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Química Orgânica: Rodrigo Borges Da Silva

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QUÍMICA

ORGÂNICA

Rodrigo Borges da Silva


Formas mesoméricas,
geometria molecular
e hibridização
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Construir a geometria de uma molécula baseando-se na repulsão


dos elétrons de valência.
„„ Explicar a geometria de uma molécula baseando-se na hibridização
de orbitais atômicos.
„„ Descrever os híbridos de ressonância para uma mesma espécie
quando for possível.

Introdução
As estruturas das moléculas foram determinadas experimentalmente, o
que possibilitou hoje a elaboração de regras que facilitam a determinação
da geometria molecular de muitas estruturas. As estruturas de Lewis,
por sua vez, são representações em duas dimensões das ligações entre
os átomos e sua conectividade. Já o modelo da repulsão dos pares de
elétrons na camada de valência – modelo de repulsão dos pares eletrô-
nicos da camada de valência (VSEPR, do inglês valence shell electron pair
repulsion) – é uma ampliação da ligação química de Lewis que serve para
explicar as formas que as moléculas podem apresentar, além de adicionar
regras sobre os ângulos permitidos em cada ligação.
Neste capítulo, você vai aprender a construir a geometria de uma
molécula baseando-se na repulsão dos elétrons de valência, bem como
explicar a geometria de uma molécula baseando-se na hibridização de
orbitais atômicos. Além disso, você vai aprender a descrever os híbridos
de ressonância para uma mesma espécie.
2 Formas mesoméricas, geometria molecular e hibridização

Geometria de uma molécula


Sabe-se que as moléculas são formadas por dois ou mais átomos ligados por
ligações covalentes. Contudo, a maneira como esses átomos estão dispostos
no espaço determinará diferentes formas geométricas para as moléculas.
Assim, toda molécula formada por dois átomos, sejam eles iguais ou não, é
classificada como molécula diatômica e terá sempre uma geometria linear,
pois seus núcleos estarão obrigatoriamente alinhados (Figura 1).

Oxigênio (O2)
Raio atômico = 66 pm

Nitrogênio (N2) Fluor (F2)


Raio atômico = 70 pm Raio atômico
Raio atômico = 64 pm

Núcleo

Hidrogênio (H2)
Raio atômico = 37 pm Cloro (Cl2)
Distância entre núcleos Raio atômico = 99 pm

Iodo (I2) Bromo (Br2)


Raio atômico = 133 pm Raio atômico = 114 pm

Figura 1. Exemplos de moléculas diatômicas.


Fonte: Adaptada de OSweetNature/Shutterstock.com.

Uma maneira bastante empregada para determinar a geometria de moléculas


é por meio da teoria da VSEPR, que leva em consideração o arranjo espacial
do átomo central e dos átomos ligados diretamente a ele. Essa teoria foi de-
senvolvida por Gillespie e Nyholm, em 1957, e fundamenta-se na premissa
de que os pares de elétrons da camada de valência ao redor do átomo central,
Formas mesoméricas, geometria molecular e hibridização 3

quer estejam ou não participando das ligações, comportam-se como nuvens


eletrônicas que se repelem entre si, de maneira que fiquem orientadas o mais
distante uma da outra, minimizando assim as repulsões intereletrônicas. Dessa
forma, com base na posição dos átomos, é possível determinar sua geometria
molecular (CAREY, 2011).
A orientação espacial dessas nuvens dependerá do número total de pares
eletrônicos ao redor de um átomo central, ou seja, do número de coordenação
total (NCT). O NCT é definido como a soma do número de pares ligantes
(PL) com o número de pares não ligantes (PNL) ao redor do átomo central.
Acompanhe no exemplo a seguir a determinação do NCT para a molécula
de água (H2O).

NCT = PL + PNL
NCT = 2 + 2 = 4

Veja a seguir a Figura 2.

Figura 2. Estrutura angular da molécula de água.


Fonte: Adaptada de UFMG ([2016]).
4 Formas mesoméricas, geometria molecular e hibridização

Observe que os pares não ligantes apresentam maior volume que os pares ligantes e
somente elétrons das ligações Σ (sigma) são contados como pares ligantes. Lembre-se:
„„ Ligação simples (A – B): tem uma ligação Σ;
„„ Ligação dupla (A = B): tem uma ligação Σ e outra ligação π (pi);
„„ Ligação tripla (A ≡ B): tem uma ligação Σ e duas ligações π (pi).

A determinação da geometria de moléculas e íons pode ser realizada


seguindo algumas regras:

1. Desenhar a estrutura de Lewis.


2. Verificar o número de PL e o número de PNL.
3. Determinar o NCT.
4. Levar em consideração a repulsão de pares eletrônicos: PNL – PNL >
PNL – PL > PL – PL.
5. Levar em consideração a repulsão quanto aos ângulos: 90° > 120° > 180°.
6. Inicialmente considerar somente as repulsões a 90°.
7. Optar pela geometria molecular que apresente a menor repulsão entre
os pares eletrônicos.
8. Considerar que cada ligação dupla ou tripla é contada como uma única
ligação.

No Quadro 1 estão representados alguns exemplos de moléculas e sua


geometria molecular, assim como os respectivos NCT, número de PL e número
de PNL.
Formas mesoméricas, geometria molecular e hibridização 5

Quadro 1. Geometria molecular

NCT PL PNL Geometria Ângulo Exemplos

2 2 0 Linear 180° CO2, CS2, C2H2 e BeH2

3 3 0 Trigonal planar 120° BF3, COCl2 e NO3–

3 2 1 Angular <120° SO2 e NO2-

4 4 0 Tetraédrica 109,5° CH4, NH4+, CCl4,


BF4 – e ClO4 –

4 3 1 Pirâmide trigonal <109,5° NH3, ClO3- e H3O+

4 2 2 Angular 105° H2O e ClO2–

5 5 0 Bipirâmide 90° e PCl5 e PF5


trigonal 120°

5 4 1 Gangorra <90° e SF4 e SeCl4


<120º

5 3 2 Forma de T <90° ClF3 e ClBr3

5 2 3 Linear 180° ICl2–, XeF2 e I3–

6 0 0 Octaédrica 90° SF6 e PF6

6 5 1 Pirâmide de <90° BrF5, IF5 e TeF5


base quadrática

6 4 2 Quadrado planar 90° XeF4 e BrF4

Fonte: Atkins e Jones (2006).

Na Figura 3 estão dispostos alguns exemplos de geometrias moleculares


com repulsões mínimas entre os pares de elétrons ligantes e não ligantes.
6 Formas mesoméricas, geometria molecular e hibridização

Linear Linear

Angular Angular ou linear Trigonal planar

Gangorra Tetraédrica Pirâmide trigonal

Quadro planar Bipirâmide trigonal Octaédrica

Figura 3. Nomes de algumas geometrias moleculares.


Fonte: Por Nasky/Shutterstock.com.

Dessa maneira, a forma da molécula ou do íon poliatômico será deter-


minada pelo número e pela orientação geométrica dos pares eletrônicos ao
redor do átomo central. Além disso, a melhor orientação será aquela que gera
a menor repulsão entre os pares de elétrons e os PNL são dispostos o mais
afastados entre si e entre os pares compartilhados. Em relação à polaridade
de uma molécula ou de um íon poliatômico, esta dependerá do formato e da
polaridade das ligações.
Formas mesoméricas, geometria molecular e hibridização 7

Geometria molecular baseando-se na


hibridização de orbitais atômicos
A representação simples, utilizando a sobreposição dos orbitais para descrever
a ligação em moléculas diatômicas, como H2, HF e F2, funciona muito bem,
contudo, existem algumas dificuldades quando consideramos as moléculas
com mais de dois átomos. Por exemplo, a partir da estrutura de Lewis do
metano, CH4, é possível observar a presença de quatro ligações covalentes
C-H. Já pela teoria da VSEPR, aliada a experiências, há a previsão de que
a geometria fornecida pelos pares de elétrons do átomo de carbono, C, no
metano é tetraédrica, com ângulos de 109,5° entre os pares ligados. Os átomos
de hidrogênio nessa estrutura são idênticos, isso sugere que quatro pares
equivalentes de elétrons de ligação estão orientados em torno do átomo de
C. Dessa forma, uma representação dos orbitais da ligação deveria ser capaz
de informar tanto a geometria como o fato de que todas as ligações C–H são
iguais (ATKINS; JONES, 2006).
Veja a seguir a Figura 4.

CH4 Metano
Geometria em
Modelo Estrutura
razão dos
molecular de Lewis
pares de elétrons
Figura 4. Estrutura de Lewis e geometria do metano.
Fonte: Adaptada de adison pangchai/Shutterstick.com; Geometria... (2017).

Ao aplicar o modelo de sobreposição dos orbitais utilizado para H2 e F2,


sem antes fazer modificações, surgirá um problema ao descrevê-lo para a
ligação no CH4. Embora o orbital esférico 2s possa formar uma ligação em
qualquer direção, os três orbitais p (2px, 2py, 2pz) para os elétrons de valência
8 Formas mesoméricas, geometria molecular e hibridização

do carbono formam ângulos retos de 90° e não correspondem ao ângulo


tetraédrico de 109,5°. Veja a Figura 5.

Figura 5. Representação dos orbitais s e p.


Fonte: general-fmv/Shutterstock.com; ghost design/Shutterstock.com.
Formas mesoméricas, geometria molecular e hibridização 9

Além disso, um átomo de carbono em seu estado fundamental, com a con-


figuração eletrônica 1s2 2s2 2p2 , tem somente dois elétrons desemparelhados,
contidos nos orbitais 2p, não os quatro que são necessários para a formação
das quatro ligações.
Dessa forma, para descrever a ligação do metano e de outras moléculas,
Linus Pauling propôs a teoria da hibridização dos orbitais. Para isso, ele
sugeriu que um novo conjunto de orbitais, chamado de orbitais híbridos,
poderia ser criado misturando os orbitais s e p em um átomo.

A hibridização consiste na interação de orbitais atômicos incompletos que se


transformam, originando novos orbitais, em igual número. Esses novos orbitais são
denominados orbitais híbridos (CAREY, 2011).

Os orbitais híbridos requeridos por um átomo em uma molécula ou em


um íon são escolhidos para corresponder a sua geometria a partir dos pares
de elétrons do átomo, uma vez que um orbital é requerido para cada par de
elétrons da ligação sigma e para cada par isolado (KOTZ et al., 2015). A seguir,
estão descritos os seguintes tipos de hibridização importantes:

„„ sp: se o orbital s da camada de valência no átomo central em uma mo-


lécula ou em um íon for unido com um orbital p da camada de valência
desse mesmo átomo, serão formados dois orbitais híbridos sp. Esses
orbitais estão separados por um ângulo de 180°.
„„ sp2: se um orbital s for unido a dois orbitais p, sendo todos da mesma ca-
mada de valência, serão criados três orbitais híbridos sp2. Esses orbitais
se encontram no mesmo plano e estão separados por um ângulo de 120°.
„„ sp3: quando o orbital s for unido com três orbitais p, sendo todos da
mesma camada de valência, o resultado gera quatro orbitais híbridos,
denominados de sp3. Esses orbitais híbridos estão separados por um
ângulo tetraédrico de 109,5°.
10 Formas mesoméricas, geometria molecular e hibridização

O Quadro 2 resume as relações entre o arranjo de elétrons e o tipo de


hibridização. Não importa quantos orbitais atômicos são misturados, pois o
número de orbitais híbridos será sempre igual ao de orbitais atômicos utilizados.
Dessa forma, X orbitais atômicos formam X orbitais híbridos. Alguns exemplos
de hibridização do Quadro 2 incluem orbitais d. Os orbitais d são utilizados
quando um átomo central precisa acomodar cinco pares de elétrons ou mais,
como o PCl5. Vele mencionar, ainda, que somente elementos do Período 3 e
seguintes da Tabela Periódica têm orbitais d que podem ser utilizados para
formar híbridos.

Quadro 2. Hibridização e forma molecular

Número Hibridização Número


Arranjo de
de orbitais do átomo de orbitais Exemplos
elétrons
atômicos central híbridos

Linear 2 sp 2 CO2

Trigonal 3 sp 2
3 BF3
planar

Tetraédrico 4 sp3 4 CH4

Bipirâmide 5 sp3d 5 SF6


trigonal

Octaédrico 6 sp3d2 6 SF6 e XeF4


Outras combinações de orbitais s, p e d podem dar origem às mesmas formas ou outras, porém,
estas formas são as mais comuns.

Fonte: Adaptado de Atkins e Jones (2006).

Híbridos de ressonância
As substâncias, em sua maioria, podem ser representadas pelas estruturas de
Lewis ou de Kekulé (fórmula estrutural de traços). Ao desenhar a estrutura
de Lewis para o nitrometano, CH3NO2, é necessário mostrar a ligação dupla
para um átomo de oxigênio e a ligação simples para o outro átomo de oxigênio.
Veja a Figura 6.
Formas mesoméricas, geometria molecular e hibridização 11

Figura 6. Estrutura de Lewis para o nitrometano.


Fonte: Adaptada de McMurry (2010).

Embora os dois átomos de oxigênio no nitrometano pareçam ser diferentes


em relação às estruturas de Lewis, experimentos comprovam que eles são
iguais. Em ambas as estruturas, as ligações N–O apresentam comprimento
de ligação igual a 122 pm, um valor intermediário entre o comprimento típico
de uma ligação simples N–O (130 pm) e um valor típico de uma ligação dupla
N = O (116 pm). Contudo, nenhuma das duas estruturas para o nitrome-
tano é correta por si só, a estrutura correta é intermediária entre as duas
(MCMURRY, 2010).
As duas estruturas de Lewis individuais para o nitrometano são chamadas
de estruturas de ressonância, indicadas pela seta de duas pontas (←→) entre
ambas, em que a única diferença entre elas é a distribuição dos elétrons de
valência π e não ligantes. Os átomos apresentam a mesma conectividade e
ocupam exatamente o mesmo lugar.
O nitrometano não altera de uma forma ressonante para outra, ele apresenta
uma única estrutura que não muda, denominada de híbrido de ressonância das
duas formas individuais. Contudo, a única questão para o nitrometano é que
não é possível desenhar o híbrido de maneira precisa utilizando as estruturas
de Lewis e as de Kekulé. Dessa forma, essas estruturas não são adequadas
para representar os híbridos de ressonância.
O benzeno, C6H6, por sua vez, tem seis ligações carbono-carbono equi-
valentes, sendo, portanto, mais bem representado como um híbrido de resso-
nância. Apesar de cada forma de ressonância individual parecer representar
que o benzeno tem ligações simples e duplas alternadas, nenhuma forma é
correta sozinha. A verdadeira estrutura do benzeno é um híbrido de duas
formas individuais, em que todas as ligações carbono-carbono são exatamente
equivalentes. Veja a Figura 7.
12 Formas mesoméricas, geometria molecular e hibridização

Figura 7. Estruturas de ressonância do benzeno.


Fonte: Adaptada de McMurry (2010) e Shutterstock (estrutura 3d).

Regras para as formas de ressonância:

1. Estruturas de ressonância individuais são imaginárias, não reais, só


existem no papel. As estruturas de ressonância são conectadas por
uma seta dupla (←→) e a molécula real será um híbrido de todas elas.
2. Ao escrever as estruturas de ressonância, é possível mover apenas os
elétrons π, mantendo a posição dos núcleos dos átomos em todas as
estruturas. Utiliza-se para isso setas curvas para indicar o movimento
de elétrons, e não o movimento de átomos.

Veja a Figura 8 a seguir.

Figura 8. Representação do movimento de elétrons da molécula de benzeno.


Fonte: Adaptada de McMurry (2010).
Formas mesoméricas, geometria molecular e hibridização 13

3. Todas as estruturas de ressonância devem ser estruturas de Lewis


apropriadas, ou seja, não se deve escrever estruturas nas quais o átomo
de carbono, por exemplo, esteja fazendo cinco ligações. Veja a Figura 9.

Figura 9. Forma de Lewis incorreta para o íon acetato.


Fonte: Adaptada de McMurry (2010).

4. O híbrido de ressonância, que representa a molécula real, apresenta


menor energia se comparado a qualquer uma das estruturas de resso-
nância desenhadas. Veja a Figura 10.

Figura 10. Híbrido de ressonância.


Fonte: Adaptada de McMurry (2010).

Dessa forma, o híbrido de ressonância é mais estável que qualquer uma


das formas de ressonância. Sendo assim, quanto maior o número de formas
de ressonância, mais estável é a substância. O padrão observado nas formas
de ressonância mostradas para a molécula de benzeno e para o íon acetato é
do tipo comum, que leva a uma técnica muito útil para desenhar formas de
ressonância.
14 Formas mesoméricas, geometria molecular e hibridização

ATKINS, P. W.; JONES, L. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio


ambiente. 3. Rio de Janeiro: Bookman, 2006.
CAREY, F. A. Química orgânica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011. v. 1.
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em: 28 set. 2019.
KOTZ, J. C.et al. Química geral e reações químicas. 9. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2015.
MCMURRY, J. Química orgânica. 6. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2010. v. 1.
UFMG. Geometria molecular. [Minas Gerais, 2016]. Disponível em: http://zeus.qui.
ufmg.br/~qgeral/downloads/aulas/aula%2016%20-%20geometria%20molecular.pdf.
Acesso em: 28 set. 2019.

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