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Cessão Financeira (Factoring)

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14/11/2021 15:02 CESSÃO FINANCEIRA (FACTORING)

ARS BANCÁRIA
Um blogue para "outsiders" e "insiders" da prática jurídica financeira e do sector financeiro em geral.

março 17, 2017

CESSÃO FINANCEIRA (FACTORING)


CONCEITO E CARACTERIZAÇÃO

O contrato de cessão financeira (factoring) é o contrato pelo qual uma entidade - o cliente ou
aderente - cede a outra -o cessionário financeiro ou factor - os seus créditos sobre um terceiro - o
devedor ou debitor - mediante uma remuneração, devendo ser celebrado por escrito (arts. 2º e 6º
do  Decreto Presidencial nº 95/11 de 28 de Abril e art. 8º do Aviso nº 15/2011 de 19 de Dezembro).
Este contrato pode ser estruturado em termos duais e em termos unitários. No primeiro caso, onde
 haverá um contrato-quadro que, depois, obrigará a celebrar diversas cessões de créditos.

No segundo, surgirá um único contrato de cessão de créditos futuros.

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O contrato de factoring apresenta-se como um contrato organizatório, isto é, um contrato que


conduz uma colaboração duradoura entre as partes, com vista à satisfação de interesses
respectivos. A cessão financeira integra-se, assim, num domínio heterogéneo, hoje, formado por
contratos tão diferentes como o franchising, a concessão, o consórcio e a própria empreitada.
Esta natureza organizatória do factoring explica a intensidade dos deveres de lealdade e de
colaboração que dela ressaltam para as partes. Além disso, ela documenta as especiais precauções
que acompanham a sua preparação e que precedem ou devem preceder a sua cessação.
O factoring é, ainda, um contrato oneroso (por pressupor contrapartidas), sinalagmático (por as
prestações das partes operarem como contrapartida umas das outras), consensual (por não implicar
a entrega de qualquer coisa e, ainda, por não estar sujeito a qualquer forma), duradouro (por
perdurar no tempo, não se extinguindo com o seu cumprimento) e de conteúdo atípico misto.
Quanto a este último, verifica-se que o factoring tem como elementos, uma promessa de venda de
créditos futuros, uma assunção de risco e a prestação de diversos serviços.

A cessão financeira é um negócio duradouro, que implica uma relação organizatória. Compreende-
se que ela exija um elevado nível de confiança entre os celebrantes. Na fase preparatória, há que
trocar informações, sendo que os elementos fornecidos pelo candidato a aderente devem ser
verídicos e suficientes, sob pena de culpa in contrahendo. No limite, o próprio contrato de cessão
financeira pode ser anulado por erro ou por dolo. Quanto ao factor, em princípio,   este será de
confiança uma vez que  se encontra sobre a fiscalização da entidade reguladora (neste caso, o BNA).

CONTEÚDO

Os contratos de factoring tendem a formar-se por adesão, sendo que, em regra, as sociedades de
factoring predispõem condições gerais que as partes se limitam a subscrever, embora, possam ser
acordados clausulados especiais.

Assim, é possível depreender, então, que este contrato, tal como ocorre com o leasing, é formado
por cláusulas gerais dos contratos.

Deste modo, o contrato de factoring compreenderá uma cláusula que preveja a entrega, para efeitos
de cessão, de todos os créditos do aderente ao factoring (princípio da globalidade); uma cláusula
que preveja o pagamento dos créditos tomados, com ou sem antecipação; uma cláusula que preveja
a obrigação de notificar o devedor da cessão operada: uma cláusula relativa ao dever do factor de
aceitar os créditos oferecidos; a remuneração do factor e a duração do contrato.

Pode ainda conter cláusulas que restrinjam os créditos a oferecer; cláusulas que regulem o regime
de pagamento de créditos e cláusulas que estabeleçam os precisos termos em que o factor deva
aceitar os créditos oferecidos; cláusulas remuneratórias (como a comissão de risco e juros pela
antecipação); cláusulas que permitam o factoring fechado; cláusulas que pormenorizem os serviços
a prestar pelo factor; cláusulas relativas à resolução do contrato por incumprimento; cláusulas de
duração, de renovação e de denúncia.

  Em certas modalidades de factoring, podem faltar cláusulas descritas como essenciais. Nesses
casos, é conveniente que as partes explicitem-no no contrato.

MODALIDADES

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De acordo com as funções presentes nos concretos contratos considerados, é possível distinguir:

-  Cessão financeira própria, o risco do incumprimento do terceiro devedor transfere-se para o


factor. Entre nós, esta modalidade é referida pela lei como cessão financeira sem recurso ou sem
direito de regresso (art. 2º e) do Aviso nº 15/2011 de 19 de Dezembro);

- Cessão financeira imprópria, o risco não se transfere para o factor, seja porque o factor só pagará
ao aderente após boa cobrança do crédito, seja que ele, na hipótese do incumprimento, dispõe de
um direito de   regresso contra o próprio aderente. Este, não traduz uma verdadeira cessão de
créditos, será, antes, um mútuo com restituição atípica (estruturalmente) ou um mandato. Entre
nós, esta modalidade é referida pela lei como cessão financeira com recurso ou cessão financeira
com direito de regresso (art. 2º d) do Aviso nº 15/2011 de 19 de Dezembro);

- Factoring multi-serviços, tem um núcleo centrado na cessão de créditos com escopo financeiro,
normalmente, agregará a transferência do risco e a prestação de diversos serviços;

- Factoring de serviços, corresponde ao maturity factoring norte-americano e postula a eliminação


das funções financeira e seguradora. O factor limita-se a assegurar a cobrança das facturas do
aderente e a prestar-lhe os serviços de contabilidade, de consultadoria e de acompanhamento que
tenham sido acordados. Embora, não exista aqui, em rigor, uma cessão de créditos, em termos
práticos, as facturas são cedidas, materialmente, ao factor;

- Factoring sem serviços, aqui, o factor desempenha, exclusivamente, um papel financeiro.

O factoring, consoante postule, ou não, a notificação ao devedor, há que distinguir:

- Cessão financeira aberta,   é notificado ao devedor cada acto concreto de cessão, concluído em
execução do factoring;

-  Cessão financeira fechada, esta não é dada a conhecer a terceiros. Em termos práticos, isso
significará que, visto o disposto no art. 583º nº1 do C.C, esta não produzirá efeitos perante o
devedor.

Funciona, então, como um esquema financeiro interno entre factor e cliente, além da componente
prestação de serviços.

O factoring fechado visa precaver o aderente contra os aspectos psicológicos nocivos que possa ter,
na praça considerada, o saber-se da sua "factorização";

Ainda, quanto as cláusulas que o contrato de cessão financeira poderá abarcar, é possível distinguir:

- Factoring total ou parcial,  consoante abranja todas as facturas do aderente ou apenas, as de certo
tipo. Este será determinado quantitativamente ou qualitativamente. Não sendo total, perde a sua
função de aliviar o aderente de serviços de cobranças e de contabilidade;

- Factoring em branco, obriga o factor a aceitar e a pagar ao aderente todas as facturas que este lhe

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envie;

- Factoring selectivo, confere ao factor a faculdade de aprovar as facturas que pague, remetendo as
demais para boa cobrança. Neste caso, o factor actuará como simples mandatário do aderente e não
como concessionário;

- Factoring interno ou internacional, consoante apresente conexões apenas com a ordem interna
ou, pelo contrário, também com outros espaços.

VANTAGENS E DESVANTAGENS

A cessão financeira é, antes de mais, uma forma de financiamento, a curto prazo, do aderente ou
cedente financeiro. Nessa medida, ela apresenta, entre outras, as seguintes vantagens:

-Confere maior liquidez à empresa: uma vez que faculta a imediata realização das facturas, a cessão
financeira dispensa ao aderente meios de pagamento que, de outro modo, só lhe seriam atribuídos
dentro de semanas ou meses;

-Incrementa a sua rendibilidade: dispondo de liquidez, a aderente pagará de imediato aos seus
próprios fornecedores, conseguindo, com isso, preços mais favoráveis; além disso, pressionada pela
própria lógica do factoring, ela tudo fará para colocar no mercado, rapidamente, os seus produtos,
de modo a conseguir emitir as almejadas facturas;

-Impulsiona a expansão: numa situação de perfeito equilíbrio, um contrato de factoring irá drenar,
atrás das comissões e dos ágios. para o factor, meios monetários que, a assim não ser, ficariam no
aderente; num cenário de expansão, porém, os custos do factoring serão repercutidos nas facturas
emitidas (para o futuro) e imediatamente liquidadas pelo factor; compreende-se que o factoring
interesse a empresas em expansão e , uma vez celebrado, impulsione essa mesma expansão;

-Limita o endividamento:   a empresa "factorizada" não recorre, em princípio, a créditos a curto


prazo; liberta, assim, os seus patamares bancários para operações de fundo, como créditos
imobiliários, para investimentos em bens duradouros;

-Favorece o balanço: a apresentação das contas da empresa "factorizada" é favorecida pelo


factoring: pense-se na diminuição do passivo; a empresa surge mais atraente, no giro comercial;

-Aumenta o fundo de maneio: justamente pelo aumento de liquidez e pela maior rendibilidade, a
empresa "factorizada" tenderá a apresentar um fundo de maneio mais amplo.

  A cessão financeira implica, depois - ou pode implicar, em função do clausulado adoptado - a


transferência de risco para o factor. Daí resulta, como especial vantagem, a diminuição dos riscos
para o aderente.
Assim, o aderente pode elaborar sem a insegurança das facturas não pagas; fica dispensado de
recorrer a outros esquemas destinados a enfrentar incumprimentos (seguros de crédito, provisões

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para incobráveis e especiais assistências jurídico-económicas); o aderente poupa nas medidas de


emergência destinadas a enfrentar incumprimentos.
Finalmente, o factoring está crescentemente implicado na prestação de serviços. Nesse domínio, a
empresa "factorizada" espera, designadamente, as seguintes vantagens: poder dispensar um
departamento de cobranças, passando para o factor todas as tarefas que lhe são inerentes, como o
envio da factura ao terceiro, as interpelações e o contencioso; passa para o factor, nos aspectos
materiais, a gestão da carteira de clientes; poder dispensar ou aligeirar o departamento de
contabilidade;   a avaliação da credibilidade de terceiros devedores é feita pelo factor que , em
princípio, está melhor colocado para esse efeito, uma vez que tem conhecimentos, experiência e
acesso a informações que lhe permitem uma melhor apreciação;   o factor pode, ainda, dispensar
informações sobre o mercado, sobre as suas tendências e sobre potenciais clientes, bem como
facilitar o acesso a mecanismos publicitários; no domínio da importação/exportação, o factor pode
ter um papel decisivo, quer pelo conhecimento de intermediários, transportadores, transitários,
seguradoras e outros serviços de apoio, quer por facilitar a integração no espaço de origem/destino
das mercadorias; o factor, em regra, vai integrar-se, ele próprio, num grupo mais amplo, com outros
operadores (banca, seguros, sociedades de leasing). O cliente "factorizado" passará a ter um acesso
privilegiado aos inerentes serviços do grupo.

No entanto, o factoring não é desprovido de inconvenientes, entre eles:

- Custos: no que se reporta a esta matéria, o factoring implica um produto relativamente caro. É
necessário pagar a comissão geral ao factor sobre o volume das facturas tratadas, comissão esta,
que oscila consoante os países, as empresas, os sectores e as próprias facturas, falando-se de
margens entre 1% e 3% e entre 3% a 5%. Depois, computa-se uma margem ou comissão de garantia
que funciona como prémio pelo risco assumido pelo factor e que pode, ou não, estar compreendida
na comissão acima referida. Há, ainda, que contar com os juros relativos as antecipações de capital
(cfr. art. 8º nº 1 do Decreto Presidencial nº 95/11 de 28 de Abril);

- Desvantagens na Gestão: a lógica das sociedades de factoring tenderá a ser financeira e não
comercial. A empresa "factorizada" pode ser levada a centralizar os seus produtos, evitando novos
mercados, porventura mais avançados mas com riscos. Outra desvantagem para a empresa
"factorizada", será a perda de experiências e valências, no tocante à gestão de facturas e dos clientes.
Perde a independência negocial perante o factor e uma vez que o factoring é um contrato total e
exclusivo, o que se traduz numa associação duradoura entre o factor e o aderente;

- Problemas psicológicos: muitas vezes, por falta de informação, grassa a ideia de que recorrem ao
factoring as empresas em dificuldades. Pode, por aí, diminuir a margem de manobra da empresa
"factorizada" com perdas, inclusive, para a credibilidade dos seus produtos. Reflexos psicológicos
negativos surgem também junto do terceiro devedor. Tendo contratado com uma empresa
fornecedora, o terceiro devedor ficará (possivelmente) desagradado quando, para o pagamento, seja
interpelado, por uma impessoal sociedade financeira. Além disso, tenderá a agir com uma rigidez
formal desagradável.

CONCLUSÃO

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Finalmente, importa referir que, apesar dos inconvenientes que levariam o terceiro devedor a optar
por uma empresa "normal" no lugar de uma "factorizada", isto não impede a existência de empresas
"factorizáveis", sendo que o factoring interessa a: empresas de média dimensão, uma vez que as de
pequena dimensão não têm margens de absorção dos custos do factor, enquanto as grandes têm
departamentos de cobranças e de contabilidade; empresas equilibradas, pois,  os desequilíbrios
estruturais ou sérios requerem medidas de saneamento que o factor, que actua apenas a curto
prazo e com conhecimentos de gestão limitados, não pode amparar; empresas que operem na área
de venda a grosso, já que as cobranças dirigidas a "consumidores finais" ou a pequenos clientes não
são rendíveis;  empresas com poucos capitais próprios,  que escolham a via da expansão; e a
empresas em sectores com margens confortáveis, que procurem absorver o acréscimo de custos
que implica.

Elaborado por: Dr. Elvis Barros

BIBLIOGRAFIA:

CORDEIRO, António Menezes - Direito Bancário, Coimbra, Almedina, 5ª ed.,


2015.

FERREIRA, António Pedro A.- Direito Bancário, Lisboa, Quid Juris, 2ª ed.,
2009.

LEITÃO, José Luís; MORAIS, Jorge Alves e RESENDE, Maria Adelaide-


Produtos Bancários e Financeiros, Lisboa, Publicações Europa-América, 2ª
ed., 2011.

LEGISLAÇÃO:

Decreto Presidencial nº 95/11 de 28 de Abril- Regulamento das Sociedades de


Cessão Financeira (Factoring).

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Aviso nº 15/2011 de 19 de Dezembro, do BNA- Regula o Contrato de Cessão


Financeira.

Código Civil.

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Elvis Barros

Licenciado em Direito
pela Universidade
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Autónoma de Lisboa e
Pós-Graduado em
Direito Bancário pelo
Centro de Investigação
de Direito Privado da
Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa,
autor do livro "O
Sistema Angolano de
Prevenção de
Branqueamento de
Capitais", um amante
de história e
brainstormer a tempo
inteiro.
LinkedIn:
https://www.linkedin.co
m/in/elvis-barros-
72052214a/

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