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Salbego, Adriana Gindri

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AGRÍCOLA

SIMULAÇÃO DE CENÁRIOS DE
SUSTENTABILIDADE HÍDRICA DA ORIZICULTURA
NA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO ARROIO
GRANDE ATRAVÉS DA IMPLANTAÇÃO DE
BARRAGENS TEMPORÁRIAS

TESE DE DOUTORADO

Adriana Gindri Salbego

Santa Maria, RS, Brasil

2010
SIMULAÇÃO DE CENÁRIOS DE SUSTENTABILIDADE
HÍDRICA DA ORIZICULTURA NA SUB-BACIA
HIDROGRÁFICA DO ARROIO GRANDE ATRAVÉS DA
IMPLANTAÇÃO DE BARRAGENS TEMPORÁRIAS

por

Adriana Gindri Salbego

Tese apresentada ao Curso de Doutorado do Programa de Pós-


Graduação em Engenharia Agrícola, Área de Concentração Engenharia
de Água e Solos, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS),
como requisito parcial para obtenção do grau de
Doutor em Engenharia Agrícola

Orientador: Prof. Dr. Adroaldo Dias Robaina

Santa Maria, RS, Brasil


2010
Salbego, Adriana Gindri, 1971-
S159s
Simulação de cenários de sustentabilidade hídrica da orizicultura
na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande através da implantação
de barragens temporárias / por Adriana Gindri Salbego ; orientador
Adroaldo Dias Robaina. – Santa Maria, RS, 2010.
155 f. : il.

Tese (doutorado) – Universidade Federal de Santa Maria. Centro


de Ciências Rurais. Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Agrícola, 2010.

1. Engenharia Agrícola. 2. Orizicultura. 3. Bacia hidrográfica. 4.


Sustentabilidade. 5. Irrigação. 6. Arroio Grande. 7. Legislação
ambiental. I. Robaina, Adroaldo Dias. II. Título.

CDU: 631
633.18

Ficha catalográfica elaborada por


Denise Barbosa dos Santos - CRB10/1456

©2010
Todos os direitos autorais reservados a Adriana Gindri Salbego. A reprodução de partes ou do
todo deste trabalho só poderá ser feita com autorização por escrito do autor.
Endereço Eletrônico: adrisalbego@gmail.com
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Rurais
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola

A Comissão Examinadora , abaixo assinada,


aprova a Tese de Doutorado

SIMULAÇÃO DE CENÁRIOS DE SUSTENTABILIDADE HÍDRICA DA


ORIZICULTURA NA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO ARROIO
GRANDE ATRAVÉS DA IMPLANTAÇÃO DE BARRAGENS
TEMPORÁRIAS

elaborada por
Adriana Gindri Salbego

como requisito parcial para a obtenção de grau de


Doutor em Engenharia Agrícola

COMISSÃO EXAMINADORA:

Adroaldo Dias Robaina, Dr. (UFSM)


Presidente / Orientador

Paulo Roberto da Costa Liane de Souza Weber


Dr. (CTISM - UFSM) Dra. (UFSM)

Ana Rita Costenaro Parizi Fábio Charão Kurtz


Dra. (IFFarroupilha) Dr. (UFRPE)

Santa Maria, 03 de setembro de 2010.


Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa,
nunca tem medo e nunca se arrepende.

Leonardo da Vinci
AGRADECIMENTOS

À Deus, por iluminar-me nesta longa caminhada.


À Universidade Federal de Santa Maria, em especial ao Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Agrícola (PPGEA), pela oportunidade de realização do
presente curso.
Ao Prof. Adroaldo Dias Robaina pela oportunidade concedida, sabedoria
transmitida, amizade e confiança na orientação deste trabalho.
Aos Professores membros da banca examinadora, Liane de Souza Weber,
Ana Rita Costenaro Parizi, Paulo Roberto da Costa e Fábio Charão Kurtz, pelas
valiosas contribuições.
Aos Professores Márcia Xavier Peiter e Luciano Farinha Watzlawick, pelas
contribuições na ocasião do exame de qualificação.
Aos funcionários do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola,
em especial, ao Luiz e Estevão, pela amizade e colaboração.
Ao IRGA – Unidade Santa Maria, através do Eng. Agrônomo Glênio Picada,
pela colaboração no esclarecimento de dúvidas.
Ao Eng. Ivo José de Souza, consultor da empresa NSO Borrachas, de Rio
Grande/RS, pela colaboração no relato de experiências com barragens temporárias.
Ao colega, mestrando em Eng. Agrícola Fabiano Braga, bolsista do
Laboratório de Física do Solo – UFSM, pela colaboração na realização das análises
de solo, necessárias neste estudo.
Aos colegas do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, em
especial do Laboratório de Engenharia de Irrigação – Marcela Vilar Sampaio, Ana
Carla Gomes, Ana Rita Costenaro Parizi, Fátima Cibeli Soares, Karine Lançanova,
Luiz Telechea, Ricardo Schons, Paulo Roberto da Costa, Mário Nunes, Alessandro
Vielmo, Giseli Noal e Giseli Vivan, pela amizade e convívio.
À minha família, em especial aos meus pais Sadi e Neusa, minha irmã
Luciana, meu irmão Sandro e cunhada Cinthia, meus sobrinhos Gabriel e Letícia,
meus filhos de coração Roberta e Renan, pelo carinho e apoio em todos os
momentos.
Ao meu querido e amado Pedro Roberto de Azambuja Madruga, pelo
incentivo diário em busca desta conquista e pelo constante carinho e
companheirismo, essencial em todos os momentos.
A minha Vó Tereza, pelo carinho e por sempre acreditar no alcance dos
nossos sonhos.
Aos meus tios (as), primos (as) e afilhados (as), pela torcida no alcance desta
meta de vida.
A minha querida Professora e amiga de longa data Itália Toscani, pelo apoio e
carinho transmitido em todas as fases da minha vida.
Aos meus queridos colegas e amigos canoenses, em especial, ao Francisco
Feiten e Silvia Olinda Aurélio, pelo apoio e carinho nesta fase final da realização do
trabalho.
A todos os meus amigos que fazem parte da minha vida, que torceram por
esta conquista.
Enfim, a todos aqueles que, de uma forma ou outra, colaboraram no decorrer
desta longa jornada.
RESUMO

Tese de Doutorado
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil

SIMULAÇÃO DE CENÁRIOS DE SUSTENTABILIDADE HÍDRICA DA


ORIZICULTURA NA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO ARROIO
GRANDE ATRAVÉS DA IMPLANTAÇÃO DE BARRAGENS
TEMPORÁRIAS

Autora: Adriana Gindri Salbego


Orientador: Adroaldo Dias Robaina
Santa Maria, 03 de setembro de 2010.

A escassez de água em determinados períodos vem provocando sérios


conflitos sociais, econômicos e ambientais, decorrentes da agricultura irrigada,
especialmente da cultura orizícola, que apresenta alta demanda hídrica. Desta
forma, o presente estudo propõe uma metodologia para analisar a sustentabilidade
hídrica da cultura orizícola através da implantação de barragens temporárias no
álveo de cursos d’água, tendo como área de estudo a sub-bacia hidrográfica do
Arroio Grande, que apresenta uma crescente necessidade de compatibilizar as
condições de oferta e demanda. A análise das condições de oferta e demanda
hídrica foi realizada no contexto da sub-bacia e por ponto de controle (PC), sendo
compostos três cenários: cenário 1 - situação existente; cenário 2: considera o
atendimento a legislação ambiental, com a eliminação de áreas de cultivo orizícola
em Áreas de Preservação Permanente (APP) e destinação da parcela de vazão
ambiental (30%Q90) e; cenário 3: considera o atendimento a legislação ambiental e
propõe a implantação de barragens temporárias no álveo de cursos d’água, a
montante dos locais que indica escassez, como forma de ampliar o suprimento
hídrico da cultura orizícola. Os resultados mostraram que no cenário 1 a demanda é
atendida, embora para os pontos de controle 5 e 6, equivale de 89% a 97% da
disponibilidade hídrica, além de não atender a legislação ambiental. Para o cenário
2, os pontos de controle 5 e 6 apontam escassez hídrica para os meses analisados
(novembro a fevereiro), indicando assim os locais em que a oferta hídrica deverá ser
ampliada. No cenário 3, conclui-se que as barragens temporárias propostas poderão
atender parcialmente a demanda hídrica do PC 5 e, no PC 6, os resultados indicam
não haver conformidade entre oferta e demanda. Desta forma, conclui-se que os
conflitos pelo uso da água na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande decorrentes
da agricultura irrigada poderão ser minimizados com a implantação das barragens
temporárias. Entretanto, os resultados indicam que a sustentabilidade hídrica da
cultura orizícola somente poderá ser alcançada com a redução da área irrigada,
especificamente, entre os PC 3 - 5 e, 4 - 6.

Palavras-chave: demanda hídrica; cultura orizícola; geoprocessamento; estruturas


de armazenamento.
ABSTRACT
Doctorate Thesis
Graduate Program in Agricultural Engineering
Federal University of Santa Maria, RS, Brazil

SIMULATION OF SCENARIOS OF WATER SUSTAINABILITY OF


RICE GROWING IN THE ARROIO GRANDE WATERSHED THROUGH
THE IMPLEMENTATION OF TEMPORARY DAMS
Author: Adriana Gindri Salbego
Advisor: Adroaldo Dias Robaina
Santa Maria, September 03rd, 2010

Water shortages in certain periods have led to serious social conflicts, as well
as economic and environmental impacts resulting from irrigated agriculture,
especially of rice growing, which represents a high demand of water. The present
study proposes a methodology for analyzing the water sustainability of rice growing
through the implementation the temporary dams at the river-bed of water courses,
with the study area the watershed of Arroio Grande, which has a growing need to
match the conditions of supply and demand. The analysis of water supply and
demand conditions was made in the context of the watershed and by control point,
three scenarios are composed: scenarios 1 - the existing situation; scenario 2:
considers compliance to environmental legislation, with elimination of rice growing
areas in areas of permanent preservation and destination of the portion of
environmental flow (30%Q 90 ) an; scenario 3: considers compliance to environmental
legislation and implementation the temporary dam at the river-beds of water courses
upstream of where the shortage was indicated, as a way to expand and ensure water
supply for rice growing. The results show that the in the scenario 1 the demand is
met, although for control points 5 and 6 it is equivalent to 89% to 97% of its
availability, besides not meet environmental legislation. For the scenario 2, control
points 5 and 6 indicate water scarcity for the months analyzed (November –
February), indicating the places where water supply should be expanded. In scenario
3, it is concluded that the temporary dams proposed have the may partially meet the
water requirements and PC 5, PC 6, the results indicate no compliance between
supply and demand. Therefore, concluded that the conflicts over water use in the
watershed of the Arroio Grande resulting from irrigated agriculture can be minimized
with the installation of temporary dams. However, the results indicate that the water
sustainability of rice growing can only be achieved by reducing the irrigated area,
specifically between the PC 3-5 and 4-6.

Keywords: water demand; rice growing, geoprocessing, storage structures.


LISTA DE FIGURAS

FIGURA 2.1 - Evolução da área plantada e produção de arroz no Rio


Grande do Sul - Período 1921/22 – 2007/08 ................................................... 30
FIGURA 2.2 - Mapa das regiões orizícolas do Rio Grande do Sul ................. 31
FIGURA 2.3 - Tipos de pranchões e de painéis............................................... 38
FIGURA 2.4 - Stop-logs (a) e agulhas (b) ...................................................... 39
FIGURA 2.5 - Comporta telhado .................................................................... 40
FIGURA 2.6 - Barragens temporárias: flexíveis (a), (b), (c); basculantes (d),
(e), (f), (g) ........................................................................................................ 41
FIGURA 2.7 - Esquema de trecho de curso d’água com estruturas de
barramento flexíveis ........................................................................................ 42
FIGURA 2.8 - Barragens flexíveis. (a) Inflável. (b) Injetada com água .......... 43
FIGURA 2.9 - Esquema de transbordamento de uma barragem flexível ..... 45
FIGURA 2.10 - Membrana reforçada com 3 camadas .................................... 47
FIGURA 2.11 - Sistema de ancoragem de barragens flexíveis - linha dupla e
simples ............................................................................................................ 48
FIGURA 2.12 - Esquema de ancoragem de barragens flexíveis ................... 48
FIGURA 2.13 - Corte transversal da estrutura da seção para instalação de
barragem flexível ............................................................................................. 50
FIGURA 2.14 - Barragens flexíveis em operação. (a) Oh River - Japão (2m
H x 28,50m L); (b) Russian River, Califórnia - EUA; (c) Noruega; (d) Hong
Kong (4m H); (e) Oh River - Japão (6m H x 34,50m L) ................................... 51
FIGURA 2.15 - Barramento inflável em Veneza, Itália .................................... 53
FIGURA 3.1 - Fluxograma da metodologia adotada ...................................... 65
FIGURA 3.2 - Localização da sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande .... 66
FIGURA 3.3 - Curva de permanência ............................................................. 82
FIGURA 3.4 - Parcelas que compõem uma barragem temporária flexível ..... 87
FIGURA 3.5 - Características de uma seção transversal para barragens
flexíveis infláveis .............................................................................................. 88
FIGURA 4.1 - Sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande e respectivas
microbacias ..................................................................................................... 94
FIGURA 4.2 - Modelo numérico do terreno (MNT) na sub-bacia hidrográfica
95
do Arroio Grande .............................................................................................
FIGURA 4.3 - Uso da terra na sub-bacia hidrográfica do Arroio
96
Grande.............................................................................................................
FIGURA 4.4 - Classe de solos na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande .. 98
FIGURA 4.5 - Espacialização da agricultura irrigada na sub-bacia
101
hidrográfica do Arroio Grande .........................................................................
FIGURA 4.6 - Reservatórios na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande: (a)
cartas topográficas – 1975; (b) imagem de satélite - 2008 ............................. 104
FIGURA 4.7 - Vazões médias e mínimas diárias observadas - Sub-bacia do
Arroio Grande (período: 1979 - 2005) ............................................................. 108
FIGURA 4.8 - Curvas de permanência de vazões médias - intervalo
confiança de 95% (novembro a fevereiro) ....................................................... 110
FIGURA 4.9 - Disponibilidade hídrica (Q95) e vazão ambiental dos cursos
d’água (30%Q90) – vazões médias e intervalo de confiança de 95% ........... 111
FIGURA 4.10 – Sub-bacia hidrográficado Arroio Grande: (a) Áreas de
Preservação Permanente; (b) Uso da Terra nas Áreas de Preservação
113
Permanente .....................................................................................................
FIGURA 4.11 - Espacialização dos Pontos de Controle (PC) no contexto da
sub-bacia do Arroio Grande ............................................................................ 115
FIGURA 4.12 - Diagrama unifilar da sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande 116
FIGURA 4.13 - Variabilidade da vazão remanescente na sub-bacia
hidrográfica do Arroio Grande, por ponto de controle: cenário 1 .................... 122
FIGURA 4.14 - Variabilidade da vazão remanescente na sub-bacia
124
hidrográfica do Arroio Grande, por ponto de controle (PC): cenário 2.............
FIGURA 4.15 – Sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande: (a) Localização
125
das barragens temporárias infláveis; (b) Diagrama unifilar..............................
FIGURA 4.16 - Frequência do coeficiente de escoamento superficial das
131
microbacias que compõem a sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande (%) ...
LISTA DE TABELAS

TABELA 2.1 - Características dos principais solos de várzea do Rio Grande


do Sul ................................................................................................................ 33
TABELA 2.2 - Consumo d’água estimado por balanço hídrico ....................... 36
TABELA 3.1 – Composição dos cenários de disponibilidade hídrica x
demanda hídrica ............................................................................................... 85
TABELA 4.1 - Área de contribuição das microbacias hidrográficas do Arroio
Grande .............................................................................................................. 93
TABELA 4.2 - Uso da terra na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande ...... 96
TABELA 4.3 - Unidades de mapeamento dos solos na sub-bacia hidrográfica
do Arroio Grande ............................................................................................... 97
TABELA 4.4 - Quantificação da agricultura irrigada na sub-bacia do Arroio
Grande, por microbacia ..................................................................................... 100
TABELA 4.5 - Demanda da cultura orizícola na sub-bacia do Arroio Grande,
por icrobacia....................................................................................................... 103
TABELA 4.6 - Agrupamento da superfície de alague dos reservatórios em
intervalo de classes ........................................................................................... 105
TABELA 4.7 - Estimativa da disponibilidade hídrica dos reservatórios, por
microbacia ......................................................................................................... 106
TABELA 4.8 - Vazões naturais médias, com um intervalo de confiança de
95%, por microbacia ......................................................................................... 109
TABELA 4.9 - Áreas de preservação permanente (APP) e respectivo uso da
terra na sub-bacia do Arroio Grande ................................................................. 112
TABELA 4.10 - Áreas de Preservação Permanente (APP) ocupada pela
agricultura irrigada na sub-bacia do Arroio Grande .......................................... 113
TABELA 4.11 - Demanda e disponibilidade hídrica na sub-bacia hidrográfica
do Arroio Grande, para o período de novembro a fevereiro - cenário 1 ........... 117
TABELA 4.12 – Demanda e disponibilidade hídrica na sub-bacia hidrográfica
do Arroio Grande, relação demanda para irrigação e disponibilidade hídrica e
disponibilidade hídrica e freqüência de atendimento a demanda – com base
nas curvas de permanência, para o período de novembro a fevereiro –
cenário 2 ........................................................................................................... 117
TABELA 4.13 - Vazões naturais médias mensais na sub-bacia hidrográfica
do Arroio Grande, por Ponto de Controle ......................................................... 118
TABELA 4.14 - Disponibilidade hídrica dos reservatórios e cursos d’água na
sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, por Ponto de Controle ..................... 119
TABELA 4.15 - Demanda hídrica mensal sub-bacia hidrográfica do Arroio
Grande, por Ponto de Controle (incluindo reservatórios e cursos d’água) ....... 120
TABELA 4.16 - Demanda x disponibilidade hídrica na sub-bacia, por ponto
de controle: cenário 1 .................................................................................. 121
TABELA 4.17 - Demanda x disponibilidade hídrica na sub-bacia hidrográfica
do Arroio Grande, por ponto de controle: cenário 2 .......................................... 123
TABELA 4.18 - Caracterização das seções propostas para instalação das
barragens temporárias infláveis ........................................................................ 126
TABELA 4.19 - Frequência de classe de solo e grupo hidrológico, por
microbacia (%) .................................................................................................. 127
TABELA 4.20 - Frequência de uso do solo na sub-bacia hidrográfica do
Arroio Grande, por microbacia (%) ................................................................... 128
TABELA 4.21 - Parâmetros de escoamento superficial por microbacia na
sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande .......................................................... 129
TABELA 4.22 - Escoamento superficial para diferentes precipitações, por
microbacia, na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande .................................. 130
TABELA 4.23 - Escoamento superficial para diferentes precipitações
estimadas na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, por Ponto de Controle 130
TABELA 4.24 - Capacidade de acumulação das barragens infláveis,
escoamento superficial com base em precipitações simuladas, demanda
hídrica para o período de novembro a fevereiro, atendimento a demanda, em
dias, para o período de novembro a fevereiro e, freqüência de atendimento a
demanda hídrica, para o período de novembro a fevereiro, expresso em % -
para os pontos de controle 5 e 6 ....................................................................... 132
LISTA DE SÍMBOLOS

α fator de proporcionalidade
γ peso específico da água (9810 N/m3)
η parâmetro de Schoklisch
µ intervalo de confiança
σ desvio padrão
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Ic índice de colheita (%)
IFOV Instantaneous Field Of View
IICA Instituto Americano de Cooperação para a Agricultura
IRGA Instituto Riograndense do Arroz
K coeficiente de permeabilidade do solo (m/dia)
Kc coeficiente de cultura
kg quilograma
km² quilometro quadrado
ko condutividade hidráulica saturada
L largura
Llf largura do leito fluvial (m)
Ls lâmina formada sobre a superfície
mt fator de transpiração (m³/kg de matéria seca)
m metros
MNT modelo numérico do terreno
n porosidade do solo (%)
N tamanho da amostra
NC número de classes
NHcultura necessidade hídrica da cultura (m³/ha)
OS orla de segurança (m)
p freqüência de excedência
P precipitação (mm)
PC Ponto de Controle
Pci profundidade da camada impermeável (m)
Pe produtividade estimada de grãos (kg/ha)
PERAI Plano Estadual de Regularização da Atividade de Irrigação
Pi período de irrigação da cultura (dias)
pi pressão interna (N/m2);
PNRH Plano Nacional de Recursos Hídricos
Pp percolação profunda
Q escoamento superficial (mm)
Q7,10 vazão com 7 dias de duração e 10 anos de tempo de retorno
Q90 vazão disponível em 90% do tempo (m³/s)
Q95 vazão disponível em 95% do tempo (m³/s)
Qalvo vazão no local de interesse (m³/s)
Qamb vazão ambiental (m³/s)
Qfonte vazão na seção com dados (m³/s)
Qirrig vazão consumida pela irrigação (m³/s)
Qm vazão média diária (m³/s)
Qnatural vazão diária natural (m³/s)
Qobs vazão diária observada (m³/s)
Qrem vazão remanescente (m³/s)
Qreserv vazão consumida pela irrigação atendida pelos reservatórios
(m³/s)
RH Região Hidrográfica
S armazenamento potencial máximo do solo (mm)
SCS Soil Conservation Service
SEMA Secretaria Estadual de Meio Ambiente
SHR Seção Hidrológica de Referência
SIG Sistema de Informação Geográfica
TCA Termo de Compromisso Ambiental
ton tonelada
U índice de umidade (%)
Uatual umidade atual do solo (%)
Ug umidade dos grãos (%)
Usaturação umidade de saturação do solo (%)

USDA United States Department of Agriculture (Departamento de


Agricultura dos Estados Unidos)
UTM Universal Transversa de Mercator
V volume de água armazenado (m³)
V1 volume necessário para saturar o solo (m³/ha)
V2 volume necessário para formar a lâmina na lavoura (m³/ha)
V3 volume necessário para compensar as perdas por evaporação
(m³/ha)
V4 volume necessário para compensar as perdas por infiltração
(m³/ha)
V5 volume necessário para atender a transpiração da cultura
(m³/ha)
Vabi volume acumulado pela barragem inflável (m³)
Vt volume de escoamento superficial (m³)
VT volume necessário para atender a demanda da cultura (m³/ha)
VTmi necessidade hídrica da cultura por microbacia (m³/ha)
LISTA DE SIGLAS

AIA Avaliação de Impacto Ambiental


Afonte área de contribuição da bacia hidrográfica (m²)
Asa área da superfície de alague (m²)
Aalvo área da bacia hidrográfica de contribuição (m²)
Airrigmi área irrigada na microbacia ‘i’(ha)
ANA Agência Nacional de Águas
APP Áreas de Preservação Permanente
BI barragem inflável
BT barragem temporária
C coeficiente de escoamento superficial (%)
Cirrig capacidade de irrigação (ha)
CN curva número
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
CONSEMA Conselho Estadual do Meio Ambiente
dp densidade de partícula (g/cm³)
DRH Departamento de Recursos Hídricos
DSG Diretoria de Serviço Geográfico
ds densidade do solo (g/cm³)
EIA Estudo de Impacto Ambiental
Eci espessura da camada impermeável (m)
Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
ET evapotranspiração
ETr evapotranspiração real
EUA Estados Unidos da América
f fator de conversão
FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations
(Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a
Alimentação)
Fl fluxo através dos limites da lavoura
H altura da barragem (m)
ha hectares
Hbi max altura máxima da barragem inflável (m)
Hbi altura da barragem inflável (m)
Hcalha altura da calha do curso d’água (m)
he altura de lâmina evaporada (m/dia)
hl altura da lâmina d’água na lavoura (m)
Hmax altura máxima da lâmina d’água (m)
I irrigação
Ia perdas iniciais (mm)
LISTA DE ANEXOS

ANEXO I - Tempo necessário para inflar uma barragem flexível e diâmetro


da tubulação (Savatech, 2009)......................................................................... 147
ANEXO II - Tempo necessário para injeção de água em uma barragem
flexível e diâmetro da tubulação (Savatech, 2009)........................................... 148
ANEXO III - Valores do parâmetro CN para áreas agrícolas (SCS,
1975)................................................................................................................. 149
ANEXO IV - Valores do parâmetro CN para áreas de ocupação urbana
(SCS, 1975)...................................................................................................... 149
LISTA DE APÊNDICES

APÊNDICE I – Caracterização físico-hídrica do solo....................................... 151


APÊNDICE II – Vazões naturais na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande,
para o meses de novembro e dezembro, com base nos dados da estação
fluviométrica Restinga Seca (85438000).......................................................... 152
APÊNDICE III – Vazões naturais na sub-bacia hidrográfica do Arroio
Grande, para o meses de janeiro e fevereiro, com base nos dados da
estação fluviométrica Restinga Seca (85438000)............................................ 153
APÊNDICE IV – Seções transversais (Arroio do Meio) ................................... 154
APÊNDICE V – Seções transversais (Arroio Grande)...................................... 155
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................. 21
2 REVISÃO DE LITERATURA.............................................................. 24
2.1 Aspectos legais e institucionais de recursos hídricos ..................................24
2.2 Os usos múltiplos da água...............................................................................26
2.3 A agricultura irrigada ........................................................................................27
2.4 O cultivo do arroz irrigado no Brasil ...............................................................28
2.4.1 Os solos de várzea...........................................................................................32
2.4.2 Demanda hídrica da cultura orizícola ...............................................................34
2.5 Estruturas de armazenamento hídrico para a agricultura .............................37
2.5.1 Estruturas de represamento de água temporárias ...........................................38
2.5.1.1 Barragens Flexíveis.......................................................................................42
2.5.1.1.1 Características técnicas .............................................................................44
2.5.1.1.2 Aspectos construtivos.................................................................................46
2.5.1.1.3 Sistemas de controle ..................................................................................50
2.5.1.1.4 Uso e implicações ......................................................................................51
2.5.1.1.5 Custos de implantação ...............................................................................54
2.6 A agricultura irrigada e a questão ambiental..................................................55
2.6.1 O Plano Estadual de Regularização da Atividade de Irrigação (PERAI) no
Rio Grande do Sul.....................................................................................................55
2.6.2 Ações de regularização na irrigação ................................................................57
2.6.3 A legislação ambiental e a agricultura ..............................................................59
2.7 Modelos precipitação-vazão.............................................................................60
2.8 Geoprocessamento ...........................................................................................61
2.8.1 Sistemas de Informação Geográfica ................................................................62
2.8.2 Sensoriamento Remoto....................................................................................63
3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................... 65
3.1 Localização geográfica da área de estudo......................................................66
3.2 Caracterização da área de estudo ...................................................................67
3.2.1 Caracterização física ........................................................................................67
3.2.3 Análise do comportamento hidrológico ............................................................70
3.3 Estimativa da demanda hídrica........................................................................71
3.3.1 Irrigação ...........................................................................................................71
3.3.1.1 Cadastro de irrigantes ...................................................................................71
3.3.1.2 Demanda hídrica da cultura orizícola ............................................................72
3.3.1.3 Demanda hídrica da cultura por microbacia ..................................................75
3.4 Estimativa da disponibilidade hídrica .............................................................76
3.4.1 Capacidade de irrigação dos reservatórios ......................................................76
3.4.2 Vazões médias e mínimas ...............................................................................78
3.4.3 Vazões naturais................................................................................................79
3.4.4 Vazões de referência........................................................................................80
3.5 Determinação das Áreas de Preservação Permanente (APP) .......................83
3.6 Composição dos cenários de oferta e demanda hídrica ...............................84
3.6.1 Análise da vazão remanescente ......................................................................85
3.6.1.1 No contexto da sub-bacia hidrográfica ..........................................................85
3.6.1.2 Vazão remanescente por Ponto de Controle (PC) ........................................86
3.7 Armazenamento de água no álveo - Barragens Temporárias Flexíveis .......86
3.7.1 Dimensionamento de Barragens Temporárias Flexíveis Infláveis....................88
3.8 Determinação do escoamento superficial.......................................................89
3.9 Análise da sustentabilidade hídrica ................................................................91
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................... 93
4.1 Estruturação do Sistema de Informação Geográfica (SIG)............................93
4.1.1 Delimitação hidrográfica ...................................................................................93
4.1.2 Caracterização do relevo na sub-bacia ............................................................94
4.1.3 Uso e ocupação da terra ..................................................................................95
4.1.5 Classes de solos ..............................................................................................97
4.2 Demanda hídrica ...............................................................................................99
4.2.1 Irrigação ...........................................................................................................99
4.2.1.1 Cadastro de irrigantes ...................................................................................99
4.2.1.2 Necessidade hídrica da cultura orizícola .....................................................101
4.2.1.3 Demanda hídrica da cultura orizícola ..........................................................102
4.3 Disponibilidade hídrica ...................................................................................103
4.3.1 Reservatórios .................................................................................................103
4.3.2 Vazões médias e mínimas .............................................................................107
4.3.3 Vazões naturais..............................................................................................108
4.3.4 Vazões de referência......................................................................................109
4.4 Áreas de Preservação Permanente – APP ....................................................112
4.5 Cenários de oferta e demanda hídrica...........................................................114
4.5.1 No contexto da sub-bacia hidrográfica ...........................................................116
4.5.2 Por Ponto de Controle ....................................................................................118
4.5.2.1 Cenário 1.....................................................................................................120
4.5.2.2 Cenário 2.....................................................................................................122
4.6 Caracterização das Barragens Temporárias.................................................125
4.7 Escoamento superficial ..................................................................................127
4.8 Sustentabilidade hídrica da orizicultura.......................................................132
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .......................................... 134
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................... 137
ANEXOS............................................................................................... 146
APÊNDICES......................................................................................... 150
1 INTRODUÇÃO

O aumento da demanda pelo uso da água evidenciado ao longo do tempo,


sobretudo nas últimas décadas, vem causando sérios conflitos entre os usuários em
muitas regiões da Terra, fazendo com que a água se torne um fator limitante do
desenvolvimento sustentável.
As elevadas demandas do setor agrícola constituem o principal vetor de
conflitos potenciais por usos múltiplos da água no País. A importância da discussão
acerca da sustentabilidade agrícola intensifica-se, à medida que a demanda por
alimentos no mundo aumenta, causada pelo crescimento populacional e também
pelas mudanças nos padrões de consumo, acelerado pela utilização da matéria-
prima para geração de biocombustíveis.
A cultura orizícola desempenha um papel estratégico, tanto no aspecto
econômico quanto social. De acordo com a Embrapa (2005), a produção mundial de
arroz não vem acompanhando o crescimento do consumo, havendo grande
preocupação em relação à estabilização da produção mundial. O Brasil se destaca
como o maior produtor fora do continente Asiático, sendo responsável por cerca de
50% da América Latina. O Rio Grande do Sul, onde é cultivado o arroz irrigado, é
responsável por cerca de 60,2% da produção nacional, sendo considerado o maior
produtor de arroz do Brasil.
O avanço da agricultura sobre as Áreas de Preservação Permanente (APP),
em especial da orizicultura irrigada as margens de cursos d’água, deve-se as
condições favoráveis destes locais ao desenvolvimento da cultura, associado aos
aspectos econômicos e culturais dos produtores. Entretanto, esta ocupação vem
ocasionando pressões ambientais que tendem a intensificarem-se cada vez mais,
tendo em vista a crescente necessidade de produção de alimentos.
No Rio Grande do Sul, a implementação do Plano Estadual de Regularização
da Atividade de Irrigação (PERAI), instituído pela Resolução CONSEMA nº
100/2005, culminou da necessidade de regulamentação e gestão de culturas
irrigadas, como a orizicultura, maior usuária da água no Estado. A referida legislação
prevê ações diretas de recuperação das APP, condicionando o produtor a aderir ao
Termo de Compromisso Ambiental (TCA), necessário a concessão de novas
22

licenças e renovação da Licença de Operação (LO) de empreendimentos de


irrigação.
A escassez de água em determinados períodos vem provocando sérios
conflitos sociais, econômicos e ambientais, decorrentes da agricultura irrigada,
especialmente da cultura orizícola, que apresenta alta demanda hídrica.
Em situações onde ocorre escassez de água sazonal, uma alternativa para
garantir a produção agrícola, consiste em ampliar a oferta, através do
armazenamento de água em períodos com precipitações normais. A forma mais
comum de reservação de água consiste na construção de barragens de terra.
Entretanto, algumas características devem ser avaliadas, como por exemplo, as
condições topográficas da área. A implantação de reservatórios com pouca
profundidade demanda uma maior área de alague, além de apresentar alta demanda
evaporativa, ocasionando também redução na área de cultivo.
Outra forma de aumentar a disponibilidade hídrica consiste no
armazenamento de água no álveo de cursos d’água, através de barragens
temporárias. Estas estruturas são instaladas em determinados períodos em que a
demanda é superior a oferta, como por exemplo, nos períodos de irrigação, tendo
como principal vantagem a possibilidade de desobstruir o escoamento quando
esvaziada. Esta tecnologia vem sendo utilizada em diversos países há mais de meio
século, como Japão, Estados Unidos, Austrália e França (OTA, 1991).
Além de permitir a reservação de água, as barragens temporárias possibilitam
a regularização do fluxo do curso d’água, compatível com as necessidades
ambientais de períodos críticos e, utilização na lavoura orizícola.
A principal atividade consumidora de água na sub-bacia hidrográfica do Arroio
Grande está na agricultura irrigada, através da cultura orizícola, considerado o
principal setor produtivo da região, responsável pelos maiores conflitos de uso da
água. A irrigação é praticada no período de novembro a fevereiro, a partir de
captações superficiais de cursos d’água e inúmeros reservatórios existentes.
O cultivo do arroz irrigado coincide com a época de menor disponibilidade de
água, gerando o principal conflito de uso da região. Em períodos de estiagem, é
comum a prática de desvios de cursos d’água pelos irrigantes, infringindo a
legislação ambiental.
Considerando que a sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande apresenta uma
crescente necessidade de compatibilizar as condições de oferta e demanda, o
23

presente estudo visa propor uma metodologia para analisar a sustentabilidade


hídrica da cultura orizícola, através da implantação de estruturas temporárias no
álveo de determinados cursos d’água, considerando as variáveis quantificadas no
espaço e no tempo.
Neste sentido, o estudo tem como objetivos específicos:
- Realizar a caracterização das condições físicas da sub-bacia hidrográfica;
- Avaliar o uso e ocupação da terra na sub-bacia hidrográfica, considerando a
legislação ambiental;
- Caracterizar a disponibilidade e a demanda hídrica, no tempo e no espaço;
- Avaliar as condições entre oferta e demanda hídrica, através da simulação
de cenários.
2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Aspectos legais e institucionais de recursos hídricos

O Código de Águas de 1934 foi o primeiro instrumento legal a tratar


efetivamente de recursos hídricos no Brasil, cujo objetivo era de harmonizar o uso
das águas, principalmente para geração de energia elétrica e agricultura (BRASIL,
1934).
A Constituição Federal de 1988 definiu as águas como bens públicos e
colocou os corpos d’água sob os domínios Federal e Estadual (BRASIL, 1988).
Com a evidente escassez de água mundial, a questão adquiriu grande
relevância no país despertando a necessidade de um arcabouço jurídico-institucional
para se tratar o tema recursos hídricos, que culminou com a promulgação da Lei nº
9.433/97, instituindo a Política Nacional de Recursos Hídricos, tendo como preceitos
básicos: I) adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento; II)
consideração dos usos múltiplos da água; III) o reconhecimento da água como bem
finito e vulnerável; IV) o reconhecimento do valor econômico desse recurso (BRASIL,
1997).
O princípio dos múltiplos usos dos recursos hídricos estabelece que todos os
setores usuários tem igual direito de acesso ao uso da água. Entretanto, em
situação de escassez, o uso prioritário desse recurso fica restrito ao consumo
humano e à dessedentação de animais.
O reconhecimento da água como um bem finito e vulnerável serve de alerta
para a necessidade de conservação desse bem natural, enquanto o valor econômico
da água induz o uso racional desse recurso e serve de base para a instituição da
cobrança pela sua utilização.
Quanto ao princípio da gestão descentralizada refere-se a uma proposta de
que tudo que puder ser decidido no âmbito dos governos regionais ou mesmo locais,
não deve ser tratado em nível de governo federal, devendo a gestão participativa
envolver usuários, a sociedade civil organizada, as ONGs e outras entidades
interessadas no processo de tomada de decisão.
25

Problemas advindos dos conflitos pelo uso da água, como os já evidenciados


em diversas bacias brasileiras, remetem a necessidade de um adequado programa
de gestão de recursos hídricos. Segundo Setti et al. (2001), gestão de recursos
hídricos é a forma pela qual se pretende equacionar e resolver as questões de
escassez relativa dos recursos hídricos, bem como fazer o seu uso adequado,
visando a otimização dos recursos em benefício da sociedade.
A Política Nacional de Recursos Hídricos - Lei Federal nº 9.433/97 (BRASIL,
1997) ressalta a importância de cinco instrumentos essenciais de gestão dos
recursos hídricos, quais sejam: I) outorga de direito de uso dos recursos hídricos; II)
cobrança pelo uso da água; II) enquadramento dos corpos d'água em classes de
uso; III) Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos; IV) Plano
Nacional de Recursos Hídricos (BRASIL, 1997).
A outorga de direito de uso da água, é um mecanismo pelo qual o usuário
recebe uma autorização, ou uma concessão, para fazer uso da água. Constitui em
um relevante elemento para o controle do uso dos recursos hídricos, contribuindo,
também para a disciplina desse uso. O estabelecimento dos critérios de Outorga de
Direito de Uso das Águas, além de estar vinculado à disponibilidade hídrica, é
dependente dos sistemas jurídicos e econômicos locais.
No Brasil, cada Estado tem adotado critérios específicos para o
estabelecimento das vazões mínimas de referência para outorga, sem haver, muitas
vezes, justificativas para a adoção desses valores (CRUZ, 2001). Analisando os
critérios para análise das solicitações de outorga utilizados pelos órgãos gestores de
recursos hídricos, verifica-se uma grande diversidade de vazões de referência
adotadas, bem como dos percentuais considerados outorgáveis (ANA, 2002).
No Rio Grande do Sul, a outorga de direitos de uso da água foi
regulamentada pelo Decreto nº 37.033/96, não fixando uma vazão de referência,
apenas estipulando que os parâmetros técnicos que orientarão as outorgas serão
definidos pelo Departamento de Recursos Hídricos (DRH).
26

2.2 Os usos múltiplos da água

O uso sustentável da água é motivo de grande preocupação, pois esta é


considerada como uma das bases do desenvolvimento da sociedade moderna.
Muitos são os desafios que se relacionam à busca de soluções sustentáveis para
problemas como: escassez e/ou excesso de água, deterioração da qualidade da
água e, principalmente, com a percepção inadequada da sociedade para com os
recursos hídricos. Até a década de 1970, os resultados da ação humana sobre o
meio ambiente eram vistos sob a ótica estrita da escala global.
De acordo com o disposto no Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH),
datado de 2006, o consumo mundial de água cresceu mais de seis vezes entre 1900
e 1995, o que corresponde mais do que o dobro da taxa de crescimento da
população, e continua a crescer rapidamente com a elevação de consumo dos
setores agrícola, industrial e residencial. Cerca de um bilhão de habitantes não tem
acesso ao abastecimento de água de boa qualidade, ressaltando-se que 40% da
população mundial vivem em regiões onde a disponibilidade de água já impõe
restrições para o seu uso, percentual este que poderá atingir 65% nos próximos 50
anos.
Com o crescimento populacional, a humanidade se vê compelida a usar a
maior quantidade possível de solo agricultável, o que vem impulsionando o uso da
irrigação, não só para complementar as necessidades hídricas das regiões úmidas,
como para tornar produtivas as áreas áridas e semi-áridas do globo, que constituem
cerca de 55% de sua área continental total. Cerca de 50% da população mundial
depende de produtos irrigados (CHRISTOFIDIS et al.,2004).
Dos 120 milhões de hectares potencialmente agricultáveis no País, apenas
cerca de 3 milhões são atualmente irrigados. O potencial irrigável do Brasil é
estimado em 29 milhões de hectares. Na realidade, o desenvolvimento do subsetor
de irrigação é recente no Brasil. Em 1970, havia menos de 800 mil hectares
irrigados, usados, em sua grande maioria, para irrigação do arroz por inundação no
Rio Grande do Sul e, em menor intensidade, em alguns perímetros de irrigação
pública no Nordeste (ANA, 2002).
A exemplo de outros países, a maior demanda por água no País é exercida
pela agricultura, especialmente a irrigação, com quase 63% de toda demanda.
27

Seguem-se as demandas para uso doméstico (urbano e rural -18%), a indústria


(14%) e da dessedentação de animais, com 5% (ANA, 2002).
As elevadas demandas do setor agrícola constituem o principal vetor de
conflitos potenciais por usos múltiplos da água no País. Neste cenário, entende-se
como fundamental a busca pela otimização do uso da água na agricultura irrigada
mediante a reformulação do sistema de produção e adoção de práticas adequadas
de manejo, e mais objetivamente pela utilização de equipamentos e de tecnologias
mais eficientes (PNRH, 2006).

2.3 A agricultura irrigada

A história da irrigação começou há aproximadamente 5.000 anos atrás, no


Egito Antigo, nas margens do Rio Nilo. Ali também ocorreu a primeira obra de
engenharia relacionada a irrigação, quando o Faraó Ramsés III ordenou a
construção de diques, represas e canais, que melhoravam o aproveitamento das
águas do Rio Nilo. Muitos outros exemplos antigos existem, visto que as grandes
civilizações de outrora se desenvolviam nos vales dos grandes rios, sempre com o
intuito de se aproveitar de suas águas (CASTRO, 2003).
Segundo o mesmo autor, a irrigação no Brasil começou a ter expressão em
1950, com uma área irrigada de 64 mil hectares e evoluiu de forma contínua,
alcançando em 1980 cerca de 1.600.000 hectares, chegando ao final da década de
90 a uma área irrigada de 2.870.000 hectares.
Conforme Itaborahy (2004), a partir do início da década de 90, houve uma
redução na taxa de crescimento da área irrigada no Brasil em decorrência da
retirada de algumas linhas de crédito específicas para irrigação.
De acordo com Telles (2006), a irrigação no Brasil desenvolve-se a partir de
diferentes modelos de exploração. Nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste
predomina a irrigação privada, com ênfase no arroz irrigado (nas regiões
hidrográficas costeiras do Sul e do Uruguai) e em cereais (regiões hidrográficas do
Paraná, alto Paraguai, alto São Francisco e regiões hidrográficas costeiras do
Sudeste).
28

Segundo Christofidis (2005), o Brasil possui cerca de 3.440.470 hectares


irrigados. A região Sul se destaca como a mais irrigada com cerca de 1.301.660
hectares (38%), seguida da Sudeste com mais de 988.080 hectares (29%), a
Nordeste com mais de 732.840 hectares (21%), depois a Centro-Oeste com
aproximadamente 318.210 hectares (9%) e, finalmente a região Norte com 99.680
hectares (3%) irrigados.
O mesmo autor comenta que no Rio Grande do Sul, a irrigação por superfície
predomina em 94% da área irrigada, seguido pelo pivô central com 3%, aspersão
convencional com menos de 3% e, a irrigação localizada com área inferior a 1%.
Os principais fatores que influenciarão o futuro da agricultura irrigada nos
países de terceiro mundo são: aumento da demanda de alimentos a nível nacional e
mundial, incapacidade de competição tecnológica de ponta, globalização e criação
de mercados comuns, acesso à tecnologia de ponta na irrigação, estímulo
internacional na preservação do meio ambiente, cenário político e econômico
mundial, cenário político e econômico interno, clima, qualidade do meio ambiente,
infra-estrutura básica e aplicação tecnológica (LÉO; HERNANDEZ, 2001).
Segundo os mesmos autores, as perspectivas de desenvolvimento econômico
e social mundial apontam ao crescimento da população e do consumo de alimentos,
o que deve gerar aumento de preços destes produtos. E isto é uma grande
oportunidade de crescimento para muitos países de terceiro mundo, principalmente
aqueles com características naturais parecidas com as do Brasil: espaço disponível
suficiente, solos apropriados, abundância de recursos hídricos, infra-estrutura
razoável, mão-de-obra disponível, dentre muitas outras características favoráveis ao
desenvolvimento deste setor.

2.4 O cultivo do arroz irrigado no Brasil

A cultura orizícola desempenha um papel estratégico, tanto no aspecto


econômico quanto social. Cerca de 150 milhões de hectares de arroz são cultivados
anualmente no mundo, produzindo 590 milhões de toneladas, sendo que mais de
75% desta produção é oriunda do sistema de cultivo irrigado (EMBRAPA, 2005).
29

O arroz é considerado o cultivo alimentar de maior importância em muitos


países em desenvolvimento, principalmente na Ásia e Oceania, onde vivem 70% da
população total dos países em desenvolvimento e cerca de 2/3 da população
subnutrida mundial. Cerca de 90% de todo o arroz do mundo é cultivado e
consumido na Ásia. A América Latina ocupa o segundo lugar em produção e o
terceiro em consumo.
De acordo com a Embrapa (2005), a produção mundial de arroz não vem
acompanhando o crescimento do consumo, havendo grande preocupação em
relação à estabilização da produção mundial. O Brasil se destaca como o maior
produtor de fora do continente Asiático. Em 2001, a produção brasileira representou
1,8% do total mundial, e cerca de 50% da América Latina.
A lavoura orizícola tem grande importância econômica para o Brasil. No ano
2000, por exemplo, a produção no valor de R$ 3,34 bilhões, representou 6,7% do
valor bruto da produção agrícola nacional (R$ 49,75 bilhões). Apenas a soja, milho,
café e cana-de-açúcar têm valor bruto maior do que a orizicultura (EMBRAPA,
2005).
O Brasil está entre os dez principais produtores mundiais de arroz, com cerca
de 12,2 milhões de toneladas em uma área cultivada equivalente a 2.860.140 ha
(IBGE, 2008). Essa produção é oriunda de dois sistemas de cultivo: irrigado e de
sequeiro. A orizicultura irrigada é responsável por 65% da produção nacional, porém,
com baixa rentabilidade, devido ao alto custo de produção e distorções de mercado
(EMBRAPA, 2005).
O arroz irrigado é produzido em dezesseis Estados de todas as regiões do
Brasil, destacando-se a Região Sul que é responsável, atualmente, por 69,95% da
produção total deste cereal (IBGE, 2008). Nas demais regiões as produções de arroz
irrigado não são expressivas.
O Rio Grande do Sul é responsável por 60,2% da produção nacional de arroz
irrigado, sendo considerado o maior produtor brasileiro (IBGE, IRGA, 2008). Os
últimos dados divulgados pelo IRGA (2008) confirmam que a produção do cereal
chegou a 7,5 milhões de toneladas, um recorde absoluto.
De acordo com a série histórica do IRGA (área, produção e rendimento) com
registros a partir de 1921, o cultivo do cereal no Rio Grande do Sul evoluiu
significativamente, tanto em relação a área de plantio como na produtividade. Na
safra 1921/22, por exemplo, a área plantada equivalia a 79.120 ha e uma produção
30

de 173.260 ton, enquanto que na safra 1981/82 a área plantada atingiu 612.774 ha
para uma produção de 2.808.140 ton. Para a safra 2007/08, a produção atingiu
7.334.038 ton e uma área plantada de 1.066.337 ha. Observa-se claramente que, a
área de plantio cresceu significativamente, em especial nas últimas 4 décadas, onde
praticamente triplicou, enquanto que a produção cresceu a uma taxa de cinco vezes.
A Figura 2.1 ilustra estes dados.

Figura 2.1 - Evolução da área plantada e produção de arroz no Rio Grande do Sul - Período 1921/22
– 2007/08.
Fonte: organizado a partir de dados compilados do IRGA e IBGE (2008).

No Rio Grande do Sul o arroz irrigado é cultivado em 138 municípios,


localizados nas seguintes regiões: Fronteira Oeste, Depressão Central, Campanha,
Litoral Sul , Planície Costeira Externa e Planície Costeira Interna (Figura 2.2). Essas
regiões apresentam diferenças quanto a topografia, clima, solos, disponibilidade de
água para irrigação, tamanho de lavoura, etc, determinando variações em termos de
produção e produtividade média (EMBRAPA, 2005).
A região Fronteira-Oeste é a responsável pela maior produção do cereal no
Estado, com 32,3%, seguido pela Depressão Central, que representa 17,6% (IRGA,
2008). A produtividade do arroz no Rio Grande do Sul na safra 2007/08 apresentou
uma média de 6.878 kg/ha, sendo que na região da Depressão Central o rendimento
médio ficou em 5.526,6 kg/ha.
31

No contexto estadual, as áreas irrigadas com superfície de 1 a 25 hectares


predominam na região da Depressão Central, representando 63%. Já as áreas
superiores a 150 hectares passam a prevalecer na região Fronteira-Oeste (IRGA,
2008).
Dentre os fatores de prejuízos em lavouras de arroz no Rio Grande do Sul
apontados por produtores, em uma pesquisa realizada pelo IRGA (2002), predomina
as estiagens (33%), seguido pelo fator frio com 30%, vendaval (16%), granizo (10%),
pássaro preto (6%), enchentes (3%) e brusone (2%). Na região da Depressão
Central, os prejuízos com estiagem representam 25%, seguidos pelo fator vendaval
(24%), frio (23%), brusone e enchente (10%), pássaro preto (5%) e, granizo com 2%.

Figura 2.2 - Mapa das regiões orizícolas do Rio Grande do Sul.


Fonte: IRGA (2007).

Quanto aos sistemas de cultivo adotados para a cultura do arroz no Rio


Grande do Sul predomina o convencional em linhas em 36% das áreas, seguido
pelo cultivo mínimo (32%), convencional a lanço (18%), pré-germinado (8%) e
direto/outros (6%). Na região da Depressão Central, em 42,5% da área é adotado o
sistema convencional em linhas, seguido pelo cultivo mínimo em 26,2%, pré-
32

germinado (15,6%), convencional a lanço (11,3%) e, direto/outros, em 4,3% da área


(IRGA, 2002).
Conforme Santos (2005), na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande a cultura
orizícola é desenvolvida através de três sistemas de cultivo, predominado o sistema
convencional em linha em 82% da área, seguido pelo cultivo mínimo (12%) e pré-
germinado, 6%.
Quanto ao método de irrigação, é adotado a irrigação por superfície, através
da inundação contínua estática, na qual é mantida uma lâmina d’água estagnada
nos quadros de arroz, do início até a maturação da cultura (MARCOLIM, 2000).

2.4.1 Os solos de várzea

Os solos de várzea no Sul do Brasil apresentam como principal característica


a drenagem natural deficiente (hidromorfismo), normalmente motivada pelo relevo
predominantemente plano, freqüentemente associado a um perfil cuja camada
superficial é pouco profunda e a subsuperficial é praticamente impermeável
(GOMES et al., 1992).
No Rio Grande do Sul, os solos de várzea ocupam extensas áreas, com
relevo variando de plano a suavemente ondulado, sendo encontrados principalmente
nas regiões do Litoral, Encosta do Sudeste, Depressão Central, Campanha e
Campanha/Missões, abrangendo uma área de aproximadamente 5.400.000 hectares
(GOMES; PAULETTO, 1999).
Segundo os mesmos autores, as principais classes em que estão incluídos os
solos de várzea são: Planossolos, Gleissolos, Chernossolos Ebânicos e
Chernossolos Argilúvicos, Plintossolos, Vertissolos e Neossolos Flúvicos e
Neossolos Quartzarênicos Hidromórficos. Nas partes mais altas das áreas de várzea
e/ou patamares mais elevados, podem ocorrer solos hidromórficos de drenagem
imperfeita/moderada até boa, incluídos nas classes Argissolos, Alissolos e
Luvissolos, desmembradas dos antigos Podzólicos, além de Chernossolos Háplicos
e Neossolos Quartzarênicos Órticos.
As principais características físicas do solo que influenciam no consumo são
aquelas direta ou indiretamente relacionadas ao movimento d’água (infiltração,
33

armazenamento, condutividade hidráulica, etc). O fluxo de água no solo pode ser


reduzido através da alteração de algumas destas características, o que pode
ocorrer, por exemplo, através de diferentes formas de preparo. No entanto, estas
alterações podem prejudicar o desenvolvimento de culturas de sequeiro
subseqüentes ao cultivo do arroz irrigado (Côrrea et al., 1997).
A Tabela 2.1 apresenta alguns valores médios de características físicas dos
principais solos de várzea do Rio Grande do Sul, determinados por Beltrame (1996).

Tabela 2.1 - Características dos principais solos de várzea do Rio Grande do Sul.
UNIDADE DE SOLO REGIÃO Ko (m/dia) n (%) Pci (m) N

Planossolo Vacacaí Depressão Central 0,133 39,5 0,94 141

Campanha 0,108 40,5 0,91 70

Litoral 0,168 39,5 0,89 44

Planossolo Pelotas Encosta do Sudeste 0,199 34,5 0,65 111


Ko: condutividade hidráulica saturada; Pci: profundidade da camada de impedimento; n: porosidade; N: número de
determinações.
Fonte: Beltrame, 1996.

Estudos conduzidos por Gomes et al.(1992) de determinação da


condutividade hidráulica saturada (Ko) de quatro unidades de mapeamento de solos
de várzea do Rio Grande do Sul, verificou-se que os horizontes B de todos os solos
apresentam uma condutividade hidráulica saturada de nula a baixa, evidenciando a
baixa permeabilidade desses solos.
A condutividade hidráulica do solo está relacionada com o movimento da
água no perfil do solo que depende da umidade. Esses dois processos estão
relacionados com as características do solo (principalmente textura, estrutura,
distribuição do tamanho dos poros e tipo de argila) e com as características da água,
como viscosidade (GOMES et al.,1992).
De acordo com Beltrame (1996) a existência de uma camada impermeável a
profundidade aproximada de 1000 mm é característica da unidade Vacacaí, que faz
parte da chamada várzea arrozeira do Estado. Resultados obtidos pelo mesmo
autor, em solos da unidade Vacacaí, confirmam a existência de uma camada
adensada a partir de 15 cm de profundidade, cujos valores de densidade oscilam
34

entre 1,6 e 1,8 g/cm3. Valores de densidade de solo em torno de 1,8 g/cm3 (ou
superiores), são restritivos a culturas de sequeiro.

2.4.2 Demanda hídrica da cultura orizícola

O volume de água requerido pelo arroz irrigado representa o somatório de


água necessária para atender às demandas decorrentes da saturação do solo,
formação da lâmina de água, evapotranspiração (ET) e repor as perdas por
infiltração lateral e por percolação. Fatores como a variedade cultivada, o relevo, o
tipo de solo, o clima, e a forma de manejo da água, afetam a quantidade de água
necessária para a irrigação do arroz (GOMES et al., 1999).
A água consumida na lavoura de arroz por inundação pode ser estimada por
um balanço hídrico, que consiste em estabelecer num determinado intervalo de
tempo os volumes de entrada e saída (CORREA et al., 1997). Desconsiderando as
perdas entre o ponto de captação e a entrada na lavoura, a representação
matemática deste balanço é feita através da seguinte equação, segundo Beltrame e
Louzada (1991):

P + I − ETr − S − Ls − PP − Fl = 0 [2.1]

Onde:
P: precipitação;
I: irrigação;
ETr: evapotranspiração real;
S: lâmina necessária para saturação do perfil do solo;
Ls: lâmina formada sobre a superfície;
Pp: percolação profunda;
Fl: fluxo através dos limites da lavoura.

Segundo os mesmos autores, a consideração ou não das precipitações


depende fundamentalmente do manejo adotado. Esta variável geralmente é
desprezada devido à incerteza da ocorrência e a dificuldade em estimar a parcela
35

efetiva. A ETr é função da cultura, do seu estádio de desenvolvimento e de uma


conjugação de fatores climáticos.
A altura da lâmina d’água deve ser compatível com a variedade e condições
topográficas. A manutenção de uma lâmina de água sobre a superfície do solo
exerce uma função termorreguladora e dificulta a proliferação de plantas daninhas,
além dos efeitos benéficos diretos da saturação do solo para a cultura do arroz. A
função termorreguladora da lâmina de inundação é essencial nos dias em que
ocorram temperaturas abaixo de 15oC, durante a fase reprodutiva da cultura,
reduzindo sua fertilidade (CASTRO, 2003).
Segundo Gomes et al. (1992), no Rio Grande do Sul as lâminas adotadas
para a lavoura orizícola variam de 5 a 15cm e são selecionadas em função das
variedades cultivadas, eqüidistância entre taipas e grau de infestação de ervas
daninhas na lavoura. Lâminas de água maiores que 10 cm reduzem o número de
perfilhos, as plantas de arroz se tornam mais altas, o que facilita o acamamento,
aumentam as perdas de água por percolação e infiltração lateral e, em
conseqüência de maior armazenamento de energia térmica, provocando maior
evaporação durante a noite.
A saturação do perfil e os fluxos vertical e horizontal dependem das condições
iniciais (umidade do solo no início da irrigação), das características físicas do solo,
da altura da lâmina d’água e de algumas características geométricas da lavoura
(CORREA et al., 1997).
Outros modelos desta natureza são encontrados na literatura, com algumas
variantes na forma de quantificar uma ou outra das variáveis envolvidas, como os
propostos por Beltrame e Gondim (1982), Fietz et al. (1986) e Robaina (2007).
Todos os modelos seguem a equação do balanço hídrico, baseada no princípio da
conservação de massa.
A preocupação com o consumo de água no sistema de irrigação por
inundação no Rio Grande do Sul existe desde meados da década de 50, sendo que
o IRGA passou a recomendar vazões entre 1,7 e 3,0 l/s.ha (LOUZADA, 2004). A
partir da década de 90, com o avanço da tecnologia e a conscientização do
agricultor, passaram a ser recomendadas vazões entre 1,5 a 2,0 l/s.ha, para
períodos de irrigação entre 80 e 100 dias (CORREA et al., 1997).
No Rio Grande do Sul, tradicionalmente, a necessidade máxima de água para
a lavoura orizícola estimada pelos orizicultores, corresponde a 2 l/s.ha (17.280
36

m³/ha). Todavia, informações mais recentes indicam que esta necessidade pode ser
inferior, variando em torno de 1 l/s.ha (8.640 m³/ha), no sistema convencional, a 0,72
l/s.ha (6.220 m³/ha), no sistema pré-germinado (LOUZADA, 2004).
Côrrea et al. (1997) apresentam uma relação de estudos realizados por
diversos autores em solos de várzea (planossolos) de diferentes regiões do Estado
do Rio Grande do Sul, conforme mostra a Tabela 2.2.

Tabela 2.2 - Consumo d’água estimado por balanço hídrico.

Fonte Vazão média (l/s.ha) Unidade de Solo

Preussler et al. (1982) 1,15 Planossolo Pelotas


0,77* Planossolo Pelotas
Beltrame e Gondim (1982) 1,44 Planossolo Vacacaí - Depressão Central
1,02* Planossolo Pelotas
Fietz et al. (1986) 1,61 Planossolo Pelotas
Pereira (1989) 0,96* Planossolo em Portugal
Beltrame e Louzada (1991) 1,51 Planossolo Pelotas
Beltrame e Louzada (1991) 1,72 Planossolo Vacacaí - Depressão Central
Beltrame e Louzada (1991) 1,56 Planossolo Vacacaí - Litoral
Beltrame e Louzada (1991) 1,76 Planossolo Vacacaí - Campanha
*considerando a precipitação
Fonte: Correa et al., 1997.

Para os solos da região de estudo, ou seja, unidade Planossolo Vacacaí -


Depressão Central, Beltrame e Gondim (1982), estimam a vazão média da lavoura
orizícola no sistema de irrigação por inundação em 1,44 l/s.ha (12.441,60 m³/ha),
enquanto que para Beltrame e Louzada (1991) o consumo é de 1,72 l/s.ha
(14.860,80 m³/ha).
Observa-se que, segundo estes autores, o consumo da lavoura orizícola é
mais elevado, quando comparado com os solos da região da Depressão Central,
apenas na região da Campanha, sendo que nas demais regiões, o consumo é
inferior.
37

2.5 Estruturas de armazenamento hídrico para a agricultura

No Rio Grande do Sul, tradicionalmente o armazenamento hídrico para os


sistemas de irrigação foi sendo implantado pelo setor privado, diferentemente da
região Nordeste do Brasil, onde grande parte foi custeado com recursos públicos.
Segundo Lavoura Arrozeira (2008), é preciso melhorar o aporte de recursos
para irrigação no Rio Grande do Sul, pois apesar do Estado dispor de 37% da área
irrigada no País, nos últimos seis anos recebeu investimentos na ordem de 0,078%
do que foi investido no Brasil em irrigação. Complementa ainda que, cerca de 60%
do arroz produzido no Estado é proveniente de águas de reservatórios construídos
pelos orizicultores, com recursos próprios.
Um reservatório de acumulação serve para reter excesso de água dos
períodos de grandes vazões para ser utilizado nas épocas de seca ou de maior
demanda, por exemplo. Qualquer que seja o tamanho dos reservatórios ou a
finalidade das águas acumuladas, sua principal função é a de um regulador, visando
a regularização da vazão dos cursos d’água ou atendendo as variações de demanda
dos usuários (LINSLEY; FRANZINI, 1978).
Segundo os autores acima, as barragens podem ser classificadas pelo tipo de
construção e materiais empregados: de gravidade, em arco, de contrafortes e de
terra. Os três primeiros tipos são construídos geralmente em concreto. A escolha do
melhor tipo de barragem para uma determinada seção é um problema tanto de
viabilidade técnica como de custo. A solução técnica depende do relevo, da geologia
e do clima.
Entretanto, as barragens acima mencionadas consistem em estruturas fixas,
que contém dispositivos de saída que permite a passagem de água para jusante –
extravasores. Os extravasores são necessários para descarregar as cheias sem
prejudicar a barragem ou qualquer uma de suas estruturas auxiliares e, ao mesmo
tempo, permitir que se mantenha o nível das águas no reservatório abaixo de um
certo nível máximo pré-fixado.
Todavia, a instalação de estruturas fixas pode muitas vezes ser inviável em
determinadas regiões, onde por exemplo, a escassez de água é uma característica
sazonal, em função da demanda. Neste contexto, surgem então as estruturas
represadoras de água temporárias ou móveis, discutidas a seguir.
38

2.5.1 Estruturas de represamento de água temporárias

Linsley e Franzini (1978) apresentam diversas estruturas represadoras de


água que permitem ampliar a capacidade de armazenamento de reservatórios,
através da instalação destes dispositivos, de forma temporária, acima da crista do
vertedor. A seguir discorre-se sobre os Pranchões, Stop-logs e Agulhas e, Comporta
Telhado.
a) Pranchões: consistem em painéis de madeira apoiados em pinos verticais,
colocados sobre a soleira do vertedor (Figura 2.3.a). Esses painéis são usados
temporariamente e são concebidos de modo a serem removidos quando as águas
no reservatório atinjam um nível pré-determinado. Este tipo de vedação temporária
tem sido usado em alturas de até 1,20 a 1,50 m. Há também os painéis de madeira
permanentes, que podem ser operados de uma ponte, ou por meio de sistema
teleférico sobre a barragem (Figura 2.3.b).

Figura 2.3 - Tipos de pranchões e de painéis.


Fonte: adaptado de Linsley e Franzini (1978).

b) Stop-logs e agulhas: consistem em toras, pranchões ou vigas em posição


horizontal, vedando vãos entre pilares colocados em ranhuras feitas nestes (Figura
2.4.a). Os pranchões podem ser levantados manualmente ou com o auxílio de um
guincho. Os stop-logs são utilizados em geral em pequenas estruturas, onde
instalações mais complexas são inviáveis economicamente ou onde não seja
39

necessário a remoção e vedação com muita freqüência. As agulhas são pranchas


com seus bordos inferiores apoiados em chanfro aberto na soleira do extravasor e
tendo seus bordos superiores apoiados em uma passarela em concreto (Figura
2.5.b).

Figura 2.4 - Stop-logs (a) e agulhas (b).


Fonte: adaptado de Linsley e Franzini (1978).

c) Comporta telhado: consiste em duas folhas de madeira ou aço fixadas a


barragem por charneiras estanques (Figura 2.5). Quando a água entra no vão sob
as folhas, são forçadas para cima. A folha de jusante, em geral, é oca e assim sua
flutuabilidade ajuda no erguimento. Esse tipo de barragem é usado com a finalidade
de aumentar a profundidade para navegação, pois em época de cheias o conjunto
pode ser escamoteado de modo a não interferir com a navegação.

De acordo com Linsley e Franzini (1978), os dispositivos temporários ou


móveis também podem ser instalados acima da crista do vertedor, possibilitando a
ampliação do volume de água armazenado (alteamento de barragens).
Para os mesmos autores, este aumento de nível dos reservatórios é
admissível apenas durante a estiagem, quando é possível escoar vazões sobre
estes dispositivos e, ocorrendo uma grande cheia, pode-se restituir a capacidade
total do extravasor, removendo-os. Esses dispositivos devem ser utilizados com
40

cautela no caso de extravasores de barragens de terra, pois um erro de operação


pode resultar em transbordamento sobre o aterro.

Figura 2.5 - Comporta telhado.


Fonte: adaptado de Linsley e Franzini (1978).

Os Pranchões e a Comporta Telhado, por exemplo, consiste em uma


estrutura basculante que podem ser facilmente removidas. Já os Stop-logs e
Agulhas exigem operações totalmente manuais para o processo de colocação e
remoção, embora possam apresentar custos de implantação relativamente inferiores
as demais.
Os dispositivos móveis apresentados por Linsley e Franzini (1978), podem ser
uma alternativa para instalação no álveo de cursos d’água, com ligeiras adaptações,
a exemplo das barragens flexíveis. A utilização de dispositivos temporários
(barragens móveis) no álveo de cursos d’água vem sendo amplamente utilizadas
desde a década de 50 em diversos países. Tiago Filho (2007) classifica as
barragens temporárias em:
a) Flexíveis: mantas impermeáveis infladas com ar ou injetadas com água,
formando a barragem de pequena altura (Figura 2.6: a, b, c);
b) Basculantes: contém uma estrutura móvel semelhante a uma comporta que
bascula, mantendo o nível da água (Figura 2.6: d, e, f, g);
c) Flutuantes: composta por módulos, que contém os grupos geradores em
seu interior que flutuam a medida que ocorre mudanças nos níveis dos cursos
41

d’água, de forma a manter as variações do nível de montante dentro do regime


natural das vazões.

Figura 2.6 – Barragens temporárias: flexíveis (a), (b), (c); basculantes (d), (e), (f), (g).
Fonte: Tiago Filho (2007).
42

2.5.1.1 Barragens Flexíveis

As barragens flexíveis consistem em uma estrutura cilíndrica, pré-fabricadas


de lonas tratadas com borracha sintética, fixadas a uma base rígida de concreto, que
são instaladas transversalmente ao leito de cursos d’água, em intervalos planejados,
transformando o rio em uma série de patamares, aumentando assim a reservação
de água (MYSORE, 1997). A Figura 2.7 ilustra um esquema de estruturas flexíveis
implantadas em trecho de curso d’água.

Figura 2.7 - Esquema de trecho de curso d’água com estruturas de barramento flexíveis.
Fonte: adaptado de Souza (2008).

A principal característica atribuída às barragens flexíveis é a possibilidade de


desobstruir o escoamento quando esvaziada, ou seja, a estrutura é móvel. As
barragens flexíveis apresentam limitações à altura, permitindo o barramento de
cursos d’água de baixa declividade (OTA, 1991).
As barragens flexíveis foram desenvolvidas por N. M. Imbertson em 1950 com
o nome de Fabridam e tem sido utilizada no mundo todo (MYSORE, 1997). Na
literatura internacional vem sendo denominadas de rubber dam e inflatable dam.
Embora esta tecnologia não seja muito conhecida no Brasil, vem sendo
utilizada há mais de 50 anos em outros países como Japão, Estados Unidos,
Austrália e França (OTA, 1991). A primeira barragem flexível foi construída nos EUA
em 1959 para abastecer Los Angeles, com 39,6m de comprimento e 1,5m de altura.
43

Posteriormente, inúmeras outras barragens flexíveis com finalidades distintas foram


instaladas em diversos países e o seu uso esta cada vez mais intenso (CHANSON,
1998).
No Japão, a primeira barragem flexível foi instalada em 1965. Em 1991, o
país já contava com mais de 1.400 unidades instaladas (OTA, 1991). No Brasil, a
empresa NSO Borrachas vem desenvolvendo um protótipo de barragem flexível,
para controle do sistema de drenagem urbana do município de Joinvile/SC (SOUZA,
2009).
De acordo com o mesmo autor, as barragens flexíveis podem ser infladas
com ar ou injetadas com água ou, água e ar combinado, conforme apresentado nas
Figuras 2.8 (a) e (b).

Figura 2.8 – Barragens flexíveis. (a) Inflável. (b) Injetada com água.
Fonte: adaptado de Savatech (2009).

Um fator a ser considerado na instalação de uma barragem flexível refere-se


ao tempo necessário para o processo de acionamento da estrutura, ou seja, para o
processo de inflar ou injetar água na membrana. O catálogo técnico da fabricante
Savatech (2009) indica o tempo necessário para esta operação, variando de acordo
com o volume da membrana. Também é indicado o diâmetro da tubulação para o
processo de inflar ou injetar água. Como exemplo, cita-se o tempo necessário para
acionar uma barragem de 2 m de altura e 10 m de largura, sendo necessários 6,36
minutos para uma estrutura inflável e 36,19 minutos, para uma membrana injetada
com água.
44

De acordo com Dparra (2001), o uso de barragens infláveis é mais freqüente


devido a maior velocidade de operação (inflar e desinflar) e por praticamente não
transmitir cargas à fundação. Conforme Satujo (2008) - fabricante francesa, o ar é
normalmente mais utilizado, porque não há risco de congelamento e o processo de
montagem é mais rápido.
Segundo Ota (1991), a barragem injetada com água necessita de bomba,
tubulação e reservatório de água de grandes dimensões e a operação de injeção e
esvaziamento da barragem é mais demorada. Já a estrutura inflada dispensa o
reservatório e a operação é bastante rápida e simples, razão pela qual o custo é
menor.
Ainda segundo o mesmo autor, ao ser esvaziada gradativamente, a barragem
injetada com água diminui a altura mantendo a horizontalidade da crista; a barragem
inflada só exerce controle com características bem definidas na faixa de 100% a
aproximadamente 80% da altura de projeto. Abaixo disso, a pressão interna não é
suficiente para manter a forma em toda a extensão, devido ao desequilíbrio de
forças, surgindo conseqüentemente, pontos baixos na crista onde o escoamento
tende a se concentrar. É o colapso da forma conhecido pelos japoneses como V-
notch, porque a linha da crista toma a forma da letra V. Outro fator desfavorável das
barragens infláveis é a maior facilidade de sofrer vibrações devido a pequena inércia
do fluido interno.
Em casos em que a barragem tem por finalidade controlar a vazão efluente, a
barragem injetada com água é mais eficiente. Se a faixa de controle pode ser
reduzida ou se a operação de esvaziamento não é freqüente, a barragem inflada é
mais vantajosa por ser mais econômica (OTA, 1991).

2.5.1.1.1 Características técnicas

a) Comprimento e altura da barragem: as limitações quanto ao comprimento


são apenas de ordem construtiva. A tensão atuante na lona independe ou depende
muito pouco desse parâmetro (OTA, 1991). As dimensões das membranas podem
variar dependendo do fabricante. A empresa Satujo – fabricante francesa, por
exemplo, fabrica membranas com altura nominal (H) máxima de 6 m, não havendo
45

limite na largura (L), podendo ser conectadas em série para formar uma longa
barreira, conforme desejado.
A grande maioria das estruturas utilizadas são compostas por módulos de 2 a
4 m de altura (H) e, entre 20 e 50 m de largura (L). Na prática, o máximo fica entre 2
m (H) X 10 m (L) e 6 m (H) X 20 m (L), para cada módulo. Segundo Satujo (2008),
uma limitação destas estruturas está na altura máxima do transbordamento de água,
sendo: 0,20.H para estrutura inflada com ar e; 0,50.H para estrutura injetada com
água.
A Figura 2.9 a seguir, apresenta um esquema de transbordamento de uma
barragem flexível. Ota (1991) comenta que existem materiais que possibilitariam a
construção de barragens de até 15 m de altura, mas são raros os casos com mais
de 3 m.

Figura 2.9 - Esquema de transbordamento de uma barragem flexível.


Fonte:adaptado de Chanson, 1998.

b) Escoamento sobre a barragem – carga de projeto: no caso de barragens


infladas com ar, as vibrações aumentam sensivelmente com a carga de operação (h)
acima de 25% da altura da barragem (H). Portanto, recomenda-se limitar a carga
dentro da faixa h < 0,2.H. No caso de barragem injetada com água, esse limite pode
ser ampliado para 0,5.H.

c) Pressão interna: não há muita vantagem em se adotar pressão interna de


projeto muito elevada, pois a tensão atuante na lona aumenta proporcionalmente
46

com a pressão, sem aumento sensível da altura da barragem. A pressão


corresponde que atua no fundo do canal é suficiente para manter a forma da
barragem. É comum relacionar a pressão interna com a altura da barragem, como
abaixo:

pi = α ⋅ γ ⋅ H [2.2]

Onde:
pi: pressão interna (N/m2);
α: fator de proporcionalidade (adimensional) - valores recomendáveis de projeto
situam-se na faixa 1,0 < α < 3,0;
γ: peso específico da água (9810 N/m3);
H: altura da barragem (m).

d) Distância entre as fixações na base: a definição da distância entre as


fixações é definida com base em dados de projeto, isto é, pressão interna, carga de
projeto e altura.

2.5.1.1.2 Aspectos construtivos

Para a implantação de barragens flexíveis transversalmente em um curso


d’água é necessário a definição de alguns critérios de projeto, como as
características da membrana a ser utilizada, forma de ancoragem, sistema de
operação e também de aspectos construtivos relativos à obra civil. Na definição dos
locais de implantação das barragens infláveis é importante verificar a disponibilidade
de energia e as condições de acesso, uma vez que implica em custos para a
implantação. A seguir discorre-se sobre alguns aspectos construtivos:

a) Membrana: de acordo Trelleborg (2008) – fabricante australiana, as


membranas são construídas utilizando diferentes compostos de borracha,
dependendo da aplicação. Os componentes da borracha possuem diferentes
propriedades, como resistência à tração e resistência à luz solar, produtos químicos,
47

ozônio, à temperatura e à abrasão. A composição adequada da membrana, de


acordo com o uso, maximiza a vida útil. As membranas são projetadas em uma
grande variedade de espessuras e camadas de reforços, variando de acordo com a
concepção da altura da barragem e a tensão de jusante. De acordo com Trelleborg
(2008), a espessura da membrana varia de 8 a 20 mm, composta por 2 a 4 camadas
(Figura 2.10). A empresa Satujo fabrica membranas com espessura variando de 5 a
32 mm.

Figura 2.10 - Membrana reforçada com 3 camadas.


Fonte: Trelleborg (2008).

As membranas são concebidas com um fator mínimo de segurança


equivalente a 1:8 na direção do curso d’água. A face superior da barragem possui
resistência mecânica suficiente para uma pessoa caminhar sobre a mesma
(CHANSON, 1998).

b) Sistema de ancoragem: a membrana de borracha pode ser fixada a base


de concreto, em linha única ou dupla de ancoragem (Figura 2.11). O sistema de
linha dupla de ancoragem aumenta a estabilidade da membrana e reduz a
possibilidade de vibração. Já o sistema de linha simples é adequado para baixas
condições de transbordamento e escape mínimo. Em locais onde a vazão reversa é
esperada, deve ser utilizado o sistema de linha dupla.
48

Figura 2.11 - Sistema de ancoragem de barragens flexíveis - linha dupla e simples.


Fonte: adaptado de Sumigate (2008).

Quanto ao sistema de fixação, a membrana é presa à base de concreto


através de chapas grampeadas. Essas chapas são grampeadas a membrana
através de âncoras parafusadas que são fixadas em novas bases (construídas) ou
incorporadas em bases existentes, como por exemplo, utilizando resina epóxi
(Figura 2.12).

Figura 2.12 - Esquema de ancoragem de barragens flexíveis.


Fonte: Trelleborg (2008).

Trelleborg (2008) recomenda o uso de ferragens (trilhos e parafusos) em ferro


fundido ou aço inox, para fixação da membrana a estrutura de concreto (base e
49

laterais). As características de concepção do sistema de ancoragem são as


seguintes:
- facilidade de instalação em estruturas novas ou em cristas existentes;
- anteparos de concreto para proteção de grandes destroços flutuantes;
- a ancoragem com ferro fundido galvanizado é projetada com proteção
catódica;
- aço inoxidável, fibra de carbono ou de vidro reforçam as fixações em plástico
que podem ser instaladas para aumentar a resistência à corrosão,
a água salgada e de tratamento de águas residuais;
- são projetados para suportar carga máxima de tensão que atuam na
membrana e cargas induzidas ao mesmo tempo.

Segundo Trelleborg (2008), a ancoragem e os parafusos são projetados com


um fator mínimo de segurança de 3:1.
Chanson (1998) comenta que no sistema de ancoragem em linha dupla,
quanto maior for o espaçamento entre as linhas ancoradas de montante e jusante,
menores são os efeitos da vibração. De acordo com Mysore (1997), as vibrações
com ancoragem dupla foram analisadas por Hsieh e Plaut (1990), Dakshima Moorthy
et al. (1995) e, Wu e Plaut (1996).

c) Laje de fundo: a laje de fundo da barragem flexível deverá ser em concreto,


devendo ser previsto um rebaixamento que permita a acomodação da membrana
quando desinflada, suficiente para permitir que a estrutura não obstrua o fluxo de
água natural do manancial. A base de concreto deverá ser dimensionada de acordo
com as características locais. Os taludes também deverão ser em concreto, moldado
‘in loco’ ou pré-moldado. O uso de estrutura pré-moldada facilita o processo
construtivo. Os taludes deverão ser construídos com inclinação de 45º, permitindo
assim que ao desinflar a membrana se ajuste perfeitamente a base de fundo e a
lateral. A Figura 2.13 apresenta um detalhamento da estrutura para instalação de
barragens flexíveis.
50

Figura 2.13 - Corte transversal da estrutura da seção para instalação de barragem flexível.
Fonte: adaptado de Souza (2008).

2.5.1.1.3 Sistemas de controle

Existem vários sistemas de controle de barragens flexíveis disponíveis,


variando de um simples controle manual a avançados sistemas de controle de nível
da água a montante. Trelleborg (2008), em seu catálogo técnico, propõe a adoção
do sistema automático, operando com uma unidade eletrônica telemétrica, orientada
através de sensores do tipo: nível - linímetro digital de montante; sensor da pressão
interna da membrana; comandos das válvulas operacionais e; comando liga/desliga
do motor/ventilador.
A operação de uma ou mais barragens, integrando um sistema pode ser
realizada através de telemetria, comandada por uma central. A comunicação entre
as barragens (estação remota) e a central pode ser via satélite ou telefonia. É
fundamental que o controle operacional das barragens flexíveis seja eficiente, uma
vez que excedida as condições previstas em projeto, ou seja, a altura máxima da
lâmina de transbordamento prevista poderá comprometer a membrana, uma vez que
é a principal sobrecarga que atua sobre a estrutura inflável (Trelleborg, 2008).
51

2.5.1.1.4 Uso e implicações

Segundo Ota (1991), as barragens flexíveis são mais utilizadas em pequenos


cursos d’água, embora alguns estudos estão sendo feitos para tornarem viáveis as
aplicações em obras de maior porte. As principais aplicações correntes de barragens
flexíveis estão em: barragens para captação de água; vertedouros para controle de
cheias; barragens para desembocadura de rios, para impedir o refluxo de água
salgada do mar; barragens para esgoto; barragens para recreação e piscicultura;
barragens para pequenos aproveitamentos hidrelétricos; soleiras móveis para
controle de níveis de água. As Figuras 2.14 (a, b, c, d , e) ilustram alguns exemplos
de barragens flexíveis em operação, exemplificadas por diversos fabricantes, em
seus catálogos técnicos.
Outro uso bastante comum de elementos flexíveis consiste no alteamento de
barragens existentes, através da instalação da estrutura na crista da barragem. As
barragens flexíveis são elementos represadores pré-fabricados, podendo atuar como
vertedor para o controle de vazão (CHUQUIMUNI, 2005).

Figura 2.14 – Barragens flexíveis em operação. (a) Oh River – Japão (2m H X 28,50m L); (b) Russian
River, Califórnia – EUA; (c) Noruega; (d) Hong Kong (4m H); (e) Oh River - Japão (6m H
X 34,50m L).
Fonte: (a) Sumigate, 2008; (b) Constantz, 2008; (c) Dyrhoff (2009); (d) Dyrhoff (2009);
(e) Sumigate (2008).
52

De acordo com Chuquimuni (2005), na Austrália as barragens flexíveis vêm


sendo utilizadas desde a década de 60, sendo que nas estruturas implantadas mais
recentemente foi acoplado o sistema de acionamento automático. Alguns desses
exemplos são listados a seguir:
a) Barragem Koomboomba, Queesland: instalada em 1965, inflada com água,
possui altura de 1,22 e 1,50m e largura de 60 m (1 módulo). O sistema de inflar é
mecânico;
b) Barragem Lyell, New South Wales: instalada em 1996, inflada com ar,
possui altura de 3,50 m e largura de 40 m (02 módulos). O sistema de inflar é
automático;
c) Barragem Dumbleton: instalada em 1997, inflada com ar, possui altura de
2,00 m e largura de 75 m (2 módulos). O sistema de inflar é mecânico/ automático.

Em Veneza, na Itália, esta sendo implantado o projeto denominado MOSE


(Modulo Sperimentale Elettromeccanico), que consiste em uma série de 79
barragens temporárias para o controle de cheias, evitando assim as freqüentes
inundações provenientes do mar (Figura 2.15). Essas barragens são compostas de
módulos rígidos. As estruturas móveis irão separar a lagoa do mar Adriático, em
situações de ocorrência de maré alta. Veneza é uma cidade edificada sobre estacas,
construída sobre 117 ilhotas no meio de uma lagoa que deságua no mar Adriático,
sofrendo inundações freqüentemente.
Durante as marés normais, as barragens móveis devem ficar acomodadas no
fundo do mar, inativas e cheias de água. Quando for prevista uma maré acima de
determinado nível, será injetado ar nas barragens, o que vai retirar a água de dentro
das membranas, fazendo-as subir. Quando a maré baixar, as barragens serão
enchidas novamente de água e voltarão a descansar no fundo do mar (BROTTO,
2009).
Segundo o mesmo autor, estas barragens móveis foram propostas pela
primeira vez no início da década de 90. Entretanto, o projeto teve de superar muitas
objeções ambientais. A previsão de conclusão das obras é para final de 2014.
Este mesmo sistema móvel de controle de inundações esta sendo estudado
para implantação na cidade de New Orleans, nos EUA (MARRA, 2009).
53

Figura 2.15 – Barramento móvel em Veneza, Itália.


Fonte: Brotto (2009).

As barragens flexíveis apresentam certas desvantagens inerentes à sua


própria constituição, como por exemplo, a vulnerabilidade ao vandalismo,
possibilidade de serem danificadas por flutuantes de grandes dimensões e a
necessidade de bombas de ar ou água e tubulação para serem infladas
(CHUQUIMUNI, 2005).
Ota (1991) aponta como desvantagem também a ocorrência de vibrações em
caso de operação com sobrecarga, falta de conhecimento quanto à durabilidade,
carência de informações concretas sobre o seu comportamento e, como todas as
barragens móveis, possui riscos de causar enchentes a jusante no caso de
operação imprópria.
Entretanto, as vantagens em relação às comportas metálicas são numerosas,
segundo Ota (1991) e Dparra (2001): custo relativamente baixo; excelente
estanqueidade; peso próprio reduzido; possibilidade de desobstruir o escoamento
quando esvaziada, permitindo, inclusive, a passagem de sedimentos; não possui
partes móveis sujeitas ao atrito e à ferrugem, conduzindo a um baixo custo de
manutenção; dispensa pilares intermediários, não há limitação teórica do
comprimento da barragem (é desprezível a tensão transmitida neste sentido); o
material constituinte (borracha) é resistente ao ataque de diversos elementos
químicos, permitindo o seu contato com esgoto e água salgada, por exemplo;
dependendo da forma de fixação da lona, pode receber esforços tanto no sentido de
montante para jusante, como de jusante para montante. Dessa forma, pode ser
utilizada como órgão divisório de reservatórios, permitindo o esvaziamento de
qualquer um dos lados do reservatório.
54

Para Mysore (1997), embora muitas das barragens fiquem permanentemente


infladas, têm a vantagem de poderem ser desinfladas quando necessário e, em
seguida, infladas em um curto período de tempo quando exigido. As barragens
infláveis são relativamente fáceis de instalar, não corrói, requer pouca manutenção,
e tem a capacidade de resistir a temperaturas extremas.
Dparra (2001) comenta o relato de Hamel et al. (1993) em relação a intenção
de utilização desta solução na barragem de Plane Nine (Altoona, EUA) para elevar o
nível do reservatório, aumentando a capacidade de armazenamento de água.
Dentre as principais causas de danificações em barragens flexíveis são
apontados o vandalismo, a instabilidade hidrodinâmica e passagem de destroços.
Alguns cuidados devem ser tomados no momento de desinflar/esvaziar a barragem,
como por exemplo, a membrana flexível deve ser acomodada no chão (solo), para
minimizar os distúrbios do fluxo inicial (CHANSON, 1998).
Em relação à durabilidade, existem barragens flexíveis com mais de 20 anos
de uso, sem apresentar problemas. Segundo Mysore (1997), a vida útil fica em torno
de 30-40 anos. Chanson (1998) comenta que a primeira barragem inflável instalada
na Califórnia sofreu problemas relacionados aos elastômeros utilizados.

2.5.1.1.5 Custos de implantação

Segundo Souza (2008), os custos de implantação de barragens flexíveis


normalmente alcançam um patamar em torno de 50% de uma estrutura fixa em
concreto. O mesmo autor comenta que no Brasil as membranas ainda não são
fabricadas, sendo necessário importá-las, o que se torna mais oneroso.
De acordo com Brotto (2009), as 79 barragens flexíveis que estão sendo
instaladas em Veneza (Itália), como medida de controle de cheias, apresenta um
custo aos cofres italianos de cerca de US$ 3 bilhões.
55

2.6 A agricultura irrigada e a questão ambiental

A seguir discorre-se sobre as ações que vem sendo desenvolvidas para a


regularização do setor de irrigação, o processo de licenciamento e, os possíveis
impactos que ocasionará o atendimento integral a legislação ambiental vigente.

2.6.1 O Plano Estadual de Regularização da Atividade de Irrigação (PERAI) no Rio


Grande do Sul

As alterações nos padrões de consumo e o aumento da produção de


alimentos vêm resultando, nos últimos anos, num elevado crescimento da área
ocupada por grandes culturas, avançando sobre áreas impróprias, como nas Áreas
de Preservação Permanente (APP).
Diante desta realidade e em busca de recuperação dessas áreas, foi instituído
no Rio Grande do Sul, através da Resolução CONSEMA nº100, datada de
15/abril/2005, o Plano Estadual de Regularização da Atividade de Irrigação (PERAI),
que prevê a recuperação das APP ocupadas pela produção primária, especialmente
lavouras de arroz.
A partir da Resolução nº 100/2005, a concessão de novas licenças, bem
como a renovação de Licença de Operação de empreendimentos de irrigação
passou a estar condicionado a adesão do produtor ao Termo de Compromisso
Ambiental (TCA), que constará, no mínimo:
a) A delimitação e, quando necessário, a recuperação das APP na(s)
propriedades(s) onde está inserido o empreendimento, devendo atender um
mínimo anual de 25% dos parâmetros fixados nas Resoluções CONAMA nº
302/2002 e nº 303/2002, respeitados os acordos previamente estabelecidos
em cada bacia hidrográfica;
b) Que os empreendimentos, localizados até 10 Km de Unidade de
Conservação, deverão obter parecer do Gestor da Unidade de Conservação;
56

c) A outorga, que será exigida num prazo máximo de 05 (cinco) anos, iniciando
pelas bacias críticas e também pelos portes grande e excepcional (para todas
as bacias);
d) Penalidades pelo descumprimento do Termo de Compromisso Ambiental –
TCA.

Os critérios referentes às APP foram estabelecidos com base no Código


Florestal Federal (Lei nº 4.771/1965) e posteriores alterações (Lei n.º 7.803/89 e
Medida Provisória n.º 1.956/00), bem como nas Resoluções CONAMA nos. 302 e
303/2002. A referida legislação define APP como “área protegida por lei, coberta ou
não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos,
a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e
flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas”. Portanto,
são áreas que devem ser preservadas da ação antrópica, ou seja, livres de
exploração econômica.
De acordo com a Resolução nº 303 (CONAMA, 2002), constitui APP, as áreas
situadas ao longo de cursos d’água, ao redor de lagos e lagoas naturais, nascentes,
topo de morros, encostas com declividade superior a 45º ou 100% na linha de maior
declive, dentre outros. A faixa de proteção ao longo de cursos d’água varia de
acordo com a largura do manancial.
Para o entorno de reservatórios artificiais, as APP são definidas pela
Resolução nº 302 (CONAMA, 2002). A faixa de APP varia de acordo com a
superfície de alague, uso a que se destina, bem como a área (urbana ou rural) em
que estão situados.
Segundo o Código Florestal Federal (Lei nº 4.771/1965), a supressão total ou
parcial de florestas de preservação permanentes somente será admitido com
autorização prévia do Poder Público Federal, quando for necessário a execução de
obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou de interesse social.
De acordo com a referida legislação, as APP possuem diversas funções
ambientais, devendo respeitar uma extensão específica de acordo com a largura do
rio, lago, represa ou nascente. A formação vegetal localizada nas margens dos rios,
córregos, lagos, represas e nascentes, são chamadas de mata ciliar, mata de
galeria, floresta ripária, etc.
57

O avanço da agricultura, pecuária, loteamentos, construção de hidrelétricas,


etc, contribuíram para a redução da vegetação original, chegando em muitos casos
na ausência da mata ciliar. A mata ciliar desempenha funções relacionadas à
geração do escoamento direto na microbacia, à contribuição ao aumento da
capacidade de armazenamento da água, à manutenção da qualidade da água na
microbacia, através da filtragem superficial de sedimentos, e à retenção, pelo
sistema radicular da mata ripária, de nutrientes liberados dos ecossistemas
terrestres (efeito tampão), além de proporcionar estabilidade das margens, equilíbrio
térmico da água e formação de corredores ecológicos (FELIPE, 2007).

2.6.2 Ações de regularização na irrigação

Alguns setores usuários de recursos hídricos são estratégicos no âmbito do


PNRH e devem ser objeto de ações específicas de regularização. Dentre esses
setores destacam-se o de saneamento, o de transporte hidroviário, o industrial, o
energético, a irrigação e a aqüicultura (PNRH, 2006).
Conforme discorrido no item 2.2 (usos múltiplos da água), a irrigação é o uso
de recursos hídricos com maior demanda de água em termos consuntivos. Em
várias áreas no País com predominância de agricultura irrigada podem ser
percebidos conflitos pelo uso da água entre usuários do próprio setor ou com
usuários de outros setores como o de geração de energia hidrelétrica,
abastecimento público, etc. Sendo assim, torna-se de grande relevância que os
usuários de recursos hídricos desse setor tenham suas captações regularizadas por
meio da outorga (PNRH, 2006).
De acordo com IBAMA (2006), uma boa parte dos usuários de irrigação não
possui, ainda, conhecimento acerca da necessidade e dos pontos positivos de
buscar a sua outorga de direito de uso das águas.
O estabelecimento da Política e do Plano Nacional de Irrigação são
demandas essenciais para orientar o desenvolvimento desse setor. A elaboração de
um Cadastro Nacional de Irrigantes e de censos de irrigação de forma sistemática
são também instrumentos relevantes para o setor (PNRH, 2006).
58

O PNRH (2006) recomenda ainda a busca de alternativas, como parcerias


com as concessionárias de energia elétrica no sentido de que, ao instalar pontos de
energia para a utilização de sistemas de bombeamento no meio rural, seja solicitado
documento de outorga autorizando o uso da água. Outro parceiro importante das
autoridades outorgantes deve ser o órgão de financiamento bancário. Os usuários
de irrigação necessitam, em grande parte das vezes, financiar os sistemas de
irrigação ou mesmo o seu plantio. Sendo assim, é recomendada a articulação entre
essas entidades com a finalidade de determinar uma metodologia em que, ao
solicitar o financiamento bancário, os usuários de recursos hídricos sejam impelidos
a regularizar seu uso de recursos hídricos. Esse ponto é de grande relevância
também para o órgão de financiamento, pois com a obtenção da outorga, o usuário
aumenta a sua garantia de pagamento do empréstimo, decorrente da garantia do
suprimento de água para uma determinada área do empreendimento.
O setor orizícola é um dos que mais tem se preocupado com a adequação
das atividades à normatização e as regras ambientais (PIRES, 2008). No Rio
Grande do Sul, uma das primeiras medidas tomadas para a regularização do setor,
teve início em agosto/2007, com o cadastramento dos irrigantes.
A partir de 2003, por determinação do Conselho Estadual do Meio Ambiente
(CONSEMA), os produtores de arroz passaram a ter que obter o licenciamento
ambiental para exercerem atividades de cultivo, o que contribuiu para conscientizar o
produtor das preocupações com o meio ambiente. No Rio Grande do Sul, a única
cultura licenciada ambientalmente é o arroz (Lavoura Arrozeira, 2008).
Em 2005, com a instituição do PERAI, a emissão da licença ambiental passou
a ser condicionada a aceitação do TCA pelo produtor, o qual impõe restrições como
a necessidade de manutenção das APP e de obtenção da outorga de direito de uso
da água. Também prevê penalidades para o descumprimento das medidas.
Diversas ações vêm sendo recomendadas e implantadas para a regularização
das atividades de irrigação no Rio Grande do Sul. O IRGA vem desenvolvendo
ações no sentido de promover a conscientização dos produtores, na tentativa de
compatibilizar as atitudes na propriedade com a legislação ambiental vigente, com a
realização de cursos como Adequação Ambiental da lavoura de Arroz, certificação
de propriedades com o Selo Ambiental da lavoura de arroz, dentre outras (Lavoura
Arrozeira, 2008).
59

2.6.3 A legislação ambiental e a agricultura

Embora o Código Florestal Federal (Lei Federal nº 4.771/1965) esteja vigente


há mais de 40 anos, somente com a regulamentação da Lei de Crimes Ambientais
(Lei nº 9605/98), através do Decreto nº 6514/08 é que passou a ser objeto de muita
polêmica, tendo em vista as dificuldades que produtores vêm enfrentando para
adequar-se a legislação vigente, em especial a manutenção das APP.
Pires (2008) comenta que possivelmente o pequeno produtor tenha maiores
dificuldades de desocupação das áreas próximas aos cursos d’água (APP),
implicando em uma drástica redução da sua área produtiva.
Monteiro et al. (2007) realizou um estudo no município de Uruguaiana/RS,
considerado o maior produtor de arroz irrigado do Brasil (4% da produção nacional),
visando a quantificação das APP por barragens, rios e córregos, conforme previsto
pela legislação. Foi possível constatar que as APP correspondem a 20,68% e
40,94%, respectivamente, da área de lavoura do município. Observa-se que o
percentual de área, em relação a superfície ocupada por lavouras, é bastante
significativo. Isto deve-se principalmente a faixa de proteção ao longo do Rio Uruguai
(largura superior a 600 m), com faixa de APP corresponde a 500 m e, ao número
significativo de reservatórios existentes: 446 (com área superior a 5 hectares). Para
os reservatórios, como predomina áreas de alague superior a 20 hectares, a faixa de
proteção é de 100 m.
O atendimento a legislação em vigor – PERAI reduzirá substancialmente as
áreas de cultivo orizícola, conforme verificado no exemplo acima. Devido as
dificuldades que os produtores vem enfrentando no atendimento a legislação, o
prazo para adesão ao TCA, instituído pelo PERAI, havia sido prorrogado para
abril/2010 (LAVOURA ARROZEIRA, 2008). Entretanto, este prazo foi ampliado
novamente por mais 4 anos.
De acordo com Fischer (2008), é preciso estabelecer um tratamento
diferenciado em relação a legislação ambiental, de região para região, devido aos
limitantes que traz à atividade arrozeira, como a implantação de APP ao longo dos
cursos d’água, o estabelecimento das áreas de Reserva legal nas propriedades e a
dificuldade de construção de novos açudes para irrigação. Salienta ainda que, caso
a legislação seja cumprida na plenitude, o Rio Grande do Sul sofrerá uma redução
60

de 20% a 30% nas áreas de cultivo orizícola. Por essa razão o IRGA, através da
Comissão de Recursos Hídricos e Meio Ambiente, encaminhou uma série de
propostas ao Ministério da Agricultura para que sejam adequadas a legislação
(LAVOURA ARROZEIRA, 2008).
No Rio Grande do Sul, o Decreto Estadual nº 47.137/2010 concedeu aos
produtores rurais um prazo de 13 anos para recuperação das áreas de preservação
permanente, de forma gradativa, sendo que após 2 anos de adesão, terão de
recuperado 1/3 da área. Passados 8 anos, o decreto determina a recuperação de
2/3, além de apresentação de proposta de Reserva Legal e, ao final dos 13 anos,
toda a área deverá estar recuperada.

2.7 Modelos precipitação-vazão

Os modelos precipitação-vazão representam a parte do ciclo hidrológico entre


a precipitação e a vazão. Estes modelos devem descrever a distribuição espacial da
precipitação, as perdas por interceptação, evaporação, depressão do solo, o fluxo
através do solo pela infiltração, percolação e água subterrânea, escoamento
superficial, sub-superficial e no rio (TUCCI, 2002).
Segundo o mesmo autor, os aspectos mais importantes no uso e na estrutura
dos modelos hidrológicos são: os objetivos nos quais o modelo será utilizado; as
limitações do modelo na representação dos processos para os objetivos definidos e;
a qualidade e quantidade das informações utilizadas em conjunto com o modelo.
Os modelos utilizam critérios de subdivisão espacial para representar a bacia,
adotando uma das seguintes estruturas para discretização (MENDES; CIRILO,
2001):
- Concentrado: toda a bacia é representada por uma precipitação média e os
processos hidrológicos por variáveis concentradas no espaço;
- Distribuído por sub-bacias: o modelo permite a subdivisão da bacia em sub-
bacias, de acordo com a drenagem principal. A sub-divisão é realizada com base na
disponibilidade de dados, locais de interesse e variabilidade de parâmetros físicos
da bacia;
61

- Distribuído por módulos: esta discretização é realizada por formas


geométricas como quadrados, retângulos, sem relação direta com a forma da bacia,
mas caracterizando internamente os componentes dos processos.

A escassez de dados observados de vazão constitui uma realidade que


dificulta o trabalho de hidrólogos e projetistas de obras hidráulicas. Nestes casos, a
solução muitas vezes empregada é a utilização de modelos de simulação do
comportamento hidrológico em uma bacia hidrográfica com base em dados de
precipitação, como o modelo de transformação precipitação-vazão desenvolvido pelo
Soil Conservation Service (SCS), vinculado ao Departamento de Agricultura dos
Estados Unidos (USDA), a partir de dados de um grande número de bacias
experimentais (SCS, 1973).
O modelo SCS determina o escoamento superficial a partir de uma equação
empírica que requer como entrada a precipitação e um coeficiente relacionado às
características da bacia, conhecido como curva número (CN). Esse coeficiente
representa o escoamento superficial das características do tipo e uso do solo na
bacia (SHARMA; SINGH, 1992). A precipitação é totalmente convertida em
abstrações iniciais que correspondem a toda precipitação que ocorre antes do início
do escoamento superficial, englobando, além da interceptação e do armazenamento
superficial, toda a infiltração ocorrida durante esses dois processos.

2.8 Geoprocessamento

Segundo Hasenack et al.(1998), as técnicas de análise espacial introduzidas


com o geoprocessamento facilitam a integração e a espacialização dos dados e de
um grande número de variáveis, reduzindo a subjetividade nos procedimentos de
análise e possibilitando a visualização dos dados e a espacialização dos resultados
na forma de mapas. A possibilidade de combinar informação cartográfica e tabular,
bem como inserir conhecimento específico e/ou subjetivo em uma análise, torna um
sistema de geoprocessamento uma ferramenta especialmente útil para fins de
planejamento.
62

O geoprocessamento tem por finalidade fornecer ferramentas computacionais


para que os diferentes analistas avaliem a evolução espacial e temporal, bem como
as inter-relações entre os diferentes fenômenos geográficos. Dentre as ferramentas
estão os SIG’s (Sistemas de Informação Geográfica) que permitem realizar análises
complexas, ao integrar dados de diversas fontes e criar banco de dados
referenciados geograficamente (CÂMARA; MEDEIROS,1996).

2.8.1 Sistemas de Informação Geográfica

Os SIG apresentam como principais características a possibilidade de inserir


e integrar numa única base de dados (banco de dados), informações espaciais
provenientes de várias fontes, como: dados cartográficos, imagens de satélite, dados
censitários, dados de cadastro urbano e rural, dados de redes e de modelos
numéricos do terreno (CÂMARA; MEDEIROS,1996). Além dessas características,
proporcionam mecanismos para combinar diversas informações por meio de
algoritmos de manipulação e análise, bem como para consultar, recuperar, visualizar
e imprimir o conteúdo da base de dados georreferenciados.
De acordo com os mesmos autores, os principais tipos de dados
representados num SIG são: mapas temáticos, mapas cadastrais, redes, imagens de
sensoriamento remoto (satélite e de aerofotogrametria) e modelos numéricos do
terreno.
Existem basicamente duas formas de representação dos elementos espaciais
em ambiente SIG: a raster e a vetorial. A estrutura matricial descreve o espaço
geográfico na forma de uma matriz de células, a cada uma das quais é atribuído um
valor, composto por elementos denominados pixels. A resolução da célula matriz é
entendida como o tamanho e pode variar de submétrico a muitos quilômetros. Cada
pixel ou célula está associado com uma medida quadrática de terreno. A
representação matricial é mais adequada a manipulação de dados provenientes de
imagens de sensoriamento remoto, no tratamento do produto de operações de
interpolação espacial, aplicações integradas a modelos matemáticos e ainda na
operação algébrica entre mapas (MENDES; CIRILO, 2001).
63

Entretanto, segundo os mesmos autores, este tipo de representação exige


maior capacidade de armazenamento de dados e a precisão na representação dos
elementos espaciais esta intimamente relacionada ao tamanho da célula (resolução
da célula), tornando menos precisa a representação de entidades lineares com rios,
rodovias, linhas férreas, etc. No modo vetorial, o espaço é considerado contínuo,
não segmentado como no espaço raster, permitindo que todas as posições,
comprimentos e dimensões sejam definidos precisamente. A representação vetorial
é uma composição de três elementos básicos: o ponto, a linha e a área. A cada
figura é atribuído um número identificador que pode ser associado à seus atributos.

2.8.2 Sensoriamento Remoto

Nos últimos anos, houve uma grande inovação nas imagens orbitais para uso
comercial. A partir do desenvolvimento de satélites com sensores de alta resolução
espacial surgiram novos paradigmas na área do sensoriamento remoto. O
desenvolvimento de novos sistemas sensores, como o Ikonos-II e o Quickbird abriu
um novo campo no sensoriamento remoto (TANAKA; SUGIMURA, 2001).
Segundo Menezes e Netto (2001), o sucesso resultante do uso dessa
tecnologia tem estimulado aperfeiçoamentos crescentes, e as aplicações do
sensoriamento remoto multiplicam-se. Produtos com elementos adicionais de
informações são oferecidos a comunidade de usuários a cada ano, aprimorando-se
as resoluções espectrais e espaciais. Desta forma, os produtos gerados a partir das
técnicas de sensoriamento remoto se constituem em importantes ferramentas para
elaborar trabalhos, não individualizados, mas integrados, de forma que se possa
manusear e atingir os objetivos esperados.
De acordo com Crosta (1992), as imagens de sensoriamento remoto servem
de fontes de dados para estudos e levantamentos geológicos, ambientais, agrícolas,
cartográficos, florestais, urbanos, oceanográficos, entre outros, representando uma
das únicas formas viáveis de monitoramento ambiental em escalas locais e globais,
devido a rapidez, eficiência, periodicidade e visão sinóptica que as caracterizam.
As imagens são constituídas por um arranjo de elementos sob a forma de
uma malha ou grid. Cada cela deste grid tem sua localização definida em um
64

sistema de coordenadas do tipo ‘linha e coluna’, representadas por x e y,


respectivamente. O nome dado a essas celas é pixel – picture element. O pixel é a
unidade mínima da imagem que representa a reflectância média de uma área da
superfície, dentro do campo de visada instantânea (IFOV) do sensor colocado a
bordo do satélite. As características de cada pixel variam em função das diferentes
plataformas orbitais. Os valores médios da reflectância, coletados em diferentes
comprimentos de onda, dependem do alvo e dos detectores de cada sensor. Nas
imagens de satélite, esses valores são representados por níveis de cinza, os quais
variam do preto ao branco (NOVO, 1998).
3 MATERIAIS E MÉTODOS

Para atingir os objetivos propostos no presente estudo, foi adotado o


procedimento metodológico apresentado a seguir (Figura 3.1).

Figura 3.1: Fluxograma da metodologia adotada.


66

3.1 Localização geográfica da área de estudo

A sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande está situada na região Central do


Estado do Rio Grande do Sul, entre o Planalto Meridional Brasileiro e a Depressão
Periférica Sul Riograndense.
No contexto hidrológico, a área de estudo insere-se na Região Hidrográfica do
Atlântico Sul (RH do Guaíba, segundo divisão estadual), especificamente na Bacia
Hidrográfica Vacacaí – Vacacaí Mirim, abrangendo uma superfície territorial de
40.298,54 ha (402,9854 km²). Os principais cursos d’água que formam a sub-bacia
são: Arroio Grande, Arroio do Meio, Arroio do Veado, Arroio Lobato, Arroio Manoel
Alves e Rio Vacacaí-Mirim - afluentes do rio Vacacaí. A Figura 3.2 apresenta a
localização da sub-bacia do Arroio Grande no contexto da bacia hidrográfica
Vacacaí – Vacacaí Mirim.

Figura 3.2: Localização da sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande.


67

A ocupação da sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande teve início a partir de


meados do século XIX, com a chegada de imigrantes italianos, sendo intensificada a
partir de 1890, com o aumento das atividades agrícolas e comerciais, ligadas a
extração de madeira e cultivo agrícola. As principais culturas desenvolvidas na
região são o feijão, milho, soja e arroz irrigado. A estrutura fundiária da sub-bacia
está caracterizada por pequenas propriedades (FERRO; BEZZI, 2009).

3.2 Caracterização da área de estudo

3.2.1 Caracterização física

Com a finalidade de caracterizar fisicamente a sub-bacia do Arroio Grande


com informações espaciais vinculadas a um banco de dados, foi estruturado um SIG
(Sistema de Informação Geográfica) composto por diversos planos de informação.
Um SIG possibilita também a determinação de informações derivadas do
cruzamento de planos de informação.
Os planos de informação foram construídos a partir de diferentes fontes de
dados, permitindo assim a manipulação de dados espaciais. Primeiramente, foi
definido o sistema de referência espacial (coordenadas e Datum) a ser adotado,
visando a compatibilização entre os planos de informação provenientes de diferentes
sistemas de referência, sendo adotado o sistema de coordenadas planas – UTM,
fuso 22 e Datum horizontal SAD-69.
A partir das cartas topográficas da Diretoria de Serviço Geográfico (DSG), de
nomenclatura SH.22-V-C-IV-1/MI-2965/1 (Santa Maria) e SH.22-V-C-IV-2/MI-2965/2
(Camobi), projeção Universal Transversa de Mercator (UTM), Datum Horizontal
Córrego Alegre, zona 22, em escala 1:50.000, foram extraídos os planos de
informação referentes ao limite da sub-bacia e microbacias, hidrografia e curvas de
nível (eqüidistantes 20 m). O material cartográfico foi convertido do formato
analógico para o digital, através do processo de digitalização raster, utilizando-se
equipamento de varredura ótica. Posteriormente, foi feito a montagem do mosaico
68

das cartas topográficas e procedido ao georreferenciamento, utilizando o aplicativo


ArcGIS.
a) Delimitação da sub-bacia hidrográfica e hidrografia
Primeiramente, foi definido o divisor de águas da sub-bacia do Arroio Grande,
a partir da vetorização em tela sobre o mosaico georreferenciado das cartas
topográficas. O plano de informação relativo à hidrografia foi obtido pelo mesmo
processo de vetorização.
Tendo em vista a data de elaboração das cartas topográficas (1975), bem
como o histórico da área de estudo, que sofreu desvios de cursos d’água ao longo
do tempo e que teve a construção de inúmeras obras de reservação, em decorrência
da expansão das atividades de irrigação na sub-bacia, utilizou-se imagens do
satélite QuickBird, resolução espacial de 0,60 m, datadas de fevereiro/2008, como
forma de verificação e atualização destas informações, expressando a rede
hidrográfica existente, incluindo cursos d’água e reservatórios. Os limites municipais
foram obtidos a partir da base cartográfica georreferenciada, disponibilizada através
do endereço eletrônico http://www.mma.gov.br.

b) Caracterização do relevo da sub-bacia


Com base no plano de informação curvas de nível (eqüidistantes 20 m) e
pontos de cume, foi gerado o Modelo Numérico do Terreno (MNT), através de
interpolação matemática, para estimar valores de altitude do terreno nos locais não
amostrados, empregando-se a metodologia de redes de triangulação irregular,
tamanho de células 10x10, disponibilizada no módulo TIN do aplicativo ArcGIS.
A partir do MNT foi gerado o perfil dos cursos d’água de interesse, através do
módulo 3D Analyst, devendo primeiramente ser convertido o plano de informação do
curso d’água, individualmente, para representação 3D. Posteriormente, a geração do
perfil do curso d’água foi realizada através do comando Create Profile Graph.
Quanto as classes hipsométricas, que representam as altitudes do terreno em
intervalos de classes estabelecidos, foi obtido através da reclassificação do MNT,
em intervalos de 20 m. Para tanto, utilizou-se aplicativo ArcGIS 9.2, módulo
Properties – Classify – Defined Interval.
69

c) Uso e ocupação da terra


Para o estudo sobre o uso e ocupação da terra da sub-bacia do Arroio
Grande foram selecionadas as bandas multiespectrais do sensor CCD, 3, 4 e 5 do
satélite CBERS II, com resolução espacial de 20 m, imageadas em 16/10/2006,
disponibilizadas através do endereço eletrônico http://www.dgi.inpe.br.
Posteriormente foi efetuada uma composição colorida RGB (543), uma vez que
proporciona uma boa caracterização e diferenciação dos usos e coberturas da terra,
facilitando a análise visual sobre a imagem para extração de informações. Na
análise visual foram considerados aspectos referentes às características da área de
estudo.
Com base nestas informações, foram definidas as classes de uso e ocupação
das terras: floresta, campo, agricultura, área urbanizada, sombra, lâmina d’água.
Para a classificação destas classes, utilizou-se a supervisionada, que consiste na
seleção de amostras de treinamento representativas de cada classe de uso. Para a
coleta das amostras foram realizadas vetorizações em tela, de padrões de uso das
terras sobre a composição RGB (543).
Na delimitação das amostras, além do conhecimento prévio da área, foram
considerados critérios de interpretação de imagens, tais como: padrões de
associação de objetos, textura, tonalidade, cor e forma. O passo seguinte consistiu
na criação de assinaturas espectrais para cada classe de uso, por meio do módulo
Makesig do aplicativo Idrisi. Para a classificação automática utilizou-se o método de
Máxima Verossimilhança, disponibilizado no módulo Maxlike, com a opção de igual
probabilidade de ocorrência para cada assinatura e uma proporção de exclusão dos
pixels de 0% classificando, desta forma, todos os pixels da imagem.
Para a identificação da área urbana, utilizou-se o método de interpretação
visual sobre imagens QuickBird, disponibilizadas no aplicativo computacional Google
Earth. Visando eliminar resíduos da classificação digital, utilizou-se operações com o
filtro mediana 5x5. Em uma última etapa, foi realizada uma reamostragem dos pixels
do mapa de classes temáticas de uso da terra, alterando a grade de 20x20 para
10x10. Para tanto, utilizou-se o aplicativo Idrisi, através do comando expand. Este
procedimento de reamostragem de pixel foi realizado tendo em vista os cruzamentos
que serão feitos com outros mapas temáticos que foram elaborados com esta
resolução.
70

A partir da classificação automática dos temas de uso da terra, foi


determinada a classe temática agricultura. Para a identificação das áreas ocupadas
por culturas irrigadas, foi efetuado levantamento in loco, com o auxílio de GPS e
imagem Quickbird, possibilitando assim o reconhecimento a campo e interpretação
visual da imagem, para quantificação em laboratório. Nesta etapa, também foi
utilizado o cadastro de irrigantes realizado por Marcolim (2000) – item 3.3.1.1. A
superfície ocupada pela agricultura irrigada foi quantificada por microbacia, através
do cruzamento dos respectivos planos de informação.

d) Classes de solos
A determinação das classes de solos da sub-bacia hidrográfica do Arroio
Grande baseou-se na caracterização proposta por Streck et al. (2002). Entretanto,
devido à escala do mapa disponível (1:750.000), o qual permite identificar uma área
mínima mapeável de 2.250 ha, fez-se necessário a coleta de amostras de solo a
campo, visando a determinação das características físicas dos solos da área de
cultivo orizícola, conforme descrito no item 3.3.1.2.

3.2.3 Análise do comportamento hidrológico

Considerando que a sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande não possui


estação fluviométrica em operação, no presente estudo foram utilizados dados
hidrológicos da estação Restinga Seca (85438000), localizada a jusante da área de
estudo, pertencente a rede hidrometeorológica da Agência Nacional de Águas
(ANA), disponível no endereço eletrônico http://www.ana.gov.br. A estação
fluviométrica Restinga Seca apresenta uma superfície de drenagem equivalente a
914 km², enquanto que a sub-bacia do Arroio Grande, 402,99 km².
71

3.3 Estimativa da demanda hídrica

A categoria de uso consuntivo considerada neste estudo foi basicamente a


irrigação, tendo em vista as características da área de estudo, bem como a
representatividade desta categoria frente às demais, no que se refere ao uso da
água. A cultura irrigada predominante está no cultivo orizícola, embora também seja
desenvolvida a olericultura. Entretanto, devido a representatividade da lavoura
orizícola em relação a olericultura, tanto em área de cultivo como em vazão
consumida, considerar-se-á apenas a demanda da lavoura orizícola.
A irrigação da lavoura orizícola é praticada por aproximadamente 100 dias no
ano, normalmente entre os meses de novembro a fevereiro.

3.3.1 Irrigação

3.3.1.1 Cadastro de irrigantes

Primeiramente, buscou-se junto ao Instituto Riograndense do Arroz (IRGA),


Unidade Regional de Santa Maria, informações relativas ao cadastro de irrigantes da
área de estudo. Foram disponibilizadas informações cadastrais levantadas no Censo
2003/04, relativas à identificação do produtor (código), área de cultivo, sistema de
cultivo, método de irrigação, manancial utilizado para a irrigação, energia para o
sistema de bombeamento e localidade (distrito).
A área de cultivo orizícola indicada no Censo, refere-se aquela declarada pelo
produtor, baseado muitas vezes em estimativas.
Posteriormente, procedeu-se a uma pesquisa junto ao Departamento de
Recursos Hídricos (DRH), órgão gestor estadual que concede as outorgas de uso da
água, onde foram fornecidos dados relativos ao nome do usuário, localização
(coordenadas geográficas), vazão concedida, período de vigência e manancial de
captação.
72

Também buscou-se informações relativas a pesquisas na sub-bacia junto a


Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), sendo encontrado um estudo
realizado por Marcolim (2000), contendo um cadastro dos irrigantes, com
informações relativas a localização (coordenadas geográficas) do ponto de tomada
d’água para irrigação, cultura irrigada, manancial de captação, dentre outras
informações pertinentes ao estudo.

3.3.1.2 Demanda hídrica da cultura orizícola

No presente estudo, a determinação da necessidade hídrica da cultura


orizícola na sub-bacia do Arroio Grande baseou-se na metodologia proposta por
Robaina (2007). Os parâmetros necessários foram obtidos conforme apresentado a
seguir:
A caracterização físico-hídrica dos solos da área de cultivo orizícola da sub-
bacia do Arroio Grande foi obtida a partir da coleta de amostras a campo em
diferentes profundidades e ensaios de laboratório. O ponto amostrado, com
coordenadas geográficas 29º40'35" de latitude Sul e 53º38'35" de longitude Oeste,
está localizado em uma área de cultivo orizícola, distante da área de transição entre
os tipos de solos.
A partir dos ensaios, realizados no Laboratório de Física de Solos do Centro
de Ciências Rurais da UFSM, obteve-se para cada amostra analisada, em diferentes
profundidades, a textura, densidade do solo e da partícula, permeabilidade,
condutividade hidráulica saturada e porosidade. Também foi identificada a
profundidade e a espessura da camada impermeável, bem como as características
do perfil do solo.
Os dados de evapotranspiração utilizados basearam-se em determinações
efetuadas por Corrêa (2007), a partir de leituras diárias de evaporação em tanque
Classe A, da estação meteorológica da Universidade Federal de Santa Maria, no
período compreendido entre 11 de outubro de 2005 a 31 de março de 2006
(correspondente a fase compreendida entre a semeadura e o término do ciclo do
arroz). Foi determinado uma média de evaporação nesse período de 0,006 m/dia,
73

considerando os coeficientes de cultura (Kc) médios para o período referente a fase


vegetativa e reprodutiva da cultura.
Quanto à altura da lâmina d’água na lavoura, foi adotada uma lâmina média
de 10 cm, conforme preconizado por Gomes et al. (1992).
Para a variável relacionada a produtividade estimada de grãos (Pe),
considerou-se a média apresentada pelo IRGA para a safra 2008/2009 para a região
da Depressão Central, ou seja, em torno de 5.500 kg/ha.
Os parâmetros relacionados ao índice de colheita (Ic: 44%), umidade dos
grãos (Ug: 13%) e fator de transpiração (mt: 0,38 m³/Kg de matéria seca), basearam-
se em experimentos conduzidos por Weber (2000) na região.
A partir de dados compilados do Censo do IRGA, o início da irrigação na
região da Depressão Central concentra-se na faixa de 15 a 30 dias após a
semeadura, sendo que esta vem sendo realizada por grande parte dos produtores
na primeira quinzena de novembro (SANTOS, 2005). O período de irrigação da
cultura orizícola extende-se, em média, por 100 dias, considerado no presente
estudo.
A caracterização dos dados de oferta e demanda hídrica engloba o período
de novembro a fevereiro, tendo em vista a possível variabilidade da demanda em
função da época de semeadura, sabendo-se também que o IRGA vem
recomendando a antecipação da semeadura para o mês de outubro, devido a
fatores climáticos.
Para a quantificação da área irrigada na sub-bacia hidrográfica do Arroio
Grande e respectivas microbacias, utilizou-se técnicas de geoprocessamento,
conforme descrito no item 3.2.2. A demanda orizícola na sub-bacia foi obtida através
do produto dos coeficientes necessidade hídrica da cultura e respectiva área
irrigada.
A seguir é apresentado a metodologia adotada no presente estudo para a
determinação da necessidade hídrica da cultura orizícola na sub-bacia hidrográfica
do Arroio Grande, onde o consumo de água da lavoura de arroz é o somatório dos
volumes necessários para: saturação do solo (V1), formar a lâmina na lavoura (V2),
compensar as perdas por evaporação (V3), compensar as perdas por infiltração (V4)
e, para atender a transpiração da cultura (V5), expressos em m³/ha.
74

a) Volume de água necessário para saturação do solo (V1)

U saturação −U atual
V1 = ( ) ⋅ Pci ⋅ ds ⋅ f [3.1]
100
Onde:
Usaturação: umidade de saturação do solo (%);
Uatual: umidade atual do solo (%);
Pci: profundidade da camada impermeável (m);
ds: densidade do solo (g/cm³);
f: 10.000 (fator de conversão: m3/ha).

A Usaturação é determinada através da seguinte expressão:

n
U saturação = [3.2]
ds
Onde n é a porosidade do solo, dada pela expressão:

ds
n = 1− [3.3]
dp
Onde:
dp: densidade de partícula (g/cm³).

b) Volume de água necessário para formar a lâmina na lavoura (V2)

V2 = hl ∗ f [3.4]
Onde:
hl: altura da lâmina d’água na lavoura (m);
f: 10.000 (fator de conversão: m3/ha).

c) Volume de água necessário para compensar as perdas por evaporação (V3)

V3 = he ⋅ Pi ⋅ f [3.5]

Onde:
he: altura de lâmina evaporada (m/dia);
75

Pi: período de irrigação da cultura (dias);


f: 10.000 (fator de conversão para m3/ha).

d) Volume de água necessário para compensar as perdas por infiltração (V4)

⎛ Pci + h ⎞
V4 = K ⋅ ⎜ ⎟ ⋅ Pi ⋅ f [3.6]
⎝ Eci ⎠
Onde:
K: coeficiente de permeabilidade do solo (m/dia);
Eci: espessura da camada impermeável (m);
f: 10.000 (fator de conversão: m3/ha).

e) Volume necessário para atender a transpiração da cultura (V5)

⎛ ⎛ U ⎞⎞
⎜ Pe ⋅ ⎜1 − ⎟⎟
V5 = ⎜ ⎝ 100 ⎠ ⎟
⋅m [3.7]
⎜ Ic ⎟ t
⎜ ⎟
⎝ ⎠
Onde:
Pe: produtividade estimada de grãos (kg/ha);
U: índice de umidade (%);
Ic: índice de colheita (%);
mt: fator de transpiração (m³/kg de matéria seca).

f) Volume total de água necessário para atender a demanda da cultura (VT)

VT = V1 + V2 + V3 + V4 + V5 [3.8]

3.3.1.3 Demanda hídrica da cultura por microbacia

A quantificação da demanda hídrica da cultura orizícola por microbacia foi


obtida através da expressão:
76

VTmi = VT ⋅ Airrigmi [3.9]

Onde:
VTmi: necessidade hídrica da cultura por microbacia (m³/ha);
VT: necessidade hídrica da cultura (m³/ha);
Airrigmi: área irrigada na microbacia i (ha).

3.4 Estimativa da disponibilidade hídrica

3.4.1 Capacidade de irrigação dos reservatórios

Primeiramente, buscou-se fazer uma análise multitemporal da oferta de água


em reservatórios na sub-bacia, através da análise comparativa entre os planos de
informação derivados das cartas topográficas – escala 1:50.000, com informações
que datam de fotografias aéreas de 1975 e, com base em imagem de satélite de alta
resolução (0,60m), datado de 2008.
A estimativa da disponibilidade hídrica de reservatórios foi obtida através da
fórmula de Schoklisch, representado pela seguinte expressão:

V = η ⋅ Asa ⋅ H max [3.10]

Onde:
V: volume de água armazenado (m³);
η: parâmetro de Schoklisch;
Asa: área da superfície de alague (m²);
Hmax: altura máxima da lâmina d’água (m).

O parâmetro Schoklisch η está relacionado com o fator de forma dos


reservatórios. De acordo com Robaina et al. (2009), o IRGA adota o parâmetro
η = 4/9, ficando a expressão conhecida no Rio Grande do Sul como fórmula do
IRGA.
77

A área da superfície de alague dos reservatórios foi determinada através do


plano de informação reservatórios, extraído de imagem de satélite de alta resolução
(0,60m), utilizando o aplicativo ArcGIS.
Em seguida, foi realizado o agrupamento da área da superfície de alague dos
reservatórios, através de amostragem estratificada, em intervalos de classes, de
modo a se ter uma melhor compreensão do padrão de variabilidade da variável em
questão. A definição do número de classes (NC) baseou-se na expressão proposta
por Kottegoda e Rosso (1977), sugerindo que NC pode ser aproximado pelo inteiro
mais próximo de N , onde N representa o tamanho da amostra.
Após a definição do NC, foi determinado a amplitude de cada agrupamento. A
partir da definição dos intervalos de cada classe, buscou-se informações referente a
altura máxima da lâmina d’água dos reservatórios, a qual foi fornecida pelos
orizicultores da região.
A capacidade de irrigação dos reservatórios foi determinada através da
relação entre o volume de água armazenado e a necessidade hídrica da cultura
(item 2.8.3), representado pela expressão:

V
C irrig = [3.11]
NH cultura
Onde:
Cirrig: capacidade de irrigação (ha);
V: volume de água armazenado (m³);
NHcultura: necessidade hídrica da cultura (m³/ha).

Posteriormente, foi determinado a capacidade de irrigação dos reservatórios,


por microbacia, através da extratificação dos dados da sub-bacia, utilizando-se
operações de cruzamento entre os planos de informação para determinar a
superfície de alague e respectiva área individualizada.
78

3.4.2 Vazões médias e mínimas

Devido à fraca densidade de estações fluviométricas monitoradas no Brasil,


principalmente para bacias com pequena drenagem, dificilmente as seções de
referência podem ser definidas coincidentes com a existência de um posto de
monitoramento fluviométrico.
Existem diversos métodos para estimar a disponibilidade hídrica de locais
com ausência de dados, a partir da transposição de informações de seções
hidrológicas tomadas como referência, para as quais se dispõe de avaliação de
disponibilidade hídrica (vazões médias diárias, curva de permanência, vazões
mínimas).
Entre as possibilidades, há a aplicação de técnicas interpolativas, de
regionalização, de ajustes de modelos hidrológicos e técnicas com pequenas
amostragens locais. Neste estudo, é utilizado o modelo de proporção de áreas.
O modelo de proporção de áreas é um método interpolativo de uso freqüente
(RIBEIRO, 2000; RAMALHO et al., 1997). Este modelo tem como princípio básico a
hipótese de que o escoamento por unidade de área (vazão específica) em uma
seção de rio sem monitoramento seja o mesmo para uma seção próxima
monitorada, utilizada como referência, e que esteja em uma região hidrologicamente
homogênea, sujeita a regimes pluviométricos semelhantes. Neste método, a vazão
na seção de interesse é obtida por:

Aalvo
Qalvo = Q fonte ⋅ [3.12]
A fonte

Onde:
Qalvo: vazão no local de interesse (m³/s);
Qfonte:vazão na seção com dados (m³/s);
Aalvo:área da bacia hidrográfica de contribuição à seção de interesse (m²);
Afonte: área da bacia hidrográfica de contribuição à seção com dados (m²).

O modelo de proporção de áreas foi adotado para a transposição de dados da


estação fluviométrica Restinga Seca (área de drenagem: 914 km²) para a sub-bacia
do Arroio Grande (área de drenagem: 402,99 km²) e, respectivas microbacias,
79

determinando assim a série de vazões médias e mínimas diárias para o período de


1979 – 2005.

3.4.3 Vazões naturais

Considerando que na área de estudo a demanda hídrica da cultura orizícola é


intensiva no período de novembro-fevereiro, ou seja, as vazões são afetadas
sazonalmente pelo uso, os dados fluviométricos não expressam as vazões naturais.
Tendo em vista a necessidade de estimar as vazões naturais na sub-bacia,
com vistas à determinação de vazões de referência (vazão ambiental, Q90), bem
como analisar as condições de oferta e demanda por microbacia e PC – Ponto de
Controle, foi determinado a vazão natural, sendo considerado aquelas observadas
na estação fluviométrica (obtida pelo método de proporção de áreas), acrescida da
vazão consumida pela irrigação (definida com base na área irrigada e respectiva
demanda da cultura), para os meses de demanda da cultura, ou seja, novembro a
fevereiro.
Considerando que parte da demanda da irrigação é atendida através de
reservatórios existentes na sub-bacia, foi determinada esta parcela de vazão, sendo
subtraído da vazão consumida pela irrigação. A determinação das vazões naturais
baseou-se na seguinte expressão:

Qnatural = Qobs + Qirrig − Qreserv [3.13]

Onde:
Qnatural: vazão diária natural (m³/s);
Qobs: vazão diária observada (m³/s);
Qirrig: vazão consumida pela irrigação (m³/s);
Qreserv: vazão consumida pela irrigação atendida pelos reservatórios (m³/s).

Devido à questão de incertezas presente na estimativa pontual dos


parâmetros de vazões naturais médias diárias, devido a variabilidade inerente às
amostras aleatórias que lhe deram origem, nos remete a construção de intervalos de
80

confiança. Para tanto, será utilizado o Teorema do Limite Central, para determinar o
intervalo de confiança de 95% das vazões naturais médias diárias, para os meses de
novembro a fevereiro, através da seguinte expressão:

⎛ σ σ ⎞
P⎜⎜ Qm − 1,96 ⋅ < µ < Qm + 1,96 ⋅ ⎟⎟ = 0,95 [3.14]
⎝ N N⎠
Onde:
Qm: vazão média diária (m³/s);
σ : desvio padrão (vazões médias diárias);
N: tamanho da amostra;
µ: intervalo de confiança.

O intervalo de confiança de 95% representa a probabilidade de que, em um


ano qualquer, a vazão de permanência tenha valores dentro deste intervalo, ou, há
2,5% de probabilidade de que o valor da vazão de permanência seja maior que o
limite superior e, da mesma forma, 2,5% de probabilidade que o valor seja menor
que o limite inferior.

3.4.4 Vazões de referência

As vazões de referência utilizadas neste estudo foram determinadas a partir


da construção da curva de permanência, com o objetivo de caracterizar:
a) a vazão ambiental;
b) a vazão disponível em 95% do tempo (Q95), indicativo da disponibilidade
hídrica de uma bacia hidrográfica;
c) o percentual de atendimento a demanda, para os cenários atual (demanda
para irrigação) e futuro 1 (demanda para irrigação e ambiental), no contexto da sub-
bacia.

A curva de permanência da sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande foi


construída com base nas vazões naturais médias diárias, com um intervalo de
confiança de 95%, para cada mês analisado (novembro – fevereiro). Os intervalos
81

de confiança em torno da média constituem uma medida da variabilidade das


permanências das vazões.
A curva de permanência de vazões é utilizada para caracterizar a distribuição
temporal probabilística da disponibilidade hídrica. A permanência de uma vazão
representa a probabilidade de excedência dessa vazão no tempo, ou seja, é definida
como a probabilidade de ocorrência da vazão média diária do curso d’água ser maior
ou igual a um determinado valor, no período de sua amostra. O método consiste em
atribuir a cada vazão q uma probabilidade de excedência associada p:

p = 1 − P{Q ≤ q} [3.15]
Onde:
p : freqüência de excedência;
q: vazão;
P: função de probabilidade.

A vazão Qx% é freqüentemente chamada de função empírica e pode ser


estimada a partir de uma função empírica de percentis (probabilidades acumuladas),
a partir da escolha de uma posição de plotagem. Uma das mais utilizadas para a
determinação das curvas de permanência é a equação de Weibull, como nos
estudos de Jacobs e Voguel (1998).
Sendo i o número de ordem do inésimo valor ordenado de vazão q (i), e n o
número de dados ordenados, tem-se que a probabilidade de excedência pi de q(i) é
dada por:
pi = 1 − FQ [q(i )] [3.16]

Onde a posição de plotagem de Weibull correspondente é dada por:


i
pi = [3.17]
n +1

As Figuras 3.3 (a) e (b) exemplificam a forma de representação da curva de


permanência.
82

Figura 3.3 - Curva de permanência.


Fonte: adaptado de Jacobs e Vogel (1998).

De modo a contemplar os aspectos de sazonalidade de vazões presentes na


sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, as curvas de permanência foram
construídas para intervalos mensais, abrangendo o período de novembro a
fevereiro, com base na série histórica das vazões médias naturais, no período
compreendido entre os anos de 1979 a 2005.

a) Vazão ambiental
Os critérios referentes à definição da vazão ambiental no Brasil ainda
encontra-se em fase de definição pelos Planos de Bacia. Cada Estado vem
adotando critérios específicos, como a Q7,10 (vazão com 7 dias de duração e 10 anos
de tempo de retorno) e um determinado percentual da Q90 (vazão de permanência
de 90%).
No Estado do Rio Grande do Sul ainda não estão definidos pela legislação os
critérios para a vazão ambiental, embora em diversos estudos realizados tenha sido
adotado 30% da Q90, como o citado por Silveira et al. (2003).
Neste estudo foi adotado o critério de demanda ambiental equivalente a 30%
da Q90, incluindo assim na análise das condições de oferta e demanda hídrica da
sub-bacia a parcela de preservação, ou seja, de manutenção de níveis mínimos em
um curso d’água. A vazão ambiental foi determinada para cada mês (novembro –
fevereiro), de modo a contemplar os aspectos de sazonalidade.
83

b) Vazão disponível em 95% do tempo (Q95): indicativo da disponibilidade hídrica de


uma bacia hidrográfica, retratando a parcela de tempo que determinada vazão é
igualada ou superada durante o período analisado (Tucci, 2002).

3.5 Determinação das Áreas de Preservação Permanente (APP)

A determinação das APP na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande seguiu o


estabelecido no Código Florestal Federal (Lei nº 4.771/65) e nas Resoluções
CONAMA nº 302 e 303/2002, conforme descrito no item 2.7.1.
Para a hidrografia, a legislação estabelece faixas de proteção, que variam de
acordo com a largura do leito dos cursos d’água e; para as nascentes é estabelecido
um raio de proteção de 50 m (Resolução CONAMA nº 303/2002). No caso dos
reservatórios artificiais, a Resolução CONAMA nº 302/2002, determina faixas
diferenciadas, conforme o uso a que se destina, a área em que esta localizado, bem
como a superfície de alague.
Na elaboração do presente estudo, foram considerados os seguintes critérios,
de acordo com as características apresentadas pela área:
a) Cursos d’água: largura inferior a 10 m e entre 10 e 50 m - faixa de proteção
de 30 e 50m, respectivamente;
b) Nascentes: raio de proteção de 50 m;
c) Reservatórios artificiais: reservatório situado em área urbana: faixa de
proteção de 30 m; reservatório com até 20 ha (não utilizados em abastecimento
público ou geração de energia elétrica), situado em área rural: faixa de proteção de
15m.

Tendo em vista que o estudo visa identificar as áreas com cultivo irrigado em
APP, não foram considerados outros critérios previstos na legislação brasileira
vigente, como por exemplo, declividade superior a 100%, topo de morro e linha de
cumeada, uma vez que não é desenvolvido tal cultura em áreas com estas
características.
As APP, ao longo de cursos d’água, nascentes e reservatórios artificiais,
foram determinadas com base na análise buffer (zona tampão), utilizando-se
84

técnicas de geoprocessamento, através do aplicativo ArcGIS, ferramenta ArcToolbox


– Analysis Tools – Proximity – Buffer. A partir da sobreposição dos planos de
informação obteve-se as APP da sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande.
Visando identificar o cenário do uso da terra das APP na sub-bacia, em
especial, das áreas ocupadas pela agricultura irrigada, as quais deverão ser
suprimidas, foi realizado o cruzamento dos planos de informação APP x uso da terra.
Para tanto, foi utilizado o aplicativo ArcGIS - ferramenta Spatial Analyst – Raster
Calculation.
Com o objetivo de quantificar e espacializar a necessidade de redução da
área irrigada na sub-bacia, os dados foram novamente extratificados, por
microbacia.

3.6 Composição dos cenários de oferta e demanda hídrica

A análise das condições de disponibilidade hídrica x demanda da área de


estudo foram realizadas no contexto da sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande e
por PC, para o período de novembro a fevereiro, com o objetivo de identificar as
condições em nível de sub-bacia e pontuais.
Os PC foram posicionados estrategicamente, permitindo avaliar os conflitos
entre as ofertas e demandas hídricas, dando uma visão sistemática e integrada.
Através da análise dos diferentes cenários, obteve-se a vazão remanescente na sub-
bacia e por PC.
A demanda hídrica considerada para as análises refere-se aquela
preponderante na área de estudo – orizicultura irrigada e, a demanda ambiental,
tendo como resultante a vazão remanescente (Qrem), que refere-se aquela disponível
para novos usos. Para a disponibilidade hídrica dos cursos d’água, foram
consideradas as vazões naturais disponíveis em 95% do tempo (Q95), determinada
através da curva de permanência.
Para a análise das condições de disponibilidade hídrica X demanda da área
de estudo foram compostos cenários, conforme apresentado na Tabela 3.1 a seguir:
85

Tabela 3.1 – Composição dos cenários de disponibilidade x demanda hídrica.


CENÁRIO DEMANDA HÍDRICA DISPONIBILIDADE HÍDRICA
1 cultura orizícola existente cursos d'água e reservatórios
2 cultura orizícola (excluindo as áreas de cultivo em APP) cursos d'água e reservatórios
vazão ambiental (30%Q90)
3 cultura orizícola (excluindo as áreas de cultivo em APP) cursos d'água e reservatórios
vazão ambiental (30%Q90) barragens temporárias

Conforme apresentado na Tabela 3.1, o cenário 1 expressa a realidade atual


na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, ou seja, considera a demanda hídrica
da cultura orizícola existente e a disponibilidade dos cursos d’água e reservatórios.
Para o cenário 2, é considerado o atendimento a legislação ambiental, ou
seja, exclui-se a demanda hídrica necessária para as áreas de cultivo orizícola em
APP e, inclui a necessidade de manutenção de níveis mínimos de vazão nos cursos
d´água, denominada vazão ambiental (30%Q90).
O cenário 3 considera o atendimento a legislação ambiental (mesmos critérios
do cenário 2), acrescido da disponibilidade hídrica ofertada pelas barragens
temporárias, instaladas no álveo de determinados cursos d’água, como forma de
armazenamento de água para suprir a demanda.

3.6.1 Análise da vazão remanescente

3.6.1.1 No contexto da sub-bacia hidrográfica

Para o contexto da sub-bacia, a análise da vazão remanescente foi realizada


com base na curva de permanência, que indica o percentual do tempo em que
determinada vazão está disponível. A análise foi realizada para os cenários 1 e 2.
86

3.6.1.2 Vazão remanescente por Ponto de Controle (PC)

A análise da vazão remanescente por PC indica os locais com maior


vulnerabilidade hídrica da sub-bacia, devido às condições de disponibilidade X
demanda. Foram analisados a proporção da demanda para irrigação e ambiental em
relação à vazão disponível (Q95).
Considerando a análise do cenário 2 bem como os demais critérios
estabelecidos, foram definidos os locais para implantação das barragens
temporárias infláveis. Após esta definição, foi caracterizada cada seção, através de
perfis transversais e longitudinais, determinando a capacidade de acumulação de
cada estrutura móvel implantada e, respectiva capacidade de irrigação da cultura
orizícola.
A análise da elevação do nível de garantia de disponibilidade hídrica
propiciado pelas estruturas temporárias (barragens infláveis) para a cultura orizícola,
foi realizado para o período de novembro a fevereiro, quando ocorre a irrigação.
A partir da quantificação da capacidade de armazenamento das barragens
temporárias, locadas estrategicamente com a finalidade de atender a demanda,
procedeu-se a simulação do cenário 3.
Neste cenário foi avaliado a sustentabilidade hídrica da cultura orizícola na
sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, através de um conjunto de medidas
estruturais (implantação de barragens infláveis) e não-estruturais (eliminação da
área de cultivo em APP, vazão ambiental) propostas.

3.7 Armazenamento de água no álveo - Barragens Temporárias Flexíveis

A implantação de barragens flexíveis infláveis para fins de armazenamento de


água no leito fluvial baseou-se na análise espaço-temporal das condições de oferta
e demanda na sub-bacia, que indicou os locais que possuem conflitos pelo uso da
água, bem como a demanda necessária. Também foram considerados fatores como
condições de acesso para construção e manutenção das barragens e densidade da
vegetação as margens do manancial.
87

O volume acumulado por cada reservatório formado no álveo com a


instalação das barragens temporária foi determinado a partir de perfis topográficos
longitudinais e transversais elaborado para cada seção de curso d’água. O perfil
transversal foi elaborado através de levantamento in loco, com o uso de estação
total, trena métrica e GPS, para cada seção do curso d’água onde está sendo
proposto a instalação de barragens temporárias, caracterizando assim a calha do
curso d’água. O perfil longitudinal dos cursos d’água de interesse na sub-bacia, foi
elaborado com base no MNT, através do aplicativo ArcGIS. Os níveis (altitudes) dos
trechos dos cursos d’água também foram levantados com receptor GPS,
devidamente calibrado, para fins de conferência de informações.
Na determinação da capacidade de irrigação das barragens temporárias é
necessário a destinação de uma parcela de vazão a manutenção de níveis mínimos
no manancial (vazão ambiental - Qamb). A outra parcela de armazenamento de água
no reservatório é o chamado volume útil, ou seja, a porção destinada ao
atendimento das demandas dos usuários, exceto a demanda ambiental.
Esse tipo de estrutura deve também prever uma altura para a chamada borda
livre, nível este que pode ser considerado balizador para o processo de remoção
automática da estrutura móvel. As barragens temporárias flexíveis infláveis
instaladas no álveo de cursos d’água possuem a mesma função de um vertedor. A
Figura 3.4 apresenta a parcelas que compõem a estrutura.

Figura 3.4 - Parcelas que compõem uma barragem temporária flexível.


Fonte: adaptado de Souza (2008).
88

3.7.1 Dimensionamento de Barragens Temporárias Flexíveis Infláveis

A altura máxima da membrana de uma barragem inflável a ser instalada é


definida em função das características de cada seção, ou seja (Figura 3.5):

(H calha − OS )
Hbi max = [3.18]
1,20
Onde:
Hbimax: altura máxima da barragem inflável (m);
Hcalha: altura da calha do curso d’água (m);
OS: orla de segurança (m).

A altura máxima da calha do curso d’água considerada refere-se aquela das


pontes existentes e, a altura máxima de transbordamento para as barragens infláveis
com ar equivale a Ho = 0,20.Hbi. Para a orla de segurança, foi adotado 0,50 m.

Figura 3.5 - Características de uma seção transversal para barragens flexíveis infláveis.
Fonte: adaptado de Souza (2008).

O tempo de acionamento da estrutura flexível varia em função do volume da


membrana e do tipo de enchimento: ar ou água. A indicação do tempo para
acionamento das barragens infláveis propostas neste estudo baseou-se em
catálogos técnicos da fabricante Savatech (2009).
89

3.8 Determinação do escoamento superficial

Para a determinação do escoamento superficial direto na sub-bacia do Arroio


Grande foi utilizado o método da Curva-Número (CN) do Serviço de Conservação de
Solos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (SCS, 1964). A equação
do escoamento utilizada no método foi desenvolvida por Victor Mockus e outros por
volta de 1947 (SCS, 1973). Foi concebida, sobretudo, para utilização em pequenas
bacias, através de dados de bacias experimentais com vários tipos e uso do solo e
técnicas de plantio. Como a equação foi desenvolvida a partir de dados de chuva
diária, o método é adequado para estimativa do escoamento superficial direto para o
período de 1 dia ou menos (TUCCI, 1998).
O escoamento superficial direto (Q) é obtido através da seguinte equação:

(P − I a ) 2
Q= [3.19]
(P − I a ) + S
Onde:
Q: escoamento superficial (mm);
P: precipitação (mm);
S: armazenamento potencial máximo do solo (mm);
Ia: perdas iniciais incluindo por armazenamento na superfície, interceptação e
infiltração até a saturação da camada inicial do solo (mm).

As perdas iniciais, representadas por Ia na equação 3.19, são bastante


variáveis, mas geralmente podem ser relacionadas com o tipo de solo e a cobertura
vegetal. A partir de um estudo envolvendo pequenas bacias hidrográficas dos EUA,
Ia foi determinado como função do armazenamento potencial máximo do solo (S). A
relação, apresentada na equação 3.20, remove a necessidade da estimativa de Ia
para uso comum ou para locais sem a disponibilidade de dados.

I a = 0,2 ⋅ S [3.20]

Desta forma, não existe precipitação em excesso até que a precipitação P


seja maior que as perdas iniciais Ia=0,2.S. Depois de superado o valor de Ia, a vazão
90

resultante Q é o resíduo da subtração entre a infiltração na bacia e a precipitação P.


O volume máximo retido tende ao armazenamento potencial máximo S, conforme o
tempo tende a infinito. Assim, tem-se:

( P − 0,2 ⋅ S ) 2
Q= [3.21]
P + 0,8 ⋅ S
Onde S (armazenamento potencial máximo do solo) pode ser determinado através
da equação:
25400
S = − 254 [3.22]
CN

O parâmetro CN varia de 0 a 100. Esta escala retrata as condições de


cobertura do solo e capacidade de infiltração e, escoamento superficial em função
do tipo de solo, sendo tabeladas de acordo com esses parâmetros, variando desde
uma cobertura muito permeável (limite inferior) até uma cobertura completamente
impermeável (limite superior). A Tabela contendo o parâmetro CN é apresentado nos
Anexos III e IV.
Com relação aos tipos de solo e condições de ocupação, o SCS distingue
quatro grupos hidrológicos de solos, que variam desde areias com grande
capacidade de infiltração a solos argilosos com capacidade de infiltração
extremamente baixa. As características dos grupos do solo apresentadas pelo SCS,
segundo Mockus apud Sartori et al. (2006), são apresentadas a seguir:
- Grupo A: solos com baixo potencial de escoamento e alta taxa de infiltração
uniforme quando completamente molhados, consistindo principalmente de areias e
cascalhos, ambos profundos e excessivamente drenados (Taxa Mínima de
Infiltração: >7,62 mm/h);
- Grupo B: solos contendo moderada taxa de infiltração quando molhados,
consistindo principalmente de solos moderadamente profundos, moderadamente
bem drenados e com textura moderadamente fina e moderadamente grossa (Taxa
Mínima de Infiltração: 3,81 a 7,62 mm/h);
- Grupo C: solos contendo baixa taxa de infiltração quando completamente
molhados, consistindo principalmente com camadas que dificultam o movimento da
água de camadas superiores para inferiores, com textura moderadamente fina e
baixa taxa de infiltração (Taxa Mínima de Infiltração: 1,27 a 3,81 mm/h);
91

- Grupo D: solos que possuem alto potencial de escoamento, tendo uma taxa
de infiltração muito baixa quando completamente molhados, principalmente solos
argilosos (Taxa Mínima de Infiltração: <1,27 mm/h).

Para a obtenção do parâmetro CN foram utilizadas operações de cruzamento


dos mapas temáticos relacionados ao tipo e uso e ocupação do solo, determinado
assim a média ponderada por microbacia.
O coeficiente de escoamento (C) da bacia é definido como a razão entre o
volume de água escoado superficialmente (Q) e o volume de água precipitado (P):

Q
C= . [3.23]
P
O volume de escoamento superficial gerado pela precipitação total é
determinado através da expressão:

Vt = Q ⋅ A [3.24]

Onde:
Vt: volume de escoamento superficial (m³);
Q: escoamento superficial (m);
A: área da bacia (m²).

O escoamento superficial na sub-bacia foi avaliado com base em diferentes


precipitações estimadas (P > Ia=0,2*S): 20, 30, 50 e 100 mm, sendo quantificadas
por microbacia e PC.

3.9 Análise da sustentabilidade hídrica

A análise da sustentabilidade hídrica da cultura orizícola na sub-bacia


hidrográfica do Arroio Grande considera as condições de escoamento superficial na
sub-bacia, a partir de diferentes precipitações estimadas; a demanda hídrica, ou
seja, a vazão remanescente necessária para atender as condicionantes propostas
92

no cenário 3, que inclui vazão para irrigação e ambiental e; a capacidade de


acumulação das barragens temporárias infláveis propostas com base no cenário 2.
A partir das variáveis acima expostas, foi determinado o atendimento a
demanda hídrica na sub-bacia, para os PC 5 e 6, localizados a jusante das
barragens infláveis (BI), indicando o número de dias em que o armazenamento
proporcionado pelos barramentos temporários supre a demanda (vazão
remanescente), bem como a freqüência de atendimento.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Estruturação do Sistema de Informação Geográfica (SIG)

A seguir é apresentado a caracterização física da sub-bacia hidrográfica do


Arroio Grande, composto pelos seguintes planos de informação: limite da sub-bacia
hidrográfica e respectivas microbacias; irrigantes; MNT; uso da terra; classes de
solos. O SIG possibilitou também a determinação de informações derivadas do
cruzamento de planos de informação.

4.1.1 Delimitação hidrográfica

De acordo com a delimitação efetuada com base nas cartas topográficas, a


sub-bacia do Arroio Grande apresenta uma superfície territorial equivalente a
40.298,54 ha. A sub-bacia foi dividida em microbacias, conforme quantificado na
Tabela 4.1 e espacializado na Figura 4.1.

Tabela 4.1 – Área de contribuição das microbacias hidrográficas do Arroio Grande.


Nº MICROBACIA ÁREA DE CONTRIBUIÇÃO (ha) FREQUÊNCIA (%)
1 Arroio Manoel Alves 3.679,65 9,13
2 Arroio Lobato 3.307,41 8,21
3 Arroio Grande 14.105,44 35,00
4 Arroio do Meio 2.367,04 5,87
5 Arroio do Veado 5.203,09 12,91
6 Rio Vacacaí-Mirim 10.482,68 26,01
7 Sem Denominação 1.153,23 2,86
TOTAL 40.298,54 100,00
94

Figura 4.1 - Sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande e respectivas microbacias.

Em análise a Figura 4.1, observa-se que a microbacia do Arroio Grande, está


localizada a montante da sub-bacia, estendendo-se até o centro, apresentando a
maior área de contribuição, com cerca de 35%; seguido pela microbacia do Rio
Vacacaí-Mirim (26,01%), que ocupa da porção oeste a sul da sub-bacia. As demais
microbacias contribuem em menor proporção.

4.1.2 Caracterização do relevo na sub-bacia

O MNT expressa às altitudes nos locais não amostrados, caracterizando o


relevo da sub-bacia (Figura 4.2). Observa-se que as altitudes da região variam entre
66 a 506 m. O MNT também serviu de base para a geração dos perfis longitudinais
dos cursos d’água de interesse.
95

Figura 4.2 – Modelo Numérico do Terreno (MNT) da sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande.

Em cerca de 31% da área total da sub-bacia predominam as altitudes que


variam de 66 a 160 m; as altitudes superiores a 160 m e inferiores a 400 m são
encontradas em 33% da área, enquanto as superiores a 400 m correspondem a
36%.

4.1.3 Uso e ocupação da terra

A classificação digital de imagens de satélite da sub-bacia hidrográfica do


Arroio Grande permitiu a identificação das seguintes classes de uso e ocupação da
terra: floresta, lâmina d’água, agricultura, agricultura irrigada, campo e área
urbanizada. A Tabela 4.2 apresenta a quantificação das classes de uso e ocupação
da terra na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande e a Figura 4.3, a espacialização.
96

Tabela 4.2 - Uso da terra na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande.


USO DA TERRA ÁREA (ha) FREQUÊNCIA (%)
Floresta 21.915,40 54,38
Lâmina d'água 444,62 1,10
Agricultura 4.592,81 11,40
Agricultura irrigada 2.391,45 5,93
Campo 9.342,90 23,18
Área urbanizada 1.611,36 4,00
40.298,54 100,00

Figura 4.3 - Uso da terra na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande.

A classe mais expressiva de uso e ocupação da terra é representada pelas


áreas cobertas por florestas, com 54,38%. Os campos estão presentes em 23,18%
da área e, as lâminas d’água em 1,10%. A classificação digital indicou ainda 2,89%
da área como sombra, devido às condições do relevo. Entretanto, este tema foi
97

reclassificado, a partir de interpretação visual sobre imagem Quickbird, sendo


incluído no tema floresta. A área urbana corresponde a 4% da superfície da sub-
bacia. Quanto à área ocupada pela agricultura, a quantificação de áreas com
cultivos irrigado foi individualizado, sendo que a agricultura irrigada é desenvolvida
em 5,93% da área da sub-bacia e, em 11,40% da superfície, a agricultura sem
irrigação.

4.1.5 Classes de solos

Segundo a classificação de solos do Rio Grande do Sul caracterizada por


Streck et al (2002), foram encontrados na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande,
os seguintes solos: Associação Chernossolo Argiluvico Férrico – Neossolo Litólico
Eutrófico (MTf – RLe1); Argissolo Vermelho Distrófico (PVd2); Planossolo
Hidromórfico Eutrófico (SGe1) e, Alissolo Hipocrômico Argilúvico (APt2).
A Tabela 4.3 apresenta a quantificação das unidades de mapeamento dos
solos na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande e a Figura 4.4, a espacialização.

Tabela 4.3 - Unidades de mapeamento dos solos na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande.
SUB-BACIA ÁREA IRRIGADA
SOLO Símbolo
Área (ha) Freq.(%) Área (ha) Freq. (%)
Associação Chernossolo argilúvico
MTf-RLe1 16.058,34 39,85 — —
férrico - Neossolo litólico eutrófico
Argissolo vermelho distrófico PVd2 18.154,54 45,05 1369,24 57,26
Planossolo hidromórfico eutrófico SGe1 4.723,72 11,72 1022,21 42,74
Alissolo hipocrômico argilúvico APt2 1.361,94 3,38 — —
40.298,54 100,00 2.391,45 100,00
98

Figura 4.4 - Classe de solos na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande.


Fonte: adaptado da base cartográfica - escala 1:750.000.

Em análise a Tabela 4.3 e Figura 4.4, observa-se que predomina na sub-


bacia os solos classificados como Argissolo Vermelho Distrófico (PVd2), ocupando
cerca de 45,05% da área de estudo, apresentando 57,26% da área com agricultura
irrigada. Esses solos estão presentes nas porções norte, leste e sudoeste da bacia.
Os solos que pertencem a Associação Chernossolo Argiluvico Férrico –
Neossolo Litólico Eutrófico (MTf – RLe1), estão presentes em 39,85% da área,
localizados na porção sul, em uma faixa que atravessa a sub-bacia, no sentido leste-
oeste. Os solos classificados como Planossolo Hidromórfico Eutrófico (SGe1),
existentes na porção central da sub-bacia, respondem por 11,72% da área, sendo
que 42,74% da superfície é ocupado pela cultura irrigada. Em menor proporção,
presente a sudeste da sub-bacia, estão os solos denominados Alissolo Hipocrômico
Argilúvico (APt2), com 3,38% da área.
99

Conforme exposto, foi verificada a presença de duas classes de solo na área


com cultivo irrigado. Tendo em vista a escala utilizada para a caracterização dos
solos da sub-bacia - 1:750.000, a qual não presta para o nível de detalhamento
proposto no presente estudo, foi considerado que a agricultura irrigada (cultura
orizícola) na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande é desenvolvida nos solos
denominados Planossolo Hidromórfico Eutrófico (SGe1), pertencente a unidade de
mapeamento Vacacaí (antiga classificação -1973).

4.2 Demanda hídrica

4.2.1 Irrigação

4.2.1.1 Cadastro de irrigantes

O cadastro de irrigantes realizado pelo IRGA (censo) englobou diversas


informações do irrigante, como: área plantada, cultivar, método de irrigação
empregado, energia utilizada, produtividade média, manancial de captação, distrito
orizícola, titularidade da terra, dentre outras. Essas informações foram baseadas na
declaração do produtor, deixando uma lacuna principalmente em relação à área
cultivada.
Quanto à localização do irrigante, o cadastro fornecido não contém referência
espacial (coordenadas geográficas), indicando apenas o distrito orizícola, que não
segue uma divisão hidrográfica, dificultando assim a análise espacial das
informações.
Nas informações obtidas junto ao DRH das outorgas concedidas para a área
de estudo, constatou-se que as mesmas são insignificantes se comparado ao
montante de irrigantes existentes, conforme levantado por Marcolim (2000) e
verificado in loco. Até dezembro/2008, havia apenas 09 (nove) concessões de
outorga pelo DRH para a sub-bacia, todas para a cultura orizícola.
100

O cadastro de irrigantes realizado por Marcolim (2000) aponta diversas


informações, como a referência espacial dos pontos de tomada d’água, cultura
irrigada, manancial de captação, etc. O levantamento revelou a existência de 124
irrigantes na sub-bacia, sendo que 103 desenvolvem a cultura orizícola, 8 a
olericultura e 13, as duas culturas, demonstrando que a atividade preponderante na
sub-bacia esta na orizicultura.
Tomando como base a interpretação visual de imagem de satélite,
classificação digital do uso da terra (tema agricultura) e o cadastro de irrigantes
(Marcolim, 2000), foi determinado a área irrigada na sub-bacia hidrográfica do Arroio
Grande, conforme apresentado na Tabela 4.4 e Figura 4.5.

Tabela 4.4 – Quantificação da agricultura irrigada na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, por
microbacia.
MICROBACIA
ÁREA TOTAL FREQUÊNCIA AGRICULTURA IRRIGADA
DENOMINAÇÃO
(ha) % Área (ha) Freq. (%)
Arroio Manoel Alves 3.679,65 9,13 8,37 0,35
Arroio Lobato 3.307,41 8,21 6,41 0,27
Arroio Grande 14.105,44 35 126,25 5,28
Arroio do Meio 2.367,04 5,87 644,68 26,96
Arroio do Veado 5.203,09 12,91 358,34 14,98
Rio Vacacaí-Mirim 10.482,68 26,01 901,88 37,71
Sem Denominação 1.153,23 2,86 345,52 14,45
40.298,54 100,00 2.391,45 100,00

Conforme apresentado na Tabela 4.4, a microbacia do Rio Vacacaí-Mirim


apresenta a maior área irrigada na sub-bacia, com 37,71%, seguido pela microbacia
do Arroio do Meio (26,96%), Arroio do Veado (14,98%), Sem Denominação
(14,45%), Arroio Grande (5,28%). Já as microbacias do Manoel Alves e Arroio
Lobato, a área irrigada é reduzida, representando, respectivamente, 0,35% e 0,27%.
A área total irrigada na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande equivale a
2.391,45 ha, que representa 5,93% da área em estudo, localizadas na porção
centro-sul da sub-bacia.
101

Figura 4.5 – Espacialização da agricultura irrigada na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande.

4.2.1.2 Necessidade hídrica da cultura orizícola

A seguir são apresentados os parâmetros utilizados para a determinação da


necessidade hídrica da cultura orizícola na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande,
obtidos a partir de ensaios de laboratório (características físico-hídricas dos solos) e
dados de literatura:
- Pci (profundidade da camada impermeável): 0,25 m;
- ds (densidade do solo): 1,414 g/cm³;
- dp (densidade da partícula): 2,363 g/cm³;
- hl (altura da lâmina d’água na lavoura): 10 cm;
- he (altura de lâmina evaporada): 0,006 m/dia;
- Pi (período de irrigação da cultura): 100 dias;
- k (coeficiente de permeabilidade do solo): 0,00036 m/dia;
- Eci (espessura da camada impermeável): 0,15 m;
- Pe (produtividade estimada de grãos): 5.500 Kg/ha;
102

- U (índice de umidade):13%;
- Ic (índice de colheita): 44 %;
- m (fator de transpiração): 0,38 m³/kg de matéria seca.

Desta forma, obtiveram-se os seguintes volumes de água:


- V1 (para saturação do solo): 600,40 m³/ha
- V2 (para formar a lâmina na lavoura): 1.000 m³/ha
- V3 (para compensar as perdas por evaporação): 6.000 m³/ha
- V4 (para compensar as perdas por infiltração): 840 m³/ha
- V5 (para atender a transpiração da cultura): 4.132,50 m³/ha
- VTOTAL (para atender a demanda da cultura): 12.572,90 m³/ha

A necessidade hídrica da cultura orizícola determinada neste estudo,


equivalente a 12.572,90 m³/ha, volume este muito próximo a determinações
efetuadas por outros autores para a região de estudo. Beltrame e Gondim (1982)
estimaram a vazão média da lavoura orizícola no sistema de irrigação por inundação
em 12.441,60 m³/ha, enquanto que para Beltrame e Louzada (1991) o consumo é
um pouco mais elevado, em 14.860,80 m³/ha. Os resultados dos ensaios de
laboratório são apresentados no Apêndice I.

4.2.1.3 Demanda hídrica da cultura orizícola

A Tabela 4.5 apresenta a quantificação da demanda hídrica da cultura


orizícola da sub-bacia do Arroio Grande, por microbacia, obtida através do produto
necessidade hídrica da cultura (estimada em 12.572,90 m³/ha.safra) e área irrigada.
103

Tabela 4.5 - Demanda da cultura orizícola na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, por
microbacia.
MICROBACIA HIDROGRÁFICA
ÁREA TOTAL FREQ. ÁREA IRRIGADA DEMANDA ORIZÍCOLA *
DENOMINAÇÃO
(ha) (%) Área (ha) Freq. (%) m³/safra m³/s
Arroio Manoel Alves 3.679,65 9,13 8,37 0,35 105.235,17 0,0122
Arroio Lobato 3.307,41 8,21 6,41 0,27 80.592,29 0,0093
Arroio Grande 14.105,44 35 126,25 5,28 1.587.328,63 0,1837
Arroio do Meio 2.367,04 5,87 644,68 26,96 8.105.497,17 0,9381
Arroio do Veado 5.203,09 12,91 358,34 14,98 4.505.372,99 0,5215
Rio Vacacaí-Mirim 10.482,68 26,01 901,88 37,71 11.339.247,05 1,3124
Sem Denominação 1.153,23 2,86 345,52 14,45 4.344.188,41 0,5028
40.298,54 100,00 2.391,45 100,00 30.067.461,71 3,48
*Necessidade hídrica da cultura: 12.572,90 m³/ha/safra

Conforme mostra a Tabela 4.5, a microbacia do Rio Vacacaí-Mirim apresenta


maior percentual de demanda hídrica (37,71%), seguido pela microbacia do Arroio
do Meio (26,96%), microbacias do Arroio do Veado e Sem Denominação, com
14,98% e 14,45%, respectivamente. Para as demais microbacias (Arroio Grande,
Arroio Manoel Alves e Arroio Lobato), a demanda hídrica é inferior, indicando,
respectivamente, 5,28%, 0,35% e 0,27%.
A demanda hídrica total na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande,
considerando a área irrigada de 2.391,45 ha, correspondente a 3,48 m³/s.

4.3 Disponibilidade hídrica

4.3.1 Reservatórios

As Figuras 4.6 (a, b) mostram a espacialização dos reservatórios na sub-


bacia, nos anos de 1975 e 2008, respectivamente, podendo ser observado que a
implantação ocorreu nas áreas em que é desenvolvido a orizicultura, comprovando a
104

ampliação da oferta de água em reservatórios frente à expansão de atividades


irrigadas.

Figura 4.6 - Reservatórios na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande: (a) cartas topográficas – 1975;
(b) imagem de satélite - 2008.

Os reservatórios extraídos das cartas topográficas (1975) totalizaram uma


superfície de 153,93 ha de lâmina d’água (abastecimento público: 76,71 ha e demais
usos: 77,22 ha), enquanto que os dados advindos da imagem de satélite (2008),
resultaram em uma área de 444,62 ha de lâmina d’água, evidenciando a ampliação
de reservas hídricas na região, no período 1975 – 2008.
Dos reservatórios existentes na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande,
cerca de 246,47 ha de superfície de lâmina d’água destinam-se a suprir as
necessidades da cultura orizícola e, em pequena proporção, para a olericultura e
dessedentação de animais.
O agrupamento da superfície de alague dos reservatórios em intervalos de
classes é apresentado na Tabela 4.6.
105

Tabela 4.6 – Agrupamento da superfície de alague dos reservatórios em intervalo de classes.


ÁREA DE ALAGUE (ha) H estimada ÁREA TOTAL
CLASSE FREQUÊNCIA
mín máx (m) (ha)
1 0,03 1,37 113 1,5 48,38
2 1,37 2,71 25 2,5 51,64
3 2,71 4,05 15 3,5 47,55
4 4,05 5,39 5 4,5 23,39
5 5,39 6,73 1 5,0 6,36
6 6,73 8,07 2 5,5 14,42
7 8,07 9,41 1 6,0 18,26
8 9,41 10,75 3 6,5 20,35
9 10,75 12,09 0 s/ocorrência -
10 12,09 13,44 0 s/ocorrência -
11 13,44 14,78 0 s/ocorrência -
12 14,78 16,12 1 6,5 16,12
166 246,47

Em análise a Tabela 4.6, observa-se que existem 166 reservatórios na sub-


bacia do Arroio Grande, agrupados em 12 classes. Cerca de 68% dos reservatórios
(113 unidades) possuem superfície de alague entre 0,03 e 1,37 ha (classe 1).
Quanto à altura máxima da lâmina d’água dos reservatórios (Hestimada), verifica-se
que variam de 1,5 m a 6,5 m, de acordo com a superfície de alague.
A quantificação da superfície de lâmina d’água dos reservatórios utilizados
para as atividades irrigadas e respectiva capacidade de irrigação, por microbacia, é
apresentado na Tabela 4.7.
106

Tabela 4.7 - Estimativa da disponibilidade hídrica dos reservatórios da sub-bacia hidrográfica do


Arroio Grande, por microbacia.

CAPACIDADE
ALAGUE (ha) ALAGUE TOTAL (ha) Hmáx VOLUME VAZÃO
IRRIGAÇÃO
MICROBACIA

mín máx ÁREA FREQ. (%) (m) (m³) m³/s (ha)

Arroio Grande 0,03 1,37 2,55 1,5 16.993


2,55 1,03 16.993 0,002 1,35
Arroio do Meio 0,03 1,37 12,96 1,5 86.400
1,37 2,71 9,57 2,5 106.333
2,71 4,05 9,01 3,5 140.156
4,05 5,39 4,7 4,5 94.000
36,24 14,7 426.889 0,0494 33,95
Arroio do Veado 0,03 1,37 5,49 1,5 36.600
1,37 2,71 6,43 2,5 71.444
2,71 4,05 3,78 3,5 58.800
4,05 5,39 4,47 4,5 89.400
6,73 8,07 7,26 5,5 177.467
27,43 11,13 433.711 0,0502 34,5
Rio Vacacaí-Mirim 0,03 1,37 17,49 1,5 116.600
1,37 2,71 17,08 2,5 189.778
2,71 4,05 19,55 3,5 304.111
4,05 5,39 14,21 4,5 284.200
5,39 6,73 6,36 5 141.333
8,07 9,41 9,32 6 248.533
9,41 10,75 10,51 6,5 303.622
94,52 38,35 1.588.178 0,1838 126,32
Sem Denominação 0,03 1,37 9,69 1,5 64.600
1,37 2,71 18,55 2,5 206.111
2,71 4,05 15,2 3,5 236.444
6,73 8,07 7,16 5,5 175.022
8,07 9,41 8,94 6 238.400
9,41 10,75 10,07 6,5 290.911
14,78 16,12 16,12 6,5 465.689
85,73 34,78 1.677.178 0,1941 133,4
TOTAL 246,47 100,00 4.142.949 0,4795 329,51
107

Conforme apresentado na Tabela 4.7, a microbacia do Rio Vacacaí-Mirim


(38,43%) é a que apresenta maior superfície de lâmina d’água, seguido pela
microbacia Sem Denominação, com 34,69%, Arroio do Meio (14,71%), Arroio do
Veado (11,14%) e Arroio Grande (1,03%). As microbacias dos Arroios Manoel Alves
e Lobato não possuem reservatórios.
Quanto à disponibilidade hídrica dos reservatórios e respectiva capacidade de
irrigação, a maior capacidade de armazenamento de água está na microbacia do Rio
Vacacaí-Mirim, representando 38,35%, seguido pela microbacia Sem Denominação
(34,78%), Arroio do Meio (14,70%), Arroio do Veado (11,13%) e, em menor
proporção, a microbacia do Arroio Grande (1,03%).
Os reservatórios utilizados para atividades irrigadas na sub-bacia hidrográfica
do Arroio Grande apresentam uma capacidade de irrigação para a lavoura orizícola
equivalente a 329,51 ha, considerando a necessidade hídrica da cultura de
12.572,90 m³/ha.safra.

4.3.2 Vazões médias e mínimas

As vazões médias e mínimas diárias mensais observadas na sub-bacia


hidrográfica do Arroio Grande são apresentadas na Figura 4.7, com base na série
histórica da estação fluviométrica Restinga Seca, disponibilizadas pela Agência
Nacional de Águas (ANA). Os dados foram transpostos para a sub-bacia hidrográfica
do Arroio Grande, que apresenta 44,09% da área de drenagem da estação
fluviométrica Restinga Seca.
108

20,00
18,00
16,00
14,00
Vazão (m³/s)

12,00
10,00
8,00
6,00
4,00
2,00
0,00
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Qmín 0,63 0,77 1,22 1,80 2,16 3,10 3,41 2,67 2,17 2,57 1,72 0,69
Qmédia 5,28 5,51 6,75 11,80 13,98 17,91 18,68 15,81 14,48 18,21 10,46 5,79

Figura 4.7 - Vazões médias e mínimas diárias observadas – Sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande
(período: 1979 – 2005).

Em análise aos dados constantes na Figura 4.7, observa-se que as vazões


médias e mínimas decrescem a partir do mês de novembro, mantendo-se em um
patamar aproximado entre dezembro e fevereiro, retornando a crescer a partir de
março, período este que a irrigação finda.
Tendo em vista os objetivos deste estudo, foram analisados os dados
mensais de vazão para o período compreendido entre novembro e fevereiro, quando
ocorre a irrigação da lavoura orizícola, principal demanda presente na sub-bacia
hidrográfica do Arroio Grande.

4.3.3 Vazões naturais

A estimativa da vazão natural (médias e intervalo de confiança de 95%) na


sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, para o período de novembro a fevereiro, é
apresentado na Tabela 4.8, a seguir:
109

Tabela 4.8 – Vazões naturais médias na sub-bacia do Arroio Grande, com um intervalo de confiança
de 95%, por microbacia.
Vazão natural (m³/s)
MICROBACIA Nov Dez Jan Fev
Q (95-) Qm Q (95+) Q (95-) Qm Q (95+) Q (95-) Qm Q (95+) Q (95-) Qm Q (95+)
Manoel Alves 0,7121 0,9673 1,2225 0,3269 0,5404 0,7539 0,3196 0,4942 0,6687 0,3720 0,5152 0,6773
Arroio Lobato 0,6387 0,8682 1,0977 0,2923 0,4843 0,6763 0,2858 0,4427 0,5997 0,3329 0,4616 0,6074
Arroio Grande 2,8663 3,8446 4,8229 1,3897 2,2081 3,0266 1,3617 2,0309 2,7001 1,5627 2,1115 2,7328
Arroio do Meio 1,3758 1,5399 1,7039 1,1281 1,2654 1,4027 1,1234 1,2357 1,3479 1,1571 1,2492 1,3534
Arroio do Veado 1,4986 1,8594 2,2203 0,9539 1,2558 1,5577 0,9436 1,1904 1,4373 1,0177 1,2202 1,4493
Vacacaí Mirim 3,2604 3,9874 4,7144 2,1631 2,7713 3,3795 2,1423 2,6395 3,1368 2,2916 2,6994 3,1612
Sem Denom. 0,6743 0,7545 0,8347 0,5532 0,6203 0,6874 0,5509 0,6058 0,6607 0,5674 0,6124 0,6633
11,0262 13,8213 16,6165 6,8074 9,1456 11,4841 6,7274 8,6392 10,5512 7,3015 8,8695 10,6448

Em análise a Tabela 4.8, observa-se que as vazões naturais médias para o


mês de novembro são superiores aos demais meses analisados. As vazões naturais
decrescem de 13,8213 m³/s em novembro para 9,1456 m³/s em dezembro, onde
reduz em menor proporção para o mês seguinte - janeiro, para 8,6392 m³/s. Para o
mês de fevereiro, ocorre uma elevação para 8,8695 m³/s.
As microbacias do Vacacaí-Mirim e Arroio Grande respondem por cerca de
55% das vazões naturais da sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande. Em menor
proporção, estão as microbacias Sem Denominação, Arroio Lobato e Manoel Alves.

4.3.4 Vazões de referência

As curvas de permanência foram utilizadas para a determinação das vazões


de referência, ou seja, a vazão ambiental (30%Q90) e a disponibilidade hídrica (Q95)
da sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande.
A Figura 4.8 apresenta as curvas de permanência de vazões médias, para os
meses de novembro a fevereiro, respectivamente, em um intervalo de confiança de
95%. As planilhas contendo os dados são apresentadas nos Apêndices II e III.
110

Figura 4.8 – Curvas de permanência de vazões médias para os meses de novembro a fevereiro, com
um intervalo de confiança de 95%.
111

Em análise a Figura 4.8, observa-se que o comportamento da curva de


permanência para os meses de novembro e fevereiro é diferenciado dos demais
meses analisados (dezembro e janeiro), indicando disponibilidade hídrica superior,
principalmente para vazões com permanência inferior a 80% do tempo.
Para os meses de dezembro e janeiro, as curvas de permanência apresentam
um comportamento semelhante, sendo que as vazões com permanência superior a
40% do tempo mantêm-se em um mesmo patamar.
As vazões de referência média e com intervalo de confiança de 95%,
definidas através das curvas de permanência, são apresentadas na Figura 4.9.

4,0000

3,0000
Vazões (m³/s)

2,0000

1,0000

0,0000
Q95 30%Q90 Q95 30%Q90 Q95 30%Q90 Q95 30%Q90
NOV DEZ JAN FEV
Q95- 3,6744 1,1896 3,4636 1,0606 3,4428 1,0434 3,4437 1,0352
Qm 3,7554 1,2328 3,4986 1,0659 3,4529 1,0459 3,4582 1,0421
Q95+ 3,8373 1,2761 3,5338 1,0716 3,4629 1,0469 3,4699 1,0499

Figura 4.9 – Disponibilidade hídrica (Q95) e vazão ambiental dos cursos d’água (30%Q90) – vazões
médias com intervalo de confiança de 95%.

Em análise a Figura 4.9, observa-se que a disponibilidade hídrica da sub-


bacia hidrográfica do Arroio Grande (Q95) no mês de novembro é superior aos
demais meses analisados, os quais não apresentam variabilidade. Quanto a vazão
ambiental - 30%Q90, observa-se que repete-se a situação acima mencionada, ou
seja, é superior no mês de novembro, mantendo-se nos demais meses.
112

4.4 Áreas de Preservação Permanente – APP

A Tabela 4.9 apresenta a composição das APP e respectivo uso da terra na


sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande. As Figuras 4.10 (a, b) apresentam,
respectivamente, a espacialização das APP e o uso da terra nestas áreas.

Tabela 4.9 - Áreas de preservação permanente (APP) e respectivo uso da terra na sub-bacia
hidrográfica do Arroio Grande.
ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (ha)
USO DA TERRA
hidrografia nascentes reservatórios TOTAL FREQ. (%)
Floresta 2.580,60 149,68 42,00 2.772,28 66,10
Agricultura 502,87 31,11 85,00 618,98 14,76
Agricultura irrigada 211,23 1,91 22,75 235,90 5,62
Campo 401,19 69,48 32,00 502,67 11,98
Área urbanizada 60,52 4,01 0,00 64,53 1,54
ÁREA TOTAL (ha) 3.756,41 256,19 181,75 4.194,36 100,00
FREQ. (%) 89,56 6,11 4,33 100,00

Em análise aos dados contidos na Tabela 4.9, observa-se que as margens


dos cursos d’água (hidrografia) respondem por grande parte das APP na sub-bacia,
representando 89,56% da área e, em menor proporção, o entorno de nascentes
(6,11%) e reservatórios (4,33%).
Quanto à situação de ocupação, observa-se que a área de estudo apresenta
4.194,36 ha de APP, equivalente a 10,41% da superfície da sub-bacia. Cerca de
66,10% destas áreas são ocupadas por florestas. Entretanto, a agricultura, incluindo
a irrigada, ocupa 20,38% da área, desenvolvida principalmente as margens dos
cursos d’água.
Em relação à ocupação das APP por culturas irrigadas, observa-se que
235,90 ha, que corresponde a 9,86% da área irrigada, estão em desconformidade
com a legislação ambiental. A Figura 4.10 (b) mostra que as áreas que apresentam
conflito de uso estão concentradas na porção sul da sub-bacia, devido
principalmente as condições favoráveis do relevo e solo.
113

Figura 4.10 – Sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande: (a) Áreas de Preservação Permanente;
(b) Uso da Terra nas Áreas de Preservação Permanente.

Para avaliar a redução da demanda hídrica da cultura orizícola por


microbacia, com a eliminação da área de cultivo em APP, procedeu-se a
quantificação destas áreas, as quais são apresentadas na Tabela 4.10.

Tabela 4.10 – Áreas de Preservação Permanente (APP) ocupada pela agricultura irrigada na sub-
bacia do Arroio Grande.
ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (ha)
USO DA TERRA
hidrografia nascentes reservatórios TOTAL FREQ. (%)
Arroio Manoel Alves - - - - -
Arroio Lobato 0,25 - - 0,25 0,11
Arroio Grande 13,27 - 0,11 13,38 5,67
Arroio do Meio 34,99 0,85 3,71 39,55 16,77
Arroio do Veado 20,27 0,64 2,97 23,88 10,12
Rio Vacacaí-Mirim 114,87 0,42 6,68 121,97 51,70
Sem Denominação 27,58 - 9,29 36,87 15,63
ÁREA TOTAL (ha) 211,23 1,91 22,76 235,90 100,00
FREQ. (%) 89,54 0,81 9,65 100,00 -
114

Conforme mostra a Tabela 4.10, a microbacia do Rio Vacacaí-Mirim é a que


apresenta maior ocupação de APP com cultura irrigada, com 51,70%, notadamente
as margens de cursos d’água. Em seguida, tem-se a microbacia do Arroio do Meio
(16,77%,) e, Sem Denominação (15,63%), sendo as demais em menor proporção.
O PERAI prevê a recuperação das APP de forma gradual, permitindo ao
agricultor a eliminação da área de cultivo em 25% ao ano, bem como a obtenção da
outorga do uso da água.
Entretanto, devido às dificuldades que os produtores vêm enfrentando no
atendimento à legislação, o prazo para cumprimento do TCA, previsto pelo PERAI,
foi prorrogado para abril/2010 (Lavoura Arrozeira, 2008) e, novamente foi ampliado
por mais 4 anos.

4.5 Cenários de oferta e demanda hídrica

A análise das condições de disponibilidade X demanda hídrica da área de


estudo foram realizadas no contexto da sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande e
por PC, para o período de novembro a fevereiro, com o objetivo de identificar as
condições em nível de sub-bacia e pontuais. A Figura 4.11 apresenta a
espacialização da sub-bacia e dos PC.
115

Figura 4.11 - Espacialização dos Pontos de Controle (PC) no contexto da sub-bacia hidrográfica do
Arroio Grande.

Como forma de representar esquematicamente a hidrografia da área de


estudo, bem como a localização dos PC, foi elaborado um diagrama unifilar (Figura
4.12). Os PC foram distribuídos de forma a caracterizar a sub-bacia, ou seja,
quantificar no tempo e no espaço. Segue especificado as microbacias contribuintes
para cada PC, sendo:
- PC1: microbacia 1; PC2: microbacia 2;
- PC3: microbacias 1, 2 e 3;
- PC4: microbacia 5 e 50% do volume de contribuição das microbacias 1, 2 e 3;
- PC5: microbacia 4 e 50% do volume de contribuição das microbacias 1, 2 e 3.
- PC6: localizado a jusante da sub-bacia, acumula todas as microbacias.
116

Figura 4.12 - Diagrama unifilar da sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande.

4.5.1 No contexto da sub-bacia hidrográfica

As Tabelas 4.11 e 4.12 apresentam, respectivamente, os cenários 1 e 2 das


condições de disponibilidade x demanda hídrica no contexto da sub-bacia
hidrográfica do Arroio Grande, para o período novembro - fevereiro.
117

Tabela 4.11 – Demanda e disponibilidade hídrica na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, para o
período de novembro a fevereiro - cenário 1.
Qirrig
DEMANDA (m³/s) DISPONIBILIDADE (m³/s)
MÊS Q95

Qirrig1 Q95 Qrem Freq. (%)


Novembro 3,3602 3,7554 0,3952 89
Dezembro 3,3602 3,4986 0,1384 96
Janeiro 3,3602 3,4529 0,0927 97
Fevereiro 3,3602 3,4582 0,0980 97
1
a demanda para irrigação refere-se à atendida pelos cursos d’água, excetuando-se a atendida pelos reservatórios.

Conforme mostrado na Tabela 4.11, no cenário 1, a disponibilidade hídrica na


sub-bacia (Q95) é superior a demanda para irrigação (Qirrig) para todos os meses
analisados (novembro a fevereiro). A demanda para irrigação apresenta a seguinte
proporção, em relação a disponibilidade da sub-bacia (Qirrig/Q95): Nov: 89%; Dez:
96%; Jan: 97%; Fev: 97%. Observa-se que, embora a demanda seja atendida no
contexto da sub-bacia, a utilização da água para a irrigação encontra-se no estado
limite, agravado para os meses de dezembro a fevereiro.
Para o cenário 2, conforme indicado na Tabela 4.12, a demanda para
irrigação representa de 80 a 87% da disponibilidade hídrica (Q95). Esta proporção
reduziu quando comparada ao cenário 1, tendo em vista que foi excluído a áreas
com cultivo orizícola em APP.

Tabela 4.12 – Demanda e disponibilidade hídrica na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, relação
demanda para irrigação e disponibilidade hídrica e freqüência de atendimento a
demanda - com base nas curvas de permanência, para o período de novembro a
fevereiro - cenário 2.
CURVA DE
DEMANDA DISPONIBILIDADE Qirrig PERMANÊNCIA
MÊS (m³/s) (m³/s) Q95 (atendimento Qirrig + Qamb)

Qirrig Qamb Q95 Qrem Freq. (%) Freq. (%)

Novembro 3,0169 1,2328 3,7554 -0,4943 80 89


Dezembro 3,0169 1,0659 3,4986 -0,5842 86 76
Janeiro 3,0169 1,0459 3,4529 -0,6099 87 55
Fevereiro 3,0169 1,0421 3,4582 -0,6008 87 81
1
a demanda para irrigação refere-se a atendida pelos cursos d’água, excetuando-se a atendida pelos reservatórios.
118

Entretanto, ao incluir a demanda ambiental (Qamb) na composição, observa-se


que excede a disponibilidade hídrica da sub-bacia, ou seja, a demanda ambiental e
irrigada não é atendida na totalidade.
Com base nas curvas de permanência de vazões médias da sub-bacia, foi
determinado o percentual em que a referida demanda está disponível. Para o mês
de novembro, a vazão requerida (Qamb+ Qirrig) está disponível em 89% do tempo;
dezembro 76%; janeiro 55% e; fevereiro 81%.

4.5.2 Por Ponto de Controle

A Tabela 4.13 apresenta as vazões naturais por ponto de controle (PC), para
análise dos cenários de oferta e demanda hídrica na sub-bacia hidrográfica do Arroio
Grande.

Tabela 4.13 – Vazões naturais médias mensais na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, por
Ponto de Controle.
VAZÃO NATURAL MÉDIA (m³/s)
PC
Nov Dez Jan Fev
1 0,9673 0,5404 0,4942 0,5152
2 0,8682 0,4843 0,4427 0,4616
3 5,6801 3,2328 2,9678 3,0883
4 4,6995 2,8722 2,6743 2,7643
5 4,3799 2,8818 2,7196 2,7933
6 13,8213 9,1456 8,6392 8,8695

Conforme mostra a Tabela 4.13, no mês de novembro, cerca de 41% da


vazão natural média é acumulada no PC 3, apresentando uma menor proporção
para os demais meses analisados, em torno de 35%.
Para o mês de novembro, a vazão natural média é superior aos demais
meses analisados, ocorrendo uma maior redução de novembro para dezembro,
sendo que para os demais meses a variabilidade é menor.
119

A Tabela 4.14 apresenta a disponibilidade hídrica dos reservatórios e cursos


d'água na sub-bacia, por ponto de controle (PC). Para os reservatórios, a
disponibilidade indicada é mensal, sendo que a total equivale a 0,4796 m³/s.

Tabela 4.14 – Disponibilidade hídrica dos reservatórios e cursos d’água na sub-bacia hidrográfica do
Arroio Grande, por Ponto de Controle.
DISPONIBILIDADE HÍDRICA (m³/s)
PC Cursos d'agua - Q95 (m³/s)
Reservatórios*
Nov Dez Jan Fev
1 - 0,3429 0,3194 0,3152 0,3157
2 - 0,3083 0,2872 0,2835 0,2839
3 0,0005 1,9656 1,8312 1,8072 1,81
4 0,0128 1,4676 1,3673 1,3494 1,3515
5 0,0126 1,2032 1,121 1,1063 1,108
6 0,1199 3,7554 3,4986 3,4529 3,4582
* disponibilidade mensal

Os dados contidos na Tabela 4.14 indicam que a disponibilidade hídrica


mensal dos reservatórios no PC 6 equivale a 0,1199 m³/s, sendo que para os meses
de novembro a fevereiro, totaliza 0,4796 m³/s. Observa-se que a disponibilidade
hídrica dos reservatórios a montante do PC 6, são pouco representativos, com cerca
de 21% apenas das reservas, estando concentrado nas microbacias contribuintes
localizadas a jusante dos PC 4 e 5. Nos PC 1 e 2 não há reservatórios para as
atividades irrigadas.
Quanto a disponibilidade hídrica dos cursos d’água, observa-se que as
maiores vazões estão disponíveis no mês de novembro, com 3,7554 m³/s, reduzindo
no mês de dezembro para 3,4986 m³/s e, mantendo-se com pouca variação para os
demais meses, janeiro (3,4529 m³/s) e fevereiro (3,4582 m³/s).
A Tabela 4.15 apresenta a demanda hídrica mensal da irrigação, por PC, para
os cenários 1 e 2. A demanda para irrigação no cenário 1 considera a área irrigada
existente, ou seja, 2.391,45 ha.
Para o cenário 2, é computado a área irrigada excetuando-se aquelas
cultivadas em APP (2.155,55 ha), em atendimento a legislação ambiental. Também
120

é indicado a vazão ambiental para cada mês do período analisado, referente a


30%Q90.

Tabela 4.15 – Demanda hídrica mensal na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, por Ponto de
Controle (incluindo reservatórios e cursos d’água).
DEMANDA HÍDRICA (m³/s)
PC Irrigação Ambiental - 30%Q90
Cenário 1 Cenário 2 Nov Dez Jan Fev
1 0,0118 0,0106 0,1126 0,0973 0,0955 0,0951
2 0,0091 0,0081 0,1012 0,0875 0,0859 0,0856
3 0,1988 0,1785 0,6452 0,5579 0,5474 0,5454
4 0,6153 0,5537 0,4818 0,4166 0,4087 0,4073
5 1,0176 0,915 0,395 0,3415 0,3351 0,3339
6 3,4801 3,1368 1,2328 1,0659 1,0459 1,0421

Em análise a Tabela 4.15, observa-se que a demanda hídrica mensal para


irrigação na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande (PC 6), considerando o cenário
1, equivale a 3,4801 m³/s. Para o cenário 2, a demanda hídrica reduz em 9,86%,
devido a exclusão das áreas de cultivo irrigado em APP.
Cerca de 30% da demanda hídrica na sub-bacia provém de áreas de cultivo
nas microbacias contribuintes para os PC 1 ao 5 e, o restante (70%), das áreas
localizadas a jusante dos PC 5 e 6.
Quanto à vazão ambiental mensal, no mês de novembro é superior aos
demais meses analisados, com 1,2328 m³/s. No período de dezembro a fevereiro, a
vazão ambiental varia de 1,0659 m³/s (dezembro) a 1,0421 m³/s (fevereiro).

4.5.2.1 Cenário 1

A Tabela 4.16 apresenta a situação atual (cenário 1), ou seja, as condições


de disponibilidade x demanda hídrica na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande,
por ponto de controle. A demanda hídrica para irrigação indicada na Tabela 4.15
exclui a parcela atendida pelos reservatórios, que representam 13,78% da demanda.
121

Tabela 4.16 – Demanda x disponibilidade hídrica na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, por
ponto de controle: cenário 1.
DEMANDA HÍDRICA (m³/s) DISPONIBILIDADE HÍDRICA (m³/s) Qirrig/Q95
Mês PC 1
Qirrig Q952 Qrem 3
Freq. (%)

1 0,0118 0,3429 0,3311 3


2 0,0091 0,3083 0,2992 3
NOVEMBRO

3 0,1983 1,9656 1,7673 10


4 0,6025 1,4676 0,8651 41
5 1,005 1,2032 0,1982 84
6 3,3602 3,7554 0,3952 89
1 0,0118 0,3194 0,3077 4
2 0,0091 0,2872 0,2782 3
DEZEMBRO

3 0,1983 1,8312 1,6329 11


4 0,6025 1,3673 0,7648 44
5 1,005 1,121 0,116 90
6 3,3602 3,4986 0,1384 96
1 0,0118 0,3152 0,3034 4
2 0,0091 0,2835 0,2744 3
JANEIRO

3 0,1983 1,8072 1,6089 11


4 0,6025 1,3494 0,7469 45
5 1,005 1,1063 0,1013 91
6 3,3602 3,4529 0,0927 97
1 0,0118 0,3157 0,304 4
2 0,0091 0,2839 0,2748 3
FEVEREIRO

3 0,1983 1,81 1,6117 11


4 0,6025 1,3515 0,749 45
5 1,005 1,108 0,103 91
6 3,3602 3,4582 0,098 97
1 2 3
Demanda hídrica da irrigação; Disponibilidade hídrica dos reservatórios; Vazão remanescente.

No cenário 1, observa-se que a demanda hídrica é atendida na totalidade em


todos os pontos de controle, no período novembro - fevereiro. Entretanto, embora a
demanda esteja sendo atendida do PC 1 ao 3, a demanda para irrigação representa
de 3 a 11% da disponibilidade hídrica, variando em função do mês analisado; para o
PC 4, de 41 a 45% e, para os pontos de controle 5 e 6, equivale de 84 a 97% da
disponibilidade, ou seja, encontra-se no limite. A Figura 4.13 ilustra a variabilidade
de vazão remanescente na sub-bacia, por PC.
122

1,7
Qremanescente (m³/s)

1,1

0,5

-0,1
1 2 3 4 5 6

Ponto de Controle Nov Dez Jan Fev

Figura 4.13 – Variabilidade da vazão remanescente na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, por
ponto de controle: cenário 1.

A análise do cenário 1, relativo às vazões remanescentes na sub-bacia


hidrográfica do Arroio Grande, indica que a demanda hídrica é atendida em todos os
PC para os meses analisados. Entretanto, observa-se que os PC 3 e 4 são os que
apresentam maior disponibilidade hídrica e, nos PC 5 e 6, as menores. O mês de
novembro apresenta maiores vazões quando comparados aos demais (dezembro a
fevereiro), os quais não apresentam variabilidade.

4.5.2.2 Cenário 2

Para o cenário 2, foi considerado o atendimento a legislação relativa às APP,


ou seja, o cumprimento ao PERAI, com a eliminação das áreas com cultivo irrigado
em APP e; a manutenção de níveis mínimos de vazão nos cursos d’água (vazão
ambiental – 30% Q90).
A Tabela 4.17 apresenta o cenário 2 de disponibilidade x demanda hídrica na
sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, por PC. A demanda hídrica para irrigação
indicada excluiu a parcela atendida pelos reservatórios, que representam 15,29% da
demanda.
123

Tabela 4.17 – Demanda x disponibilidade hídrica na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, por
ponto de controle: cenário 2.
DEMANDA HÍDRICA (m³/s) DISPONIBILIDADE HÍDRICA (m³/s) Q(irrig + amb)/Q95
Mês PC 1 2
Qirrig Qamb Q953 Qrem4 Freq. (%)

1 0,0106 0,1126 0,3429 0,2198 36


2 0,0081 0,1012 0,3083 0,199 35
NOVEMBRO

3 0,178 0,6452 1,9656 1,1424 42


4 0,5409 0,4818 1,4676 0,4449 70
5 0,9024 0,395 1,2032 -0,0942 108
6 3,0169 1,2328 3,7554 -0,4943 113
1 0,0106 0,0973 0,3194 0,2115 34
2 0,0081 0,0875 0,2872 0,1916 33
DEZEMBRO

3 0,178 0,5579 1,8312 1,0953 40


4 0,5409 0,4166 1,3673 0,4098 70
5 0,9024 0,3415 1,121 -0,1229 111
6 3,0169 1,0659 3,4986 -0,5842 117
1 0,0106 0,0955 0,3152 0,2092 34
2 0,0081 0,0859 0,2835 0,1895 33
JANEIRO

3 0,178 0,5474 1,8072 1,0818 40


4 0,5409 0,4087 1,3494 0,3998 70
5 0,9024 0,3351 1,1063 -0,1312 112
6 3,0169 1,0459 3,4529 -0,6099 118
1 0,0106 0,0951 0,3157 0,21 33
2 0,0081 0,0856 0,2839 0,1902 33
FEVEREIRO

3 0,178 0,5454 1,81 1,0866 40


4 0,5409 0,4073 1,3515 0,4033 70
5 0,9024 0,3339 1,108 -0,1283 112
6 3,0169 1,0421 3,4582 -0,6008 117
1 2 3 4
Demanda hídrica da irrigação; Demanda hídrica ambiental; Disponibilidade hídrica dos cursos d’água; Vazão
remanescente.

No cenário 2 a demanda hídrica (irrigação e ambiental) não é atendida na


totalidade nos PC 5 e 6, para todos os meses analisados (novembro – fevereiro),
evidenciando a necessidade de ampliar as condições de armazenamento em nível
local. Observa-se que dos PC 1 ao 3, a demanda hídrica (irrigação e ambiental)
representa de 33 a 42% da disponibilidade hídrica, variando em função do mês
analisado; para o PC 4, representa 70% e, para os PC 5 e 6, a demanda excede a
124

disponibilidade. A Figura 4.14 ilustra a variabilidade de vazão remanescente no


cenário 2, por PC.

1,2

0,8
Qremanescente (m³/s)

0,4

0,0
1 2 3 4 5 6
-0,4

-0,8
Ponto de Controle

Nov Dez Jan Fev

Figura 4.14 – Variabilidade da vazão remanescente na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, por
ponto de controle: cenário 2.

A partir da análise do cenário 2 (Figura 4.14), que apontou as áreas com


conflitos pelo uso da água, ou seja, em que a demanda excede a disponibilidade,
propôs-se a instalação de barragens temporárias infláveis no álveo de cursos d’água
situados a montante dos PC 5 e 6, como forma de ampliar a sustentabilidade hídrica
da cultura orizícola na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande.
Desta forma, foi analisado outro cenário, aqui denominado de cenário 3, onde
foi verificado a garantia de sustentabilidade hídrica da cultura orizícola na sub-bacia
hidrográfica do Arroio Grande, através de um conjunto de medidas estruturais
(implantação de barragens temporárias infláveis) e não-estruturais (eliminação da
área de cultivo em APP, vazão ambiental) propostas.
125

4.6 Caracterização das Barragens Temporárias

Considerando a análise da oferta e demanda hídrica na sub-bacia hidrográfica


do Arroio Grande para o cenário 2, em que foi identificado escassez hídrica para
suprir a demanda para irrigação e ambiental, nos PC 5 e 6, foram definidos locais
para implantação de barragens temporárias infláveis, a montante destes pontos,
sendo 03 (três) unidades ao longo do Arroio do Meio e 03 (três), no Arroio Grande.
A Figura 4.15(a) apresenta a espacialização dos locais selecionados para a
implantação das barragens infláveis na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande e,
na Figura 4.15(b), é apresentado o diagrama unifilar. Os perfis transversais das
seções dos locais onde propôs-se a instalação das barragens infláveis são
apresentados nos Apêndices IV e V.

Figura 4.15 – Sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande: (a) Localização das barragens temporárias
infláveis. (b) Diagrama unifilar.
126

A Tabela 4.18 a seguir apresenta as características das seções propostas


para a instalação das barragens temporárias infláveis.

Tabela 4.18 – Caracterização das seções propostas para instalação das barragens temporárias
infláveis.
CURSO COORD. UTM H calha1 Hbi máx2 Hbi3 Llf4 Vabi5
SEÇÃO
D'ÁGUA E (m) N (m) (m) (m) (m) (m) (m³)
1 Arroio do Meio 241443 6714750 5,5 4,17 4,0 20,62 57.489
3,0 17,98 37.596
2,0 15,42 21.495
1,0 12,85 8.956
2 Arroio do Meio 241780 6713534 4,3 3,17 3,0 14,83 34.139
2,0 11,85 18.190
1,0 9,07 6.966
3 Arroio do Meio 241787 6711632 4,1 3,00 3,0 14,05 49.863
2,0 11,40 26.972
1,0 8,76 10.363
4 Arroio Grande 242858 6712616 4,25 3,13 3,0 14,27 18.151
2,0 11,08 9.396
1,0 7,60 3.222
5 Arroio Grande 242782 6711974 4,8 3,58 3,5 13,70 19.468
3,0 12,63 15.383
2,0 10,42 8.461
1,0 8,24 3.345
6 Arroio Grande 243562 6711158 3,9 2,83 2,5 11,52 21.830
2,0 10,60 16.070
1,0 8,80 6.670
1 2 3 4
Altura da calha do curso d’água; Altura máxima da barragem inflável; Altura da barragem inflável; Largura do leito fluvial;
5
Volume acumulado pela barragem inflável.

Conforme apresentado na Tabela 4.18, as barragens temporárias infláveis


propostas para serem instaladas no Arroio do Meio apresentam maior capacidade de
armazenamento do que as do Arroio Grande, devido às características locais. Os
reservatórios formados pelas barragens infláveis propostas apresentam capacidade
estática de irrigação equivalente a 15,98 ha, considerando o nível máximo de
armazenamento.
Em relação ao tempo necessário para acionamento das barragens infláveis,
que varia em função do volume da membrana (largura e altura), o catálogo técnico
da fabricante Savatech (2009) indica: 28 minutos para a barragem 1; 21 minutos
para as barragens 2 a 5 e; 16 minutos para a barragem 6. Para barragens flexíveis
injetadas com água, o tempo de acionamento aumenta significativamente (até 6
vezes mais).
127

4.7 Escoamento superficial

A Tabela 4.19, a seguir, apresentam a ocorrência de classes de solos e


respectivo grupo hidrológico na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, utilizadas
como referência para a determinação do parâmetro CN (curva número) ponderado,
por microbacia.

Tabela 4.19 – Frequência de classe de solo e grupo hidrológico, por microbacia, na sub-bacia
hidrográfica do Arroio Grande (%).
CLASSE DE SOLO/ GRUPO HIDROLÓGICO
MICROBACIA
MTf-RLe1 / B PVd2 / B SGe1 / D APt2 / B
Arroio Manoel Alves 65,99 32,66 1,35 −
Arroio Lobato 71,24 2,07 26,69 −
Arroio Grande 61,23 32,33 6,43 −
Arroio do Meio − 67,99 32,01 −
Arroio do Veado 39,91 10,89 28,39 20,81
Rio Vacacaí-Mirim 5,87 94,13 − −
Sem denominação − 21,54 55,10 23,36

Na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, os solos pertencem aos grupos


hidrológicos B e D, na proporção, 88,28% e 11,72%, respectivamente. No grupo B
estão incluídos os seguintes solos: Associação Chernossolo Argiluvico Férrico –
Neossolo Litólico Eutrófico (MTf – RLe1), Argissolo Vermelho Distrófico (PVd2) e,
Alissolo Hipocrômico Argilúvico (APt2). São caracterizados por apresentar moderada
taxa de infiltração, consistindo de solos profundos e bem drenados. Este grupo
hidrológico caracteriza 100% dos solos da microbacia do Rio Vacacaí-Mirim e os
seguintes percentuais das demais microbacias: Arroio Manoel Alves (98,65%), Arroio
Grande (93,57%), Arroio Lobato (73,31%), Arroio do Veado (71,61%), Arroio do Meio
(67,99%) e, em menor proporção, na microbacia Sem Denominação (44,90%).
Já os solos que pertencem ao grupo hidrológico D (Planossolo Hidromórfico
Eutrófico - SGe1), que se caracterizam por apresentar alto potencial de escoamento,
com uma baixa taxa de infiltração, predominam na microbacia Sem Denominação,
em 55,10% da área, seguido pelas microbacias do Arroio do Meio, Arroio Veado e
128

Arroio Lobato, com 32,01%, 28,39% e 26,69%, respectivamente. Em menor


proporção, este grupo hidrológico está presente nas microbacias do Arroio Grande e
Arroio Manoel Alves, com 6,43% e 1,35%, respectivamente.
A Tabela 4.20, a seguir, apresenta a ocorrência de classes de uso do solo na
sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, por microbacia.

Tabela 4.20 - Frequência de uso do solo na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, por microbacia
(%).
MICROBACIA USO DO SOLO
HIDROGRÁFICA FLORESTA AGRIC. CAMPO AREA URBANA AGRIC. IRRIG.
Arroio Manoel Alves 78,32 7,87 13,59 − 0,22
Arroio Lobato 69,38 6,07 24,37 − 0,18
Arroio Grande 57,59 8,41 33,18 − 0,82
Arroio do Meio 44,20 15,17 13,82 − 26,81
Arroio do Veado 59,91 10,77 22,54 − 6,79
Rio Vacacaí-Mirim 42,56 16,83 16,55 15,50 8,57
Sem denominação 30,72 20,98 18,79 − 29,51

Os dados contidos na Tabela 4.20 indicam que o uso do solo predominante


nas microbacias que compõem a sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande é floresta.
Os demais usos do solo variam em função da microbacia, sendo que a agricultura
irrigada é mais expressiva nas microbacias Sem Denominação (29,51%) e do Arroio
do Meio (26,81%), seguido pelas microbacias do Rio Vacacaí-Mirim (8,57%) e Arroio
do Veado (6,79%). Em menor proporção, ocorre nas microbacias do Arroio Grande
(0,82), Arroio Manoel Alves (0,22%) e Arroio Lobato (0,18%).
A Tabela 4.21 apresenta o parâmetro CN ponderado por microbacia, o
armazenamento potencial máximo do solo (S) e, as perdas iniciais (Ia) - que
representa o limite para iniciar o escoamento superficial.
129

Tabela 4.21 – Parâmetros de escoamento superficial por microbacia, na sub-bacia hidrográfica do


Arroio Grande (%).
ÁREA S Ia
MICROBACIA CN
(ha) (mm) (mm)
Arroio Manoel Alves 3.679,65 76,04 80,02 16,00
Arroio Lobato 3.307,41 84,37 47,05 9,41
Arroio Grande 14.105,44 72,35 97,06 19,41
Arroio do Meio 2.367,04 86,45 39,81 7,96
Arroio do Veado 5.203,09 85,12 44,39 8,88
Rio Vacacaí-Mirim 10.482,68 77,12 75,38 15,08
Sem denominação 1.153,23 87,09 37,65 7,53

Considerando que o parâmetro CN varia de 0 a 100 (muito permeável a


impermeável), verifica-se que a microbacia do Arroio Grande apresenta melhores
condições de permeabilidade e menor escoamento superficial, apresentando CN
72,35. Em contraponto, a microbacia Sem Denominação é a que possui menor
permeabilidade e maior escoamento superficial, com CN 87,09.
Quanto aos parâmetros relativos ao armazenamento potencial máximo do
solo (S), varia de 97,06 mm na microbacia do Arroio Grande a 37,65 mm, na
microbacia Sem Denominação.
Quanto as perdas iniciais (Ia) verificadas, constata-se que as maiores ocorrem
na microbacia do Arroio Grande (19,41 mm) e, as menores, na microbacia Sem
Denominação (7,53 mm).
A Tabela 4.22 apresenta a resposta de escoamento superficial a diferentes
precipitações estimadas (P > Ia=0,2*S): 20, 30, 50 e 100 mm, considerando as
características das microbacias, sintetizadas na Tabela 4.21. O escoamento
superficial (Q) e respectivo volume (Vt) foram quantificados em nível de microbacia
(Tabela 4.22) e por PC (Tabela 4.23).
130

Tabela 4.22 - Escoamento superficial para diferentes precipitações estimadas na sub-bacia


hidrográfica do Arroio Grande, por microbacia.
PRECIPITAÇÃO (mm)
MICROBACIA 20 30 50 100
Q (mm) Vt (m³) Q (mm) Vt (m³) Q (mm) Vt (m³) Q (mm) Vt (m³)
Arroio Manoel Alves 0,19 6.994 2,08 76.671 10,14 372.996 43,02 1.582.857
Arroio Lobato 1,95 64.347 6,27 207.290 18,80 621.746 59,62 1.971.959
Arroio Grande 0,00 500 1,04 146.899 7,33 1.033.903 36,56 5.156.671
Arroio do Meio 2,80 66.170 7,85 185.898 21,59 511.108 64,25 1.520.838
Arroio do Veado 2,23 115.933 6,81 354.315 19,77 1.028.891 61,27 3.188.034
Rio Vacacaí-Mirim 0,30 31.658 2,47 258.571 11,06 1.159.183 44,99 4.716.294
Sem denominação 3,10 35.780 8,40 96.850 22,51 259.620 65,71 757.832

Observa-se que para precipitações na ordem de 20 mm, a microbacia do


Arroio do Veado apresenta maior volume de escoamento superficial (115.933 m³),
devido às características da área de drenagem (microbacia). O menor volume
escoado é observado na microbacia do Arroio Grande (500 m³). Para precipitações
de 30 mm, o maior volume escoado é observado na microbacia do Arroio do Veado
(354.315 m³) e o menor, na microbacia do Arroio Manoel Alves (76.671 m3). A
microbacia do Rio Vacacaí-Mirim apresenta o maior volume de escoamento para
precipitações na ordem de 50 mm e, a microbacia do Arroio Grande, para
precipitações de 100 mm.
A Tabela 4.23, a seguir, apresenta o escoamento superficial para
precipitações estimadas na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, por PC.

Tabela 4.23 - Escoamento superficial para precipitações estimadas na sub-bacia hidrográfica do


Arroio Grande, por Ponto de Controle.
PRECIPITAÇÃO (mm)
PC 20 30 50 100
Q (mm) Vt (m³) Q (mm) Vt (m³) Q (mm) Vt (m³) Q (mm) Vt (m³)
1 0,19 6.994 2,08 76.671 10,14 372.996 43,02 1.582.857
2 1,95 64.347 6,27 207.290 18,80 621.746 59,62 1.971.959
3 2,14 71.841 9,39 430.860 36,27 2.028.644 139,2 8.711.487
4 3,30 151.853 11,51 569.745 37,91 2.043.214 130,87 7.543.778
5 3,87 102.090 12,55 401.328 39,73 1.525.430 133,85 5.876.582
6 10,57 321.381 34,92 1.326.494 111,2 4.987.447 375,42 18.894.486
131

Observa-se que a resposta da sub-bacia hidrográfica a precipitações de 20


mm, equivale a 321.381 m³ de escoamento superficial. O menor volume é observado
nas microbacias do Arroio Grande, Arroio Manoel Alves e Rio Vacacaí-Mirim, tendo
em vista que apresentam perdas iniciais (Ia) próximas a 20 mm (Tabela 4.21). Para
precipitações de 30 mm, 50 mm e 100 mm, o volume escoado equivale a 1.326.494
m³, 4.987.447 m³ e 18.894.486 m³, respectivamente.
Na análise do escoamento superficial por PC, observa-se que para
precipitações de 20 mm, 30 mm, 50 mm e 100 mm, o volume acumulado no PC 3,
equivale a 22%, 32%, 40% e 46%, respectivamente, do total escoado.
A Figura 4.16 apresenta o coeficiente de escoamento superficial por
microbacia, ou seja, o percentual de escoamento gerado em relação ao total
precipitado, com base nas precipitações estimadas (20, 30, 50 e 100 mm).

Sem denominação

Rio Vacacaí-Mirim

Arroio do Veado

Arroio do Meio

Arroio Grande

Arroio Lobato

Arroio Manoel Alves

0 10 20 30 40 50 60 70
coeficiente de escoamento - C (%)
20mm 30mm 50mm 100mm

Figura 4.16 – Frequência do coeficiente de escoamento superficial das microbacias hidrográficas que
compõem a sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande (%).

Em análise a Figura acima, observa-se que para precipitações de 20 mm,


grande parte do escoamento superficial é retido, devido às perdas iniciais (Ia). As
microbacias do Arroio Lobato, Arroio do Meio, Arroio do Veado e Sem Denominação
são as que apresentam maior coeficiente de escoamento superficial, devido às
condições de permeabilidade, que dependem do tipo e uso do solo.
132

4.8 Sustentabilidade hídrica da orizicultura

A Tabela 4.24, a seguir, sintetiza as condições de sustentabilidade hídrica da


orizicutura na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, considerando o cenário 3. A
análise é efetuada para os PC 5 e 6, localizados a jusante das barragens
temporárias infláveis propostas.

Tabela 4.24 – Capacidade de acumulação das barragens infláveis, escoamento superficial com base
em precipitações estimadas, demanda hídrica para o período de novembro a fevereiro,
atendimento a demanda, em dias, para o período de novembro a fevereiro e,
freqüência de atendimento a demanda hídrica, para o período de novembro a
fevereiro, expresso em % - para os pontos de controle 5 e 6.
PONTO DE CONTROLE/ BARRAGEM INFLÁVEL
PC 5 – BI1 1, 2, 3 PC 6 – BI1 4, 5, 6
CAPAC. DE ACUMULAÇÃO (m³) 141.491 59.450
P 20mm 102.090 321.381
ESCOAMENTO
SUPERFICIAL

P 30mm 401.328 1.326.494


(m³)

P 50mm 1.525.430 4.987.447

P 100mm 5.876.582 18.894.486

NOV 8.139 42.708


DEMANDA
HÍDRICA2
(m³/dia)

DEZ 10.619 50.475

JAN 11.336 52.695

FEV 11.085 51.909

NOV 17,4 1,4


ATENDIMENTO
A DEMANDA

DEZ 13,3 1,2


(dias)

JAN 12,5 1,1

FEV 12,8 1,2


A DEMANDA (%)

NOV 58 5
ATENDIMENTO

DEZ 44 4

JAN 42 4

FEV 43 4
1 2
BI: barragem inflável; demanda hídrica( vazão remanescente).
133

Conforme mostra a Tabela 4.24, a demanda hídrica no PC 5 varia de 8.139


m³/dia a 11.336 m³/dia, em função do mês analisado. As BI 1, 2 e 3 possuem
capacidade de acumulação hídrica equivalente a 141.491 m³, suficientes para
atender a demanda hídrica por um período de 17,4 dias para o mês de novembro;
13,3 dias em dezembro; 12,5 dias em janeiro e; 12,8 dias, em fevereiro. A totalidade
da capacidade de acumulação destas barragens infláveis (BI) é atingida a partir de
precipitações na ordem de 22 mm.
Quanto à freqüência de atendimento a demanda hídrica mensal,
considerando a capacidade estática dos barramentos, as BI 1, 2 e 3, localizadas a
montante do PC 5, apresentam maior viabilidade, suprindo a demanda em 58% para
o mês de novembro; 44% em dezembro, 42% em janeiro e; 43% em fevereiro.
No PC 6, a demanda hídrica varia de 42.708 m³ a 52.695 m³, em função do
mês analisado. Precipitações na ordem de 20 mm são suficientes para enchimento
das BI. As BI 4, 5 e 6, possuem capacidade de acumulação hídrica equivalente a
59.450 m³. Entretanto, para o atendimento a demanda hídrica, faz-se necessário a
ocorrência de precipitações praticamente diárias, não havendo conformidade entre
oferta e demanda.
Para as BI 4, 5 e 6, localizadas a montante do PC 6, os resultados indicam
um percentual bem inferior de atendimento, sendo 5% em novembro e 4% para os
demais meses (dezembro a fevereiro), demonstrando inviabilidade.
As BI 1, 2 e 3 (PC5), apresentam capacidade estática de irrigação de 11,25
ha/safra, considerando o nível máximo de armazenamento, enquanto o volume
acumulado pelas BI 4, 5 e 6 (PC6) possibilitam a irrigação de 4,73 ha/safra.
Os resultados evidenciam que as BI são apropriadas para ocorrência de
precipitações distribuídas ao longo do período de irrigação, com freqüência
decendial a quinzenal, conforme demonstrado para o caso das BI 1, 2 e 3. Também
observou-se que baixas precipitações são suficientes para gerar escoamento
superficial para atender as BI.
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

De acordo com os objetivos propostos, resultados obtidos e condições em


que a pesquisa foi realizada, conclui-se que:

a) A estruturação do SIG da área de estudo permitiu a caracterização física da


sub-bacia, constatando que as geotecnologias utilizadas foram ferramentas
fundamentais, destacando-se a redução significativa no tempo do
levantamento dos dados espaciais, bem como a possibilidade de integração
de dados provenientes de diversas fontes;

b) As informações da área irrigada na sub-bacia, disponibilizadas pelos órgãos


gestor (DRH) e de extensão (IRGA), não foram suficientes para compor o
cenário orizícola da área de estudo, mostrando claramente a precariedade
dos dados oficiais, em especial, quanto ao componente espacial área de
cultivo;

c) A determinação do uso da terra nas APP permitiu identificar à necessidade de


redução da área irrigada na sub-bacia, tendo em vista o atendimento a
legislação ambiental vigente (PERAI), implicando em uma redução de 9,86%
da área de cultivo;

d) As APP despertam interesses conflitantes, tendo em vista que os agricultores


a vêem com potencial produtivo, embora a sua preservação e restauração,
visando proteger suas funções hidrológicas, ecológicas e geomorfológicas,
são essenciais na busca da sustentabilidade. Esta questão, quando analisada
em nível de pequena propriedade, como é o caso na sub-bacia do Arroio
Grande, o impacto poderá ser ainda maior, principalmente naquelas
localizadas próximo a cursos d’água, reduzindo drasticamente a área
produtiva;
135

e) A caracterização da disponibilidade e demanda hídrica, realizado para o


contexto da sub-bacia e por Ponto de Controle (PC), permitiu a localização no
tempo e no espaço, das condições hídricas, servindo de elemento norteador
para propor alternativas de suprimento à demanda;

f) Os resultados obtidos através da análise dos cenários de sustentabilidade


hídrica na sub-bacia permitiram concluir que no cenário 1, a sub-bacia
encontra-se na situação limite de uso da água no período em que é
desenvolvida a irrigação, além de estar em desacordo com a legislação
ambiental. No cenário 2, com o atendimento a legislação ambiental, verifica-
se que a demanda excede a disponibilidade hídrica nos PC 5 e 6, localizados
a jusante da sub-bacia. Para o cenário 3, a implantação de barragens
temporárias a montante dos PC 5 e 6, que apresentaram déficit hídrico,
indicam que no PC 5, a demanda poderá ser atendida parcialmente,
indicando viabilidade. Já para o PC 6, os resultados apontam não haver
conformidade entre oferta e demanda hídrica;

g) Os conflitos pelo uso da água na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande


decorrentes da agricultura irrigada poderão ser minimizados com a
implantação das barragens temporárias. Entretanto, os resultados indicam
que a sustentabilidade hídrica da cultura orizícola somente poderá ser
alcançada com a redução da área irrigada, especificamente, entre os PC 3 - 5
e, 4 – 6;

h) As estruturas de barramento propostas apresentam restrições no que tange


ao licenciamento ambiental. Entretanto, com a Avaliação de Impactos
Ambientais (AIA) e elaboração de Estudos de Impacto Ambiental (EIA), estas
restrições podem ser analisadas e avaliadas, demonstrando os impactos
ocasionados ao meio ambiente;

i) Considerando que as membranas das barragens temporárias flexíveis não são


fabricadas no Brasil, o que implica em custos mais onerosos, a metodologia
proposta no presente estudo poderá ser aplicada para barramentos com
136

materiais convencionais, embora sejam necessárias algumas adaptações na


concepção;

j) A busca de soluções para os conflitos pelo uso da água consiste em um


desafio a ser enfrentado nas próximas décadas, tendo em vista a implantação
dos instrumentos de planejamento e gestão de recursos hídricos no Brasil,
bem como a necessidade crescente de adequação a legislação ambiental.

Como sugestões para futuras pesquisas, recomenda-se:

a) A realização de uma grade de amostragem na área com cultivo orizícola


irrigado, para caracterizar as condições físico-hídricas dos solos, tendo em
vista que estes parâmetros são importantes na determinação da necessidade
hídrica da cultura orizícola;

b) Analisar as séries históricas de precipitação diária na sub-bacia, verificando a


freqüência de ocorrência de precipitações que atendam o volume a ser
armazenado pelas barragens temporárias, objetivando avaliar o risco de
atendimento a demanda hídrica.
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ANEXOS
147

ANEXO I - Tempo necessário para inflar uma barragem flexível e diâmetro da


tubulação.

Fonte: Savatech (2009).


148

ANEXO II - Tempo necessário para injeção de água em uma barragem flexível e


diâmetro da tubulação.

Fonte: Savatech (2009).


149

ANEXO III - Valores do parâmetro CN para áreas agrícolas (SCS, 1975).

USO DO SOLO SUPERFÍCIE A B C D

Solo lavrado com sulcos retilíneos 77 86 91 94


em fileiras retas 70 80 87 90
Plantações regulares em curvas de nível 67 77 83 87
terraceado em nível 64 76 84 88
em fileiras retas 64 76 84 88
Pastagens em curvas pobres 47 67 81 88
de nível normais 25 59 75 83
boas 6 35 70 79
Campos permanentes normais 30 58 71 78
esparsas, de baixa transpiração 45 66 77 83
normais 36 60 73 79
densas, de alta transpiração 25 55 70 77
Florestas muito esparsas, baixa transpiração 56 75 86 91
esparsas 46 68 78 84
densas, de alta transpiração 26 52 62 69
normais 36 60 70 76

ANEXO IV - Valores do parâmetro CN para áreas de ocupação urbana (SCS, 1975).

USO DO SOLO A B C D

Espaços abertos:
- Matos ou gramas cobrem 75% ou mais da área 39 61 74 80
- Matos cobrem 50 a 75% da área 49 69 79 77
Áreas comerciais (85% impermeáveis) 89 92 94 95
Distritos industriais (72% impermeáveis) 81 88 91 93
Áreas residenciais
tamanho do lote (m²) área impermeável (%)
< 500 65 77 85 90 92
1000 38 61 75 83 87
1300 30 57 72 81 86
2000 25 54 70 80 85
4000 20 51 68 79 84
Parques e estacionamentos, telhados e viadutos 98 98 98 98
Arruamentos e estradas
- Asfaltadas e com drenagem pluvial 98 98 98 98
- Paralelepípedos 76 85 89 91
- Terra 72 82 87 89
APÊNDICES
APÊNDICE I – Caracterização físico-hídrica do solo.

DENSIDADE DA PARTICULA DENSIDADE DO SOLO POROSIDADE TOTAL CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA


PROF.
REPETIÇÃO Dp Média Ds Média PorTot Média Ksat média Ksat média
(cm) (g cm-³) (g cm-³) (g/cm³) (g/cm³) (cm³/cm³) (cm³/cm³) (mm/h) (mm/dia)
sup 1 2,3660 1,2453 0,4737 9,34

sup 2 2,3660 1,3345 0,4360 8,36

sup 3 2,3660 2,3660 1,3140 1,2979 0,4446 0,4514 7,95 8,55

5 a 10 1 2,4669 1,5376 0,3767 2,75

5 a 10 2 2,4669 1,4877 0,3969

5 a 10 3 2,4669 2,4669 1,4595 1,4949 0,4084 0,3940 1,66 2,205

20 a 25 1 2,5549 1,4852 0,4187

20 a 25 2 2,5549 1,4764 0,4221 0,28 0,28

20 a 25 3 2,5549 2,5549 1,4959 1,4858 0,4145 0,4184

< 50 1 2,3635 1,4405 0,3905 0,01

< 50 2 2,3635 1,3874 0,4130 0,02 0,015

< 50 3 2,3635 2,3635 1,4143 1,4141 0,4016 0,4017


152

APÊNDICE II – Vazões naturais na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, para o


meses de novembro e dezembro, com base nos dados da estação
fluviométrica Restinga Seca (85438000).
FREQ. NOV DEZ

(%) Q(95-) Qm Q(95+) Q(95-) Qm Q(95+)

3,57 35,1070 43,56822 52,0294 25,7545 43,3436 62,7259

7,14 27,3752 34,95950 42,5438 23,9613 37,0932 48,4318

10,71 21,6407 30,19236 38,7440 12,1883 16,3406 23,6618

14,29 19,2345 26,82557 35,3880 9,4715 15,2157 18,2432

17,86 18,2631 22,38797 27,4647 9,0193 13,0877 17,7117

21,43 14,9365 20,86300 25,5415 8,4637 10,1964 14,1023

25,00 14,2613 19,95516 24,9738 8,3140 10,1949 10,9212

28,57 13,1245 14,59323 16,3859 6,2875 9,3436 10,3732

32,14 11,3449 13,86538 16,0620 5,7683 7,4398 9,1113

35,71 10,8544 12,96149 15,6605 5,3896 6,8314 8,9083

39,29 10,2625 12,28651 15,0431 5,3466 6,7543 8,1189

42,86 8,7383 11,8907 13,7186 4,7544 6,2735 7,8108

46,43 8,3952 10,93264 13,4701 4,7361 6,0091 6,6715

50,00 8,2194 10,23301 12,2836 4,3771 4,9298 5,4825

53,57 8,1824 9,379337 11,0295 4,2477 4,8231 5,3984

57,14 7,8257 9,082494 10,9071 4,2359 4,6877 5,1481

60,71 7,6373 9,011653 10,5393 4,1541 4,6511 5,1395

64,29 7,1162 8,935087 10,3393 4,0138 4,4929 5,0536

67,86 6,8406 8,774819 9,9123 3,9455 4,4764 4,939

71,43 6,5735 7,461599 8,3497 3,9321 4,3451 4,7448

75,00 5,6862 6,523631 7,8883 3,8804 4,1158 4,3511

78,57 5,1590 6,285185 6,8842 3,7794 4,0254 4,2714

82,14 4,8111 5,465846 6,1206 3,7296 3,9811 4,2325

85,71 4,7123 5,007799 5,3033 3,5682 3,717 3,8658

89,29 3,9787 4,122396 4,2661 3,5524 3,5626 3,5728

92,86 3,9118 4,057916 4,2040 3,4676 3,5147 3,5685

96,43 3,5161 3,554497 3,5929 3,4609 3,4891 3,5107


153

APÊNDICE III – Vazões naturais na sub-bacia hidrográfica do Arroio Grande, para o


meses de janeiro e fevereiro, com base nos dados da estação
fluviométrica Restinga Seca (85438000).
FREQ. JAN FEV

(%) Q(95-) Qm Q(95+) Q(95-) Qm Q(95+)

3,57 31,3194 44,5785 57,8377 21,8016 28,7131 36,3812

7,14 22,0942 33,7965 45,4989 21,0449 28,2647 34,7277

10,71 13,3758 25,2421 37,1125 15,2313 23,5897 31,9480

14,29 13,3718 15,9711 18,5663 10,0923 13,4908 17,9309

17,86 9,9922 11,5904 13,1886 9,9518 11,514 13,2120

21,43 8,5637 9,1284 9,6931 9,0844 10,9184 12,9358

25,00 5,329 6,8704 8,4247 9,0506 10,5955 11,8850

28,57 5,3162 6,7599 8,2576 7,9790 10,4142 11,7440

32,14 5,0665 6,4729 8,1908 7,8892 8,7132 10,5681

35,71 5,0622 6,0859 7,8793 6,4979 8,3554 9,5373

39,29 4,1276 5,8451 6,628 6,1428 7,2141 7,9302

42,86 4,0535 4,4553 4,7831 5,9102 6,7876 7,7887

46,43 3,9141 4,2732 4,6902 5,7287 6,6729 7,6650

50,00 3,7786 4,1174 4,4929 5,677 6,5218 7,4669

53,57 3,7595 4,0800 4,3815 5,5572 6,3892 7,3148

57,14 3,7111 3,9892 4,3125 5,3116 6,2745 6,8721

60,71 3,666 3,9509 4,1424 4,6801 5,5526 6,4252

64,29 3,6318 3,8116 4,1059 4,5474 5,0500 5,5527

67,86 3,5944 3,8076 3,9834 4,4727 5,0061 5,5396

71,43 3,5446 3,7988 3,8865 4,4355 4,8585 5,4794

75,00 3,5173 3,6409 3,6873 4,4163 4,8010 5,2815

78,57 3,4997 3,5359 3,573 4,1227 4,7185 5,0208

82,14 3,4894 3,5292 3,5722 3,6479 3,8898 4,1316

85,71 3,4877 3,5277 3,5707 3,525 3,5733 3,6217

89,29 3,4824 3,4894 3,4897 3,4516 3,475 3,5028

92,86 3,46 3,4749 3,4894 3,4473 3,4691 3,4866

96,43 3,4314 3,4384 3,4453 3,4423 3,4506 3,4588


154

APÊNDICE IV – Seções transversais (Arroio do Meio).

Figura IV.a – Seção transversal 01: Arroio do Meio.

Figura IV.b – Seção transversal 02: Arroio do Meio.

Figura IV.c – Seção transversal 03: Arroio do Meio.


155

APÊNDICE V – Seções transversais (Arroio Grande).

Figura V.a – Seção transversal 04: Arroio Grande.

Figura V.b – Seção transversal 05: Arroio Grande.

Figura V.c – Seção transversal 06: Arroio Grande.

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