PhDLilia Marcelino
PhDLilia Marcelino
PhDLilia Marcelino
Instituto de Educação
Lisboa
2015
LÍLIA SOFIA FERREIRA LOPES MARCELINO
2º ANO DE ESCOLARIDADE
Júri:
Presidente: Prof. Doutor António Teodoro
Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias
Arguentes: Prof.ª Doutora Joana Brocardo
ESE – Instituto Politécnico de Setúbal
Prof. Doutor Leandro Almeida
Universidade do Minho
Vogal: Prof. Doutor Edgar Galindo
Universidade de Évora
Prof. Doutor José Benardino Duarte
Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias
Orientador: Prof. Doutor Óscar Conceição de Sousa
Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias
Coorientador: Prof. Doutor António Lopes, Universidade
Nova de Lisboa
Instituto de Educação
Lisboa
2015
Esta tese de doutoramento foi subsidiada pela Fundação para a
Ciência e Tecnologia
(FCT - SFRH/BD/69366/2010)
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
RESUMO
O presente trabalho, que consta de três estudos, procurou dar um contributo teórico e
aplicada no início do ensino formal para a população portuguesa (n = 2246), tendo os dados
apresenta um alfa de Cronbach de .874, que se traduz por um bom valor de consistência
sentido de número mantêm um nível alto de desempenho em matemática ao longo dos dois
número em crianças dos 5 aos 8 anos de modo a prevenir dificuldades futuras na matemática.
ABSTRACT
This work consists of three studies sought to provide theoretical and practical
contribution to the early identification of number sense as one of the precursors of the
development of mathematical skills required for the initial learning of mathematics. The first
education for the Portuguese population (n = 2246) and the data were treated with descriptive
statistics. The second is a correlational and inferential study (n = 222) with the purpose of
examining the predictive validity of number sense in mathematics performance at the end of
first grade. A longitudinal third study (n = 30) sought to identify the growth trajectories in
mathematical learning and to identify the formal mathematical content associated with low,
medium and high number sense. The results showed that a) the battery of number sense
presents a Cronbach's alpha of .87, which translates into a good internal consistency value
between items; b) the number sense have a moderate predictor effect on mathematics
performance at the end of first grade; c) children with high number sense maintain a high
level of mathematics performance over the first two years of schooling; d) children with low
number sense present difficulties surrounding the knowledge of number and simple
arithmetic operations. These findings show the importance of number sense in early ages and
AGRADECIMENTOS
concretização no terreno.
orientação científica desta tese e pela sua permanente disponibilidade e paciência sempre
através de uma bolsa de doutoramento que me permitiu adaptar e aferir em larga escala a
BSN – Bateria Sentido de Número para a população portuguesa. Sem esse financiamento
não seria possível ter formado uma equipa de 12 examinadores nas mais variadas regiões
geográficas nacionais e aplicar a bateria a mais de 2000 crianças. Aproveito para agradecer
e às professoras Cláudia Calado, Cláudia Lopes, Dina Tavares, Ivone Pina, Anabela
Passos e Neuza. A minha profunda gratidão por terem prontamente aceitado o meu pedido
turmas do 1º ano do agrupamento. Sem esta colaboração não teria sido possível
suas crianças. Às crianças que participaram nesta investigação, agradeço o seu entusiasmo e
pelas provas de confiança e amizade que me ajudaram a atingir este ponto na minha
carreira académica. Desejo que esta tese possa constituir uma reconhecida homenagem. À
minha querida amiga e colega Joana Rodrigues Rato por não me fazer sentir sozinha nesta
área tão pouco conhecida em Portugal e a todos aqueles que não mencionei diretamente,
ÍNDICE
Introdução ...........................................................................................................................1
matemática ........................................................................................................... 47
2.1.3. Materiais..............................................................................................58
i
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
2.2.3. Materiais............................................................................................117
2.3.3. Materiais............................................................................................139
ii
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
iii
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
LISTA DE TABELAS
Tabela 6. Frequência de autorizações dos pais e provas aplicadas por fase de aplicação 68
Tabela 8. Coeficientes de consistência interna (por idade e para a amostra total) ........... 76
Tabela 10. Análise de componentes principais seguida de rotação varimax com saturação
a .40 ........................................................................................................................... 84
Tabela 11. Análise de componentes principais seguida de rotação varimax com saturação
Tabela 12. Análise dos itens de acordo com a Teoria Clássica dos Itens ......................... 91
Tabela 14. Médias e desvio padrão dos resultados obtidos na BSN por grupo etário ...... 96
Tabela 15. Médias e desvios padrão dos resultados da BSN por grupo etário e sexo ...... 97
Tabela 16. Médias e desvios padrão dos resultados da BSN por região geográfica ......... 98
iv
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
Tabela 17. Médias e desvios padrão dos resultados da BSN por idade e região geográfica
Tabela 18. Médias e desvios padrão dos resultados da BSN por grupo etário e nível
Tabela 19. Médias e desvios padrão dos resultados da BSN por grupo etário e nível
Tabela 20. Médias e desvios padrão dos resultados da BSN por grupo etário e nível de
Tabela 21. Médias e desvios padrão dos resultados da BSN por grupo etário e nível de
Tabela 22. Estratégias de contagem por grupo de rendimento na BSN .......................... 107
Tabela 24. Características demográficas por grupo de rendimento na BSN ................ 117
Tabela 26. Resultados médios na matemática por grupo de rendimento na BSN .......... 129
Tabela 27. Resultados de significância dos resultados da ACM e subáreas nos três grupos
Tabela 28. Coeficientes de significância por grupos de rendimento na BSN nos diferentes
Tabela 29. Desempenho médio na matemática por grupo de rendimento na BSN ........ 133
v
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
LISTA DE FIGURAS
Figura 4. Gráficos de dispersão dos resultados da ACM e ASM em função dos resultados
da BSN ......................................................................................................................126
do 2º ano de escolaridade..........................................................................................146
Figura 10. Resultados por conteúdo matemático em crianças com alto SN no final do 1º e
vi
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
INTRODUÇÃO
suas implicações práticas. No entanto, o mesmo não acontece com a numeracia (também
denominada por literacia matemática). Por exemplo, Murphy, Mazzocco, Hanich e Early
(2007), numa pesquisa de base de dados científicos, verificaram que durante o período de
1985-2006 foram publicados cinco vezes mais estudos científicos relacionados com a
matemática).
(Rosenkranz, 1992) que muito agradeço ao meu mentor, Prof. Doutor Edgar Galindo da
Esta situação levou-me a uma longa pesquisa sobre o sentido de número e o seu
et al. (2005) que compila resultados de vários estudos sobre a relação positiva entre o
pesquisa posterior, com a descoberta do teste Number Sense Battery de Jordan, Kaplan,
Olah e Locuniak (2006). O Number Sense Battery é um instrumento que avalia o sentido
para adaptar a bateria à população portuguesa e numa fase posterior analisar o impacto da
O trabalho que aqui se apresenta é fruto de toda a pesquisa e resultados encontrados nos
verbais. É uma definição lata que não caracteriza o suficiente a nossa variável
independente, pois não se trata apenas de uma capacidade inata que faz parte da nossa
“alta ordem” (Berch, 2005), também conhecido como “sentido de número simbólico”.
matemática.
O presente trabalho seguirá a definição proposta por Berch (2005). Neste sentido,
uma vez que a maior parte dos estudos sobre dificuldades na matemática em crianças dos
4 aos 6 anos estão relacionados com números e aritmética básica (Dowker, 2005). Deste
modo, seria mais indicado usar “dificuldades na aritmética”, pois a variável “dificuldades
na matemática” abrange muitos outros itens, tais como a geometria, medidas e álgebra
(Dowker, 2005). No entanto, por uma questão de consensualidade científica, optámos por
matemática”.
com os seus pares que pertencem ao seu grupo etário e ano escolar, apresentam um baixo
aritméticas) e está também relacionada com outras competências cognitivas tais como a
prazo (Geary, 2011; Jordan, Kaplan, Ramineni, e Locuniak, 2008). Contudo, neste
trabalho não iremos abordar outros fatores cognitivos (como a memória ou as relações
matemática (que passaremos a designar de DM) será, deste modo, a nossa variável
dependente.
Resta sublinhar que procurámos ter em atenção os três âmbitos de pesquisa que
nascem com um domínio biológico específico para conhecer o mundo que os rodeia e são
estas capacidades elementares que nos permitem aprender, com mais ou menos
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5
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
com os dedos, a decidir rapidamente que o quatro é maior do que o três ou que o três fica
entre o dois e o quatro ou mesmo que 12+15 não pode ser igual a 96, quase sem muita
elementares numéricas (ou SN) numa verdadeira perspetiva das neurociências cognitivas,
SN na criança pré-escolar que nos servirá como suporte teórico. O modelo aqui
matemática e das neurociências cognitivas assentando na premissa que a maior parte das
(Ginsburg, 1989).
Norte, Centro e Sul, bem como das regiões autónomas dos Açores e da Madeira que em
serão abordadas algumas das questões relacionadas com o processo de aferição no que se
grupos de pesquisa com baixo, médio e alto SN de acordo com os valores normativos da
Resta sublinhar que esperamos com este estudo, contribuir, modestamente, para
cognição matemática nos primeiros anos escolares; para além disso, alertar para a
numéricas elementares a partir da análise dos dados recolhidos da aferição; e não menos
PARTE I
Enquadramento teórico
Se olharmos ao nosso redor, verificamos que o número faz parte do nosso dia-a-
números: poupanças, dívidas, sondagens, taxas de juro, temperatura do ar, entre outros.
que nos rodeia e na resolução de problemas da vida quotidiana (e.g. Ponte, 2003; Parsons
e Bynner, 2005). No entanto, evidências científicas sugerem que muitos adultos nas
Bynner, 2005).
revelou que 49% da população adulta obteve resultados padrão na numeracia funcional
padrões na literacia). Além disso, 23.7% dos adultos atingiram resultados padrão típicos
Parsons e Bynner (2005) em Inglaterra com cerca de 17 000 bebés acompanhados até à
1
Esse relatório apresenta os resultados do questionário Skills for Life 2011 que examina os níveis de
desempenho em matemática, no inglês e nas tecnologias de informação e comunicação em jovens e adultos
entre os 16 anos e os 65 anos em toda a Inglaterra. Disponível em:
https://www.gov.uk/government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/36000/12-p168-2011-skills-
for-life-survey.pdf
idade adulta, demonstraram que a baixa numeracia tem um impacto negativo nas
com baixa numeracia funcional têm maior propensão para o abandono escolar e uma
Mais ainda, os sujeitos com baixa numeracia tendem ainda a optar por áreas
baixa autoestima. Estes resultados revelam que os custos dos fracos resultados na
matemática são preocupantes para o indivíduo e para a sociedade quer seja nas atividades
Embora em Portugal não haja estudos que apontem para as consequências sociais
relação aos seus pares europeus ao nível do DM, podemos analisar alguns relatórios
O TIMSS (2008) reportou que Portugal foi dos países que mais evidenciou
explicação do raciocínio.
pela elaboração e realização dos exames nacionais, o desempenho global dos alunos em
a percentagem aumentou para 36,4%. Mas comparativamente com 2012, estes resultados
Em 2012, 44% dos alunos tiveram uma avaliação global de “Não Satisfaz”,
destreza do cálculo mental e das relações numéricas em contexto de sala de aula (IAVE,
2012).
todos estes resultados indiciam e sustentam, entre outras, a necessidade de criar medidas
na matemática em Portugal.
Imenes (1992) relata a história que exprime esta primeira forma de contagem. Um
pastor, de manhã, antes de levar as suas ovelhas para o pasto, fazia um monte de pedras,
cada uma associada a cada ovelha. Ao final do dia, no regresso, ele tirava uma pedra para
cada ovelha que saia do pasto e assim podia verificar se o rebanho estava completo ou
não.
contagem. O termo “cálculo” deriva da palavra latina calculus que significa “pedra” e era
na antiguidade aplicado na contagem de pedras. Parece ter sido assim que o homem pode
palavra número (termo) onde cada objeto corresponde a uma e tão-somente uma palavra-
número na contagem.
homem nas contagens. Encontram-se as marcas nas pedras e paredes, ossos, madeira,
dedos das mãos, não sendo talvez por acaso que a associação dedo-número está presente
na palavra “digital” que provém da palavra latina digitus que também significa
Ainda assim, estes recursos eram limitados. Movido pela necessidade de contar e
agrupar grandes quantidades, cada povo criou o seu próprio sistema de representação de
grego, romano, chinês, maia ou hindu-arábico (Imenes, 1992). Segundo Ifrah (1997),
estes sistemas de grandes quantidades têm a sua origem nos ábacos, que constituem
tabelas de contas ancestrais que ainda hoje estão em uso na China, Japão e noutros países
orientais.
dos números em unidades, dezenas, centenas, milhares e originou-se na Índia tendo sido
difundido pelos árabes e atualmente usado na maior parte do mundo (Ifrah, 1997).
Gundlach (1992). Apresentamos apenas uma das suas citações “ (…) parece certo que, ao
asas de um pássaro para simbolizar o par, as folhas de um trevo comum para o três, as
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14
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
patas de um animal para o quatro, os dedos da mão para o cinco, etc.) para assim aceder
verbal). Todo este processo desenvolveu-se por transmissão sociocultural (Ifrah, 1997).
necessidade de substituir as marcas nas pedras e paredes, ossos, madeira e os dedos das
mãos.
tais como, a escrita dos números (e.g. 1, 2, 3) e os símbolos aritméticos (e.g. +, -, =).
Uma vez que a instrução formal aritmética normalmente começa no primeiro ciclo de
ensino básico, a criança era e de alguma forma ainda é conotada como “tábua rasa” em
considerou que o conhecimento matemático não está presente até que a criança entre no
período das operações concretas por volta dos 6-7 anos de idade (Piaget, 1952). Durante
nível das classes e das relações que serão usados como um bloco basilar de construção
cognitiva que lhe permite construir as primeiras estruturas numéricas abstratas no início
(Starkey e Klein, 2006). Isso começou a mudar quando alguns teóricos da aprendizagem
(e.g. Starkey & Cooper, 1980; Strauss e Curtis, 1981) se mostraram insatisfeitos com a
assim a ser desenvolvidas tarefas que permitisse atingir tal objetivo, nomeadamente, com
deste psicólogo construtivista não foi esquecido. Piaget acreditava que, o conhecimento
seja, na manipulação da criança com os objetos. Estes podem ser adicionados, subtraídos,
observação piagetiano foi muito útil para estudos científicos futuros. Passou-se a
conduzidas por uma geração de investigadores nos últimos 25 anos e tem revelado que o
Wynn, 1992) e sofre um extenso desenvolvimento ao longo dos primeiros cinco/seis anos
de vida (ver Ginsburg, Klein, e Starkey, 1998; Bisanz, Sherman, Rasmussen, & Ho,
tais como o subitizing2 (Starkey e Cooper, 1995), a contagem (Cordes e Gelman, 2005), a
2
Subitizing foi um termo proposto por Kaufman, Lord, Reese e Volkmann (1949) para poder descrever
com clareza os resultados encontrados no seu estudo no que se refere à discontinuidade verificada na
discriminação da quantidade entre números maiores e menores do que 6. Kaufaman et al. (1949)
denominaram de subitizing, a perceção e julgamento da quantidade em números menores do que 6. Tem na
sua origem o termo latino subitus que significa súbito e no verbo do latim medieval subitare que significa
chegar rapidamente. É um termo ainda hoje utilizado pelos teóricos na área da cognição matemática para
definir a capacidade em determinar com precisão e subitamente a quantidade de pequenos conjuntos até 3
elementos, sem recorrer à contagem. Dado a sua origem latina, optámos por traduzir o termo para
português, passando a ser referenciado neste trabalho como subitização ou subitizar.
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Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
matemático formal no primeiro ciclo de ensino básico ao nível dos números e cálculo,
matemáticos desde os primeiros anos de vida, tal como é natural adquirir e utilizar a
O quadro teórico que sustenta o presente trabalho assenta nos resultados de vários
quantidade foram efetuados nos anos quarenta (Taves, 1941; Saltzman e Gardner, 1948
apresentou a 133 participantes coleções de objetos projetados numa tela que variavam
reportar o grau de confiança nas suas respostas numa escala de 6 pontos que variavam
3
Por numerosidade entende-se a propriedade de uma coleção de objetos que se pode discriminar
quantitativamente sem recorrer à contagem.
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Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
entre 0 e 5. Este autor verificou que as respostas dos participantes até 6/7 pontos eram
grau de confiança nas suas respostas eram altas. A partir de 8, as respostas dos
participantes eram cada vez mais imprecisas e o grau de confiança baixava drasticamente
conforme aumentava o tamanho de pontos (< que 8). Taves (1941), na explicação dos
maiores onde existe uma inadequada perceção da numerosidade - os erros eram imensos
Taves (1941), entre outras variáveis, a habituação (uma, três e dez repetições a cada 10
tinha pouco efeito e a taxa de sucesso nas respostas dadas a 100% só se verificava até 3.
seja, quanto maior a numerosidade, maior o tempo de reação e menor a precisão nas
respostas dadas. Estes resultados eram semelhantes aos que Taves (1941) observou só
que com uma única diferença; o espaço numérico era mais curto. Com menos de 3
numerosidade.
(ver nota de rodapé, pág. 17) para explicar os resultados encontrados pelos estudos
Estes estudos foram replicados até aos dias de hoje com amostras diferentes e
quantidades não inferiores a 6 mas sim inferiores a 4 (tal como já tinha sido observado
por Saltzman e Garner (1948); e é partilhada por adultos de diferentes culturas (Pica et
al., 2004), por bebés humanos (Starkey & Cooper, 1980) e por outras espécies animais,
2002).
sugerem que os bebés têm uma capacidade natural de representar números a partir de dois
Feigneson et al., 2004) que diferem de um sistema numérico verbal simbólico apenas
conhecimento numérico pode ser observado na Tabela 1 e 2 que resume o modelo teórico
sustentado no presente estudo que foi adaptado a partir dos estudos de Geary (1995)
Dehaene no Collège de France em Paris, fez uma experiência que demonstrou que o
inicial. A hipótese inicial era a seguinte: se a mente humana é equipada por um único
sistema numérico neuronal, será igualmente fácil distinguir quantidades separadas num
mesmo intervalo (iguais distâncias). Ou seja, distinguir 1, 2 ou 3 será tão fácil como
distinguir 10 a 20 ou 20 a 40.
com mais precisão e rapidez que 40 ou 50. De toda a série de números apresentados aos
com estes pequenos números, nós humanos, somos mais do que 200 milésimos de
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Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
segundos mais rápidos a nomear quantidades inferiores a 3 e quase sempre de uma forma
Estes resultados não levantaram dúvida que existem dois sistemas neuronais
Tabela 1.
do Olhar Preferencial”4.
Starkey e Cooper (1980) convenceram 72 mães a levarem os seus bebés para o seu
estavam sentados ao colo das mães, cada bebé, com idades entre as 16 e 30 semanas,
observa diapositivos projetados num ecrã. Os diapositivos continham dois a três pontos
pretos distribuídos numa linha horizontal. Os autores variaram os espaços entre os pontos
para que, nem o comprimento da linha nem a densidade dos pontos pudessem ser usados
Após inúmeras projeções, os autores repararam que o tempo médio de fixação era
4
No método “Paradigma do Olhar Preferencial” é observado os movimentos oculares dos bebés enquanto
se apresenta dois ou mais estímulos (e.g. conjuntos de pontos). Avalia-se o tempo médio de fixação. Se um
bebé olha mais para um estímulo do que outro, isso sugere que este discrimina os estímulos apresentados.
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Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
talvez 4 itens. Nesse estudo, foram apresentados aos bebés, conjuntos de estímulos (e.g.
olhar para um conjunto em detrimento de outro. Verificou-se que os bebés olhavam mais
Noutro estudo mais recente (Xu e Spelke, 2000) três figuras foram colocadas em
frente a bebés de seis meses de idade. A primeira mostra uma figura com 2 pontos pretos,
sons de tambor e imediatamente olham para a figura com três pontos pretos. Estas
Estes estudos permitem deduzir que, embora os bebés não tenham um conceito de
contagem sofisticado, têm uma conceção precisa da quantidade (Geary, 1995; Geary,
aproximado).
olhar preferencial), passando por técnicas eletrofisiológicas até à imagem cerebral (e.g.
Xu, 2003). Como a subitização realmente funciona em termos neuronais é ainda hoje
quantidade.
forçada com duas únicas alternativas. Os sujeitos eram forçados a decidir entre dois
estímulos visuais com diferentes numerosidades, e de entre estes, qual é que continha o
maior número de pontos. Estas duas tarefas implicavam dois tipos de competências
representação da criança até aos 3/4 anos em estimar quantidades e comparar quantidades
(Dehaene et al.,1998).
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Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
Neste tipo de tarefa os desempenhos são tipicamente medidos pela lei de Weber –
encaixa bem na lei de Weber. Em geral, a lei de Weber diz-nos que se a magnitude do
estímulo muda, também deve mudar a diferença entre os estímulos para que o
discriminar duas quantidades com pequenos rácios, ou seja, com distâncias menores (e.g.
rácio 1.25 – 8 vs 10 pontos) do que duas quantidades com grandes rácios, ou seja, com
rácio de 2.0 (e.g. 8 vs 4; 16 vs 8), a precisão parece diminuir. A taxa de erro observada
(e.g. 1 vs 9). A imprecisão (tempo de reação na resposta mais longo e com mais erros)
surge quando a distância é menor, ou seja, quando duas quantidades estão numericamente
próximas (e.g. 49 vs 50; 8 vs 9). Este é acompanhado pelo efeito de magnitude, ou seja,
para distâncias iguais, surge mais dificuldade em discriminar duas grandes quantidades,
que o rácio passou de 2.0 para 1.5 entre os 6 e os 9 meses de idade (Lipton e Spelke,
numérico preciso - até 4 itens para os adultos e 3 itens para as crianças e animais. Para o
limite de 1.15 para os adultos e entre 1.5 e 2.0 para os bebés humanos (Xu, Spelke, e
Goddard, 2005).
Para tentar perceber o desenvolvimento numérico numa escala mais ampla, alguns
precoce. Alguns estudos (Sharon e Wynn, 1998; Wynn, 1995; Starkey, 1992) sugerem
que bebés com 6 meses já conseguem enumerar, ou contar, séries de 2 ou 3 objetos e aos
que estes olhavam mais tempo para resultados incorretos em adições simples (1 + 1 = 3)
subtrações (2 – 1 = 1). A autora inferiu que os bebés humanos, ao olharam durante mais
tempo para resultados incorretos, esperavam uma redução na quantidade quando um item
era adicionado ao outro item. Este estudo foi mais tarde replicado por Simon e
Outros autores, como Wakeley, Rivera e Langer (2000) também tentaram replicar
o estudo de Wynn (1992) para investigarem a robustez das competências aritméticas dos
bebés humanos não são robustas. Segundo os autores, estes resultados levantam a
pré-aritméticas ainda não tenham sido totalmente compreendidos, para alguns autores
parece haver algum tipo de sistema numérico pré-verbal nas competências aritméticas
Wakeley et al. em resposta aos resultados aos respetivos estudos5), de acordo com
Clements e Sarama (2009) ou Jordan e Levine (2009), não se pode inferir com resultados
sólidos que os bebés têm uma capacidade inata para adicionar e subtrair pequenas
quantidades.
estudam a cognição numérica, que as crianças com dois anos de idade, em tarefas com
de reconhecer que a quantidade aumenta com a adição (+1) e diminui com a subtração (-
1). Com três anos de idade, começam a desenvolver uma explícita compreensão da
subtrativos simples não-verbais (Starkey e Gelman, 1992; Levine et al., 1992). Aos
5
- Wynn, K. (2000). Findings of addition and subtraction in infants are robust and consistent. Reply to
Wakeley, Rivera and Langer. Child Development, 71 (6), 1535-1536.
- Wakeley, A., Rivera, S.M., e Langer, J. (2000). Not proved: Reply to Wynn. Child Development,
71(6),1537-1539.
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Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
1994) e só a partir dos 5 anos é que a maioria das crianças consegue resolver problemas
aditivos com quantidades maiores do que 4 sem o suporte de objetos concretos (Clements
e Sarama, 2009).
simbólica e fortemente influenciado pelos inputs que a criança recebe do seu meio
Shaeffer, Eggleston, e Scott, 1974; citados por Clements, 1999). A subitização, estimação
ainda mais “básicas” que a contagem verbal onde os limites dos seus mecanismos
parecem só poder ser ultrapassados por mecanismos abstratos, como a contagem verbal
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Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
(Clements, 1999). Enquanto no caso da subitização dá-se uma resposta única (verbal ou
não-verbal) rápida e precisa sem recorrer à contagem, no caso da contagem dá-se uma
resposta verbal a cada objeto em particular, num dado conjunto de N objetos por
Tabela 2.
corresponder cada objeto com uma palavra-número (de uma série de numerais),
simbólico permite chegar ao domínio do número abstrato e das estratégias aritméticas que
Huttenlocher, 1992; Huttenlocher et al., 1994; Geary, 1995) permitindo, deste modo, a
2002; Feigneson et al., 2004; Wynn, 1990; Wynn, 1992) sendo, deste modo, o ponto de
tamanho do conjunto, esta começa a utilizar a sequência numérica para determinar essa
mesma cardinalidade (e.g. “um, dois, três, quatro. Tem quatro.”) usando o mesmo
mecanismo para conjuntos maiores do que três elementos (e.g. Le Corre e Carey, 2007).
estratégias de contagem mais eficientes que não a contagem um a um. Por exemplo, a
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Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
contagem verbal. A cada subgrupo de n objetos, dá-se uma única e precisa resposta
uma estratégia de contagem também ela mais elaborada do que a contagem um a um.
Quando é apresentada uma peça de dominó com 4 pontos de cada lado e a criança
responde “8”, esta passa a reconhecer o número do dominó como um padrão numérico
composto por partes (ou subgrupos) e por um todo. Cada parte é constituída por “um
pedido a uma criança do 1º ano de escolaridade para definir o tamanho de uma figura de
chegou à resposta, esta responde da seguinte forma: “Quando eu tinha quatro anos, eu
andava no jardim-de-infância. Tudo o que eu tinha de fazer era contar. Então, eu fazia
assim: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9… e assim eu já sabia e fiz isto até ter cinco anos. E depois
eu continuei a saber que era o 9 mas assim [dividindo a figura em 3 + 3 + 3].” Ou seja, a
verbaliza: “Eu sei que há mais três. 9…10, 11, 12”. Neste caso, a criança está a utilizar
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33
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
padrões temporais, ao fazer uma pausa no “nove” e depois tocando ritmicamente em cada
dedo, associando assim cada gesto a cada compasso e a cada palavra-número. O uso de
padrões digitais é o mais utilizado pela criança para calcular e resolver problemas de
adição ou subtração (Clements, 1999). Falaremos mais adiante do uso dos dedos como
sofisticados com números maiores (Baroody, 1987; Clements, 1999; Baroody, Lai e Mix,
2006).
simbólico (Gallistel e Gelman, 1991; Gelman e Gallistel, 1978; Starkey et al., 1990;
palavras-número logo depois de aprenderem a falar (Fuson, 1988) mas ainda não o fazem
com “sentido”.
Princípios de Contagem
Recorrendo a Vygostky (1978), podemos referir que o sujeito aprende a partir de novos
desenvolvimento proximal”.
122). Esta posição vygostkiana já tinha sido defendida por Fuson (1988) e abordada por
Fosnot e Dolk (2001). Estes autores defendem que a construção de significados cada vez
primeiros estão associados ao “como se conta” e os dois últimos “ao que se conta” (Cruz,
2009):
sequência numérica está organizada de acordo com uma ordem consistente e que cada
palavra-número ocupa um lugar bem definido, que não pode ser alterada.
uma única vez com uma única correspondência um a um entre o objeto (ex. estrela) e a
palavra-número;
não depende da ordem pela qual os objetos são contados e é irrelevante para a
cardinalidade de um conjunto;
dos seus arranjos espaciais e dos seus elementos constituintes, a quantidade mantém-se.
dos seus arranjos espaciais e dos seus elementos constituintes, a totalidade mantém-se
(1978) aos trabalhos de Piaget (1952). Segundo Piaget (1952), existem duas estruturas
seja, recorrer à contagem verbal com sentido) se conseguir colocar todos os objetos numa
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36
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
assim sucessivamente.
uma forma de distribuir os objetos de tal forma que um fique em primeiro, outro em
numérico ou pré-operatório em Piaget, observa-se, nas crianças por volta dos quatro anos,
a tendência que elas têm de contar objetos saltando alguns ou contarem duplamente
outros. Esta tendência mostra que esta não sente a necessidade lógica de colocar os
objetos numa determinada ordem, de uma forma organizada. Contudo, quando a criança
passa a ordená-los mentalmente e de uma forma organizada, esta está a basear-se no que
Kamii (2011) relata na sua obra um episódio com uma criança de 4 anos: “Depois
de contar 8 objetos arranjados numa relação ordenada (em linha, da esquerda para a
direita), a criança geralmente diz que há oito. Se lhe pedirmos para nos mostrar o 8, às
vezes ela aponta para o último (oitavo objeto). A criança vê estes elementos de forma
individual de uma série, como João, Maria,…Pedro. Portanto, quando lhe perguntamos
quantos são, a criança responde “Pedro”. O nome Pedro serve apenas como o último da
série e não para o grupo todo. Para quantificar os objetos num grupo, a criança tem que
colocá-los numa relação de inclusão hierárquica. Esta relação significa que a criança
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37
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
inclui mentalmente um em dois, dois em três, três em quatro, etc.” (Kamii, 2011, p. 23).
(Gelman e Gallistel, 1978; Fuson, 1988; Fosnot e Dolk, 2001), calcular e dominar o
exemplo, saber que oito (8) é maior (>) do que cinco (5); e o seis (6) é menor (<) do que
o nove (9) ou que o 5 está mais próximo do 6 do que do 7 (Case e Griffin, 1990).
quatro anos já consegue discriminar quantidades (Case e Griffin, 1990). Por exemplo, é
capaz de dizer qual dos pacotes têm mais ou menos bolachas. Como já foi referido
precisas. Por outras palavras, apoia-se mais no sistema de magnitudes aproximadas para
Com seis anos de idade, a criança integra esquemas de contagem que lhe permite
desenvolver uma linha mental numérica (Siegler e Booth, 2004). É esta linha mental que
lhe vai permitir raciocinar melhor sobre as suas “palavras quantitativas” (Griffin, 2002;
identificação dos números sucessores e antecessores (Le Corre e Carey, 2007; Sarnecka e
Carey, 2008). Para além disso, começa também a perceber que os números por si
mesmos, nessa sequência numérica, têm magnitudes distintas (e.g. 5 é maior do que o 4 e
Compreende assim que na relação entre os números, estes crescem linearmente, cada um
deles tem um valor posicional fixo em relação aos restantes e com eles (na manipulação
numérica (e.g. entre 1 e 100 onde deveria estar o 44). Na parte superior do ecrã está um
número entre 1 e 99 (e.g. 44) e no meio do ecrã está uma linha horizontal de 25 cm com o
0 (zero) à esquerda e com o 100 (cem) à direita. As crianças eram induzidas a marcar a
localização, ou seja, o valor posicional de um dado número na linha numérica (e.g. “Onde
números numa linha ou reta numérica geralmente aumenta o seu DM (Booth e Siegler,
2008).
simples poderiam ser definidas em termos de contagem, dado que existe uma conexão
direta entre a aritmética (a ciência que estuda os números e as quatro operações possíveis
entre eles) e a contagem (Geary, Bow-Thomas, Liu, e Siegler, 1996). Uma vez que
um dado número. Por exemplo, a soma de 3 + 2 é um número total que resulta de contar
que resulta de contar b números a partir de a. Outro aspeto da adição é que a própria
construção do número inclui a adição (Kamii, 2011). A adição é uma seriação em que se
inverso, em que se retira uma parte ao todo, fazendo aparecer uma terceira noção: o que
resta. Em vez de se juntarem duas partes para se obter um todo (adição), há um todo a
que se tira uma parte, pretendendo-se saber a outra parte que resta. Remetendo para a
contagem, neste caso, decrescente (em que se tira - 1´s a um dado número), na diferença
contagem que por si só, inclui as noções de quantidade, ordenação e inclusão hierárquica.
problemas simples apresentam-se de três formas diferentes que acrescem por nível de
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41
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
Levine, 2009).
mais fácil resolver um problema se este for apresentado sem estímulo verbal e com a
estímulo verbal e com referência a objetos (problema verbal). Se este for apresentado
com estímulo verbal sem qualquer referência a objetos (e.g. operação numérica:. Quanto
é 3 + 2?) aumenta o grau de dificuldade na sua resolução. Deste modo, Jordan, Levine e
resolve problemas verbais simples aditivos e subtrativos (com referência a objetos) mais
complexidade linguística crescente nos enunciados verbais faz com que os problemas em
formato verbal com referência a objetos passem a ser mais difíceis de resolver do que
desenvolvida mais cedo que a capacidade para desempenhar cálculos que envolvem
estímulos verbais (combinações verbais e problemas verbais). Uma criança de três anos é
capaz de resolver um cálculo 2+1 num formato não-verbal, como por exemplo, mostrar
três fichas, tapar e através de um orifício colocar mais duas e de seguida pedir à criança
para dizer quantas fichas estão agora debaixo da caixa. Porém só quando atingir os quatro
anos de idade, esta conseguirá resolver o mesmo cálculo com o formato de um problema
de um problema aritmético.
Estratégias de contagem
verbal. Geary et al. (1996) aduzem que a criança começa por utilizar procedimentos de
de não-contagem, sendo estes mais eficientes e com a prática igualmente a levar menos
tempo a executar.
A criança usa assim a contagem pelos dedos para ter uma compreensão visual dos factos
nomeadamente, estratégias de cálculo mental (Geary et al., 2007). Deste modo, o uso dos
domínio do cálculo mental com números maiores (Butterworth, 2005; Fuson, 1982).
estratégias mistas (contagem pelos dedos e contagem verbal) para resolver problemas
passa para uma estratégia mais eficiente com a contagem a partir do número dado (e.g.,
até que passa a usar com mais frequência o segundo procedimento (Geary, Bow-Thomas,
e Yao, 1992).
2008). Neste caso, a criança responde rapidamente, mas de forma aleatória e sem
considerava que existem, deste modo, critérios de confiança nas respostas dadas que varia
de criança em criança. Se uma criança tiver um critério de confiança elevado nas suas
respostas, só dará uma resposta se tiver a certeza absoluta que está correta. Se uma
criança tiver um critério de confiança baixo, dará qualquer resposta, correta ou não.
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44
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
mais sofisticados do que a “contagem total” e a “contagem a partir de” parece estar
numéricos, a criança dá uma resposta imediata com base na associação do que foi
assimilado pela memória a longo prazo com o problema apresentado, como por exemplo,
reconstrói a resposta baseada na recuperação de uma soma parcial. Por exemplo, para
longo prazo o facto numérico 6 + 6 e depois só acrescenta 1 a esta soma parcial (Geary e
Hoard, 2004).
Ainda mais elaborado quando o problema apresenta uma das somas parciais de
forma incógnita. Por exemplo, para responder 6 + ? = 13, a criança pode contar a partir
parcial. Neste tipo de estratégia, a criança tem um pensamento numérico mais elaborado.
uma unidade total. Em contraste com as crianças que usam o procedimento-soma, neste
significado (Resnick, 1983). Este procedimento pode ser descrito como uma estratégia de
capacidade de repartir o todo em pequenas partes. Resnick (1983) propôs que as crianças
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45
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
usam a construção parte-todo para resolver todos os problemas matemáticos, dado que a
criança passa a ter a capacidade de ver várias combinações parciais no todo. Quanto mais
a criança relaciona combinações parciais, mais domina o cálculo mental. Esta estratégia
como uma operação inversa da subtração (Steffe e Cobb, 1988), permitindo-lhe começar
(a + b) + c = a + (b + c)
Esta propriedade possibilita uma estratégia mental aditiva que simplifica algumas
4 + 4 + 6 = 4 + (4 + 6) = 4 + 10 = 14
a+b=b+a
de longo prazo resulta numa resposta automática para cada problema individual e uma
aritméticos cada vez mais complexos (onde os problemas aritméticos simples estão
incorporados) e com menos probabilidade de erro (Geary, Liu, Chen, Saults, e Hoard,
1999).
As tarefas não-simbólicas (e.g. tarefas SNA) também têm sido relacionadas com o
Halberda, 2011; Piazza et al., 2010). Por exemplo, Inglis et al. (2011) demonstraram que
associada com os resultados dos testes matemáticos formais. Porém, estes resultados são
inconsistentes, havendo outros estudos em que não se observaram uma relação positiva
Smedt, Defever, e Reynvoet, 2012; Soltész, Szücs, e Szücs, 2010). Mais recentemente, o
estudo de Sasanguie, Göbel, Moll, Smets e Reynovet (2013) também não encontrou uma
7 e 8 anos de idade.
quadro teórico respeitante à relação entre SN e DM, Chard et al. (2005) replicaram a
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47
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
Autores como Geary et al. (2007), Gersten e Chard (1999), Griffin e Case (1997)
Gersten et al. (2005), Jordan et al. (2006) e Jordan et al. (2008) aduzem que as fraquezas
na matemática.
Num estudo mais recente, Jordan, Glutting e Ramineni (2010) demonstraram que
precisão diagnóstica de uma medida de diagnóstico - revelaram que a BSN apresenta uma
alta precisão diagnóstica com índices que variam entre os .78 e .88.
Duncan et al. (2007) vão mais longe ao verificarem, numa meta-análise com seis
estudos longitudinais, que o peso preditivo das competências iniciais da matemática (ou
sentido de número, medido antes da entrada do ensino formal) são mais fortes do que as
estes estudos, aplicados desde o jardim-de-infância até ao final do 3º ano, revelaram três
nesse nível.
Segundo Jordan et al. (2008), a criança quando inicia o percurso escolar com bom
matemática.
sendo cada um deles uma extensão do estudo anterior. O primeiro pretende aferir a NSB –
Number Sense Brief Screener de Jordan, Glutting et al. (2008) para a população
crianças em risco de terem insucesso na matemática. A bateria tem como suporte teórico
geográficas portuguesas num total de 2246 crianças. Os resultados serão analisados tendo
individuais e sociodemográficas.
Tendo como suporte teórico os trabalhos de Geary et al. (2007), Gersten e Chard
(1999), Griffin e Case (1997) Gersten et al. (2005), Jordan et al. (2006) e Jordan et al.
associação entre o SN, medido pela BSN antes da aprendizagem formal da matemática, e
longitudinal de curto prazo (dois anos) e com a análise de 30 crianças com baixo, médio e
identificados por Jordan et al. (2006, 2007 e 2010), tendo em conta os três grupos de
PARTE II
Investigação prática
avaliação a uma população. Este processo torna possível a sua utilização científica com o
encontra, quer ao nível do desempenho do próprio grupo. Para uma melhor interpretação,
resultados dos grupos normativos, ou seja, devem ser transformados noutro tipo de
O percentil é uma medida usada na estatística e indica o valor mais baixo no qual
exemplo, se o valor (ou resultado) estiver no percentil 25, isso significa que é o valor
mais baixo no qual 25% das observações pertencem a sujeitos do mesmo grupo
normativo. Significa também que 75% dos alunos da mesma idade da amostra
padronizada terão obtido uma pontuação igual ou superior ao valor obtido por esse
sujeito.
É um método fácil e simples de interpretar tanto por psicólogos como por outros
em particular - que, por si só tem pouca utilidade - em desempenhos dos sujeitos do mesmo
Deste modo, as normas, não são, pois, mais do que a informação relativa aos
desempenhos de um grupo de referência particular (e.g. grupo etário ou grupo escolar) com
elaboração de normas por grupo etário é apropriada sempre que se espera que o traço
validade permitirá avaliar as qualidades psicométricas do mesmo. Para além disso, uma
aferição permite também analisar os resultados do teste com outro tipo de resultados. Por
2.1.1. Objetivos
Number Sense Brief Screener (Jordan, Glutting et al., 2008) traduzida para BSN - Bateria
a população portuguesa.
fidelidade e validade e análise dos itens; 3) analisar os resultados do teste em função das
itens 28-33).
2.1.2. Participantes
média de 6 anos de idade (MD = 6.11; DP =5.84), com cerca de metade do sexo masculino,
Tabela 3.
Variável Amostra
(n = 2246)
Género
Masculino 51.6
Feminino 48.4
Educação dos pais
Educação primária 13.1
Educação secundária 61.8
Educação superior 25.1
Estatuto Socioeconómico (ESE)
Baixo 42.8
Médio 39.0
Alto 19.2
Nota. O ESE foi calculado a partir da Classificação Nacional de Profissões 2010. ESE baixo = domésticos,
desempregados, e trabalhadores não qualificados. ESE médio = serviços pessoais, proteção, vendas,
operadores máquinas e construção, administração, secretariado e comércio. ESE alto = profissionais técnicos
superiores especializados e cargos de direção e chefia.
Ministério da Educação.
nacional foi ponderada com base nas Estatísticas da Educação, ano letivo 2010/2011,
regiões de Portugal e que subdividimos da seguinte forma: Norte, Centro, Lisboa e Vale
em cada uma das regiões. As regiões do Norte teriam os seus coeficientes duplicados e as
população. Neste sentido, a dimensão da amostra mínima foi previamente fixada entre
800 a 1200 crianças em dois anos de aplicação. Com os meios humanos e logísticos
& Morgan, citado em Almeida & Freire, 2007), é possível determinar o tamanho de uma
amostra representativa para uma determinada população. Pode ser observado que o
tamanho da amostra aumenta sempre que a população aumenta, mas com uma taxa cada
vez mais reduzida, e mantém-se constante a partir de um número de amostras de 380 com
com o N da população que ronda os 100 000 com um n de estimativa muito superior a
população em estudo.
Tabela 4.
2.1.3. Materiais
Project da Universidade de Delaware, por Jordan et al. (Jordan et al., 2006; Jordan et al.,
minutos, foi posteriormente abreviada para 33 itens (Jordan et al., 2008) passando a ser
anos e apresenta boas qualidades psicométricas com um alfa de Cronbach de .84 (Jordan
et al., 2008).
A NSB – Number Sense Brief Screener, traduzida para BSN – Bateria Sentido de
Número está organizada por 7 subtestes num total de 33 itens: Contagem e Princípios de
resolução dos Problemas verbais e Operações numéricas: Dedos (D), a criança usa os
seus dedos para auxiliar a contagem; Lápis/papel (LP), a criança desenha figuras (e.g.
Verbal (V), a criança verbaliza a contagem sem recorrer a nenhum instrumento de apoio;
Fichas (F), a criança recorre às fichas para a auxiliar nas contagens; e Mental (M), a
criança dá uma resposta rápida sem que seja observada nenhuma estratégia de contagem
ou instrumento de apoio.
A);
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60
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
tarefa de cálculo não-verbal. A tampa da caixa tem uma abertura num dos lados de
f) “Fantoche no dedo” - o examinador pinta uns olhos e uma boca no seu dedo
indicador;
ou num local calmo e afastado de distrações exteriores. Embora seja uma prova fácil de
aplicar e que cativa a atenção do sujeito, o examinador deverá escolher uma sala calma,
com iluminação e ventilação adequada. É importante que o espaço seja apenas ocupado
suas estaturas. A mesa ou secretária deverá apresentar uma superfície lisa e ter uma
subteste.
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61
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
lado na esquina da mesa para melhor manuseamento do material tanto para o sujeito ver o
caderno de estímulos, como para o examinador ver como o sujeito interage com os
estímulos. Se o examinador for dextro, o sujeito deverá estar sentado à sua esquerda. Se
for canhoto, à sua direita. O examinador deverá colocar o caderno de estímulos à frente
do sujeito. À sua frente, a folha de cotação e de lado o caderno de instruções. Deverá ler
responder (mesmo que a resposta por parte do sujeito seja “Não sei.”). Não deverá indicar
se o sujeito está certo ou errado, mas sim encorajá-lo a esforçar-se. Registar as respostas
necessário, relembrá-lo que deve ouvir com muita atenção. A posição lado a lado não
permite que o examinador opte pela cotação imediata das respostas pois o sujeito está em
posição de verificar a cotação das suas respostas, pelo que deverá ser feita numa fase
posterior.
se pelo primeiro nome e dizer ao sujeito o seguinte: “Vamos fazer alguns jogos com
números e é importante que ouças com atenção e que dês o teu melhor. Pode ser? Estás
indicar a passagem para o subteste seguinte com a seguinte instrução: “Agora vamos fazer
um jogo diferente.” Deve também ter atenção de que o sujeito não está a olhar para o
subteste. Para precaver esta situação, logo que termine, vira para a página em branco, antes
O teste pode ser aplicado por técnicos de variada ordem – psicólogos, educadores
2.1.4. Procedimento
que esta fosse adaptada para a população portuguesa. Após o acesso à prova original e
autorização para levar a cabo este estudo, nos três meses seguintes, foi feito o trabalho de
tradução para a língua portuguesa. A tradução foi efetuada com a colaboração do orientador
e coorientadores e três professores do 1º CEB (1º Ciclo do Ensino Básico), sendo um deles,
Após a tradução, foi feito um estudo exploratório com a aplicação da BSN a uma
primeira amostra (n = 39) que não consta da amostra de aferição. Seguiu-se uma análise
Problemas verbais para o sujeito sentir-se familiarizado com os nomes. Por exemplo, o
item 24 “Sally has 4 crayons. Stan gives her 3 more crayons. How many crayons does Sally
have now?” foi traduzido para “A Vera tem 4 lápis. O Francisco dá-lhe mais 3. A Vera tem
quantos lápis agora?”. Embora com uma amostra mínima, em termos estatísticos a BSN
as respetivas direções regionais de educação por endereço eletrónico, tendo sido dada uma
resposta favorável por parte da Direção Regional de Educação e Formação dos Açores em
digital de cada direção regional de educação (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo,
disponível via internet pela DGRHE, foram contactados, via faxe e/ou por correio
eletrónico todos os agrupamentos de escolas que estavam de acordo com o seguinte critério
de seleção: pelo menos uma cidade por distrito, que tivesse no mínimo dois agrupamentos
O processo de aferição foi feito em duas fases: no início do ano letivo 2011/2012 e
no início do ano letivo 2012/2013. Na 1ª fase de aplicação (outubro / novembro 2011), dos
escolas. Tal como aconteceu com a Direção Regional de Educação dos Açores, também a
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65
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
Direção Regional da Madeira deu autorização para que a prova fosse aplicada em todas as
primeiro ciclo de estudos com cerca de 400 crianças matriculadas no 1º ano de escolaridade
Tabela 5.
modelo dada pelo investigador responsável por este estudo, e dado formação local ou por
autorizações aos professores já organizadas por instituição escolar e turma (consta o nome
aos seus alunos. O inquérito só é preenchido quando a autorização for assinada pelos
examinador) que, por sua vez, informa, por endereço eletrónico, o responsável do estudo o
examinador se dirigir às escolas a fim de aplicar as provas. Nesse dia, serão entregues as
Após o examinador agrafar cada autorização a uma respetiva folha de cotação, este
dirige-se à sala de aula, chama a criança pelo nome, levando-a para o espaço
disponibilizado pela escola para aplicar a prova. Após a aplicação, o examinador volta a
levar a criança para a sala de aula chamando outra criança e assim subsequentemente. A
Um último tópico diz respeito à conceção da prova original. Esta foi delineada para
as crianças que transitem do pré-escolar para a escolaridade obrigatória. Deste modo, foi
previsto que a aplicação seria à entrada no primeiro ano escolar, antes de serem
Neste sentido, em outubro de 2011, deu-se início à fase de aplicação da BSN a nível
nacional com o contacto das escolas e pedido de autorização dos pais. A partir do número
de crianças matriculadas por escola e turma, foram enviadas às escolas as autorizações para
Tabela 6.
regiões do Litoral Norte, Interior Centro, Lisboa Norte, Litoral Sul, e na Região Autónoma
provas de 1749 autorizações dos pais nas regiões do Interior Norte, Litoral Centro, Interior
preliminar (dezembro 2011 a janeiro 2012) para subsequente tratamento estatístico (janeiro
-maio 2012). A base de dados final foi construída em janeiro de 2013 e a análise dos dados
de aferição iniciada a julho de 2013. Os dados foram analisados através do programa SPSS
métodos estatísticos.
idade cronológica foi utilizada estatística descritiva. Os grupos etários foram divididos
com intervalos de seis meses: 5 anos de idade (60-66 meses) até 8 anos e 6 meses de
padrão, moda e mediana) foi também usada para medir a sensibilidade da prova.
principais, foi feita uma correlação de Pearson. A fidelidade foi medida através do alfa
de Cronbach. Para medir a validade, foi utilizada a análise de componentes principais (ou
análise fatorial). O índice de dificuldade e discriminação dos itens foi utilizado para
Por último, foi utilizada estatística inferencial (comparação de médias com testes
crianças.
2.1.6. Resultados
normas por grupo etário (em anos e meses) divididas de 6 em 6 meses entre os 5 e os 8
desvios padrão e sete níveis de percentis (5, 10, 25, 50, 70, 90, 95). O número de crianças
observadas em cada um dos grupos etários varia consoante as crianças que frequentavam
o 1º ano de escolaridade, quer estejam pela primeira vez, quer estejam em outros níveis
percentil 75).
padrão) apresenta como valor mais elevado 6.53 e com valor mínimo 2.87. Para todas as
idades, a média nacional dos resultados da BSN situa-se nos 22.87 pontos com desvio
padrão de 5.83.
dos desempenhos no primeiro nível escolar. No entanto, a partir dos 7 anos, a situação
crianças com 6 anos e 8 anos de idade (ver tabelas de conversão, Apêndice 3).
Entende-se por sensibilidade dos resultados num teste o grau em que as respostas
análise, diferenciando os sujeitos entre si, tendo em conta os seus níveis de realização
de aferição. No entanto, optámos por analisá-la pois permite-nos apreciar a média dos
Figura 1. Curva de desempenho médio na BSN (que varia entre os 15 e os 25 pontos) em crianças inscritas
no 1º ano de escolaridade com idades compreendidas entre os 5 e os 8 anos e 6 meses.
O valor da média dos resultados do teste está próximo do valor da mediana e dois
.456. Podemos verificar no histograma (ver Figura 2) que a prova discrimina mais valores
inferiores à média nacional que valores superiores à média. Deste modo, não invalida,
pelo contrário, até potencia a finalidade da prova que visa a identificação de crianças em
nacional).
Tabela 7.
Valor
Média 22.87
Mediana 24
Moda 25
Desvio-Padrão 5.83
Nesta amostra, 3.1% dos casos situam-se no Nível A- (≤ percentil 10), 16.8% no
Nível A (≤ percentil 25), 61.7% no Nível B (B+ = 32.4%; B- = 29.3%) e 18.4% no Nível
C (≥ percentil 75).
180
média nacional
160
140
120
100
80
60
40
20
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33
Frequências
A fidelidade dos resultados num teste refere-se ao grau de confiança que podemos
ter nos resultados dos indivíduos. Quanto maior o coeficiente de fidelidade de um teste,
maior a confiança de assumir que o teste está próximo daquilo que realmente pretende
particular.
uniformidade e homogeneidade que existe nas respostas dos sujeitos a cada um dos itens
que constituem o teste (Meuris, citado por Almeida e Freire, 1997). Por outras palavras, é
o grau com que cada item do teste mede a mesma coisa que outro item. Entre outros
(Kline, 1986 citado por Simões, 2000), e ser considerada a solução mais geral para
qualquer tipo de item - dicotómico e não dicotómico (Muñiz, citado por Simões, 2000).
.70 e .90 com uma boa consistência interna; e superiores a .90 como excelente (Nunnally,
citado por Simões, 2000). É de referir que um índice elevado de consistência interna pode
significar homogeneidade nos itens e não uma unidimensionalidade dos itens do teste
Spearman-Brown e de Guttman, 1946) por ser indicado para testes sem limite de tempo.
calculado com base em duas metades de teste (bipartição em itens pares e ímpares) em
que se supõe garantir a equivalência entre as duas metades. O uso desta fórmula pretende
coeficiente.
Consistência interna
a .70, independentemente do grupo etário (ver Tabela 8). Neste sentido, os resultados
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75
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
totais apresentam uma unidimensionalidade dos itens, o que nos permite fazer
Tabela 8.
Alfa de Cronbach
Grupos etários
5 anos .872
6 anos .870
7 anos .877
8 anos .884
Amostra total .874
permite-nos ainda verificar que a medida, como um todo, funciona bem, dado que não
existem muitos itens com valores de correlação item-total fora da zona adequada (.20 -
.40.). Para os que estão fora dessa zona são facilmente identificáveis: o item 7 apresenta
uma correlação com o total da medida, para todos os efeitos, nula, e, adicionalmente, é o
único item que poderá aumentar o alfa de Cronbach se for removido (no entanto, num
valores abaixo de .20 e se fossem apagados o alfa da medida total mantinha-se em .874;
os itens que apresentam valores de correlação item-total superiores a .50 são apenas
alguns referentes aos subtestes Problemas verbais e Operações numéricas, e isto pode
dever-se, em grande medida, ao facto de serem questões com grande grau de redundância
Se, por outro lado, procurarmos avaliar a consistência interna de cada subteste,
Um dos fatores que pode contribuir para uma baixa consistência interna nos
restantes subtestes pode dever-se a um número reduzido de itens por subteste com
Com alguns dos valores de consistência interna por subteste muito baixos (>.70),
Tabela 9.
1 .150 .874
2 .199 .873 Contagem .409
3 .249 .873
4 .117 .874
5 .171 .874 Princípios de
.015
6 .353 .871 Contagem
7 -.005 .880
8 .420 .869
9 .501 .867 Identificação
.751
10 .481 .868 do Número
11 .332 .871
12 .384 .870
13 .290 .873
14 .303 .872
Comparações
15 .416 .869 .641
Numéricas
16 .442 .869
17 .429 .869
18 .356 .871
19 .294 .872
20 .303 .872 Cálculo Não-
.426
21 .271 .873 Verbal
22 .227 .873
23 .392 .870 .714
24 .555 .865
25 .526 .866 Problemas
26 .469 .868 Verbais
27 .515 .867
28 .539 .867
29 .595 .865
30 .587 .865 Operações
.826
31 .582 .865 Numéricas
32 .557 .865
33 .581 .865
Nota. Valores a negrito = itens com valores desadequados (abaixo de .20)
Cronbach, quer na primeira metade do teste (.706), quer na segunda metade do teste
(.850) revelam-se adequados (valores >.70). Os resultados, no que se refere aos itens da
equivalência entre as duas metades ao apresentarem-se iguais com uma correlação média
Cronbach) que existe nas respostas dos sujeitos um grau de coerência, uniformidade e
teste se revela adequado para a população portuguesa (crianças com uma média de idades
de 6 anos).
não foi efetuada devido à influência da instrução formal da matemática, o que enviesaria
relativas à validade e aos estudos normativos ganham a partir daqui uma relevância e
viabilidade adicional.
do teste medem o conhecimento que possuímos daquilo que o teste está a medir e se está
a medir exatamente aquilo que pretende medir. Segundo Almeida e Freire (1997), entre
estatística utilizada para agrupar variáveis correlacionadas que podem ser explicadas por
determinado fator se o seu valor for superior a .30. Considera-se um item ambíguo se
entre os dois valores for superior a .20, consideramos que o item pertence ao fator onde
obter uma estrutura simples dado que é o mais facilmente interpretável, pois permite
explicar o máximo de variância incluída nos dados originais (antes de rotação) com o
Análise fatorial
identificação de sete fatores (sendo o último um “não fator”) com a presença de uma
exploratória) utilizando uma rotação varimax com uma saturação fatorial de ≥.40,
com a mesma metodologia, mas neste caso com uma saturação fatorial de ≥.30.
Podemos observar na Tabela 10 que o fator 1 é constituído por 7 itens (24, 25, 27,
28, 29, 30, 31 e 33) e explica 12.50 % de variância total, podendo ser designado por
teste original, este fator está divido em dois fatores distintos: Problemas verbais –
O fator 2 inclui 4 itens (8, 9, 10, 11), explica 8.05% da variância total e foi
O fator 3 é constituído por 7 itens (12, 13, 14, 15, 16, 17 e 18) e explica 7.47 % da
O fator 4 é constituído por 4 itens (19, 20, 21, 22) e explica 5.85 % da variância
comuns. Desta forma, os valores dos coeficientes são adequados e a distinção entre
fatores é clara. Contudo, nos fatores restantes, não observamos uma coesão tão elevada
O fator 6 é composto por 3 itens (3, 4 e 5) com uma variância total de 4.40 %, e
competência numérica que o item 26 mas de acordo com os resultados não está agrupado
no mesmo fator.
dado que não se agrupam com nenhum dos restantes itens, e o 33 por se apresentar
ambíguo.
Na Tabela 11, com um peso de saturação a .30, os itens 6, 13, 23, 26, 32 e 33
poderiam ser eliminados por se tratar de itens ambíguos. O item 7 também poderia ser
num teste.
Tabela 10.
Fatores
Item 1 2 3 4 5 6 7
1 .809
2 .810
3 .438
4 .557
5 .681
6 - - - - - - -
7 - - - - - - -
8 .588
9 .759
10 .842
11 .693
12 .418
13 - - - - - - -
14 .529
15 .552
16 .698
17 .584
18 .442
19 .633
20 .594
21 .431
22 .513
23 - - - - - - -
24 .531
25 .570
26 .443
27 .527
28 .659
29 .772
30 .776
31 .749
32 .459
33 .403 .456
% variância 12.50 8.50 7.47 5.85 4.50 4.40 4.26
Nota. Valores a negrito = itens ambíguos (peso de saturação adequado em mais do que um fator).
Índice de dificuldade
número dos sujeitos que acertaram (C) sobre a globalidade da amostra (N).
os que acertaram (C), mas também os que falharam (E), o número de alternativas de
resposta para esse item (K), sobre todos os que tentaram resolvê-lo (N) (Muñiz, citado
𝐶−𝐸
(𝐾 − 1)
𝐼𝐷 =
𝑁
Tabela 11.
Fatores
Item 1 2 3 4 5 6 7
1 .809
2 .810
3 .438
4 .557
5 .681
6 .305 -.303
7 .620
8 .588
9 .759
10 .842
11 .693
12 .418 .388
13 .331 .381
14 .529
15 .552
16 .698
17 .584
18 .442
19 .633
20 .594
21 .431
22 .513
23 .302 .400
24 .531
25 .570
26 .393 .443
27 .527
28 .629
29 .772
30 .776
31 .749
32 .370 .459
33 .403 .456
incorreto) e não constituída por itens que apresentam várias alternativas de resposta,
optámos por usar a fórmula tradicional ID = C/N para o cálculo do índice de dificuldade.
Visto tratar-se de uma medida sem limite de tempo e com uma escala dicotómica,
a análise do ID pode ser efetuada sem risco de ambiguidade, ou seja, sem correr o risco
de que as omissões de resposta possam ser tomadas como falta de tempo e não como
“erro ou dificuldade”.
corretamente ao item; por outro lado, quando ID = 1.0, todos responderam corretamente
ao item (Almeida e Freire, 1997). Anastasi (citado por Almeida e Freire, 1997) defende
que se pode identificar a máxima variância interindividual dos resultados nos itens de ID
= .50 e perto de .50. Isto porque com um ID = .50, podemos comparar melhor os
resultados dos sujeitos entre si com 2500 pares de combinações dos sujeitos entre si (50 x
50 pares); enquanto um item com ID = .90, permite apenas 900 pares de combinações (90
x 10 pares).
Gronlund (citado por Almeida e Freire, 1997) segue a mesma linha interpretativa,
ou seja, para a máxima diferenciação nos testes centrados em normas convém ter num
teste itens de índice de dificuldade perto de .50 mas também, simultaneamente, itens que
Garrett (1962 citado por Simões, 2000) propõe que, itens com um nível de
desempenhos (baixos, médios e elevados) dos sujeitos num teste; logo sugere que se
inclua num teste 50% de itens com ID com valores compreendidos entre os .25 e .75;
Outros autores, como Baquero (citado por Almeida, 1993b) apresentam uma
proposta mais discriminativa dos níveis de dificuldade: 10% de itens muito fáceis (.75 -
.95); 20% de itens fáceis (.55 - .74); 40% de itens com um ID médio (.45 - .54); 20% de
dificuldade for inferior a .30 e itens muito fáceis quando for superior a .95. Entre as
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias/Instituto de Educa ção
88
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
Índice de discriminação
diferencia no mesmo sentido do teste global. Trata-se de uma “validade interna” do item.
Em termos práticos, implica que os sujeitos com melhor desempenho no teste global
acertem mais naquele item e sujeitos com pior desempenho errem mais no mesmo item.
Um item com poder discriminativo é, assim, aquele que diferencia os sujeitos que
alcançam resultados elevados, no teste, dos sujeitos que obtêm desempenhos reduzidos.
entre -1.0 e +1.0. Qualquer coeficiente negativo significa que são os sujeitos com
pior desempenho no teste global, aqueles que melhor realizam o item em causa.
Situação inversa é-nos dada pelos coeficientes positivos. Logo, apenas os itens
Stanley, citado em Almeida e Freire, 1997), o método mais utilizado para a determinação
Segundo Hopkins e Antes (1984, citado por Simões, 2000) consideram-se itens
“satisfatórios” aqueles cujos índices de discriminação se situam entre .20 e .39 e itens
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias/Instituto de Educa ção
89
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
“bons”, quando os valores são iguais ou superiores a .40. Em geral, como defende Kline
(1976 citado por Simões, 2000), os itens devem manifestar correlações iguais ou
superiores a .20,
onde item e tot são as médias da BSN obtidas em quem acerta o item e no total,
é o desvio padrão, Nacertos, Nfalhas e Ntot são os números de indivíduos que acertaram,
item. Os itens muito fáceis ou muito difíceis têm menor capacidade de discriminação
entre os sujeitos com melhor e pior desempenho no teste. Inversamente, são os itens de
índice de dificuldade médio que, à partida, podem permitir níveis mais elevados de
discriminação.
itens com níveis de dificuldade intermédios, alguns mais difíceis e outros mais fáceis. Na
Segundo Almeida e Freire (1997), entre dois itens que cumprem a mesma função
Tabela 12.
1 .99 MF .17 I
2 .98 MF .23 S
3 .97 MF .18 I
4 .98 MF .14 I
5 .90 MF .22 S
6 .67 F .42 B
7 .63 F .08 I
8 .42 D .05 I
9 .35 D .56 B
10 .21 MD .53 B
11 .08 MD .37 S
12 .85 MF .44 B
13 .46 M .37 S
14 .93 MF .34 S
15 .83 MF .47 B
16 .78 MF .50 B
17 .80 MF .49 B
18 .73 F .42 B
19 .91 MF .34 S
20 .87 MF .36 S
21 .66 F .35 S
22 .93 MF .27 S
23 .88 MF .44 B
24 .56 F .61 B
25 .73 F .58 B
26 .49 M .53 B
27 .66 F .57 B
28 .84 MF .58 B
29 .72 F .64 B
30 .65 F .64 B
31 .70 F .63 B
32 .36 D .61 B
33 .35 D .63 B
Nota. Índice de dificuldade e índice discriminatório por item segundo os critérios de Baquero (1974) e
Hopkins & Antes (1984). MF = muito fácil; F = fácil; M = médio; D = difícil; MD = muito difícil; I =
insatisfatório; S = satisfatório; B = bom.
Baquero (1974) (ver Tabela 12). Encontrámos quinze itens muito fáceis (44.5% quando o
ideal seria 10%) e dez considerados fáceis (30.3%, quando o ideal seria 20%). Existem
apenas dois itens com um índice de dificuldade médio (6.4%, o ideal seria 40%). Quatro
itens difíceis e dois muito difíceis (respetivamente 12.3% e 6.4%, quando o ideal seria
20% e 10%).
quando utilizamos os parâmetros definidos por Garrett (1962). Verificamos que 42% dos
itens (14 em 33) apresentam um índice de dificuldade entre .25 e .75, o que nos permite
dizer que, em geral, o índice de dificuldade é aceitável com taxas de acerto próximas dos
50%. No entanto, há um número elevado de itens muito fáceis (17 itens com p>.75) e
Garrett, por exemplo, com um cut-off de 95% e 30%, a flutuação da taxa de acertos de
cada item altera-se moderadamente (ver Figura 3). Com este critério, verificamos que seis
itens apresentam um índice de dificuldade muito fácil com cut-off de 95% de acertos
(item 1-6 e 22) e dois itens muito difíceis (item 10 e 11) com um cut-off de 30% de
acertos. Os restantes itens (24 itens) mostram um índice de dificuldade médio. Em geral,
a maior parte dos itens dos subtestes Contagem e Princípios de Contagem apresentam um
100
75
50
25
C PC IN CN CNV PV ON
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33
Figura 3. Apresenta a variabilidade de acertos entre os 0% e os 100% de acertos em função em cada item
da BSN e por subteste. C = Contagem; PC = Princípios de Contagem; IN = Identificação do Número; CN =
Comparações numéricas; PV = Problemas Verbais; ON = Operações numéricas. As linhas horizontais
apresentam os critérios utilizados para itens fáceis (um cut-off de 95%) e para itens difíceis (um cut-off de
30%).
aceitável: o nível médio dos 33 itens é de .42. Contudo, é importante salientar que o valor
médio de .42 deve-se a um número bastante elevado de itens muito fáceis e a um número
bastante baixo de itens considerados difíceis, não sendo resultado da presença ideal de
valores considerados na terminologia de Hopkins e Antes (citado por Simões, 2000), 60%
dos itens apresentam um poder discriminativo bom (valores superiores a .40) e 21% dos
Em resumo, tomando como referência o critério defendido por Kline (1986, citado
por Simões, 2000), segundo o qual, idealmente os itens devem manifestar correlações
iguais ou superiores a .20, verificamos que todos os itens (com exceção do item 1, 3, 4, 7
verbais (PV), com r = (2243) = .805, p < .01 e as Operações numéricas (ON), com r =
(2243) = .853, p < .01 são as que se apresentam intercorrelações mais fortes com os
valores da BSN total. Em geral, a BSN total apresenta uma correlação moderada a forte
Tabela 13.
C PC ID CN CNV PV ON BSN
C 1
PC .160** 1
ID .141** .204** 1
CN .236** .236** .391** 1
CNV .233** .182** .201** .342** 1
PV .211** .266** .386** .484** .382** 1
ON .213** .245** .469** .536** .336** .657** 1
BSN .326** .426** .649** .758** .532** .805** .853** 1
Nota. C = contagem; PC = princípios de contagem; IN = identificação do número; CN = comparações
numéricas; CNV = cálculo não-verbal; PV = problemas verbais; ON = operações numéricas; BSN = bateria
sentido de número.
** p < .01
Os dados serão apresentados a partir das médias e desvios padrão das variáveis
idade, sexo, região geográfica, habilitações literárias e nível socioeconómico dos pais em
Idade
desempenho. Deste modo, a idade cronológica constitui uma fonte de variabilidade dos
Freire, 1997).
Na Tabela 14, figuram os valores das médias e dos desvios padrão dos resultados
obtidos na BSN considerando os grupos etários, bem com o número de crianças incluídas
Tabela 14.
Médias e desvio padrão dos resultados obtidos na BSN por grupo etário
n Média Desvio-padrão
Grupos etários
Sexo
detetar diferenças que possam ser importantes ao nível de itens ou subteste específicos.
Na Tabela 15 figuram os valores das médias e dos desvios padrão dos resultados
Tabela 15.
Médias e desvios padrão dos resultados da BSN por grupo etário e sexo
RAPAZES RAPARIGAS
n MD DP n MD DP
Grupos etários
BSN é superior nos rapazes em relação ao desempenho médio das raparigas em cerca de
rapazes é ligeiramente superior (MD = 23.19 pontos) à média total do desempenho para
Região geográfica
Tabela 16.
n MD DP
Região geográfica
BSN em relação a todas as outras regiões geográficas. O Norte e Sul Interior apresentam
desempenhos médios um ponto acima dos resultados globais da BSN. Constata-se que
autónoma dos Açores, mas não entre o território continental e a região autónoma da
Madeira.
Tabela 17.
Médias e desvios padrão dos resultados do desempenho da BSN por idade e região
REGIÃO GEOGRÁFICA
LITORAL INTERIOR
n MD DP n MD DP
Grupos etários
geográfica litoral e interior, verificamos que não existem assimetrias entre as regiões do
litoral e do interior. Todavia, na faixa etária dos 7/8 anos (crianças retidas no 1º ano de
crianças em estudo. A recolha deste tipo de informação relaciona-se com o facto de que,
Básico sugerem que o ambiente familiar das crianças de baixo rendimento escolar
crianças com alto rendimento escolar, por sua vez, dispõem de um ambiente mais rico em
mais ativas das reuniões escolares (Duncan e Brooks-Gunn, 1997; McLoyd, 1998;
Bentley, 1995; McLeod e Shanahan, 1993). Para além de que, a família pode influenciar
Utilizámos uma classificação em três níveis: baixo nível socioeconómico (NSE 1),
socioeconómico dos pais e por grupo etário. Os resultados médios na BSN aumentam de
acordo com o NSE dos pais independentemente do grupo etário a que as crianças
pertencem. Estes resultados demonstram que as crianças com NSE 1 têm resultados
Tabela 18.
Médias e desvios padrão dos resultados da BSN por grupo etário e nível socioeconómico
da mãe
NÍVEL SOCIOECONÓMICO
BAIXO MÉDIO ALTO
n MD DP N MD DP N ME DP
GE
que a estimulação e o apoio em contexto familiar durante a infância são uma forte
são as características familiares e do aluno, tais como, o nível de educação da mãe. Ter
uma mãe com ensino superior aumenta o desempenho no 4º ano de escolaridade em cerca
de 3 pontos percentuais. Também Jimerson, Egeland e Teo (1999) aduzem que o nível de
educação dos pais tem uma influência direta e positiva no desempenho escolar das
Tabela 19.
Médias e desvios padrão dos resultados da BSN por grupo etário e nível socioeconómico
do pai
NÍVEL SOCIOECONÓMICO
BAIXO MÉDIO ALTO
N MD DP N MD DP N MD DP
GE
outros.
Neste sentido, optámos por analisar a variável nível de educação e a sua relação
com os resultados da BSN. Utilizámos uma classificação em três níveis: baixo nível de
educação (até 4º ano de escolaridade), médio (nível secundário) e alto (curso superior)
nível de educação.
níveis de educação primário (até 4º ano de escolaridade) têm um desempenho mais baixo
Tabela 20.
Médias e desvios padrão dos resultados da BSN por grupo etário e nível de educação da
mãe
Tabela 21.
Médias e desvios padrão dos resultados da BSN por grupo etário e nível de educação do
pai
desempenho da prova nos quatro grupos etários (5-8 anos), estando as crianças do grupo
etário dos 7 e 8 anos abaixo da média nacional. Na variável Sexo, o resultado médio
vs interior, estas não constituem uma fonte de variabilidade nos resultados do teste. As
abaixo da média nacional o que não acontece com crianças de pais de NSE e NE médio e
alto.
Apesar das variações encontradas, não podemos considerar estes fatores (idade,
sexo, educação dos pais, área de residência) como causas propriamente ditas do
desenvolvimento do SN, apenas como fatores que podem influenciam o SN. Em estudos
futuros, seria pertinente analisar com maior profundidade estes resultados, apresentando
resultados encontrados.
pelas crianças na resolução dos itens dos subtestes Problemas verbais e Operações
numéricas da BSN de acordo com os resultados da amostra total (T) e de dois grupos de
rendimento na BSN (Grupo A e C). De acordo com o nosso quadro teórico, as crianças
25 (Grupo A). As crianças sem risco de terem dificuldades futuras na matemática estão
analisadas foram as seguintes: contagem pelos dedos (D), contagem verbal (V), contagem
com o recurso a lápis/papel (LP) e com o recurso de fichas (F). A estratégia não
do Grupo C (baixo SN) utilizam menos os dedos, as fichas e lápis/papel tendo preferência
por darem respostas sem nenhuma estratégia observada. Apenas nos itens 23 e 28 cuja
desempenho entre os dois grupos. Por exemplo, no item 23, 84.2% das crianças do Grupo
todos os itens (< 2%), sendo muito poucas as crianças que recorreram a esta de forma
contagem pelos “dedos”. Neste caso, optámos pelo registo da estratégia “dedos” quando
era defendida por Fuson (1982) na referência do uso espontâneo de estratégias mistas
lápis”, verifica-se que as crianças com alto SN recorrem mais às fichas e ao uso do papel
e do lápis do que as crianças com baixo SN. Entre as duas estratégias, as crianças com
Tabela 22.
Estratégias de contagem
Dedos Mental Fichas Papel/Lápis
Grupo
2.1.7. Discussão
prova. Foi também necessário proceder a estudos empíricos que sustentem essa finalidade
pelas regiões em território nacional e quanto à sua distribuição pelo tipo de região (litoral
diferença de apenas 3.2 pontos percentuais, sendo a maior parte da amostra referente ao
elaboração de normas da BSN por níveis de idade revela que a média nacional de
crianças que deram entrada ou que frequentam o 1º ano de escolaridade se encontra nos
22.87 pontos. Os valores normativos da BSN permitem que os resultados do teste possam
dos resultados no teste) atingem valores adequados para os diferentes grupos etários. Isto
significa que temos confiança em fazer interpretações fiáveis dos resultados da BSN
total. No entanto, a consistência interna por subteste apresenta-se baixa com exceção dos
Para medir a validade de constructo foi utilizada uma análise fatorial. Foram
identificados sete fatores (sendo o último um “não fator”) e a presença de uma certa
ambiguidade entre os itens 12, 13, 23, 26, 32 e 33. De acordo com os resultados, quer o
erros e pseudo-erros de contagem pelos autores do teste, estes não fazem parte das
experiências quotidianas de contagem do sujeito e talvez por isso seja difícil a sua
identificação. Por exemplo, raramente o sujeito observa nas suas experiências quotidianas
Com a exceção destes dois itens, a medida apresenta uma boa validade de constructo,
número considerável de itens muito fáceis, um número mais reduzido de itens muito
podem ser qualificados como positivos dado que o nível de dificuldade dos itens é
relativamente aceitável (nível médio próximo dos 50%) embora não estejamos na
satisfatório ou bom.
correlação moderada a forte (entre .30 e .85) com os seus subtestes. A Contagem e os
(Grupo C) optam por usar a contagem pelos dedos, enquanto as crianças com um
desempenho abaixo da média na BSN (Grupo A) não foi observada nenhuma estratégia
auxiliar, optando por dar meras respostas aparentemente aleatórias (ou não observáveis).
No que se refere ao uso dos dedos, os nossos resultados vão de encontro aos resultados
dos estudos de Jordan e colaboradores. Jordan et al. (1992; 1994) reportam que o uso dos
dedos está associado a um melhor desempenho nas operações numéricas (e.g. Quanto é 2
talvez por se tratar de uma via concreta para a resolução de uma tarefa simbólica. Para
além disso, as crianças do pré-escolar ainda não foram estimuladas o suficiente para
desenho como uma representação da sua realidade (por exemplo, desenhar o pai, a mãe, a
escola) mas não ainda como uma realidade abstrata que implique a resolução de uma
tarefa de cálculo.
Potencialidades do teste
Em corroboração com estudos feitos nos E.U.A pelos autores da BSN (Jordan et
al., 2007; Jordan et al., 2007; Jordan et al., 2010) os nossos resultados demonstram que a
BSN apresenta um forte potencial para identificar com precisão alunos em risco de terem
com baixo SN desenvolver atividades e jogos que estimulem o SN como uma instrução
adicional preventiva.
apresenta-se não normal. Isto prende-se com o facto de a BSN discriminar mais
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias/Instituto de Educa ção
111
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
resultados com valores médios inferiores à média nacional do que valores superiores à
Outra das potencialidades desta medida reside na sua validade externa, ou seja, a
população estudantil alvo - 1º ano de escolaridade (ao contrário da medida original que
apenas foi adaptada e validada para apenas num dos estados dos Estados Unidos da
América). Deste modo, a BSN permite uma implicação prática imediata ao poder ser
anos de escolaridade.
estudo apresente a forma como os resultados obtidos pelos sujeitos podem ser
influenciados (não necessariamente com uma natureza causal) por variáveis relativas ao
(sexo); pela natureza sociodemográfica (e.g. região geográfica ou tipo de região); e pelo
nível socioeconómico (e.g. habilitações literárias ou profissão dos pais). Optámos por não
considerada moderada a forte no DM, a sua aplicação permite desenvolver esforços para
em Crianças Portuguesas
primeiro ano de escolaridade. Para isso, os valores obtidos pela BSN serão
escolaridade?
2.2.6. Objetivos
portuguesas.
2.2.7. Participantes
divididas em 2 amostras.
região de Lisboa com quatro instituições escolares do 1º CEB e sete turmas. Com uma
média de 6.4 anos de idade, 71% das crianças são do sexo masculino. Cerca de metade
de Beja (Almodôvar) com duas turmas (ver Tabela 23). A média de idades é de 6.02 (DP
= .391), 117 dos 222 participantes são do género masculino e 105 do género feminino.
Sexo, t (144) = 1.672, p = .106, nem entre as médias da BSN nos meios litoral e interior, t
de rendimento na BSN (baixo, médio e alto SN). As crianças foram incluídas no grupo de
baixo SN (Grupo A) quando o seu desempenho se situa abaixo do percentil 25. Os grupos
Tabela 23.
n = 123 n = 222
Sexo
NEE 0 8 (3.6%)
grupos, cerca de metade das crianças são do sexo masculino. No Grupo A cerca de 15 %
das crianças são provenientes de famílias com um nível de educação superior; no Grupo
respetivamente, quatro e três crianças retidas no 1º ano com idades superiores a 6 anos.
Tabela 24.
n =47 n= 81 n = 94
Sexo
Região Litoral 37 56 28
Região Interior 7 8 10
Nota. NEE = necessidades educativas especiais. DP = desvio-padrão. BSN = bateria sentido de número. ASM
= avaliação sumativa da matemática. ACM = avaliação de conteúdos matemáticos. Grupo A (≤ P25). Grupo
B (P25-P75). Grupo C (≥P75).
Educação Primária = conclusão do ensino primário. Educação Secundária = conclusão do ensino secundário
ou frequência universitária. Educação Superior = conclusão do ensino superior, ou seja, uma licenciatura ou
pós-graduação.
2.2.3. Materiais
portuguesa (ver Estudo I). Perante o facto de não existir em Portugal medidas de DM
aferidas para as crianças do 1º CEB, optámos por aplicar não apenas uma mas duas
avalia o SN à entrada do ensino formal (1º ano de escolaridade) em crianças com 5/6
anos. Foi desenvolvida por Jordan, Glutting et al. (2008) e adaptada para a população
que aplicada à entrada do ensino formal, a BSN é válida com um coeficiente alfa de
criança que reconheça contagens corretas, contagens incorretas (e.g. contar o primeiro
objeto duas vezes), e contagens incomuns corretas (por exemplo, contar da direita para a
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118
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
esquerda ou a contar, num conjunto de pontos amarelos e azuis, contar primeiro os pontos
criança que nomeie um número apresentado visualmente (por exemplo, 13) a partir da
exemplo, o 7), e pede-se à criança para identificar o número que vem depois do número 7
e dois números depois do 7. No segundo, são apresentados dois números à criança (e.g. 5
e 7), e pede-se para indicar qual dos dois números é o maior ou menor. No terceiro, são
apresentados três números (por exemplo, 6, 2 e 5), cada um colocado numa ponta de um
triângulo equilátero fictício, e a criança é convidada a identificar o número que está mais
pequenas situações problemáticas onde os objetos são referidos, mas não presentes, tendo
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119
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
em conta um estímulo verbal (e.g. “O José tem 3 bolachas. A Sara dá-lhe mais 2. Quantas
professores de um agrupamento de escolas da cidade de Lisboa, foi pedido para que fosse
desenvolvida uma única prova de avaliação formal da matemática para o final do 1º ano
agrupamento em contexto de sala de aula nas quatro escolas do primeiro ciclo de estudos
aplicação.
interna de .87 (n = 119). Os coeficientes de alfa de Cronbach dos subtestes também foram
apresenta uma homogeneidade entre itens, com uma correlação item-total de .71.
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120
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
25 = ___; 50 – 40 = ___).
ciclo de estudos.
Dado que esta medida se baseia numa lista de onze conteúdos matemáticos, onde
os dados foram recolhidos com base nos exercícios presentes nas avaliações formais, não
crescente.).
na reta numérica.)
___).
aditivas.
subtrativas.
2.2.4. Procedimento
Após pedir autorização à direção dos agrupamentos de escolas para ter acesso às
dos agrupamentos das escolas para ter acesso às avaliações trimestrais de cada aluno
conta os valores normativos da BSN (ver Resultados relativos à normalização dos dados,
levantamento dos conteúdos matemáticos presentes nas 54 avaliações recolhidas nos três
períodos escolares (Momento 1 – antes das férias de Natal; Momento 2 – antes das férias
da Páscoa; Momento 3 – antes das férias de Verão) nas oito escolas participantes no
opinião dos professores dos agrupamentos de escolas acerca do grau em que os conteúdos
pelos valores obtidos pela BSN. O coeficiente de Correlação Linear de Pearson permitiu
medir a intensidade da associação linear existente entre as duas variáveis estudadas (SN e
DM).
três momentos de avaliação (no final dos três períodos escolares) e comparar os valores
2.2.6. Resultados
ASM e ACM) no final do 1º ano de escolaridade (p < .01) (ver Tabela 25).
Podemos verificar nos gráficos de dispersão (ver Figura 4) que existe uma relação
linear positiva entre os valores da BSN e os valores das medidas de DM. O grau de
ASM
75 75
50 50
25 25
0 0
0 10 20 30 40 0 10 20 30
BSN BSN 40
Figura 4. As linhas nos gráficos representam a regressão com um R2 = .455 (ACM) e R2 = .328 (ASM). a)
Pontuações na avaliação de conteúdos matemáticos (ACM, %) no final do 1º ano de escolaridade em função
da bateria sentido de número (BSN, máx. 33) à entrada do 1º ano de escolaridade. b) Pontuações na avaliação
de conteúdos matemáticos (ASM, %) no final do 1º ano de escolaridade em função da bateria sentido de
número (BSN, máx. 33) à entrada do 1º ano de escolaridade. BSN = Bateria Sentido de Número. ASM =
Avaliação Sumativa da Matemática. ACM = Avaliação de Conteúdos Matemáticos.
.138, F(1, 116) = 4.318, p = .000; R2 = .186; F(1, 249) = 7.543, p = .000. Os Problemas
cerca de 20% no DM, respetivamente, R2 = .247, F(1, 116) = 6.170, p = .000; R2 = .238;
moderada correlação com o DM (ASM, r = .573, p < .01; ACM, r = .553, p <.01).
numéricas são as competências numéricas que apresentaram correlações mais altas com o
4.88) apresentou valores abaixo da média total (ASM, MD = 70.39; ACM, MD = 6.75).
Tabela 25.
R2 B t p
ASM
Tabela 26.
ASM ACM
Nota. Resultados médios na matemática (medidos pela ASM e ACM) por grupo de rendimento na BSN
(Grupo A, B, e C). ASM = avaliação sumativa da matemática. ACM = avaliação de conteúdos matemáticos.
* p < .05
matemática (medido pela ACM) em crianças com baixo SN (Grupo A), médio (Grupo B)
Momento 1, χ2 (2) = 75.49, p < .001; Momento 2, χ2 (2) = 80.30, p < .001; e Momento 3,
Tabela 27.
Conteúdos matemáticos χ2 p χ2 p χ2 p
aprendizagem da matemática refletida nos resultados da medida ACM oscilem nos três
termos gerais, diferenças significativas nos resultados da matemática (ACM total) nos
de avaliação, apenas na subárea – problemas de adição, F (1, 249), 06.73, p < .05. No
momentos, F (1, 249), 07.00, p < .05. Em termos gerais, o facto de não serem
que os três grupos de rendimento na BSN mantêm praticamente o mesmo nível de dês
desempenho médio na matemática (medido pela ACM) nos três grupos de rendimento na
BSN no final do 3º período escolar. As crianças que começaram o ano escolar com baixo,
Tabela 28.
Conteúdos Matemáticos F p F p F p
Escrita Números - - - - - -
Linha Numérica - - - - - -
Classes - - - - - -
Tabela 29.
de escolaridade
2.2.7. Discussão
matemática no final do ano letivo (medidos pela ASM e ACM). Este resultado parece
importante preditor do DM (e.g. Duncan et al., 2007, Locuniak e Jordan, 2008; Mazzocco
e Thompson, 2005).
DM. No que se refere aos subtestes da BSN, as competências de cálculo (os Problemas
correlações mais altas (r = .62 e .64) entre as duas variáveis foram encontradas nas
correlações de Pearson com medidas de desempenho diferentes, variam entre .47 e .50.
Nos dois estudos, as correlações nos Problemas verbais e Operações aritméticas são as
moderadas e significativas.
Neste sentido, estes resultados parecem indiciar que, à entrada do ensino formal,
(e.g. Gersten et al., 2005; Geary et al., 2007; Landerl, Bevan, & Butterworth, 2004).
estabelecemos três grupos de rendimento na BSN (baixo, médio e alto SN), e mediu-se o
Grupo C apresentam muito bons resultados na matemática (acima dos 95%). Estes
resultados revelam que no início do ano letivo as crianças identificadas pela BSN com
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135
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
ano.
desenvolvem a compreensão das operações numéricas básicas logo nos anos pré-
realizar cálculos básicos estará em risco de fracassar (Baroody, Bajwa, e Eiland, 2009).
escolaridade pode ser previsto pelo SN, em particular pelas competências numéricas de
primeiros anos escolares (Jordan et al., 2007; Jordan, Kaplan, Ramineni, & Locuniak,
2009; Mazzocco e Thompson, 2005). No próximo estudo, propomo-nos avançar com este
comportamento matemático em crianças com baixo, médio e alto SN ao longo dos dois
escolares?
2.3.1 Objetivos
altas competências numéricas ao longo dos dois primeiros anos escolares; c) identificar e
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138
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
2.3.2. Participantes
Um total de 30 sujeitos participou neste estudo, todos com seis anos de idade,
são provenientes de diferentes níveis económicos (17% baixo, 32% médio, e 31% alto) e
de pais com diferentes níveis de educação (14% ensino primário, 38% ensino secundário,
2.3.3. Materiais
Consistem, entre outras informações, numa síntese descritiva das áreas curriculares
final de cada trimestre. Foram usados para obter informações sobre o comportamento
escolar das crianças participantes neste estudo (ver Apêndice 5, Estudos de caso).
com 5/6 anos em risco de terem dificuldades futuras na matemática. É composta por 33
espaço no espaço numérico de 1-99 (mais informações sobre o teste, ver Estudo II,
Materiais).
A ACM foi construída com base na análise dos conteúdos matemáticos formais
varia entre 1 – 99. Na ACM 2, o espaço numérico varia entre 1 – 999 (mais informações
2.3.4. Procedimento
foi possível dividir a amostra em três grupos com baixo, médio e alto SN.
(ACM 2) foram elaboradas a partir das planificações mensais e anuais dos professores,
outros dados escolares e familiares que possam ser relevantes no seu acompanhamento
(ficha do aluno, registo da avaliação por período letivo e avaliações mensais e trimestrais
1º ano de escolaridade. Os restantes três são referentes aos mesmos períodos escolares no
2º ano de escolaridade.
entre baixo, médio e alto SN. Deste modo, as crianças foram distribuídas por três grupos
2.3.6. Resultados
baixo, médio e alto SN (medido pela BSN). Em segundo lugar, identificar as áreas da
No Apêndice 5, será apresentado o perfil das 11 crianças com baixo SN com uma
matemático ACM 1 e 2.
aprendizagem
matemática em função dos valores obtidos pela BSN. Em particular, podemos observar a
ano de escolaridade apresentou uma relação positiva e linear com o SN medido no início
do ensino obrigatório.
No Gráfico a), os três grupos de rendimento na BSN: baixo (Grupo A), médio
DM no final do 1º ano, com uma variância explicada pela BSN de aproximadamente 52%.
medido pela ACM 1 (ver Gráfico a) da Figura 6. No Gráfico b) podemos verificar uma
moderada capacidade preditiva com uma variância explicada pela BSN no desempenho
a) b)
12 12
10 10
8 8
ACM 1
ACM 1
Grupo A
6 6
Grupo B
4 Grupo C 4
2 2
0 R² = 0,5181
0
0 5 10 15 20 25 30 0 5 10 15 20 25 30 35
BSN BSN
Figura 5. Resultados na avaliação de conteúdos matemáticos no final do 1º ano de escolaridade (ACM 1,
máx. 10 pontos) em função dos resultados na bateria sentido de número medidos à entrada do ensino formal
por grupo de rendimento (BSN, máx. 33 pontos). A linha de tendência no Gráfico b) representa o ajuste dos
valores experimentais a uma reta de regressão com um R2 = .52. BSN = Bateria Sentido de Número. ACM 1
= Avaliação de Conteúdos Matemáticos – 1º ano de escolaridade.
a) b)
120
120
R² = 0,3566
100
100
80 80
ASM
ASM
60 Grupo A 60
Grupo B
40 40
Grupo C
20 20
0
0
0 5 10 15 20 25 30 35
0 5 10 15 20 25 30 35
BSN BSN
Figura 6. Resultados na avaliação de conteúdos matemáticos no final do 2º ano de escolaridade (ASM, máx.
100 %) em função dos resultados na bateria sentido de número medidos à entrada do ensino formal por grupo
de rendimento (BSN, máx. 33 pontos). A linha de tendência no Gráfico b) representa o ajuste dos valores
experimentais a uma reta de regressão com um R2 = .36. BSN = Bateria Sentido de Número. ASM =
Avaliação Sumativa da Matemática.
ano de escolaridade. As crianças com baixo, médio e alto SN, revelam, respetivamente,
aproximadamente 66%.
isto é, revelam um relativo DM; e 1 criança com bom DM que não se enquadra em
nenhum dos percursos identificados por Jordan e colaboradores (ver Caso 6, Apêndice 5).
baixo, médio e alto SN (medidos pela BSN) ao longo dos dois primeiros anos letivos.
somas (e.g. 80 = 40 + ___). Quatro e três crianças acertaram, respetivamente, nos exercícios
a) b)
12
12 R² = 0,6608
10
10
8 8
ACM 2
ACM 2
6 Grupo A
6
4 Grupo B
Grupo C 4
2
0 2
0 5 10 15 20 25 30 35
0
BSN 0 5 10 15 20 25 30 35
BSN
Figura 7. Resultados na avaliação de conteúdos matemáticos no final do 2º ano de escolaridade (ACM 2,
máx. 10 pontos) em função dos resultados na bateria sentido de número medidos à entrada do ensino formal
por grupo de rendimento (BSN, máx. 33 pontos). A linha de tendência no Gráfico b) representa o ajuste dos
valores experimentais a uma reta de regressão com um R2 = .66. BSN = Bateria Sentido de Número. ACM 2
= Avaliação de Conteúdos Matemáticos – 2º ano de escolaridade.
escolaridade (ver Figura 8). Para além disso, apresentaram um rendimento mais baixo no
final do 2º ano do que no 1º ano, levando-nos a inferir que o DM em crianças com baixo
formais, como podemos verificar nos resultados no final do 1º e 2º ano de escolaridade (ver
Figura 10). Apenas 3 crianças não acertaram totalmente nos exercícios de adição e nas
8 8
7 7
6 6
ACM 2
ACM 1
5 5
4 4
3 3
2 2
1 1
0 0
#26 #28 #45 #71 #73 #76 #91 #96 #104 #102 #114 #26 #28 #45 #71 #73 #76 #91 #96 #102 #104 #114
Figura 8. Resultados na avaliação de conteúdos matemáticos (ACM 1 e ACM 2, máx. 10 pontos) no final do
1º ano (a) e no final do 2º ano de escolaridade (b) por conteúdo matemático (contagem, escrita de números,
classes ou identificação das dezenas e unidades, ordenações, adição, decomposição de somas, subtração,
problemas verbais de adição e problemas verbais de subtração em crianças identificadas à entrada do ensino
formal com baixo SN (Grupo A).
8 8
7 7
6 6
ACM 2
ACM 1
5 5
4 4
3 3
2 2
1 1
0 0
#29 #40 #54 #60 #63 #87 #97 #110 #29 #40 #54 #60 #63 #87 #97 #110
Figura 9. Resultados na avaliação de conteúdos matemáticos (ACM 1 e ACM 2, máx. 10 pontos) no final do
1º ano (a) e no final do 2º ano de escolaridade (b) por conteúdo matemático (contagem, escrita de números,
classes ou identificação das dezenas e unidades, ordenações, adição, decomposição de somas, subtração,
problemas verbais de adição e problemas verbais de subtração) em crianças identificadas à entrada do ensino
formal com médio SN (Grupo B).
Figura 10. Resultados por Conteúdo Matemático em Crianças com Alto SN no Final do
1º e do 2º Ano de Escolaridade
a) 10 b) 10
9 9
8 8
7 7
6 6
ACM 1
ACM 2
5 5
4 4
3 3
2 2
1 1
0 0
#21 #51 #74 #83 #84 #86 #90 #109 #113 #121 #122 #21 #52 #74 #83 #84 #86 #90 #109 #113 #121 #122
Figura 10. Resultados na avaliação de conteúdos matemáticos (ACM 1 e ACM 2, máx. 10 pontos) no final
do 1º ano (a) e no final do 2º ano de escolaridade (b) por conteúdo matemático (contagem, escrita de
números, classes ou identificação das dezenas e unidades, ordenação, adição, decomposição de somas,
subtração, problemas verbais de adição e problemas verbais de subtração) em crianças identificadas à
entrada do ensino formal com alto SN (Grupo C).
2.3.3. Discussão
verbais e operações numéricas) têm valores correlacionais mais altos com os resultados
das medidas de DM quando comparadas com as outras subáreas da BSN. Porém não
sabíamos quais as áreas da matemática formal que estão associadas ao baixo, médio e
BSN com a taxa de sucesso na resolução de exercícios matemáticos, como por exemplo,
Tal como Baroody et al. (2009) defendem a fluência nas operações aritméticas
aritméticas básicas. Dentro deste cenário, os nossos resultados sugerem que a criação de
competências de cálculo.
PARTE III
e aferir uma prova para medir o SN em crianças que deram entrada no ensino formal; em
os 8 anos. A distribuição não normal da população estudada revela que a BSN discrimina
mais valores inferiores do que superiores à média nacional, o que pode potenciar a
identificação de crianças que podem vir a estar em risco (valores inferiores à média) de
método de bipartição de Guttman. A BSN total apresenta uma boa consistência interna
sujeitos a cada um dos itens. Os valores dos coeficientes de consistência interna através
em ambas as metades do teste, o que nos permite fazer interpretações fiáveis em qualquer
.70 indiciando que a BSN deve ser interpretada como uma escala-total, embora os
atingem valores adequados para a medida total. Todavia, alguns itens deveriam ser
principais com saturação a .40. Foram identificados 6 fatores válidos revelando coesão
entre os respetivos itens com exceção dos itens 6, 7, 13, 23, 26, 32 e 33 considerados
itens ambíguos. Em geral, a escala como medida total apresenta boas qualidades
psicométricas.
SN (medido pela BSN) representa 33% a 45% da variabilidade explicada nos resultados
(problemas verbais e operações numéricas) as que apresentam uma correlação mais alta
com o DM. Relativamente aos grupos de rendimento na BSN, os dados apontam para a
longo do 1º ano escolar (1º, 2º e 3º período escolar) tendo em conta os três grupos de
rendimento na BSN. As crianças com baixo SN apresentaram um DM mais baixo nos três
estas apresentam mais dificuldades nas competências de cálculo (medido pela BSN) e nos
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias/Instituto de Educa ção
152
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
e subtrativas ao longo dos dois primeiros anos de escolaridade (medido pela ACM 1 e 2)
das crianças com baixo SN revela baixo e outra metade revela um relativo crescimento na
precocemente nas crianças que apresentam à entrada do ensino obrigatório um baixo SN.
Um benefício claro desta pesquisa está associado ao seu contributo para sustentar
encontrados noutros estudos (e.g. Geary et al., 2007; Landerl et al., 2004; Gersten e
Chard, 1999; Griffin e Case, 1997; Gersten et al., 2005; Jordan et al., 2006; Jordan et al.,
encontrados noutros estudos. A contagem (medida pela BSN) não apresenta uma
resultados mais consistentes que sustentem ou não a contagem como uma competência
estudo nacional que sustente a preditibilidade do SN (medidas pela BSN ou por outra
medida) no DM nem uma medida válida que possa ser usada para identificar crianças em
risco de terem futuras dificuldades na matemática. Deste modo, a BSN pode ser utilizada
anos de escolaridade.
podem entrar no ensino formal em desvantagem em relação aos seus pares e com grandes
dificuldades em acompanhar os seus pares que entram no 1º ano com forte SN. Neste
individualizados para trabalhar com crianças de 4 aos 9 anos que estão em risco de terem
que possam aumentar a taxa de DM, para além de poder desenvolver as competências
Verificámos que 3.1% dos casos situam-se abaixo do percentil 10, 16.8% abaixo do
percentil 25, 61.7% entre o percentil 25 e 75 e 18.4% acima do percentil 75. Isto significa
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155
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
que temos cerca de 19.9% das crianças com baixo sentido de número (abaixo do percentil
ACM foi desenvolvida com base numa lista de onze conteúdos matemáticos presentes no
de 8 escolas públicas aplicadas nos três períodos escolares. Este tipo de recolha não
permitiu analisar as qualidades psicométricas da ACM, pois não existe uma única
facto de ambas as medidas apresentarem entre elas uma forte e significativa correlação,
pode indicar que o DM, avaliado pelas duas medidas, é idêntico. De qualquer modo, seria
comparar o efeito preditor da BSN com outras medidas de DM (para além da ASM e
escolaridade.
valores da variável independente (SN). Para isso, em futuras pesquisas, poderiam ser
do efeito (valor d de Cohen, 1988). Para além dessas, introduzir outros tipos de variáveis
pais e o ambiente familiar. Esta análise permitiria verificar a seguinte hipótese: o SN era
nossos dados indicaram que, ao contrário das crianças com alto SN, as crianças com
subtrativos como 2 + 3 ou 5 – 4 (Geary et al., 2007), e se o uso dos dedos tem um papel
(Butterworth, 1999, 2005; Fuson, 1982), seria pertinente estimular a contagem dos dedos
estimulação.
das estratégias de contagem “verbal”, “fichas” e “lápis/papel”, e não nos ser possível
uma estratégia não observada, em estudos futuros seria relevante analisar o uso de outras
O outro desafio teórico está relacionado com os resultados obtidos pelas crianças
oscilar 12 pontos. Dado que são crianças com dificuldades de aprendizagem e ficaram
idade cronológica e a instrução repetida no mesmo ano escolar não é suficiente para
uma medida ineficaz e ineficiente dado que as crianças com fraco SN (e.g. comparações
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158
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
dificuldades se não tiverem uma intervenção específica focada nas competências em falta
(Geary, 2011).
Nacional de Educação (CNE, 2015) sustenta estes resultados, afirmando que “os alunos
resultados e são mais propensos a uma nova retenção” (p. 7384). O mesmo relatório
salienta que “estes argumentos nos conduzem no sentido de uma mudança da cultura de
supracitado relatório.
é abrir as portas para mais estudos nacionais assentes no campo da cognição matemática
em crianças dos 4 aos 8/9 anos em três grandes âmbitos de pesquisa: a operacionalização
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159
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
do SN como uma medida válida de identificação e intervenção precoce nas DM; a análise
matemática.
para ver”, “aguardar pela maturação” ou “dar tempo ao tempo” não antevê nada de bom
compensatório (nos dois primeiros anos de escolaridade) não só da leitura e escrita, mas
também da matemática, é decisivo para o futuro sucesso escolar de todos os alunos que
prazo. Para além disso, a comparação social pode ter efeitos desastrosos para a criança. A
criança compara-se com os colegas que não parecem experienciar qualquer tipo de
dificuldade e conclui que “é menos capaz” ou pior ainda que “é burro”. A perceção de
incapacidade perante tudo aquilo que implique tarefas escolares pode tornar-se
simples e direta: cuidar com dedicação a matemática desde a mais tenra idade,
assim, podemos prevenir o fracasso inicial da matemática que, por conseguinte, por se
numa sociedade cada vez mais tecnológica e computacional que vive de uma atitude
Conselho Nacional da Educação (CNE, 2015) que sustenta a mensagem que procurámos
transmitir:
dificuldades de aprendizagem são das estratégias que maior consenso reúne no combate
escolar e nos dois primeiros anos de escolaridade, parecem ser as formas mais eficazes de
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161
Lília Marcelino/Sentido de número e desempenho em matemática:
Identificação e acompanhamento em alunos do 1º e 2º ano de escolaridade
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