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A Escola de Annales

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TEORIA DA HISTÓRIA

Unidade IV
7 A ESCOLA DOS ANNALES E SEU IMPACTO NAS FORMAS DE CONCEBER A
HISTÓRIA

A historiografia cientificista do século XIX logo se tornou uma “Velha História” com o anúncio, no
século seguinte, de uma “Nova História” a lhe condenar. Formatos consolidados de história política,
diplomática ou militar logo se tornaram aquilo que se passou a considerar como uma história tradicional
a ser revista. A ênfase no encadeamento dos fatos em uma relação de causalidade foi duramente
combatida pela nova historiografia francesa que se opôs com decisão à histoire évenementielle, ou
história factual.

Os modos de fazer a História, os temas tratados e as abordagens escolhidas mudaram decisivamente


sob a influência do movimento chamado de Escola dos Annales. Nas palavras do historiador inglês
Peter Burke (1997), autor de obra que analisa o impacto causado por esse movimento, os Annales teriam
produzido uma verdadeira “Revolução Francesa” na historiografia.

7.1 A Escola dos Annales

Em 15 de janeiro de 1929 surge o primeiro número de uma revista de História criada por Lucien
Febvre e Marc Bloch com o nome de Annales d’histoire économique et sociale. Vivia‑se o período
do pós‑guerra, com uma Europa se reorganizando após o primeiro grande conflito mundial do século
XX. Os dois historiadores haviam trabalhado na Universidade de Estrasburgo, fundada nessa cidade
recentemente desanexada da Alemanha. O ambiente de renovação intelectual ali encontrado atingia
não somente a história, mas também a antropologia, a psicologia, a sociologia e a geografia. O convívio
com essas diferentes especialidades em formação na área das ciências humanas se repete na proposta
da revista desde seu início, tornando‑se uma das principais características da Escola dos Annales: a
interdisciplinaridade. O diálogo com outras disciplinas, a incorporação de métodos e de abordagens das
ciências sociais ampliou o olhar dos historiadores, enriqueceu suas análises e contribuiu para diversificar
as abordagens historiográficas existentes. A fundação da revista significou a criação de um fórum
de defesa das ideias de renovação historiográfica que circulavam no ambiente intelectual da época,
acabando por designar todo esse movimento. A revista Annales, foi editada desde sua criação, com
breves interrupções, e segue até hoje com o nome de Annales. Histoire, Sciences Sociales.

A História consolidada no século XIX havia sido a política. Os temas abordados relacionavam‑se
aos fatos memoráveis dos reinados e impérios, dos estados nacionais, das suas guerras e conquistas. A
Escola dos Annales se contrapôs de forma contundente a esse tipo de história política tradicional com
a proposta de uma “história total” em que houvesse uma articulação entre meio, economia, sociedade,
política, cultura e acontecimentos. A História deveria se dedicar a todas as atividades humanas e não
apenas à história política.
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Unidade IV

O repúdio à história factual se expressava também na defesa da substituição da tradicional narrativa


de acontecimentos por uma história‑problema. O historiador deveria se voltar para o passado e
problematizá‑lo a partir de questionamentos do presente.

Antes mesmo da criação da revista, novas visões sobre a História vinham sendo defendidas. Marc
Bloch já havia escrito uma obra renovadora na qual se observa a influência, além da antropologia e da
sociologia, da psicologia, que despontava como uma possibilidade de estudo dos aspectos simbólicos
no pensamento. Em Os Reis Taumaturgos (1924), o assunto abordado era a crença disseminada na
Inglaterra e na França quanto ao poder curativo do ‘toque real’. Havia uma ampla crença de que o doente
de escrófula, uma doença de pele, poderia ser curado se o rei o tocasse, organizando‑se cerimônias para
isso na Idade Média que perduraram até o século XVII. De acordo com Peter Burke (1997), o trabalho
de Bloch foi inovador em vários aspectos. Já de início, a periodização escolhida ia além de um período
convencional, a Idade Média, anunciando o que veio a ser entendido posteriormente como “longa
duração”. Na abordagem utilizada, introduziu elementos de uma ”psicologia religiosa”, anunciando
a história das mentalidades, marca distintiva da historiografia dos Annales. Quanto a esse aspecto,
apoia‑se no conceito de “representação coletiva” emprestado de Émile Durkheim, um dos iniciadores da
sociologia clássica. E, ainda, utiliza‑se da história comparativa, um recurso típico dessa historiografia.
O seu colega Febvre, também anunciou os caminhos a serem defendidos na revista em seus trabalhos
sobre o Renascimento e Reforma, nos quais enveredou pelos aspectos simbólicos e atitudes coletivas,
em uma abordagem tributária de uma “psicologia histórica”.

Esses dois historiadores, figuras centrais da origem da historiografia dos Annales, produziram obras
seminais de abordagens históricas que se seguiram e formaram discípulos que se tornaram eles também
grandes historiadores.

March Bloch destacou‑se como medievalista, sua obra A Sociedade Feudal escrita entre 1930 e 1940
é clássico indispensável sobre esse período. Nela, trata dos aspectos econômicos do feudalismo e também
dos modos de viver, pensar e sentir da época. Sua carreira foi interrompida em 1944 ao ser fuzilado
pelos nazistas como membro da resistência francesa. Febrve publica O Problema da Incredulidade no
Século XVI: a Religião de Rabelais em 1942 e assume sozinho a direção da revista, após a morte de Bloch,
contribuindo para a consolidação do movimento no ambiente intelectual da época.

Observação

Marc Bloch, nascido em Lyon em 1886, lutou na Primeira Guerra


Mundial na infantaria, chegando a ser condecorado por mérito após ser
ferido. Durante a ocupação nazista na França, já na Segunda Guerra, o
judeu Marc Bloch integrou a resistência francesa tendo sido capturado e
torturado pela Gestapo. Acabou morrendo fuzilado em 1944.

Como seguidores imediatos desses pioneiros, que contribuíram para a disseminação das ideias do
grupo, podemos citar Maurice Agulhon, Georges Duby e Fernand Braudel, que se destacou na condução
do grupo dos Annales a uma posição de destaque nos meios universitários da França.
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Podemos identificar três fases da Escola dos Annales (BURKE, 1997):

• 1920‑1945 – período em que Lucien Febvre e Marc Bloch promovem uma verdadeira guerra
contra a história factual tradicional.

• 1945‑1968 – nessa fase Fernand Braudel está à frente do grupo e os Annales já assumem o
domínio do stablishment histórico. Há o surgimento dos conceitos de estrutura e conjuntura.

• 1968 – emergência da terceira geração dos Annales (Nova História) com ênfase nas mentalidades
e dá‑se a fragmentação dos temas e abordagens.

Leitura obrigatória

Leia na Biblioteca Virtual:

VASCONCELOS, J. A. Fundamentos epistemológicos da história. Curitiba:


Editora Ibpex, 2009. p. 54‑72. Disponível em: <http://unip.bv3.digitalpages.
com.br/users/publications/9788578381776/pages/55>.

7.2 A fase de Braudel

Não é o presente em grande parte a presa de um passado que se obstina em


sobreviver, e o passado, por suas regras, diferenças e semelhanças, a chave
indispensável para qualquer compreensão séria do tempo presente?

Fernand Braudel

Fernand Braudel começou sua carreira na Argélia e teve uma passagem pelo Brasil entre 1935 a
1937, período em que lecionou na recém‑fundada Universidade de São Paulo. Retornando à França,
tornou‑se herdeiro intelectual de Febrve.

Braudel coloca na agenda dos historiadores a consideração da existência de diferentes temporalidades.


De início pretendia escrever uma tese sobre Felipe II e o Mediterrâneo, mas inverteu o propósito,
colocando no centro das preocupações esse mar. Sua obra O Mediterrâneo (1943) foi escrita nos anos
em que esteve preso durante a Segunda Guerra Mundial.

O livro teve grande impacto quando publicado. Sua visão de geo‑história colocou em cena a questão
do tempo histórico e a existência de três temporalidades diferentes. Braudel parte da consideração,
ainda em oposição à história política tradicional, que os eventos nada mais são que a superfície de
uma história que se desenrola em camadas mais profundas. Traz para o centro das preocupações as
estruturas econômicas e sociais, com ênfase nas primeiras, em contraponto a aspectos conjunturais
do processo histórico. Dá curso a uma visão paradigmática estruturalista da História. Divide o tempo
histórico em três dimensões: o tempo geográfico, o tempo social e o tempo individual.
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Unidade IV

O Mediterrâneo de Braudel organiza‑se em três partes (ARRUDA, 1984). Na primeira enfoca


uma história “quase sem tempo”, inscrita na longa duração. Nessa história quase imóvel, marcada
por permanências e transformações muito lentas, transcorrem as relações entre o homem e o
meio. A segunda parte trata da média duração; nela considera as estruturas econômicas, sociais
e políticas. O ritmo lento de mudanças oscila de dez a cinquenta anos. Por fim, na terceira
parte, focaliza a curta duração da história tradicional. É o tempo das mudanças rápidas, dos
acontecimentos contingentes e dos indivíduos. Nas palavras de Braudel, contidas no prefácio
da primeira edição dessa obra: uma história que trata das superfícies, das “vagas levantadas
pelos poderosos movimentos das marés, uma história com oscilações breves, rápidas, nervosas.
Ultrassensível por definição, o menor movimento ativa todos os instrumentos de medida. Com
todas estas características, é de todas a mais apaixonante, a mais rica em humanidade e, também,
a mais perigosa” (apud ARRUDA, 1984, p. 40).

Com essa obra, inaugurou‑se uma concepção de amplo alcance no pensamento histórico:
a de que o processo histórico inclui transformações e permanências. E, sobretudo, que essas
mudanças não ocorrem no mesmo ritmo em um único movimento. Há modificações mais lentas,
outras que ocorrem com maior rapidez. Os conceitos de longa, curta e média duração passaram
a figurar definitivamente no repertório teórico dos historiadores, alterando nossas noções de
tempo e espaço.

Algumas críticas a esse estudo foram feitas. A existência de certo determinismo geográfico em sua
análise é apontada. Nessa história quase sem homens, estes figurariam como prisioneiros do ambiente
físico e dos quadros mentais de sua época. Quanto a isso, há também críticas a pouca atenção dada a
atitudes e mentalidades coletivas.

De fato, tanto nessa obra quanto em Civilização Material, Economia e Capitalismo (1979‑1986),
Braudel fica distante de Bloch e Febrve no que diz respeito às preocupações com aspectos mentais
e simbólicos que serão a tônica da “Nova História”, o momento seguinte da historiografia dos
Annales. Entretanto, dá sequência ao princípio defendido nos tempos heroicos do movimento de
que se deve buscar a história‑total integrando, com maestria, o econômico, o político, o social e
o cultural. Em suas palavras:

Numa história completa do mundo há, porém, razões para desencorajar os


mais intrépidos e até os mais ingênuos. É um rio sem margens, sem começo
nem fim. E a comparação ainda é inadequada: a história do mundo não é
um rio, são rios. Felizmente, os historiadores estão habituados ao confronto
com superabundâncias. Simplificam‑nas dividindo a história em setores
(história política, econômica, social, cultural). Sobretudo aprenderam com
os economistas que o tempo se divide em diversas temporalidades e assim
se domestica, se torna, em suma, manejável: há as temporalidades de longa
e muito longa duração, as conjunturas lentas e menos lentas, os desvios
rápidos, alguns instantâneos, sendo os mais curtos muitas vezes os mais
fáceis de detectar (BRAUDEL, 1998, p. 7).

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TEORIA DA HISTÓRIA

7.3 A Nova História da terceira geração

Há quem nomeie toda a historiografia oriunda dos Annales de “Nova História”. Entretanto,
preferimos utilizar a concepção que designa dessa forma a terceira geração dos Annales (NOVAIS; SILVA,
2011), vigente no período posterior ao de Braudel, no qual o movimento dos Annales havia se tornado
hegemônico nos meios acadêmicos franceses. A partir da década de 1970, em que a terceira geração
se faz presente, essa orientação historiográfica ampliou ainda mais sua área de influência para além do
território europeu, assumindo forte presença na produção global do conhecimento histórico.

O marco conceitual dessa nova fase da historiografia dos Annales foi a publicação em 1974 de
Faire de L’histoire, uma coleção com três volumes de ensaios organizada por Jacques Le Goff e Pierre
Nora. Em português, essa obra foi publicada entre 1976 e 1986 como: História, Novos Problemas;
Novas Abordagens e Novos Objetos. Os artigos ali contidos expressavam o fato de que estava em
andamento uma nova renovação da historiografia. Na apresentação dessa obra, percebe‑se um
tom de ”manifesto” ao mesmo tempo em que há a intenção de se fazer um balanço da produção
historiográfica em curso:

No momento atual, o domínio da história não encontra limites, e sua


expansão se opera segundo linhas ou zonas de penetração que deixam entre
elas terrenos já cansados ou ainda baldios: nesta obra estão apenas as mais
avançadas, aquelas que já se encontram trabalhadas por vários historiadores,
dos quais apenas alguns foram aqui reunidos. E também porque não é uma
mirada do exterior lançada à produção historiográfica, mas um ato engajado
na reflexão e na pesquisa dos historiadores.

Obra coletiva e diversificada pretende, no entanto, ilustrar e promover um


novo tipo de história. Não a história de uma equipe ou de uma escola. Se
nos autores, ou no espírito da obra, frequentemente for encontrada a marca
da pretensa escola dos Annales, isso se deve ao fato de a nova história
ser bastante devedora a Marc Bloch, a Lucien Febvre, a Fernand Braudel
e a todos os que continuam a inovação por eles iniciada. Mas não há aqui
qualquer ortodoxia, mesmo aquela mais aberta. [...] Ainda que provenientes
de horizontes diversos e pertencendo a gerações diferentes, os membros da
equipe aqui reunida revelam a convergência de formações, de preocupações,
de objetivos semelhantes (LE GOFF; NORA, 1979, p.11‑12).

Ainda que haja um reconhecimento desse novo grupo como herdeiros dos Annales, é preciso
sublinhar algumas singularidades. Na verdade, as três fases em que dividimos o movimento apresentam
diferenças entre si. Na terceira geração observa‑se uma retomada de pontos importantes da primeira
fase, e uma reação contra Braudel e seu determinismo, em prol de se buscar a liberdade da ação humana.

Há, sobretudo, um deslocamento do interesse das estruturas econômicas e sociais para o chamado
“terceiro nível”, ou seja, o âmbito das mentalidades e do simbólico. Costuma‑se dizer que na Nova
História houve uma transferência de ênfase no tratamento da história “do porão ao sótão”. Importante
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ressaltar que se confere o mesmo status ao terceiro nível, antes considerado de menor importância.
Parte‑se da ideia de que a realidade é social ou culturalmente constituída.

Já nos primeiros tempos percebe‑se a existência de três eixos principais nos interesses dos
historiadores pertencentes a esse grupo. A história das mentalidades é o primeiro deles e retoma
uma orientação anunciada por Marc Bloch e a transforma em sua principal preocupação. Outra
abordagem foi a história quantitativa. Nas décadas de 1960 e 1970, a utilização de séries de dados e
de documentos que já eram frequentes em pesquisas econômicas alcançou a área cultural. Ainda que
se utilize pouco hoje o nome de história quantitativa ou história serial, quando se refere a assuntos
de história social, sua metodologia foi amplamente absorvida em pesquisas históricas. O terceiro eixo
retoma, em formas diferentes, a história política e a narrativa histórica e, do ponto de vista teórico,
aproxima‑se decisivamente da antropologia.

A importância dada a fenômenos culturais abriu caminho junto com a psicologia histórica para
a constituição de uma história das mentalidades. Estão nesse caso os trabalhos de Robert Mandrou
sobre bruxaria e cultura popular e de Jean Delumeau sobre a história do medo e da culpa no Ocidente.
Ainda no campo da história das mentalidades, mas com outro aporte teórico, temos a valorização do
imaginário social nos trabalhos de Jacques Le Goff sobre a Idade Média. As análises de Georges Duby
sobre o mesmo período se valem de uma aproximação teórica com o marxismo, utilizando o conceito de
ideologia e preocupando‑se com a reprodução cultural.

A partir da década de 1970, a busca por novos caminhos se intensifica. A reação se dá em oposição
ao predomínio da história social e estrutural. Por um lado, a aproximação com a antropologia cultural e
a valorização do nível do simbólico assume especial relevo. Entretanto, outras abordagens surgem, como
é o caso da micro‑história de Le Roy Ladurie. Junte‑se a isso o crescimento da importância conferida
à vida das pessoas comuns, às experiências sociais cotidianas e à cultura popular. O ângulo de visão do
historiador se altera radicalmente, preconizando‑se uma história “vista de baixo”.

Lembrete

Cumpre lembrar que o estudo da experiência da classe operária já vinha


sendo tratada pelo marxismo desde o século XIX.

Saiba mais

Friedrich Engels, em sua obra publicada pela primeira vez em 1845, A


Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra (São Paulo: Boitempo, 2008),
oferece um amplo panorama das condições de vida da classe operária no
início da revolução Industrial. E os estudos empreendidos por ele e Karl
Marx oferecem as bases do estudo desse segmento social.

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TEORIA DA HISTÓRIA

A proposta ampla da Escola dos Annales na perspectiva da história‑total em que toda atividade
humana interessa para a história, fez com que houvesse uma multiplicação de temas e abordagens. De
tal forma que fazem parte hoje do rol de interesse do historiador assuntos tão variados como história
do corpo, da sexualidade, da família, da infância e da morte, além de temas mais tradicionais. Nas
décadas finais do século XX, esse movimento foi tão intenso que levou François Dosse (1992), historiador
crítico da Nova História, considerar que teria ocorrido uma fragmentação tão intensa do conhecimento
histórico, tamanha a pulverização de temas e a diversificação de abordagens, que o resultado havia sido
uma “história em migalhas”.

7.4 Contribuições marcantes

Ainda que alguns considerem que os Annales não produziram uma teoria especialmente sofisticada
e consistente, as contribuições desse movimento para a construção do conhecimento histórico são
amplamente reconhecidas. Não há como negar que o horizonte teórico da disciplina se ampliou a partir
do diálogo estabelecido com diferentes disciplinas, conforme foi defendido por essa proposta.

A Escola dos Annales, na verdade, comporta duas grandes vertentes. Aquela da história‑total, em
que se enfatiza a longa duração e as estruturas, com uma combinação entre aspectos diacrônicos
e sincrônicos. E outra, em que as representações mentais, as mentalidades e o imaginário estão
evidenciados.

As contribuições para o conhecimento histórico vieram tanto de uma quanto de outra. Da primeira
delas avulta a importância do reconhecimento de diferentes temporalidades, e as articulações feitas
entre o nível econômico, o político, o social e o cultural. Essa condição incentivou o diálogo com a
economia e com as ciências políticas e sociais. Quanto a segunda vertente, as contribuições vindas
da psicologia, da antropologia e também da sociologia serviram para ampliar ainda mais o repertório
teórico dos historiadores.

Contudo, foi especialmente com relação aos novos objetos e abordagens que as contribuições da
Escola dos Annales foram mais evidentes. A renovação dos temas tornou necessária a busca de novas
fontes e as novas propostas de abordagem ensejaram a criação de novas metodologias.

Um ponto muito importante deve ser destacado. Da historiografia cientificista do século XIX para
cá, assistimos a uma ampliação extraordinária do conceito de documento histórico e o movimento dos
Annales é um grande responsável por isso. Se antes ao historiador cabia reconstruir o passado apenas a
partir de documentos escritos de cunho oficial, hoje ele pode se valer de fontes orais, imagens visuais de
vários tipos incluindo pintura, cinema e fotografia, exemplares de cultura material, dados estatísticos, e
tudo o mais que puder nos levar ao passado, até mesmo os documentos escritos!

Em suma, as principais contribuições dos Annales foram: a interdisciplinaridade, a abertura para


novos temas, a diversificação das fontes, as abordagens renovadoras, a renovação metodológica, a
ampliação do conceito de tempo histórico com o reconhecimento de diferentes temporalidades e ritmos
diferentes de mudança.

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Unidade IV

A influência da Escola dos Annales atingiu a produção historiográfica amplamente e estimulou a


criação de muitas obras em todos os grandes centros de produção intelectual. Entretanto, tudo isso
não se deu sem críticas. A consideração de que com a Nova História teria havido uma pulverização do
conhecimento histórico é uma delas. Com isso, teria se comprometido com a possibilidade de serem
construídas grandes sínteses históricas capazes de dar uma visão ampla do processo histórico, limitando
sua compreensão.

Questiona‑se também a ausência de um projeto social na proposta da Escola dos Annales e a falta
de compromisso social dos historiadores desse movimento. Essa cobrança vem de uma ótica marxista
da História e se torna mais forte com relação à Nova História. Nessa visão, a fragmentação, o olhar
particularizado e especializado dos temas e abordagens dessa vertente historiográfica expressariam os
dilemas da sociedade pós‑moderna. A ausência de vinculação com um projeto de futuro levado a efeito
a partir de uma transformação social seria a roupagem adequada para uma história pós‑moderna sem
compromisso social e imersa na globalização.

De qualquer forma, ao longo do século XX, alguns paradigmas históricos herdados do século anterior
foram demolidos e o movimento dos Annales concorreu para isso (BURKE, 1992). A tradicional história
política deixou de ser hegemônica e passou a conviver com outras abordagens consideradas de relevância
equivalente. Após o período de radical oposição a ela, a história política retornou em formato diferente
trazendo um alargamento de sua perspectiva ao se beneficiar de contribuições teóricas vindas de outras
áreas tais como a antropologia.

A história como narrativa de acontecimentos, herdeira dos primórdios de sua origem, também
questionada pelos Annales, cedeu lugar à história que se preocupa com a análise do processo histórico
a partir de questões lançadas para o passado. Nessa abordagem, o foco se desloca para as estruturas
econômicas e sociais e nisso a historiografia dos Annales não esteve sozinha. A historiografia marxista
também privilegiou o entendimento da história a partir de um ângulo estrutural, com destaque para a
organização econômica.

Também em acordo com o marxismo, o movimento dos Annales produziu uma inversão do paradigma
tradicional em que a história se preocupava basicamente com os acontecimentos que se referissem às
elites. De uma história “vista de cima” passou‑se para outra, “vista de baixo”, dedicada a conhecer as
experiências sociais das pessoas comuns (BURKE, 1992).

Ainda com relação ao paradigma histórico herdado do século XIX, ao se dedicarem a novos
tipos de atividades humanas e elegerem documentos diferentes dos tradicionais para dar conta
desse propósito, os historiadores dos Annales questionaram os documentos escritos oficiais
e demonstraram sua limitação. Da mesma forma, colocando em cena o relativismo cultural,
contribuíram para que se evidenciasse o quanto era irrealista a pretensão de uma objetividade
absoluta do conhecimento histórico calcado na ideia rankeana de reproduzir os fatos tal como eles
aconteceram (BURKE, 1992).

Considerando a Escola dos Annales como um todo é difícil negar sua importância na renovação
do conhecimento histórico no século XX. Hoje não há mais o movimento propriamente dito, suas
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TEORIA DA HISTÓRIA

contribuições já se firmaram no campo da história e inspiraram inúmeros trabalhos na Europa e fora


dela. O historiador Peter Burke estudioso desse movimento ressalta:

Da minha perspectiva, a mais importante contribuição do grupo dos


Annales, incluindo‑se as três gerações, foi expandir o campo da história por
diversas áreas. O grupo ampliou o território da história, abrangendo áreas
inesperadas do comportamento humano e a grupos sociais negligenciados
pelos historiadores tradicionais. Essas extensões do território histórico estão
vinculados à descoberta de novas fontes e ao desenvolvimento de novos
métodos para explorá‑las. Estão também associadas à colaboração com
outras ciências, ligadas ao estudo da humanidade, da geografia à linguística,
da economia à psicologia. Essa colaboração interdisciplinar manteve‑se
por mais de sessenta anos, um fenômeno sem precedente na história das
ciências sociais [...] A historiografia jamais será a mesma (BURKE, 1997, p.
126‑127).

Leitura obrigatória

Leia na Biblioteca Virtual:

SOUZA, E. C.; SOARES, L. F. História de vida e abordagem (auto)biográfica:


pesquisa, ensino e formação. In: BIANCHETTI, L.; MEKSENAS, P. (Org.). A
trama do conhecimento: teoria, método e escrita em ciência e pesquisa.
Campinas, SP: Papirus, 2008. p. 191 e seguintes. Disponível em: <http://
unip.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788530808709%20/
pages/191>.

JANOTTI, M. L. O livro Fontes históricas como fonte. In: PINSKY, C. B. (Org.).


Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005. p. 9 e seguintes. Disponível em:
<http://unip.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788572442979/
pages/9>.

GRESPAN, J. Considerações sobre o método. In: PINSKY, C. B. (Org.). Fontes


históricas. São Paulo: Contexto, 2005. p. 290 e seguintes. Disponível em:
<http://unip.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788572442979/
pages/291>

8 DISCUSSÕES RECENTES

O final do século XX atualizou questões antigas e trouxe novas no âmbito das discussões teóricas
sobre a História. Concorreu para isso uma anunciada crise de paradigmas científicos que atingiu também
as humanidades.

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Unidade IV

8.1 A crise dos paradigmas científicos e o conhecimento histórico

O historiador Ciro Flamarion Cardoso (1997) estudou essa situação oferecendo reflexões interessantes
que iremos acompanhar. A crise dos paradigmas na área das ciências humanas e sociais teria sido um
processo mais ou menos longo, tendo como fase decisiva o período entre 1968 (protestos de maio
na França) e 1989 (queda do Muro de Berlim). Nesse momento de forte crítica social e política em
que foi mergulhado o projeto das esquerdas também sofre abalo a crença na certeza do progresso
da humanidade. Estaríamos assistindo ao fim de uma longa fase da história humana na qual teria
imperado uma visão de mundo construída na modernidade a partir do Renascimento e do Iluminismo
e adentrando uma outra fase: a pós‑modernidade.

Saiba mais

O filme alemão Adeus, Lênin de 2003, dirigido por Wolfgang Becker, trata
da queda do Muro de Berlim e seu impacto na vida dos alemães orientais,
oferecendo importantes elementos para o entendimento do significado da
queda do muro e seu impacto na vida dos alemães orientais.

Mas que efeito isso teria no conhecimento histórico?

Seríamos marcados, até aquele momento, pelo predomínio da crença na razão e no progresso.
Exemplos desse paradigma seriam o evolucionismo, o marxismo, o weberianismo e o estruturalismo.
A História nessa concepção deveria ser científica e racional, gerando um esforço de acomodá‑la o
mais que se pudesse ao método científico, o que nunca foi tarefa fácil. A decorrência dessa condição
teria sido a construção de modelos macro‑históricos e teorizantes, buscando‑se a inteligibilidade
da explicação dos fenômenos estudados. Resulta a produção de uma História com perspectiva
analítica, estrutural e explicativa com horizonte teórico calcado na racionalidade e cientificidade.
Condizentes com essa perspectiva teórica, poderíamos identificar o esforço dos Annales em sua
orientação estruturalista e o marxismo. Nesse paradigma científico ficariam de fora o acaso, a
irracionalidade e a subjetividade.

A desilusão com a modernização, com o racionalismo e com a ciência como fator de libertação e
felicidade que já vinha crescendo em momentos diferentes do século XX abre espaço para que vinguem
críticas ao paradigma iluminista quanto à racionalidade e ao progresso. Estaríamos vivendo em um
ambiente intelectual semelhante ao das ciências físicas no final do século XIX, em que se assistiu a um
abalo nas concepções newtonianas em favor da perspectiva quântica. Apenas estaríamos ainda vivendo
esse processo de passagem de um mundo fabril para a sociedade da informação.

Nesse contexto, o trabalho do americano Francis Fukuyama sobre o “fim da história”, emblemático
dos debates sobre os efeitos da globalização, causou grande polêmica (FUKUYAMA, 1992). Este trabalho
foi bastante criticado pela ideia defendida de que teríamos atingido o coroamento da história da

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TEORIA DA HISTÓRIA

humanidade com a democracia burguesa e o capitalismo. Resultaria disso a concepção de ausência de


sentido da História, entendida como falta de direção e também de significado.

No paradigma pós‑moderno não haveria centros, mas uma multiplicidade de locais de onde se fala,
particularizados, relativos a grupos restritos. Seriam levados em conta o papel dos indivíduos e dos
pequenos grupos com suas ideias, projetos, consciência, representação, crenças, valores e desejos. A
formulação de teorias globais ficaria impossibilitada, imperando o relativismo e a ausência de hierarquia
entre os conhecimentos produzidos.

Na História assistimos a um deslocamento da perspectiva analítica, estrutural, da macroanálise e


das explicações entendidas como ilusões cientificistas em prol da hermenêutica, da micro‑história e da
história narrativa e literária (CARDOSO, 1997).

A ausência de uma teoria paradigmática a orientar as explicações é a decorrência lógica desse


raciocínio e resulta em “histórias” que passam a substituir a “História”. A busca das histórias amplas e das
sínteses é negligenciada em prol dos recortes temáticos com focos mais particularizados.

Estaríamos assistindo, assim, ao fim de uma “racionalidade central” na História em favor de uma
multiplicação de histórias menores, locais, específicas. Um questionamento se impõe. O simbólico e as
análises dos discursos estariam ocupando o lugar do real? Já não haveria mais lugar para as análises
amplas e os relatos de grande fôlego da História? O estudo da historicidade das experiências humanas
ocuparia o lugar da História?

8.2 Uma História em migalhas ou plural?

A particularização e a especialização do conhecimento atingem as mais variadas áreas científicas


na atualidade e não apenas a História. Se por um lado isso conduz a um maior aprofundamento em
aspectos mais restritos, por outro há um risco de fragmentação que pode impedir a visão holística e
global do que se quer estudar. Daí a crítica de que a história estaria afastada das grandes explicações do
processo histórico para se deter “em migalhas”.

De acordo com Rogério Forastieri e Fernando Novais, a crise dos paradigmas que teria provocado
nas ciências sociais vigoroso debate sobre questões teóricas e metodológicas teve na História efeito
peculiar. Essa crise teria se resolvido pela mudança de assuntos e pela eleição de novos objetos. As
múltiplas abordagens, incluindo, só para ficar em alguns exemplos, história oral, história do tempo
presente, história do cotidiano, história do corpo, e tantas outras, seria a resposta da História à crise
dos paradigmas do final do século XX. Isso se fez não com uma discussão teórica da História, mas pela
utilização de conceitos de outras áreas das ciências humanas, tais como a antropologia e a sociologia
(FORASTIERI; NOVAIS, 2011).

Aquilo que para alguns é fragmentação e fragilidade da História, para outros é sua riqueza na atualidade.
Estes últimos enfatizam a pluralidade do conhecimento histórico que temos hoje como algo muito positivo,
na medida em que a um só tempo permite que se amplie o alcance do olhar para o passado, iluminando
múltiplos aspectos da experiência humana não restringindo‑se a modelos teóricos pré‑concebidos.
77
Unidade IV

Nesse aspecto, a historiografia de base marxista que ao longo o século XX disputou espaço com
outras tendências historiográficas ainda conserva seu vigor, com contribuições importantes para a
teoria da história. Discussões significativas a afastam de modelos esquemáticos e reducionistas.

É importante destacar nesse movimento a ultrapassagem do paradigma nacionalista que vinha


orientando a produção historiográfica desde o século XIX. A história nacional surgida pela necessidade
de afirmação dos estados nacionais, embora presente, convive cada vez mais com histórias locais e
aquelas que visam a contemplar as histórias dos diferentes agentes sociais.

O panorama da historiografia atual é, sem dúvida, sua multiplicidade. E como decorrência disso
o não comprometimento com uma teoria paradigmática única. Quanto a isso, o historiador Jurandir
Malerba oferece um bom panorama:

Depois de 1968, passamos à outra situação: a página volta a virar e cria‑se


então outra situação historiográfica radicalmente diversa. E, se em 1950
a historiografia dominante é a historiografia francesa, qual é então a
historiografia dominante em 1990? A resposta é tão original como, em
princípio, desconcertante: a resposta a essa pergunta é nenhuma. Pois em
1990 já não há ma história hegemônica,e aí é tão importante a “Escola”
da micro‑história italiana – com suas diferentes variantes de história
cultural, de um lado, e história econômica e social, do outro – como a
quarta geração dos Annales, o mesmo sucedendo com a historiografia
socialista britânica, a antropologia histórica russa, a história regional
latino‑americana, a psico‑história anglo‑saxônica, etc. Depois de 1968,
algo importante se rompeu e terminou esse regime de longa duração da
hegemonia historiográfica de um espaço cultural ou de um espaço nacional,
criando‑se então a nova modalidade de funcionamento da historiografia a
cujo desenvolvimento assistimos na situação atual. Ninguém é hegemônico
na historiografia contemporânea, o que nos convoca a todos por igual a
partir da inovação historiográfica. Porque hoje vivemos uma situação de
policentrismo na inovação historiográfica. E de policentrismo na inovação
cultural (MALERBA; ROJAS, 2007, p. 26).

No campo de discussões sobre os rumos da História nos fins do século XIX e inícios do XX observa‑se
uma preocupação em se alcançar certo equilíbrio. Há quem vislumbre a possibilidade de novas sínteses,
uma questão ainda em aberto. Quanto a isso, o historiador José Jobson Arruda se manifestou:

Um movimento complexo resta como tarefa inexaurível ao historiador.


Não descuidar dos detalhes, da filigrana, mas também não deixar de
inscrevê‑la na teia ampla da macro‑história, na sua cadeia relacional, e
daí, retornar ao pontual, ao contingente, ao aparentemente insignificante.
Depois dessa primeira aproximação, impõe‑se uma segunda viagem
metodológica que transcorre da descrição à análise, da narração à reflexão
sistemática. Nesse enlace, signos e sentidos se explicitam, conceitos
78
TEORIA DA HISTÓRIA

e símbolos se completam, ou se revelam. Enfim, busca‑se atingir os


tesouros ocultos do subconsciente, manifesto no imaginário, e realizar a
travessia rumo às formações mentais dominantes, de caráter ideológico,
cuja expressividade é inequivocamente produzida nas clivagens e tensões
sociais. Nesse passo, instala‑se a hegemonia da razão, mas sua unicidade
é rompida pela ação da sensibilidade que, ao iluminar os múltiplos perfis
trabalhados pela singularidade repõe, de maneira adensada e renovada, os
objetos da percepção (ARRUDA, 1998, p. 188‑189).

Na primeira década do século XX, a história cultural saiu à frente de outras tendências. O aporte
teórico da antropologia penetrou fortemente na produção historiográfica. A aproximação com a
antropologia ampliou os horizontes do historiador e colocou na centralidade das análises o conceito
de cultura. O ângulo de visão da história “vista de baixo” com a valorização do mundo das experiências
comuns destacou o conceito de cultura popular, mas isso não se deu sem críticas. Afinal, qual seria o
limite que separa a cultura de outros grupos sociais desta entendida como popular? E a largueza da
abrangência do conceito de cultura também leva a imprecisões de definição: afinal, o que não é cultural?

A predominância da história cultural levantou o questionamento da dissolução dos outros campos


da história por essa tendência; se tudo é cultural, onde fica a história da cultura? Até mesmo a história
política, após as duras críticas recebidas na passagem do século XX para o XXI, assumiu novo vigor com
uma tendência a valorizar a cultura política.

Passados os momentos combativos do século XX, quanto à História tradicional não só a política tem
sido recuperada. Fala‑se também no retorno do fato e da narrativa. Quanto a esta última há implicações
teóricas que cumpre destacar. No contexto das discussões teóricas no final do século XX, uma tendência
à hermenêutica e ao entendimento da História como um discurso a aproximou da linguística e da
narrativa, o chamando turning point linguístico. Isso nos levou a revisitar uma questão recorrente no
campo da teoria da história: seria a história uma arte ou uma ciência?

8.3 Ainda sobre a natureza do conhecimento histórico

Seria a História uma ciência, com características específicas da área das humanidades, mas ainda
assim uma ciência? Seria uma arte? Ou seria, antes de tudo, uma narrativa com destaque para sua
dimensão literária e discursiva?

A valorização da narrativa como característica importante da História tem sido reforçada nas últimas
décadas nas vertentes historiográficas que a consideram como um tipo de discurso. Contudo, é possível
reconhecer que há ao menos uma dimensão que afasta a História da literatura: o lastro necessário que
a História tem com a realidade que a afasta, por definição, dos elementos ficcionais. Isso nos leva à
consideração das possibilidades e limites da História como ciência.

Já comentamos na parte anterior deste texto as alterações paradigmáticas operadas pelos Annales na
historiografia tradicional nos seguintes aspectos: quanto à abrangência da História que deveria envolver
todas as áreas da experiência humana; à valorização das explicações estruturais para além da narrativa
79
Unidade IV

dos acontecimentos; à crítica empreendida aos documentos escritos oficiais; e à discussão sobre a
possibilidade colocada pela perspectiva rankeana de reproduzir os fatos tal como teriam acontecido.
Comentando este último ponto, e considerando o relativismo cultural como um condicionante do olhar
do historiador, Peter Burke afirma:

Hoje em dia, esse ideal é, em geral, considerado irrealista. Por mais que
lutemos arduamente para evitar os preconceitos associados a cor, credo,
classe ou sexo, não podemos evitar olhar o passado de um ponto de vista
particular. O relativismo cultural obviamente se aplica, tanto à própria
escrita da história, quanto a seus chamados objetos. Nossas mentes não
refletem diretamente a realidade. Só percebemos o mundo através de uma
estrutura de convenções, esquemas e estereótipos, um entrelaçamento que
varia de uma cultura para outra (BURKE, 1992, p. 15).

A questão da objetividade da história nos encaminha diretamente para a discussão sobre a crise dos
paradigmas científicos no final do século XX. Antes de ir adiante, é importante deixar claro as diferenças
entre a objetividade possível que distancia as ciências humanas das naturais. O trecho transcrito a seguir
de Renato Janine Ribeiro pode nos ajudar nessa tarefa:

A palavra objeto significa isso: que as coisas sejam colocadas (jeto) à nossa
frente (ob). Passamos a vê‑las, a olhá‑las, a tratá‑las como decifráveis. E isso
permite, em segundo lugar, uma vez desvendado o mecanismo de causa e
efeito, que também causemos os efeitos que desejarmos. É essa a articulação
entre a ciência e a tecnologia, hoje mais forte do que nunca, e que começa
com a Modernidade. [...] As ciências humanas partem do escândalo que é o
ser humano conhecer a si próprio, misturando as posições de sujeito e objeto.
Isso formula sérios problemas, tornando quase impossível a objetividade,
que é o critério básico das ciências desde o século XVII [...] Para sermos bem
explícitos, a recusa da separação entre sujeito e objeto é o que constitui as
ciências humanas [...] Resumindo: temos de um lado, as ciências naturais,
caracterizadas pela exterioridade entre o sujeito e o objeto, bem como
pela fabricação de efeitos sobre as coisas; e de outro, as ciências humanas,
distinguidas pela não exterioridade entre sujeito e objeto, assim como pela
ação – sempre passível de reciprocidade – sobre o ser humano.

Por isso, as ciências naturais terão como conceito‑chave, o de natureza


(physis) – algo que se pretende descobrir, controlar, manipular. As ciências
humanas se concentrarão no conceito de cultura ou de educação,
entendendo‑se que o ser humano é formado, construído, em vez de estar
pronto ou dado (RIBEIRO, 2003, p. 16‑18).

A crise dos paradigmas destacou a questão da objetividade na produção do conhecimento científico.


A impossibilidade de haver um conhecimento objetivo de forma absoluta posto para as humanidades se
estendeu para as ciências naturais e até mesmo para as ciências “duras”, a física, por exemplo. Com isso, toma
80
TEORIA DA HISTÓRIA

corpo cada vez mais a refutação à utopia do paradigma rankeano de que é possível reconstituir o passado
tal como os fatos se deram. E é reforçada a concepção de que é possível apenas serem produzidas versões
sobre o passado, no máximo interpretações controláveis e validadas pela comunidade de historiadores.
Não se trata mais de almejar a “verdade” e retratar a “realidade”, mas, sobretudo, produzir explicações
consistentes, capazes de iluminar o passado e conferir significado ao presente.

Ainda sobre a questão do conhecimento histórico e seu lastro com a realidade, uma questão polêmica
entre os historiadores, pode‑se discutir se a História é na verdade um artefato literário e levar ao limite
sua condição de narrativa. Entretanto, pode‑se ponderar que se a História não reproduz fielmente a
realidade, também não é ficção. Na verdade, caracteriza‑se por ser uma narrativa coerente, elaborada a
partir de elementos concretos e não ficcionais (IOKOI, 1999). Tal é a posição de Eric Hobsbawn:

Defendo vigorosamente a opinião de que aquilo que os historiadores


investigam é real. O ponto do qual os historiadores devem partir, por mais
longe dele que possam chegar, é a distinção fundamental e, para eles,
absolutamente central, entre fato comprovável e ficção, entre declarações
históricas baseadas em evidências e sujeitas a evidenciação e aquelas que
não o são [...] Em resumo, acredito que sem a distinção entre o que é e o que
não é assim, não pode haver história. Roma derrotou e destruiu Cartago nas
guerras Púnicas, e não o contrário. O modo como montamos e interpretamos
nossa amostra escolhida de dados verificáveis (que pode incluir não só o
que aconteceu mas o que as pessoas pensaram a respeito) é outra questão
(HOBSBAWN, 1998, p. 8).

Por fim, a partir desse balanço do estágio atual das discussões sobre a História sobre algumas questões
teóricas com as quais os historiadores tem se deparado, cumpre destacar o notável avanço alcançado
no campo do conhecimento histórico. Do século XIX para cá, a História se consolidou como área de
conhecimento, se tornou cada vez mais profissionalizada, ampliou seu escopo teórico e aprofundou as
análises e seu conhecimento sobre o passado.

Resumo

A Escola dos Annales foi um movimento de renovação historiográfica


surgido na França, no início do século XX, no contexto do pós‑guerra. As
figuras centrais no início foram Lucien Febrve e Marc Bloch, que estiveram
à frente da revista Annales D’histoire Économique et Sociale, de onde
se originou o nome do movimento. Esse grupo se opôs à historiografia
da época marcadamente política e factual. Em seu lugar defendia uma
história‑problema e teve como uma das suas principais características
desde o início a interdisciplinaridade.

Em um segundo momento, o principal expoente do movimento


foi Fernand Braudel, herdeiro intelectual de Febvre. Com sua obra O
81
Unidade IV

mediterrâneo colocou em cena para os historiadores a discussão da


existência de diferentes temporalidades – a curta, a média e a longa duração,
na medida em que as mudanças na história não ocorrem no mesmo ritmo.

A terceira geração dos Annales é conhecida como Nova História.


Com ela assistimos a uma diversificação de temas e abordagens que, no
limite, foram consideradas como tendo resultado em uma “história em
migalhas”. Nessa fase, avulta a importância conferida aos níveis simbólicos
e às representações, assim como uma intensificação do diálogo com a
antropologia.

Nas últimas décadas, as discussões teóricas na História acompanharam


a crise dos paradigmas das ciências humanas em geral. Levantou‑se a
questão da possibilidade de se alcançar, ou não, a verdade histórica;
questionou‑se a subjetividade intrínseca à produção do conhecimento
nessa área e discutiu‑se o seu estatuto científico em contraposição à sua
dimensão narrativa e discursiva. A principal característica reconhecida na
historiografia produzida é sua pluralidade, tanto nos temas quanto nas
abordagens.

Exercícios

Questão 1. (Enade 2008) Enfim, eu tentava ver como um acontecimento se faz e se desfaz, já que,
afinal, ele só existe pelo que dele se diz, pois é fabricado por aqueles que difundem a sua notoriedade.
Esbocei, pois, a história da lembrança de Bouvines, de sua deformação progressiva, pelo jogo, raramente
inocente, da memória e do esquecimento.
Fonte: DUBY, G. O domingo de Bouvines. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993. p. 11-12.

Neste trecho, o historiador Georges Duby comenta a natureza de um acontecimento histórico, a


Batalha de Bouvines, entre a França e o Sacro-Império, em 1214.

Ao analisar a construção da memória deste acontecimento, Duby relaciona história e memória,


considerando que a história:

A) confunde-se com a memória, e uma acaba por se apresentar como o reflexo da outra.

B) produz os acontecimentos quando eles são preservados pela memória, sem o registro dos
historiadores.

C) previne-se, por ser científica, das oscilações entre a lembrança e o esquecimento, garantindo sua
neutralidade.

82
TEORIA DA HISTÓRIA

D) expressa, muitas vezes, o movimento que envolve os acontecimentos, conforme são lembrados
ou esquecidos.

E) caracteriza-se, quando baseada na memória, pela deformação da verdade.

Resposta correta: alternativa D.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: o historiador trabalha como um investigador da produção da memória, contrapondo-


se muitas vezes a essa produção.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: os historiadores trabalham com documentos que, não raro, revelam aspectos esquecidos
do passado cristalizado na memória coletiva.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: a História exerce um papel importante frente às oscilações e às mutilações que a


memória sofre. Mas dificilmente será neutra, pois está sujeita à visão política do historiador.

D) Alternativa correta.

Justificativa: uma das possibilidades da História é revelar como a memória é o resultado de um jogo
consciente de lembrança e esquecimento. Cabe ao historiador revelar as regras deste jogo.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: a História é embasada criticamente por documentos. A própria Memória pode servir de
documento; no entanto, deve ser adequadamente considerada com auxílio de uma abordagem crítica.

Questão 2. (Enade 2011) Em 1920, depois de ter publicado livros como A Máquina do Tempo, O
Homem Invisível e A Guerra dos Mundos, o escritor inglês H. G. Wells publicou The Outline of History
(Esboço de uma História Universal). No mesmo ano, o historiador Marc Bloch escreveu uma longa
resenha sobre essa obra, da qual foram destacadas as passagens a seguir.

Diante de um livro semelhante, duas atitudes são admissíveis. Pode-se se dedicar a apontar um
a um os erros dos detalhes – eles existem. [...] Ou, tomando-o absolutamente pelo que ele é e pelo
não poderia ser, ou seja, uma obra tecnicamente imperfeita de um homem muito inteligente, pode-se
procurar retirar dela as ideias mestras e evidenciar as tendências do espírito que ela revela.O trabalho
crítico que está na base de nossas pesquisas evidentemente lhe é completamente estranho.Infelizmente
83
Unidade IV

sua obra está viciada por um defeito muito grave. Sua atitude diante do passado que ele examina com
tanto ardor não é nunca a de um homem de ciência; porque o homem de ciência procura conhecer e
compreender;ele não julga. O Sr. Wells julga sem parar. [...] Pode-se ser impunemente filho desse país
onde desde séculos todos os movimentos liberais ou revolucionários são tingidos de puritanismo, onde
quase tudo o que se fez de grande saiu do pregador? [...] Ele podia ser historiador. Cedendo a não sei que
instinto hereditário, frequentemente ele foi apenas pregador.
Fonte: BLOCH, M. Une nouvelle histoire universelle: H. G. Wells historien. In: BLOCH, M. L´Histoire, la Guerre, la Résistance. Paris:
Gallimard, 2006. p. 319-334.

A argumentação de Marc Bloch reporta-se a importantes questões relacionadas ao conhecimento


histórico. De acordo com as ideias expostas nesses fragmentos, a razão que levava Marc Bloch a não
reconhecer valor de obra histórica ao Esboço de uma História Universal pode ser atribuída:

A) aos abundantes recursos criadores do romancista, que levavam a imaginação a substituir o


conhecimento dos fatos resultantes da pesquisa nos arquivos.

B) à ausência de procedimentos que poderiam assegurara objetividade da exposição e controlar a


interferência da formação cultural do autor.

C) ao combate que naquele momento a historiografia acadêmica travava com seu principal opositor,
o ensaísmo histórico praticado pelos ingleses.

D) à recusa de uma prática diletante, que se fundava em opiniões pouco autorizadas e concentrava
a atenção nos eventos políticos e militares.

E) à aplicação inadequada do método histórico na crítica interna e externa dos documentos, o que
poderia ter evitado os erros factuais da obra.

Resolução desta questão na plataforma.

84
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

Figura 1

MAPA_13.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_1585/


mapa_13.jpg>. Acesso em: 26 mar. 2014.

Figura 2

MAPA_15.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_1605/


mapa_15.jpg>. Acesso em: 26 mar. 2014.

Figura 3

MAPA_11.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_1611/


mapa_11.jpg>. Acesso em: 26 mar. 2014.

Figura 4

IMAGEM89.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_3993/


imagem89.jpg>. Acesso em: 26 mar. 2014.

Figura 5

LENIN.PNG. (Detalhe). Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/


conteudo_6928/lenin.png>. Acesso em: 26 mar. 2014.

Figura 6

MAPA_1_G.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_986/


mapa_1_G.jpg>. Acesso em: 26 mar. 2014.

Figura 7

STALIN.PNG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_6928/stalin.


png>. Acesso em: 26 mar. 2014.

Figura 8

55.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_4579/55.jpg>.


Acesso em: 26 mar. 2014.

85
Figura 9

ERIC‑HOBSBAWM‑002.JPG. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/sites/default/files/styles/large/


public/eric‑hobsbawm‑002.jpg>. Acesso em: 11 fev. 2014.

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Exercícios

Unidade I − Questão 2: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) 2005: História. Questão 15.
Disponível em: <http://download.inep.gov.br/download/enade/2005/provas/HISTORIA.pdf>. Acesso em:
22 jan. 2014.

Unidade III − Questão 2: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) 2011: Filosofia. Questão 28.
Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2011/FILOSOFIA.pdf>.
Acesso em: 22 jan. 2014.

Unidade IV − Questão 1: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) 2008: História. Questão 13.
Disponível em: <http://download.inep.gov.br/download/Enade2008_RNP/HISTORIA.pdf>. Acesso em:
22 jan. 2014.

Unidade IV − Questão 2: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) 2011: História. Questão 15.
Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2011/HISTORIA.pdf>.
Acesso em: 22 jan. 2014.

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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

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