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1958 - Suécia

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 ABERTURA

Brasil campeão do mundo


PELÉ

Gilmar; Djalma Santos, Bellini e Nilton Santos; Orlando e Pelé não tinha nem 18 anos
quando fez sua primeira
Zito; Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagallo. Com essa equipe partida na Copa, contra a
o Brasil entrou em campo no dia 29 de junho de 1958 para União Soviética, na última
rodada da primeira fase.
conquistar a sua primeira Copa do Mundo de futebol. Sua escalação foi pedida
pelos outros atletas, que
também convenceram o
Arquivo Folha técnico Vicente Feola a
colocar Garrincha e Zito.

Meio assustado, Pelé fez


uma partida regular. A
vitória de 2 a 0 sobre os
russos colocou o Brasil nas
quartas-de-final. E a partida
contra o País de Gales seria
o início da coroação de Pelé.

O jogo foi difícil. O País de


Gales, inferior
tecnicamente, se trancou na
defesa. Bem marcado por
Melvyn Charles, Pelé sofria.
Pelé chora no peito de Gilmar: Mas foi com um lance genial
do atacante do Santos que
o Brasil acabara de se sagrar o Brasil ganhou. Aos 26min
campeão do mundo pela do segundo tempo. Pelé
recebeu um lançamento de
primeira vez ao derrotar a Zagallo, deu um chapéu em
Suécia Charles e, sem deixar a bola
cair, tocou no canto direito
De uniforme azul, o Brasil do goleiro Jack Kelsey. Um
golaço. O primeiro de Pelé
enfrentou na final a Suécia, em Copas.
sede do Mundial, e venceu a
O gol deu ânimo para Pelé.
partida por 5 a 2. Além do E sua estrela brilhou na
título, o Brasil mostrou ao semifinal, contra a França.
Depois de uma vantagem
mundo um jovem atacante. Ele de 2 a 1 em um primeiro
tempo equilibrado, Pelé
desequilibrou as duas partidas tomou conta do jogo. Em 45
finais e tornou-se peça minutos, fez três gols.

fundamental para a conquista. A final foi a consagração de


Seu nome: Edson Arantes do Pelé, que se tornou o mais
jovem jogador a ser
Nascimento, ou simplesmente campeão do mundo. Para
coroar sua participação,
Pelé. marcou dois gols. Depois da
partida, Pelé voltou a ser
um menino. Chorando em
campo, foi carregado pelos
Apesar de não ter repetido o outros jogadores na volta
olímpica.
mesmo festival de gols do
Mundial da Suíça quatro anos
antes, a Copa de 1958 não
decepcionou os torcedores.
Foram marcados 126 gols em
35 partidas, com uma média
de 3,6 gols por jogo.

A Suécia se esforçou e
conseguiu organizar um grande
torneio. Vários estádios foram
construídos para abrigar as
partidas da Copa. Dentro de
campo, os donos da casa
também fizeram bonito e

Número de Participantes - 16
Jogos - 35
Gols - 126
Média de gols - 3,6
Sedes - Boras, Estocolmo,
Gotemburgo, Halmstad, Halsinborg,
Malmoe, Norrkoping, Orebro,
Sandvik, Udevalla e Vasteras
Média de público - 24.800 pessoas
Artilheiro - Just Fontaine (FRA) - 13
gols
Campeão - Brasil
Vice-campeão - Suécia
Terceiro colocado - França
conseguiram chegar à decisão.

Outra seleção que mostrou um


grande futebol foi a França. O
atacante Just Fontaine marcou
13 gols na competição e
terminou como artilheiro. Até
hoje nenhum outro jogador
conseguiu superar a marca do
francês numa mesma Copa.

A Alemanha Ocidental, campeã


na Copa da Suíça, mais uma
vez não empolgou. Mesmo
assim, conseguiu chegar às
semifinais, quando foi
derrotada pela Suécia. Na
decisão do terceiro lugar, a
equipe foi massacrada pela
França.

A grande decepção do Mundial


foi a Argentina, que voltava a
disputar uma Copa após 24
anos. Mas a equipe sul-
americana não conseguiu
passar da primeira fase,
goleada pela Tchecoslováquia
por 6 a 1.
A nota triste da Copa do
Mundo foi a ausência de Jules
Rimet. O criador do Mundial
morreu em 1956, aos 83 anos,
em Paris. Assim, coube ao rei
da Suécia, Gustavo Adolfo,
entregar ao capitão da seleção
brasileira, Bellini, o troféu de
campeão do mundo.

E o troféu ficou em boas mãos.


O Brasil foi o melhor time da
Copa. Para chegar à final,
passou por adversários
fortíssimos, como Inglaterra,
União Soviética e França. O
time apresentou um futebol de
alta qualidade, com bom toque
de bola e um ataque arrasador.

Não foi apenas Pelé que


realizou um grande Mundial.
Gilmar, Didi e Garrincha
contribuíram bastante para que
a seleção finalmente
conseguisse ganhar o título,
que escapou por pouco oito
anos antes, no Maracanã. No
gesto de Bellini levantando a
taça nascia um gigante do
futebol mundial.

 CAMPEÃO

Brasil levanta a
taça de campeão
Bellini recebe a taça Jules
Rimet do rei Gustavo e a ergue
no ar, sob aplausos do público
sueco. O gesto imortalizado na
história só foi possível devido a
uma combinação de
organização dos dirigentes com
uma das maiores gerações de
craques que o país conseguiu
reunir.

Depois do fiasco de 1954 os


dirigentes da CBD decidiram
não repetir os mesmos erros.
O chefe da delegação foi Paulo
Machado de Carvalho, que
colocou um profissionalismo
até então nunca visto na
seleção brasileira.

O cuidado de Carvalho, hoje


nome dado ao estádio do
Pacaembu, em São Paulo, para
que os jogadores não se
desconcentrassem foi tão
grande que ele chegou a pedir
aos proprietários do hotel em
que o Brasil estava hospedado
desse férias a uma atendente
que despertou o interesse dos
jogadores.

Dentro de campo, a seleção


brasileira era composta por um
verdadeiro esquadrão. No gol,
a segurança de Gilmar dos
Santos Neves. A defesa tinha
os craques Djalma Santos e
Nilton Santos. No meio-campo,
a categoria ficava com Didi. E o
ataque tinha os dois maiores
jogadores brasileiros da
história: Pelé e Garrincha.

Um time assim estava pronto


para arrasar qualquer
adversário. Mas o Brasil teve
dificuldades para chegar até a
final. Além do empate com a
Inglaterra, a seleção teve
outros dois compromissos
difíceis na primeira fase contra
a Áustria e a União Soviética.

O adversário mais difícil do


Brasil na Copa foi o País de
Gales, nas quartas-de-final.
Mas, com um golaço de Pelé
após dar um chapéu num
zagueiro dentro da área, a
seleção brasileira conseguiu a
vaga para a próxima fase.
França e Suécia, rivais
brasileiros na semifinal e final,
respectivamente, não
conseguiram segurar o ímpeto
ofensivo do Brasil e saíram de
campo derrotados por 5 a 2.
Foi o encerramento perfeito
para a campanha de um
verdadeiro campeão do
mundo.

 CURIOSIDADES

Bebê
Pelé se tornou o mais jovem
jogador a marcar um gol na
Copa do Mundo quando
balançou a rede na partida
contra País de Gales. Ele tinha
17 anos e 239 dias. Pelé
também é o mais jovem
jogador a ser campão do
mundo.

0x0
Pela primeira vez na Copa uma
partida terminou empatada em
0 a 0. O jogo foi entre Brasil e
Inglaterra na primeira fase.

O Rei fora?
Por pouco Pelé não ficou de
fora da Copa do Mundo. Antes
do Mundial, o atacante sofreu
uma distensão nos ligamentos
e queria ser desligado da
equipe. O chefe da delegação,
Paulo Machado de Carvalho,
persuadiu Pelé a ir para a
Suécia.

Camisa 10
Os dirigentes brasileiros
esqueceram de mandar para a
Fifa o número dos jogadores. A
entidade, então, precisou
definir a numeração dos
brasileiros. Por obra do acaso,
o reserva Pelé recebeu a
camisa 10.

Telinha
A Copa da Suécia foi a primeira
transmitida pela TV.

Na praia
Vários países favoritos
fracassaram nas eliminatórias.
Casos de Holanda, Espanha,
Uruguai e Itália.

Salve a Rainha!
A Copa de 1958 foi a única que
teve a presença de todas as
seleções do Reino Unido
(Inglaterra, País de Gales,
Escócia e Irlanda do Norte).

Histórico
O gol número 500 da história
das Copas do Mundo foi
marcado pelo escocês Robert
Collins, aos 29min do segundo
tempo da partida de sua
seleção contra o Paraguai. A
partida terminou com a vitória
dos paraguaios por 3 a 2.

Prestígio
O público da partida entre
Brasil e União Soviética na
primeira fase foi maior do que
o registrado na final, entre
Brasil e Suécia.

 FRASES

"Vem aqui, king, falta mais


um!"
Mário Trigo, dentista da
seleção brasileira, em bom
português, antes de abraçar o
rei Gustavo Adolfo da Suécia
após a final da Copa do Mundo

"Quando eu puder ir
embora o senhor me avise,
por favor."
Rei Gustavo Adolfo, tentando
se desvencilhar do abraço de
Mário Trigo

"Ergui a taça por acaso."


Bellini, capitão da seleção,
primeiro homem a levantar a
taça com as duas mãos

"Não houve imposição para


escalar o Pelé, o Garrincha
e o Zito."
Vavá, negando uma conversa
existente entre os jogadores
da seleção e o técnico Vicente
Feola

"A seleção brasileira era tão


boa que eu temia começar a
torcer por ela."
George Raynor, técnico da
Suécia, adversária do Brasil na
final

"Garrincha é um verdadeiro
assombro. É um jogador
como jamais vi igual."
Gavril Katchalin, técnico da
União Soviética, após a derrota
para o Brasil por 2 a 0 na
estréia de Garrincha na Copa

"O Gilmar é o maior goleiro


do mundo."
Lev Iashin, goleiro da União
Soviética na Copa, considerado
por muitos o melhor goleiro de
todos os tempos

 ÉPOCA

Brasil de JK vive
"50 anos em 5"
Durante a Copa de 1958, o
Brasil vivia uma expectativa
em casa: a construção de sua
nova capital.
A decisão de erguer uma
cidade no Planalto Central foi
tomada pelo presidente
Juscelino Kubitschek. O plano
era desenvolver o país.

O clima de otimismo criado


pelo governo era intenso, mas
a política desenvolvimentista
de Juscelino Kubitschek tinha
um preço alto, que seria pago
nas próximas décadas: o
aumento da dívida externa.

No cenário internacional, o fato


mais marcante foi a ascensão
de Fidel Castro ao poder em
Cuba após uma revolução, em
1959.

Já Estados Unidos e Rússia


continuavam com a Guerra
Fria. A batalha psicológica
tomou um outro rumo em
1957, quando os russos
conseguiram colocar no espaço
o Sputnik, o primeiro satélite
artificial, largando na frente na
corrida espacial. Logo em
seguida, os russos mandaram
para o ar o Sputnik 2, que
tinha a bordo a cadela Laika, o
primeiro ser vivo a viajar ao
espaço.

 CAMPANHA DO BRASIL

A taça do mundo é nossa


Finalmente chegou a vez de o
Brasil ser campeão do mundo.
Depois do terceiro lugar em
1938 e do vice-campeonato de
1950, a seleção brasileira
conseguiu se impor aos rivais e
faturou a sua primeira Copa do
Mundo.

Arquivo Folha
Seleção brasileira perfilada
antes de partida na Copa do
Mundo disputada na Suécia
Com um futebol ofensivo, o
Brasil venceu cinco das seis
partidas que fez. O único
empate aconteceu diante da
Inglaterra: um 0 a 0 na
segunda partida. A estréia
acontecera no dia 8 de junho,
contra a Áustria. O Brasil não
jogou bem, mas conseguiu
vencer por 3 a 0, com dois gols
de Mazola e um de Nilton
Santos.

A terceira partida do Brasil na


Copa foi contra a forte equipe
da União Sovética. O técnico
Vicente Feola resolveu mudar o
time, colocando como titulares
os atacantes Garrincha e Pelé.
Os dois primeiros minutos já
mostraram o que esse time era
capaz de fazer. Uma bola na
trave, dois chutes bem
defendidos pelo lendário
goleiro Yashin e um gol de
Vavá. Tudo isso sem a União
Soviética conseguir passar do
meio de campo.

O massacre continuou até os


15min, quando os russos
equilibraram a partida. Mesmo
assim, Garrincha seguia
entortando adversários na
ponta direita, e Vavá levava
perigo para a meta de Yashin.
O Brasil pressionou tanto que
conseguiu marcar outro gol,
aos 31min do segundo tempo,
novamente com Vavá.

Nas quartas-de-final, o
adversário foi o País de Gales,
e o Brasil teve seu jogo mais
complicado da Copa. O sistema
defensivo britânico só caiu
após uma jogada genial de
Pelé, que resultou em seu
primeiro gol em Mundiais.

A França, adversária das


semifinais, era apontada como
uma das melhores da Copa.
Tinha um ataque fantástico,
comandado por Just Fontaine.
O Brasil, porém, abriu o placar
logo no primeiro minuto de
jogo, com Vavá. Fontaine
empatou sete minutos depois,
e Didi colocou a seleção
brasileira na frente aos 39min.

Arquivo Folha Imagem

Pelé, com apenas 17 anos,


disputa lance durante a Copa
do Mundo de 1958
No segundo tempo, brilhou
Pelé. O atacante deu um baile
na defesa francesa, fez três
gols e carimbou a presença na
final. Nem o gol de Piantoni no
final maculou a vitória da
seleção brasileira de 5 a 2.

A final foi disputada contra a


Suécia, no dia 29 de junho, em
Estocolmo. Horas antes do
jogo, uma chuva intensa
castigou o campo. A Suécia,
que se beneficiaria com o
gramado molhado, deu um
exemplo de fair-play ao cobrí-
lo e preservar o espetáculo.

O Brasil entrou em campo com


o uniforme azul, já que na
véspera havia perdido o
sorteio. De amarelo, a Suécia
achou o seu primeiro gol logo
aos 4min. Quatro minutos
depois, Vavá empatou. Aos
32min, novamente Vavá
marcou para o Brasil.

Melhor em campo, o Brasil


continuou infernizando a
defesa sueca. Pelé marcou o
terceiro gol logo no começo do
segundo tempo. Zagalo, aos
23min, fez o quarto gol.
Simonsson ainda descontou,
mas Pelé fez mais um e deu
números finais à partida: 5 a
2.

Emocionados, os brasileiros
deram a volta olímpica no
gramado e foram aplaudidos
pela torcida sueca. Acabava aí
o drama de oito anos antes, na
derrota para o Uruguai no
Maracanã. O Brasil poderia
dizer, enfim, que era campeão
do mundo.

 OS BRASILEIROS

Didi, o mestre da Copa na


Suécia Dia 21 de abril de
1957. Eliminatórias para a
Copa do Mundo. Estádio do
Maracanã, no Rio de Janeiro.
Brasil e Peru se enfrentavam
por uma vaga no Mundial. Na
partida de ida, em Lima, as
duas seleções empataram em
1 a 1. O jogo decisivo estava
duro, e o Brasil corria o risco
de ficar fora de uma Copa pela
primeira vez em sua história.

Última Hora/Arquivo Folha

Gol de "folha seca" de Didi


contra o Peru que colocou o
Brasil na Copa do Mundo
A partida seguia sem gols até que o
Brasil teve uma falta perto da área.
Didi, camisa oito da seleção, cobrou a
falta. A bola subiu, passou pela
barreira e parecia que iria para fora.
De repente, uma curva para baixo. E
o gol da classificação.

Com a "folha seca", Didi colocou o


Brasil na Copa da Suécia. Era o
começo de uma caminhada que daria
ao país o seu primeiro título mundial.
Era o começo da consagração de Didi
como o melhor jogador da Copa.

Didi foi o comandante do Brasil na


vitoriosa campanha na Suécia. Ele
organizava as jogadas do meio-
campo para as conclusões de Pelé e
Vavá.

Na final, o jogador teve papel


fundamental. Logo após o gol dos
anfitriões aos 3min de jogo, Didi
repetiu o gesto do uruguaio Obdulio
Varela oito anos antes e foi até o
fundo da rede pegar a bola. Depois,
caminhou lentamente para o centro
do gramado e tranqüilizou a seleção,
que conseguiu a virada.

Didi começou sua carreira em 1943,


no infantil do São Cristóvão. Em
1950, marcou o primeiro gol do
estádio do Maracanã, em amistoso
entre as seleções carioca e paulista.
Dois anos depois, faria sua estréia na
seleção, na vitoriosa campanha do
Pan-Americano do Chile.

Além da Copa da Suécia, Didi


disputou os Mundiais de 1954 e
1962, quando sagrou-se bicampeão.
O jogador defendeu a seleção em 68
partidas e marcou 20 gols.

Didi morreu no dia 12 de maio de


2001, aos 71 anos, no Rio, sem
poder realizar um grande sonho: ser
técnico da seleção.

 ENTREVISTA

Zagallo: "Só
lamento não ter
TV na época para
mostrar a
eficiência daquela
seleção"
Por Lello Lopes

Zagallo se orgulha em ser o "único


brasileiro quatro vezes campeão do
mundo". Emotivo, o ex-jogador e ex-
técnico da seleção falou com vigor de
sua primeira conquista, em 1958, na
Suécia, em entrevista exclusiva ao
UOL Esporte. Acompanhe a seguir
os melhores trechos da conversa.

Muita gente dizia que você não


seria convocado para o Mundial
de 58. Como foi que você
conseguiu uma vaga na lista do
técnico Vicente Feola?
Na época a seleção tinha três pontas-
esquerdas: o Pepe, o Canhoteiro e
eu. Os jornais sempre publicavam
que eu seria cortado da equipe. Mas
nos amistosos preparatórios acabei
demonstrando o meu valor para o
Feola. Eu fazia uma dupla função na
equipe, jogava tanto na ponta-
esquerda quanto na lateral, e essa
dupla função abriu os olhos do Feola,
que mudou o esquema de 4-2-4 para
o 4-3-3. Acabei ganhando a posição
por isso.

Diz a lenda que houve uma


intervenção dos jogadores junto
ao Feola para que Garrincha e
Pelé fossem escalados no jogo
contra a URSS. Isso é verdade?
Eu, dentro do grupo, não vi isso.
Nunca participei de nada e não
acredito nessa história. Posso falar de
cabeça erguida que não participei de
movimentação nenhuma. A gente
não pode tirar o mérito do Joel
(titular nos dois primeiros jogos do
Brasil na Copa), que era um ponta
excepcional. O Garrincha entrou
porque o próprio Feola achou que
tinha que entrar.

A vitória contra a URSS deu moral


para a equipe na Copa. Esse foi o
jogo mais importante do Brasil no
Mundial?
Em Copa do Mundo todos os jogos
são importantes. Na primeira fase
você pode até perder o jogo e se
recuperar. O Brasil em 1958 era a
zebra e caiu na chave mais forte, ao
lado de Áustria, Inglaterra e URSS.
Na época o Brasil não tinha
credibilidade na Copa do Mundo. Não
tenha dúvida que a vitória sobre os
russos veio reforçar tudo o que
havíamos feito nos jogos anteriores.

Por que a seleção sofreu tanto


para vencer o País de Gales nas
quartas-de-final?
O jogo foi difícil por causa do ferrolho
deles. Eles jogaram bastante
fechados e ainda tiveram uma boa
chance de marcar no começo da
partida. Mas o golaço do Pelé nos deu
a vitória.

Como foi parar o Just Fontaine


(artilheiro do Mundial) na
semifinal contra a França? Ele
recebeu marcação especial?
Ele não teve marcação especial.
Tínhamos a nossa maneira de jogar e
a seleção estava com o moral muito
grande. O placar foi elástico,
ganhamos com certa facilidade,
assim como no jogo contra a Suécia,
na decisão.

Na final contra a Suécia, o Brasil


jogou pela primeira vez com a
torcida contra. Isso motivou os
jogadores?
Eles (os suecos) encaram o jogo
como espetáculo. Era uma torcida
mais fria. Antes da partida final
choveu bastante e eles colocaram
uma lona no gramado para que a
chuva não atrapalhasse a seleção
brasileira. Hoje em dia ninguém faria
isso.

O gol sueco logo no começo do


jogo preocupou os jogadores
brasileiros? Você chegou a temer
pelo pior?
Quando tomamos o gol me veio na
cabeça o desastre de 50 (Zagallo
estava no Maracanã na partida entre
Brasil e Uruguai, decisiva na Copa do
Mundo). Felizmente a gente saiu do
buraco para conquistar a vitória
tranqüila. O Brasil estava perdendo
por 1 a 0 e eu salvei um lance
embaixo dos paus. Se a gente
tomasse aquele gol, talvez o
resultado do jogo fosse outro. Isso
quase ninguém lembra, mas foi um
fato importantíssimo.

Quando você percebeu que a


equipe seria campeã?
Quando começamos a ultrapassar a
barreira dos jogos eu senti que a
coisa ia caminhar bem. A certeza que
nós tínhamos era que estávamos
jogando bem. Os grandes heróis da
conquista foram o conjunto e a
harmonia. Era uma equipe que sabia
o que queria e realizou um futebol
magnífico. Só lamento não ter TV na
época para mostrar a eficiência
daquela seleção.

Naquela época o Pelé já


demonstrava que seria o melhor
jogador de todos os tempos?
Ele era um garoto que estava
iniciando uma carreira. É claro que já
tinha muito talento, porque se não
tivesse não teria sido convocado com
17 anos. Era uma tranquilidade
incrível com a bola dentro da área. E
o Pelé provou que o Feola estava
certo em sua convocação. Além
disso, ele teve a sorte de mostrar o
seu talento ao lado de jogadores
consagrados, como o Garrincha, o
Zizinho, o Nilton Santos, o Djalma
Santos, eu. Na Copa ele já
demonstrou que era um jogador
diferente.

Como era a rotina de


concentrações e treinos na
preparação e durante a Copa?
Era uma rotina normal de qualquer
competição, como se faz hoje. Nesse
aspecto não tem uma grande
diferenca. Ficamos uns dois ou três
meses treinando. Não havia essa
competições todas, então podia-se
treinar muito.

Vocês receberam assédio das


suecas na concentração?
Em 1958, na Suécia, as garotas já
tinham os mesmos direitos que os
homens em relação ao sexo, coisas
desse tipo. Na época, o que lá já era
algo normal, aqui nem pensar. Mas
não tinha nada dentro da
concentração não. Só que durante as
folgas, se as chances apareciam,
cada um tratava de si...

Qual era melhor: o time de 1958


ou o de 1970?
O time de 58 era, no seu todo, muito
bom. Não gosto nem de fazer
comparação. Foram as duas
melhores seleções que vi jogar. É
evidente que em 58 não teve a
projeção que teve em 70. Mas nem
mesmo a equipe de 82, da qual falam
muito bem, conseguiria bater a de
58.

Você foi quatro vezes campeão


do mundo. Qual título te deu mais
prazer?
Para mim, tudo tem o seu lugar.
Foram grandes emoções que eu tive
na Copa do Mundo sendo campeão. O
título de 58 foi inédito, o
bicampeonato foi inédito, o
tricampeonato foi inédito e o
tetracampeonato foi inédito. Sou feliz
por ser o único brasileiro quatro
vezes campeão do mundo. Me
orgulho de ser brasileiro.
Nome: Mário Jorge Lobo Zagallo
Data de nascimento: 9/8/1931
Local: Maceió (AL)

Clubes: América-RJ (1950), Flamengo (1951 a


1957) e Botafogo-RJ (1958 a 1965)
Títulos: Bicampeão mundial pela seleção
brasileira (1958 e 1962), tricampeão carioca pelo
Flamengo (1953, 1954 e 1955) e bicampeão
carioca pelo Botafogo (1961 e 1962)

Feitos: Participou de seis Copas do Mundo (1958


e 1962 como jogador; 1970, 1974 e 1998 como
técnico; 1994 como assistente-técnico) e ganhou
três títulos

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