COMPREENDENDO A AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO Questões Epistemológicas e Práticas
COMPREENDENDO A AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO Questões Epistemológicas e Práticas
COMPREENDENDO A AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO Questões Epistemológicas e Práticas
epistemológicas e práticas
Cipriano Luckesi
Contato --- ccluckesi@gmail.com
INTRODUÇÃO
No texto que se segue, o leito encontrará três
tratamentos da fenomenologia da avaliação em educação.
O título 1 cuida o conceito do ato de avaliar, concebido
como ato de investigar a qualidade da realidade. O título
2 desdobra o primeiro e está comprometido com os usos
dos resultados do ato avaliativo --- uso classificatório e
uso diagnóstico. E, o título 3 está articulado
propriamente com a fenomenologia da prática da
avaliação em educação: da aprendizagem, institucional e
de larga escala.
1. COMPREENSÕES EPISTEMOLÓGICAS
ESSENCIAIS
1.1. O ato de avaliar é constitutivo do ser humano
3. AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Existem vários usos possíveis dos resultados do ato
avaliativo em educação, tanto sob a categoria
classificatória, como sob a categoria diagnóstica. Para
iniciar, vamos nos conscientizar das três mais
significativas possibilidades: avaliação da aprendizagem,
avaliação institucional, avaliação de larga escala.
3.1. Avaliação da aprendizagem
Estamos nos referindo à avaliação da aprendizagem
em sala de aula. Na sala de aula, tendo presente as
características etárias, psicológicas e curriculares dos
aprendentes, o educador, como gestor da sala de aula
(aquele que investe na produção significativa de
resultados), praticará o ensino, investindo na
aprendizagem de todos, desde que todos vêm para a
escola para aprender.
Isso implica em que o educador --- capacitado e
competente no uso de teorias e práticas do ensino-
aprendizagem --- deve ter plena consciência de sua ação
e dos resultados que deseja produzir junto aos seus
educandos, assim como pleno investimento necessário a
fim de que os resultados de sua ação pedagógica sejam
significativos.
Nesse contexto, o educador, como gestor da sala de
aula, agirá ensinando, portanto, buscando um resultado
positivo de sua ação, estabelecido e previsto no
planejamento curricular, traduzido em plano de ensino,
como guia para a ação pedagógica.
É no seio dessa prática de ensinar-aprender, que
cabe a prática da avaliação da aprendizagem e, no caso,
os seus resultados podem ser utilizados tanto sob a forma
classificatória como sob a forma diagnóstica.
A forma classificatória foi usada ao longo da
história, desde que a escola se organizou, sob forma
como existe hoje, na sociedade ocidental, do século XVI
para cá. A modalidade de uso classificatório dos
resultados da avaliação, ao longo desse espaço de tempo,
já secular, recebeu o nome de “exame escolar”.
Infelizmente, essa modalidade classificatória tem
sido utilizada quase que de modo exclusivo, ao longo da
história da educação ocidental, nos quinhentos anos do
tipo de organização escolar que conhecemos.
É interessante observar que, quando os jesuítas,
organizadores da moderna organização escolar,
introduziram a prática dos exames escolares no decurso
da segunda metade do século XVI, em suas escolas na
Europa, como nas colônias europeias esparramadas pelo
mundo, eles propunham também um investimento no
ensino cotidiano, estabelecendo um ritual para as aulas,
configurados da seguinte forma: (a) oração (eram --- e
são --- religiosos católicos, então as atividades deveriam
ser antecedidas de uma oração); (b) seguia-se, então, a
preleção (exposição do conteúdo); (c) a seguir, vinham
os exercícios relativos ao conteúdo exposto, tendo em
vista sua assimilação ativa; (d) correção dos exercícios;
(e) superação das dúvidas dos estudantes; (f) tarefa para
casa. No dia seguinte, iniciava-se com a oração, correção
dos exercícios do dia anterior; nova preleção, seguindo-
se todo o ritual exposto anteriormente.
E, o professor deveria ter uma “Pauta” (uma
caderneta), na qual registrava a situação de cada
estudante de sua turma, em termos de seus sucessos nas
aprendizagens. Essa pauta deveria ser utilizada pela
Banca Examinadora por ocasião dos exames gerais, que
ocorriam uma única vez, ao final do ano letivo, tendo em
vista integralizar as condições de aprovação ou
reprovação do estudante. Os exames gerais, no caso,
eram precedidos de um ensino consistente, que deveria
formar as competências dos estudantes.
Infelizmente, com o passar do tempo, os exames
escolares se multiplicaram nas escolas, chegando a
existir exames semanais, mensais, semestrais e anuais,
obscurecendo a prática ativa do ensino, cujos resultados
eram registrados na “Pauta” do professor, que tinha por
objetivo garantir um acompanhamento de cada estudante
ao longo do ano letivo, com os respectivos registros de
suas aprendizagens.
No caso, o padrão de classificação era o ideal a ser
alcançado em termos de aprendizagem por parte dos
estudantes. Também vale registrar que nem na prática
pedagógica jesuítica nem na história da educação
ocidental, essa determinação construtiva fora
efetivamente sustentada.
Na Ratio Studiorum, documento básico da
pedagogia jesuítica, publicado em 1599, existe o capítulo
das premiações em decorrência das classificações obtidas
pelos estudantes no final de cada ano letivo. Os três
primeiros colocados recebiam prêmios e elogios públicos.
Então, mesmo tendo como orientação prática o
acompanhamento do estudante através da “Pauta do
Professor”, abriu-se o espaço para as consequências do
uso classificatório --- senão de modo exclusivo, aos
menos de modo predominante --- dos resultados da
avaliação (à época, assim como posteriormente, e ainda
até o presente momento, denominados de “exames
escolares”).
Nesse contexto o registro da classificação do
estudante em sua aprendizagem, vagarosamente, foi se
tornando mais importante que a própria aprendizagem.
As denominadas “notas escolares”, se tornaram
independente da efetiva aprendizagem. Hoje ainda, ao
invés de perguntarmos a um estudante --- “Como foi sua
aprendizagem em tal conteúdo”? ---, perguntamos ---
“Que nota tirou”?
Já, sob a ótica diagnóstica, como parceira do gestor
em sua ação construtiva, sinalizando-lhe a qualidade dos
resultados de seus investimentos, a avaliação
praticamente passou a ser considerada desse ponto de
vista a partir de 1930, com os entendimentos de Ralph
Tyler de que a prática educativa deve produzir resultados
positivos para todos os seus demandantes e, não para
alguns poucos, considerados os melhores.
Ouso dos resultados do ato avaliativo, sob essa ótica,
então, subsidia o gestor da ação pedagógica a tomar
sucessivas decisões, a fim de que os seus estudantes
aprendam o necessário. Importa acrescentar que,
politicamente, deveria ser, “a fim de que ‘todos’ os seus
estudantes aprendam o necessário. Então, a curva
estatística de aproveitamento escolar será assimétrica.
Ninguém na parte inferior da curva estatística de
distribuição dos estudantes em sua aprendizagem, e todos
na sua parte superior.
Qual seria o ideal de uso das modalidades ---
classificatória e diagnóstica --- de avaliação na prática
educativa escolar? A resposta é --- as duas modalidades--
-, com a condição de que esta afirmação seja
compreendida de modo adequado e satisfatório.
O padrão classificatório expressará, como já
sinalizamos acima, o padrão de qualidade necessário ao
qual “todos” os estudantes devem chegar ao final do
período de ensino; afinal, o topo da curva estatística que,
obrigatoriamente, deverá ser assimétrica. Para tanto,
importa que os educadores assumam como meta de sua
ação pedagógica um ensino que possibilite classificar
todos os estudantes no nível máximo da curva
assimétrica, ou seja, que todos aprendam o necessário,
estabelecido curricularmente e praticado em sala de aula.
Já, a modalidade diagnóstica de uso dos resultados
da avaliação deve ocorrer, no caso, subsidiando as
decisões no decurso do processo de ensino, de tal forma
que todos os educandos atinjam o nível classificatório
máximo previsto, ou seja, que todos aprendam o
efetivamente necessário, estabelecido no currículo
escolar e traduzido no plano de ensino de cada professor.
A distorção ocorre quando os educadores só se
servem da modalidade classificatória, pautados numa
escala de qualidades, que vai do mais para o menos ou do
menos para o mais, sem servir-se permanentemente da
modalidade diagnóstica em todo seu percurso de ensino.
O uso mais comum --- ou quase que exclusivo ---,
em todas as nossas escolas é o da modalidade
classificatória dos resultados da avaliação da
aprendizagem através de uma escala estabelecida entre
extremos, tais como --- aprovado/reprovado; primeiro
lugar/último lugar; aprendeu/não aprendeu --- mais
próxima da “curva estatística normal de distribuição de
uma população” do que de uma “curva assimétrica”, a
nosso ver ideal para uma prática educativa consistente e
significativa.
Além de compreender e praticar adequadamente as
modalidades de uso dos resultados dos atos avaliativos,
sob as óticas classificatória e diagnóstica, acima
abordadas, torna-se fundamental compreender e praticar
uma elaboração satisfatória dos instrumentos de
coleta de dados da aprendizagem dos estudantes, pois
que são os dados cuidadosamente coletados que
subsidiam a qualificação, no caso, da realidade da
aprendizagem dos estudantes. Só com dados coletados
com precisão e cuidados metodológicos poderão
subsidiar juízos de qualidade consistentes sobre a
aprendizagem dos estudantes.
Infelizmente, para a prática cotidiana de coleta de
dados sobre a aprendizagem dos estudantes em nossas
salas de aula, os instrumentos de coleta de dados têm
sido construídos e utilizados sem que se leve
suficientemente em conta as qualidades necessárias de
um instrumento satisfatório de coleta de dados, no
contexto de uma prática investigativa.
Por vezes, no âmbito do senso comum, afirmamos
que, se elaborarmos instrumentos de coleta de dados
sobre a aprendizagem de nossos estudantes no limite
daquilo e da forma como ensinamos, os testes serão
muito fáceis e todos os estudantes serão aprovados.
Ora, se os conteúdos que ensinamos são fáceis e
pouco complexos, nossos estudantes não deverão ser
submetidos a conteúdos mais complexos e difíceis do
que aqueles que foram ensinados. Solicitar mais do
estudante do que aquilo que fora efetivamente ensinado
servirá exclusivamente para apostar em que sejam
reprovados. Desse modo, os instrumentos devem
elaborados em compatibilidade com o ensinado e o
aprendido.
Então minimamente, na elaboração de qualquer
instrumento de coleta de dados para avaliação da
aprendizagem, os instrumentos necessitam ser elaborados,
tendo presente as seguintes características: