, mas era retraído e sem
corveia: obrigação de trabalhar nas terras do senhor
feudal sem direito ao que era produzido; relevância econômica. A troca de mercadorias realizava-se
semanalmente dentro do próprio feudo, em um mercado
talha: obrigação de entregar parte da produção no junto de uma Igreja, de um castelo ou na própria aldeia.
manso servil ao seu senhor; As trocas ocorriam de bens por bens. O uso de moedas
banalidades: pagamento de impostos com produtos não era frequente.
O senhorio medieval
Manso comum
Os produtos retirados dessas terras eram de uso tanto dos servos quanto dos
senhores. As terras comunais eram constituídas de pastos para criar animais
e de florestas e baldios, onde os camponeses colhiam frutos e raízes, extraíam
a madeira e o mel. A caça nas florestas era exclusiva dos senhores.
Domínio Senhorial
Os produtos dessas
terras perteciam
exclusivamente
ao senhor. Nelas
trabalhavam servos
e outros camponeses.
Ali se produzia tudo o
que o senhor necessitava
para manter sua família
e outros dependentes.
Manso servil
Terras destinadas aos servos. Nelas os servos
produziam o que era necessário para a sua
sobrevivência, devendo em troca cumprir
Ilustração atual de
uma série de obrigações para com o senhor.
como poderia ter sido
um senhorio medieval.
FONTE: <HISTORIADEMESTRE.BLOGSPOT.COM.BR/2014/10/A-IDADE-MEDIA-E-O-FEUDALISMO.HTML>.
92
diante do senhor, com a cabeça descoberta e sem espada, cultura teocêntrica foi gradualmente substituída pela an-
punha as mãos entre as mãos do suserano e pronuncia- tropocêntrica – o homem como centro do Universo.
va as palavras sacramentais do juramento. Em seguida,
o senhor permitia que ele se levantasse, beijava-o e rea- Cultura feudal
lizava a investidura com a entrega de um objeto simbóli-
co – um punhado de terra, um ramo, uma lança ou uma A cultura feudal era fundamentalmente teocêntrica, ou
chave – que representava a terra enfeudada. Os laços de seja, caracterizou-se pela visão do homem voltado para
suserania e vassalagem vinculavam toda a nobreza feudal. Deus e para a vida após a morte.
Nos últimos anos do século XI, no início das Cruzadas, o A moral religiosa condenava o comércio, o lucro e a usura
feudalismo entrou em gradativa decadência. O Renasci- (empréstimo a juros). As artes, as letras, as ciências e a
mento comercial fez com que as estruturas feudais fossem filosofia eram determinadas pela visão religiosa imposta
progressivamente modificadas: as cidades ressurgiram, a pela Igreja, sempre com predominância de temas e inspi-
figura do rei voltou a ganhar progressiva centralização e a ração religiosos.
93
Cruzadas do Oriente
Marselha
Roma
Constantinopla
Edessa
Antioquia
Tripoli
Acre
Jerusalém
FONTE: <PT.SLIDESHARE.NET/LUCAO1NAVARRO/AS-CRUZADAS-SET-FINAL>.
Primeira Cruzada (1095-1099): As peregrinações foram derrotados pelos turcos na Ásia Menor em 1148.
de cristãos ao Santo Sepulcro não eram raras. Os ca- Algumas décadas mais tarde, em 1187, Saladino, um
lifas árabes não se opunham às visitas, que acabavam sultão muçulmano, reconquistou Jerusalém, causando
sendo lucrativas paras os muçulmanos. Contudo, na grande comoção na Europa.
segunda metade do século XI, os turcos dominaram Terceira Cruzada (1189-1192): Com a notícia da
grande parte da Ásia ocidental, expulsaram os cristãos perda da Terra Santa, o papa passou a preparar a Terceira
e proibiram suas peregrinações no local. Cruzada. Os três mais importantes soberanos da Europa
O papa Urbano II incentivou a Primeira Cruzada sob o pre- atenderam ao chamado do papa. Em 1190, Frederico
texto de libertar a Terra Santa e impedir o avanço muçul- Barba Ruiva, do Sacro Império, Felipe Augusto, da Fran-
mano na Europa oriental. ça, e Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra, lideraram a
Cruzada dos Reis. Barba Ruiva avançou por terra, venceu
As terras conquistadas dos muçulmanos foram organizadas os turcos na Ásia Menor, mas morreu acidentalmente ao
em Estados cristãos: o reino de Jerusalém, o principado de banhar-se em um rio. Ricardo e Felipe Augusto seguiram
Antioquia e os condados de Edessa e Trípoli. Nesses Estados, por mar. Obtiveram algumas vitorias na Síria, mas Feli-
doados a nobres europeus, foi implantada uma estrutura es- pe decidiu retornar à França. Ricardo Coração de Leão
sencialmente feudal, comparável à da Europa medieval. não conseguiu retomar Jerusalém. No entanto, obteve
Foram fundadas novas ordens religiosas, integradas por do sultão Saladino a autorização para que os cristãos
soldados religiosos, entre os quais os mais importantes pudessem peregrinar até Jerusalém.
eram os hospitalários, os cavaleiros da Ordem Teutônica e Quarta Cruzada (1202-1204): Com o ardor religio-
os templários, que se alojaram no local do antigo templo so já bastante arrefecido, os comerciantes de Gênova
de Jerusalém. Em 1140, os muçulmanos passaram à con- e Pisa, enriquecidos pelo comércio com o Oriente, pre-
traofensiva e reconquistaram o condado de Edessa. Pres- tendiam conquistar os portos de suas cidades rivais. Em
sionados, os Estados cristãos recorreram aos europeus. 1200, durante o pontificado de Inocêncio III, foi organi-
zada a Quarta Cruzada. Desvirtuada de seus objetivos,
Segunda Cruzada (1147-1149): Em 1147, Luis VII,
tornou-se a primeira cruzada contra cristãos. Como condi-
rei da França, Conrado III, imperador do Sacro Império,
ção para seu financiamento, Veneza exigiu a destruição
e um grupo formado por europeus do norte – ingleses,
de Zara, cidade cristã e sua rival mercantil no comércio
flamengos e frísios – organizaram a Segunda Cruzada.
no Mar Adriático.
Esse terceiro grupo atravessou a península Ibérica aju-
dando os cristãos a expulsarem os muçulmanos de Lis- Depois da destruição de Zara, os cruzados marcharam so-
boa. Entretanto, os integrantes dessa segunda cruzada bre Constantinopla. A Quarta Cruzada assinalou o declínio
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mercantil de Constantinopla, região que passou a ser co- Ambas foram um fracasso. Luis IX morreu vítima da pes-
nhecida por Império Latino, e a ascensão das cidades italia- te, em Tunis, e foi canonizado pela Igreja.
nas, que passaram a monopolizar o comércio de especiarias
no Mediterrâneo. Consequências das Cruzadas
Quinta Cruzada (1217-1221): Tornou-se conhecida Do ponto de vista econômico, a maior conquista das Cru-
como a Cruzada das Crianças. Para justificar as derrotas zadas foi a reabertura do Mediterrâneo à navegação
anteriores, foi difundida a lenda de que o Santo Sepulcro e ao comércio da Europa, fator que permitiu o reatamento
só poderia ser conquistado por crianças, uma vez que das relações entre Ocidente e Oriente, interrompidas pela
suas almas eram puras e livres de pecados. Em 1212, expansão muçulmana, e contribuiu para acelerar o renasci-
foram reunidas 20 mil crianças alemãs e 30 mil france- mento comercial no ocidente da Europa.
sas em uma cruzada que seria enviada para Jerusalém.
As que não foram exterminadas foram aprisionadas ou O malogro das Cruzadas acelerou indiretamente a deca-
vendidas como escravas nos mercados do Oriente. dência do sistema feudal. A conjugação de fatores polí-
ticos, econômicos e sociais agravou significativamente essa
Sexta Cruzada (1228-1229): Organizada por André situação. De um lado, houve enfraquecimento da aristocracia
II, rei da Hungria, e comandada por Frederico II, do Sa- feudal e da servidão como forma de trabalho; de outro lado,
cro Império, a Sexta Cruzada resultou em um acordo ocorreu o fortalecimento da burguesia comercial, bem como
com o sultão, que determinava a posse de Jerusalém o reaparecimento do comércio, que se intensificou com a re-
pelos cristãos durante dez anos. Mais tarde, os muçul- abertura do Mediterrâneo, propiciando o renascimento das
manos dominaram a região e o acordo foi rompido. Je- cidades e o crescimento da burguesia mercantil. Em síntese,
rusalém voltou a ser controlada pelos turcos até 1917. o renascimento comercial e urbano da Europa ocidental, a
Sétima (1248-1250) e Oitava Cruzadas (1270): decadência do feudalismo, o declínio do poder da nobreza e
A Sétima e a Oitava Cruzadas foram organizadas entre o fortalecimento da burguesia foram, direta ou indiretamen-
1248 e 1270, sob o comando de Luís IX, rei da França. te, consequências das Cruzadas.
RENASCIMENTO COMERCIAL
Principais rotas comerciais da Europa, durante o renascimento comercial
FONTE: <SLIDESHARE.COM.BR/SLIDE/1865844>.
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Ao possibilitarem as condições para o desenvolvimento in- todas foi a Hansa Teutônica ou Liga Hanseática, que reuniu
cipiente da atividade mercantil, as Cruzadas, conjugadas às cerca de noventa cidades do norte da Europa.
condições intrínsecas ao modo de produção feudal, impul-
sionaram o que se transformou no renascimento comercial.
A abertura do mar Mediterrâneo aos mercados da Europa RENASCIMENTO URBANO E
ocidental restabeleceu as relações entre Ocidente e Oriente FORMAÇÃO DA BURGUESIA
e dinamizou as atividades comerciais.
O processo de reurbanização da Europa, caracterizado pelo
O comércio se desenvolveu principalmente por rotas flu- ressurgimento das cidades, está estreitamente ligado ao re-
viais e marítimas, devido às péssimas condições das estra- nascimento comercial, que, embora não tenha sido o único fa-
das. Os mares Mediterrâneo, ao sul, e do Norte e Báltico, tor do renascimento urbano, foi, sem dúvida, o fator principal.
ao norte, foram os eixos econômicos da Europa entre os Prova disso é o fato de as cidades ressurgirem com mais inten-
séculos XI e XIV. sidade onde primeiro renasceu o comércio: Itália e Flandres.
O Mediterrâneo voltou a ser a via principal das atividades À medida que o comércio se ampliava, surgiam cidades. Nas
mercantis. As cidades italianas de Veneza, Gênova e Pisa cidades medievais, conhecidas genericamente como burgos,
redistribuíam pela Europa os produtos vindos do Oriente. foi-se formando uma nova classe social ligada ao comércio,
Ao norte da Europa florescia outro eixo comercial impor- que passou a ser conhecida como burguesia.
tante. Os produtos vindos do mar Báltico e do Norte en- Para criar condições básicas para a expansão da nova eco-
contravam na região de Flandres (parte das atuais Holanda nomia mercantil e monetária, era preciso abolir as relações
e Bélgica) um dinâmico polo comercial nas suas principais de vassalagem e o direito consuetudinário, bem como
cidades, Bruges e Antuérpia. unificar o mercado, diminuir os impostos, padronizar a le-
gislação, a moeda, os pesos e as medidas. Para isso, seria
A região de Champagne, no leste da França, passou a ser
necessário subordinar a nobreza e fortalecer o poder cen-
um ponto de confluência entre Flandres\e a Itália. Mercado- tralizador do rei, que poderia impor essas reformas.
res de todo o continente se dirigiam para Champagne, o que
dinamizava um comércio intenso e diversificado. As feiras A formação do Estado moderno, como expressão do mo-
nopólio do poder e da força, seria, no plano político, a res-
realizadas em Champagne ganharam fama.
posta para os novos problemas que impediam a expansão
Os últimos dias das feiras eram dedicados às transações do comércio e das cidades.
financeiras. Faziam-se empréstimos, liquidavam-se velhas
dívidas, movimentavam-se letras de câmbio. A terra deixa-
va de ser a única riqueza na Europa Ocidental. Essa verda-
CRISE DO SÉCULO XIV E
deira revolução econômica enfraquecia a nobreza, ligada DECADÊNCIA DO FEUDALISMO
à terra, e fortalecia a burguesia, ligada ao comércio e A partir do início do século XIV, uma profunda crise se dis-
às finanças. seminou pela Europa. Fome, pestes, guerras e rebeliões
camponesas atingiram a essência do sistema feudal já
As associações de artesãos bastante desgastado. Ao fim do século XV, as monarquias
nacionais estavam consolidadas, a nobreza enfraquecida
e comerciantes e as obrigações feudais contestadas pelas frequentes re-
Os artesãos organizaram-se em associações para defender voltas camponesas.
seus interesses. Todos que trabalhavam em uma mesma ati-
vidade juntavam-se e formavam uma associação denomina-
da corporação de ofício.
As corporações tinham o objetivo de regulamentar a
profissão evitando excesso de pessoas no mesmo ofício,
controlar a qualidade e o preço do produto dificultando a
concorrência, dirigir o aprendizado da profissão e amparar
os artesãos necessitados.
Os mercadores também associaram-se para defender seus
interesses. No século XII, as hansas ou guildas aglutina-
vam mercadores de diversas cidades. A mais poderosa de
96
U.T.I. - Sala lhe apraz, nem o olhamos com ares de reprovação que,
embora inócuos, lhe causariam desgosto. Ao mesmo
tempo que evitamos ofender os outros em nosso con-
1. O filósofo Aristóteles (384-322 a.C.) definiu a cidada- vívio privado, em nossa vida pública nos afastamos
nia em Atenas da seguinte forma: da ilegalidade principalmente por causa de um temor
reverente, pois somos submissos às autoridades e às
A cidadania não resulta do fato de alguém ter o domi-
leis, especialmente àquelas promulgadas para socor-
cílio em certo lugar, pois os estrangeiros residentes e os
rer os oprimidos e às que, embora não escritas, trazem
escravos também são domiciliados nesse lugar e não
aos agressores uma desonra visível a todos.
são cidadãos. Nem são cidadãos todos aqueles que par-
ticipam de um mesmo sistema judiciário. Um cidadão Oração fúnebre de Péricles, 430 a.C. In: Tucídides.
História da Guerra do Peloponeso. Brasília:
integral pode ser definido pelo direito de administrar Editora UnB, 2001, p. 109. Adaptado.
justiça e exercer funções públicas.
Adaptado de Aristóteles, Política. a) Quais as principais características do regime político
Brasília: Editora UnB, 1985, p. 77-78. de Atenas?
b) Qual a cidade que foi a principal adversária de Ate-
Relacionando aquilo que você aprendeu sobre o tema nas na Guerra do Peloponeso?
com o texto acima, quais as duas principais condições c) Cite e comente as principais diferenças entre elas.
para que um ateniense fosse considerado cidadão na
Grécia clássica? 5. Cite o nome e a principal característica de cada um
dos três Períodos da História de Roma.
2. Num antigo documento egípcio, um pai dá o seguinte
conselho ao filho: 6. O historiador grego Heródoto (484-420 a.C.) viajou
muito e deixou vivas descrições com reflexões sobre os
Decide-te pela escrita, e estarás protegido do trabalho povos e as terras que conheceu. Deve-se a ele a seguin-
árduo de qualquer tipo; poderás ser um magistrado de te afirmação: “o Egito, para onde se dirigem os navios
elevada reputação. O escriba está livre dos trabalhos gregos, é uma dádiva do rio Nilo“.
manuais [...] é ele quem dá ordens [...]. Não tens na mão
a palheta do escriba? É ela que estabelece a diferença “No Antigo Egito, existia uma profunda ligação entre o
entre o que és e o homem que segura o remo. meio natural e a vida daquele povo.”
Apud Luiz Koshiba. História – origens, estrutura e processos. Explique a afirmação acima, relacionando seus conhe-
cimentos sobre o tema com o texto.
Lendo o texto e lembrando o que você aprendeu sobre
o tema, argumente sobre a seguinte afirmação: 7. “Com relação ao ornamento, Roma não correspondia,
Nas Civilizações do Antigo Oriente, a Escrita é um dos absolutamente, à majestade do Império e, além disso,
fundamentos da própria ideia de “Civilização”. estava exposta às inundações, como também aos in-
cêndios. Porém, Augusto fez dela uma cidade tão bela
3. Alguns povos da Antiguidade foram mercadores e que pode se envaidecer, principalmente por ter deixado
praticavam intensamente o comércio marítimo. uma cidade de mármore no lugar onde encontrara uma
a) Qual a relação entre a localização geográfica da Fení- de tijolos”.
cia e as características econômicas de seu povo? Adaptado de: Suetônio. A vida dos doze Césares.
b) Cite o nome de suas três principais cidades. São Paulo: Martin Claret, 2006, p. 91.
c) Cite e comente um legado importante que os fenícios Considerando o texto e o período de Otávio Augusto no
deixaram na História. governo de Roma, responda:
a) Qual a relação da reurbanização de Roma durante o
4. Vivemos numa forma de governo que não se baseia
Governo de Otávio Augusto, com aquilo que simboliza-
nas instituições de nossos vizinhos; ao contrário, ser-
va a PAX ROMANA?
vimos de modelo a alguns, ao invés de imitar outros.
[...] Nela, enquanto no tocante às leis todos são iguais b) Identifique uma medida social e uma medida políti-
para a solução de suas divergências privadas, quando ca estabelecidas por Augusto para adaptar as tradições
se trata de escolher (se é preciso distinguir em algum romanas àquele momento histórico.
setor), não é o fato de pertencer a uma classe, mas o
mérito, que dá acesso aos postos mais honrosos; in- 8. Durante o período das Cruzadas, São Bernardo de
versamente, a pobreza não é razão para que alguém, Claraval (1090-1153) escreveu:
sendo capaz de prestar serviços à cidade, seja impedi- “Mas os soldados de Cristo combatem confiantes nas
do de fazê-lo pela obscuridade de sua condição. Con- batalhas do Senhor, sem nenhum temor de pecar por
duzimo-nos liberalmente em nossa vida pública, e não pôr-se em perigo de morte e por matar o inimigo.
observamos com uma curiosidade suspicaz [desconfia- Para eles, morrer ou matar por Cristo não implica
da] a vida privada de nossos concidadãos, pois não qualquer crime, pelo contrário, traz a máxima glória.
nos ressentimos com nosso vizinho se ele age como (...) Em outras palavras: o soldado de Cristo mata
97
com a consciência tranquila e morre com a consciên- a) Do ponto de vista religioso e cultural, qual o signifi-
cia mais tranquila ainda.” cado dessa batalha para as regiões ocidentais do con-
(São Bernardo de Claraval apud COSTA, Ricardo da. tinente europeu?
Apresentação: A Cruzada Renasceu? BLASCO VALLÈS, b) Qual a nova força militar que desempenhou um pa-
Almudena, e COSTA, Ricardo da (coord.). Mirabilia 10. A Idade pel fundamental nessa batalha e que depois se tornaria
Média e as Cruzadas. jan.-jun. 2010/ISSN 1676- 5818, p. XIII) durante todo o período medieval uma das instituições
de sustento ao feudalismo?
No que se refere às Cruzadas no período medieval, de-
termine quem eram esses soldados de Cristo referen-
4. Qual o significado simultaneamente político e religio-
ciados no trecho acima, quais as motivações para em- so da coroação de Carlos Magno, ocorrida no Natal do
preender suas batalhas e quais as suas consequências ano 800?
para o mundo ocidental daquele período.
5. Observe a ilustração e leia a citação a seguir. Em se-
9. Godrici de Finchale foi um mercador que viveu no sécu- guida, responda ao que se pede.
lo XI, na Baixa Idade Média, no leste da atual Inglaterra.
"Quando o rapaz, depois de ter passado os anos da in-
fância sossegadamente em casa, chegou à idade varo-
nil, principiou a aprender com cuidado e persistência o
que ensina a experiência do mundo. Para isso decidiu
não seguir a vida de lavrador, mas estudar, aprender e
exercer os rudimentos de concepções mais sutis. Por
esta razão, aspirando à profissão de mercador, come-
çou a seguir o modo de vida do vendedor ambulante,
aprendendo primeiro como ganhar em pequenos ne-
gócios e coisas de preço insignificante; e, então, sendo
ainda um jovem, o seu espírito ousou pouco a pouco
comprar, vender e ganhar com coisas de maior preço.”
(Adaptado de Reginald of Durnham, "Libellus de
Vita et Miraculis S. Godrici", em Fernando Espinosa,
Antologia de textos históricos medievais. 3ª ed.,
Lisboa: Sá da Costa Editora, 1981, p. 198.) Nascida nos quadros do Império Romano, a Igreja ia
a) Segundo o texto, o ofício de mercador exigia uma aos poucos preenchendo os vazios deixados por ele
preparação diferente daquela do lavrador. Quais eram até, em fins do século IV, identificar-se com o Estado,
as diferenças entre esses dois ofícios? quando o cristianismo foi reconhecido como religião
oficial. (...) Estreitavam-se, portanto, as relações Esta-
b) Cite duas características do renascimento comercial do-Igreja. (...) No Império Carolíngio, a aliança entre
e urbano ocorrido no final do período medieval. os reis e a Igreja foi fundamental para a consolidação
de ambos os poderes e, por vezes, a Igreja assumia
U.T.I. - E.O.
funções que hoje consideramos ser do Estado e este
por sua vez interferia nos assuntos religiosos.
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média. Nascimento do
1. A palavra árabe iman significa ‘ter certeza’ e designa Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2001. p. 67 e 71.
fé, no sentido da certeza. A fé, por conseguinte, não con-
tradiz o conhecimento nem a compreensão. Pelo contrá- Sobre as relações entre Estado e Igreja, no período me-
rio, o desejo de saber é uma obrigação religiosa, e os dieval, responda:
tempos pré-islâmicos (século VI) na Arábia são chamados a) Qual o papel administrativo desempenhado pela
pelos islâmicos de jahiliya, ignorância. Igreja católica durante o Período Medieval?
Adaptado de: Burkhard Scherer (Org.). As grandes religiões: b) Como o Poder Real dos francos – merovíngios e caro-
temas centrais comparados. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 77. língios – contribuiu para a expansão do cristianismo na
Europa ocidental?
Como a fé e o conhecimento científico estavam relacio-
nados entre si no mundo islâmico na Alta Idade Média? 6. Qual a importância do ponto de vista geopolítico da-
quele período, o surgimento, estabelecimento e expan-
2. “O desenvolvimento da arte bizantina da produção são do Islão a partir do século VII?
de ícones em mosaicos não contradiz as razões que ori-
ginaram o Cisma do Oriente, em 1054.” 7. O Imperador Justiniano (527-565) entre outras reali-
zações, consolidou o conceito e as práticas do Cesaro-
Explique essa afirmação justificando-a.
papismo, que iriam ter muitas consequências ao longo
do tempo naquela região, particularmente no Leste eu-
3. A famosa “Batalha de Poitiers”, ocorrida no ano de
ropeu e na Rússia.
732, teve em Carlos Martel, líder dos francos e avô de
Carlos Magno uma figura central. O que é Cesaropapismo?
98
8. “O aparecimento da polis constitui, na história do 11. Considere os dois trechos de documento a seguir:
pensamento grego, um acontecimento decisivo (...).
1º trecho (século XI):
O que implica o sistema da polis é primeiramente
uma extraordinária preeminência da palavra sobre “I- A Igreja Romana foi fundada só pelo Senhor. (...)
todos os outros instrumentos do poder. Torna-se o III- Só ele [o pontífice romano] pode depor ou absolver
instrumento político por excelência, a chave de toda os bispos. (...)
a autoridade no Estado, o meio de comando e de do- IX- O papa é o único homem a quem todos os príncipes
mínio sobre outrem (...). Uma segunda característica beijam os pés. (...)
da polis é o cunho de plena publicidade dada às ma- XII- É-lhe permitido depor os imperadores. (...)”
nifestações mais importantes da vida social. Pode-se
mesmo dizer que a polis existe apenas na medida em (Papa Gregório VII – 1075 apud ESPINOSA,
Fernanda. Antologia de textos medievais.
que se distinguiu um domínio público, nos dois senti- Lisboa: Sá da Costa Editora, 1981, p. 289)
dos diferentes mas solidários do termo: um setor de
interesse comum, opondo-se aos assuntos privados; 2º trecho (século XIV):
práticas abertas, estabelecidas em pleno dia, opon-
“E aprendemos das palavras do Evangelho que nesta
do-se a processos secretos. Essa exigência de publici-
Igreja e em seu poder estão duas espadas, a espiritual
dade leva a apreender progressivamente em proveito
e a temporal. Uma espada, portanto, deverá estar sob a
do grupo e a colocar sob o olhar de todos o conjunto
outra, e a autoridade temporal sujeita à espiritual. (...)
de condutas, dos processos, dos conhecimentos que
constituíam na origem o privilégio exclusivo.” Por tudo isso que declaramos, estabelecemos e defini-
mos que é necessário para a salvação de toda criatura
(Jean-Pierre Vernant. As origens do pensamento grego. 1984.)
humana estar submetida ao pontífice romano”
a) O que era a polis? (Papa Bonifácio VIII, 1302 apud ESPINOSA,
Fernanda. Antologia de textos medievais.
b) Por que a PALAVRA é tão importante nesse contexto Lisboa: Sá da Costa Editora, p. 337-338).
ao qual o autor se refere?
Identifique nesses dois trechos o conflito a que os dois
9. O que significa o termo “Mesopotâmia” e qual a rela- papas se referem e explique as razões de sua persistên-
ção entre esse significado e as civilizações que surgiram cia no período da Baixa Idade Média europeia.
nas várias cidades-Estado daquela região?
10. As perseguições aos cristãos no Império Romano 12. No início do século XIV, o inquisidor Bernardo Guy
estavam ligadas especialmente a uma atitude dos cris- escreveu um Manual do Inquisidor, no qual descrevia
tãos com relação à figura do Imperador e que era ao como se ingressava na seita herética que ficou conhe-
mesmo tempo política e religiosa. cida pelo nome de pseudoapóstolos: “Perante algum
altar, na presença de membros da seita, o candidato se
a) Qual era essa questão? despe de suas roupas, como sinal de renúncia a tudo
que possui, para seguir com perfeição a pobreza evan-
b) Por que ela era simultaneamente política e religiosa? gélica. Também se exige que ele prometa não obede-
cer a nenhum mortal, mas só a Deus, como se fosse um
apóstolo sujeito apenas a Cristo e a ninguém mais.”
(Adaptado de Nachman Falbel, Heresias medievais.
São Paulo: Perspectiva, 1977, p. 66.)
99
HISTÓRIA DO BRASIL
101
FORMAÇÃO DE PORTUGAL E
NAVEGAÇÕES ULTRAMARINAS
A Borgonha (1139-1383)
Foi a primeira dinastia e configurou plenamente as ca- AS GRANDES NAVEGAÇÕES
racterísticas do feudalismo português. Durante os séculos XV e XVI, os europeus, principalmente
Sem se mostrar capaz de acompanhar as transformações so- portugueses e espanhóis, lançaram-se aos oceanos com
ciais e econômicas ocorridas em Portugal, a dinastia de Bor- dois objetivos principais: descobrir uma nova rota marítima
gonha se indispôs com a classe dos mercadores, que cresce- para as Índias e encontrar novas terras.
ra bastante nesse período; assim a dinastia de Avis, mais As navegações ajudaram a marcar a passagem da Idade
ligada aos interesses comerciais e urbanos, tomou seu lugar.
Média para a Idade Moderna e impulsionaram o aumento
Portugal era predominantemente agrário, e nos fins do sé- do comércio da Europa com a Ásia e a África. Além disso,
culo XIV, passou a desenvolver uma economia mais voltada resultaram na descoberta, em 1492, de um novo continen-
para a navegação e o comércio. te a ser explorado pelos europeus: a América.
102
Tratado de Tordesilhas A expansão ultramarina e suas consequências
implantação do trabalho compulsório indígena na Amé-
rica espanhola; expansão do comércio europeu;
afluxo de metais preciosos para o continente europeu,
Ilhas
Canárias
Cabo
AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA .
Conheciam a astronomia, uma vez que foram encontrados
registros de datas muito antigas. Também conheciam a es-
crita e sistemas matemáticos. Muitos traços e tradições dos
Olmecas olmecas sobreviveram entre as diversas culturas que os su-
cederam, como é o caso das culturas dos astecas e maias.
Originada na costa sul do golfo do México, a cultura olmeca
é considerada a primeira cultura elaborada da Mesoaméri-
ca e matriz de todas as culturas posteriores dessa área. As Maias
características marcantes do Império olmeca, que se esten- Ocupando as planícies da península do Iucatã, os maias
deu do México ocidental à Costa Rica, foram a presença de elaboraram uma das mais complexas e influentes culturas
centros cívicos religiosos a que se subordinavam áreas da América.
periféricas e a escultura monumental.
A economia agrícola considerava o milho um alimen-
A população olmeca era bastante desenvolvida. Espalhada to sagrado do qual teria se originado o homem. A terra era
pelo império, dividia-se entre uma minoria (sacerdotes, cultivada coletivamente e os camponeses eram obrigados
artífices de elite), que habitava os centros cerimoniais, a pagar o imposto coletivo. A pecuária ainda era des-
e a maioria do povo (camponeses), que vivia nas aldeias. conhecida, e a caça e a pesca atividades complementares.
A arte olmeca se caracterizou pela valor religioso. A escultura
era bastante desenvolvida: monumentais cabeças de pedra Os maias formavam uma sociedade rigidamente hie-
com rosto redondo, lábios grossos e nariz achatado; estatue- rarquizada, em que a posição social era determinada pelo
tas com formas humanas; e outras apresentando uma mistu- nascimento. Uma elite (militares e sacerdotes) constituía
ra de traços humanos e felinos. o grupo dominante, de caráter hereditário, que habitava os
103
numerosos centros cerimoniais circundados pelas aldeias a base da pirâmide social. A maior parte de terra pertencia
onde vivia a numerosa mão de obra de camponeses sub- aos sacerdotes e elites locais (líderes dos clãs), enquanto as
metidos ao regime de servidão coletiva. comunidades camponesas conservavam pequena parcela
para uso familiar.
Responsável pela política interna e externa e pelo recolhi-
mento do imposto coletivo das aldeias, acredita-se que o go-
verno maia fosse uma teocracia de caráter hereditário
PIRÂMIDE DO SOL
PIRÂMIDE DE KUKULCÁN, EM CHICHÉN ITZÁ O imperador possuía representação religiosa, militar e políti-
ca, seja por suas conquistas, seja pelo domínio sobre vários
Os maias construíram templos de forma retangular sobre povos, o que tornou o Império Asteca um Estado milita-
pirâmides truncadas com escadarias que se estendiam ao rista e teocrático.
redor de praças. Também edificaram palácios, que prova-
velmente serviam de residências dos sacerdotes. Construíram obras arquitetônicas colossais: templos e pa-
lácios com terraços em forma piramidal, objetos decorati-
Ao preverem os eclipses solares, o movimento dos planetas vos, obras de ourivesaria em prata, ouro e pedras preciosas
e elaborarem um calendário cíclico, bem como ao desen- utilizadas na decoração de palácios e templos. Os astecas
volverem noções avançadas, como um símbolo para o zero também se destacaram na astronomia, ao elaborarem um
e o princípio do valor relativo, os maias fizeram notáveis calendário solar que lhes possibilitava planejar as épocas
progressos na astronomia e na matemática. de plantio e colheita.
Por volta do ano 900, a civilização maia sofreu declínio de A religião asteca era politeísta, com prática de sacrifícios
população. Há estudiosos que atribuem o abandono dos humanos. Na crença asteca, para que o mundo fosse pre-
centros maias à guerra, à insurreição, à revolta social, a servado, os deuses exigiam oferendas do bem mais precio-
invasões bárbaras, etc. A exploração intensiva de meios de so que os homens possuíam: a vida.
subsistência inadequados, que provocaram a exaustão do
solo, ao lado dos intensos conflitos entre as cidades-Esta-
do, são as hipóteses mais prováveis. Até a conquista defi- Incas
nitiva pelos espanhóis, a cultura maia posterior se fundiu A região ocupada pelos incas ainda se estendia ao lon-
com a dos toltecas. go da cordilheira dos Andes, ocupando parte dos atuais
territórios de Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile e Ar-
Astecas gentina. Originariamente nômades, os incas faziam parte
do grupo quéchua. Entre os séculos XII e XIII, realizaram
Os astecas ocuparam originalmente a região noroeste do
várias conquistas na região andina (civilizações de Tiahua-
atual México. Guerreiros e expansionistas, domi-
naco, Huari e Chimu), alcançando seu apogeu na época da
naram os toltecas e outros povos da região. Construíram pa-
conquista espanhola no século XVI.
lácios, templos, mercados e canais de irrigação e, em 1325,
fundaram a cidade de Tenochtitlán, capital do império. A propriedade era divida em terras do Estado, terras dos
sacerdotes e terras comunitárias. Rigidamente estratifica-
Com destaque para o cultivo do milho, do algodão, do fei-
das, essa sociedade experimentou a formação de classes
jão e do cacau, cuja semente era utilizada como moeda, a
sociais, tornando-se estamental. Abaixo do imperador,
economia era essencialmente agrária.
havia uma elite de sacerdotes e militares (nobreza);
A sociedade era rigidamente hierarquizada: o imperador e artífices do Estado, médicos e contabilistas com-
sua família ocupavam a posição mais elevada da pirâmi- punham o grupo intermediário; a base da pirâmide so-
de social; em posição intermediária estavam os artesãos cial era constituída por escravos e uma grande massa
e comerciantes; os camponeses e os escravos ocupavam de camponeses.
104
Em 1503, a Coroa espanhola criou as Casas de Con-
tratação, órgão responsável por fiscalizar a cobrança
do quinto. Com o passar do século XVI, a Espanha foi
aprimorando seu sistema de administração colonial e
foram criadas as Audiências, instituições com compe-
tência jurídica instaladas nas mais importantes regiões
da América hispânica. Para centralizar a administração
da colônia espanhola, foi criado o Conselho das Ín-
dias em 1524.
O passo final para a melhor administração das terras ame-
MACHU PICCHU FOI, AO LADO DE CUZCO, UM DOS DOIS ricanas foi sua divisão em Capitanias (terras de menor
MAIS IMPORTANTES CENTROS URBANOS DA CIVILIZAÇÃO INCA.
representatividade econômica) e Vice-Reinos (terras de
O imperador era considerado um deus (Sapa Inca), descen- maior valor econômico).
dente direto do Sol. Os incas acreditavam em vários deuses
vinculados a elementos da natureza. Construíram grandes
templos e faziam sacrifícios animais e humanos.
Mercantilismo
A estruturação do capitalismo comercial coincidiu com
Sem escrita, a cultura era transmitida oralmente. O idio-
ma quéchua serviu de instrumento unificador do Império a formação dos Estados nacionais, organizando e impondo
Inca. Um conjunto de nós e barbantes coloridos, denomi- uma série de práticas econômicas visando a proporcionar o
nados quipus, permitiu aos Incas desenvolverem um en- acúmulo de metais preciosos como forma de dinami-
genhoso sistema de contabilidade. Na astronomia, foram zar as relações comerciais e fortalecer as moedas nacionais.
autores de um calendário. Na matemática, utilizavam o Essa política econômica dos Estados modernos ficou conhe-
sistema numérico decimal. cida como mercantilismo.
A intervenção do Estado na economia e o me-
A CONQUISTA ESPANHOLA E O talismo (acúmulo de metais preciosos) foram as princi-
pais bases do mercantilismo. A principal forma de obtenção
CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES e acúmulo de metais era o comércio, o que levou os gover-
Os impérios existentes na América foram vistos pelos coloni- nos a estimularem as exportações e a inibirem, mediante
zadores espanhóis como as principais ameaças ao projeto de protecionismo marcado por altas taxas alfandegárias, as
exploração do novo território. Os astecas e os incas foram os importações de artigos estrangeiros, caracterizando, assim,
que mais sofreram com o contato com os europeus. uma balança comercial favorável. Eram muito fortes os
estímulos governamentais à produção de artigos manufatu-
Uma grande vantagem dos espanhóis sobre os ameríndios
rados cujos preços eram bastante elevados no exterior e nas
foi o fato de possuírem armas de fogo, canhões e cavalos,
áreas coloniais.
todos elementos desconhecidos na América. Outro fator
que contribuiu para uma rápida conquista por parte dos Chamado também de sistema colonial, o colonialismo
europeus foi a disseminação de doenças até então inexis- figura como parte integrante da política mercantilista. Ele
tentes na América (ex.: gripe). correspondia ao conjunto de relações entre metrópoles
e colônias, quando aquelas impuseram uma série de re-
strições à economia colonial. As determinações metropoli-
Sob a administração da Espanha
tanas às colônias baseavam-se no monopólio e na comple-
No início, a Coroa espanhola não desejava gastar muitos mentaridade, conhecidas por Pacto Colonial.
recursos com a exploração das colônias americanas. Assim,
indivíduos que investiam seus recursos particulares para Matérias-primas – gêneros tropicais
explorar as novas terras eram chamados de adelanta-
dos. Eles ganhavam uma série de prerrogativas jurídicas
e militares, como o direito de fundar núcleos de ocupação, Colônia Pacto colonial Metrópole
explorar o solo e erguer fortalezas. Em troca, entregavam
um quinto de tudo o que fosse explorado na América e
Manufaturas – escravos
promoviam a cristianização dos ameríndios.
105
PERIODO PRÉ-COLONIAL, ADMINISTRAÇÃO
COLONIAL E INVASÕES FRANCESAS
Governo-Geral (1548)
Depois do fracasso do sistema de capitanias, Portugal
criou o Governo-Geral, que deveria corrigir as falhas das
capitanias hereditárias e não extingui-las. O novo órgão
OBRA DE BENEDITO CALIXTO, “FUNDAÇÃO DE SÃO VICENTE”, MOSTRA A VISÃO deveria centralizar a administração colonial,
DO ARTISTA SOBRE A CHEGADA DOS PORTUGUESES NO LITORAL PAULISTA. sendo o Governador-Geral a maior autoridade da Colônia
106
e representante direto do rei. O sistema de Governo-Geral Além disso, problemas internos na França colaboraram
foi criado por D. João III (o colonizador), que, por meio do para a formação de um núcleo colonial no Brasil: a Fran-
Regimento de 1548, determinou as principais funções do ça Antártica.
Governo: ajudar os donatários no que fosse necessário;
Mem de Sá (1558-1572)
combater índios e piratas; fundar núcleos de povoamento;
estimular a catequese e defender a fé cristã e organizar O terceiro Governador-Geral iniciou a luta contra os
expedições em busca de metais preciosos. franceses. O Forte de São Sebastião do Rio de Janeiro,
que seria o núcleo inicial da cidade do Rio de Janeiro, foi
fundado, em 1565, pelo sobrinho do governador, Estácio
Câmaras municipais de Sá, para auxiliar na luta contra os franceses. Dois anos
As vilas e cidades coloniais eram administradas pelas câ- depois, os franceses foram expulsos da região e a França
maras municipais, que representavam os interesses Antártica foi destruída.
de ricos proprietários chamados de homens bons.
D. Luís de Vasconcelos, nomeado como quarto Go-
Por vezes, as câmaras municipais gozavam de enorme au- vernador-Geral, não chegou ao Brasil, pois sua es-
tonomia, ignorando leis impostas pela capital e apostando quadra foi destroçada por corsários franceses. Também
na ausência de qualquer punição, considerando a precarie- morreram nessa ocasião quarenta jesuítas que acompa-
dade dos meios de comunicação e transporte. nhavam o governador. Ficaram conhecidos na história
como os Quarenta Mártires do Brasil.
Governadores-Gerais O Brasil foi dividido em dois governos: o do norte, com
Tomé de Souza (1549 – 1553) capital em Salvador e governado por Luís de Brito
Almeida, e o do sul, com capital no Rio de Janeiro e
Primeiro Governador-geral do Brasil. Chegou acompa-
governado por Antônio Salema.
nhado de aproximadamente mil homens (soldados, pro-
fissionais, funcionários públicos, etc.) a fim de construir Luís de Brito Almeida ficou apenas quatro anos no poder.
a primeira cidade do Brasil, Salvador, que se tornou Ele foi substituído por Lourenço da Veiga, que governava
a capital, sendo originalmente denominada Salvador da quando, em 1580, Portugal e sua Colônia passaram para o
Bahia de Todos os Santos. domínio espanhol, na chamada União Ibérica.
Duarte da Costa (1553-1558)
Um novo grupo de jesuítas, dentre os quais o padre José
Conselho Ultramarino
de Anchieta, desembarcou no Brasil acompanhado do se- D. João IV se tornou rei, pondo fim à União Ibérica depois
gundo Governo-Geral, que, juntamente com Manuel da da restauração do trono português, em 1640, quando foi
Nóbrega, fundou, em 1554, o colégio de São Paulo criado o Conselho Ultramarino, regulamentado em 1642.
de Piratininga, origem do povoado que se transforma- O novo órgão nasceu subordinado à Secretaria de Estado
ria na cidade de São Paulo. dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos e esta-
A invasão francesa no Rio de Janeiro, em 1555, foi va encarregado exclusivamente da administração colonial,
também um fato marcante desse governo. Ela estava concluindo o processo iniciado em 1548 com a instalação
vinculada aos problemas enfrentados pelos franceses na do Governo-Geral, sendo um passo decisivo para a centra-
extração do pau-brasil por causa do maior policiamento. lização administrativa colonial.
A experiência portuguesa na produção de cana na cos- No Brasil, a atividade açucareira funcionava da seguinte ma-
ta africana (Cabo Verde, Madeira, São Tomé). neira: os portugueses ficavam responsáveis pela produção, e
107
os holandeses financiavam a montagem dos engenhos, bem A substituição da escravidão indígena pela escravidão dos
como controlavam o transporte, o refino e a comercialização negros foi favorecida pela questão da obtenção de escra-
do açúcar, obtendo a maior porcentagem de lucros. vos. Os índios brasileiros eram nômades e seminômades e,
portanto, migravam constantemente. Além disso, a exten-
A primeira grande divisão de terras foi fundamental para
são do território era outro fator que dificultava a captura
determinar o modelo de colonização. Esse modelo ficou co-
de índios. Já os negros eram obtidos na África por meio
nhecido como plantation e baseava-se em três elementos:
de escambos entre os traficantes e os próprios africanos,
grande propriedade (latifúndio), monocultura e tra-
que capturavam negros de tribos rivais e trocavam-nos por
balho escravo (escravismo).
aguardente, rapadura e fumo trazido do Brasil.
O rei simplesmente legalizava a escravidão do índio sob pre-
texto de defendê-lo. Para aprisionar índios, foram organiza-
dos as chamadas bandeiras, expedições que se tornaram
um dos principais fatores da atual extensão do território
brasileiro, principalmente na região mais ao sul do Brasil
Colônia (atual Sudeste).
A organização da produção
do engenho
A grande produção só começa oficialmente com Martim NEGROS NO PORÃO DE UM NAVIO NEGREIRO
Afonso de Souza, em 1533, em São Vicente. As construções Havia a prática de aborto, infanticídio, suicídio e o banzo”(-
principais são a casa-grande, a senzala, as estrebarias e caracterizando por greve de fome e depressão por conta da
as oficinas. As principais instalações do engenho são: moen- privação da liberdade). Menos comum, mas ocorrente, era o
da, caldeira e casa de purgar. ataque à casa do senhor e a sua família. A resistência negra
A unidade produtora da agromanufatura açucareira era o podia se dar por meio de fugas indivíduais, fugas coletivas e
engenho, que se constituía basicamente de: a formação de quilombos.
Casa do engenho: formada pelas instalações desti-
nadas à produção de açúcar. Engenhos e a sociedade
Casa-grande: residência, geralmente assobradada, Essencialmente a sociedade colonial era:
onde viviam o senhor e sua família. Nela também mo-
Inculta – pois mesmo os membros da elite só recebiam
ravam os empregados de confiança (capatazes) que
o ensino das “letras básicas”, que não passavam do
cuidavam de sua segurança. Era a central administra-
aprender a ler, escrever e contar de modo primário.
tiva das atividades econômicas do engenho.
Aristocrática – porque dominada pelos ricos propri-
Capela: local das cerimônias religiosas.
etários de terras e de escravos.
Senzala: habitação de um único compartimento, rústi-
Rural – porque a vida econômica baseava-se na agri-
ca e pobre, onde viviam os escravos.
cultura. A vida urbana ainda era muito incipiente, com
a quase totalidade da população habitando o campo.
Escravista – porque a força de trabalho baseava-se
na escravidão do índio ou do negro.
Sem mobilidade social – porque não havia opor-
tunidade para trabalhadores e escravos saírem de sua
condição e ascenderem socialmente.
ENGENHO DE AÇÚCAR MOVIDO A ÁGUA
Patriarcal – porque o proprietário rural e pai de família,
ao considerar-se responsável pelo provimento material
Escravidão negreira do lar, impôs a obrigação de ser respeitado e obedeci-
A escravidão dos negros permitia a obtenção de grandes do no âmbito familiar. Esse poder sobre a família era
lucros por parte dos traficantes portugueses, que domina- estendido à sociedade, já que, como dono das riquezas
vam áreas fornecedoras de escravos na África, como Ango- materiais, o senhor considerava toda a população não
la, Goa, São Tomé e, posteriormente, Moçambique. proprietária dependente dele.
108
INVASÕES HOLANDESAS Bahia e a invasão holandesa
(SÉCULO XVII) (1624-1625)
A Companhia das Índias Ocidentais planejou a conquista
da Bahia. Para os holandeses, conquistar o Nordeste bra-
União Ibérica (1580-1640) sileiro significava assegurar o controle da produção açuca-
Em 1578, ocupava o trono português D. Sebastião, que reira, manter o funcionamento da economia metropolitana
viria a ser o último monarca da Dinastia de Avis. As dificul- e opor-se com eficácia ao embargo espanhol.
dades socioeconômicas e o espírito cruzadista levaram-no a Atacadas de surpresa, as forças luso-brasileiras, coman-
lutar contra os mouros no norte da África. dadas pelo bispo D. Marcos Teixeira e pelo governador
D. Sebastião desapareceu, não deixando herdeiros, durante Mendonça Furtado, foram forçadas a uma rápida rendi-
a batalha de Alcácer-Quibir. O velho cardeal D. Henri- ção em maio de 1624. O bispo escapou e refugiou-se no
que, único sobrevivente masculino da linhagem de Avis, as- Arraial do Espírito Santo, nos arredores de Salvador, de
sumiu a regência enquanto não se solucionava o problema onde iniciou a resistência, apoiado pelo governador de
da sucessão. Em 1580, o cardeal-regente morreu. Felipe II, Pernambuco, Matias de Albuquerque.
rei da Espanha, neto de D. Manuel, o Venturoso (o mes- Embora tivessem obtido com certa facilidade a rendição
mo que organizara a esquadra de Pedro Álvares Cabral), luso-brasileira, Jacob Willekens e Johan van Dorth, os co-
achou-se no direito de ocupar o trono português. mandantes das forças holandesas, não conseguiram con-
Portugal ficou submetido à Espanha durante 60 anos. Con- solidar a conquista. Faltou-lhes maior apoio da Holanda
sequentemente, o Brasil também passou para o domínio que, envolvida na Guerra dos Trinta Anos contra a Espa-
espanhol, sofrendo alterações em sua estrutura interna e no nha, não enviou reforços, suprimentos, armas e munições.
seu relacionamento internacional. A ocupação holandesa ficou ameaçada e não resistiu aos
Em 1580, quando da união das Coroas Ibéricas, Portu- frequentes ataques de grupos de guerrilheiros sediados no
gal viu-se envolvido pelas rivalidades espanholas, so- Arraial do Espírito Santo. Em maio de 1625, os holandeses
foram expulsos da Bahia.
bretudo com relação à Holanda. Rebelados desde 1567
contra os altos impostos e a repressão religiosa do cató-
lico Felipe II contra o calvinismo, os holandeses tiveram Invasão holandesa em
de sustentar longos anos de lutas para preservar sua Pernambuco (1630-1654)
liberdade diante do poderio espanhol. Visando preju-
Em 1630, os holandeses decidiram atacar a Capitania de
dicá-los, Felipe II decretou o fechamento dos portos do
Pernambuco, a maior produtora de cana-de-açúcar, que
Brasil, de Portugal e de qualquer domínio espanhol aos tinha uma defesa menos eficiente que a da Bahia, além
navios e comerciantes flamengos. de ser mais próxima da Europa.
A Holanda não teve outra alternativa senão lançar-se em A resistência foi organizada pelo Governador-Geral Matias
busca de mercadorias nas áreas produtoras. Paulatinamen- de Albuquerque, mas os flamengos não encontraram difi-
te, a hegemonia holandesa se firmou no Oriente, à custa do culdades para ocupar Olinda.
recuo dos portugueses que, sem autonomia, dependiam de
Os holandeses contaram com o apoio de Domingos Fer-
ações espanholas na região.
nandes Calabar, profundo conhecedor da região que os au-
Assim, já nos últimos anos do século XVI, os holandeses ti- xiliou em várias batalhas, inclusive na conquista do Arraial
nham atingindo o Oriente pela rota do Cabo, e, em 1602, do Bom Jesus.
fundaram a Companhia das Índias Orientais, que con- Apesar da resistência, os holandeses conquistaram novas
quistou o monopólio do comércio oriental, compreendido posições, consolidando sua ocupação de uma área que
entre o Cabo da Boa Esperança e o Estreito de Magalhães ia do Rio Grande do Norte ao Sergipe. A Companhia das
por todo o Índico e o Pacífico. Índias Ocidentais passou a organizar a administração da
Os holandeses fundaram, então, a Companhia das Ín- região conquistada.
dias Ocidentais, também conhecida pela sigla em inglês Tanto os senhores de engenho como os holandeses queriam
WIC (West Indian Company), monopolizando o comércio um ambiente de ordem e paz para que pudessem obter lu-
no Atlântico. A luta entre Espanha e Holanda impediu que cros com a atividade açucareira. A Companhia enviou ao Bra-
os holandeses se abastecessem de produtos americanos sil o conde João Maurício de Nassau Siegen, nomeado
como o açúcar e o tabaco. Governador-Geral do Brasil holandês (Nova Holanda).
109
Nassau, um governo habilidoso a Espanha, enfrentando dificuldades econômicas. Essas
dificuldades provocaram mudanças na atitude da Com-
(1637-1644) panhia das Índias Ocidentais em relação ao Brasil, ele-
Maurício de Nassau chegou ao Brasil em 1637 e desen- vando impostos e cobrando dívidas dos senhores de en-
volveu uma habilidosa política administrativa: genho. Os colonos passaram a lutar pela expulsão dos
holandeses, movimento iniciado em 1645 e conhecido
Obras urbanas – a cidade do Recife foi remodelada e
como Insurreição Pernambucana. Essa mudança
foram construídas pontes e obras sanitárias.
de atitude levou ao desentendimento entre Nassau e
Concessão de crédito – a Companhia concedeu
a Companhia.
créditos aos senhores de engenho, destinados ao rea-
parelhamento dos engenhos, à recuperação dos cana- Com o fim da trégua dos dez anos assinada em 1641, Por-
viais e à compra de escravos. tugal passou a lutar abertamente contra os holandeses, que
Vida cultural – o governo de Nassau promoveu a se renderam em 1654.
vinda para o Brasil de artistas, médicos, astrônomos,
naturalistas, etc. As invasões holandesas e
Tolerância religiosa – as diversas religiões da po- suas consequências
pulação (catolicismo, protestantismo, judaísmo, etc.) A decadência da lavoura de cana-de-açúcar pode
foram toleradas pelo governo de Nassau. Deve-se notar, ser apontada como a principal consequência da expulsão
entretanto, que a religião oficial era o protestantis- dos holandeses do Brasil.
mo calvinista,.
Os flamengos dominaram as técnicas de produção de ca-
Insurreição Pernambucana na-de-açúcar (plantation) e e se estabeleceram na região
das Antilhas. Assim, dominaram completamente o merca-
(1645-1654) do, mas sem depender de Portugal e da produção brasilei-
O trono português foi restaurado com a ascensão de D. ra, que não tinha como vencer a concorrência.
João IV, dando início à Dinastia de Bragança. Portugal as-
Restou a Portugal se aproximar da Inglaterra, que viria a se
sinou, em 1641, uma trégua de dez anos com a Holanda.
aproveitar da crise da lavoura açucareira para colocar Por-
A Holanda se beneficiaria com essa trégua por estar en- tugal sob sua esfera de influência, gerando uma tutela eco-
volvida na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) contra nômica e política que penduraria por quase dois séculos.
110
Com isso, o apresamento dos indígenas tornou-se muito
Bandeirismo de caça ao ouro ou
cobiçado em razão dos grandes lucros que rendia.
sertanismo de prospecção
Nesse período, os jesuítas de São Paulo tentaram impedir
A perda do grande mercado comprador de mão de obra indí-
a saída das expedições, despertando uma reação imediata
gena em decorrência da crise da economia agrícola obrigou
dos colonos paulistas. Em 1641, tentaram expulsar os je- o bandeirismo a transferir seus esforços para outro objetivo:
suítas de São Paulo, fato conhecido como a botada dos a procura de metais preciosos.
padres para fora.
Percorrendo extensas regiões à procura de índios para es- Formação de missões jesuíticas
cravizar, os bandeirantes, simultaneamente, abriram cami- O Governador-Geral Tomé de Sousa trouxe para o Brasil, em
nho para a integração e ocupação do interior. 1549, o primeiro grupo de jesuítas, liderados por Manuel da
Nóbrega. O principal motivo de sua presença na América era
A rivalidade entre jesuítas e bandeirantes se estendeu pe-
promover a catequese dos nativos. Com esse intuito, funda-
los séculos XVII e XVIII, ficando muito violenta em várias
ram vários aldeamentos conhecidos como missões ou redu-
situações, levando os dois lados a recorrer à Coroa Por- ções, onde educavam e catequisavam os nativos.
tuguesa. A contenda entre eles só foi resolvida durante o
governo do Marquês de Pombal, o qual, por não concordar Os jesuítas entravam com frequência em atrito com os colo-
nos, pois não aceitavam a escravidão indígena. Eram cons-
com as práticas dos jesuítas, expulsou-os do Brasil, mas
tantes os ataques de colonos, especialmente bandeirantes,
também proibiu a escravização de indígenas.
aos aldeados, com o objetivo de capturar índios para utilizá-
-los como escravos.
Sertanismo de contrato Os jesuítas foram os principais responsáveis pela educação
O bandeirismo, ou sertanismo de contrato, era formado por colonial até sua expulsão, em 1759, de Portugal e do Brasil,
expedições de caráter militar, contratadas por governantes, por ordem do Marquês de Pombal, primeiro-ministro do rei
donatários e proprietários rurais para capturar escravos fu- D. José I.
gidos das lavouras, arrasar quilombos e submeter popula-
ções indígenas hostis.
MINERAÇÃO
O sertanismo de contrato assegurou aos grandes proprie-
As primeiras jazidas de metais preciosos foram descobertas
tários de engenhos e plantações do litoral e aos criadores na última década do século XVII, por volta de 1693, por
de gado do sertão a posse de largas extensões de terras. bandeirantes paulistas, no território do atual estado de Mi-
nas Gerais. As expedições para a região das Gerais se mul-
Ataque a Palmares tiplicaram, e a região se povoou rapidamente, tornando-se
o mais importante centro econômico da Colônia no século
Os quilombos eram agrupamentos de escravizados fugi-
XVIII. Depois do ouro de Minas Gerais, foram realizadas
dos que resistiam em várias partes do sertão, desde o século descobertas menos importantes no Mato Grosso (1718) e
XVI, tornando-se uma das mais relevantes formas de rebe- em Goiás (1725). Dessa forma, a atividade mineradora deu
lião dos cativos. Palmares, liderado por Zumbi, foi um dos impulso à ocupação do interior do Brasil.
quilombos mais importantes, situado ao sul de Pernambuco,
no atual estado de Alagoas.. 2.5. Consequências da mineração
A Coroa contratou um grupo de sertanistas já fixados em As minas esgotaram-se no final do século XVIII, e a ati-
fazendas de gados no sertão da Bahia. Formavam um bando vidade mineradora entrou em declínio, bem como toda a
de quase mil homens, liderados por Domingos Jorge Velho. região, uma vez que não existia outra atividade que pu-
Depois de uma primeira tentativa fracassada, os sertanistas desse substituí-la. A mineração provocou profundas trans-
organizaram uma nova expedição com a ajuda governa- formações e consequências econômicas, sociais, políticas e
mental, e um novo ataque iniciou-se em janeiro de 1694. culturais na Colônia.
Comandados por Zumbi e entricheirados na serra da Bar- Aumento populacional, em razão da descober-
riga, os palmarinos resistiram até a morte. Zumbi e alguns ta das minas.
companheiros ainda conseguiram romper o cerco e fugir, Urbanização, com a fundação de vilas e cidades,
mas foram capturados e mortos algum tempo depois. como Mariana, Vila Rica, São João del-Rei, Sabará e
111
Congonhas do Campo, onde se desenvolveram ativi- comércio no estuário platino.
dades tipicamente urbanas de comércio, artesanato,
Tratado de Lisboa (1681): a Espanha reconheceu a
marcenaria, etc.
Colônia de Sacramento como legítima possessão portuguesa.
Crescimento e diversificação de um segmento
Tratado de Utrecht (1713): estabelecia que o rio
médio na sociedade e ampliação da camada dos ho-
Oiapoque, ou Vicente Pinzón, seria considerado como
mens livres.
limite entre o Brasil e a Guiana Francesa.
Mais mobilidade social, pois a mineração possibilitou
Tratado de Utrecht (1715): assinado entre Portugal
o enriquecimento e a melhoria na vida de muitas pessoas.
e Espanha, na cidade de Ultrech, na Holanda, restabe-
Surgimento do mercado interno para abastecer a lecia a posse da Colônia de Sacramento a Portugal, que
região mineradora e desenvolvimento de rotas comerciais. havia sido tomada pelos espanhóis.
Melhoria das estradas, com o intuito de favorecer o Tratado de Madrid (1750): em relação à Colônia de
abastecimento das minas e controlar o fluxo do ouro. Sacramento, vigoraria o velho princípio de direito ro-
mano do “uti possidetis, ita possideatis”, ou seja, as-
Mudança do eixo econômico do Nordeste para o
sim “como possuis, assim possuais”. Quem possui de
Centro-Sul.
fato deve possuir de direito. A propriedade da terra foi
Transferência da capital da Colônia de Salvador para atribuída a Portugal, seu ocupante de fato. Portugal, no
o Rio de Janeiro (1763). entanto, aceitaria negociar a Colônia de Sacramento
Incentivo às artes, bem como desenvolvimento cultu- recebendo em troca as terras de colonização portugue-
ral da Colônia. sa além de Tordesilhas e uma região denominada Sete
Povos das Missões, localizada a noroeste do Rio
Conflitos, como a Guerra dos Emboabas, entre paulis- Grande do Sul, onde existiam aldeamentos guaranis di-
tas e forasteiros, pelo direito de explorar as minas, sobre rigidos por jesuítas espanhóis. Portugal aceitou de ime-
as quais os paulistas queriam exclusividade. diato. Ficou estabelecido também que, se porventura
Aumento da opressão fiscal, em razão da minera- as duas nações entrassem em guerra na Europa, a paz
ção, que fez aumentar os impostos e acirrar a fiscalização deveria continuar reinando nas colônias da América.
administrativa, burocrática e militar por parte da Coroa. Tratado de El-Pardo (1761): assinado entre Es-
Revoltas, em razão da forte opressão e dos altos impos- panha e Portugal, revogou o Tratado de Madrid. Em
tos, como a Revolta de Vila Rica e a Inconfidência Mineira. face da vigorosa resistência dos jesuítas espanhóis dos
Sete Povos das Missões, Portugal teve muitas dificul-
dades para ocupar aquela região, recebida em troca da
TRATADOS DE LIMITES Colônia de Sacramento. De 1754 a 1756, as tropas
portuguesas e espanholas atacaram e venceram
Posteriormente ao Tratado de Tordesilhas, de 7 de junho de
um grande número de índios na região. Todavia,
1494, Portugal celebrou uma série de outros tratados com
terminada a luta, o comandante português, Gomes
países europeus, visando solucionar problemas de frontei-
Freire, julgou seguro apoderar-se da área que ain-
ras do Brasil Colonial.
da contava com muitos índios rebelados. Todo o
O Tratado de Tordesilhas foi deixado de lado, uma vez que Tratado de Madrid perdera sua validade, sendo anulado
os bandeirantes, as missões jesuíticas e os criadores de gado pelo Tratado de El Pardo.
não o respeitavam mais.
Tratado de Santo Ildefonso (1777): no reinado de
As desavenças entre portugueses e espanhóis no Sul giravam D. Maria I, os portugueses cederam os Sete Povos das
em torno da Colônia de Sacramento, surgida em 1680, na Missões à soberania espanhola, celebrando o acordo
margem esquerda do rio da Prata. Os portugueses fundaram que transferia à Espanha o controle exclusivo sobre o
essa colônia comprometendo a segurança de Buenos Aires, rio da Prata.
prestes a se tornar vice-reino espanhol. Os espanhóis ataca-
Tratado de Badajós (1801): os conflitos travados
ram Sacramento e aprisionaram todos os seus ocupantes.
em solo europeu entre Portugal e Espanha surtiram
efeitos sobre os seus territórios na América e resul-
Colônia de Sacramento taram na assinatura do Tratado de Badajós. Embora
A Colônia do Santíssimo Sacramento foi fundada em 1680, ele tenha determinado que a Colônia de Sacramento
na margem esquerda do rio da Prata, próxima a Buenos Ai- passaria para a Espanha e tenha se omitido em relação
res, pelo governador e capitão-mor da capitania do Rio de aos Sete Povos das Missões, passado algum tempo, os
Janeiro, D. Manuel Lobo. O avanço português em direção gaúchos recuperaram a região de Sete Povos e incor-
ao Sul, especialmente na região da Bacia do Prata, visava poraram-na definitivamente ao Brasil, em 1804, com o
garantir acesso às minas de prata de Potosí, bem como ao reconhecimento da Espanha.
112
CRISE DO SISTEMA COLONIAL, REVOLTAS
NATIVISTAS E MOVIMENTOS EMANCIPACIONISTAS
113
de engenho, cuja maioria morava em Olinda, então sede dos Estados Unidos ajudaram a desenvolver na Colônia a
do poder público da capitania de Pernambuco, e os co- consciência da opressão colonial.
merciantes do Recife, de maioria portuguesa, chamados Gradativamente, foi amadurecendo uma incipiente ideia
pejorativamente de mascates. da necessidade de defesa da liberdade política, econômica
Em 1709, Recife ganhou autonomia em relação à Olinda, e cultural da Colônia. As lutas não mais se restringiam à
uma vez que foi elevada à categoria de vila. Inconformados, simples resistência aos monopólios ou aos impostos, mas
os senhores de engenho, moradores de Olinda, invadiram se voltavam contra o pacto colonial e a favor do rompimen-
Recife e destruíram o pelourinho, símbolo da autonomia da to político de dependência da Metrópole.
vila. Os mascates revidaram o ataque, desencadeando uma
série de conflitos entre as duas vilas. Inconfidência Mineira (1789)
Os combates só terminaram em 1711, mediante a firme A Inconfidência Mineira foi o primeiro movimento a pregar
intervenção das autoridades coloniais. No mesmo ano a separação política da capitania de Minas Gerais em rela-
chegaram à Colônia as novas autoridades enviadas pela ção a Portugal, uma vez que a ideia de Brasil ainda não era
Coroa portuguesa. Embora conciliador, o novo governa- consistente. A Inconfidência Mineira ocorreu em 1789, em
dor vindo de Portugal confirmou a autonomia de Recife, Vila Rica, hoje cidade de Ouro Preto. Entre as causas que
que foi transformada em capital de Pernambuco. determinaram o movimento, é possível destacar:
os excessos cometidos pelas autoridades portuguesas
Revolta de Filipe dos Santos para administrar a região das Minas;
ou de Vila Rica (1720) a decadência da produção de ouro e o sistema de co-
brança dos quintos. Caso a arrecadação do ouro não
Em 1719, devido à criação das casas de fundição em Mi-
chegasse a 100 arrobas (cerca de 1,5 mil quilos), era
nas Gerais, a circulação de ouro em pó foi proibida, fa-
decretada a derrama: a diferença que faltava para com-
tor que criou diversos inconvenientes para a população
pletar a quantia determinada era cobrada de toda a
da cidade, que estava acostumada a usá-lo como moeda
população pela força das armas;
corrente. Além disso, as casas de fundição tornavam mais
efetivo o controle da Coroa portuguesa sobre o imposto do as ideias liberais trazidas por brasileiros que estudavam
quinto, ou 20% do ouro encontrado no Brasil. Ao fundir as nas universidades europeias; e
barras de ouro, já era realizada a cobrança do imposto. As a independência dos Estados Unidos, cujos colonos,
punições sobre quem fosse pego sonegando o pagamento também revoltados contra o sistema fiscal de sua me-
do imposto aumentaram e se tornaram mais severas. trópole, tinham conseguido se libertar da Inglaterra.
Essas medidas causaram forte impacto sobre os minera- Os objetivos dos inconfidentes eram os seguintes:
dores, provocando uma revolta, que eclodiu em 1720, sob estabelecer um governo independente de Portugal,
a liderança de Filipe dos Santos. As principais reivindica- abolindo todos os vínculos coloniais;
ções do movimento eram: redução de impostos sobre adotar o regime republicano;
a atividade mineradora, diminuição dos preços dos
instituir o serviço militar obrigatório;
produtos cujo comércio era monopolizado pelos por-
adotar uma bandeira com o lema Libertas quae sera
tugueses e fechamento das casas de fundição.
tamen (Liberdade ainda que tardia);
Os revoltosos procuraram o governador das minas – o
criar indústrias, particularmente a têxtil e a bélica;
conde de Assumar – e apresentaram suas reivindicações.
transformar São João del-Rei na sede do governo; e
O governador prometeu atendê-los. Na verdade, ganhou
tempo para organizar tropas e, em seguida, ordenou que criar uma universidade em Vila Rica.
suas tropas invadissem Vila Rica, prendessem os insurretos Os inconfidentes foram traídos e denunciados por três partici-
e reprimissem violentamente qualquer tipo de manifestação. pantes da conspiração. Eles procuraram o então governador,
Alguns mineradores foram punidos com o degredo e Filipe Visconde de Barbacena, e delataram o movimento.
dos Santos foi enforcado e esquartejado.
Barbacena expediu ordens de prisão contra os inconfidentes e
MOVIMENTOS EMANCIPACIONISTAS deu início ao processo de devassa, que durou até 1792. Feita
a triagem, 30 conjurados, acorrentados e algemados, ouvi-
O aumento do número de profissionais liberais e de ho- ram a sentença pelos seus “hediondos crimes e infâmias”
mens livres, o desenvolvimento das classes proprietárias, a praticados contra Portugal: nove foram condenados à morte
influência das ideias liberais da Europa e da independência na forca, e os outros, ao degredo perpétuo. Sobre Joaquim
114
José da Silva Xavier, o Tiradentes, considerado líder, recaiu a A insatisfação popular foi impulsionada pelos ideais da
violência maior da devassa: foi condenado à morte na forca Revolução Francesa, pelo sucesso da independência das
e ao esquartejamento. Treze Colônias Inglesas, pelas ideias iluministas divulga-
das por lojas maçônicas, como a dos Cavaleiros da Luz,
e pelo propagandista dessas ideias, o cirurgião e filósofo
Cipriano Barata.
A rebelião baiana propunha mudanças verdadeiramente re-
volucionárias na estrutura da Colônia. Pregava a igualdade
de raça e cor, o fim da escravidão (inspirados nos processo
de independência do Haiti) e a abolição de todos os privi-
BANDEIRA DOS INCONFIDENTES QUE INSPIROU A légios, o que permite considerá-la a primeira tentativa de
ATUAL BANDEIRA DOESTADO DE MINAS GERAIS.
revolução social no Brasil. No dia 12 de agosto de 1798,
a cidade de Salvador amanheceu com os muros cheios de
Conjuração Baiana ou panfletos. Os rebeldes desejavam conclamar o povo por
Revolta dos Alfaiates (1798) meio dos informes espalhados pela cidade.
Em 1798, ocorreu em Salvador a Conjuração Baiana, resulta- Entretanto, a pouca organização e preparação dos rebeldes
do da insatisfação das camadas médias urbanas e da popula- e o grande número de analfabetos facilitaram a rápida ação
ção pobre com o agravamento da crise econômica da região. do governo. No dia 25 de agosto, a prisão da maioria dos
envolvidos destruiu qualquer possibilidade de levante. Os
Foi um movimento de caráter popular, também denominado líderes negros e mestiços foram presos. Os únicos brancos
Revolta dos Alfaiates (ou Revolta dos Búzios), graças ao consi- detidos foram Cipriano Barata e Aguilar Pantoja. Depois do
derável número de participantes que exerciam essa profissão. julgamento, quatro envolvidos foram condenados à forca:
A situação econômica provocou desemprego, fome e mi- os mestiços João de Deus Nascimento, Manuel Faustino dos
séria, além de deixar a região fora do interesse dos comer- Santos, Lucas Dantas e Luís Gonzaga das Virgens. Como
ciantes, que preferiam enviar seus produtos para o Sudeste sempre acontecia nesses casos, foram executados e esquar-
e o Sul, onde encontravam melhores preços. tejados para servir de exemplo.
116
Tratados de 1810 A Revolução Pernambucana de 1817
Em 1810, Lorde Strangford, representante inglês, e Sousa A presença da Corte portuguesa no Rio de Janeiro deman-
Coutinho, ministro de D. João, firmaram os seguintes acor- dava altos gastos para o Estado e, para sustentá-la, D. João
dos: o Tratado de Aliança e Amizade e o Tratado de promovia constantes aumentos de tributos, elevando
Comércio e Navegação, que estabeleciam: ainda mais o custo de vida e a expropriação dos brasileiros.
nomeação de juízes ingleses para julgar os súditos bri- Esse cenário levou alguns segmentos sociais pernambuca-
tânicos que viviam no Brasil; nos, influenciados pelas ideias iluministas, pela Revolução
liberdade religiosa para os ingleses (na sua maioria pro- Francesa e pelo liberalismo político do movimento de Inde-
testantes anglicanos); pendência dos EUA, a organizarem um movimento revolu-
cionário cujo objetivo era a independência de Pernambuco.
cobrança de taxa de 15% na importação de mercadorias
inglesas, mais baixa que os 16% cobrados das mercado- Os revolucionários pernambucanos queriam a adoção de
rias portuguesas e que os 24% cobrados de mercadorias uma República Federalista, o fim dos monopólios
de outras nacionalidades; comerciais e dos tributos excessivos, a adesão de
um porto livre: o de Santa Catarina; outras províncias do norte e nordeste contrárias à presença
da Corte portuguesa no Brasil e o fim das políticas imple-
proibição da atuação da Santa Inquisição no Brasil, que mentadas pelos portugueses.
julgava quaisquer desvios da fé católica;
Os revoltosos anteciparam o levante, tomando o poder e
gradual extinção do tráfico negreiro para a Colônia. instituindo um governo provisório. Enquanto não era con-
O resultado direto desses acordos foi a total abertura do mer- vocada uma Assembleia Constituinte, foi instituída uma
cado consumidor brasileiro aos produtos ingleses. Lei Orgânica, que determinava a adoção do regime re-
publicano e a liberdade de comércio e de imprensa.
Nos 13 anos em que permaneceu no Brasil, D. João tomou
uma série de medidas que contribuíram para o desenvolvi- A reação do governo português foi imediata. Enviou
mento e a autonomia do Brasil: tropas da Bahia e do Rio de Janeiro, que bloquearam o
porto de Recife e atacaram os revoltosos por terra e mar.
instalação da imprensa e da Biblioteca Régia;
Despreparado, o exército revolucionário foi derrotado fa-
criação do Horto Real (Jardim Botânico); cilmente pelas tropas leais ao governo Joanino.
criação das Escolas de Medicina de Salvador e do Rio
de Janeiro; A política externa
criação da Escola de Comércio e da Escola Real de Ar- O Período Joanino foi marcado por intensos combates
tes, Ciências e Ofícios; visando à defesa do território ou à anexação de alguma
região, sempre usando como pretexto a ameaça francesa
financiamento de uma Missão Artística Francesa, lide-
ou espanhola.
rada por Joachim Lebreton, que trouxe para o Brasil
pintores como Nicolas Taubay e Jean-Baptiste Debret, Em 1809, com o apoio militar britânico, D. João VI orde-
o escultor Auguste Taunay, o arquiteto Grandjean de nou a invasão da Guiana Francesa. Embora tenha sido
Montigny e o gravador Marc Ferrez; a Missão lançou as anexado pelo Brasil, o território foi devolvido para a Fran-
bases para a Real Academia de Belas Artes; ça em 1817, por determinação do Congresso de Viena.
fundação da Academia Real Militar e Academia da Em 1816, o velho sonho português de estender as frontei-
Marinha; ras brasileiras até o rio da Prata se tornou realidade com a
invasão do Uruguai. Liderados pelo general Lecor, as tropas
criação da Fábrica de Pólvora;
luso-brasileiras dominaram Montevidéu em 1821. A região
criação das fábricas de ferro Ipanema (Sorocaba-SP) e foi anexada ao Brasil com o nome de Província Cispla-
Patriótica (Congonhas-MG); tina. Em 1828, ao conquistar sua Independência, ganhou o
inauguração do Real Teatro São João, no Rio de nome de Estado Oriental do Uruguai.
Janeiro;
instalação de novos bairros, sistema de esgoto, drena-
Revolução Liberal do Porto (1820)
gem dos pântanos e calçamentos das ruas principais Depois da queda de Napoleão Bonaparte, o seu Império
do Rio de Janeiro. esfacelou-se. Os governos europeus trataram de se unir
117
para planejar a reordenação política da Europa. Organi- Dessa forma, os burgueses que defendiam uma Monarquia
zou-se, então, de 2 de maio de 1814 a 9 de julho de 1815, Constitucional começaram a se sentir fortalecidos. Entre
o Congresso de Viena, que, de fato, foi uma conferência 1817 e 1818, ocorreu o primeiro levante burguês de cunho
entre os embaixadores das principais potências europeias liberal; e, em 1820, teve início a Revolução Liberal do
com o objetivos de reordenar o mapa político da Europa, Porto, que reivindicava a volta de D. João VI para Portugal
restabelecer a colonização e tentar reviver o mundo colo- e a assinatura e o juramento de fidelidade à Constituição
nial, além de reconduzir ao trono as famílias reais subjuga- que seria elaborada, transformando o país numa Monar-
das por Napoleão, resgatando o Absolutismo. quia Constitucional.
No Brasil, com a morte da rainha-mãe, D. Maria I (1816), D. João Quanto ao Brasil, os liberais portugueses resolveram
foi, em 1818, aclamado rei com o título de D. João VI. que todas as concessões feitas aos colonos deviam ser
Em Portugal, por sua vez, o rei era representado pela Regência anuladas, uma vez que defendiam a recolonização do Bra-
do governo militar britânico de William Carr Beresford, o que sil. Sob a ameaça de perder o trono, D. João VI voltou para
provocava o descontentamento da população e o acirramento Lisboa no dia 25 de abril de 1821. Um de seus filhos, D.
da oposição ao governo do marechal inglês. Pedro, ficou como príncipe regente do Brasil.
PROCESSOS DE INDEPENDÊNCIA DO
BRASIL E DA AMÉRICA ESPANHOLA
118
É possível associar a Independência do Brasil aos interesses federativa, renunciando ao centralismo que provocara
externos, com destaque para a atuação da Inglaterra, uma disputas acirradas.
vez que o país ambicionava a ampliação dos mercados con- Na América Central, depois da vitória de Iturbide, os cabil-
sumidores para seus produtos manufaturados. Ressalte-se dos começaram a declarar sua independência. Em 1823,
ainda que a maior parte da população não participou do formaram as Províncias Unidas da América Central.
processo de independência do Brasil, uma vez que ele foi Em face da tentativa de domínio da Guatemala sobre os
tão somente um acordo entre os detentores do poder eco- demais, a união começou a desintegrar-se, originando as
nômico e político que seria mantido no futuro Império. regiões autônomas da Guatemala, Nicarágua, Honduras, El
A Independência brasileira foi sui generis no contexto america- Salvador e Costa Rica. Esse processo de separação foi con-
no. O Brasil foi o único país, com exceção do México, a adotar cluído somente em 1888.
a monarquia como forma de governo. O processo de rompi-
mento com a metrópole foi liderado por um representante das América do Sul
elites dominantes, ou seja, por um defensor dos seus interesses
e os de outros países, como os da Inglaterra, por exemplo, que A campanha de Bolívar
não precisava, nem desejava, o apoio popular. Simon Bolívar teve uma importante participação nas in-
O liberalismo da Independência brasileira era essencial- dependências da Colômbia (1819), da Venezuela (1821),
mente econômico, não político nem social. O que explica a do Equador (1830) e da Bolívia (1825). A origem desses
marginalização popular e a manutenção da escravidão. países não fazia parte do seu projeto, que visava à consti-
tuição de uma nação forte e coesa, formada pela união dos
Os grupos dominantes temiam que a América Portuguesa se povos de uma mesma língua.
fragmentasse politicamente, como ocorria na América Espa-
nhola. Em razão disso, firmaram com D. Pedro um acordo por
meio do qual a monarquia aproveitaria o aparelho burocrático
Independência do Vice-reino de Nova
já instalado, mantendo um governo centralizado e afastando Granada e da Capitania Geral da Venezuela
os grupos sociais indesejados das decisões políticas. Em 1806, ocorreu uma primeira tentativa de independên-
cia num movimento liderado por Francisco de Miranda.
119
Durante as discussões sobre a legitimidade do governo de enfrentou novos distúrbios e, em 1825, teve início um levan-
Bonaparte na Espanha, Buenos Aires jurou lealdade ao rei te que contou com a ajuda dos argentinos. Em 1828, houve
Fernando VII, mas recusou fidelidade à Junta Central. Nesse o estabelecimento do Estado Oriental do Uruguai,
imbróglio, a cidade, em 1810, declarou-se cabildo abier- livre dos domínios tanto brasileiro como argentino e garan-
to. O vice-rei, que não tinha apoio suficiente, entregou tido pela Grã-Bretanha, que desejava o mercado local para
o cargo e o poder ficou nas mãos do cabildo, que, dessa seus produtos.
forma, iniciava uma nova fase política, desencadeada pela
Revolução de Maio. A junta afirmou a igualdade básica Paraguai
entre indígenas e descendentes de espanhóis e esboçou a A região do atual Paraguai também pertencia à vice-pro-
adoção de princípios liberais. víncia do Prata. No entanto, não se juntou a Buenos Aires
no rompimento com a Metrópole, manifestando apoio à
Após sucessivas juntas de governo e disputas internas, foi
Espanha. Pouco depois, em virtude das ameaças argenti-
declarada, em 1816, a independência das Províncias
nas, buscou uma forma de convívio com esse país. Retirou
Unidas do Rio da Prata, na cidade de Tucumán. seu apoio à Metrópole e proclamou sua independência
Em 1813, San Martín passou a integrar o exército. Estava em em 1811. No entanto, tropas portenhas foram enviadas
curso a libertação do Peru. As lutas na região do Alto e Baixo para reprimir os paraguaios, que conseguiram vencer as
Peru não ocorreram como os portenhos supunham. Havia forças da futura Argentina. José Gaspar Francia assumiu
muito mais resistência leal à Espanha do que se pensava. o poder e obteve o título de “Ditador supremo” e, depois,
“Ditador perpétuo”. Francia exerceu o poder até 1840.
Foi nesse instante que San Martín ganhou destaque. Estra-
tegista, elaborou um plano para a libertação do Peru a partir
da consolidação da unidade territorial. A proposição de San Bolívia
Martín era de que a revolução não seria vitoriosa enquanto o Boa parte do território da Bolívia integrava o Vice-Reino do
Peru, realista, não fosse liberado, considerando sua indepen- Prata, região que despertava grande interesse em Buenos
dência fundamental para a liberdade de todo o continente. Aires por causa da prata. As disputas entre realistas e por-
As campanhas de Chacabuco (1817) e de Maipú tenhos fez com que os bolivianos passassem a alimentar o
(1818) consolidaram a independência do Chile, ten- desejo de um governo independente.
do Bernardo O’Higgins, militar e político chileno, assu- O clima de guerra civil na região levou a uma intervenção
mido o poder. das tropas peruanas. Em 1825, o general Sucre ajudou a
Usando Valparaíso, no Chile, como base, em 1820 San Mar- derrotar os partidários da Espanha e promoveu a inde-
tín e seu exército partiram de barcos para tomar a cidade pendência nomeando o novo país de Bolívia, em
de Lima, então capital do Vice-Reino do Peru. Após cercar a homenagem ao líder da independência, Simon Bolívar.
cidade, finalmente em julho de 1821, San Martín entrou em
Lima e proclamou a independência do Peru no dia 28 A independência do Haiti (1804)
de julho daquele ano, apoiado pelo general Sucre.
Em 1789, Santo Domingo (ex-Hispaniola, hoje Haiti) era
uma colônia francesa. Em 1791, parte da população
As independências de Uruguai, branca foi massacrada num levante de escravos. O es-
Paraguai e Bolívia cravo liberto Toussaint-Louverture liderou esse movi-
mento emancipacionista, enfrentando tropas francesas
Uruguai que vieram em socorro dos brancos. Toussaint-Louverture
Com os movimentos portenhos de 1810, o território conhe- saiu vitorioso, aboliu a escravidão e deu uma Constitui-
cido como Banda Oriental (à direita do rio da Prata) dividiu- ção à colônia.
-se. Aos poucos, os grupos ligados à Espanha venceram a Em 1802, Napoleão enviou um exército para derrotar Lou-
disputa interna, e os derrotados, liderados por José Gervá- verture, mas não obteve sucesso. Assinaram um tratado
sio Artigas, apoiavam Buenos Aires por causa do rompi-
de paz, mas Louverture foi traído, e acabou morrendo em
mento com a Metrópole espanhola. O caminho do Uruguai,
Paris, no cárcere.
que fazia parte do Vice-Reino do Prata, foi a negação da
unificação perseguida por Buenos Aires. Nesse contexto de O movimento emancipacionista foi retomado por Jean-Ja-
divisão, Portugal invadiu a Província Oriental, pois desejava cques Dessalines, Henri Cristophe e Alexandre Pétion, que
acesso ao rio da Prata e temia a propagação das ideias de in- conquistaram a independência do Haiti em 1804.
dependência. Em 1821, o Uruguai foi incorporado ao Reino
Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Com a independência
do Brasil (1822), a Província Cisplatina, região incorporada,
120
U.T.I. - Sala
1. O triunfo holandês seria coroado com a chegada do conde Maurício de Nassau-Siegen, que desembarcou como
governador em janeiro de 1637. Transformado em mito de nossa história seiscentista, Nassau ficaria também ce-
lebrizado pela missão de pintores e naturalistas que financiou no seu governo. Frans Post (1612-1680) foi o mais
renomado componente da missão nassoviana, dedicando-se à pintura de paisagens, retratando a natureza tropical e
as construções humanas.
2. No Brasil, costumam dizer que para o escravo são necessários PPP, a saber, pau, pão e pano. E, posto que comecem
mal, principiando pelo castigo que é o pau, contudo, prouvera a Deus que tão abundante fosse o comer e o vestir
como muitas vezes é o castigo, dado por qualquer causa pouco provada, ou levantada; e com instrumentos de muito
rigor, ainda quando os crimes são certos, de que se não usa nem com os brutos animais...
Adaptado de: ANTONIL, A.J. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. 3. ed. Belo Horizonte: Itatiaia/Edusp, 1982. p. 89.
Coleção Reconquista do Brasil. Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000026.pdf>. Acesso em: 1 ago. 2012.
De acordo com o texto, como o padre Antonil se posiciona perante a questão da escravidão?
3. Durante o processo de independência do Brasil, não haviam ideias claras sobre o federalismo. Empregava-se “fed-
eração” como sinônimo de “república” e de “democracia. Mas a historiografia oficial da independência procurou
ocultar a existência do projeto federalista, encarando-o apenas como resultado de impulsos anárquicos e de am-
bições personalistas e antipatrióticas.
a) Identifique no texto os dois significados opostos para o federalismo.
b) Qual o projeto político que dominou a conclusão do nossa independência?
4. “A sede insaciável do ouro estimulou a tantos a deixarem suas terras e a meterem-se por caminhos tão ásperos
como são os das minas, que dificultosamente poderá dar-se conta do número das pessoas que atualmente lá estão.“
(ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas.)
5. No início do século XIX, iniciaram-se as revoltas coloniais na América hispânica, acompanhando os movimentos
separatistas ocorridos no Brasil.
Qual a principal característica do processo de independência das colônias hispânicas e as diferenças marcantes entre
sua emancipação política e a emancipação ocorrida no Brasil?
6. As expedições destinadas ao apresamento dos nativos, como se pode observar no mapa abaixo,eram a principal
atividade econômica dos bandeirantes paulistas entre os séculos XVI e XVIII.
121
a) Qual a relação existente entre as expedições de apresamento e as atividades econômicas realizadas pelos mora-
dores da Capitania de São Vicente?
b) Cite um efeito dessas expedições para a colônia portuguesa na América nesse período.
7.
a) Identifique e analise dois elementos representados na imagem, ligados ao contexto histórico de Portugal na se-
gunda metade do século XVIII.
b) Cite e explique duas medidas tomadas pelo governo português com relação ao Brasil, nesse período.
8. A transformação do Rio de Janeiro em corte real começou apenas dois meses antes da chegada do príncipe re-
gente, quando notícias do exílio real – tão “agradáveis” quanto “chocantes”, cheias de “sustos e alegrias” – foram
recebidas. Entretanto, como descobriram os residentes da cidade, os preparativos iniciais para acomodar Dom João e
os exilados marcaram apenas o começo da transformação do Rio de Janeiro em corte real, pois o projeto de construir
uma “nova cidade” e capital imperial perdurou por todo o reinado brasileiro do príncipe regente. Construir uma corte
real significava construir uma cidade ideal; uma cidade na qual tanto a arquitetura mundana como a monumental,
juntamente com as práticas sociais e culturais dos seus residentes, projetassem uma imagem inequivocamente pode-
rosa e virtuosa da autoridade e do governo reais.
Adaptado de: Kirsten Schultz. Versalhes tropical. 2008.
122
U.T.I. - E.O.
1. Frans Post chegou ao Brasil em 1637 e fazia parte do grupo de artistas ligados ao governo holandês sob o comando
de Maurício de Nassau. Paisagens, cenas cotidianas e personagens foram os temas principais representados por Post
durante essa época. Observe atentamente a imagem abaixo, de sua autoria, e depois responda às questões.
Identifique na pintura: a instalação representada; a força motriz utilizada; a mão de obra predominante e o produto
processado.
2. “Por mais de um século, o Brasil foi o principal exportador mundial de açúcar. De 1600 a 1650, o açúcar respondia
por 90% a 95% dos ganhos brasileiros com exportações. Mesmo no período em torno de 1700, quando o setor açu-
careiro declinou, ele continuava a representar 15% dos ganhos do Brasil com exportações.”
SKIDMORE, Thomas E. Uma história do Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 1998, p. 36.
Qual o principal acontecimento, ocorrido ainda no século XVII, que iniciou esse vertiginoso declínio?
3. “A primeira coisa que os moradores desta costa do Brasil pretendem são índios escravizados para trabalharem nas
suas fazendas, pois sem eles não se podem sustentar na terra”.
Adaptado de: GANDAVO, Pero Magalhães. Tratado descritivo da terra do Brasil. São Paulo: Itatiaia e Edusp, 1982, p. 42 [1576]
Nesse trecho, percebe-se que o autor compactua com sua afirmação sobre o Brasil do final do século XVI. Com base
no texto e considerando que Portugal era governado por uma hierarquia social aristocrática e católica, explique por
que, quando desembarcavam na América portuguesa da época, os colonos imediatamente procuravam se utilizar da
mão de obra escrava.
4. “O ser senhor de engenho, diz o cronista, é título a que muitos aspiram porque traz consigo o ser servido, obedecido
e respeitado de muitos.”
ANTONIL, A.J. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas
Relacionando esse texto acima com seus conhecimentos sobre o período colonial no Brasil, faça um comentário
a respeito.
5. No Brasil, em finais do século XVIII, havia grande descontentamento e revolta contra o governo metropolitano e
isso deu origem a rebeliões que questionavam o domínio político português. As rebeliões, que tiveram caráter clara-
mente separatistas, foram as Conjurações Mineira (1789) e Baiana (1798).
123
a) Qual a diferença essencial entre as duas conjurações?
b) Relacione cada uma delas com os respectivos movimentos que as inspiraram.
Pintada em 1822, esta obra era uma alegoria do Estado brasileiro na época da independência. Com ela se construiu
uma imagem positiva do Império e da figura política do monarca, chamado de “Defensor Perpétuo do Brasil”.
Mas durante o Primeiro Reinado, entretanto, a imagem de D. Pedro foi se modificando.
Diante disso e analisando a pintura, cite e explique:
a) uma característica do projeto político monárquico do Primeiro Reinado;
b) um dos motivos que levaram à mudança da imagem de D. Pedro I durante seu governo.
7. Os historiadores são quase unânimes em reconhecer que a atividade mineradora do século XVIII resultou numa
forma específica de colonização que a diferenciava do resto do Brasil.
FARIA, Sheila de Castro. Dicionário do Brasil colonial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, p. 397.
Considere o contexto histórico da América portuguesa, no que se refere à sociedade e à economia colonial do século
XVIII, e diferencie esta forma de colonização daquela realizada no Nordeste açucareiro, dos séculos XVI e XVII.
8. Alguns historiadores afirmam que a história econômica do Brasil se divide em ciclos econômicos desde o período
colonial até a época atual.
Defina no contexto histórico brasileiro o conceito de “ciclo econômico”.
9. A solução dada à questão dinástica portuguesa, após o desaparecimento do rei D. Sebastião em Alcácer-Quibir
(1578), teve consequências na Europa e nas colônias.
No contexto da produção açucareira no Brasil, qual foi a consequência imediata?
10. Os tratados de 1810 trouxeram consequências econômicas para o Brasil bastante prejudiciais.
Quais foram elas?
124
FILOSOFIA
125
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA GREGA
O mundo helenístico se beneficiou do momento histórico, caráter transitório e mutável das coisas – para explicar esse
quando as cidades-Estados na Grécia antiga eram prós- pensamento, emerge a metáfora que “não podemos nos
peros centros comerciais e culturais. Desse modo, favore- banhar no mesmo rio duas vezes”.
ceu-se o desenvolvimento do pensamento humano, isto
é, ocorreu a supremacia do logos, que significa “palavra”, Parmênides de Eleia (530-460 a.C.)
“discurso”, “razão”.
O filósofo Parmênides concentrou seu pensamento no imo-
PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO
bilismo universal, indo contra o mobilismo de Heráclito. Se-
gundo Parmênides, o ser era uno, indivisível, pleno e eter-
no, de modo que não há espaço para o não ser. Visto que,
OU COSMOLÓGICO para o pensador, as coisas não surgiram do nada, isto é,
Sendo uma explicação racional e sistemática diante da ori- tudo que existe sempre existiu.
gem e da transformação da Natureza, a cosmologia nega
que as coisas tenham surgido do nada, pois a própria Empédocles (490-430 a.C.)
Natureza está em transformação. Os pensadores desse
período tiveram a preocupação de compreender a physis, O pensamento de Empédocles consistia em que as coisas
ou seja, os aspectos da Natureza ou da nossa realidade, eram constituídas por quatro elementos: fogo, terra, água
que se encontra em movimento. Assim, o termo filósofo e ar. Ele observa que o amor e o ódio aproximam e afastam
significa “investigador da Natureza”. os indivíduos, caracterizando-os como forças antagônicas
cósmicas. Isso quer dizer que o semelhante atrai o seme-
Tales de Mileto (624-546 a.C.) lhante e o dessemelhante repulsa o dessemelhante, num
Tales é um famoso matemático. Ele foi o primeiro a afir- movimento eterno – assim, ao se ter harmonia, o amor
mar que a água era a origem de todas as coisas, sendo a prevalece e, caso tenha desequilíbrio, o ódio está atuando.
fonte originária de explicação da physis. Diante disso, o filósofo inaugura o pluralismo, que orienta
e ordena a Natureza; não mais um único elemento, como
pensavam os outros filósofos.
Anaximandro (610-547 a.C.)
Anaximandro foi o primeiro a formular o conceito de uma Demócrito (460-370 a.C.)
lei universal presidindo o processo cósmico total, numa cla-
ra ampliação da visão de Tales. Segundo o pensamento de Demócrito, tudo o que existe
na physis, ou seja, na Natureza, é composto por átomos,
que eram partículas indivisíveis e eternas. Seu método foi
Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.) a observação.
Heráclito preocupou-se com a questão da transformação,
ou seja, da physis. A base de seu pensamento consiste no
FILOSOFIA DE ATENAS
126
convicções. Os principais sofistas foram Protágoras de Ab-
dera (490-421 a.C.), Górgias de Leontinos (487-380 a.C.),
Dialética socrática
Pródico de Creos (465-395 a.C.), dentre outros. Apresenta- O método de investigação desenvolvido por Sócrates, co-
vam-se como mestres da oratória, de modo que, para eles, nhecido como dialética, consistia em alcançar a verdade
era possível ensinar as técnicas de oratórias e da persuasão por meio do diálogo. O objetivo dessa dialética era des-
para qualquer cidadão. Devido a isso, muitos jovens procu- mascarar a falsa sabedoria, chegando a um conhecimento
ravam os sofistas para alcançarem status na cidade, onde da natureza do homem.
o logos era elemento fundamental. Afinal, numa cidade
democrática, o cidadão precisava saber falar e ser capaz de Das aparências ao mundo das ideias
persuadir os outros com o auxílio das palavras.
Com o pensador ateniense Platão (428-354 a.C.), a Filoso-
fia ganhou uma característica epistemológica. Após a mor-
de Sócrates, ele fundou a Academia, um recinto onde se
discutiam diversos temas, da Matemática, passando pela
Astronomia e até a Música. Na Academia, o conhecimento
deveria ser baseado numa episteme, ou seja, numa ciência,
com o intuito de ultrapassar o plano instável da opinião.
Reminiscência
Segundo o filósofo grego, o ato de conhecer as coisas signifi-
ca, necessariamente, o ato de lembrar, sustentando a hipóte-
PARTHENON se da reminiscência, contida no diálogo Ménon. Nesse diálo-
go, Sócrates demonstra que, através de um escravo, o homem
Sócrates (469-399 a.C.) só precisa recordar as coisas que sua alma um dia aprendeu.
Nesse momento, Platão salienta que a alma é eterna.
O filósofo ateniense foi um dos maiores críticos à prática
Para o filósofo Platão, a concepção de mimesis significa “imi-
do sofismo, pelo direcionamento da verdade pelo sofista,
tação”. Nesse momento, o pensador faz uma separação do
além de discordar que eram filósofos, visto que não investi-
conhecimento e da arte, pautando a filosofia como o conhe-
gavam nada, só reproduziam fatos. Sócrates foi um marco
cimento baseado na verdade, enquanto a arte se postula na
na história da Filosofia, por modificar a investigação do
reprodução, na imitação, de modo a construir uma posição
pensamento, pretendendo direcionar para uma análise do
de superioridade e inferioridade entre esses elementos.
indivíduo, e não mais para a compreensão da physis.
MITO DA CAVERNA
127
ALEGORIA DA CAVERNA gível. Isso ocorre, pois no mundo inteligível estão as ideias
perfeitas, como a beleza, a coragem, a justiça e a felicidade.
Segundo Platão, o filósofo é o sujeito que consegue enxer-
gar as coisas mais claramente do que as outras pessoas. Política
Para ilustrar essa ideia, surge a alegoria da caverna, conti-
Para o filósofo, todos os tipos de governo existentes no
do no Livro VII de A República:
mundo são degenerados por natureza, pois a sua forma
Um grupo de pessoas acorrentado numa caverna só vê original tende a ter uma versão degenerada.
sombras e julga que elas são a realidade.
Forma original Forma degenerada
Um homem consegue escapar das correntes e sai da ca-
verna. Lá fora, ele vê um mundo bem diferente, o mundo Aristocracia Oligarquia
real. Ele volta à caverna para contar a novidade ao resto
das pessoas, porém, ofuscado pela luz (da verdade), parece Monarquia Tirania
abobado. Com isso, os outros prisioneiros não acreditam
na sua versão maluca e acabam matando o pobre infeliz. Democracia Anarquia
ARISTÓTELES
128
Entre seus textos temos: bloco de construção básico de qualquer argumento era
o silogismo; constituído por premissas e uma conclusão,
A Física: aborda a relação dos quatro elementos (ter-
desenvolvendo um primeiro estudo da linguagem de ar-
ra, água, ar e fogo) com o planeta Terra. Seus princípios
gumentação baseada na coerência lógica. Logo, a lógi-
não são descritos com exatidão. Porém, essas estrutu-
ca se torna uma ferramenta na busca do conhecimento.
ras auxiliaram outros experimentos e tecnologias.
A Metafísica: trata da ciência das causas primeiras Todos os homens são mortais. premissa 1
do ser enquanto ser geral. O filósofo define quatro cau-
Sócrates é mortal. premissa 2
sas das coisas:
1. causa formal (a forma da coisa); Logo, Sócrates é mortal. conclusão
2. causa material (matéria de que uma coisa é feita);
Arte Poética: examina as formas de poesia – epo-
3. causa eficiente (a origem da coisa); e
peia, comédia e tragédia –, que tentam imitar a reali-
4. causa final (a finalidade do objeto). dade, porém, de modos diferentes. A poesia é o gênero
Ética a Nicômaco: apresenta a ética como algo pal- literário que mais se aproxima da filosofia, pois tende
pável, não sendo um elemento abstrato. Seguindo a para o conhecimento do universal.
teoria da justa-medida, ou seja, do equilíbrio, o filósofo Arte Política: define que o homem é um animal po-
demonstra que, ao seguirmos esse equilíbrio em nossos lítico – politikón zoón – que vive naturalmente em so-
atos particulares, conseguimos atingir a felicidade, sen- ciedade. Ao tratar do tema em Política, Aristóteles, ao
do que existe uma inclinação para essa finalidade últi- contrário de Platão, não se interessa por idealizar uma
ma do ser humano. Entretanto, o conceito de felicidade cidade justa. Ele classifica as formas de governo em três:
varia de indivíduo para indivíduo e de como é sua vida. o governo de um só indivíduo (monarquia), de alguns
Para o filósofo, existem três tipos de vida: (aristocracia) e de todos (democracia). Cada um desses
1. vida dos prazeres: onde o ser se tor- regimes políticos apresenta vantagens e desvantagens,
na refém daquilo que deseja; formas boas e corrompidas. Aristóteles não questionou a
2. vida política: onde o ser busca a hon- escravidão e achava as mulheres despreparadas para a
ra pelo convencimento; e liberdade e para os direitos políticos.
3. vida contemplativa: onde o ser busca os ele- A Arte: entende que o Belo é o resultado da justa-
mentos dentro de si, o prazer intelectual – essa -medida, da simetria. Assim, o Belo faz parte do ser hu-
vida contém a essência da felicidade. mano, podendo imitar a natureza, mas também abor-
dar o impossível e o inverossímil, podendo completar o
A Lógica: explica que a lógica não é uma ciência, mas
que falta na natureza.
um instrumento para o correto pensar. Para Aristóteles o
FILOSOFIA MEDIEVAL
129
Agostinho propôs uma conciliação entre fé e razão. Com
a dualidade platônica, o pensador medieval ressaltou que PEDRO ABELARDO (1079-1142)
o conhecimento se consolida quando o homem tem aces- Na Idade Média, significou uma mudança do pensamen-
so ao eterno, ao divino, ou seja, tem acesso ao mundo in- to dos dominantes, seguiu-se o ideal de ora et labora
teligível platônico. (reza e trabalha). Assim, iniciou-se a “querela dos univer-
Para o pensador, Deus é eterno, portanto, está fora do sais”, a qual discutia a relação entre o nome e a coisa, a
tempo – que sempre existiu, num eterno presente; porém, linguagem e a realidade.
para o homem, o tempo começou quando o mundo foi
criado. Com o intuito de ilustrar esse procedimento, Agos- O nome da rosa
tinho propôs uma cidade de Deus, feita com as virtudes do
homem, e uma cidade do Diabo, constituída pelos vícios A palavra “rosa” pode sobreviver à morte ou ao desapare-
do ser humano. Essa ideia está contida em sua obra mais cimento da própria rosa; então, a palavra fala até de coisas
famosa, intitulada A cidade de Deus. Nesse instante, o fi- inexistentes. Como podemos entender isso? Nesse instan-
lósofo direciona os hábitos das pessoas, com o intuito de te, acontece uma questão ou querela de como os nomes
conseguir a iluminação divina. dos objetos não estão atrelados com os objetos. Os nomes
são elementos arbitrários que rotulam as coisas, não tendo
nenhuma relação direta com o próprio objeto.
Patrística
A patrística é a doutrina religiosa elaborada pelos pais
ou padres da Igreja (por isso o nome), nos séculos II ao
VIII, que tinha como objetivo ordenar as verdades da fé,
para defender-se dos ataques dos hereges. Para conso-
lidar o dogma religioso, tem uma construção lógica das
ideias. Os inúmeros textos dessa doutrina almejavam
orientar as ações dos indivíduos de dentro e de fora dos
muros da Igreja católica.
130
O pensamento de Aquino procura apresentar o equilíbrio
entre a fé e a razão. Para ele, quando há algum desacordo, ESCOLÁSTICA
a razão é sempre o elemento que se apresenta em equívo- A escolástica foi o método utilizado nos recintos educacio-
co, pois a razão que se excede torna-se indiscreta e invade nais da Idade Média, durante o século XI, principalmente
o terreno exclusivo da fé, que são os mistérios divinos – nas universidades. Seguindo um modelo romano de ensi-
fato que provoca, devido à desconfiança, a impossibilidade no, eram ensinadas Gramática, Retórica, Dialética, Geome-
de demonstrar a existência de Deus. Seu pensamento assu- tria, Aritmética, Astronomia e Música.
miu a condição de doutrina oficial do catolicismo.
A influência do aristotelismo na escolástica adentra no sé-
Em sua Summa contra gentilles, Aquino propõe-se a provar
culo XII, salientando a concepção de divisão de matérias,
para um não cristão, mediante um raciocínio natural, a im-
em que existem diversos tipos de conhecimento.
portância do cristianismo e a existência de Deus. Essa obra
é considerada um manual de teologia destinado a conver-
ter os muçulmanos, evitando, assim, o avanço do islã.
FILOSOFIA POLÍTICA
Diante das transformações sociais e políticas que a Europa que esse poder ficará eternamente para esse ser, pois o
passava durante a Baixa Idade Média – conjunto com os que vai garantir tal poder são suas ações no agrupamento
ideais e as ações do Renascimento Cultural, que privilegia social. Desse modo, o principal objetivo desse governante
o ser humano e as suas próprias criações –, emerge um é perpetuar-se no poder.
novo ramo na área da filosofia – a filosofia política –, que
Assim, para o pensador, a figura mais importante dessa so-
se debruça perante os limites e a organização do Estado
ciedade é o governante. Isso ocorre, pois esse indivíduo pos-
frente ao indivíduo. O termo “política” já existia na polis
sui algo que poucos têm: a virtù.
grega; porém, essa nova concepção representa um novo
olhar perante as relações da sociedade. Os pensadores com A virtù representa as qualidades que esse indivíduo terá
maior destaque nessa área foram Maquiavel e Hobbes. em determinadas situações, sendo ações ou atitudes que
devem ser tomadas rápidas, sem prejuízos ao seu maior
131
THOMAS HOBBES (1588-1679) Para romper essa situação de guerra, os homens decidem
sair do estado de natureza e partir para a sociedade civil,
criando um pacto social entre os integrantes dessa comu-
nidade, visando à tranquilidade e à paz. O que fundamen-
tará esse pacto é a preservação da vida, o grupo decide
ceder suas forças (ou armas) para um líder soberano, que
deveria cumprir com alguns deveres, como trazer a paz
para o grupo e o bem comum. Diante desse pacto, os ho-
mens não devem se rebelar contra o governante escolhido,
com a intenção de fomentar a tranquilidade desejada.
FILOSOFIA MODERNA
132
RENÉ DESCARTES (1596-1650) 1. Só aceitar ideias claras e definidas.
2. Dividir cada problema em tantas partes necessárias
O francês René Descartes é considerado o pai da filosofia à solução.
moderna. Na intenção de encontrar a certeza de alguma
3. Ordenar os pensamentos do simples ao complexo.
coisa, o filósofo utiliza a sua maior arma – a dúvida –, pro-
curando, assim, uma base de certeza em suas próprias fa- 4. Verificar exaustivamente se existe alguma falha.
culdades racionais. Esse pensamento está contido no Discurso do método: o
homem deve desconfiar de seus sentidos. Descartes, notou
que o único momento de que não se pode duvidar é quando
pensa, mesmo que pense estar sonhando ou se iludindo. As-
sim, se duvido, penso e, ao pensar, logo, existo.
Descartes supôs que a essência do ser era o pensamento, e
que a mente era separada do corpo. Surgira, assim, o pro-
blema mente–corpo, a qual o corpo tinha os seus próprios
princípios de movimento, agindo de forma mecânica.
Em seguida, era necessário comprovar a existência de Deus,
O ceticismo cartesiano consiste numa formulação sistemá- para garantir que nossas ideias claras e definidas são ver-
tica, em que não se trata mais de duvidar por duvidar, mas dadeiras e que não estamos sendo iludidos por um gênio
de examinar criteriosamente todas as coisas, a fim de nelas maligno. Se Deus é perfeito por ter uma causa, o homem, por
descobrir elementos sobre os quais possa recair alguma possuir inúmeros defeitos, não pode ser essa causa. Assim,
suspeita. A dúvida é conduzida por um método rigoroso: Deus deve ser a causa de nossa ideia de perfeição dele.
RACIONALISTAS
BARUCH DE ESPINOZA foi que o conteúdo bíblico não se refere à verdade, mas
apenas estabelece preceitos de conduta para guiar os ho-
(1632-1677) mens, o que reduz a nada todo o esforço da teologia.
Segundo Espinoza, existe uma só substância, que é um prin-
cípio científico unificador, figurando-se em Deus ou Nature-
za, do modo que a mente e a matéria são apenas atributos
da substância única. Deus é a causa primeira e eficiente de
todas as coisas, porém, isso não significa que seja o criador,
pois, sendo Deus a única substância, nada pode existir fora
dele. Assim, Deus é a causa do mundo, mas o mundo existe
em Deus, que é, por isso, causa imanente, isto é, causa que
produz efeito em si mesma. Em outras palavras, Deus é Na-
tureza (Deus sive Natura).
A filosofia de Espinoza tinha como propósito esclarecer a
identidade existente entre nossa mente e a natureza. Essa
identidade só acontece, quando conhecemos a nós mes-
mos e a própria natureza, como uma coisa una. Diante disso,
o conhecimento da natureza se concretiza quando enten-
demos a essência dos objetos.
O filósofo holandês Espinoza foi um dos grandes raciona-
listas do século XVII. Em sua obra Tratado teológico-polí- Espinoza foi um daqueles raros filósofos que, além de acre-
tico (1670), o filósofo submete o Velho Testamento a uma ditar no que dizia, era fiel a seus princípios. Chegou a recu-
rigorosa crítica, baseando-se numa análise gramatical da sar uma cátedra de Filosofia em Heidelberg, posição que,
língua hebraica e na história do povo judeu. A conclusão por ser oficial, implicava aceitar ideias e limitações oficiais.
133
Definições de Espinoza
I. Por sua causa entendo aquilo cuja essência implica a exis-
tência e cuja natureza só pode ser concebida como existente.
II. Diz-se finita no seu gênero uma coisa que pode ser li-
mitada por uma outra da mesma natureza. Por exemplo,
dizemos que um corpo é finito porque concebemos sempre
um outro maior. Do mesmo modo, um pensamento é limi-
tado por um outro pensamento. Mas nem um corpo pode
ser limitado por um pensamento nem um pensamento por
um corpo.
III. Por substância entendo aquilo que existe em si e por si
é concebido, isto é, aquilo cujo conceito, para ser formado,
não precisa do conceito de uma outra coisa.
Leibniz escreveu prodigiosamente sobre muitos temas das
IV. Por atributo entendo aquilo que o intelecto percebe
áreas filosófica e matemática. O filósofo procurou a harmo-
como a essência da substância.
nia entre elementos aparentemente díspares: o mundo na-
V. Por modo entendo aquilo que existe em outra coisa pela tural e o mundo moral; o corpo e a alma; Platão e Aristóteles.
qual também é concebido.
Em sua maior obra filosófica intitulada Monadologia, o
VI. Por Deus entendo o ente absolutamente infinito, isto é, pensador apresenta como a natureza é constituída, de
uma substância que consta de infinitos atributos, cada um modo a salientar uma lógica racional. A força motora da
dos quais exprime uma essência eterna e infinita. natureza é acionada por Deus, que também está conti-
Destinada aos homens livres, o filósofo trata também sobre da na própria natureza.
a Ética, obra escrita em axiomas, no ano de 1677. Para Es- Segundo Leibniz, todos os elementos da natureza são com-
pinoza, o que os indivíduos pensam reflete diretamente na postos por mônadas (do grego monas, que significa “uni-
sua maneira de viver, colhendo frutos positivos ou negati- dade”, o que é uno), concebidas como verdadeiros átomos
vos de suas ações. Seguindo uma lógica racional, o filósofo da natureza, elementos das coisas, fechadas, sem janelas,
tenta provar a natureza racional de Deus. reguladas, em seu funcionamento pela harmonia preestabe-
lecida, de modo que, cada mônada é diferente e reflete o
GOTTFRIED WILJHELM universo inteiro; porém, não está no espaço e nem no tempo.
LEIBNIZ (1646-1716)
Cada elemento que existente no universo é composto por
inúmeras mônadas, da sendo que alguns possuem mais
O filósofo alemão Leibniz é uma figura central na história que outras. Deus, por exemplo, também é composto por
da matemática e da filosofia, que concebeu as ideias de mônadas, sendo uma substância infinita, perfeita, criadora
cálculo diferencial e integral, sem sofrer influência dos es- de todas as coisas e da harmonia preestabelecida. As mô-
tudos de Isaac Newton. nadas que compõem Deus, criam as mônadas da natureza.
134
U.T.I. - Sala “O deus é dia noite, inverno verão, guerra paz, sacie-
dade fome; mas se alterna como fogo, quando se mis-
tura a incensos, e se denomina segundo o gosto de
1. (UEL) Leia o diálogo a seguir. cada.” (Fr. 67)
Glauco: — Que queres dizer com isso? “Por fogo se trocam todas (as coisas) e fogo por to-
das, tal como por ouro mercadorias e por mercadorias
Sócrates: — O seguinte: que me parece que há muito ouro.” (Fr. 90)
estamos a falar e a ouvir falar sobre o assunto, sem nos
apercebermos de que era da justiça que de algum modo Os pré-socráticos. São Paulo: Abril Cultural,
1973, p. 85 e 87. Col. Os pensadores.
estávamos a tratar.
Glauco: — Longo proémio – exclamou ele – para quem A partir das citações acima:
deseja escutar! a) explicite quais são esses temas.
Sócrates: — Mas escuta, a ver se eu digo bem. O princípio b) comente cada um deles de modo a caracterizar a Fi-
que de entrada estabelecemos que devia observar-se em losofia de Heráclito.
todas as circunstâncias, quando fundamos a cidade, esse
princípio é, segundo me parece, ou ele ou uma das suas 5. (UFU) Há um abismo imenso que separa esta escala
formas, a justiça. de valores que Sócrates proclama com tanta evidência
e a escala popular vigente entre os gregos e expressa
PLATÃO. A República. 7. ed. Lisboa: Fundação na famosa canção báquica antiga:
Calouste Gulbenkian, 1993. p. 185-186.
O bem supremo do mortal é a saúde;
Com base nesse fragmento, que aponta para o debate
em torno do conceito de justiça na obra A República, de O segundo, a formosura do corpo;
Platão, explique como Platão compreende esse conceito. O terceiro, uma fortuna adquirida sem mácula;
O quarto, desfrutar entre amigos o esplendor da juventude.
Leia o texto a seguir para responder às questões 2 e 3. JAEGER, W. Paideia. São Paulo: Martins
Fontes, 1995, p. 528-529.
“... não é fácil determinar de que maneira, e com quem e
por que motivos, e por quanto tempo devemos encol- a) O que é o homem para Sócrates?
erizar-nos; às vezes nós mesmos louvamos as pessoas b) Qual é a relação entre o que define o homem e a
que cedem e as chamamos de amáveis, mas às vezes máxima délfica “Conhece-te a ti mesmo”?
louvamos aquelas que se encolerizam e as chamamos
6. (UFU) A respeito da fortuna, Maquiavel escreveu:
de viris. Entretanto, as pessoas que se desviam um
pouco da excelência não são censuradas, quer o façam [...] penso poder ser verdade que a fortuna seja árbitra
no sentido do mais, quer o façam no sentido do menos; de metade de nossas ações, mas que, ainda assim, ela
nos deixe governar quase a outra metade.
censuramos apenas as pessoas que se desviam consid-
eravelmente, pois estas não passarão despercebidas. MAQUIAVEL, N. O príncipe. Tradução de: Lívio Xavier. São
Mas não é fácil determinar racionalmente até onde e Paulo: Nova Cultural, 1987. Coleção “Os Pensadores”. p. 103.
em que medida uma pessoa pode desviar-se antes de Com base na citação, responda:
tornar-se censurável (de fato, nada que é percebido
a) O que é a fortuna para Maquiavel?
pelos sentidos é fácil de definir); tais coisas dependem
de circunstâncias específicas, e a decisão depende b) Como deve agir o príncipe em relação à fortuna?
da percepção. Isto é bastante para determinar que a
7. (Unesp)
situação intermediária deve ser louvada em todas as
circunstâncias, mas que às vezes devemos inclinar-nos TEXTO 1
no sentido do excesso, e às vezes no sentido da falta,
pois assim atingiremos mais facilmente o meio-termo Para santo Tomás de Aquino, o poder político, por ser
e o que é certo.” uma instituição divina, além dos fins temporais que jus-
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Livro II. São Paulo: tificam a ação política, visa outros fins superiores, de
Nova Cultural, 1996, p. 150 (Col. Os Pensadores). natureza espiritual. O Estado deve dar condições para a
realização eterna e sobrenatural do homem. Ao discutir
2. (UFPR) Agir de modo virtuoso é, segundo Aristóteles, a relação Estado-Igreja, admite a supremacia desta so-
agir sempre do mesmo modo? Por quê? bre aquele. Considera a Monarquia a melhor forma de
governo, por ser o governo de um só, escolhido pela sua
3. (UFPR) Uma vez que Aristóteles antes define as vir- virtude, desde que seja bloqueado o caminho da tirania.
tudes como disposições de caráter e, na passagem acima,
TEXTO 2
acrescenta que as virtudes situam-se num “meio-termo”,
de que modo devem ser definidos os vícios? Por quê? Maquiavel rejeita a política normativa dos gregos, a qual,
ao explicar “como o homem deve agir”, cria sistemas
4. (UFU) Os fragmentos abaixo representam três te- utópicos. A nova política, ao contrário, deve procurar a
mas fundamentais que configuram o pensamento de verdade efetiva, ou seja, “como o homem age de fato”.
Heráclito de Éfeso. O método de Maquiavel estipula a observação dos fatos,
135
o que denota uma tendência comum aos pensadores 9. (UFU) Segundo Agostinho de Hipona (354-430),
do Renascimento, preocupados em superar, através as ideias ou formas originárias de todas as coisas,
da experiência, os esquemas meramente dedutivos razões estáveis e imutáveis das coisas de nosso mun-
da Idade Média. Seus estudos levam à constatação de do, estão contidas na mente divina e não nascem
que os homens sempre agiram pelas formas da cor- nem morrem, e tudo o que, em nosso mundo, nasce
rupção e da violência. e morre é formado a partir delas. Essas ideias eter-
Adaptado de: ARANHA, Maria Lúcia; MARTINS, nas não são criaturas, antes, participam da Sabedoria
Maria Helena. Filosofando. 1986.
eterna, mediante a qual Deus criou todas as coisas e
Explique as diferentes concepções de política expressa- são idênticas a Ele. Assim, conhecemos verdadeira-
das nos dois textos. mente quando nos voltamos para tais ideias; sendo
o fundamento da natureza das coisas são também
8. (UFU) Leia a afirmação a seguir e responda. o fundamento para o conhecimento dessas mesmas
coisas; assim, por meio delas podemos formar juízos
A função que Hobbes atribui ao pacto de união é a de verdadeiros sobre elas.
fazer passar a humanidade do estado de guerra para o INÁCIO, Inês. C.; LUCA, Tânia R. de. O pensamento
estado de paz, instituindo o poder soberano. medieval. São Paulo: Ática, 1988, p. 26.
BOBBIO, Norberto. Thomas Hobbes. Rio Levando em consideração o texto acima e a teoria da
de Janeiro: Campus, 1991. p. 43.
iluminação de Agostinho, responda:
a) Por que, sem o pacto, não há paz entre os homens? a) O que são as ideias eternas?
b) Por que a instituição do poder soberano é resultado b) Qual o seu papel ou função em nosso conhecimento
de uma passagem? do mundo?
Aqueles que somente por fortuna se tornam príncipes pouco trabalho têm para isso, é claro, mas se mantêm muito
penosamente. Não têm nenhuma dificuldade em alcançar o posto, porque por aí voam; surge, porém, toda sorte de
dificuldades depois da chegada. Tais príncipes estão na dependência exclusiva da vontade e boa fortuna de quem lhes
concedeu o Estado, isto é, duas coisas extremamente volúveis e instáveis.
Adaptado de: MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 55.
136
que optar pela acusação ou pela defesa, só restou como Com base na leitura desse trecho e em outras infor-
alternativa a condenação do filósofo à morte. mações presentes na obra em referência, explique por
(Danilo Marcondes). que não é toda e qualquer semelhança entre os homens
que motiva uma amizade verdadeira.
Com base no texto apresentado, explique quais foram
os motivos da condenação de Sócrates à morte. 6. (Unesp) “O homem é o lobo do homem” é uma das
frases mais repetidas por aqueles que se referem a
4. (UFPR) Se há, então, para as ações que praticamos, Hobbes. Essa máxima aparece coroada por uma outra,
alguma finalidade que desejamos por si mesma, sen- menos citada, mas igualmente importante: “guerra de
do tudo mais desejado por causa dela, e se não escol- todos contra todos”. Ambas são fundamentais como
hemos tudo por causa de algo mais (se fosse assim, síntese do que Hobbes pensa a respeito do estado nat-
o processo prosseguiria até o infinito, de tal forma ural em que vivem os homens. O estado de natureza
que nosso desejo seria vazio e vão), evidentemente é o modo de ser que caracterizaria o homem antes de
tal finalidade deve ser o bem e o melhor dos bens. seu ingresso no estado social. O altruísmo não seria,
Não terá então uma grande influência sobre a vida portanto, natural. No estado de natureza o recurso à
o conhecimento deste bem? Não deveremos, como violência generaliza-se, cada qual elaborando novos
arqueiros que visam a um alvo, ter maiores proba- meios de destruição do próximo, com o que a vida se
bilidades de atingir assim o que nos é mais conve- torna “solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta,
niente? Sendo assim, cumpre-nos tentar determinar, na qual cada um é lobo para o outro, em guerra de to-
mesmo sumariamente, o que é este bem, e de que dos contra todos”. Os homens não vivem em cooper-
ciências ou atividades ele é o objeto. Aparentemente ação natural, como fazem as abelhas e as formigas. O
ele é o objeto da ciência mais imperativa e predomi- acordo entre elas é natural; entre os homens, só pode
nante sobre tudo. Parece que ela é a ciência política. ser artificial. Nesse sentido, os homens são levados a
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, 1094a, p. 18-28. estabelecer contratos entre si. Para o autor do Leviatã,
o contrato é estabelecido unicamente entre os mem-
Que razões Aristóteles alega para justificar a afirmação bros do grupo, que, entre si, concordam em renunciar
de que a ciência mais imperativa e predominante sobre a seu direito a tudo para entregá-lo a um soberano
tudo parece ser a ciência política? capaz de promover a paz. Não submetido a nenhuma
lei, o soberano absoluto é a própria fonte legisladora.
5. (Ufmg) Na Ética a Nicômaco, Aristóteles propõe uma A obediência a ele deve ser total.
compreensão da amizade em que a semelhança entre
João Paulo Monteiro. Os pensadores. 2000.
os homens é importante, embora não a caracterize
completamente, como se comprova neste trecho: Caracterize a diferença entre estado de natureza e
vida social, segundo o texto, e explique por que a é
A amizade perfeita é a dos homens que são bons e afins atribuída a Hobbes a concepção política de um “ab-
na virtude, pois esses desejam igualmente bem um ao solutismo sem teologia”.
outro enquanto bons, e são bons em si mesmos. Ora, os
que desejam bem aos seus amigos por eles mesmos são 7. (UFMG) Leia este trecho:
os mais verdadeiramente amigos, porque o fazem em
razão da sua própria natureza e não acidentalmente. Ouvi dizer a um homem instruído que o tempo não é
Por isso sua amizade dura enquanto são bons – e a bon- mais que o movimento do sol, da lua e dos astros. Não
dade é uma coisa muito durável. E cada um é bom em concordei. Por que não seria antes o movimento de
si mesmo e para o seu amigo, pois os bons são bons em todos os corpos? Se os astros parassem e continuasse
absoluto e úteis um ao outro. […] Uma tal amizade é, a mover-se a roda do oleiro, deixaria de haver tempo
como seria de esperar, permanente, já que eles encon- para medirmos suas voltas? [...] Ou, ao dizermos isto,
tram um no outro todas as qualidades que os amigos não falamos nós no tempo, e não há nas nossas pala-
devem possuir. vras sílabas longas e sílabas breves, assim chamadas,
porque umas ressoam durante mais tempo e outras du-
Com efeito, toda a amizade tem em vista o bem ou o rante menos tempo?
prazer – bem ou prazer, quer em abstrato, quer tais que SANTO AGOSTINHO. Confissões (Livro XI: o Homem
possam ser desfrutados por aquele que sente a amiza- e o Tempo). Tradução de: SANTOS, J. Oliveira; PINA,
de –, e baseia-se numa certa semelhança. E à amizade Ambrósio de. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 286.
entre homens bons pertencem todas as qualidades que
mencionamos, devido à natureza dos próprios amigos, Nesse trecho, o autor argumenta contra a identificação
pois numa amizade desta espécie as outras qualidades do tempo ao movimento dos astros. Apresente o argu-
também são semelhantes em ambos; e o que é irrestri- mento proposto por Santo Agostinho.
tamente bom também é agradável no sentido absoluto
do termo, e essas são as qualidades mais estimáveis 8. (Unesp) “Três maneiras há de preservar a posse de
que existem. Estados acostumados a serem governados por leis
próprias; primeiro, devastá-los; segundo, morar neles;
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de:
VALLANDRO, L.; BORNHEIM, G. In: Os pensadores. terceiro, permitir que vivam com suas leis, arrancando
São Paulo: Abril, 1979, VIII, 3, 1156b. um tributo e formando um governo de poucas pessoas,
137
que permaneçam amigas. Sucede que, na verdade, a A partir da leitura das informações acima, responda às
garantia mais segura da posse é a ruína. Os que se seguintes perguntas.
tornam senhores de cidades livres por tradição, e não a) De acordo com Hobbes, os seres humanos são natu-
as destroem, serão destruídos por elas. Essas cidades ralmente sociáveis? Justifique sua resposta.
costumam ter por bandeira, em suas rebeliões, tanto a
b) Quais seriam, para esse filósofo, as principais carac-
liberdade quanto suas antigas leis, jamais esquecidas,
terísticas do homem em estado de natureza?
nem com o passar do tempo, nem por influência dos
favores que receberam. c) Tendo em vista o fragmento da reportagem publi-
cada pelo jornal Folha Online, é correto dizer que o
Por mais que se faça, e sejam quais forem os cuidados, Estado, hoje, do ponto de vista hobbesiano, cumpre
sem promover desavença e desagregação entre os ha- sua obrigação em relação aos cidadãos?
bitantes, continuarão eles a recordar aqueles princípios
e a estes irão recorrer em quaisquer oportunidades 10. (UFU) Leia com atenção o texto abaixo em que o
e situações”. autor comenta e cita Santo Agostinho, e, em seguida,
responda as questões apresentadas.
Adaptado de: Nicolau Maquiavel. Publicado
originalmente em 1513.
“Deus cria as coisas a partir de modelos imutáveis e eter-
Partindo de uma definição de moralidade como con- nos, que são as ideias divinas. Essas ideias ou razões não
junto de regras de conduta humana que se pretendem existem em um mundo à parte, como afirmava Platão,
válidas em termos absolutos, responda se o pensamen- mas na própria mente ou sabedoria divina, conforme o
to de Maquiavel é compatível com a moralidade cristã. testemunho da Bíblia.”
Justifique sua resposta, comentando o teor prático ou
“Que a mesma sabedoria divina, por quem foram cria-
pragmático do pensamento desse filósofo.
das todas as coisas, conhecia aquelas primeiras, divinas,
9. (UFU) Ser vítima de bala perdida é o maior medo at- imutáveis e eternas razões de todas as coisas antes de
ual dos cariocas e moradores da região metropolitana serem criadas, a Sagrada Escritura dá este testemunho:
do Rio. Foi o que responderam 57% dos 4500 entrevis- No princípio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e
tados em levantamento do ISP (Instituto de Segurança o Verbo era Deus. Todas as coisas foram feitas pelo Verbo
Pública), órgão ligado à Secretaria de Segurança do Rio, e sem Ele nada foi feito. Quem seria tão néscio a ponto
divulgado na tarde desta terça-feira. [...] um quinto dos de afirmar que Deus criou as coisas sem conhecê-las? E
entrevistados (21,7%) foi vítima de um dos 21 tipos de se as conheceu, onde as conheceu senão em si mesmo,
crimes elencados na pesquisa (agressão, furto...). junto a quem estava o Verbo pelo qual tudo foi feito?”
(Santo Agostinho, Sobre o Gênese, V, 29). COSTA,
BELCHIOR, L. Mais da metade dos moradores do RJ
José Silveira da. A Filosofia Cristã. In: RESENDE,
não confia na PM. In: Folha Online, 19/08/2008.
Antônio. Curso de Filosofia. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar/SEAF, 1986, p. 78, capítulo 4.
Estatísticas como essas retratam a situação de medo
e de insegurança geral vivenciada nas metrópoles bra- a) Explique a relação, sugerida neste texto, entre a teo-
sileiras e conferem atualidade a teorias como a do filó- ria das Ideias de Platão e o pensamento de Agostinho.
sofo Thomas Hobbes. Para ele, a função do Estado e do
b) Explique como Agostinho usa essa teoria para expli-
corpo político é a de garantir a paz e o direito de cada
car o conhecimento humano, na sua conhecida Doutri-
um à vida, impedindo o desencadeamento natural da
na da Iluminação Divina.
guerra de todos contra todos.
138
SOCIOLOGIA
139
A SOCIOLOGIA: AUGUSTE COMTE
A Sociologia surge como um fruto das diversas transfor- Pensando no controle da sociedade, Comte estruturou que
mações do cotidiano, oriundo da Revolução Industrial, que todos os elementos deveriam ter a razão científica como
impulsionou ainda mais as desigualdades sociais entre os norteador dessas ações. Esse pensamento ganhou força na
homens – fato este que modificou as relações interpesso- Europa durante o século XIX, entre governos monárquicos
ais, tendo como referência as relações do trabalho e sua e republicanos. Uma nação que seguiu com toda ênfase o
desvalorização do trabalho humano. pensamento positivista foi o Império Austro-Húngaro.
Diante disso, emerge uma ciência que se preocupava em
oferecer uma explicação para os novos fenômenos sociais. Positivismo no Brasil
Com o início da República, no século XIX, o positivismo
AUGUSTE COMTE (1798-1857) ganhou força, principalmente na cidade do Rio de Janeiro.
Com suas características de que existe uma hierarquia, a
Comte introduz o positivismo, corrente filosófica que buscava
qual deve seguir uma ordenação científica, o positivismo
uma reorganização intelectual, moral e política da ordem so-
teve muitos adeptos dos altos oficiais do Exército e algu-
cial, com o intuito de controle de todas as instituições sociais.
O seu pensamento consistia em três estágios, contida em seu mas camadas da burguesia brasileira. Diante disso, a nova
Curso de filosofia positiva: bandeira do Brasil ganhou um lema positivista.
Positivismo
O pensamento científico e experimental é o único guia para
o ser humano, de forma que a ciência é a base dessa doutri-
na, com o intuito de organizar todos os elementos da socie-
dade, inclusive a área religiosa.
Em sua obra Sistema de política positiva (1854), Comte cria
a religião da humanidade ou a religião positivista, que tem
como princípios ou diretrizes “o amor, por princípio”, “a
BANDEIRA DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
ordem, por base” e “o progresso, por fim”.
Esse processo evolutivo também recairia entre as ciências Entre os brasileiros que propagaram o pensamento positivis-
positivas – matemática, física, astronomia, química, biologia ta, podemos destacar os primeiros presidentes da República
–, e teria como a maior entre essas ciências uma nova ciên- Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, os militares Benjamin
cia – a sociologia –, que englobaria todas elas. Constant e Cândido Rondon e o escritor Euclides da Cunha.
140
ÉMILE DURKHEIM
A Europa passava por um momento de tranquilidade polí- Já as características dos fatos sociais devem ter traços de:
tica e econômica, chamada de Belle Époque, entre o fim da generalidade: comum a todos ou à maioria dos inte-
Guerra Franco-Prussiana, em 1871, e o começo da Primeira grantes desse grupo social;
Guerra Mundial, em 1914. exterioridade: não depende do indivíduo; e
Diante da efervescência tecnológica da época, ocorreu uma coercitividade: se impõe de diversas formas.
grande transformação nos hábitos das pessoas, que direcio-
nou os indivíduos para o consumo de bens de consumos e o A religião para Durkheim
encantamento desses produtos perante os indivíduos.
Émile Durkheim nota que o elemento primordial que entre-
laça todos os seres é a religião, pois, mesmo serem monote-
ÉMILE DURKHEIM (1858-1917) ístas ou politeístas, todas as religiões separam radicalmente
o mundo profano do mundo sagrado. Ele considera todas as
religiões como iguais, contendo um sistema de crenças e de
cultos, conjuntos de atitudes rituais, nas quais os seus “movi-
mentos são estereotipados”. A religião constrói a sociedade,
na qual “as divisões em dias, semanas (...) correspondem à
periodicidade dos ritos, das festas”, sendo assim uma mani-
festação natural da atividade humana.
A religião, para Durkheim, é uma espécie de especulação de
tudo que escapa à ciência, ou seja, o sobrenatural, possuin-
do assim na sua essência um conjunto de símbolos (os ritos).
O homem é um ser social, porque pensa por conceitos. A
Um dos precursores da escola sociológica francesa, o soci- concepção de mito é entendida como a representação de
ólogo Émile Durkheim sofreu uma forte influência do positi- uma espécie de herói histórico.
vismo comteano, contendo traços do funcionalismo social,
em que considera as funções sociais contidas em seu obje-
to de pesquisa, trabalhando a moral, a religião etc. O método científico
Ele compreende a “cultura” como algo coletivo, um elemen- Durkheim inaugura o processo de investigação sobre os
to vivo por assim dizer, que acaba se transformando ao fenômenos sociais, pautado na observação dos fatos. Esse
longo do tempo. Assim, a sociedade se constrói mediante procedimento deve ser guiado por uma análise neutra do
essas transformações culturais, consolidando ou rejeitando pesquisador, pois é necessário a esse observador suprimir
princípios morais e éticos. todos os seus juízos de valores pessoais para que conclusões
não sejam precipitadas. Precisa, ainda, apresentar um retrato
fiel do objeto analisado, observando todos os elementos que
O fato social compõem essa estrutura vista. Nesse momento, Durkheim
Os fatos sociais são maneiras de pensar, agir e sentir que apresenta a importância da sociologia como a ciência.
existem independentemente das manifestações individu-
Nesse processo, é saliente notar que Durkheim aponta al-
ais, isto é, são ações exteriores ao indivíduo, sendo gene-
guns direcionamentos:
ralizados na sociedade, de modo que são dotados de uma
força imperativa e coercitiva perante os indivíduos. o processo deve ser objetivo;
os fatos analisados podem ser normais ou anômicos; e
Segundo Durkheim, existem tipos de fatos sociais:
e como esses fatos se interligam ou afetam os inte-
Fato social normal: é o fato social coercitivos, feitos de
forma exterior, desencadeando ações coletivas e gerais. grantes desse grupo estudado.
Fato social patológico: é o fato que aponta elementos Assim, aconteceram fatos corriqueiros, que serão caracteri-
de desequilíbrio. zados como normais; e também fatos que fogem desse es-
Fato social anômico: é o fato que apresenta uma au- tereótipo de normalidade, que acarretarão anomias sociais,
sência de normas e de valores morais. isto é, coisas estranhas que fogem da normalidade.
141
DIVISÃO DO TRABALHO DURKHEIMIANA
KARL MARX
142
Segundo Marx, nas sociedades capitalistas, a forma princi- Segundo Marx, o trabalhador acaba sendo alienado pelo
pal de conflito ocorre entre duas classes sociais fundamen- próprio processo de produção, do modo que esse traba-
tais: a burguesia e o proletariado. Essa formação assim se lhador não tem consciência do seu próprio papel na so-
constitui, porque a classe assalariada (o proletariado), que ciedade, pois ele, devido às suas necessidades, constitui
não tendo os meios de produção, cedem a sua força de toda a sua vida em torno do seu trabalho.
trabalho em troca de um benefício econômico, sendo parte Em 1848, redigiu com Friedrich Engels, o Manifesto do Parti-
fundamental do enriquecimento da burguesia, ou seja, os do Comunista. Nele, Marx convoca o proletariado à luta pelo
donos dos meios de produção exploram aqueles que não socialismo. Nesse período, ocorreram diversas manifestações
detêm os artifícios, pois só vendem o seu trabalho humano. de cunho liberal, socialista e democrático, denominada Pri-
Desse modo, o conflito entre essas duas classes acaba ge- mavera dos Povos.
rando uma mudança na história da humanidade, pois um Fundou, em 1864, a Associação Internacional dos Traba-
grupo pretende conquistar novas condições, que alguns lhadores – depois chamada de Primeira Internacional dos
entenderam como direitos, e o outro grupo não pretende Trabalhadores –, com o objetivo de organizar a conquista do
ceder essas condições, modificando-se a consciência e as poder pelo proletariado em todo mundo. Em 1867, publicou
próprias relações humanas. Entretanto, a classe dominante o primeiro volume de sua obra mais importante, O capital, na
(a burguesia) tem maiores chances de construir a história qual faz uma crítica ao capitalismo e à sociedade burguesa.
como deseja, visto que possuem o poder econômico e polí-
Marx é o principal idealizador do socialismo e do comu-
tico nas mãos; algo bem diferente da classe proletária, que
nismo revolucionário. O marxismo – conjunto das ideias
não têm esses meios de produção.
político-filosóficas de Marx – propõe a derrubada da clas-
Mediante a isso, Marx observa que no capitalismo o mer- se dominante (a burguesia) por uma revolução do prole-
cado é o centro das relações sociais, sendo que, no merca- tariado. Marx critica o capitalismo e seu sistema de livre
do, a força de trabalho é comercializada como mercadoria. empresa que, segundo ele, pelas contradições econômi-
Quando o trabalhador excede o tempo de trabalho neces- cas internas, levaria a classe operária à miséria. Propunha
sário, ele cria uma riqueza para os donos da produção, de- uma sociedade na qual os meios de produção fossem de
nominada mais-valia. toda a coletividade.
IDEOLOGIA
IDEOLOGIA
O processo de dominação social se utiliza de artifícios que
iludem a população. Esse encantamento se perfaz com o
auxílio das propagandas, que disseminam imagens e men-
sagens para um condicionamento social. Essas propagan-
das têm a tarefa de conquistar o outro para vender o pro-
duto, estimulando um comportamento social capitalista.
Segundo Karl Marx, a ideologia dominante, será respon-
sável por repassar ideias, formas de pensar e explicar o
mundo. Marx questiona que ao seguir uma ideologia, os
indivíduos não fazem uma crítica de seus atos. A ideologia
A CAPA DA PRIMEIRA REVISTA TRAZ O CAPITÃO AMÉRICA
vem para enfeitiçar o público a um estilo ou a um condi- DANDO UM SOCO EM HITLER. A SUA ARMA É UM ESCUDO,
cionamento social. SIMBOLIZANDO QUE ELE SÓ ATACA PARA SE DEFENDER.
143
Marx retrata a alienação em quatro tipos: Fetiche da mercadoria
em relação ao produto do trabalho;
O conceito de fetichismo da mercadoria foi desenvolvido por
no processo de produção; Marx, em sua obra “O Capital”, atrelado ao conceito de alie-
em relação à existência do indivíduo enquanto mem- nação. O produto perde a relação com o produtor e parece
bro do gênero humano; ganhar vida própria, ganhando novas formas em si.
em relação aos outros indivíduos. Para compreendermos esse processo de fetichismo, é preci-
so retornar a uma definição a mercadoria.
A estranheza de não se reconhecer no produto criado, isso
representa o primeiro tipo. Segundo Marx, todo e qualquer objeto, no sistema capitalis-
ta, possui um valor de mercadoria. Tendo uma utilidade nesse
No segundo tipo, essa alienação está no próprio proces- produto, quando foi pensado para a sua produção. Esse seria o
so do trabalho, condicionando ao indivíduo a viver pelo seu valor de USO, o que os condiciona a consumi-lo. Enquanto
trabalho, deixando de viver apenas para satisfazer às ati- o valor de TROCA do produto representa no sistema capi-
vidades laborais. talista, atrelado a esse produto um valor mercadológico.
O terceiro tipo, por sua vez, representa o individualismo, Assim, as mercadorias adquirem uma forma fantástica, ga-
que só pensará as suas atividades do trabalho referentes a nhando mais de uma utilidade ao indivíduo, podendo ser
si mesmo, sem se importar as outras pessoas. um status, um poder ou uma felicidade. Com esse proces-
O último tipo, representa no sujeito que não se reconhece so, o sujeito acaba dando novos elementos a mercadoria,
no trabalho e nem é reconhecido como parte essencial da de forma a humanizá-la, e consequentemente a própria mer-
vida humana. cadoria coisifica esse ser.
MAX WEBER
144
O poder da religião Dominação - É a dominação burocrática no Estado;
Weber empreendeu análises comparativas entre as religiões,
com o objetivo de compreender as razões do desenvolvi- - Constituído por formas legais, hierárquicas,
mento do capitalismo europeu. Ele conclui que o mundo Legal mediante uma formação eleita ou nomeada;
oriental não oferecia condições para este tipo de orga- - Deve seguir um estatuto.
nização econômica, pois pregava valores de harmonia; - Dominação patriarcal;
enquanto as religiões cristãs incentivaram o trabalho e - Controle feito pelo “senhor” perante seus
Dominação
a competição. “súditos”;
Tradicional
- Não é possível criar novos direitos diante
das normas da tradição.
A dominação
- Dominação por uma devoção afetiva;
Para Weber, o capitalismo é dominado pela ascensão da ciên- Dominação
- Sendo um “líder” que constrói uma imagem
cia e da burocracia. Weber aponta uma relação entre domi- Carismática
de adoração, controlando seus “súditos”.
nantes e dominados, constituídas com bases legítimas.
CAPITAL HUMANO
Habitus
O habitus, para Bourdieu, condiciona que os indivíduos con-
vivam em um mesmo agrupamento social, tendo estilos de
O bem simbólico é um conjunto de práticas sociais regidas
vida parecidos, onde os “fatos sociais” se assemelham. O
pelo poder, consolidando uma dominação social, que con-
habitus qualifica a relação do sujeito com a sociedade, ten-
tém hierarquias e subdivisões, propagando uma desigual-
do uma base estratificação de poder.
dade nessa sociedade.
145
JESSÉ SOUZA (1960) Camada popular que consegue melhorar a renda.
Características:
O sociólogo desenvolveu uma pesquisa empírica da realidade Trabalhadores Não desenvolveram e consolidaram
brasileira que caracterizou quatro classes nessa sociedade, que o capital cultural; trabalham em 2 a
segue a mesma lógica do capital humano de Bourdieu: 3 empregos; são pentecostais.
Pessoas que abaixo da linha de dignidade.
Camada que comanda o mercado.
Características:
Endinheira- Características: Ralé Serviços braçais, não são valorizados e nem re-
Tem elevado capital cultural e eleva- conhecidas; não recebem estímulos familiares;
dos
do capital econômico; controlam e correspondem a 1/3 da população brasileira;
condicionam as ações sociais. precisam de proteção do Estado.
Classe que possui capital cultural
e parte do capital econômico. Segundo Jessé, as desigualdades socioculturais são frutos de
Classe média uma reprodução de costumes ordenados por uma elite do-
Características:
tradicional minante. Evidenciando, com isso, uma continuidade de uma
Possui a ilusão da meritocracia; domina
a classe subalterna (os trabalhadores).
divisão social brasileira, que segregam culturalmente e espa-
cialmente boa parte da população.
O PROBLEMA DA VIOLÊNCIA
146
U.T.I. - Sala objeto de estudo dessa nova ciência os fatos sociais,
compreendidos como “coisa”. O texto adaptado retrata
as características dos fatos sociais.
1. (UFU) Segundo Aron, para Marx, “o tempo de trabalho
necessário para o operário produzir um valor igual ao Não somos obrigados a falar a língua do nosso país,
que recebe sob forma de salário é inferior à duração efe- usar a moeda vigente ou adaptar-nos à tecnologia mo-
tiva do seu salário”. derna; mas se assim não o fizermos, nossas vidas serão
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. um fracasso, portanto, não temos escolha, todos nós
São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 148. somos coagidos a acatá-las. Estas decisões não são
determinadas individualmente, são exteriores à nossa
Com base no trecho, faça o que se pede.
vontade, elas já estão prontas na sociedade.
a) A proposição apresentada por Aron está ligada a
qual conceito dentro da teoria marxista? Explique BOELTER, C.; PLUMER, E. Sobre o pensamento de Durkheim
esse conceito. e Weber. In: TESKE, Ottmar (Coord.). Sociologia: textos e
contextos. Canoas: Ed. Ulbra, 1999, p. 41. Adaptado.
b) Como este conceito, dentro da teoria marxista, pode
ser desdobrado como absoluto e relativo? Explique es- Explique as características dos fatos sociais, na visão de
ses desdobramentos, caracterizando-os e definindo-os. Émile Durkheim, contidas no texto acima.
2. (Ufpr) O fragmento abaixo foi retirado do livro O que 4. (UEL) Leia o texto a seguir.
é Sociologia? e refere-se ao pensamento do sociólogo
Max Weber. O homem faz a religião, a religião não faz o homem. E a
religião é de fato a autoconsciência e o sentimento de
A Sociologia por ele [Max Weber] desenvolvida con- si do homem, que ou não se encontrou ou voltou a se
siderava o indivíduo e a sua ação como ponto-chave perder. Mas o homem não é um ser abstrato, acocorado
da investigação. Com isso, ele queria salientar que fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Esta-
o verdadeiro ponto de partida da Sociologia era a do, a sociedade. Este Estado e esta sociedade produzem
compreensão da ação dos indivíduos e não a análise a religião, uma consciência invertida do mundo, porque
das “instituições sociais” ou do “grupo social”, tão eles são um mundo invertido.
enfatizadas pelo pensamento conservador. Com essa
MARX, Karl. Crítica à Filosofia do Direito de
posição, não tinha a intenção de negar a existência ou
Hegel. São Paulo: Boitempo, 2005. p. 145.
a importância dos fenômenos sociais, como o Estado,
a empresa capitalista, a sociedade anônima, mas tão Na teoria do pensador Karl Marx, há um conceito que
somente a de ressaltar a necessidade de compreender explica essa inversão da realidade (por conseguinte,
as intenções e motivações dos indivíduos que vivenci- da consciência) e, em razão dela, da relação do sujeito
am estas situações sociais. A sua insistência em com- (seres humanos) com aquilo que, objetiva e subjetiva-
preender as motivações das ações humanas levou-o a mente, ele produz.
rejeitar a proposta do positivismo de transferir para
a Sociologia a metodologia de investigação utilizada Com referência às ideias de Marx, responda aos itens
pelas ciências naturais. Não havia, para ele, funda- a seguir.
mento para essa proposta, uma vez que o sociólogo a) Qual é esse conceito?
não trabalha sobre uma matéria inerte, como acon-
b) O que significa inverter a relação sujeito-objeto? Ex-
tece com os cientistas naturais [...]. Vivendo em uma
plique como isso se manifesta na religião.
nação retardatária quanto ao desenvolvimento capi-
talista, Weber procurou conhecer a fundo a essência
5. (UEL 2017) Max Weber é considerado pioneiro em
do capitalismo moderno. Ao contrário de Marx, não
definir o Estado por duas características fundamentais.
considerava o capitalismo um sistema injusto, irracio-
A primeira é o monopólio legítimo do uso da força físi-
nal e anárquico. Para ele, as instituições produzidas
ca. A segunda reside no fato de que tal monopólio é
pelo capitalismo, como a grande empresa, constituíam
restrito a determinado território. O controle das fron-
clara demonstração de uma organização racional que
teiras, incluindo a permissão de quem pode adentrar
desenvolvia suas atividades dentro de um padrão de
e permanecer em seu território segundo aquelas car-
precisão e eficiência.
acterísticas, seria prerrogativa do Estado. É necessário
(MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia? São Paulo: lembrar, entretanto, que o conceito de Estado elabora-
Brasiliense, 2011, p. 69 e 72. Coleção Primeiros Passos.)
do por Weber é um tipo ideal.
Com base nos conhecimentos sociológicos, caracterize Com base nessas informações e nos acontecimentos
a Sociologia na perspectiva weberiana, discorrendo so- da recente “crise migratória na Europa”, cujo fluxo de
bre os aspectos relevantes dessa perspectiva aponta- refugiados exemplifica alterações significativas dos pa-
dos no texto-base. péis atribuídos ao Estado moderno, cite e explique um
fato que se afasta do tipo ideal de Estado definido por
3. (Uema) Émile Durkheim (1858-1917) é considerado um Weber, apontando para algumas configurações recen-
dos teóricos fundadores da Sociologia e definiu como tes das ações ou reações dos Estados nacionais.
147
6. (UEL) Émile Durkheim considera o fato social o objeto TEXTO 1
de estudo da Sociologia e propõe regras para explicá-lo. Ora, a propriedade privada atual, a propriedade bur-
Duas dessas regras são formuladas da seguinte maneira: guesa, é a última e mais perfeita expressão do modo de
produção e de apropriação baseado nos antagonismos
I. A causa determinante de um fato social deve ser bus- de classes, na exploração de uns pelos outros. Neste
cada entre os fatos sociais anteriores, e não entre os sentido, os comunistas podem resumir sua teoria nesta
estados de consciência individual. fórmula única: a abolição da propriedade privada. (…)
II. A função de um fato social deve ser sempre buscada
na relação que mantém com algum fim social. A ação comum do proletariado, pelo menos nos países
DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. civilizados, é uma das primeiras condições para sua
5. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1968. p. 102. emancipação. Suprimi a exploração do homem pelo
homem e tereis suprimido a exploração de uma nação
Com base nas regras I e II e nos conhecimentos sobre o por outra. Quando os antagonismos de classes, no inte-
fato social, explique como se dá a relação entre indivíduo rior das nações, tiverem desaparecido, desaparecerá a
e sociedade para Durkheim. Exemplifique essa relação. hostilidade entre as próprias nações.
Marx e Engels. Manifesto comunista. 1848.
7. Cada um desses estágios do desenvolvimento da bur-
guesia se fez acompanhar do correspondente progresso
político. Estamento oprimido sob a dominação dos sen- TEXTO 2
hores feudais, associação armada e autogovernante na Os comunistas acreditam ter descoberto o caminho para
comuna, ora república municipal independente, ora ter- nos livrar de nossos males. Segundo eles, o homem é in-
ceiro estamento tributável da monarquia; depois, à época teiramente bom e bem disposto para com seu próximo,
da manufatura, contrapeso para a nobreza na monarquia mas a instituição da propriedade privada corrompeu-lhe
estamental ou na absoluta, fundamento central de todas a natureza. (…) Se a propriedade privada fosse abolida,
as grandes monarquias – a burguesia por fim conquistou possuída em comum toda a riqueza e permitida a todos
para si, desde o estabelecimento da grande indústria e a partilha de sua fruição, a má vontade e a hostilidade
do mercado mundial, a exclusiva dominação política no desapareceriam entre os homens. (…) Mas sou capaz de
moderno Estado representativo. O moderno poder es- reconhecer que as premissas psicológicas em que o siste-
tatal é apenas uma comissão que administra os negócios ma se baseia são uma ilusão insustentável. (…) A agres-
comuns de toda a classe burguesa. sividade não foi criada pela propriedade. (…) Certamente
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O manifesto do (…) existirá uma objeção muito óbvia a ser feita: a de que
Partido Comunista. São Paulo: Penguin Classics/ a natureza, por dotar os indivíduos com atributos físicos e
Companhia das Letras, 2012, p. 46. capacidades mentais extremamente desiguais, introduziu
A partir do texto, responda: Para Marx, qual a relação injustiças contra as quais não há remédio.
entre sistema político e sistema econômico? Sigmund Freud. Mal-estar na civilização. 1930. Adaptado.
8. (UEL) Considere os trechos a seguir. Qual a diferença que os dois textos estabelecem sobre
a relação entre a propriedade privada e as tendências
A classe operária não pode apossar-se simplesmente da
de hostilidade e agressividade entre os homens e as
maquinaria de Estado já pronta e fazê-la funcionar para
nações? Explicite, também, a diferença entre os méto-
os seus próprios objetivos.
dos ou pontos de vista empregados pelos autores dos
MARX, Karl. A revolução antes da revolução. São textos para analisar a realidade.
Paulo: Expressão Popular, 2008, p. 399.
U.T.I. - E.O.
Também do ponto de vista histórico, contudo, o “pro-
gresso” a caminho do Estado regido e administrado se-
gundo um direito burocrático e racional e regras pensa-
das racionalmente, atualmente, está intimamente ligado 1. Em seu estudo sobre o suicídio, Émile Durkheim pro-
ao moderno desenvolvimento capitalista. curou chamar a atenção para a dimensão sociológica
WEBER, Max. Parlamento e governo na Alemanha
deste fato. Assim, “considerando que o suicídio é um
reordenada: crítica política do funcionalismo e da ato da pessoa e que só a ela atinge, tudo indica que
natureza dos partidos. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 43. deva depender exclusivamente de fatores individuais e
que sua explicação, por conseguinte, caiba tão somen-
Com base nos trechos, compare as concepções clás-
te à psicologia. De fato, não é pelo temperamento do
sicas de Estado formuladas nas obras de Karl Marx e
suicida, por seu caráter, por seus antecedentes, pelos
Max Weber.
fatores de sua história privada que em geral se explica
9. (UFPR) Descreva dois dos principais acontecimentos a sua decisão.[...]”. E complementa: “o suicídio varia na
históricos que favoreceram o surgimento da sociolo- razão inversa do grau de integração dos grupos sociais
gia na Europa do século XIX. de que faz parte o indivíduo.”
O suicídio. Estudo de Sociologia.
10. (Unesp) Leia os textos. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
148
a) Explique os tipos de suicídio definidos por Durkheim. 7. (UFF) Escrito em 1880, o livro de Friederich Engels, Do
b) Discorra a respeito da relação estabelecida por Socialismo Utópico ao Socialismo Científico, buscou dis-
Durkheim entre os tipos de suicídio e os tipos de sol- cutir os limites do chamado Socialismo Utópico. Os filó-
idariedade por ele definidos. sofos do Socialismo Utópico acreditavam que a partir da
compreensão e da boa vontade da burguesia se poderia
transformar a sociedade capitalista, eliminando o indi-
2. Qual o princípio da lei dos três Estados na teoria de vidualismo, a competição, a propriedade individual e os
Auguste Comte? lucros excessivos, todos responsáveis pela miséria dos
trabalhadores. Como alternativa àquela corrente, Engels
3. Segundo Augusto Comte, a sociedade humana deve e Marx propunham o Socialismo Científico.
passar por três estados: o teológico, o metafísico e, por
último, o positivo. É nesse último estado que, para Com- Com base nessa informação:
te, a Sociologia se torna tão importante. a) caracterize a alternativa proposta por Engels e Marx
a) Qual a razão dessa importância? – o Socialismo Científico – em relação ao papel dos tra-
b) Esse tipo de argumento continua sendo válido? balhadores na transformação da sociedade.
b) mencione uma proposta levada a efeito pelos social-
4. Explique qual a importância do conceito de coerção istas utópicos.
segundo Émile Durkheim e o conceito de fato social.
8. (Unesp)
5. (Uel) A análise do tema modernidade, por pensado-
res clássicos da Sociologia, está presente também em TEXTO 1
autores contemporâneos, atentos às condições da so- O positivismo representa amplo movimento de pensa-
ciedade atual. No século XIX, Karl Marx, em seu livro mento que dominou grande parte da cultura europeia,
O manifesto comunista, de 1848, refere-se à sociedade no período de 1840 até às vésperas da Primeira Guerra
burguesa de seu tempo como formação social em que Mundial. Nesse contexto, a Europa consumou sua trans-
tudo o que era sólido desmancha no ar, tudo que era formação industrial, e os efeitos dessa revolução sobre
sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente for- a vida social foram maciços: o emprego das descobertas
çadas a encarar com serenidade sua posição social e científicas transformou todo o modo de produção. Em
suas relações recíprocas. poucas palavras, a Revolução Industrial mudou radical-
mente o modo de vida na Europa. E os entusiasmos se
MARX, K.; ENGELS, F. O Manifesto Comunista. In:
COUTINHO, C.N. et al. O Manifesto Comunista: 150 anos cristalizaram em torno da ideia de progresso humano e
depois. Rio de Janeiro: Contraponto, 1998. p. 11. social irrefreável, já que, de agora em diante, possuíam-se
os instrumentos para a solução de todos os problemas. A
Zigmunt Bauman, em Confiança e medo na cidade, afir- ciência pelos positivistas apresentava-se como a garan-
ma que se, entre as condições da modernidade sólida, a tia absoluta do destino progressista da humanidade.
desventura mais temida era a incapacidade de se con- Giovanni Reale; Dario Antiseri.
formar, agora – depois da reviravolta da modernidade História da filosofia. 1991. Adaptado.
“líquida” – o espectro mais assustador é o da inade-
quação. Temor bem justificado quando consideramos a
TEXTO 2
enorme desproporção entre a quantidade e a qualidade
de recursos exigidos por uma produção efetiva de segu- O “progresso” não é nem necessário nem contínuo. A
rança do tipo “faça você mesmo”. humanidade em progresso nunca se assemelha a uma
pessoa que sobe uma escada, acrescentando para cada
Adaptado de: BAUMAN, Z. Confiança e medo na cidade.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. p. 21-22. um dos seus movimentos um novo degrau a todos aque-
les já anteriormente conquistados. Nenhuma fração da
Com base nesses trechos e nos conhecimentos sobre humanidade dispõe de fórmulas aplicáveis ao conjunto.
modernidade, apresente: Uma humanidade confundida num gênero de vida único
a) uma característica particular para Marx e uma para é inconcebível, pois seria uma humanidade petrificada.
Bauman; Claude Lévi-Strauss. A noção de estrutura
em etnologia. 1985. Adaptado.
b) duas características comuns para ambos os autores.
a) Considerando o texto 1, explique o que significa “eu-
6. (UFU) Para Weber, a Sociologia é uma ciência que pro- rocentrismo” e por que o conceito de progresso pres-
cura compreender a ação social; a compreensão implica suposto pelo positivismo é eurocêntrico.
a percepção do sentido que o ator atribui à sua conduta.
b) Por que o método empregado pelo autor do texto 2
ARON, R. As etapas do pensamento sociológico. é considerado relativista? Como sua concepção de pro-
São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 465.
gresso se opõe ao conceito de progresso positivista?
Em vista do exposto, faça o que se pede.
9. (UFPR) Leia com atenção o fragmento abaixo.
a) Defina o que é ação social para Weber.
b) Caracterize os quatro tipos puros de ação social para Segundo a citação de Maia e Pereira (2009, p. 7-8), re-
Weber. tirada do livro Pensando com a Sociologia, “em seu
149
famoso livro sobre as formas de fazer sociologia, Wri- na sociedade e no período no qual sua situação e seu
ght Mills utilizou a expressão ‘imaginação sociológica’. ser se manifestam. Mills também sugere que “por meio
[...] essa imaginação poderia ser aprendida e exercida da ‘imaginação sociológica’ os homens podem perce-
por qualquer pessoa educada que se mostrasse curiosa ber o que está acontecendo no mundo e compreender
a respeito das relações entre biografia e história. Ou o que acontece com eles, como minúsculos pontos de
seja, a sociologia não seria simplesmente uma disci- cruzamento da biografia e da história, na sociedade”
plina acadêmica ou uma ciência ultrassofisticada, mas (MILLS, 1969, p. 14).
uma forma de argumento público capaz de revelar as MAIA, João Marcelo Ehlert; PEREIRA, Luís Fernando Almeida.
conexões entre as transformações na vida cotidiana e Pensando com a Sociologia. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009.
os processos mais amplos de mudança histórica”. Nas
palavras de Wright Mills: “A ‘imaginação sociológica’ No fragmento de texto acima, o autor usa o divórcio
é um ato que permite ir além das experiências e das para exemplificar de que forma as experiências individ-
observações pessoais para compreender temas públi- uais se conectam com as transformações sociais mais
cos de maior amplitude. O divórcio, por exemplo, é um amplas. Com base nos conhecimentos sociológicos, car-
fato pessoal inquestionavelmente difícil para o mari- acterize a “imaginação sociológica”, discorrendo sobre
do e para a esposa que se separam, bem como para os aspectos relevantes dessa perspectiva apontados no
os filhos. Entretanto, o uso da ‘imaginação sociológi- texto-base, e mencione e explique outro fato social para
ca’ permite compreender o divórcio não apenas como exemplificar o raciocínio da “imaginação sociológica”.
problema pessoal individual, mas também como uma
preocupação social. O aumento da taxa de divórcio re- 10. (UFU) Considere a seguinte citação.
define uma instituição fundamental – a família”. Cabe
salientar que a ‘imaginação sociológica’ não consistiria É evidente que, tecnicamente, o grande Estado moder-
simplesmente em aumentar o grau de informação das no é absolutamente dependente de uma base burocrá-
pessoas, mas numa “[...] qualidade de espírito que lhes tica. Quanto maior é o Estado e principalmente quanto
ajude a usar a informação e a desenvolver a razão, a mais é, ou tende a ser, uma grande potência, tanto mais
fim de perceber, com lucidez, o que está ocorrendo no incondicionalmente isso ocorre.
mundo e o que pode estar acontecendo dentro deles WEBER, Max. Ensaios de Sociologia. 5. ed. Rio de
mesmos” (MILLS, 1969, p. 11). A imaginação sociológica Janeiro: Guanabara Koogan, 1982, p. 246.
é uma forma crítica de pensar em sociologia, que nos
a) De acordo com a Sociologia de Max Weber, explique
permite conectar a nossa experiência vivida (e a expe-
a diferença entre poder e dominação.
riência vivida dos outros) no contexto mais amplo das
instituições sociológicas em que ocorre. A utilização da b) Cite os três tipos puros de dominação legítima e ex-
‘imaginação sociológica’ se fundamenta na necessida- plique cada um deles.
de de conhecer o sentido social e histórico do indivíduo
150
GEOGRAFIA 1
151
MOVIMENTOS DA TERRA
MOVIMENTOS DA TERRA
Do ponto de vista da ciência, a Terra possui um único movimento, que pode, dependendo de suas causas, ser dividido nos
seguintes componentes:
movimento de rotação em torno de seu eixo;
movimento de translação em torno do Sol;
movimentos de precessão e de nutação;
movimento dos polos;
movimento em torno do centro de nossa galáxia.
Os dois primeiros são os principais, pois suas influências podem ser sentidas diariamente.
Movimento de rotação
O movimento de rotação ocorre quando a Terra gira em torno de si mesma, de oeste para leste, isto é, em torno de um eixo
imaginário que passa por seus polos. A duração do chamado dia sideral, ou seja, o tempo necessário para a Terra completar
uma volta em torno de seu eixo (360º exatos), é de 23 horas, 56 minutos, 4 segundos e 9 décimos. Em relação ao Sol, o
tempo de rotação médio, o chamado dia solar médio, é de 24 horas. O dia solar é compreendido como o período entre duas
passagens sucessivas do Sol sobre o meridiano local e varia ao longo do ano, sendo sempre superior ao dia sideral.
Movimento de translação
A Terra, ao mesmo tempo em que gira em torno do seu eixo, também realiza o movimento de translação, que consiste em dar
uma volta completa em torno do Sol. Para realizar esse movimento, ela utiliza cerca de 365 dias – ou precisamente 365 dias, 5
horas, 48 minutos e 46 segundos. O trajeto percorrido com esse movimento é denominado órbita terrestre.
A órbita terrestre é elíptica, onde o Sol está ligeiramente deslocado em relação ao centro do movimento.
A Terra está mais próxima do Sol entre 4 a 7 de janeiro e mais distante entre 4 e 7 de julho.
152
Periélio e afélio
O periélio é o ponto da órbita de um corpo, seja ele planeta, asteroide ou cometa, que está mais perto do Sol. Quando um corpo
está no periélio, ele tem a maior velocidade de translação de toda a sua órbita.
O afélio, por sua vez, é o ponto da órbita em que um planeta ou um corpo está mais distante do Sol. Quando um astro está
no afélio, ele tem a menor velocidade de translação de toda a sua órbita, proporcionando invernos mais longos no HS e
verões mais longos no HN.
MOVIMENTO ACELERADO TERRA
SOL
PERIÉLIO AFÉLIO
MOVIMENTO RETARDADO
Já os solstícios são os momentos nos quais os raios solares incidem perpendicularmente sobre um dos trópicos. Eles
ocorrem em 22 de junho, no Trópico de Câncer (no hemisfério Norte), e em 21 de dezembro, no Trópico de Capricórnio
(hemisfério Sul). Essas duas datas marcam, respectivamente, o início do inverno e do verão no hemisfério Sul, e o início
do verão e do inverno no hemisfério Norte. No dia de solstício, os raios solares tangenciam um dos polos, fazendo com
que este tenha 24 horas de luz, e o outro, 24 horas de escuridão.
COORDENADAS GEOGRÁFICAS
Meridianos
Os meridianos são linhas imaginárias que ligam os Polos Norte e Sul, formando “meias circunferências” na Terra.
O meridiano de Greenwich divide a Terra em dois hemisférios: ocidental e oriental. A partir dele, é possível traçar diversos
meridianos, até o limite de 180°, tanto para Oeste quanto para Leste, o que totaliza os 360° da “circunferência” da Terra.
153
Paralelos
A linha imaginária traçada na parte mais larga da Terra é o paralelo de zero grau (0°), cujos pontos são equidistantes dos
polos. Ele foi denominado Equador, o principal paralelo, e divide o planeta em dois hemisférios, Norte e Sul.
Os outros paralelos são traçados seguindo a linha do Equador, tanto para o Norte quanto para o Sul. Além do Equador,
existem quatro paralelos notáveis: no hemisfério Norte, há o Círculo Polar Ártico (90° N) e o Trópico de Câncer (23° N); no
hemisfério Sul, há o Círculo Polar Antártico (90° S) e o Trópico de Capricórnio (23° S).
MERIDIANOS PARALELOS
antimeridiano Polo norte 90º N Latitudes
180º
de Greenwich norte
0º
Greenwich
Equador
Latitude e longitude
Latitude é a distância, medida em graus, que separa a linha do Equador de um ponto qualquer da superfície terrestre.
Ela varia de 0° a 90° ao Norte e ao Sul.
Longitude é a distância, medida em graus, do meridiano de Greenwich a um ponto qualquer da superfície da Terra. Ela
varia de 0° a 180° a Leste ou a Oeste.
LONGITUDES LATITUDES
ZONAS DE ILUMINAÇÃO
Nas áreas próximas aos polos, onde a curvatura da Terra é mais acentuada, os raios do sol se distribuem por uma superfície
menor, determinando menor concentração de calor.
Nas baixas latitudes (próximas ao Equador), os raios solares tocam perpendicularmente a superfície do planeta, determinan-
do maior concentração e, consequentemente, maior aquecimento. Temperaturas médias ocorrem nas latitudes médias (entre
os trópicos e os círculos polares).
1. Zona Tropical ou Tórrida (ou de baixas latitudes) – situada entre os trópicos.
2. Zona Temperada do Norte (ou de médias latitudes) – situada entre o Trópico de Câncer e o Círculo Glacial Ártico.
3. Zona Temperada do Sul (ou de médias latitudes) – situada entre o Trópico de Capricórnio e o Círculo Glacial Antártico.
4. Zona Glacial Ártica (ou de altas altitudes) – situada ao Norte do Círculo Glacial Ártico.
5. Zona Glacial Antártica (ou de altas latitudes) – situada ao Sul do Círculo Glacial Antártico.
154
FUSO HORÁRIO
Dividindo-se os 360º da “esfera” terrestre pelo número de horas em que a Terra leva para completar seu movimento de
rotação, tem-se 15º (quinze graus), ou seja, a cada hora, a Terra gira 15º. Partindo desse raciocínio, o planeta foi dividido em 24
fusos horários, correspondentes às 24 horas do dia e limitados por meridianos, distantes 15º uns dos outros.
O meridiano 0º tem como referência o observatório de Greenwich. Como a Terra gira de Oeste para Leste, os fusos à leste de
Greenwich têm as horas adiantadas em relação ao fuso inicial. Os fusos situados à oeste, por sua vez, têm as horas atrasadas
em relação à hora de Greenwich.
Definiu-se o antimeridiano de Greenwich, ou seja, a linha de longitude 180º, oposta ao meridiano inicial, chamada Linha
Internacional de Mudança de Data. Esse meridiano divide um fuso em que todos os lugares têm a mesma hora, mas,
a oeste da linha, a data está um dia na frente da data a leste.
155
Fuso horário legal
Fusos horários do Brasil
primeiro fuso (UTC-2): Atol das Rocas, Fernando de Noronha, Arquipélago de São Pedro e São Paulo, Trindade e
Martim Vaz;
segundo fuso – horário de Brasília (UTC-3): regiões Sul, Sudeste e Nordeste; Estados de Goiás, Tocantins, Pará e
Amapá; e o Distrito Federal;
terceiro fuso (UTC-4): Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima e a parte do Amazonas que
fica a leste da linha que interliga Tabatinga e Porto Acre;
quarto fuso (UTC-5): Estado do Acre e a porção do Amazonas que fica a oeste da linha.
N
TI
AM PA
CO
MA CE
RN
PB
PI
PE
AC AL
10° S TO
RO SE
MT BA
PERU
DF
GO
BOLIVIA MG
MS ES
20° S
PA RA GUA I
SP RJ
Capricórnio
O
Trópico de CHILE PR
IC
T
PACÍFICO
N
OCEANO
SC LÂ
AT
ARGENTINA RS O
N
A
E
400 200 0
O
URUGUA I
Horário de verão
NOÇÕES DE CARTOGRAFIA
CARTOGRAFIA
Definições de mapas e cartas
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), “carta é a representação no plano, em escala média ou
grande, dos aspectos artificiais e naturais de uma área tomada de uma superfície planetária, subdividida em folhas delimitadas
por linhas convencionais – paralelos e meridianos – com a finalidade de possibilitar a avaliação de pormenores, com grau de pre-
cisão compatível com a escala”. Ainda segundo o IBGE, “mapa é a representação no plano, normalmente em escala pequena,
dos aspectos geográficos, naturais, culturais e artificiais de uma área tomada na superfície de uma figura planetária, delimitada
por elementos físicos, político-administrativos, destinadas aos mais variados usos, temáticos, culturais e ilustrativos”.
cadastrais – escalas de 1:500 a 1:10.000;
topográficos – escalas de 1:25.000 a 1:250.000;
geográficos – escalas de 1:500.000 a 1:1.000.000.
156
Escala
Escala numérica: representada por uma fração, na qual o numerador indica a distância no mapa, e o denominador
indica a distância na superfície real. Uma escala 1:100.000 (um por cem mil) significa que a superfície representada foi
reduzida 100 mil vezes. Nesse caso, 1 cm no mapa = 100.000 cm = 1.000 m = 1 km na realidade.
Escala gráfica: é uma linha reta graduada, por meio da qual se indica a relação da distância real com as distâncias
representadas no mapa. Por exemplo: 1 cm = 100 km.
2 1 0 2 4
km © César da Mata/
Schäffer Editorial
A fórmula para calcular a distância real entre dois pontos em um mapa é D = E × d, em que D é distância real, d é a distância
no mapa e E é a escala.
Elementos de um mapa
Título: informa o tema que está sendo representado.
Legenda: mostra o significado dos símbolos e é importante para explicar o que o mapa comunicou visualmente.
Escala: indica quantas vezes o mapa foi reduzido, possibilitando o cálculo das distâncias e das dimensões reais do
espaço representado.
157
Topografia e curvas de nível
Sensoriamento remoto
O sensoriamento remoto é uma tecnologia de obtenção de imagens e dados da superfície terrestre por meio da captação e
registro da energia refletida/emitida pela superfície, sem que haja contato físico entre o sensor e a superfície estudada (por
isso é denominado remoto).
158
Quando a imagem for capturada, ela será analisada, transformada em mapas ou constituirá um banco de dados georrefe-
renciados, caracterizando o que é chamado de geoprocessamento.
ESQUEMA DE UM SIG
Projeção cilíndrica
© Pearson Prentice Hall, Inc.
159
Projeção azimutal, plana ou polar
Parte sempre de um ponto para a representação da(s) área(s) – por isso é usada para pequenas áreas. Pode ser de três tipos:
polar, equatorial e oblíqua (chamada também de horizontal).
Equador
Eq
ua
do
r
Quanto às propriedades
Projeção conforme: preserva os ângulos e deforma as áreas.
Projeção equivalente: preserva as áreas e altera os ângulos.
Projeção afilática: não conserva propriedades, mas minimiza as deformações em conjunto (ângulos, áreas e distâncias).
Projeção equidistante: as distâncias se preservam, e as áreas e os ângulos (consequentemente, a forma) são deformados.
PROJEÇÃO DE MECATOR
PROJEÇÃO DE PETERS
160
ELEMENTOS DO CLIMA E FATORES CLIMÁTICOS
CLIMA E TEMPO
O tempo é algo momentâneo, de curta duração. Tempo é a condição atmosférica de um determinado lugar em um dado
momento.
O clima é algo duradouro, permanente, que não muda de um momento para outro. Clima é a sucessão habitual dos tipos de
tempo num determinado lugar da superfície terrestre.
Elementos do clima
Radiação solar
Uma parte da energia em forma de radiação eletromagnética emitida pelo Sol é interceptada pelo sistema Terra-atmosfera
e convertida em outras formas de energia, como calor e energia cinética da circulação atmosférica.
Temperatura do ar
Temperatura é a medida da energia cinética média das moléculas ou átomos individuais. A temperatura do ar é variável de
acordo com os seguintes fatores: radiação solar, massas de ar, aquecimento diferencial do continente e da água, correntes
oceânicas, altitude e posição geográfica.
Umidade do ar
Trata-se da presença de vapor de água no ar. As principais maneiras de descrever quantitativamente a presença de vapor
d’água no ar são a umidade absoluta e a umidade relativa (U.R.), que é a relação entre a quantidade de água existente no ar
(umidade absoluta) e a quantidade máxima que poderá haver na mesma temperatura (saturação). Isso significa que, em vez
de indicar a real quantidade de vapor de água no ar, esse índice indica quão próximo o ar está de se tornar saturado. Quando
o ar está saturado, a umidade relativa é de 100%.
Precipitação
Em meteorologia, precipitação descreve qualquer tipo de fenômeno relacionado à queda de água do céu. Isso inclui neve,
chuva e chuva de granizo. A precipitação é uma parte fundamental do ciclo hidrológico, sendo responsável por retornar a
maior parte da água doce ao planeta.
Tipos de chuvas
161
As chuvas convectivas ou de convecção (I) são típicas da região intertropical, principalmente na Zona Equatorial, e
de verão, no interior dos continentes, devido às altas temperaturas. O calor do Sol esquenta o ar, que tende a subir e a esfriar
enquanto sobe. Dessa forma, o vapor de água contido no ar esfria e precipita. A evaporação também é intensa; assim, esse
ar que sobe carrega muita umidade; à medida que aumenta a quantidade de vapor no ar, aumenta também a instabilidade,
ou seja, o ar está à beira de atingir o ponto de saturação. A umidade elevada de tal forma atingirá níveis muito altos por
volta das 15/16 horas, desencadeando tempestades e aguaceiros. A chuva manifesta-se intensamente e é de curta duração,
sendo fácil identificá-la, pois decorrem de nuvens brancas, densas e algodoadas, os cúmulos. Quando há muita umidade, o
branco torna-se cinza-escuro e a nuvem ganha o nome de cumulonimbus, que verterá sua carga de modo particularmente
intenso, acompanhada de tormenta, raios e, às vezes, granizos. As chuvas são ditas de convergência, pois as massas de ar
sobem com a ajuda de ventos alísios, que convergem para as áreas equatoriais.
As chuvas frontais (II) resultam do encontro de duas massas de ar com características distintas de temperatura e
umidade. A partir desse choque, a massa de ar quente sobe e o ar esfria, aproximando-se do ponto de saturação,
originando nuvens e, é claro, chuva. São do tipo chuvisco, à passagem de uma frente quente; e do tipo aguaceiro, de
frente fria. Essas precipitações são típicas em áreas de baixa pressão, principalmente nas zonas dos trópicos ou tempe-
radas, onde ocorrem o encontro das massas de ar polares com as massas de ar tropicais. Caracteriza-se uma frente fria
quando ocorre precipitação pelo ar frio procedente dos polos. Contudo, também poderá ser causada por um processo
oposto: uma frente quente e úmida que atropela massas de ar em região fria.
As chuvas orográficas ou de relevo (III) são as que derivam de uma subida forçada do ar, quando, no seu traje-
to, apresenta-se uma cadeia de montanhas. Ao subir, o ar esfria, o ponto de saturação diminui, a umidade relativa
aumenta e dá-se a condensação e, consequentemente, a formação de nuvens e chuva. Essas chuvas são frequentes
nas áreas de relevo acidentado, ao longo de serras, de onde sopram ventos úmidos. Um bom exemplo de obstáculo
orográfico é a Serra do Mar em São Paulo.
Pressão atmosférica
Trata-se da força exercida pelo ar em um determinado ponto da superfície. Está intimamente relacionada à temperatura, ao
vapor d’água, à altitude e à latitude. Quanto mais baixa a altitude, maior a pressão atmosférica.
FATORES CLIMÁTICOS
Latitude
Altitude
162
Massas de ar
Correntes marítimas
Maritimidade e continentalidade
Relevo
Vegetação
DINÂMICAS CLIMÁTICAS
ATMOSFERA
A atmosfera é uma camada relativamente fina de gases e material particulado (aerossóis) que envolve a Terra. Cerca de 97%
da massa total da atmosfera concentra-se nos primeiros 302 km, contados a partir da superfície terrestre.
Troposfera;
Estratosfera;
Mesosfera;
Termosfera.
163
Analisando essa atmosfera descrita numa seção vertical, observamos o aparecimento de três pares de células de circulação,
na escala global:
Célula de Hadley (entre 0° e 30°);
Célula de Ferrel (entre 30° e 60°); e
Célula Polar (entre 60° e 90°).
Célula polar
Alta polar
Célula de Ferrel
60º Frente polar
Baixa subpolar
Célula
Ventos contra alísios
de
Hadley
A Alta A
subtropical
Zona de
Ventos alísios
convergencial
Baixa 0º Intertropical
Equatorial (ZCTT)
B
B B
30º
A Alta A
subtropical
60º
164
2
3 4
El Niño
De tempos em tempos, as águas equatoriais do Pacífico aquecem de maneira anormal, resultando no aparecimento do
fenômeno El Niño, que altera profundamente o clima em escala planetária. Esse aquecimento manifesta-se nos meses de
setembro/outubro.
No Brasil, os efeitos de El Niño foram sentidos em diferentes regiões. O Nordeste foi flagelado por uma forte seca, enquanto
o Rio Grande do Sul enfrentava enchentes. Na úmida região Norte choveu muito menos do que o esperado, propiciando o
aparecimento de grandes incêndios, como o que devastou 15% do estado de Roraima.
La Niña
La Niña também é um fenômeno cíclico cuja manifestação opõe-se a do El Niño. Acontece quando ocorre um resfriamento
maior que o normal das águas do Pacífico, em média, a cada dois ou sete anos, e pode durar aproximadamente um ano.
No Brasil, La Niña alterou o regime de chuvas nordestino e provocou uma primavera atípica na região Sudeste, com índices plu-
viométricos maiores do que a média nesse período, e temperaturas mais baixas que o normal, provocadas pela sucessão de dias
nublados ou chuvosos. As áreas em azul representam regiões frias, onde ocorre o fenômeno do La Niña.
165
AS MANCHAS EM AZUL INDICAM QUE AS ÁGUAS DO PACÍFICO EQUATORIAL ESTÃO MAIS FRIAS
frio
frio
seco e
quente
chuvoso
frio chuvoso seco
seco e frio seco chuvoso
e frio
frio e frio
chuvoso
chuvoso frio e
chuvoso
frio chuvoso quente e seco
chuvoso
frio
quente
seco
chuvoso
166
Clima mediterrâneo
Podemos afirmar que esse clima tem como características
gerais um verão quente, seco e prolongado e um inverno
suave, chuvoso e curto.
Clima tropical
A amplitude térmica anual é 15 ºC e 20 ºC. Clima temperado continental
O clima tropical caracteriza-se genericamente pela ex- Considerável amplitude térmica anual.
istência de duas estações ou períodos: a estação mais
Pluviosidade é baixa.
úmida e a estação seca.
167
Clima subpolar Clima polar
As temperaturas médias anuais são muito baixas, e a A média do mês mais quente não chega a 10 ºC, e a média
média do mês mais quente não supera os 10 ºC; As chuvas do mês mais frio é muito inferior a 0 ºC. As chuvas inex-
são escassas e a maior parte das precipitações ocorre sob istem, e as precipitações ocorrem sob forma de neve.
forma de neve ao longo do ano.
CLIMAS DO BRASIL
168
Massa equatorial continental (mEc)
Quente e úmida.
mEc mEc
mEa oEquatorial
atlântica
mEc oEquatorial
continental
mTa o Tropical
atlântica
mTc mTc o Tropical mTc mTa
continental
mTa mPa oPolar atlântica Alísio de
mPa sudeste
Fonte: educação.globo.com/geografia
Latitude semiárido
Continentalidade e maritimidade
Correntes marítimas
Corrente do Brasil e a corrente das Guianas.
CLIMAS DO BRASIL
Clima equatorial
O clima equatorial abrange a região norte brasileira, o norte FONTE: <PROFWLADIMIR.BLOGSPOT.COM.BR/2012/09/
do Mato Grosso e de Tocantins e, ainda, o oeste do Maranhão. MAPAS-BRASIL-CLIMA.HTML>. (ADAPTADO)
169
Clima tropical úmido
Vai da divisa do Paraná e de São Paulo até próximo ao “cotovelo” do Rio Grande do Norte.
Em geral, as precipitações são pouco mais acentuadas que na região de clima tropical. A região com as maiores médias plu-
viométricas do Brasil estão na serra do Mar, no estado de São Paulo, e o lugar no qual já foram registrados os maiores índices de
precipitação do Brasil é Itapanhaú (próxima à cidade paulista de Mogi das Cruzes), onde já choveu 4500 mm num único ano.
No domínio do clima tropical de altitude, sobreleva-se a ação da massa tropical atlântica. Além disso, é frequente a ação
da massa polar atlântica. O encontro dessas duas traz muitas chuvas à região, sobretudo no verão, quando a mPa faz um
caminho quase marinho, chegando carregada de umidade às regiões serranas.
170
Clima subtropical
A parte do Brasil ao sul do Trópico de Capricórnio.
INTRODUÇÃO À HIDROLOGIA
Ciclo hidrológico
Vapor transportado para
terra firme
Precipitação
Transpiração
Evaporação
Percolação Precip
Evaporação
Lago
Rio
Terra
Oceano
Fluxo subterrâneo
171
MARES E OCEANOS
Oceano.
71% do planeta.
Pacífico, Atlântico, Índico e Glacial Ártico.
Mares fazem parte dos oceanos. Grandes massas de água salgada cercadas por terra, parcial ou completamente.
Mar fechado: é aquele que não possui nenhuma ligação com o oceano.
Mar interior (ou Mediterrâneo): possui uma pequena ligação com o oceano;
Mar aberto: é aquele que tem grande ligação com o oceano.
Mares da Europa
Canal da Mancha
Golfo de Vizcaya
Mar de Azov
Mar Caspio
Mar Negro
Mar Adriático
Mar de Mármara
Mar Mediterrâneo
Mar Egeo
IMAGENS DO MAR CÁSPIO (FECHADO), DO MAR DO NORTE OU DE BERENTS (ABERTO) E DO MAR MEDITERRÂNEO (CONTINENTAL)
Glacial Ártico
Oceano
Pacífico
Oceano
Oceano Oceano Índico
Pacífico Atlântico
Oceano Antártico
172
Ondas e marés
As ondas são produzidas pelos ventos.
As marés correspondem ao movimento diário das águas que avançam e recuam, fenômeno esse resultante de forças gravi-
tacionais que o Sol e a Lua exercem sobre a Terra.
Correntes marítimas
As correntes marítimas são massas menores de água que se deslocam em direções distintas. Elas mantêm suas carac-
terísticas de cor, salinidade e temperatura, ou seja, não se misturam. Esse deslocamento é causado pela ação dos ventos
e pelo movimento de rotação da Terra. Em razão disso, as correntes marítimas se deslocam de acordo com os hemisférios
da Terra. No Hemisfério Norte, seguem no sentido horário e, no Hemisfério Sul, no sentido anti-horário.
Corrente do Golfo, corrente do Brasil, corrente de Humboldt e a corrente de Benguela.
173
INFOGRÁFICO DAS PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS DOS VAZAMENTOS DE PETRÓLEO
ÁGUAS CONTINENTAIS
Uma pequena parte de toda a água do mundo localiza-se nas áreas continentais. Os rios representam apenas uma pequena
porcentagem delas, e suas águas sempre foram um fator determinante para a fundação das cidades.
Será que as pessoas que vivem em áreas urbanizadas conseguem imaginar qual a origem dos rios que cortam sua cidade?
174
Rios
Boa porosidade e
Nível boa permeabilidade
hidroestático
Aquifero livre
Aquífero cativo
Origem:
Pluvial.
Glacial.
Lacustre.
Lençol freático, se esses lençóis atingirem a superfície, dão origem às nascentes dos rios.
Alguns nascem do degelo.
Existem rios perenes, ou seja, que nunca secam.
Regime fluvial
A variação do volume de água dos rios durante o ano.
Fatores também interferem no comportamento de um rio, como relevo, cobertura vegetal e natureza do solo.
Os rios que deságuam em outros rios são chamados de afluentes. Ponto onde termina o curso de um rio recebe o nome de foz.
Estuário.
Delta.
Mista.
175
Bacias e rede hidrográficas
Rede hidrográfica corresponde ao conjunto de rios de uma bacia.
Bacia hidrográfica corresponde à rede hidrográfica e à sua área de captação de água.
Tipos de drenagem:
Exorreica.
Endorreica.
Arreica.
Criptorreica.
A MODELAGEM DO RELEVO
Os rios realizam um trabalho ininterrupto de destruição, transporte e sedimentação, denominado ciclo de erosão fluvial. Eles
escavam seu próprio leito, enquanto que, em suas margens, a erosão forma as vertentes dos vales por onde eles correm. A
velocidade de suas águas é determinada pela declividade dos terrenos que cortam.
Lagos
A maioria deles é formada por depressões ou falhas preenchidas por águas na superfície terrestre; outros, no entanto, como o
caso dos lagos do Canadá, possuem origem glacial.
176
Poluição das águas
Decorrente da expansão das atividades industriais e agrárias e do crescimento das cidades e da população mundial.
Principais fontes poluidoras são:
lixo sólido.
agrotóxicos em geral.
esgotos sem tratamento.
resíduos das mineradoras.
BACIAS HIDROGRÁFICAS
Principais bacias hidrográficas do Brasil
Bacia Amazônica
Maior bacia hidrográfica do mundo. Nasce no Peru, com o nome de Apurimac; ao entrar no Brasil, recebe o nome de Soli-
mões. Depois do encontro com o rio Negro, perto de Manaus, recebe o nome de Amazonas.
177
As águas dos rios amazônicos são barrentas, claras e negras.
Transporte hidroviário. É o caso dos rios Madeira, Xingu, Tapajós, Negro, Trombetas e Jari.
Hidrelétricas na Amazônia
Santo Antonio
Jirau
Balbina
Belo Monte
178
Bacia do São Francisco
Nasce em Minas Gerais, na serra da Canastra, corta o sertão da Bahia, na divisa com Pernambuco e entre Alagoas e Sergipe,
e deságua no Atlântico.
Navegação, irrigação e produção de energia.
Plenamente navegável até Petrolina, em Pernambuco. Paulo Afonso, Sobradinho e Itaparica, que são três usinas hidrelé-
tricas de grande porte.
Transposição do rio São Francisco.
Bacia do Tocantins-Araguaia
É a maior bacia localizada totalmente em território brasileiro, com 813 mil km2 e formada pelos rios Tocantins e Araguaia. O rio
Tocantins nasce em Goiás, ao norte da cidade de Brasília, percorre 2,6 mil km e desemboca na foz do rio Amazonas, junto à ilha
de Marajó. Usina de Tucuruí, no Pará. Rio Araguaia nasce na serra das Araras, no Mato Grosso, próximo à divisa com Goiás, e
desemboca no rio Tocantins.
179
BACIA HIDROGRÁFICA DO TOCANTINS-ARAGUAIA
Hidrovia Araguaia-Tocantins tem sido muito questionada pelas ONGs em razão dos impactos socioambientais.
Bacia do Prata
É formado pelas bacias dos rios Paraguai, Paraná e Uruguai. Banha a área mais desenvolvida e urbanizada do país.
Bacia do Paraguai
Amplamente navegável;
Pequeno potencial hidrelétrico;
Pantanal.
180
Bacia do Uruguai
Pouco aproveitada para navegação e para geração de energia. Essa bacia é fronteiriça entre Brasil e Argentina e, portan-
to, exige acordos internacionais para a realização de projetos.
Bacia do Paraná
Maior potencial hidrelétrico
Garante o abastecimento de energia elétrica para a região Sudeste, região Sul e Centro-Oeste.
Bacias secundárias
As 12 Regiões
Hidrográficas Brasileiras
Amazonas
Tocantins-Araguaia
Atlântico NE Ocidental
Parnaíba
Atlântico NE Oriental
São Francisco
Atlântico Leste
Atlântico Sudeste
Paraná
Paraguai
Uruguai
Atlântico Sul
181
Grandes rios da África
Rio Nilo e Rio Congo.
182
Principais rios da América do Norte
Rio São Lourenço, Colorado, rio Mackenzie, rio Yukon e a bacia do Mississipi-Missouri.
DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS I
DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS
Formações florestais
Domínio das terras baixas florestadas da Amazônia (floresta Amazônica)
clima quente e úmido;
relevo com predomínio de planícies;
floresta latifoliada (folhas largas);
ombrófila;
higrófila;
183
perene (sempre verde);
densa (de difícil penetração);
heterogênea;
biodiversa;
solos pouco férteis (pouco húmus e muito lixiviado);
acelerado processo de desvastação;
política de integração intensificam os fluxos migratórios.
Formações arbustivas
Domínio das depressões interplanálticas do semi-árido do nordeste
clima quente e seco;
relevo com predomínio de depressões;
vegetação xerófila e caducifólia;
solos ricos em sais minerais e pobre em húmus;
ocorrência de brejos em regiões mais úmidas;
produção de frutas;
rios intermitentes em sua maioria.
184
Domínios dos chapadões recobertos por cerrados e penetrados por mata galeria
clima tropical (chuvas no verão e estiagem no inverno);
relevo planáltico com chapadas;
solos com baixa fertilidade (alta concentração de alumínio);
45% devastado em função da expansão agropecuária;
nascentes de rios importantes como o São Francisco.
Formação herbácea
Domínio das Pradarias mistas do Rio Grande do Sul
clima frio e úmido;
terras baixas com colinas (cochilias);
vegetação de gramíneas;
imensa pastagem (favoreceu a pecuária de corte);
rizicultura.
Formações complexas
Pantanal.
Mata dos Cocais.
Manguezais.
185
BIOMAS DO BRASIL
Formações florestais: vegetação com árvores de grande porte
Floresta Amazônica.
Mata Atlântica.
Floresta de araucárias.
Formações arbustivas e herbáceas: constituíta por arbustos dispersos e isolados por vegetação rasteira
Cerrado
Caatinga.
Campos.
Formações complexas: ocorrem em áreas de transição entre formações a apresentam características de duas ou mais
dessas formações
Mata dos cocais.
Pantanal.
Mangue.
186
U.T.I. - Sala
1. (UFPR 2019) As figuras A, B, C e D abaixo fazem a representação cartográfica da sede do município de Cornélio Pro-
cópio, obtidas de distintas bases de dados.
Diferencie-as sob o ponto de vista cartográfico e explique por que elas apresentam conteúdos distintos.
2. (Enem 2014 - Modificada) Quando é meio-dia nos Estados Unidos, o Sol, todo mundo sabe, está se deitando na França.
Bastaria ir à França num minuto para assistir ao pôr do sol.
SAINT-EXUPÉRY, A. O Pequeno Príncipe. Rio de Janeiro: Agir, 1996.
A diferença espacial citada é causada por qual característica física da Terra?
3. (AVAJ 2020) A taxa de mortalidade infantil expressa o número de crianças de um determinado local que morre antes
de completar 1 ano de vida a cada mil nascidas vivas. Esse dado é um indicador da qualidade dos serviços de saúde,
saneamento básico e educação.
O mapa acima determina as regiões geográficas mundiais com maiores taxas de mortalidade infantil. Discorra sobre
a forma que as regiões do globo se apresentam no mapa, destacando qual técnica de representação cartográfica foi
escolhida no mapa.
187
4. (UFU 2019)
De acordo com a projeção cartográfica de Peters, utilizada para representar o mapa-múndi, responda.
a) Por que essa projeção do mapa-múndi é criticada e pouco utilizada?
b) Quais são as principais características dessa projeção?
5. (ENEM 2010 / Modificada) Pensando nas correntes e prestes entrar no braço que deriva da Corrente do Golfo
para o norte, lembrei-me de um vidro de café solúvel vazio. Coloquei no vidro uma nota cheia de zeros, uma bola
cor rosa-choque. Anotei a posição e data: Latitude 49°49’N, Longitude 23°49’W. Tampei e joguei na água. Nunca
imaginei que receberia uma carta com a foto de um menino norueguês, segurando a bolinha e a estranha nota.
KLINK, A. Parati: entre dois pólos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998 (adaptado).
6. (CBM/SC 2018) Diariamente, os telejornais e os jornais, em seus serviços de previsão do tempo, mostram imagens de
satélites onde se veem as posições das frentes frias e quentes e das áreas de instabilidade, acompanhadas de informa-
ções de interesse meteorológico. A cada dia a situação muda, e mesmo dentro de um mesmo período de 24 horas podem
ocorrer alterações significativas, exigindo uma observação permanente para entender e, se possível, prever a variação
dos elementos que compõem o complicado mecanismo do clima. Indique quais são os elementos constitutivos do clima.
7. “El Niño é um fenômeno atmosférico-oceânico caracterizado por um aquecimento anormal das águas superficiais no
oceano Pacífico Tropical, e que pode afetar o clima regional e global, mudando os padrões de vento a nível mundial, e
afetando assim, os regimes de chuva em regiões tropicais e de latitudes médias”.
(Fonte: Copyright ©INPE/CPTEC 1995-2011 ).
“Os efeitos do ‘El Niño’ no Brasil podem causar prejuízos e benefícios. Mas os danos causados são superiores aos bene-
fícios, por isso o fenômeno é temido, principalmente, pelos agricultores.”
Laboratório de Meteorologia da universidade Estadual do Maranhão. Disponível em: WWW.uema.br. Acesso em: 6 de jul. 2009.
No Brasil esse fenômeno caracteriza-se por provocar: Estiagem no Sul seguida de estação chuvosa e aumento da seca
em todo o Nordeste. Considerando o texto Quais outros prejuízos esse fenômeno pode ocasionar?
8. (CONSULPLAN 2018) Representar a superfície terrestre com a maior precisão possível tem sido um desafio enfrentado
pela humanidade desde a Antiguidade. Diante disso, vêm sendo criadas, desde o século XVI e por diversos cartógrafos, as
projeções cartográficas, que são técnicas usadas para representar a superfície terrestre num plano, como o mapa-múndi
ou planisfério. O termo projeção sugere que continentes, oceanos, mares e demais porções da superfície terrestre são
188
“projetados” num plano, sobre o qual se desenha um sistema de coordenadas geográficas. Observe a imagem da pro-
jeção cartográfica a seguir.
“Tal projeção mantém a proporção real entre terras e águas. Possibilita a visão de conjunto da superfície terrestre, asso-
ciada à esfericidade, graças ao seu ‘formato de coração’. As distorções da forma dos continentes são menores ao longo
do Meridiano de Greenwich e do Polo Norte, que estão no centro dessa projeção.” Trata-se de qual Projeção cartográfia?:
9. (AVAJ 2020) Um avião decolou do aeroporto Internacional de Guarulhos (cidade A; 45°W) às 7 horas com destino à
cidade B (126°W). O vôo tem duração de oito horas. Que horas serão na cidade B quando o avião pousar?
U.T.I. - E.O.
1. Mapa de fuso horário
Fonte: <www.estudopratico.com.br/wp-content/uploads/2013/01/fuso-horario-mapa-conceito-em-geografia.jpg>
Um fotógrafo sai do Rio de Janeiro às 18:00 hs do dia 1º (sábado), em direção à Hong Kong. A duração do voo foi de
12 horas. Que horas será no Rio de Janeiro quando essa pessoa chegar no seu destino?
2. Os climogramas abaixo representam dois tipos climáticos que ocorrem no Brasil. Observe-os e responda:
189
a) Quais são os tipos de clima nas localidades A e B?
b) Discorra sobre as características dos dois climas e quais são as massas de ar que atuam nessas localidades.
3. O sabiá no sertão
Quando canta me comove
Passa três meses cantando
E sem cantar passa nove
Porque tem a obrigação
de só cantar quando chove
Como bem exemplificou o professor Aziz Ab’Saber, os sertanejos costumam chamar o verão de inverno porque, irregular-
mente, a Massa Equatorial Continental traz chuvas esporádicas à região. A partir do texto e da música do grupo “Cordel
do Fogo Encantado“, explique a origem da mancha semiárida no Nordeste brasileiro e o por quê desse deficit hídrico, já
que a mEc é uma massa úmida.
4. Os homens que vivem ao longo dos igarapés foram fadados a conviver com as sombras e a solidão. Trabalharam ou
trabalham para alguém que mal conhecem. Na qualidade de serem gregários, para garantir um tributo básico da con-
dição humana, transformaram os igarapés em caminhos vicinais. O “caminho da canoa” do índio tornou-se a via vicinal
dos amazônides, oriundos de muitas procedências étnicas e subculturas em contato. Ninguém melhor do que Euclides
da Cunha conseguiu fixar o drama dos habitantes da beira dos igarapés, tal como está gravado em seus escritos, como
o Judas Asverus, de “A Margem da História”.
AB’SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003, p. 73.
5. (UNESP 2018) O sensoriamento remoto é a técnica que permite a obtenção de informações acerca de objetos, áreas
ou fenômenos localizados na superfície terrestre. O termo restringe-se à utilização de energia eletromagnética no
processo de obtenção de informações, as quais podem ser apresentadas na forma de imagens, sendo as mais utili-
zadas, atualmente, aquelas captadas por sensores ópticos orbitais instalados em satélites, como ilustrado na figura.
190
a) Considerando a fonte de emissão de energia, especifique o tipo de sensor representado na figura e descreva o seu
funcionamento.
b) Mencione duas aplicações dos produtos derivados do sensoriamento remoto.
7. Dentre as estratégias de aproveitamento dos recursos hídricos superficiais do Nordeste Brasileiro, admite-se a
transposição de águas entre bacias hidrográficas. Sobre este tema, resolva os itens a seguir.
a) Indique dois possíveis projetos de transposição de águas entre bacias hidrográficas, que são discutidos na
mídia.
b) Descreva dois prováveis impactos ambientais negativos resultantes desses projetos.
Explique a influência da corrente do golfo no Atlântico Norte sobre a Europa ocidental, e destaque os motivos das
cidades de Londres e Paris terem invernos mais amenos do que Montreal e Nova Iorque.
9. (UFPR) A bacia hidrográfica como unidade de análise ambiental tem ganhado destaque, o que pode ser exemplifi-
cado com o caso do Brasil, onde, nas últimas décadas, ela tem sido considerada um importante recorte espacial para
o planejamento e para diagnósticos ambientais. Explique o que é uma bacia hidrográfica, apresentando os elementos
que a compõem, e justifique por que ela é utilizada como recorte espacial para diagnósticos ambientais.
191
10. (Uerj) O potencial de produção de energia hidrelétrica está relacionado a um grupo de fatores naturais que inter-
ferem na construção de barragens em bacias hidrográficas. Observe no mapa abaixo a localização das dez principais
bacias hidrográficas brasileiras:
Considerando as características socioambientais da bacia I, cite duas consequências negativas ocasionadas pela cons-
trução de hidrelétricas nessa área.
Indique, ainda, dois fatores que favorecem a geração de energia elétrica nas usinas instaladas na bacia V.
192
GEOGRAFIA 2
193
INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO GEOGRÁFICO
Princípios da Geografia
Princípio da extensão: Segundo ele, o geógrafo, ao estudar um fato ou
área, deve proceder a sua localização e delimitação, utilizando os recursos
da cartografia. Nesse princípio, o importante é localizar fenômenos na
superfície terrestre.
Princípio da analogia ou geografia geral: Segundo eles, após a área
ser observada e delimitada, o geógrafo deve compará-la com outras áreas
buscando as semelhanças e as diferenças existentes.
Princípio da causalidade: princípio que propõe explicar as causas do
fato observado.
Princípio da conexão ou interação: esse princípio estabelece que os fa-
tos geográficos, físicos ou humanos nunca aparecem isolados; estão sempre
interligados por elos de relacionamento. Seu objetivo é identificar e analisar
as relações existentes.
Princípio da atividade: o princípio da atividade estabelece o caráter dinâ-
mico do fato geográfico que deve ser estudado em seu passado para poder
ser compreendido no presente e se ter uma imagem do seu futuro. ALEXANDER VON HUMBOLDT
194
Possibilismo geográfico (Início do Séc XX)
Seus defensores acreditam na possibilidade de haver influências recíprocas entre o homem e o meio natural, e que o homem
se adapta ao meio natural. Como ser racional, o homem é elemento ativo e, portanto, tem condições de modificar o meio
natural e adaptá-lo às suas necessidades.
KARL RITTER
KARL MARX
Procurava analisar primeiramente os processos sociais, e não os espaciais, o oposto do que se costumava praticar na geografia
teórica quantitativa.
195
CONCEITOS IMPORTANTES
Conceito de Lugar
“O homem não vê o universo a partir do universo, o homem vê o universo desde um lugar.”
MILTON SANTOS
As análises geográficas pautadas no conceito de lugar concebem o espaço analisado não de uma maneira direta ou racional,
mas por meio da compreensão humana e, muitas vezes, com base em valores afetivos ou de identidade.
Conceito de Paisagem
“Tudo aquilo que nós vemos, que a nossa visão alcança, é a paisagem [...]. Não apenas for-
mada de volumes, mas também de cores, odores, movimentos, sons, etc.”
MILTON SANTOS
Em algumas análises, a paisagem é diretamente definida como o “aquilo que a visão alcança” ou como o “mundo conforme
a sua aparência externa”. Portanto, a paisagem costuma ser definida como formas que se revelam diante dos nossos olhos
na produção do espaço geográfico.
Outras concepções desse modelo são apresentadas a partir da contestação desse conceito. Em muitas abordagens acadê-
micas, a paisagem é concebida não apenas a partir da visão, mas da multissensorialidade, ou seja, da utilização dos demais
sentidos (tato, olfato, paladar e audição). Além disso, a paisagem é, muitas vezes, reveladora de experiências e atrelada a
fatores da expressão humana e pessoais, o que lhe dá uma dimensão cultural.
Conceito de Território
“[...] o território é um nome político para o espaço de um país. Em outras palavras, a existência de
um país supõe um território. Mas a existência de uma nação nem sempre é acompanhada da pos-
se de um território e nem sempre supõe a existência de um Estado. Pode-se falar, portanto, de territoria-
lidade sem Estado, mas é praticamente impossível nos referirmos a um Estado sem território.”
MARIA LAURA SILVEIRA E MILTON SANTOS
O território, um termo muito empregado no âmbito da política, é normalmente definido como uma área delimitada por
fronteiras. Entretanto, nem sempre essas fronteiras são visíveis ou bem delineadas. Na maioria das abordagens geográficas,
o conceito de território está relacionado a uma configuração de poder. É, por isso, uma área apropriada, uma porção do
espaçogeográfico onde uma relação hierárquica se estabelece.
Conceito de Região
Na Geografia, a região é definida como uma porção superficial designada a partir de uma característica que lhe é marcante
ou que é escolhida por aquele que concebe a região em questão. Assim, existem regiões naturais, econômicas, políticas, entre
muitas outras.
Portanto, a região não existe diretamente, mas é uma construção intelectual humana. No âmbito da Literatura, essa noção
está vinculada ao conceito de regionalismo, que expressa o conjunto de costumes, expressões linguísticas e outros valores
que apresentam variação entre uma região e outra, dando uma identidade coletiva para os diferentes lugares.
196
GEOLOGIA
As eras geológicas
A história geológica do planeta é dividida em fases chamadas eras geológicas, divididas em períodos.
Escala geológica
Datação (em
Era Período Eventos no Planeta Eventos no Brasil
milhões de anos)
Solidificação dos minerais e
formação das primeiras rochas
Azoica - cristalinas - 4500 a 3800
Inexistência de vida
Formação das rochas magmáti-
Arque- cas e metamórficas Formação das serras do Mar e da Man-
tiqueira 3800 a 2500
ozoico Formação dos escudos cristali-
Pré-cambriana nos
Protero- Formação das primeiras rochas Formação dos escudos brasileiro e guiano 2500 a 590
zoico sedimentares
A ESTRUTURA DA TERRA
Litosfera – camada sólida da Terra formada por minerais e rochas, também chamada de crosta terrestre. Para fins eco-
nômicos, sua utilização limita-se a poucos quilômetros de profundidade, de onde são extraídas algumas riquezas minerais.
Hidrosfera – camada líquida formada por oceanos, mares, rios e aquíferos, lagos subterrâneos e água. Os interesses do
homem limitam-se a mais ou menos mil metros de profundidade.
Atmosfera – camada gasosa, formada por uma mistura de gases (oxigênio, gás carbônico e nitrogênio). Ela envolve a Terra
e a protege. É dividida em cinco camadas: troposfera, estratosfera, mesosfera, ionosfera e exosfera. A troposfera é a mais
importante, mais próxima da superfície terrestre (onde vive o homem e ocorrem quase todos os fenômenos metereológicos).
197
Biosfera – é o conjunto de todos os ecossistemas da Terra; ela inclui a biota e os compartimentos terrestres com os quais a
biota interage (Litosfera, Hidrosfera e Atmosfera).
Os dados que se tem a respeito do interior da Terra foram obtidos através de perfurações para extrair petróleo, e não ultra-
passam os 5 mil metros ou 6 mil metros de profundidade. Essas perfurações são executadas em bacias sedimentares, não
alcançando as estruturas rígidas mais profundas.
A divisão da estrutura da Terra foi baseada principalmente nos estudos sobre abalos sísmicos, pois o comportamento das
ondas sísmicas altera-se na passagem de uma camada para a outra em função da natureza dos materiais.
O modelo atualmente aceito da estrutura interna do planeta revela três grandes camadas: o núcleo (NiFe), o manto e a crosta
terrestre (litosfera).
Núcleo
Acredita-se que o núcleo da Terra, formado por níquel e ferro, possua uma divisão entre núcleo externo e núcleo interno.
Provavelmente o núcleo externo encontra-se no estado líquido, envolvendo o núcleo interno que, por estar submetido a altas
pressões, esteja no estado sólido, exibindo temperaturas superiores a 5.000 ºC.
Manto
O manto, encontrado em estado pastoso ou magmático, é responsável por 80% do volume total do planeta. As perturba-
ções geológicas que atingem a crosta, como terremotos e vulcanismos, são provocadas pela pressão exercida por ele. Para
entender melhor: o magma (composto essencialmente de silicatos de magnésio), que é expelido pelas erupções vulcânicas,
é componente do manto. O manto terrestre estende-se desde cerca de 30 km de profundidade até 2.900 km abaixo da
superfície (transição para o núcleo).
Crosta terrestre
A crosta terrestre é subdividida em duas camadas ou crostas: a crosta oceânica ou inferior (de constituição basáltica, com predo-
mínio de silicatos de magnésio e ferro – SIMA), que recobre toda a superfície do planeta, e a crosta continental ou superior, que
fica sobre a oceânica. Na crosta continental predominam silicatos de alumínio (SIAL), com espessura que varia de 30 a 70 quilô-
metros. É formada de rochas – granitos, migmatitos, basaltos e rochas sedimentares –, semelhantes às que afloram na superfície.
198
A GÊNESE DAS ROCHAS
Sua origem pode ser orgânica ou inorgânica e apresentam composição química definida.
As rochas se classificam em três grandes grupos conforme sua origem e características minerais de textura:
GRANITO BASALTO
Rochas sedimentares
Exemplo: calcário, arenito.
As rochas sedimentares podem ser provenientes da erosão de rochas preexistentes e da precipitação de substâncias ou,
ainda, de material correspondente a conchas e esqueletos de organismos mortos.
Mais recente
Mais antiga
Rochas metamórficas
Exemplo: mármore, calcário. Elas são provenientes das transformações (metamorfismos) sofridas pelas rochas mag-
máticas, pelas rochas sedimentares ou por outras rochas metamórficas. Essas mudanças ocorrem em função das
condições de temperatura e pressão no interior da Terra.
199
GEOLOGIA DO BRASIL E EXPLORAÇÃO MINERAL
Escudos cristalinos
Exemplo: Quadrilatero ferrífero (MG), Serra dos Carajós (PA).
Constituído durante o período Pré-cambriano.
Basicamente, é a porção das placas continentais que, durante um período mínimo de 100 milhões de anos, não sofre ações
diretas do tectonismo e do vulcanismo, o que caracteriza a sua estabilidade. É composto de rochas cristalinas (magmáticas
e metamórficas).
Os escudos são divididos em dois tipos principais de estruturas: os crátons cristalinos e as plataformas.
Bacia sedimentar
As bacias sedimentares começaram a se constituir efetivamente na era Paleozoica. Correspondem a 64% da estrutura
geológica brasileira – Amazônica, Meio Norte (Maranhão e Piauí) e Paranaica (Paraná).
Durante esse processo de constituição das bacias sedimentares muitos corpos ou restos de animais mortos e materiais
orgânicos foram “enterrados” pelos sedimentos que foram depositados no fundo dos oceanos. E, conforme as condições de
temperatura e pressão, parte dos restos desses materiais foi conservada, e deu origem aos fósseis.
Contudo, quando a pressão e as temperaturas (geralmente influenciadas pelo aquecimento provocado pelas camadas mais
baixas da Terra) são elevadas, a tendência é que esses restos orgânicos passem pelo processo de litificação e se tornem líquido.
Assim, conforme as condições de armazenamento, esse material acumula-se e transforma-se em petróleo.
200
Cadeias orogenéticas: dobramentos modernos
CADEIAS DO HIMALAIA
Os dobramentos modernos, também conhecidos como cadeias orogênicas ou cinturões orogênicos, são estruturas geológicas
que resultaram das ações do tectonismo e correspondem à formação de cadeias montanhosas, que apresentam as maiores
altitudes do planeta. Em geral, são compostos por rochas magmáticas e metamórficas. Como exemplo temos a Cordilheira dos
Andes, na América do Sul, e a Cordilheira do Himalaia, na Ásia, onde se encontra o monte Everest.
Do ponto de vista do tempo geológico, os dobramentos modernos são considerados de origem recente, com cerca de 250
milhões de anos.
Figura A Figura B
Combustíveis fósseis
Petróleo
O termo petróleo, a rigor, envolve todas as misturas naturais de compostos de carbono e hidrogênio, os chamados hidrocar-
bonetos, que incluem o óleo e o gás natural, embora seja também empregado para designar somente os compostos líqui-
dos. Na natureza ele ocupa os vazios existentes entre grãos de areia e rocha, ou pequenas fendas com intercomunicações.
Sua formação ocorre em regiões deprimidas da crosta terrestre depois do acúmulo de sedimentos trazidos pelos agentes
erosivos. A teoria mais aceita é a de sua origem orgânica, ou seja, da deposição de matéria orgânica e do seu consequente
soterramento em condições de falta de oxigênio, altas pressões e temperaturas.
Gás Natural
Se os materiais provenientes de plantas e animais são enterrados em profundidade e temperatura suficientes, elesse trans-
formam quimicamente em petróleo e gás natural. No Brasil, a produção de gás Natural se dá predominantemente no estado
do Rio de Janeiro (52%). Amazonas (19%), Bahia (9%) e Rio Grande do Norte (9%) também são estados produtores.
Carvão mineral
O carvão mineral, além de ser insuficiente no Brasil, apresenta baixo teor colorífico, alto teor de umidade, cinzas e sulfeto de
ferro. No Brasil, Santa Catarina (62,8%), Rio Grande do Sul (36,4%) e Paraná (0,8%) são os estados produtores.
201
GEOMORFOLOGIA: FORÇAS ESTRUTURAIS E ESCULTURAIS
A DINÂMICA DO RELEVO
Os agentes modificadores do relevo podem, certamente, ser divididos em dois grandes grupos, de acordo com as origens de
suas ações: os agentes estruturais (internos) e os agentes esculturais (externos).
Os agentes estruturais, como o tectonismo, o vulcanismo e os abalos sísmicos ocorrem no interior da Terra e atuam de forma
temporária e concentrada.
Os agentes esculturais, como o intemperismo, as águas correntes, o mar, o vento, os animais, o homem, modificam externamente
a crosta terrestre e atuam de forma constante.
Dorsal
Médio-Atlântica
DORSAL MESOATLÂNTICA
Limites transformantes – um tipo de limite entre placas tectônicas em que elas deslizam e roçam uma na outra. Normal-
mente não há nem destruição nem criação de crosta.
Sísmicos
Terremoto ou abalo sísmico é uma vibração da superfície terrestre.
202
AGENTES EXTERNOS (ESCULTURAIS) Marinha ou abrasão
Duas formas básicas: o intemperismo e a erosão. O intem- Erosão acelerada (Antrópica)
perismo é responsável pelo desgaste e/ou fragmentação
das estruturas e a erosão é responsável pelo transporte do
material desagregado pelo intemperismo. UNIDADES GEOMORFOLÓGICAS
Principais formas de relevo, relacionadas com a geomor-
Intemperismo fologia local:
Físico, químico e biológico.
Erosão (tipos)
Eólica (ventos)
Planícies;
Planaltos;
Depressões;
Montanhas;
Serras;
Escarpas;
Tabuleiros;
Chapadas;
TAÇA OU CÁLICE, EM PONTA GROSSA, PARANÁ Cuestas;
Inselberg.
Pluvial
Fluvial RELEVO SUBMARINO
Plataforma continental
Talude continental ou vertente continental
Região pelágica
Região abissal
Glacial
203
SOLOS
GÊNESE DO SOLO
O solo é a camada superficial de terra arável dotada de vida microbiana. Pode ser espesso ou formado por uma delgada película.
As rochas que afloram na superfície do globo estão submetidas a ações modificadoras dos diversos agentes exodinâmicos. Um
dos processos mais importantes na formação dos solos é a alteração do material inicial, que fica no próprio local sem ser trans-
portado. O que pode ser solo também pode ser rocha decomposta. A diferença primordial é dada pelo estado mais avançado da
decomposição da rocha que não tem vida microbiana. Os solos possuem vida nascida geralmente com a alteração das rochas,
cujas associações vegetais desenvolvem-se com elas.
A pedogênese tem início com o aparecimento da vida microbiana.
O solo é o único ambiente em que se encontram reunidos em associação íntima os quatro elementos: domínios das rochas
(litosfera); domínio das águas (hidrosfera); domínio do ar (atmosfera); e domínio da vida (biosfera).
É um mundo vivo; pode ser jovem (de formação incompleta), adulto (bem formado), velho e morto (fóssil). Deve ser consi-
derado um quarto reino.
O solo é um ambiente poroso onde circulam a água e os gases; atmosfera do solo. Não há luz nem fotossíntese, predominando
os processo de respiração ou oxidação. Em consequência, os solos possuem menos oxigênio e muito mais CO2.
Siltes, areias e argilas apresentam proporções que determinam uma das características mais importantes do solo, a textura, que
determinará a facilidade ou não da penetração de raízes, a quantidade de água, a temperatura, a oração e o fluxo dos nutrientes.
204
Intemperismo e composição dos solos
O intemperismo é o conjunto de modificações físicas (desagregação) e químicas (decomposição) que as rochas sofrem ao
aflorarem na superfície da Terra.
Os fatores que controlam a ação do intemperismo são:
a) clima – que se expressa na variação sazonal da temperatura e na distribuição das chuvas;
b) relevo – que influencia no regime de infiltração e drenagem das águas pluviais;
c) flora e a fauna – que fornecem matéria orgânica para reações químicas e remobilizam materiais;
d) rocha – que, segundo sua natureza, apresenta resistência diferenciada aos processos de alteração intempérica;
e) tempo – que a rocha fica exposta aos agentes intempéricos.
Tipos de intemperismo
Intemperismo Físico;
Intemperismo Químico.
Na região amazônica: solos bastantes intemperizados, profundos, essencialmente cauliníticos, muito pobres quimicamente,
com reações bastante ácidas.
No Nordeste semiárido: solos pouco desenvolvidos, rasos ou pouco profundos, cascalhentos ou pedregosos e/ou com relativa
abundância de minerais primários pouco alterados e minerais de argila de elevada atividade coloidal.
Nos planaltos sulinos: solos com espessas camadas superficiais escuras e ricas em matéria orgânica.
205
O tempo na formação dos solos
O tempo é o mais passivo dos fatores de formação.
A idade (cronologia) do solo é a medida dos anos transcorridos desde seu início até determinado momento, enquanto a
maturidade (evolução) é expressa pela evolução sofrida, manifestada por seus atributos em dado momento de sua existên-
cia. Dessa forma, alguns solos podem apresentar idade absoluta relativamente pequena e serem bem mais maduros do que
outros com idade absoluta bem maior.
Zonais
Apresentam os horizontes (A, B e C) bem caracterizados.
Interzonais
Características do relevo local ou da rocha de origem.
Azonais
Referem-se aos solos cujas características não se apresentam bem desenvolvidas. São geralmente recentes e desprovidos
do horizonte B.
Quanto à origem, os solos podem ser:
Eluviais.
Aluviais.
Avermelhados.
Amarelados.
Claros.
206
SOLOS DO BRASIL
Os solos férteis de fato ocorrem em pequena quantidade e compreendem uma parcela relativamente restrita do território
brasileiro.
Espessura – profundos.
Origem – subdivide-se em: eluviais e aluviais.
Grupos de solos
Latossolos – profundos (espessos), lixiviados e áreas tropicais úmidas.
Litossolos – rasos, sem diferenciação de horizontes. Relevo acidentado (encostas) e áreas secas (sertão nordestino).
Podzólicos – pouco profundos, vermelhos ou amarelos, e típicos de climas úmidos frios.
Aluviões – O horizonte superficial é cinzento. Espalham-se por todo o país, preferencialmente nas várzeas.
207
5.2.1. Combate à erosão e ao esgotamento dos solos
o terraceamento e as curvas de nível;
o reflorestamento;
o emprego de adubos e fertilizantes; e
a rotação de culturas e o pousio da terra.
208
PROBLEMAS AMBIENTAIS MUNDIAIS
El Niño
Aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico tropical, influenciando diretamente a distribuição da temperatura da super-
fície da água e o clima de diversas regiões do planeta.
Ventos alísios. O El Niño faz com que esses ventos soprem com menos intensidade, interrompendo a ressurgência e
provocando mudanças significativas nos climas de várias regiões.
209
Influência do El Niño
Os Estados Unidos são afetados por secas intensas. Na Índia, as temperaturas sobem consideravelmente, e tempestades
torrenciais castigam todo o território australiano.
La Niña
Esquema explicativo do funcionamento do La Niña.
O La Niña é um fenômeno exatamente inverso ao El Niño. Em virtude do aumento da força dos ventos alísios, o La Niña
provoca o esfriamento irregular das águas do Pacífico. No Brasil, o La Niña causa intensificação das chuvas na Amazônia,
no Nordeste e em partes do Sudeste. Na América do Norte e na Europa, por exemplo, ocorre queda das temperaturas.
Aquecimento global
Causas do aquecimento global
Causa do aquecimento global é a intensificação do efeito estufa, fenômeno natural responsável pela manutenção, a
emissão dos chamados gases-estufa seria o principal problema em questão.
Dióxido de carbono
Gás metano
Óxido nitroso
Hexafluoreto de enxofre
CFC
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Desmatamento das florestas.
Poluição dos mares e oceanos.
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Definições e histórico
Ecossistema é um sistema integrado e autofuncionante que consiste em interações dos elementos bióticos e abióticos cujas
dimensões podem variar consideravelmente.
Bioma é um conjunto de vida (vegetal e animal) definida pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificá-
veis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, resultando em uma
diversidade biológica própria.
UMA CIDADE COMO LOS ANGELES PODE SER UM ECOSSISTEMA, MAS NÃO UM BIOMA.
Sistema de Holdridge
Florestas tropicais
Baixas altitudes e próximas do equador, entre os trópicos de Câncer (30o N) e Capricórnio (30o S). No Brasil: floresta
Amazônica e mata Atlântica.
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6% da Terra, abriga mais da metade das espécies de plantas e animais do planeta.
Queda de folhas forma a serrapilheira, lixiviação, o solo de uma floresta tropical seja pobre em nutrientes.
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Florestas temperadas
Entre os polos e os trópicos.
Decídua.
Florestas decíduas caducifólias.
Savanas
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Campos temperados
A vegetação é herbácea, geralmente baixa.
De todos os biomas, esse é o mais utilizado e transformado por ações humanas. Diversos alimentos são produzidos nesses
biomas, como arroz e milho, além da criação de bovinos para leite e corte.
Desertos
Reduzida precipitação.
Áreas de alta pressão.
Clima é geralmente quente, embora existam desertos frios.
Oscilação de temperatura, que pode variar em até 30 °C entre a manhã e a noite.
SAGUARO
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Taiga Círculo Polar Ártico, acima dos 57° N.
Um inverno longo e frio, com noites contínuas, e um
verão curto, com temperaturas amenas.
Chaparrais
Região do Mediterrâneo.
Califórnia.
México.
Floresta setentrional de coníferas. Chile.
Abaixo do Círculo Polar Ártico, limitando o domínio.
Estações bem distintas, com o predomínio do inverno
sobre o verão.
Árvores de conífera.
Tundra
Hotspots ambientais
Em biogeografia, hotspots são pontos ou manchas de altís-
sima biodiversidade.
Baixa temperatura.
Estações de crescimento curtas impedem o desenvolvi-
mento de árvores.
Líquenes, musgos, ervas e arbustos baixos. A MATA ATLÂNTICA É UM DOS HOTSPOTS AMBIENTAIS DA TERRA.
216
Existência de espécies endêmicas, isto é, restritas a um ecossistema específico, e grandes taxas de destruição do habitat.
CLASSIFICAÇÕES DO RELEVO
217
A classificação de Aziz Ab’Saber
218
CONCEITUANDO AS Planalto em intrusões e coberturas
residuais de plataforma
FORMAS DE RELEVO Planalto e chapada do Parecis.
Planaltos em núcleos
cristalinos arqueados
Planalto da Borborema.
Planaltos e chapadas da bacia do Paraná.
Planalto Sul-Rio-Grandense.
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Feições de planaltos
Relevo cuestiforme.
Coxilhas.
CHAPADA DIAMANTINA
Serra.
CANELA, RIO GRANDE DO SUL
Planície
Fluvial.
Fluvio-marinha.
Costeira.
Do Pantanal.
Inselberg.
Mares de morro.
PLANÍCIE COSTEIRA, EM IPANEMA, RIO DE JANEIRO
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PLANÍCIE DO PANTANAL MATO-GROSSENSE
Depressão
Formação de depressões relevantes na geomorfologia brasileira
Periférica.
Marginal.
Interplanáltica.
Relativa.
Absoluta.
221
U.T.I. - Sala 5. (Comvest 2003 / Adaptado) identifique às formas de
relevo encontradas no bloco-diagrama, obedecendo à
sequência da ordem alfabética (A, B, C, D e E).
1. (AVAJ 2020) A ciência representa todo o conhecimen-
to adquirido através da pesquisa, estudo, ou da prática,
baseado em princípios certos. Ela pode ser definida a
partir de seus objetos de estudo e princípios metodo-
lógicos, relacionando – se aos fenômenos humanos
ou naturais. A geografia é muito importante para a
compreensão do mundo em que vivemos, pois é a ci-
ência que estuda o espaço geográfico e todas as suas
inter-relações (sociedade X natureza), o qual está em
constante transformação. Além do espaço geográfico,
as Categorias de Análise geográficas são conceitos fun-
damentais para a geografia, a exemplo da paisagem e 6. (IFSul-2019) “São formas do relevo mais ou menos
do território. Com base em seus conhecimentos sobre o planas ou suavemente onduladas, em geral de grande
assunto, defina essas categorias. extensão e que o processo de deposição de sedimentos
supera o de desgaste”.
2. (Adaptado - Uece) A partir da citação de E. Huntington :
ADAS, Melhem; ADAS, Sergio. Expedições Geográficas
“Os climas temperados são excelentes para a civilização...
(6º ano). São Paulo: Moderna, 2015. p. 109.
o calor excessivo, debilita... e o frio excessivo, estupidifi-
ca”. Indique qual a corrente do pensamento geográfico O fragmento de texto revela o conceito de qual forma
presente no texto e justifique sua resposta. de relevo?
3. (UFPR-2019) Os desastres naturais constituem um 7. (COPEVE / UFAL 2017) A figura mostra os processos
tema cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, tectônicos que formam o território japonês.
independentemente de residirem ou não em áreas de
risco. Ainda que num primeiro momento o termo nos
leve a associá-los com terremotos, tsunamis, erupções
vulcânicas, ciclones e furacões, os desastres naturais
contemplam, também, processos e fenômenos mais
localizados, tais como deslizamentos, inundações, sub-
sidências e erosão, que podem ocorrer naturalmente ou
induzidos pelo homem.
No [...] Brasil de uma forma geral, embora estejamos
livres dos fenômenos de grande porte e magnitude,
como terremotos e vulcões, é expressivo o registro de ac-
identes e mesmo de desastres associados principalmente
a escorregamentos e inundações, acarretando prejuízos
e perdas significativas, inclusive de vidas humanas.
(TOMINAGA et al., 2009.) O mergulho das placas tectônicas mostrado na figura
representa o movimento de placas do tipo:
Nos textos os autores afirmam que o Brasil está livre
de fenômenos como terremotos e vulcões. Justifique 8. (AVAJ / Modificada)
essa afirmativa.
Fonte: http://geoconexaomundo.blogspot.com.br/2012/08/
charges-aquecimento-global.html. Acesso em: 26-03-20
Que praticas seriam mais viáveis para minimizar o efeito
acelerado do aquecimento global provocado pelas ativi-
dades da civilização moderna?
222
9. (IESES 2017 / adaptada) COMPACTAÇÃO
ROCHA SEDIMENTAR
U.T.I. - E.O.
1.
EROSÃO
TRANSPORTE
DEPOSIÇÃO
Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/-
uMjY1GOwDic/TwM9u81ySLI/AAAAAAAADUE/
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