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Antonio Menezes Cordeiro

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DA RESOLUÇÃO DO CONTRATO

Por António Menezes Cordeiro(*)

Sumário:
1. Introdução. I. A supressão do contrato: 2. Terminologia e institutos;
3. A experiência lusófona. 4. Preparatórios e Código Civil. 5. Formas de
supressão. II. Evolução histórico comparatística: 6. Direito romano.
7. Direito intermédio; 8. Sistema pandectístico. III. A geografia da reso-
lução: 9. O Código Civil. 10. A resolução por incumprimento. 11. Situações
resolúveis. 12. Circunstâncias relevantes. 13. O fundamento da resolução.
IV. Traços do regime: 14. Fundamento e exclusão. 15. A “equiparação” à
invalidação. 16. A relação de liquidação. 17. Resolução e indemnização.
18. A retroatividade: sentido e limites. V. Aspetos práticos: 19. O exercí-
cio. 20. O exercício indevido. 21. Valor da resolução infundada.

1. Introdução
I. A evolução do Direito das obrigações nas últimas décadas, parti-
cularmente visível na reforma alemã de 2001/2002 e na reforma francesa
de 2016, permite uma leitura da relação obrigacional cada vez mais dis-
tante do vinculum iuris romano. A obrigação deve ser tomada como um
sistema móvel, essencialmente adaptável e que governa os interesses do
credor e do devedor, naquilo que eles tenham decidido inserir no seu
âmbito. Esse estado de coisas, sempre discernível, atinge pontos altos
perante contratos especialmente complexos, que perdurem no tempo.

II. A natureza articulada e tendencialmente complexa das obriga-


ções, há muito proclamada, só aos poucos vai chegando à periferia. E aí,

(*) Advogado, Professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, e


Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da CCIP.
446 ANTóNIO MENEzES CORDEIRO

ela tem levado a rever em profundidade institutos aparentemente estritos,


como a impossibilidade e a resolução. Relativamente a ambos há, hoje,
que abandonar a sua apregoada eficácia extintiva radical, a favor de solu-
ções mais permeáveis aos valores do ordenamento.

III. Quanto à resolução, podemos adiantar que devem ser revistos


ou renovados os pontos seguintes: (1) eficácia extintiva; (2) retroatividade;
(3) falta de fundamento; (4) conjugação com a indemnização. A jurispru-
dência e a doutrina, com as naturais oscilações que a reflexão no terreno
sempre implica, têm acompanhado. Referimos, de seguida, uma bibliogra-
fia portuguesa onde, além de clássicos, podem ser confrontadas as obras
mais recentes, que usaremos no presente escrito:
ADRIANO VAz SERRA, resolução do contrato, BMJ 68 (1957), 153-291; ANA PERESTRELO
DE OLIVEIRA/MADALENA PERESTRELO DE OLIVEIRA, incumprimento resolutório: uma intro-
dução (2019), 159 pp.; ANTóNIO MENEzES CORDEIRO, Tratado de Direito civil, IX, 3.ª ed.
(2017), 901-949; idem, Código Civil Comentado, II (2020), 247-270; CATARINA MON-
TEIRO PIRES, resolução do contrato por incumprimento e impossibilidade de restitui-
ção em espécie, O Direito 144 (2012), 653-672; DANIELA BAPTISTA, Da cláusula reso-
lutiva expressa, Est. Heinrich Ewald Hörster (2012), 197-226; idem, em uCP/
/Comentário ao Código Civil, II (2019), 133-141; DAVID NUNES DOS REIS, A (in)eficá-
cia extintiva da resolução ilícita de contratos, RDC 2018, 615-655; FERNANDO FER-
REIRA PINTO, resolução dos contratos duradouros, em Elsa Vaz Sequeira (coord.),
Código Civil/Ed. Comemorativa do Cinquentenário (2017), 463-489; JOANA FARRA-
JOTA, A resolução do contrato sem fundamento (2015), 408 pp.; JOÃO ANTUNES VARELA,
Das obrigações em geral, II, 7.ª ed. (1997), 274-278; JOÃO BAPTISTA MACHADO, Pressu-
postos da resolução por incumprimento (1979) em obra dispersa, I (1991),
125-193; JOÃO ESPíRITO SANTO, resolução do contrato (arts. 432-436 do Código
Civil), em Código Civil/Livro do Cinquentenário, I (2019), 765-778; JORgE RIBEIRO DE
FARIA, A natureza da indemnização no caso de resolução do contrato, Est. Cinco
Anos da FUDP (2001), 11-62; JOSé CARLOS BRANDÃO PROENÇA, A resolução do contrato
no Direito civil/Do enquadramento e do regime (reimp., 2006), 220 pp.; idem,
A cláusula resolutiva expressa como síntese da autonomia e da heteronomia, Est.
Heinrich Ewald Hörster (2012), 299-332; idem, Lições de cumprimento e de não
cumprimento das obrigações, 2.ª ed. (2017), 358-384; LUíS MENEzES LEITÃO, Direito
das obrigações, II, 12.ª ed. (2018), 102-105 e 265-270; MáRIO JúLIO DE ALMEIDA COSTA,
Direito das obrigações, 12.ª ed. (2009), 317-322; PAULO ALBERTO VIDEIRA RODRIgUES,
A desvinculação unilateral ad nutum nos contratos civis de sociedade e de mandato
(2001), 266 pp.; PAULO MOTA PINTO, interesse contratual negativo e interesse contra-
tual positivo, II (2008), 1604-1697; PEDRO ROMANO MARTINEz, Da cessação do con-
trato, 3.ª ed. (2015), 122-228.

A bibliografia estrangeira, designadamente a alemã, pode ser con-


frontada no nosso Tratado de Direito Civil, acima citado.
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I. A supressão do contrato
2. Terminologia e institutos
I. A supressão do contrato ou, mais latamente, da sua fonte, abarca
diversas formas de extinção das obrigações, caracterizadas por se atingir,
diretamente, a sua origem. A terminologia não está estabilizada(1). Encon-
tramos: (1) a dissolução dos contratos (guilherme Moreira); (2) a extinção
das relações obrigacionais complexas (Antunes Varela); (3) os desvios ao
princípio da estabilidade dos contratos (Almeida Costa); (4) a extinção dos
negócios jurídicos (Menezes Leitão); (5) a cessação do contrato (Romano
Martinez). Nós próprios temos usado “supressão da fonte”(2).

II. A “extinção de relações complexas” parece pressupor que, de


um contrato (ou ato unilateral) não possam surgir relações simples. Referir
“desvios à estabilidade dos contratos” surge como perífrase para retratar a
sua supressão ou atenuação. Finalmente, apelar à “extinção de negócios”
ou à “cessação do contrato” postula que não possam estar em jogo obriga-
ções provenientes de outras fontes.

III. A matéria das formas de supressão da fonte não tinha qualquer


unidade no Direito romano. Ainda hoje, existe uma fragmentação que não
tem correspondente nos demais institutos obrigacionais. Ela agrupa insti-
tutos como a resolução, a revogação, a denúncia, a oposição à renovação e
a própria caducidade.

3. A experiência lusófona

I. No Código Comercial de Ferreira Borges (1833) ocorria “resilir”


para exprimir a desistência, a saída ou a revogação unilateral de um con-
trato. O seu art. 463.º, determinava(3):
A promessa de vender tem força de venda, logo que ha consentimento, e não
póde resilir-se do contracto a titulo d’haver-se dado signal, porque em commercio
sempre este se entende em principio de paga, sala convenção expressa em contrario.

(1) PEDRO ROMANO MARTINEz, Da cessação do contrato, 3.ª ed., 25 ss. e passim.


(2) Indicações no nosso Tratado de Direito civil, IX, 3.ª ed. (2017), 901-902.
(3) DIOgO SAMPAIO PIMENTEL, Annotação ou synthese annotada do Codigo de Commercio I
(1875), 366-367.
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No domínio da empreitada, valia o art. 521.º(4):


O proprietario póde arbitrariamente resilir do contracto d’empreitada, posto
que já começado a executar, indemnizando o empreiteiro de todas as despesas e tra-
balho, e de tudo o que poderia ganhar na empresa.

O mesmo Código usava o termo “rescisão” com o sentido de “anula-


ção” por lesão, isto é, por prática usurária(5): aliás, para dizer que esse ins-
tituto não tinha lugar nas compras e vendas comerciais, salvo havendo
dolo, erro ou violência (494.º). A “revogação” ocorria no mandato, como
modo de lhe pôr termo (819.º e 820.º). Referia a faculdade que o comitente
tinha de revogar, reformar ou modificar a comissão (67.º) e mencionava a
ação rescisória ou revocatória (901.º), com o sentido da nossa pauliana.

II. Os clássicos da pré-codificação deixaram elementos menos cla-


ros. Lê-se, por exemplo, em Coelho da Rocha(6):
A nullidade umas vezes resulta ipso iure, isto é, por expressa declaração da lei;
outras vezes só se verifica quando o interessado a reclama. Assim, o contracto sobre
cousa illicita é nullo ipso iure; o contracto lesivo, a doação por causa de ingratidão só
se anullam, requerendo-o a parte.

Surgiam, depois, as referências ao mútuo dissenso(7), à “retratação”


dos esposados(8), à revogação dos testamentos(9), à rescisão por lesão(10),
à revogação das doações(11) e do mandato(12). Também em Correia Telles
ocorrem referências a essas diversas figuras(13). Podemos concluir que as
diversas modalidades de supressão da fonte estavam dispersas, cobrindo
figuras distintas, sem clarificação terminológica.

III. O Código de Seabra (1867) fez algum esforço de normalização.


Comportava um capítulo sobre a “rescisão dos contractos” (687.º a 701.º),
visando cobrir as hoje ditas anulação e declaração de nulidade. A doutrina

(4) idem, 404-405.
(5) Vide o Tratado II, 4.ª ed., 485 ss.
(6) M. A. COELHO DA ROCHA, instituições de Direito civil, § 109 (1, 62-63).
(7) idem, § 170 (1, 100).
(8) idem, § 211 (1, 126).
(9) idem, § 724 (2, 497-498); também refere “rescindir” o testamento por indignidade: § 726
(2, 500).
(10) idem, § 737 (2, 508-509).
(11) idem, § 760 (2, 523-524).
(12) idem, § 798 (2, 544).
(13) J. H. CORREIA TELLES, Digesto Portuguez, art. 644.º (3, 92), quanto à revogação do mandato.
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logo distinguiu entre a nullidade do acto, quando houvesse vício que não
permitisse qualquer efeito e acto rescindivel, quando pudesse ser anulado
a requerimento das partes, produzindo, sem isso, os seus efeitos(14). Além
disso, surgiam, nos diversos tipos contratuais, específicas formas de cessa-
ção: fim da sociedade por renúncia de algum dos sócios (1278.º), do man-
dato, por revogação pelo mandante (1364.º) ou por renúncia do mandatá-
rio (1368.º), da doação, por revogação (1482.º; no art. 1484.º referia-se
“rescindida a doação”), do arrendamento, por despejo (1632.º), do testa-
mento, por revogação (1754.º) e das partilhas, por rescisão (2163.º). Na
tradição romanística, as formas de cessação dos contratos desenvolve-
ram-se em termos insulares, em torno de cada tipo de ato.

IV. guilherme Moreira tratou conjuntamente uma série de figuras


que, em comum, tinham a supressão do contrato. Usando “dissolução dos
contratos”, disse esse Autor(15):
Os contratos desfazem-se por mutuo accordo das partes; por mera vontade
duma das suas partes, ou pela sua morte, nos casos em que uma clausula do contracto
ou a lei assim o facultam ou determinam; pelo seu não cumprimento; em virtude de
condição resolutiva; por nullidade na sua formação.

V. Inocêncio galvão Telles retomou o tema. Na ineficácia superve-


niente do contrato(16), ele insere a resolução, de feição retroativa, a distin-
guir da dissolução ou extinção para o futuro. Ambas incluiriam a revoga-
ção ou livre destruição dos efeitos de um ato pelo seu próprio autor ou
autores, a rescisão que exige um fundamento, sendo um poder vinculado e
a caducidade, que advém de um facto stricto sensu.

4. Preparatórios e Código Civil

I. Vaz Serra não deu um tratamento unitário ao estudo da supressão


das fontes. Analisou a resolução(17) e a caducidade(18). As demais formas

(14) JOSé DIAS FERREIRA, Codigo Civil annotado, 2, 1.ª ed., 207 e 2, 2.ª ed., 37.
(15) gUILHERME MOREIRA, instituições do Direito civil, 2 (1907), 659-660.
(16) INOCêNCIO gALVÃO TELLES, Dos contratos em geral, 1.ª ed. (1947), 303-308 e manual dos
contratos em geral, 3.ª ed. (1965), 347-352.
(17) ADRIANO VAz SERRA, resolução do contrato, BMJ 68 (1957), 153-291.
(18) ADRIANO VAz SERRA, Prescrição extintiva e caducidade, BMJ 105 (1961), 5-248, 106
(1961), 45-278 e 107 (1961), 159-306.
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— invalidação, revogação e denúncia — foram deixadas para os institutos


singulares que as comportassem. Ficaram pontos delicados em aberto.

II. Em consequência, o Código Civil consagrou cinco artigos à


resolução, reunidos numa secção própria (432.º a 436.º). Além disso, a
resolução surge dispersa por mais algumas dezenas de preceitos, reparti-
dos pelo livro II do Código Civil. A caducidade encontrou a sua sede na
Parte geral (328.º a 333.º), enquanto as demais formas de cessação devem
ser procuradas no domínio do negócio jurídico e em diversos tipos contra-
tuais. Coube à doutrina dogmatizar a matéria.

5. Formas de supressão

I. A lei e a doutrina permitem apontar seis formas de supressão


dos contratos: todas com origens históricas próprias e desenvolvimentos
dogmáticos diferenciados: (1) resolução; (2) revogação; (3) denúncia;
(4) oposição à renovação; (5) anulação; (6) caducidade. Note-se que a
resolução e a anulação desempenham um papel matricial: as demais for-
mas, por similitude ou por diferenciação, têm regimes que as tomam
como referência.

II. Resolução: (a) dispõe de um regime geral (432.º a 436.º) e diver-


sas concretizações esparsas; (b) é unilateral; (c) apresenta-se retroativa;
(d) exige uma permissão específica, legal ou contratual; (e) requer, dentro
dessa permissão, uma justificação: é vinculada.

III. Revogação: (a) não tem regime geral: apenas concretizações


dispersas e sem linguagem uniforme; (b) nos contratos é, em regra, bilate-
ral; (c) não é retroativa; (d) exige uma permissão específica, legal ou con-
tratual; (e) dentro dessa permissão, é discricionária.

IV. Denúncia: (a) não tem um regime geral; (b) é unilateral; (c) não
é retroativa; (d) é própria das relações duradouras, podendo dispor de uma
permissão específica ou derivar da boa-fé; (e) é discricionária, mas pode
exigir um pré-aviso.

V. Oposição à renovação: (a) não tem um regime geral; (b) é unila-


teral; (c) não é retroativa; (d) é própria das relações duradouras que se
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renovam automaticamente; (e) em certos casos, exige um fundamento,


sendo vinculada.

VI. Anulação: (a) tem um regime geral (287.º a 293.º); (b) é unila-
teral; (c) é retroativa; (d) exige uma permissão legal, sob pena de se cair na
nulidade; (e) dentro da permissão, é discricionária.

VII. Caducidade: (a) dispõe de um regime geral (328.º a 333.º); (b) é


unilateral e, em certos casos, oficiosa; (c) não é retroativa; (d) exige uma
permissão legal ou contratual; (e) quando não-oficiosa, é discricionária.

VIII. Podemos apontar o seguinte quadro geral:


instituto resolução revogação denúncia oposição à anulação caducidade
renovação
regime geral 434.º a 436.º não não não 287.º a 293.º 328.º a 333.º

atuação unilateral bi ou unilateral unilateral unilateral unilateral unilateral

permissão específica específica específica ou específica específica específica


ex bona fide
retroativa sim não não não sim não

justificação sim não não depende sim não

As flutuações são intensas, particularmente quanto à revogação. Caso


a caso e contrato a contrato, há que ponderar o regime, o qual é ainda
dobrado por oscilações linguísticas(19).

II. Evolução histórico-comparatística


6. Direito romano(20)

I. A expressão “resolução” (résolution, risoluzione ou rücktritt)


traduz a cessação de um contrato por decisão unilateral de uma das partes,

(19) Em especial, no tocante ao mandato: Tratado, XII (2018), 669 ss. Também o arrenda-
mento requer especiais cuidados: Tratado, XI (2018), 797 ss.
(20) Elementos: Tratado, IX, 3.ª ed., 907-909.
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quando justificada em certos factos e desde que permitida pela lei e pelo
contrato. Sendo o contrato o produto de duas vontades, apenas uma delas
não lhe pode pôr cobro: iria contundir com a fides. Os incumprimentos
davam azo a condenações de pagamento em dinheiro (dare certa pecunia)
ou de entrega de coisas. Mas havia limites.

II. Os jurisprudentes admitiam três cláusulas típicas para desfazer a


compra e venda: (1) o pacto in diem addictio, que permitia ao vendedor
desfazer a compra caso, dentro de certo prazo, lhe surgisse uma melhor
oferta; (2) a lex commissoria, que facultava ao vendedor reter a coisa
(recorde-se que a compra e venda romana era meramente obrigacional,
dependendo a transferência do domínio da entrega), no caso do preço não
ser tempestivamente pago; (3) o pactum displicentiae, equivalente à com-
pra a contento, pelo qual o comprador dispunha de um prazo para verificar
se a coisa adquirida era do seu agrado.

7. Direito intermédio(21)

I. A generalização da regra que permitia, à parte fiel, resolver o


contrato em face do inadimplemento perpetrado pela outra remonta à
canonística, na sequência de Hugócio de Pisa (1140-1210); o respeito pela
fides cessava perante aquele que quebrasse a sua própria palavra. Formu-
lou o brocardo frangenti fidem fides non est servanda [perante o que que-
bre a fides, não há que guardar a fides] o qual constitui uma justificação
significativo-ideológica para a resolução por incumprimento. Pode ser
retomado o caminho que levou à exceção de não-cumprimento, com
relevo para o cânon frustra, de Bonifácio VIII(22).

II. A canonística ulterior construiu, na base do fidem frangenti,


uma doutrina alargada assente numa ideia de condição. Os contratos
seriam concluídos com uma condicio subintellecta dita si fides servetur:
uma condição tácita, segundo a qual, havendo prestações recíprocas, ape-
nas caberia prestar se a outra parte também prestasse.
O regresso ao Direito romano, levado a cabo pelos humanistas,
envolveu um retrocesso no campo da resolução por incumprimento.

(21) Elementos: Tratado, IX, 3.ª ed., 909-910.


(22) Para elementos sintéticos vide o nosso Código Civil Comentado, II (2020), XXX.
DA RESOLUÇÃO DO CONTRATO 453

Donellus explicava que, perante o perecimento culposo da coisa vendida,


havia que demandar em indemnização. Conservou-se a ideia de que um
contrato não podia ser unilateralmente desfeito.

III. No século XVII, designadamente em França, retomou-se a


doutrina canonística da mútua lealdade ao contrato, como condição da sua
conclusão, sendo considerada “Direito costumeiro”. Na doutrina houve,
também, uma evolução. Mercê de postulados jusracionalistas, Jean Domat
vem afirmar, já sem “condição”, o princípio da resolução dos contratos,
sempre que uma obrigação recíproca não seja executada, numa regra apli-
cável à compra e venda. Na mesma linha, Pothier, abaixo referido, liga a
resolução à direta vontade das partes.
Também os jusracionalistas (grócio, Pufendorf e Christian Wolf)
admitiram, subjacente aos contratos com prestações recíprocas, um con-
senso tácito das partes, relativo à mútua lealdade. Decisiva na evolução
subsequente foi a posição de Pothier: acolhia, de modo generalizado, a
condição resolutória, subjacente aos contratos sinalagmáticos; todavia, se
ela não fosse expressa, haveria que passar pelo juiz: uma solução depois
acolhida no Código Napoleão.

8. Sistema napoleónico

I. O Código Napoleão, em rubrica sobre a condição resolutiva, veio


dispor, no seu célebre art. 1184.º:
A condição resolutiva é sempre subentendida nos contratos sinalagmáticos,
para os casos em que uma das partes não satisfaça a sua obrigação.
Nesse caso, o contrato não é resolvido de pleno direito. A parte perante a qual
a obrigação não tenha sido executada tem a escolha ou de forçar a outra à execução
da convenção, quando seja possível ou de pedir a sua resolução, com perdas e
danos.
A resolução deve ser pedida em justiça, podendo ser acordado ao demandado
um prazo, segundo as circunstâncias.

II. O sistema napoleónico tinha duas particularidades: (1) assen-


tava na ideia de que subjacente a cada contrato sinalagmático, haveria uma
condição resolutiva tácita: a do cumprimento pela outra parte; (2) requeria
uma intervenção do juiz, sendo, pois, de exercício judicial. Comentado ao
longo de mais de dois séculos, este esquema não é considerado inteira-
mente satisfatório. A técnica de invocar uma condição tácita tinha o seu
454 ANTóNIO MENEzES CORDEIRO

quê de ficcioso: afinal, a própria tradição de Domat e de Pothier permitia


apelar diretamente à vontade das partes.

III. A reforma do Direito dos contratos de 2016 obviou a estes pro-


blemas, aproximando, também aqui, o Direito francês do esquema alemão.
Segundo o 1224.º, resultante da reforma:
A resolução resulta seja da aplicação de uma cláusula resolutória seja, em caso
de inexecução suficientemente grave, de uma notificação do credor ao devedor ou de
uma decisão em Justiça.

Prevê-se o esquema da interpelação admonitória (1225.º/2). Quando


exercida por notificação extrajudicial, ela é feita pelo credor à ses risques
et périls (1226.º/1).

9. Sistema pandectístico

I. O pandectismo alemão foi pouco favorável à resolução, enquanto


fórmula geral de reagir ao incumprimento de obrigações(23). O peso do
Direito romano obrigava a uma série de distinções, pouco propícias a uma
teorização geral: uma situação com reflexos no próprio Código Civil de
1966. Coube à prática dos negócios e ao Direito Comercial consuetudiná-
rio construir uma categoria genérica da resolução, destinada a enfrentar
incumprimentos contratuais.

II. No seu prolongamento, a comercialística italiana teve um papel


dinamizador da resolução, como forma prática e eficaz de reagir ao incum-
primento dos contratos, particularmente o de compra e venda. No campo
da locação, impunham-se maiores cautelas. O Código de 1942 fez um
grande esforço de sistematização: comporta um capítulo sobre a resolução
do contrato, repartido por três secções: I — resolução por incumprimento
(1453.º a 1462.º); II — da impossibilidade superveniente (1463.º
a 1466.º); III — Da onerosidade excessiva (1467.º a 1469.º). Sem múlti-
plas considerações histórico-comparatísticas, não se torna possível seguir
os meandros da cessação do contrato por decisão unilateral de uma das
partes.

(23) Elementos. Tratado, IX, 3.ª ed., 912-914.


DA RESOLUÇÃO DO CONTRATO 455

III. A geografia da resolução


10. O Código Civil

I. O Código Civil versa a resolução em quatro áreas: (1) as regras


gerais sobre a resolução, constantes dos arts. 432.º a 436.º; (2) a resolução
por alteração das circunstâncias, referida nos arts. 437.º a 439.º e, ainda, no
art. 252.º/2; (3) a resolução por impossibilidade não-culposa parcial
(793.º/2) e por impossibilidade superveniente culposa (801.º/2) incluindo
a parcial (802.º/1); (4) referências dispersas: artis. 270.º, 271.º/2, 272.º,
273.º, 277.º, 343.º/2, 796.º/3, 925.º/1 e 3, 1051.º, b), 1123.º, 1536.º/2,
2229.º, 2234.º e 2236.º/1.

II. Nos contratos em especial, a resolução ocorre: (1) na compra e


venda: 891.º (resolução do contrato, mediante certos requisitos), 924.º
(segunda modalidade de venda a contento), 927.º a 933.º (venda a retro)
e 934.º e 936.º/2 (venda a prestações); (2) na doação: 966.º (resolução por
não-cumprimento de encargos); (3) na locação: 1028.º/2 (resolução
havendo pluralidade de fins), 1041.º/2 (por mora do locatário), 1047.º
a 1050.º (casos de resolução), 1079.º, 1080.º, 1083.º a 1087.º (resolução de
arrendamentos urbanos); (4) no comodato: 1140.º (havendo justa causa);
(5) no mútuo: 1150.º (por não-pagamento dos juros); (6) na empreitada:
1222.º/1 (por defeitos da obra); (7) na renda perpétua: 1235.º (por mora
correspondente a dois anos); (8) na renda vitalícia: 1242.º (idem); (9) no
testamento: 2248.º (por não-cumprimento do encargo). No domínio dos
oito contratos referidos, a que se pode acrescentar o testamento, a resolu-
ção visa reagir a situações de incumprimento: uma ocorrência omitida no
domínio das obrigações em geral.

III. O 439.º determina, a propósito da resolução por alteração das


circunstâncias, a aplicação dos 432.º a 436.º. Nas demais hipóteses, falta
tal remissão; todavia, os termos genéricos do 432.º/1, quando refere a reso-
lução “fundada na lei”, deixam entender que, na falta de regimes especiais,
esse preceito é aplicável.
456 ANTóNIO MENEzES CORDEIRO

11. A resolução por incumprimento

I. O Código, mercê das vicissitudes históricas apontadas, não


refere, clara e expressamente, uma figura geral da resolução por incumpri-
mento. Com isso, deixou a doutrina dos últimos cinquenta anos na perple-
xidade: tratar-se-á do maior lapso cometido, no domínio das obrigações.
A fonte inspiradora da subsecção dedicada à resolução (432.º a 436.º) foi o
Código italiano de 1942. Este Código foi muito claro: o seu art. 1453.º,
grosso modo equivalente ao nosso 432.º, dispõe:
Nos contratos com prestações correspetivas, quando um dos contraentes não
cumpra as suas obrigações, pode o outro, à sua escolha, optar pelo cumprimento ou
pela resolução do contrato salvo, em qualquer caso, o ressarcimento do dano.

No fundo, retém-se, sem circunlóquios, o 1184.º do Código Napo-


leão, com tudo o que ele representa, desde o canonismo.

II. Afigura-se-nos ter havido falha de coordenação, na preparação


do Código de 1966. Vaz Serra, no articulado geral sobre a resolução(24),
referiu-se ao facto de ela poder resultar da lei ou de convenção. E quando
se ocupou do incumprimento definitivo, Vaz Serra, depois de referir a falta
de interesse do credor na prestação, em virtude da mora, propôs a regra
seguinte(25):
Ao direito de recusar a prestação tardia e exigir indemnização por não cumpri-
mento são extensivas, na parte aplicável, as disposições relativas ao direito de reso-
lução.

III. Por razões ignotas, a referência à resolução desapareceu do


anteprojeto, na 1.ª Revisão Ministerial (793.º)(26). Antunes Varela tinha,
contudo, consciência do problema; na 2.ª Revisão Ministerial, propôs
(808.º/1)(27):
Se o credor, em consequência da mora, perder o interesse que tinha na presta-
ção, ou esta não for realizada dentro do prazo que razoavelmente for fixado pelo cre-
dor, considera-se para todos os efeitos impossível o cumprimento.

(24) ADRIANO VAz SERRA, resolução do contrato, 281.


(25) ADRIANO VAz SERRA, mora do devedor, BMJ 48 (1955), 5-317 (311); idem, Direito das
obrigações, 65 (art. 91.º/2).
(26) 1.ª revisão, 202.
(27) 2.ª revisão, 154. No fundo, acompanhava-se o (então) § 326 do BgB, bem conhecido
pelos redatores do Código Civil através de Ludwig Enneccerus/Heinrich Lehmann, recht der Schuld-
verhältnisse, 15.ª ed., § 38, I (165), na tradução espanhola.
DA RESOLUÇÃO DO CONTRATO 457

Através da impossibilidade, chegar-se-ia à resolução. No projeto


final, porém, substituiu-se, de novo por razões desconhecidas, “impossível
o cumprimento” por “não cumprida a obrigação”(28). Com essa amputa-
ção, o preceito passou ao Código Civil. “Todos os efeitos” abrangem as
regras sobre a realização coativa da prestação (817.º a 830.º), mas não,
expressamente, as relativas à resolução.

IV. A lacuna foi desde logo integrada pelo próprio Antunes Varela: o
não-cumprimento definitivo visualizado no art. 808.º/1 seria remetido para
o regime do 801.º (impossibilidade culposa)(29). E este, no seu n.º 2, prevê,
perante “contratos bilaterais”, o direito de resolução. Aprofundando a ideia,
Baptista Machado considera que em qualquer das situações previstas
no 808.º (mora com perda de interesse do credor ou ultrapassagem do prazo
admonitório), cabe um direito de resolução, por via do referido 801.º/2(30).
Tal conclusão foi reforçada perante os arts. 891.º (compra e venda), 934.º
e 936.º/2 (venda a prestações), 966.º (doação), 1047.º a 1050.º (locação),
1083.º a 1087.º (arrendamento urbano), 1140.º (comodato), 1150.º (mútuo),
1222.º/1 (empreitada), 1235.º (renda perpétua) e 1242.º (renda vitalícia):
todos esses preceitos preveem resoluções por incumprimento, ainda que
fixando regras especiais.
Esta orientação pode ser dada como assente: o incumprimento defini-
tivo permite, à parte fiel, resolver o contrato: uma orientação, também, da
jurisprudência(31). Cabe afinar os pressupostos dessa resolução.

(28) Projecto, 236.
(29) PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil anotado II, 4ª ed. (1997), 71; na 1.ª ed. (1968),
esse troço surgia a p. 55.
(30) JOÃO BAPTISTA MACHADO, Pressupostos da resolução por incumprimento, 159; no mesmo
sentido, também JOSé CARLOS BRANDÃO PROENÇA, A resolução do contrato, 114-115, LUíS MENEzES LEITÃO,
Direito das obrigações, 2, 12.ª ed., 103 e Ana Perestrelo de Oliveira/Madalena Perestrelo de Oliveira,
incumprimento resolutório: uma introdução (2019), 41 ss..
(31) A jurisprudência faculta a resolução perante o não-cumprimento, particularmente na área
delicada da prestação de serviço: STJ 4-nov.-1999 (Herculano Namora), CJ/Supremo VII (1999) 3,
71-73 (72/II) (quebra de confiança; vide, ainda, RLx 11-nov.-1999 (Silva Pereira), CJ XXIV (1999) 5,
83-85 (85/II) (aluguer de automóvel); STJ 9-mai.-2006 (Urbano Dias), CJ/Supremo XIV (2006) 2,
67-73 (71-72) (violação do dever acessório relativo ao destino contratual a dar ao imóvel comprado);
STJ 4-jun.-2013 (HELDER ROQUE), Rev. 4817/11 = Sumários, 2013, 407.
458 ANTóNIO MENEzES CORDEIRO

12. Situações resolúveis


I. A resolução por incumprimento assenta nalguns pressupostos,
sobre os quais, de resto, se fazem sentir diversas ampliações. Assim, cabe
esclarecer: (1) o tipo de contrato em causa; (2) o âmbito da violação; (3) a
eventual necessidade de culpa.

II. Tipo de contrato. O art. 432.º/1 não limita a resolução por


incumprimento aos contratos sinalagmáticos, bilaterais ou com prestações
recíprocas(32). Com efeito, a resolução por incumprimento é possível rela-
tivamente a contratos unilaterais(33) (assim, o art. 1150.º, quanto ao mútuo)
e, mesmo, gratuitos (966.º, quanto à doação). A restrição do art. 432.º/2
tem o preciso âmbito de aplicação que dela resulta: não obriga a que, para
haver resolução, surja a bilateralidade: quando a haja, é que deve ser pos-
sível a restituição. A resolução fundada em convenção assume, a fortiori, o
âmbito que as partes lhe tenham atribuído.

III. Cabe determinar o âmbito do incumprimento relevante para a


resolução. Podem estar em causa: (a) inexecução ou má execução da pres-
tação principal; (b) a inexecução de prestações secundárias ou a sua execu-
ção defeituosa; (c) a violação de deveres acessórios, com relevo para os
que sustentam a confiança. Mais precisamente:
(a) Prestação principal: a sua inexecução constitui o ponto de partida
histórico para a resolução, com focagem em cenários sinalagmáti-
cos. Há, aí, uma quebra básica da relação, que justifica o termo do
contrato. Uma execução defeituosa ou insuficiente dessa mesma
prestação pode colocar o contratante fiel numa situação paralela à
resultante de uma pura inexecução. O art. 802.º/1 confirma esta
orientação, facultando a resolução perante a impossibilidade parcial.
(b) Prestações secundárias: a sua inobservância coloca questões equi-
paráveis à execução defeituosa da prestação principal. Assim, se o

(32) Ao contrário do 1453.º/1 do Código italiano, que a reporta a contratos com prestações
correspetivas. A doutrina italiana tem feito um esforço para alargar esse âmbito: apela, designada-
mente, aos 1323.º e 1324.º que alargam, respetivamente, os dispositivos contratuais típicos aos demais
contratos e aos atos unilaterais.
(33) Nesse sentido, PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil anotado I, 4.ª ed. (1987), 409,
chamando a atenção para a diferença relativamente à exceção do contrato não-cumprido onde surge a
restrição aos contratos bilaterais (428.º). Todavia, parecendo reportar a resolução a obrigações com
prestações recíprocas, ainda que sem excluir as demais, LUíS MENEzES LEITÃO, Direito das obrigações, 2,
12.ª ed. (2018), 103.
DA RESOLUÇÃO DO CONTRATO 459

fornecedor de um equipamento inovatório não explicar como fun-


ciona, a aquisição torna-se inútil para o comprador.
(c) Os deveres acessórios, quando inobservados, permitem a resolu-
ção, designadamente quando isso origine uma perda de con-
fiança(34). Determinados contratos, particularmente quando origi-
nem prestações duradouras e envolvam condutas pessoais —
pense-se no exemplo paradigmático dos acordos parassociais —
exigem lealdade e previsibilidade mútuas. Uma quebra nesse
domínio pode tornar inexigível a continuação da relação, sendo a
resolução o meio adequado para lhe pôr termo. Tal sucede
perante uma violação significativa do dever de sigilo.

13. Circunstâncias relevantes

I. A doutrina e a jurisprudência exigem, para a resolução, um ina-


dimplemento de grau significativo(35). Essa decorrência da boa-fé é confir-
mada pelo dispositivo do art. 808.º/1. Dele se infere que, mesmo perante o
não-cumprimento da obrigação principal, o credor só pode resolver o con-
trato havendo mora e, ainda então(36): (a) se o credor perder o interesse
que tinha na prestação (n.º 1), objetivamente apreciada (n.º 2); ou (b) se for
ultrapassado o prazo razoável derivado da interpelação admonitória
(n.º 1). Admitimos, em casos especiais como o da fixação, ab initio, de um
prazo definitivo ou o da declaração eficaz, feita pelo devedor, de que não
irá cumprir: o procedimento da interpretação admonitória é dispensável.

II. Nos contratos coligados ou uniões de contratos: a resolução é


ainda possível quando, em face de contratos coligados ou uniões de contra-
tos, um deles se impossibilite ou seja inadimplido. A dispersão de clausula-
dos atinentes a acervos de interesses unitários é, por vezes, uma pura deci-
são formal. Além disso, diversos contratos podem estar em situações de
interdependência: tão fortes que não fazem sentido ou não são totalmente

(34) Em especial, JOÃO BAPTISTA MACHADO, Pressupostos da resolução por incumprimento, n.º 5
(138 ss.). Quanto ao cumprimento inexato, idem, n.º 10 (168 ss.).
(35) JOÃO BAPTISTA MACHADO, Pressupostos da resolução por incumprimento, n.º 4 (134 ss.);
RPt 20-fev.-2020 (Aristides Rodrigues de Almeida), Proc. 1902/17.
(36) JOÃO BAPTISTA MACHADO, Pressupostos, n.º 8 (158 ss.); vide JOSé CARLOS BRANDÃO PROENÇA,
A resolução do contrato, 114-117.
460 ANTóNIO MENEzES CORDEIRO

operacionais, no caso de faltar um deles. Deste modo e dependendo de uma


apreciação a fazer em cada caso concreto, o fundamento de resolução de
um dos contratos coligados pode justificar a resolução de todos eles.

III. A culpa é dispensável. A resolução opera para proteger um vín-


culo sinalagmático ou para defender os valores subjacentes ao contrato
considerado: de tal modo que a sua manutenção não vá agravar a situação
do contratante fiel. Por isso, ela não exige a culpa do devedor inadim-
plente(37). Desde logo, a não-exigência de culpa resulta do art. 793.º, que
permite a resolução em face de impossibilidade parcial não-imputável ao
devedor; a fortiori, ela opera perante a impossibilidade total, cabendo
interpretar, nesse sentido, o 795.º/1. Outros preceitos depõem na mesma
linha, tal como o art. 1050.º (resolução pelo locatário). Na resolução há um
juízo de inadimplemento, porventura causado por forças estranhas e que
justifica a não-continuação do contrato. Não se pretende imputar um dano
nem, muito menos, censurar ou punir o inadimplente.

IV. Questão diversa é a da associação — por certo que frequente, mas


não necessária — da resolução a danos imputáveis, com culpa e, daí, à respon-
sabilidade civil. O art. 801.º, relativamente à impossibilidade culposa imputá-
vel ao devedor, começa por responsabilizá-lo, (…) como se faltasse culposa-
mente ao cumprimento da obrigação (n.º 1). Só depois acrescenta que,
independentemente de indemnização, o credor pode resolver o contrato (n.º 2).
Quando ocorra uma situação de resolução e esta seja adequadamente atuada,
cabe indagar os pressupostos da responsabilidade civil. Podem não se verifi-
car: desde logo quando não se mostre qualquer dano ou sempre que o devedor
consiga ilidir a presunção de culpa/ilicitude que sobre ele recaia (799.º/1).
A resolução não deixa de ser eficaz. Veja-se o absurdo da opção contrária: o
devedor não cumpre, sem culpa, a sua prestação; o credor nada iria receber;
todavia, continuaria obrigado à contraprestação. E mesmo não se tratando de
um contrato com prestações recíprocas: a quebra da confiança (por exemplo),
mesmo objetiva, pode tornar, pela sua gravidade, inexigível o contrato.
A cumulação da resolução com a indemnização: é possível, sempre
que o incumprimento que conduza à resolução seja ilícito e reúna os
demais pressupostos. O tema é considerado em comentário ao 433.º.

(37) JOÃO BAPTISTA MACHADO, Pressupostos, n.º 2 (129 ss.); JOSé CARLOS BRANDÃO PROENÇA,
A resolução do contrato, 128-129 e 183 ss. Esta opção não tem nada de perigosamente inovativa: ela
já surgia em gUILHERME MOREIRA, instituições do Direito civil, 2, n.º 201 (662) e em ADRIANO VAz SERRA,
resolução do contrato, que não coloca a culpa como pressuposto de resolução.
DA RESOLUÇÃO DO CONTRATO 461

14. O fundamento da resolução

I. O fundamento da resolução foi sucessivamente, imputado: à


intenção presumida das partes; à causa dos contratos; à interdependência
das obrigações; a uma ideia de reparação. Todavia: apelar a intenções
presumidas, quando as mesmas não estejam vertidas num contrato — no
que seria uma retoma da cláusula resolutiva tácita — tem sempre uma
dimensão ficciosa. O fundamento da resolução apanha, muitas vezes,
todos os intervenientes desprevenidos; a noção de causa deve ser evi-
tada, pelas complicações que acarreta(38); a interdependência das obriga-
ções postula obrigações recíprocas, o que pode não suceder; a ideia de
reparação tem lugar havendo culpa e, ainda então, através da responsabi-
lidade civil.

II. A ideia de que a resolução seria mais uma manifestação do sina-


lagma funcional não se confirma, particularmente em face do 432.º/1: esse
preceito, ao invés do modelo italiano, não exige, para a resolução, contra-
tos com prestações recíprocas. A resolução é possível perante a violação de
prestações secundárias e de deveres acessórios, sendo de sublinhar a hipó-
tese da quebra de confiança.

III. A materialidade subjacente de cada contrato explica o direito


à resolução. Um contrato assenta na vontade comum das partes e, ainda,
na ordem jurídica que o reconheça e lhe dê a sua tutela. As partes ficam
adstritas ao que tenham assumido, bem como à projeção jurídica do
acordado. A referência à boa-fé, sempre importante, reflete-se na prote-
ção da confiança e no reconhecimento e tutela da estrutura económica
subjacente à situação contratual existente. Para além da estrita permuta
de prestações, existe uma realidade substantiva, de que todos se aperce-
bem e que deve ser tida em conta, na sua materialidade global. Havendo
fundamento, cabe à contraparte, pela resolução, afastar-se de um edifício
que, axiologicamente, já não corresponda ao que havia sido firmado
pelas partes.

(38) Tratado VII, 603-627; de resto, ela foi removida do próprio Código Civil francês pela
reforma de 2016; vide o nosso A reforma francesa do Direito das obrigações, RDC 2017, 9-29 (25).
462 ANTóNIO MENEzES CORDEIRO

IV. Traços do regime

15. Fundamento e exclusões

I. O art. 432.º/1 admite a resolução do contrato fundada na lei ou


em convenção. A resolução legal, além de normativamente legitimidada,
requer, ainda, um fundamento concreto. Funciona como remédio que
libera a parte, em face do inadimplemento da outra; além disso, é um meio
de pressão para que a parte faltosa cumpra.

II. A resolução convencional depende do que se tenha acordado.


Em regra, ela é associada a situações de inadimplemento. Uma resolução
totalmente discricionária será, em rigor, uma revogação ou uma denúncia.
Na interpretação das competentes cláusulas, as denominações adotadas
pelas partes não são vinculativas, embora possam ter utilidade coadju-
vante.

III. A exclusão da resolução surge referida no art. 432.º/2, ela fun-


cionaria contra a parte que, por circunstâncias não imputáveis ao outro
contraente, não possa restituir o que tenha recebido. Este preceito é delimi-
tado em função de regimes especiais e, ainda, de regras próprias de tipos
contratuais autónomos. Além disso, mercê da conjugação com o art. 434.º,
ela deve ser interpretada restritivamente.

IV. Ocorrem delimitações. Assim, temos: (a) Regimes especiais:


com exemplo nos relativos às impossibilidades não-imputável (795.º/1),
imputável ao credor (795.º/2) e imputável ao devedor (801.º/1): aplicam-se
as normas competentes, em detrimento da manutenção simples do con-
trato; (b) Tipos contratuais: implicam regimes diferenciados de resolução,
por vezes dotados de princípios próprios(39): prevalecem, nos termos que
deles resultem.

V. Impõe-se, ainda, uma interpretação restritiva. O art. 434.º, rela-


tivo à retroatividade da resolução, ressalva: (a) a vontade das partes; (b) a
finalidade da resolução; (c) os contratos de execução continuada ou perió-
dica, salvo certas circunstâncias. Em todos esses casos, não há que restituir
o que tiver sido prestado: a exclusão do art. 432.º/2 perde aplicação.

(39) O seu elenco civil foi referido supra, n.º 10.


DA RESOLUÇÃO DO CONTRATO 463

16. A “equiparação” à invalidação

I. O art. 433.º equipara a resolução, quanto aos seus efeitos, à nuli-


dade ou (sic) anulabilidade do negócio jurídico. O anteprojeto Vaz Serra,
no seu 2.º (efeito da resolução entre as partes), propôs, no n.º 1(40):
A resolução do contrato extingue, entre as partes, a relação contratual e tem,
entre elas, efeito retroativo, salvo se isso contrariar a intenção das mesmas partes ou
a finalidade da resolução.

Na 1.ª Revisão Ministerial, o preceito passou ao art. 390.º/1, termi-


nando em “efeito retroativo”(41). Na 2.ª Revisão (433.º), houve um volte
face: abandonou-se a ideia simples da extinção entre as partes, a favor da
aproximação aos efeitos da nulidade ou anulabilidade e removeu-se a refe-
rência à retroatividade, que passou para o artigo seguinte(42). A redação,
praticamente definitiva, passou ao Projeto (433.º), sempre com a epígrafe
“efeitos”(43). Apenas na versão promulgada ocorreu a epígrafe atual: “efei-
tos entre as partes”.

II. O art. 433.º, vítima da inflexão perfilhada na 2.ª Revisão, sem


reflexões conhecidas, contrárias ao estudo de Vaz Serra e ao art. 1458.º/1
do Código italiano, preceito dador, consagrou uma equiparação problemá-
tica. No plano interno, não há paralelo possível “à nulidade ou anulabili-
dade”: a primeira é um vício intrínseco, com um regime matemático
(286.º), enquanto a segunda deixa intacto o negócio, salvo o direito potes-
tativo reconhecido a uma das partes de o impugnar, com uma série de limi-
tes (287.º). Além disso, o preceito terá querido dizer “equiparada, quanto
aos seus efeitos, à declaração de nulidade ou à anulação”.
A equiparação determinada não pode, ainda no plano interno, ser
completa: a invalidação dá corpo a vícios genéticos do negócio, enquanto
a resolução tem a ver com superveniências(44). Daí, de resto, derivam regi-
mes distintos, com valorações próprias.

(40) ADRIANO VAz SERRA, resolução do contrato, BMJ 68 (1957), 195-226 (281); idem, Direito
das obrigações (1960), (634.º/1), 520-521.
(41) BMJ 119 (1962), 40.
(42) 2.ª revisão ministerial (1965), 14.
(43) Projecto de Código Civil (1966), 127.
(44) ADRIANO VAz SERRA, anot. a STJ 28-nov.-1975 (EDUARDO ARALA CHAVES), RLJ 109 (1977),
360-364, idem, 365-368 (365/II), aparentemente acolhido pelos próprios PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA,
Código Civil anotado, I, 4.ª ed. (1987), 410.
464 ANTóNIO MENEzES CORDEIRO

III. Finalmente: a epígrafe do art. 433.º limita o preceito aos “efei-


tos entre as partes”. Todavia, os efeitos da “nulidade ou anulabilidade”
transcendem esse círculo: são oponíveis a terceiros, salvo efeitos deriva-
dos da usucapião, do registo predial ou da boa-fé comercial. O 435.º vem,
depois, consignar um regime diverso, o que mais fragiliza a surpreen-
dente equiparação levada a cabo pela 2.ª Revisão. Estamos, pois, numa
área em que o cinquentenário do Código permite uma evolução jurí-
dico-científica.

17. A relação de liquidação

I. As dúvidas suscitadas pela recondução (apressada) da resolução


à invalidação, o aprofundamento da ciência jurídico-civilística em torno
da relação obrigacional complexa e as reflexões geradas pelo funciona-
mento prático da resolução, levaram a um reposicionamento deste insti-
tuto. Em 1921, Heinrich Stoll (1891-1937) apresentou uma revisão da
resolução: esta não visaria uma pura e simples extinção do contrato mas,
tão-só, a sua transformação. A relação contratual passa, pela resolução, a
uma relação de liquidação(45).

II. A doutrina de Stoll fez o seu caminho, sendo hoje geralmente


admitida na literatura alemã. A proximidade com a Ciência e o Direito
nacionais permitem a sua receção, ainda que com adaptações. Sublinha-
mos as proposições seguintes: (1) a resolução extingue os deveres de
prestar principais; (2) a obrigação contratual do início subsiste, todavia,
apoiada em eventuais deveres de prestar secundários e em deveres aces-
sórios; (3) os deveres de prestar são substituídos por deveres de restitui-
ção, moldados, ainda que, porventura, pela negativa, sobre os deveres
de prestação principais; (4) os deveres de restituição podem, por seu
turno, ser substituídos por deveres de entrega de valores equivalen-
tes(46), quando a devolução não seja possível; (5) finalmente, na obriga-
ção, no seu conjunto, podem ser inseridos deveres de indemnização,
quando o facto justificativo da resolução seja, também, ilícito, culposo e
danoso.

(45) Elementos: Tratado, IX, 3.ª ed., 930-933.


(46) STJ 26-mai.-2009 (MOREIRA ALVES), CJ/Supremo XVII (2009) 2, 81-83 (83/I).
DA RESOLUÇÃO DO CONTRATO 465

III. Da resolução resulta uma relação de liquidação(47). Essa rela-


ção mantém-se enquadrada na relação obrigacional complexa inicialmente
constituída, reforçada pelos deveres acessórios. Sem a referência perma-
nente ao contrato resolvido, não se torna possível determinar o sentido do
desenvolvimento subsequente à resolução. A esta luz, a referência a uma
retroatividade da resolução visa, no fundamental, precisar os termos da
sequência: não é possível mexer no passado. Deve ainda ficar claro — e
este ponto pertence ao acervo do Direito das obrigações dos nossos dias —
que a retroatividade da resolução não implica o desfazer de quanto adveio
do contrato atingido. Trata-se, apenas e com as limitações que a própria lei
aponta, de desfazer as prestações principais. Este tema releva para o cál-
culo da indemnização que venha a ter lugar.

18. Resolução e indemnização

I. A resolução, designadamente quando levada a cabo por incum-


primento, não apaga, em regra, os danos causados pelo inadimplente. Há
que articulá-la com um dever de indemnizar. Uma orientação tradicional,
que remonta à doutrina da cláusula resolutiva tácita, dá um relevo dogmá-
tico à afirmação, de resto legal, da sua eficácia retroativa. A aproximação
da resolução à nulidade ou à anulação do próprio contrato reforça essa
ideia: ela determinaria que, feita a competente declaração, tudo se passasse
como se não tivesse havido qualquer fonte para os contratos envolvidos.
Assim sendo, a resolução motivada por um inadimplemento ou por uma
impossibilidade imputável ao devedor teria apenas como efeitos, além da
supressão retroativa do contrato, o de fazer correr, pelo responsável, os
custos e despesas provocados pela contratação falhada. Temos o interesse
negativo, eventualmente majorado com o valor dos negócios perdidos com
outros potenciais contratantes.

II. As consequências podem ser endossadas ao contratante fiel.


Segundo o art. 1184.º do Código francês, a parte perante a qual o contrato
não tenha sido executado tem a escolha de ou forçar a outra à execução da
convenção quando ela seja possível ou de pedir a sua resolução, com per-
das e danos. Ao optar pela resolução, a parte fiel prescindiria das benesses

(47) RCb 6-nov.-2007 (JORgE ARCANJO), CJ XXXII (2007) 5, 5-9 (7/I); Rgm 24-out.-2019 (ANI-
zABEL SOUSA PEREIRA), Proc. 9217/15.
466 ANTóNIO MENEzES CORDEIRO

representadas pela execução do contrato, libertando-se igualmente dos


encargos que, para si, ela representaria. A indemnização, no caso de reso-
lução, visaria reconstituir o statu quo ante: limitar-se-ia às despesas, à
depreciação da prestação restituída ou ao valor dessa prestação, quando a
restituição em espécie não fosse possível, aos frutos e a outros elementos
circundantes. A chave desta solução está na apregoada retroatividade.

III. No atual Direito das obrigações, a retroatividade da resolução


levanta um claro mal-estar. O Direito alemão ultrapassou o problema pro-
clamando, após a reforma de 2001/2002, que a impossibilidade não con-
duz à extinção da obrigação; por seu turno e como vimos, a resolução não
extingue a relação obrigacional: apenas a transforma. No Direito francês,
também a retroatividade tem sido criticada. Afinal, não se pode colocar
num mesmo plano o contrato nulo ou anulado e o contrato legítimo, livre-
mente concluído pelas partes e que uma delas decidiu inadimplir ou
impossibilitar(48).

IV. O incumprimento da obrigação dá lugar à indemnização


(798.º), devendo ser reconstituída a situação que existiria se não se tivesse
verificado o evento que obriga à reparação (562.º). O evento que obriga à
reparação é o incumprimento: não o surgimento da obrigação inadimplida,
embora seja evidente que, sem esta, nada teria sucedido. O juízo negativo
recai sobre o desrespeito pela obrigação e não sobre a existência da obriga-
ção. Estas considerações devem estar presentes em todo o desenvolvi-
mento posterior, para prevenir desenvolvimentos linguísticos.
Havendo resolução por incumprimento, não basta suprimir o con-
trato; é ainda necessário indemnizar a parte fiel, caso ela tenha sofrido
danos. Tal a regra do Código francês (1184.º/2), do § 325 BgB(49),
do 1453.º/1 do Código italiano e dos 45.º/II e 81.º/I, 1, da Convenção de
Viena sobre a Compra e Venda Internacional. Todas as vantagens legítimas
de que o contraente fiel foi despojado devem ser indemnizadas, incluindo
as que adviriam do regular cumprimento do contrato: o chamado interesse
positivo. As despesas e maiores reforços são também contabilizados, evi-
tando-se duplicações(50).

(48) Elementos: Tratado, IX, 3.ª ed., 937-938.


(49) Que dispõe: O direito de, num contrato com prestações recíprocas, exigir uma indemniza-
ção não é excluído pela resolução.
(50) Quanto à evolução dos interesses negativo/positivo e à sua superação, com indicações:
Tratado, IX, 3.ª ed., 940-949.
DA RESOLUÇÃO DO CONTRATO 467

V. O Código Civil não refere expressamente a resolução, a propó-


sito do incumprimento. Por isso não preserva, em geral, a indemnização,
no caso de resolução. Fá-lo, todavia, no art. 801.º/2, a propósito da impos-
sibilidade culposa, em termos muito claros:
Tendo a obrigação por fonte um contrato bilateral, o credor, independente-
mente do direito à indemnização, pode resolver o contrato e, se já tiver realizado a
sua prestação, exigir a restituição dela por inteiro.

O direito à indemnização é ressalvado sem limitações, com ênfase,


sendo mesmo anteposto à resolução. Trata-se de um ponto exegético, não
decisivo, mas com alguma relevância.

VI. Mau grado alguma pressão doutrinária em contrário, a jurispru-


dência admite, nos casos de resolução, a indemnização (também) pelo
interesse contratual positivo. Assim, nos dois últimos anos:
STJ 17-mai.-2018: a resolução do contrato é compatível com a indemnização pelo
interesse contratual positivo, que só não será admitida quando revele um dese-
quilíbrio grave na relação de liquidação ou se traduza em benefício injustifi-
cado para o credor, podendo à luz do princípio da boa fé, hipótese em que se
indemnizará antes pelo interesse contratual negativo(51);
rGm 15-nov.-2018: no quadro dos desenvolvimentos mais recentes da doutrina e da
jurisprudência, é de considerar, em tese, admissível a cumulação da resolução
do contrato com a indemnização dos danos por violação do interesse contra-
tual positivo, não alcançados pelo valor económico das prestações retroativa-
mente aniquiladas por via resolutiva(52);
rPt 11-fev.-2020: considera que o interesse positivo apenas poderia ser atendido em
casos muito excecionais(53);
rCb 4-mai.-2020: a indemnização, em caso de cumulação com a resolução deve
colocar o dono da obra na situação em que estaria se o contrato tivesse sido
cumprido(54).

As oscilações que perturbam uma evolução geral modernizadora


ficam a dever-se ou a particularidades do caso concreto ou ao uso de dou-
trina restritiva, em regra antiga. Para evitar tais riscos recomenda-se, em
regra, que se evite recorrer à resolução por incumprimento: antes à exce-
ção do contrato não-cumprido, associada ao pedido de condenação na exe-

(51) STJ 17-mai.-2018 (MARIA DA gRAÇA TRIgO), Proc. 567/11.


(52) Rgm 15-nov.-2018 (MARIA JOÃO MATOS), Proc. 5102/07.
(53) RPt 11-fev.-2020 (ANABELA DIAS DA SILVA), Proc. 16093/16.
(54) RCb 4-mai.-2020 (BARATEIRO MARTINS), Proc. 4581/15.
468 ANTóNIO MENEzES CORDEIRO

cução do contrato. Cada caso deve ser ponderado cuidadosamente por um


advogado ou por um consultor experiente. O conceptualismo deve ser
combatido no terreno.

19. A retroatividade

I. A retroatividade era apresentada como a consequência da supres-


são ex tunc do contrato (Vaz Serra). A opção (tardia) do Código pela equi-
paração à invalidação reforçou uma ideia de aparente retroatividade. Esta,
todavia, tem vindo a ser atenuada, na doutrina e na jurisprudência(55).
Temos: (1) delimitações legais; (2) eficácia modificativa.

II. Quanto a delimitações legais(56): a retroatividade não opera: (a)


se contrariar a vontade das partes, seja ela expressa no próprio contrato,
em acordo subsequente ou resultante, simplesmente, da interpretação ou
da integração(57); (b) se a isso se opuser a finalidade da resolução: p. ex.,
fazer face a um incumprimento ou a uma impossibilidade parciais; (c) se
estiverem em causa, nos contratos de execução continuada ou periódica,
prestações já efetuadas(58); esta hipótese deve ser conjugada com o
art. 432.º/2(59) e com o próprio art. 434.º/1, in fine, sendo patente a possi-
bilidade de ocorrerem sobreposições; ainda esta hipótese comporta uma
exceção (à exceção): a de entre as prestações já efetuadas e a causa da
resolução ocorrer um vínculo que legitime a resolução de todas elas: será o
caso de um fornecimento tornado inútil por deficiência dos bens forneci-
dos, relativamente aos já entregues.

III. A eficácia modificativa da própria resolução recorda que a rela-


ção “extinta” se converte, na realidade, numa relação de liquidação. A efi-
cácia “retroativa” deixa esta intacta. Em suma: a “retroatividade” da reso-
lução deve ser tomada em termos relativos e delimitados.

(55) STJ 17-mai.-2018 (MARIA DA gRAÇA TRIgO), Proc. 567/11: “haverá que relativizar a eficácia
retroativa da resolução”.
(56) STJ 15-fev.-2018 (TOMé gOMES), Proc. 7461/11; STJ 11-abr.-2019 (ANTóNIO JOAQUIM
PIÇARRA), Proc. 622/08; RCb 28-mai.-2019 (ALBERTO RUÇO), Proc. 5755/19; STJ 12-set.-2019 (OLIVEIRA
ABREU), Proc. 50/17.
(57) REv 15-mar.-2007 (SILVA RATO), Proc. 247/07, considerando mesmo que a retroatividade
se presume querida pelos contratantes.
(58) STJ 12-set.-2013 (AzEVEDO RAMOS), Proc. 1942/07.
(59) E tendo ainda em mente o 289.º/2.
DA RESOLUÇÃO DO CONTRATO 469

V. Aspetos práticos
20. O exercício
I. A resolução efetua-se, na sequência de Vaz Serra, mediante uma
declaração à outra parte (436.º/1). O Código optou pelo sistema da resolu-
ção extrajudicial, à semelhança do BgB (atual § 349). Contrapõe-se ao
esquema tradicional napoleónico, que previa, perante a “condição resolutiva
tácita”, o recurso ao juiz (1184.º/3): uma situação revista pela reforma
de 2016(60). Apenas por exceção, como sucede no caso do arrendamento
urbano, quando a resolução caiba ao senhorio e nalguns casos, se impõe o
recurso ao tribunal (1084.º/1). A solução extrajudicial é, em regra, a única
viável: de outro modo, toda a rapidez e funcionalidade que se pretende reti-
rar da imediata remoção dos contratos inadimplidos ficaria posta em causa.
A solução dos despejos urbanos, justamente pelas demoras e pelas cautelas
que envolve, visa a tutela dos arrendatários, dentro de uma lógica vinculís-
tica. A resolução extrajudicial, por razões elementares de coerência sistemá-
tica, deve aplicar-se à declaração de nulidade e à anulação: ambas podem
ser feitas, num primeiro tempo, por declaração extrajudicial, cabendo o
recurso ao tribunal apenas no caso de uma controvérsia subsequente(61).

II. A lei não prescreve uma forma para a resolução(62): isso embora
a locução do art. 436.º/1, “declaração à outra parte”, permita inferir uma
comunicação escrita ou equivalente. Uma declaração de resolução vai
alterar (profundamente) o contrato a que respeite. Vale, pelo menos, tanto
quanto uma “estipulação posterior”, na linguagem do art. 221.º/2. Em
regra, ela deveria seguir a forma do próprio contrato a resolver, uma vez
que a “razão determinante da forma” lhe é, seguramente, aplicável. Os
contratos escritos são resolvidos por escrito. Quanto a formas mais solenes
— escritura pública ou equivalente — parece razoável exigir, para a reso-
lução, uma forma escrita autenticada. Todavia, há que ter em conta a exis-
tência de regras especiais, previstas para certos tipos contratuais.

III. Verificados os pressupostos, a lei não fixa um prazo para a


resolução(63). Ressalvada fica a hipótese de uma caducidade convencional,

(60) O referido 1226.º, resultante da Reforma de 2016, admite que o credor resolva o contrato
por simples notificação.
(61) O nosso Código Civil Comentado, I (2020), 286.º, anot. 12-16.
(62) PEDRO ROMANO MARTINEz, Da cessação do contrato, 3.ª ed., 169-175.
(63) ADRIANO VAz SERRA, resolução do contrato, n.º 9 (247-249).
470 ANTóNIO MENEzES CORDEIRO

particularmente oportuna na presença de uma cláusula resolutória. Toda-


via, não pode a contraparte ficar indefinidamente à espera que o direito de
resolução venha a ser efetivado. Daí a solução do art. 436.º/2: pode essa
parte fixar ao titular do direito de resolução um prazo razoável para que
resolva, sob pena de caducidade. Além disso, no caso de exercícios retar-
dados, de tal modo que tenha sido criada uma confiança legítima de que a
resolução não seria atuada, pode verificar-se uma suppressio ex bona fide.

IV. Em termos técnicos, a resolução apresenta-se como um direito


potestativo: o que assista a uma das partes de, perante um incumprimento,
uma impossibilidade ou uma alteração das circunstâncias, invocar o suce-
dido e manifestar a vontade de pôr termo ao contrato. Como alternativa: a
resolução pode advir da concretização de uma cláusula resolutória, inse-
rida, pelas partes, no contrato, para a eventualidade de ocorrer o facto jus-
tificante. Em qualquer dos casos, a resolução depende da livre vontade de
quem, dela, se queira prevalecer e, ainda, da verificação do facto que dê
lugar ao direito potestativo de o fazer. A vontade deve ser dirigida à
supressão do contrato, com tendenciais efeitos ex tunc, isto é, retroativos.
O direito potestativo à resolução, uma vez constituído, deve ser exer-
cido, para produzir efeitos. O seu beneficiário faz, em regra, uma pondera-
ção quanto ao fundamento e um juízo de oportunidade económica. Pode
não lhe convir restituir o que ele próprio haja recebido ou pode entender
conveniente manter uma relação mais ampla com a contraparte, evitando
situações potencialmente litigiosas. Querendo exercê-lo, não há liberdade
de estipulação: ou exerce, ou não exerce. Tecnicamente, temos um ato jurí-
dico stricto sensu. Em especial: a resolução não pode ser sujeita a uma
condição resolutiva, sob pena de deixar na incerteza o seu alcance(64).

V. O direito à resolução não pode ser parcialmente exercido. Essa


eventualidade é possível: mas apenas com o acordo da contraparte. Na
falta deste, o titular ou resolve, ou não resolve. Não pode escolher o
melhor dos dois mundos. De outro modo, a segurança do comércio jurí-
dico ficaria afetada, enquanto o beneficiário receberia um potencial de
vantagens que nem o contrato nem a lei lhe reconhecem. A aplicação, à
resolução, de institutos paralelos aos da redução (292.º) e da conversão
(293.º) requereriam, sempre, o acordo da outra parte: iriam colocar esta

(64) No anteprojeto VAz SERRA (636.º/1), explicitava-se que a resolução não poderia ser condi-
cional; hoje, essa solução prevalece pelos princípios gerais; DAVID NUNES DOS REIS, A (in)eficácia extin-
tiva da resolução ilícita de contratos, 644 ss., refere “resolução ilícita”.
DA RESOLUÇÃO DO CONTRATO 471

perante uma situação de tipo contratual com a qual, de todo, ela poderia,
legitimamente, não contar.

VI. O direito à resolução não pode ser antecipadamente renun-


ciado. Temos o princípio da irrenunciabilidade antecipada aos direitos(65),
especialmente consignado no art. 809.º. Depois de constituído, o direito é
disponível; estamos no campo patrimonial privado, para mais no domínio
do Direito das obrigações, marcado pela liberdade contratual.

21. O exercício indevido

I. A resolução implica uma justificação ou fundamento. Quando


efetuada, extrajudicial ou judicialmente(66), ela deve indicar sumariamente
os factos em que se alicerça, de modo a que possam ser reconhecidos pelo
devedor. Quando subsequente à ultrapassagem de um prazo admonitório, a
fundamentação pode ser dispensada. Pergunta-se o que sucede quando ela
seja indevidamente exercida(67) e, designadamente, quando os factos em
que se apoie não sejam exatos ou quando se mostrem inadequados ou insu-
ficientes para a resolução. Podemos ainda acrescentar a resolução abusiva:
o resolvente cria uma expectativa legítima e justificada de que não irá
exercer a resolução e depois, sem nenhuma superveniência justificativa,
resolve o contrato: temos um venire contra factum proprium.

II. Perante o silêncio do Código, há várias orientações(68). Romano


Martinez explica que a resolução ilícita, pelo regime comum (295.º
e 280.º/1), deveria ser nula; todavia, uma vez que ela se inclui no todo
complexo do contrato, a consequência é a do incumprimento do próprio
negócio a que tenha pretendido pôr cobro: salvo regimes especiais, como o
do contrato de trabalho(69). António Pinto Monteiro já havia tomado uma
posição semelhante, no domínio da agência: embora a pura ineficácia da
resolução fosse lógica, ela não é praticável. Dada a natureza extrajudicial

(65) Tratado VI, 3.ª ed., 68-69.


(66) E, aí, por ação ou por exceção.
(67) Na terminologia de JOANA FARRAJOTA, A resolução do contrato sem fundamento, 49 seria
uma resolução infundada ou sem fundamento.
(68) JOANA FARRAJOTA, A resolução do contrato sem fundamento, 50 ss., apresenta um quadro
com as principais posições nacionais.
(69) PEDRO ROMANO MARTINEz, Da cessação do contrato, 3.ª ed., 209.
472 ANTóNIO MENEzES CORDEIRO

do exercício da resolução, apenas passado muito tempo seria possível


obter, do juiz, uma declaração da “continuidade” do contrato, retirando-lhe
o seu sentido, mas constitui um incumprimento deste(70). Brandão
Proença, a propósito do contrato-promessa, vê, na resolução infundada,
uma forma de incumprimento(71), sendo eficaz nessa medida, numa opção
generalizada por Assunção Cristas, dada a regra de que o contrato se extin-
gue por mero efeito da declaração resolutiva(72).

III. Noutra linha, Baptista Machado considera que a própria exis-


tência de um direito de resolução depende do seu fundamento(73). Indo
mais longe, Paulo Mota Pinto entende que a resolução infundada é inefi-
caz, uma vez que o resolvente não é titular do correspondente direito
potestativo; logo, o juiz declararia a subsistência do contrato(74). Esta posi-
ção é acolhida por Joana Farrajota(75) a qual, todavia, vem depois a proce-
der a cuidadas delimitações, designadamente em função da confiança que
deva existir(76). Também David Nunes dos Reis opta pela ineficácia, res-
salvando regimes especiais, como o do contrato de trabalho e o de aquisi-
ção indevida de ações de sociedades e limitando a reposição do contrato
“ilicitamente resolvido” nos casos em que ela se mostre desproporcionada
ou contrária à boa-fé(77).

(70) ANTóNIO PINTO MONTEIRO, Contrato de agência, 7.ª ed. (2010), 138-139, com indicações
jurisprudenciais, e já em Direito comercial/Contratos de distribuição comercial (2001), 149 ss.
(71) JOSé CARLOS BRANDÃO PROENÇA, Do incumprimento do contrato-promessa bilateral/A duali-
dade execução específica-resolução. Est. Ferrer Correia (1987), 153-312 (241); em A resolução,
151-155, esse Autor não tomara uma posição clara.
(72) ASSUNÇÃO CRISTAS, É possível impedir judicialmente a resolução de um contrato?, Est. 10
anos FDUNL II (2008), 53-79 (63).
(73) JOÃO BAPTISTA MACHADO, Pressupostos da resolução por incumprimento (1979), obra dis-
persa 1 (1991), 125-193 (130-131); todavia (como nota JOANA FARRAJOTA, A resolução, 55), na anot. STJ
8-nov.-1983 (JOAQUIM FIgUEIREDO; vencido: AMARAL AgUIAR), RLJ 118 (1986), 271-274, idem, 271-282,
317-320 e 328-332 (332), BAPTISTA MACHADO aproxima a declaração ilícita de resolução de uma recusa
de cumprimento.
(74) PAULO MOTA PINTO, interesse contratual negativo, 2, 1675-1676, nota 4861.
(75) JOANA FARRAJOTA, A resolução, 54.
(76) idem, maxime 368 ss. (a síntese conclusiva).
(77) DAVID NUNES DOS REIS, A (in)eficácia extintiva da resolução ilícita de contratos, 654-655
(as conclusões).
DA RESOLUÇÃO DO CONTRATO 473

22. Valor da resolução infundada

I. Em face do Direito estrito, a resolução indevida é ineficaz. Não


se verificando os pressupostos — legais ou contratuais — de que ela
dependa, o resolvente não é titular do direito potestativo de que se arroga:
a declaração de resolução que ele emita é nula, por ilegitimidade. Poderia
ainda ser invocada a contrariedade à lei, bem como a impossibilidade jurí-
dica (280.º/1). Em termos valorativos, parece claro que um contrato não
pode ser alijado ad nutum, por qualquer das partes: exceto nos casos em
que ele próprio ou a lei admitam a denúncia ou a revogação unilateral.

II. Todavia, ao permitir, no seu art. 436.º/1, a resolução por simples


declaração à contraparte, o Código dá uma mensagem normativa que não
pode ser passada em claro. Com efeito, a lei deixa à apreciação do resol-
vente a ponderação dos requisitos em jogo. Este pode enganar-se. Quando
isso suceda, haverá que demonstrá-lo em tribunal: um ónus que cabe ao
devedor, sob pena de deitar por terra a resolução extrajudicial. Até que
haja uma sentença com trânsito em julgado, a resolução deve produzir os
seus efeitos: ou seria inútil. Nenhum contrato pode ficar muito tempo na
incerteza: seja pelos interesses do credor, seja pelos do devedor, seja pelos
da comunidade jurídica.

III. Nestas condições, em nome de uma interpretação integrada do


ordenamento, devemos considerar a resolução formalmente declarada
como eficaz. Ficam exceptuados os regimes especiais consagrados na lei,
que são numerosos(78). Se a resolução for indevida, há consequências que
transcendem a cessação do contrato(79). A saída para o problema reside no
verdadeiro sentido da resolução.

(78) Como exemplos: 886.º: na compra e venda, feita a entrega da coisa, o vendedor não pode,
salvo convenção em contrário, resolver o contrato por falta de pagamento do preço; 966.º: a resolução
da doação por não cumprimento dos encargos exige consagração contratual; 1007.º: a sociedade tem
regras próprias sobre a sua dissolução; 1047.º a 1050.º: a locação tem regras próprias, agravadas
quanto ao arrendamento (1083.º a 1087.º); 1150.º: o mutuante pode resolver o contrato se o mutuário
não pagar os juros; 1170.º: o mandato é revogável, sendo exigida justa causa, em certas circunstâncias;
1235.º: o beneficiário de renda perpétua pode resolver o contrato quando o devedor incorra em mora
de dois anos; 1242.º: idem, quanto à renda vitalícia. Além disso, o ponto sensível da resolução por
não-cumprimento exige a perda do interesse do credor ou o desrespeito pela interpelação admonitória
(808.º/1).
(79) Compete à parte interessada alegar e demonstrar a ilicitude da resolução: REv 19-
-dez.-2019 (RUI MACHADO E MOURA), Proc. 348/16.
474 ANTóNIO MENEzES CORDEIRO

IV. Hoje, sabemos que a resolução tem uma eficácia modificativa


da obrigação(80). Ela suprime as prestações principais, mantendo eventual-
mente as secundárias e, necessariamente, as acessórias. A resolução inde-
vida substitui a prestação principal por uma prestação indemnizatória: não
sendo fundada, ela implica um incumprimento presumivelmente culposo
(799.º/1). A prestação indemnizatória toma feições diferentes consoante o
tipo de contrato em causa. Assim: (1) contratos patrimoniais comuns ou de
prestações fungíveis: sendo a resolução indevida, a indemnização equiva-
lerá à execução do contrato, com eventual indemnização pela mora ou por
danos colaterais(81); (2) contratos pessoais ou que envolvam prestações
não-fungíveis: a resolução indevida pode determinar a extinção por impos-
sibilidade imputável ao credor (795.º/2): segue-se o competente regime;
(3) contratos que exijam uma relação de confiança mútua, do tipo dos
acordos parassociais ou de relações intuitu personae: a resolução indevida
impossibilita o cumprimento; o contrato cessa, seguindo-se o regime da
impossibilidade imputável ao devedor (801.º/1), equiparada ao inadimple-
mento.

(80) Supra, n.º 16.


(81) RLx 19-jun.-2018 (HIgINA CASTELO), Proc. 8174/15; STJ 22-nov.-2018 (HéLDER ALMEIDA),
Proc. 1559/13. No fundo, a solução equivale à afirmação de que a resolução indevida não impede a
execução do contrato, desde que a parte fiel mantenha interesse nessa execução e esta não seja exces-
sivamente onerosa para a parte que resolveu: STJ 8-jun.-2017 (SALAzAR CASANOVA), Proc. 7461/14; vide
RLx 21-jan.-2020 (JOSé CAPACETE), Proc. 9518/18.

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