Apostila Eletronica Industrial
Apostila Eletronica Industrial
Apostila Eletronica Industrial
ELETRÔNICA INDUSTRIAL
Curso
Técnico em Automação Industrial
Professor:
MSc. Thiago Ribeiro de Oliveira
Sumário
2 Dispositivos Semicondutores 8
2.1 Diodos de potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.1.1 Caracterı́sticas dinâmicas do diodo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.1.2 Parâmetros de datasheet de diodos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.2 Tiristores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.2.1 SCR - Silicon Controlled Rectifier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2.1.1 Parâmetros de datasheet de SCR . . . . . . . . . . . . . . 14
2.2.2 TRIAC - Thyristor AC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.2.3 GTO - Gate Turn-off Thyristor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.3 TBJ - Transistor Bipolar de Junção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.4 MOSFET - Metal-Oxide-Semiconductor Field Effect Transistor . . . . . . . 17
2.4.1 Parâmetros de datasheet do MOSFET . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.5 IGBT - Insulated Gate Bipolar Transistor . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.5.1 Parâmetros de datasheet do IGBT . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.6 Comparação entre as chaves semicondutoras . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
ii
Eletrônica Industrial
Capı́tulo 1
• Laser industrial;
• Máquinas de solda;
• Eletrólise;
• Laminadores;
• Carregamento de baterias;
• Eletrônica automotiva.
• Elevadores;
• Iluminação;
• No-breaks;
• Refrigeração e Ar condicionado;
Frequência de comutação
As chaves semicondutoras que compõem um conversor irão comutar, ou seja, ligar
e desligar, a uma certa frequência, de modo a possibilitar o processamento da energia.
A velocidade, ou a frequência, com que essas chaves comutam podem definir a forma
com que os conversores são construı́dos. Por isso é importante conhecer a frequência de
comutação dos conversores. Pode-se definir duas categorias de frequência de comutação:
• Alta frequência - Neste casso a frequência de comutação é mais alta do que a fre-
quência de linha, sendo que normalmente são necessárias técnicas de modulação para
operar as chaves. Ex: fontes chaveadas de computador e inversores de frequência.
Fluxo de potência
Pode-se pensar que os conversores estáticos são concebidos apenas para alimentar uma
determinada carga da forma mais adequada, mas em muitas situações, como por exemplo
o carregamento de baterias, a própria carga pode em alguns momentos servir como fonte
de energia para o sistema. Assim pode-se definir duas formas de operação em relação ao
fluxo de potência entre carga e fonte:
• Conversores Unidirecionais - São aqueles que apenas permitem um fluxo de potência
da fonte primária para a carga, ou seja, em um único sentido;
• Conversores Bidirecionais, ou Reversı́veis - São aqueles que permitem tanto um fluxo
de potência da fonte para a carga, quanto da carga para a fonte, ou seja, transferem
energia em ambos os sentidos.
Muitas vezes, quando um conversor opera de forma reversı́vel, a função de conversão é
alterada. Para compreender essa situação tome um retificador bidirecional, como mostra
a Figura 1.2.
Método de conversão.
Os conversores estáticos podem ser associados de modo a formar uma função de con-
versão diferente. Assim pode-se formar conversores indiretos e diretos, como exemplifica
a Figura 1.3 para um cicloconversor.
É importante frisar que a associação de conversores provoca a redução da eficiência
global do sistema, ou seja, haverá maior perda de energia.
• Perdas por comutação - Devido aos tempos de comutação das chaves e o cruzamento
entre tensão e corrente;
Essas perdas fazem com que a potência entregue pela fonte seja superior àquela que o
conversor entrega à carga. Assim o rendimento (razão entre potência de entrada e saı́da)
do conversor é reduzido. O rendimento de um sistema é dado pela expressão abaixo:
PSaida
η= × 100% (1.1)
PEntrada
Por exemplo, se um conversor consome 250W de sua fonte e fornece 200W para a
carga, a sua eficiência será de:
200
η= × 100% = 0, 8 × 100% = 80%
250
Ou seja, 80% da energia consumida pelo conversor é utilizada para alimentar a carga
e os demais 20%, ou 50W, são perdidos na forma de calor ou estão armazenados nos
elementos do circuito. Com isso, pode-se entender melhor o fato de os conversores indiretos
serem menos eficientes do ponto de vista energético. Para tal, considere o cicloconversor
indireto mostrado na Figura 1.4.
Note que os conversores intermediários possuem uma eficiência de 86% e 92%. A
eficiência total do conversor será o produto dos dois rendimentos:
ηtotal = 0, 86 × 0, 92 × 100% = 79, 12%
• Tiristores - são dispositivos cujo ligamento pode ser controlado, mas o desligamento
depende do circuito de potência. Ex: SCRs e Triacs;
O emprego de cada uma das chaves depende da aplicação do conversor e quesitos como
tensão e corrente de operação, velocidade de comutação, etc. Em relação aos nı́veis de
potência e a frequência de chaveamento das chaves estáticas, pode-se definir regiões de
aplicação de cada chave, como mostra a Figura 1.5.
Como exemplo, pode-se tomar os MOSFETs, estes dispositivos podem operar até a
faixa de Megahertz, mas apenas suportam correntes na faixa de 100A e tensões até 1kV.
Caso a aplicação demandar um dispositivo que opere com 2kV, o MOSFET não poderá
ser utilizado, nesta situação poder-se-ia empregar um IGBT, no entanto, esse dispositivo
não opera com frequências de comutação superiores a 100kHz.
Figura 1.5: Aplicação de chaves estáticas em função dos nı́veis de potência e frequência
de chaveamento.
Capı́tulo 2
Dispositivos Semicondutores
O comportamento de um diodo pode ser descrito por sua curva de corrente vs. tensão
(curva IxV) apresentada na Figura 2.2. Note que a curva possui uma forte caracterı́stica
não-linear1 . Pode-se definir duas regiões de operação distintas:
• Região de Polarização Direta - Ocorre quando a tensão entre os terminais de anodo
e catodo é positiva (VAK ≥ 0);
ponto a partir do qual o incremento da corrente com o aumento da tensão VAK seja mais
intenso. Pode-se dizer, simplificadamente, que para tensões abaixo da tensão de joelho a
corrente conduzida pelo diodo é insignificante e logo após essa tensão, a corrente aumenta
muito, com pequenos incrementos na tensão terminal. A tensão de joelho, ou a tensão
terminal, costumam apresentar valores na ordem de 0,7V a 3V, dependendo do calibre de
corrente do dispositivo.
Na região de polarização reversa, para baixas amplitudes de VAK , a corrente reversa
no diodo apresenta uma valor muito pequeno, na ordem de alguns pico-ampéres a micro-
ampéres, de modo, que se pode desprezá-la. Existe, contudo, um ponto de operação,
chamado de tensão de ruptura, onde ocorre um novo joelho, e a corrente reversa se torna
mais intensa. A inclinação dessa curva reversa, no entanto, é muito mais ı́ngreme do que
a apresentada na polarização direta, o que indica que pequenos incrementos na tensão
reversa irão provocar grandes incrementos na corrente reversa. Essa situação normalmente
faz com que a potência dissipada no diodo seja tão elevada que o dispositivo se queima.
Assim, em uma aplicação real de diodo de potência, a região de ruptura deve ser evitada.
Em eletrônica de potência, no entanto, os valores de tensão e corrente envolvidos
nos circuitos são de magnitude muito superior à queda de tensão de polarização direta
(tensão de limiar) e a corrente de fuga reversa. Neste caso, ao invés de se empregar as
informações contidas na curva caracterı́stica do diodo, pode-se lançar mão de um modelo
mais simplificado, o que facilita a resolução de sistemas e seus projetos. O modelo mais
adequado para o estudo desenvolvido neste curso é o modelo do diodo ideal, o qual é
representado pela curva caracterı́stica mostrada na Figura 2.3.
Note que neste modelo, assume-se que o diodo funciona como uma chave fechada
(conduz o máximo de corrente possı́vel sem exibir nenhuma queda de tensão) quando
operado em polarização direta, e como uma chave aberta (sem condução de corrente),
quando em polarização reversa. Observe que o joelho e região de ruptura são desprezados.
Observe que quando um diodo desliga, a corrente que por ele flui diminui2 . Quando
2
A taxa de redução da corrente (di/dt) depende de elementos do circuito no qual o diodo está inserido,
principalmente os componentes indutivos.
essa corrente chega a zero, porém, a barreira de potencial ainda não está formada, logo
não ocorre o bloqueio do diodo. A consequência disso é que a corrente se torna negativa, o
que indica que o diodo está absorvendo do circuito uma certa quantidade de carga elétrica.
Pode-se dividir o processo de desligamento do diodo em três etapas:
• Intervalo t1 - Durante este intervalo de tempo, o diodo está conduzindo (corrente
e queda de tensão positivas). A corrente no diodo começa a diminuir até atingir o
nı́vel zero;
• Intervalo t2 - Durante este intervalo, a barreira de potencial está se formando e
corrente no diodo se torna negativa, contudo o diodo continua a conduzir (queda de
tensão positiva). Ao fim do intervalo, a corrente reversa atinge seu valor máximo
(IRRM ), indicando que a barreira de potencial se formou. O diodo começa o seu
processo de bloqueio, o que pode ser percebido na redução da tensão terminal do
diodo;
• Intervalo t3 - A barreira de potencial começa a se alargar, de modo a balancear a
força elétrica provocada pela tensão reversa aplicada ao diodo. À medida que a
barreira atinge sua largura adequada, a corrente no diodo se aproxima de zero e a
tensão, de seu valor reverso. A consequência desse intervalo extra de absorção de
carga é uma sobretensão reversa sobre o diodo (VRRM ).
Note que durante o desligamento, o diodo absorveu ao longo dos intervalos t2 e t3 uma
quantidade de carga igual a Qrr , a qual fica armazenada na barreira de potencial da junção
PN. A soma desses dois intervalos representa o tempo necessário para o diodo efetivamente
entrar em bloqueio e é chamado de tempo de recuperação reversa (trr ). Cada modelo
de diodo apresenta um trr diferente, o que indica que limita a frequência de comutação
daquele componente, ou seja, diodos com trr elevados não podem ser aplicados em circuitos
de chaveamento rápido. O tempo de recuperação reversa também é responsável por grande
parte das perdas de potência em um diodo.
Existem tecnologias de diodo que apresentam trr muito baixos, próprios para o uso
em sistemas de alta frequência. Esses diodos, cuja constituição é feita pela junção de
um semicondutor do tipo N com uma camada de alumı́nio, são conhecidos como diodos
Schottky.
Pode-se agrupar os diferentes tipos de diodos e função de seu tempo de recuperação
reversa, dando origem às seguintes categorias:
• VRSM - Tensão de pico reversa não-repetitiva. Máxima tensão reversa que pode ser
aplicada sobre o diodo que ainda garanta a sua integridade;
• IF RM - Corrente de surto repetitiva. Máximo pico repetitivo que pode ser conduzido
repetidamente pelo diodo, que ainda garanta seu funcionamento;
• IRM - Pico de corrente reversa. Máximo valor de corrente reversa que o diodo pode
apresentar na recuperação reversa;
2.2 Tiristores
O tiristores são dispositivos de quatro camadas (PNPN), que abrangem alguns dis-
positivos, como o SCR (Silicon Controlled Rectifier ), TRIAC (Thyristor AC ) e o GTO
(Gate turn-off Thyristor ), os quais serão abordados a seguir.
A duração do pulso de gate deverá ser tal que garanta que a corrente entre anodo
e catodo, no momento da retirada do pulso, seja equivalente à corrente de travamento
(Latching Current) definida pelo fabricante do dispositivo. Se essa condição não for sa-
tisfeita, após a retirada do pulso de gate o SCR se bloqueará novamente. Contudo, se
o SCR superar a corrente de travamento, ele apenas poderá ser bloqueado se a corrente
entre anodo e catodo cair abaixo do nı́vel da corrente de manutenção (Holding Current),
esta também definida pelo fabricante. O processo de desligamento também segue as eta-
pas definidas para o diodo de potência, ou seja, o SCR também exibe um perı́odo de
recuperação reversa.
• VDRM - Tensão direta repetitiva. Máxima tensão de bloqueio direta que pode ser
aplicada repetidamente ao SCR;
• IL - Corrente de travamento;
• IH - Corrente de manutenção;
• IGT - Mı́nima corrente de gate. Valor mı́nimo de corrente que garante a entrada em
condução do SCR;
• VGT - Mı́nima tensão de porta-catodo. Valor mı́nimo da tensão a ser aplicada entre
porta e catodo que permite o disparo do SCR; q
Uma evolução dos GTOs foi lançado no mercado pela ABB. Os novos componentes
são os IGCTs (Insulated Gate Controlled Thyristor ) e são na realidade GTOs com um
circuito de gate embutido, de modo que o comando externo pode ser feito por meio de
sinais ópticos enviados via fibra óptica. Essa evolução simplifica muito a montagem de
sistemas e reduz o custo dos mesmos, porém, a desvantagem é que apenas um fabricante
fornece tais elementos, o que pode gerar problemas de dependência comercial.
• Corte - ocorre quando a corrente de base é nula. Nesta região o transistor não
conduz corrente, atuando como uma chave aberta;
• Região ativa - Nesta região o transistor funciona como uma fonte de corrente;
Ic
Ib = (2.1)
β
Onde β é o ganho DC do transistor. O grande problema de se empregar TBJs em
circuitos de potência é o fato desses dispositivos, quando se eleva o calibre de corrente
e tensão desejados, apresentarem β muito pequenos. Com isso, a corrente de base que
o circuito de driver deve injetar torna-se muito elevada. Desta forma, um circuito de
potência com TBJ deveria possuir fontes de corrente muito potentes apenas para ligar e
desligar os transistores, o que é uma solução muito onerosa e desinteressante. Por esse
motivo, o uso de TBJ em circuitos de potência tem se extinguido nas últimas décadas.
Nas bordas das ilhas tipo N, existe o contato entre um material tipo N e outro do tipo
P, formando uma junção PN. Assim como nos diodos, a existência de uma junção PN gera
uma barreira de potencial, a qual impede a troca de elétrons entre os dois materiais. Para
operar, uma tensão VGB deve ser aplicada entre a porta e o substrato. Caso essa tensão
seja suficientemente grande, um campo elétrico no substrato será gerado, afastando as
lacunas próximas ao contato com o óxido. Essa ação gera um canal depleto de lacunas
entre as duas ilhas tipo N. Dessa forma, se uma diferença de potencial for aplicada entre as
duas ilhas (VDS ), haverá movimentação de elétrons. A Figura 2.11 demonstra a formação
do canal.
Existem diferentes topologias de transistores MOS disponı́veis no mercado. Uma das
principais topologias é o MOSFET tipo enriquecimento, nesta topologia, o terminal S é
É importante frisar que a grande vantagem do MOSFET em relação ao TBJ é que ele
pode ser acionado apenas pela aplicação de uma tensão VGS em torno dos 15V. Não há a
necessidade de se possuir drivers com capacidade de corrente muito elevada, o dispositivo
de acionamento apenas deverá ser capaz de injetar um pulso de corrente em torno de 2A
de pico para carregar as capacitâncias de entrada do MOSFET e formar o canal entre os
terminais de dreno e fonte.
As curvas de funcionamento de um MOSFET são apresentadas na Figura 2.13. Note
que existe um atraso entre o comando de ligamento e desligamento dispositivo e sua efetiva
comutação. Esses tempos de atraso podem ser segregados em:
• Tempo de subida (tr ) e tempo de descida (tf ) - Tempos necessários para a corrente
se elevar ao patamar desejado, quando em entrada em saturação, e de se reduzir a
zero, em transição para bloqueio.
• VGS - Tensão máxima de gate-fonte. Máxima tensão entre o gate e a fonte que pode
ser aplicada no dispositivo;
• VDSS - Tensão de ruptura de dreno-fonte. Máxima tensão que pode ser aplicada
entre os terminais de dreno e fonte do dispositivo;
• ISM - Corrente de surto do diodo parasita. Corrente máxima de surto que pode ser
conduzida pelo diodo parasita;
• td - Tempo de atraso;
• TJ - Temperatura de junção.
OBS: O IGBT não possui um diodo parasita como o MOSFET, contudo, a sua estru-
tura faz com que o dispositivo possua um SCR parasita. Esse tiristor pode ser disparado
caso a corrente que passe pelo IGBT seja muito elevada. As novas gerações de IGBT têm
diminuı́do a influência desse elemento parasita.
O IGBT é um dispositivo unidirecional em corrente e tensão.
A Figura 2.15 abaixo apresenta as curvas de ligamento e desligamento do IGBT. Note
que durante o desligamento, existe uma inflexão na curva de corrente. Essa inflexão é
chamada de corrente de cauda, e faz com que o desligamento do IGBT seja muito mais
lento do que o desligamento de um MOSFET.
Capı́tulo 3
Os choppers são circuitos dedicados a converter uma tensão contı́nua em outra, al-
terando caracterı́sticas como magnitude. Existem diversas topologias de choppers descri-
tas na literatura e empregadas em aplicações de eletrônica de potência ao redor do mundo.
Contudo, todas elas derivam de três estruturas básicas, sendo elas: o conversor buck, o
conversor boost e o conversor buck-boost. Este capı́tulo irá apresentar essas três estruturas
básicas e discutir a sua operação em regime de condução contı́nuo e descontı́nuo.
Os choppers empregam chaves estáticas que permitam tanto o disparo e o bloqueio
controlados, de modo que as principais chaves sãos os MOSFETs e os IGBTs.
Note que a chave fica ligada por um tempo ton e o padrão chaveamento se repete a
cada perı́odo TS . Dessa forma, o valor médio da tensão de saı́da se torna:
E · ton
VO = (3.1)
TS
TS é chamado de perı́odo de chaveamento, e dá origem a uma frequência de chavea-
mento: fS = 1/TS . O controle do valor médio pode ser realizado ao se variar a razão
cı́clica do conversor, a qual é definida como:
ton
D= (3.2)
TS
De modo que:
VO = E · D (3.3)
Note que a razão cı́clica apenas pode assumir valores entre: 0 ≤ D ≤ 1, de modo
que a tensão de saı́da sempre será menor do que a tensão de entrada. Por esse motivo, o
conversor é chamado de conversor abaixador, ou conversor step-down, do termo em inglês.
Um dos problemas da estrutura apresentada acima é que a tensão de saı́da apresenta
uma caracterı́stica pulsada. Para reduzir o ripple de chaveamento, utiliza-se um filtro
passa-baixas, composto por um indutor e um capacitor na saı́da do conversor. A modifi-
cação é apresentada na Figura 3.3 e constitui o estágio de potência de um conversor buck
convencional.
O diodo em anti-paralelo com o filtro serve para efetuar um efeito de roda-livre para a
corrente no indutor, de modo que o desligamento da chave semicondutora não provoque
sobretensões no circuito. O comportamento do conversor pode ser melhor compreendido
ao se analisar o funcionamento dos circuitos equivalente gerados pelo chaveamento do
transistor:
Percebe-se que a fonte de entrada irá injetar um corrente no circuito, pelo indutor do
filtro. Essa corrente alimentará o circuito RC na saı́da do conversor. Se a tensão na saı́da
for considerada puramente contı́nua, pode-se escrever a tensão sobre o indutor do filtro,
como sendo:
VL = E − VO (3.4)
Lembrando que a tensão sobre um indutor é descrita pela equação diferencial:
dIL ∆IL
VL = L ≈L (3.5)
dt ton
Pode-se verificar que existirá um ripple de corrente no indutor, o qual é definido como;
(E − Vo ) · D
∆IL = (3.6)
L · fS
culando. Nesse sentido, o circuito do conversor buck se torna como o apresentado pela
Figura 3.5.
VL = −VO (3.7)
De modo que o ripple da corrente, pode ser novamente definido como:
−Vo · (1 − D)
∆IL = (3.8)
L · fS
Uma vez definidas as tensões em cada estado da chave, pode-se definir as formas de
onda no circuito, as quais são apresentadas na Figura 3.6.
A equação que define a relação entre a tensão de saı́da e de entrada do conversor buck
pode ser extraı́da da seguinte forma: Como se sabe que o valor médio de tensão em um
indutor deve ser nulo, pode-se combinar as tensões derivadas anteriormente, de modo que:
E · ton
VO = =E·D (3.11)
TS
Obviamente, a expressão é a mesma encontrada para o conversor abaixador sem filtro.
Observe, também que a operação do conversor faz com que a corrente no indutor apresente
um ripple triangular. Como a corrente de carga possui um caráter contı́nuo, esse ripple
triangular irá ser absorvido pelo capacitor do filtro de saı́da. Mas, como a corrente em
um capacitor pode ser definida como:
dVC
iC = C (3.12)
dt
A presença de uma corrente alternada no capacitor irá provocar o surgimento de um
ripple de tensão na saı́da do circuito. A Figura 3.7 mostra a forma de onda de corrente no
capacitor e o detalhe da tensão de saı́da. Note que sobre o valor médio da tensão, existe
um ripple. Esse ripple dependerá dos valores de indutância e capacitância utilizados no
conversor.
Figura 3.7: Formas de onda de corrente e tensão sobre o capacitor do filtro de saı́da de
um buck.
A corrente nas chaves semicondutoras (transistor e diodo) serão uma parcela da cor-
rente de indutor, uma vez que em cada intervalo de tempo ao longo do perı́odo de chavea-
mento, uma das chaves proporciona o caminho para a circulação da corrente. A Figura
3.8 apresenta as formas de onda de corrente em cada chave.
Assim, pode-se definir a corrente média no transistor como sendo:
IT = IO · D (3.13)
Uma vez que o transistor conduz a corrente de carga durante o intervalo ton . Assim,
a corrente média no diodo será:
ID = IO · (1 − D) (3.14)
(E − VO ) · D
∆IL = (3.15)
L · fS
Assim, se parâmetros como a razão cı́clica máxima, tensão de entrada, tensão de saı́da,
ripple de corrente desejado e frequência de chaveamento forem conhecidos, pode-se definir
o valor do indutor como sendo:
(E − VO ) · D
L= (3.16)
∆IL · fS
b) Capacitor
O capacitor é calculado a partir da análise da carga absorvida durante um perı́odo de
chaveamento. Lembrando que:
∆Q = C∆Vc (3.17)
Fazendo essa análise, deduz-se que:
∆IL (1 − D)
C= (3.18)
4fS ∆VO
Onde ∆VO é o valor de pico-a-pico do ripple de tensão sobre o capacitor.
Note que neste caso, o valor médio de corrente pode ser definido como sendo:
ILmax
IO = (3.19)
2
Onde o valor máximo de corrente será igual ao do ripple de corrente, de modo que
∆IL = ILmax .
Utilizando as obervações feitas para a condução contı́nua, pode-se definir que:
(E − VO ) · D
∆IL = (3.20)
L · fS
(E − Vo ) · D
Lmin = (3.21)
2fS IO
O regime crı́tico pode ser atingido também por meio da redução da razão cı́clica de um
conversor já estabelecido. Essa razão cı́clica limite, ou crı́tica, pode também ser extraı́da
da expressão acima, de modo que:
DCrit = 1 − K (3.22)
2LfS
Onde: K = .
R
Neste caso, o ripple de corrente continua possuindo o mesmo valor apresentado no caso
anterior, sendo igual ao valor de pico da corrente de indutor (ILM AX ).
Mas o valor médio da corrente se torna inferior ao observado na condição limite:
( )
ILmax tx
IO = · 1− (3.23)
2 TS
tx representa o intervalo de tempo em que a corrente do indutor se mantém nula. Com
isso, a equação que define o valor médio da tensão na saı́da se modifica, sendo agora:
E · D [√ 2 ]
VO = D + 4K − D (3.24)
2K
Assim:
( )
ED
1−
VO
tx = (3.25)
fS
Exemplos de cálculo
Considere um conversor buck com os seguintes parâmetros: Tensão de entrada = 12V;
Indutor = 100µH; Capacitor = 22µF; frequência de chaveamento = 100kHz. Definindo-se
que a tensão de saı́da seja 5,0V, determine: a) O valor do ciclo de trabalho, b) O regime
real de condução para uma carga de R = 10Ω, c) A magnitude do ripple de tensão na
saı́da.
Resolução
a) O valor do ciclo de trabalho, considerando o regime de condução contı́nua, pode ser
definido como:
VO 5V
D= = = 0, 42 (3.26)
E 12V
b) Para verificar o regime de condução, pode-se utilizar a expressão do Lmin ou do
DCrit . Calculando-se o valor mı́nimo de indutor que leva o conversor a trabalhar na região
limite:
(E − Vo ) · D (12V − 5V ) · 0, 42
Lmin = = = 29, 4µH (3.27)
2fS IO 2 · 100kHz · (5V /10Ω)
Como o indutor utilizado no conversor é superior a 29, 4µH, o conversor irá operar
em regime de condução contı́nua. Para fins didáticos, a definição do regime, por meio da
razão cı́clica crı́tica também será realizado:
(E − Vo ) · D (12V − 5V ) · 0, 42
∆IL = = = 0, 294A (3.29)
LfS 100µH · 100kHz
Assim:
Pode-se definir dois estágios de trabalho para o conversor, determinados pelo estado
da chave:
VL = E (3.31)
E E·D
∆IL = ton = (3.32)
L LfS
VL = VO − E (3.33)
Assim o ripple de corrente se torna:
VO − E (VO − E)(1 − D)
∆IL = · tof f = (3.34)
L LfS
Uma vez conhecidos os estágios de trabalho do conversor, pode-se fazer algumas ob-
servações. Note que, no primeiro estágio armazena-se energia no indutor e no segundo,
essa energia armazenada é gasta para carregar o capacitor e alimentar a carga. Esse com-
portamento permite que a tensão de saı́da se eleve acima do nı́vel da tensão de entrada.
Para se poder determinar uma relação entre as duas tensões, novamente, será levado em
consideração o fato de o indutor exibir tensão média nula, assim:
E · D = (VO − E) · (1 − D) (3.35)
Resolvendo a equação acima, encontra-se que:
E
VO = (3.36)
1−D
Em relação às correntes conversor, pode-se observar que a corrente de saı́da IO , apenas
se relacionada com a corrente no indutor, IL , quando a chave está desligada. Assim sendo,
diferentemente do que se observa no conversor buck, a corrente média de saı́da não é igual
à corrente média no indutor, mas sim uma fração dela. Como o tempo em que o indutor
fornece energia à saı́da é igual a tof f , têm-se que:
IO = (1 − D) · IL(med) (3.37)
A mesma observação pode ser feita em relação à corrente nas chaves:
ID = IO (3.38)
IT = D · IL(med) (3.39)
A Figura 3.14 apresenta as formas de onda de corrente no indutor, na saı́da e nas
chaves semicondutoras.
IO · D
C= (3.41)
fS ∆VO
∆IL ILmax
IL(med) = = (3.42)
2 2
E·D
Onde: ILmax = .
LfS
Desta forma, pode-se definir um valor de indutor mı́nimo que faz com que o conversor
boost trabalhe na região limite. Esse valor mı́nimo é determinado como:
E · D(1 − D)
Lmin = (3.43)
2fS IO
Exemplo de cálculo
Projete um conversor boost, para alimentar uma carga que opere em 30V e consuma
de 0,2A a 3A. A tensão de fonte disponı́vel é 12V e a frequência de chaveamento deve
ser de 20kHz, sendo o ripple de tensão na saı́da inferior a 1% e o regime de condução
E 12V
1−D = = = 0, 4 (3.45)
VO 30V
D = 1 − 0, 4 = 0, 6 (3.46)
O problema também indicou que o conversor irá atuar em condução contı́nua, mesmo
com uma redução da corrente de carga. Note que quando a corrente estiver em 0,2A
(valor mı́nimo), a condução contı́nua deverá ser garantida. Uma forma de se fazer isso
é definir que quando a corrente atinge seu valor mı́nimo, o conversor operará na região
limite, neste caso, pode-se definir que:
O projeto do capacitor deve ser feito considerando a maior corrente de saı́da possı́vel.
Isso porque, quanto maior a corrente de carga, maior será o descarregamento do capacitor
e logo, maior será o ripple de tensão. Assim, para este cálculo, a corrente de saı́da de 3A
deverá ser utilizada:
IO · D 3A · 0, 6
C= = = 300µF (3.49)
fS ∆VO 20kHz · 0, 01 · 30V
Agora, os dois primeiros ı́tens do problema podem ser respondidos:
a) L ≥ 360µH e C ≥ 300µF ;
b) Ciclo de trabalho é igual a 0,6, ou 60%;
c) O transistor deverá suportar uma corrente média de:
IO(max) 3A
IT = D · IL(med) = D · = 0, 6 = 4, 5A (3.50)
1−D 1 − 0, 6
A tensão a ser suportada pelo transistor é aquela que aparece sobre ele durante o
intervalo tof f :
VT = VO = 30V (3.51)
O diodo deverá suportar uma corrente média igual à corrente média na carga, assim:
ID = IO(max) = 3A (3.52)
A tensão reversa sobre o diodo ocorrerá no intervalo ton , de modo que:
VL = E (3.54)
De modo, que se pode descrever uma relação entre o ripple de corrente e algumas
variáveis do circuito:
E·D
∆IL = (3.55)
LfS
Note que a tensão sobre o indutor aparece em paralelo com a saı́da, forçando uma
polaridade negativa para VO . Nesta situação, a tensão sobre o indutor se torna:
VL = VO (3.56)
Novamente, pode-se escrever uma expressão para o ripple de corrente:
VO (1 − D)
∆IL = (3.57)
LfS
As formas de onda de tensão no indutor ao longo do perı́odo de chaveamento e a tensão
de saı́da resultante são apresentados na Figura 3.19.
E · D = VO · (1 − D) (3.58)
De modo que, se pode extrair a seguinte relação:
D
VO = E · (3.59)
1−D
Observe que, se D < 0, 5, o módulo da tensão de saı́da será menor do que a tensão
de entrada, ou seja, o conversor estará operando como um conversor buck, se, por outro
lado, D > 0, 5, a tensão de saı́da será maior do que a de entrada, ou seja, o conversor
passará a operar como um conversor boost. Assim como ocorre com o conversor boost,
a corrente média de saı́da será uma fração da corrente média no indutor, uma vez que
existe transferência de energia entre o indutor e a saı́da apenas durante o intervalo tof f .
Assim sendo, pode-se determinar que:
IO = ILmed · (1 − D) (3.60)
ID = IO (3.61)
IT = ILmed · D (3.62)
Na região de condução limite, o ripple de corrente no indutor toca o eixo zero, definindo
o limiar entre a condução contı́nua e descontı́nua. Pode-se definir então um valor mı́nimo
para o indutor, para que o circuito atinja a região limite:
ED(1 − D)
Lmin = (3.63)
2fS IO
ED
VO = √ (3.64)
K
2LfS
Onde: K =
R
2. Uma vez determinado um circuito para um conversor buck, como se pode definir o
regime de condução do conversor?
4. Um conversor buck é alimentado por uma tensão de entrada de 40V e fornece uma
tensão de 15V em sua saı́da, com uma frequência de chaveamento de 10kHz. Nesta
situação, calcule os tempos ton e tof f ;
5. Projete um conversor buck, para alimentar uma carga que opere em 3,3V e consuma
de 0,5A a 7A. A tensão de fonte disponı́vel é 5V e a frequência de chaveamento deve
ser de 50kHz, sendo o ripple de tensão na saı́da inferior a 5% e o regime de condução
contı́nuo. Determine: a) o valor do indutor e do capacitor, b) o ciclo de trabalho,
c) as especificações das chaves semicondutoras, d) Esboce as formas de onda de das
tensões no diodo e no transistor;
7. Explique como um conversor boost consegue elevar a tensão em sua saı́da em relação
à sua entrada;
Capı́tulo 4
Os inversores são conversores utilizados para se obter uma tensão c.a. variável a partir
de uma tensão c.c.. Esses circuitos encontram muitas aplicações nas áreas industriais e
comerciais, das quais pode-se citar:
• Acionamento de motores de indução;
• UPS - Fonte ininterrupta de energia (”No-breaks”);
• Aquecimento por indução;
• Compensador de reativos;
• etc.
Os inversores podem ser classificados em dois grupos distintos:
• Inversores não-autônomos - São inversores constituı́dos por tiristores e operados à
frequência de rede. As topologias de inversores não-autônomos são idênticas às de
retificadores monofásicos e trifásicos de onda completa, com a diferença que o fluxo
de potência se dá do lado c.c. para o lado c.a.;
• Inversores autônomos - Nestes conversores, a comutação das chaves é definida pelo
circuito de comando, sendo que para isso, é necessário o emprego de chaves do tipo
transistor (MOSFET e IGBT).
O inversores autônomos ainda se distribuem em duas categorias:
• Inversores de tensão (VSI - Voltage Source Inverter ): Nestes inversores, a geração
da tensão c.a. se dá por meio da modulação de uma fonte de tensão c.c. de entrada;
• Inversores de corrente (CSI - Current Source Inverter ): Nestes inversores, a geração
da tensão c.a. se dá pela modulação de uma corrente c.c. de entrada. Normalmente
esses conversores são utilizados em aplicações de potência elevada.
Neste capı́tulo apenas os inversores autônomos VSI serão discutidos, uma vez que este
grupo é muito mais difundido do que os demais.
Figura 4.2: Forma de onda de tensão na saı́da para operação em onda quadrada.
4
Vo1m = ·E (4.1)
π
A grande desvantagem da operação em onda quadrada está no fato de esta técnica
apresentar uma tensão de saı́da com um conteúdo harmônico muito elevado, como ilustra
a Figura 4.3.
4
Vo1m = · E · cosα (4.2)
π
Apesar da redução das componentes harmônicas, ainda é necessário utilizar grandes
filtros para extrair do conversor um tensão de saı́da senoidal.
PWM de 2 nı́veis
Nesta configuração, o sinal PWM possui dois nı́veis de tensão (+E e -E), de modo que
a sequência de comutação se assemelha à discutida na operação em onda quadrada. A
diferença está no controle dos tempos de comutação, o qual é feito por meio da comparação
do sinal de referência (o sinal senoidal que se deseja sintetizar) e uma portadora triangular
de alta frequência, como ilustra a Figura 4.5.
A Figura 4.6 mostra as formas de onda dos sinais de controle do comando PWM e a
tensão na saı́da do conversor. Note que a largura dos pulsos da onda quadrada variam de
acordo com a amplitude do sinal de referência. Uma observação importante de se fazer
é que em nenhum momento a tensão de referência pode apresentar amplitude superior
Pode-se definir duas relações para o sinal PWM. A primeira é o ı́ndice de modulação,
o qual é a razão entre a amplitude do sinal de referência e do sinal da portadora:
Vcontrole,m
ma = (4.3)
Vtri,m
Esse ı́ndice, como comentado anteriormente deve estar contido em 0 ≤ ma ≤ 1. Com
isso, a amplitude da componente fundamental do sinal de saı́da será de:
Vo1m = ma · E (4.4)
A segunda relação é a razão de frequência:
mf
rf = (4.5)
fm
Onde: mf é a frequência fundamental da portadora triangular, e fm é a frequência do
sinal de referência.
Quanto maior a razão de frequência, mais fácil será a filtragem dos componentes
harmônicos do sinal PWM, de modo que o filtro se torna mais barato e pequeno. A
Note que o efeito do filtro é defasar o sinal de tensão e corrente. O que faz com que em
alguns momentos, em uma chave, o diodo, e não o transistor, é quem esteja conduzindo.
PWM 3 nı́veis
Outra forma de operar o conversor com modulação PWM é comandar cada braço da
ponte H de forma independente. O primeiro braço é acionado com os comandos PWM
discutidos anteriormente, o segundo braço é comandado com sinais PWM gerados a partir
do sinal de referência deslocado 180o , como mostra o circuito de comando apresentado na
Figura 4.9.
Essa modificação do circuito de comando faz com que a forma de onda de tensão de
saı́da se torne como é mostrado pela Figura 4.10.
Note que agora, o sinal PWM possui 3 nı́veis de tensão (+E, 0 e -E), sendo que
a composição das chaves para gerar esses nı́veis é a mesma apresentada na operação
quase-quadrada. Os conceitos de ı́ndice de modulação e razão de frequência se mantém
os mesmos, contudo, o conteúdo harmônico do sinal PWM se modifica. A Figura 4.11
apresenta o espectro do sinal PWM de 3 nı́veis.
Note que a operação em 3 nı́veis faz com que o primeiro conteúdo harmônico de alta
frequência a aparecer no espectro do sinal PWM se refere às raias de intermodulação em
torno do 2o harmônico da portadora triangular. Isso indica que a operação em 3 nı́veis
faz com que a frequência de chaveamento percebida pela carga seja o dobro da frequência
de chaveamento real. Assim, o mesmo inversor necessitaria de um filtro menor do que na
operação em 2 nı́veis, para obter a mesma forma de onda de saı́da senoidal.
Neste conversor, a tensão de saı́da apenas pode atingir dois nı́veis de tensão: +E/2 e
-E/2, de modo que a fundamental de tensão para o caso de onda quadrada se torne:
4 E
VO1m = · (4.6)
π 2
No caso da operação em PWM 2 nı́veis, a fundamental de tensão se torna:
E
VO1m = ma · (4.7)
2
A vantagem de se utilizar um inversor em meia-ponte é a utilização de apenas um braço
de chaves, e consequentemente apenas um conjunto de drivers para essas chaves. Contudo,
existirá a necessidade de se utilizar duas fontes c.c. de tensão de entrada, simétricas, o
que demanda o uso de grandes bancos capacitivos.
O comando de cada braço é feito com base na operação PWM 2 nı́veis, sendo que a
tensão de referência de cada braço é uma senóide do plano de fases trifásicas (120o de
defasagem). Note que a carga é conectada em Y não aterrado. Assim, pode-se definir três
tensões de saı́da para o conversor:
Figura 4.14: Formas de onda de controle, tensão nas fases A e B e tensão de fase-fase.
muito com os já discutidos para o PWM 2 nı́veis e o 3 nı́veis. Desta forma, nota-se que o
inversor trifásico é capaz de fornecer uma forma de onda de tensão nos terminais da carga
que possa facilmente ser convertido em um sinal senoidal, com a aplicação de um filtro
passa-baixas simples.
A Figura 4.15 apresenta 3 formas de onda para a tensão de saı́da do conversor. Note
que a tensão VAO , ou seja, entre a fase e o neutro da carga, em nada se iguala à tensão
fase-neutro da fonte c.c.. Isso indica que existe uma tensão entre o neutro da carga e o
neutro da fonte. Essa tensão é apresentada na Figura 4.16.
Figura 4.16: Formas de onda de tensão fase-fase e entre os neutros da carga e da fonte.
haveria a circulação de uma corrente de neutro. Essa corrente possuiria uma frequência
muito alta e poderia interferir no funcionamento de sistemas de proteção, além de aquecer
o transformador alimentador do sistema de acionamento.
Capı́tulo 5
Figura 5.1: Circuito de um retificador de meia-onda não controlado com carga resistiva.
Neste circuito, o diodo retificador se encontra em série com a fonte de energia (rede
elétrica) e com a carga, de modo que as correntes na rede (IS ), no diodo (Id ) e na carga
(Io ) são iguais. O diodo entrará em condução sempre que a tensão da fonte for positiva
e bloqueará quando ela for negativa. Com essas considerações, encontra-se as formas de
onda apresentadas na Figura 5.2.
Como comentado, nota-se que durante o semi-ciclo positivo da tensão de rede (Vs )
o diodo está em condução (queda de tensão nula) e toda tensão de entrada aparece na
saı́da do circuito. Durante o semi-ciclo negativo, no entanto, o diodo bloqueia, de modo
que não há circulação de corrente e a tensão na saı́da será nula. Consequentemente, no
semi-ciclo negativo, a tensão reversa da fonte é bloqueada pelo diodo. Observa-se também
que, como a carga é puramente resistiva, as formas de onda de tensão na saı́da e corrente
na saı́da são idênticas, a menos das suas amplitudes.
A tensão contı́nua produzida pelo retificador está contida no valor médio da tensão de
saı́da, como exemplifica a Figura 5.3.
Figura 5.3: Forma de onda da tensão na saı́da do RMO e seu valor médio.
O cálculo do valor médio de tensão é realizado por meio da soma das áreas sob a curva
de tensão ao longo de um perı́odo. Como o retificador de 1 pulso apenas apresenta um
PO = R · IO(RM
2
S) (5.4)
Nota-se portanto que será necessário definir o valor da corrente RMS de saı́da, a qual
é descrita neste caso como:
Vm
IO(RM S) = (5.5)
2R
Assim, a potência dissipada será:
Vm2
PO = (5.6)
4R
Em relação ao diodo, a corrente média no diodo será igual à corrente média na carga,
logo:
T P I = Vm (5.8)
Exemplo de cálculo
Uma vez conhecida a tensão de pico da forma de onda de entrada, pode-se calcular os
valores médios na saı́da do conversor:
1
VO(med) = · 311 = 99V (5.10)
π
99V
IO(med) = = 6, 6A (5.11)
15Ω
A potência dissipada na saı́da será igual a:
3112
PO = = 1.612W (5.12)
4 · 15Ω
O diodo a ser utilizado deve suportar uma corrente de 6,6A (mesma corrente de saı́da)
e uma TPI de 311V (valor de pico inverso da tensão de rede).
5.1.2 Carga RL
Em muitas aplicações industriais, as cargas dos sistemas de eletrônica de potência
podem exibir uma forte caracterı́stica indutiva, principalmente devido à bobinas e longos
cabos e conexão. Assim, se torna necessário verificar as modificações trazidas pela inserção
de um elemento indutivo na carga de um retificador. A Figura 5.4 mostra o circuito de
um RMO com carga RL.
As formas de onda de tensão e corrente na saı́da do circuito são apresentadas na Figura
5.5. Nota-se que o indutor provoca um atraso da evolução da corrente em relação à tensão,
sendo o ângulo de defasagem igual a ϕ. Com isso, quando a tensão na saı́da atinge o nı́vel
zero, o que ocorre no ângulo π, ainda existe corrente circulando no circuito. Como o
indutor não permite uma variação brusca de corrente, ele gerará um f.c.e.m (força contra
eletromotriz) que manterá o diodo conduzindo até que a corrente no circuito se anule. A
anulação da corrente ocorre no ângulo β, chamado de ângulo de extinção.
Figura 5.5: Formas de onda de tensão e corrente na saı́da de um RMO com carga RL.
Vm 1 − cosβ
VO(med) = · (5.13)
π 2
A corrente média na carga dependerá apenas do valor da resistência, uma vez que o
valor médio de tensão sobre um indutor é nulo. Assim:
1 β−π
te = , sendo f a frequência do sinal de entrada.
2πf
VO(med)
IO(med) = (5.14)
R
A Figura 5.6 mostra as curvas de tensão sobre o indutor e sobre o diodo. Note que,
como o diodo se mantém em condução durante uma parcela do semi-ciclo negativo, existe
um transição de tensão muito rápida no bloqueio do componente. A tensão no indutor
mostra como que o circuito consegue manter o diodo conduzindo durante o semi-ciclo
negativo: Observe que quando a senoide de entrada cruza o eixo zero, o indutor possui
uma tensão mais negativa do que a tensão de entrada, logo, o diodo enxerga uma diferença
de potencial positiva e se mantém em condução. No instante em que a tensão de entrada se
torna mais negativa do que a tensão no indutor, o diodo se torna reversamente polarizado
e bloqueia.
Exemplo de cálculo
Um retificador de meia-onda não controlado é alimentado com uma tensão de 380Vrms
e 60Hz. A carga do circuito é composta por um resistor de 16Ω e um indutor de 50mH.
Calcule a tensão e a corrente média na saı́da.
Resolução
Para se calcular os valores de tensão e corrente, primeiramente deve-se definir o valor
do ângulo de extinção. Para tal deve-se seguir as etapas definidas na seção anterior.
- Definição do valor da reatância indutiva.
Uma vez conhecido o ângulo de extinção, a tensão média de saı́da pode ser definida
como:
√
380V rms · 2
VO(med) = · (1 − cos230o ) = 140, 5V (5.17)
2π
A corrente média será igual a:
140, 5V
IO(med) = = 8, 78A (5.18)
16Ω
Apenas para termos de comparação, caso a parcela indutiva não existisse, o valor da
tensão média de saı́da seria de 171V e a corrente média estaria em torno de 10,7A. Isso
mostra que a presença do indutor reduz o fator de conversão do retificador.
Figura 5.9: Formas de onda no circuito RMO com carga RL e diodo de roda-livre.
Vm
VO(med) = (5.19)
π
A corrente de carga será dada por:
VO(med)
IO(med) = (5.20)
R
E o novo tempo de extinção pode ser definido como:
[ ( )]
L
β = π + 2πf · 5 (5.21)
R
OBS: Nesta situação, o ângulo de extinção pode ser superior a 360o , o que indicaria
que na realidade a corrente nunca chegaria a zero, ou seja, ela nunca se extinguiria. Caso
essa situação ocorra, diz-se que o circuito entrou em regime de condução contı́nua.
disso, quando o diodo entrar em condução, o indutor irá provocar o defasamento entre
corrente e tensão. As formas de onda de tensão e corrente na saı́da se tornam como as
apresentadas na Figura 5.11.
Figura 5.11: Formas de onda de tensão e corrente na saı́da do circuito RMO com carga
RLE.
• VS < E e IO > 0 - nesta etapa o indutor irá manter o diodo conduzindo até a
corrente de carga se anular.
VO(med) − E
IO(med) = (5.23)
R
Exemplo de cálculo
Um retificador de meia-onda é alimentado com uma tensão de 127Vrms e frequência
de rede. A carga do RMO é formada por uma resistência de 10Ω, uma indutância de
50mH e uma f.e.m induzida de 70V. Para este sistema, calcule os valores da tensão e da
corrente média de saı́da.
Resolução
Primeiramente, deve-se definir os ângulos de disparo e extinção do conversor. Seguindo
as etapas propostas na seção anterior, têm-se:
- Definição do fator a
Figura 5.12: Ábaco de Puschlowski. Não é válido para sistemas com efeito de roda-livre.
E 70V
a= = √ ≈ 0, 4 (5.24)
Vm 127V · 2
- Definição do ângulo de disparo
Figura 5.14: Formas de onda de tensão e corrente na saı́da de um RMO controlado com
carga R.
Note que no inı́cio de cada perı́odo, o SCR se encontra diretamente polarizado, uma
vez que a tensão de entrada é positiva. Porém, o dispositivo apenas entrará em condução
quando houver a aplicação de um pulso de gate. Uma vez conduzindo, o SCR se porta
como um diodo e será bloqueado quando a corrente que por ele flui se anular, ou seja, o
SCR apenas pode ser bloqueado de forma natural.
Observa-se que a atuação do SCR produz um recorte na forma de onda do retificador
de meia-onda vista anteriormente. Essa modificação altera a magnitude do valor médio
da tensão de saı́da, que agora será dependente do ângulo de disparo α. A nova tensão
contı́nua na saı́da do conversor pode ser definida como:
Vm (1 + cosα)
VO(med) = · (5.34)
π 2
Comparando-se a tensão média obtida neste caso, com a definida para o retificador
de meia-onda não-controlado, poderá se notar que o efeito do controle é o acréscimo do
1 + cosα
fator de correção ao valor médio original. O efeito, obviamente, irá se refletir
2
na potência entregue à carga, a qual pode ser descrita como:
sen(2α)
V2 π − α +
2
PO = m · (5.35)
4R π
Nota-se que à medida que o ângulo de disparo aumenta, a tensão média e a potência
na saı́da do circuito irá diminuir, contudo a relação entre o disparo e essas grandezas não
segue uma caracterı́stica linear. Como um exemplo, note que para ângulos de disparo até
20o , o efeito sobre a potência de saı́da é praticamente insignificante e a redução de tensão
é inferior a 5%. Contudo, entre um ângulo de disparo de 20o e um de 40o , percebe-se um
redução de 7% na potência e aproximadamente 9% na tensão.
Exemplo de cálculo
1 - Um retificador monofásico de meia-onda controlado com carga resistiva é alimen-
tado por uma tensão de linha de 220Vrms e aciona um banco resistivo de 15Ω. Calcule
o valor da tensão e corrente média e a potência dissipada na saı́da, para um ângulo de
disparo de 30o .
Resolução
Uma vez conhecido o ângulo de disparo a tensão média pode ser encontrada, fazendo-
se:
√
220V 2 1 + cos30o
VO(med) = · = 92, 4V (5.36)
π 2
A corrente média, pode ser encontrada fazendo:
VO(med) 92, 4V
VO(med) = = = 6, 16A (5.37)
R 15Ω
A potência na saı́da será:
√ sen(2 · 30o )
(220V 2)2 π − 0, 5236rad + 2
PO = · = 1.566, 8W (5.38)
4 · 15Ω π
1 + cosα 40V
= = 0, 6993 (5.40)
2 57, 2V
Assim, pode-se encontrar o valor do ângulo de disparo:
sen(2α)
π−α+ π − 1, 1606rad + sen(2 · 66, 5o )/2
2 = = 0, 745 (5.44)
π π
Com isso têm-se informações suficientes para responder a questão:
a) ângulo de disparo - 66,5o ;
b) Fator de redução da tensão - O fator de correção da tensão é de 0,6993, ou seja,
a tensão de saı́da é 69,93% da tensão original, o que indica, que houve uma redução de
30,07%;
c) Fator de redução da potência - O fator de correção da potência é de 0,745, o que
indica uma redução de 25,5% na potência original.
5.2.2 Carga RL
A Figura 5.16 apresenta o circuito de um retificador de meia-onda controlado com
carga RL.
Figura 5.17: Formas de onda de tensão e corrente na saı́da do circuito RMO controlado
com carga RL.
Exemplo de cálculo
β = 252o (5.47)
Assim, o valor médio de tensão será de:
√
90V 2
VO(med) = · (cos40o − cos252o ) = 21, 78V (5.48)
2π
Para calcular agora o valor da corrente média, será necessário conhecer o valor da
resistência de carga. Sabe-se que uma impedância é representada pela seguinte expressão
retangular:
Figura 5.19: Formas de onda de tensão e corrente na saı́da do RMO controlado com carga
RLE.
de controle do conversor seja limitada, ou sejam, esse tipo de conversor apenas poderá
assumir ângulos de disparo que obedeçam a seguinte restrição:
α1 ≤ α ≤ α2 (5.51)
Onde: ( )
E
α1 = arcsen
Vm (5.52)
α2 = π − α1
A tensão média de saı́da para este retificador possui o mesmo formato daquela definida
para o retificador não-controlado com carga RLE. No entanto, agora, o ângulo de disparo
é definido pelo sistema de controle.
[ ]
E
(cosα − cosβ) + (α − β)
Vm Vm
VO(med) = · +E (5.53)
π 2
A corrente média também segue o mesmo conceito:
VO(med) − E
IO(med) = (5.54)
R
A definição dos ângulos de extinção segue o mesmo procedimento descrito anterior-
mente para a leitura de informações no ábaco de puschlowski.
6. Considere uma carga RLE de valores 0, 5Ω, 4mH e 600V, respectivamente. Essa
carga é alimentada por um retificador não-controlado de meia-onda de tensão de
entrada 500Vrms, 50Hz. Para essa situação faca: a) Calcule o valor da corrente
média de saı́da, b) Calcule a potência absorvida pela fonte da carga; c) Esboce as
formas de onda de tensão na saı́da e no diodo do retificador;
Capı́tulo 6
Neste tipo de conversor, em cada semi-ciclo, dois diodos estarão conduzindo. No semi-
ciclo positivo, conduzirão os diodos D1 e D4 , já no semi-ciclo negativo, conduzirão os
diodos D2 e D3 . Assim sendo, as formas de onda de tensão e corrente na saı́da do circuito
se tornarão como mostrado na Figura 6.2.
Figura 6.2: Formas de onda de tensão e corrente na saı́da de um ROC com carga R.
Note que o circuito aproveita os dois semi-ciclos da tensão de entrada, fazendo com
que apareçam na saı́da dois lóbulos de tensão (2 pulsos). Como a magnitude da tensão, e
consequentemente da corrente, é sempre positiva existe um valor médio, o qual pode ser
expresso como:
2
VO(med) = · Vm (6.1)
π
A corrente média na saı́da será equivalente a:
VO(med)
IO(med) = (6.2)
R
Em relação aos diodos, como a corrente de carga é distribuı́da entre os elementos da
ponte, a forma de onda de corrente em cada diodo não será mais igual à corrente de carga,
mas sim uma parcela desta. A Figura 6.3 apresenta as formas de onda de corrente na
carga, nos diodos e na fonte.
Note que a cada diodo conduz metade da corrente de carga, de modo que se pode dizer
que a corrente média em cada diodo é igual a:
IO(med)
ID(med) = (6.3)
2
Outra observação importante é que a corrente entregue pela fonte apresenta uma
caracterı́stica senoidal, ou seja, não há valor médio na corrente de fonte, o que é muito
importante para não causar problemas na rede elétrica.
Durante o perı́odo em que o diodo não conduz, ele bloqueia a tensão conduzida por
um diodo concorrente, ou seja, ele bloqueia a tensão de um semi-ciclo, como mostra a
Figura 6.4.
Assim, a tensão de pico inversa percebida pelo diodo será equivalente a:
T P I = Vm (6.4)
A potência dissipada na carga será de:
Vm2
Po = (6.5)
2R
Exemplo de cálculo
Um retificador de onda completa em ponte é alimentado por uma rede de 50Vrms/50Hz
e alimenta um banco resistivo de especificação nominal 150W/5A. Determine: a) tensão
média na carga; b) a corrente média na carga; c) a potência efetiva dissipada pelo banco
resistivo; d) as especificações para os diodos.
Resolução
6.1.2 Carga RL
A Figura 6.5 apresenta o circuito de um retificador de onda completa com carga RL.
Neste caso, assim como ocorre com os retificadores de meia-onda, a ação do indutor
será de atrasar a evolução da corrente. Novamente, quando o primeiro semi-ciclo de
tensão acabar, ou seja, quando a amplitude da tensão de saı́da chegar a zero, haverá ainda
corrente circulando no circuito, e esta não pode ser bruscamente interrompida. Porém,
agora, existe caminho para circulação de corrente em ambos os semi-ciclos, ou seja, o
Figura 6.6: Formas de onda de tensão e corrente na saı́da e corrente nos diodos de um
ROC com carga R.
Note que a corrente na carga nunca atinge o nı́vel zero, o que caracteriza o regime de
condução contı́nuo. Isso é possı́vel porque os diodos da ponte retificadora dividem a
corrente de carga, de modo que ela sempre possa circular, sem que haja a necessidade de
se provocar a ocorrência de patamares negativos na tensão de saı́da. Com isso, a tensão
de saı́da possui a mesma forma de onda de um ROC com carga R, e consequentemente é
definida pelas mesmas expressões.
Neste conversor, o efeito do indutor é de reduzir o ripple na corrente de carga, deixando-
a mais ”contı́nua”. Quanto maior a parcela indutiva na carga, menor será a parcela
alternada presente na corrente de carga, contudo, menos senoidal será também a corrente
de fonte. A Figura 6.7 apresenta a forma da corrente de fonte, note que com a adição do
indutor a corrente se torna mais parecida com uma onda quadrada.
Exemplo de cálculo
Um retificador de onda completa em ponte com carga RL é ligado a uma fonte de
120Vrms. Se a resistência de carga for 10Ω e XL >> R, determine: a) a tensão média de
carga; b) a corrente média de carga; c) o valor RMS da corrente de carga; d) a potência
consumida pela carga.
Resolução
Ao se definir que a reatância indutiva da carga é muito superior à parcela resistiva,
indica-se que a corrente de carga possui um ripple muito pequeno, ou seja, praticamente
irrelevante. Assim, pode-se considerar que a corrente no retificador é puramente contı́nua.
Figura 6.7: Formas de onda de tensão na saı́da e corrente na fonte de um ROC com carga
R.
VO(med) 108V
IO(med) = = = 10, 8A (6.11)
R 10Ω
c) A corrente RMS de um sinal puramente contı́nuo é o próprio valor médio da corrente,
ou seja: IO(rms) = 10, 8A.
d) A potência consumida pela carga pode ser descrita como:
2
Po = IO(rms) · R = (10, 8)2 · 10Ω = 1.166, 4W (6.12)
Figura 6.9: Formas de onda de tensão e corrente na carga para um ROC com carga RLE
[ ]
E
(cosα − cosβ) + (α − β)
2Vm Vm
VO(med) = · +E (6.13)
π 2
Sendo a corrente média de carga definida como:
VO(med) − E
IO(med) = (6.14)
R
Uma questão para a qual se deve atentar, no caso dos retificadores ROC com carga
RLE, é que, se a parcela reativa da carga for muito alta, pode ocorrer do ângulo de extinção
ser maior do que o ângulo de disparo do próximo semi-ciclo, ou seja, β > α+π. Se esse fato
ocorrer, o circuito entrará em condução contı́nua e a forma de onda, e consequentemente,
a forma de cálculo da tensão média de saı́da serão alterados. A Figura 6.10 apresenta
uma situação onde ocorre a entrada em condução contı́nua.
Note que após o primeiro perı́odo, o retificador irá exibir uma forma de onda seme-
lhante à observada para o caso de carga R, e a corrente será sempre contı́nua, e com
Figura 6.10: Formas de onda para um ROC com carga RLE em condução contı́nua.
pequeno ripple. Neste caso, o cálculo da tensão média será igual ao executado nos casos
de carga R e RL e a corrente continuará a ser a mesma definida pela expressão (6.14).
A definição do ângulo de extinção é feito por meio do ábaco de puschlowski, seguindo
os mesmos passos descritos para nas seções anteriores, contudo, deve-se lembrar que o
ábaco não pode ser utilizado em caso de efeito de roda-livre. Assim, se o conversor
entrar em condução contı́nua, o ábaco não fornecerá informações corretas. Para auxiliar
a análise do sistema, constuma-se traçar sobre o ábaco linhas de limiar de condução, ou
seja, linhas delimitadoras das regiões de condução contı́nua e descontı́nua. Essas linhas
são apresentadas no ábaco de puschlowski da Figura 6.11.
Note que o existem três linhas delimitadoras traçadas no ábaco: uma para o retificador
monofásico em ponte (1ϕ Ponte) e outras duas para os retificadores trifásicos, os quais
serão abordados nos próximos capı́tulos. Se ao se tentar definir o ângulo de extinção, o
cruzamento da curva com o ângulo de disparo se der na parte superior da linha delimita-
dora, o conversor se encontrará em condução contı́nua, caso contrário, o conversor estará
em condução descontı́nua.
Exemplo de cálculo
E 70V
a= = √ = 0, 389 ≈ 0, 4 (6.15)
Vm 127V 2
- Definição do ângulo de disparo
√ [ ]
127V 2 70V
VO(med) = (cos23, 6o − cos180o ) + √ (0, 4119rad − π) + 70V = 118, 6V
π 127V 2
(6.19)
A corrente média apresentada pelo circuito será de:
VO(med) − E 118, 6V − 70V
IO(med) = = = 4, 86A (6.20)
R 10Ω
A potência consumida pela fonte E pode ser definida como:
grupos de disparo deve ser de 180o , ou seja, se o SCR T1 for disparado com um ângulo
de 25o , o tiristor T2 deve ser disparado com um ângulo de 205o . Caso essa restrição não
seja obedecida, as formas de onda de tensão na saı́da, para cada semi-ciclo do sinal de
entrada, não serão simétricas.
para os RMO pode ser empregado para este circuito. O mesmo ocorre com o fator de
correção de potência.
Exemplo de cálculo
Um retificador de onda completa controlado, conectado a uma linha de 220Vrms,
apresenta uma tensão média de 120V em sua saı́da. Defina o valor do ângulo de disparo
deste conversor.
Resolução
Conhecendo-se a tensão de saı́da do ROC com carga R, pode-se definir o ângulo de
disparo fazendo-se:
2Vm 1 + cosα
VO(med) = · (6.23)
π 2
√
2 · 220 2 1 + cosα
120V = · (6.24)
π 2
π120V
cosα = √ −1 (6.25)
220 2
( )
π120V
α = arccos √ − 1 = 77, 7o (6.26)
220 2
6.2.2 Carga RL
A Figura 6.14 apresenta o retificador de onda completa controlado com carga RL.
carga, o ângulo de extinção da corrente poderá se extender até invadir o próximo semi-
ciclo, o que levaria o circuito a entrar em condução contı́nua. Assim, existem duas o
possı́veis operações para o retificador controlado de onda completa com carga RL:
Condução descontı́nua
Nesta situação, as formas de onda de saı́da do circuito serão como apresentadas na
Figura 6.15.
Figura 6.15: Formas de onda de saı́da um ROC controlado com carga RL em condução
descontı́nua.
Note que a corrente se extingue antes do inı́cio do próximo disparo, assim, existirá
sempre um patamar zero na corrente. Neste caso, a tensão média de saı́da do circuito
será:
2Vm cosα − cosβ
VO(med) = · (6.27)
π 2
A região de condução descontı́nua existirá sempre que o ângulo de extinção for menor
do que o ângulo de disparo do próximo semi-ciclo:
β <α+π (6.28)
OBS: A definição do ângulo de disparo é feita por meio do ábaco de puschlowski.
Condução contı́nua
No caso da condução contı́nua, o ângulo de extinção ultrapassa o ângulo de disparo
do próximo semi-ciclo, fazendo com que o conversor apresente um efeito de roda-livre. O
resultado da entrada em condução contı́nua é apresentada na Figura 6.16.
Neste caso, a tensão média na saı́da do conversor será determinada por:
2Vm
VO(med) = · cosα (6.29)
π
Prof. Thiago R. de Oliveira 87 Automação Industrial
Eletrônica Industrial
Figura 6.16: Formas de onda de saı́da um ROC controlado com carga RL em condução
contı́nua.
Observe que o fator de correção do conversor permite que a tensão média de saı́da
seja negativa, como ilustra a curva da caracterı́stica do fator de correção, apresentada na
Figura 6.17.
Figura 6.17: Caracterı́stica do fator de correção para a condução contı́nua do ROC con-
trolado com carga RL.
Exemplo de cálculo
Um retificador de onda completa alimenta uma carga de impedância 30∠53o Ω. Con-
siderando a tensão de entrada igual a 220Vrms e um ângulo de disparo de 50o , determine:
a) o regime de condução, b) o valor da tensão média de saı́da, c) o valor da corrente média.
Resolução
O primeiro passo para resolver o problema é definir o regime de condução. Para isso,
deve-se utilizar o ábaco de puschlowski, lembrando que para cargas RL, o fator a = 0:
- Definição dos parâmetros de carga
Para se determinar a parcela resistiva e a parcela reativa da carga, deve-se utilizar a
representação retangular da impedância:
√ ( )
X L
R + jXL = R2 + XL ∠arctg
2
(6.30)
R
Assim:
Figura 6.19: Formas de onda de saı́da de um ROC controlado com carga RLE em condução
descontı́nua.
Note que, como ocorre com os RMO controlados, devido à presença da tensão E na
carga, os possı́veis valores de ângulo de disparo são limitados a:
α1 ≤ α ≤ α2 (6.35)
Onde: ( )
E
α1 = arcsen
Vm (6.36)
α2 = π − α1
Respeitando essa restrição, o valor da tensão média pode ser definida como:
[ ]
E
(cosα − cosβ) + (α − β)
2Vm Vm
VO(med) = · +E (6.37)
π 2
Neste conversor, se o ângulo de extinção for superior ao ângulo de disparo do próximo
semi-ciclo, ocorrerá a entrada em regime de condução contı́nua. Neste caso, a forma de
onda de tensão na saı́da se assemelhará à forma mostrada na Figura 6.16 e a definição da
tensão segue a equação (6.34).
5. Considere uma carga RLE de valores 0, 5Ω, 4mH e 600V, respectivamente. Essa
carga e alimentada por um retificador não-controlado de onda completa de tensão
de entrada 600Vrms, 50Hz. Para essa situação determine: a) O valor da corrente
média na saı́da do conversor, b) Calcule a potência absorvida pela fonte de tensão
da carga, c) Esboce a forma de onda de tensão na saı́da.
Capı́tulo 7
• Conexão em ∆, ou triângulo - As fases são conectadas entre si, não havendo ponto
neutro e as correntes nas fases são diferentes das correntes nas linhas.
• Tensão Fase-Fase (Vϕϕ ): A tensão de fase-fase é medida entre dois terminais de fonte,
por exemplo, entre os terminais A e B = VAB .
Devido ao defasamento das tensões de entrada, cada diodo irá conduzir durante um
intervalo de tempo, de modo que a tensão na saı́da será composta por parcelas das tensões
de entrada, como ilustra a Figura 7.5.
Note que cada tensão de entrada (tensão fase-neutro) é aplicada sobre a carga de
saı́da durante um perı́odo correspondente a 120o , de modo que o ripple de tensão possui
3 pulsos por perı́odo de 60Hz. Logo, o conversor pode ser chamado também de retificador
de 3 pulsos. Observe também que a tensão a ser aplicada à carga é aquela que apresenta
Exemplo de cálculo
Um retificador trifásico de meia-onda com carga RL é alimentado por uma rede em Y
com tensões de fase-neutro iguais a 108Vrms. Considerando uma carga de 15Ω e 140mH,
defina: a) Tensão média na saı́da, b) corrente média na saı́da, c) especificações dos diodos.
Figura 7.7: Forma de onda de tensão nos diodos do retificador trifásico de meia-onda.
Resolução
A carga RL não afeta a forma de onda de tensão de saı́da de um retificador trifásico
não-controlado, o que faz com que se possa definir a tensão de saı́da como:
VO(med) 126, 3V
IO(med) = = = 8, 42A (7.6)
R 15Ω
c) Os diodos a serem empregados neste conversor devem suportar uma corrente de
2,8A e uma TPI de 264,5V.
α′ = α − 30o (7.8)
Isso faz com que o conversor possa exibir duas formas de onda distintas em sua saı́da,
dependo do ângulo de disparo. A primeira possibilidade é a condução contı́nua, a qual é
exibida na Figura 7.9, e ocorre sempre que:
Figura 7.9: Forma de onda de tensão na saı́da do RMO trifásico controlado, em condução
contı́nua.
Neste caso de condução contı́nua, o valor da tensão média de saı́da se dará como:
Figura 7.10: Forma de onda de tensão na saı́da do RMO trifásico controlado, em condução
descontı́nua.
Exemplo de cálculo
Um retificador de meia-onda trifásico controlado aciona uma carga de 30Ω a partir de
uma rede com tensões nominais de 440Vrms fase-fase. Considerando um ângulo de disparo
igual a 45o , defina: a) tensão média de saı́da, b) corrente média de saı́da, c) regime de
condução.
Resolução
O primeiro passo é definir o regime de condução. Pelo ábaco de puschlowski, nota-se
que para 45o de ângulo de disparo, o conversor em questão estará em condução contı́nua.
Olhando pelas restrições citadas na seção anterior, nota-se que:
√
VO(med) = 1, 1695VϕN (rms) · cosα′ = 1, 1695 · (440V / 3) · cos15o = 287, 3V (7.14)
Neste conversor, para que a carga seja alimentada, é necessário que dois diodos estejam
em condução: um diodo do grupo superior (D1 , D3 ou D5 ) e outro do grupo inferior (D2 ,
D4 ou D6 ). Assim, sempre duas fases estarão alimentando a carga, de modo que esta
enxergará parcelas das tensões de fase-fase de entrada. A forma de onda de tensão na
saı́da é apresentada na Figura 7.12.
Observe que ao longo de um perı́odo de 60Hz, a tensão de saı́da apresenta um ripple
com 6 lóbulos, o que faz com que o retificador trifásico de onda completa seja conhecido
como retificador de 6 pulsos. Para se determinar quais fases serão conectadas à carga
em cada instante é necessário definir qual das tensões fase-fase possui a maior amplitude
instantânea.
A tensão média na saı́da do conversor será definida como:
Como mostra a Figura 7.12, cada diodo estará exposto a uma TPI igual ao valor de
pico da tensão de fase-fase de entrada, ou seja:
√
TPI = 2Vϕϕ(rms) (7.18)
Exemplo de cálculo
Um retificador trifásico de onda completa alimenta uma carga de 50Ω, a partir de uma
tensão de entrada de 220Vrms, fase-neutro. Defina o valor da tensão e corrente média de
saı́da.
Resolução
A tensão média de saı́da será:
√
VO(med) = 1, 35 · Vϕϕ(rms) = 1, 35 · 220V rms 3 = 514, 4V (7.19)
A corrente média de saı́da será:
514, 4V
IO(med) = = 10, 3A (7.20)
50Ω
Uma vez definido o disparo do primeiro tiristor, a sequência de comandos deve seguir
a sequência de fase. Como exemplo, pode-se definir um ângulo de disparo de 90o e em
seguida determinar os ângulos de disparo de cada tiristor, respeitando a sequência de fase
descrita na Figura:
Sequência de fase: VAB , VCB , VCA , VBA , VBC , VAC ...
Sequência de tiristores: T1 /T4 , T5 /T4 , T5 /T2 , T3 /T2 , T3 /T6 , T1 /T6 ...
Assim, os ângulos de disparo devem ser:
T1 −→ 90o e 390o ;
T2 −→ 210o e 270o ;
T3 −→ 270o e 330o ;
T4 −→ 90o e 150o ;
T5 −→ 150o e 210o ;
T6 −→ 330o e 390o ;
α ≤ 120o (7.22)
Caso contrário, ou seja, se α > 120o , o conversor entrará em condução descontı́nua,
como mostra a Figura 7.15.
Figura 7.15: Formas de onda de tensão na saı́da de um ROC trifásico controlado, condução
descontı́nua.
2. Um retificador de 3 pulsos fornece 20A médios para uma carga resistiva. Se a tensão
medida por um multı́metro DC na saı́da do conversor foi de 150V, determine: a) A
tensão RMS de entrada; b) as especificações dos diodos, c) O valor da resistência de
carga;
3. Um retificador de três pulsos alimenta uma carga resistiva de 10Ω, a partir de uma
fonte de 220Vrms. Determine: a) a tensão média de carga, b) a corrente média de
carga, c) as especificações dos diodos.
4. Um retificador de três pulsos é ligado a uma fonte de 220Vrms e alimenta uma carga
RL com uma corrente de 50A. Se XL >> R, defina a potência consumida pela carga.
6. Um retificador de três pulsos controlado alimenta uma carga indutiva com um ângulo
de disparo de 70o . Considerando que o indutor mantém a condução contı́nua e a
tensão de entrada é de 220Vrms , faça: a) Calcule a tensão média de saı́da, b) esboce
a forma de onda da tensão de saı́da.
8. Um retificador de seis pulsos está conectado a uma fonte trifásica ligada em Y com
220Vrms fase-neutro. Calcule a tensão média de saı́da, se o ângulo de disparo for
de 70o .
10. *Quais as condições para que o conversor de seis pulsos opere como um retificador?
Referências Bibliográficas
[1] Rubens M. Santos Filho, Francisco E. Magalhães, Ari D. Soares, Eletrônica de Potên-
cia, Apostila CEFET-MG, 2010.
[3] Ned Mohan, Power Electronics, Converters, Applications and Design, John Wiley &
Sons, USA, 1990.