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Memento Mori

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Memento Mori – Lembre-se de que

você é mortal

Memento mori é uma expressão do Latim que significa algo como


“Lembre-se de que você é mortal”, “Lembre-se de que você vai morrer”,
ou traduzido ao pé-da-letra, “Lembre-se da morte”. Este tipo de
pensamento é muito utilizado dentro da literatura, principalmente na
literatura barroca, assim como em várias religiões, em especial o
Budismo, com o propósito de te puxar para fora da sua autoimagem, para
fora da ilusão de que você é seu veiculo (seu corpo), até mesmo sua
mente, e lembra-lo de que você é o eterno agora, a consciência que está
criando a experiência desse momento em si, esse é você, esse é o seu “eu
integrado”.

Podemos, e de certo modo até devemos ter uma identidade para


convivermos em sociedade e funcionarmos de maneira coerente (ou
quase). Mas não podemos nos iludir quanto ao que estamos fazendo.
Porque se realmente acreditarmos que o mundo é um monte de coisas
separadas, então iremos acreditar que podemos desmontar o que
quisermos, que “isso” pode existir sem “aquilo”, e iremos falhar em
perceber como “isso” na verdade afetava direta ou indiretamente
“naquilo”. O modo que você é hoje vai depender do ambiente cultura,
social e biofísico em que você esteve inserido, então, não há como separar
as coisas que supomos como independentes entre si, toda existência
opera em sincronia.

“A ideia é permanecer num estado de constante partida enquanto se está


sempre chegando. “ — Frase do filme Waking Life

“Breakthrough” By C.R. Johnson

estado descrito nessa frase acima é o que Buda chamava de tathāgata, o


verdadeiro ser, em tradução livre significa simultaneamente “aquele que
se foi” e “aquele que chegou”, ou seja, está além dos fenômenos da
realidade de tempo e espaço. É um estado de consciência onde é possível
sentir a liberdade de fluir entre os pensamentos e o vazio, de estar
conectado, associado e desassociado ao mesmo tempo, não apenas com
a imagem mental que chamamos de “eu”, mas de ter a noção de como
toda existência está se relacionando e resultando em quem você é. Nós
somos literalmente uma extensão da existência em si. E tendo essa
perceção, não apenas como um pensamento mas uma sensação, a mente
opera de uma maneira muito mais eficiente e produtiva. As atividades
neurais ressonam com mais coerência quando não há dissonância entre
as zonas mais avançadas do cérebro (neocortex) e as regiões mais
primitivas. O que chamamos de “tendencias egoístas”, que incluem a
ganância, orgulho, inveja e o medo da morte, são como medidas de proteção
do organismo mal formulada e operando de maneira inconsistente com o resultado
que buscam atingir. Essas funções mal adaptativas quando compreendidas
dentro do imperfeito paradigma de “identidade pessoal” geram apenas
tentativas de repressão, como no caso do sentimento de culpa, pois a
consciência se vê presa em uma imagem mental sem poder e sem
entendimento sobre o que está de fato acontecendo na totalidade da
mente.

Quando se compreende a visão cientifica de quem nós realmente somos,


uma expressão momentânea em constante mudança de uma unidade que
compreende tudo que existe, um circulo onde o centro é em todos os
lugares e a circunferência em nenhum, onde cada fator determina o
resultado da equação, então podemos começar a perceber todas as coisas
como extremamente significantes, notamos detalhes que não haviam
antes, ouvimos com mais atenção e sentimos com maior intensidade. As
consequências psicológicas desse entendimento como um sistema de
crenças objetivo permite a auto perceção sem um prendimento com o eu
imaginado, aumentando drasticamente a claridade mental, consciência
social, melhor autorregulação das atividades mentais e o que é descrito
como a sensação de “estar no momento”.

Morte, quer ser minha amiga? Morte, espada cruel do destino Guardiã do
sagrado templo Sobre vida e morte raciocino Porque ainda tenho tempo
Oh morte que nunca pedes licença, tu que conheces bem os mortais, seus
lamentos e arrependimentos finais assustados, fugindo da sua poderosa
presença Implorando uma segunda chance para concertarem os seus
erros. Mas é tarde, foi chegada a hora de cumprir a sentença, tudo o que
nasce está condenado a morrer, eis os termos não tenho consciência do
que realmente sou mas encontro-me aqui, vivendo como um mortal, para
cá eu vim, aqui vivo e daqui me vou. A vida é pequena mas também
colossal, morte, morte, por vezes você quase me levou mas por algum
motivo ainda aqui estou, queria que você fosse minha amiga, tu que
conheces tão bem os mortais seus lamentos e arrependimentos finais
Com certeza sabes muito sobre a vida, peço que sejas minha conselheira
eu que sou o que sou e não o que queriam que eu fosse, quando me
atingires com tua foice quero que boa seja a colheita. Se possível partir
com um sorriso no rosto sem carregar arrependimento ou desgosto, sem
medo ou lamúrias, não quero lhe fazer desfeita nessa hora quero te dar
um forte abraço e orgulhoso te contar a minha história, cantar meus feitos
e fracassos, lendas da minha trajetória e na terra ter deixado contribuição
satisfatória .São essas ambições que traço eu, um insignificante grão na
imensidão do tempo e do espaço – L@
Essas palavras não devem ser mal interpretadas com ideias como
se livrar totalmente de uma identidade ou que aceitar a morte é o mesmo
que se matar. Morte pode ser um conceito bem amplo, como acredito que
o texto demonstre um pouco, o que estou falando aqui é que devemos
estar abertos para integrar todas as partes da equação que molda quem
somos e o mundo que vivemos, que não é sensato viver com perspetivas
rígidas, e que devemos prestar atenção e aprender com os outros, pois
são eles que moldam como as vozes em nossas mentes nos influenciam,
sei que isso pode vir a soar para alguns como uma loucura esquizofrênica,
mas garanto que não é sensato ignorar o que acontece no interior de
nossas mentes, tanto quanto não é sensato ignorar o que acontece na
nossa sociedade.

Ignorar algo geralmente leva a desinformação, que causa confusão, a


confusão gera conflito e o conflito gera sofrimento, seja no seu mundo
interno ou no mundo externo, os problemas que temos sempre são
causados por ignorância ou obsessões com ideias, essas sim são loucuras
prejudiciais.
Sugiro apenas que pare e observe por um momento seus
pensamentos e note quantos “eus” você possui. Suas vozes mentais que
representam seus parentes, seus amigos, seus inimigos, todos
personagens que você conhece de todas histórias que você já ouviu falar,
todos com opiniões diferentes, e até mesmo a ideia a qual considera
ser “você” mudou muito de opinião durante sua vida. Acha mesmo que o
que você pensa agora representa isoladamente a totalidade do que você
é?

Acreditar e ser dominado por uma imagem mental é um delírio, alguns


são viciados e adoram, outros são escravos e nem conseguem ver. Por
isso digo, se quisermos viver em harmonia com a mente, com os outros
e com os fatos da vida, uma das coisas fundamentais é desapegarmo-nos
de um “eu” especifico, rígido e imutável. Para sermos quem e o que
realmente somos precisamos largar o peso de quem fomos para ter
espaço para o que estamos constantemente nos tornando. A continuidade
do seu “eu separado” é recriada a cada milissegundo pelo seu cérebro. No
tempo em que estava lendo isso você foi recriado centenas de vezes, pois
cada nova informação que nossa mente adquire expande-a e as novas
perceções e ideias precisam ser acomodadas na estrutura mental de cada
ser, e assim mudando-o para sempre. Não é nem algo que exige esforço,
apenas interesse em expandir, essas são as chaves, curiosidade e
motivação.

“Aceitar a derrota – aprender a morrer – é ser liberto da mesma. Quando você aceita,
você está livre para fluir e harmonizar. Fluidez é o caminho para uma mente serena.
Você deve libertar sua mente ambiciosa e aprender a arte de morrer.“ — Bruce Lee

“Minha inevitável morte e desintegração me deixam tranquilo pra caralho.”


Veja mais em: http://despertarcoletivo.com/memento-mori/

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