Moeda, Bancos e Crédito
Moeda, Bancos e Crédito
Moeda, Bancos e Crédito
Os Docentes:
Mbahú Isaac Cainda, Msc.
Juventina Fernandes, Msc.
João de Jesus Jeremias, Lic.
Paulo Victor da Costa, Lic.
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TEMA: MOEDA, CRÉDITO E BANCOS
Q.E.1 – INTRODUÇÃO
1.1 – TIPOS, FUNÇÕES E CARACTERISTICAS DA MOEDA.
1.2 – AS FUNÇÕES DO BANCO CENTRAL
Q.E.2 – OFERTA DA MOEDA
2.1 – MASSA MONETÁRIA, BASE MONETÁRIA E AGREGADOS MONETÁRIOS.
2.2 – INSTRUMENTOS DE POLÍTICA MONETÁRIA
2.2.1 – INSTRUMENTOS DIRECTOS E INSTRUMENTOS INDIRECTOS
2.3 – BANCO CENTRAL E GOVERNO
2.3.1 – CONVERGÊNCIA DE OBJECTIVOS
2.3.1.1 – EM CASO DE RECESSÃO
2.3.1.2 – NUMA SITUAÇÃO DE PLENO EMPREGO E INFLAÇÃO
2.4 – DIVERGÊNCIA DE OBJECTIVOS
2.4.1 – CONFLITO DURANTE A RECESSÃO
Q.E.3 – PROCURA DE MOEDA
3.1 – PROCURA DE SALDOS REAIS
3.2 – TEORIAS DA DEMANDA DA MOEDA
3.2.1 – TEORIA CLÁSSICA;
3.2.2 – TEORIA KEYNESIANA
3.2.3 – A TEORIA DE CAMBRIDGE
3.2.4 – ABORDAGEM DOS ESTOQUES
3.2.5 – A TEORIA DE MILTON FRIEDMAN.
OBJECTIVOS ESPECÍFICOS:
1- PERCEBER A FUNÇÃO DA MOEDA, SUAS CARACTERISTICAS E DO BANCO CENTRAL.
2- DISTINGUIR OS DIFERENTES AGREGADOS E INDICADORES MONETÁRIOS.
3- IDENTIFICAR OS FACTORES QUE AFECTAM A BASE MONETÁRIA.
4- DEFININIR O COEFICIENTE CIRCULAÇÃO-DEPÓSITO E A TAXA DE RESERVAS.
5- CONHECER OS INSTRUMENTOS DE POLÍTICA MONETÁRIA, SEUS EFEITOS E SUAS
APLICAÇÕES.
6- IDENTIFICAR COMO OS ECONOMISTAS EXAMINAM OS MOTIVOS QUE LEVAM OS
AGENTES ECONÓMICOS A PROCURAR E RETER ACTIVOS MONETÁRIOS.
7- IDENTIFICAR AS PRINCIPAIS TEORIAS SOBRE A DEMANDA DA MOEDA.
BIBLIOGRAFIA:
I. BÁSICA:
1- FISCHER ET ALI, MACROECONOMIA
2- JOÃO DAS NEVES, INTRODUÇÃO À ECONOMIA
3- ANA MARIA SOTOMAYOR & ANA CRISTINA LINO MARQUES, MACROECONOMIA,
UNIVERSIDADE ABERTA, LISBOA 2007.
II. COMPLEMENTAR:
1- FERNANDES MATEUS E LUÍS BOMFIM, UNIVERSIDADE CATOLICA DE ANGOLA
2- JOÃO FERREIRA DO AMARAL ET ALI, INTRODUÇÃO À ECONOMIA, ESCOLAR
EDITORA, 2ª EDIÇÃO, LISBOA, 2007.
3- JORGE PERES, CONTABILIDADE BANCÁRIA, UNIVERSIDADE LUSÍADAS, LUANDA,
2011.
4- MÁRIO NELSON MAXIMINO, MOEDA CRÉDITO E BANCOS, FACULDADE DE DIREITO
DA UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO, LUANDA, 2005.
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Q.E.1 – INTRODUÇÃO
1.1. TIPOS, FUNÇÕES E CARACTERISTICAS DA MOEDA
MOEDA
O que é a moeda?
Não há uma definição precisa, porem, podemos considerar:
Moeda como o conjunto de meios de pagamento directamente utilizáveis para
efectuar as liquidações de contas nos mercados de bens e serviços;
Moeda como todo o meio que serve para facilitar as trocas.
Moeda como activo detido pelos agentes económicos que confere o direito de retirar
um conjunto de bens e serviços numa economia onde a mesma tenha aceitação
generalizada.
TIPOS DE MOEDA
Existem dois critérios classificativos que permitem apreender os diferentes tipos de moeda:
O primeiro está relacionado com as formas da moeda, formas essas que
conheceram uma evolução descrita pela história monetária. Essas podem ser:
Moeda metálica (o cobre, o ferro, a prata e o ouro), que
desempenharam a função de mercadoria de referência, e passaram a
desempenhar as funções de instrumento de troca.
Notas de Banco ou Moeda de Papel
Moeda papel – emitida pelos ourives, contra o depósito da
devida quantidade de metal precioso (ouro ou prata)
Papel- moeda - notas sem uma correspondente cobertura em
metal precioso, da entidade emissora (emissão a descoberto).
Moeda fiduciária (do latim fidúcia, que quer dizer confiança) –
passou a gozar dos favores do público devido à sua maior
maleabilidade.
Assim, a nota de banco representativa de metal precioso, que
era um certificado representando uma certa quantidade de
metal precioso depositado num banco, convertível a qualquer
moimento em ouro ou prata, deixou de ser convertível, e a
moeda fiduciária deu lugar a moeda com circulação forçada –
ninguém pode recusar a sua aceitação como meio de
pagamento. A nota do banco passou pois a ter sentido imposta
pela lei, a ter circulação legal, no sentido de que o Estado e os
particulares se encontram obrigados a aceitarem as notas em
igualdade de circunstancias com as moedas metálicas.
Moeda escritural (Deposito a Ordem), assim denominada por se
encontrar inscrita na contabilidade de certas instituições financeiras,
surgiu com os primeiros bancos.
Outro está relacionado com a natureza da instituição que emite a moeda,
classificação esta que que deriva de uma óptica diferente da anterior, já que
permite que seja dada uma definição funcional da moeda no contexto dos
atuais sistemas monetários.
Esta pode ser:
Moeda do Banco Central, constituída pelas notas de banco e as moedas
metálicas (moeda para trocos ou divisionária).
Moeda dos Bancos, constituída pelos saldos dos depósitos à ordem junto
dos estabelecimentos bancários.
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FUNÇÕES DA MOEDA.
1º. Intermediário de trocas (Meio de troca), é um bem que os compradores entregam
aos vendedores quando compram bens e serviços, ou seja, como intermediário de
trocas, a moeda serve para adquirir bens e serviços e também liquidar dívidas.
2º. Unidade de conta ou medida de valor, a moeda é uma unidade de conta que
serve para medir e expressar o valor de todos os bens e serviços, permitindo
comparar bens heterogéneos. Ainda é a unidade de medida utilizada para fixação
de preços e registo de dívidas.
3º. Instrumento de reserva de valor, é um bem que permite a transferência do poder
de compra do passado para o presente e do presente para o futuro. A moeda deve
ser estável, garantindo a permanência dos valores medidos. Esta qualidade é
muito importante no que se refere aos empregos da moeda no tempo, pois as
flutuações do poder de compra da moeda alteram consideravelmente a qualidade
dessa mesma moeda enquanto instrumento de reserva de valor.
CARATERISTICAS DA MOEDA
Vários autores apontaram algumas características da moeda:
Para João das Neves, uma boa moeda deve apresentar as seguintes carateriticas:
1º. Divisibilidade;
2º. Durabilidade;
3º. Aceitação Geral;
4º. Ter reduzida procura não monetária, para evitar flutuações no montante disponível
de moeda;
5º. Manter o valor, se o valor da moeda varia, torna-se difícil o seu uso;
6º. Ser prática de movimentar, um bem muito pesado ou volumoso torna-se difícil de
usar nas trocas;
7º. Ser difícil de falsificar.
Para Jorge Peres, a moeda apresenta as seguintes características:
1º. A moeda é um bem escasso, porque são escassos os bens e serviços económicos com
que estruturalmente se relaciona;
2º. A moeda é um bem útil, mas não satisfaz directamente as necessidades, não produz
qualquer satisfação directa, é útil o seu funcionamento.
3º. A moeda é um bem que implica opções, característica que deriva do facto da moeda
constituir liquidez por excelência, na medida em que ela pode converte-se em outro
bem ou serviço, sem grandes constrangimentos, portanto, a sua utilidade para um fim
anula a sua utilidade para outro fim.
4º. A moeda é um activo financeiro, a moeda como activo financeiro é constituída pelo
conjunto de meios de pagamento aceite genericamente por todos, em todo o tempo,
caracterizada com especificidade pelos seguintes elementos: aceitabilidade,
trocabilidade e divisibilidade.
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3º. Autoridade Monetária, para isso tem geralmente poderes para intervir em
matérias tais como taxas de juro, taxas de reserva, espécie de crédito e
depósitos, montantes de crédito, etc.
4º. Regulador dos pagamentos internacionais, o Banco Central deve manter
reservas de moeda estrangeira com aceitabilidade internacional (divisas) que
sirvam de fundo de maneio e de garantia para as transações internacionais.
5º. Banqueiro do Estado, o Bano Central presta certos serviços ao Estado, além de
lhe entregar a maior parte dos lucros que obtém com a sua actividade. O
Estado (representado pelo Tesouro) possui a sua conta junto do Banco Central
e realiza todas as suas operações via esta conta.
Para sabermos qual a definição de massa monetária, temos de analisar os vários agregados
monetários, dos quais vamos referir os seguintes:
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Para o Professor Maximino (2005), considera os Títulos de dívida do Estado a curto prazo como
fazendo parte da liquidez secundária.
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Os Instrumentos negociáveis incluem acordos de recompra, acções e títulos monetários e títulos da
dívida até dois anos (Sotomayor, Ana Maria & Marques, Ana Cristina Lino, 2007).
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M1 = Cm + DO é o agregado que tem maior grau de liquidez. É composto
pelo somatório da Circulação monetária (Cm = notas e moedas em circulação
que o Estado emitiu) com os depósitos à ordem (DO).
M2 = M1 + DP Tem um grau de liquidez menor que o anterior e é obtido
pela soma do agregado M1 com depósito a prazo (DP).
Assim, M2= M1+DP = Cm + DO + DP = Cm + Dep, em que Dep ou D é o total dos
depósitos (à ordem e a prazo, qualquer que seja o tipo de deposito).
M3 = M2 + IN Tem menor liquidez que os anteriores e é obtido pela soma
do agregado M2 com os instrumentos negociáveis (IN)3.
A oferta da moeda vai coincidir com o agregado M2, ou seja, a Oferta Nominal de
moeda ou Massa Monetária ou stock de moeda é a soma da circulação monetária com o total
de depósitos.
A Base Monetária
A oferta nominal de moeda é controlada pelo Banco Central. Contudo, pela definição
de oferta de moeda não é possível analisar o modo como o Banco Central controla, uma
vez que os seus elementos que a compõem escapam ao seu controlo directo.
Assim introduz-se dois elementos, a fim de conseguir identificar os instrumentos de
controlo monetário, isto é, instrumentos utilizados pelo Banco Central para controlar a
oferta nominal de moeda, esses elementos são:
Um Agregado monetário BASE MONETÁRIA que é a soma da circulação
monetária com o total de reservas: H = Cm + R
Sendo: H = Base Monetária; Cm = Circulação Monetária
R = RT = Reservas Totais; RT = RL + RC + RLV RLV = RT - RL - RC
RL = Reservas Mínimas Obrigatórias também chamada de reservas legais;
Rc = Reservas Operacionais também chamada de reservas de cobertura;
RLV = Reservas Livres Reservas livres que as instituições poderão utilizar para
aumentar a massa monetária.
Dois Indicadores Monetários: Coeficiente Circulação-Depósito e Taxa de
Reserva.
Coeficiente Circulação-Depósito, indica o modo como a massa monetária
está repartida nestes dois elementos. Assume valores positivos e estáveis
no curto prazo.
𝑪𝒎
𝒄𝒅 =
𝑫𝒆𝒑
Valores possíveis do cd e sua interpretação
cd = 1 Metade da Massa monetária é composta por depósito e a outra por
circulação monetária.
cd < 1 A circulação monetária é inferior ao depósito, denota um sistema
bancário já evoluído.
cd > 1 A circulação monetária é superior ao depósito, indicativo de um
sistema bancário pouco desenvolvido.
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Em Angola, a partir de 2001 passou a ser calculado um M3, conceito pouco mais alargado que M2
porque inclui outras aplicações financeiras das empresas e famílias que são “quase moeda” – aplicação
em Títulos do Banco Central (TBC) que são títulos de curto prazo de até 182 (Maximino, Mário Nelson,
2005).
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𝑅
reservas legais (rr ou rl), e a taxa de reservas livres (rlv). Sendo r 𝐷
=
𝑅𝐿+𝑅𝐿𝑉
= rr + rl
𝐷
Depende:
Taxa de reservas legais (rr) Quanto maior for a taxa de reservas
imposta pelo Bano Central, maior será a taxa de reserva,
mantendo constante a taxa de reservas livres.
Grau de incerteza no que se refere ao fluxo de depósitos ()
quanto maior ele for num dado período, maior será a taxa de
reservas livres que os bancos comerciais querem ter, e como tal,
maior será a taxa de reserva.
Taxa de redesconto ou desconto (iD) é a taxa que o Banco
Central cobra aos bancos comerciais quando estes lhe pedem
dinheiro emprestado. Quanto maior for, mais “caro” sai aos
bancos comerciais pedir dinheiro emprestado, assim são
incentivados a deterem reservas livres.
Taxa de juro de mercado (i) Quanto maior é a remuneração que
os bancos comerciais têm quando emprestam dinheiro, menor é a
sua apetência para cativar reservas de forma voluntária e,
portanto, a taxa de reservas livres vai diminuir.
RELAÇÃO BASE MONETÁRIA E MASSA MONETÁRIA / DERIVAÇÃO DO
MULTIPLICADOR MONETÁRIO
M = Cm + D e H = Cm + R
Fazendo o quociente entre os dois agregados:
𝑀 𝐶𝑚+𝐷
= Dividindo o numerador e denominador pelo total de depósito temos:
𝐻 𝐶𝑚+𝑅
𝐶𝑚+𝐷
𝑀 𝑀 𝑐𝑑+1 𝑐𝑑+1 𝑐𝑑+1
= 𝐷
𝐶𝑚+𝑅 = logo M = H ou M = H
𝐻 𝐻 𝑐𝑑+𝑟 𝑐𝑑+𝑟 𝑐𝑑+𝑟
𝐷
∆𝑀 𝑐𝑑+1
Assim temos que: = = mm o Multiplicador da Base Monetária mede a
∆𝐻 𝑐𝑑+𝑟
variação da Massa monetária quando a Base Monetária varia de uma unidade monetária.
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2.2 – INSTRUMENTOS DE POLÍTICA MONETÁRIA
2.2.1 – INSTRUMENTOS DIRECTOS E INSTRUMENTOS INDIRECTOS
A política monetária normalmente, é exercida pelo Banco Central, e consiste na
utilização de um conjunto de instrumentos co finalidade de proporcionar à economia uma
moeda estável, base do cálculo e das escolhas dos agentes económicos.
Vista neste sentido, a política monetária procura influenciar as condições de
financiamento de economia, de modo a que a quantidade de moeda não seja insuficiente e o
preço do dinheiro demasiado caro para financiar a expansão do produto e do emprego, nem a
quantidade tão excessiva e o preço tão barato que possa gerar inflação ou desequilíbrio nas
contas com o exterior e, assim diminuir o valor interno da moeda.
Tendo como orientação este propósito de equilíbrio, e em função das necessidades da
economia real, o Banco Central intervém no mercado mediante dois instrumentos de política
monetária:
1º. Instrumentos indirectos São os exercidos sobre a liquidez bancária e
permitem actuar sobre a criação monetária, sem entravarem a iniciativa dos
bancos. Estes instrumentos são:
a) Política de redesconto;
b) Política de reservas obrigatórias;
c) Política de mercado aberto, operações de open market, consiste na
regulação da liquidez bancária efectuada pela compra e venda por
parte do Banco Central, de valores de rendimento fixo
frequentemente títulos da dívida pública entre si e os bancos.
2º. Instrumentos directos São os exercidos directamente sobre a actividade
bancaria mediante normas fixadas pelo Banco Central, o que constitui um
fator de constrangimento para os intermediários financeiros que concedem
créditos. Estes instrumentos são:
a) Políticas de fixação de taxas de juro Este regime existiu em Angola
até recentemente – todas as taxas de juro eram fixadas pelo BNA.
Desde Maio de 1999, as taxas de juros activas e passivas são fixadas
pelos bancos de acordo com as regras do mercado.
b) Políticas de limites quantitativos de crédito
c) Política selectiva de crédito Consiste em orientar os créditos a
conceder pelos bancos para os sectores da economia considerados
prioritários pelas autoridades governamentais: agricultura,
exportação, produção de alimentos, habitação etc.
EFEITOS DE POLÍTICAS
Efeito quantidade O refinanciamento pelo Banco Central aumenta a
base monetária e exerce um efeito-quantidade sobre a massa monetária
(Aumento da massa monetária).
Gráfico:
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Efeito preço O Banco Central concede empréstimo aos bancos
comerciais contra pagamento de uma certa taxa de juro, designada por
taxa de redesconto. Qualquer aumento ou redução da taxa de redesconto
provoca uma da taxa de juro de mercado ao que se designa de efeito-
preço.
Gráfico:
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Os Orçamentos governamentais são maioritariamente financiados pelos impostos,
este facto (a existência de orçamento e a forma como são financiado), na maior parte das
vezas representa uma restrição à actividade governativa.
É mais conveniente ao governo autofinanciar-se através da contração de empréstimos
internos. Para atrair os compradores dos títulos emitidos o governo tem que praticar taxas de
juros elevadas (principio do problema – conflito).
As taxas de juros praticadas pelo governo nestas operações, muitas vezes conflituam
com as taxas de juros fixadas pelo banco central, tendo em vista os objectivos da política
monetária vigente. Já que o Banco Central, aumenta a taxa de juro quando pretende refrear a
inflação ou diminui a taxa de juro quando pretende promover o emprego.
FIM DE CAPÍTULO
BONS ESTUDOS
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