Educação Cristã A Relevância Do Ensino No Contexto Da Igreja
Educação Cristã A Relevância Do Ensino No Contexto Da Igreja
Educação Cristã A Relevância Do Ensino No Contexto Da Igreja
EDUCAÇÃO CRISTÃ
A relevância do ensino no contexto da igreja
EDUCAÇÃO CRISTÃ
A relevância do ensino no contexto da igreja
EDUCAÇÃO CRISTÃ
A relevância do ensino no contexto da igreja
__________________________________________________
Autora: Juliana Hoffmann Schvanz Rogge
__________________________________________________
Orientadora de Conteúdo: Marivete Zanoni Kunz
__________________________________________________
Avaliador de Forma: Claiton André Kunz
__________________________________________________
Avaliador de Português: Luciano Gonçalves Soares
__________________________________________________
Avaliador final: Monica Pinz Alves
Média Final:
Ijuí
2009
4
RESUMO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 6
I - A EDUCAÇÃO CRISTÃ ............................................................................... 7
1.1 Conceito e definição .................................................................................................. 7
1.2 Propósito .................................................................................................................. 10
1.3 Natureza ................................................................................................................... 17
CONCLUSÃO ................................................................................................... 52
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 55
ANEXO A – QUESTIONÁRIO DA PESQUISA DE CAMPO .................... 59
INTRODUÇÃO
O mundo hoje vive uma época de diversidade de conceitos, ideologias e paradigmas, fruto de
um ambiente pluralista. Diversidade esta que se faz presente em todos os segmentos da
sociedade. Na educação não é diferente. Por isso, é desejo de todo líder cristão oferecer à sua
igreja uma educação que seja eficaz, mas também bíblica. Para não cair na armadilha das
muitas filosofias pós-modernas, é preciso que se estabeleçam alguns pressupostos para a
educação cristã.
Este trabalho é de relevância teológica por proporcionar um estudo nas Escrituras a respeito
do assunto e por avaliar a situação atual, visando o crescimento e o aperfeiçoamento da igreja
nesta área que é de extrema importância para o reino de Deus. A educação cristã faz parte da
missão integral da igreja e, portanto, esta pesquisa poderá contribuir para que a igreja cumpra
sua missão, olhando à Palavra de Deus e à importância da educação cristã.
O que se propõe com esta pesquisa é responder a perguntas tais como: qual a relevância da
educação cristã? Qual o lugar que ela tem ocupado nos dias atuais? O que é a educação cristã?
Qual o propósito da igreja com a educação cristã? Quais os fundamentos bíblicos para o
ensino? Qual o cenário atual? Dentro destes e outros questionamentos é que serão abordados
os temas.
7
I - A EDUCAÇÃO CRISTÃ
A educação pode ser vista sob diferentes aspectos, tais como: atividade social, econômica,
política ou religiosa, podendo ser abordada tanto no âmbito familiar, do dever dos pais para
com os filhos, quanto na abrangência eclética de uma sociedade materialista que usa
intensamente a mídia para formar uma geração de consumidores ou como iniciativa de escolas
confessionais que doutrinam seus alunos com uma visão polarizada da vida e para a vida.
“Enfim, educar, no sentido mais amplo, compreende habilitar, tornar apto para ser e fazer de
maneira eficaz, alcançando todo o seu potencial como pessoa e como elemento integrante de
uma comunidade”.4
A educação cristã, no entanto, é um segmento da educação geral e, sendo assim, tudo o que
interage positiva ou negativamente na educação cristã interage na educação geral, pois os
1
FERREIRA, A. B. H. O minidicionário da língua portuguesa, p. 251.
2
YOUNGBLOOD, R. F. Dicionário ilustrado da Bíblia, p. 445.
3
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia, v. 2. p. 268.
4
RINALDI Jr., R. Educação na perspectiva cristã, p. 5.
5
GAGLIARDI Jr., Â. Educação religiosa relevante, p. 5.
8
princípios que orientam esta devem estar presentes em quaisquer dos segmentos em que se
particulariza. Os desafios são comuns e abrangentes em todas as áreas, seja na velocidade de
sua informação, no alto custo de sua implementação, na fugacidade da informação, entre
outros. Mas, além daquilo que vale para a educação geral e, consequentemente, para a
educação cristã, há alguns desafios que são específicos para a educação cristã, como por
exemplo: a permanência de seu livro-texto; o confronto de seus ensinos com os ensinos e
práticas dos incrédulos; a espiritualidade de seu conteúdo; o local onde é praticada; e sua
centralização na pessoa de Cristo.6
A educação é a base para a vida e, sendo o aprendizado da Palavra de Deus, deve ser
incentivada por todos os que desejam viver com plenitude e sucesso.7 A relevância da
educação está no fato de que o próprio Deus foi quem a inseriu na humanidade, desde a
instrução à primeira família para que dominasse sobre a natureza, que implicava entender
como ela funcionava e transmitir tal conhecimento cumulativo de geração em geração. Da
mesma forma, Jesus, na grande comissão, enfatiza o ensino aos novos discípulos. Portanto,
educação cristã precisa ser entendida sob uma perspectiva bíblica cristã.8
A grande comissão, citada acima, registrada em Mateus 28.18-20, relata a ordem deixada por
Jesus: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do
Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”.
Este versículo é frequentemente utilizado para fins evangelísticos. No entanto, a ordem de
Jesus não é apenas evangelizar, mas também ensinar. Sendo assim, educação cristã é
obediência a esta ordem de Jesus.9 Ordem esta que situa o ensino e o treinamento no centro da
missão da igreja, como parte integrante da evangelização.10 Assim, pode-se afirmar que a
Bíblia, como registro da revelação de Deus aos homens, é a fonte dos conceitos da educação
cristã. A relevância desta está diretamente relacionada à contextualidade da Palavra de Deus e
ao seu relacionamento com a experiência diária do crente, sempre tendo em vista dar-lhe
condições de alcançar a plena maturidade em Cristo.11
6
GONÇALVES Jr., A. S. Desafios da educação religiosa no 3º milênio. Educador cristão, n° 58, 3T, 2007, p. 25,
26.
7
GAGLIARDI Jr., Â. Educação religiosa relevante, p. 5.
8
RINALDI Jr., R. Educação na perspectiva cristã, p. 6.
9
GEORGE, S. K. Igreja ensinadora, p. 15.
10
SMITH, C. Programa de educação religiosa, p. 12, 15.
11
DORNAS, L. A nova EBD...a EBD de sempre, p. 72.
9
Segundo George, “educação cristã é um processo deliberado e intencional pelo qual Cristo é
formado nas pessoas, visando à transformação, formação e crescimento da pessoa toda e da
igreja toda em todo o tempo”. Com base em Lucas 2.52, “Jesus crescia em sabedoria, estatura
e graça, diante de Deus e dos homens”.12 A educação cristã não consiste em dar a conhecer à
criança um corpo de doutrinas ou em instruí-la na prática de certos ritos. Mas é o processo
que transforma, desenvolve, enriquece e aperfeiçoa a própria vida da pessoa mediante sua
relação com Deus em Jesus Cristo. Não é suficiente a simples aceitação abstrata das normas e
dos princípios do Evangelho, ou a mera adoção do código moral do Cristianismo, colocando
em prática os ensinos de Jesus. É necessário mais. É preciso situar Deus no centro da vida.13
Gagliardi Jr., com base no texto de 2 Tm 3.16: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil
para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça”, defende que
“não há nada em Deus ou que d’Ele proceda que possa ser considerado fútil, supérfluo,
dispensável, desprezível, irrelevante ou descartável. Ele é, em sua essência e no que diz ou
faz, perfeito e infinitamente sábio. Assim, tudo o que se apresentar como procedente de Deus
deverá caracterizar-se como pertinente, próprio, adequado, necessário e fundamental”.14
Antigo e do Novo Testamento. A palavra hebraica 8aAdfy (yāda‘) “vir a conhecer”, por
exemplo, inclui a ideia de que a experiência ensina (Jó 32.7). A palavra hAfrfy (yārâ)
“mostrar, dirigir, ensinar”, tem importância prática definida, como em Sl 86.11: “Ensina-me,
Senhor, o teu caminho, e andarei na tua verdade”, (também Sl 25.8, 12, 119.102, etc.). A
palavra damfl (lāmad) parece enfocar mais a “compreensão” (Dt 4.5,10; 11.19; 20.18;
31.19; Ed 7.10; Jr 32.3; etc.), porém, a mesma palavra expressa o desenvolvimento de
técnicas de guerra (2 Sm 22.34; Sl 18.3,4; 114.1). Já no grego, (didasko) é usada
geralmente para instrução verbal, mas não é estranho também um significado como “Mostra-
nos a orar” (Lc 11.1; Mt 4.23; 5.2; 9.35; 13.54; 26.55; Mc 1.21; 4.1,2; 6.34; 8.31; Lc 4.15;
5.3,17; 19.47; 20.1; Jo 6.59; 7.14; 8.20,28; At 4.18; 5.25; 11.26; 18.11). Muitas vezes “fazer e
ensinar” andam juntos (Mt 5.19; At 1.1), e não é incomum encarar o culto da igreja como
12
GEORGE, S. K. Igreja ensinadora, p. 16-17.
13
BAÉZ-CAMARGO, G. Princípios e métodos da educação cristã, p. 38.
14
GAGLIARDI Jr., A. Educação religiosa relevante, p. 24.
10
“instruir-se” mutuamente com “salmos, hinos e cânticos espirituais” (Cl 3.16). Outra palavra
(paideuo) fala de educar uma criança (At 7.22, 22.3), o que também implica
disciplina e correção (1 Co 11.32; 2 Co 6.9; 1 Tm 1.20; 2 Tm 2.25; Tt 2.12).15
Richards diz que, embora ensinar possa lembrar professor e sala de aula, o conceito abrange
muito mais que isso. Limitar a educação cristã às formas tradicionais é limitar a idéia de
ensino e aprendizado que tem como significado principal descrito nas palavras de Jesus:
“Todo aquele que for bem instruído será como seu mestre” (Lc 6.40). E, para isso, é
necessário mais do que transmissão de conhecimento, como também transmissão de vida,
com seu conceito, atitudes, valores, emoções e entrega. Exige que a pessoa reparta com a
outra tudo o que for necessário para fazê-la mais semelhante a Cristo.
Jesus chamou os discípulos para estarem com Ele, porque eles precisavam ver na prática os
conceitos que Ele estava ensinando. “Estar com” e “seguir o exemplo” são conceitos de
importância vital na educação cristã. É preciso abandonar os precedentes estabelecidos pelo
sistema secular de educação, que não se preocupa com semelhanças, mas com informações, e
desenvolver um processo de educação sem igual, fundamentado sobre o conceito bíblico de
crescimento da vida.16
Conclui-se, assim, que a educação cristã não é apenas transmissão de teorias, mas o estudo da
Palavra de Deus de tal forma que produza transformação de vida no indivíduo com o intuito
que este seja um autêntico seguidor e discípulo de Cristo.
1.2 Propósito
Uma das coisas que mais ajudam no ensino são objetivos e propósitos claros e específicos.
Price afirma que muitos professores trabalham meses e meses sem objetivo definido, a não ser
o de apresentar o material que lhe foi passado. Sem um alvo certo e preciso definha-se o
ensino, isso por falta de perspectiva, de propósito e de objetividade.17
Baéz-Camargo também defende que os propósitos da educação cristã devem ser bem
definidos, pois eles proporcionam direção, unidade e significado concretos ao trabalho e ao
mesmo tempo servem como pontos de comparação ou normas para julgar os resultados.18 É
15
RICHARDS, L. O. Teologia da educação cristã, p. 26-27.
16
Ibidim, p. 28.
17
PRICE, J. M. Jesus, o mestre por excelência, p. 45.
18
BAÉZ-CAMARGO, G. Princípios e métodos da educação cristã, p. 64.
11
Nota-se claramente que a edificação da igreja, como corpo de Cristo, está em primeiro plano;
em seguida, o treinamento de líderes; posteriormente, proporcionar conhecimento; e, em
último plano, o evangelismo.
O objetivo geral da educação cristã é levar pessoas a adquirirem uma consciência pessoal do
Deus revelado em Jesus Cristo; à relação pessoal com Ele através da fé; à obediência em
seguir Jesus no discipulado cristão; e ao crescimento contínuo até a plena maturidade cristã.21
Particularizando, pode-se dividir esse objetivo em sete alvos progressivos: a) conversão a
19
DORNAS, L. A nova EBD...a EBD de sempre, p. 88.
20
BAÉZ-CAMARGO, G. Princípios e métodos da educação cristã, p. 67.
21
SMITH, C. Programa de educação religiosa, p. 23.
12
Cristo: levar a pessoa à experiência genuína da graça salvadora de Deus através de Jesus
Cristo; b) filiação à igreja: conduzir esta pessoa a tornar-se membro consciente, ativo e
dedicado de uma igreja fiel às doutrinas do Novo Testamento; c) culto cristão: ajudá-la na
compreensão de que o culto é uma parte constante e vital da sua experiência; d) conhecimento
bíblico e convicção cristã: desenvolvimento dos conhecimentos bíblicos e o alcance da
maturidade cristã; e) atitudes cristãs e consciência cristã de valor: ajudá-la a assumir atitudes e
consciência de valores nitidamente cristãos, para que a sua filosofia de vida seja uma filosofia
de vida cristã; f) vida cristã autêntica: levá-la a desenvolver hábitos e habilidades que
contribuam para o seu próprio crescimento espiritual, bem como aplicar os padrões cristãos de
conduta adequados a cada esfera da sua vida; e, g) serviço cristão: levá-la a empregar seus
talentos e habilidades no serviço cristão.22
Carvalho afirma que a missão e a razão de ser da igreja de Cristo é evangelizar e a educação
cristã é parte desta ação evangelizadora. A evangelização não se reduz à educação, mas inclui
e ultrapassa o âmbito da educação.23 Baéz-Camargo, porém, defende que a educação cristã
não somente não se opõe ao evangelismo, como ela mesma é um meio de evangelização. Diz
que a educação cristã deve ser “evangelizadora”, ou seja, procurar que o Evangelho de Cristo
se faça matéria de vida e conduta entre os alunos, e ressalta: “O mestre Supremo educava
evangelizando e evangelizava educando”. E para que isto aconteça é necessário que os
educadores sustentem os verdadeiros conceitos bíblicos de Deus, do homem, do pecado, da
obra redentora de Cristo, da índole da vida cristã, da ação do Espírito Santo, etc.24
Gangel e Hendricks afirmam que a frase “fazei discípulos” significa “fazei ou desenvolvei
aprendizes”. O próprio mandato de Cristo para o ensino cristão envolve mais do que
disseminar informações. Os mestres cristãos devem lutar com sua tarefa até que seus alunos
se tornem discípulos de Jesus Cristo.25 Embora o indivíduo possa receber instrução segundo
os conceitos e princípios da vida cristã, a educação inicia-se com a experiência da conversão e
deve continuar até o fim da existência terrena do cristão. Pois educar é ensinar, é treinar e é
orientar. É levar as pessoas ao conhecimento e aceitação de Jesus como Salvador, é conduzi-
las à prática dos conceitos cristãos como padrão de vida e é treinar para as funções da igreja e
a motivação para uma vida de serviço em nome de Cristo.26
22
DORNAS, L. A nova EBD...a EBD de sempre., p. 88-93.
23
CARVALHO, A. V. de. Teologia da educação cristã, p. 39.
24
BAÉZ-CAMARGO, G. Princípios e métodos da educação cristã, p. 42-45.
25
GANGEL, K. O; HENDRICKS, H. G. Manual de ensino para o educador cristão, p. 67.
26
SMITH, C. Programa de educação religiosa, p. 12, 15.
13
Olivetti defende que o objetivo supremo da educação cristã é glorificar a Deus, e este abrange
os outros objetivos que não existiriam, ou não teriam colocação válida sem este. Um dos
demais objetivos é o testemunho, que está ligado à evangelização. Defende que Jesus Cristo
mostra a ampla abrangência do conteúdo da evangelização em Mateus 28.19-20, texto já
citado anteriormente, que praticamente em todas as suas expressões faz referência ao
conteúdo da evangelização. “Fazei discípulos” lembra que evangelizar é um processo longo
de ensino e treinamento. “Batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”
pressupõe instrução doutrinária sobre a igreja e a Trindade Santa. “Ensinando-os a guardar
todas as coisas que vos tenho ordenado” mostra como é rico e amplo o conteúdo da
evangelização. E “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século” requer
instrução sobre a realidade da habitação de Cristo no coração dos crentes.
É certo que nenhum esforço de evangelização é desprezível, seja o mais simples, como uma
breve palavra, um folheto entregue às pressas ou um convite dito com poucas palavras são
meios que o Espírito Santo pode e tem usado para despertar corações, levá-los ao Evangelho e
produzir neles a nova vida em Cristo. Porém, estes meios não podem ser considerados obras
completas de evangelização. E por isso pode-se dizer com convicção que evangelização sem
ensino não é evangelização.27
A organização que tem maior responsabilidade no programa de educação cristã de uma igreja
é a escola bíblica dominical. Esta é a agência evangelizadora por excelência da igreja devido a
seu livro-texto, a Bíblia, seu corpo de obreiros, seus alunos e seus propósitos. Seu livro-texto
contém a mensagem, que é o poder de Deus para a salvação. Assim, uma decorrência natural
do ensino da Bíblia é a evangelização, pois a Palavra de Deus não voltará vazia. Seus obreiros
são o maior grupo de pessoas interessadas na salvação de seus alunos e seus objetivos exigem
que seja evangelística.28
Os propósitos ou finalidades da educação cristã podem ser divididos em três espécies: gerais,
específicas e imediatas. Por finalidades gerais entendem-se aquelas que se propõem ao ensino
de indivíduos e grupos de qualquer idade, em qualquer meio e em quaisquer condições. As
finalidades específicas são as que, dentro das finalidades gerais, se indicam em pormenores
para determinada idade e determinado grupo. Como cada grupo e cada idade têm problemas
específicos, necessita-se também de uma especificação das finalidades. Assim, as finalidades
27
OLIVETTI, O. Aprimorando a escola dominical, p. 72, 73, 86, 88.
28
SMITH, C. Programa de educação religiosa, p. 43, 48.
14
específicas são as aplicações das finalidades gerais a uma idade e grupo determinados. E por
fim, é preciso procurar as finalidades imediatas, aquelas que se pretendem alcançar com cada
unidade de ensino ou lição.29
29
BAÉZ-CAMARGO, G. Princípios e métodos da educação cristã, p. 67, 87, 89.
15
Carvalho defende que a tarefa da educação cristã é essencialmente teológica, mas necessita da
contribuição de outras áreas, tais como: da Sociologia, da Psicologia, da Filosofia, da
Literatura, da arte e de muitas outras ferramentas que a providência divina coloca nas mãos do
educador.31 Porém, o mais importante, segundo Billy Graham, é que a Palavra de Deus seja
proclamada. Quando se pregam e se ensinam as Escrituras, abre-se a porta para que o Espírito
Santo possa agir. Também é a Palavra de Deus que transforma vidas. Deus entregou sua
Palavra para “o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça; a fim
de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente preparado para toda boa obra” (2 Tm
3.16,17). O estudo da Bíblia deve ser o centro.32
Shedd diz que o ensino (didaskalia e didache) é também essencial para o discipulado. Sem a
transmissão de conhecimento sobre quem é Jesus o Senhor e quais são suas ordens, como se
esperaria obediência? Aqueles membros da igreja que regularmente evitam as fontes de
instrução, seja a leitura e o estudo da Palavra de Deus, a escola bíblica, os cultos onde a
instrução bíblica recebe prioridade ou a leitura de livros de boa qualidade, não prometem
muito, são como filhos que, em vez de frequentar a escola, ficam abandonados pelas ruas e
não prestam serviços à sociedade.33
Richards, falando sobre o discipulado e a missão da igreja na comunicação de vida, diz: “Eu
posso ensiná-lo como saber. Mas, como vou ensiná-lo a viver?” Há várias técnicas firmes
quanto ao ensino de conhecimento, porém como edificar pessoas na vida de Cristo? Como
chegar à personalidade como um todo, libertando-a e ajudando-a no seu crescimento? Jesus
fornece o ponto de partida, escolhendo doze homens “para estarem com ele” (Mc 3.14) e suas
30
BAÉZ-CAMARGO, G. Princípios e métodos da educação cristã, p. 69-85.
31
CARVALHO, A. V. de. Teologia da educação cristã, p. 28.
32
GRAHAM, B. O poder do Espírito Santo, p. 47.
33
SHEDD, R. P. Disciplina na igreja, p. 16.
16
palavras em Lc 6.40 completam essa compreensão: “Todo aquele que for bem treinado será
como seu mestre”.
A diferença entre a educação geral e a educação cristã é que a geral se preocupa em fazer com
que as pessoas saibam o que os seus professores sabem. Já a educação cristã almeja ajudar as
pessoas a se tornarem o que seus professores são. A ênfase na vida é o ponto de partida da
educação cristã. O objetivo é a transformação. É a ajuda no processo de crescimento gradual
do crente em direção a Cristo e uma exteriorização cada vez mais adequada do Seu caráter.34
A educação cristã tem como base o fato de Deus ter se revelado como verdade infinita e que o
homem é capaz de conhecê-la em parte. Isso deve levar o ser humano a crescer na graça e no
conhecimento de Cristo, até alcançar o pleno conhecimento da verdade.35 Assim sendo, para o
ensino cristão é preciso considerar alguns componentes: (1) o ensino começa com o conteúdo,
e nesse caso é a revelação de Deus através de seu filho Jesus Cristo; (2) o ensino requer
objetivos, o professor precisa saber o alvo que deseja alcançar, pois este define as intenções
do professor e permite uma avaliação correta de seu ensino; (3) o ensino requer um processo
formal, é preciso estabelecer um plano a fim de guiá-lo durante as aulas; e (4) o ensino requer
uma avaliação, que tem o propósito de permitir o aperfeiçoamento.36
Tudo isso, no entanto, exige de uma igreja os melhores métodos educacionais, um currículo
baseado nos princípios da sã pedagogia e material didático adequado e eficiente. A
preocupação pelo bom desempenho de cada membro do corpo de Cristo, individualmente,
deve ser uma constante na organização e no programa de educação religiosa da igreja. Isso
exigirá um estudo do desenvolvimento progressivo do ser humano desde a infância, passando
pelos anos turbulentos da adolescência até chegar à plena maturidade, considerando-se as
características de cada período da vida e adaptando-se o currículo e os métodos às respectivas
necessidades.37
Assim, pode-se concluir que a educação cristã deve possuir propósitos bem definidos, sendo
que em primeiro lugar e o maior deles é glorificar a Deus. Este propósito engloba os demais
que seriam a evangelização, o ensino centrado na Bíblia, que é a Palavra de Deus, a edificação
do cristão e, consequentemente, da igreja de Cristo.
34
RICHARDS, L. O. Teologia da educação cristã, p. 25.
35
DORNAS, L. A nova EBD...a EBD de sempre, p. 71.
36
MARTIN, W. Primeiros passos para professores, p. 41-43.
37
DORNAS, L. Op. Cit., p. 76.
17
1.3 Natureza
Quando, no contexto eclesiástico, se fala em educação cristã, um nome vem logo à mente:
escola bíblica dominical (EBD). No entanto, não somente na EBD, mas em todas as suas
organizações, a igreja exerce uma ação pedagógica e política por meio de seus membros. Seja
na oração, na comunhão, na administração, no aconselhamento pastoral, na proclamação da
Palavra, na ação social ou no evangelismo, etc. Onde os saberes são necessários, ali estarão
presentes o ensino e a aprendizagem como fatores decisivos no processo de educar. Assim, a
igreja de Cristo, por si, é uma instituição pedagógica. Nela estão presentes o aprender e o
ensinar. Ela é um espaço vivo de produção de conhecimentos e práticas pedagógicas capazes
de alterar e, portanto, modificar as estruturas sociais.38
Carvalho diz que a igreja local, se quiser assumir a responsabilidade docente de todos os seus
membros, deve adotar uma prática de educação cristã que envolva todas as suas unidades,
serviços e departamentos. A EBD é somente uma pequena parte do impacto educativo total de
uma igreja. Todas as atividades e reuniões constituem partes do amplo ministério docente da
igreja sobre seus membros.39 Partindo desta perspectiva, Olivetti destaca que o púlpito e a
escola dominical têm a função de pregar a Palavra de Deus. E a pregação de todo o “desígnio
de Deus” (At 20.27), inclui necessária, e inevitavelmente, o ensino. Por isso, a escola
dominical, por sua natureza e estrutura, é o principal agente da educação cristã dentre os
componentes da igreja.40
Hoje, porém, pode-se notar que a escola bíblica já não tem sido este principal agente
educador. Segundo a pesquisa de campo realizada em 2008, relacionada no anexo B, o ensino
provém hoje, em primeiro lugar do púlpito, ou seja, da pregação no culto público. Em seguida
estão a escola bíblica, o discipulado e os núcleos de estudos bíblicos, também conhecidos
como células, como ferramentas de ensino na igreja. Veja no gráfico abaixo a proporção.
38
PAIVA, F. S. A relevância do ensino no contexto da igreja. Educador cristão, n° 59, 4T 2007, p. 19-21.
39
CARVALHO, A. V. de. Teologia da educação cristã, p. 35.
40
OLIVETTI, O. Aprimorando a escola dominical, p. 13.
18
Durante muitos anos, a proposta da Convenção Batista Brasileira para a estrutura da educação
religiosa das igrejas previa a divisão de quatro escolas: Escola Bíblica Dominical; Escola de
Treinamento; Escola de Missões; e Escola de Música. No entanto, devido à dificuldade de se
padronizar um Programa de Educação Religiosa para as igrejas do Brasil e devido às
características peculiares de cada região e de cada situação, a mesma aprovou a proposta de
uma nova estrutura, mais dinâmica, mais simples e adaptável às necessidades das igrejas. Essa
41
GANGEL, K. O; HENDRICKS, H. G. Manual de ensino para o educador cristão, p. 348-349.
19
nova proposta permite às igrejas formularem sua própria estrutura e desenvolver o seu
programa conforme o seu próprio crescimento em todos os sentidos. Importa que o programa
funcione e que seja um eficaz instrumento de ação para o crescimento da igreja.42
Na antiga divisão da educação religiosa ou cristã, feita pela Convenção Batista Brasileira, há
aspectos interessantes a serem observados. A Escola Bíblica Dominical era a organização que
teria maior responsabilidade no programa de educação religiosa da igreja; neste caso, sua
tarefa era ensinar a revelação bíblica. A Escola de Treinamento era a segunda organização nas
igrejas batistas. Sua característica distintiva era o treinamento dos membros para cumprirem a
responsabilidade como partes integrantes da congregação. A Escola de Missões reunia todas
as organizações missionárias a fim de coordenar suas atividades para que estas contribuíssem
para os objetivos da igreja. Seu propósito geral era promover missões cristãs através do estudo
missionário, oração, atividades missionárias na comunidade e mordomia. Abrangia a
sociedade feminina missionária e organizações auxiliares; grupos masculinos (sociedade
cooperadora de homens, grupo de ação missionária e embaixadores do Rei). E a Escola de
Música era a organização para ensinar música, treinar os seus membros para cantar, tocar,
dirigir e participar do seu programa musical, orientar todas as organizações que precisavam da
música em suas atividades.43
42
DORNAS, L. A nova EBD...a EBD de sempre, p. 67.
43
SMITH, C. Programa de educação religiosa, p. 43-44, 57-58, 69, 81.
20
Nos últimos anos, o que se tem visto em muitas igrejas, na verdade, é uma colcha de retalhos
no que se trata de programas integrados de educação cristã. Cada setor, púlpito, música,
sociedades internas, escola dominical, tem suas próprias metas quanto ao número de
membros, ampliação de instalações, reformas e outros empreendimentos setoriais. Mas
poucas comunidades dão verdadeira prioridade ao ministério docente da igreja como um todo
interdependente, fazendo com que a igreja local se transforme numa autêntica escola da fé.45
Dornas defende, neste sentido, que, sendo um empreendimento cristão, a igreja, devido à sua
natureza e missão, deve ser educadora, pois a propagação e consolidação do cristianismo
dependem do ensino. O conhecimento da verdade é necessário antes de a pessoa aceitar a
Cristo e também depois, para que se complete nela a obra transformadora do evangelho, para
que possa guardar tudo o que Jesus ordenou.46
Assim, percebe-se que é cada vez mais necessário e de suma importância que se organize um
sistema de educação cristã na igreja, pois a natureza da educação cristã consiste num amplo
ministério em que diferentes unidades e departamentos estão envolvidos. O objetivo deve ser
comum, o de formar um único ministério docente da igreja que por sua vez deve ser
conhecida como uma instituição pedagógica, como citado, uma verdadeira escola da fé.
44
DORNAS, L. A nova EBD...a EBD de sempre, p. 68.
45
CARVALHO, A. V. Teologia da educação cristã, p. 35.
46
DORNAS, L. A nova EBD...a EBD de sempre., p. 75.
47
GANGEL, K. O.; HENDRICKS, H. G. Manual de ensino para o educador cristão, p. 6.
48
DORNAS, L. Op. Cit., p. 72.
21
Como visto até aqui, a educação cristã é uma ferramenta útil para a igreja no cumprimento de
sua missão de proclamar o evangelho de Cristo a todas as nações. No entanto, ela não consiste
apenas de transmissão de conteúdo, mas seu objetivo é atingir a vida da pessoa como um
todo, levando-a a transformações em seu modo de vida para que possa glorificar a Deus. E
para isto, acima de tudo, o que deve ser o centro da educação cristã é a própria Palavra de
Deus. Com este propósito, este próximo capítulo visa relatar como a educação era praticada
na convivência do povo hebreu, como ela se apresenta na vida do Mestre Jesus e como a
igreja primitiva deu continuidade a todo este processo de ensino e aprendizagem.
Armstrong diz que seria um grande erro estudar sobre educação cristã sem antes considerar a
educação religiosa que a precedeu, ou seja, a educação dos hebreus do Antigo Testamento.49
A principal palavra hebraica que significa educar ou ensinar é Torá, que também significa
Lei. Esta deriva de um verbo que significa apontar, mostrar, portanto, orientar. Outras idéias,
no Antigo Testamento, atribuídos à educação expressam ideias de discernimento, sabedoria,
conhecimento, iluminação, visão, inspiração e nutrição.50
Carvalho diz que, ao se estudar a tradição dos judeus, verifica-se que a hrwt (Torá) era
aprendida diretamente pela instrução oral, com os discípulos sentados aos pés do rabino, e não
tanto pela leitura de livros e comentários. Por isso, era possível a um grande número de
religiosos judeus recitarem de memória a Torá completa. Somente após o aprendizado de
memória era permitido perguntar sobre o significado do texto escrito.51
Champlin explica que Torá, a palavra hebraica assim transliterada, parece ter o sentido básico
de “lançar”, ou seja, “lançar a sorte sagrada”, a prática da adivinhação oracular.
Posteriormente, com a evolução da fé dos hebreus, a palavra adquiriu uma conotação mais
ampla: oráculo, conteúdo da revelação divina, a lei divinamente outorgada, e, finalmente o
conteúdo inteiro da interminada revelação a Israel e através de Israel.52
49
ARMSTRONG, H. Bases da educação cristã, p. 11.
50
SISEMORE, J. T. Os fundamentos da educação religiosa, p. 14.
51
CARVALHO, A. V. de. Teologia da educação cristã, p. 45.
52
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia, v. 2. p. 457.
22
A família israelita antiga era do tipo patriarcal, onde tudo se compreende do ponto de vista do
pai, que goza de total autoridade sobre a casa, sobre os irmãos e é o senhor da mulher. Em
princípio, a mulher não participava da vida pública. Nas cidades e, sobretudo, no meio de
pessoas importantes, elas só podiam aparecer cobertas com um véu. No aspecto religioso, a
mulher não era igual ao homem e estava sujeita a todas as proibições da Lei. Um homem,
sobretudo um aluno dos escribas, não devia falar em público com uma mulher. A mulher não
era obrigada a aprender a Lei, ela era dispensada desta obrigação. Aquele que ensinava a Lei à
sua filha era como se lhe ensinasse a devassidão. Morin comenta que alguns mestres julgavam
que era preferível queimar a Lei, que ensinar às mulheres. As escolas eram reservadas para os
jovens, sendo que as jovens de classe social rica aprendiam o grego. Nas sinagogas, na parte
do serviço litúrgico, as mulheres ocupavam um espaço separado, por uma barreira, do lugar
dos homens. Em nenhum caso elas tinham acesso a partes da sinagoga reservada para os
escribas.55
Daniel-Rops fala que as judias eram excelentes mães, conscienciosas e devotas. As filhas
ficavam com elas até o dia do casamento. Elas ajudavam nas atividades da casa, carregavam
água, teciam e, na zona rural, participavam do trabalho externo, respigavam após os ceifeiros
ou cuidavam das ovelhas durante o dia.56 Os filhos, depois de terem recebido uma primeira
educação materna, aprendiam, oralmente, a sabedoria do pai, assim como sua profissão e os
fundamentos da religião. A sociedade desempenhava uma função na formação, mas é
discutível a data da implantação da escola em cada vilarejo. Alguns acreditam que foi a partir
53
RINALDI Jr., R. Educação na perspectiva cristã, p. 13.
54
WILLIAMS, D. (edit). Dicionário bíblico Vida Nova, p. 98-99.
55
MORIN, É. Jesus e as estruturas de seu tempo, p. 55-57.
56
DANIEL-ROPS, H. A vida diária nos tempos de Jesus, p. 78.
23
de 63 d.C., que a instrução escolar passou a ser dada às crianças de seis e sete anos. Outros
acreditam que a escola foi generalizada cerca de 130 a.C.
Conforme a sabedoria bíblica e judaica, a criança não era considerada inocente. Pensava-se
até o contrário (Pv 22.15). Os rabinos se interessavam pelas crianças porque viam nelas o
futuro de Israel, seus futuros alunos e futuros sujeitos da Lei. Entretanto, enquanto ela fosse
menor de doze anos, pertencia a uma categoria inferior, incapaz na área religiosa. Ela era
colocada na mesma categoria dos surdos, mudos, cegos, pagãos, mulheres e escravos.57
Segundo Gower, quando o povo judeu entrou em Canaã eles não tinham um sistema
educacional organizado. Esse sistema se desenvolveu à medida que a sua civilização
progrediu, sofrendo as influências e as práticas das nações circunvizinhas. Neste período, a
educação centrava-se no lar. A grande parte da responsabilidade era da mãe em educar tanto
os filhos como as filhas durante os três primeiros anos (provavelmente devido a ser o período
do desmame). As meninas podiam ter uma profissão, talvez como parteiras e cantoras.58
Sisemore também afirma que nos tempos antigos (período bíblico), do povo hebreu, mesmo
quando não havia um sistema organizado de instrução e o lar era a única escola, sendo os pais
os únicos professores, a instrução era real, sendo que a transmissão das tradições sagradas era
a mais importante de todas as partes do ensino. Toda a comunidade judaica, adulta, tinha a
responsabilidade de ensinar, principalmente naquilo que se relacionava à fé que haviam se
comprometido a passar adiante. O texto em Deuteronômio 6 enfatiza a persistência no ensino,
o aproveitamento das oportunidades informais, o uso do lar e a responsabilidade do pai. A
comunicação da fé era tão importante que os pais foram instigados a conversar sobre o
assunto não só em casa, mas quando estavam na estrada, no fim do dia, no início, etc. Ainda
deveriam colocar símbolos em seu corpo e no portão da casa para lembrar a cada membro da
família os mandamentos de Deus.59
É possível que o povo começou a ter algum tipo de educação formal quando os santuários
começaram a fazer parte de suas vidas (mais ou menos 1050 a.C.). A escrita era quase sempre
feita à tinta, sobre pedaços de cerâmica. As penas eram feitas com bambu aguçado para
formar uma ponta (Jr 17.1) e a tinta era de fuligem, resina, óleo de oliva e água.60
57
MORIN, É. Jesus e as estruturas de seu tempo, p. 60.
58
GOWER, R. Usos e costumes dos tempos bíblicos, p. 78-79.
59
SISEMORE, J. T. Os fundamentos da educação religiosa, p. 14-15.
60
GOWER, R. Op. Cit., p. 79-80.
24
Sisemore afirma que nos tempos dos patriarcas os objetivos da educação eram três:
transmissão da herança histórica (Êx 12.26-27; 13.7,8,14; Dt 4.9,10; 6.20,21; 7.6,19; 32.7);
instrução relativa às cerimônias religiosas; e transmissão da herança ética (Êx 20.1,17). Os
métodos didáticos empregados eram, em sua maior parte, de forma oral, onde a memorização
era fundamental. Outro método era a parábola. Parte muito importante eram os festivais
anuais, que celebravam por meio de dramatizações os atos de Deus em favor de seu povo.
Durante o período dos juízes, estes eram os líderes militares e árbitros em disputas, e não
professores. Assim, durante o período sem lei e sem domicílio certo, o povo não contava com
orientação educacional. No entanto, Samuel, o último dos juízes, foi uma exceção, sendo o
maior mestre religioso do antigo Israel, depois de Moisés. Mais tarde, o rei Salomão tornou-se
representante dos sábios. Mesmo que o clímax da doutrina dos sábios tenha se dado no
período pós-exílico, o livro de Provérbios tem sua origem em Salomão. Este livro, depois da
Torá (Lei), é o mais antigo livro hebreu de educação.
A educação judaica não se limitava às crianças, os adultos também precisavam dela. Cabia
aos sacerdotes e aos levitas, na qualidade de guardiões da lei, instruir Israel (Lv 10.11; Dt
33.10). Também não se deve omitir a função educacional dos profetas. Homens como Elias,
Amós e Isaías não foram apenas pregadores, mas também professores. Eles eram sensíveis às
condições sociais e religiosas do povo e se esforçavam em interpretar a fé e aplicá-la em suas
próprias gerações, visando também as subsequentes.
No período pós-exílico, os escribas tomaram os lugares dos profetas como líderes religiosos.
Assim, a didática meramente transmissiva substituiu a pregação. Neste período, os
professores não eram somente os sacerdotes e os levitas, mas também os sábios e os escribas.
A partir de Esdras, os judeus tornaram-se conhecidos como “o povo do livro”, pois foi nesta
época que mais estritamente se ensinou em público o conteúdo das Escrituras. As
61
SISEMORE, J. T. Os fundamentos da educação religiosa, p. 13.
62
ARMSTRONG, H. Bases da educação cristã, p. 11.
25
O lar foi a escola hebraica mais antiga, e continuou a ter um lugar fundamental na educação
judaica. Mas, posteriormente, surgiu na história judaica outro tipo de instituição educacional,
as sinagogas. Nas sinagogas, assim como em casa, era fundamental a instrução do povo na
Lei. O serviço semanal era de natureza principalmente educacional; assim, todos os judeus se
tornaram estudantes da Lei.63
Gower diz que o exílio dos judeus na Assíria e na Babilônia os levou a novos avanços na
educação. Quando voltaram e sua terra tornou-se parte do império grego, houve novos
progressos. Os reis assírios colecionaram milhares de tabletes de argila numa biblioteca em
Nínive. Eles contêm todo tipo de conhecimento: botânica, geometria, química, astronomia,
medicina, matemática, leis, religião, e indicam até que ponto o sistema assírio de educação
havia progredido. Ainda ressalta que o livro de Daniel, no capítulo primeiro, conta como os
membros da hierarquia israelita foram educados na corte babilônica. Eles deviam aprender a
língua durante três anos e depois passar por um exame oral feito pelo rei (Dn 1.3-9,19, 20).
A fim de preservar sua identidade como nação, era necessário que os judeus exilados
conhecessem a fundo sua própria Lei. Professores da classe sacerdotal e profética parecem ter
cuidado desse aspecto da educação e assim continuaram ao retornarem à sua terra. Quando
voltaram do cativeiro, o imperador persa comissionou um escriba (Esdras), para que ensinasse
a Lei ao povo judeu (Ed 7.12-26). Os professores passaram a explicar a Lei andando por entre
a multidão. Como resultado, os escribas se tornaram importantes na comunidade como
professores da Lei. Esses homens eram comparados aos primeiros profetas e chamados
“homens da grande sinagoga”.64
Ausebel complementa e diz que o estudo da Torá assumiu o caráter de consagração nacional-
religiosa neste momento quando Esdras, o escriba, reuniu os judeus dentro do pátio do templo
de Jerusalém, após o retorno do cativeiro, a fim de promulgar e ensinar-lhes os mandamentos
e as leis das Escrituras. Depois desse dia, o estudo da Torá passou a ser obrigatório e
ininterrupto como forma mais elevada de culto religioso, vindo a tornar-se também
preocupação de todo o povo judeu.65
63
SISEMORE, J. T. Os fundamentos da educação religiosa, p. 15-18.
64
GOWER, R. Usos e costumes dos tempos bíblicos, p. 80-81.
65
AUSUBEL, N. Conhecimento judaico I, p. 274.
26
Daniel-Rops explica que a sinagoga era uma organização religiosa, uma assembleia que
desempenhava um papel considerável na vida administrativa e judicial dos judeus e até
mesmo em sua educação. A sinagoga governava a vida diária de seus membros, nomeava os
magistrados locais, determinava a educação das crianças e até constituía em si mesma uma
pequena universidade para o povo. Isso porque era primariamente uma casa de oração, onde
os homens se reuniam para ouvirem Deus falar mediante as palavras da sua Lei.66
Por ser o lugar onde se ensinava a Lei, a sinagoga passou a ser conhecida como a “casa do
ensino”. O ensino era parte do culto de adoração e, por isso, acontecia no lugar de adoração.
Havia, também, um lugar separado para o propósito específico do ensino, onde as crianças
estudavam a Lei guiadas por um mestre, que ocupava um lugar de honra e respeito.67
Armstrong afirma que a ideia de ter centros, locais apropriados para o culto, o estudo da Lei e
o ensino das crianças, foi aceita não apenas pelos judeus da Diáspora, mas também pelos que
depois regressaram à Palestina. Em lugares onde havia grandes populações judaicas
(Jerusalém, Roma, Antioquia, Alexandria, etc.) existiam várias sinagogas. Provavelmente
existiam cerca de 480 sinagogas em Jerusalém no terceiro século a.C.
Armstrong diz que a educação hebraica tinha como propósito transmitir a herança histórica,
instruir na conduta ética e assegurar a presença de Deus e sua adoração. A transmissão da
herança histórica foi um dos mais importantes propósitos. Isso porque, durante todos os anos
da vida de Israel, e, especialmente durante os anos formativos, era necessário que as gerações
futuras viessem a se nutrir das memórias históricas de tudo o que havia acontecido no
passado, a fim de que em sua mente estivesse o conhecimento dessa herança histórica do povo
de Israel como povo de Deus. Diz ainda que um segundo propósito era instruir no
66
DANIEL-ROPS, H. A vida diária nos tempos de Jesus, p. 239-240.
67
SISEMORE, J. T. Os fundamentos da educação religiosa, p. 21.
68
ARMSTRONG, H. Bases da educação cristã, p. 13, 20.
27
comportamento ético (Êx 20.12). Mas, no centro da educação hebraica sempre esteve a ideia
do conhecimento de Deus, a adoração e a obediência ao Criador. Através da história, Deus
sempre foi o centro do processo educativo. O homem sempre procurou conhecer algo de sua
existência, propósito e lugar no universo. Assim, como povo escolhido por Deus, os hebreus
centralizaram seu ensino em Deus.69
A principal preocupação dos pais judeus era que seus filhos conhecessem a Deus. Em
hebraico, o verbo “conhecer” significa estar intimamente envolvido com uma pessoa. Os pais
piedosos ajudavam seus filhos a desenvolverem este tipo de conhecimento de Deus. A Bíblia
diz que “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo a
prudência” (Pv 9.10). Desde pequenos, os jovens aprendiam sobre a história de Israel. Na
primeira fase da infância, provavelmente a criança memorizava uma declaração de crença e a
recitava uma vez por ano, pelo menos, na oferta das primícias. O credo reduzia o relato da
história de Israel a uma forma simples e fácil de memorizar. Assim, os filhos aprendiam que a
nação de Israel havia feito uma aliança com Deus. E esta aliança impunha-lhes certas
restrições e certas responsabilidades perante o próprio Deus.70
Conclui-se, assim, que o povo hebreu recebeu de Deus a ordem de ensinar a Lei e isto era um
compromisso que tinham como famílias e como povo de Deus. Não importasse se era no lar,
como no início, ou nas sinagogas, ou até mesmo nas escolas de profetas, que surgiram
posteriormente, o povo estava empenhado em transmitir o ensino da Lei de Deus e este ensino
era real e centralizado no próprio Deus. Não deveria ser diferente nos dias atuais. A igreja,
como povo escolhido de Deus, assim como o povo hebreu, deve se comprometer com esta
tarefa diante de Deus, de ensinar sua Palavra, com um ensino autêntico e fiel ao próprio Deus.
2.2 Jesus
Armstrong diz que Jesus de Nazaré é a base bíblica e histórica personificada da educação
cristã. Foi através de Jesus que a educação judaica começou a caracterizar-se por longo
tempo, assumindo marcas identificadas como cristãs, formulando assim a educação cristã.71
Jehle complementa dizendo que já está na hora de se voltar a estudar o Filho de Deus como o
modelo primário de educador. Fazer daquele que é o Senhor ser também o herói na prática e
na teoria pedagógica. Caso contrário as pessoas continuarão, na melhor das hipóteses
69
ARMSTRONG, H. Bases da educação cristã, p. 13-14.
70
WHITE, W. Jr.; TENNEY, M. C.; PACKER, J. I. Vida cotidiana dos tempos bíblicos, p. 81.
71
ARMSTRONG, H. Op. Cit., p. 25.
28
inconsistentes ou, na pior delas, hipócritas. É preciso restaurar para a próxima geração a
atitude, unção e prática do maior professor que já viveu e que deixou, através dos quatro
evangelhos, narrativas de seus métodos e práticas de ensino, ou seja, Jesus.72
Ao olhar para Jesus, vê-se à luz de Sua perfeita personalidade, do Seu espírito de servir, de
Sua confiança no ensino, do Seu conhecimento das Escrituras e da humanidade, do Seu
domínio dos métodos e processos de ensino, que Ele foi o mestre melhor qualificado que o
mundo já conheceu. Ele foi de fato “o Mestre dos mestres”, ou “o Mestre magistral”. Price
ressalta que qualquer pedra à beira da estrada ou qualquer tripeça tomada por empréstimo por
Jesus, transformava-se num trono de autoridade e sabedoria universal, invejado por soberanos
e pontífices.73
Sisemore diz que tanto por meio de exemplos, como por mandamentos, Jesus enfatizava a
importância do ministério da educação. Ele mesmo era um mestre “vindo de Deus” (Jo3.2).
Durante seu ministério terreno, era chamado de “Mestre” com mais frequência que qualquer
outra designação. Nos quatro evangelhos, ele é mencionado como mestre oitenta e nove
vezes; e, como pregador, apenas doze vezes. Ressalta também que a doutrina e a pregação de
Jesus sempre se fundiam, mas sua obra didática era fundamental em tudo o que fazia. A maior
escola que já existiu consistia em Jesus como professor e nos doze apóstolos como alunos.
Isso porque seus princípios e métodos constituem o ideal, em direção do qual educadores
cristãos devem empenhar-se.74
72
JEHLE, P. Ensino e aprendizagem, p. 48.
73
PRICE, J. M. Jesus, o mestre por excelência, p. 25.
74
SISEMORE, J. T. Os fundamentos da educação religiosa, p. 19-20.
75
PRICE, J. M. Op. Cit., p. 15, 17.
29
Jesus pretendia que a sua igreja fosse uma igreja didática. A religião que fundou é uma
religião de ensino. Como já mencionado, este fato está explícito na grande comissão, que
convoca para um programa de educação e instrução. Nesse programa, o fazer discípulos é o
primeiro passo. O segundo é o batismo e o estágio final é um processo contínuo, ou seja,
ensinar os discípulos a praticar o que Jesus mandou. Isso requer um programa que envolve
todos os membros da igreja. Sisemore diz que
Pelo texto bíblico, não há dúvida de que Jesus foi um mestre. Seus discípulos o chamavam de
mestre; ele ensinou as multidões com êxito; Nicodemos confessou que Jesus era um mestre
vindo de Deus; e há muitas outras referências a Jesus como alguém que ensinava. A palavra
discípulo (aluno) é usada mais de duzentas vezes com referência aos seus seguidores.77
Marcos, em seu evangelho, traduz bem o que teria sido observado durante o ministério
público de Jesus. Ele enfatiza o poder de Suas palavras e Seu ensino que era novo porque
estava carregado de autoridade. É o inverso do ensinamento dos escribas que tinha apenas
uma autoridade profissional. Eles eram profissionais da Escritura, da interpretação da Lei,
repetiam apenas uma tradição. Jesus, ao contrário, falava sem títulos. Sua autoridade era
procedente do alto e não de uma qualificação profissional. Morin ressalta que
Price afirma que ninguém esteve melhor preparado, e ninguém se mostrou mais idôneo para
ensinar do que Jesus, Ele foi o mestre ideal. Diz que no sentido mais profundo, Jesus foi “um
mestre vindo da parte de Deus”. Defende que muitos elementos contribuíram para prepará-lo
eficientemente para o magistério. Alguns eram meramente humanos, e outros, divinos; alguns
Lhe eram inerentes, e outros Ele os desenvolveu.79
76
SISEMORE, J. T. Os fundamentos da educação religiosa, p. 20-21.
77
ARMSTRONG, H. Bases da educação cristã, p. 25.
78
MORIN, É. Jesus e as estruturas de seu tempo, p. 146.
79
PRICE, J. M. Jesus, o mestre por excelência, p. 9.
30
Champlin também afirma que Jesus foi o maior de todos os mestres espirituais, mas que seu
ensino provinha do Pai (Jo 7.16). Complementa dizendo que a inspiração e a revelação vão
além do que qualquer educação formal é capaz de suprir. Defende que Jesus, segundo João
7.15, nunca frequentou qualquer escola rabínica, mas mesmo sem a educação formal superior,
foi capaz de deixar perplexos os líderes judeus com sua sabedoria quando tinha apenas doze
anos de idade (Lc 2.47). Suas declarações mostram que ele tinha um total conhecimento das
Escrituras judaicas e de modos de interpretação, bem como a variedade de idéias resultantes
dessa atividade. Champlin ressalta ainda que “um grande mestre espiritual como foi Jesus,
não pode ser avaliado, nem pelos nossos sistemas de educação e nem pelos nossos métodos
científicos. Há um conhecimento por meio da razão, da intuição e da revelação, e esse
conhecimento não depende de cursos acadêmicos”.80
Armstrong diz ser muito provável que Jesus, quando criança, tenha estudado na sinagoga
como os demais meninos judeus. Ele demonstrava habilidades educacionais, praticava as artes
literárias, ou seja, demonstrou sua habilidade de ler na sinagoga (Lc 4.16-20), bem como
familiaridade com a arte de escrever (Jo 8.6). Suas palavras ditas na cruz (Mt 27.46) indicam
que sabia a língua aramaica e também o hebraico. Segundo o evangelista Mateus, Jesus
conhecia profundamente as Escrituras Sagradas, pois frequentemente fazia uso delas de
memória. Armstrong ainda ressalta que Jesus acreditava no ensino (Jo 13.13) e foi mestre por
excelência. Tudo isso indica que Jesus não foi analfabeto, e que aproveitava bem tudo aquilo
que a educação judaica de seu tempo lhe oferecia. Em muitos aspectos, ele não foi diferente
dos mestres seus contemporâneos, porém seu ensino apresentava um saber próprio e especial.
Ele ensinava com autoridade (Mt 7.28-29) e Ele mesmo era cem por cento aquilo que
ensinava, de modo que inspirava confiança em tudo o que dizia.81
Price também afirma que Jesus aprendeu na sinagoga, pois, nos seus dias, elas estavam
espalhadas por todos os lugares, e a frequência a ela era hábito arraigado, quando não
obrigatória. Lucas diz: “No sábado entrou Jesus na sinagoga, como era seu costume” (Lc
4.16).82 Morin afirma que certamente havia, nos tempos de Jesus, escolas primárias nas
aldeias da Palestina, onde era ensinado a ler o texto hebraico, escrito sem vogais, e a
80
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia, v. 2. p. 272.
81
ARMSTRONG, H. Bases da educação cristã, p. 26.
82
PRICE, J. M. Jesus, o mestre por excelência, p. 20.
31
Várias eram as fontes gerais das quais o Mestre retirava Seu ensino. Ele usou livremente as
Escrituras do Velho Testamento. Jesus também era um atento observador das forças da
natureza e fez constantes referências a elas. Igualmente, Ele estava sempre de olhos abertos
para as situações que surgiam na vida daqueles com quem convivia. Tudo isso mostra e
confirma que o currículo não consiste apenas de manuais ou de tarefas especiais, mas também
de outros materiais que enriqueceram o ensino.84 Jesus usava exemplos muito simples para
que as pessoas o compreendessem. Ele dirigia seu ensinamento a todos, inclusive às mulheres
e, certamente, teve que se explicar diante dos doutores, em Israel.85
O objetivo por excelência do ensino de Jesus era a mudança da vida do indivíduo, e não
apenas seu intelecto e emoções. Este propósito geral permeava todos os outros objetivos mais
específicos de seu ensino. Há cinco classificações que podem ser feitas em relação aos
objetivos do ensino de Jesus. Em primeiro lugar, Jesus procurava converter seus alunos a
Deus. Em segundo lugar, Jesus queria que seus discípulos adotassem ideais corretos (Mt
5.48), seu ensino exigia uma nova ética e uma nova interpretação das regras e normas sociais.
Em terceiro lugar, Jesus se propunha a desenvolver a harmonia entre as pessoas. A única
responsabilidade maior do que essa é a harmonia com Deus (Mc 12.28-31). Em quarto lugar,
Jesus queria aprofundar as convicções de seus alunos. Usou determinadas técnicas para ajudar
seus alunos a verificar e reforçar suas crenças e convicções (Jo 21.15,17). E, em quinto lugar,
Jesus tinha o objetivo de treinar seus discípulos para continuar o ensino depois dele.86
Jehle defende que Jesus demonstrou que a educação não era meramente transferência de
ideias e aumento de conhecimento. Era muito mais que isso. Quando Jesus ensinava, não se
tratava meramente de abraçar ideias intelectuais, mas de transferência de vida, a vida de
Cristo. A sua própria vida dava sentido, destino e senso de profundidade ao que ele dizia. E
ressalta que a diferença, para isso, era a unção. O conteúdo bíblico precisa receber poder do
Espírito Santo de Deus. É isso que deve separar os cristãos no processo ensino-aprendizagem.
É necessário mais que uma mera mudança no conteúdo ou no método, é preciso acontecer
83
MORIN, É. Jesus e as estruturas de seu tempo, p. 132.
84
PRICE, J. M. Jesus, o mestre por excelência, p. 83-89.
85
MORIN, E. Op. Cit., p. 146-147.
86
ARMSTRONG, H. Bases da educação cristã., p. 27-28.
32
uma mudança no espírito. Sem isto, a inspiração se perde e não há vivificação. Pode-se até
receber conhecimento, mas ele é estéril e sem a vida de Cristo.87
Armstrong ressalta que o estilo didático de Jesus incluía muitas técnicas. Jesus usava o
método de fazer perguntas; contava histórias da vida cotidiana (parábolas); usou o discurso ou
conferência; usou o método de atividades para ensinar (Lc 5.4;6.1;10.1-16;18.22); usou
recursos visuais: figura de uma árvore (Mt 21.18-22), uma moeda (Mc 12.13-17), os campos
prontos para a ceifa (Jo 4.35-39) e outros, incluindo também os milagres; e usou ainda o
método de ser ele mesmo um bom exemplo de tudo o que ensinou. Ele vivia o que ensinava.
Na sua maioria, as técnicas usadas por Jesus eram muito simples. Uma delas foi simplesmente
chamar a atenção de seus ouvintes. Isso ele conseguiu de várias maneiras: iniciando uma
conversa (Jo 4.7-9); fazendo perguntas (Mt 16.13); convidando ao companheirismo (Mc
1.17); chamando as pessoas por seu nome (Jo 1.42); e empregando palavras que chamavam a
atenção do ouvinte. Todo mestre tem seu estilo, e Jesus não foi uma exceção à regra. Seu
estilo era simples, porém profundo. Empregava muito o simbolismo, mas era também
dinâmico e direto. Ele ensinou o desconhecido através do conhecido. Empregou uma
linguagem que seus ouvintes entendiam, para lhes ensinar coisas que não compreendiam.
Ensinou conceitos espirituais abstratos em termos concretos. Um exemplo disso pode ser visto
na frase “o reino de Deus é semelhante...”.88
Há três pontos importantes que devem ser salientados com relação às pessoas a quem Jesus
ensinava. Em primeiro lugar, seus alunos não eram perfeitos. Ele teve de ensinar pessoas com
problemas pessoais, falta de compreensão, com seus pontos de vista particulares (Pedro, por
exemplo) e com muitos conceitos inadequados que dificultavam a percepção da mensagem.
Jesus não foi bom mestre porque seus alunos foram bons alunos, mas foi um bom mestre
apesar das limitações deles. O segundo ponto importante é que Jesus ensinou principalmente a
adultos, embora não exclusivamente. Pois em meio à multidão que o seguia não se pode
excluir a possibilidade da presença de crianças. E o terceiro ponto é que parece que através de
seu ministério havia um padrão geral em seu ensino. No início de seu ministério, ensinava
principalmente a indivíduos, depois passou a ensinar a multidões, e, no fim, voltou a ensinar
87
JEHLE, P. Ensino e aprendizagem, p. 70.
88
ARMSTRONG, H. Bases da educação cristã, p. 26-27.
33
Os crentes têm um professor perfeito como modelo. Ele viveu aqui por trinta
e três anos e ensinou abertamente durante três anos. Apesar de Ele ser capaz
de cativar as multidões como nenhum outro indivíduo e derrotar a mais
preparada oposição de sua época em debates abertos, Ele escolheu se
concentrar no discipulado de apenas doze indivíduos (que mal poderiam ser
chamados de profissionais). Ele produziu resultados, entretanto, que
deixaram a história e a civilização mudadas no rastro de Seu ensinamento.
Sem quaisquer recursos audiovisuais além da natureza em si e confiando em
sua vida e mensagem como foco primário, Ele formou onze homens (um foi
reprovado) sem nenhum credenciamento junto às instituições “oficiais” de
seu tempo. O resultado? Onze homens foram equipados para treinar
incontáveis milhares de pessoas que discipularam incontáveis milhões de
indivíduos – tendo como resultado a firme marcha do reino de Deus através
da história.90
Jesus realmente foi o Mestre por excelência. Seu ensino era superior, pois ele era e vivia o que
ensinava. Nenhum mestre jamais teve ou terá tamanha autoridade e reconhecimento como
Jesus, pois Ele é o Mestre dos mestres. Por isso, deve ser um dos fundamentos ou pode-se
afirmar o maior e principal fundamento bíblico para a educação cristã, pois ele é a base para a
mesma. Além de ter sido o maior mestre que já existiu, também enfatizou a importância do
ensino. Seus princípios e métodos formam o ideal e sua ordem orienta a igreja a fazer
discípulos. Sem Cristo, não há educação que direcione para uma vida que glorifique a Deus.
Jesus deve ser a base, o fundamento sobre o qual a igreja deve estar alicerçada em sua função
de ensinar.
A igreja primitiva levou a sério a ordem de Cristo: “fazei discípulos”. O livro de Atos, que
conta a história da igreja de 30 a 60 d.C., é um relato emocionante do crescimento da igreja
“em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra” (At 1.8). George
ressalta que, sem dúvida, essa igreja era uma igreja ensinadora.91
89
ARMSTRONG, H. Bases da educação cristã, p. 28-29.
90
JEHLE, P. Ensino e aprendizagem, p. 48.
91
SISEMORE, J. T. Os fundamentos da educação religiosa, p. 21.
34
Armstrong diz que a educação do primeiro século inclui a teologia, a atividade missionária e a
produção literária deste período, pois a educação foi uma tentativa de educar as pessoas para o
novo caminho. À medida que a igreja crescia e ganhava mais gentios do que judeus, essa
instrução se tornou ainda mais importante.94 A igreja primitiva crescia rapidamente, não
apenas em número, mas também em maturidade. Isso aconteceu porque a Palavra estava
sendo pregada e o ensino foi considerado algo muito importante. Os discípulos “perseveravam
na doutrina dos apóstolos” (At 2.42) e ensinavam “todos os dias, no templo e de casa em
casa” (At 5.42).95
Não se sabe muito a respeito das reuniões cristãs durante as primeiras décadas. Mas uma coisa
que se sabe é que as cerimônias de culto e de fraternidade do período eram instrutivas. Os atos
simbólicos como o batismo e a ceia do Senhor apresentavam importantes características
educacionais desde o princípio, e sua relevância educacional se intensificou à medida que a
igreja absorvia mais e mais o elemento pagão. Armstrong afirma que foi através da ceia e da
pregação que a igreja aprendeu de modo objetivo o conteúdo do evangelho. O batismo
também foi muito instrutivo, direta e indiretamente, pois foi o enfoque do catecismo que logo
se desenvolveu para ensinar e treinar os novos convertidos.96
92
GEORGE, S. K. Igreja ensinadora, p. 67, 75.
93
SISEMORE, J. T. Os fundamentos da educação religiosa., p. 21.
94
ARMSTRONG, H. Bases da educação cristã, p. 33.
95
GEORGE, S. K. Op. Cit., p. 75.
96
ARMSTRONG, H. Op. Cit., p. 34.
35
Também era um instrumento educativo o comportamento dos primeiros cristãos. Tudo tinha a
ver com seu modo de viver, a doutrina dos apóstolos, a comunhão (Koinonia), as orações, a
observância das ordenanças, a caridade fraternal e o amor (ágape). Nada disso chegou de
modo automático aos novos convertidos; eles tiveram de aprender.98
Sisemore ressalta que os ensinamentos dos apóstolos consistiam na mensagem que haviam
recebido de Jesus juntamente com suas recordações e interpretações de Sua vida e obra e de
Sua pessoa à luz das Escrituras do Antigo Testamento. Em resumo, o que a igreja primitiva
ensinava era essencialmente o que se encontra hoje no Novo Testamento. No entanto, durante
os anos anteriores à redação destes livros, a igreja tinha como livro para o ministério
educacional as Escrituras do Antigo Testamento. Nelas, os crentes descobriam Cristo e
encontravam orientação para viver para a glória de Cristo. Foi sobre essas Escrituras que
Paulo escreveu: “Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para
repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente preparado para toda boa obra” (2 Tm 3.16-17). Sendo assim, pode-se afirmar
que o pressuposto bíblico para um programa de educação religiosa requer a utilização tanto do
Antigo, como do Novo Testamento, como sendo o livro-texto concedido por Deus.99
Segundo Armstrong, a educação na igreja primitiva tinha duas funções principais, ou duas
áreas de maior ênfase. A primeira se relacionava com o batismo, pois, antes do novo crente
ser batizado, ele precisava de uma instrução formal acerca do que estava fazendo ao
submeter-se ao batismo. A outra função era servir como veículo para comunicar e conservar
uma nova tradição, uma tradição cristã. Essa tradição tinha a ver com as palavras, ensinos e
atos de Jesus, especialmente com respeito à sua morte e ressurreição. Essas tradições
explicavam como Jesus havia cumprido o Antigo Testamento e esboçavam a maneira de viver
para aquele que desejava ser fiel seguidor de Cristo.100
97
WHITE, W. Jr.; TENNEY, M. C.; PACKER, J. I. O mundo do Novo Testamento, p. 145-146.
98
ARMSTRONG, H. Bases da educação cristã, p. 35.
99
SISEMORE, J. T. Os fundamentos da educação religiosa, p. 22.
100
ARMSTRONG, H. Op. Cit., p. 36.
36
White ressalta que Gamaliel, um mestre mencionado duas vezes no Novo Testamento (At
5.34; 22.3), pode ter exercido uma influência mais profunda sobre o curso do cristianismo do
que indicado nestas passagens bíblicas. Gamaliel possuía um lugar respeitado no Sinédrio.
Sua grandeza reside em sua devoção a Deus e à Lei. Certamente o grande zelo de Paulo,
primeiro pela Lei, depois por Cristo, proveio de Gamaliel. O amor de Paulo pela verdade e
seu completo entendimento das Escrituras podiam também ser atribuídos ao seu mestre. A
forma de Paulo explicar as grandes doutrinas da fé cristã foi resultado, pelo menos em parte,
de sua educação escolar “aos pés de Gamaliel”.102
Sisemore defende que Paulo, ao entrar em evidência como expoente da fé cristã, assim como
outros apóstolos, entregou-se totalmente ao ministério da educação. Em Antioquia, na Síria,
uniu-se a Barnabé e, durante um ano, ensinou a “muita gente” (At 11.26). Em Corinto, ficou
“um ano e seis meses, ensinando entre eles a Palavra de Deus” (At 18.11). Em Éfeso, ele
ensinou os discípulos “publicamente e de casa em casa” (At 20.20). A última notícia de Paulo
declarada por Lucas se refere a ele estando em Roma e “pregando o reino de Deus e
101
GEORGE, S. K. Igreja ensinadora, p. 67-68, 76.
102
WHITE, W. Jr.; TENNEY, M. C.; PACKER, J. I. O mundo do Novo Testamento, p. 178.
37
ensinando as coisas concernentes ao Senhor Jesus Cristo” (At 28.31). Além disso, todas as
cartas escritas por ele tinham objetivos educacionais.103 Segundo George,
Assim como a igreja primitiva cresceu e se desenvolveu por ensinar a verdade da Palavra de
Deus, a igreja atual para crescer e se desenvolver, necessita dar a devida importância ao
ensino e ao estudo da Palavra. Somente assim cumprirá seu papel e glorificará a Deus. A
igreja primitiva levou a sério a tarefa de “fazer discípulos”, pois além de proclamar as boas
novas de salvação, ela doutrinava os novos discípulos de Cristo, os novos cristãos.
Hoje a igreja precisa ter esta preocupação, o crescimento dos novos que chegam ao evangelho
e o amadurecimento espiritual de todos os cristãos. E além do ensino teórico, o que contou
para resultados impressionantes foi a diferença de vida no cotidiano de cada cristão. A vida, o
testemunho era uma forma de ensinar. Ao olhar para o quadro atual, pode-se afirmar que a
igreja precisa se preocupar mais com uma vida autêntica que ensine no dia-a-dia e não
somente com palavras e vãs filosofias.
103
SISEMORE, J. T. Os fundamentos da educação religiosa, p. 21-22.
104
GEORGE, S. K. Igreja ensinadora, p. 67.
38
Depois de conceituar a educação cristã, esclarecer seus objetivos e falar de sua natureza, o
próximo passo foi verificar os fundamentos bíblicos da mesma. E notou-se então, claramente,
que o povo hebreu foi fiel à função do ensino, que Jesus é a base de toda a educação cristã e
que a igreja primitiva levou a sério o seu papel e o compromisso com seu Senhor de ser
proclamadora de Seu reino. Mas, e a igreja atual? Como ela está agindo diante desta
responsabilidade? Para se verificar sobre isto, segue-se este capítulo que abordará o cenário
atual da educação nas igrejas, a necessidade que há na obra da educação cristã e, por fim, uma
breve proposta para um melhor desempenho desta missão.
3.1 Cenário
Existem hoje, em média, 40,4 milhões de evangélicos no Brasil, conforme pesquisa realizada
pelo Datafolha em 2007. Se a população brasileira já chegou a quase 184 milhões, conforme o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), então conclui-se que 22% dos
brasileiros são evangélicos. Mas desses 22%, poucos se interessam em estudar a Bíblia. O Pr.
Marcos Tuler, pedagogo, pós-graduado em docência superior, escritor-chefe do setor de
Educação Cristã da CPAD, comenta que “há algumas décadas, na maioria das igrejas
tradicionais, era comum o número de matriculados na escola dominical ultrapassar ao de
membros da igreja. Entretanto, o que se pode dizer das escolas dominicais atualmente?
Enquanto as igrejas tradicionais estão repensando a EBD, grande parte das igrejas
pentecostais somente começaram a pensar na relevância do ensino bíblico sistemático de
algumas décadas para cá”.105
Dornas diz que a escola bíblica dominical já foi a grande mola propulsora do crescimento das
igrejas evangélicas em nosso país. Ressalta também a questão de, que, décadas atrás, era
comum encontrar igrejas na qual o número de alunos matriculados na EBD era maior que o
número de membros da própria igreja. E, destaca que hoje a realidade é bem diferente, de
forma que raramente se encontra uma igreja evangélica com 80% ou 90 % de seus membros
matriculados e frequentadores da EBD.106
Olivetti aponta três lacunas que considera verdadeiramente clamorosas na educação cristã:
fixação, frutificação e crescimento. Por fixação define a retenção do conteúdo básico das
105
ALENCAR, C. B. Qual caminho da escola bíblica. Eclésia, n° 130, 2009, p. 31.
106
DORNAS, L. A nova EBD... a EBD de sempre, p. 19.
39
lições ou cursos ministrados. Frutificação refere-se aos resultados práticos dos ensinamentos
ministrados, resultados que deveriam aparecer, concretamente, no comportamento dos alunos,
em serviços prestados e no desenvolvimento e aplicação de seus dons e habilidades.
Crescimento refere-se ao constante progresso dos alunos; progresso no conhecimento que
influi no aperfeiçoamento do caráter e dos serviços prestados ou por prestar.107 George diz
que “talvez uma das razões por que a educação cristã não tenha sido valorizada e promovida
com seriedade e compromisso maiores no Brasil seja que o conceito que prevalece sobre ela é
muito vago ou limitado”.108 Segundo Hendricks,
A prática da educação cristã hoje em dia tem sido por demais passiva. E isso
é uma incongruência, pois o cristianismo é a mais revolucionária força do
planeta; ele transforma vidas. E, no entanto, ao trabalhar com essa força
revolucionária, nós a colocamos numa forma, em concreto. As próprias
igrejas muitas vezes opõem certa resistência às muralhas que elas mesmas
deveriam promover.109
Alencar escreve sobre “Qual o caminho da Escola Bíblica?”, ressaltando que as famílias do
primeiro século se reuniam em suas casas para orar e estudar a Palavra de Deus, e hoje em
dia, o cenário é completamente diferente. As famílias mal conseguem se reunir para a hora da
refeição. Em função disso, de a Bíblia perder seu lugar no seio da família, a igreja ficou com a
grande responsabilidade de providenciar a educação cristã. Todo o impacto desta
responsabilidade caiu, praticamente, sobre a EBD e seus oficiais. Diz, ainda, que além de
aproximar pais e filhos na comunhão do corpo de Cristo, a EBD também introduz crianças,
adolescentes, jovens e adultos no conhecimento bíblico, afastando-os da ociosidade e das más
companhias.
Nessa abordagem cita a experiência de uma professora de escola bíblica, Eunides Perez, da
Assembléia de Deus em Santo André-SP, que afirma que em uma igreja como a sua, que tem
em média mil membros, não chega a 200 os matriculados e frequentadores da escola bíblica.
“É uma média de apenas 20% que está realmente interessada em conhecer a fundo as
Escrituras Sagradas”, conclui.110 Hemphill relata que, feito um estudo com cem batistas do
Sul e lhes perguntado por que iam à escola dominical, 98,9% responderam que era para
107
OLIVETTI, O. Aprimorando a escola dominical, p. 55.
108
GEORGE, S. K. Igreja ensinadora, p. 16.
109
HENDRICKS, H. Ensinando para transformar vidas, p. 57.
110
ALENCAR, C. B. Qual caminho da escola bíblica. Eclésia, n° 130, 2009, p. 31.
40
Todo este cenário descrito demonstra a falta de resultados eficazes através da educação cristã
na igreja. A falta de interesse da própria igreja no que diz respeito à educação, realizando um
trabalho mal elaborado e sem objetivos claros. Como especificado na pesquisa de campo,
entre os resultados que hoje se têm alcançado está:
Assim, ao se avaliar todo o cenário brasileiro de educação cristã, pode-se dizer que a igreja
precisa se voltar à educação com mais empenho e compromisso, tendo uma visão mais sólida
e objetivos mais claros, a fim de proporcionar resultados concretos e práticos na vida do
indivíduo. Há muito que pode ser feito, tanto para despertar o interesse nas pessoas quanto
para o estudo e o ensino da Palavra, e até para se ampliar a visão da igreja local em relação à
111
HEMPHILL, K. Redescobrindo a alegria das manhãs de domingo, p. 256.
112
CELETI, G. O ministério com crianças precisa ser bem planejado. O evangelista de crianças, n° 214. 1Bim
2009, p. 11.
41
sua missão de ser uma igreja ensinadora. Porém, é preciso que a igreja se disponha a fazer a
vontade de Deus através da educação cristã.
3.2 Necessidade
Olivetti diz que muito se poderia dizer sobre a urgente e tremenda necessidade da obra de
educação cristã. Quantos pastores, quantas igrejas, quantas escolas dominicais têm
conseguido frutos realmente satisfatórios do seu trabalho de educação cristã? Quantos
membros de igreja se tornaram bons discípulos de Cristo, missionários, preparadores de
discípulos?113 Hendricks afirma: “O ensino que realmente causa impacto em quem o recebe
não é o que passa de uma mente para outra, mas de um coração para outro”.114
George diz que a vocação fundamental da educação cristã é compartilhar, anunciar e viver o
Reino de Deus. É preciso que a igreja hoje com urgência dê ênfase total ao ensino e
significado do que é o evangelho do Reino de Deus. Só assim haverá igrejas fortes,
edificadas, servindo e atuando no mundo com autenticidade. Ressalta que “quando se faz a
educação cristã com uma visão de Reino, ela se torna de inestimável importância e urgência, e
evita-se uma série de problemas”.115
Uma grande necessidade dentro da educação cristã é ter em mente que esta deve andar junto
com a evangelização. O que se tem aprendido é que a missão fundamental da igreja é
evangelizar. E esta grande ênfase dada à evangelização tem feito com que ela seja vista como
113
OLIVETTI, O. Aprimorando a escola dominical, p. 14.
114
HENDRICKS, H. Ensinando para transformar vidas, p. 91.
115
GEORGE, S. K. Igreja ensinadora, p. 41-42.
116
GONÇALVES Jr., A. S. Diretrizes para o plano diretor da educação religiosa batista no Brasil. Educador, n°
59, 4T 2007, p. 12.
117
DORNAS, L. A nova EBD…a EBD de sempre, p. 107.
42
Uma igreja que valoriza a atividade pedagógica como meio relevante na construção do
conhecimento, estará construindo crentes sólidos, críticos, comprometidos com sua fé e,
assim, conscientes. A igreja precisa ser uma instituição que tenha em suas bases a
aprendizagem como elemento transformador. O campo é o mundo (Mt 13.38) e este ensina
mentiras passageiras como se fossem verdades. A igreja, pelo contrário, deve ensinar as
verdades eternas como verdades eternas e não como mentiras. Disso dependerá a sua
permanência e seu valor institucional.119
Paiva afirma que o ensino só se torna relevante para a igreja de Cristo quando esta cria
condições de se auto avaliar, modificando suas ações para dar uniformidade ao corpo. Quando
uma igreja, como corpo, e não como templo, mantém sua existência durante gerações, é,
também, hora de refletir se sua ausência seria sentida no meio em que está inserida. Uma
igreja que é capaz de se fazer presente externamente é naturalmente capaz de vencer suas
barreiras internas, principais dificuldades a serem contornadas na vida de uma instituição.
Transformar uma igreja existente em uma igreja atuante, democrática e ativa, que apresente a
Palavra de Deus como fonte de mudanças e de novidade de vida; que também se faça
constante, evidenciando a esperança do evangelho como resposta única. Eis então a relevância
do ensino que ela ministra e da educação que nela se consolida.121 Dornas diz que
118
GONÇALVES Jr., A. S. Administrando a educação religiosa da igreja. Educador, n° 57, 2T 2207, p. 1-2.
119
PAIVA, F. S. A relevância do ensino no contexto da igreja. Educador, n º 59, 4T 2007, p. 22-23.
120
DORNAS, L. Vencendo os inimigos da escola dominical, p. 95-96.
121
PAIVA, F. S. Op. Cit., p. 23.
43
Viver no tempo em que vivemos e não ser aberto às mudanças pode parecer
absurdo, mas a verdade é que há muita resistência ao novo ainda hoje. As
pessoas têm a tendência de cristalizar condutas, estruturas e ideias. Resistem
o quanto podem sempre que uma mudança se aproxima. Este
comportamento arredio diante das mudanças nega, pela raiz, a obra
educacional. Em educação as coisas são muito dinâmicas, tudo merece e
precisa ser experimentado, nada é sacralizado ou dogmatizado. Experimenta-
se hoje, avalia-se e, sendo necessário, muda-se.122
George diz que “o pastor é um mestre indispensável na educação cristã (Ef 4.11). Quando o
pastor tem uma visão educadora, ele ensina formalmente no púlpito e nas aulas, e
informalmente na sua vida diária e no seu contato pessoal com o rebanho. A chave do
programa educacional é a visão docente do pastor”. O pastor, tendo esta visão, ele a
transmitirá a homens e mulheres fiéis e também idôneos para instruir a outros (2 Tm 2.2). É
preciso que o pastor ensine e prepare outros para assumirem responsabilidades no ministério
total da igreja. É preciso, portanto, que o próprio pastor, a liderança e cada crente cresça
espiritualmente e desenvolva os seus dons entendendo a função de mestres da igreja.124
122
DORNAS, L. Vencendo os inimigos da escola dominical, p. 92, 94.
123
Ibidim, p. 15.
124
GEORGE, S. K. Igreja ensinadora, p. 94-95.
44
Alvos e diretrizes claros ajudarão o professor a executar as tarefas necessárias para que a
classe da escola dominical cumpra o seu propósito com sucesso. O primeiro alvo deve ser o
de ensinar a Bíblia com convicção e entusiasmo. E para isso, ele deve ser primeiramente um
estudioso da Bíblia. Os aprendizes são sempre os melhores professores. O professor não deve
esquecer que seu alvo é a mudança no estilo de vida do aluno, mediante a compreensão da
Palavra de Deus.
Afirma ainda que, com certeza, nada é mais poderoso que uma lição objetiva que acompanha
a lição ensinada. A lição objetiva deve ser a vida transformada do professor. O que não
significa que este precisa ser perfeito para poder ensinar, pois todos estão numa peregrinação
espiritual para serem conformes à imagem de Cristo. Mas, o professor deve dar um claro
testemunho de um relacionamento pessoal com Cristo e ser alguém que compartilhe sua fé. E
para isso é necessário buscar a capacitação de Deus. Quando a igreja ou o indivíduo enfoca a
capacitação sobrenatural de Deus, dispõe-se a agir. Se Deus chama para fazer algo, Ele
habilita para o cumprimento desta tarefa, pois,
Quem quer que tenha ensinado a Bíblia irá facilmente admitir que nada pode
ser feito sem a capacitação do Espírito Santo. É igualmente interessante
notar que o Espírito Santo usa mais eficazmente os instrumentos mais bem
preparados para o serviço. A obra do Espírito Santo não exclui a necessidade
de preparação.125
George observa que quem sente o chamado de Deus para o ministério docente da igreja deve
também receber o preparo e o treinamento necessário para cumprir sua responsabilidade como
professor. A igreja precisa preparar estas pessoas assim como Jesus preparou os doze antes de
lhes enviar. Quem é responsável pelo preparo, treinamento e apoio aos professores é a
liderança da igreja. É importante que os professores se sintam como parte de uma equipe que
contribui para o ministério total da igreja. Nessa equipe educacional todos devem ter a mesma
visão e os mesmos objetivos. Todos devem estar crescendo e ajudando outros a crescerem.
Todos precisam de maturidade espiritual e de constante reciclagem pedagógica.126
125
HEMPHILL, K. Redescobrindo a alegria das manhãs de domingo, p. 96, 253-257, 265.
126
GEORGE, S. K. Igreja ensinadora, p. 97.
45
Em resumo, pode-se afirmar que grandes são as necessidades dentro da educação cristã. Há a
necessidade de se obter maiores resultados e de se dar maior ênfase ao ensino e à atividade
pedagógica dentro das igrejas. As igrejas precisam ter uma visão de Reino sobre a educação,
incluindo dentro de seu planejamento a obra educadora. A educação cristã necessita ter alvos
estabelecidos, caminhar junto com a missão geral da igreja, se auto avaliando e tendo uma
pré-disposição quanto a mudanças.
3.3 Proposta
A educação cristã se insere no contexto eclesial como a espinha dorsal, onde está atrelada
toda a estrutura funcional e departamental da igreja. Suas interfaces se mesclam com os
departamentos, passando pelas programações específicas.129 George destaca a igreja como
sendo uma comunidade ensinadora. Assim, a educação cristã é uma tarefa da igreja toda, que
integra o programa educacional na vida da igreja. Portanto, é imprescindível que a igreja
tenha um ministério educacional deliberado e sistemático. O programa educacional deve ser
elaborado e planejado como um todo.130 Neste sentido a resposta da pesquisa de campo,
127
PRICE, J. M. Jesus, o mestre por excelência, p. 21.
128
SÁ, E. C. O adulto e o nosso processo educacional. Educador, n° 11, 1991, p. 22.
129
GONÇALVES Jr., A. S. Administrando a educação religiosa da igreja. Educador, n° 57, 2T 2007, p. 1.
130
GEORGE, S. K. Igreja ensinadora, p. 147.
46
anexo B, mostra que 60 % dos líderes consideram a educação cristã como um ministério
específico.
Dornas ressalta que tudo o que a igreja deve realizar passa por uma vertente educacional:
evangelização e missões, adoração, ação social, administração eclesiástica, etc. Muito líderes
justificam a falta de apoio e atenção à escola dominical com sua preocupação com o
evangelismo. Isso é miopia educacional e teológica, pois, de acordo com as Escrituras, a obra
evangelizadora da igreja orbita em torno de sua tarefa educacional. Outro equívoco que
muitos cometem é tentar dissociar adoração de ensino, acreditando que, por estarem
envolvidos com o ministério da música, não precisam aproveitar as oportunidades para o
aprendizado da Palavra de Deus. É a miopia se manifestando novamente, pois a música e a
adoração também são facetas do ministério cristão a orbitarem em torno do ensino da Palavra
de Deus. Em relação à ação social, o centro desta é o amor ao próximo e a Palavra de Deus
está repleta de ensinamentos que impulsionam a igreja na direção dos pobres e necessitados,
especialmente aos domésticos da fé. Se, porém, a igreja se posicionar distante das Escrituras,
sua visão social enfraquecerá. Em relação à administração eclesiástica, qualquer programa de
administração da igreja deve ser fundamentado no conceito bíblico de mordomia cristã se o
alvo é ser eficiente.131
George enfatiza que a educação cristã deve se desenvolver por meio de dois tipos de ensino: o
ensino informal e o ensino formal ou intencional. Talvez não se saiba da importância do
ensino informal dentro e fora da sala de aula e da igreja. Mas esse tipo de ensino pode ocorrer
em qualquer lugar, através de palavras ou de exemplos. Já o ensino formal envolve esforços
“deliberados, sistemáticos e sustentados”. Isso implica instituições, estruturas, processos,
planejamento e metodologia. Há, dentro e fora da igreja, aulas, cursos e recursos pedagógicos
para o estudo formal individual e em grupos.
131
DORNAS, L. Vencendo os inimigos da escola dominical, p. 15-21.
47
seu ministério prático. Professores e alunos estudam a Bíblia e a teologia juntos. Procuram
soluções para problemas e orientações para a vida e ministério.
Destes métodos, foi destacado o discipulado, que, por ser uma estratégia de crescimento de
igreja e não um método, é estritamente bíblico e consiste na ideia de capacitar pessoas para
fazerem discípulos e estes a fazerem outros, numa cadeia interminável de multiplicação.
Nesse ponto entra a EBD, que tem a estrutura ideal para a formação de discipuladores e o
ambiente correto para se fazer novos discípulos. A EBD unindo-se ao discipulado, torna-se
uma ferramenta poderosa para ganhar vidas para Cristo e alavancar o crescimento da igreja.
132
GEORGE, S. K. Igreja ensinadora, p. 109, 113, 124.
48
A rede ministerial é mais uma destas estruturas que têm como alvo alcançar as pessoas certas,
nos lugares certos, pelas razões certas. Os líderes devem ser escolhidos levando-se em conta a
paixão, os dons espirituais e o estilo pessoal dos crentes. A paixão vai lhe indicar onde no
corpo de Cristo ele deve servir; os dons espirituais lhe mostrarão o que deve fazer naquela
área do corpo; e o estilo pessoal lhe indicará como ele deve servir.
E, ainda a estrutura da igreja dirigida por propósitos, a qual tem a visão de funcionar a partir
dos propósitos para ela estabelecidos na Bíblia. Também tem a visão dos níveis de
compromisso e a flexibilidade para o surgimento de ministérios novos de inestimável valor.133
Hemphill defende que a “Escola Dominical designada para cumprir a grande comissão deve
trabalhar na evangelização antes de qualquer outra coisa. A igreja deve acreditar que a
prioridade evangelística é inegociável”.134
Segundo Dornas, alguns objetivos devem nortear a EBD, entre eles estão: (1) dinamizar a
solidariedade, comunhão e cooperação. Os alunos precisam, a partir do estudo da Palavra de
Deus, desenvolver um espírito de solidariedade e de cooperação mútua; (2) estimular o
surgimento de novos líderes na igreja. A classe deve deixar de ser apenas um ambiente de
ensino da Bíblia, para ser uma família; também precisa formar líderes ao longo do ano; (3)
promover o ensino da Palavra de Deus. O ensino da Bíblia deve ser realizado de forma a
capacitar os alunos a aplicarem em suas vidas os princípios aprendidos nas aulas. Mas, o
ensino da Bíblia não deve ser um fim em si mesmo, antes deve ser uma ponte entre o mundo
da Bíblia e o mundo atual; (4) evangelizar os alunos não crentes, alcançar pessoas para Cristo;
(5) integrar novos convertidos. A EBD deve usar sua estrutura para integrar aqueles que se
convertem a Cristo através das visitas evangelísticas, nos pequenos grupos e nos cultos
públicos da igreja; (6) mobilizar os alunos a atuarem na ajuda aos necessitados. É preciso
colocar em prática os ensinos bíblicos sobre misericórdia e ajuda aos necessitados; e, (7)
mobilizar os alunos a se envolverem com a obra missionária. Seja no levantamento de ofertas,
em oração ou sustento missionário, a EBD deve levar suas classes a se envolverem com
missões.135
133
DORNAS, L. A nova EBD... a EBD de sempre, p. 24-31.
134
HEMPHILL, K. Redescobrindo a alegria das manhãs de domingo, p. 181.
135
DORNAS, L. Op. Cit., p. 35-36.
49
Uma igreja que deseja ser uma verdadeira igreja de Cristo não pode deixar de cultuar a Deus,
de anunciar as boas novas, de educar e de ministrar. E ressalta que
Para que a igreja possa alcançar seus objetivos, também é indispensável que ela tenha uma
liderança segura. Líderes que tenham a responsabilidade de conduzir e de orientar o trabalho.
Sendo assim, a escolha desses líderes é de grande responsabilidade e importância para a
igreja, pois cada pessoa escolhida para uma função de liderança deve estar ciente de que está
servindo a Cristo através de sua igreja. A atitude errada de muitos que pensam que qualquer
pessoa serve para determinado trabalho revela descaso pela obra e contraria a doutrina do
Novo Testamento, a qual ensina que no corpo de Cristo as mãos não são os pés, o que
significa que um líder não é igual a outro líder e nem todos os cargos exigem a mesma
personalidade ou aptidão para serem bem exercidos. A escolha de líderes deve ser encarada
pela igreja como uma tarefa santa. Foi assim que a igreja em Antioquia considerou, ao separar
Paulo e Barnabé para o trabalho da igreja entre os gentios.
Além disso, para a realização de qualquer trabalho é necessário recursos e na igreja não é
diferente. Entre os recursos que uma igreja necessita para que realize seu trabalho estão
incluídos a dependência do Espírito Santo, os talentos e os dons dos seus membros e os bens
materiais. Deus concede o auxílio do Espírito Santo e a congregação terá que promover os
outros meios, recrutando, dentre seus membros, os recursos humanos, estruturais e materiais
necessários para a realização de sua tarefa.137
Paulo fala, em Ef 4.11, Rm 12.6-8 e 1 Co 12.28, da diversidade dos dons e ministérios. Cada
crente tem algum dom (ou dons) e algum ministério. No caso dos professores, estes são
pessoas que têm o dom de ensino e o desenvolvem para usar no ministério de ensino. Deus
chama os professores que Ele tem equipado com o dom de ensino para ensinarem na igreja.
As duas qualificações mais importantes para os professores da escola dominical, ou de
qualquer curso ou estudo, ou grupo, são o dom de ensino e o chamado de Deus.138
136
DORNAS, L. A nova EBD… a EBD de sempre., p. 105.
137
Ibidim., p. 108-110.
138
GEORGE, S. K. Igreja ensinadora, p. 96.
50
A proposta final deste trabalho está baseada na feita por George de que a igreja precisa ter
uma Comissão de Educação Cristã, uma equipe educacional com representantes da
liderança (conselhos, juntas, diretoria, etc.), especialistas na área e representantes de todos os
segmentos da igreja. As tarefas desta comissão seriam a sondagem das necessidades das
pessoas e das realidades do contexto da comunidade, planejamento e avaliação, elaboração de
metas, objetivos e prioridades educacionais, organização e coordenação do programa
educacional total, seleção de currículos e seleção e treinamento dos professores.139 Segundo
Jaziel G. Martins, o departamento de educação cristã na igreja
George afirma que o ministério docente da igreja é realizado através de várias agências e
atividades educacionais. Todas essas agências e atividades devem fazer parte do programa
educacional e devem ser relacionadas e integradas. A agência que tem o papel principal é a
escola dominical. Mas, obviamente, uma ou duas horas no domingo não são suficientes para o
ensino cristão e, por isso, toda a igreja deve planejar alguma atividade educacional durante a
semana. Algumas ideias são: grupos familiares nos lares, escola bíblica de férias, conferências
com ensinos bíblicos, ou diversos cursos, tanto de treinamento como de reciclagem para
professores e líderes, de atualização teológica ou doutrinária, com enfoques éticos, políticos
ou sociais, ou cursos abordando temas de interesse, acampamentos ou retiros, discipulado,
que inclui uma convivência e um acompanhamento pessoal e também a organização de uma
boa biblioteca com livros e outros materiais disponíveis para atender às necessidades dos
membros. “Com criatividade e sensibilidade, a Comissão de Educação Cristã irá descobrir e
inovar outras atividades educacionais”.141
139
GEORGE, S. K. Igreja ensinadora, p. 149-151.
140
MARTINS, J. G. Manual do pastor e da igreja, p. 298-299.
141
GEORGE, S. K.Op. Cit., p. 149-151.
51
Conclui-se, assim, que esta proposta final, de se ter na igreja uma Comissão de Educação
Cristã, tem o objetivo de levar a igreja a se tornar uma comunidade ensinadora, tendo um
ministério educacional deliberado e sistemático. Essa comissão seria composta de líderes da
igreja e teria como função o planejamento, a estruturação de toda a área da educação cristã da
igreja. Incluindo desde a organização de todas as atividades, o acompanhamento e
treinamento dos professores até a tarefa de levar a igreja a ter uma visão educadora fazendo
com que o ensino seja relevante, levando a igreja a cumprir sua grande missão de proclamar o
Reino de Deus na terra através do ensino da própria Palavra de Deus.
52
CONCLUSÃO
A educação cristã é de suma importância para a formação do caráter cristão e para a fixação
da consciência espiritual. A educação cristã promove o conhecimento de Deus e seu amor
presente em Cristo. Ela dá condições de preparo e desenvolvimento de seus membros para
desempenharem o seu serviço do Reino. Portanto, o investimento no setor educacional da
igreja é, sobretudo, investimento na formação do caráter cristão; é o empenho no sentido de
formar discípulos conscientes acerca de seu papel no Reino de Deus.
A educação cristã não é apenas transmissão de teorias, mas o estudo da Palavra de Deus de tal
forma que irá produzir transformação de vida. O objetivo é que a pessoa tenha tal
conhecimento de Deus e de sua Palavra que seja um autêntico seguidor e discípulo de Cristo.
Ela possui propósitos bem definidos, onde o primeiro e maior deles é glorificar a Deus. Este
propósito engloba os demais, que seriam a evangelização, o ensino centrado na Bíblia e a
edificação da igreja de Cristo.
A natureza da educação cristã consiste num amplo ministério, onde diferentes unidades e
departamentos estão envolvidos. Por difícil que seja, é preciso admitir que, muitas vezes até
mesmo em nome de ênfases importantes, a igreja vem tentando crescer e cumprir seu papel
sem encarar o desafio educacional com a seriedade que precisaria para assegurar um
desenvolvimento sadio, consistente e sustentável. Mas, o problema é que a práxis cristã
evangélica precisa fundamentar-se em princípios teológicos sólidos, que só emergem a partir
de uma ação educacional correta e efetiva. Tentar chegar a uma prática correta sem os valores
corretos pode cair no erro da religiosidade ou até mesmo para uma reedição hoje do
farisaísmo do primeiro século.
O povo hebreu recebeu de Deus a ordem de ensinar a Lei e isto era um compromisso que
tinham como famílias e como povo de Deus. Não importasse se era no lar, como no início, ou
nas sinagogas, ou até mesmo nas escolas de profetas que surgiram posteriormente, o povo
estava empenhado em transmitir o ensino da Lei de Deus e este ensino era real e centralizado
no próprio Deus.
Jesus é a prova disso, pois realmente foi o Mestre por excelência. Ele é a base para a educação
cristã, pois além de ter sido o maior mestre que já existiu, também enfatizou a importância do
ensino. Seus princípios e métodos formam o ideal e sua ordem orienta a igreja a fazer
discípulos. O ensino de Jesus era superior, pois Ele era e vivia o que ensinava. Nenhum
53
mestre jamais teve ou terá tamanha autoridade e reconhecimento como Jesus, pois Ele é o
Mestre dos mestres.
A igreja primitiva também faz parte dos fundamentos da educação cristã, pois cresceu e se
desenvolveu por ensinar a verdade da Palavra de Deus. Ela assumiu sua responsabilidade
assumida diante do mestre Jesus de ir e pregar o evangelho, ensinando a guardar tudo o que o
Senhor Jesus mesmo lhes havia ensinado quando presente em forma humana na terra.
Através das informações levantadas, conclui-se que a educação cristã tem sido realizada nas
igrejas atuais, mas apresentando lacunas e necessidades, tais como: uma visão mais sólida de
um programa de educação cristã na igreja, objetivos mais claros, etc. Há, no entanto, muito
que pode ser feito, tanto para despertar o interesse nas pessoas em relação ao estudo e ao
ensino da Palavra, quanto para se ampliar a visão da igreja local em relação à sua missão de
ser uma igreja que verdadeiramente ensina.
Dornas diz que, na verdade, já se têm contabilizado muitos prejuízos para a igreja no Brasil.
Basta olhar as estatísticas. O programa de educação religiosa executado pelas igrejas batistas
no Brasil alcança um percentual ainda irrisório do universo batista brasileiro. Assim, se
estabelece um enorme desafio de conquistar, para o programa de educação cristã da igreja, a
maioria de seus membros. É nos cultos que a grande maioria dos membros das igrejas se faz
presente, não mais nas classes de EBD ou nas organizações de treinamento e missões.142
Nascimento afirma que
142
DORNAS, L. Mutilaram a grande comissão. O Jornal Batista, n° 17, 2009, p. 16.
54
Portanto, percebe-se que é cada vez mais necessária e de suma importância a organização de
um sistema de educação cristã na igreja. Por isso a proposta final é de se ter na igreja uma
Comissão de Educação Cristã. Esta comissão é a formação de um único ministério docente
da igreja, que, por sua vez, deve ser conhecida como uma instituição pedagógica. Ela deve ter
o objetivo de levar a igreja a ser uma comunidade de ensino, tendo um ministério educacional
deliberado e sistemático. É sua missão levar a igreja a ter uma visão educadora, fazendo com
que o ensino seja relevante, direcionando, assim, a igreja a cumprir sua grande missão de
proclamar o Reino de Deus através do ensino. Este é o momento das igrejas assumirem e
revitalizarem a prática da educação cristã e nela investirem com seriedade, conseqüência e
efetividade. O Senhor Jesus deixou claro o dever da igreja de ensinar. Que ela possa fazer isso
com dedicação!
143
NASCIMENTO, V. Igreja que ama educa! O Batista Pioneiro, n°4, 2009, p. 4.
55
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ANEXOS
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4) Quais os resultados que se tem alcançado com a educação cristã em sua igreja?
( ) Evangelismo ( ) Conhecimento ( ) Edificação do corpo ( ) Crescimento espiritual
( ) Outros:
9) Você daria alguma sugestão para inovar ou aperfeiçoar a educação cristã nas igrejas?
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