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Relatorio Desenvolvimento Juvenil2

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RELATÓRIO DE

RELATÓRIO
DESENV OL
DESENVOL VIMENT
OLVIMENT
VIMENTO O
JUVENIL – 2003

Brasília, dezembro de 2003


UNESCO 2004 Edição publicada pelo Escritório da UNESCO no Brasil

Social and Human Sciences Sector


Division of Social Sciences Research and Policy
Policy and Cooperation in Social Sciences Section/UNESCO-Paris

Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos conti-


dos neste livro, bem como pelas opiniões nele expressas, que não são, neces-
sariamente, as da UNESCO, nem comprometem a Organização. As indica-
ções de nomes e a apresentação do material ao longo deste livro não impli-
cam a manifestação de qualquer opinião, por parte da UNESCO, a respeito
da condição jurídica de qualquer país, território, cidade, região ou de suas
autoridades, nem tampouco a delimitação de suas fronteiras ou limites.
RELATÓRIO DE
RELATÓRIO
DESENV OL
DESENVOL VIMENT
OLVIMENT
VIMENTO O
JUVENIL – 2003

Julio Jacobo Waiselfisz (Coord.)


Roseane Xavier
Maria Maciel
Patrícia Dantas Barbosa
Edições UNESCO BRASIL

Conselho Editorial da UNESCO no Brasil


Jorge Werthein
Cecilia Braslavsky
Juan Carlos Tedesco
Adama Ouane
Célio da Cunha
Comitê para a Área de Desenvolvimento Social
Julio Jacobo Waiselfisz
Carlos Alberto Vieira
Marlova Jovchelovitch Noleto
Edna Roland

Revisão: Eduardo Perácio (DPE Studio) e Reinaldo Lima


Assistente Editorial: Rachel Gontijo de Araújo
Diagraação: Eduardo Perácio (DPE Studio)
Projeto Gráfico: Edson Fogaça

 UNESCO, 2004
Waiselfisz, Julio Jacobo
Relatório de desenvolvimento juvenil 2003 / Julio Jacobo Waiselfisz.
– Brasília : UNESCO, 2004.
200p.
ISBN: 85-87853-92-9
1. Jovens – Desenvolvimento Socioeconômico 3. Jovens –
Desenvolvimento Educacional 4. Jovens – Saúde 5. Jovens –
Desenvolvimento Cultural 6. Situação Socioeconômica – Juventude
I.UNESCO II. Título

CDD 305.235

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura


Representação no Brasil
SAS Quadra 5, Bloco H, Lote 6, Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, 9º andar
70070-914 – Brasília – DF – Brasil
Tel.: (55 61) 2106-3500
Fax: (55 61) 322-4261
E-mail: UHBRZ@unesco.org.br
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO................................................................................................... 07
ABSTRACT.................................................................................................................. 11
INTRODUÇÃO........................................................................................................ 13
1. CONSIDERAÇÕES SOBRE JUVENTUDE E
DESIGUALDADES............................................................................................ 15
2. NOTAS TÉCNICAS E METODOLÓGICAS...........................................29
3. EDUCAÇÃO........................................................................................................... 37
3.1. A situação do analfabetismo entre os jovens.......................................... 37
3.2. Escolarização: freqüência à escola..............................................................57
3.3. Anos de estudo................................................................................................73
3.4. Qualidade do ensino...................................................................................... 82
4. RENDA E ATIVIDADES.................................................................................. 87
4.1. Renda................................................................................................................. 87
4.2. Atividades..........................................................................................................97
4.2.1. Situação rural/urbana........................................................................ 114
4.2.2. Diferenças por gênero.......................................................................123
4.2.3. Variações por cor................................................................................136
4.3. Educação, trabalho e renda....................................................................... 144
5. SAÚDE.................................................................................................................... 149
5.1. Mortalidade por causas violentas............................................................. 152
5.2. Mortalidade por causas internas............................................................... 159
5.3. Maternidade 11 a 19 anos.......................................................................... 167
6. ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO JUVENIL................................173
6.1. O IDJ...............................................................................................................173
6.2. Comparação entre IDJ e IDH.................................................................179
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 181
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 185
LISTA DE TABELAS............................................................................................. 193
LISTA DE GRÁFICOS.......................................................................................... 195
LISTA DE SIGLAS..................................................................................................197
NOTAS SOBRE OS AUTORES.........................................................................199
APRESENTAÇÃO

Desde 1997, a UNESCO no Brasil vem realizando estudos e


pesquisas sobre a temática da juventude, enfocando diferentes áre-
as e dimensões que envolvem os jovens brasileiros na atualidade -
educação, cultura, violência, saúde, emprego, pobreza, cidadania,
identidade.
Passados esses anos, é bem mais amplo o reconhecimento, entre
os pesquisadores e autoridades governamentais, de que os jovens cons-
tituem hoje uma parcela da população particularmente vulnerável aos
problemas sociais e econômicos do país. As questões referentes à ju-
ventude mostram-se mais presentes na pauta dos planejadores e, ain-
da que de forma esparsa, nos desenhos das políticas sociais.
Por outro lado, ao contrário do que se poderia desejar, os núme-
ros levantados em diversos estudos temáticos não têm demonstrado
um quadro muito diferente daquele que levou a UNESCO a iniciar a
linha de pesquisa em torno da juventude. E apesar da crescente preo-
cupação com o assunto entre pesquisadores de entidades governamen-
tais e não-governamentais, nacionais e internacionais, as avaliações
da situação dos jovens no país têm-se dado até o momento de forma
fragmentada - temporal, espacialmente e por área temática.
A publicação do Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003, da
UNESCO, portanto, vem ao encontro de uma importante demanda de
pesquisadores, planejadores, executores e outros públicos. O Relató-
rio fornece um amplo panorama da juventude no Brasil, permitindo
uma avaliação do quadro atual por meio da visão conjunta de áreas
sociais estratégicas e representativas da qualidade de vida dos jovens,
nas diversas unidades federativas do país.

7
O Relatório tem o mérito de aliar amplitude e síntese, oferecen-
do, a um só tempo, o mapeamento da situação dos jovens nas áreas de
educação, renda e saúde, e um índice sintético elaborado a partir des-
sas dimensões – o Índice de Desenvolvimento Juvenil (IDJ).
A criação do IDJ é sem dúvida uma contribuição ímpar para a
focalização do planejamento e da execução de políticas sociais para a
juventude. Seu maior mérito, no entanto, está no fato de que sua ado-
ção e réplica nos próximos anos poderão possibilitar o acompanha-
mento sistemático e evolutivo da situação dos nossos jovens,
explicitando os avanços, os aspectos mais críticos e os locais onde
esse segmento se encontra mais exposto a situações de vulnerabilida-
de e exclusão social, subsidiando a avaliação de políticas sociais e a
tomada de decisões.
O Relatório é enfático ao chamar a atenção para a continuidade e
reprodução, sobre os nossos jovens, de velhos padrões de desigualda-
de já amplamente discutidos no Brasil. A concentração de renda per-
siste e é claramente influenciada pela cor, pelo sexo e por fatores regi-
onais. Estreitamente ligada a esses aspectos, está a desigualdade na
distribuição de renda indireta (acesso a serviços essenciais, como edu-
cação e saúde).
No diferenciado acesso à educação (em termos quantitativos e
qualitativos) é que fica mais claro o círculo perverso da desigualdade:
ainda é grande a parcela de jovens de baixa renda que, por começarem a
trabalhar mais cedo, deixam a escola entre os 15 e 17 anos (ou antes),
muitas vezes sem chegar ao ensino médio. Segmentos com menores ní-
veis de escolarização, por sua vez, têm menos chances de ingressar no
estreito mercado de trabalho. A "seleção" para o mercado de trabalho
pareceria simplesmente "meritocrática", se não estivéssemos falando de
jovens – um segmento ainda em formação –, e se a continuidade da vida
escolar e a qualidade do ensino não sofressem os impactos de uma es-
trutura de oportunidades desigualmente distribuída e discriminatória.
No que diz respeito à saúde, o Relatório não somente reitera a
preocupante exposição dos jovens às mortes por causas violentas. Ele
também indica a fragilidade ou ausência de políticas de saúde especí-
ficas para a juventude, tanto do sexo masculino quanto do feminino, o
que pode ser observado no número de mortes por causas internas.

8
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Afora os custos para o Estado que poderiam ser evitados com profilaxia,
os atuais números da mortalidade juvenil explicitam, além de inesti-
máveis perdas humanas, uma imensa perda da potencial população
economicamente ativa do país.
Esses resultados, evidentemente, diferem nas regiões e unidades
federativas, mostrando-se mais positivos ou mais críticos em determi-
nadas áreas. Contudo, o Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003 mos-
tra-nos que os indicadores analisados são preocupantes no país como
um todo. Ou seja, a despeito de vastas discussões e planos relaciona-
dos ao tema, o Brasil ainda carece de uma política efetiva para a ju-
ventude.
A expectativa é a de que essa publicação contribua para o deline-
amento de ações concretas que se convertam em resultados e mudan-
ças das condições dos jovens, no sentido de tornar possível um Brasil
mais equilibrado e justo nas próximas gerações.

Jorge Werthein
Representante da UNESCO no Brasil

9
ABSTRACT

This study focuses on the situation of youths in Brazil. Its main


goal is to serve as the Youth Development Index, a synthetic indicator
of living conditions in the various federative units in the country. The
establishment of the Youth Development Index was based on criteria
used by the United Nations Development Program in the selection of
Human Development Index indicators. These indicators were adapted
so as to address issues that pertain specifically to youths aged 15 to
24. The following areas were selected to determine the Index: education,
based on illiteracy rates, the number of youths attending high school
and higher education institutions and the quality of the education
offered to youths; health, based on mortality rates considering internal
causes and violence-related deaths; and income, indicated by the per
capita income of youths in the federative units. The study used data
from the 2001 National Household Survey, carried out by the Brazilian
Institute of Geography and Statistics, from the Ministry of Health’s
2000 Information System on Mortality (SIM/DATASUS) and from
SAEB (National System for the Evaluation of Basic Education) reports.
The objective was to obtain a synthesized view of the locations, aspects
and degrees of development of Brazilian youth and to contribute to
greater precision in guiding, planning and establishing social policies
for youths in Brazil. In addition to the Youth Development Index,
specific chapters were dedicated to each of these dimensions. They
verify the influence of several aspects such as race, gender and location
– rural or urban – and provide a comprehensive view of the progress
and limitations of our youth.

11
INTRODUÇÃO

As situações de exclusão, aliadas às desfavoráveis condições so-


cioeconômicas, representam cenários significativamente comprome-
tedores para o processo de integração social dos jovens. Na América
Latina, apesar de avanços em diversos indicadores sociais, tais como
os apresentados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi-
mento (PNUD), no Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH)
divulgado anualmente, a juventude ainda está sujeita a sérias limita-
ções, relacionadas a direitos básicos como o de acesso ao conheci-
mento disponível e adequado às modernas necessidades sociais, ou ao
direito de uma vida longa e saudável, muitos dos quais percebidos nos
déficits educacionais, nas formas de inserção no mercado de trabalho
e nos padrões de mortalidade.
Por outro lado, a despeito da atenção que o tema da juventude
vem assumindo nas discussões acerca dos direitos humanos e do de-
senvolvimento econômico e social, tanto em países em desenvolvi-
mento da América Latina e Caribe quanto em países desenvolvidos
como os Estados Unidos, pouco se dispõe de medidas específicas
para mensuração dos graus de exclusão e de vulnerabilidade da ju-
ventude, tanto nos países como entre países. No Brasil, dispomos
do Índice de Vulnerabilidade Juvenil (IVJ), criado pela Fundação
SEADE, em São Paulo, em 2002, e ampliado para a realidade na-
cional no Atlas da Exclusão Social elaborado por pesquisadores
da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Campi-
nas (Unicamp)1. O IVJ, no entanto, mede especificamente a vulnera-

1 PORCHMAN, Marcio e AMORIN, Ricardo (Orgs.). Atlas da Exclusão Social no Brasil. São
Paulo: Cortez, 2003.

13
bilidade da juventude ao crime (o que constitui um importante indi-
cador), mas não se propõe a ser um índice extenso de desenvolvi-
mento da juventude.
Baseada nesta observação e nas diversas pesquisas que vem de-
senvolvendo sobre a juventude no Brasil, a UNESCO realizou o pre-
sente estudo, focalizando a situação social e econômica das juventu-
des no Brasil e visando à constituição de um indicador sintético do
nível de desenvolvimento dos jovens em várias dimensões, ao qual
denominou Índice de Desenvolvimento da Juventude (IDJ). O estudo
utilizou as bases de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Do-
micílios, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNAD/
IBGE) de 2001, do Sistema de Informações sobre Mortalidade do
Ministério da Saúde (SIM/DATASUS) de 2000 e do Sistema de Ava-
liação da Educação Básica (SAEB) de 2001. A constituição do IDJ
utilizou os critérios que norteiam a escolha dos indicadores utilizados
no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do PNUD.
Nas páginas que seguem, o leitor encontrará, no primeiro capítulo,
algumas considerações acerca de juventude e desigualdades. No segun-
do, a exposição dos aspectos técnicos e metodológicos do estudo. No
terceiro, quarto e quinto capítulos, é feita uma análise da juventude no
Brasil, respectivamente, nas áreas de educação, renda e saúde – a partir
de dados fornecidos pela PNAD, pelo SIM e pelo SAEB, tendo as cinco
grandes regiões brasileiras e as unidades federativas como os referenciais
comparativos. No sexto capítulo, apresenta-se o Índice de Desenvolvi-
mento Juvenil por unidades federativas. Por fim, as considerações finais,
à luz do discutido nos capítulos anteriores.
Com isso, espera-se obter uma demonstração sintética dos locais,
aspectos e graus de inclusão/exclusão da juventude brasileira, contri-
buindo para melhor focalização do planejamento e da execução de
políticas sociais para os jovens do Brasil.

14
I. CONSIDERAÇÕES SOBRE
JUVENTUDE E DESIGUALDADES

A literatura sobre a temática da juventude está eivada de concei-


tos, cujas abordagens ora são convergentes, ora são divergentes, de-
pendendo do enfoque adotado ou da área de conhecimento em que os
estudos se desenvolvem. Sem dúvida, o termo juventude é de concei-
tuação complexa e qualquer tentativa nesse sentido não pode despre-
zar pelo menos duas perspectivas de análise: uma biopsicológica e outra
sociológica.
É inegável que, em abordagens feitas sobre a temática aludida, as
perspectivas citadas estão intimamente imbricadas. Bastar olhar o ver-
bete cultura da juventude, no Dicionário do Pensamento Social do Século
XX, e lá encontraremos que compreender a cultura da juventude en-
volve considerações tanto sócio-históricas quanto psicológicas, estas
últimas baseadas em teorias como psicodinâmica, desenvolvimentista,
cognitiva, da personalidade, behaviorista...2 – enfim, teorias que abran-
gem, de certa forma, o problema da transformação biopsicológica.
É ainda no Dicionário citado, desta feita em outro verbete –
movimento da juventude –, que se afirma que as explicações para
os movimentos da juventude têm vindo de diferentes disciplinas,
onde se dá destaque à psicologia social e à sociologia. No caso da
primeira disciplina, as explicações (...) concentram-se nas características

2
BRAUNGART, Richard G.; BRAUNGART, Margaret M. Cultura da juventude. In:
OUTHWAITE, William; BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento Social do Século
XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996, p. 167-168.

15
de desenvolvimento de jovens que promovem conflitos com base em faixa etária
(...) nas histórias familiares específicas e nos traços de personalidade de jovens
ativistas políticos (...)3. Nas explicações sociológicas, enfatizam-se, den-
tre outras, a importância da socialização política (família, escola, mei-
os de comunicação...), a rápida transformação de uma sociedade e as
condições e estruturas de oportunidades que favorecem a formação
de movimentos da juventude.4
O percurso por essas perspectivas traz à baila um questionamen-
to que pode ser resumido com uma breve interrogação, inserida – de
forma implícita ou explícita – no debate sobre a temática da juventu-
de: é ela, a juventude, a mesma coisa que adolescência?
Os termos juventude e adolescência podem ser tratados como
sinônimos em dicionários de língua portuguesa5 ou, indistintamente,
em um ou outro estudo sobre a juventude brasileira, ao se analisar o
quadro demográfico da população jovem.6 Mas, em pesquisas desen-
volvidas pela UNESCO, há distinção entre juventude e adolescência no que se
refere aos aspectos social, cultural e emocional. O termo juventude tem um sentido
dinâmico e coletivo, e nos remete a um segmento populacional que faz parte de
uma determinada sociedade, ao passo que a adolescência nos conduz a um aspecto
mais relacionado ao plano individual e demarcado cronologicamente.7 Comu-
mente, estudos realizados pela UNESCO não hesitam em acatar o já
definido em documentos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e
da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS): a adolescência es-
taria atrelada a um processo biológico que inclui uma série de mudan-
ças de ordem fisiológica enquanto juventude estaria vinculada a uma
categoria essencialmente sociológica, (...) indicaria o processo de prepara-

3
BRAUNGART, Richard G.; BRAUNGART, Margaret M. Movimento da juventude. In:
OUTHWAITE, William; BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento Social do Século
XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996, p. 448.
4
Idem, p. 448.
5
Ver, por exemplo, o verbete juventude em: HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles.
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 1697.
6
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Políticas de juventud en América
Latina. Evaluación y deseño. Disponível em: http://echo.ilo.org/public/spanish/region/
ampro/centefor/ temas/youth/doc. Acesso em: 16/06/2003.
7
WAISELFISZ, J. Jacobo. Juventude, violência e cidadania: os jovens de Brasília. Brasília:
UNESCO; Cortez, 1998, p. 153.

16
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

ção para os indivíduos assumirem o papel adulto na sociedade, tanto no plano


familiar quanto no profissional, estendendo-se dos 15 aos 24 anos.8
Por certo se sabe que não há definição universalmente aceita para
os limites de idade em que se encontra a juventude. Do ponto de vista
sociológico, a juventude tem sido considerada não apenas como uma
categoria etária, mas também como um processo. E, assim sendo, para
se entenderem os processos sociais em que os jovens se envolvem, é necessário recor-
rer à forma como expressam seus comportamentos (...). A história, a tradição e
a cultura contribuem para a expressão de seus valores (...)9. No campo, por
exemplo, a CEPAL chegou a considerar que a juventude pode chegar
até aos 29 anos.10 Pesquisa feita no âmbito de organizações internaci-
onais como OPAS e OMS aponta que, no Chile, essa idade máxima
vai até os 30 anos.11 Alguns países, como o Japão, chegam ao aparente
paroxismo de classificar como jovens os indivíduos com idade até cer-
ca de 35 anos.12
Dada essa diversidade do conceito de juventude e os vieses his-
tóricos e culturais que o perpassam, nenhum corte etário seria, por si
só, perfeito ou impassível de ressalvas. Mesmo assim, serve como de-
nominador comum disponível para a coleta de dados e comparações
entre determinadas micro e macrorregiões acerca da juventude.
Um outro importante aspecto que envolve o conceito de juven-
tude está relacionado à questão da identidade coletiva. Trata-se, nesse
caso, do debate entre os que a concebem como "quase grupo", dotado
de uma identidade latente, de uma "categoria", ou seja, um simples
contingente populacional com características comuns.

8
WAISELFISZ, J. Jacobo. Mapa da Violência III. Brasília: UNESCO; Instituto Ayrton Senna,
Ministério da Justiça/SEDH, 2002, p. 18.
9
MINAYO, Maria Cecília de Souza et alii. Fala galera: juventude, violência e cidadania. Rio de
Janeiro: Garamond, 1999, p. 12.
10
ABRAMOVAY, Ricardo et alii. Juventude e agricultura familiar: desafios dos novos padrões
sucessórios. Brasília: UNESCO, 1998, p. 37.
11
RODRÍGUEZ, Garcia et alii. El ambiente legislativo y de políticas relacionado com la salud
del adolescente en América Latina y el Caribe. Washington, OPAS/OMS/Fundación W.K.
Kellogg, jun. 1999. In: http://www.adolec.org/pdf/legislative/pdf.
12
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde do Adolescente e do Jovem.
Políticas de juventude: evolução histórica e definição. Brasília, DF, Cadernos Juventude,
Saúde e Desenvolvimento, v. 1, ago. 1999. Disponível em: http://www.bireme.br/bvs/
adlec. Acesso em 16/06/2003.

17
Esse aspecto remete aos movimentos de juventude, que toma-
ram evidência ainda no século XIX. De acordo com Parsons, as trans-
formações geradas pela modernização, a ascensão da classe média, a
urbanização e a ampliação da educação pública promoveram segrega-
ções baseadas na idade ou nas gerações, suscitando o aparecimento de
culturas da juventude. Culturas da juventude vir-se-iam formando ao
longo da história moderna, às vezes juntas, às vezes separadas dos
movimentos políticos de juventude.13 Mas a discussão sobre a existên-
cia ou não desse quase grupo – sua identidade, a construção social
dessa possível identidade e as contradições sociais que envolvem essa
construção – foi travada notadamente nos anos 60, ora através do
resgate das idéias do filósofo espanhol Ortega y Gasset14 ora por meio
da sociologia da juventude de Karl Mannheim.15 No Brasil, esse traba-
lho foi desenvolvido principalmente por Maria Alice Foracchi.16
Desde então, amplas revisões em torno dos conceitos de juven-
tude e de identidade na sociologia têm sido desenvolvidas. Diante da
globalização e da pós-modernidade, o atual momento é caracterizado
pela ênfase no pluralismo.17 Nesse contexto, as tentativas de identifi-
cação de uma cultura ou de uma identidade da juventude mudam seu
foco para a investigação de culturas e identidades juvenis.18
Diferentes na idade, vivendo, ou não, a mesma história, cultura
ou tradição, a verdade é que não há um único tipo de jovem. Há jo-
vens, no plural, que, independentemente da condição socioeconômi-
ca, lutam para – de alguma forma – não ser excluídos do processo de
integração social. Querem ser incluídos, reconhecidos, sejam eles das

13
PARSONS, T. Social Structure and personality. Nova York: Free Press, 1964. Apud
BRAUNGART, Richard G.; BRAUNGART, Margaret M. Cultura da juventude. In:
OUTHWAITE, William; BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento Social do Século
XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996, p. 167.
14
ORTEGA Y GASSET, José. Em torno de Galileu: esquema das crises. Petrópolis: Vozes, 1989.
15
MANNHEIM, Karl. O problema da juventude na sociedade moderna. In: BRITO, S. (org.).
Sociologia da juventude. Rio de Janeiro: Zahar, v. 1, 1968. MANNHEIM, Karl O problema
sociológico das gerações. In: FORACCHI, Maria Alice (org.). Mannheim. São Paulo: Ática,
1982. (Coleção Grandes Cientistas Sociais).
16
FORACCHI, Maria Alice. A juventude na sociedade moderna. São Paulo: Pioneira, 1972.
17
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 7. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
18
CARRANO, Paulo César Rodrigues. Juventudes: as identidades são múltiplas. Movimento,
Revista da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro:
DP&A, n. 1, maio 2000.

18
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

periferias urbanas ou pertencentes a camadas sociais economicamente


mais favorecidas – como se pode apreender a partir do box que segue.

NÃO HÁ UM TIPO ÚNICO DE JOVEM19


O balanço da bibliografia sobre juventude demonstra que predominam as aná-
lises que enfocam o lado problema dos jovens, suas atitudes "desviantes", manifes-
tas em rebeldias, revoltas e delinqüências. Observa-se também uma certa polariza-
ção nos estudos com concentração em jovens que se encontram excluídos do processo
de integração social.
Outros tendem a generalizar, para toda a sociedade, uma cultura juvenil que
está assentada em valores e comportamentos mais típicos de jovens de classes médi-
as. A inclusão e a exclusão diferem nas formas de abordagem.
(...) considera-se que existe uma cultura juvenil que apresenta maior visibilida-
de nas últimas décadas, a partir das transformações ocorridas na sociedade. Essa
cultura não é, entretanto, homogênea, variando de acordo com a situação de classe,
e mesmo dentro desta não se pode estabelecer a priori que todos os jovens tenham o
mesmo tipo de comportamento.
Considera-se que a cultura juvenil apresenta ambivalências: de um lado aceita
os princípios da sociedade de consumo e seus valores; ao mesmo tempo, tende a ser
contra. As manifestações contrárias não assumem as características de protestos
políticos organizados, mas se manifestam de outras formas.
Não há um tipo único de jovem. Os jovens de periferia apresentam descontenta-
mento por sua exclusão social agravada, circunstancialmente de forma violenta,
buscam reconhecimento e valorização como cidadãos. A literatura já aprofunda
estudos e divulga material significativo.
Com relação aos jovens de classe média, nota-se a existência de poucos estudos a
respeito. Explica-se essa ausência pelo estereótipo consolidado violência/miséria.
As classes populares já seriam "perigosas" e as classes médias estariam iniciando
um processo de crise. Alguns estudos tendem a demonstrar que os jovens de classe
média experimentam exclusão existencial e processos identitários. Buscam afirmar-
se por meio da contestação de valores tradicionais recebidos nos vários níveis da
sociedade, o que pode vir a gerar violência.
Julio Jacobo Waiselfisz
Coordenador Regional da UNESCO em Pernambuco

19
WAISELFISZ, 1998, op. cit. pp. 158-159.

19
Pretende-se, neste trabalho, analisar as desigualdades entre os jo-
vens. Não qualquer tipo ou forma de desigualdade, mas aquelas que,
de acordo com as evidências e os dados disponíveis, originam condi-
ções e possibilidades diferenciadas de acesso aos benefícios que a so-
ciedade oferece.
Diferenças sociais sempre existiram na história da humanidade,
inclusive nas sociedades tidas como primitivas ou "igualitárias". As-
pectos biológicos como sexo, idade, força, tamanho etc. constituiriam,
originalmente, fatores de diferenciação individual, determinantes dos
diversos papéis, atividades ou tarefas que os indivíduos poderiam as-
sumir na organização da sociedade: quem comandaria o grupo, quem
cuidaria das crianças, quem sairia para caçar.
Mas as diferenças individuais só vieram a se transformar em desi-
gualdades sociais quando foram associadas a mecanismos e privilégios
no acesso aos recursos, serviços, benefícios ou honrarias que a socie-
dade oferece a seus membros. Noutras palavras, quando alguns papéis
ou posições possibilitaram a quem as exerce se apropriar de uma par-
cela maior de recursos ou benefícios sociais em relação aos demais
indivíduos.
A explicação dessas desigualdades foi um dos temas centrais na
emergência das ciências sociais contemporâneas. Alguns dos seus
fundadores, como Durkheim, Weber e Marx, ao formularem teorias
sobre o desenvolvimento das sociedades, debruçaram-se sobre os
diferentes agrupamentos sociais, os conflitos e suas manifestações
políticas, com visões que, de uma forma ou de outra, perduram até
os dias atuais.
Marx, ainda no século XIX, considera que os indivíduos se
diferenciam pela posição que ocupam no processo produtivo, divi-
dindo a sociedade entre proprietários dos meios de produção e tra-
balhadores, tendo estes últimos para vender apenas sua força de
trabalho. Isso origina a existência de duas classes fundamentais na
sociedade, com objetivos e interesses contraditórios. Assim, cada
período histórico da humanidade estaria definido pelos conflitos
entre duas classes fundamentais: senhores e servos, burgueses e
proletários... Os grupos restantes ou classes sociais intermediárias
teriam interesses conjunturais, apoiando ora uma ora outra classe
fundamental.

20
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Diferentemente de Marx, que toma como ponto de partida a estru-


tura econômico-social como um todo, Weber parte dos indivíduos e da
distribuição desigual de poder na sociedade. Para Weber, além das clas-
ses sociais definidas pela ordem econômica, existiriam também o pres-
tígio social (estamentos) e o poder político (partidos) como fontes de
distribuição diferenciada de possibilidade de acesso ao mercado, defi-
nindo as estruturas de poder dentro de cada sociedade concreta.
Já para Durkheim,20 as fontes das desigualdades sociais deveri-
am ser encontradas nas estruturas ocupacionais, que geram associa-
ções e corporações que medeiam as relações entre o Estado e os
indivíduos, determinando interesses, oportunidades e valores comuns.
Com diferentes nuanças acadêmicas e políticas até os dias de hoje,
as três correntes explicativas perduram no desenvolvimento de novos
marcos interpretativos ou propostas explicativas sobre as desigualda-
des existentes na sociedade.
Na América Latina e especificamente no Brasil, nas quatro últi-
mas décadas, o debate sobre as desigualdades sociais, econômicas e
demográficas que afetam a população em geral e sua juventude passou
por diferentes enfoques, motivados tanto pela conjuntura econômica,
social e política quanto pela concepção predominante entre os pesqui-
sadores da questão social.
Nos anos 60 e 70 as discussões giram mais em torno dos proble-
mas urbanos e dos numerosos processos migratórios existentes. O con-
ceito central é o de marginalidade e, associado a ele, os da mendicân-
cia e da delinqüência21. Entre as principais visões emergentes nesse
contexto, está a explicação da marginalidade (urbana) como resultado
do êxodo rural, que provoca a formação de favelas e o inchaço das
grandes metrópoles.22 A marginalidade rural que motiva o êxodo, nes-
sa perspectiva, fica como uma lacuna.

20
DURKHEIM, E. The Division of Labor in Society, New York: Free Press, 1973.
21
VÉRAS, Maura Pardini. Exclusão Social, um problema de 500 anos: notas preliminares. In
SAWAIA, Bader (Org.). As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade
social. 2. ed. Petrópolis, Vozes, 2001.
22
Encontra-se nesse período a gênese da associação entre marginalidade (pobreza) e delinqüência
(criminalidade), que tem repercussões significativas nos estudos sobre violência e juventude
na década posterior.

21
Contrapondo-se a essa visão, no início dos anos 70, toma força
a tese de que a pobreza e o próprio êxodo rural têm suas raízes nas
contradições do modo de produção capitalista. As pessoas não estão
"à margem". Pelo contrário, integram a cadeia produtiva, constituin-
do um exército industrial de reserva para serem incorporados rapida-
mente como força de trabalho nos momentos de expansão do ciclo
econômico. Nessa perspectiva, é feita também a crítica ao modelo
de (sub)desenvolvimento da economia dependente da América Lati-
na, a cuja estrutura a pobreza e a marginalidade estão atreladas.
Nos anos 80, com o aumento da pobreza e da recessão e com a
transição democrática, a temática social amplia-se para englobar, além
das já abordadas, questões civis e políticas: (...) chama-se a atenção para a
questão da democracia, da segregação urbana (efeitos perversos da legislação ur-
banística), a importância do território para a cidadania, a falência das ditas
políticas sociais, os movimentos sociais, as lutas sociais.23 O conceito de mar-
ginalidade cede espaço para o de cidadania e para as necessidades de
sua reconstrução.
Nos anos 90, como alternativa teórica para nomear os "não-cida-
dãos" (aqueles que se encontram sem acesso à "cidadania", em suas
diversas dimensões – civil, política, econômica, cultural etc.), assume
destaque o conceito de exclusão social. Esse conceito emerge, pode-se
dizer, sob a demanda de identificar as novas assimetrias sociais gera-
das pelas transformações tecnológicas no mundo do trabalho e pela
globalização da economia.
O desemprego estrutural atinge o mundo globalmente e produz
uma série de novas contradições e situações. De um lado, reduzindo
em termos relativos e, em muitos casos, em termos absolutos, o ope-
rariado industrial e fabril. De outro, incrementando diversas formas de
precarização das relações laborais e dos mecanismos de proteção e
seguridade social. Aumenta o subemprego e o assalariamento do setor
de serviços e o trabalho feminino em condições diferenciais, mas são
excluídos os mais jovens e os mais velhos.24 Os postos de trabalho

23
VÉRAS in SAWAIA, 2001, op. cit., p. 31.
24
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho? Ensaio sobre a centralidade e as metamorfoses do
mundo do trabalho. 5. ed. São Paulo: Unicamp, 1998, p. 42.

22
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

formal tornam-se insuficientes para a massa de trabalhadores, que se


tornam "desfiliados" do sistema, para usar a expressão de Robert
Castel.25 O autor, crítico do conceito de exclusão, atenta para o fato de
que na lógica do modo de produção capitalista a existência de "exclu-
ídos" – termo que pressupõe a possibilidade de inclusão – perdeu sua
funcionalidade, uma vez que já não existe a necessidade do exército
industrial de reserva.
Desse modo, à velha exclusão soma-se uma nova exclusão (no-
vos pobres): a da classe média que, mesmo com qualificação profis-
sional, perde lugar no mundo do trabalho. Isso, num contexto em
que o emprego formalizado, que sempre foi o principal meio de aces-
so aos benefícios sociais proporcionados pelo Estado, como é o caso
do Brasil, entra em crise devido a fatores como o desemprego, a
informalidade, o subemprego e a exclusão, esta última relacionada inclusi-
ve à seguridade social.26
Mas o conceito de exclusão social mostrou-se excessivamente
dicotômico, na medida em que não possibilitou englobar os seg-
mentos que, embora historicamente protegidos e mesmo no pre-
sente não possam ser considerados excluídos (no âmbito produtivo
ou em outras esferas sociais), mostram-se extremamente fragilizados
no contexto social. Diante desse quadro, um outro conceito come-
ça a ser utilizado como alternativa ao de exclusão: o de vulnerabili-
dade social. 27
No sentido corrente, o termo vulnerabilidade remete a risco, fra-
gilidade ou possibilidade de dano. De um modo geral, a abordagem
analítica da vulnerabilidade diferencia-se desse sentido comum pela
ênfase no seu contraponto: as potencialidades ou a capacidade de res-
posta dos sujeitos frente às situações adversas.

25
CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis, RJ:
Vozes, 1998.
26
ROBERTS, Bryan R. A dimensão social da cidadania. São Paulo, Revista Brasileira de
Ciências Sociais, n. 33, ano 12, fev. 1997, p. 14.
27
VIGNOLI, Jorge Rodríguez. Vulnerabilidad demográfica: una faceta de las desventajas sociales.
Santiago do Chile: Proyeto Regional de Población CELADE-FNUAP (Fondo de las
Naciones Unidas)/ Centro Latinoamericano y Cabeño de Demografía (CELADE) - División
de Población, sep 2000, p. 14.

23
Se as abordagens nesse campo são variadas, as propostas conceituais
de Moser, Kaztman e Filgueira28 aparentam ser as de maior abrangência.
Para esses autores, o termo vulnerabilidade está associado:
• à carência de ativos sociais e à capacidade dos sujeitos para mobilizá-
los. São chamados de ativos os recursos necessários para qualquer família
enfrentar os choques ou se adaptar às mudanças externas: trabalho,
capital humano (educação), moradia, relações domésticas, capital social
(normas e redes sociais que facilitam a ação coletiva);
• aos desajustes entre os ativos disponíveis e a estrutura de oportunidades.
Nesse caso, relaciona-se à capacidade dos atores sociais de melhorarem
sua situação (estratégias de integração social e mobilidade social vertical)
e controlar as forças que comprometem seu bem-estar ou seu futuro, através
de recursos das pessoas, recursos de direitos, recursos em relações sociais.
Nesse ínterim, as condições de vulnerabilidade remetem tanto à
disponibilidade de ativos quanto às possibilidades de acesso oferecidas
pelo Estado, pelo mercado e pela comunidade.
Abramovay e outros autores nos proporcionam uma excelente sínte-
se do escopo conceitual da vulnerabilidade, entendida como (...) o resulta-
do negativo da relação entre a disponibilidade dos recursos materiais ou simbólicos dos
atores, sejam eles indivíduos ou grupos, e o acesso à estrutura de oportunidades sociais,
econômicas, culturais que provêm do Estado, do mercado e da sociedade.29 Por esse
ângulo, os dados sobre educação, saúde e trabalho, podem ser entendidos
como insumos básicos para o desenvolvimento dos recursos materiais e
simbólicos, podem indicar a existência de debilidades (e os graus dessas
debilidades) no acesso dos jovens a esses bens e serviços, explicar sua

28
FILGUEIRA, C. Estructura de oportunidades y vulnerabilidad social: aproximaciones
conceptuales recientes. Documento presentado en el seminário internacional Las Diferentes
Expresiones de la Vulnerabilidad Social em América Latina y el Caribe. Santiago de Chile,
20 y 21 de junio, 2001. KAZTMAN, Rubén. Notas sobre la medición de la vulnerabilidad
social. 5º Taller Regional. La Medición de la Pobreza: métodos y aplicaciones (continuación).
Santiago de Chile, Banco Interamericano de Desarrollo (BID)/ Banco Mundial/ Comisión
Econômica para América Latina y el Caribe (CEPAL)/ Instituto Brasileiro de Defensa del
Consumidor (IDEC)/ Aguascalientes, 6 de junio, 2000. LC/R.2026. MOSER, C. The asset
vulnerability framework: reassessing urban poverty reductions strategies. Gran Bretaña. World
development, v. 26. n. 1, Elsevier Science, 1998.
29
ABRAMOVAY, Miriam et alii. Juventude, violência e vulnerabilidade social na América
Latina: desafios para políticas públicas. Brasília: UNESCO, BID, 2002, p. 13.

24
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

dificuldade em acessar as estruturas de oportunidades e indicar os focos


de reprodução de situações de vulnerabilidade social.
Na tentativa de sistematizar os diversos fatores e situações que deter-
minam ou influenciam a existência de desigualdades na sociedade, foram
propostos diversos modelos de produção e reprodução das diferenças. Para
nossos fins, resultou útil um esquema de análise explicativo da distribuição
desigual da renda entre os indivíduos, proposto por Ferreira,30 adequando-o
devidamente para o contexto mais amplo dos benefícios sociais em sua
integralidade. Seriam, por esse modelo, quatro grupos de fatores os que per-
mitiram explicar as diferenças de acesso a tais benefícios:
1. Características adscritas. Distinções entre os indivíduos ou grupos
quanto a suas características hereditárias, tanto biológicas (sexo, cor/
raça etc.) quanto socioeconômicas (nível econômico familiar), po-
dem atuar como fatores de diferenciação nas possibilidades de acesso
aos benefícios sociais.
2. Características adquiridas. Nesse caso, a diferenciação encontra-se
relacionada ao histórico de vida e de atuação dos sujeitos. Esse cam-
po abrange diferenças entre indivíduos ou grupos com relação a
fatores adquiridos ao longo do tempo, como educação, renda, expe-
riência política, participação em redes sociais etc.
3. O terceiro grupo de fatores se relaciona com os mecanismos medi-
ante os quais a sociedade transforma características individuais em
diferentes condições de acesso aos benefícios econômicos, políti-
cos e/ou sociais. Essa diferenciação pode acontecer por:
3a. discriminação: quando indivíduos ou grupos com características
adquiridas semelhantes têm acesso desigual aos benefícios sociais
devido a diferentes características adscritas (sexo, cor etc.);
3b. segmentação: quando ocorre a desigualdade de acesso a benefícios
sociais entre pessoas ou grupos com idênticas características, com
base em âmbitos sociais ou geográficos de atuação. Nesse caso, dife-
renças regionais, de setor ocupacional, de local de moradia etc. po-
dem fazer com que indivíduos com características idênticas tenham
desiguais possibilidades de participação nos benefícios sociais.

30
FERREIRA, F. H. G. Os determinantes da desigualdade de renda no Brasil: luta de classes ou
heterogeneidade educacional? In: HENRIQUES, R. (org). Desigualdade e pobreza no
Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, 2000.

25
3c. retribuição: quando há diferenças no retorno social com base
em alguma das características adquiridas – nível educacional, ori-
ginando maiores salários ou condições de usufruir outros benefí-
cios; experiência política, facilitando o acesso a determinados
benefícios etc.
4. Disponibilidade de benefícios sociais. É o que poderíamos denomi-
nar de mercado de benefícios ou de oportunidades, isto é, o volume
e a disponibilidade dos diversos benefícios aos quais o cidadão pode
ter acesso.
Ao longo do presente estudo, utilizaremos os diferentes concei-
tos até aqui arrolados – diferenças, desigualdades, marginalidade, ci-
dadania, exclusão, vulnerabilidade – tentando, de alguma forma, seu
enquadramento no marco conceitual de origem. Nem sempre isso será
possível, seja pela complexidade e diversidade de situações que a rea-
lidade nos apresenta, seja pela convergência ou sobreposições que tais
conceitos possuem.
Partindo desses conceitos para a formulação do nosso campo de
estudo, assim como não se desconhece que os variados processos de
exclusão e vulnerabilidade têm uma gênese basicamente econômica, não
se deve esperar que a inserção dos excluídos ou a minimização dos graus
de vulnerabilidade possam se dar apenas pela via econômica. Ocorre que
analisar o problema dos excluídos sob o viés econômico nada nos diz sobre a neces-
sidade – que não é econômica, mas ética e política – de sua inclusão.31
Mormente em nome dessa necessidade – menos econômica e mais
ética e política – cabe indagar: como acelerar o crescimento do país
sem produzir cada vez mais excluídos e novas fontes de vulnerabilida-
de social? Como garantir a inserção, mesmo que gradual, dos 34 mi-
lhões de jovens brasileiros no processo de produção de bens, não só
materiais, mas também simbólicos? Mais que isso, como lhes garantir
acesso às oportunidades econômicas, sociais e culturais?
Buscando respostas às perguntas formuladas, a discussão tem sido
ampliada e o desenvolvimento econômico passou a ser integrante de

31
OLIVEIRA, Luciano. Os "excluídos" existem? Notas sobre a elaboração de um novo conceito.
São Paulo, Revista Brasileira de Ciências Sociais, n. 33, ano 12, fev. 1997, p. 60.

26
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

algo maior chamado desenvolvimento humano. Essa discussão, em-


bora de forma bastante abreviada, fica muito clara no box que segue.
FALÁCIAS E MITOS DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL32
A experiência da América Latina e de outras regiões do globo indica que o
crescimento econômico é imprescindível (...) No entanto, ensina também que é sim-
plificar extremamente o tema do desenvolvimento e de suas dimensões sociais aven-
turar que o crescimento econômico sozinho produzirá os resultados necessários(...).
A falácia de que o crescimento basta transmite a visão de que se estaria avan-
çando se o produto bruto per capita subir, e que os olhares devem estar voltados
para o mesmo. A ONU desenvolveu na última década um corpo conceitual ampla-
mente difundido no âmbito internacional, "o paradigma do desenvolvimento hu-
mano", que ataca de modo radical este arrazoamento. O crescimento só não basta,
ele é necessário mas não suficiente; assim, caberia iniciar uma discussão maior.
Perguntar-nos quando realmente uma sociedade avança e quando está retroceden-
do. Os parâmetros definitivos, é a sugestão, devemos encontrá-los no que está acon-
tecendo com as pessoas. Aumenta ou diminui a expectativa de vida? Melhora ou
piora a qualidade de vida? A ONU apresentou um índice de desenvolvimento
humano que veio sendo aperfeiçoado ano após ano, o qual inclui indicadores que
refletem a situação de todos os países do mundo em áreas tais como: expectativa de
vida, população com acesso a serviços de saúde, população com acesso a água potá-
vel, população com acesso a serviços de coleta de esgoto e detritos, escolaridade,
mortalidade infantil, produto bruto per capita ponderado pela distribuição de ren-
da. Os ordenamentos dos países do mundo segundo suas conquistas em desenvolvi-
mento humano, que vêm sendo publicados anualmente pela ONU, através do
PNUD, revelam um quadro que em diversos aspectos não coincide com o que de-
corre dos simples recordes de crescimento econômico.
As conclusões resultantes enfatizam que quanto maior o crescimento e mais recur-
sos existirem, ampliam-se as possibilidades para a sociedade, mas a vida das pesso-
as, que é a finalidade última, não pode ser medida por algo que é um meio, deve ser
medida por índices que reflitam o que ocorre em âmbitos básicos da vida cotidiana.
Bernardo Kliksberg
Assessor da Organização das Nações Unidas, OIT, UNESCO,
UNICEF e outros organismos internacionais

32
KLIKSBERG, Bernardo. Falácias e mitos do desenvolvimento social. São Paulo:
Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2001, pp. 22-24.

27
Isso posto, as dimensões selecionadas para compor um Índice
de Desenvolvimento Juvenil partem de uma compreensão ampla do
desenvolvimento humano, como um conjunto de dimensões sociais
e econômicas, que nos permitam focalizar as situações de segrega-
ção, exclusão e vulnerabilidade a que nossos jovens se encontram
submetidos.

28
2. NOTAS TÉCNICAS E
METODOLÓGICAS

Criado pelos economistas Amartya Sen e Mahbub ul Haq, o IDH


veio reformular o indicador até então utilizado para medir o desenvol-
vimento dos países: o PIB per capita. O IDH mede o grau de desenvol-
vimento de uma nação levando em conta não só esse indicador, mas
também a expectativa de vida da população (esperança de vida ao nas-
cer), o acesso ao conhecimento (alfabetização adulta, taxa de escolaridade
bruta combinada do ensino fundamental, secundário e superior) e o
acesso a serviços básicos que proporcionem uma condição de vida digna,
como saneamento.1
A consideração das três últimas dimensões representa a mudança
de uma concepção de desenvolvimento de um ponto de vista mera-
mente econômico para uma perspectiva mais ampla, a que muitos au-
tores passaram a denominar paradigma do desenvolvimento humano. Como
afirmam Najberg e Oliveira, [u]m dos grandes méritos desse índice é utilizar
dados básicos de existência quase universal. É também essa característica que
possibilita o cálculo do IDH (e de suas variantes) para unidades subnacionais,
tais como regiões, estados e municípios, ou ainda para grupos ou partições da
população, segundo atributos não geográficos tais como gênero, etnia, situação
urbana ou rural etc.2

1
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (PNUD).
Relatório de Desenvolvimento Humano 2002. Disponível em: http://www.undp.org.br/
HDR/HDR2002/Left.htm. Acesso em: 02/05/2003.
2
NAJBERG, Sheila; OLIVEIRA, André de Souza de. Políticas públicas: o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) e variantes. Informe-se, nº 19, out/2000, p. 2.
Disponível em: www.federativo.bndes.gov.br/bf_bancos/estudos/e0001405.pdf.

29
Os indicadores utilizados na composição do IDH têm o mesmo
peso na avaliação. Para que possam ser combinados em um índice úni-
co, eles primeiramente são transformados em índices parciais. A combi-
nação desses índices, ponderados igualmente, gera o indicador síntese.
A composição do IDJ seguiu um modelo semelhante ao do IDH.
Mas, por outro lado, o modelo foi adaptado para expressar questões
específicas dos jovens, bem como a configuração de tais questões na
realidade brasileira.
Nesse sentido, foram eleitas dimensões que contemplassem as
peculiaridades das juventudes e que mensurassem, de maneira con-
junta, os graus de exclusão/integração social desse segmento.
As dimensões consideradas no cálculo do IDJ e seus respectivos
indicadores foram a seguintes:
a) Educação, integrada por três indicadores:
• Analfabetismo. A alfabetização tem sido vastamente reconhecida
como fator determinante na situação econômica e social das pes-
soas. Não poderia deixar de constituir, portanto, um dos indicado-
res básicos do IDJ. Embora fosse relevante a abordagem de várias
esferas da alfabetização (funcional, em prosa, documental,
quantitativa),3 foi utilizado no estudo o conceito operacionalizado
na PNAD, em que são definidas como alfabetizadas as pessoas capa-
zes de ler e escrever pelo menos um bilhete simples no idioma que conhecem.4
Operacionalmente foi definida como a relação entre o número de
analfabetos na faixa de 15 a 24 anos registrados pela PNAD 2001
e a população de 15 a 24 anos de uma UF determinada.
• Escolarização adequada. Esse indicador corresponde à taxa de
escolarização combinada utilizada no IDH, que se baseia no so-

Acesso em: 07/05/2003. Dada a extensão territorial brasileira e a ampla desigualdade na


distribuição de renda, houve a necessidade de se criar, com base no IDH, indicadores
espacialmente desagregados, adaptados para realidades micro como os municípios, para mensurar
as desigualdades de desenvolvimento humano existentes no país. Em 1996 o PNUD, junto
com a Fundação João Pinheiro (FJP) e o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA)
publicaram o primeiro Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) no Brasil. Desde
então, novos índices desagregados foram constituídos, sendo os principais o Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) e o Índice de Condições de Vida (ICV).
3
PNUD/ RDH 2002, op. cit., p. 143.2
4
PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIO./IBGE, 2001. Notas Técnicas.
Microdados, CD-ROM.

30
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

matório da taxa bruta de matrícula de todos os níveis de ensino.5


Substitui também a opção utilizada no IDH-M que, em lugar das
taxas de matrícula, recorre ao indicador “freqüência à escola”, tam-
bém em todos os níveis educacionais.6 Aqui, como no IDH-M, foi
utilizada a freqüência à escola, mas restrita aos níveis de ensino
correspondentes à faixa etária focalizada neste estudo (15 a 24
anos). Segundo o Ministério da Educação, a faixa etária adequada
para o ensino médio vai de 15 a 17 anos e, em situação regular,
um jovem estaria concluindo o curso superior por volta dos 22
anos. Baseada nesse pressuposto, a taxa de escolarização adequada
é constituída a partir do número de jovens que freqüentam o
ensino médio em diante. Dessa forma, o indicador desconsidera
os jovens de 15 a 24 anos cursando ainda o ensino fundamental.
O indicador foi operacionalmente definido como a porcenta-
gem de jovens de 15 a 24 anos que freqüentam escola de Ensino
Médio ou Superior registrado pela PNAD 2001 em relação à
população de 15 a 24 anos de uma determinada UF.
• Qualidade do ensino: sem correlato no IDH. Tão importante
quanto os aspectos quantitativos da cobertura incluídos no IDH
são os aspectos que apontam para a qualidade do acesso ao co-
nhecimento. Mas, provavelmente esse aspecto não foi incluído
no IDH porque não são muitos os países do mundo que contam
com mecanismos de avaliação que, de forma sistemática, possi-
bilitem aferir essa qualidade do ensino. Como o Brasil possui,
desde o ano de 1990, uma sistemática nacional que pondera a
qualidade do ensino: o Sistema de Avaliação da Educação Básica
(SAEB), desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Edu-
cacionais (INEP) do Ministério da Educação (MEC), julgou-se
conveniente considerar mais esse indicador dentro do índice edu-
cacional. O SAEB, a cada dois anos, aplica provas de Língua
Portuguesa e Matemática a amostras representativas de alunos da
4a e 8a séries do Ensino Fundamental e a alunos da 3a série do
Ensino Médio. Os resultados das provas são divulgados em uma

5
PNUD/ RDH 2002, op. cit., p. 146.
6
INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS APLICADAS (IPEA); FUNDAÇÃO JOÃO
PINHEIRO (FJP); PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVI-
MENTO (PNUD). Novo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil: entenda o cálculo do
IDH Municipal (IDH-M) e saiba quais os indicadores usados. Disponível em: http://
www.undp.org.br/IDHM-BR%20Atlas%20Webpage/Textos_IDH/Novo_Atlas-
Press_release_1.doc. Acesso em: 23/07/2003.

31
escala única para todas as séries, escala que vai de 150 a 500 pon-
tos. Para a construção do IDJ, foram selecionadas as séries dispo-
níveis que correspondiam à faixa etária em foco: 8ª do ensino
fundamental e 3ª série do ensino médio. Assim, esse indicador foi
operacionalmente definido como a média estandardizada7 das
escalas de proficiência da 8ª série do Ensino Fundamental e da 3ª
série do Ensino médio, nas áreas de Língua Portuguesa e Mate-
mática aferidas pelo SAEB 2001.
b) Saúde, integrada por 2 indicadores:
• Mortalidade por causas internas. Refere-se às mortes de jovens
por problemas que erodem sua saúde física. Em mais de 80%
dos casos desse tipo de mortalidade entre os jovens, segundo
análise do próprio Ministério da Saúde disponibilizada pelo
DATASUS, as causas seriam perfeitamente “evitáveis”.8 Ou seja:
as mortes ocorrem apesar da existência de cobertura de saúde e
de possibilidades de profilaxia, o que estaria evidenciando, quan-
do a mortalidade é elevada, a fragilidade do serviço público e a
ausência de políticas de acesso dos jovens à saúde. Este indicador
guarda estreita relação não somente com a pobreza mas, sobre-
tudo, com a possibilidade de acesso a serviços sociais. 9
Operacionalmente, esse indicador foi trabalhado relacionando o
número de óbitos por causas internas em 100.000 jovens de 15 a
24 anos, registrados nas bases de dados do Sistema de Informa-
ções de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde.
• Mortalidade por causas violentas. A seleção desse indicador reme-
te a uma especificidade recente da juventude: a vulnerabilidade
dos jovens à violência nos países da América Latina. O indicador
foi construído somando o número de óbitos por homicídios,
por suicídios e por acidentes de transporte10 registrados em 2000
no Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério
da Saúde, por cada 100.000 jovens.

7
Ver procedimentos de estandardização mais à frente, neste mesmo capítulo.
8
SIM/DATASUS. Mortalidade: notas técnicas, 2003. Disponível em: http://
www.datasus.gov.br/cgi/sim/obtevit.htm. Acesso em: 02/06/2003.
9
SEN, Amartya. A economia da vida e da morte. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo,
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciências Sociais (ANPOCS), n. 23,
ano 8, out.1993.
10
Corresponde às categorias agressões intencionais, lesões auto-infringidas e acidentes de
transporte da Classificação Internacional de Doenças – CID-10 – utilizada pelo SIM.

32
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

c) Renda
• Renda familiar per capita. Correlato do PIB per capita utilizado pelo
IDH, corresponde ao total de rendimentos mensais obtidos pelo
grupo familiar dos jovens de 15 a 24 anos, segundo declarado no
levantamento da PNAD 2001, relacionado com o número de
membros integrantes do grupo. Para possibilitar a compara-
bilidade atual e futura, os rendimentos mensais foram reduzidos
a salários-mínimos, cujo valor, na época do levantamento da
PNAD 2001, era de R$ 180,00.

Para a construção do IDJ, as taxas, médias ou porcentagens origi-


nais dos indicadores de base foram transformados em índices seguin-
do os mesmos procedimentos utilizados pelo IDH:

Índice = Valor observado – Valor mínimo


Valor máximo – Valor mínimo

A partir destas dimensões, foram utilizados os seguintes parâme-


tros para o cálculo do IDJ:

33
No IDH, a média dos índices parciais tem como resultado o índi-
ce final, que varia entre 0 e 1. Quanto mais próximo de 1, maior o
nível de desenvolvimento humano do país ou região. O mesmo proce-
dimento foi utilizado para se avaliar o IDJ nas UFs.
Na Região Norte, algumas adaptações foram necessárias, em vir-
tude da abrangência geográfica da PNAD. Nessa Região, exceto no esta-
do de Tocantins, a zona rural não está contemplada. Considerando que,
em geral, como mostram os dados, em todas as unidades federativas a
área rural apresenta resultados menos favoráveis nos vários indicado-
res, ocorre na Região Norte e em suas unidades federativas uma eleva-
ção artificial dos resultados, pela presença exclusiva da área urbana.
Desse modo, nas análises dos capítulos prévios ao IDJ foram uti-
lizados os dados da PNAD, tal como disponibilizados pelo IBGE, sem
dados da zona rural na Região Norte (exceto Tocantins). Mas para o
cálculo do IDJ foi realizado um ajuste que consistiu em estimar os
valores da zona rural nos estados não cobertos pela PNAD nessa área,
quais sejam: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima.
Esse ajuste tomou como base a estrutura de dados do censo 2000
e o comportamento diferenciado das áreas rurais do resto do país,
notadamente o Nordeste, segundo os dados da mesma PNAD de 2001.
Em outros termos, para a obtenção das taxas da zona urbana foi utili-
zado apenas um estimador: a PNAD de 2001. Para a obtenção das
taxas da zona rural dos 6 estados da Região Norte, foram utilizados
dois estimadores: os dados da PNAD de 2001 e, após a apresentação
desses, o censo 2000, de acordo com a seguinte fórmula:

TRC = [ TUUF. PRUF (%)] + [TRUF . PRUF (%) ]

Onde:

• PR UF = População rural da unidade federativa (%).


• TUUF = Taxa da área urbana da unidade federativa (PNAD 2001).
• TRUF = Taxa da área rural da unidade federativa (estimativa).
• TRC = Taxa calculada da área rural.

34
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Outra decisão decorrente da estrutura dos dados refere-se à aná-


lise por cor, embora neste caso não haja relação com o cálculo do IDJ.
Na faixa de 15 a 24 anos, os índios e amarelos representam na PNAD
apenas 0,1% e 0,4%, respectivamente, da amostra. Tais proporções
inviabilizariam o tratamento dos dados e comprometeriam sua
confiabilidade. Optou-se, desse modo, por observar a presença do viés
racial apenas entre brancos e pretos/pardos.
Finalmente, antes de prosseguir com a apresentação dos resulta-
dos, resta ainda precisar qual o conceito de juventude que orientou
este trabalho.
A juventude foi delimitada na faixa etária de 15 a 24 anos e ca-
racterizada como (...) o processo de preparação para os indivíduos assumirem
o papel adulto na sociedade, tanto no plano familiar quanto no profissional.11
Análises previamente realizadas apontaram para especificidades den-
tro dessa faixa, conforme predominância dos jovens em atividades
socialmente definidas (trabalho e escola). Isso possibilitou três cortes
etários: 15 a 17, 18 a 19 e 20 a 24 anos e a adoção de quatro situações
assim especificadas por Filgueira e Fuentes:12
• Jovens que estudam e não trabalham: tipicamente, os jovens
nessa combinação seriam economicamente dependentes e estari-
am em situação residencial em relação aos pais. Tal combinação,
segundo os autores, seria mais comum entre os jovens não po-
bres e solteiros que moram com a família.
• Jovens que trabalham e estudam: esta fase caracterizaria uma
transição entre a vida jovem e a vida adulta.
• Jovens que apenas trabalham e não estudam (abandono do
sistema escolar): esta fase caracterizaria a configuração de papéis
adultos.
• Jovens que não estudam nem trabalham: esta categoria carac-
terizaria o jovem em situação mais grave de exclusão social, uma
vez que demonstra a frustração da própria “fase de transição”
que constitui a juventude: o sujeito já está se desvinculando dos

11
Waiselfisz, 1998, op. cit., p. 153.
12
COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E O CARIBE (CEPAL).
Panorama Social de América latina 2000. Santiago de Chile: CEPAL, 2000. Apud
ABRAMOVAY, Miriam et alii. Juventude, violência e vulnerabilidade social na América Latina:
desafios para políticas públicas. Brasília: UNESCO, BID, 2002, p. 45.

35
seus papéis de jovem, mas não está conseguindo se inserir social-
mente para desempenhar seus papéis de adulto.

Dadas essas definições, dimensões e pressupostos, podemos agora


seguir com a discussão dos dados obtidos das diversas fontes para os
indicadores, analisando-os conforme faixas etárias, sexo, cor e áreas
rural e urbana, para só depois chegarmos à apresentação dos IDJs nas
unidades federativas.

36
3. EDUCAÇÃO

3.1 A SITUAÇÃO DO ANALFABETISMO ENTRE OS


JOVENS

Antes de entrar na análise a que o subtítulo se propõe, inicialmente


se faz necessário dizer o que se entende por (an)alfabetismo, termo que
tem assumido conotações tão diversas que se chega a sugerir a sua utili-
zação no plural, como pode ser apreendido no box que segue.

ALFABETISMOS OU ANALFABETISMOS1
O termo alfabetização está sendo substituído, gradativamente, pela no-
ção de alfabetismo, não só para melhor traduzir o conceito em inglês de
literacy, como para dar idéia mais ampla da ação de alfabetizar, a qual
implica avanços na compreensão e no domínio de códigos, seu manejo na
sociedade e na prática social de ler e escrever.
A introdução de novas tecnologias está desmistificando a escrita como
código único e conduzindo às noções de “alfabetismos” ou “analfabetis-
mos” – no plural – para designar a referência a múltiplos códigos e à
multiplicidade de significações que pode adquirir o “alfabetismo” em dife-
rentes culturas e com variados níveis de exigência. Na verdade, somos to-
dos analfabetos, de um modo ou de outro, perante diferentes tipos de infor-
mação e comunicação.

1
WERTHEIN, Jorge. Alfabetismos ou analfabetismos. Construção e identidade: as idéias da
UNESCO no Brasil. Brasília: UNESCO, 2002, pp. 39-40.

37
A Conferência Mundial de Educação para Todos, de 1990, teve influência
marcante na definição de “alfabetismo” ao ampliar sua abrangência de forma a
incluir as necessidades básicas de aprendizagem, tanto no domínio da escrita, leitu-
ra e aritmética quanto em relação às habilidades para resolver problemas. Tal
conceito tem a vantagem de contemplar as competências adquiridas em sistemas não
formais e nas experiências pessoais, em contextos cotidianos de aprendizagem.
Esse novo enfoque fortalece a visão ética de jovens e adultos, valoriza as apren-
dizagens ativas, revaloriza o aporte cultural de cada pessoa e comunidade e incen-
tiva a solidariedade e a cooperação na luta pela erradicação do analfabetismo.

Jorge Werthein
Representante da UNESCO no Brasil.

Essa ampla e atual visão de alfabetismo é fruto da maturação


do conceito de alfabetização, que tem evoluído no decorrer do tem-
po. À época da fundação da UNESCO, a alfabetização era vista pre-
dominantemente como a capacidade de ler, escrever e fazer cálculos
aritméticos. Promover a alfabetização significava então dar aos indi-
víduos a capacidade de decodificar e codificar a linguagem em for-
ma escrita (...)2 Mais recentemente, ao se abordar o termo referido, ao lado
da preferência pela sua utilização no plural, observa-se a sua inevitável asso-
ciação com o espectro mais amplo das práticas sociais de comunicação, como se
pode ver a seguir.

ALFABETIZAÇÃO: UM CONCEITO EM EVOLUÇÃO3

O foco cada vez mais intenso colocado sobre as práticas de alfabetização, o uso
da alfabetização e os contextos onde ela é transmitida levou ao reconhecimento de
que a alfabetização serve a propósitos múltiplos e é adquirida de diversas manei-
ras. A alfabetização, portanto, passou a ser encarada não como um conceito único,
mas sim plural: as alfabetizações. Tanto nas práticas individuais de alfabetização

2
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A
CULTURA. Alfabetização. A perspectiva da UNESCO. In: UNESCO. Alfabetização como
liberdade. Brasília: UNESCO, MEC, 2003, p. 33.
3
UNESCO. Alfabetização. A perspectiva da UNESCO. In: UNESCO, 2003, op. cit., pp. 35-37.

38
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

quanto no uso comunitário da alfabetização, sua natureza plural ficou evidente:


burocrática, religiosa, pessoal, cultural, na língua materna ou em línguas oficiais,
adquirida na escola ou fora dela. Esse enfoque dá ênfase ao fato de que a alfabe-
tização está sempre engastada em outras realidades sociais: trabalho, família, reli-
gião, relações com o Estado etc. (...).
(...) Em meio a esses fatos novos, dois conceitos fundamentais já se tornaram
claros. Em primeiro lugar, a alfabetização, em si, é ambígua, nem positiva nem
negativa, e seu valor depende da maneira como ela é adquirida ou transmitida e do
modo como ela é usada. Ela pode ser um fator de liberação ou, na linguagem de
Paulo Freire, de domesticação. Nesse particular, a alfabetização se vê na mesma
situação que a educação em geral, quanto a seu papel e a sua finalidade. Em
segundo lugar, a alfabetização se vincula a um vasto espectro de práticas sociais de
comunicação, só podendo ser tratada paralelamente aos demais meios de comunica-
ção, como rádio, televisão, computadores, mensagens de texto em telefones celulares,
imagens visuais etc. O desenvolvimento maciço das comunicações eletrônicas não
substituiu a alfabetização impressa, embora forneça um novo contexto para ela: os
gráficos assumiram um papel importante como complementação de textos; o apren-
dizado e a recreação computadorizados ocupam tanto crianças quanto adultos,
tomando o lugar da leitura de livros – todos esses fenômenos vêm transformando a
maneira pela qual encaramos a alfabetização (...).

UNESCO/2003

Não obstante o vasto campo em que uma abordagem sobre a


(an)alfabetização no país pode se inserir, o conceito utilizado pela pes-
quisa IBGE/PNAD 2001 é bem mais limitado: considerou-se como alfa-
betizada a pessoa capaz de ler e escrever pelo menos um bilhete simples no idioma
que conhecesse.4 Assim sendo, apesar da moderna abrangência do termo,
considerando a ausência de dados, a análise que daqui por diante será
realizada levará em conta as bases de dados da PNAD.
Observando a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE/2003,
mais especificamente onde se apresenta um perfil educacional da po-

4
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. PESQUISA
NACIONAL DE AMOSTRA POR DOMICÍLIOS – PNAD – 2001. Microdados CD-ROM.
Rio de Janeiro, 2001.

39
pulação brasileira, encontra-se que a taxa de analfabetismo caiu e o acesso
à escola e à escolaridade da população melhoraram.5
No entanto, mesmo considerando que o número de pessoas que
aprenderam a ler e a escrever aumentou, em várias faixas etárias, nos-
sa taxa de analfabetismo é ainda muito elevada. A UNESCO conside-
ra que a situação é preocupante. Apesar dos empreendimentos que
foram feitos na década transcorrida entre as Conferências de Jomtien e
a de Dacar, (...) os esforços de alfabetização não foram suficientes em face do
crescimento demográfico e de outros fatores (...). O fato é que o analfabetismo
está comprometendo o futuro do Brasil, contribuindo para aumentar o nú-
mero de excluídos. Não se pode fechar os olhos para essas evidências
e o (...) Brasil precisa engajar-se plenamente na Década da Alfabetização das
Nações Unidas, que começa este ano e se estende até 2012.6

DÉCADA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALFABETIZAÇÃO7

O lançamento da Década das Nações Unidas para a Alfabetização (2003-


2012) é uma ocasião especial que nos traz diferentes emoções e pensamentos(...).
O Plano de Ação Internacional, preparado pela UNESCO em colaboração
com seus parceiros e aprovado pela Assembléia Geral da ONU, identifica várias
áreas de ação fundamentais e estratégias associadas. Esforços em prol da mobiliza-
ção de recursos nos níveis nacional e internacional são imperativos. O tempo impede
um tratamento expandido dessas questões, mas gostaria de ressaltar quatro pontos.
Primeiro, ações no âmbito da Década da Alfabetização requerem, para sua
efetividade máxima, uma estreita colaboração em todos os níveis. A UNESCO,
como coordenadora da Década em nível internacional, fará o seu máximo para
construir o espírito e a prática da parceria.

5
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Síntese de Indicadores
Sociais 2003, p. 13. Disponível em: htpp://www1.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/
12062003indic2002.shtm. Acesso em: 14/06/2003.
6
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A
CULTURA. Alfabetização como liberdade. Brasília: UNESCO, MEC, 2003, p. 7.
7
MATSUURA, Koichiro. Discurso do Sr. Koichiro Matsuura, por ocasião do lançamento da
Década das Nações Unidas para a Alfabetização, em Nova Iorque, 13 de fevereiro de 2003.
In: UNESCO, 2003, op. cit., pp. 11-13.

40
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Segundo, a perspectiva de gênero deve atravessar todas as ações. A alfabetização


das mulheres deve receber apoio especial, mas a perspectiva de gênero também deve incluir
considerações mais amplas, como conteúdos de aprendizado, métodos e ambientes.
Terceiro, as ações não devem se limitar aos canais tradicionais. Nós devemos
procurar abordar o que eu chamaria de “a dimensão da alfabetização”, um conjun-
to de políticas, programas e projetos que não são explicitamente sobre alfabetização.
A alfabetização não é uma panacéia universal para todos os problemas do desen-
volvimento, mas, como uma ferramenta do desenvolvimento, é versátil e testada.
Quarto, as ações devem ser informadas por evidências confiáveis e avaliações
cuidadosas e objetivas da experiência. A UNESCO, incluindo seu Instituto de
Estatística, atuará de forma próxima a seus parceiros na importante área da
avaliação da alfabetização.
O conceito e a prática da alfabetização são parte de um debate mais amplo
sobre para que serve a educação. O slogon que a UNESCO adotou na Década –
“Alfabetização como liberdade” – foi criado para encorajar abordagens para a
aquisição e desenvolvimento da alfabetização, que liberta as pessoas da ignorância,
incapacidade e exclusão, e as liberta para a ação, escolhas e participação.

Koichiro Matsuura
Diretor-Geral da UNESCO

Particularmente no Brasil, o engajamento pleno na Década da


Alfabetização não pode desconhecer estatísticas que apontam um ín-
dice de analfabetismo de 13,6% na população com mais de 15 anos.
Índices bem superiores a de países vizinhos como Argentina (3,2%),
Chile (4,2%) e Colômbia (8,4%).8
No que diz respeito aos jovens de 15 a 24 anos – objeto desta
pesquisa –, os índices se apresentam diferenciados por faixas etárias
nas regiões brasileiras. O índice nacional de analfabetismo entre os
jovens é relativamente baixo: 4,2%. Nas regiões, há variações, para
mais ou para menos. O menor índice se encontra na Região Sul (1,4%)
e o maior, no Nordeste (9,6%). Nas demais regiões, Norte, Sudeste e
Centro-Oeste, os índices são, respectivamente, de 4,0%, 1,6% e 2,1%.

8
BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira. Mapa do analfabetismo no Brasil. Brasília: MEC/INEP, [2003], p. 6.

41
Em todas as regiões, esses percentuais são menores na faixa etária
de 15 a 17 anos. No Brasil em geral, e nas regiões Norte, Nordeste,
Sudeste, Sul e Centro-Oeste, os índices são, respectivamente, de 3,0%,
3,4%, 6,3%, 1,1%, 1,3% e 1,5%. Isso denota uma crescente escolari-
zação dos mais jovens, possibilitada, dentre outras coisas, pela garan-
tia constitucional de ensino fundamental gratuito para todos e dos es-
forços realizados especialmente na última década.
Na faixa entre 18 e 19 anos, o índice permanece inalterado apenas
para o Sudeste (1,1%) e o Norte (3,4%). Apresenta um discreto decrés-
cimo no Sul (1,1%) e no Centro-Oeste (1,3%). No Brasil, em geral, e no
Nordeste, os índices aumentam, respectivamente, para 3,6% e 8,7%.
Mas é na faixa dos 20 aos 24 anos que os índices começam a se
mostrar preocupantes. Em relação às faixas anteriormente analisadas,
no Brasil, o índice se eleva para 5,3%. Aumenta também em todas as
regiões: Norte (4,7%), Nordeste (12,5%), Sudeste (2,1%), Sul (1,6%)
e Centro-Oeste (2,9%).
Esse crescimento do analfabetismo entre os jovens a partir dos
18 anos está intimamente relacionado com déficits históricos de es-
colarização e também com a necessidade de ingresso no mercado de
trabalho, seja ele formal ou informal. Conforme atesta a Síntese dos
Indicadores Sociais 2003, do IBGE, entre 1992 e 2001, embora o
percentual de jovens de 18 e 19 anos que só trabalhava tenha caído de 40,8%
para 27,7%, o percentual de estudantes nessa faixa etária era de apenas 50%.
Em 2001, quase a metade (47,7%) dos jovens de 20 a 24 anos tinha como
atividade exclusiva o trabalho. O mesmo se dava na faixa mais ampla, dos
15 aos 24 anos, na qual 70% dos jovens tinham uma jornada de trabalho de
40 horas ou mais por semana.9
A breve análise até aqui efetivada pode ser visualizada no Gráfi-
co que segue:

9
IBGE, 2003, op. cit., p. 9.

42
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Gráfico 3.1: Jovens não alfabetizados segundo faixa etária


por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Com o aumento da idade, cresce o número de jovens que


abandonam os estudos para trabalhar – o que, paradoxalmente,
compromete o seu desempenho no mercado de trabalho, sobretu-
do devido à baixa qualificação educacional. E assim, não só no
Brasil, mas também na América Latina, (...) percebe-se uma defa-
sagem do ensino formal frente às novas exigências de habilidades
e conhecimentos, e isso tem constituído inequívoca fonte de vul-
nerabilidade. 10
Analisando, mesmo que rapidamente, os índices de analfa-
betismo de acordo com a faixa etária, pode-se afirmar que esse
déficit torna-se mais visível nos estados do Nordeste, onde os
percentuais de analfabetismo são, em todas as faixas, inequivoca-
mente maiores do que nas demais unidades federativas das outras
regiões. Um outro foco deficitário se apresenta no Norte, sobre-
tudo se considerarmos que os dados expressos na Tabela que se-
gue só contemplam – à exceção do estado de Tocantins – os jo-
vens da zona urbana.

10
ABRAMOVAY et alii, 2002, op. cit., p. 45.

43
Tabela 3.1: Jovens não alfabetizados segundo faixa etária por
regiões e UFs (%)

A Tabela a seguir permite visualizar o ordenamento das UFs com


jovens não alfabetizados nas faixas etárias.

44
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Tabela 3.2: Ordenamento das UFs segundo jovens não


alfabetizados por faixa etária (%)

As desigualdades anteriormente observadas podem ainda ter ou-


tros contornos quando se verifica sua distribuição por sexo. Embora
na faixa de 15 a 24 anos o percentual de mulheres (50,4%) seja maior
do que o de homens (49,6%), é entre estes últimos que o analfabetis-
mo é mais expressivo. Isso pode ser explicado, provavelmente, pela
maior pressão social para seu ingresso no mercado de trabalho.

45
Tabela 3.3: Analfabetismo entre jovens de 15 a 24 anos
segundo sexo por regiões e UFs (%)

46
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Entre as mulheres, especificamente, é possível perceber que, com-


parando as faixas dos 15 aos 17 anos com a de 18 e 19 anos, os índices
de analfabetismo aumentam em todas as regiões do Brasil. De certa
forma, isso está associado aos altos índices de gravidez na juventude:
(...) entre as jovens de 15 a 17 anos, a proporção de mulheres com, pelo menos,
um filho é de 7,3% no país.11 Conforme pesquisa realizada pela UNESCO,
a gravidez entre jovens mantém-se elevada na maioria dos países lati-
no-americanos, incluindo o Brasil. Na média nacional dos países, (...) de
20 a 25% das mulheres tiveram seu primeiro filho antes dos 20 anos de idade.12
Na faixa etária que vai dos 20 aos 24 anos, os percentuais de anal-
fabetismo tendem a ser bem menores entre as mulheres, comparativa-
mente aos dos homens, conforme se pode observar na Tabela seguinte.

Tabela 3.4: Jovens não alfabetizados segundo faixa etária e sexo


por regiões e UFs (%)

continua...

11
IBGE, 2003, op. cit., p. 3.
12
ABRAMOVAY et alii, 2002, op. cit., p. 51.

47
...continuação

Com uma tendência inversa à mundial, as taxas de analfabetismo


no Brasil entre as mulheres são, de fato, visivelmente menores do que
as dos integrantes do sexo masculino, mas tendem a ser focalizadas
com lentes multidimensionais, considerando estudos recentes que atre-
lam a importância da alfabetização das mulheres a impactos extensos
nas forças e situações que atuam sobre o conjunto da sociedade.

ALFABETIZAÇÃO DAS MULHERES13

(...) trabalhos empíricos nos anos recentes mostraram claramente como o respeito
relativo e a atenção ao bem-estar das mulheres são fortemente influenciados por
variáveis como a habilidade da mulher em receber um salário independente, encon-
trar emprego fora de casa, ter direitos de propriedade, ser alfabetizada e educada
como participante nas decisões dentro e fora da família (...)
Estes fatores diferenciais (como, por exemplo, alfabetização e educação femini-
na, poder de compra das mulheres, o papel econômico que desempenham fora da
família, seus direitos de propriedade, e assim por diante) podem, em uma primeira
instância, parecer influências relativamente diversas e díspares que, de alguma
continua...

13
SEN, Amartya. Algumas idéias sobre o Dia Internacional da Alfabetização. In: UNESCO,
2003, op. cit. pp. 23-24.

48
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

...continuação

forma, atuam juntas, mas o que elas todas têm em comum é a contribuição positiva
para a vocalização e atuação das mulheres, por meio de uma maior independência
e fortalecimento deste grupo.
Também há evidências de que a educação das mulheres e a alfabetização ten-
dem a reduzir as taxas de mortalidade das crianças. A influência é sentida por
meio de vários canais, mas talvez o mais imediato seja a importância que as mães
tipicamente dão ao bem-estar de seus filhos, e a oportunidade que elas têm, quando
seu papel é respeitado e fortalecido, de influenciar decisões familiares nesta direção.
Estas conexões entre educação fundamental da mulher e o poder de atuação delas
são centrais ao entendimento da contribuição da educação escolar para a segurança
humana em geral.
Amartya Sen
Economista e criador do IDH

Prosseguindo com o tema do analfabetismo no Brasil, os dados


disponíveis permitem aprofundar o estudo das desigualdades, princi-
palmente das atribuíveis à questão de cor/raça. Para simplificar a aná-
lise, as diversas categorias de cor/raça contidas na amostra da PNAD
serão reduzidas a duas: brancos, de um lado, e pretos e pardos, de
outro – considerando que abrangem 99,5% do universo pesquisado.
Na faixa dos 15 aos 24 anos, as taxas de analfabetismo são, via de
regra, visivelmente maiores entre pretos/pardos do que entre brancos
no Brasil em geral e, em particular, nas regiões Nordeste, Norte e Cen-
tro-Oeste, nessa ordem, como pode ser observado a seguir.
Tabela 3.5: Analfabetismo entre jovens de 15 a 24 anos
segundo a cor por regiões e UFs (%)

continua...

49
...continuação

O analfabetismo entre pardos e pretos no Brasil é três vezes


maior, como também é maior em todas as unidades federadas e em
todas as regiões do Brasil. As desigualdades raciais entre analfabe-
tos, na faixa etária dos 15 aos 24 anos, podem ser visualizadas no
Gráfico a seguir.

50
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Gráfico 3.2: Analfabetismo entre jovens de 15 a 24 anos


segundo a cor por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Raciocínio semelhante ao anterior pode ser feito ao se analisar o


analfabetismo por estratificação de faixas etárias. Continua a discrimi-
nação por cor entre regiões e a taxa de não alfabetizados entre pretos e
pardos tende a crescer com o aumento da faixa etária. Em nada menos
do que em 15 unidades federativas o percentual de analfabetismo mais
que duplica, se compararmos especificamente a faixa de 15 a 17 anos
com a de 20 a 24 anos.
Entre os brancos, a análise efetivada no parágrafo anterior se
abranda. Embora o percentual de analfabetismo tenda a crescer com o
aumento das faixas etárias, isso acontece em percentuais geralmente
menores do que entre os pretos e pardos. Vejamos como essas infor-
mações podem ser visualizadas na Tabela seguinte.

51
Tabela 3.6: Analfabetismo segundo faixa etária e cor
por regiões e UFs (%)

52
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

O apresentado na Tabela anterior também pode ser visualizado a


partir do Gráfico que segue.
Gráfico 3.3: Analfabetismo segundo faixa etária e cor
por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Podemos perceber pelos dados anteriormente expostos que as


desigualdades entre as unidades federativas são maiores no Nordeste
– sobretudo em Alagoas, Piauí e Paraíba, que se revezam nas três pri-
meiras colocações – e no Norte do que nas demais regiões. Note-se
que, no Amapá, a situação privilegiada pode não corresponder à reali-
dade: não foram coletados dados da área rural, tampouco na amostra
selecionada pela PNAD havia jovens na faixa entre 18 e 19 anos.
Focalizado o analfabetismo dos jovens por situação de domicílio
(rural/urbano), a análise fica comprometida na Região Norte, onde –
à exceção do estado de Tocantins – a PNAD não faz levantamento na
zona rural na pesquisa. Considerando tais limitações, para efeitos com-
parativos dos resultados apresentados entre as regiões, descon-
sideraremos a região Norte.
De acordo com a Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE 2003,
tem havido um aumento de pessoas vivendo em áreas urbanas: (...) em
1992, 78% da população era urbana, e o percentual aumentou para 83,9% em
2001.14 Embora a maior concentração de jovens de 15 a 24 anos seja urbana, é
na zona rural de todas as regiões, sobretudo no Nordeste, onde se verificam as
maiores taxas de analfabetismo.
14
IBGE, 2003, op. cit., p. 14.

53
Gráfico 3.4: Analfabetismo entre jovens de 15 a 24 anos
segundo situação rural/urbana por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Analisando a situação por estados, é em Alagoas, na zona urbana


do Nordeste, que se encontra a situação mais crítica, com percentual
de analfabetismo de 11,6%. As menores taxas são encontradas nos
estados do Sul, mais especificamente em Santa Catarina (0,9%).
No que diz respeito à zona rural, mais uma vez o Nordeste apre-
senta as maiores taxas de analfabetismo entre as regiões, sobretudo no
estado do Piauí (24,9%). Os menores índices se encontram nos esta-
dos do Sul, mormente em Santa Catarina (1,8%).

Tabela 3.7: Analfabetismo entre jovens de 15 a 24 anos


segundo situação rural/urbana por regiões e UFs (%)

continua...

54
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

...continuação

Verificando as taxas de analfabetismo por faixas etárias, a ten-


dência é a mesma da faixa mais ampla: as maiores taxas estão na
zona rural dos estados do Nordeste em detrimento dos do Sul, Su-
deste e Centro-Oeste. Verifica-se, ainda, que, em mais de 80% das
UFs de todas as regiões analisadas, as taxas de analfabetismo, tan-
to na zona rural como na urbana, crescem com o aumento das fai-
xas etárias.

55
Tabela 3.8: Analfabetismo segundo faixa etária e situação
rural/urbana por regiões e UFs (%)

O que foi dito anteriormente pode também ser visualizado no


Gráfico a seguir.

56
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Gráfico 3.5: Analfabetismo segundo faixa etária e situação


rural/urbana por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

3.2 ESCOLARIZAÇÃO: FREQÜÊNCIA À ESCOLA

Estatísticas oficiais sobre a escolarização da população brasileira


na atualidade evidenciam que, na faixa dos 7 aos 14 anos, o acesso à escola
está praticamente universalizado (96,5%), incluindo as áreas rurais, onde 94,7%
das crianças freqüentam alguma instituição de ensino.15
Analisando a situação dos jovens do Brasil (15 a 24 anos), o oti-
mismo decresce. O percentual dos que freqüentam a escola é inferior
a 50% na maior parte das UFs. A freqüência à escola diminui, sobre-
tudo com o aumento da faixa etária, em todas as regiões e UFs, como
se pode observar a seguir.

Tabela 3.9: Escolarização bruta dos jovens segundo faixa etária


por regiões e UFs (%)

continua...

15
IBGE, 2003, op. cit., p. 13.

57
...continuação

Observa-se que é na faixa dos 15 aos 17 anos que os jovens


mais freqüentam a escola, possivelmente devido não só à baixa in-
serção no mercado de trabalho, mas à defasagem escolar em que
muitos se encontram – ocasionada, não raro, por problemas históri-
cos como evasão e repetência.
Como vimos no tópico anterior, a partir dos 18 anos o contin-
gente de jovens que deixa os estudos para trabalhar vai aumentando,
sobretudo na faixa dos 20 aos 24 anos, onde 47,7% – segundo indi-

58
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

cadores da PNAD/IBGE – tinham o trabalho como atividade exclu-


siva em 2001.16
A análise da situação por região mostra que a maior porcentagem
de jovens que freqüenta a escola (escolarização bruta) está normal-
mente nas regiões mais pobres, Norte e Nordeste – onde índices de
evasão e repetência costumam ser maiores e a defasagem escolar se
apresenta mais acentuada.
O ordenamento a seguir detalha o anteriormente explicitado, apre-
sentando a taxa de escolarização bruta (freqüência à escola) por uni-
dades federativas, nas diferentes faixas etárias.
Tabela 3.10: Ordenamento das UFs segundo escolarização bruta
dos jovens por faixa etária (%)

continua...

16
PNAD/IBGE, 2001, op. cit.

59
...continuação

Percebe-se que, na maior parte das unidades federativas, na fai-


xa etária dos 15 aos 24 anos, mais de 50% dos jovens não freqüen-
tam a escola. Mais grave ainda se torna a situação quando levamos
em conta que, entre os que estão na escola, na faixa etária aludida,
mais de 60% não se encontram nas séries correspondentes às idades
que possuem. O problema da distorção série/idade ou atraso escolar
num país como o Brasil é preocupante. (...) em um sistema educacional
seriado, existe uma adequação teórica entre a série e a idade do aluno. No caso
brasileiro, considera-se a idade de 7 anos como a idade adequada para o in-
gresso no ensino fundamental e a de 14 para a conclusão. A faixa etária
correta para o ensino médio vai de 15 a 17 anos. Esse indicador permite
relacionar o percentual de alunos, em cada série, que se encontra em idade
superior à recomendada.17
Não obstante os avanços obtidos legalmente com a expansão
da educação básica, que inclui desde a educação infantil até o ensi-
no médio, com efetivo crescimento da matrícula neste último nível
de ensino, chegar à última etapa da educação básica e concluir to-
das as séries correspondentes continua sendo um desafio para os
nossos jovens.

17
ABRAMOVAY, Miriam; CASTRO, Mary Garcia. Ensino médio: múltiplas vozes. Brasília:
UNESCO, MEC, 2003, p. 26.

60
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

JOVENS BRASILEIROS E ENSINO MÉDIO:


DESAFIOS DA ATUALIDADE18
A partir da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB
(Lei 9.394/96) o ensino médio passou a fazer parte da educação básica no Brasil,
abrindo aos jovens a possibilidade de acesso a um nível de escolaridade mais eleva-
do. Com a prioridade conferida à universalização do ensino básico, criou-se uma
nova e expressiva demanda por essa etapa, materializada pelo crescimento das
matrículas: segundo dados do censo escolar divulgado pelo Ministério da Educação
– MEC, em 2000, o número de alunos matriculados no ensino médio cresceu
5,4% em relação ao ano de 1999. (...)
Segundo dados publicados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais – INEP, sobre a educação no Brasil em 2001, já é possível identi-
ficar tendências de melhorias no aproveitamento dos alunos da educação básica,
incluindo o ensino médio. Nesse nível, houve uma evolução da taxa de aprovação
dos alunos, de 71,6% para 75,8% entre 1996 e 2000, e uma diminuição no
número de reprovações, de 9,5% para 7,5% no mesmo período. A quantidade de
alunos que abandonam a escola também tem diminuído. Nesse mesmo intervalo de
tempo ela caiu de 18,9% para 16,7%.
Embora a melhora desses indicadores represente um aumento no número de
concluintes da educação básica, chegar ao ensino médio continua sendo um desafio
para grande parte dos jovens. Em cada 100 daqueles que ingressam no ensino
fundamental, apenas 59 conseguem concluí-la e apenas 40 alcançam o diploma do
ensino médio. Apesar dos avanços ocorridos entre 1996 e 2000, esse nível de
ensino ainda concentra os maiores índices de distorção idade-série, 53,3%. Em
1996, o número de alunos do ensino médio em atraso escolar era de 55,2% (INEP).

Miriam Abramovay
Professora da Universidade Católica de Brasília
Mary Castro
Pesquisadora da UNESCO no Brasil

As distorções assinaladas se estendem além do ensino médio. Na


faixa etária que vai dos 15 aos 24 anos, era de esperar que os jovens
pesquisados estivessem cursando, no mínimo, o ensino médio ou cor-

18
Idem, pp. 25-26.

61
respondente, seja no formato regular ou supletivo, ou estivessem em
níveis mais adiantados. Mas essa não é a realidade.
Existe uma diferença entre a escolarização bruta (que inclui to-
dos os níveis de ensino – fundamental, médio e superior) e a escolari-
zação adequada (que abrange a formação obtida do ensino médio em
diante) entre os jovens de 15 a 24 anos. Uma comparação entre os dois
tipos de escolarização, a partir da Tabela a seguir, permite observar a
defasagem escolar entre os nossos jovens. Assim sendo, neste estudo,
os dados utilizados para cálculo do IDJ consideraram, para melhor
refletir a realidade do jovem, o que aqui estamos chamando de escola-
rização adequada.

Tabela 3.11: Escolarização bruta e escolarização adequada dos


jovens de 15 a 24 anos por regiões e UFs (%)

continua...

62
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

...continuação

Observando, por estratificação nas faixas etárias, o percentual de


jovens que freqüenta o ensino médio ou mais (graduação, mestrado,
doutorado...) é bastante reduzido. Na faixa etária que vai dos 15 aos
24 anos, por exemplo, em três regiões, Centro-Oeste, Norte e Nordes-
te, os percentuais dos que freqüentam o ensino médio em diante não
ultrapassam a casa dos 30%.

Gráfico 3.6: Escolarização adequada dos jovens


segundo faixa etária por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

À exceção de Goiás, em todas as unidades federativas a propor-


ção de jovens que freqüenta o ensino médio em diante diminui com o
aumento da faixa etária no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Já nos esta-

63
dos do Norte e Nordeste, com exceção de Rondônia e Acre, a tendên-
cia é haver um crescimento entre os 18 e 19 anos, embora na faixa dos
20 aos 24 anos os percentuais voltem a diminuir numa margem aproxi-
mada ou superior à das três regiões citadas. Essa diminuição se verifi-
ca sobretudo no Nordeste, mormente nos Estados de Alagoas (14,1%),
Paraíba (16,6%) e Pernambuco (16,9%).

Tabela 3.12: Escolarização adequada dos jovens segundo faixa


etária por regiões e UFs (%)

64
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Tabela 3.13: Ordenamento das UFs segundo escolarização


adequada por faixa etária (%)

Relacionando escolarização adequada com o sexo dos jovens,


outras observações podem ser feitas. No geral, mulheres têm maior
freqüência do que os homens. Na faixa mais ampla dos 15 aos 24 anos,

65
a porcentagem de mulheres que freqüenta o ensino médio em diante é
ligeiramente maior do que a dos homens, em todas as regiões. Entre as
mulheres, os níveis de escolarização adequada são menores nas regi-
ões Nordeste (24,8%) e Norte (28,9%). Entre os homens, esses índi-
ces são, respectivamente, 18,4% e 24,2%.

Gráfico 3.7: Escolarização adequada dos jovens de 15 a 24 anos


segundo sexo por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Na estratificação por faixas etárias, a tendência anteriormente


assinalada se confirma: em todas as regiões os homens freqüentam
menos o ensino médio em diante do que as mulheres.
Gráfico 3.8: Escolarização adequada dos jovens segundo
faixa etária e sexo por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

66
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Detalhando o panorama anterior por unidades federativas, há al-


gumas exceções. Mulheres, em relação aos homens, freqüentam me-
nos o ensino médio em diante no Amapá (na faixa dos 15 aos 17 anos),
em Rondônia, Roraima, Rio de Janeiro, São Paulo e Mato Grosso (en-
tre 18 e 19 anos) e no Acre e Amapá (entre 20 e 24 anos).

Tabela 3.14: Escolarização adequada dos jovens segundo faixa


etária e sexo por regiões e UFs (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

67
Desigualdades significativas também são observadas quando o
foco de análise é a escolarização adequada por cor, entre brancos, de
um lado (36,6%), e pretos/pardos (21,3%), de outro. A freqüência ao
ensino médio em diante é maior entre os brancos do que entre os pre-
tos/pardos, sobretudo nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Gráfico 3.9: Escolarização adequada dos jovens de 15 a 24 anos


segundo a cor por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Na estratificação por faixas etárias, a tendência observada dos


15 aos 24 anos não só se confirma, como normalmente se acentua,
com o aumento da idade. Negros e pardos freqüentam menos o ensino
médio em diante do que os brancos.

68
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Gráfico 3.10: Escolarização adequada dos jovens


segundo faixa etária e cor por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Observando ainda a freqüência ao ensino médio em diante, entre


os jovens brasileiros nas diferentes faixas etárias por cor, fica evidente
que, dos 20 aos 24 anos, estão os menores índices de escolarização
adequada, seja entre brancos ou entre pretos/pardos.

Tabela 3.15: Escolarização adequada segundo faixa etária


e cor por regiões e UFs (%)

continua...

69
...continuação

No que diz respeito à freqüência à escola por situação rural/


urbana, mais uma vez, para efeitos comparativos dos dados entre
regiões, anote-se que, no Norte, a amostra da PNAD não contem-
pla seis dos sete estados dessa região na zona rural. E, assim sendo,
em todos os gráficos/tabelas os dados da zona assinalada inexistem,
exceto em Tocantins.
Na faixa mais ampla que vai dos 15 aos 24 anos, tanto na zona
urbana quanto na rural, as taxas de escolarização adequada são
superiores nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. O Nordeste
tem a menor taxa de escolarização adequada: 9,0% (área rural) e
26,6% (área urbana).

70
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Gráfico 3.11: Escolarização adequada dos jovens de 15 a 24 anos


segundo situação rural/urbana por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Mas é na zona rural de todas as regiões que a escolarização se


apresenta mais comprometida. Observando as taxas de escolarização
adequada por estratificação nas faixas etárias, a situação se agrava com
o aumento da idade, sobretudo na faixa que vai dos 20 aos 24 anos. De
certa forma, esse já é um fenômeno conhecido: (...) a entrada prematura
no mercado de trabalho faz com que muitos jovens abandonem a escola (...) essa
situação é corriqueira para muitos países da América Latina. No Brasil, por
exemplo, 36% dos jovens de 13 a 17 anos de idade trabalham em alguma
atividade e, destes, 61% trabalham na área rural.20

20
ABRAMOVAY et alii, 2002, op. cit., p. 49.

71
Gráfico 3.12: Escolarização adequada dos jovens segundo faixa
etária e situação rural/urbana por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Detalhando o que até agora foi dito, a Tabela seguinte apresenta


as taxas de escolarização adequada dos jovens, nas zonas rural e urba-
na, nas diferentes faixas etárias.

Tabela 3.16: Escolarização adequada dos jovens segundo faixa


etária e situação rural/urbana por regiões e UFs (%)

continua...

72
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

...continuação

3.3 ANOS DE ESTUDO

Complementando o estudo sobre educação e juventude brasileira,


julgamos necessário fazer algumas considerações sobre os anos de estu-
do dos jovens brasileiros. Embora esse indicador não venha a se consti-
tuir num elemento para composição do IDJ, as considerações aludidas
se tornam, no mínimo, complementares para o estudo em foco, trazendo
outras revelações acerca da defasagem escolar, problema que afeta fun-
damentalmente os setores menos favorecidos da população juvenil.
Tal como se encontra na PNAD 2001, a classificação segundo os
anos de estudo foi obtida em função da série e do grau que a pessoa estava
freqüentando ou havia freqüentado, considerando a última série concluída
com aprovação. A correspondência foi feita de forma que cada série concluída
com aprovação correspondeu a um ano de estudo.21

21
PNAD, 2001, op. cit., p. 21.

73
Isso posto, a partir das análises até agora efetivadas, já era de se
esperar que as médias de anos de estudo fossem maiores no Sul, Su-
deste e Centro-Oeste, regiões com menores índices de analfabetismo
– comparativamente às regiões Norte e Nordeste do país.

Gráfico 3.13: Anos de estudo entre jovens de 15 a 24 anos


por regiões (médias)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Apenas nas regiões Sul e Sudeste as médias de anos de estudos


ultrapassam oito anos – quantitativo de anos correspondente ao ensi-
no fundamental no país. No geral, a referida média é muito baixa. Em
quase 75% das UFs sequer chega aos oito anos, em quaisquer das
faixas etárias analisadas.

74
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Tabela 3.17: Anos de estudo dos jovens segundo faixa etária


por regiões e UFs (médias)

75
Gráfico 3.14: Anos de estudo dos jovens segundo faixa etária
por regiões (médias)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Indiscutivelmente, São Paulo é o estado que ocupa a melhor posi-


ção em relação à média de anos de estudo no país, em quaisquer das
faixas etárias analisadas. As quatro médias mais baixas se localizam em
estados do Nordeste: Maranhão, Piauí, Paraíba e Alagoas, nessa ordem.
Na faixa etária dos 15 a 24 anos, as mulheres apresentam maior
média de anos de estudo em todas as regiões.

Gráfico 3.15: Anos de estudo dos jovens de 15 a 24 anos


segundo sexo por regiões

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

76
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Na estratificação por faixas etárias, a situação não é diferente. As


mulheres continuam a ter, mesmo que de forma discreta, maior média
de anos de estudo. Essa média aumenta nas UFs de regiões economi-
camente mais desenvolvidas: Sudeste, Sul e Centro-Oeste. É menor
nas regiões mais pobres: Norte e Nordeste, nesta última consideravel-
mente, como pode ser visto a seguir.

Tabela 3.18: Anos de estudo dos jovens segundo faixa etária e sexo
por regiões e UFs (médias)

77
No que diz respeito ao maior contingente populacional de jovens
que, na faixa dos 15 aos 24 anos, é representado por 50,4% de brancos
e 49,1% de pretos e pardos, as desigualdades permanecem: são os pri-
meiros que obtêm a maior média de anos de estudo em todas as regiões,
notadamente no Sudeste (8,9), Sul (8,4) e Centro-Oeste (8,4). Os pre-
tos e pardos são detentores da menor média, sobretudo no Norte (6,7) e
no Nordeste (5,6). Na estratificação por faixa etária, a situação anterior-
mente descrita não sofre mudanças substanciais e pode ser visualizada,
por regiões e unidades federativas, na Tabela que segue.

Tabela 3.19: Anos de estudo dos jovens segundo faixa etária e cor
por regiões e UFs (médias)

continua...

78
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

...continuação

Especificamente no que diz respeito à média de anos de estudo por


situação rural/urbana, mais uma vez seja enfatizado que os resultados
apresentados na região Norte não refletem a realidade da zona rural –
onde apenas no estado de Tocantins dados a esse respeito foram coletados.
A média de anos de estudo é maior na área urbana, em todas as
regiões, conseguindo níveis mais altos no Sudeste (8,5), Sul (8,5) e Cen-
tro-Oeste (7,8). Como vem acontecendo no decorrer das análises em-
preendidas neste estudo, a maior desvantagem está no Nordeste (6,6).
Na zona rural – já esperado –, os níveis antes assinalados decaem
em todas as regiões. As médias de anos de estudo no Nordeste, Sudes-
te, Sul e Centro-Oeste são, respectivamente, 4,1, 6,1, 6,7 e 6,0.

Gráfico 3.16: Anos de estudo dos jovens de 15 a 24 anos


segundo situação rural/urbana por regiões (médias)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

79
As comparações anteriormente feitas para os jovens compreen-
didos na faixa dos 15 aos 24 anos também se adequam para a análise
por faixas etárias, no que diz respeito às desigualdades entre as regi-
ões, por situação rural/urbana.

Tabela 3.20: Anos de estudo dos jovens segundo faixa etária e


situação rural/urbana por regiões e UFs (médias)

80
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Analisando a média de anos de estudo, com relação à renda per


capita familiar entre jovens de 15 a 24 anos, uma obviedade: quanto
maior a renda familiar, maior a média de anos de estudo – exceto para
os que estão compreendidos entre aqueles que recebem mais de 10
salários-mínimos, que, por sua vez, são minoria na população juvenil.
Observemos essa situação mais detalhadamente na Tabela que segue.
Tabela 3.21: RFPC segundo média de anos de estudo dos jovens
de 15 a 24 anos por regiões e UFs (em SM)

81
Gráfico 3.17: RFPC segundo média de anos de estudo dos jovens
de 15 a 24 anos por regiões (em SM)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

3.4 QUALIDADE DO ENSINO

Evidências nacionais e internacionais permitem apontar que o


Brasil, se está vencendo os desafios quantitativos da inclusão educaci-
onal de vastos contingentes de crianças e adolescentes, ao menos, no
que tange ao ensino fundamental, ainda apresenta sérios e profundos
deficits no que se refere à qualidade do seu ensino, fato que nos remete
ao plano das capacidades e competências para a vida e para a maturi-
dade que a educação consegue – ou não consegue – desenvolver nos
jovens que passam pelas bancas escolares.
Tanto as estimativas realizadas pelo MEC22 a partir dos cômpu-
tos de matrícula quanto os levantamentos amostrais da PNAD/IBGE
são unânimes ao afirmar que aproximadamente 97% das crianças e
adolescentes de 7 a 14 anos se encontram escolarizados. Também para
a faixa de 15 a 24 anos a década de 90 evidenciou uma expressiva

22
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura – MEC. SAEB 2001. Relatório Nacional –
Versão Preliminar. Brasília: INEP/MEC, 2002.

82
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

expansão da escolarização, apesar dos problemas apontados nos tópi-


cos anteriores. Esse incremento quantitativo do acesso em todos os
níveis de ensino (fundamental, médio e superior) determinou uma sen-
sível melhoria na posição do país no Índice de Desenvolvimento Hu-
mano, devido aos avanços em sua Taxa de Escolaridade Combinada
(proporção da população matriculada em todos os níveis de ensino).
Mas diversas fontes também são coincidentes ao afirmar que a
qualidade do aprendizado de nossos jovens é extrema e sensivelmente
deficitária. Uma pesquisa internacional recentemente divulgada pela
UNESCO/OCDE,23 que avaliou as competências de jovens de 15 anos
de idade de 41 países do mundo, nas competências para a leitura, a
matemática e as ciências, localiza o Brasil em penúltimo lugar.
Também um recente estudo do INEP,24 ao fazer uma reanálise
dos resultados do SAEB de 2001, para os alunos da 4a série do Ensino
Fundamental do país, concluiu que 59% dos alunos encontram-se em
situação “muito crítica” ou “crítica” quanto a competências para lei-
tura e 52,3% apresentam a mesma situação quando se trata de compe-
tências e habilidades para a resolução de problemas matemáticos que
se apresentam na vida cotidiana.
Nossa proposta de incluir a qualidade do ensino ministrado
aos jovens entre os indicadores do IDJ, diferentemente do IDH, que
só opera com os aspectos quantitativos da cobertura educacional
(matrícula combinada nos três níveis de ensino), prende-se a um fato
muito simples. Tão importantes quanto os aspectos quantitativos da
inclusão educacional trabalhados pelo IDH, são os aspectos qualita-
tivos, notadamente os níveis de aprendizagem e de desenvolvimento
de competências nos alunos. Mas nem todos, nem a grande maioria
dos países do mundo possuem sistemas de avaliação que possibili-

23
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A
CULTURA/OECD. Literacy Skills for the World of Tomorrow – Further Results From PISA
2000. UNESCO – Institute for Statistics/Organisation For Economic Co-operation and
Development, 2003.
24
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Qualidade da Educação:
uma nova leitura do desempenho dos estudantes da 4ª série do Ensino Fundamental.
Brasília, 2003.

83
tem contar com indicadores fidedignos sobre a qualidade do ensino
ministrado. Ao incluir esse aspecto, o IDH ver-se-ia limitado a um
reduzido número de países.
Mas o Brasil conta com o Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Básica (SAEB) que, desde 1990, de forma sistemática,
vem avaliando a evolução da educação básica no país. Dentre os
aspectos avaliados pelo Sistema, destaca-se a aferição da competên-
cia demonstrada pelos alunos, via provas independentes, em diver-
sas áreas curriculares, notadamente língua portuguesa e matemática.
Na sexta rodada do SAEB, acontecida em 2001, responderam as pro-
vas alunos da 4a e da 8a séries do Ensino Fundamental e da 3a série
do Ensino Médio. Para nosso tema, focalizado na juventude, consi-
deramos os resultados da 3a série do Ensino Médio e da 8a série do
Fundamental. Justifica-se a inclusão dos resultados das provas da 8a
série no cômputo do índice por dois motivos básicos. Em primeiro
lugar, apesar da idade ideal de finalização da 8a série ser 14 anos de
idade, 65% dos alunos dessa série, segundo a PNAD 2001, tem 15
anos ou mais. Em segundo lugar, a situação de “entrada” na faixa
etária considerada ao longo do trabalho (15 a 24 anos) também re-
sulta relevante e digna de consideração.
Os resultados das provas do SAEB são divulgados numa escala
de proficiência única por disciplina, que vai de 150 a 500 pontos. As-
sim, os resultados da 8a série do Ensino Fundamental e da 3a série do
Médio se encontram na mesma escala.

Tabela 3.22: Desempenho dos alunos nas provas do SAEB 2001


por regiões e UFs

continua...

84
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

...continuação

Gráfico 3.18: Desempenho dos alunos nas provas do SAEB 2001


por regiões

Fonte: SAEB/INEP/MEC.

85
Vemos novamente aqui que as regiões Norte e Nordeste apresen-
tam resultados marcadamente inferiores aos das restantes regiões, den-
tre as quais se destaca o Sul, que em todos os casos apresenta as médi-
as mais elevadas.
Essas diferenças adquirem destaque preocupante quando se ana-
lisam os resultados por unidade federada. Os jovens da 3a série do ensino
médio de estados como Tocantins, Roraima ou Amazonas, com uma
proficiência em torno dos 240 pontos, apresentam menor domínio da
língua que jovens da 8a série de Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Rio
de Janeiro, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul ou Minas Gerais, to-
dos com médias superiores a 242 pontos na escala. Algo semelhante
acontece quando se verificam as competências na área de matemática.
Os jovens da 3a série dos mesmos estados apresentam habilidades in-
feriores aos da 8a série de estados como Santa Catarina, Rio Grande do
Sul e Distrito Federal. Praticamente é um ciclo completo de estudos
que separa os jovens de ambos os grupos de estados.

86
4. RENDA E ATIVIDADES

4.1 RENDA

Recentes discussões chamam a atenção para o fato de que níveis


aceitáveis de desenvolvimento humano não se encontram atrelados,
de forma imediata e direta, aos rendimentos monetários da população.
O efetivo acesso a benefícios sociais, como educação, saúde e servi-
ços de infra-estrutura, podem significar um incremento potencial da
renda real.1 Mas, se isso resulta evidente em países com longa tradição
de instituições de seguridade social, podemos afirmar que em países
da América Latina com acentuados níveis de desigualdade, como o
Brasil, o nível de renda (“monetária”) ainda se encontra estreitamente
atrelado às condições de acesso aos referidos serviços. Neste sentido,
os estratos jovens da população formam um segmento particularmen-
te vulnerável a tais condições de acesso, como será visto ao longo do
presente capítulo.
Resulta extremamente difícil responder às estatísticas internacio-
nais que apontam a enorme concentração de renda existente no Brasil
2

1
INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS APLICADAS (IPEA); FUNDAÇÃO JOÃO
PINHEIRO (FPJ); INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
(IBGE); PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDADAS PARA O DESENVOLVIMENTO
(UNPD). Definição do cálculo dos indicadores e índices de desenvolvimento humano e condições de vida.
Disponível em: http://www.unpd.org.br/HDR/HDR2000/Metodologias – IDH-M e
ICV.pdf. Acesso em: 09/05/2003.
2
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (PNUD).
Relatório de Desenvolvimento Humano 2003. Disponível em: http://www.undp.gov.br.

87
cujo coeficiente Gini3 já ultrapassou a barreira do 0,60, façanha que só
mais seis paises do mundo atingiram, mormente africanos (como
Namíbia, Botswana, Zuazilândia, República Centro-Africana e Serra
Leoa) e um outro latino-americano (Nicarágua).
Essa desmedida concentração da renda origina também um
volumoso contingente de excluídos, cuja proporção permanece mais
ou menos constante desde 1995: perto de 15% de indigentes e 34%
de pobres.4
Se dividirmos as famílias brasileiras em 10 grandes grupos de
acordo com sua renda, podemos verificar que o grupo de 10% das
famílias de maior renda concentram 43,9% do total da renda nacio-
nal. Já a metade das famílias, as de menor renda, só percebem 13,8%
da mesma.
Continuando com a técnica de comparar o primeiro grupo (10%
de maior renda) com os 50% de menor renda, teríamos que, no
primeiro grupo, cada membro da família percebe o equivalente a
6,4 salários mínimos. Já nos 50% de menor renda, cada membro
percebe 0,4 salário mínimo. Noutras palavras, os membros do pri-
meiro grupo ostentam 15,7 vezes mais renda que os da metade
inferior das famílias brasileiras.
Com algumas diferenças regionais e estaduais, tais despropor-
ções de renda parecem ser igualmente elevadas em todos os casos,
como pode ser observado na tabela a seguir:

3
Coeficiente que mede o grau de concentração, neste caso, da renda, onde o valor 0,0 indica
a ausência absoluta de concentração (todos os indivíduos têm a mesma renda) até o índice
1,0 no qual uma só unidade concentra toda a renda.
4
PAES DE BARROS, Ricardo; HENRIQUES, Ricardo; MENDONÇA, Rosane.
Desigualdade e Pobreza no Brasil: retratos da realidade contemporânea e estratégias de
mensuração. In: HENRIQUES, Ricardo (org). Desigualdade e Pobreza no Brasil. Rio de
Janeiro: IPEA, 2000, p. 24.

88
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Tabela 4.1: RFPC dos jovens do decil superior e dos 5 decis


inferiores por regiões e UFs (em SM)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

89
Se os níveis de concentração de renda do Nordeste se encontram
acima da média nacional, Sul, Sudeste e Centro-oeste apresentam ní-
veis abaixo da média. A menor concentração de renda encontra-se em
Santa Catarina e a maior em Tocantins.
E tais diferenças de renda originam formas bem diferenciadas de
acesso a benefícios sociais, como educação, por exemplo. Apesar da
garantia constitucional de educação fundamental obrigatória e gratui-
ta para toda a população, os 50% de jovens de renda familiar inferior
só conseguem completar 5,9 anos de estudo (quando o ensino funda-
mental tem 8 anos). Já os 10% de maior renda ostentam uma média de
10,8 anos de estudo.
Comparada às médias nacionais de outros estratos da população,
a pobreza entre os jovens parece ser maior do que a da população em
geral.5 Observando a renda média dos jovens brasileiros e as desigual-
dades entre regiões e unidades federativas, vê-se que o Brasil, apesar
de relativos avanços em indicadores sociais como educação, ainda não
representa exceção nesse cenário.
A renda familiar per capita (RFPC) dos jovens nas regiões for-
ma dois patamares, reproduzindo os contrastes daquilo que muitos
já chamaram de “dois brasis”: de um lado, as regiões Sudeste, Sul e
Centro-Oeste; de outro, as regiões Norte6 e Nordeste, como mostra
o gráfico:

5
ABRAMOVAY et alli, 2002, op. cit., p. 36.
6
Dado que na PNAD a área rural da região Norte não está representada (exceto em Tocantins),
é provável que a média real dessa região seja mais baixa.

90
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Gráfico 4.1: RFPC dos jovens de 15 a 24 anos por regiões (em SM)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

O Nordeste é a região que apresenta os menores níveis de


renda, obtendo média inferior a 1 salário mínimo em todas as uni-
dades federativas. Em Alagoas registra-se a menor média do país:
0,73 salário mínimo. Nos estados do Norte, em geral as médias
são próximas a 1 salário mínimo, com exceção do Acre (1,57 salá-
rio-mínimo).
Mas os contrastes dentro das regiões não são menores do
que entre elas. Grandes desníveis entre as unidades federativas
são percebidos especialmente no Sudeste e no Centro-Oeste. No
primeiro, São Paulo apresenta média de 2,17 salários mínimos,
quando a menor média da região é de 1,30 salário mínimo, em
Minas Gerais. Essa região concentra a um só tempo a 2ª (São Pau-
lo), a 4ª (Rio de Janeiro), a 13ª (Espírito Santo) e a 14ª (Minas
Gerais) médias do país.
No Centro-Oeste, o Distrito Federal obtém média de 2,46
salários mínimos (a maior do país) enquanto a média de Goiás é
de 1,46, a décima média nacional.

91
Tabela 4.2: Ordenamento das UFs segundo a RFPC
dos jovens de 15 a 24 anos (em SM)

A análise da RFPC permite verificar que a cor é um forte fator de


discriminação. Em todas as regiões, a renda média de pretos e pardos
é inferior à dos brancos. Isso é uma constante em todas as unidades
federativas.

92
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Tem-se uma idéia dessa disparidade quando se observa a maior e


a menor média nacional em cada um dos segmentos. No total de jo-
vens, como vimos, a RFPC maior do país é 2,46 salários mínimos e a
menor, 0,73 salário mínimo. Entre os brancos, a maior RFPC registra-
da é de 3,56 salários mínimos (Distrito Federal) contra 1,67 salário
mínimo entre pretos e pardos (na mesma unidade federativa). A me-
nor RFPC do país entre brancos é registrada na Paraíba (1,10 salário
mínimo); entre pretos e pardos, esse valor é de 0,55 salário mínimo em
Alagoas.
No Norte, onde nas médias gerais dos estados o maior valor é
1,57 salário mínimo, quando os dados são segregados por cor surgem
médias mais altas: 2,40 (Acre), 2,01 (Roraima) e 2,05 (Tocantins) sa-
lários-mínimos, todas entre os brancos. A maior média entre pretos e
pardos nessa região é 1,28 salário mínimo (registrada no Acre).
No Nordeste, onde as médias gerais já são as mais baixas do
país, a situação mostra-se mais homogênea e mais grave: em todas as
unidades federativas as médias entre os pretos e pardos não ultrapas-
sam 0,70 salário mínimo.
Nas demais regiões a situação é mais heterogênea, mas não me-
nos desigual. No Sudeste a média geral entre brancos é 2,27 salários
mínimos contra 1,13 entre pretos e pardos. Os contrastes entre as uni-
dades federativas ocorrem em ambos os segmentos. Contudo, obser-
vam-se médias inferiores a 1 salário mínimo entre pretos e pardos em
Minas e Espírito Santo.
No Sul, a distância entre as médias de brancos e pretos/pardos é
semelhante nos três estados da região. Em todos os casos, a média dos
brancos aproxima-se de 2 salários mínimos e a dos pretos/pardos, em
direção oposta, aproxima-se de 1 salário mínimo.
No Centro-Oeste, as disparidades das médias entre os estados é
notável, indo de 3,56 no Distrito Federal a 1,91 no Mato Grosso do Sul.
Em sete unidades federadas do país – Tocantins, Sergipe, Ala-
goas, Piauí, Distrito Federal, Santa Catarina e Bahia –, a RFPC dos
brancos mais do que duplica em relação à dos pardos e pretos. Já em
outros estados, como Rondônia e Paraná, praticamente inexistem
diferenças de renda.

93
Tabela 4.3: Ordenamento das UFs segundo diferenças na RFPC
(em SM) dos jovens de 15 a 24 anos por cor

Gráfico 4.2: RFPC dos jovens de 15 a 24 anos segundo a cor


por regiões (em SM)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

94
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Também em relação ao gênero evidenciam-se diferenças quanto


à renda entre os jovens.
Mudando o foco da renda familiar para o da renda própria do
indivíduo, nota-se que os homens que têm renda própria superam em
muito o número registrado entre as mulheres: 54,0% contra 37,8%.
Isso ocorre em todas as unidades federativas.
Em conformidade com o padrão de distribuição de renda visto
anteriormente, o montante de jovens que têm renda própria, tanto
homens quanto mulheres, é menor nos estados do Norte (51,3% e
31,8%, respectivamente) e do Nordeste (46,7% e 30,5%, na mesma
ordem). Também em unidades federativas destas regiões são registradas
as menores taxas de mulheres sem renda própria no país, particular-
mente no Amapá (31,1% entre os homens e 24,4% entre as mulheres)
e em Alagoas (42,7% e 26,3%, na mesma ordem).
O Sul e o Centro-Oeste expressam os maiores contingentes de
jovens com renda própria, mas em geral com disparidades significati-
vas entre homens e mulheres.
No Sul, os que têm renda própria perfazem 60,5% entre os jo-
vens do sexo masculino. Entre as mulheres, a proporção é de 43,9%.
A unidade federativa que mais foge a esses números nessa região é o
Paraná, com contingente de jovens com renda própria ligeiramente
menor em relação aos outros dois estados da região.
No Centro-Oeste, perfazem 61,3% os homens jovens com renda
própria contra 41,7% de mulheres em situação similar. Em relação ao
número total da região, o Distrito Federal é a unidade federativa com a
menor proporção de homens jovens com renda própria (51,5% contra
42,5% entre as mulheres). Em relação às mulheres, a menor propor-
ção na região é encontrada no Mato Grosso (36,0% de mulheres com
renda própria contra 62,9% entre os homens).
O Sudeste apresenta situação intermediária, não atingindo os ní-
veis de renda própria do Sul e Centro-Oeste, mas mantendo larga dis-
tância do Norte e Nordeste. Minas Gerais apresenta a maior taxa de
homens com renda própria na região (58,1%), seguido de perto por
São Paulo (57,0%). No Sudeste, São Paulo apresenta a maior taxa de
mulheres com renda própria (44,7%).

95
Tabela 4.4: Jovens de 15 a 24 anos que têm renda própria
segundo sexo por regiões e UFs (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

96
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Gráfico 4.3: Jovens de 15 a 24 anos que possuem ou não renda


própria segundo sexo por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Esses dados são particularmente importantes pelo fato de que


ter renda própria não significa apenas uma maior participação na ren-
da familiar. Representa também, no caso dos jovens, uma maior pers-
pectiva de independência. Vale salientar ainda que a participação na
renda, em contextos em que a desigualdade de gênero ainda impera,
constitui um importante fator de liberdade e poder decisório para as
mulheres no seio das famílias. Ademais, a situação de “sem renda pró-
pria” potencializa entre os jovens, particularmente entre os homens
pobres, condições de vulnerabilidade. Do ponto de vista coletivo, isso
redunda em prejuízo para as gerações subseqüentes, em virtude das
famílias constituídas em tais condições.

4.2 ATIVIDADES

Estamos considerando tanto a educação quanto o trabalho como


atividades centrais para a juventude. Esta decisão está relacionada ao
conceito de juventude aqui adotado, como fase de transição, em que
cada sociedade define um tempo socialmente necessário para a trans-

97
formação dos jovens de “dependentes” em “adultos” autônomos e
produtivos. As atividades dos jovens, desse modo, remetem à prepara-
ção e ao aprendizado para o cumprimento dos papéis de “adulto” na
sociedade.
Como mencionado nas Notas Técnicas, serão considerados os
jovens que só estudam, que conciliam estudo e trabalho, que só traba-
lham, e os que não trabalham nem estudam. Como nos mostrarão os
dados, o volumoso contingente de jovens que não trabalha nem estu-
da não pode deixar de ser visto com preocupação, perante os riscos
que essa situação representa.

JUVENTUDE E TRABALHO: UM CAMPO POLÊMICO7

Várias fontes alertam para a situação de vulnerabilidade dos jovens quanto ao


trabalho, sendo esse um dos contingentes populacionais que apresenta algumas das
mais altas taxas de desemprego e de subemprego no país, já que enfrenta problemas
singulares quanto à primeira inserção no mercado, considerando o requisito da
experiência prévia. É também uma população que vem exigindo novos enfoques da
educação profissionalizante, novos olhares sobre qualificação profissional, especial-
mente nas famílias mais pobres. De fato, as mudanças no mundo do trabalho, a
desregulamentação e a flexibilização da economia demandariam habilidades, nem
sempre disponíveis aos jovens de setores populares – como conhecimentos em infor-
mática e línguas estrangeiras – isso em um contexto de diminuição dos postos de
trabalho para grande parte da população.
Por outro lado, trabalho e juventude são campos de polêmica, inclusive no meio
internacional, não havendo consenso sobre a propriedade da inserção no mercado de
trabalho quando se trata de uma população que, em princípio, deveria estar dedicada
aos estudos (...).

Mary Castro
Pesquisadora da UNESCO no Brasil

7
CASTRO, Mary et alii. Cultivando vida, desarmando violências: experiências em educação, cultura,
lazer, esporte e cidadania com jovens em situações de pobreza. Brasília: UNESCO, Brasil
Telecom, Fundação Kellogg, Banco Interamericano de Desenvolvimento, 2001, p. 43.

98
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

No Brasil, em 2001, são semelhantes as taxas de jovens que têm


como atividade exclusiva o estudo (30,3%) ou o trabalho (31,2%). Par-
cela menor, mas também significativa (18,2%), concilia trabalho e estu-
do. Contudo, maior do que esta é a parcela de jovens que não trabalha
nem estuda (20,3%). Trata-se, nesse último caso, de 6,7 milhões de jo-
vens, salvo exceções, em situação de risco de exclusão social.
Voltando nossa atenção para esse último grupo de jovens, as
maiores taxas são registradas em estados do Nordeste e do Norte,
que se intercalam nos quatro primeiros lugares do país nesse indica-
dor. A Paraíba é o estado com maior taxa de jovens sem atividades
em nível nacional: 25,6%. Esse número é praticamente o mesmo do
Amapá, que ocupa o 2º lugar no país: 25,5%. O 5º lugar é ocupado
por uma unidade federativa do Centro-Oeste: Mato Grosso do Sul,
com 23,6%.
Além destas posições de destaque, altas proporções de jovens
sem atividades estendem-se por quase todos o país, ultrapassando 20%
em 19 das 27 unidades federativas, ou 19% em 23 delas. A menor taxa
de jovens em tal condição é registrada em Santa Catarina: 13,7%.
A estrutura de atividades entre os jovens revela um outro dado
importante relativo à distribuição dos que só trabalham e dos que só
estudam: estes últimos mostram-se mais numerosos nas duas regiões
mais pobres (Norte8: 35,2%; Nordeste: 32,4%), embora o Rio de Ja-
neiro e o Distrito Federal também obtenham taxas acentuadas (37,1%
e 36,3%, respectivamente). Já os que só trabalham são preponderan-
tes nas regiões Sul (36,5%), Sudeste (32,9%) e Centro-Oeste (31,8%).
Considerando que os que só estudam têm médias de renda mais
altas do que os que só trabalham, a configuração anterior pareceria, a
princípio, contraditória (a condição de ter o trabalho como atividade
exclusiva estaria mais diretamente associada à pobreza). Contudo,
pode-se afirmar que a maior incidência dos que só estudam, nas regi-
ões mais pobres, mascara outros tipos de desigualdades existentes tan-
to em nível nacional quanto em nível regional.

8
Vale relembrar que a PNAD, na região Norte, engloba apenas a zona urbana, exceto em
Tocantins.

99
A maior presença dos jovens na escola nas regiões Norte e
Nordeste (especialmente nas faixas de 18 a 19 e 20 a 24 anos) está
relacionada não a maiores oportunidades de continuação de for-
mação e sim, ao atraso escolar. Em maior grau do que nas demais
regiões, muitos desses jovens estão cursando séries anteriores às
correspondentes à sua idade, quais sejam, pelo menos as que cons-
tituem o ensino médio. Reforça essa explicação a informação já
analisada sobre as médias de anos de estudo, mais baixas no Norte
e no Nordeste sendo claramente visível no item referente a Escola-
rização Adequada.
Embora se refira aos que só estudam, esse aspecto tem reper-
cussões importantes no entendimento dos que estão presentes no
mercado de trabalho, visto que níveis de renda mais baixos, aliados à
defasagem escolar, redundam em remunerações mais baixas e maior
exposição ao trabalho precário reforçando, nesses locais, o círculo
“perverso” da pobreza e da exclusão.

Tabela 4.5: Estrutura de atividades entre os jovens de 15 a 24 anos


por regiões e UFs (%)

continua...

100
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

...continuação

Gráfico 4.4: Estrutura de atividades entre os jovens de 15 a 24 anos


por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Mas esse tipo de análise agregada está a ocultar situações dife-


renciadas entre os diversos grupos etários de jovens. Na tabela a se-
guir podemos observar que dos 15 aos 24 anos acontece um conjunto
de mudanças nas atividades que é necessário tomar em conta.

101
Tabela 4.6: Atividades entre os jovens (%) por idade simples

Gráfico 4.5: Atividades dos jovens (%) por idade simples

Confirmando o esquema proposto por Filgueira e Fuentes9 ve-


mos por esses dados que numa primeira fase, que vai dos 15 aos 17
anos, prepondera o estudo como atividade central. Entre os 18 e os 19

9
ABRAMOVAY et alli, 2002, op. cit.

102
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

anos de idade, acontece uma transição do estudo para o trabalho, que


predomina decididamente a partir dos 20 anos de idade.
Sob o ponto de vista estritamente social, o fato de só estudar,
para a faixa de 15 a 17 anos, deveria ser a princípio a situação mais
favorável, dando condições à juventude de cursar o ensino médio,
requisito mínimo para a maior parte dos postos de trabalho hoje dis-
poníveis e demandados. Teoricamente, por volta desta idade o jo-
vem deveria estar concluindo ou perto de concluir o ensino médio.
Nesse período, a conciliação entre escola e trabalho tende a prejudi-
car a qualidade dos estudos, comprometendo a formação e o futuro
do jovem.10
Mas, em 2001, 59,0% dos jovens dessa idade no Brasil só estu-
davam. Outros 22,1% conciliavam trabalho e estudo. Se este último
contingente já não estava na condição ideal, menos ainda os 8,2%
de jovens dessa idade que apenas trabalhavam, estando fora do sis-
tema escolar. Visto que a renda média dos jovens que só trabalham é
mais baixa que a dos que apenas estudam, é provável que estes jo-
vens tenham baixas médias de anos de estudo, o que compromete as
suas chances de competição e inserção efetiva no mercado de traba-
lho mais tarde, reproduzindo o ciclo da exclusão social. As taxas
mais elevadas de jovens de 15 a 17 anos que só trabalham foram
registradas no Espírito Santo (12,7%), no Paraná (12,5%) e em Per-
nambuco (12,3%).
Quanto à exclusão propriamente dita, contam-se nessa faixa etária
10,7% de jovens que não trabalham nem estudam. Algumas unidades
federativas ultrapassam consideravelmente essa proporção. É o caso
do Acre (17,2%), de Rondônia (16,2%), do Mato Grosso do Sul
(15,3%) e do Espírito Santo (15,1%).

10
Seguindo as determinações da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), no Art. 60, proíbe (...) qualquer trabalho a menores de 16
anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos, com nova redação dada conforme
Emenda Constitucional nº 20, de 16 de dezembro de 1998. O Art. 63 acrescenta que (...) a
formação técnico-profissional deve obedecer aos seguintes princípios: I – garantia de acesso e freqüência
obrigatória ao ensino regular; II – atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente; III –
horário especial para o exercício das atividades. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). In:
FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA (UNICEF). Disponível em:
http://www.unicef.org/brazil/estum.htm#Art.%2060. Acesso em: 22/07/2003.

103
Tabela 4.7: Estrutura de atividades entre os jovens de 15 a 17 anos
por regiões e UFs (%)

104
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Gráfico 4.6: Estrutura de atividades entre os jovens de 15 a 17 anos


por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Na faixa etária de 18 a 19 anos, as atividades dos jovens estão


estreitamente ligadas às possibilidades de conclusão do ensino médio
e aos “ensaios” para o ingresso no mercado de trabalho. Assim, em
relação à faixa etária anterior, decresce o número dos que só estudam
(de 59,0% para 30,4%), e aumenta o dos que só trabalham (de 8,2%
para 27,7%). Percebem-se, portanto, claras diferenças entre essa faixa
etária e a de 15 a 17 anos, que caracterizam de fato uma transição,
como aponta o esquema de Filgueira e Fuentes.11
Contudo, uma das mudanças que mais merecem atenção está não
nas atividades em si, mas na ausência delas. De 10,7% entre os que
têm 15 a 17 anos, passam para 21,0% os que não trabalham nem estu-
dam. Esse número chega a 28,8% em Mato Grosso do Sul, 26,5% em
Roraima e 26,0% na Paraíba.
A transição para a vida adulta, portanto, começa a ser marcada
para um grande número de jovens pela falta de uma atividade em con-
dições de ampliar e consolidar perspectivas de futuro. O jovem come-
ça a se desvincular dos seus velhos papéis, mas não encontra espaço
para desempenhar os novos, no que se refere à vida socialmente pro-
dutiva e seus múltiplos desdobramentos.

11
ABRAMOVAY et alli, 2002, op. cit.

105
Tabela 4.8: Estrutura de atividades entre os jovens de 18 e 19 anos
por regiões e UFs (%)

106
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Gráfico 4.7: Estrutura de atividades entre os jovens de 18 e 19 anos


por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

A faixa de 20 a 24 anos representa, teoricamente, a passagem dos


jovens para a vida adulta. O trabalho é uma das chaves desse processo,
uma vez que possibilita a independência e a autonomia do indivíduo.
Isso dito, não é de surpreender que o número dos que só estudam seja
muito menor e o dos que só trabalham seja muito maior nessa faixa
etária, em relação às anteriores.
Por outro lado, dada a gradativa “substituição” da escola pelo
trabalho (sobretudo nos estratos de renda mais baixos), a quantidade
de jovens sem atividade socialmente definida aumenta à medida que
aumenta a faixa etária. Assim, entre os 20 e 24 anos a proporção de
jovens que não trabalha nem estuda (26,2%) é notavelmente maior do
que o montante que só estuda (11,6%) ou que concilia estudo e traba-
lho (14,5%).
As maiores taxas de jovens sem atividades nessa faixa de idade
são registradas em estados do Nordeste (Paraíba: 34,2%; Rio Grande
do Norte: 32,4%) e do Norte (30,9% no Amapá; 30,8% no Amazo-
nas). Em todas as demais unidades federativas, exceto em Santa
Catarina (17,7%), as taxas de jovens sem atividades na faixa de 20 a
24 anos ultrapassam 20%.

107
Tabela 4.9: Estrutura de atividades entre os jovens de 20 a 24 anos
por regiões e UFs (%)

108
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Gráfico 4.8: Estrutura de atividades entre os jovens de 20 a 24 anos


por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Tabela 4.10: Ordenamento das UFs segundo jovens sem atividades


por faixa etária (%)

continua...

109
...continuação

Maiores taxas de jovens sem atividades, especialmente na faixa de


20 a 24 anos, revelam estruturas de desigualdade que expõem os jovens
pobres a maiores dificuldades de encontrar espaços para assumir, pro-
gressivamente, seus papéis adultos, especialmente no que diz respeito
ao mercado de trabalho. Essa dificuldade provavelmente decorre, entre
outros fatores, de problemas vivenciados já na faixa de 15 a 17 anos (ou
antes dela), tais como o trabalho precoce e abandono da escola.
Embora a dificuldade de inserção no mercado atinja os jovens de
todos os estratos de renda, ao jovem não pobre ainda resta a continui-
dade dos estudos e a especialização, tornando-se mais competitivo.
Ao jovem pobre, sob os efeitos dos fatores citados e da defasagem
escolar decorrente, restam a exclusão ou os trabalhos marginais no
contexto social.
As atividades que os jovens desenvolvem aparecem diretamente
ligadas às desigualdades existentes na sociedade, permitindo inferir a
estrutura de oportunidades que o país, cada região ou unidade federa-
tiva oferece à sua juventude. Isso pode ser confirmado se associamos
a RFPC a cada uma das situações de atividade dos jovens.
Considerando os totais do Brasil, vemos que a RFPC é maior
entre os que só estudam (1,79 salário-mínimo), e diminui progressiva-
mente entre os que estudam/trabalham (1,77), só trabalham (1,40) e
não trabalham nem estudam (0,81). Os que não trabalham nem estu-

110
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

dam, portanto, como a própria condição já revela, são efetivamente


aqueles que se encontram em situação menos favorável de renda. Pa-
rece constituir-se assim o “círculo vicioso” da exclusão social, onde os
setores juvenis de menor renda familiar não têm condições materiais
de continuar seus estudos; sua baixa escolaridade os segrega do mer-
cado de trabalho ou de postos de trabalho mais bem remunerados.
Com isso, perpetua-se o círculo vicioso da pobreza.
Em segundo lugar vêm os que só trabalham, ou seja, aqueles que,
embora não possam ser considerados “excluídos” (já que têm uma ati-
vidade socialmente definida), estão fora dos sistemas de ensino.
Em todas as categorias de atividade, os estados do Nordeste são
os que registram os menores patamares de renda. Em todos eles, entre
os que só trabalham (27,3%) e os que não trabalham nem estudam
(21,4%), a RFPC é inferior a 1 salário-mínimo. No caso dos que não
trabalham nem estudam, em alguns estados (Maranhão, Piauí, Paraí-
ba, Alagoas e Bahia) a RFPC ultrapassa a linha da pobreza, sendo
inferior a ½ salário-mínimo.

Tabela 4.11: RFPC segundo as atividades dos jovens de 15 a 24 anos


por regiões e UFs (em SM)

continua...

111
...continuação

Gráfico 4.9: RFPC segundo as atividades dos jovens de 15 a 24 anos


por regiões (em SM)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

112
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

O conceito de trabalho/ocupação utilizado na PNAD exclui os


“afazeres domésticos”,12 que constituem categoria específica na coleta
de dados. Todavia, uma vez que estamos falando sobre “atividades soci-
almente definidas” e sobre o que elas representam na condição social e
econômica dos jovens dentro da estrutura de oportunidades, os afazeres
domésticos tornam-se um aspecto que dever ser considerado. Isso por-
que o tempo dedicado às tarefas do lar, quando não observadas as ne-
cessidades de continuidade escolar e profissionalização, de crescimento
intelectual e de educação para a cidadania, pode-se converter em um
entrave para a possibilidade de um futuro autônomo (do ponto de vista
pessoal) e independente (do ponto de vista econômico) para o(a) jovem.
É alto em todas as categorias de atividades, ultrapassando sem-
pre os 50%, o montante de jovens que executa afazeres domésticos.
Mesmo entre os que trabalham e estudam esse contingente chega a
53,3%, embora nesse caso a média de horas dedicadas seja a menor
(12,7). Por outro lado – e não por acaso –, o percentual de jovens
dedicados aos afazeres domésticos é notavelmente maior entre os que
não trabalham nem estudam (79%), sendo essa a categoria que dedica
mais tempo a tais atividades (31,7 horas em média). Os que só estu-
dam obtêm o segundo maior percentual (66,2%), mas a média de ho-
ras dedicadas, nesse segmento, é consideravelmente menor do que a
média dos que não estudam nem trabalham.

Tabela 4.12: Jovens dedicados aos afazeres domésticos (%) e média de


horas semanais dedicadas por categorias de atividades

12
Entendeu-se por afazeres domésticos a realização, no domicílio de residência, de tarefas (que não se
enquadravam no conceito de trabalho), de: a) Arrumar ou limpar toda ou parte da moradia; b) Cozinhar
ou preparar alimentos, passar roupa, lavar roupa ou louça, utilizando, ou não, aparelhos eletrodomésticos
para executar estas tarefas para si ou para outro(s) morador(es); c) Orientar ou dirigir trabalhadores
domésticos na execução das tarefas domésticas; d) Cuidar de filhos ou menores moradores; ou e) Limpar
o quintal ou terreno que circunda a residência. ( PNAD/IBGE, Notas Técnicas, 2001, op. cit.)

113
Também aqui a correlação com o fator renda é grande. Quanto
menor a faixa de renda, maior o percentual de jovens dedicados exclu-
sivamente aos afazeres domésticos.
A Tabela a seguir apresenta claramente essa relação. Os jovens
que não trabalham nem estudam, com renda inferior a 1/2 SM, são os
mais numerosos entre os que se dedicam exclusivamente aos afazeres
domésticos (26,2%), decrescendo esse percentual à medida que cres-
ce a faixa de renda.

Tabela 4.13: Jovens dedicados aos afazeres domésticos


por faixas de renda (%)

Vemos que o maior percentual de jovens dedicados a afazeres


domésticos, em todas as categorias de renda, encontra-se entre os ex-
cluídos da educação e que também não conseguem inserção no merca-
do de trabalho. Subjaz, portanto, uma desigualdade (ou desigualdades)
que determina os níveis de formação do jovem, a preparação e a for-
ma de inserção no mercado de trabalho, desenhando futuros mais pro-
missores para alguns e mais sombrios para outros.

4.2.1 Situação rural/urbana

O grande diferencial entre as áreas rural e urbana no total de


jovens (15 a 24 anos) está na proporção entre os que só trabalham e os
que só estudam.
Na maioria das unidades federativas, os jovens da área urbana
estão mais presentes do que os da área rural em sistemas de ensino,
notadamente no Nordeste. Considerando o montante dos que só estu-
dam, destacam-se o Piauí (42,1% na área urbana, contra 20,3% na
rural) e Sergipe (40,5% e 13,3%, na mesma ordem).

114
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Os jovens da zona rural mostram-se menos presentes na escola e


mais presentes no mercado de trabalho. Considerando os que só traba-
lham, sobressaem-se Espírito Santo (54,8% na área rural contra 31,3%
na zona urbana) e Santa Catarina (48,2% e 35,5%, na mesma ordem).
Essas disparidades remetem a desvantagens para os jovens da
área rural no que tange às oportunidades de continuidade de sua for-
mação, ao tempo de preparação para o ingresso no trabalho e, conse-
qüentemente, à forma de inserção no mesmo.
Quanto aos jovens sem atividades, observando a faixa etária
total (15 a 24 anos), não se percebem grandes diferenças entre as
áreas urbana e rural, salvo a diversidade entre as unidades federati-
vas. Mas vale observar que na área urbana as maiores taxas de jo-
vens sem atividades são registradas em estados do Norte e Nordeste
(Paraíba: 26,9%; Alagoas: 26,0%; Amapá: 25,5%), ao passo que na
área rural as maiores taxas são observadas em unidades federativas
do Sudeste e Centro-Oeste (Rio de Janeiro: 29,3%; Distrito Federal:
29,2%; Mato Grosso: 29,0%).

Tabela 4.14: Estrutura de atividades entre os jovens de 15 a 24 anos


segundo situação rural/urbana por regiões e UFs (%)

continua...

115
...continuação

Gráfico 4.10: Estrutura de atividades entre os jovens de 15 a 24 anos


segundo situação rural/urbana por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

O que foi dito para a faixa total de 15 a 24 anos sobre os que só


estudam e os que só trabalham recebe ênfase na faixa de 15 e 17 anos.

116
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Aqui, a análise das atividades por áreas rural e urbana revela dados
preocupantes no que se refere à relação escola – trabalho.
Em todas as unidades federativas em que a comparação é pos-
sível, a proporção de jovens que só estuda é largamente menor nas
áreas rurais. As menores taxas são registradas no Espírito Santo
(18,9% na área rural contra 59,8% na área urbana), Mato Grosso
(20,8% e 56,8%, na mesma ordem) e Santa Catarina (22,8% e 61,4%,
na mesma ordem).
Também como uma constante nas unidades federativas, o con-
tingente de jovens dessa idade que só trabalha é maior na área rural,
chegando a 35,8% na zona rural do Espírito Santo (contra 5,9% da
zona urbana) e a 25,3% em Sergipe (contra 6,3% na área urbana).
Saliente-se que a zona rural apresenta médias de anos de estudo
mais baixas e maiores índices de analfabetismo do que a zona urbana,
o que já pode representar um efeito perverso do trabalho precoce.
Em comparação a essas discrepâncias, o contingente de jovens
sem atividades tende a patamares aproximados nas duas localidades,
embora a área rural registre taxas discretamente maiores. Na área ru-
ral, as maiores taxas de jovens nessa condição foram registradas no
Rio Grande do Norte (19,0% contra 12,1% na área urbana), Mato
Grosso (16,8% contra 7,4% na área urbana) e Espírito Santo (15,8%
contra 10,2% na área urbana). Na área urbana, os patamares mais ele-
vados foram os do Acre (17,2%), Rondônia (16,2%) e Mato Grosso
do Sul (15,8% contra 12,5% na área rural).

Tabela 4.15: Estrutura de atividades entre os jovens de 15 a 17 anos


segundo situação rural/urbana por regiões e UFs (%)

continua...

117
...continuação

Gráfico 4.11: Estrutura de atividades entre os jovens de 15 a 17 anos


segundo situação rural/urbana por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

118
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Entre os que têm 18 e 19 anos, altos contingentes de jovens


sem atividades são registrados tanto na zona urbana quanto na rural,
com uma grande heterogeneidade entre as unidades federativas. No
entanto, reiterando a tendência já apontada, os percentuais mais ele-
vados são identificados na zona rural, crescentemente conforme a
faixa etária.
As maiores taxas na área rural, nessas idades, foram registradas
no Rio de Janeiro (35,6% contra 23,0% na área urbana), Mato Grosso
do Sul (32,4% contra 28,3% na área urbana) e Mato Grosso (30,9%
contra 21,1%, na área urbana).
Na área urbana, Alagoas apresenta a maior proporção de jovens
sem atividades socialmente definidas (29,2% contra 13,9% na área
rural), seguido do Mato Grosso do Sul, já mencionado, e da Paraíba
(26,9% contra 23,5% na área rural).

Tabela 4.16: Estrutura de atividades entre os jovens de 18 e 19 anos


segundo situação rural/urbana por regiões e UFs (%)

continua...

119
...continuação

Gráfico 4.12: Estrutura de atividades entre os jovens de 18 e 19 anos


segundo situação rural/urbana por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Também na faixa de 20 a 24 anos, em boa parte dos casos, é mais


alto na zona rural o montante daqueles que só trabalham. Num primeiro
olhar, isso poderia sugerir uma maior facilidade de inserção no mercado

120
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

de trabalho entre esses jovens. Contudo, considerando a queda do em-


prego agrícola no Brasil,13 a escassez de atividades não agrícolas para o
jovem no meio rural e os deficits educacionais maiores nessa localidade,
há que se ponderar sobre os aspectos qualitativos de tal inserção.14
Embora altas taxas de jovens sem atividades sejam registradas em
ambas as áreas, a zona rural registra taxas significativamente mais altas
em algumas unidades federativas, chegando a 41,7% no Distrito Federal
(contra 25,0% na área urbana) e a 36,9% no Rio de Janeiro e em Mato
Grosso (contra 26,7% e 26,6% na área urbana, respectivamente).

Tabela 4.17: Estrutura de atividades entre os jovens de 20 a 24 anos


segundo situação rural/urbana por regiões e UFs (%)

continua...

13
PNAD/IBGE, 2001. Situação do mercado de trabalho: comentários. Disponível em: http://
www.ibge.gov.br/mtexto/pnadcoment3.htm. Acesso em: 19/12/2003.
14
A respeito do subemprego no setor agrícola, ver entre outros: BALSADI, Otavio Valentim.
Emprego Agrícola no Brasil e no Estado de São Paulo nos Anos 90. Revista Ops, Salvador,
v. 2, n. 7, Inverno, 1997.

121
...continuação

Gráfico 4.13: Estrutura de atividades entre os jovens de 20 a 24 anos


segundo situação rural/urbana por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

A estrutura de atividades por localidade nas faixas etárias permi-


te perceber um maior grau de vulnerabilidade entre os jovens da zona
rural a partir de dois aspectos, precisamente: maiores taxas de jovens
que não trabalham nem estudam (principalmente nas faixas de 20 a 24

122
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

e 15 a 17 anos) e, ao mesmo tempo, maior contingente de jovens de 15


a 17 anos cuja atividade é apenas o trabalho (estando fora da escola).
Tem-se, de um lado a tendência ao trabalho precoce. De outro
lado, aquilo que somado a outros fatores pode ser efeito retardado, mas
bastante previsível, desse mesmo problema: a falta de uma atividade
socialmente definida na faixa etária mais adiantada da juventude.

4.2.2 Diferenças por gênero

Os dados apontam uma maior pressão sobre os homens, compa-


rativamente às mulheres, para começar a trabalhar cedo, como vere-
mos na faixa de 15 a 17 anos. Complementarmente, aspecto já obser-
vado no tópico “escolarização”, observa-se uma maior presença das
jovens nos sistemas de ensino em relação aos jovens: se no total de
jovens os que só estudam perfazem 30,3%, entre as mulheres essa
taxa é de 33,0% contra 28,0% entre os homens.
A preponderância das mulheres entre os que só estudam ocorre
em quase todas as faixas etárias e unidades federativas (excetuando-se
o Acre e Santa Catarina, na faixa de 15 a 17 anos). Contudo, as propor-
ções são notadamente maiores em estados do Norte e Nordeste.
Os homens, por sua vez, estão mais presentes no mercado de
trabalho. Tomando os que conciliam trabalho e escola (18,2%), eles
obtêm a maior taxa (22% contra 15% entre as mulheres). Entre os
jovens que só trabalham, também é maior a parcela de homens: 39,0%
contra 23,0% entre as mulheres. Vale notar, ainda, que entre os ho-
mens essa presença no mercado de trabalho (sobretudo na faixa de 20
a 24 anos) é maior em estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oes-
te, o que revela uma desigualdade regional que pode se sobrepor à
desigualdade de gênero.
Por outro lado, a falta de uma atividade socialmente definida (ex-
cetuando-se os afazeres domésticos) prepondera entre as mulheres
(29,0%, contra 12,0% entre os homens). Esse contingente alcança al-
tas taxas em todas as regiões, especialmente no Norte, no Nordeste e no
Centro-Oeste. Enquanto a maior taxa registrada dos que não trabalham

123
nem estudam entre os homens é de 20% (observada no Amapá), entre
as mulheres a maior atinge 37,0% (Mato Grosso).15
Tabela 4.18: Estrutura de atividades entre os jovens de 15 a 24 anos
segundo sexo por regiões e UFs (%)

15
Vale lembrar que o conceito de “trabalho” utilizado na PNAD não contempla os “afazeres
domésticos”.

124
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Gráfico 4.14: Estrutura de atividades entre os jovens de 15 a 24 anos


segundo sexo por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Dada a pressão para o trabalho sobre os homens jovens e os ris-


cos, já conhecidos, do trabalho precoce, a avaliação da faixa de 15 a
17 anos torna-se especialmente importante.
Em ambos os sexos, mas notadamente entre os homens dessa
faixa etária, são registradas grandes disparidades na categoria “só tra-
balha”. A maior taxa de mulheres que só trabalha é registrada no Paraná
(9,9%). Mas as taxas mais altas entre os homens são superiores nessa
idade: 18,5% no Espírito Santo, 16,5% em Pernambuco, 15,7% no
Mato Grosso do Sul e 15,3% no Mato Grosso e em Sergipe.
Por outro lado, quando observado nessa faixa etária o contingen-
te dos que não trabalham nem estudam, o número das mulheres supe-
ra o dos homens em quase todos os estados, com exceção do Distrito
Federal, onde há um “quase empate” (9,2% entre as mulheres contra
9,3% entre os homens), e Roraima, onde a taxa de homens é maior
(8,8% contra 4,3% de mulheres).

125
Tabela 4.19: Estrutura de atividades entre os jovens de 15 a 17 anos
segundo sexo por regiões e UFs (%)

126
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Gráfico 4.15: Estrutura de atividades entre os jovens de 15 a 17 anos


segundo sexo por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Comparando a faixas de 15/17 com a de 18/19, também há dis-


crepâncias significativas por sexo. Na faixa de 18 a 19 anos, em rela-
ção à anterior, é menor tanto entre homens quanto entre mulheres o
número dos que só estudam, mas a taxa de mulheres nessa condição
continua maior (33,9% contra 27,0% entre os homens).
É muito maior o contingente daqueles que só trabalham, em
ambos os sexos. Contudo, a presença dos homens no mercado de tra-
balho já começa a se definir como maior a partir dessa faixa etária
(35,0% contra 20,2%). Também já nessa faixa etária as mulheres tor-
nam-se bem mais numerosas na categoria “não trabalha nem estuda”
(29,0% contra 13,1% entre os homens).

127
Tabela 4.20: Estrutura de atividades entre os jovens e 18 e 19 anos
segundo sexo por regiões e UFs (%)

128
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Gráfico 4.16: Estrutura de atividades entre os jovens de 18 e 19 anos


segundo sexo por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Foi observado no total de jovens que a ausência atividades soci-


almente definidas (excetuando-se o trabalho doméstico) cresce à me-
dida que aumenta a faixa etária. Entre as mulheres, porém, essa ten-
dência é bem mais forte do que entre os homens. Ao atingir a faixa
etária de 20 a 24 anos, entre as mulheres o número das que só traba-
lham é bastante próximo do número das que não trabalham nem estu-
dam (35,4% e 37,8%, respectivamente). Entre os homens, essas pro-
porções são 60,4% e 14,0%, na mesma ordem.
Na faixa de idade referida, portanto, é majoritária a presença dos
homens no mercado de trabalho, especialmente nas unidades federati-
vas do Sul, Centro-Oeste e Sudeste.
Em contrapartida, as mulheres crescem entre os que não traba-
lham nem estudam (37,8%, contra 14,0% entre os homens), nota-
damente em estados do Norte e Nordeste.
As maiores taxas entre homens de 20 a 24 anos sem atividades
são registradas no Amapá (22,0%) e na Paraíba (20,2%). Mas entre as
mulheres as taxas mais altas são notavelmente superiores: 48,6% em
Rondônia, 47,5% na Paraíba e 46,0% no Mato Grosso.

129
Tabela 4.21: Estrutura de atividades entre os jovens de 20 a 24 anos
segundo sexo por regiões e UFs (%)

130
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Gráfico 4.17: Estrutura de atividades entre os jovens de 20 a 24 anos


segundo sexo por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Apesar das recentes mudanças na estrutura da família, nas rela-


ções de gênero e nos papéis sexuais, parece ser a manutenção dos pa-
drões tradicionais da divisão sexual do trabalho o que mais explica as
altas taxas de jovens sem atividades (excetuando-se os afazeres do-
mésticos) entre as mulheres.
Observando o número de jovens que declara cuidar dos afaze-
res domésticos conforme o gênero, observa-se que em todos os seg-
mentos a proporção de mulheres mais que duplica em relação à dos
homens nessas tarefas. E não só em número, também nas horas sema-
nais dedicadas. Com esses dados, pode-se afirmar que dedicação femi-
nina ao trabalho doméstico quadruplica em intensidade a dos homens:
duas vezes em percentual e duas vezes em média de horas.
Vale lembrar, segundo correlação feita nas tabelas 4.12 e 4.13,
que os jovens que não trabalham nem estudam estão mais concentra-
dos nos baixos estratos de renda. São precisamente esses jovens que,
com maior freqüência e em maior tempo, dedicam-se aos afazeres do-
mésticos. Trata-se aqui, portanto, não apenas de uma especificidade
cultural, mas de uma desigualdade de gênero. Isto é, embora a aborda-
gem da questão não deva ignorar os aspectos antropológicos, há ques-
tões de cunho sociológico a serem seriamente consideradas.

131
Tabela 4.22: Jovens dedicados aos afazeres domésticos e média de
horas semanais dedicadas por sexo e atividade (%)

Ainda na mesma linha de análise, observamos a estrutura de ati-


vidades das jovens segundo sua condição familiar,16 caracterizando esta
última segundo a conjugação de duas dimensões:
a) Posição na família:
• pessoa de referência: responsável pela unidade domiciliar (ou pela
família) ou que assim fosse considerada pelos demais membros
(igual a não cônjuge, com ou sem filhos);
• cônjuge: pessoa que vivia conjugalmente com a pessoa de referên-
cia da unidade domiciliar (ou da família), existindo ou não o vín-
culo matrimonial;
• filha: inclui enteada, filha adotiva ou de criação da pessoa de refe-
rência da unidade domiciliar (ou da família) ou do seu cônjuge;
• sozinha (corresponde a “outro parente” na classificação da PNAD):
tinha qualquer outro grau de parentesco com a pessoa de referên-
cia da unidade domiciliar (ou da família) ou com o seu cônjuge.
b) Com quem mora (todas as situações acima podem estar in-
cluídas nas alternativas):
• com os pais;
• com parentes;
• independente.
Da articulação das duas dimensões obtivemos o seguinte panorama:

16 PNAD/IBGE, 2001, op. cit., Notas Técnicas.

132
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Tabela 4.23: Condição familiar das jovens de 15 a 24 anos

Como podemos ver, a maior parte das jovens está na condição de


filha (56,4%) e de cônjuge em moradia independente (22,3%). Contudo,
ressalvadas as pequenas proporções na amostra, também as demais ca-
tegorias proporcionam a sinalização de algumas hipóteses importantes,
no cruzamento da condição familiar com condição de atividade. Os
resultados desse cruzamento podem ser vistos na Tabela a seguir.

Tabela 4.24: Estrutura de atividades das jovens de 15 a 24 anos


segundo condição familiar(%)

133
As jovens que ocupam posição de referência na família ou são
cônjuges apresentam altos percentuais na alternativa “só trabalha”.
Contudo, encontram-se entre elas os maiores contingentes de mulhe-
res jovens que não trabalham fora nem estudam.
Os números mais altos de jovens sem atividades socialmente
definidas (excetuando-se o trabalho doméstico) estão entre as cônju-
ges, morem elas apenas com a família nuclear que constituíram (57,5%),
com sua família e seus pais (57,6%) ou com sua família e parentes
(58,3%). Desses números pode-se inferir que, entre essas mulheres, o
desempenho dos papéis familiares referem-se exclusivamente ao am-
biente doméstico e não inclui a providência direta de renda. Como
conseqüência, pode-se afirmar que a renda fica sob a responsabilidade
das figuras masculinas de referência na unidade familiar.
Ratificando essa tendência, altos níveis de jovens sem ativida-
des, tal como definidas anteriormente, são registrados entre aquelas
que são referência na unidade familiar morando com pais (45,8%) ou
parentes (49,3%). A posição de “referência” na unidade familiar ba-
seia-se não na renda mas, provavelmente, na responsabilidade sobre o
lar e as atividades domésticas, sobretudo entre as que moram com
parentes.17
Como seria de se esperar, a condição de filha, que exprime uma
relação de dependência juvenil em relação à família, é a que apresenta
o maior número das que só estudam (47,9%), menor número das que
só trabalham (17,8% contra 23,1% do total) e menor contingente de
jovens sem atividades (14,7%). Todavia, a análise da estrutura de ati-
vidades entre os homens jovens permite afirmar que esses números,
provavelmente, seriam diferentes entre os “filhos”, situação em que
seriam menos freqüentes os que só estudam e mais numerosos os que
só trabalham.
Uma vez que estamos considerando a divisão de papéis sexuais
na unidade familiar, mostra-se relevante também a observação de que
o maior número de mulheres jovens que só trabalham é identificado

17
Reitera essa afirmação o fato de ser minoritária a parcela das jovens que têm renda própria,
como observado no capítulo 4. Assim, mesmo a possibilidade de fontes de renda que não
fossem advindas do trabalho, nesse caso, estaria descartada.

134
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

entre aquelas que são referência e moram independentes (46,6% ape-


nas trabalham). Isto é, a situação da mulher como provedora é regis-
trada com mais freqüência nos contextos em que a figura masculina
está ausente na estrutura familiar.
Esses dados mostram-se bastante reveladores sobre as mudanças
nas relações de gênero e da estrutura da família no Brasil em sentido
amplo, se lembrarmos que os jovens são, teoricamente, o segmento
que mais aglutinaria tais transformações.
Tais observações remetem a dois outros temas, de importante
relevância. Um deles é a gravidez juvenil, que será abordada no capí-
tulo cinco. O outro é a questão do trabalho doméstico entre as jovens.
Segundo o IBGE, a proporção de mulheres dedicadas a trabalhos domésticos
(19,2%) e que não recebem remuneração (10,5%) é muito maior do que a dos
homens: 0,8% e 5,9%, respectivamente.18
No Brasil, de acordo com estudo de Ana Lucia Sabóia,19 em 1998
a PNAD levantou 363.512 meninas empregadas domésticas no país
entre 10 e 16 anos. Esse contingente representava 8% do total de
4.479.388 trabalhadoras domésticas encontradas no país naquele ano.
Segundo o estudo, o emprego doméstico cresce de importância à
medida que as meninas se tornam mais velhas: aos 10 anos, apenas
4,0% das trabalhadoras são empregadas domésticas; aos 12 anos, tal
percentual sobre para 11,2%; aos 16 anos alcança o valor máximo de
31,9%; a partir dos 17 anos esse percentual tende a se reduzir. O estu-
do comprova, ainda, desvantagens significativas em relação à jornada
de trabalho e, conseqüentemente, à freqüência à escola e à média de
anos de estudo dessas jovens, em comparação com as demais traba-
lhadoras nas mesmas faixas etárias.
Seria dispensável acrescentar que o emprego doméstico constitui
alternativa de trabalho apenas para as jovens de baixa renda. Desse
modo, tratando-se de juventude, mesmo que o contingente de mulhe-

18
IBGE, 2003, op. cit.
19
SABÓIA, Ana Lucia. As meninas empregadas domésticas: uma caracterização socioeconômica.
XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Anais). Campinas: Associação Brasileira de
Estudos Populacionais (ABEP); Universidade de Campinas (Unicamp), out/2000.
Disponível em: www.abep.nepo.unicamp.br. Acesso em: 12/05/2003.

135
res que não trabalha fora nem estuda esteja associado aos afazeres
domésticos, nem por isso a condição deixa de significar exclusão soci-
al. Uma exclusão cujo efeito menos visível, mas não menos grave, é a
perda do direito de escolher livremente (em vez de compulsoriamente,
mesmo que sem saber) uma profissão.
Aliadas à pressão sobre os homens pobres para começarem a
trabalhar cedo, a ponto de incompatibilizar trabalho e escola, estas
questões sugerem a necessidade de políticas sociais relativas às ativi-
dades dos jovens que levem em conta as especificidades de gênero.

4.2.3 Variações por cor20

Num primeiro olhar, considerando os números totais, não se per-


cebem grandes discrepâncias na configuração das atividades por cor.
Os números são aproximados, por exemplo, nas categorias “só estu-
da” (31,1% entre os brancos contra 29,4% entre pretos e pardos) e “só
trabalha” (31,5% entre brancos contra 31,0% entre pretos e pardos).
Contudo, os números similares ocultam condições qualitativa-
mente desiguais. Como vimos no capítulo anterior, entre os que só
estudam, os pretos e pardos apresentam desvantagens quanto aos anos
cursados. Disso se depreende, também, maiores desvantagens no mer-
cado de trabalho, o que redunda em prováveis diferenças entre os que
“só trabalham”, no que se refere às remunerações, à jornada de traba-
lho, e à contribuição desse trabalho não apenas para o presente mas,
sobretudo, para o futuro desses jovens.
Esses aspectos podem ser ratificados no número de jovens sem
atividades socialmente definidas (que no total de jovens compõem
20,3%). No cômputo geral, ambos os segmentos (brancos e pretos/
pardos) atingem níveis semelhantes. Os picos nos números de jovens
sem atividades são próximos entre brancos (25,4%, em Rondônia) e
pretos/pardos (27,3%, em Mato Grosso do Sul). Mas se essa compa-
ração é feita observando-se as taxas mais baixas, percebe-se entre os

20
Do mesmo modo que em capítulos anteriores, dada a baixa representatividade de índios e
amarelos na PNAD, na variável “cor/raça” foram considerados apenas os brancos e pretos/
pardos.

136
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

pretos/pardos uma maior constância em patamares mais altos de au-


sência de atividades: a menor taxa entre brancos é de 10,5% (Rorai-
ma) enquanto a de pretos e pardos é de 16,6% (Tocantins). Isso é
tanto mais comum quanto maior a faixa etária.

Tabela 4.25: Estrutura de atividades entre os jovens de 15 a 24 anos


segundo a cor por regiões e UFs (%)

137
Gráfico 4.18: Estrutura de atividades entre os jovens de 15 a 24 anos
segundo a cor por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Se foi observado, na análise por gênero, que os homens jovens


são mais pressionados a trabalhar cedo, essa pressão é ainda mais
forte entre os homens pretos/pardos, aspecto enfatizado pelo víncu-
lo com níveis de renda mais baixos.
Na faixa de 15 a 17 anos, como vimos, 8,2% dos jovens só
trabalham. Esse número sobre para 9,3% entre os pretos/pardos, e
desce para 7,2% entre os brancos. Variações notáveis são observa-
das na extensão do país, com unidades federativas que ultrapassam
em muito esses números, destacando-se o Paraná (17% entre pre-
tos/pardos contra 11% entre os brancos), o Rio Grande do Sul
(13,9% e 10,6%, respectivamente) e Mato Grosso (13,7% e 6,8%,
na mesma ordem).
No que tange ao contingente de jovens sem atividades nessa
faixa etária, pretos e pardos atingem 12,6% contra 8,7% entre os
brancos. As maiores taxas entre pretos e pardos de 15 a 17 anos são
registradas no Espírito Santo (19,7% contra 8,1% entre os bran-
cos), no Acre (18,8% contra 12,5% entre os brancos) e em Mato
Grosso do Sul (18,3% contra 12,2%, na mesma ordem).

138
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Tabela 4.26: Estrutura de atividades entre os jovens de 15 a 17 anos


segundo a cor por regiões e UFs (%)

139
Gráfico 4.19: Estrutura de atividades entre os jovens de 15 a 17 anos
segundo a cor por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Na faixa de 18 a 19 anos, o aumento de jovens sem atividades


ocorre tanto entre brancos quanto entre pretos/pardos (22,8% con-
tra 19,2% entre brancos).
O número de jovens nessa condição mostra-se mais heterogê-
neo em relação à cor, chegando a ser maior entre brancos em algu-
mas unidades da Federação. Na grande maioria, porém, os pretos e
pardos são os mais atingidos, notadamente em Mato Grosso do Sul
(36,5% contra 22,0% entre os brancos), Santa Catarina (30,8% con-
tra 12,6% entre os brancos) e Roraima (28,4% contra 20,0% entre
os brancos).

140
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Tabela 4.27: Estrutura de atividades entre os jovens de 18 e 19 anos


segundo a cor por regiões e UFs (%)

141
Gráfico 4.20: Estrutura de atividades entre os jovens de 18 e 19 anos
segundo a cor por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Da faixa de 18 a 19 para a de 20 a 24 anos, tanto entre brancos


quanto entre pretos e pardos, diminui o número dos que vivem a con-
dição de só estudante ou de estudante-trabalhador. Nessa fase, os jo-
vens deparam-se definitivamente com o mercado de trabalho e ocorre
um aumento efetivo dos que só trabalham. No total, estes últimos,
nessa faixa de idade, representam 48,0% dos brancos e 47,5% dos
pretos e pardos.
Nessa faixa etária, a maioria daqueles que permanecem em al-
gum sistema de ensino é formada por brancos, em grande parte das
unidades federativas. A essa desigualdade se acrescenta, assim como
na faixa de 18 a 19 anos, o desnível entre os anos de estudo cursados,
especialmente nas regiões mais pobres.
Complementarmente, os pretos e pardos obtêm na faixa de 20 a
24 anos proporções superiores às dos brancos na categoria “só traba-
lha”. Mas, considerando o mesmo fator, ou seja, menores médias de
anos de estudo e níveis de renda mais baixos, pode-se afirmar uma
maior exposição ao subemprego e a remunerações mais baixas. Isso é
facilmente verificável a partir dos dados da PNAD de 2001. Os jo-
vens brancos que trabalham ganham, em média, 54,7% a mais que os
jovens pretos/pardos na mesma situação.

142
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

A tendência a um maior nível de exclusão dos pretos e pardos confir-


ma-se na proeminência do contingente de jovens sem atividades nesse
segmento (29,1% entre pretos e pardos contra 23,5% entre os brancos).

Tabela 4.28: Estrutura de atividades entre os jovens de 20 a 24 anos


segundo a cor por regiões e UFs (%)

143
Gráfico 4.21: Estrutura de atividades entre os jovens de 20 a 24 anos
segundo a cor por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

4.3 EDUCAÇÃO, TRABALHO E RENDA

Existe farta bibliografia indicando a estreita relação entre educa-


ção, renda e trabalho.
Desde os trabalhos pioneiros de Langoni20 que, procurando ex-
plicar os elevados níveis de desigualdade na renda da população e
seu crescimento ao longo da década de 60, conclui que as diferen-
ças educacionais constituem o fator de maior poder explicativo das
diferenças de renda aferidas pela população, tem se acumulado uma
sólida evidência sobre o papel de destaque da educação na geração
das desigualdades na distribuição da renda. Neste campo, traba-
lhos mais recentes, como os de Bonelli e Sedlacek, 21 Barros e

20
LANGONI, C.G. Distribuição da renda e desenvolvimento econômico no Brasil. Rio de Janeiro:
Expressão e Cultura, 1973.
21
BONELLI, R.; SEDLACEK, G.L. Distribuição da renda: evolução no último quarto de
século. In: SEDLACEK, G. L.; BARROS, R. P. de. Mercado de trabalho e distribuição da renda:
uma coletânea. Rio de Janeiro: IPEA, 1989.

144
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Mendonça, 22 Ferreira,23 dentre outros, confirmam que entre 30 e 50%


das disparidades de renda originam-se nas desigualdades educacionais.
Com os dados disponíveis da PNAD de 2001 ainda é possível
realizar uma verificação nesse campo. Se considerarmos exclusivamente
o grupo de jovens na faixa de 20 a 24 anos – isto é, aqueles que, como
foi visto anteriormente, já se deveriam encontrar em um processo franco
de inserção no mercado de trabalho –, observarmos a renda própria
que esses jovens perceberam e relacionarmos esse dado com seus anos
de estudo, teremos o seguinte panorama:

Tabela 4.29: Renda própria (em SM) dos jovens


de 20 a 24 anos por anos de estudo

22
BARROS, R. P. de; MENDONÇA, R. S. P. Os determinantes da desigualdade no Brasil.
Economia brasileira em perspectiva – 1996. Rio de Janeiro: IPEA, 1996.
23
FERREIRA in HENRIQUES, R., 2000, op. cit.

145
Vemos que os jovens com baixo nível de escolaridade – até 2
anos de estudo – quando trabalham, percebem uma renda em torno de
1 salário mínimo. Já os jovens com elevado nível de escolarização,
recebem entre 3 e 5 salários mínimos. Isto significa que cada ano
de estudo possibilita um incremento de 0,27 salários mínimos na
renda dos jovens, o que nos dias de hoje, com um salário mínimo
de R$ 240,00, representa um incremento de R$ 65,00 por ano de estudo.
O nível educacional estaria influenciando também, de forma de-
cisiva, as possibilidades de inserção no mundo do trabalho. Para veri-
ficar isso, deveremos tomar como foco a população de 25 anos e mais,
por já apresentar uma situação definida no campo ocupacional.

Tabela 4.30: Trabalho da população de 25 anos e mais


por anos de estudo (%)

146
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Vemos que, entre os que não têm instrução, só 46,1% da po-


pulação de 25 anos e mais se encontravam trabalhando na semana
anterior ao levantamento da PNAD de 2001. Essa proporção vai
se elevando gradualmente até a faixa dos 15 anos e mais de estudo,
onde esse percentual era de 81,3%. Isso significa que cada ano de
estudo estaria agregando aproximadamente 2,2% de chances de tra-
balho remunerado.

147
5. SAÚDE

Nos últimos anos, vem chamando a atenção como indicador de


vulnerabilidade juvenil, em diversos países da América Latina, a mu-
dança nos padrões de mortalidade pela crescente incidência dos óbi-
tos por causas violentas. Nesse cenário, o Brasil vem assumindo
indesejado destaque.

1
O CRESCIMENTO DA VIOLÊNCIA ENTRE OS JOVENS
Para o ano 2000, o país contava com um contingente de 34,1 milhões de jovens
na faixa de 15 a 24 anos e que representa 17,3% do total de 169,8 milhões de
habitantes do país. Essa proporção já foi bem maior. Em 1980, se existiam só
25,1 milhões de jovens, no total dos 118,7 milhões de habitantes, essa faixa
representava 21,1% (...).
Se a taxa global de mortalidade da população brasileira caiu de 633 em
100.000 habitantes em 1980, para 573 em 2000, a taxa referente aos jovens
cresceu, passando de 128 para 133 no mesmo período, fato já altamente preocupante.
Mas a mortalidade entre os jovens não só aumentou, como também mudou sua
configuração, a partir do que se pode denominar como os “novos padrões de morta-
lidade juvenil”. Estudos históricos realizados em São Paulo e Rio de Janeiro (...)
mostram que as epidemias e doenças infecciosas que eram as principais causas de
morte entre os jovens há cinco ou seis décadas, foram sendo substituídas, progressi-

1
WAISELFISZ, 2002, op. cit. p. 25.

149
vamente, pelas denominadas “causas externas” de mortalidade, principalmente,
os acidentes de trânsito e os homicídios.
Julio Jacobo Waiselfisz
Coordenador Regional da UNESCO em Pernambuco.

Este capítulo estará abordando três dimensões referentes às con-


dições de saúde dos jovens, embora somente as duas primeiras sejam
utilizadas posteriormente para o cálculo do IDJ: a mortalidade por cau-
sas externas, privilegiando apenas as causas violentas; a mortalidade
por causas internas e a gravidez juvenil.
A definição das causas de mortalidade aqui utilizada baseia-se
nas codificações da 10ª Revisão da Classificação Internacional de
Doenças (CID-10), da OMS/OPAS, que passou a ser utilizada a partir
de 1996 na codificação das declarações de óbito do DATASUS.
As mortes por causas externas diferem das chamadas causas
endógenas por serem provocadas diretamente por uma intervenção
humana. Acompanhando o modelo utilizado nos Mapas da Violência
publicados pela UNESCO2, e tomando a violência como fenômeno ao
qual os jovens têm se mostrado particularmente vulneráveis, foram
isoladas para o estudo três modalidades de óbitos juvenis: homicídios
(nomeados na CID-10 como “agressões”); acidentes de transporte (que
englobam, além dos acidentes de trânsito, acontecido nas vias públi-
cas, também os acidentes em locais não públicos, os de transporte
aéreo e por água); e suicídios (definidos como “lesões autoprovocadas
intencionalmente”).
As mortes por causas endógenas são aquelas provocadas pela
deterioração da saúde causada por algum tipo de enfermidade ou do-
ença. Nelas estão incluídas todas as categorias da CID-10, excetuan-
do-se, evidentemente, as causas externas de morbidade e mortalidade.

2
WAISELFISZ, J. Jacobo. Mapa da violência: os jovens do Brasil. Rio de Janeiro: UNESCO,
Instituto Ayrton Senna, Garamond, 1998a; Mapa da violência II: os jovens do Brasil. Rio de
Janeiro: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça, 2000; WAISELFISZ,
2002, op cit.

150
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Os dados sobre mortalidade foram obtidos no Sistema de Infor-


mações sobre Mortalidade (SIM), gerido pelo Centro Nacional de
Epidemiologia – CENEPI, da Fundação Nacional de Saúde, em con-
junto com as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. Foi tomado
como base o ano 2000, o último disponibilizado pelo DATASUS no
momento de elaboração do estudo.
A fonte utilizada permite discriminar os óbitos pelo local por re-
sidência ou pelo local de ocorrência da morte. No presente estudo,
optou-se pela utilização dos registros de óbitos por local de ocorrência
por ser melhor indicativo dos “focos” da violência, isto é, determinar
as áreas ou locais onde as mortes foram produzidas.
São conhecidos os inúmeros problemas que esta fonte apresenta.
Por um lado, problemas de subnotificação, mortes sem o correspondente
registro de óbito (cemitérios clandestinos, cadáveres insepultos etc.).
Por outro lado, em muitos estados, graves problemas de subimputação:
grande número de óbitos na categoria “morte por causas desconheci-
das”, onde não é possível estabelecer se a morte foi acidental, por
causas internas ou por causas violentas. Apesar desses problemas, con-
tinua sendo a melhor fonte disponível para nos aproximar das ques-
tões que o presente estudo tenta abordar.
Para o cálculo das taxas de mortalidade foram utilizados, além
dos registros de óbitos do próprio SIM, os dados dos censos
demográficos e da contagem populacional divulgados pelo MS/SE/
DATASUS3 a partir de totais populacionais fornecidos pelo IBGE para
os anos intercensitários.
Em relação à gravidez juvenil, os dados foram obtidos na
PNAD de 2001.
A gravidez juvenil (entre os 15 e os 20 anos) não será contabilizada
no cálculo do IDJ, uma vez que não representa, necessariamente, um
indicador de exclusão. Uma limitação nesse sentido seria o conceito
de gravidez precoce e o relativismo a que ele remete. Existem, tanto
entre sociedades quanto dentro de uma mesma sociedade, aspectos

3
Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Serviço de Informações do Sistema Único de
Saúde.

151
culturais (dominantes e minoritários), estilos de vida e níveis de renda
que interferem nessa definição, com implicações diferenciadas da gra-
videz na vida das mulheres mais jovens em tais culturas, subculturas
ou classes sociais.4 É preciso, portanto, atentar para o risco de uma
abordagem etnocêntrica ou normativa.
Por outro lado, a identificação de correlações entre condições
de vulnerabilidade e gravidez juvenil pode ser reveladora dos ris-
cos a que estão expostas as mulheres jovens nos contextos sociais
em questão. Nesse sentido, o tema tem forte relevância no Brasil,
como veremos.

5.1 MORTALIDADE POR CAUSAS VIOLENTAS

Nos últimos anos, a UNESCO tem dedicado ampla atenção


ao problema da violência entre os jovens, realizando diversos estu-
dos e pesquisas acerca do tema. Alguns deles, entre os quais os
Mapas da Violência, foram utilizados como referência para o pre-
sente estudo.
Diversos levantamentos já mostraram que, no Brasil, a principal
causa de mortalidade entre os jovens são as chamadas causas externas
e, mais especificamente, as causas violentas (acidentes de trânsito,
homicídios e suicídios).5
Não somente isso. Os jovens constituem um segmento particu-
larmente vulnerável a esse tipo de mortalidade, sendo mais atingi-
dos do que a população em geral. Enquanto a população em geral
apresenta, em dados de 2000, uma taxa de mortalidade por causas
violentas de 48,15 casos em cem mil habitantes, entre os jovens essa
taxa é de 74,42 em cem mil jovens. Dentre as três causas violentas,
os homicídios são a principal: as vítimas de homicídios são, preponderan-
temente, jovens na faixa dos 15 aos 24 anos. Considerando uma esperança de
vida de 65 anos, são aproximadamente 45 anos de vida produtiva de um

4
MICHAUD, Pierre-André. Estudo multicultural com adolescentes: uma perspectiva em saúde
pública. Adolescência Latino-americana, Porto Alegre, v. 2, n. 3, abr. 2001.
5
WAISELFISZ, 2002, op. cit.

152
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

contingente de 15 mil jovens mortos que todos os anos o Brasil contabiliza em


suas “perdas materiais”.6
Percebe-se, porém, uma grande heterogeneidade entre as unida-
des federativas em relação à mortalidade por causas violentas, com
notável variação.
A região Sudeste tem três estados com os maiores índices de mortes
por causas violentas do país em 2000, o que lhe dá a mais alta taxa
entre as regiões: 96,73 em cem mil jovens. Minas Gerais é a exceção
da região, apresentando a menor taxa regional de mortes violentes en-
tre os jovens no ano de referência: 40,05. Mas o Rio de Janeiro apre-
senta a maior taxa do país: 128,57 jovens em cem mil. Os outros dois
estados da região também assumem destaque no contexto nacional:
Espírito Santo com 113,72 e São Paulo com 111,68.
O Nordeste é, no cômputo geral, a região com menor índice de
mortalidade por causas violentas, com taxa de 52,14. Mas a região
apresenta uma forte heterogeneidade nesse item, contendo ao mesmo
tempo o estado com a menor taxa de mortes por causas violentas entre
jovens (Maranhão, com 21,34) e a 2ª maior taxa do país (Pernambuco,
com 127,97).
A região Norte apresenta, em dados agregados, taxa semelhante
à do Nordeste (53,82), mas na maioria dos estados os números são
mais elevados. Dois estados ultrapassam os patamares da região,
posicionando-se entre os que têm taxas mais altas em mortalidade
juvenil por causas violentas no país: Roraima, que ocupa a 3ª posi-
ção, com taxa de 125,76; e Amapá, que fica na 7ª posição nacional,
com 106,70.
O Centro-Oeste apresenta, se considerado o conjunto das suas
unidades federativas, a segunda colocação nesse tipo de mortalidade
entre os jovens (87,41). Contribui para este número a alta taxa do Distri-
to Federal (108,44), que no posicionamento geral ocupa o 6º lugar. Mas
destaca-se também, nessa região, o Mato Grosso, com taxa de 96,57.

6
WAISELFISZ, J. Jacobo; MACIEL, Maria. Revertendo violências, semeando futuros: avaliação de
impacto do Programa Abrindo Espaços no Rio de Janeiro e em Pernambuco. Brasília:
UNESCO, 2003, p. 27.

153
O Sul é a região que apresenta as menores discrepâncias entre as
unidades federativas em índices de mortalidade por causas violentas
entre os jovens. Contudo, também aí se observam taxas significativas,
tomando como referência a menor taxa identificada no país, já citada.
O Paraná é no Sul o estado com maior índice de mortalidade por cau-
sas violentas entre os jovens (69,92). A menor taxa da região é regis-
trada em Santa Catarina: 53,82.

Tabela 5.1: Mortalidade por causas violentas (homicídios, suicídios


e acidentes de transporte) na população total e entre jovens de 15 a
24 anos por regiões e UFs (em 100.000)

continua...

154
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

...continuação

Gráfico 5.1: Mortalidade por causas violentas (homicídios, suicídios


e acidentes de transporte) na população total e entre jovens de 15 a
24 anos por regiões (em 100.000)

Fonte: MS/Funasa/CENEPI/SIM, 2000.

155
Tabela 5.2: Ordenamento das UFs segundo as taxas de mortalidade
por causas violentas (homicídios, suicídios e acidentes de transporte)
entre os jovens de 15 a 24 anos (em 100.000)

Entre os jovens, a violência constitui no Brasil o grande diferen-


cial dos problemas de saúde em relação ao sexo, sendo significativa-
mente maior entre os homens do que entre as mulheres.

156
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Entre as mulheres, a taxa de mortalidade por causas violentas no


ano de referência é de 15,72 em cem mil. Entre os homens, essa taxa
sobe para 132,91. No Rio de Janeiro, Pernambuco, Roraima, Amapá,
Distrito Federal, São Paulo, Espírito Santo, a taxa de mortes por cau-
sas violentas entre os homens jovens ultrapassa 200 casos em cem
mil. Mesmo em unidades federativas com baixos índices de mortalida-
de por causas violentas, as disparidades entre as taxas de homens e
mulheres chamam a atenção. O Maranhão, onde se observa os meno-
res números desse tipo de mortalidade em ambos os sexos, apresenta
entre as mulheres uma taxa de 5,64 contra 36,70 entre os homens.

Tabela 5.3: Mortalidade por causas violentas (homicídios, acidentes


de transporte e suicídios) entre os jovens de 15 a 24 anos
segundo sexo por regiões e UFs (em 100.000)

continua...

157
...continuação

Gráfico 5.2: Mortalidade por causas violentas (homicídios, acidentes


de transporte e suicídios) entre os jovens de 15 a 24 anos
segundo sexo por regiões (em 100.000)

Fonte: MS/Funasa/CENEPI/SIM, 2000.

Percebe-se que a mortalidade por causas violentas entre os


jovens não está necessariamente vinculada a situações de pobre-
za generalizada. Algumas das unidades federativas em que foram
registradas baixas médias de renda apresentaram taxas relativa-

158
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

mente baixas desse tipo de mortalidade. É o caso do Maranhão


(21,34), da Bahia (26,97), do Piauí (32,35) e do Rio Grande do
Norte (33,38). Diferentemente de outras situações de vulnerabi-
lidade, portanto, a violência mostra-se bem mais complexa quan-
to aos seus fatores de origem.
O Atlas de Exclusão Social no Brasil 7 reitera essa tese. No
referido estudo, o indicador de violência revela o que os autores
consideram uma lógica social e territorial diferente daquela en-
contrada nas formas de exclusão então estudadas. As “manchas”
mais acentuadas de exclusão social e econômica apresentadas
nos mapas não coincidem necessariamente com as “manchas”
dos maiores graus de violência. Mas é sabido, também, que (...) o
fenômeno tem relação com a forma como as desigualdades sociais, a nega-
ção do direito ao acesso a bens e equipamentos de lazer, esporte e cultura
operam nas especificidades de cada grupo social desencadeando comporta-
mentos violentos. 8

5.2 MORTALIDADE POR CAUSAS INTERNAS

No Brasil, em cada cem mil jovens, 40,45 morrem por causas


endógenas, número bastante inferior ao das causas violentas, visto
anteriormente. Contudo, essa taxa varia consideravelmente entre as
regiões e unidades federativas, revelando níveis diferenciados de vul-
nerabilidade dos jovens a doenças e outros males que terminam sen-
do letais.
Os níveis de mortalidade, nesse contexto, são sintomas de
uma série de fatores: nichos de má qualidade de vida (condições
de moradia, saneamento, esgoto), precariedade dos mecanismos
de assistência à saúde, desigualdade no acesso aos serviços, fra-
gilidade ou ausência de trabalhos preventivos e educativos rela-
cionados à saúde.

7
PORCHMAN, Marcio; AMORIN, Ricardo (orgs.), 2003, op.cit.
8
ABRAMOVAY, 2002, op. cit., p. 14.

159
UM TEMA CRUCIAL: A DESIGUALDADE NA SAÚDE9
O estado de saúde é um catalisador de círculos virtuosos ou perversos em relação
com a pobreza. Um círculo perverso freqüente é o de que os pobres têm mais possi-
bilidades de adoecer e, ao perder a saúde, têm maiores dificuldades para buscar
alternativas para enfrentar a pobreza. Na situação inversa, a melhoria no acesso
à saúde dota-os de melhores possibilidades para encará-la.
A saúde é ainda, por suas características, um campo privilegiado para melho-
rar a desigualdade em geral. É possível em saúde conquistar avanços importantes
em cobertura, acesso, informação e outros aspectos, com menor custo e em menos
tempo que o necessário para introduzir mudanças na redistribuição de renda ou
criar empregos estáveis.
Por outro lado, as sociedades tendem a ter uma atitude de apoio quase consensual
à melhoria das condições de saúde e uma intolerância muito maior à desigualdade
em saúde que em outros campos. Ambos os aspectos criam bases favoráveis para
políticas ativas nesse campo.
Por estas e outras razões, a eqüidade na saúde é uma meta essencial para as
sociedades democráticas de nosso tempo.

Bernardo Kliksberg
Assessor da Organização das Nações Unidas, OIT, UNESCO,
UNICEF e outros organismos internacionais

As maiores taxas de mortalidade por causas internas são registradas


em unidades federativas das regiões mais pobres do país – Norte e Nor-
deste. Contudo, mesmo algumas unidades federativas que apresentam
nível de renda mais elevado, como o Distrito Federal e o Rio de Janeiro,
apresentam altas taxas de mortalidade por causas internas.
Essa observação remete a duas possibilidades. De um lado, a prová-
vel centralização do atendimento nas unidades federativas mais desenvol-
vidas às quais recorrem os pacientes das unidades federativas mais pobres
em busca de assistência. Como foi dito, o registro de óbitos por ocorrência
não diferencia esses casos. Mesmo assim, isso não deixa de ser um dado

9
KLISKSBERG, Bernardo. Desigualdade na América Latina: o debate adiado. São Paulo: Cortez;
Brasília: UNESCO, 2000, p. 64.

160
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

relevante do ponto de vista regional, uma vez que se relaciona à dificulda-


de de acesso à assistência à saúde. Em segundo lugar, as altas taxas mor-
talidade por causas internas, aparentemente inconsistentes com a média
de renda mais alta dos jovens nessas unidades federativas, remetem tam-
bém a desigualdades e à existência de nichos de pobreza.
O Norte é a região com maior taxa de mortalidade por causas
internas entre os jovens: 48,90. Essa taxa chega a 72,91 no Acre, a
mais alta do país. Nessa região, destaca-se também Roraima, com taxa
de mortalidade por causas internas de 57,16.
O Nordeste é a segunda região em mortalidade de jovens por causas
internas, com taxa de 42,80. Alagoas atinge 51,79, a 3ª posição no país.
O Sudeste e o Centro-Oeste assumem patamares aproximados: 39,69
e 39,22, respectivamente. Mas no Sudeste, o Rio de Janeiro ultrapassa a
média da região, chegando a 45,41 a taxa de jovens que morrem no estado
por causas internas. São Paulo é o estado com taxa mais baixa no Sudeste:
36,47. No Centro-Oeste, O Distrito Federal obtém a maior proporção na
região (47,25), ao passo que Goiás tem a menor (taxa de 35,03).
A região Sul apresenta a menor taxa de mortalidade por causas
endógenas entre jovens: 33,13 em cem mil. A menor taxa do país é
registrada em Santa Catarina (26,02). Na região, a unidade federati-
va que mais foge à regra é o Rio Grande do Sul, com taxa de 36,10.

Gráfico 5.3: Mortalidade por causas internas entre os jovens


de 15 a 24 anos por regiões (em 100.000)

Fonte: MS/Funasa/CENEPI/SIM, 2000.

161
Tabela 5.4: Ordenamento das UFs segundo as taxas de mortalidade
por causas internas entre os jovens de 15 a 24 anos (em 100.000)

As proporções na mortalidade por causas internas entre homens


e mulheres mostram outras diferenças importantes nos padrões de
mortalidade por gênero. Assim como na mortalidade por causas vio-
lentas, também as causas internas atingem mais os homens, embora a
discrepância não seja tão grande quanto no primeiro caso. Entre as

162
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

jovens, são 34,88 em cem mil os casos de morte por causas internas no
ano de referência. Entre os homens, essa taxa é de 45,98. Esse padrão
é percebido em todas as unidades federativas.
A região Norte apresenta as maiores taxas de mortalidade por
causas internas tanto entre homens quanto entre mulheres jovens (54,04
e 43,70, respectivamente), com o Acre assumindo a 1ª posição em
ambos os casos. Nesse estado, a taxa entre as mulheres é 48,64, mas
entre os homens quase dobra, chegando a 97,14. Outro caso que cha-
ma a atenção na Região Norte é o do Amapá, que possui taxa de 23,80
entre as mulheres e 78,51 entre os homens.
No Nordeste, região que fica em segundo lugar em mortalidade
por causas internas entre jovens no país, grandes discrepâncias em
prejuízo dos homens também são observadas. No cômputo geral, a
Região registra uma taxa de mortalidade feminina por causas inter-
nas de 36,26 contra 49,29 entre os homens. Mas na Paraíba esse
número é 35,38 para as mulheres enquanto para os homens é 60,71
em cem mil.
Sudeste e Centro-Oeste mais uma vez se aproximam nesse item,
tanto em mortalidade feminina (Sudeste: 33,76; Centro-Oeste: 32,68)
quanto em mortalidade masculina (Sudeste: 45,58; Centro-Oeste:
45,84). Distrito Federal e Rio de Janeiro apresentam, em cada uma das
regiões, as maiores taxas de mortalidade por causas internas, em am-
bos os sexos. No Distrito Federal, esse tipo de mortalidade entre os
homens jovens tem em 2000 uma taxa de 53,13 contra 41,93 entre as
mulheres. No Rio, entre os homens, a taxa é de 51,15 contra 39,67
entre as mulheres.
Proporcionalmente, as unidades federativas do Sul também
apresentam disparidades em mortalidade por causas internas entre
homens e mulheres, mas com as menores taxas do Brasil, em am-
bos os sexos.
A preponderância da mortalidade por causas endógenas nos ho-
mens em relação às mulheres pode estar relacionada, entre outros fa-
tores sociais e econômicos, a dois aspectos: primeiro, a um fator de
socialização, em que as mulheres são mais familiarizadas com os cui-
dados com a saúde, enquanto os homens tendem a ver a enfermidade

163
e a busca de atenção como manifestação de debilidade que contradiz a
imagem cultural masculina de força e valentia;10 segundo, a um reforço
inadvertido desse fator cultural na educação para a saúde e nos traba-
lhos preventivos implementados nos últimos anos, que tendem a ne-
gligenciar a identidade e a saúde masculina. Uma mudança, nesse últi-
mo caso, tratar-se-ia de enfocar a questão de gênero em saúde de for-
ma relacional, em vez de unilateral.

Tabela 5.5: Mortalidade por causas internas entre os jovens de 15 a


24 anos segundo sexo por regiões e UFs (em 100.000)

continua...

10
GÓMEZ, Elza. Género, equidad y acceso a los servicios de salud: una aproximación empírica.
Revista Panamericana de Salud Pública, Washington, v. 11, n. 5-6, may/june 2002.

164
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

...continuação

Gráfico 5.4: Mortalidade por causas internas entre os jovens de 15 a


24 anos segundo sexo por regiões (em 100.000)

Fonte: MS/Funasa/CENEPI/SIM, 2000.

Tomando por base a classificação do próprio Ministério da Saú-


de, a maioria dessas mortes (92,2%) seria “evitável”. O Ministério da
Saúde subdivide as doenças da CID-10 em cinco categorias, de acordo
com o que poderíamos chamar de princípio de “evitabilidade”:
redutívies por imunoprevenção; redutíveis por adequado controle na
gravidez; redutíveis por adequada atenção ao parto; redutíveis através
de ações preventivas ou diagnósticos precoces; redutíveis através de
parcerias com outros setores.
Segundo as notas técnicas do DATASUS, esta classificação foi elabo-
rada, prioritariamente, para óbitos de menores de um ano e construídas a partir

165
da Portaria nº 723/GM, de 10 de maio de 2001, publicada no Diário Ofici-
al da União de 14 de maio de 2001, instituindo o Pacto dos Indicadores de
Atenção Básica. Esta Portaria baseou-se, para estas definições, em informações
da Fundação SEADE.11
Posteriormente, essa classificação foi ampliada para os demais
estratos etários da população, o que nos permite aplicá-la aos jovens.
Na Tabela que segue, os dados permitem ver que as mortes por causas
internas entre os jovens ocorrem em proporção similar ao seu grau de
evitabilidade.
Entre as causas de mortes internas que mais atingem os jovens,
as neoplasias estão primeiro lugar (18,0%). Entre esses casos, todos
os 18,0% estão entre as mortes por causas evitáveis. Proporções se-
melhantes são observadas em relação às doenças infecciosas e parasi-
tárias, doenças do aparelho circulatório e doenças do aparelho respira-
tório, que também estão entre os males mais comuns entre os jovens
brasileiros, em dados de 2000.

Tabela 5.6: Óbitos evitáveis entre os jovens de 15 a 24 anos

11
SIM/DATASUS, 2003, op. cit.

166
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

5.3 MATERNIDADE 11 A 19 ANOS

Nos estudos sobre a saúde dos jovens, especialmente na faixa de


15 a 17 anos, assumem um grande peso as questões relativas à saúde
sexual e reprodutiva, dada a transição para a vida adulta e a vivência
dos papéis sexuais. Muitos desses estudos revelam que na América
Latina boa parte dos jovens mostra-se pouco informada ou preparada
para evitar riscos como a gravidez indesejada e a contaminação por
doenças sexualmente transmissíveis.12
Complementarmente, vários autores têm assinalado as conseqü-
ências biológicas e sociais da gravidez em mulheres muito jovens: as
mães muito jovens (especialmente as menores de 15 anos) têm uma
mortalidade materna 2,5 vezes maior que as de 20 a 24 anos; além
disso, mais vulneráveis ao medo e à desinformação, estão mais pro-
pensas a recorrerem à interrupção da gravidez e aos riscos de enfermi-
dade e morte provocados pelo aborto clandestino; a Organização Pan-
americana de Saúde (OPAS) assinala que a gravidez na adolescência
está vinculada à pobreza e à falta de informação.13
Apesar dessas indicações, a gravidez na adolescência continua
elevada na maioria dos países latino-americanos. Na média nacional
dos países, (...) 20% a 25% das mulheres tiveram seu primeiro filho antes dos
20 anos de idade. Na zona rural, esse percentual sobe para 30%.14
O Brasil segue tendências semelhantes. Neste capítulo, à diferen-
ça dos restantes, adotaremos a faixa de 11 a 19 anos como foco das
análises, e utilizaremos a “maternidade” das mulheres jovens como
proxi de gravidez precoce.
As maiores taxas de gravidez em jovens é registrada nas regiões
mais pobres do país: Norte e Nordeste. O Amapá está no topo desta

12
ABRAMOVAY et alii, 2002, op. cit., p. 51.
13
LANGER, Ana. El embarazo no deseado: impacto sobre la salud y la sociedad en América
Latina y el Caribe. Revista Panamericana de Salud Pública, Washington, v. 11, n. 3, mar. 2002.
14
ABRAMOVAY, 2002, op. cit., p. 51. Este dado já foi citado no presente estudo, na análise
sobre o analfabetismo entre as mulheres por faixa etária. Os dados apresentados neste
capítulo, como veremos, reiteram a correlação feita anteriormente entre baixos níveis de
escolaridade e gravidez juvenil.

167
lista, com 14,2% das mulheres na faixa 11 a 19 anos que já tiveram,
pelo menos, 1 filho. Mas esse estado lidera especificamente nas faixas
de 11 a 14 e 15 a 17 anos. No total dos casos (11 a 19 anos), os
menores índices são registrados em Santa Catarina (5,1%), São Paulo
(5,8%) e Minas Gerais (6,4%).
Na faixa de 11 a 14 anos, o Norte e o Nordeste saem na frente,
como foi dito, com o Amapá (2,4%), seguido de Roraima (1,4%) e
do Piauí (1,1%). Nas demais unidades federativas as taxas são infe-
riores a 1%.
Entre as mães com 15 a 17 anos, o índice do Centro-Oeste supe-
ra o do Nordeste (10,0% e 9,3%, respectivamente), em virtude dos
percentuais de Goiás (11,5%) e Mato Grosso (11,4%). Mas os contin-
gentes mais altos continuam no Norte e Nordeste: Amapá (20,5%) e
Maranhão (12,8%). O Sul e o Sudeste apresentam os menores índices,
embora o Espírito Santo atinja uma taxa mais alta em relação à região
(9,3%), similar à taxa total do Nordeste.
Nas idades de 18 a 19 anos, evidentemente, as taxas são mais
altas em todas as unidades federativas, comparando às faixas anterio-
res. No entanto, as proporções são muito distintas entre as unidades
federativas, atingindo o índice máximo de 43,3% em Rondônia, con-
tra 13,4%, em Santa Catarina, o menor do país nessa faixa de idade.

Gráfico 5.5: Mulheres jovens que tiveram filhos segundo a faixa


etária por regiões (%)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

168
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Tabela 5.7: Taxas de maternidade segundo faixa etária por UFs (%)

Reiterando a maior incidência nas regiões mais pobres, os índi-


ces de gravidez no Brasil mostram estreita relação com baixos níveis
de renda. Entre as jovens que não tiveram filhos, a RFPC é superior
a 1 salário mínimo. Entre as demais, a maior média chega a pouco
mais que ½ salário mínimo. Nas faixas de 11 a 14 e 15 a 17 anos a
RFPC das jovens mães é inferior a ½ salário mínimo, enquanto a das
não mães, nas mesmas faixas etárias, é de 1,13 e 1,37 salário míni-
mo, respectivamente.

169
Gráfico 5.6: RFPC de mulheres jovens que tiveram e não tiveram
filho segundo a faixa etária por UFs (em SM)

Fonte: PNAD/IBGE, 2001.

Percebe-se também uma correlação entre gravidez juvenil e bai-


xas taxas de escolarização. A tabela seguinte mostra que quanto me-
nor a idade da mãe, maior a possibilidade de que ela esteja fora da
escola. Em 2001, na faixa total de 11 a 19 anos, entre as jovens que
tiveram filhos, 81,2% estava fora da escola. Entre as que não tiveram
filhos, essa taxa era de apenas 13,3%.
Tabela 5.8: Freqüência à escola de mulheres jovens que tiveram e
não tiveram filhos nascidos vivos segundo idade simples (%)

170
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Tais dados são indicativos da relação entre educação, saúde e


renda, explicitando os efeitos das desigualdades. Aos baixos níveis de
renda estão associados baixos níveis de educação, incluindo a educa-
ção sexual e reprodutiva. Isso traz uma conseqüência individual e ime-
diata na vida dessas jovens, que é a desvantagem em termos de pers-
pectivas no mercado de trabalho e de independência; e uma conseqü-
ência social que se refletirá nas gerações seguintes, pelos filhos nasci-
dos e famílias geradas em tais contextos desfavoráveis, fomentando a
manutenção das mesmas estruturas de desigualdade.

171
6. ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO
JUVENIL

6.1 O IDJ
A partir das análises desenvolvidas nos capítulos anteriores, que en-
volveram aspectos como educação, renda e saúde dos jovens, já é possível
apresentar o nosso indicador sintético da situação da juventude no Brasil.
O intento fundamental na elaboração do Índice de Desenvolvi-
mento Juvenil foi precisar locais, aspectos e graus de desigualdade que
afetam os jovens do país. Além disso, a adoção do Índice proposto e
sua réplica ao longo do tempo poderão permitir uma visão da evolu-
ção dos diversos fatores que incidem, positiva ou negativamente, na
vida presente e no destino futuro de nossas juventudes.
A partir dos referenciais fornecidos pelo IDH do PNUD, foram
consideradas as seguintes dimensões e seus respectivos indicadores:

173
Os indicadores de base foram assim construídos:
• Analfabetismo, porcentagem de analfabetos na faixa de 15 a 24
anos em relação à população total da mesma faixa etária. Fonte:
PNAD 2001.
• Escolarização Adequada, porcentagem de jovens de 15 a
24 anos que freqüentam escola de Ensino Médio ou Superi-
or em relação à população total da mesma faixa etária. Fon-
te: PNAD 2001.
• Qualidade do Ensino. Média estandardizada1 das escalas de
proficiência da 8ª série do Ensino Fundamental e da 3ª série do
Ensino médio, nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática. Fonte:
SAEB 2001.
• Mortalidade por Causas Internas, taxa de óbitos em 100.000
jovens de 15 a 24 anos, atribuídos a causas internas, segundo de-
finição da Classificação Internacional de Doenças – CID-10. Fonte:
SIM 2000.
• Mortalidade por Causas Violentas, taxa de óbitos em 100.000
jovens de 15 a 24 anos, ocorridos por causas violentas (suicídios,
acidentes de transporte e homicídios, segundo definição da Clas-
sificação Internacional de Doenças – CID-10. Fonte: SIM 2000.
• Renda Familiar per capita, valor do rendimento mensal famili-
ar dividido pelo número de membros da família dos jovens na
faixa de 15 a 24 anos. Fonte: PNAD 2001.

Esses seis indicadores foram combinados para estruturar os três


índices parciais: de educação, de saúde e de renda, constituindo o Ín-
dice de Desenvolvimento Juvenil.
Algumas limitações surgidas durante o processo de construção
do IDJ devem ainda ser apontadas.
Em primeiro lugar, o fato de trabalhar exclusivamente com fon-
tes secundárias impõe as naturais limitações e restrições que a fonte
possui. Entre essas limitações, podemos citar o fato da PNAD não
trabalhar as áreas rurais da maior parte dos estados da região Norte, e
adotar a compreensão da alfabetização como uma mera capacidade de
ler e interpretar um bilhete simples.

1
Ver procedimentos de estandardização nas Notas Técnicas.

174
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

Em segundo lugar, a ausência de levantamentos sistemáticos e


fidedignos limitam o espectro de indicadores potencialmente relevan-
tes para o tema da juventude que poderiam ser incorporados na com-
posição do Índice, como condições de acesso à cultura, a esportes, a
lazer, à participação política etc.
Entrando de forma direta nos resultados, as tabelas a seguir per-
mitem verificar que Santa Catarina, Distrito Federal, Rio Grande do
Sul, São Paulo e Paraná aparecem encabeçando o Índice de Desenvol-
vimento Juvenil. Não é surpreendente: são estados que também lide-
ram o último Índice de Desenvolvimento Humano divulgado para o
país e pertencem a regiões – Sul, Sudeste e Centro-Oeste – que, de
uma forma geral, destacam-se positivamente nos aspectos analisados
neste estudo sobre as juventudes no Brasil.
Em outro extremo se encontram Roraima, Paraíba, Acre, Per-
nambuco e Alagoas, pertencentes a regiões – Norte e Nordeste – me-
nos favorecidas nos aspectos já referidos.
Santa Catarina, com um uma taxa de 1% de analfabetismo juve-
nil, isto é, tendo praticamente erradicado o analfabetismo na faixa de
15 a 24 anos, lidera, nesse aspecto, com um índice de 0,950. Por outro
lado, Alagoas, com uma taxa de 15,4% de analfabetos na faixa jovem,
maior que a média nacional de analfabetismo de 15 anos e mais, ocupa
o último lugar no espectro, com um índice de 0,230.
Com relação à escolarização adequada dos jovens, o 1° lugar é do
Distrito Federal, com um índice de 0,693. Empatados no 2o lugar,
estão Santa Catarina e São Paulo, com índices de 0,660. Os menores
índices são encontrados na Paraíba (0,218) e Alagoas (0,153).
No que concerne à qualidade de ensino, os maiores índices fica-
ram com Rio Grande do Sul (0,713), Distrito Federal (0,662) e Santa
Catarina (0,628). Os menores, com Pernambuco (0,308), Maranhão
(0,289) e Amazonas (0,274).
No cômputo parcial de educação, as dez primeiras colocações
ficaram todas com UFs pertencentes às regiões do Sul, Sudeste e Cen-
tro-Oeste. As dez últimas, com estados do Norte e Nordeste.
Tal como foi observado em educação, também no que concerne
à renda os cinco primeiros lugares são ocupados por UFs (Distrito

175
Federal, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro)
das regiões consideradas mais favorecidas. Novamente é no Norte e
no Nordeste, mais precisamente em Bahia, Maranhão, Piauí, Paraíba e
Alagoas que se apresentam as últimas colocações nesse índice parcial.
Diferentemente do que foi visto com os indicadores de renda e
educação, não são observadas estreitas relações entres esses índices e
os de saúde, sobretudo quando o indicador é mortalidade por causas
violentas. É assim que nos deparamos, por exemplo, com o estado do
Rio de Janeiro ocupando o 5o lugar em educação e em renda e o último
(27º) em mortalidade por causas violentas. O mesmo raciocínio pode
ser aplicado ao Distrito Federal, que ocupa o 1o lugar em educação e
em renda e o 22o em mortalidade por causas violentas.
Situação oposta às assinaladas no parágrafo anterior pode ser
encontrada no Maranhão, estado que ocupa o 24o lugar em educação e
em renda, mas apresenta o menor índice do país em mortalidade por
causas violentas entre os jovens. Calculada a correlação entre índices
de renda dos estados e sua mortalidade por causas violentas, deu um
resultado intermediário e negativo (R = – 0,53), o que estaria a indicar
que as mortes de jovens por causas violentas, mais que acompanhar a
pobreza, pareceria estar acompanhando a riqueza.
Ainda no que diz respeito à saúde, mais especificamente a mor-
tes por causas internas, embora haja uma concentração dos maiores
índices em estados mais pobres do Norte e Nordeste (Acre, Roraima e
Alagoas), também é possível verificar que em UFs que se destacaram
positivamente em educação e renda – como o Distrito Federal, Rio de
Janeiro e Minas Gerais – são encontrados resultados desfavoráveis no
que diz respeito ao indicador em foco.
As Tabelas que seguem não só sistematizam as informações até
agora detalhadas como também apresentam o quadro completo dos
indicadores e dimensões considerados.

176
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003
Tabela 6.1: Índice de Desenvolvimento Juvenil – IDJ – 2003
177
Tabela 6.2: Ordenamento das UF pelos indicadores do Índice de Desenvolvimento Juvenil – IDJ – 2003
178
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

6.2 COMPARAÇÃO ENTRE IDJ E IDH

O último estudo divulgado considerando o IDH das unidades


federativas do Brasil1 data de 1996. Apesar da defasagem temporal,
considerou-se conveniente realizar um estudo correlacional2 compa-
rando o IDJ com o IDH.
Ambos os índices apresentam uma elevada associação: R=0,786,
sendo quase perfeita (R=0,956) quando se comparam os índices edu-
cacionais do IDH e do IDJ. Essa elevada associação significa que os
índices educacionais para a população em geral, que o IDH estima, e
os índices educacionais da juventude guardam uma elevada corres-
pondência. Analisando cada um dos componentes dessa dimensão,
vemos que também existe uma estreita correspondência entre o IDH e
o IDJ, correspondência quase perfeita quando o tema é analfabetismo.

Tabela 6.3: Coeficientes de Correlação entre o IDH e o IDJ

Também a correspondência do Índice PIB do IDH e do Índice de


Renda do IDJ é elevada (R=0,845). Mas a área que apresenta menor

2
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO/ IPEA. Relatório
sobre o Desenvolvimento Humano no Brasil. Brasília, 1996.
3
Utilizou-se o coeficiente rho de Spearman, mais adequado para estudos posicionais como é o
presente caso.

179
associação, poderíamos dizer uma independência quase absoluta entre
os dois índices, é a de saúde. Efetivamente, a associação entre o Índi-
ce de Esperança de Vida do IDH e o de Saúde do IDJ praticamente
inexiste (R = 0,032). Se a mortalidade juvenil por causas internas apre-
senta ainda uma correspondência moderada com a Esperança de Vida
da população do IDH (R=0,446), a mortalidade juvenil por causas
violentas apresenta uma associação baixa e negativa (R = -0,212). Como
isso é possível? Justifica-se sua manutenção no Índice de Desenvolvi-
mento Juvenil?
a) Como ficou evidenciado no Mapa da Violência III,4 a evolução
dos padrões de mortalidade juvenil no Brasil apresenta fortes
contrastes com os padrões de mortalidade geral da população.
Se a taxa global de mortalidade da população brasileira caiu de 633 em
100.000 habitantes em 1980 para 573 em 2000, a taxa referente aos
jovens cresceu, passando de 128 para 133 no mesmo período. Isto é, se a
esperança de vida da população geral (indicador trabalhado pelo
IDH) melhorou nas últimas décadas, a esperança de vida da po-
pulação jovem piorou devido, fundamentalmente, às mortes pro-
duzidas por fatores violentos.
b) Isso fica mais claro ainda quando o mesmo trabalho verifica que
os avanços da violência nas últimas décadas tiveram como eixo
exclusivo a vitimização juvenil.

A partir desses dados, fica evidente que a mortalidade juvenil


por causas violentas representa um dos poucos indicadores específi-
cos e diferenciados para a juventude do país. Por tal motivo, apesar da
discrepância com o IDH, combinou-se em manter o indicador na com-
posição do IDJ.

4
WAISELFISZ, 2002, op cit., p. 25.

180
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Motivo de orgulho para muitos, a divulgação do Relatório de


Desenvolvimento Humano de 2003 possibilitou verificar que o Brasil
melhorou várias posições no último ano e, dentre 175 países do mun-
do, passou da posição 69ª à 64ª posição. Na última década, foram 10
as posições que o país avançou.
Tais avanços podem ser atribuídos, fundamentalmente, à decidi-
da expansão da matrícula na área educacional, ao aumento da
longevidade da população na área de saúde e a avanços, ainda que
moderados, na superação do analfabetismo. Somente para a economia
os dados não foram positivos. Se a renda per capita no Brasil melhorou
0,6%, o índice mundial foi de 1,2% e o dos países em desenvolvimen-
to de 2,3%, fazendo o Brasil perder posições relativas nesse campo.
Também não foi alentador seu Índice Gini, que mede a concentração
da renda. Nesse aspecto o Brasil ocupa a 6a posição internacional ne-
gativa, só melhor que Namíbia, Botswana, Swasilândia, República
Centro-Africana e Serra Leoa.
Então, que dizer sobre a situação dos índices de desenvolvimen-
to de nossa juventude? Realmente, não contamos aqui com pesquisas
internacionais que nos possibilitem comparações com o resto do mun-
do. Também não possuímos ainda séries históricas para o país que nos
permitam verificar os aspectos que melhoraram ou estagnaram nos
últimos anos.
Mas sabemos, de antemão, pela estreita relação que existe entre
o PIB do IDH e a Renda Familiar dos jovens aqui utilizada, que não
podemos depositar, em curto prazo, muitas esperanças numa melho-

181
ria da situação econômica de nossos jovens. Também é pouco prová-
vel um retrocesso nas linhas de pobreza e da exclusão econômica
que atingem grandes parcelas de nossa juventude, em função dos
elevados níveis de concentração da renda nacional, persistentes ao
longo dos anos.
Como ficou evidente no decorrer deste estudo, essa polarização
na distribuição da renda tem originado formas extremamente diferen-
ciadas de acesso aos diversos benefícios sociais básicos, como educa-
ção e saúde, reforçando a vulnerabilidade de amplos segmentos da
população – brancos pobres, pretos/pardos – e de âmbitos geográfi-
cos – como as regiões Norte e Nordeste, historicamente desfavorecidas.
Tal segregação no acesso aos benefícios sociais básicos tem pro-
fundas repercussões para o presente e para o futuro de nossa juventu-
de. Ficou comprovado o enorme poder discriminador do fator educa-
cional sobre as oportunidades no mercado de trabalho, tanto na
empregabilidade quanto nas possibilidades salariais. Com limitadas
condições de acesso educacional, o destino de grande parte de nossa
juventude encontra-se pré-determinado. Sem condições de progresso
educacional, sem experiência laboral, com escassas oportunidades no
mercado de trabalho, engrossa o exército dos jovens sem atividade
socialmente definida, muitos deles enveredando pelos poucos cami-
nhos que a realidade lhes oferece, sejam legítimos ou ilegais.
No que concerne à renda e ao trabalho, as desigualdades de gêne-
ro mostram-se menos lineares do que as raciais. Embora as mulheres
estejam em melhores condições nos indicadores educacionais, estão
em desvantagem no que tange à sua presença no mercado de trabalho.
Conseqüentemente, elas possuem renda própria em proporção bem
menor do que os homens, principalmente no Norte e Nordeste do país.
Esse aspecto, como ficou comprovado, guarda estreita relação com os
temas do trabalho doméstico, da gravidez precoce e da prematura
nupcialidade feminina.
Que outros aspectos podemos inferir na área educacional sobre a
situação e evolução recente de nossa juventude?
No âmbito da alfabetização, o país tem mostrado avanços lentos,
mas positivos, ao longo das últimas décadas. E nos dias de hoje, quan-

182
_____________________Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003

do se anuncia uma política nacional de erradicação do analfabetismo,


especialmente para as camadas jovens da população, podemos esperar
que as estatísticas de analfabetismo juvenil praticamente desapare-
çam em curto prazo. Um aspecto digno de aqui destacar é que, contra-
riando as tendências internacionais que segregam a mulher na área
educacional, no Brasil a alfabetização e a escolarização são considera-
velmente maiores entre as mulheres do que entre os homens.
Se a discriminação educacional por gênero atua positivamente
para o lado feminino, o mesmo não acontece quando abordamos a
questão racial. Pretos e pardos apresentam taxas de escolarização e
analfabetismo notadamente segregantes. Na faixa de 20 a 24 anos de
idade, em algumas unidades federativas o analfabetismo neste seg-
mento ultrapassa a casa dos 20%.
Não obstante a cobertura do ensino fundamental ter sido pratica-
mente universalizada para a população infantil do país, observa-se que,
na faixa dos 15 aos 24 anos, em quase 75% das UFs as médias de anos
de estudo sequer chegam aos 8 anos, que correspondem ao ensino
fundamental completo. Em algumas unidades federadas essa média
mal chega aos 5 anos de estudo.
Também na área da escolarização de nível médio e superior
existem evidências de acelerado e consistente avanço quantitativo
nos últimos anos. Esgotada a fase de rápida expansão da matrícula
no ensino fundamental pela virtual universalização da cobertura,
originaram-se fortes pressões sobre o Ensino Médio e o Superior.
Se a matrícula no Ensino Fundamental só aumentou 11% entre
1994 e 2001, a matrícula no Ensino Médio aumentou, no mesmo
período, 71% no ensino regular e 102% na modalidade supletiva.
Também melhorou a eficiência do sistema: se a matrícula do ensi-
no médio aumentou 71%, a taxa de concluentes melhorou 102%.
Mais expressivo ainda foi o aumento dos concluentes no ensino
supletivo: 398%. Estes dois movimentos acontecidos em paralelo
no Ensino Médio (aumento acelerado da matrícula e aumento da
eficiência) estão originando fortes pressões também sobre o Ensi-
no Superior. Nesse campo, não resulta arriscado prever, em curto
prazo, fortes incrementos na escolarização adequada utilizada na com-
posição do IDJ.

183
Mas a área educacional deve remeter não só ao plano quantitativo, à
magnitude da população efetivamente escolarizada. Deve-nos levar
também, e fundamentalmente, ao plano qualitativo, que diz respeito
ao acesso efetivo aos conhecimentos socialmente indispensáveis. É
aqui que o panorama se apresenta pouco alentador para a juventude
do país. No plano internacional, a recente releitura do PISA 2000 rea-
lizada pela UNESCO/OCDE é clara em apontar significativos deficits
quanto às competências em leitura, matemática e ciências de nossos
jovens de 15 anos de idade. De 41 países avaliados, o Brasil ocupou a
penúltima posição nessas habilidades. No plano nacional, o SAEB,
desde a avaliação de 1997, passando pela de 1999 e de 2001, mostra
preocupantes evidências de queda sistemática no aproveitamento dos
alunos da 8a série do ensino fundamental e da 3a série do Ensino Mé-
dio no domínio da língua portuguesa e de matemática. Dessa forma,
parte dos avanços quantitativos está sendo erodida pelos gargalhos
qualitativos de nosso sistema educacional. E os diversos fatores que
determinam essa situação não são simples de remover, nem se podem
esperar avanços rápidos e significativos em curto prazo.
Mas é na área da saúde de nossa juventude que o panorama se
mostra alarmante. Como foi indicado no capítulo correspondente, a
mortalidade juvenil vem crescendo historicamente, contrariando as
tendências do restante da população, cujas taxas de mortalidade vêm
caindo. E a principal causa de morte de nossa juventude pode ser en-
contrada nas denominadas mortes violentas. Praticamente um de cada
dois óbitos juvenis tem sua origem em fatos violentos. No contexto
internacional, se nossas taxas de mortalidade de jovens ocasionadas
por suicídios são relativamente baixas, isso não acontece quando en-
tramos no capítulo das mortes ocasionadas por homicídios ou por aci-
dentes de transporte.
Tudo parece indicar que, às contradições e exclusões que acome-
tem o resto da população, a condição de ser jovem estaria agregando
suas próprias necessidades e direitos fundamentais insatisfeitos.

184
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192
LISTA DE TABELAS

193
194
LISTA DE GRÁFICOS

195
196
LISTA DE SIGLAS

197
NOTAS SOBRE OS AUTORES

JULIO JACOBO WAISELFISZ é Coordenador Regional


da UNESCO em Pernambuco. Possui Mestrado em Planejamento Edu-
cacional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foi Pró-
Reitor Acadêmico da Universidad Nacional del Comahue na Argenti-
na. Exerceu atividades docentes em universidades latino-americanas
e foi consultor de organismos internacionais como o PNUD, a OEA e
o IICA. Implantou o sistema de avaliação no ensino público no Brasil
(convênio MEC/BIRD) e em Pernambuco (convênio Governo do
Estado de PE/Secretaria de Educação). Dentre as suas mais recentes
publicações, destacam-se: "Juventude, Violência e Cidadania: os Jo-
vens de Brasília" (São Paulo: Cortez, 1998); "Mapa da Violência II"
(Rio de Janeiro: Garamond, 2000); "Mapa da Violência III. Os Jovens
do Brasil" (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da
Justiça, 2002) e "Revertendo Violências, Semeando Futuros" (Brasí-
lia, UNESCO, 2003).

ROSEANE XAVIER é Pesquisadora da UNESCO. Socióloga


e Mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco, exer-
ceu atividades docentes em instituições de ensino superior nas áreas de
sociologia da comunicação e métodos de pesquisa. Foi analista de pes-
quisas do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas
(IPESPE) e da empresa de consultoria Marketing e Comunicação Insti-
tucional (MCI). Possui artigos científicos publicados nas áreas sociolo-
gia do trabalho, psicologia social e pesquisa qualitativa.

MARIA MACIEL é Mestre em Educação e Doutoranda no


Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal
de Pernambuco. Fez licenciatura e bacharelado em Letras. Tem exerci-
do atividades de ensino, pesquisa e extensão em instituições de ensino

199
superior, nas áreas de Letras e Pedagogia. Foi Vice-Coordenadora da
Associação Nacional de Política e Administração da Educação, no
estado de Pernambuco, e Assessora Técnico-Pedagógica do Ministé-
rio da Justiça. Possui artigos científicos publicados sobre a temática da
educação nas escolas públicas brasileiras. Pesquisadora da UNESCO/
PE, é co-autora do livro "Revertendo Violências, Semeando Futuros"
(Brasília: UNESCO, 2003).

PATRÍCIA DANTAS B ARBOSA é Estatística da


UNESCO. Fez bacharelado em Estatística na Universidade Federal
de Pernambuco. Realizou atividades no PETI (Programa de
Erradicação ao Trabalho Infantil) CCSA/UFPE, montando e anali-
sando os dados da pesquisa. Participou como auxiliar de estatística no
resultado do SAEPE 2002 (Sistema de Avaliação Educacional de Per-
nambuco).

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