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Ricardo Costa de Oliveira

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Revista Brasileira de Sociologia | Vol. 05, No.

11 | Set/Dez/2017
Artigo recebido em 04/09/2017/ Aprovado em 20/10/2017
http://dx.doi.org/10.20336/rbs.225
10.20336/rbs.225

Família, parentesco, instituições e poder


no Brasil: retomada e atualização de uma
agenda de pesquisa

Ricardo Costa de Oliveira*1


Mônica Helena Harrich Silva Goulart**2
Ana Christina Vanali***3
José Marciano Monteiro****4

RESUMO

Famílias e determinados sobrenomes estão cada vez mais presentes no espaço


político, seja na ocupação de cargos eletivos nas diversas esferas de poder,
como também em funções de nomeação, na burocracia estatal. Famílias his-
tóricas atuam em todas as instituições sociais e políticas de maneira decisiva,
sendo um retrato que, de forma recorrente, sempre indicou historicamente
uma manifestação social arcaica de regiões específicas do Brasil. Porém, atu-
almente, tem-se evidenciado que a variável família & política abarca todo o
território nacional e tão menos é apenas uma realidade brasileira. A despeito
do inegável reconhecimento, pontuamos que tais discussões no âmbito aca-
dêmico e científico vêm sendo retomadas, particularmente após os anos 1990.
Cabe aqui discutir e apontar como esse objeto foi apropriado, construído com
centralidade e debatido analítica e metodologicamente nas Ciências Sociais
Brasileiras das últimas décadas.
Palavras-chave: Família; Política; Poder, Genealogia; Instituições.

*
DECISO - Universidade Federal do Paraná (UFPR)
**
DAESO - Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)
***
DECISO - Universidade Federal do Paraná (UFPR)
****
UACIS - Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
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ABSTRACT

FAMILY, KINSHIP, INSTITUTIONS AND POWER IN BRAZIL: RESUMPTION AND


UPDATING OF A RESEARCH AGENDA

Families and certain surnames are increasingly present in the political space, in the
occupation of elective offices in the various spheres of power and also in commis-
sioned posts. Families operate in every social and political institutions in such a de-
cisive manner. A recurrent picture that historically has always indicated an archaic
social manifestation of specific regions of Brazil. But today it has been shown that
the variable family & politics covers the entire national territory and so less is just
a Brazilian reality. Despite the undeniable recognition, we pointed out that such
discussions in the academic and scientific field have been taken up, particularly
after the 1990’s. Here we discuss and point out how this object was centrally and
analytically appropriated, built and methodologically discussed in the Brazilian So-
cial Sciences in recent decades.
Keywords: Family; Politics, Power, Genealogy; Institutions.

Introdução

A relação entre parentesco e poder político tem sido evidenciada em vá-


rios meios de comunicação. No levantamento da revista Congresso em Foco1,
de julho de 2017, de Edson Sardinha e com entrevistas dos professores Ri-
cardo Costa de Oliveira e José Marciano Monteiro, a análise aponta que a
presença das atuais famílias políticas no Congresso Nacional é ainda maior
do que nas legislaturas anteriores. Pelo menos 319 deputados (62% do total
da Câmara dos Deputados) e 59 senadores (73% do total de representantes do
Senado Federal) têm vínculos de parentesco com políticos, de modo que atu-
almente quase dois terços dos deputados federais e três quartos dos senadores
pertencem às famílias políticas, muitas conhecidas nacionalmente há várias
décadas e algumas há séculos2 no poder legislativo (SARDINHA, 2017).
O conteúdo de tais veículos de informação e de circulação de notícias indi-

1 A referida matéria de Edson Sardinha também apontou investigação sobre as “dinastias”


estaduais indicando que o parlamento brasileiro é um dos retratos da relação político-
familiar (SARDINHA, 2017).
2 Como exemplo, tem-se a família do deputado tucano Bonifácio de Andrada, este com 87
anos e no seu décimo mandato, que representa hoje a quinta geração da família, a qual
iniciou suas legislaturas em 1821, ainda nas Cortes Portuguesas. Vale lembrar que Bonifácio
é descendente do Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada (SARDINHA,
2017).

FAMÍLIA, PARENTESCO, INSTITUIÇÕES E PODER NO BRASIL


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ca como certas famílias e determinados sobrenomes estão cada vez mais pre-
sentes no espaço e na arena das instituições de decisões políticas (legislativo,
executivo, partidos, dentre outras). Indivíduos pertencentes às tradicionais e
endinheiradas famílias têm ocupado, de forma hegemônica e contínua, cargos
eletivos e funções de nomeação nas esferas municipais, estaduais e federais.
Historicamente sempre foi comum a identificação de oligarquias no co-
mando político de alguns estados brasileiros, sobretudo nordestinos, assim
como determinados sobrenomes na política nacional. Grande parte dos es-
tudos que indicam a referida relação é direcionada para regiões periféricas
ou para o Brasil do passado, uma sociedade ainda basicamente rural em
um país marcado por relações patriarcais, por instituições atrasadas e, es-
pecialmente, configuradas no poder político municipal, não visualizando o
respectivo fato em contextos mais complexos, definidos pela estrutura racio-
nal e moderna do Estado.
O que se verifica empiricamente a cada pleito, tanto do ponto de vista dos
estados como das pequenas cidades do interior e até mesmo em capitais e no
plano federal, é a continuidade da política como campo cada vez mais pro-
pício para atividades familiares. Podem-se encontrar hoje, e não raramente,
netos ou bisnetos daqueles que nos tempos remotos já estavam presentes na
ocupação dos espaços de poder, sustentados por relações e vínculos familiares
que lhes permitiam o exercício político. As últimas eleições3 indicam que esse
processo vem se reproduzindo de tal maneira que questões mais básicas da
dimensão republicana e democrática devem ser discutidas e consideradas.
Em meio a tal visualização, nos propomos a apresentar contribuições
de autores/pesquisadores que se detiveram em analisar a continuidade e o
poder das famílias na política brasileira. Em quase todas as regiões e esta-
dos, mesmos os considerados mais centrais ou desenvolvidos situados no
Centro-Sul, ao longo do século XX e início do XXI, tem-se apresentado este
padrão de atuação, em que famílias controlam e atuam nos principais e es-
tratégicos postos do aparelho de Estado. As referidas produções se apresen-
tam a partir da década de 1990, uma vez que tal perspectiva de análise foi,
de certa forma, limitada entre os anos 1950 e 1990, haja vista que os estudos
sobre família e política foram conduzidos à perspectiva da microssociologia,

3 Vale conferir: Herdeiros de políticos ocupam metade da Câmara. Congresso em Foco. 3 fev.
2016. Disponível em: <http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/herdeiros-de-politicos-
ocupam-metade-da-camara/>. Acesso em: 26 abr. 2016.

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ou melhor, foram tratados como aspectos pontuais, arcaísmos de poder lo-


cal, remanescentes do passado ou, então, dentro da matriz do coronelismo
e do mandonismo4.
Dentre os principais autores nacionais que contemplam a temática fa-
mília e política em contextos complexos e contemporâneos, tem-se Letícia
Bicalho Canêdo5, Ricardo Costa de Oliveira6 e Igor Gastal Grill7. Assim, algu-
mas indagações lançadas por tais pesquisas motivam a presente análise: O
que faz com que certos sobrenomes tenham longa duração na política? Quais
recursos as famílias lançam mão para continuarem se perpetuando politica-
mente? Mesmo através das diversas modificações sociais, políticas, culturais
e econômicas, muitos grupos familiares são recorrentes no campo político8
e conseguem firmar seu poder atravessando instituições do executivo, legis-
lativo e também do judiciário. Interessa-nos, portanto, identificar como esse
objeto vem sendo tratado metodologicamente nas Ciências Sociais, ainda
que com poucos autores e pesquisadores.
A especificidade nos estudos apresentados está em identificar a presença
de grupos de parentesco firmados politicamente em contextos e instituições
modernas, complexas e racionais, ou seja, em meio ao processo de autono-
mia da política e do político. Notadamente os referidos estudos apontam a
capacidade de famílias se reproduzirem impulsionadas pelas próprias trans-
formações decorrentes da sociedade contemporânea e, concomitantemente,
trazerem resquícios de relações tradicionais de poder, assumindo feições de
familismos e de nepotismos, descumprindo, muitas vezes, os limites impos-
tos pelo ordenamento jurídico formal9.

4 Aqui tomamos como referência conceitual a análise de José Murilo de Carvalho, em


Mandonismo, Coronelismo e Clientelismo: uma discussão conceitual, de 1997.
5 Nos artigos apresentados pela autora, a referida temática apresenta-se a partir do estado de
Minas Gerais, contudo, trabalhos com abordagens mais amplas e comparativas com outros
estados também se fazem presentes.
6 Oliveira inicia sua abordagem com análises voltadas para o estado do Paraná. Entretanto, em
suas publicações podem-se encontrar estudos de caráter nacional e também comparativo
em relação a outros estados.
7 Sua análise volta-se para o estado do Rio Grande do Sul. Entretanto, em trabalhos mais
recentes tem apresentado comparativos com aspectos políticos e familiares do estado do
Maranhão.
8 Para Bourdieu (2002, p. 164), é o lugar em que se geram, mediante concorrência entre
agentes, “produtos políticos, problemas, programas, análises, comentários, conceitos,
acontecimentos, entre os quais os cidadãos [...] devem escolher.”
9 Súmula Vinculante n. 13, editada em 2008, estabelece que a nomeação de cônjuge,
companheiro ou parente até o terceiro grau ou por afinidade viola a Constituição Federal.

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1. A centralidade da esfera familiar para a análise da política

A história da Sociologia no Brasil revela que o tema família e política


como objeto de reflexão não é atual e tão menos irrelevante. No que tange à
capacidade de expressar a forma pela qual a política brasileira é permeada
por relações familiais, percebe-se que a prática não está calcada no ideário
político republicano preconizando a separação entre as esferas pública e
privada, mas, ao contrário, está correlacionada a elementos do mundo priva-
do, das formas de dominação, das relações e dos vínculos de parentesco, de
compadrio, de cumplicidade e de amizade.
Ao se investigar a organização política para além da força dos partidos
políticos e dos dados estatísticos que recobrem as eleições, ressalta-se que
estes ainda são permeados por configurações familiares e redes de parentes-
co, e isto nos permite repensar a relação entre as esferas familiares (privadas)
e políticas (públicas).
Embora vários autores da Sociologia, História e Ciência Política ressaltem
criticamente suas limitações, as obras de Gilberto Freyre (2013), Sérgio Buar-
que de Holanda (1995), Oliveira Vianna (1987) e Luís Aguiar Costa Pinto
(1980), formuladas nas décadas de 30 e 40, são referências significativas ao
revelar a importância da família como componente fundamental para com-
preensão da estrutura social brasileira, apontando suas influências e centra-
lidade na construção das relações sociais, especialmente na esfera política.
Em Casagrande & Senzala, de 1933, a cotidianidade afetiva familiar de-
marca e perpassa as demais instituições. A família define o início da socie-
dade brasileira colonial enquanto unidade organizadora do país e categoria
nuclear, apagando tensões e contradições entre grupos iniciais distintos. A
plasticidade da colonização portuguesa permitiu, segundo Freyre, a constru-
ção da família patriarcal e aristocrática como instituição que superou as ad-
versidades, vencedora em sua assimilação “democrática” e profundamente
hierárquica a partir da convivência entre os povos10.
Raízes do Brasil, de 1936, assinala também a força da família patriarcal
como centro organizador dos domínios rurais, porém apontando para os obs-

10 “A força social que se desdobrou em política, constituindo-se na aristocracia rural mais


poderosa da América. Sobre ela o rei reina sem governar. A casa grande é o seu palácio
rural. Ela venceu a Igreja [...]” (REIS, 2000, p. 71).

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táculos que constitui a dimensão da cordialidade11 para o desenvolvimento


de uma estrutura social moderna e racional. Sérgio Buarque (1995) indica
que a presença da família patriarcal nas demais esferas sociais, sobretudo no
Estado, impede o desenvolvimento da sociedade brasileira. Em meio à con-
cepção weberiana dos tipos ideais, a sociedade tradicional e personalista
avança sobre a esfera estatal e racional, sobrepondo os interesses de âmbito
privado aos interesses públicos. Na luta entre família e Estado Moderno, a
vitória se estabelece em meio ao desenvolvimento do Estado Patrimonialis-
ta, permeado em todas as suas atribuições por interesses particularistas e
familiares, transvertido em representante do interesse coletivo. O homem
cordial seria a representação da herança ibérica de práticas patriarcais
onde a regra, a norma e a impessoalidade são relegadas em segundo plano
(HOLANDA, 1995).
Já a obra Instituições Políticas Brasileiras, de Oliveira Vianna, publicada
em 1946, assinala o individualismo familiar (o clã) marcado pela ausência
do espírito público, coletivo. Seria necessário um Estado forte e centraliza-
do12, capaz de aglutinar os interesses isolados dos clãs feudais em interesse
público, coletivo. A força da família resvala na dificuldade de predomínio
do poder central, daí sua crítica à federalização e à democracia brasileira,
uma vez que são os interesses dos clãs, das famílias, das oligarquias que se
estabelecem como vitoriosos, dificultando o desenvolvimento pleno da vida
pública (VIANNA, 1987).
No livro Lutas de famílias no Brasil, de 1949, Luís Aguiar Costa Pinto
trata de uma questão recorrente no pensamento social brasileiro: a família
no período colonial. O autor aborda o aspecto da solidariedade familiar, a
vingança privada e as relações entre família e Estado. Aponta que devido à
distância da metrópole portuguesa e da influência limitada de seus repre-
sentantes, em muitos casos cabia aos “sobrenomes” aplicar alguma forma de
justiça no Brasil Colônia. Especialmente no sertão, a vingança privada se so-
brepunha à atuação da administração colonial, concentrada nas capitais e ci-
dades litorâneas. Havia uma hipertrofia de clãs ligados por laços de sangue.

11
“Havia uma invasão do público pelo privado, do Estado pela família. Os partidos políticos
eram vistos como ‘famílias políticas’, onde vínculos afetivos e pessoais uniam chefes e
demais membros” (REIS, 2000, p. 128).
12 “Em seu modelo político-administrativo, o Estado e a sociedade passariam a ter interesses
idênticos, os interesses dos indivíduos coincidiriam com o interesse coletivo” (REIS, 2012,
p. 176).

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Antonio Cândido (1951), por sua vez, no artigo The Brazilian Family [A
família brasileira]13, dedica-se ao “estudo sociológico da família brasileira”
mediante a análise histórica de sua estrutura interna, função social e trans-
formação no decorrer dos séculos XVI a XIX. Parte do pressuposto de que a
família patriarcal colonial “foi a base sobre a qual se desenvolve a moderna
família conjugal, cujos traços só podem ser entendidos se examinarmos sua
origem” (CANDIDO, 1951, p. 291). Com as transformações das estruturas so-
ciais e econômicas que estavam ocorrendo na sociedade, a família patriarcal
também teria que se adaptar às novas demandas e deixaria de ser o grupo
central na organização social. Candido afirma que, no decorrer do processo
de colonização,

... graças à mistura étnica, o regime escravocrata e a baixa densidade


da população, o abastardamento tornou-se muito comum, criando uma
situação de fato na qual o núcleo da família legal funcionava como eixo
de sustento. Na periferia, graças à devassidão dos brancos e às sobrevi-
vências da poligamia africana e indígena, esse núcleo deveria ter sido a
regra, e só lentamente foi modificado pelas transformações nas funções
da família patriarcal. (CANDIDO, 1951, p. 301).

Da reconstituição do amplo quadro histórico, o autor aponta que a unida-


de familiar “formada dessa maneira não estava limitada a pais, filhos, irmãos
e irmãs: tendia a integrar grupos maiores que constituíam juntos o sistema
social por excelência do Brasil patriarcal, o qual se baseava na solidariedade
do parentesco” (CANDIDO, 1951, p. 298). Ou seja, o núcleo familiar era a
molécula social básica durante o período colonial, que sustentava a organi-
zação econômica, política e social, predominando como elemento decisivo
na dinâmica social brasileira.
Antônio Candido (1951) apontou o lento desaparecimento da hegemonia
familiar na política brasileira, primeiro no Sul e depois no Norte, também
escrevendo sobre a diminuição das influências familiares nos governos esta-
duais e locais (CANDIDO, 1951, p. 309). Equivocou-se completamente quan-
to ao desaparecimento da política familiar no Brasil do século XX e mesmo
XXI, dada a imensa continuidade, retomada do poder e das influências das
famílias políticas no Brasil contemporâneo.

13 Um estudo clássico da família brasileira até hoje sem versão em português.

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Emílio Willems (1953), antropólogo alemão que viveu no Brasil por mais
de 18 anos, em 1953 publica The Structure of the Brazilian Family [A estru-
tura da família brasileira], em que questiona a validade da família patriarcal
como sendo o único modelo de família existente no Brasil, mesmo nos tem-
pos coloniais, e mostra como as várias mudanças socioculturais afetaram
esta instituição. Aponta que os sociólogos se desinteressaram pelos estudos
das novas formas de família que foram surgindo com a decadência da família
patriarcal. Critica os estudos que indicam a família patriarcal como a única
forma dominante de família, pois para ele este tipo de família era apenas um
dos modelos existentes na sociedade brasileira, o modelo da classe domi-
nante. Argumenta que não havia estudos das famílias das classes inferiores
e médias para sabermos se seguiam a mesma linha da família patriarcal, mas
conclui que, independente da classe social de origem, os interesses familia-
res são o que controlam o sistema brasileiro e, uma vez que se tem acesso,
a elite política acaba adotando a prática do familismo e do nepotismo, que
são característicos da estrutura de poder tradicional na sociedade brasileira
(WILLEMS, 1953, p. 339). As famílias atuam significativamente em todas as
instituições brasileiras.
Ao realizarmos o mapeamento de trabalhos que trazem a referida pro-
blemática, verificamos que, somente a partir dos anos 1990, são retomadas
discussões que pontuam a relevante conexão das relações familiares na
esfera política, expressando a continuidade da variável família no campo
político institucionalizado, com relações de poder complexas que se
materializam no interior de instituições racionais, burocráticas e modernas.
Cabe pontuar aqui que tais trabalhos assumem a perspectiva na qual as
transformações ocorridas na sociedade brasileira de várias ordens não foram
capazes de separar a presença de relações familiares no campo político. Mas,
ao contrário, tais grupos manifestaram habilidade política de se sobrepor às
mudanças e reconfigurar suas estratégias de poder e riqueza, mantendo e
reproduzindo estratégias familiares e sobrenomes em meio ao aprofunda-
mento do capitalismo, do processo de urbanização e de modernização da
sociedade brasileira.
Paralelamente, percebe-se que a referida temática entre os anos 1950 e
1990 tomou contornos peculiares, sendo reconduzida aos estudos de caráter
pontual, da microssociologia e da antropologia. Nesse sentido, tem-se uma
grande produção de estudos que direcionam o olhar para as relações de po-

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der local, baseadas na dominação de mando, do coronel, do chefe político,


que representa certo sobrenome poderoso e que submete o espaço político
(municipal ou estadual) ao seu domínio porque aglutina prestígio, recursos
e, até mesmo, posse e legitimidade do uso da força. Nesse viés, muitos estu-
dos focalizaram investigações nas relações de mandonismo14 e de coronelis-
mo15, propícias às compreensões de contextos delimitados à época da colo-
nização e do Império, bem como ao contexto da República Velha. Inúmeras
obras foram produzidas com o objetivo de compreender o domínio de poder
estabelecido por famílias, senhores de terras e potentados locais, além de
coronéis e oligarcas (GRAHAM, 1997; PANG, 1979; SÁ, 1974; EMMI, 1987;
CAMPOS, 1987; DANTAS, 1987; FÉLIX, 1987; LEMENHE, 1996; VILAÇA
E ALBUQUERQUE, 1988; PALACIN, 1990; LEWIN, 1993; GOULART, 2004;
RÊGO, 2008) em regiões específicas do país.
Estes estudos apresentam importantes nomes que concentraram prestí-
gio político e comando em relação à estrutura estatal, à população local e
aos aliados políticos nas esferas (sobretudo) municipais e regionais. Uma
interessante tese de doutorado sobre a continuidade das elites tradicionais,
abrangendo o papel das famílias em Minas Gerais, foi desenvolvida por
Frances Hagoniam (2016)16: The Politics of Oligarchy: the persistence of tradi-
cional elites in contemporany Brazil [A política da oligarquia: a persistência
das elites tradicionais no Brasil contemporâneo].
Em que pese às especificidades locais e temporais, tais estudos têm se
pautado por pesquisas empíricas da organização política em meio ao levan-
tamento de famílias e grupos locais que detiveram, durante determinado pe-
ríodo histórico, poder concentrado em suas mãos, ainda que fosse dividido
entre famílias e bravamente disputado entre os diversos grupos. Tais inves-
tigações direcionam o olhar para o passado. A maioria delas tem a observa-
ção calcada em relações travadas em espaços rurais, com baixos índices de

14 Conferir José Murilo de Carvalho (1997), que entende o mandonismo como um traço, uma
característica da política brasileira desde o processo de colonização (e que sua tendência
seria o desaparecimento), onde o chefe local, o potentado, o senhor, o proprietário de
terras, assevera por controlar recursos e, dessa forma, expressa significativo poder sobre os
indivíduos ao seu redor, tendo condições de influenciar suas “escolhas” eleitorais.
15 Entendido como um sistema político que envolve uma rede de compromissos e relações
de poder hierárquicas, de barganhas recíprocas entre o poder público fortalecido e o
poder privado enfraquecido com o objetivo de manter o andamento do processo eleitoral,
conforme as necessidades do situacionismo político (CARVALHO, 1997).
16 Disponível em https://dspace.mit.edu/handle/1721.1/35335#files-area. Acesso em 14 set.
2016.

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alfabetização, com relações tradicionais baseadas na fidelidade ao benfeitor


e, consequentemente, baseadas em formas patriarcais de dominação. Tais
investigações assinalam especificidades locais e remanescentes, não sendo
abordagens de relações políticas modernas, atuais, de sociedade mais com-
plexas.
Letícia Canêdo17 (2005), representando a linha de autores que retomam
a variável família e política considerando sua presença e continuidade em
contextos contemporâneos, observa que a partir dos anos 1950 houve um
processo significativo de modificação a respeito dos estudos sobre política
brasileira. Segundo ela, a perspectiva analítica da política, tanto nas esferas
municipais e estaduais, quanto na federal, passou a ter como eixo central
as questões partidárias analiticamente apreendidas por meio de abordagens
estatísticas, onde o sobrenome e a presença de grupos familiares deixaram
de ter relevância enquanto elementos significativos para o embate político
institucional, sobretudo em contextos aparentemente mais democráticos.
Para Canêdo (1995, p. 87), ao priorizar o redirecionamento da pesquisa, es-
ses estudos “[...] sobre o poder naturalizaram os fatos do político ao reterem
somente a expressão da luta política em siglas partidárias e em resultados
numéricos das eleições, supostamente decodificados por qualquer pessoa”.
O período sobre os estudos nos quais a família assumia centralidade nas
análises pode melhor ser visualizado na Figura 1. Nela, há uma linha tempo-
ral sobre os principais autores do pensamento social brasileiro e o período
em que construíram suas pesquisas tendo a família como variável impor-
tante. No entanto, é possível também visualizar, principalmente a partir da
década de 1950, como os estudos sobre a política passam a ser pensados a
partir das abordagens inspiradas em Maurício Duverger, e que, mesmo na
década de 1970, quando os estudos de família são retomados, as investiga-
ções se dão muito fortemente por uma perspectiva localista. Ou seja, pensar
a relação entre família e política, neste período mencionado, é lançar luz
sobre práticas que se realizam no âmbito do local.
A linha temporal, conforme a Figura 1, nos possibilita visualizar como
esta relação entre família e política tem sido retomada por autores contem-
porâneos, como Canêdo (1994; 1995; 1997; 2011 e 2015), Oliveira (2001;

17 Historiadora, é Professora Titular aposentada na Faculdade de Educação da Unicamp, onde


foi docente entre 1983 e 2012.

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2007; 2012) e Grill (2003; 2004; 2007 e 2012), a partir da década de 1990,
e tem impulsionado, influenciado novas agendas de pesquisa, estabelecen-
do agora uma perspectiva de análise em que se possa pensar na relação do
local e do nacional e na construção de uma agenda que pense não apenas o
objeto de análise, mas também que formule um corpus teórico-empírico e
metodológico.

Figura 1 – Quadro histórico da produção do pensamento social brasileiro sobre o tema família e política

Fonte: Elaborado pelos autores, 2017.

Canêdo (2005) destaca que, com o impacto da obra de autores institu-


cionalistas como Duverger, dentre outros, a conexão entre família e polí-
tica deixa de ser percebida no mundo social. Isto porque a não separação
entre as esferas pública e privada acarretaria contradição à análise da rea-
lidade dada. Canêdo (2005), nesse sentido, sublinha que ocorreu, a partir
do estudo de Duverger, um processo de identificação quase que imediata
entre política e os jogos partidários. Daí decorre o fato do tema família ser
comumente apreendido, em trabalhos mais recentes, enquanto categoria
de intervenção de políticas públicas, também retomada em discussões na
área de Assistência Social, Direito, Psicologia (Social), além de estudos na

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Antropologia, mais notadamente na Antropologia da Política18, tornando-


-se, assim, uma variável menos importante para compreensão de processos
mais amplos e análises macrossociológicas.
A dissolução do viés analítico entre família e política nas pesquisas de
Sociologia Política, História e Ciência Política ocorreu, segundo Canêdo
(1994), após grande influência e impacto acadêmico no Brasil da obra de
Maurice Duverger, Os Partidos Políticos (1967), na qual direciona as inves-
tigações para os partidos políticos e o sistema partidário em detrimento das
famílias políticas. A contribuição desta obra é sobremaneira positiva para
a consolidação da área e dos estudos partidários e eleitorais, de Sociologia
Política e de Ciência Política no Brasil, pois permite perceber a estrutura
partidária, o processo de aprimoramento do sufrágio universal e também os
mecanismos democráticos de representação social e de grupos de interes-
se construídos a partir de um cenário modernizador e um campo político
institucionalizado (DUVERGER, 1967). Conquanto, a autora enfatiza que a
representação política passou a ser vista tão somente por meio do partido e
não pela possibilidade de vinculação deste e de seus membros com aspectos
ligados à presença da família, marcadas fundamentalmente pela longa dura-
ção (CANÊDO, 1994, 1995).
Ricardo Costa de Oliveira19 (2001; 2007; 2012) é também outro pesquisador
que tem focalizado a análise sobre o fenômeno da política, ainda no início
dos anos 199020, considerando a relevante presença de relações de parentesco
e de familismo nas instituições públicas. Este autor tem explicado, a partir
do recurso à genealogia, longos períodos de dominação por grupos familiares
históricos, tendo como recorte um dos estados que, ideologicamente, se cons-
tituiu como o estado moderno no Brasil – Paraná – e que, portanto, tenderia
a inexistir práticas de familismo e de nepotismo. Oliveira (2001; 2007; 2012),
por meio de investigações e pesquisas empíricas, tem provado o oposto. Sua
produção teórica e empírica encontra-se direcionada aos estudos sobre o Para-
ná e recentemente também para o contexto nacional. Segundo ele,

18 O viés antropológico tem apontado várias perspectivas de análise para a relação família e
política. Entre elas, está a contribuição de Ana Cláudia Marques (2002, 2005) que analisa
conflitos entre famílias políticas no sertão de Pernambuco.
19 19 Doutor em Ciências Sociais pela Unicamp. Professor Decano do Departamento de Ciências
Sociais e Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Universidade Federal do Paraná.
20 Em 1996 Oliveira cria e institucionaliza o grupo NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses -,
que visa à análise das relações de parentesco e de nepotismo na política estadual e nacional.
Disponível em: https://nucleodeestudosparanaenses.wordpress.com. Acesso 18 set. 2016.

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Minha tese é simples. Família ainda importa. As estruturas de paren-


tesco formam parte da realidade social e política brasileira no século
XXI. Redes familiares controlam partidos políticos, controlam o centro
do poder executivo e formam redes atravessando o poder legislativo
com parlamentares hereditários, sempre se renovando pelas gerações.
O poder judiciário também sente as redes de cumplicidades e reprodu-
ções de algumas famílias e seus protegidos. O Tribunal de Contas em
boa parte é um tribunal de parentes também. Ainda hoje os cartórios
representam antigas redes familiares. A mídia, a intelectualidade, os
jornalistas também já foram grandes redes de parentesco e domínio fa-
miliar, agora em processo de modernização e profissionalização (OLI-
VEIRA, 2012, p. 13).

A racionalização, burocratização e modernização do campo político, por-


tanto, não foram capazes de suprimir a presença de famílias dominando a
política nas mais diferentes esferas de poder, tão menos nos aparelhos da ad-
ministração estatal, como também não foram capazes de suprimir essa pre-
sença direcionando a ação e o rumo de partidos políticos nos estados. Olivei-
ra (2001; 2004; 2007; 2012) chama a atenção para o processo de metamorfose
que grupos dominantes, configurados em famílias e nas redes de parentesco,
realizaram ao longo do tempo. Afinal, foram capazes de se manter no poder
em meio aos processos de mudança da sociedade brasileira e do aprimora-
mento de suas inúmeras instituições. Assim, a compreensão da transmissão
de poder só pode ser percebida se conjugada a partir de múltiplos elementos,
como os estudos sobre nepotismo, moralização da representação política e
apadrinhamento, por exemplo. Segundo Oliveira (2012, p. 73), o fenômeno
do nepotismo deve ser visto através de “[...] um processo de concentração de
poder e de renda, responsável pela formação de desigualdades e carências de
longa duração. O estudo dos ricos e poderosos é inseparável da análise das
relações privilegiadas desenvolvidas por esses grupos nas instituições e nos
aparelhos de poder do Estado.”
Outro autor que traz luz ao debate é Igor Gastal Grill21 (2003; 2004; 2007;
2012). Similarmente, sua abordagem ultrapassa a perspectiva alusiva de que
o vínculo família e política só pode ser estabelecido em contextos nos quais

21 Doutor em Ciências Sociais e em Ciência Política. Professor do Programa de Pós-Graduação


em Ciências Sociais e do Departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade
Federal do Maranhão.

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as instituições são ineficazes e pouco comprometidas com sua essência efe-


tivamente pública e onde os vínculos de parentesco são traços residuais e
arcaicos, provenientes de alguns poucos lugares e regiões ainda isoladas,
com características oligárquicas. Ao observar o cenário político partidário
e as transformações sociais decorrentes de mudanças econômicas do Rio
Grande do Sul, durante o século XX, o autor indica a conexão entre política
e família por meio de suas atuações e movimentos no campo político, mais
precisamente no contexto partidário. Segundo Grill (2003), as siglas parti-
dárias promovem a conexão das famílias políticas na história do estado ao
mesmo tempo em que equacionam as diferenças ideológicas, profissionais e
ocupacionais, mais contundentes no que diz respeito aos grupos políticos.
Assim, pode-se dizer que, nos anos 1990, iniciou-se, por parte de alguns
pesquisadores22, um processo de retomada da agenda temática relacionando
as variáveis família e política em estudos com foco na análise das estruturas e
relações de poder, na análise da composição e do perfil dos agentes que com-
põem as instituições públicas e órgãos político-administrativos, bem como
nas reflexões sobre reprodução política de determinados grupos sociais em
cargos eletivos e de nomeação ao longo do tempo, bem como nas reflexões
sobre reprodução política, em cargos eletivos e de nomeação ao longo do
tempo nas mais variadas esferas e instituições do Estado, de determinados
grupos sociais, organizados e delimitados como famílias (sobrenomes). Es-
tes trabalhos, acima de tudo, reconhecem a validade epistemológica23 ao se
considerar os grupos políticos familiares como variáveis decisivas e signifi-
cativas para a análise da estrutura social brasileira e, sobretudo, do campo
político, tanto em dimensões regionais quanto em perspectivas mais amplas.

2. Novas perspectivas teóricas e metodológicas para os


estudos da política brasileira

Embora o ponto comum entre os autores apresentados seja o reconhe-


cimento da conexão entre família e política em contextos contemporâneos,

22 Canêdo (1994) retoma, em suas análises sobre a política mineira, a pesquisa de Cid Rebelo
Horta, desenvolvida em 1956, na qual destaca apenas 27 famílias na composição da elite
mineira. Dentre os grupos, a própria família Canêdo.
23 Tal linha fundamenta-se em somar conhecimentos para compreensão da realidade política
brasileira e não se contrapor às demais abordagens que têm a mesma prioridade, porém
apresenta perspectivas teóricas e epistemológicas distintas.

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cada reflexão percorre caminhos específicos para construção de suas pesqui-


sas. Nesse sentido, vale ressaltar seus elementos essenciais.
Segundo Canêdo (1994), a análise da memória em política é um dos meios
essenciais para compreender os mecanismos de transmissão do patrimônio
político familiar. A pesquisadora destaca que, metodologicamente, as apro-
priações dos recursos disponíveis por meio da construção das genealogias
tornam-se fundamentais. Isto porque essas apropriações permitem perceber
a longevidade da autoridade política e a forma pela qual os sobrenomes fa-
miliares são inscritos e legitimados na memória coletiva, através dos rituais,
e retomados acertadamente nos momentos de eleições. Os rituais, nesse sen-
tido, cumprem o duplo papel de, ao mesmo tempo, reativar a memória da
própria família e também a memória social, principalmente no momento
do voto, haja vista que este passa pela afirmação de uma memória coletiva.
A conduta da família instaurada nos rituais permite apreender a política,
porque também a política se expressa, conforme Canêdo (2005), através de
mecanismos que não são evidentes, mas indicam formas de politização das
relações sociais.
Ao estudar duas cerimônias importantes num município da Zona da
Mata de Minas Gerais, um funeral e o aniversário da Santa da cidade, a
autora identifica a manifestação política no meio social, ordenando e reati-
vando a memória coletiva em meio à memória de uma família de políticos
(presentes no local desde 1860). Nesse processo, os laços de parentesco são
confirmados ao mesmo tempo em que o patrimônio político familiar é acu-
mulado, pois o fato de se consolidar sobrenomes em ocasiões importantes
abre espaço para evocar a memória dos eleitores durante o pleito.
A genealogia se apresenta no jogo político24 como mais um elemento para
acúmulo ao capital simbólico. Sua força passa a ser revelada na medida em
que os grupos fazem uso de uma tradição familiar na política, dos benefícios
trazidos pelo grupo para o meio social ao ocupar tais cargos, assim como
também pela capacidade de misturar a história do município e do estado
(até mesmo nacional) à história da família. Afinal, a genealogia “[...] legitima
determinada descendência, assegurando, no seu traçado, a continuidade e
a coesão de diversas gerações de uma família.” (CANÊDO, 1994, p. 99). A

24 “A intenção política só se constitui na relação com um estado do jogo político e, mais


precisamente, do universo das técnicas de ação e de expressão que ele oferece em um dado
momento.” (BOURDIEU, 2002, p. 165).

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linguagem conferida aos grupos torna-se trunfo relevante quando utilizada


para reforçar e legitimar estes aspectos, fazendo com que o passado, o pre-
sente e o futuro da família e da sociedade sejam colocados na mesma tempo-
ralidade. No fim das contas, o poder político de um bisavô25 pode facilmente
estar presente na fala e nas ações políticas de seu bisneto, quando, em certos
momentos, essa força do passado torna-se relevante e passa a ser utilizada
como investimento para reforçar a presença da família no poder por várias
gerações e, mais ainda, passa a ser direcionada como uma espécie de “mar-
ca” nos feitos políticos.
Outro aspecto apontado por Canêdo (1994) é a compreensão da capaci-
dade de as famílias preservarem, ao longo do tempo, seu poder no campo
político, somado a um contexto que concede peso e importância à família
paralelamente à afirmação de igualdade entre os cidadãos, no momento de
disputa eleitoral, onde os valores (legais) democráticos são colocados em
evidência, tanto por parte do eleitorado quanto por parte dos candidatos. Os
rituais políticos são enfatizados, segundo ela, com o intuito de sublinhar cer-
tos mandatos e, nesse sentido, reafirmam na memória coletiva a lembrança
ligada a determinados grupos. Este mecanismo também estimula a coesão do
grupo na medida em que divide tarefas e promove a transmissão de capitais
políticos para os indivíduos que se envolvem nos eventos. Canêdo (1995)
destaca que os rituais políticos acabam por serem momentos mais fortes e
marcantes que o envolvimento promovido pelas campanhas eleitorais, con-
duzidos de forma técnica e racionalmente preparados.
No que tange à esfera da família, o casamento26 se revela como ponto
chave para garantir a força e a longa duração do sobrenome no campo polí-
tico, uma vez que ordena a regularidade nas escolhas matrimoniais e define
a identidade do grupo. Para a autora, o casamento coloca-se como trunfo
importante no jogo político, ao acumular capital simbólico e por ser fonte de
transferência de poder (CANÊDO, 2011). O interesse da abordagem é cons-

25 A análise de Daiane Resende (2014; 2015) sobre Roberto Requião de Mello e Silva pode ser
um exemplo claro desse aspecto quando o ex-governador do Paraná lança mão do estilo
político e dos trejeitos de seu bisavô, Justiniano de Mello e Silva.
26 Canêdo (2011) analisa a trajetória política da família Honório por aproximadamente 150
anos e através do vínculo de sua matriarca Balbina Honório (casada com Manoel da Silva
Canêdo e irmã de Honório Hermeto Carneiro Leão – marquês do Paraná). José Murilo de
Carvalho sinaliza o estilo político do mineiro Honório Hermeto entre aqueles que, como
exemplo, eram “[...] homens altivos, ásperos, rebeldes, íntegros, movidos por fortes
convicções liberais” (CARVALHO, 2017, p.211).

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tatar de que forma as famílias políticas agem para que tenham êxito mesmo
com as transformações do espaço político e do aprimoramento democrático
de suas instituições. Tal aspecto Oliveira (2001; 2012) considera como a ca-
pacidade de certos grupos políticos familiares de realizarem uma espécie de
metamorfose burguesa, muito mais no sentido de estabelecer conciliação e
coexistência em meio à sobrevivência e ao ajuste perante as transformações
sociais, políticas e econômicas (OLIVEIRA, 2001). Assim, os casamentos são
tomados como estratégias para garantia de prestígio, de acumulação de capi-
tal e também podem redirecionar a atuação dos atores ao mesmo tempo em
que consolidam lógica na ordem política (CANÊDO, 2011; OLIVEIRA, 2016).
Oliveira (2001; 2012) chama a atenção de forma substancial para a ca-
pacidade de adaptação dos grupos familiares às transformações sociais, o
que permite sua continuidade, tanto do ponto de vista econômico quanto
político. O continuísmo de certos grupos familiares na ocupação de cargos
políticos, eletivos ou não, sobreleva a reprodução de relações desiguais na
sociedade brasileira, assim como se assentam, por outro lado, bases firmadas
em redes de proteção entre os grupos dominantes27.
Ao tomar como objeto de pesquisa a classe dominante do estado do Pa-
raná em uma perspectiva de longa duração, Oliveira aponta que suas insti-
tuições sociais e políticas são atravessadas pelas mesmas famílias há mais
de 300 anos. Observa-se a identificação empírica de nomes e sobrenomes
familiares recorrentes, marcados por vínculos familiares e genealógicos nas
instâncias municipais e estaduais do legislativo e do executivo, assim como
do judiciário, do Tribunal de Contas, de cartórios e do Ministério Público
(OLIVEIRA, 2007; 2012). Ainda destaca esses mesmos grupos como referen-
ciais, os chamados membros da classe dominante tradicional, ou seja, aque-
les que pertencem às famílias históricas que estão presentes no comando
do estado política e economicamente mesmo antes de sua formação como
província. São esses grupos que, de forma assegurada, mantêm continua-
mente seus membros na ocupação dos espaços de poder mais privilegiados
(OLIVEIRA, 2001; 2012).
Como essência da respectiva análise, o estudo da família como variante
fundamental para observação das relações de poder político torna-se ele-

27 Para Oliveira (2015, p. 375), o Paraná é o locus de nepotismo estrutural. “Muitas Secretarias
de Estado estão capturadas por estas redes de poder e de parentesco. Formas de privatização,
escândalos de corrupção com poucas punições [...].”

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mento chave na compreensão de que a estrutura social deve ser pensada


também como estrutura genealógica28. Famílias que se encontram no po-
der e ocupam espaços privilegiados tendem a manter suas posições, assim
como as classes desprovidas tendem a reproduzir suas condições de forma
geracional (OLIVEIRA, 2001; 2007; 2012; 2015). Dessa forma, as genealogias
familiares investigadas criticamente como modernas técnicas de pesquisa,
em uma nova perspectiva inserida na Sociologia Política e Histórica, foram
contribuições advindas de Francisco Antonio Doria, no livro Os Herdeiros do
Poder (2009). Uma importante e interessante inovação, uma vez que antes as
genealogias eram utilizadas como discurso ideológico dominante e agora pas-
sam a ser mais um instrumento, uma técnica de pesquisa no estudo da repro-
dução social, econômica e política ao longo de várias gerações. As genealogias
permitem a análise e a compreensão das transmissões de capitais sociais e
político familiares, muitas vezes em termos de longa duração, em parentelas
numerosas e complexas das mesmas famílias. Muitas relações sociais e polí-
ticas podem ser entendidas como as relações genealógicas de poder. Afinal,
a genealogia da família de Francisco Antonio Doria é a mesma genealogia
do atual Prefeito de São Paulo, João Dória, e nela podemos observar como
o autor desenvolve, no livro citado, muitas transmissões e reproduções de
capitais sociais, políticos e históricos no exercício do poder no Brasil.
A ocupação da rede política e familiar de cargos públicos no Paraná é
demarcada desde o início do século XVIII. Afinal, os capitais sociais são
transmitidos ao longo do tempo e acentuados com ethos e práxis do grupo.
Ao mapear os principais cargos do Paraná contemporâneo, Oliveira (2012)
identificou que estes são ocupados, fundamentalmente, por sessenta e duas
famílias, as quais transitam em meio dos mesmos sobrenomes, ou por casa-
mentos, nas instituições mais significativas da esfera pública. Nesse aspecto,
destaca a relevância dos estudos fortemente empíricos para identificação
das redes de relações de parentesco e suas posições de poder, pois “a plata-
forma de observações e análises sobre ricos e poderosos também passa pelo
estudo das relações entre estruturas de parentesco e de poder político, uma
das formas de produção e reprodução dos privilégios e das desigualdades
históricas” (OLIVEIRA, 2012, p. 75).

28 Os trabalhos genealógicos de Oliveira foram influenciados pela obra de Dória (2009), Os


Herdeiros do Poder.

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O estudo de biografias, trajetórias sociais e das genealogias dos grupos


dominantes perpassa a análise dos três autores citados. Somente o levan-
tamento histórico e detalhado pode identificar o pertencimento aos grupos
familiares poderosos. Assim como também pode assinalar o posicionamento
de seus membros ao longo do tempo, indicando as estratégias assumidas
pelos grupos ao se estabelecerem favoravelmente na estrutura social, além
de focalizar as conexões familiares definidas e reconfiguradas por meio de
matrimônios.
Do ponto de vista de contextos políticos mais recentes e da presença de
grupos familiares na estrutura de poder, Canêdo (1997) sinaliza as formas de
classificação social pertinentes ao vocabulário político. Este aponta-nos para
as formas de parentesco e arranjos familiares como algo frequente enquanto
maneiras de classificação29. Ao se referir a um pretenso candidato como “afi-
lhado político” ou “herdeiro político”, “sucessor político”, linguagem cos-
tumeira utilizada pela mídia durante as campanhas políticas, considera-se,
assim, a ideia de que o voto e também as posições de poder são passíveis de
transmissão entre agentes políticos. Tais formas de classificação perpassam
por uma lógica que se encontra no campo das relações do direito civil de
família e das sucessões. O uso destas formas de classificação, permeadas por
simbologias decorrentes do espaço privado, em certo sentido, contradiz o
princípio básico democrático de alternância do poder e da competição entre
iguais, uma vez que não retira o aspecto familiar nas disputas no campo
político, mas o enfatiza como capital significativo e definidor para escolha
do eleitor.
Para Canêdo (1997), o fato de se utilizar na linguagem o aspecto de trans-
missão de poder no campo político retira-se a perspectiva básica de auto-
nomia e de liberdade de escolha do cidadão-eleitor, pois refuta a igualdade
de mesmas chances em relação aos candidatos que não são politicamente
apadrinhados, tão menos aos que não possuem sobrenomes de tradição na
política. Portanto, os determinantes sociais são reafirmados na medida em
que priorizam o “espírito de família” (privado) em detrimento ao “espírito
público” de igualdade e liberdade entre os cidadãos. Ao ter como objeto de
reflexão a análise de transmissão do poder, enfatizada e reforçada pelo voca-

29 Nesse aspecto, a autora se refere, notadamente, às campanhas de eleições municipais de


1996 (CANÊDO, 1997).

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bulário político usual, Canêdo (1997) indica mais um aspecto de relevância


da conexão entre política e família que necessita ser considerado, ainda mais
a partir das condições reais indicadas por meio de estudos empíricos30.
A autora (1997) também dá ênfase para o fato de que o pertencimento a
uma rede de parentesco é apenas uma das potencialidades colocadas em xe-
que na competição do jogo político. É preciso considerar outras práticas que
se colocam durante a seleção das candidaturas, mas não deixa de considerar
as redes políticas: daí a necessidade de um diálogo de complementaridade
entre História, Sociologia e Ciência Política.
Cabe ressaltar que, do ponto de vista epistemológico, a aproximação en-
tre tais áreas deve considerar a heterogeneidade das fontes. Cada área pode
apontar informações diferenciadas que sejam difíceis de ser ordenadas sem
perder os elementos importantes. O objeto de análise – transmissão de poder
– implica o uso de recursos metodológicos como entrevistas, genealogias e
documentos escritos variados31.
Grill (2003; 2004; 2012), ao tomar como objeto de análise os políticos
descendentes de imigrantes e que formaram famílias de políticos a partir de
laços com grupos tradicionais, aponta que tais grupos possuem trajetórias
marcadas por momentos de afirmação, sucessão, distinção e de aproximação
inscritos na lógica política de conflito, ruptura e adesões. A partir do exem-
plo de duas famílias, Scherer e Nedel, o autor constata dinâmicas diferen-
ciadas na trajetória e movimento dos agentes inseridos no campo político.
Da mesma forma como Canêdo (1997), em Minas Gerais, e Oliveira
(2012), no Paraná, Grill (2012) enfatiza a presença de redes de parentesco na
política do Rio Grande do Sul, permeando todo o século XX. Considera esse
processo como forma de combinação entre um contexto marcado por mu-
danças sociais e fortalecimento do sistema partidário com a persistência de
propagação de capitais políticos no interior das famílias políticas. Observa-
-se que o objeto investigado por Grill (2012) se expressa em um contexto po-
lítico modernizante e configurado racionalmente por partidos políticos com
posicionamentos distintos. Esta sua investigação demonstra a capacidade

30 O termo “mineirice” apresenta-se correlacionado ao retrato da presença axiomática de


famílias no poder que, ao longo da história política de Minas Gerais e do Brasil, sempre
ocuparam cargos centrais na estrutura político administrativa do Estado.
31 Como cartas, anotações políticas e domésticas, telegramas, sentenças jurídicas, discursos
políticos etc.

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de determinadas famílias permanecerem em posições de poder ocupando


cargos eletivos importantes no estado, ainda que marcadas por desalinha-
mentos ideológicos e rupturas partidárias em seu interior.
No que diz respeito à importância das famílias e suas ações, Grill (2012,
p. 139) aponta que elas “[...] constituem o locus de reprodução, pois são capa-
zes de orquestrar um conjunto de estratégias [...] que formam um sistema de
funções interdependentes, compensatórias e cronologicamente articuladas.”
É nesse sentido que se constitui como positivo o pertencimento aos
grupos de famílias políticas, porque a relação com certos sobrenomes
acarreta crédito eleitoral e, em certa medida, torna-se fator preponderante
no campo de disputa e de escolha por parte do eleitor. Da mesma forma que
Canêdo (1994; 1995; 1997) chama a atenção para o uso da memória política,
Grill (2012) destaca que a mediação política exercida pelo vínculo familiar
assume três sentidos específicos: 1) de falar em nome do passado, enquanto
aquele que pode reconhecer qual é o melhor projeto para a sociedade, uma
vez que sua ancestralidade lhe confere capacidade de conhecimento; 2), se
refere à mediação entre a sociedade e os indivíduos que ocupam o poder
conferido pelos vínculos de parentesco, isto é, se coloca como intermediário
entre as várias instituições (e seus ocupantes) e a própria sociedade; e, 3), a
capacidade de atuar em várias esferas porque seu posicionamento e influên-
cia o credencia, afinal, desde a tenra infância está submerso no universo
político e adquire determinadas habilidades que se traduz no habitus32.
Grill (2012) demarca a trajetória de 200 deputados federais gaúchos entre
os anos de 1945 a 2006. O autor define o padrão de seleção por meio dos per-
fis sociais, dos trajetos políticos e, dentre eles, 24 deputados foram analisa-
dos de forma mais profunda, dando destaque para a família e o padrão de re-
produção na política. Conquanto, sua contribuição está em estabelecer a re-
lação de vínculo partidário para pensar as trajetórias familiares e seus perfis
ideológicos, demonstrando que muitas destas apresentam durabilidade de
filiações partidárias por meio da linhagem política33. Nesse sentido, torna-
-se possível, numa investigação de longa duração, indicar grupos familiares

32 Conforme Bourdieu (2002, p. 61), “[...] é um conhecimento adquirido e também um haver,


um capital (de um sujeito transcendental na tradição idealista), o habitus, a hexis, indica a
disposição incorporada, quase postural”.
33 Termo primeiramente utilizado por Canêdo (1997), entendido de forma precisa como o
tempo em que determinada família vem ocupando cargos políticos nas diversas esferas de
poder.

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seguindo uma lógica de posicionamento no cenário político (alinhamento


político), ao passo que noutras investigações é possível verificar rupturas ao
longo do tempo (deslocamentos geracionais) e também deslocamentos num
polo a outro dentro da mesma geração, resultando na divisão política da
família e também promovendo disputas na concepção da herança política.
Grill (2012) reúne aspectos essenciais para reflexão em torno da dinâmi-
ca do campo político, em meio ao diálogo entre a presença e continuidade
dos laços familiares na política e como esta se utiliza do vínculo partidário,
lançando luz para se pensar de que forma os agentes podem se deslocar no
campo a partir dos usos que fazem em relação aos capitais obtidos ao longo
do tempo. Diferente de Oliveira e Canêdo34, Grill (2012) acrescenta em suas
pesquisas sobre família e política a presença dos partidos políticos como
elemento central em sua análise e ressaltamos, dessa forma, que as inves-
tigações do autor confirmam que a abordagem da Ciência Política pode ser
relevante para investigações que tenham como foco a discussão família e
política. Afinal, as famílias “[...] funcionam como estruturas informais do
sistema político que são intersticiais, paralelas e suplementares às estruturas
formais (institucionais)” (GRILL, 2012, p. 138).
Em se tratando da herança política35, o autor destaca que pode ser expres-
sa de forma diferenciada na disputa política e em meio a contextos históricos
e sociais específicos. Portanto, também a partir da perspectiva bourdieusia-
na de análise, Grill (2012) sinaliza que o patrimônio recebido pelo herdeiro
está correlacionado a três aspectos fundamentais, com os quais pode ser
associado, “[...] ao capital político acumulado pela família, pelo partido ou
pelo líder carismático” (GRILL, 2004, p. 160).
Ao levar em consideração a centralidade da família e da continuidade das
relações de parentesco na análise contemporânea da política do Rio Grande
do Sul (1982-2002), Grill (2004) traça elementos fundamentais para com-
preensão da permanência de determinados sobrenomes em meio à tradição
política do trabalhismo. O olhar para a compreensão de trajetórias familiares
e de seus membros na política deve alicerçar-se metodologicamente sobre o

34 Para os dois autores, embora também correlacionem discussões e os vínculos partidários


das famílias no poder, os partidos políticos não compõem foco central em suas análises.
35 Para Grill (2004, p. 159), o termo herança política é entendido “[...] enquanto resultado de
laços de parentesco resultantes de uma descendência ou de casamentos (parentesco por
consanguinidade ou de aliança) e por vínculos de parentesco político”.

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enfoque correlacionado a dois universos: 1) o universo familiar produzido


no espaço privado por meio das variáveis: nascimento, infância, casamento
e escolha profissional, por exemplo; 2) o universo político, desenhado no
espaço público, é construído através da visualização de aspectos como elei-
ções, mandatos, candidaturas e posicionamentos. Por outro lado, Grill (2003)
destaca que a formação dos herdeiros políticos passa pelo reconhecimento
da vocação individual, a qual é construída pelo processo de socialização
familiar, decorrente de mecanismos que objetivam a aspiração dos projetos
familiares com a perspectiva do desenvolvimento da vocação política36. Esta,
portanto, se configura na medida em que são internalizadas as disposições
para receber o patrimônio político, construído e acumulado por meio de vín-
culos não somente consanguíneos, mas através de casamentos e de arranjos
de “apadrinhamento” no campo político institucional.
Nesse aspecto, tanto Oliveira (2012), como Canêdo (1997) e Grill (2004)
remetem a consideração para o elemento familiar na construção da vocação
como fundamental, haja vista que é pelo grupo familiar que se estabelecem
primordialmente os códigos, linguagens e comportamentos, aspectos estes
que são componentes do habitus político familiar, utilizando uma termino-
logia empregada por Bourdieu (2002). Levando em consideração a visualiza-
ção moderna do fazer política, que é contemplada concomitantemente pela
forte presença e imposição da mídia no jogo político, Grill (2012) infere que
a complexidade midiática acaba por reforçar37 o implemento de construção
familiar da vocação política.
Cabe indicar a necessidade de reafirmar as três lógicas essenciais das
quais os herdeiros políticos lançam mão para construção de suas trajetórias.
Entre elas estão: o reconhecimento da reputação familiar por parte do elei-
torado (e demais agentes do campo político); a familiaridade com os meios
políticos (reforçando o elemento da vocação); e os acessos decorrentes dos
laços de parentesco (experiências advindas do privilégio de ingresso em ou-
tros cargos importantes).

36 O autor define vocação política como “[...] produto do encontro entre disposições,
investimentos e coações referentes ao espaço político que se define pela aquisição de uma
libido social” (GRILL, 2004, p. 166)
37 Grill (2007) destaca que em famílias de profissionais ligados às várias mídias também já
foram produzidos herdeiros políticos, pois há junção significativa entre grupos políticos de
famílias que são proprietárias de diversos meios de comunicação.

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Ao detectar os mecanismos utilizados para continuidade política de


certas famílias no Rio Grande do Sul (de 1982 a 2002) e a capacidade des-
tas se apropriarem das diversas mudanças, Grill (2004) estabelece essa
continuidade por meio do que define de reconversão. Assim, a capacida-
de de permanência das famílias no poder está correlacionada ao fato de
conseguirem mudar e se adaptar, a exemplo das famílias de estancieiros
que se tornaram notadamente famílias de políticos profissionais, para ficar
somente em um exemplo.
No tocante às contribuições de autores que abordam a relação política
e família, podem-se recuperar aspectos relevantes de análises construídas
a partir de outros cenários políticos para se pensar no contexto brasileiro.
Nesse quadro, Alexandre Niess (2012), tendo como parâmetro de observação
a sociedade francesa no contexto contemporâneo38 e de estudos realizados
especificamente sobre o período de 1871 a 1940 (Terceira República france-
sa39), aponta a contradição intrínseca na relação República e hereditariedade
política. Tais campos se apresentam, aprioristicamente, em espaços distintos
e com relações e características próprias e particulares. Os espaços do mun-
do público e do mundo privado são díspares, separados, do ponto de vista de
uma lógica teórica. Estes estudos com enfoque na relação família e política
apontam para uma dimensão que foca a lógica prática das práticas sociais e
como, mesmo nas sociedades modernas e complexas, estas relações perdu-
ram de forma ainda estruturante. Pesquisadores, como Niess (2012), desta-
cam que a visualização recorrente entre política e hereditariedade pertence
à monarquia e não a contextos republicanos, além do fato de que a questão
hereditariedade é pensada como algo incompatível com dimensão democrá-
tica, que se funda em valores como liberdade, direitos, igualdade, proprie-
dade, segurança, representação política, bem-estar social e, principalmente,
pelo sufrágio universal. Niess (2012) chama a atenção para o fato de que as
relações de parentesco vinculadas à política, à República e ao nepotismo,
configurada pelo casamento, passam a ser aspecto recorrente e fundamental
para a ampliação de possíveis favorecimentos e, ao mesmo tempo, para o for-

38 A análise parte da possibilidade do filho do Presidente Nicolas Sarkozy, Jean Sarkozy, se


tornar o mais jovem deputado da França, em 2009, num misto de admiração, contrariedade
ou deboche por parte da opinião pública francesa (NIESS, 2012, p. 72).
39 A abordagem para o levantamento dos eleitos locais e dos parlamentares e seus vínculos
familiares com o objetivo de realizar um retrato geral destes agentes políticos se dá através
do método prosopográfico.

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talecimento de famílias específicas no campo político40. Ressalta que as rela-


ções de parentesco são significativas porque pressupõem laços mais amplos
do que apenas aqueles estabelecidos dentro de um núcleo familiar fechado,
consanguíneo. Este pesquisador parte do conceito de família desenvolvido
por Lévi-Strauss (1983), entendendo-a enquanto um grupo social estabele-
cido por meio do seu átomo inicial que é o casamento. O laço inicial, por-
tanto, só pode ser decorrente de outras duas famílias. Mesmo passando pelo
reconhecimento de laços que se expandem para além de relações nucleares,
o casamento é o vínculo essencial para o entendimento do conceito de famí-
lia. Não só para uma família em si, mas para a configuração de novos ramos
familiares. Essa percepção acaba sendo fundamental para se esclarecer as
relações entre linhagens e nepotismo, bem como para compreender o per-
curso que os laços familiares e certos sobrenomes traçam. Já o conceito de
parentesco, nesse sentido, é entendido pela ampliação das redes de relações
humanas e os vínculos familiares, pressupondo duas conexões básicas: por
um lado, uma conexão estabelecida pelo núcleo familiar básico, a família, e,
por outro, uma conexão estabelecida pela dilatação desta em outros ramos,
que definem relações de parentesco e podem ser o elemento socialmente
fortalecedor do grupo inicial Assim, observa que a filiação política pode ser
estabelecida, segundo Niess (2012), a partir de duas dimensões principais,
isto é, as filiações diretas e as filiações indiretas.
No que tange às filiações diretas, a hereditariedade política se estabe-
lece verticalmente pelas relações entre pais e filhos, ou seja, quando o
filho recebe dos pais toda uma herança política exercida anteriormente,
fator identificado por pesquisas genealógicas. O peso da tradição familiar
é a base para a continuidade e legitimidade do sobrenome nos espaços de
poder político. O que vale, então, é o fato do pai preparar e garantir, de
antemão, o terreno político para receber seu filho. Por outro lado, a filiação
direta elucida o cenário no qual o filho é, muitas vezes, constrangido41 a
ocupar seu suposto espaço no campo político, evidenciando ainda mais a
força que a família tem ao dispor da definição de futuros eleitos. “Isto mos-

40 Nesse caso, o autor ressalta a importância da obra de Debré (2009), Dynasties républicaine
[Dinastias republicana].
41 Niess (2007) ressalta que a condução e o direcionamento deste processo pela família devem
ser observados com cuidado, pois acaba por fortalecer ainda mais sua significância no
campo político.

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tra, igualmente, até que ponto o jogo eleitoral, regido por meio do sufrágio
universal, pode ser pura e simplesmente violado pelo princípio de filiação
na política e pela influência de algumas famílias sobre o microcosmo polí-
tico local ou nacional” (NIESS, 2012, p. 79).
As chamadas filiações indiretas, tão significativas quanto a primeira
perspectiva para a compreensão do referido objeto, tratam da capacidade de
hereditariedade política por transferência horizontal que ocorre entre genros
e sogros. O casamento torna-se, portanto, um mecanismo fundamental para
a escolha e/ou direcionamento ao pertencimento político a determinado gru-
po familiar. A entrada que permite o vínculo político é o casamento.
A ampliação da influência política através do sogro é associada à pos-
sibilidade de se creditar no jogo político o sobrenome duplo, ou seja, o so-
brenome da esposa pode ser um fator de acréscimo político se o pai tiver
um histórico político considerável, resultando na longevidade da linhagem
política. Assim, não só o vínculo com outro sobrenome político, mas a sua
história também passa a ser apropriada. A apropriação do nome do sogro
junto à família do agente político (o genro) é chamada por Niess (2012) de
uso do duplo patronímico. Quanto maiores forem a carreira política e a
rede de parentesco do sogro, maior será o capital agregado ao genro. Nes-
se aspecto, entendemos que, para a realidade brasileira, a presença e o
vínculo de cunhados e primos podem ser considerados significativos na
composição dos vínculos construídos e firmados pelas filiações indiretas,
da qual fala o autor.
A associação dos agentes políticos ao mesmo grupo de parentesco pode
ser pensada como fator de acréscimo ao capital político, desde que, para
isto, ambos estejam participando do mesmo lado do jogo político, do mesmo
partido ou, minimamente, da mesma posição ideológica no quadro de ali-
nhamento político.
O estudo de Joel Ruiz Sánchez (2008) também se configura como ou-
tra contribuição significativa. Sánchez (2008) destaca a expressiva presença
de famílias políticas disputando o governo no cenário mexicano, fato que
tem resultado em mais estudos sobre o tema. Contudo, muitos trabalhos e
pesquisas recentes têm direcionamentos específicos e buscam, dessa forma,
constructos teóricos próprios, adaptando-se ao movimento das pesquisas
empíricas. Não obstante, em que pese uma perspectiva ampla para o concei-
to de família, o autor indica que os estudos devem contemplar a compreen-

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são das redes familiares, dos mecanismos de reprodução e também a perma-


nência destas no cenário político. Já o entendimento do termo família deve
ser visto como categoria fundamental que exprime a reprodução da ordem
social, ao tempo em que é o fator de consolidação dos Estados Nacionais na
América (SÁNCHEZ, 2008, p. 176).
Em uma observação próxima da análise realizada por Diana Balmori
(1994) no contexto argentino, Sánchez compreende o tema família em meio
à sua visão de grupo que atua coletivamente e que deve ser estudado segun-
do várias matrizes teóricas e ferramentas interdisciplinares, como História,
Sociologia e Antropologia. Já o entendimento do termo, de forma específica,
relaciona-se ao aspecto de que se constitui enquanto entidade privada, por-
que suas decisões são pessoais, dizem respeito aos interesses com espírito
de família; daí o fato de ser estudado segundo várias abordagens e áreas
científicas distintas e complementares.
Assim, os agentes políticos atuam mediante funções na família, gerando
sentido de lealdade ao grupo e laços mais fortes, ao passo que as concepções
de compadrio e de clientelismo não se estabelecem sobre a matriz consan-
guínea e necessitam ser firmadas por outros mecanismos de sustentação e de
dominação. Para Sánchez (2008), é preciso levar em conta os mecanismos de
conservação e distribuição de poder, além dos elementos ideológicos e afeti-
vos que se colocam como princípios importantes de integração, reprodução
e continuidade temporal.
Os trabalhos de Canêdo (1994; 1995; 1997; 2005 e 2011), Oliveira (2001;
2007; 2012) e Grill (2003; 2004; 2007 e 2012) são tomados como pontos de
partida para reflexão da temática família e política numa abordagem que
reconheça a presença do fenômeno em conjunturas sociais e políticas da
atualidade. Nesse sentido, as duas últimas décadas vêm sendo palco de es-
tudos que assumem a perspectiva dos três autores, cujas propostas e análises
são tomadas de forma heurística, pois suas contribuições vão além da reto-
mada de um objeto de pesquisa, de certo modo negligenciado, mas consubs-
tanciam a variável família na análise da política de modo que possibilitam
novos debates.
Recentemente, e a partir dos estudos clássicos (FREYRE, 2013; HOLAN-
DA, 1995; VIANNA, 1987; PINTO, 1980), enfoques e novas agendas inspi-
radas nos trabalhos destes pesquisadores contemporâneos (CANÊDO, 1994,
1995, 1997, 2011 e 2015; OLIVEIRA, 2001, 2007 e 2012; GRILL, 2003, 2004,

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2007 e 2012) têm contribuído para aberturas de novas análises e investi-


gações. Outros focos de análise tomando como objeto o tema da família
e a relação com o universo da política têm emergido a partir das aborda-
gens de pesquisadores nas mais variadas regiões e estados da federação. As
abordagens correlacionando o tema família e política têm sido o objeto das
pesquisas desenvolvidas por Pimentel (2014); Adilson Filho, (2013), tendo
enfoques nas mais variadas instituições da república brasileira. As investi-
gações e pesquisas têm apontado para uma diversidade de instituições nas
quais agentes vinculados às famílias políticas atuam e controlam instâncias,
até então, não tomadas como objeto de análise sociológica, como é o caso
dos cartórios (MACHADO, 2016), instituição esta que, quase sempre, fora
tomada como espaço de fonte de pesquisa, mas não como instituição capaz
de informar a força que grupos tradicionais detêm ao controlar este espaço,
como também o é o meio esportivo, o controle dos clubes de futebol (LAIBI-
DA, 2016) e a maçonaria (AMARAL, 2016), cujos temas e objetos familiares
foram consolidados.
As premissas desenvolvidas pelos referidos autores também permitiram
construir novas perspectivas de tratamento teórico e metodológico de obje-
tos de certa forma “tradicionais” ao âmbito da Sociologia e Ciência Política,
como as instituições do legislativo (GOULART, 2014; 2015; 2016; MONTEI-
RO, 2016; ALVES, 2015), do executivo (GOULART, 2015; SILVA, 2015), do
judiciário (KAMINSKY, 2013), dos Tribunais de Contas (PEREIRA, 2016), de
políticas sociais municipais (FIUZA, 2016) de órgãos e empresas públicas,
como também do viés empresarial nas relações estabelecidas entre o Estado
e o setor privado.

Considerações finais

Analisar a política é também considerar os nomes e os sobrenomes de


quem a exerce. Este texto procurou demonstrar como a variável família,
nas pesquisas e investigações acerca da política e suas instituições, vem
se tornando relevante para os estudos das Ciências Sociais na atualidade.
Não obstante a ausência desta temática de pesquisa em um determinado
lapso temporal, atualmente esta agenda tem sido retomada por alguns pes-
quisadores brasileiros e inspirados novos estudos no campo das ciências
sociais. Os últimos acontecimentos políticos no Brasil e os discursos que

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permeiam a fala dos representantes políticos reforçam a necessidade de


reconhecimento e de consideração dessa vertente epistemológica de refle-
xão, não havendo dúvidas que “Família ainda importa” (OLIVEIRA, 2012,
p. 13) para a explicação da ação política, compreensão do padrão de re-
crutamento no parlamento e as formas de atuação da classe dominante em
nosso país
Os trabalhos de Canêdo (1994; 1995; 1997; 2011 e 2015), Oliveira (2001;
2007; 2012) e Grill (2003; 2004; 2007 e 2012) tornam-se referências funda-
mentais. São trabalhos que ressaltam vertentes teóricas, métodos e aborda-
gens empíricas, capazes de retratar a estrutura social e política do Brasil e
de suas regiões, podendo ser articulados com abordagens típicas da Ciência
Política na medida em que agregarem, de fato, compreensão ao mapeamento
e às ações dos que governam (e de suas redes familiares) para além do jogo
partidário e dos resultados eleitorais. Se por um lado, pode-se averiguar a
longa duração de certos sobrenomes em contextos políticos específicos, por
outro, podem-se reconhecer as continuidades nas relações de desigualdade
social. Os referidos estudos também nos fazem compreender a própria di-
nâmica atual do jogo político através da permanência de certas famílias em
posições de poder, como também o fato de que novos grupos surgem e se
adaptam ao presente modelo institucional familiar.
Ao resgatar aspectos fundamentais apontados nas pesquisas desses au-
tores, percebe-se que suas investigações vêm influenciando cada vez mais
estudiosos da vida política brasileira. O objeto família e política não é espe-
cífico do Brasil, tão menos sua concretude nas relações sociais. Ocorre que
pode se identificar elementos específicos e contornos regionais que preci-
sam ser considerados ao se refletir acerca do contexto político mais amplo
e, dessa forma, somente novas investigações empíricas podem responder e
avaliar tal processo.

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