Caso Prático Introdução Ao Direito
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CASOS PRÁTICOS
Enquanto profissional devidamente inscrito na Ordem dos Médicos (OM), P1, médico
psiquiatra, está vinculado a uma série de deveres estatuários que regem o exercício da sua
profissão. Entre eles encontra-se o dever de assegurar a confidencialidade (guardar segredo)
relativamente a toda a informação a respeito dos seus pacientes, obtida direta ou indirectamente,
no exercício da sua atividade típica.
Eis o teor do preceito juridico aplicável (Código Deontológico da OM)1:
“Artigo 30.
Âmbito do segredo médico
1 - O segredo médico impõe-se em todas as circunstâncias dado que resulta de um direito
inalienável de todos os doentes.
2 - O segredo abrange todos os factos que tenham chegado ao conhecimento do médico no
exercício da sua profissão ou por causa dela e compreende especialmente:
a) Os factos revelados diretamente pela pessoa, por outrem a seu pedido ou por terceiro com
quem tenha contactado durante a prestação de cuidados ou por causa dela;
b) Os factos apercebidos pelo médico, provenientes ou não da observação clínica do doente
ou de terceiros;
c) Os factos resultantes do conhecimento dos meios complementares de diagnóstico e
terapêutica referentes ao doente;
d) Os factos comunicados por outro médico ou profissional de saúde, obrigado, quanto aos
mesmos, a segredo.
3 - A obrigação de segredo médico existe, quer o serviço solicitado tenha ou não sido
prestado e quer seja ou não remunerado.
4 - O segredo médico mantém-se após a morte do doente.
5 - É expressamente proibido ao médico enviar doentes para fins de diagnóstico ou
terapêutica a qualquer entidade não vinculada ao segredo médico”.
1
Disponível para consulta em https://ordemdosmedicos.pt/wp-
content/uploads/2017/08/Regulamento_707_2016__Regulamento_Deontol%C3%B3gico.pdf
Contudo, sem qualquer fundamento legítimo que pudesse justificar a sua conduta ou
excluir a obrigação de confidencialidade2, P1 viola o dever de sigilo, revelando dolosamente a
P3 (terceiro que não exerce a profissão) acontecimentos íntimos que P2, seu paciente, deu a
conhecer durante uma sessão de terapia.
Tal facto é comunicado à OM, para a apuração de eventual responsabilidade pelo
incumprimento de deveres deontológicos. Concluído o respectivo processo disciplinar
(respeitados os direitos de audiência e defesa), P1 é condenado pela prática de infração
disciplinar, sendo punido com uma sanção disciplinar de suspensão, com o seu afastamento do
exercício da medicina durante o período de 1 ano3.
Além disso, a mesma factualidade é tipificada pela lei penal como crime. Assim enuncia
o Código Penal:
“Artigo 195.º
Violação de segredo
Quem, sem consentimento, revelar segredo alheio de que tenha tomado conhecimento em
razão do seu estado, ofício, emprego, profissão ou arte é punido com pena de prisão até 1
ano ou com pena de multa até 240 dias”.
Diante disso, feita queixa ao Ministério Público e tendo este deduzido acusação, o
processo criminal termina com a condenação de P1 a uma pena de multa no valor de € 3750
(150 dias, à taxa diária de € 25).
Por fim, sentindo-se lesado nos seus direitos de personalidade, uma vez que os factos
revelados diziam respeito à reserva de intimidade da sua vida privada, P2 deduz perante o
tribunal competente para o apuramento de eventual responsabilidade civil extracontratual um
pedido de indemnização por danos morais ressarcíveis. Ao final do respectivo processo, P1 é
condenado a ressarcir P2 no valor de € 3000.
A este propósito, recorde-se o que estabelece o Código Civil:
“Artigo 80.º
(Direito à reserva sobre a intimidade da vida privada)
1. Todos devem guardar reserva quanto à intimidade da vida privada de outrem.
2
Cf. o artigo 32.º do referido Código Deontológico.
3
Prevista no artigo 13.º, n.º 1, c), e n.º 4, do Anexo ao Estatuto da Ordem dos Médicos, aprovado pela Lei n.º
117/2015, de 31 de agosto.
2. A extensão da reserva é definida conforme a natureza do caso e a condição das pessoas.”
“Artigo 483.º
(Princípio geral)
1. Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer
disposição legal destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado
pelos danos resultantes da violação.
2. Só existe obrigação de indemnizar independentemente de culpa nos casos especificados
na lei.”
a) à luz das diferentes linhas que constituem a estrutura da ordem jurídica enquanto
triângulo de geometria variável;
b) em face da função primária (prescritiva) da ordem jurídica;
c) em face da função secundária (organizatória) da ordem jurídica.
*
Caso 2. Considere o seguinte problema juridicamente relevante.
4
Consultável em https://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20170848.html
“Artigo 103.º
Sistema fiscal
(…)
2. Os impostos são criados por lei, que determina a incidência, a taxa, os benefícios fiscais
e as garantias dos contribuintes.
(…)”
Com base nisso, entendeu-se restar violada a reserva relativa de competência legislativa
da Assembleia da República, nos moldes igualmente previstos na Constituição:
“Artigo 165.º
Reserva relativa de competência legislativa
1. É da exclusiva competência da Assembleia da República legislar sobre as seguintes
matérias, salvo autorização ao Governo:
(…)
i) Criação de impostos e sistema fiscal e regime geral das taxas e demais contribuições
financeiras a favor das entidades públicas
(…)”.
“Artigo 3.º
Soberania e legalidade
(…)
3. A validade das leis e dos demais atos do Estado, das regiões autónomas, do poder local e
de quaisquer outras entidades públicas depende da sua conformidade com a Constituição.”
a) à luz das diferentes linhas que constituem a estrutura da ordem jurídica enquanto
triângulo de geometria variável;
b) em face da função primária (prescritiva) da ordem jurídica;
c) em face da função secundária (organizatória) da ordem jurídica.