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Indicadores e Sentimento de Mercado: Mariana Oreng

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Indicadores e sentimento de mercado

Mariana Oreng
Propriedade Intelectual Saint Paul Educacional LTDA

Indicadores e sentimento de mercado

INTRODUÇÃO

Os preços dos ativos em uma economia podem ser influenciados por:


• Fatores técnicos (condições de oferta e demanda).
• Fatores fundamentalistas ou fundamentais (condições gerais de uma empresa ou
fatores macroeconômicos).
• Sentimento de mercado: atitude predominante dos investidores em relação ao
mercado ou a um ativo específico. Podem variar por notícias, desempenho passado
ou perspectivas futuras. São tendências gerais que podem ser afetadas por questões
racionais ou emocionais.

1. Movimentações na curva de juros e condições gerais de mercado

As condições dos mercados de títulos são classificadas como “altistas” ou “baixistas”. “Os
mercados em alta são favoráveis, normalmente associados à alta de preços, ao otimismo do
investidor, à recuperação econômica e ao estímulo do governo. Os mercados em baixa são
mercados desfavoráveis, normalmente associados à queda dos preços, ao pessimismo do
investidor, à desaceleração econômica e a restrições do governo” (GITMAN; JOEHNK, 2004).

A movimentação das curvas de juros é um dos principais componentes que ajuda a entender
essas condições gerais de mercado. Os principais movimentos que os investidores e
especuladores acompanham são a inclinação da curva e o seu deslocamento. Assim, alguns
dos principais fatores que influenciam as condições gerais de mercado e o movimento das
taxas de juros são:

• Controle da inflação (efetividade da política monetária) e dinâmica de preços.


• Vulnerabilidade do setor externo.
• Situação fiscal/dinâmica da dívida pública e estímulos/restrições do governo.
• Estrutura do mercado bancário.
• Ambiente político.
• Otimismo/pessimismo dos investidores.

Vale destacar que o formato da curva de juros também pode indicar sinais de piora no
crescimento econômico adiante: a diferença de taxas de juros entre títulos mais curtos (por
exemplo, com vencimento de 2 anos) e mais longos (vencimento de 10 anos) é uma medida
do sentimento do mercado bastante acompanhada pelos mercados. Em ambientes mais
otimistas, esse diferencial tende a ser maior, pois os investidores demandam juros mais
altos nos vencimentos mais longos para fazer hedge contra a inflação. Entretanto, em
ambientes de receio em relação ao crescimento econômico, as preocupações com a inflação
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diminuem, fazendo com que esse diferencial seja menor. Ou seja, uma diminuição nesses
spreads ou “achatamento da curva” é uma indicação de deterioração do sentimento sobre o
crescimento e pode alertar para perigos de recessão econômica.

Tabela 1: Impacto das movimentações da curva de juros nos investimentos.

Movimento Efeitos nos investimentos


Abertura da curva de juros • Renda fixa: aumento da remuneração dos
investimentos atrelados à Selic e ao CDI e elevação das
taxas dos títulos prefixados e atrelados à inflação. O
aumento das taxas tem uma relação inversa com os
preços desses títulos. Assim, os preços desses títulos
caem, desvalorizando o investimento de quem comprou
esses papéis a taxas mais baixas;

• Renda variável: maiores custos de captação para as


empresas levam a um aumento do custo de capital e,
consequentemente, menores preços das ações.
Fechamento da curva de juros • Renda fixa: investimentos pós-fixados menos
interessantes e redução das taxas dos títulos prefixados
e atrelados à inflação. Assim, os preços desses títulos
sobem, beneficiando quem os tiver comprado a taxas
mais altas;

• Renda variável: menores custos de captação para as


empresas levam a uma diminuição do custo de capital e,
consequentemente, maiores preços das ações.

Fonte: Elaborado pela autora.

2. Sentimento de mercado

Há diversas formas de compreender o sentimento do mercado em relação ao referencial


comum para as transações financeiras – as taxas de juros – e o comportamento das diversas
classes de ativos. Uma das principais abordagens é referir-se aos touros e aos ursos (bulls
and bears). São termos utilizados para referir-se às condições gerais de mercado e ao
comportamento do mercado de ações. Também descrevem as movimentações nas curvas
de juros. Referindo-se à forma como esses animais atacam, tem-se:

• Touros (bulls): ambientes de otimismo/mercados de renda variável em


ascensão/crescimento, que tendem a estar relacionados aos ambientes de baixas
taxas de juros. O touro ataca de baixo para cima, o que indica que os preços das
ações em geral estão em ascensão e as taxas de juros mais estimulativas/em
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menores patamares. Nesses momentos, as taxas de desemprego tendem a ser mais


baixas e o crescimento econômico mais acelerado.
• Ursos (bears): ambientes de mais pessimismo, com preços das ações em queda e
taxas de juros menos estimulativas (mais altas). O urso ataca de cima para baixo, o
que indica que os preços das ações tendem a estar em menores patamares. Nesses
momentos, as taxas de desemprego tendem a ser mais altas e o crescimento
econômico menor.

O uso dos termos “bull” e “bear” também pode ser utilizado para compreender as
movimentações nas curvas de juros. Uma abertura ou maior inclinação da curva de juros
indica mais cautela e mais incerteza, pois os investidores passam a exigir maiores taxas de
juros para os mesmos vértices/vencimentos. De maneira análoga, um fechamento ou menor
inclinação da curva de juros indica mais otimismo e menos níveis de incerteza, pois as taxas
de juros passam para menores patamares e o investidor passa a exigir menos prêmio para o
mesmo nível de risco.

Ao tratar das oscilações no mercado de renda variável, alguns analistas utilizam o valor de
corte de 20% para identificar mercados bull ou bear: enquanto um bull market é
identificado a partir do aumento médio de 20% no valor do índice, um bear market pode ser
identificado a partir de uma baixa média de 20% no valor de um índice, considerado a última
máxima ou a última mínima no índice para determinado período.

3. Fontes de informações e indicadores relevantes

Gitman e Joehnk (2004) listam os 5 principais tipos de informações de investimentos


utilizadas por investidores qualificados e mesas de operações:
• Informações econômicas e de eventos atuais (jornais, serviços por assinatura, portais
e publicações do governo).
• Informações da indústria e da empresa (relatório de resultados, fatos relevantes,
entre outros).
• Informações sobre instrumentos de investimento alternativos (informações sobre
títulos ou mercados específicos).
• Informações de preço (cotações).
• Informações sobre estratégias de investimento pessoal.

O estudo do desempenho das médias e índices de mercado é uma maneira amplamente


usada para avaliar o comportamento dos mercados e acompanhar as decisões dos
investidores e aquelas tomadas nas mesas de operações de bancos e corretoras. Já os
indicadores antecedentes são ferramentas de previsão de variáveis de interesse para
movimentos dos mercados. O IBC-Br, por exemplo, é um indicador mensal desenvolvido
pelo Banco Central para prever o PIB brasileiro, que é calculado apenas trimestralmente.A
Anbima, por exemplo, fornece diariamente uma tabela com um conjunto informações
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utilizadas pelos participantes do mercado brasileiro - Taxa Selic, DI-Cetip, Estimativa Selic/DI
ANBIMA, IGP-M, IPCA, Projeções IGP-M/IPCA ANBIMA e cota do FDS.
Tabela 2 – Painel geral de indicadores de mercado.
Renda variável (bolsas) Commodities Moedas Renda fixa e inflação
Brasil Energia • USDBRL Estados Unidos
• Ibovespa • Petróleo • EURBRL • USD10Y
• IBRX • WTI • DXY*** • USD30Y
América • IBRENT • PCE (FED)
• Dow Jones • CPI
• S&P 500 • Payroll
• Nasdaq Metais**
• Ibovespa futuro • TIOc1 (minério de ferro Brasil
• VIX* (volatilidade das cotado em dólares na CME – • IPCA
opções do S&P 500) Chicago) • IGP-M
Europa • OZ1D (Ouro)
• FTSE (Inglaterra) • XAGUSD (prata cotada em
• PCAC (França) dólares)
• DAX (Alemanha)
• IBEX35 (Espanha) Agricultura
• FTSEMIB (Itália) • Carne bovina
• OMXS30 (Suécia) • Café
• SMI (Suíça) • Trigo
Ásia • Borracha
• Nikkei (Japão) • Milho
• HANGSE (Hong Kong) • Açúcar
• SSECO (China)
*Também conhecido como índice do medo que os investidores têm do mercado (VIX baixo – excesso de otimismo – possível bolha no futuro).

**Por terem oferta limitada, metais preciosos como ouro e prata são tidos como reservas de valor pelos investidores, e normalmente são utilizados como proteção (hedge)
em ambientes inflacionários. Alguns investidores também acompanham o gold/silver ratio.

*** O DXY é um índice que mede a força relativa do dólar em relação a moedas de países desenvolvidos. Também é utilizado como um índice de aversão a risco.

Fonte: Elaborado pela autora.


4. Estratégias de investimento

As principais estratégias de investimento utilizadas nas bolsas de valores pelos investidores


e mesas de operações podem ser divididas em dois grupos: aquelas que focam no longo
prazo e aquelas que focam no curto prazo. Aquelas que focam no longo prazo têm, em
geral, uma abordagem fundamentalista (uso de indicadores macroeconômicos, setoriais e
da empresa) e seu como objetivo é obter uma projeção consistente sobre o futuro da
empresa sendo avaliada.

Tabela 3: Estratégias de Investimento.


Estratégias de longo prazo Estratégias de curto prazo
Dividendos Day trade
Investir em companhias que pagam bons Operações de compra e venda realizadas em um
dividendos periodicamente. mesmo dia montadas com base nas oscilações
de preços e o desempenho históricos dos ativos.
Seu princípio é a análise técnica (análise de
gráficos, tendência, médias móveis entre
outros).
Valueinvesting Swing trade
Encontrar ações subvalorizadas (negociadas Estratégia especulativa que aposta em
abaixo do seu valor intrínseco). tendências de mercado em períodos maiores
que um dia.
Buyandhold Long& Short
Comprar ações (buy) e segurá-las (hold) no Estratégia que combina operações simultâneas
longo prazo, buscando superar as oscilações de de compra e venda de dois ativos. Possibilita
curto prazo. uma operação que se beneficia de uma
performance melhor de uma empresa do setor X
contra uma empresa do setor Y, por exemplo.
Fonte: Dados do BTG Pactual. Elaborado pela autora.

Uma das estratégias de investimento mais conhecidas é o value investing, ou estratégia


baseada em valor. Popularizada por Warren Buffet (que foi aluno de Benjamin Graham), a
estratégia tem como princípio foco o longo prazo e a busca por papéis subavaliados. A
seleção de ativos deve ser feita com base em uma análise fundamentalista.

Outra estratégia bastante conhecida (e normalmente não utilizada por aqueles que montam
estratégias fundamentalistas baseadas em valor) é o short selling ou venda a descoberto
(também conhecido pelos termos alavancagem e negociação de margem – margin trading).
Esse tipo de estratégia busca, ao contrário da anterior, encontrar ativos que estejam
sobrevalorizados e apostar na queda desses preços.
Propriedade Intelectual Saint Paul Educacional LTDA

Figura 1 – A estratégia de value investing.

Fonte: Investificar.com.br, elaborado por Nord Research.

Figura 2 – Venda a descoberto (short selling).

Fonte: sejamidas.com

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