Ser Infeliz v. Digital
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Pinto
Ser infeliz
Versão Virtual
Índice
O mundo inalcançável
Enquadramento da Felicidade numa vida já vivida
6
Salvação
20
A paixão de viver
44
O mundo alcançável
O Progresso na Ciência
88
Fugitivos
104
Sobre o Suicídio
117
A natureza e o cinismo
128
vivida.
bons.
amamos.
vontade.
3. Por sua vez, os nossos limites temporais,
este abrigo?
leitor.
felicidade.
Salvação
Parte I
pessoal).
13. No entanto, não posso cegamente
desespero.
somente o mirar.
Parte II
necessariamente garantido.
maior a felicidade)?
ao contrário de fixo.
18. Talvez o que se assemelhe mais ao desejo
de seguirmo-los cegamente.
quase inatingível.
Parte III
22. Como somente a fé pode salvaguardar
ininteligibilidade.
meu esforço.
Deus salvaguarda-me.
carro.
a vida.
de puder sentir.
merecida?
Não vejo nenhuma possível resposta que
atingi.
afortunadamente.
paixão?
esforço e desejo.
atiná-las?
seu propósito.
paixões.
Tomamos uma posição defensiva porque
loucura da incapacidade.
Mas e se não houver tempo? Segundo esta
de fé a conseguimos tomar.
tem, porque?
36. A IMPERFEIÇÃO DE DEUS:
rápido a descartá-la.
a sociedade.
2. Prática
(3. Universalidade)
Se o achar, segure-o’
Abandonar as infortunas da vida, ter
esperança e incansavelmente e infinitamente
procurar estar ‘certo’? Quando sinto, por pouco
que seja, esperanças que tudo vai acabar bem,
que tudo irá como planeado eu sinto um alívio e
uma força de espírito para continuar, as
esperanças são um ‘teaser’ para a felicidade que
nos pode esperar se nos esforçar-mos para a
atingir, ‘A felicidade exige valentia!’ escreve
Pessoa, apesar de tudo isso ser passageiro, uma
felicidade reactiva ainda é felicidade, pode não
me ser eterna, mas quando encontrar o meu
sistema, o meu lar… Segurarei essa felicidade até
que esta seja obrigada a desfazer-se nas minhas
mãos.
E no final de contas, se procuro ser feliz
porque sim, podemos estabelecer que a
felicidade reactiva é fugitiva, não procura lutar
contra o destino, Deus, si mesma, somente
procura estar longe de tudo isso, estar em paz e
sossego, e é exatamente isso que um tem que
fazer para maximizar a sua felicidade reactiva
encontrar paz de espírito e mente, como também
não se perturbar com questões insignificantes
aos demais. Em contraste, a felicidade proativa
nega qualquer sinal de querer fugir, é enfrentar
tudo de cabeça erguida, é questionar-se das
questões inquestionáveis, a primeira coisa que
devemos saber é quem somos, um lutador ou um
fugitivo?
50. Nem todos nós estaremos aptos para
atingir uma verdadeira felicidade, a norma é o
ser humano ser um ente infeliz, é a nossa
existência como sujeito que enaltece a nossa
miséria. Teremos em aberto uma felicidade
reactiva, uma prova do quão melhor seríamos se
a felicidade fosse verdadeira, é uma
representação da proativa. E como não pressentir
a trivialidade do tempo? Qual é a necessidade de
tentar voar em direção ao sol quando nem asas
tenho, contudo ainda me queimo. Não é na
ignorância que encontraremos alguma
verdadeira felicidade, encontramos aqueles que
mais se deparam com momentos jubilosos.
Somente quem se atreve a pensar (além do
mínimo necessário para viver) é que pode
denotar o ‘demónio que turva as fontes da vida’,
como escreve Emil Cioran, e pode por fim tomar
a sua escolha. Mas como voltar atrás? Após a
reflexão e o pensamento abundarem a nossa
cabeça e o pensar se emerge como uma
condenação para connosco e por fim admitimos
que sempre desejamos a vida ignorante, como
recuperamos esses tempos mais simples? Não
recuperamos, estaremos condenados a fugir. A
cada pequena luz de felicidade rapidamente
seremos relembrados de toda a infernal
existência que carregamos, todo o nosso ser será
um barril furado, toda a sua vontade e paixão são
drenadas lentamente de nós, Deus cada vez
menos presente, o desejo cada vez mais ausente,
até ao ponto em que deixamos de drenar e
somente restamos nós, abandonados, cansados e
angustiados. Por mais que tentemos encher o
barril este lentamente voltará a esvaziar-se,
continuemos fugitivos ou finalmente revoltamo-
nos? Sempre que um novo fundo se atinja a
pergunta se repete, é escapar do sofrimento ou
perseguir a felicidade?
‘人之生也柔弱
其死也坚强
万物草木之生也柔脆
其死也枯槁
[…]
强大处下
柔弱处上’
(‘O homem nasce rígido e fraco,
[…]
A natureza e o cinismo
Parte I
56. “Cão”, é o significado da palavra grega
kynikos, que dá origem à corrente filosófica do
cinismo, virasse as costas a todos os bens
materiais e afastasse o máximo de qualquer
relação com a sociedade em que nos envolvemos.
Antístenes foi o fundador desta linha de
raciocínio no final do século V a.c., negando o
exterior e refletindo profundamente em quem
ele é na realidade, segue um modo de vida que
ele considere exemplar eticamente e
logicamente.
Provavelmente o cínico mais famoso
seria Diógenes de Sinope. Discípulo de
Antístenes, ficou conhecido na Grécia antiga pelo
extremos em que levou este modo de vida dos
cínicos, negando todos os sentimentos e bens
materiais que conectavam-no com o mundo em
que se envolvia, vivia como um mendigo, ou até
se assemelha mais a um cão rafeiro. Os que
seguiram este filósofo no caminho do cinismo
tentavam-no levar também até ao extremo,
entretanto aparecem outras linhas de
pensamentos como o estoicismo que
demonstram-se mais ‘requintadas’ que o cinismo,
contudo milhares de anos mais tarde aparece
Henry David Thoreau que moderniza o cinismo,
e ainda mais recentemente em diversos trabalhos
de media (séries e filmes, irei falar mais tarde
sobre a obra-prima que a série サムライチャンプル
ー ou Samurai Champloo é e toda a sua conexão
com o cinismo e a felicidade reactiva)
57. Qual é o objetivo da vida? Felicidade,
vimos que esta é ideológica, no entanto existe a
felicidade reactiva que nos acompanha pela vida,
esta alcança-se ao viver uma vida simplificada,
talvez seja na ignorância se assim bem
entender… Contudo, tal como no cinismo esta é
alcançada quando vivemos em sinfonia com a
Physis (natureza) de forma a que nós, seres
humanos, consigamos entender, sem grandes
questões ou grandes ambições, uma vida simples.
Riqueza, fama ou poder aparentam ter influência
na nossa felicidade reactiva, mas qualquer
Homem que já tenha conhecido variadíssimas
pessoas com diferentes estatutos sociais
entenderá que não passa de uma simples ilusão,
Diógenes e Alexandre o Grande são os exemplos
que melhor ajudaram a concluir esta afirmação.
Tem que haver um desfasamento da sociedade,
das suas regras e costumes, como Sartre outrora
escrevera ‘O inferno são os outros’, somente
assim o ser é parcialmente livre do meio e dos
demais. Por fim, falta a ação, ao contrário do
estoicismo, no cinismo não basta um exercício
mental é preciso agir de acordo com as bases que
estabelecemos.
Tudo o que escrevi resume um cinismo
bastante próximo ao qual Diógenes seguia,
contudo o cinismo antigo e moderno funda-se em
bases niilistas é, talvez após reflexões
semelhantes às minhas, concluir que a realidade
é dura e nos fará sofrer de qualquer maneira,
como tal devemos tomar partido e tornarmo-nos
cúmplices do mal do mundo, justificando ações
imorais, ao invés de agir imoralmente sabendo
que a ação é imoral e não procurar justificara-se.
Houve uma tal difusão do antigo para o moderno,
que onde essas bases pessimistas e sem tomar
ações imorais justificadas tiram o estatuto de
cínica a qualquer tese que reflita sobre um estilo
de vida simples, afastado da sociedade, prático e
sem (ou com poucas) influências externas e dão-
lhe no entanto um título de naturalismo. Que
apesar de correcto não abrange o todo potencial
de uma verdadeira tese cínica moderna.
Quem mais se aproxima deste cinismo
moderno é o filósofo americano Thoreau na sua
Magnus Opus Walden e num outro escrito (pelo
qual me dei a conhecer ao mundo do autor)
Andar a Pé.
Conclusão e Reflexões
Finais
Reflexões Finais
O primeiro objetivo deste conjunto de
reflexões era entender a felicidade de todos os
diferentes ângulos e depois entender como posso
ser feliz e porquê ser feliz. E, durante estas
reflexões percebi que a felicidade dividisse em
duas uma que é absoluta é uma felicidade
metafísica, ideal… Nada tem que lhe conecte com
o mundo físico, tudo o que teremos que fazer
para a atingir esta encontrasse na nossa mente.
Após estabelecida esta felicidade perguntei-me
como posso eu atingir isto? Não consigo, não
serei feliz, a felicidade proativa é ideológica,
romântica… Nem tenho certezas que alguém uma
vez conseguiu ser realmente feliz. Daí criasse a
divisão das minhas reflexões em duas, o Mundo
inalcançável e o alcançável. A primeira reflete as
reflexões ideológicas que primeiro surgiram na
minha cabeça, tem que ser possível ser feliz dizia
para os meus botões, coloquei-me na posição de
um herói nobre que lutaria destemidamente
contra tudo aquilo que se advertisse ao seu
objectivo final. Criei todo um mundo ideológico
para nele puder refletir sobre a felicidade,
mesmo nesse falhei, o herói caiu… Daí afirmar
ser uma felicidade inalcançável, contudo
possível. Até alguém a conseguir atingir, por mais
romântico que seja tenho que admitir que esta
está num plano superior ao nosso e que nos é
inatingível. Derrotado, parei de
escrever por tempos, qual seria o significado de
ser feliz com uma cópia da felicidade e não a
verdadeira? Sentia-me exausto, até que me voltei
a questionar se podia haver algum tipo de
relação entre este dois mundos. Tentei com a
ciência, quanto mais fácil a nossa vida física mais
tempo temos para nos focar na mente. Mas não
consegui construir uma ponte aí, voltei a
fracassar, desisti da verdadeira felicidade, voltei
ao método olhei para a felicidade reactiva de
todos os ângulos que consegui, tinha que
primeiramente atribuir alguma razão para eu
estar aqui, no entanto não há nenhuma, fomos
atirados ao mundo sem razão, toda a nossa
existência é absurda… Estava a divagar pelas
grandes questões, tive que me abster delas,
questionar-me se tudo não poderá ser mais
simples, decidi olhar para a vida tal como ela se
apresenta para nós, porque existimos, porque
alguém ou a natureza fez nos existir, porque
vivemos? Aqui! Chegamos exatamente à
pergunta que justifica a felicidade reactiva, não
somos responsáveis por existir, mas somos sim
por viver e como tal, na pequena escala, vivemos
hoje porque ontem tivemos alguma razão para
nos fazer chegar ao dia de hoje, todos os dias
decidimos viver por variadíssimas razões, a
felicidade é a principal todos gostamos de ser
alegres, contudo como tinha afirmado
anteriormente a felicidade reactiva não se
distingue entre si, ganhar um prémio Nobel não
diferenciasse de beber água quando estamos com
muita cede. Muitas linhas de pensamento são me
cortadas neste momento, voltei a parar de
escrever para refletir mais profundamente, ler
mais e aprender mais, durante esse tempo de
reflexão uma escola de pensamento destacou-se
das outras, o cinismo, contudo não concordava
cabalmente com esta filosofia, precisava de uma
modernização, com mais investigação acabei por
associar a filosofia de Thoreau ao cinismo como a
versão moderna, contudo ainda não me
contentava inteiramente com o raciocínio, foi aí
que me relembrei de uma série que já tinha visto
à uns anos, Samurai Champloo também
demonstrava muitos conceitos existencialistas
cínicos (se assim me permitirem chamar) e
embelezavam o cinismo moderno, no final
acabamos com uma visão diferente sobre o
cinismo, que agora nas minhas reflexões finais
denoto uma semelhança com um estilo de vida
‘hippie’ com algumas adaptações. Contudo refiro
que o cinismo não nos fará necessariamente mais
felizes, que se tudo irá estabilizar a nossa vida e
permitir vivermos uma vida aprazível. Tanto que
como escrevi ao longo da segunda metade deste
conjunto de ideias, mesmo esta felicidade
reactiva é somente aleatória, nunca poderemos
torná-la absoluta, no máximo poderemos
uniformizá-la com grande esforço. Quer seja
numa vida normal ou cínica.
E interessantemente, comecei a escrever
sobre como ser feliz e acabei a escrever em como
ser infeliz e viver a nossa lamentável vida. Por
mais que tornemos as nossas emoções estáveis o
sofrimento irá sempre prevalecer e nada
poderemos fazer além de tentar ser o herói ou
ser o fugitivo.
Conclusão
Em termos pessoais o objetivo deste grande
conjunto de pensamentos, foi tentar escrever
pela primeira vez algo completo, refletir de todas
as formas que conseguir e ao mesmo tempo a
tentar manter o meu pensamento coerente, o que
devo dizer, foi uma tarefa extremamente difícil.
Foi também uma tentativa de introduzir o meu
pensamento filosófico ao mundo (nem que esse
mundo seja só eu) até agora tenho estado a
acumular conhecimento de tudo o que li ao longo
destes últimos dois anos, ideias que ferviam na
minha cabeça prontas para ser escritas. Talvez
não tenha conseguido transmitir na sua
totalidade tudo o aquilo que tinha em mente e
tentei meter aqui, contudo no momento em que
acabei de escrever o último capítulo sinto que
concretizei algo bom, que consegui atingir um
objetivo que sempre quiz superar. Porque na
realidade, não é a primeira vez que tento
escrever textos mais longos… Já faz uns anos que
escrevo e apago tudo porque nunca me contento
com a direção que a minha escrita está a tomar,
já devo ter escrito centenas de pagens que já
apaguei nestes últimos anos (talvez esteja a
exagerar ligeiramente ha ha)! Contudo, agora foi
diferente, não sei bem porque mas olho de novo
para tudo o que escrevi e não nasce em mim
nenhuma necessidade de recomeçar do zero,
portanto por mais que este projeto seja um
falhanço eu contento-me em o ter conseguido
realizar em primeiro lugar. Todavia, a principal
finalidade foi tentar compreender a minha
mente, do tanto que pude ler ficaram diversos
pensamentos soltos a pairar sob mim, senti uma
necessidade de organizar a minha mente, e esta
organização começa com a felicidade pois toda a
filosofia fundamentasse sobre o problema que
esta levanta. Todas as outras problemáticas
nascem desta como podemos ver com os variados
tópicos que discuti ao longo da obra (tal como a
ciência, Deus…). Apesar de não ter chegado às
respostas que desejava cheguei a conclusões que
melhor me ajudam a manter-me inteiro, sinto
que criei uma linha de segurança para mim
mesmo que antes não existia e isso dá me forças
para continuar a escrever independentemente se
mais tarde considerarei isto como um fracasso ou
não. Por agora aproveitarei enquanto este texto
me proporciona felicidade proativa.
Fim
LISBOA, 4 DE OUTUBRO 2022