Memória e Identidade. Joel Candau
Memória e Identidade. Joel Candau
Memória e Identidade. Joel Candau
RESENHA
como nas análises da memória e/ou da identidade elaboradas por Henri Bér-
gson, Pierre Nora, Jacques Le Goff, Maurice Halbwachs, Phillipe Áries, Nor-
bert Elias, Paul Ricoeur, Andreas Huyssen e Michael Pollak.
No livro em questão, Joel Candau traz à luz algumas dessas contribui-
ções e propõe reavaliações e redimensionamentos dos conceitos de memória e
identidade, postas em debate com outras áreas do conhecimento mas, de cer-
ta maneira, atento ao legado que as obras de Maurice Halbwachs (A Memória
Coletiva) e Pierre Nora (Les Lieux de mémoire) deixaram pra os que se aven-
turam a estudar estes temas.
Para Candau, a antropologia, que a partir da sua trincheira, tenta inter-
pretar as relações entre indivíduo e grupo, tem uma importante contribuição
para o entendimento dos conceitos de memória e identidade pois no fundo, a
grande questão, a partir de dados empíricos, é saber como os indivíduos com-
partilham práticas, representações, narrativas, lembranças que produzem as
quais, em última instância, é o que chamamos de cultura.
A principal chave de leitura para analisar o livro em questão, e que cons-
titui o seu principal argumento, é a de buscar compreender como passamos
de formas individuais para formas coletivas de memória e identidade. Para
Candau, ao nos interrogarmos sobre esta passagem, partimos da premissa de
que ela, de fato, existe e que, portanto, deve ser considerada e demonstrada.
A partir desta chave, reforça-se o fato de que os conceitos de memória
e identidade são indissociáveis das noções contemporâneas que temos sobre
as ideias de conservação, restauração e, em suma, da ideia de patrimônio tal
como o termo vem sendo redefinido mais recentemente. Joel Candau chega
mesmo a afirmar que “o patrimônio é uma dimensão da memória” (p. 16) e
que “o patrimônio é menos um conteúdo que uma prática da memória obe-
decendo a um projeto de afirmação de si mesma” (p. 163)
Candau nos provoca, indagando-nos se não há uma tendência que nos
leva ao exagero de conferir a estes fenômenos (memória e identidade) uma
centralidade que, exceto em períodos de crise, seriam de fato mais relevantes.
Argumenta que manter a ferro e fogo a afirmação de que “a questão das
identidades está no coração do debate político” (p.200) e que o patrimônio es-