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Apostila Eletronica Industrial

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APOSTILA PARA A DISCIPLINA

ELETRÔNICA INDUSTRIAL

Curso
Técnico em Automação Industrial

Professor:
MSc. Thiago Ribeiro de Oliveira

Betim, Agosto de 2012


Eletrônica Industrial

Sumário

1 Introdução à Eletrônica de Potência 1


1.1 Conversores Estáticos de Potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.1.1 Eficiência dos conversores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2 Chaves estáticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

2 Dispositivos Semicondutores 8
2.1 Diodos de potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.1.1 Caracterı́sticas dinâmicas do diodo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.1.2 Parâmetros de datasheet de diodos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.2 Tiristores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.2.1 SCR - Silicon Controlled Rectifier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2.1.1 Parâmetros de datasheet de SCR . . . . . . . . . . . . . . 14
2.2.2 TRIAC - Thyristor AC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.2.3 GTO - Gate Turn-off Thyristor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.3 TBJ - Transistor Bipolar de Junção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.4 MOSFET - Metal-Oxide-Semiconductor Field Effect Transistor . . . . . . . 17
2.4.1 Parâmetros de datasheet do MOSFET . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.5 IGBT - Insulated Gate Bipolar Transistor . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.5.1 Parâmetros de datasheet do IGBT . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.6 Comparação entre as chaves semicondutoras . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

3 Conversores c.c./c.c. - Choppers Não-isolados 23


3.1 Conversor Abaixador - Buck ou Step-down . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.1.1 Dimensionamento dos componentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.1.2 Regimes de condução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.2 Conversor Elevador - Boost ou Step-up . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.2.1 Dimensionamento dos componentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.2.2 Regimes de condução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.3 Conversor buck-boost - Abaixador-Elevador . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.3.1 Regimes de condução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.4 Exercı́cios propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

Prof. Thiago R. de Oliveira i Automação Industrial


SUMÁRIO SUMÁRIO

4 Conversores c.c./c.a. - Inversores 43


4.1 Inversor em ponte completa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
4.1.1 Operação em onda quadrada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
4.1.2 Operação em onda quase-quadrada . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4.1.3 Operação por Modulação por Largura de Pulsos - PWM . . . . . . 46
4.2 Inversores em meia-ponte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.3 Inversores trifásicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.4 Exercı́cios propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

5 Conversores c.a./c.c. - Retificadores Monofásicos de Meia-onda 54


5.1 Retificadores de meia-onda não-controlados . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
5.1.1 Carga resistiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
5.1.2 Carga RL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
5.1.2.1 Definição do ângulo de extinção . . . . . . . . . . . . . . . 59
5.1.3 Carga RL com diodo de roda-livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
5.1.4 Carga RLE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
5.1.4.1 Definição dos ângulos para carga RLE . . . . . . . . . . . 64
5.2 Retificadores de meia-onda controlados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
5.2.1 Carga resistiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
5.2.2 Carga RL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
5.2.2.1 Definição do ângulo de extinção . . . . . . . . . . . . . . . 71
5.2.3 Carga RLE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
5.3 Exercı́cios propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

6 Conversores c.a./c.c. - Retificadores monofásicos de onda completa 75


6.1 Retificadores de onda completa não-controlados . . . . . . . . . . . . . . . 75
6.1.1 Cara resistiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
6.1.2 Carga RL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
6.1.3 Carga RLE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
6.2 Retificadores de onda completa controlados . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
6.2.1 Carga Resistiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
6.2.2 Carga RL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
6.2.3 Carga RLE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
6.3 Exercı́cios propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

7 Conversores c.a./c.c. - Retificadores Trifásicos 93


7.1 Revisão sobre sistemas trifásicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
7.2 Retificador trifásico de meia-onda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
7.2.1 Retificador não-controlado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
7.2.2 Retificadores Controlados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
7.3 Retificadores trifásicos de onda completa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
7.3.1 Retificadores não-controlado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
7.3.2 Retificadores controlados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

ii
Eletrônica Industrial

7.4 Exercı́cios propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

Referências Bibliográficas 105

Prof. Thiago R. de Oliveira iii Automação Industrial


Eletrônica Industrial

Capı́tulo 1

Introdução à Eletrônica de Potência

A eletrônica de potência trata do processamento da energia elétrica, enquanto, outras


aplicações de dispositivos eletrônicos tratam do processamento de sinais, ou de informação.
Neste sentido, os circuitos de eletrônica de potência irão alterar a forma como a energia
elétrica se apresenta, de modo a moldá-la de acordo com a aplicação desejada Essa con-
versão, porém, deverá ocorrer da forma mais eficiente possı́vel, ou seja, com baixas perdas
energéticas, e resultar em um equipamento compacto e de baixo custo. A utilização de
sistemas eletrônicos permite também que ações de automação sejam incorporadas no trato
com a energia, melhorando a qualidade dessa energia trabalhada.
Os circuitos eletrônicos de potência atuam sobre sinais de tensão e corrente, moldando
a sua forma de modo a atender requisitos definidos pela carga a qual estes circuitos
alimentam. Por realizarem a conversão da forma da tensão e/ou corrente para suprir a
carga, os circuitos eletrônicos de potência são denominados de conversores estáticos. A
aplicação desses conversores se estende por diversas áreas, dentre elas pode-se citar:
Área Industrial:
• Acionamento de bombas, compressores, ventiladores e sopradores;

• Acionamento de motores de CNC;

• Acionamento de Robôs Industriais;

• Fornos a arco e de indução;

• Laser industrial;

• Máquinas de solda;

• Eletrólise;

• Laminadores;

• Motores para acinamento de esteiras e pontes rolantes.


Área dos transportes:

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• Tração de veı́culos elétricos (carros elétricos, trens e metrôs);

• Carregamento de baterias;

• Eletrônica automotiva.

Área residencial e comercial:

• Elevadores;

• Iluminação;

• No-breaks;

• Refrigeração e Ar condicionado;

• Aquecimento de ambientes e fornos elétricos;

• Eletrônica de consumo (TVs, microcomputadores, Sistemas de áudio e vı́deo, etc.);

• Domótica (Automação residencial e predial).

Área de Sistemas Elétricos de Potência:

• Transmissão de energia em corrente contı́nua (HVDC);

• Geração de energia alternativa: Energia eólica, energia solar fotovoltaica;

• Sistemas de compensação de reativos;

• Filtros ativos e STATCOM.

1.1 Conversores Estáticos de Potência


Os conversores estáticos são os blocos fundamentais de qualquer circuito de eletrônica
de potência, sendo responsáveis pelo processamento da energia em suas diversas formas.
Os conversores são constituı́dos de dispositivos semicondutores, elementos armazenadores
de energia (capacitores e indutores) e sistemas de controle. Pode-se dividir os conversores
em 4 grupos, de acordo com conversão de energia por eles realizada, os quais são mostrados
na Figura 1.1.

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Figura 1.1: Simbologia dos conversores estáticos de potência.

• Conversor c.c./c.c. - Chopper. Converte um nı́vel de tensão contı́nua em outro,


pode elevar ou abaixar a amplitude do sinal contı́nuo de entrada;

• Conversor c.a./c.c. - Retificador. Converte uma forma alternada em um sinal de


corrente contı́nua;

• Conversor c.c./c.a. - Inversor. Converte um sinal contı́nuo em uma forma de onda


alternada;

• Conversor c.a./c.a. - Gradador. Converte um sinal alternado em outro, mas man-


tendo a mesma frequência;

• Conversor c.a./c.a. - Cicloconversor. Converte um sinal alternado em outro, per-


mitindo contudo a mudança da frequência.

Os conversores estáticos podem possuir diferentes caracterı́sticas em relação à forma


com que processam a energia. Dentre essas caracterı́sticas, pode-se citar:

Frequência de comutação
As chaves semicondutoras que compõem um conversor irão comutar, ou seja, ligar
e desligar, a uma certa frequência, de modo a possibilitar o processamento da energia.
A velocidade, ou a frequência, com que essas chaves comutam podem definir a forma
com que os conversores são construı́dos. Por isso é importante conhecer a frequência de
comutação dos conversores. Pode-se definir duas categorias de frequência de comutação:

• Frequência de linha - Neste caso os conversores são comutados na frequência da rede


elétrica (60 ou 50Hz). Ex: retificadores a diodos;

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• Alta frequência - Neste casso a frequência de comutação é mais alta do que a fre-
quência de linha, sendo que normalmente são necessárias técnicas de modulação para
operar as chaves. Ex: fontes chaveadas de computador e inversores de frequência.

Fluxo de potência
Pode-se pensar que os conversores estáticos são concebidos apenas para alimentar uma
determinada carga da forma mais adequada, mas em muitas situações, como por exemplo
o carregamento de baterias, a própria carga pode em alguns momentos servir como fonte
de energia para o sistema. Assim pode-se definir duas formas de operação em relação ao
fluxo de potência entre carga e fonte:
• Conversores Unidirecionais - São aqueles que apenas permitem um fluxo de potência
da fonte primária para a carga, ou seja, em um único sentido;
• Conversores Bidirecionais, ou Reversı́veis - São aqueles que permitem tanto um fluxo
de potência da fonte para a carga, quanto da carga para a fonte, ou seja, transferem
energia em ambos os sentidos.
Muitas vezes, quando um conversor opera de forma reversı́vel, a função de conversão é
alterada. Para compreender essa situação tome um retificador bidirecional, como mostra
a Figura 1.2.

Figura 1.2: Mudança de função por operação reversı́vel.

Método de conversão.
Os conversores estáticos podem ser associados de modo a formar uma função de con-
versão diferente. Assim pode-se formar conversores indiretos e diretos, como exemplifica
a Figura 1.3 para um cicloconversor.
É importante frisar que a associação de conversores provoca a redução da eficiência
global do sistema, ou seja, haverá maior perda de energia.

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Figura 1.3: Exemplo de um conversor indireto.

1.1.1 Eficiência dos conversores.


Assim como nos circuitos lineares, os circuitos chaveados, ou seja, aqueles que se
baseiam na comutação de chaves, também sofrem perdas de energia em função de sua
operação. Essas perdas no entanto são inferiores às observadas nos sistemas lineares,
como reguladores de tensão e amplificadores. As perdas presentes em sistemas chaveados
ocorrem devido a três fatores principais:

• Perdas por condução - Devido à resistência de contato nas chaves e as resistências


série dos elementos reativos;

• Perdas por comutação - Devido aos tempos de comutação das chaves e o cruzamento
entre tensão e corrente;

• Perdas magnéticas - Devido à movimentação dos domı́nios magnéticos dos núcleos


que compõem os indutores e transformadores dos conversores.

Essas perdas fazem com que a potência entregue pela fonte seja superior àquela que o
conversor entrega à carga. Assim o rendimento (razão entre potência de entrada e saı́da)
do conversor é reduzido. O rendimento de um sistema é dado pela expressão abaixo:

PSaida
η= × 100% (1.1)
PEntrada
Por exemplo, se um conversor consome 250W de sua fonte e fornece 200W para a
carga, a sua eficiência será de:
200
η= × 100% = 0, 8 × 100% = 80%
250
Ou seja, 80% da energia consumida pelo conversor é utilizada para alimentar a carga
e os demais 20%, ou 50W, são perdidos na forma de calor ou estão armazenados nos
elementos do circuito. Com isso, pode-se entender melhor o fato de os conversores indiretos
serem menos eficientes do ponto de vista energético. Para tal, considere o cicloconversor
indireto mostrado na Figura 1.4.
Note que os conversores intermediários possuem uma eficiência de 86% e 92%. A
eficiência total do conversor será o produto dos dois rendimentos:
ηtotal = 0, 86 × 0, 92 × 100% = 79, 12%

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Figura 1.4: Cicloconversor indireto, com a eficiência de cada conversor.

1.2 Chaves estáticas


O principal elemento de conversores estáticos de potência, são as chaves estáticas,
ou os dispositivos semicondutores. O nome estático vem do fato de estes dispositivos
realizarem a comutação de grandezas elétricas sem a presença de partes móveis. Pode-se
dividir as chaves estáticas em três grupos:

• Diodos - são dispositivos não controláveis, cujo ligamento e desligamento dependem


do circuito de potência. Ex: Diodos e Diacs;

• Tiristores - são dispositivos cujo ligamento pode ser controlado, mas o desligamento
depende do circuito de potência. Ex: SCRs e Triacs;

• Chaves controláveis - são dispositivos cujo ligamento e desligamento podem ser


controlados. Ex: GTOs, TBJ, MOSFET, IGBT, IGCT, etc.

O emprego de cada uma das chaves depende da aplicação do conversor e quesitos como
tensão e corrente de operação, velocidade de comutação, etc. Em relação aos nı́veis de
potência e a frequência de chaveamento das chaves estáticas, pode-se definir regiões de
aplicação de cada chave, como mostra a Figura 1.5.
Como exemplo, pode-se tomar os MOSFETs, estes dispositivos podem operar até a
faixa de Megahertz, mas apenas suportam correntes na faixa de 100A e tensões até 1kV.
Caso a aplicação demandar um dispositivo que opere com 2kV, o MOSFET não poderá
ser utilizado, nesta situação poder-se-ia empregar um IGBT, no entanto, esse dispositivo
não opera com frequências de comutação superiores a 100kHz.

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Figura 1.5: Aplicação de chaves estáticas em função dos nı́veis de potência e frequência
de chaveamento.

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Capı́tulo 2

Dispositivos Semicondutores

Neste capı́tulo o funcionamento e caracterı́sticas dos principais dispositivos semicon-


dutores utilizados em circuitos de eletrônica de potência.

2.1 Diodos de potência


Os diodos de potência são construı́dos por meio de uma junção PN, ou seja, da união
de um material do tipo P e outro do tipo N. A Figura 2.1 mostra o esquema de uma
junção PN e o sı́mbolo elétrico de um diodo, com os seus terminais explicitados.

Figura 2.1: Junção PN e diodo de potência.

O comportamento de um diodo pode ser descrito por sua curva de corrente vs. tensão
(curva IxV) apresentada na Figura 2.2. Note que a curva possui uma forte caracterı́stica
não-linear1 . Pode-se definir duas regiões de operação distintas:
• Região de Polarização Direta - Ocorre quando a tensão entre os terminais de anodo
e catodo é positiva (VAK ≥ 0);

• Região de Polarização Reversa - Ocorre quando VAK < 0.


Na região de polarização direta, o diodo apresenta um comportamento exponencial, ou
seja, à medida que a tensão terminal VAK aumenta, a corrente é incrementada de forma
exponencial. Esse comportamento faz com que haja um Joelho na curva, ou seja, um
1
Relações não-lineares são relações entre variáveis que não seguem uma função de primeira ordem, ou
seja, não respeitam a equação de uma reta: y = a.x+b

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Figura 2.2: Curva caracterı́stica de um diodo de potência.

ponto a partir do qual o incremento da corrente com o aumento da tensão VAK seja mais
intenso. Pode-se dizer, simplificadamente, que para tensões abaixo da tensão de joelho a
corrente conduzida pelo diodo é insignificante e logo após essa tensão, a corrente aumenta
muito, com pequenos incrementos na tensão terminal. A tensão de joelho, ou a tensão
terminal, costumam apresentar valores na ordem de 0,7V a 3V, dependendo do calibre de
corrente do dispositivo.
Na região de polarização reversa, para baixas amplitudes de VAK , a corrente reversa
no diodo apresenta uma valor muito pequeno, na ordem de alguns pico-ampéres a micro-
ampéres, de modo, que se pode desprezá-la. Existe, contudo, um ponto de operação,
chamado de tensão de ruptura, onde ocorre um novo joelho, e a corrente reversa se torna
mais intensa. A inclinação dessa curva reversa, no entanto, é muito mais ı́ngreme do que
a apresentada na polarização direta, o que indica que pequenos incrementos na tensão
reversa irão provocar grandes incrementos na corrente reversa. Essa situação normalmente
faz com que a potência dissipada no diodo seja tão elevada que o dispositivo se queima.
Assim, em uma aplicação real de diodo de potência, a região de ruptura deve ser evitada.
Em eletrônica de potência, no entanto, os valores de tensão e corrente envolvidos
nos circuitos são de magnitude muito superior à queda de tensão de polarização direta
(tensão de limiar) e a corrente de fuga reversa. Neste caso, ao invés de se empregar as
informações contidas na curva caracterı́stica do diodo, pode-se lançar mão de um modelo
mais simplificado, o que facilita a resolução de sistemas e seus projetos. O modelo mais
adequado para o estudo desenvolvido neste curso é o modelo do diodo ideal, o qual é
representado pela curva caracterı́stica mostrada na Figura 2.3.
Note que neste modelo, assume-se que o diodo funciona como uma chave fechada
(conduz o máximo de corrente possı́vel sem exibir nenhuma queda de tensão) quando
operado em polarização direta, e como uma chave aberta (sem condução de corrente),
quando em polarização reversa. Observe que o joelho e região de ruptura são desprezados.

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Figura 2.3: Curva caracterı́stica de um diodo ideal.

2.1.1 Caracterı́sticas dinâmicas do diodo.


Discutiu-se anteriormente as caracterı́sticas estáticas do diodo de potência, contudo, o
comportamento dinâmico do diodo (transição entre estado ligado e desligado) apresenta
particularidades: O processo de ligamento de um diodo ocorre de maneira mais rápida do
que o seu processo de desligamento, principalmente porque, durante o desligamento, há
a necessidade de se formar uma barreira de potencial nos arredores da junção PN. Essa
condição forma o que se chama de recuperação reversa do diodo, a qual é representada
pela Figura 2.4.

Figura 2.4: Processo de desligamento de um diodo de potência.

Observe que quando um diodo desliga, a corrente que por ele flui diminui2 . Quando
2
A taxa de redução da corrente (di/dt) depende de elementos do circuito no qual o diodo está inserido,
principalmente os componentes indutivos.

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essa corrente chega a zero, porém, a barreira de potencial ainda não está formada, logo
não ocorre o bloqueio do diodo. A consequência disso é que a corrente se torna negativa, o
que indica que o diodo está absorvendo do circuito uma certa quantidade de carga elétrica.
Pode-se dividir o processo de desligamento do diodo em três etapas:
• Intervalo t1 - Durante este intervalo de tempo, o diodo está conduzindo (corrente
e queda de tensão positivas). A corrente no diodo começa a diminuir até atingir o
nı́vel zero;
• Intervalo t2 - Durante este intervalo, a barreira de potencial está se formando e
corrente no diodo se torna negativa, contudo o diodo continua a conduzir (queda de
tensão positiva). Ao fim do intervalo, a corrente reversa atinge seu valor máximo
(IRRM ), indicando que a barreira de potencial se formou. O diodo começa o seu
processo de bloqueio, o que pode ser percebido na redução da tensão terminal do
diodo;
• Intervalo t3 - A barreira de potencial começa a se alargar, de modo a balancear a
força elétrica provocada pela tensão reversa aplicada ao diodo. À medida que a
barreira atinge sua largura adequada, a corrente no diodo se aproxima de zero e a
tensão, de seu valor reverso. A consequência desse intervalo extra de absorção de
carga é uma sobretensão reversa sobre o diodo (VRRM ).
Note que durante o desligamento, o diodo absorveu ao longo dos intervalos t2 e t3 uma
quantidade de carga igual a Qrr , a qual fica armazenada na barreira de potencial da junção
PN. A soma desses dois intervalos representa o tempo necessário para o diodo efetivamente
entrar em bloqueio e é chamado de tempo de recuperação reversa (trr ). Cada modelo
de diodo apresenta um trr diferente, o que indica que limita a frequência de comutação
daquele componente, ou seja, diodos com trr elevados não podem ser aplicados em circuitos
de chaveamento rápido. O tempo de recuperação reversa também é responsável por grande
parte das perdas de potência em um diodo.
Existem tecnologias de diodo que apresentam trr muito baixos, próprios para o uso
em sistemas de alta frequência. Esses diodos, cuja constituição é feita pela junção de
um semicondutor do tipo N com uma camada de alumı́nio, são conhecidos como diodos
Schottky.
Pode-se agrupar os diferentes tipos de diodos e função de seu tempo de recuperação
reversa, dando origem às seguintes categorias:

• Diodos Schottky - Apresenta baixa tensão limiar e trr muito pequeno;


• Diodos retificadores - Apresentam baixa tensão limiar, porém seu trr é muito elevado,
na ordem de alguns microssegundos. Sua aplicação mais indicada é para sistemas
que operem à frequência de linha;
• Diodos rápidos e ultra-rápidos - Diodos PN que possuem baixos valores de recu-
peração reversa, na ordem de 200ns a 2µs (Rápidos) ou inferiores a 200ns (Ultra-
rápidos). Alguns desses diodos podem ser classificados como soft-recovery, o que

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Eletrônica Industrial

implica em se dizer que a sobretensão no diodo e possı́veis oscilações de tensão são


reduzidas.

2.1.2 Parâmetros de datasheet de diodos.


A seguir são apresentadas alguns dos parâmetros mais significantes dos diodos disponi-
bilizados nos datasheets dos fabricantes:

• VRRM - Tensão de pico reversa repetitiva. Representa a máxima tensão reversa


possı́vel de ser aplicada repetidamente sobre o diodo que ainda garanta seu fun-
cionamento;

• VRSM - Tensão de pico reversa não-repetitiva. Máxima tensão reversa que pode ser
aplicada sobre o diodo que ainda garanta a sua integridade;

• VF - Tensão de condução direta. Representa o valor da tensão de limiar do diodo;

• IF RM - Corrente de surto repetitiva. Máximo pico repetitivo que pode ser conduzido
repetidamente pelo diodo, que ainda garanta seu funcionamento;

• IF - Corrente máxima direta. Máximo valor de corrente contı́nua passı́vel de ser


conduzido pelo diodo;

• IR - Corrente reversa máxima. Corrente de fuga do diodo;

• IRM - Pico de corrente reversa. Máximo valor de corrente reversa que o diodo pode
apresentar na recuperação reversa;

• trr - Tempo de recuperação reversa.

• Qrr - Carga absorvida pelo diodo durante a trr ;

• rT - Resistência de contato do diodo. Resistência equivalente do diodo em estado


ligado;

• TJ - Temperatura de junção máxima. Máxima temperatura da junção do diodo que


ainda garante o seu funcionamento;

• Rthjc - Resistência térmica entre junção e encapsulamento do diodo, dado em o C/W .

2.2 Tiristores
O tiristores são dispositivos de quatro camadas (PNPN), que abrangem alguns dis-
positivos, como o SCR (Silicon Controlled Rectifier ), TRIAC (Thyristor AC ) e o GTO
(Gate turn-off Thyristor ), os quais serão abordados a seguir.

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Eletrônica Industrial

2.2.1 SCR - Silicon Controlled Rectifier


O SCR é o mais antigo e mais utilizado tiristor. Sua construção permite manipulação
de altos nı́veis de potência, ou seja, ele é capaz de conduzir vários KA e suportar vários
KV. Contudo, como comentado anteriormente, esse dispositivo apenas permite que a sua
condução seja comandada, ou seja, é uma chave controlada durante o seu disparo e uma
chave não controlada durante o seu bloqueio.
A Figura 2.5 apresenta o diagrama das junções PN que formam o SCR e o seu sı́mbolo
elétrico. Note que o sı́mbolo do SCR se assemelha a um diodo com um terminal de porta,
ou gatilho, isso porque a partir de um pulso de gatilho o SCR se porta exatamente como
um diodo.

Figura 2.5: Camadas de um SCR e seu sı́mbolo elétrico.

A curva IxV do SCR ideal é apresentada na Figura 2.6.

Figura 2.6: Curva caracterı́stica de um SCR ideal.

Para que o SCR entre em condução são necessárias duas condições:


• O dispositivo se encontrar em polarização direta (VAK ≥ 0);
• Aplicação de um pulso de corrente de gate entre o terminal da porta e do catodo do
SCR;

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A duração do pulso de gate deverá ser tal que garanta que a corrente entre anodo
e catodo, no momento da retirada do pulso, seja equivalente à corrente de travamento
(Latching Current) definida pelo fabricante do dispositivo. Se essa condição não for sa-
tisfeita, após a retirada do pulso de gate o SCR se bloqueará novamente. Contudo, se
o SCR superar a corrente de travamento, ele apenas poderá ser bloqueado se a corrente
entre anodo e catodo cair abaixo do nı́vel da corrente de manutenção (Holding Current),
esta também definida pelo fabricante. O processo de desligamento também segue as eta-
pas definidas para o diodo de potência, ou seja, o SCR também exibe um perı́odo de
recuperação reversa.

2.2.1.1 Parâmetros de datasheet de SCR


Os SCR, possuem os mesmo parâmetros apresentados para o diodo. Contudo, de-
vido à possibilidade de se realizar o disparo do dispositivo, alguns parâmetros extras são
relevantes para a escolha e dimensionamento adequado de um SCR.

• VDRM - Tensão direta repetitiva. Máxima tensão de bloqueio direta que pode ser
aplicada repetidamente ao SCR;

• IRD - Corrente de fuga direta. Corrente de fuga do SCR quando o dispositivo se


encontra bloqueado;

• tq - Tempo de comutação. Intervalo de tempo entre a aplicação do pulso de gate e


a entrada em condução do SCR;

• IL - Corrente de travamento;

• IH - Corrente de manutenção;

• IGT - Mı́nima corrente de gate. Valor mı́nimo de corrente que garante a entrada em
condução do SCR;

• VGT - Mı́nima tensão de porta-catodo. Valor mı́nimo da tensão a ser aplicada entre
porta e catodo que permite o disparo do SCR; q

• IGSM - Corrente de gate. Corrente nominal de gate a ser aplicado no dispositivo.

2.2.2 TRIAC - Thyristor AC


O TRIAC pode ser visto como dois SCRs associados em anti-paralelo, como mostrado
pela Figura 2.7. Esse dispositivo é bidirecional em corrente, ou seja, pode conduzir cor-
rentes em ambos os sentidos, além de ser bidirecional em tensão, ou seja, pode bloquear
tensões em ambos os sentidos.
A grande vantagem do uso de um TRIAC é a existência de apenas um terminal de
porta, o que simplifica o acionamento do dispositivo. Entrará em condução o SCR que es-
tiver diretamente polarizado no instante de aplicação do pulso de gate. A sua desvantagem

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Figura 2.7: Sı́mbolo e diagrama de um TRIAC.

é que apenas estão disponı́veis dispositivos de calibre de corrente até aproximadamente


40Arms, ou seja, não se pode empregar TRIACs em aplicações de alta potência.
Um circuito semelhante ao TRIAC é o DIAC (Diode AC), o qual se assemelha a dois
diodos postos em anti-paralelo. A grande diferença neste dispositivo é que a tensão limiar
é maior do que o observado em diodos convencionais e que, após a entrada em condução
dos diodos, a tensão terminal que o dispositivo exibe é inferior à sua tensão limiar, como
exemplifica a Figura 2.8.

Figura 2.8: Sı́mbolo e curva caracterı́stica de um DIAC.

2.2.3 GTO - Gate Turn-off Thyristor


Os GTOs são tiristores semelhantes ao SCR, contudo, esses dispositivos permitem que
o seu bloqueio seja realizado por meio da aplicação de uma corrente de gate negativa. O
grande problema desses dispositivos é que o nı́vel de corrente de bloqueio a ser aplicada
no gate é muito grande, na ordem de 2 a 5 vezes inferior à corrente de anodo-catodo a ser
bloqueada, enquanto que o pulso de disparo pode ser feito com correntes na faixa de alguns
mA. Isso faz com que seja necessário o emprego de uma potente fonte externa, apenas
para realizar o bloqueio do componente, o que eleva o custo do sistema de eletrônica de
potência.

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Uma evolução dos GTOs foi lançado no mercado pela ABB. Os novos componentes
são os IGCTs (Insulated Gate Controlled Thyristor ) e são na realidade GTOs com um
circuito de gate embutido, de modo que o comando externo pode ser feito por meio de
sinais ópticos enviados via fibra óptica. Essa evolução simplifica muito a montagem de
sistemas e reduz o custo dos mesmos, porém, a desvantagem é que apenas um fabricante
fornece tais elementos, o que pode gerar problemas de dependência comercial.

2.3 TBJ - Transistor Bipolar de Junção


O TBJ é um dispositivo de três camadas, podendo se apresentar na forma NPN ou
PNP, sendo a forma NPN, apresentada na Figura 2.9, a mais comum em sistemas de
potência. As três camadas são denominadas:

• Base - responsável por regular a passagem de elétrons pelo dispositivo;

• Coletor - responsável por coletar os elétrons enviados pelo emissor;

• Emissor - responsável por emitir elétrons para o dispositivo.

Figura 2.9: Sı́mbolo de um TBJ.

Nesta configuração, o transistor é capaz de operar em três regiões distintas:

• Corte - ocorre quando a corrente de base é nula. Nesta região o transistor não
conduz corrente, atuando como uma chave aberta;

• Região ativa - Nesta região o transistor funciona como uma fonte de corrente;

• Saturação - Nesta região o transistor atinge o limite máximo de corrente que o


circuito onde ele está inserido permite. O transistor opera como uma chave fechada,
e apresenta entre seus terminais de coletor e emissor, uma tensão de saturação muito
pequena.

Em eletrônica de potência, deseja-se que os transistores atuem como chaves estáticas,


logo, apenas as regiões de corte e saturação são utilizadas. Para se garantir que um TBJ
de potência irá atingir a saturação, sem passar muito tempo na região ativa é necessário
injetar uma corrente em sua base na ordem de:

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Ic
Ib = (2.1)
β
Onde β é o ganho DC do transistor. O grande problema de se empregar TBJs em
circuitos de potência é o fato desses dispositivos, quando se eleva o calibre de corrente
e tensão desejados, apresentarem β muito pequenos. Com isso, a corrente de base que
o circuito de driver deve injetar torna-se muito elevada. Desta forma, um circuito de
potência com TBJ deveria possuir fontes de corrente muito potentes apenas para ligar e
desligar os transistores, o que é uma solução muito onerosa e desinteressante. Por esse
motivo, o uso de TBJ em circuitos de potência tem se extinguido nas últimas décadas.

2.4 MOSFET - Metal-Oxide-Semiconductor Field Ef-


fect Transistor
O MOSFET é um tipo de transistor que utiliza uma tecnologia totalmente diferente
da empregada nos TBJs. Um substrato de material semicondutor do tipo P é construı́do
com duas ilhas de material tipo N. Sobre o substrato e entre as duas ilhas é depositada
uma camada de óxido de silı́cio e um contato metálico, como mostra a Figura 2.10.

Figura 2.10: Estrutura de um transistor MOSFET.

Nas bordas das ilhas tipo N, existe o contato entre um material tipo N e outro do tipo
P, formando uma junção PN. Assim como nos diodos, a existência de uma junção PN gera
uma barreira de potencial, a qual impede a troca de elétrons entre os dois materiais. Para
operar, uma tensão VGB deve ser aplicada entre a porta e o substrato. Caso essa tensão
seja suficientemente grande, um campo elétrico no substrato será gerado, afastando as
lacunas próximas ao contato com o óxido. Essa ação gera um canal depleto de lacunas
entre as duas ilhas tipo N. Dessa forma, se uma diferença de potencial for aplicada entre as
duas ilhas (VDS ), haverá movimentação de elétrons. A Figura 2.11 demonstra a formação
do canal.
Existem diferentes topologias de transistores MOS disponı́veis no mercado. Uma das
principais topologias é o MOSFET tipo enriquecimento, nesta topologia, o terminal S é

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Figura 2.11: Estrutura de um transistor MOS tipo enriquecimento.

conectado ao substrato, terminal B, de modo que a formação do canal se dá ao se aplicar


uma tensão VGS e a formação de uma corrente elétrica apenas poderá ser definida quando
uma tensão VDS é aplicada. Nesta configuração, existem apenas 3 terminais:
• G - gate ou porta;
• D - Dreno, ilha responsável por drenar os elétrons emitidos pelo terminal de fonte;
• S - Source (fonte). ilha responsável por emitir elétrons pelo canal.
A saturação do MOSFET ocorrerá sempre que a tensão VGS aplicada for entre 15V e
18V, tensões superiores a isso podem danificar a camada de óxido e queimar o MOSFET.
Diferentemente do TBJ, um MOSFET saturado se comporta como um resistor, à essa
resistência dá-se o nome de RDSON , o qual é um parâmetro de datasheet importante.
OBS: Da forma como o MOSFET é ligado, se uma tensão VDS negativa for aplicada ao
dispositivo, a camada de depleção entre o substrato e o terminal de dreno será polarizada
diretamente, fazendo com que o MOSFET se comporte como um diodo. Ou seja, o
transistor possui um diodo parasita que pode entrar em condução quando VDS < 0. O
sı́mbolo elétrico de um MOSFET, com o seu diodo parasita, é apresentado na Figura 2.12.

Figura 2.12: Sı́mbolo elétrico de um MOSFET do tipo enriquecimento.

Pode-se concluir que o MOSFET é um dispositivo capaz de bloquear tensões positivas


entre dreno e fonte e pode conduzir corrente nos dois sentidos, de modo que o MOSFET
é uma chave unidirecional em tensão e bidirecional em corrente.

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É importante frisar que a grande vantagem do MOSFET em relação ao TBJ é que ele
pode ser acionado apenas pela aplicação de uma tensão VGS em torno dos 15V. Não há a
necessidade de se possuir drivers com capacidade de corrente muito elevada, o dispositivo
de acionamento apenas deverá ser capaz de injetar um pulso de corrente em torno de 2A
de pico para carregar as capacitâncias de entrada do MOSFET e formar o canal entre os
terminais de dreno e fonte.
As curvas de funcionamento de um MOSFET são apresentadas na Figura 2.13. Note
que existe um atraso entre o comando de ligamento e desligamento dispositivo e sua efetiva
comutação. Esses tempos de atraso podem ser segregados em:

• Tempo de atraso (td ) - Atraso entre o comando e a percepção do comando pelo


dispositivo;

• Tempo de subida (tr ) e tempo de descida (tf ) - Tempos necessários para a corrente
se elevar ao patamar desejado, quando em entrada em saturação, e de se reduzir a
zero, em transição para bloqueio.

Figura 2.13: Curvas de comutação de um transistor MOSFET.

2.4.1 Parâmetros de datasheet do MOSFET


Os parâmetros mais importantes fornecidos pelos fabricantes de MOSFET são:

• RDSON - Resistência dreno-fonte em estado ligado. Resistência de contato do MOS-


FET quando ele se encontra em saturação;

• VDS - Tensão de dreno-fonte. Tensão nominal de funcionamento entre dreno e fonte;

• VGS - Tensão máxima de gate-fonte. Máxima tensão entre o gate e a fonte que pode
ser aplicada no dispositivo;

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• VDSS - Tensão de ruptura de dreno-fonte. Máxima tensão que pode ser aplicada
entre os terminais de dreno e fonte do dispositivo;

• VSD - Tensão direta do diodo parasita. Tensão de condução do diodo parasita;

• ID - Corrente de dreno. Corrente nominal de dreno do dispositivo;

• ISD - Corrente direta do diodo. Corrente média nominal de condução do diodo


parasita;

• ISM - Corrente de surto do diodo parasita. Corrente máxima de surto que pode ser
conduzida pelo diodo parasita;

• Ciss - Capacitância de entrada do MOSFET. Capacitância vista pelo terminal de


gate;

• Coss - Capacitância de saı́da do MOSFET;

• td - Tempo de atraso;

• tr - Tempo de subida da corrente;

• tf - Tempo de descida da corrente;

• TJ - Temperatura de junção.

2.5 IGBT - Insulated Gate Bipolar Transistor


O MOSFET é uma chave muito rápida, sendo que os tempos de transição e atraso são
da ordem de algumas dezenas a centenas de nanossegundos, contudo não se encontra no
mercado MOSFETs de tensão VDS superiores a 600V. Para aplicações de maior tensão,
portanto, utiliza-se uma outra tecnologia de transistor, o IGBT. Esse dispositivo alia as
caracterı́sticas de entrada de um MOSFET, sendo saturado quando uma tensão de porta
em torno dos 15V é aplicada, e as caracterı́sticas de saı́da de um TBJ, apresentando uma
tensão de contato pequena. O sı́mbolo elétrico de um IGBT é mostrado na Figura 2.14.

Figura 2.14: Sı́mbolo elétrico e terminais de um IGBT.

OBS: O IGBT não possui um diodo parasita como o MOSFET, contudo, a sua estru-
tura faz com que o dispositivo possua um SCR parasita. Esse tiristor pode ser disparado

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caso a corrente que passe pelo IGBT seja muito elevada. As novas gerações de IGBT têm
diminuı́do a influência desse elemento parasita.
O IGBT é um dispositivo unidirecional em corrente e tensão.
A Figura 2.15 abaixo apresenta as curvas de ligamento e desligamento do IGBT. Note
que durante o desligamento, existe uma inflexão na curva de corrente. Essa inflexão é
chamada de corrente de cauda, e faz com que o desligamento do IGBT seja muito mais
lento do que o desligamento de um MOSFET.

Figura 2.15: Formas de onda de operação de um IGBT.

2.5.1 Parâmetros de datasheet do IGBT


Os principais parâmetros fornecidos pelos fabricantes de IGBT são:
• VCEsat , VCEon - Tensão de saturação entre coletor-emissor. Tensão de condução exi-
bida entre os terminais de coletor e emissor do transistor, enquanto este se encontra
em saturação;
• VBRCES - Tensão de ruptura de coletor-emissor. Máxima tensão entre coletor e
emissor que pode ser aplicada ao um IGBT;
• IC - Corrente de coletor. Corrente nominal de coletor;
• Eon - Perda de energia durante o ligamento do IGBT.
• Eof f - Perda de energia durante o desligamento do IGBT;
• td - Tempo de atraso do IGBT;
• tr - Tempo de subida da corrente;
• tf - Tempo de descida da corrente;
• TJ - Temperatura de junção.

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2.6 Comparação entre as chaves semicondutoras


A Tabela 2.1 apresenta a comparação entre as chaves semicondutoras revisadas neste
capı́tulo. Note que para cada aplicação de eletrônica de potência, um tipo de chave é mais
adequada.

Tabela 2.1: Comparação entre as chaves eletrônicas revisadas.


MOSFET IGBT TBJ GTO SCR Diodo
Tipo de co- Tensão Tensão Corrente Corrente Corrente –
mando
Potência do Mı́nima Mı́nima Elevada Elevada Baixa –
circuito de
comando
Circuito de Simples Simples Complexo Muito Com- Simples –
comando plexo
Capacidade Quando Média/alta Média Muito alta Muito alta Muito alta
de corrente maior a ten-
são menor a
corrente
Perdas de Muito Baixa/média Média/alta Alta Alta Alta
comutação baixas
Velocidade Muito alta Alta Média/alta Baixa Baixa Baixa/Média
de comu-
tação

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Capı́tulo 3

Conversores c.c./c.c. - Choppers


Não-isolados

Os choppers são circuitos dedicados a converter uma tensão contı́nua em outra, al-
terando caracterı́sticas como magnitude. Existem diversas topologias de choppers descri-
tas na literatura e empregadas em aplicações de eletrônica de potência ao redor do mundo.
Contudo, todas elas derivam de três estruturas básicas, sendo elas: o conversor buck, o
conversor boost e o conversor buck-boost. Este capı́tulo irá apresentar essas três estruturas
básicas e discutir a sua operação em regime de condução contı́nuo e descontı́nuo.
Os choppers empregam chaves estáticas que permitam tanto o disparo e o bloqueio
controlados, de modo que as principais chaves sãos os MOSFETs e os IGBTs.

3.1 Conversor Abaixador - Buck ou Step-down


O circuito da Figura 3.1 mostra a estrutura básica de um chopper abaixador. O seu
objetivo é converter a tensão contı́nua de entrada em uma tensão de saı́da de valor médio
mais baixo. A técnica de conversão se baseia em ”picotar”(to chop) a tensão de entrada, de
modo que a saı́da do circuito seja um trem de pulsos, tendo como valor médio, a grandeza
desejada.

Figura 3.1: Circuito de um conversor abaixador.

A forma de onda da tensão na saı́da é apresentada na Figura 3.2.

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Figura 3.2: Forma de onda de comando e tensão na saı́da do conversor abaixador.

Note que a chave fica ligada por um tempo ton e o padrão chaveamento se repete a
cada perı́odo TS . Dessa forma, o valor médio da tensão de saı́da se torna:

E · ton
VO = (3.1)
TS
TS é chamado de perı́odo de chaveamento, e dá origem a uma frequência de chavea-
mento: fS = 1/TS . O controle do valor médio pode ser realizado ao se variar a razão
cı́clica do conversor, a qual é definida como:

ton
D= (3.2)
TS
De modo que:

VO = E · D (3.3)

Note que a razão cı́clica apenas pode assumir valores entre: 0 ≤ D ≤ 1, de modo
que a tensão de saı́da sempre será menor do que a tensão de entrada. Por esse motivo, o
conversor é chamado de conversor abaixador, ou conversor step-down, do termo em inglês.
Um dos problemas da estrutura apresentada acima é que a tensão de saı́da apresenta
uma caracterı́stica pulsada. Para reduzir o ripple de chaveamento, utiliza-se um filtro
passa-baixas, composto por um indutor e um capacitor na saı́da do conversor. A modifi-
cação é apresentada na Figura 3.3 e constitui o estágio de potência de um conversor buck
convencional.
O diodo em anti-paralelo com o filtro serve para efetuar um efeito de roda-livre para a
corrente no indutor, de modo que o desligamento da chave semicondutora não provoque
sobretensões no circuito. O comportamento do conversor pode ser melhor compreendido
ao se analisar o funcionamento dos circuitos equivalente gerados pelo chaveamento do
transistor:

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Figura 3.3: Circuito de um conversor buck convencional.

Circuito com a chave fechada


Com a chave fechada, a estrutura do conversor se torna como a demonstrada na Figura
3.4.

Figura 3.4: Circuito de um conversor buck com a chave fechada.

Percebe-se que a fonte de entrada irá injetar um corrente no circuito, pelo indutor do
filtro. Essa corrente alimentará o circuito RC na saı́da do conversor. Se a tensão na saı́da
for considerada puramente contı́nua, pode-se escrever a tensão sobre o indutor do filtro,
como sendo:

VL = E − VO (3.4)
Lembrando que a tensão sobre um indutor é descrita pela equação diferencial:

dIL ∆IL
VL = L ≈L (3.5)
dt ton
Pode-se verificar que existirá um ripple de corrente no indutor, o qual é definido como;

(E − Vo ) · D
∆IL = (3.6)
L · fS

Circuito com a chave aberta


Ao se abrir a chave, a corrente que circula no indutor não pode ser instantaneamente
eliminada, de modo, que o diodo entrará em condução para manter essa corrente cir-

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culando. Nesse sentido, o circuito do conversor buck se torna como o apresentado pela
Figura 3.5.

Figura 3.5: Circuito de um conversor buck com a chave aberta.

A tensão sobre o indutor se tornará:

VL = −VO (3.7)
De modo que o ripple da corrente, pode ser novamente definido como:

−Vo · (1 − D)
∆IL = (3.8)
L · fS
Uma vez definidas as tensões em cada estado da chave, pode-se definir as formas de
onda no circuito, as quais são apresentadas na Figura 3.6.

Figura 3.6: Formas de onda de comando, tensão e corrente no indutor do buck.

A equação que define a relação entre a tensão de saı́da e de entrada do conversor buck
pode ser extraı́da da seguinte forma: Como se sabe que o valor médio de tensão em um
indutor deve ser nulo, pode-se combinar as tensões derivadas anteriormente, de modo que:

VLon · ton = VLof f · tof f (3.9)

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(E − VO ) · ton = VO · (TS − ton ) (3.10)

E · ton
VO = =E·D (3.11)
TS
Obviamente, a expressão é a mesma encontrada para o conversor abaixador sem filtro.
Observe, também que a operação do conversor faz com que a corrente no indutor apresente
um ripple triangular. Como a corrente de carga possui um caráter contı́nuo, esse ripple
triangular irá ser absorvido pelo capacitor do filtro de saı́da. Mas, como a corrente em
um capacitor pode ser definida como:
dVC
iC = C (3.12)
dt
A presença de uma corrente alternada no capacitor irá provocar o surgimento de um
ripple de tensão na saı́da do circuito. A Figura 3.7 mostra a forma de onda de corrente no
capacitor e o detalhe da tensão de saı́da. Note que sobre o valor médio da tensão, existe
um ripple. Esse ripple dependerá dos valores de indutância e capacitância utilizados no
conversor.

Figura 3.7: Formas de onda de corrente e tensão sobre o capacitor do filtro de saı́da de
um buck.

A corrente nas chaves semicondutoras (transistor e diodo) serão uma parcela da cor-
rente de indutor, uma vez que em cada intervalo de tempo ao longo do perı́odo de chavea-
mento, uma das chaves proporciona o caminho para a circulação da corrente. A Figura
3.8 apresenta as formas de onda de corrente em cada chave.
Assim, pode-se definir a corrente média no transistor como sendo:

IT = IO · D (3.13)
Uma vez que o transistor conduz a corrente de carga durante o intervalo ton . Assim,
a corrente média no diodo será:

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Figura 3.8: Formas de onda de corrente nas chaves de conversor um buck.

ID = IO · (1 − D) (3.14)

3.1.1 Dimensionamento dos componentes


a) Indutor
Uma vez definidas as condições de projeto do conversor, pode-se lançar mão das
equações extraı́das anteriormente e determinar os valores adequados para o indutor. Con-
siderando o regime de condução contı́nua, sabe-se que o valor do ripple de corrente é
definido por:

(E − VO ) · D
∆IL = (3.15)
L · fS
Assim, se parâmetros como a razão cı́clica máxima, tensão de entrada, tensão de saı́da,
ripple de corrente desejado e frequência de chaveamento forem conhecidos, pode-se definir
o valor do indutor como sendo:

(E − VO ) · D
L= (3.16)
∆IL · fS

b) Capacitor
O capacitor é calculado a partir da análise da carga absorvida durante um perı́odo de
chaveamento. Lembrando que:

∆Q = C∆Vc (3.17)
Fazendo essa análise, deduz-se que:

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∆IL (1 − D)
C= (3.18)
4fS ∆VO
Onde ∆VO é o valor de pico-a-pico do ripple de tensão sobre o capacitor.

3.1.2 Regimes de condução


As análises feitas até o momento consideraram que a corrente no indutor é sempre
positiva, independentemente da condição da chave. Desta forma, todas as observações
feitas se referem ao regime de condução contı́nua. Contudo, se o ripple de corrente
for muito elevado, ou se o valor médio da corrente de saı́da for diminuı́do, o circuito poderá
entrar em condução descontı́nua. Nesta seção esse regime será analisado.

Regime de condução crı́tica, ou limite


Neste regime, o conversor opera no limiar entre a condução contı́nua e a descontı́nua.
O ripple de corrente no indutor é suficientemente grande para fazer com que a corrente
toque o nı́vel zero, mas não há a existência de um patamar nulo na corrente. A Figura
3.9 mostra essa condição.

Figura 3.9: Forma de onda de corrente no indutor na região crı́tica.

Note que neste caso, o valor médio de corrente pode ser definido como sendo:
ILmax
IO = (3.19)
2
Onde o valor máximo de corrente será igual ao do ripple de corrente, de modo que
∆IL = ILmax .
Utilizando as obervações feitas para a condução contı́nua, pode-se definir que:

(E − VO ) · D
∆IL = (3.20)
L · fS

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A partir da expressão acima, pode-se definir um valor mı́nimo para o indutor do


conversor, de modo que o mesmo atinja a região crı́tica. Esse valor é interessante, uma
vez que, além de servir para se projetar o conversor no regime crı́tico, pode servir de teste
para definir o regime de condução de um conversor.

(E − Vo ) · D
Lmin = (3.21)
2fS IO
O regime crı́tico pode ser atingido também por meio da redução da razão cı́clica de um
conversor já estabelecido. Essa razão cı́clica limite, ou crı́tica, pode também ser extraı́da
da expressão acima, de modo que:

DCrit = 1 − K (3.22)
2LfS
Onde: K = .
R

Regime de condução descontı́nua


Caso o valor médio da corrente de indutor seja ainda mais reduzido, o conversor entra
em regime de condução descontı́nua, como exemplifica a Figura 3.10.

Figura 3.10: Forma de onda de corrente no indutor na região descontı́nua.

Neste caso, o ripple de corrente continua possuindo o mesmo valor apresentado no caso
anterior, sendo igual ao valor de pico da corrente de indutor (ILM AX ).
Mas o valor médio da corrente se torna inferior ao observado na condição limite:
( )
ILmax tx
IO = · 1− (3.23)
2 TS
tx representa o intervalo de tempo em que a corrente do indutor se mantém nula. Com
isso, a equação que define o valor médio da tensão na saı́da se modifica, sendo agora:

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E · D [√ 2 ]
VO = D + 4K − D (3.24)
2K
Assim:
( )
ED
1−
VO
tx = (3.25)
fS

Exemplos de cálculo
Considere um conversor buck com os seguintes parâmetros: Tensão de entrada = 12V;
Indutor = 100µH; Capacitor = 22µF; frequência de chaveamento = 100kHz. Definindo-se
que a tensão de saı́da seja 5,0V, determine: a) O valor do ciclo de trabalho, b) O regime
real de condução para uma carga de R = 10Ω, c) A magnitude do ripple de tensão na
saı́da.
Resolução
a) O valor do ciclo de trabalho, considerando o regime de condução contı́nua, pode ser
definido como:

VO 5V
D= = = 0, 42 (3.26)
E 12V
b) Para verificar o regime de condução, pode-se utilizar a expressão do Lmin ou do
DCrit . Calculando-se o valor mı́nimo de indutor que leva o conversor a trabalhar na região
limite:

(E − Vo ) · D (12V − 5V ) · 0, 42
Lmin = = = 29, 4µH (3.27)
2fS IO 2 · 100kHz · (5V /10Ω)
Como o indutor utilizado no conversor é superior a 29, 4µH, o conversor irá operar
em regime de condução contı́nua. Para fins didáticos, a definição do regime, por meio da
razão cı́clica crı́tica também será realizado:

2LfS 2 · 100µH · 100kHz


DCrit = 1 − K = 1 − =1− = −1 (3.28)
R 10Ω
O DCrit indicou um valor de razão cı́clica impossı́vel de ser realizada, de modo que
se mostra que o conversor não opera na região crı́tica. Além disso, como a razão cı́clica
utilizada pelo conversor é superior à DCrit calculada, têm-se que o conversor opera em
regime de condução contı́nua.
c) O ripple de tensão pode ser encontrado por meio da expressão de projeto do ca-
pacitor do filtro. Para utilizar tal expressão, deve-se calcular primeiramente o ripple de
corrente no indutor:

(E − Vo ) · D (12V − 5V ) · 0, 42
∆IL = = = 0, 294A (3.29)
LfS 100µH · 100kHz

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Assim:

∆IL (1 − D) 0, 294(1 − 0, 42)


∆VO = = = 9, 69mV (3.30)
8fS C 8 · 100kHz · 22µF

3.2 Conversor Elevador - Boost ou Step-up


O conversor boost é um conversor elevador de tensão, ou seja, a tensão média verifi-
cada na sua saı́da é superior à tensão de entrada. A estrutura de um conversor boost é
apresentada na Figura 3.11.

Figura 3.11: Circuito de um conversor boost.

Pode-se definir dois estágios de trabalho para o conversor, determinados pelo estado
da chave:

Conversor boost com chave fechada


Quando a chave é fechada, a tensão de entrada é aplicada ao indutor, o qual será
carregado por uma corrente IL . Nesta condição, o diodo será reversamente polarizado, de
modo que não haverá corrente circulando por ele. A carga será alimentada pelo capacitor.
A estrutura do conversor para este estágio é apresentada na Figura 3.12.

Figura 3.12: Circuito de um conversor boost com a chave fechada.

A tensão sobre o indutor se torna:

VL = E (3.31)

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Assim, pode-se definir o ripple de corrente no indutor como sendo:

E E·D
∆IL = ton = (3.32)
L LfS

Conversor boost com chave aberta


Quando a chave semicondutora se abre, a polaridade da tensão sobre o indutor irá se
alternar, de modo a garantir um meio de condução para a corrente que por ele flui. Essa
alteração de polaridade é discutida pela Lei de Faraday/Lenz e está relacionada com a
variação do fluxo magnético no interior da bobina. Com esta mudança de polaridade da
tensão no indutor, o diodo entrará em condução, fazendo com que a estrutura do conversor
se modifique para a mostrada na Figura 3.13.

Figura 3.13: Circuito de um conversor boost com a chave aberta.

Note que agora, o circuito RC de saı́da é alimentado pela corrente de indutor. A


energia armazenada no indutor no estágio anterior é gasta para alimentar a carga neste
estágio, desta forma, o capacitor é carregado mantendo a tensão de saı́da constante. A
tensão no indutor pode ser definida como:

VL = VO − E (3.33)
Assim o ripple de corrente se torna:

VO − E (VO − E)(1 − D)
∆IL = · tof f = (3.34)
L LfS
Uma vez conhecidos os estágios de trabalho do conversor, pode-se fazer algumas ob-
servações. Note que, no primeiro estágio armazena-se energia no indutor e no segundo,
essa energia armazenada é gasta para carregar o capacitor e alimentar a carga. Esse com-
portamento permite que a tensão de saı́da se eleve acima do nı́vel da tensão de entrada.
Para se poder determinar uma relação entre as duas tensões, novamente, será levado em
consideração o fato de o indutor exibir tensão média nula, assim:

E · D = (VO − E) · (1 − D) (3.35)
Resolvendo a equação acima, encontra-se que:

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E
VO = (3.36)
1−D
Em relação às correntes conversor, pode-se observar que a corrente de saı́da IO , apenas
se relacionada com a corrente no indutor, IL , quando a chave está desligada. Assim sendo,
diferentemente do que se observa no conversor buck, a corrente média de saı́da não é igual
à corrente média no indutor, mas sim uma fração dela. Como o tempo em que o indutor
fornece energia à saı́da é igual a tof f , têm-se que:

IO = (1 − D) · IL(med) (3.37)
A mesma observação pode ser feita em relação à corrente nas chaves:

ID = IO (3.38)

IT = D · IL(med) (3.39)
A Figura 3.14 apresenta as formas de onda de corrente no indutor, na saı́da e nas
chaves semicondutoras.

Figura 3.14: Formas de onda de corrente no conversor boost.

3.2.1 Dimensionamento dos componentes


Em regime de condução contı́nua, pode-se calcular os valores de L e C a partir de
parâmetros de projeto, como as magnitudes de ripple de tensão e corrente desejados. O
valor do indutor pode ser extraı́do da equação que define o ripple de corrente no indutor:
E·D
L= (3.40)
fS ∆IL

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O capacitor é calculado a partir da carga absorvida pelo componente, ao longo do


perı́odo de chaveamento:

IO · D
C= (3.41)
fS ∆VO

3.2.2 Regimes de condução


Regime de condução limite
Assim como ocorre com o conversor buck, à medida que a corrente de saı́da diminui,
o conversor boost pode entrar na região de condução limite, ou seja, neste ponto o ripple
de corrente no indutor excursiona de zero a um valor máximo, marcando o limiar entre a
condução contı́nua e a condução descontı́nua. Nesta região, o valor médio da corrente no
indutor é igual à metade do ripple de corrente:

∆IL ILmax
IL(med) = = (3.42)
2 2
E·D
Onde: ILmax = .
LfS
Desta forma, pode-se definir um valor de indutor mı́nimo que faz com que o conversor
boost trabalhe na região limite. Esse valor mı́nimo é determinado como:

E · D(1 − D)
Lmin = (3.43)
2fS IO

Regime de condução descontı́nua


Na condição de condução descontı́nua, a corrente de saı́da cai a um patamar que força
a corrente de indutor a manter um nı́vel nulo durante um intervalo de tempo, como é
mostrado na Figura 3.15.
O efeito desse patamar nulo na corrente já foi discutido anteriormente para o conversor
buck. Haverá uma alteração na relação entre a tensão de saı́da e de entrada, a qual será
definida como: ( √ )
2
E 4D
VO = 1+ 1+ (3.44)
2 K
2LfS
Onde: K =
R

Exemplo de cálculo
Projete um conversor boost, para alimentar uma carga que opere em 30V e consuma
de 0,2A a 3A. A tensão de fonte disponı́vel é 12V e a frequência de chaveamento deve
ser de 20kHz, sendo o ripple de tensão na saı́da inferior a 1% e o regime de condução

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Figura 3.15: Formas de onda de corrente e tensão no indutor do boost em condução


descontı́nua.

contı́nuo. Determine: a)L e C, b) o ciclo de trabalho, c) especifique o transistor e o diodo


a ser utilizado.
Resolução
De acordo com o problema, o conversor deverá exibir uma tensão de saı́da igual a 30V,
para uma entrada de 12V. Utilizando a relação entre entrada e saı́da para um conversor
boost em condução contı́nua, se pode encontrar o valor da razão cı́clica:

E 12V
1−D = = = 0, 4 (3.45)
VO 30V

D = 1 − 0, 4 = 0, 6 (3.46)
O problema também indicou que o conversor irá atuar em condução contı́nua, mesmo
com uma redução da corrente de carga. Note que quando a corrente estiver em 0,2A
(valor mı́nimo), a condução contı́nua deverá ser garantida. Uma forma de se fazer isso
é definir que quando a corrente atinge seu valor mı́nimo, o conversor operará na região
limite, neste caso, pode-se definir que:

∆IL = 2 · IO(min) = 2 · 0, 2A = 0, 4A (3.47)


A partir dessa informação pode-se encontrar o valor mı́nimo do indutor que vá garantir
a operação em regime de condução contı́nua:

E · D(1 − D) 12V · 0, 6(1 − 0, 6)


Lmin = = = 360µH (3.48)
2fS IO 2 · 20kHz · 0, 2A
Assim, qualquer valor acima de 360µH pode ser escolhido, que ainda assim o conversor
operará em condução contı́nua ao longo de toda faixa de variação da carga.

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O projeto do capacitor deve ser feito considerando a maior corrente de saı́da possı́vel.
Isso porque, quanto maior a corrente de carga, maior será o descarregamento do capacitor
e logo, maior será o ripple de tensão. Assim, para este cálculo, a corrente de saı́da de 3A
deverá ser utilizada:

IO · D 3A · 0, 6
C= = = 300µF (3.49)
fS ∆VO 20kHz · 0, 01 · 30V
Agora, os dois primeiros ı́tens do problema podem ser respondidos:
a) L ≥ 360µH e C ≥ 300µF ;
b) Ciclo de trabalho é igual a 0,6, ou 60%;
c) O transistor deverá suportar uma corrente média de:

IO(max) 3A
IT = D · IL(med) = D · = 0, 6 = 4, 5A (3.50)
1−D 1 − 0, 6
A tensão a ser suportada pelo transistor é aquela que aparece sobre ele durante o
intervalo tof f :

VT = VO = 30V (3.51)
O diodo deverá suportar uma corrente média igual à corrente média na carga, assim:

ID = IO(max) = 3A (3.52)
A tensão reversa sobre o diodo ocorrerá no intervalo ton , de modo que:

T P Idiodo = VO = 30V (3.53)

3.3 Conversor buck-boost - Abaixador-Elevador


A Figura 3.16 apresenta o conversor buck-boost. Este conversor possui a capacidade
de tanto elevar, quanto abaixar a tensão de saı́da em relação à sua entrada. Contudo, isto
é feito ao custo de se ter uma tensão de saı́da com polaridade inversa à entrada, ou seja,
o conversor buck-boost possui uma caracterı́stica inversora.

Figura 3.16: Circuito de um conversor buck-boost.

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Assim como ocorre com os demais conversores, dependendo da condição da chave


semicondutora, a estrutura do conversor irá se modificar. Essas modificações de estrutura
serão discutidas a seguir.

Conversor buck-boost com a chave fechada


A Figura 3.17 mostra a estrutura do conversor com chave fechada. Nesta situação, o
indutor é carregado pela fonte de entrada e o capacitor se descarrega sobre a carga. Note
que o diodo está polarizado reversamente. Este estágio de funcionamento do conversor se
assemelha ao primeiro estágio de trabalho do conversor boost.

Figura 3.17: Circuito de um conversor buck-boost com a chave fechada.

Nesta situação, a tensão no indutor se torna:

VL = E (3.54)
De modo, que se pode descrever uma relação entre o ripple de corrente e algumas
variáveis do circuito:

E·D
∆IL = (3.55)
LfS

Conversor buck-boost com a chave aberta


Quando a chave semicondutora se abre, de acordo com a lei de indução de Fara-
day/Lenz, o indutor irá inverter sua polaridade de tensão, com o intuito de forçar a
continuidade da condução da corrente IL . Assim, o diodo entrará em condução, o que faz
com que a estrutura do conversor se torne equivalente àquela apresentada na Figura 3.18.

Figura 3.18: Circuito de um conversor buck-boost com a chave aberta.

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Note que a tensão sobre o indutor aparece em paralelo com a saı́da, forçando uma
polaridade negativa para VO . Nesta situação, a tensão sobre o indutor se torna:

VL = VO (3.56)
Novamente, pode-se escrever uma expressão para o ripple de corrente:

VO (1 − D)
∆IL = (3.57)
LfS
As formas de onda de tensão no indutor ao longo do perı́odo de chaveamento e a tensão
de saı́da resultante são apresentados na Figura 3.19.

Figura 3.19: Formas de onda de tensão na saı́da e no indutor do conversor buck-boost.

Observe que a tensão de saı́da apresenta um valor negativo, indicando a caracterı́stica


inversora do conversor. Como a tensão média no indutor deve ser nula, pode-se escrever:

E · D = VO · (1 − D) (3.58)
De modo que, se pode extrair a seguinte relação:

D
VO = E · (3.59)
1−D
Observe que, se D < 0, 5, o módulo da tensão de saı́da será menor do que a tensão
de entrada, ou seja, o conversor estará operando como um conversor buck, se, por outro
lado, D > 0, 5, a tensão de saı́da será maior do que a de entrada, ou seja, o conversor
passará a operar como um conversor boost. Assim como ocorre com o conversor boost,
a corrente média de saı́da será uma fração da corrente média no indutor, uma vez que
existe transferência de energia entre o indutor e a saı́da apenas durante o intervalo tof f .
Assim sendo, pode-se determinar que:

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IO = ILmed · (1 − D) (3.60)

Em relação à corrente nas chaves, pode-se fazer considerações semelhantes, de modo


que:

ID = IO (3.61)

IT = ILmed · D (3.62)

As formas de onda de corrente nos componentes do circuito são apresentadas na Figura


3.20.

Figura 3.20: Formas de onda de corrente no circuito do conversor buck-boost.

OBS: O dimensionamento do indutor e do capacitor segue as mesmas ex-


pressões apresentadas para o conversor boost.

3.3.1 Regimes de condução


Regime de condução limite

Na região de condução limite, o ripple de corrente no indutor toca o eixo zero, definindo
o limiar entre a condução contı́nua e descontı́nua. Pode-se definir então um valor mı́nimo
para o indutor, para que o circuito atinja a região limite:

ED(1 − D)
Lmin = (3.63)
2fS IO

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Regime de condução descontı́nua


Na região descontı́nua, o conversor apresenta um patamar nulo na corrente de indutor.
Isso modifica a relação entre as tensões de entrada e saı́da. Para o conversor buck-boost,
essa relação se torna:

ED
VO = √ (3.64)
K
2LfS
Onde: K =
R

3.4 Exercı́cios propostos


1. No conversor buck, por que a corrente média no indutor é igual à corrente na carga
em regime permanente?

2. Uma vez determinado um circuito para um conversor buck, como se pode definir o
regime de condução do conversor?

3. Em um conversor buck, caso a tensão de entrada varie (aumente ou diminua), o que


deve ser feito para garantir que a tensão de saı́da permaneça sempre constante?

4. Um conversor buck é alimentado por uma tensão de entrada de 40V e fornece uma
tensão de 15V em sua saı́da, com uma frequência de chaveamento de 10kHz. Nesta
situação, calcule os tempos ton e tof f ;

5. Projete um conversor buck, para alimentar uma carga que opere em 3,3V e consuma
de 0,5A a 7A. A tensão de fonte disponı́vel é 5V e a frequência de chaveamento deve
ser de 50kHz, sendo o ripple de tensão na saı́da inferior a 5% e o regime de condução
contı́nuo. Determine: a) o valor do indutor e do capacitor, b) o ciclo de trabalho,
c) as especificações das chaves semicondutoras, d) Esboce as formas de onda de das
tensões no diodo e no transistor;

6. Esboce as formas de onda de tensão e corrente no indutor, de tensão no diodo e de


tensão no transistor, para um conversor buck trabalhando em condução descontı́nua;

7. Explique como um conversor boost consegue elevar a tensão em sua saı́da em relação
à sua entrada;

8. Para um conversor boost, mostre que a potência de saı́da é igual à potência de


entrada. [Dica: P = V.I];

9. Um conversor boost possui os seguintes parâmetros: Tensão de entrada = 12V;


valor do indutor = 50µH; valor do capacitor = 15µF; frequência de chaveamento
= 100kHz e tensão de saı́da igual a 48V. Determine então: a) O valor do ciclo de

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trabalho, b) o regime real de condução para uma carga de 20Ω, c) a magnitude do


ripple de tensão de saı́da.

10. Considere um conversor buck-boost, com os seguintes parâmetros: Tensão de en-


trada 12V; valor de indutor = 100µH; valor de capacitor = 22µF; frequência de
chaveamento = 100kHz e carga = 1Ω. Determine: a) O valor do ciclo de trabalho
para se obter uma tensão de saı́da igual a 48V e outra igual 5V; b) as especificações
dos semicondutores para ambas as situações do item a);

11. Esboce as formas de onda de tensão no indutor, no diodo e no transistor para um


conversor buck-boost operando em condução descontı́nua.

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Capı́tulo 4

Conversores c.c./c.a. - Inversores

Os inversores são conversores utilizados para se obter uma tensão c.a. variável a partir
de uma tensão c.c.. Esses circuitos encontram muitas aplicações nas áreas industriais e
comerciais, das quais pode-se citar:
• Acionamento de motores de indução;
• UPS - Fonte ininterrupta de energia (”No-breaks”);
• Aquecimento por indução;
• Compensador de reativos;
• etc.
Os inversores podem ser classificados em dois grupos distintos:
• Inversores não-autônomos - São inversores constituı́dos por tiristores e operados à
frequência de rede. As topologias de inversores não-autônomos são idênticas às de
retificadores monofásicos e trifásicos de onda completa, com a diferença que o fluxo
de potência se dá do lado c.c. para o lado c.a.;
• Inversores autônomos - Nestes conversores, a comutação das chaves é definida pelo
circuito de comando, sendo que para isso, é necessário o emprego de chaves do tipo
transistor (MOSFET e IGBT).
O inversores autônomos ainda se distribuem em duas categorias:
• Inversores de tensão (VSI - Voltage Source Inverter ): Nestes inversores, a geração
da tensão c.a. se dá por meio da modulação de uma fonte de tensão c.c. de entrada;
• Inversores de corrente (CSI - Current Source Inverter ): Nestes inversores, a geração
da tensão c.a. se dá pela modulação de uma corrente c.c. de entrada. Normalmente
esses conversores são utilizados em aplicações de potência elevada.
Neste capı́tulo apenas os inversores autônomos VSI serão discutidos, uma vez que este
grupo é muito mais difundido do que os demais.

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4.1 Inversor em ponte completa


A Figura 4.1 apresenta a estrutura de um inversor monofásico em ponte completa.
Essa topologia com quatro chaves é também chamada de ponte H.

Figura 4.1: Estrutura de um inversor monofásico em ponte completa.

Note que as chaves utilizadas no conversor são construı́das com um transistor e um


diodo em anti-paralelo. Essas chaves são bidirecionais em corrente e unidirecionais em
tensão. Esse comportamento é necessário, pois muitas vezes a corrente c.a. de saı́da está
defasada em relação à tensão.
O conversor ponte completa pode ser operado de diversas formas, de acordo com a
sequência de comando das chaves. A seguir serão discutidas algumas dessas técnicas de
operação.

4.1.1 Operação em onda quadrada


Nesta técnica de operação do inversor, uma onda quadrada de frequência controlada
é imposta sobre a carga do inversor. A tensão de saı́da do conversor irá depender da
amplitude da fonte c.c. de entrada. A Figura 4.2 apresenta a forma de onda de saı́da do
conversor, para a operação em onda quadrada.
Note que o sinal de saı́da apresenta dois nı́veis de tensão (+E e -E), onde E é a tensão
da fonte c.c.. Para se estabelecer um sinal +E na saı́da do conversor, as chaves S1 e S4
devem ser acionadas simultaneamente, para se impor uma tensão -E, por outro lado, as
chaves S2 e S3 devem ser comandadas. É importante frisar que em nenhum momento duas
chaves de um mesmo braço (S1 e S2, ou S3 e S4) podem ser comandadas simultaneamente,
se esta restrição não for obedecida, pode-se fechar um curto-circuito na fonte c.c..
Para se sintetizar um sinal puramente alternado na saı́da do conversor, o tempo em que
o conjunto de chaves S1/S4 fica ligado deve ser igual ao tempo em que o conjunto S2/S3
fica ligado. Se houver diferença entre esses tempos, será imposto um nı́vel c.c. sobre a
carga. A frequência fundamental do sinal quadrado é definida como o inversor do perı́odo
formado pela soma dos tempos ligados de cada conjunto de chaves. Conclui-se, portanto,
que a frequência do sinal sintetizado pelo inversor pode ser controlado ao se determinar os
tempos de ligamento das chaves. A tensão de pico da componente fundamental do sinal
de saı́da pode ser definida como:

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Figura 4.2: Forma de onda de tensão na saı́da para operação em onda quadrada.

4
Vo1m = ·E (4.1)
π
A grande desvantagem da operação em onda quadrada está no fato de esta técnica
apresentar uma tensão de saı́da com um conteúdo harmônico muito elevado, como ilustra
a Figura 4.3.

Figura 4.3: Conteúdo harmônico de uma onda quadrada.

Observe que as componentes de baixa frequência apresentam uma amplitude elevada,


o que obriga a utilização de filtros grandes, volumosos e caros para eliminar essas compo-
nentes.

4.1.2 Operação em onda quase-quadrada


Nesta técnica, é inserido um patamar zero na tensão de saı́da, como mostra a Figura
4.4. O patamar nulo é gerado ao se comutar simultaneamente as duas chaves superiores
ou as duas chaves inferiores.

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Figura 4.4: Forma de onda de tensão na saı́da na operação em quase-quadrada.

Esta modificação melhora o conteúdo harmônico da tensão de saı́da, reduzindo a am-


plitude dos harmônicos de baixa ordem. Além disso, permite o controle da tensão eficaz
de saı́da, uma vez que a amplitude da tensão fundamental é dada por:

4
Vo1m = · E · cosα (4.2)
π
Apesar da redução das componentes harmônicas, ainda é necessário utilizar grandes
filtros para extrair do conversor um tensão de saı́da senoidal.

4.1.3 Operação por Modulação por Largura de Pulsos - PWM


Esta técnica produz uma tensão de saı́da muito próxima de uma senoidal. A amplitude
da componente fundamental de tensão é sintetizada por meio da modulação da largura
dos pulsos de uma onda quadrada de alta frequência, de modo que a forma de onda
desejada esteja contida no valor médio desse trem de pulsos. Esta modulação é chamada
de modulação por largura de pulsos, ou PWM (Pulse Width Modulation) do termo em
inglês. A ponte H pode ser operada de duas formas, para formar um sinal PWM:

PWM de 2 nı́veis
Nesta configuração, o sinal PWM possui dois nı́veis de tensão (+E e -E), de modo que
a sequência de comutação se assemelha à discutida na operação em onda quadrada. A
diferença está no controle dos tempos de comutação, o qual é feito por meio da comparação
do sinal de referência (o sinal senoidal que se deseja sintetizar) e uma portadora triangular
de alta frequência, como ilustra a Figura 4.5.
A Figura 4.6 mostra as formas de onda dos sinais de controle do comando PWM e a
tensão na saı́da do conversor. Note que a largura dos pulsos da onda quadrada variam de
acordo com a amplitude do sinal de referência. Uma observação importante de se fazer
é que em nenhum momento a tensão de referência pode apresentar amplitude superior

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Figura 4.5: Circuito de comando das chaves de um PWM de 2 nı́veis.

à amplitude da portadora triangular, caso contrário a caracterı́stica de modulação será


perdida, e o sinal sintetizado apresentará distorções.

Figura 4.6: Formas de onda de controle e de tensão na saı́da de um PWM de 2 nı́veis.

Pode-se definir duas relações para o sinal PWM. A primeira é o ı́ndice de modulação,
o qual é a razão entre a amplitude do sinal de referência e do sinal da portadora:

Vcontrole,m
ma = (4.3)
Vtri,m
Esse ı́ndice, como comentado anteriormente deve estar contido em 0 ≤ ma ≤ 1. Com
isso, a amplitude da componente fundamental do sinal de saı́da será de:

Vo1m = ma · E (4.4)
A segunda relação é a razão de frequência:
mf
rf = (4.5)
fm
Onde: mf é a frequência fundamental da portadora triangular, e fm é a frequência do
sinal de referência.
Quanto maior a razão de frequência, mais fácil será a filtragem dos componentes
harmônicos do sinal PWM, de modo que o filtro se torna mais barato e pequeno. A

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desvantagem é que quanto maior a razão de frequência, mais vezes em um perı́odo as


chaves irão comutar e maiores serão as perdas devido à essa comutação. Para compreender
como que a razão de frequência afeta o conteúdo harmônico, observe o espectro mostrado
na Figura 4.7.

Figura 4.7: Conteúdo harmônico de um PWM de 2 nı́veis.

Note que a componente de referência aparece na região de baixa frequência do espectro


do sinal PWM. Em alta frequência aparecem os harmônicos da portadora triangular e raias
de intermodulação, ou seja, de componentes de frequência compostas por harmônicos da
portadora somados com harmônicos do sinal de referência. O primeiro conteúdo de alta
frequência surge nos arredores do primeiro harmônico da portadora triangular, assim
sendo, se a razão de frequência for suficientemente alta, um pequeno filtro passa-baixas
será capaz de eliminar esses componentes e deixar apenas o sinal de referência. A Figura
4.8 mostra o sinal PWM filtrado por um passa-baixas.

Figura 4.8: Sinal PWM filtrado.

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Note que o efeito do filtro é defasar o sinal de tensão e corrente. O que faz com que em
alguns momentos, em uma chave, o diodo, e não o transistor, é quem esteja conduzindo.

PWM 3 nı́veis
Outra forma de operar o conversor com modulação PWM é comandar cada braço da
ponte H de forma independente. O primeiro braço é acionado com os comandos PWM
discutidos anteriormente, o segundo braço é comandado com sinais PWM gerados a partir
do sinal de referência deslocado 180o , como mostra o circuito de comando apresentado na
Figura 4.9.

Figura 4.9: Circuito de comando de um PWM de 3 nı́veis.

Essa modificação do circuito de comando faz com que a forma de onda de tensão de
saı́da se torne como é mostrado pela Figura 4.10.

Figura 4.10: Formas de onda de comando e tensão na saı́da de um PWM de 3 nı́veis.

Note que agora, o sinal PWM possui 3 nı́veis de tensão (+E, 0 e -E), sendo que
a composição das chaves para gerar esses nı́veis é a mesma apresentada na operação
quase-quadrada. Os conceitos de ı́ndice de modulação e razão de frequência se mantém
os mesmos, contudo, o conteúdo harmônico do sinal PWM se modifica. A Figura 4.11
apresenta o espectro do sinal PWM de 3 nı́veis.

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Figura 4.11: Espectro de um PWM de 3 nı́veis.

Note que a operação em 3 nı́veis faz com que o primeiro conteúdo harmônico de alta
frequência a aparecer no espectro do sinal PWM se refere às raias de intermodulação em
torno do 2o harmônico da portadora triangular. Isso indica que a operação em 3 nı́veis
faz com que a frequência de chaveamento percebida pela carga seja o dobro da frequência
de chaveamento real. Assim, o mesmo inversor necessitaria de um filtro menor do que na
operação em 2 nı́veis, para obter a mesma forma de onda de saı́da senoidal.

4.2 Inversores em meia-ponte


Uma outra configuração de inversor monofásico é a configuração em meia-ponte, como
a mostrada na Figura 4.12. Essa configuração apenas pode ser operada em modo de
onda quadrada e de PWM 2 nı́veis, uma vez que só existe um braço de transistores a ser
comandado e sendo que as chaves devem operar de forma complementar.

Figura 4.12: Circuito de um inversor em meia-ponte.

Neste conversor, a tensão de saı́da apenas pode atingir dois nı́veis de tensão: +E/2 e
-E/2, de modo que a fundamental de tensão para o caso de onda quadrada se torne:

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4 E
VO1m = · (4.6)
π 2
No caso da operação em PWM 2 nı́veis, a fundamental de tensão se torna:
E
VO1m = ma · (4.7)
2
A vantagem de se utilizar um inversor em meia-ponte é a utilização de apenas um braço
de chaves, e consequentemente apenas um conjunto de drivers para essas chaves. Contudo,
existirá a necessidade de se utilizar duas fontes c.c. de tensão de entrada, simétricas, o
que demanda o uso de grandes bancos capacitivos.

4.3 Inversores trifásicos


Pode-se construir um inversor trifásico pela associação de três inversores monofásicos
de meia-ponte, como é apresentado na Figura 4.13.

Figura 4.13: Circuito de um inversor trifásico.

O comando de cada braço é feito com base na operação PWM 2 nı́veis, sendo que a
tensão de referência de cada braço é uma senóide do plano de fases trifásicas (120o de
defasagem). Note que a carga é conectada em Y não aterrado. Assim, pode-se definir três
tensões de saı́da para o conversor:

• Tensão entre fase e o neutro da fonte c.c. - VAN ;

• Tensão entre fase e o neutro da carga - VAO ;

• Tensão entre fases - VAB .

A Figura 4.14 apresenta as formas de onda de controle do conversor e as tensões de


fase VAN , VBN e a tensão entre as fases A e B.
Note que a tensão entre fase-neutro apresenta uma caracterı́stica de 2 nı́veis, enquanto
que a tensão fase-fase é de 3 nı́veis. O espectro de cada forma de onda se assemelha

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Figura 4.14: Formas de onda de controle, tensão nas fases A e B e tensão de fase-fase.

muito com os já discutidos para o PWM 2 nı́veis e o 3 nı́veis. Desta forma, nota-se que o
inversor trifásico é capaz de fornecer uma forma de onda de tensão nos terminais da carga
que possa facilmente ser convertido em um sinal senoidal, com a aplicação de um filtro
passa-baixas simples.
A Figura 4.15 apresenta 3 formas de onda para a tensão de saı́da do conversor. Note
que a tensão VAO , ou seja, entre a fase e o neutro da carga, em nada se iguala à tensão
fase-neutro da fonte c.c.. Isso indica que existe uma tensão entre o neutro da carga e o
neutro da fonte. Essa tensão é apresentada na Figura 4.16.

Figura 4.15: Formas de onda de tensão fase-N, fase-fase e fase-O.

A existência dessa tensão de modo-comum é um dos motivos de não se conectar o


neutro da carga em uma aplicação de inversor trifásico. Se houvesse um caminho de
conexão entre o neutro da carga e o neutro da fonte, ou até mesmo o terra do circuito,

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Figura 4.16: Formas de onda de tensão fase-fase e entre os neutros da carga e da fonte.

haveria a circulação de uma corrente de neutro. Essa corrente possuiria uma frequência
muito alta e poderia interferir no funcionamento de sistemas de proteção, além de aquecer
o transformador alimentador do sistema de acionamento.

4.4 Exercı́cios propostos


1. Qual a função dos inversores?

2. Qual a vantagem de se utilizar um inversor operando em PWM 3 nı́veis em relação


a um PWM 2 nı́veis?

3. Em um inversor, para que serve os diodos em anti-paralelo com os transistores?


Explique em que situações eles conduzem?

4. Cite algumas aplicações de inversores trifásicos nas indústrias.

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Capı́tulo 5

Conversores c.a./c.c. - Retificadores


Monofásicos de Meia-onda

Neste capı́tulo serão abordados os retificadores monofásicos de frequência de linha


de meia-onda. Os estudos serão focados nos retificadores controlados (a tiristor) e não-
controlados (a diodos) e sua aplicação com cargas R, RL e RLE.

5.1 Retificadores de meia-onda não-controlados


Os retificadores monofásicos de meia-onda são caracterizados pela associação de uma
chave semicondutora (diodo ou tiristor) em série com a carga. Esses retificadores são
também chamados de retificadores de 1 pulso, pois o ripple de tensão apresentado por sua
tensão de saı́da possui a mesma frequência da tensão de entrada do circuito.

5.1.1 Carga resistiva


A Figura 5.1 apresenta a configuração de um retificador de meia-onda (RMO) com
uma carga puramente resistiva.

Figura 5.1: Circuito de um retificador de meia-onda não controlado com carga resistiva.

Neste circuito, o diodo retificador se encontra em série com a fonte de energia (rede
elétrica) e com a carga, de modo que as correntes na rede (IS ), no diodo (Id ) e na carga

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(Io ) são iguais. O diodo entrará em condução sempre que a tensão da fonte for positiva
e bloqueará quando ela for negativa. Com essas considerações, encontra-se as formas de
onda apresentadas na Figura 5.2.

Figura 5.2: Formas de onda para um RMO com carga resistiva.

Como comentado, nota-se que durante o semi-ciclo positivo da tensão de rede (Vs )
o diodo está em condução (queda de tensão nula) e toda tensão de entrada aparece na
saı́da do circuito. Durante o semi-ciclo negativo, no entanto, o diodo bloqueia, de modo
que não há circulação de corrente e a tensão na saı́da será nula. Consequentemente, no
semi-ciclo negativo, a tensão reversa da fonte é bloqueada pelo diodo. Observa-se também
que, como a carga é puramente resistiva, as formas de onda de tensão na saı́da e corrente
na saı́da são idênticas, a menos das suas amplitudes.
A tensão contı́nua produzida pelo retificador está contida no valor médio da tensão de
saı́da, como exemplifica a Figura 5.3.

Figura 5.3: Forma de onda da tensão na saı́da do RMO e seu valor médio.

O cálculo do valor médio de tensão é realizado por meio da soma das áreas sob a curva
de tensão ao longo de um perı́odo. Como o retificador de 1 pulso apenas apresenta um

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lóbulo de tensão ao longo de um perı́odo, o valor médio será:


A1
VO(med) = (5.1)
T
As formas de onda envolvidas em retificadores de frequência de linha normalmente são
senoidais ou fração de ondas senoidais, o que faz com que, ao se calcular o valor médio,
seja necessário determinar áreas sob curvas trigonométricas. A melhor solução para este
problema seria o cálculo da integral das formas de onda ao longo do perı́odo do sinal de
saı́da, contudo, esses conceitos matemáticos não fazem parte da estrutura do curso. Logo,
neste texto, apenas a solução das equações de valor médio serão apresentadas. Caso o
aluno se interesse em conhecer as etapas da resolução dessas equações, é aconselhável a
consulta da referências [1] e [3].
O valor médio de tensão obtido na saı́da de um retificador não-controlado de meia-onda
pode ser calculado por:
Vm
VO(med) = (5.2)
π
Onde Vm é o valor de pico da tensão senoidal de entrada.
Como a forma de onda de corrente é idêntica à forma de onda de tensão, pode-se
encontrar o valor da corrente média:
VO(med)
IO(med) = (5.3)
R
A potência dissipada pela carga pode ser calculada pela seguinte expressão:

PO = R · IO(RM
2
S) (5.4)
Nota-se portanto que será necessário definir o valor da corrente RMS de saı́da, a qual
é descrita neste caso como:
Vm
IO(RM S) = (5.5)
2R
Assim, a potência dissipada será:

Vm2
PO = (5.6)
4R
Em relação ao diodo, a corrente média no diodo será igual à corrente média na carga,
logo:

ID(med) = IO(med) (5.7)


E a tensão de pico reversa, a qual o diodo será exposto, será igual ao valor de pico
inverso da tensão de entrada, ou seja:

T P I = Vm (5.8)

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Exemplo de cálculo

Um retificador monofásico de meia-onda não-controlado com carga resistiva é alimen-


tado por uma tensão de linha de 220Vrms e aciona um banco resistivo de 15Ω. Calcule
o valor da tensão e corrente média na saı́da do circuito, calcule a potência dissipada na
saı́da e especifique os parâmetros de dimensionamento do diodo retificador.
Resolução:
O primeiro passo é encontrar a tensão de pico da forma de onda de entrada. O
problema indica que o retificador é alimentado por uma tensão de 220Vrms, a qual, como
já se sabe, possui uma forma de onda senoidal. Assim, o valor de pico será:

Vm = 220V × 2 ≈ 311V (5.9)

Uma vez conhecida a tensão de pico da forma de onda de entrada, pode-se calcular os
valores médios na saı́da do conversor:

1
VO(med) = · 311 = 99V (5.10)
π

99V
IO(med) = = 6, 6A (5.11)
15Ω
A potência dissipada na saı́da será igual a:

3112
PO = = 1.612W (5.12)
4 · 15Ω
O diodo a ser utilizado deve suportar uma corrente de 6,6A (mesma corrente de saı́da)
e uma TPI de 311V (valor de pico inverso da tensão de rede).

5.1.2 Carga RL
Em muitas aplicações industriais, as cargas dos sistemas de eletrônica de potência
podem exibir uma forte caracterı́stica indutiva, principalmente devido à bobinas e longos
cabos e conexão. Assim, se torna necessário verificar as modificações trazidas pela inserção
de um elemento indutivo na carga de um retificador. A Figura 5.4 mostra o circuito de
um RMO com carga RL.
As formas de onda de tensão e corrente na saı́da do circuito são apresentadas na Figura
5.5. Nota-se que o indutor provoca um atraso da evolução da corrente em relação à tensão,
sendo o ângulo de defasagem igual a ϕ. Com isso, quando a tensão na saı́da atinge o nı́vel
zero, o que ocorre no ângulo π, ainda existe corrente circulando no circuito. Como o
indutor não permite uma variação brusca de corrente, ele gerará um f.c.e.m (força contra
eletromotriz) que manterá o diodo conduzindo até que a corrente no circuito se anule. A
anulação da corrente ocorre no ângulo β, chamado de ângulo de extinção.

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Figura 5.4: Circuito de um RMO com carga RL.

Figura 5.5: Formas de onda de tensão e corrente na saı́da de um RMO com carga RL.

O intervalo de extinção te 1 indica a diferença de tempo de condução entre o RMO com


carga RL e o RMO com carga R. A duração de te dependerá do valor da parcela indutiva
da carga, ou seja, quanto maior for a reatância da carga, maior será o tempo necessário
para que ocorra a extinção da corrente. Observe que, como consequência da existência do
intervalo de extinção, a forma de onda de tensão na saı́da apresenta uma parcela negativa,
a qual irá reduzir o valor médio produzido.
Nesta nova condição, o valor médio de saı́da pode ser definido como:

Vm 1 − cosβ
VO(med) = · (5.13)
π 2
A corrente média na carga dependerá apenas do valor da resistência, uma vez que o
valor médio de tensão sobre um indutor é nulo. Assim:

1 β−π
te = , sendo f a frequência do sinal de entrada.
2πf

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VO(med)
IO(med) = (5.14)
R
A Figura 5.6 mostra as curvas de tensão sobre o indutor e sobre o diodo. Note que,
como o diodo se mantém em condução durante uma parcela do semi-ciclo negativo, existe
um transição de tensão muito rápida no bloqueio do componente. A tensão no indutor
mostra como que o circuito consegue manter o diodo conduzindo durante o semi-ciclo
negativo: Observe que quando a senoide de entrada cruza o eixo zero, o indutor possui
uma tensão mais negativa do que a tensão de entrada, logo, o diodo enxerga uma diferença
de potencial positiva e se mantém em condução. No instante em que a tensão de entrada se
torna mais negativa do que a tensão no indutor, o diodo se torna reversamente polarizado
e bloqueia.

Figura 5.6: Formas de onda de tensão no indutor e no diodo.

5.1.2.1 Definição do ângulo de extinção


A definição dos valores da tensão e da corrente média na saı́da do RMO com carga
RL depende do conhecimento do ângulo de extinção. A determinação desse parâmetro,
entretanto, não pode ser feita de forma analı́tica. Assim sendo, para que se possa resolver
problemas envolvendo os RMO com carga RL utiliza-se um ábaco, como o apresentado
na Figura 5.7.
As etapas de utilização desse ábaco são as seguintes:

• Primeiramente defina o valor da reatância indutiva da carga. XL = 2πf L. Sendo f


a frequência da senóide de rede;
( )
XL
• Calcule o ângulo de defasagem do circuito: ϕ = arctg ;
R

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Figura 5.7: Ábaco de definição do ângulo de extinção da corrente.

• Leia no ábaco o valor do ângulo de extinção para o ângulo de defasagem encontrado.

Exemplo de cálculo
Um retificador de meia-onda não controlado é alimentado com uma tensão de 380Vrms
e 60Hz. A carga do circuito é composta por um resistor de 16Ω e um indutor de 50mH.
Calcule a tensão e a corrente média na saı́da.
Resolução
Para se calcular os valores de tensão e corrente, primeiramente deve-se definir o valor
do ângulo de extinção. Para tal deve-se seguir as etapas definidas na seção anterior.
- Definição do valor da reatância indutiva.

XL = 2πf L = 2π · 60Hz · 50 × 10−3 H = 18, 85Ω (5.15)


- Definição do ângulo de defasagem.
Conhecendo o valor da reatância indutiva, pode-se calcular o ângulo de defasagem do
circuito:
( ) ( )
XL 18, 85Ω
ϕ = arctg = arctg = 49, 67o (5.16)
R 16Ω
- Leitura do ábaco.
No ábaco não se possui a precisão necessária para se ler uma informação com o ângulo
de defasagem calculado. Assim sendo, neste caso, o ângulo foi aproximado para o valor
de 50o . Pelo ábaco da Figura 5.7, para um ângulo de defasagem ϕ = 50o , o ângulo de
extinção será de aproximadamente 230o .

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Uma vez conhecido o ângulo de extinção, a tensão média de saı́da pode ser definida
como:

380V rms · 2
VO(med) = · (1 − cos230o ) = 140, 5V (5.17)

A corrente média será igual a:
140, 5V
IO(med) = = 8, 78A (5.18)
16Ω
Apenas para termos de comparação, caso a parcela indutiva não existisse, o valor da
tensão média de saı́da seria de 171V e a corrente média estaria em torno de 10,7A. Isso
mostra que a presença do indutor reduz o fator de conversão do retificador.

5.1.3 Carga RL com diodo de roda-livre


Como foi discutido a presença do indutor na carga do retificador faz com que haja a
presença de uma parcela negativa de tensão na saı́da, a qual é responsável por diminuir o
valor médio da saı́da e consequentemente, a eficácia de conversão. Uma solução simples
para melhorar o desempenho do conversor é adicionar ao circuito um diodo de roda-livre,
como é mostrado na Figura 5.8.

Figura 5.8: Circuito RMO com carga RL e diodo de roda-livre.

A função do diodo D2 é proporcionar um caminho para que a corrente no indutor


circule, sem que o diodo D1 tenha que participar da condução. Desta forma, quando a
tensão na saı́da tende a ficar negativa, o diodo D2 entra em condução e mantém a tensão
VO = 0. Desta forma, a parcela negativa da tensão VO deixa de ocorrer. A Figura 5.9
apresenta as formas de onda envolvidas no circuito.
Observe que a forma de onda de tensão na saı́da é idêntica à observada com carga
puramente resistiva. A curva de corrente no entanto sofre uma pequena alteração. Nota-
se que durante o semi-ciclo positivo, o diodo D1 conduz a corrente de carga. No semi-ciclo
negativo, porém, a corrente de carga é conduzida pelo diodo D2 , o que estende o tempo
de extinção da corrente.
Nesta situação, a tensão média de saı́da será dada por:

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Figura 5.9: Formas de onda no circuito RMO com carga RL e diodo de roda-livre.

Vm
VO(med) = (5.19)
π
A corrente de carga será dada por:

VO(med)
IO(med) = (5.20)
R
E o novo tempo de extinção pode ser definido como:
[ ( )]
L
β = π + 2πf · 5 (5.21)
R
OBS: Nesta situação, o ângulo de extinção pode ser superior a 360o , o que indicaria
que na realidade a corrente nunca chegaria a zero, ou seja, ela nunca se extinguiria. Caso
essa situação ocorra, diz-se que o circuito entrou em regime de condução contı́nua.

5.1.4 Carga RLE


Em muitas aplicações de circuitos retificadores, o conversor alimenta um motor de
corrente contı́nua. Essa carga exibe além de uma impedância de entrada, representada
por elementos R e L, um força eletromotriz induzida, a qual é modelada para fins de
circuitos como uma tensão contı́nua (E). Assim, a carga RLE constitui um importante
elemento de circuitos. Nesta seção, o comportamento do retificador monofásico de meia-
onda com carga RLE será analisado.
A Figura 5.10 apresenta um circuito RMO com carga RLE.
No caso da carga RLE, a saı́da possui uma tensão contı́nua. Logo, o diodo apenas
entrará em condução quando a tensão de entrada for superior ao valor da tensão E. Além

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Figura 5.10: Circuito RMO com carga RLE.

disso, quando o diodo entrar em condução, o indutor irá provocar o defasamento entre
corrente e tensão. As formas de onda de tensão e corrente na saı́da se tornam como as
apresentadas na Figura 5.11.

Figura 5.11: Formas de onda de tensão e corrente na saı́da do circuito RMO com carga
RLE.

Note que agora existem três etapas de funcionamento:

• VS < E e IO = 0 - nesta etapa o diodo está bloqueado e a tensão na saı́da é igual à


tensão na carga, ou seja, Vo = E;

• VS > E - O diodo entra em condução e o indutor atrasa a corrente de carga;

• VS < E e IO > 0 - nesta etapa o indutor irá manter o diodo conduzindo até a
corrente de carga se anular.

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Observa-se que o diodo apenas conduzirá entre os ângulos α (disparo) e β (extinção).


Essa situação reduz ainda mais o valor médio da corrente de carga em relação às montagens
anteriores. A tensão média na saı́da, por sua vez, é definida como:
[ ]
E
(cosα − cosβ) + (α − β)
Vm Vm
VO(med) = · +E (5.22)
π 2
A corrente média pode ser encontrada, ao se determinar o valor de tensão médio sobre
o resistor de carga:

VO(med) − E
IO(med) = (5.23)
R

5.1.4.1 Definição dos ângulos para carga RLE


Assim como ocorre no RMO com carga RL, a definição dos ângulos necessários para
se calcular os valores de tensão e corrente média na saı́da do retificador é feita com auxı́lio
de um ábaco. Contudo, neste caso, utiliza-se o ábaco de Puschlowski, apresentado na
Figura 5.12. Este ábaco apresenta uma famı́lia de curvas, cuja utilização depende dos
parâmetros do circuito. As etapas para se determinar os ângulos de disparo e extinção
são:
E
• Calcula-se o fator a: a = ;
Vm
• Determina-se o ângulo de disparo: α = arcsen(a);
( )
XL
• Calcula-se o ângulo de defasagem do sistema: ϕ = arctg ;
R

• Define-se o fator de potência da carga: f.p. = cosϕ;

• De posse do fator a e do fator de potência, escolhe-se uma das curvas do ábaco e


define-se o valor do ângulo de extinção em função do ângulo de disparo.

Exemplo de cálculo
Um retificador de meia-onda é alimentado com uma tensão de 127Vrms e frequência
de rede. A carga do RMO é formada por uma resistência de 10Ω, uma indutância de
50mH e uma f.e.m induzida de 70V. Para este sistema, calcule os valores da tensão e da
corrente média de saı́da.
Resolução
Primeiramente, deve-se definir os ângulos de disparo e extinção do conversor. Seguindo
as etapas propostas na seção anterior, têm-se:
- Definição do fator a

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Figura 5.12: Ábaco de Puschlowski. Não é válido para sistemas com efeito de roda-livre.

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E 70V
a= = √ ≈ 0, 4 (5.24)
Vm 127V · 2
- Definição do ângulo de disparo

α = arcsen(a) = arcsen(0, 4) = 23, 6o (5.25)


- Definição do ângulo de defasagem
( ) ( )
XL 2π · 60Hz · 50mH
ϕ = arctg = arctg = 62, 1o (5.26)
R 10Ω
- Definição do fator de potência

f.p. = cosϕ = 0, 46 ≈ 0, 5 (5.27)


Uma vez definidos os parâmetros necessários, pode-se lançar mão do ábaco. Porém
observa-se que não existe no ábaco uma curva para cosϕ = 0, 5. Com isso se torna
necessário a interpolação das informações do ábaco. Para tal, se definirá o ângulo de
extinção para um cosϕ = 0, 4 e outro para cosϕ = 0, 5 e então será realizada uma média
dos valores.
Para fazer a leitura do gráfico, se utilizará a curva com base em a = 0, 4 e então se
seguirá a curva de cosϕ = 0, 4, ou seja, a terceira curva de cima para baixo. No ponto
onde essa curva encontra o ângulo de disparo de 23o , se define um ângulo de extinção
de aproximadamente 210o . Fazendo o mesmo para a curva de cosϕ = 0, 6, a quarta de
cima para baixo, obtém-se um ângulo de extinção de aproximadamente 200o . O ângulo
de extinção desejado será então:
210o + 200o
β= = 205o (5.28)
2
Uma vez conhecido os ângulos, pode-se calcular o valor da tesão média:
√ [ ]
127V 2 70V
VO(med) = (cos23 − cos205 ) +
o o
√ (0, 4014rad − 3, 5779rad) + 70V
2π 127V 2
(5.29)
179, 6V
VO(med) = [(1, 8268) + 0, 3897(−3, 1765)] + 70V (5.30)

179, 6V
VO(med) = [1, 8268 − 1, 2379] + 70V (5.31)

VO(med) = 86, 8V (5.32)


A corrente média será, portanto:
VO(med) − E 86, 8V − 70V
IO(med) = = = 1, 68A (5.33)
R 10Ω

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5.2 Retificadores de meia-onda controlados


Os retificadores controlados utilizam tiristores como chaves estáticas, de modo a per-
mitirem o controle do valor médio da tensão na saı́da do conversor. A principal aplicação
dos retificadores controlados é o acionamento de motores de corrente contı́nua (M.C.C),
uma vez que nestes equipamentos a velocidade angular do eixo é controlada por meio da
variação da tensão aplicada à armadura.

5.2.1 Carga resistiva


O circuito de um retificador monofásico de meia-onda controlado é apresentado na
Figura 5.13. Note que devido à substituição da chave estática é necessária a utilização de
um circuito de comando de gate (Gate drive), para acionar o SCR.

Figura 5.13: Circuito de um RMO controlado com carga resistiva.

As formas de onda de tensão e corrente na saı́da do circuito são apresentadas na Figura


5.14.

Figura 5.14: Formas de onda de tensão e corrente na saı́da de um RMO controlado com
carga R.

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Note que no inı́cio de cada perı́odo, o SCR se encontra diretamente polarizado, uma
vez que a tensão de entrada é positiva. Porém, o dispositivo apenas entrará em condução
quando houver a aplicação de um pulso de gate. Uma vez conduzindo, o SCR se porta
como um diodo e será bloqueado quando a corrente que por ele flui se anular, ou seja, o
SCR apenas pode ser bloqueado de forma natural.
Observa-se que a atuação do SCR produz um recorte na forma de onda do retificador
de meia-onda vista anteriormente. Essa modificação altera a magnitude do valor médio
da tensão de saı́da, que agora será dependente do ângulo de disparo α. A nova tensão
contı́nua na saı́da do conversor pode ser definida como:

Vm (1 + cosα)
VO(med) = · (5.34)
π 2
Comparando-se a tensão média obtida neste caso, com a definida para o retificador
de meia-onda não-controlado, poderá se notar que o efeito do controle é o acréscimo do
1 + cosα
fator de correção ao valor médio original. O efeito, obviamente, irá se refletir
2
na potência entregue à carga, a qual pode ser descrita como:
 
sen(2α)
V2  π − α +
2 
PO = m ·   (5.35)
4R π

Novamente, percebe-se que o efeito do controle se reflete em um fator de correção


acrescido à potência fornecida por um RMO não-controlado. Ao se traçar os fatores de
correção de tensão e potência em função do ângulo de disparo, pode-se perceber o efeito do
controle sobre essas grandezas. A Figura 5.15 apresenta o gráfico dos fatores de correção.

Figura 5.15: Fatores de correção em função do ângulo de disparo.

Nota-se que à medida que o ângulo de disparo aumenta, a tensão média e a potência
na saı́da do circuito irá diminuir, contudo a relação entre o disparo e essas grandezas não

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segue uma caracterı́stica linear. Como um exemplo, note que para ângulos de disparo até
20o , o efeito sobre a potência de saı́da é praticamente insignificante e a redução de tensão
é inferior a 5%. Contudo, entre um ângulo de disparo de 20o e um de 40o , percebe-se um
redução de 7% na potência e aproximadamente 9% na tensão.

Exemplo de cálculo
1 - Um retificador monofásico de meia-onda controlado com carga resistiva é alimen-
tado por uma tensão de linha de 220Vrms e aciona um banco resistivo de 15Ω. Calcule
o valor da tensão e corrente média e a potência dissipada na saı́da, para um ângulo de
disparo de 30o .
Resolução
Uma vez conhecido o ângulo de disparo a tensão média pode ser encontrada, fazendo-
se:

220V 2 1 + cos30o
VO(med) = · = 92, 4V (5.36)
π 2
A corrente média, pode ser encontrada fazendo:

VO(med) 92, 4V
VO(med) = = = 6, 16A (5.37)
R 15Ω
A potência na saı́da será:
 
√ sen(2 · 30o )
(220V 2)2  π − 0, 5236rad + 2 
PO = ·  = 1.566, 8W (5.38)
4 · 15Ω π

2 - Um retificador de meia-onda controlado é alimentado por uma tensão de 127Vrms


e produz em sua saı́da uma tensão média de 40V. Defina o ângulo de disparo, o fator de
redução de tensão e a redução de potência no circuito.
Resolução
Neste caso não se sabe de antemão o valor do ângulo de disparo, contudo, pode-se
encontrar essa informação ao se lembrar que o efeito do controle do conversor é reduzir a
tensão de saı́da de um retificador de meia-onda não controlado. Assim sendo, o primeiro
passo seria calcular qual deveria ser a tensão média na saı́da de um RMO não-controlado:

∗ Vm 127V 2
VO(med) = = = 57, 2V (5.39)
π π
Desta forma, sabe-se que o fator de correção da tensão será de:

1 + cosα 40V
= = 0, 6993 (5.40)
2 57, 2V
Assim, pode-se encontrar o valor do ângulo de disparo:

Prof. Thiago R. de Oliveira 69 Automação Industrial


Eletrônica Industrial

1 + cosα = 2 · 0, 6993 = 1, 3986 (5.41)

cosα = 1, 3986 − 1 = 0, 3986 (5.42)

α = arccos(0, 3986) = 66, 5o (5.43)


Em seguida, deve-se descobrir qual foi a redução da potência do circuito, para isso,
basta calcular o fator de correção para a potência, o qual é dado por:

sen(2α)
π−α+ π − 1, 1606rad + sen(2 · 66, 5o )/2
2 = = 0, 745 (5.44)
π π
Com isso têm-se informações suficientes para responder a questão:
a) ângulo de disparo - 66,5o ;
b) Fator de redução da tensão - O fator de correção da tensão é de 0,6993, ou seja,
a tensão de saı́da é 69,93% da tensão original, o que indica, que houve uma redução de
30,07%;
c) Fator de redução da potência - O fator de correção da potência é de 0,745, o que
indica uma redução de 25,5% na potência original.

5.2.2 Carga RL
A Figura 5.16 apresenta o circuito de um retificador de meia-onda controlado com
carga RL.

Figura 5.16: Circuito de um retificador de meia-onda controlado com carga RL.

Assim como no circuito não-controlado, o indutor irá atrasar a evolução da corrente e


provocar nı́veis de tensão negativos na saı́da do circuito. A Figura 5.17 mostra as formas
de onda de saı́da do circuito.
Agora, além do ângulo de disparo, a tensão média na saı́da do retificador será depen-
dente do ângulo de extinção β. A tensão média na saı́da do circuito será dada, então,
por;
Vm cosα − cosβ
VO(med) = · (5.45)
π 2

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Figura 5.17: Formas de onda de tensão e corrente na saı́da do circuito RMO controlado
com carga RL.

5.2.2.1 Definição do ângulo de extinção

Como o ângulo de disparo α é um parâmetro de controle do conversor, para se deter-


minar o valor da tensão média de saı́da é necessário conhecer o valor do ângulo de extinção
da corrente. A definição deste parâmetro é feita com o auxı́lio do ábaco de Puschlowski
(Figura 5.12). O procedimento para encontrar o ângulo β é o mesmo descrito anterior-
mente, no entanto, no caso deste conversor com carga RL, têm-se as seguintes considera-
ções:
a) O ângulo α é definido pelo sistema de controle;
b) Como não há nenhuma f.e.m na carga (E = 0), o fator a é nulo (a = 0);

Exemplo de cálculo

Um retificador de meia-onda controlado alimenta uma carga de impedância de 25∠66, 4o Ω.


Sendo a tensão de entrada igual a 90Vrms/60Hz, defina os valores da tensão e corrente
média de saı́da para um ângulo de disparo de 40o .
Resolução
Para solucionar o problema será necessário definir o ângulo de extinção da corrente.
Para tal, precisa-se do ângulo de disparo, o qual foi fornecido pelo problema e do fator de
potência da carga. Esta informação pode ser derivada a partir do conhecimento do ângulo
de defasagem da carga, porém, ao se representar uma carga RL por sua forma polar, o
argumento da representação é exatamente o ângulo de defasagem, desta forma, o fator de
potência se torna:

f.p. = cosϕ = cos66, 4o = 0, 4 (5.46)

Prof. Thiago R. de Oliveira 71 Automação Industrial


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Utilizando o ábaco de pushlowsky, a curva a ser utilizada está na famı́lia de base a = 0


e para um f.p. = 0, 4. Seguindo-se essa curva até um ângulo de disparo igual a 40o ,
obtém-se um ângulo de extinção igual a:

β = 252o (5.47)
Assim, o valor médio de tensão será de:

90V 2
VO(med) = · (cos40o − cos252o ) = 21, 78V (5.48)

Para calcular agora o valor da corrente média, será necessário conhecer o valor da
resistência de carga. Sabe-se que uma impedância é representada pela seguinte expressão
retangular:

Z = R + jXL = R + j2πf L (5.49)


Fazendo uma transformação polar-retangular, encontra-se uma impedância de Z =
10 + j22, 9Ω. Assim, por associação, pode-se dizer que a resistência de carga é igual a
R = 10Ω. Deste modo:
VO(med) 21, 78V
IO(med) = = = 2, 18A (5.50)
R 10Ω

5.2.3 Carga RLE


Como comentado uma das aplicações mais importantes de retificadores controlados é
o acionamento de m.c.c., o qual pode ser modelado como uma carga RLE. Nesta seção,
será discutido o funcionamento do retificador de meia-onda controlado com este tipo de
carga. A Figura 5.18 apresenta o circuito de um RMO controlado com carga RLE.

Figura 5.18: Circuito RMO controlado com carga RLE.

As formas de onda de tensão e corrente na saı́da são apresentadas na Figura 5.19.


Note que devido à existência da f.e.m da carga, o tiristor apenas poderá entrar em
condução quando a tensão de entrada for superior ao valor de E. Isso faz com que a faixa

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Figura 5.19: Formas de onda de tensão e corrente na saı́da do RMO controlado com carga
RLE.

de controle do conversor seja limitada, ou sejam, esse tipo de conversor apenas poderá
assumir ângulos de disparo que obedeçam a seguinte restrição:

α1 ≤ α ≤ α2 (5.51)
Onde:  ( )
 E
α1 = arcsen
Vm (5.52)

α2 = π − α1
A tensão média de saı́da para este retificador possui o mesmo formato daquela definida
para o retificador não-controlado com carga RLE. No entanto, agora, o ângulo de disparo
é definido pelo sistema de controle.
[ ]
E
(cosα − cosβ) + (α − β)
Vm Vm
VO(med) = · +E (5.53)
π 2
A corrente média também segue o mesmo conceito:
VO(med) − E
IO(med) = (5.54)
R
A definição dos ângulos de extinção segue o mesmo procedimento descrito anterior-
mente para a leitura de informações no ábaco de puschlowski.

5.3 Exercı́cios propostos


1. Qual a função de um retificador?

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2. Qual o efeito de um diodo de roda-livre em um circuito retificador com carga RL


com baixo fator de potência?

3. Um retificador monofásico de meia-onda a diodo é alimentado com uma tensão de


380Vrms/60Hz, e está conectado a uma carga puramente resistiva de 5Ω. Calcule:
a) A tensão média de carga; b) A corrente média de carga; c) As especificações do
diodo retificador.

4. Para o retificador do exercı́cio anterior, considere uma carga com R = 5Ω e L =


65mH. Calcule: a) O valor da tensão média de carga; b) O valor da corrente média
de saı́da; c) Esboce as formas de onda de tensão na carga e no diodo, explicitando
as grandezas e parâmetros mais relevantes;

5. Um retificador RMO não-controlado é alimentado por uma tensão senoidal de 220Vrms


e aciona uma carga de 21, 34∠62o Ω. Para este caso determine: a)Tensão média de
carga; b) corrente média de carga; c) O ângulo de extinção da corrente.

6. Considere uma carga RLE de valores 0, 5Ω, 4mH e 600V, respectivamente. Essa
carga é alimentada por um retificador não-controlado de meia-onda de tensão de
entrada 500Vrms, 50Hz. Para essa situação faca: a) Calcule o valor da corrente
média de saı́da, b) Calcule a potência absorvida pela fonte da carga; c) Esboce as
formas de onda de tensão na saı́da e no diodo do retificador;

7. Para um retificador controlado de meia-onda com tensão de entrada igual a 220Vrms,


60Hz e carga igual a 10Ω, determine o ângulo de disparo necessário para garantir
uma tensão de saı́da média igual a 80V.

8. Uma lâmpada incandescente de 60W/127V é conectada a um RMO controlado, com


ângulo de disparo em 60o . Se a tensão de entrada do conversor é de 220Vrms, qual
o valor da tensão média aplicada à lâmpada e qual a potência por ela dissipada?

9. Considere um retificador controlado de meia-onda com tensão de entrada igual a


127Vrms, 60Hz e carga igual a 20Ω e 100mH. Caso o tiristor seja disparado com um
ângulo de 15o , nessa situação determine: a) o ângulo de extinção da corrente; b) a
tensão sobre a carga; c) Esboce a forma de onda da tensão e da corrente na carga.

10. Um carregador de baterias industrial foi construı́do por meio de um retificador


monofásico de meia-onda. A tensão de entrada do retificador é de 440Vrms/60Hz.
O banco de baterias possui uma tensão nominal de 350V e os cabos de conexão entre
o retificador e o banco possuem uma impedância de 15∠75o Ω. Para esta situação,
defina: a) a faixa de controle do conversor (limites do ângulo de disparo); b) a
máxima corrente média de carga; c) a tensão de saı́da para um ângulo de disparo
de 90o ; d) A potência absorvida pelo banco de baterias para o ângulo de disparo do
item c); e) Esboce a forma de onda de tensão na carga para o ângulo de disparo do
item c).

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Eletrônica Industrial

Capı́tulo 6

Conversores c.a./c.c. - Retificadores


monofásicos de onda completa

Neste capı́tulo serão apresentados os retificadores de frequência de linha monofásicos


de onda completa com carga R, RL e RLE. Os retificadores de onda completa são também
chamados de retificadores de 2 pulsos, uma vez que a frequência do ripple de saı́da é o
dobro da frequência da tensão de entrada.

6.1 Retificadores de onda completa não-controlados


6.1.1 Cara resistiva
A Figura 6.1 apresenta o circuito de um retificador de onda completa (ROC) com
carga resistiva.

Figura 6.1: Circuito ROC com carga R.

Neste tipo de conversor, em cada semi-ciclo, dois diodos estarão conduzindo. No semi-
ciclo positivo, conduzirão os diodos D1 e D4 , já no semi-ciclo negativo, conduzirão os
diodos D2 e D3 . Assim sendo, as formas de onda de tensão e corrente na saı́da do circuito
se tornarão como mostrado na Figura 6.2.

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Figura 6.2: Formas de onda de tensão e corrente na saı́da de um ROC com carga R.

Note que o circuito aproveita os dois semi-ciclos da tensão de entrada, fazendo com
que apareçam na saı́da dois lóbulos de tensão (2 pulsos). Como a magnitude da tensão, e
consequentemente da corrente, é sempre positiva existe um valor médio, o qual pode ser
expresso como:
2
VO(med) = · Vm (6.1)
π
A corrente média na saı́da será equivalente a:
VO(med)
IO(med) = (6.2)
R
Em relação aos diodos, como a corrente de carga é distribuı́da entre os elementos da
ponte, a forma de onda de corrente em cada diodo não será mais igual à corrente de carga,
mas sim uma parcela desta. A Figura 6.3 apresenta as formas de onda de corrente na
carga, nos diodos e na fonte.
Note que a cada diodo conduz metade da corrente de carga, de modo que se pode dizer
que a corrente média em cada diodo é igual a:
IO(med)
ID(med) = (6.3)
2
Outra observação importante é que a corrente entregue pela fonte apresenta uma
caracterı́stica senoidal, ou seja, não há valor médio na corrente de fonte, o que é muito
importante para não causar problemas na rede elétrica.
Durante o perı́odo em que o diodo não conduz, ele bloqueia a tensão conduzida por
um diodo concorrente, ou seja, ele bloqueia a tensão de um semi-ciclo, como mostra a
Figura 6.4.
Assim, a tensão de pico inversa percebida pelo diodo será equivalente a:

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Figura 6.3: Formas de onda de corrente em um ROC com carga R.

Figura 6.4: Forma de onda de tensão no diodo de um ROC com carga R.

T P I = Vm (6.4)
A potência dissipada na carga será de:

Vm2
Po = (6.5)
2R

Exemplo de cálculo
Um retificador de onda completa em ponte é alimentado por uma rede de 50Vrms/50Hz
e alimenta um banco resistivo de especificação nominal 150W/5A. Determine: a) tensão
média na carga; b) a corrente média na carga; c) a potência efetiva dissipada pelo banco
resistivo; d) as especificações para os diodos.
Resolução

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a) Como é informado pelo problema, o retificador é alimentado com uma tensão de


entrada de 50Vrms, assim sendo, a tensão média na saı́da será de:

2 · Vm 2 · 50V 2
VO(med) = = = 45V (6.6)
π π
b) Para se definir a corrente média de carga, é necessário conhecer primeiramente o
valor da resistência da carga. O problema indica que o banco resistivo utilizado é especi-
ficado como 150W/5A, com essas informações pode-se determinar a resistência nominal
da carga:
P 150W
R= 2
= = 6Ω (6.7)
I 5A2
Desta forma, a corrente média de carga será de:
VO(med) 45V
IO(med) = = = 7, 5A (6.8)
R 6Ω
c) A potência dissipada efetivamente pelo banco resistivo será de:

Vm2 (50V 2)2
Po = = = 416, 7W (6.9)
2R 2 · 6Ω

d) Os diodos devem suportar um TPI de 50V 2 = 70, 7V e uma corrente média de
3,75A (metade da corrente média de carga).

6.1.2 Carga RL
A Figura 6.5 apresenta o circuito de um retificador de onda completa com carga RL.

Figura 6.5: Circuito ROC com carga RL.

Neste caso, assim como ocorre com os retificadores de meia-onda, a ação do indutor
será de atrasar a evolução da corrente. Novamente, quando o primeiro semi-ciclo de
tensão acabar, ou seja, quando a amplitude da tensão de saı́da chegar a zero, haverá ainda
corrente circulando no circuito, e esta não pode ser bruscamente interrompida. Porém,
agora, existe caminho para circulação de corrente em ambos os semi-ciclos, ou seja, o

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conversor exibe naturalmente um efeito de roda-livre. O resultado disso é mostrado nas


formas de onda de tensão e corrente na saı́da e corrente nos diodos, apresentadas na
Figura 6.6.

Figura 6.6: Formas de onda de tensão e corrente na saı́da e corrente nos diodos de um
ROC com carga R.

Note que a corrente na carga nunca atinge o nı́vel zero, o que caracteriza o regime de
condução contı́nuo. Isso é possı́vel porque os diodos da ponte retificadora dividem a
corrente de carga, de modo que ela sempre possa circular, sem que haja a necessidade de
se provocar a ocorrência de patamares negativos na tensão de saı́da. Com isso, a tensão
de saı́da possui a mesma forma de onda de um ROC com carga R, e consequentemente é
definida pelas mesmas expressões.
Neste conversor, o efeito do indutor é de reduzir o ripple na corrente de carga, deixando-
a mais ”contı́nua”. Quanto maior a parcela indutiva na carga, menor será a parcela
alternada presente na corrente de carga, contudo, menos senoidal será também a corrente
de fonte. A Figura 6.7 apresenta a forma da corrente de fonte, note que com a adição do
indutor a corrente se torna mais parecida com uma onda quadrada.

Exemplo de cálculo
Um retificador de onda completa em ponte com carga RL é ligado a uma fonte de
120Vrms. Se a resistência de carga for 10Ω e XL >> R, determine: a) a tensão média de
carga; b) a corrente média de carga; c) o valor RMS da corrente de carga; d) a potência
consumida pela carga.
Resolução
Ao se definir que a reatância indutiva da carga é muito superior à parcela resistiva,
indica-se que a corrente de carga possui um ripple muito pequeno, ou seja, praticamente
irrelevante. Assim, pode-se considerar que a corrente no retificador é puramente contı́nua.

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Figura 6.7: Formas de onda de tensão na saı́da e corrente na fonte de um ROC com carga
R.

a) A tensão média de carga será dada por:



2 · Vm 2 · 120V 2
VO(med) = = = 108V (6.10)
π π
b) A corrente média de carga será dada por:

VO(med) 108V
IO(med) = = = 10, 8A (6.11)
R 10Ω
c) A corrente RMS de um sinal puramente contı́nuo é o próprio valor médio da corrente,
ou seja: IO(rms) = 10, 8A.
d) A potência consumida pela carga pode ser descrita como:

2
Po = IO(rms) · R = (10, 8)2 · 10Ω = 1.166, 4W (6.12)

6.1.3 Carga RLE


A Figura 6.8 apresenta um retificador de onda completa com carga RLE.
Neste circuito, assim como ocorre com os RMO, a presença da f.e.m de carga faz
com que haja instantes onde o conversor não conduz corrente. Ou seja, o conversor irá
trabalhar em regime de condução descontı́nua. As formas de onda para este evento
são apresentadas na Figura 6.9.
Observe que a tensão E define um instante de disparo para a condução dos diodos (α)
e que o indutor estende o tempo de extinção da corrente de carga, definindo um ângulo
de extinção β. Note que a corrente de carga possui uma forma de onda descontı́nua, ou
seja, toca e permanece no patamar zero durante um intervalo de tempo.
O valor da tensão média de saı́da do conversor ROC com carga RLE pode ser definido
como:

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Figura 6.8: Circuito ROC com carga RLE

Figura 6.9: Formas de onda de tensão e corrente na carga para um ROC com carga RLE

[ ]
E
(cosα − cosβ) + (α − β)
2Vm Vm
VO(med) = · +E (6.13)
π 2
Sendo a corrente média de carga definida como:

VO(med) − E
IO(med) = (6.14)
R
Uma questão para a qual se deve atentar, no caso dos retificadores ROC com carga
RLE, é que, se a parcela reativa da carga for muito alta, pode ocorrer do ângulo de extinção
ser maior do que o ângulo de disparo do próximo semi-ciclo, ou seja, β > α+π. Se esse fato
ocorrer, o circuito entrará em condução contı́nua e a forma de onda, e consequentemente,
a forma de cálculo da tensão média de saı́da serão alterados. A Figura 6.10 apresenta
uma situação onde ocorre a entrada em condução contı́nua.
Note que após o primeiro perı́odo, o retificador irá exibir uma forma de onda seme-
lhante à observada para o caso de carga R, e a corrente será sempre contı́nua, e com

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Figura 6.10: Formas de onda para um ROC com carga RLE em condução contı́nua.

pequeno ripple. Neste caso, o cálculo da tensão média será igual ao executado nos casos
de carga R e RL e a corrente continuará a ser a mesma definida pela expressão (6.14).
A definição do ângulo de extinção é feito por meio do ábaco de puschlowski, seguindo
os mesmos passos descritos para nas seções anteriores, contudo, deve-se lembrar que o
ábaco não pode ser utilizado em caso de efeito de roda-livre. Assim, se o conversor
entrar em condução contı́nua, o ábaco não fornecerá informações corretas. Para auxiliar
a análise do sistema, constuma-se traçar sobre o ábaco linhas de limiar de condução, ou
seja, linhas delimitadoras das regiões de condução contı́nua e descontı́nua. Essas linhas
são apresentadas no ábaco de puschlowski da Figura 6.11.
Note que o existem três linhas delimitadoras traçadas no ábaco: uma para o retificador
monofásico em ponte (1ϕ Ponte) e outras duas para os retificadores trifásicos, os quais
serão abordados nos próximos capı́tulos. Se ao se tentar definir o ângulo de extinção, o
cruzamento da curva com o ângulo de disparo se der na parte superior da linha delimita-
dora, o conversor se encontrará em condução contı́nua, caso contrário, o conversor estará
em condução descontı́nua.

Exemplo de cálculo

Um retificador de onda completa é alimentado com uma tensão de 127Vrms/60Hz e


carrega um sistema modelado como uma carga RLE com R = 10Ω, L = 10mH e E =
70V. Para esta situação defina: a) tensão média de saı́da, b) corrente média de saı́da, c)
potência entregue à fonte E.
Resolução.
O primeiro passo para resolver esse problema é verificar se o conversor opera na região
de condução contı́nua ou descontı́nua. Para isso, será necessário utilizar o ábaco de
puschlowski:
- Definição do fator a

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Figura 6.11: Ábaco de Puschlowski.


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E 70V
a= = √ = 0, 389 ≈ 0, 4 (6.15)
Vm 127V 2
- Definição do ângulo de disparo

α = arcsen(a) = 23, 6o (6.16)


- Definição do ângulo de defasagem e do fator de potência
( ) ( )
XL 2π · 60Hz · 10mH
ϕ = arctg = arctg = 20, 7o (6.17)
R 10
O fator de potência será então:

f.p. = cosϕ = cos20, 7o = 0, 935 ≈ 0, 9 (6.18)


Com estas informações já se pode escolher a curva mais adequada no ábaco e verificar
o cruzamento dessa curva com o ângulo de disparo definido. Note que para a famı́lia
de curvas de base a = 0,4 e f.p. = 0,9, toda evolução da curva ocorre abaixo da linha
limı́trofe de condução para o retificador monofásico em ponte. Assim, conclui-se que o
retificador está em condução descontı́nua. Neste caso, é necessário definir o ângulo de
extinção, o qual, de acordo com o ábaco, irá ocorrer em aproximadamente 180o . Assim,
pode-se calcular as grandezas desejadas:

√ [ ]
127V 2 70V
VO(med) = (cos23, 6o − cos180o ) + √ (0, 4119rad − π) + 70V = 118, 6V
π 127V 2
(6.19)
A corrente média apresentada pelo circuito será de:
VO(med) − E 118, 6V − 70V
IO(med) = = = 4, 86A (6.20)
R 10Ω
A potência consumida pela fonte E pode ser definida como:

PE = E · IO(med) = 70V · 4, 86A = 340, 2W (6.21)

6.2 Retificadores de onda completa controlados


Nesta seção serão apresentados apenas os retificadores totalmente controlados.

6.2.1 Carga Resistiva


O circuito de um retificador de onda completa totalmente controlado é apresentado na
Figura 6.12. Nesta configuração, os disparos dos tiristores T1 e T4 devem ser simultâneos,
assim como os disparos dos tiristores T2 e T3 . Sendo que a diferença angular entre os dois

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grupos de disparo deve ser de 180o , ou seja, se o SCR T1 for disparado com um ângulo
de 25o , o tiristor T2 deve ser disparado com um ângulo de 205o . Caso essa restrição não
seja obedecida, as formas de onda de tensão na saı́da, para cada semi-ciclo do sinal de
entrada, não serão simétricas.

Figura 6.12: Circuito de um ROC controlado com carga R.

As formas de onda na saı́da do circuito são apresentadas na Figura 6.13.

Figura 6.13: Formas de onda de saı́da de um ROC controlado com carga R.

A tensão média de saı́da será:


2Vm 1 + cosα
VO(med) = · (6.22)
π 2
Note que a tensão média de saı́da é exatamente o dobro da observada na saı́da de
um retificador de meia-onda controlado. Logo, o fator de correção adotado anteriormente

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para os RMO pode ser empregado para este circuito. O mesmo ocorre com o fator de
correção de potência.

Exemplo de cálculo
Um retificador de onda completa controlado, conectado a uma linha de 220Vrms,
apresenta uma tensão média de 120V em sua saı́da. Defina o valor do ângulo de disparo
deste conversor.
Resolução
Conhecendo-se a tensão de saı́da do ROC com carga R, pode-se definir o ângulo de
disparo fazendo-se:
2Vm 1 + cosα
VO(med) = · (6.23)
π 2

2 · 220 2 1 + cosα
120V = · (6.24)
π 2
π120V
cosα = √ −1 (6.25)
220 2
( )
π120V
α = arccos √ − 1 = 77, 7o (6.26)
220 2

6.2.2 Carga RL
A Figura 6.14 apresenta o retificador de onda completa controlado com carga RL.

Figura 6.14: Circuito de um ROC controlado com carga RL.

Como se poderia esperar, o indutor irá provocar o aparecimento de parcelas negativas


de tensão na saı́da do conversor. Contudo, dependendo da magnitude da reatância da

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carga, o ângulo de extinção da corrente poderá se extender até invadir o próximo semi-
ciclo, o que levaria o circuito a entrar em condução contı́nua. Assim, existem duas o
possı́veis operações para o retificador controlado de onda completa com carga RL:
Condução descontı́nua
Nesta situação, as formas de onda de saı́da do circuito serão como apresentadas na
Figura 6.15.

Figura 6.15: Formas de onda de saı́da um ROC controlado com carga RL em condução
descontı́nua.

Note que a corrente se extingue antes do inı́cio do próximo disparo, assim, existirá
sempre um patamar zero na corrente. Neste caso, a tensão média de saı́da do circuito
será:
2Vm cosα − cosβ
VO(med) = · (6.27)
π 2
A região de condução descontı́nua existirá sempre que o ângulo de extinção for menor
do que o ângulo de disparo do próximo semi-ciclo:

β <α+π (6.28)
OBS: A definição do ângulo de disparo é feita por meio do ábaco de puschlowski.
Condução contı́nua
No caso da condução contı́nua, o ângulo de extinção ultrapassa o ângulo de disparo
do próximo semi-ciclo, fazendo com que o conversor apresente um efeito de roda-livre. O
resultado da entrada em condução contı́nua é apresentada na Figura 6.16.
Neste caso, a tensão média na saı́da do conversor será determinada por:
2Vm
VO(med) = · cosα (6.29)
π
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Figura 6.16: Formas de onda de saı́da um ROC controlado com carga RL em condução
contı́nua.

Observe que o fator de correção do conversor permite que a tensão média de saı́da
seja negativa, como ilustra a curva da caracterı́stica do fator de correção, apresentada na
Figura 6.17.

Figura 6.17: Caracterı́stica do fator de correção para a condução contı́nua do ROC con-
trolado com carga RL.

Isso indica que um retificador controlado de onda completa em condução contı́nua


pode operar de forma reversı́vel, ou seja, pode enviar potência tanto da fonte de entrada
para a carga, quanto o contrário. Contudo é importante frisar que isso só ocorrerá se
houver alguma fonte de energia na carga, ou seja, se algo manter a corrente de carga
positiva, uma vez que os tiristores não podem conduzir correntes reversas.

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Exemplo de cálculo
Um retificador de onda completa alimenta uma carga de impedância 30∠53o Ω. Con-
siderando a tensão de entrada igual a 220Vrms e um ângulo de disparo de 50o , determine:
a) o regime de condução, b) o valor da tensão média de saı́da, c) o valor da corrente média.
Resolução
O primeiro passo para resolver o problema é definir o regime de condução. Para isso,
deve-se utilizar o ábaco de puschlowski, lembrando que para cargas RL, o fator a = 0:
- Definição dos parâmetros de carga
Para se determinar a parcela resistiva e a parcela reativa da carga, deve-se utilizar a
representação retangular da impedância:
√ ( )
X L
R + jXL = R2 + XL ∠arctg
2
(6.30)
R
Assim:

30∠53o Ω = 15 + j26Ω (6.31)


Desta forma, R = 18Ω e XL = 24Ω.
- Definição do ângulo de defasagem e fator de potência
O ângulo de defasagem é definido no argumento da forma polar da impedância, ou
seja, ϕ = 53o . Assim o fator de potência será:

cosϕ = cos53o = 0, 6 (6.32)


Seguindo o ábaco de puschlowski, nota-se que o cruzamento da curva definida pelo
circuito e o ângulo de disparo ocorre acima da linha limı́trofe, o que indica um regime de
condução contı́nua.
b) Um vez conhecido o regime de condução, pode-se calcular o valor da tensão média
de saı́da:

2Vm 2 · 220 2
VO(med) = · cosα = · cos50o = 127, 3V (6.33)
π π
c) A corrente média de saı́da pode ser definida como:
VO(med) 127, 3V
IO(med) = = = 7, 07A (6.34)
R 18Ω

6.2.3 Carga RLE


A Figura 6.18 apresenta o retificador de onda completa controlado com carga RLE. O
funcionamento desse conversor se assemelha ao comportamento observado nos conversores
discutidos anteriormente: a cada semi-ciclo dois grupos de tiristores devem ser disparados,
com um atraso de 180o entre si. O disparo apenas fará efeito se, ao se disparos o grupo de
tiristores a tensão de entrada for superior à tensão E, caso contrário, não haverá condução.

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Figura 6.18: Circuito de um ROC controlado com carga RLE.

As formas de onda de saı́da do circuito em regime de condução descontı́nua são apre-


sentadas na Figura 6.19.

Figura 6.19: Formas de onda de saı́da de um ROC controlado com carga RLE em condução
descontı́nua.

Note que, como ocorre com os RMO controlados, devido à presença da tensão E na
carga, os possı́veis valores de ângulo de disparo são limitados a:

α1 ≤ α ≤ α2 (6.35)
Onde:  ( )
 E
α1 = arcsen
Vm (6.36)

α2 = π − α1

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Respeitando essa restrição, o valor da tensão média pode ser definida como:
[ ]
E
(cosα − cosβ) + (α − β)
2Vm Vm
VO(med) = · +E (6.37)
π 2
Neste conversor, se o ângulo de extinção for superior ao ângulo de disparo do próximo
semi-ciclo, ocorrerá a entrada em regime de condução contı́nua. Neste caso, a forma de
onda de tensão na saı́da se assemelhará à forma mostrada na Figura 6.16 e a definição da
tensão segue a equação (6.34).

6.3 Exercı́cios propostos


1. Quais são as principais vantagens de um retificador de onda completa em relação a
um retificador de meia-onda?

2. Para um retificador controlado de meia-onda com tensão de entrada igual a 220Vrms,


60Hz e carga igual a 10Ω, determine o ângulo de disparo necessário para garantir
uma tensão de saı́da média igual a 80V;

3. Um retificador controlado de onda completa de entrada 127Vrms, 60Hz, alimenta


uma carga RL de 10Ω e 10mH, respectivamente. Os tiristores de um semi-ciclo
são disparados com um ângulo de 50o , os demais sao disparados com comandos
complementares. Nesse caso determine: a) Tensão média na saı́da, b) ângulo de
extinção da corrente, c) O valor do ângulo de extinção limite da região de condução
descontı́nua, d) Esboce a forma de onda de tensão na saı́da e no tiristor T1 .

4. Considerando que o conversor do exercı́cio anterior alimente uma nova carga, de


modo que o ângulo de extinção atinja a condição limite e entre na região de condução
contı́nua. Nessa nova situação, defina: a) O fator de potência da nova carga, b) O
valor da indutância da nova carga se a mesma parte resistiva for considerada, c) O
valor da tensão média de saı́da.

5. Considere uma carga RLE de valores 0, 5Ω, 4mH e 600V, respectivamente. Essa
carga e alimentada por um retificador não-controlado de onda completa de tensão
de entrada 600Vrms, 50Hz. Para essa situação determine: a) O valor da corrente
média na saı́da do conversor, b) Calcule a potência absorvida pela fonte de tensão
da carga, c) Esboce a forma de onda de tensão na saı́da.

6. Simule um circuito retificador de onda completa com tensão de entrada igual a


400Vrms, 60Hz, com carga igual a 50Ω e fator de potência indutivo de 0,7 e ângulo
de disparo igual a 45o . Por meio da simulação determine: a)Tensão média na carga,
b) corrente média na carga, c) ripple de corrente, d) regime de operação do conversor.

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7. Simule um circuito retificador de onda completa com tensão de entrada igual a


380Vrms, 60Hz, com carga igual a 20Ω, reatância indutiva de 50Ω e tensão E de
−100V . O ângulo de disparo igual a 100o . Por meio da simulação determine:
a)Tensão média na carga, b) corrente média na carga, c) ripple de corrente, d)
regime de operação do conversor, e) O conversor atua como retificador ou inversor?

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Capı́tulo 7

Conversores c.a./c.c. - Retificadores


Trifásicos

Neste capı́tulo serão apresentados os retificadores trifásicos de meia-onda e onda com-


pleta.

7.1 Revisão sobre sistemas trifásicos


Em instalações industriais, comumente, a energia elétrica está disponı́vel na forma de
uma rede trifásica, a qual consiste em três fases, ou fios energizados, com tensões senoidais
defasadas 120o entre si, como ilustra a Figura 7.1.

Figura 7.1: Rede trifásica.

Essas três fases podem ser conectadas de duas maneiras:

• Conexão em Y - As três fases apresentam um ponto de conexão comum, de onde


pode-se extrair um fio neutro. Nesta conexão, as correntes nas fases são iguais às
correntes nas linhas;

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• Conexão em ∆, ou triângulo - As fases são conectadas entre si, não havendo ponto
neutro e as correntes nas fases são diferentes das correntes nas linhas.

A Figura 7.2 ilustra as conexões em Y e ∆.

Figura 7.2: Rede trifásica - Conexão Y e ∆.

No caso da conexão em Y, pode-se medir as tensões de duas maneiras:

• Tensão Fase-Neutro (VϕN ): A tensão de fase-neutro é medida um terminal da fonte


e o terminal neutro.

• Tensão Fase-Fase (Vϕϕ ): A tensão de fase-fase é medida entre dois terminais de fonte,
por exemplo, entre os terminais A e B = VAB .

Devido ao defasamento entre as fases, determina-se uma relação entre as tensões de


fase-neutro e de fase-fase, a qual pode ser descrita como:

VAB = VAN · 3∠ − 30o (7.1)
Isso indica que a tensão de fase-fase apresentará uma amplitude maior e será adiantada
em relação à tensão de fase-neutro, como ilustra a Figura 7.3.

Figura 7.3: Rede trifásica - Diferença entre tensão de fase-neutro e de fase-fase.

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7.2 Retificador trifásico de meia-onda


7.2.1 Retificador não-controlado
O retificador trifásico de meia-onda é apresentado na Figura 7.4. Note que ele é
constituı́do de 3 retificadores monofásicos de meia-onda postos em paralelo.

Figura 7.4: Retificador trifásico de meia-onda.

Devido ao defasamento das tensões de entrada, cada diodo irá conduzir durante um
intervalo de tempo, de modo que a tensão na saı́da será composta por parcelas das tensões
de entrada, como ilustra a Figura 7.5.

Figura 7.5: Forma de onda de tensão na saı́da do retificador trifásico de meia-onda.

Note que cada tensão de entrada (tensão fase-neutro) é aplicada sobre a carga de
saı́da durante um perı́odo correspondente a 120o , de modo que o ripple de tensão possui
3 pulsos por perı́odo de 60Hz. Logo, o conversor pode ser chamado também de retificador
de 3 pulsos. Observe também que a tensão a ser aplicada à carga é aquela que apresenta

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instantaneamente a maior amplitude, isso ocorre porque a tensão de maior amplitude


força o bloqueio dos diodos das demais fases.
O retificador de 3 pulsos apresenta caracterı́sticas de roda-livre, uma vez que sempre
existe um caminho para circulação de corrente, de modo que a corrente de saı́da não
possui patamares nulos. Isso implica que as formas de onda de tensão para o retificador
de 3 pulsos com carga R e RL serão idênticas, a única diferença será a forma de onda de
corrente, que no caso RL possuirá menor ripple.
O valor da tensão média de saı́da pode ser encontrado por meio da seguinte expressão:

VO(med) = 1, 1695 · VϕN (rms) (7.2)


Em relação à corrente conduzida por cada diodo, a Figura 7.6 ilustra a divisão da
corrente, de modo que pode-se determinar que a corrente média conduzida por cada
diodo será:
IO(med)
ID(med) = (7.3)
3

Figura 7.6: Formas de onda de corrente no retificador trifásico de meia-onda.


Durante o bloqueio, cada diodo irá ser exposto a uma tensão reversa igual à tensão
entre duas fases, ou seja, a tensão fase-fase, como mostra a Figura 7.7. Desta forma, a
TPI exigida de um diodo aplicado neste conversor será de:
√ √
TPI = 2Vϕϕ(rms) = 6VϕN (rms) (7.4)

Exemplo de cálculo
Um retificador trifásico de meia-onda com carga RL é alimentado por uma rede em Y
com tensões de fase-neutro iguais a 108Vrms. Considerando uma carga de 15Ω e 140mH,
defina: a) Tensão média na saı́da, b) corrente média na saı́da, c) especificações dos diodos.

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Figura 7.7: Forma de onda de tensão nos diodos do retificador trifásico de meia-onda.

Resolução
A carga RL não afeta a forma de onda de tensão de saı́da de um retificador trifásico
não-controlado, o que faz com que se possa definir a tensão de saı́da como:

VO(med) = 1, 1695VϕN (rms) = 1, 1695 · 108Vrms = 126, 3V (7.5)


b) A corrente de carga será:

VO(med) 126, 3V
IO(med) = = = 8, 42A (7.6)
R 15Ω
c) Os diodos a serem empregados neste conversor devem suportar uma corrente de
2,8A e uma TPI de 264,5V.

7.2.2 Retificadores Controlados


O controle da tensão de saı́da pode ser feito substituindo-se os diodos do retificador
por tiristores. A atraso entre o comando dos tiristores deve ser de 120o . O circuito do
retificador de meia-onda controlado é apresentado na Figura 7.8.
O comando de cada tiristor apenas pode ser feito quando a fase a qual ele está conec-
tada possuir instantâneamente a maior amplitude, ou seja, apenas quando o tiristor estiver
diretamente polarizado. Tomando a fase A como exemplo, o tiristor T1 apenas será dis-
parado se:

αmin = 30o (7.7)


Esta situação pode ser verificada na Figura 7.9. Desta forma é cômodo definir um
novo ângulo de disparo (α′ ), tendo como base o ponto de cruzamento entre as fases, de
modo que esse novo ângulo pode ser descrito como:

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Figura 7.8: Circuito retificador trifásico de meia-onda controlado.

α′ = α − 30o (7.8)
Isso faz com que o conversor possa exibir duas formas de onda distintas em sua saı́da,
dependo do ângulo de disparo. A primeira possibilidade é a condução contı́nua, a qual é
exibida na Figura 7.9, e ocorre sempre que:

0o ≤ α′ ≤ 30o −→ 30o ≤ α ≤ 60o (7.9)

Figura 7.9: Forma de onda de tensão na saı́da do RMO trifásico controlado, em condução
contı́nua.

Neste caso de condução contı́nua, o valor da tensão média de saı́da se dará como:

VO(med) = 1, 1695VϕN (rms) · cosα′ (7.10)


Caso o ângulo de disparo for:

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30o ≤ α′ ≤ 120o (7.11)


O conversor apresentará entrará em regime de condução descontı́nua, como mostra a
Figura 7.10.

Figura 7.10: Forma de onda de tensão na saı́da do RMO trifásico controlado, em condução
descontı́nua.

Nesta nova condição, o valor da tensão média de saı́da será:


1 + cosα
VO(med) = 1, 3464VϕN (rms) · (7.12)
2
OBS: A definição do regime de condução também pode ser extraı́da do ábaco de
puschlowski, lembrando que para carga R, o fator a é a = 0, e o fator de potência é
cosϕ = 1, 0.

Exemplo de cálculo
Um retificador de meia-onda trifásico controlado aciona uma carga de 30Ω a partir de
uma rede com tensões nominais de 440Vrms fase-fase. Considerando um ângulo de disparo
igual a 45o , defina: a) tensão média de saı́da, b) corrente média de saı́da, c) regime de
condução.
Resolução
O primeiro passo é definir o regime de condução. Pelo ábaco de puschlowski, nota-se
que para 45o de ângulo de disparo, o conversor em questão estará em condução contı́nua.
Olhando pelas restrições citadas na seção anterior, nota-se que:

α′ = α − 30o = 45o − 30o = 15o (7.13)


Como 0o ≤ α′ ≤ 30o , conclui-se que o conversor está em condução contı́nua. Assim
sendo, a tensão média será:

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VO(med) = 1, 1695VϕN (rms) · cosα′ = 1, 1695 · (440V / 3) · cos15o = 287, 3V (7.14)

A corrente média será:


VO(med) 287, 3V
IO(med) = = = 9, 57A (7.15)
R 30Ω

7.3 Retificadores trifásicos de onda completa


7.3.1 Retificadores não-controlado
O retificador trifásico de onda completa é constituı́do de uma ponte de Graetz, como
mostrada na Figura 7.11.

Figura 7.11: Circuito de um retificador trifásico de onda completa.

Neste conversor, para que a carga seja alimentada, é necessário que dois diodos estejam
em condução: um diodo do grupo superior (D1 , D3 ou D5 ) e outro do grupo inferior (D2 ,
D4 ou D6 ). Assim, sempre duas fases estarão alimentando a carga, de modo que esta
enxergará parcelas das tensões de fase-fase de entrada. A forma de onda de tensão na
saı́da é apresentada na Figura 7.12.
Observe que ao longo de um perı́odo de 60Hz, a tensão de saı́da apresenta um ripple
com 6 lóbulos, o que faz com que o retificador trifásico de onda completa seja conhecido
como retificador de 6 pulsos. Para se determinar quais fases serão conectadas à carga
em cada instante é necessário definir qual das tensões fase-fase possui a maior amplitude
instantânea.
A tensão média na saı́da do conversor será definida como:

VO(med) = 1, 35Vϕϕ(rms) (7.16)


Em relação aos diodos, a corrente média em cada diodo, assim como ocorre no retifi-
cador de meia-onda, será 1/3 da corrente média de carga, ou seja:
IO(med)
ID(med) = (7.17)
3
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Figura 7.12: Formas de onda de tensão no conversor de seis pulsos.

Como mostra a Figura 7.12, cada diodo estará exposto a uma TPI igual ao valor de
pico da tensão de fase-fase de entrada, ou seja:

TPI = 2Vϕϕ(rms) (7.18)

Exemplo de cálculo
Um retificador trifásico de onda completa alimenta uma carga de 50Ω, a partir de uma
tensão de entrada de 220Vrms, fase-neutro. Defina o valor da tensão e corrente média de
saı́da.
Resolução
A tensão média de saı́da será:

VO(med) = 1, 35 · Vϕϕ(rms) = 1, 35 · 220V rms 3 = 514, 4V (7.19)
A corrente média de saı́da será:

514, 4V
IO(med) = = 10, 3A (7.20)
50Ω

7.3.2 Retificadores controlados


Ao se substituir os diodos por SCRs, têm-se um retificador trifásico de seis pulsos
controlado, assim como mostra a Figura 7.13.
A Figura 7.14 mostra a forma de onda de tensão na saı́da do circuito. Note que para
se ter uma forma de onda simétrica é necessário que o primeiro tiristor seja disparado
após o ponto de cruzamento das fases, o que ocorre em um ângulo de 60o , tomando como
base o inı́cio do perı́odo da tensão VAB .

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Figura 7.13: Circuito de um ROC trifásico controlado.

Figura 7.14: Formas de onda de tensão na saı́da de um ROC trifásico controlado.

Uma vez definido o disparo do primeiro tiristor, a sequência de comandos deve seguir
a sequência de fase. Como exemplo, pode-se definir um ângulo de disparo de 90o e em
seguida determinar os ângulos de disparo de cada tiristor, respeitando a sequência de fase
descrita na Figura:
Sequência de fase: VAB , VCB , VCA , VBA , VBC , VAC ...
Sequência de tiristores: T1 /T4 , T5 /T4 , T5 /T2 , T3 /T2 , T3 /T6 , T1 /T6 ...
Assim, os ângulos de disparo devem ser:
T1 −→ 90o e 390o ;
T2 −→ 210o e 270o ;
T3 −→ 270o e 330o ;
T4 −→ 90o e 150o ;
T5 −→ 150o e 210o ;
T6 −→ 330o e 390o ;

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O valor médio de tensão na saı́da, considerando a condução contı́nua descrita na figura


acima, pode ser definido como:

VO(med) = 1, 35 · Vϕϕ(rms) cosα′ (7.21)


Onde α′ = α − 60o .
A condução contı́nua ocorrerá sempre que o ângulo de disparo for:

α ≤ 120o (7.22)
Caso contrário, ou seja, se α > 120o , o conversor entrará em condução descontı́nua,
como mostra a Figura 7.15.

Figura 7.15: Formas de onda de tensão na saı́da de um ROC trifásico controlado, condução
descontı́nua.

Neste caso, o valor da tensão média de saı́da se tornará:


1 + cosα
VO(med) = 2, 7Vϕϕ(rms) · (7.23)
2
OBS: A definição do regime de condução pode ser extraı́da do ábaco de puschlowski.

7.4 Exercı́cios propostos


1. Qual a vantagem de se empregar retificadores trifásicos em relação aos retificadores
monofásicos;

2. Um retificador de 3 pulsos fornece 20A médios para uma carga resistiva. Se a tensão
medida por um multı́metro DC na saı́da do conversor foi de 150V, determine: a) A
tensão RMS de entrada; b) as especificações dos diodos, c) O valor da resistência de
carga;

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3. Um retificador de três pulsos alimenta uma carga resistiva de 10Ω, a partir de uma
fonte de 220Vrms. Determine: a) a tensão média de carga, b) a corrente média de
carga, c) as especificações dos diodos.

4. Um retificador de três pulsos é ligado a uma fonte de 220Vrms e alimenta uma carga
RL com uma corrente de 50A. Se XL >> R, defina a potência consumida pela carga.

5. Um retificador de três pulsos é alimentado por uma fonte de 330Vrms fase-fase, e


aciona uma carga de 10Ω com um ângulo de disparo de 60o . Neste caso defina: a)
regime de condução, b) a tensão média de carga, c) a corrente média de carga.

6. Um retificador de três pulsos controlado alimenta uma carga indutiva com um ângulo
de disparo de 70o . Considerando que o indutor mantém a condução contı́nua e a
tensão de entrada é de 220Vrms , faça: a) Calcule a tensão média de saı́da, b) esboce
a forma de onda da tensão de saı́da.

7. Um retificador de seis pulsos é ligado a uma fonte de 380Vrms fase-fase e alimenta


uma carga de 40Ω, neste caso defina: a) tensão na carga, b) corrente na carga, c)
as especificações dos diodos.

8. Um retificador de seis pulsos está conectado a uma fonte trifásica ligada em Y com
220Vrms fase-neutro. Calcule a tensão média de saı́da, se o ângulo de disparo for
de 70o .

9. Para o circuito da questão anterior, esboce a forma de onda da tensão de saı́da e da


tensão sobre o tiristor T1 .

10. *Quais as condições para que o conversor de seis pulsos opere como um retificador?

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Referências Bibliográficas

[1] Rubens M. Santos Filho, Francisco E. Magalhães, Ari D. Soares, Eletrônica de Potên-
cia, Apostila CEFET-MG, 2010.

[2] Ashfaq Ahmed, Eletrônica de Potência, Pearson Prentice Hall, 2000.

[3] Ned Mohan, Power Electronics, Converters, Applications and Design, John Wiley &
Sons, USA, 1990.

[4] Ivo Barbi, Eletrônica de Potência, INEP-UFSC, 6a edição, 2006;

[5] José A. Pomı́lio, Material didático sobre eletrônica de potência, Unicamp:


<http://www.dsce.fee.unicamp.br/ antenor/ee833.html>
<http://www.dsce.fee.unicamp.br/ antenor/fontchav.html>

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