UCHÔA, C. E. F. 2018 Art. Eugenio Coseriu No Quadro Da Linguística Moderna
UCHÔA, C. E. F. 2018 Art. Eugenio Coseriu No Quadro Da Linguística Moderna
UCHÔA, C. E. F. 2018 Art. Eugenio Coseriu No Quadro Da Linguística Moderna
RESUMO:
Os fundamentos essenciais da ideologia linguística de Eugenio Coseriu. A repercussão
de sua obra no Brasil. A mudança que ela representou em relação à de Ferdinand de
Saussure. O amplo conceito de competência linguística em três níveis: o universal,
o histórico e o individual. O falar concreto como base para todas as manifestações
da linguagem. As obras mais representativas de Coseriu para o conhecimento de seu
pensar sobre a linguagem.
PALAVRAS-CHAVE:
Competência linguística; coerência teórica; atividade criadora.
ABSTRACT:
The essential foundations of Eugenio Coseriu’s linguistic ideology. The repercussion
of his work in Brazil and the changes it represented in relation to that of Ferdinand de
Saussure. The broad concept of linguistic competence at its three levels: the universal,
the historical and the individual one. Concrete talk as the basis for all manifestations
of language. The most representative Coseriu’s contributions for the knowledge of his
thought about language.
KEYWORDS:
Linguistic competence, theoretical coherence, creative activity.
Treinta años después (a 1ª edição é de 1951), conserva todo su valor, cosa sin-
gular en nuestra época, proclive a improvisaciones y a las rectificaciones o los
repúdios conseguintes. Lo que há sido bien concebido y bien hecho mantiene su
lozanía a través de los años. Es el caso de esta obra. Por ello, el Centro de Lin-
güística Hispánica la reedita ahora, como testimonio de la validez de la doctrina
linguística expuesta por Eugenio Coseriu en su entonces ya madura juventud.
(COSERIU,1990)
Não sem razão, pois, Coseriu tinha uma privilegiada competência para
uma visão bem fundamentada sobre o desenrolar das ideias linguísticas até
fins do século passado, uma visão abrangente dos vários saberes metalinguís-
ticos ou modos de focalizar a linguagem, combatendo sempre a dogmatização
deste saber, ou seja, tomar-se o que é apenas certo tipo de saber como o saber
mesmo sobre a linguagem, como paradigma da ciência. O linguista romeno
insistia, então, na complementariedade necessária desses saberes e, portanto,
no reconhecimento da validade de cada um deles.
O significativo prestígio acadêmico de Coseriu, reconhecimento inequí-
voco do valor dos cursos e palestras ministrados em numerosos países e da sua
produção incessante ao longo de cinquenta anos, espraiou-se mundialmente,
do italiano por Evanildo Bechara) teve uma acolhida expressiva, embora longe
de poder representar um arcabouço mais global da ideologia linguística cose-
riana, pois a primeira edição dela data de 1973, Lezione di linguística generale,
quando ainda longe estava de ter desenvolvido cabalmente a sua abrangente
teoria sobre o universo verbal.
No nosso país, o famoso ensaio “Sistema, norma e fala”, ensaio que integra
a obra Teoria da linguagem e linguística geral (tradução brasileira de 1979 do
texto espanhol, de 1962) é que se tornou de fato bem conhecido. Nele Coseriu
desenvolveu a sua proposta teórica de norma nas preocupações da linguística
descritiva, a contrapor-se à concepção tradicional de norma identificada com
a prescrição gramatical. Este conceito de “norma normal” pertence hoje à
Linguística. Já aqui, distinguindo entre língua, sistema funcional, e norma,
sistema normal, Coseriu se afasta de Saussure, que opunha apenas a langue à
parole (fala, discurso).
O mestre genebrino não considerou o nível ainda abstrato da norma, que
vem a ser aquilo que se diz habitualmente numa comunidade, um modo de agir
verbal. Mas é a língua, como sistema funcional, que se apresenta como um sis-
tema de possibilidades, logo sistema na sua condição de saber criativo, que irá
permitir ao falante desrespeitar o uso fixado, particularmente quando o intento
expressivo se torna altamente elaborado na criação estética, promovendo, na
feliz expressão de Manoel de Barros, os versos “Porque eu não sou da infor-
mática/ eu sou da invencionática” (Barros, 2003, IX). Graças a tal conceito de
língua como sistema de possibilidades, tão bem fixado por Coseriu, fica mais
fundamentada a noção de que saber uma língua não é só saber o que se diz,
mas também saber o que possa ser dito.
Mas o ideário coseriano, por parte certamente de muitos estudiosos
brasileiros, parece ter ficado mais restrito, em geral, a apenas este ensaio, em
meio a uma produção vastíssima e abrangente de livros, conferências, artigos
e resenhas, como a de poucos linguistas.
Como explicar tal fato? perguntam muitos que se dedicam ao estudo da
linguagem entre nós. Houve várias razões, pensamos nós, que atuaram. Seus
primeiros livros entre nós, publicados pela editora Presença (RJ), são dos fins
da década de 70, quando a Linguística já se mostrava mais vivamente interes-
sada pela Sociolinguística e pelo estudo do texto, embora Marcuschi, em obra
de 1983, já se refira à publicação então recente de Coseriu em alemão sobre A
Linguística do Texto, de 1980. As obras do linguista romeno editadas entre nós
reuniam, cada uma delas, um conjunto de ensaios sobre diversos temas, ainda
Com tudo isto, por certo, muito me afastei de Ferdinand de Saussure; cheguei
até ao pólo oposto de Saussure do saussurianismo “ortodoxo” [entendido por
Coseriu como repetição, confirmação e aplicação do dito por Saussure]; porém,
conforme creio, também cheguei a isto em contato permanente com Saussure, e
não sem Saussure, e muito menos contra Saussure.
Evidencia-se pois de todo que a fala deve ser considerada como um marco
fundamental da teoria linguística de Coseriu, que assim se afasta de Saussure,
que defendia, como arauto do estruturalismo, que o estudo da linguagem de-
veria partir da língua, sistema abstrato. Deste modo, reiteramos que o linguista
romeno não pode nem deve ficar conhecido na história da Linguística como
um estruturalista, a não ser em algumas obras iniciais.
Na profícua produção escrita de Coseriu, podemos, para uma compre-
ensão dos postulados essenciais de sua teoria sobre a linguagem, destacar os
seguintes textos: os ensaios “Sistema, norma y habla”, “Forma y sustancia en
los sonidos del linguaje” e “Determinación y entorno”, constantes da obra Te-
oría de lenguaje y lingüística general: cinco estudios, edição inicial de 1962;
Competencia lingüística: elementos de la teoria del hablar, de 1992 e Lingüís-
tica del texto: introducción hermenéutica del sentido, de 2007, sendo de 1980
a primeira edição em alemão.
Para Coseriu, o falante se apresenta como medida de todas as coisas,
reconhecendo, mesmo que por intuição, o falar em seus três níveis. Por outro
lado, destaca Coseriu (1980, p.92):
Como actividade livre, es, asimismo, el primer fenômeno de la libertad del hombre.
Como actividade intersubjetiva, es la base de lo social y la forma fundamental de
la historicidade del hombre, por lo cual es también instrumento de comunicación
y instrumento de la vida práctica. Y como aprehensión del mundo, es supesto y
condición de la interpretación del mundo.
Referências
Barros, Manoel de. Memórias inventadas. A infância. São Paulo: Planteta, 2003.
Caamaño, Antonio Vilarnovo. Lógica y linguaje en Eugenio Coseriu. Madrid:
Gredos, 1991.
Coseriu, Eugeniu. Teoría del linguaje y lingüistica general. Madrid: Gredos,
1962.
______. Sincronía, diacronía y historia. Madrid: Gredos, 1973.
______. Principios de semántica estructural. Gredos: Madrid, 1977.
______. El lenguaje y la compreensión de la existencia del hombre actual. In:
El hombre y su lenguaje. Madrid: Gredos, 1977, p. 14-65.
Coseriu, Eugeniu. Los dimimutivos: “noción” y “emoción”. In: El hombre y
su lenguaje. Madrid: Gredos, 1977, p.160-170.
______. Lo erróneo y lo acertado en la teoría de la traducción. In: El hombre
y su lenguaje. Madrid: Gredos, 1977, p.214-239.