VI Rus
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com/ProfessorFerretto
VÍRUS
vivos sem organização celular. Outros Eu particularmente concordo com nenhum reino por serem acelulares.
preferem considerá-los como não vivos. a última opinião. E é porque o cara
Eis o posicionamento de algumas obras ganhou um prêmio Nobel. Fala sério. De Pelo fato de não possuírem orga-
e autores a respeito do caso: qualquer maneira, deve-se analisar os nização celular (sendo acelulares),
vírus sob dois aspectos: os vírus são seres não categorizados
"Vida" e "vivo" são palavras que dentro da sistemática dos seres vi-
os cientistas tomaram emprestadas - Fora de uma célula, o vírus é vos. Em outras palavras, eles não são
do homem comum. O empréstimo inerte; enquadrados em nenhum dos cinco
funcionou satisfatoriamente até - Dentro de uma célula, o vírus reinos aos quais pode pertencer um or-
pouco tempo atrás, pois os cien- liga seu material genético ao da ganismo vivo. A explicação para isso é
tistas quase não se preocupavam célula hospedeira, passando a con- extremamente simples: há uma enorme
e certamente nunca souberam o trolar seu metabolismo. Controlando dúvida a respeito dos vírus serem
que queriam dizer com essas pala- o metabolismo celular, o vírus passa seres vivos ou não.
vras – nem o homem comum. Ago- a utilizar a energia e proteínas pro- A dúvida a respeitos dos vírus serem
ra, porém estão sendo descobertos duzidas pela célula hospedeira para vivos ou não é decorrente de sua es-
e estudados sistemas que não são se reproduzir. Nesse processo de trutura extraordinariamente simples se
obviamente nem vivos nem obvia- reprodução, ocorrem mutações que comparados mesmo com células pro-
mente mortos, e é necessário definir levam à variabilidade genética que carióticas: eles são diminutos, visíveis
essas palavras – ou então parar de garante a capacidade de se adaptar apenas ao microscópio eletrônico, e
utilizá-las e inventar outras.” ao meio ambiente. com a seguinte composição química e
Norman Pirie, virologista britânico, 1934 organização estrutural:
O vírus não tem organização
"A atenção dos biólogos foi des- celular. Isso invalida a Teoria Celu- - presença do material genéti-
viada por quase um século com as lar? co na forma de DNA ou RNA, nunca
discussões sobre a natureza dos Se se considerar o vírus como os dois simultaneamente;
vírus. A divergência se originou da não sendo ser vivo, a Teoria Celu- - presença de um envoltório pro-
generalização, estabelecida na se- lar pode ser validada. Entretanto, teico denominado capsídeo, forma-
gunda metade do século XIX, de mesmo considerando o vírus como do por unidades protéicas denomi-
que as células são blocos constru- ser vivo, a Teoria Celular também nadas capsômeros;
tores de todo o tipo de vida. Os vírus é validada, pois o vírus só atuaria - em alguns casos, presença
são mais simples do que as células; no interior de uma célula, estando de uma membrana externa ao
então, segundo a lógica, os vírus não inerte fora da mesma. capsídeo, denominada envelope,
podem ser organismos vivos. Acho Assim, mesmo não havendo uma constituída de lipídios, glicosami-
que o melhor jeito de atacar esse posição definida em relação ao vírus naglicanas, proteínas estruturais e
ponto de vista é compará-lo a uma ser vivo ou não, vale a Teoria Celu- enzimas. O conjunto formado pelo
tentativa dogmática de fazer com lar: "Todo ser vivo é formado por material genético do vírus com o
que um cachorro seja abanado pelo células.". capsídeo é denominado nucleo-
próprio rabo, e não o contrário.” capsídeo.
Paul Ewald, biólogo evolucionista Os vírus só são visíveis ao microscópio
americano, 2000
eletrônico. O microscópio óptico utili-
Desta maneira, a única característica
za luz para a formação de sua imagem,
comum a vírus e a células é a presença
tendo aumento de cerca de 1500 vezes.
de material genético próprio e a con-
"Considerar ou não o vírus vivo O microscópio eletrônico utiliza elétrons
sequente capacidade de reprodução.
como organismo é uma questão de na formação de sua imagem, tendo au-
No mais, eles não possuem membrana
gosto.” “Um vírus é um vírus.” mento de cerca de até 300 000 vezes
plasmática nem enzimas capazes de
André Lowff, francês, vencedor
do Nobel, 1962 lhes permitir a síntese proteica e a pro-
Os vírus não se encaixam em
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Vírus são muito simples para serem considerados formas de vida, pelo menos segundo alguns autores. Ainda assim, há
outros autores que os consideram formas particulares de vida.
Mais simples ainda que os vírus são os viroides. Enquanto os vírus são formados pelo nucleocapsídeo (material genético
envolto por um capsídeo proteico), os viroides possuem apenas o material genético, na forma de uma molécula circular de
RNA, não envolta por capa proteica alguma. Essa molécula fica sempre dentro da célula hospedeira e pode se autoduplicar,
mas não consegue controlar a síntese proteica. Como não possuem capa proteica, os viroides são incapazes de saírem da
célula hospedeira sozinhas, precisando que a membrana desta se rompa e seu citoplasma entre em contato com o cito-
plasma de outra célula que possa ser uma hospedeira em potencial. Os viroides podem levar plantas a um desenvolvimento
anormal e até à morte. Observe que, se os vírus forem considerados vivos, porque não considerar assim também os viroides?
Entretanto, se os viroides forem considerados vivos, estaremos afirmando que uma molécula de RNA é viva, e que então
podemos fabricar vida em laboratório (bastaria juntar nucleotídeos na sequência específica do viroide...).
Virusoides guardam as mesmas características de um viroides, com a diferença de que precisa de um vírus para se
propagar. Por exemplo, o vírus da hepatite D (HVD) não possui capsídeo, sendo transportado no capsídeo do vírus da hepa-
tite B (HVB), sendo então possível considerá-lo como um virusoide.
Outro caso estranho é o dos príons. Príons são proteínas componentes das membranas dos neurônios e não causam
problema algum. Entretanto, ao reagir com príons defeituosos surgidos por mutação ou adquiridos de um outro animal
onde a mutação ocorreu, podem passar também a apresentar defeitos. Assim, começa uma reação em cadeia, em que cada
príon defeituoso gera defeitos em outros (e o pior é que os príons defeituosos parecem ser resistentes a proteases e anticor-
pos). De certa maneira, é como se os príons defeituosos se reproduzissem. Os príons defeituosos são resistentes à digestão
por enzimas lisossomiais, de modo que, quando o segmento de membrana com príons defeituosos tenta ser reciclado por
autofagia, se acumulam no vacúolo digestivo e promovem autólise do neurônio, que então morre. Com o tempo, surgem
lesões no sistema nervoso.
Os príons causam uma doença chamada de doença de Creutzfeldt-Jakob. Em 1993, houve um surto dessa doença
em ovelhas, onde ficou conhecida como “scrapie” (do inglês ‘tosar’). As ovelhas afetadas desenvolviam lesões nervosas que
as levavam a ficar se esfregando em paredes e cercas até que sua lã e pele acabassem sendo removidas, causando sérias
lesões e mortes. Como não se conhecia ao certo a causa da doença, as ovelhas mortas foram aproveitadas como ração para
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aumentar o teor proteico na dieta do gado. O estrago foi grande: os príons mutantes que surgiram nas ovelhas e causaram
a doença passaram para o gado.
No gado, os príons levaram a uma versão da doença que foi chamada de encefalopatia espongiforme bovina, mais
popularmente conhecida como doença da vaca louca, uma vez que os animais afetados desenvolviam problemas de co-
ordenação motora e dificuldades de equilíbrio.
Os humanos que ingeriram carne de gado contaminado acabaram adquirindo os príons mutantes, levando a uma versão
humana do mal da vaca louca (doença de Creutzfeldt-Jakob). Houve uma grande apreensão nos vorazes consumidores de
carne espalhados mundo afora, especialmente na Europa, onde os únicos casos da doença já registrados foram detectados.
A doença é um caso de demência grave, com perda de coordenação motora, e incapacidade de falar ou comer, em animais
e humanos. A autópsia revela muitos neurônios mortos, deixando o cérebro ‘esburacado’, ou seja, esponjoso.
Como os príons são muito pequenos, podem ser absorvidos intactos pelo sistema digestivo; como são altamente resis-
tentes a calor, não são desnaturados facilmente. Principalmente, como não são vivos, não podem ser mortos. Por enquanto,
não há cura. Talvez fosse até melhor virar vegetariano... Felizmente, novos casos não têm sido registrados ultimamente.
Diante de características tão peculiares, será que devemos considerar viroides, virusoides e príons como formas
particulares de vida? Eles não se reproduzem e se adaptam ao meio? Para se responder a essa pergunta, tem-se que levar
em consideração o critério adotado para definir vida. O que você acha?
Normalmente, um tipo de vírus só ataca determinado grupo de células de determinado organismo, o que ocorre pela interação
de receptores do vírus no envoltório do vírus que são específicos e complementares a receptores celulares na membrana da
célula a ser atacada, dentro do modelo chave-fechadura.
Por exemplo, o vírus HIV da AIDS possui um receptor chamado GP-120 que se liga especificamente a um receptor chamado
CD-4/CCR-5 na membrana da célula hospedeira, os linfócitos T4. Assim, o vírus HIV somente pode atacar células com receptores
CD-4/CCR-5.
Existe uma mutação em alguns humanos que leva à ausência de receptores CD-4/CCR-5, de modo que o HIV se tornar incapaz
de infectar células dos indivíduos portadores dessa mutação, que apresentam, consequentemente, resistência ao HIV.
Chama-se de tropismo a afinidade de um vírus a um certo grupo de células que possuem receptores específicos. Por exemplo,
o vírus da raiva é neurotrópico, ou seja, apresenta afinidade por células nervosas.
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Alguns vírus, entretanto, podem ser mais versáteis. O vírus da gripe pode afetar diversos tipos de células humanas, mas também
de patos, cavalos e porcos. O vírus Ebola ataca uma enorme quantidade de células em organismos que vão de porquinhos da índia
a humanos.
Enquanto está fora da célula hospedeira, a partícula viral é conhecida como vírions. Para se reproduzirem, os vírus devem invadir
células e, somando seu material genético ao da célula, controlar o metabolismo celular para que este passe a formar novos vírus.
Isso ocorre em algumas etapas:
(1) Adsorção
A adsorção consiste na ligação dos receptores do vírus nos receptores específicos da célula hospedeira.
(2) Penetração
A penetração consiste na entrada do vírus na célula hospedeira, o que pode se dar de algumas possíveis maneiras, de
acordo com a espécie de vírus.
- Injeção: Na injeção, o capsídeo viral perfura a membrana celular da célula hospedeira e injeta o material genético viral no
citoplasma, sendo que o capsídeo viral não entra, ou seja, permanece fora da célula hospedeira.
- Fusão: Na fusão, o envelope viral (somente em vírus envelopados) se funde à membrana da célula hospedeira, de modo que o
capsídeo viral passa para o citoplasma da célula hospedeira.
- Viropexia: Na viropexia, o capsídeo viral, ao se ligar aos receptores específicos da célula hospedeira, induz a célula hospedeira
a fagocitar ele próprio, de modo que o capsídeo viral passa para o citoplasma da célula hospedeira.
(3) Desnudamento
O desnudamento consiste na digestão do capsídeo pelos lisossomos da célula hospedeira, de modo que o material
genético viral passa para o citoplasma da célula hospedeira. Nos vírus que penetram por injeção, como o capsídeo não entra na
célula hospedeira, mas apenas injeta o material genético viral em seu citoplasma, o desnudamento não é necessário.
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Devido à ação do vírus, a célula hospedeira passa a produzir os componentes virais, deixando de produzir seus
próprios componentes, o que leva ao esgotamento metabólico da célula e, com isso, à sua morte. Com a morte de
células hospedeiras infectadas por vírus, o funcionamento normal do organismo é alterado, e começam a surgir os
sintomas da doença viral.
(7) Liberação
A liberação consiste na ruptura (lise) da membrana da célula hospedeira levando à liberação dos novos vírus no meio
extracelular.
O fago T, através da contração de sua cauda, que age como uma espécie de agulha de injeção, injeta seu material genético na
célula bacteriana a ser infectada. Apenas o material genético viral entra na bactéria, de modo que o capsídeo permanece do lado
de fora. O material genético do fago, o DNA viral, é então adicionado ao material genético da bactéria, o DNA bacteriano, e assim
começa o ciclo reprodutivo do bacteriófago T.
Existem basicamente dois tipos de ciclos reprodutivos em bacteriófagos, o ciclo lítico e o ciclo lisogênico.
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Tome nota:
1. DESOXIVÍRUS
Os desoxivírus possuem o DNA
como material genético. O DNA viral
incorpora se ao DNA celular e passa
a se chamar provírus. O processo de
Existem alguns vírus de DNA em
transcrição ocorre de maneira tradicio-
que o DNA é de fita simples. Vírus
nal, sendo o DNA utilizado como molde
são os únicos organismos conheci-
para a síntese do RNA, a partir das en-
dos em que o DNA pode ser de fita
zimas da própria célula, que passam a
simples, de modo que a relação de
enxergar o provírus como DNA celular.
Chargaff não é obedecida, e o teor
Este RNA produzido atua nos ribosso-
de guanina não é necessariamente
mos da célula infectada para que haja
igual ao de citosina, bem como o
a produção de proteínas virais. Formado
teor de adenina não é necessaria-
DNA viral e proteínas virais, determina-
mente igual ao de timina.
das enzimas produzidas pela célula a
partir do material genético do vírus pro-
cedem à montagem dos novos nucleo- 2. RIBOVÍRUS
capsídeos virais. Os ribovírus possuem o RNA como
São exemplos de desoxivírus os vírus material genético. São exemplos de ri-
bacteriófagos T, da varíola, do herpes bovírus os vírus da febre amarela, den-
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