Língua Portuguesa - V2
Língua Portuguesa - V2
Língua Portuguesa - V2
METODOLOGIA DO ENSINO
DA LÍNGUA PORTUGUESA
REPÚBLICA DE ANGOLA
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
VOLUME II
2010
Equipa ESE de Setúbal (Portugal)
Ana Pires Sequeira
Fernanda Botelho
José Victor Adragão
Luciano Pereira
MP Benguela (Angola)
Colaboração dos professores de Língua Portuguesa de Metodologia
do ensino da Língua Portuguesa
Criação e Design
JL Andrade
www.jlandrade.com
I. Introdução, 07
II. Metodologia Geral, 11
Introdução
Metodologia Geral
III. Leitura e Escrita, 13
A Linguagem escrita
A. Leitura: da decifração à compreensão de textos
1. A decifração
2. A compreensão de textos
3. Propostas de actividades sobre decifração
3. Propostas de actividades sobre compreensão textual
B. A escrita: aspectos introdutórios
1. Conceito de texto, princípios e factores da textualidade
a. O que é a textualidade?
2. Tipos de texto
3. Competências de escrita
a. Competência compositiva
b. Competência gráfica
c. Competência ortográfica
4. O desenvolvimento da escrita
a. Passos determinantes para o ensino da escrita no ensino primário.
5. A avaliação da Escrita
a. O erro no contexto da avaliação formativa
6. Propostas de actividades
IV. Bibliografia Geral, 109
6 • Projecto de Formação de Formadores de Professores para o Ensino Primário em Angola
I
INTRODUÇÃO
O facto de a língua portuguesa não ser a língua materna de uma alta per-
centagem das crianças angolanas (e, provavelmente, dos seus professores) im-
plica que o seu ensino se faça com metodologia adequada, capaz de minorar
as dificuldades de acesso a uma língua que não se aprende desde o berço e de
promover o sucesso dos alunos, como estudantes e como cidadãos. Com efeito,
o correcto domínio da língua portuguesa, como receptores e como produto-
res, nas suas vertentes oral e escrita, ditará o percurso dos alunos nas restantes
disciplinas curriculares e a sua inserção na sociedade, como membros activos
de pleno direito. Por outro lado, só professores de comprovada competência no
uso reflectido e na metodologia da língua portuguesa (que ensinam e em que
ensinam) poderão assegurar o perfeito cumprimento dos objectivos do sistema
educativo.
8 • Projecto de Formação de Formadores de Professores para o Ensino Primário em Angola
2. Estrutura do Módulo
– Metodologia Geral
– Oralidade
– Funcionamento da Língua
– Leitura e Escrita
– Texto Literário
Volume I
Introdução
Metodologia Geral
Oralidade
Funcionamento da Língua
Bibliografia Geral
Volume II
Introdução
Metodologia Geral
Leitura e Escrita
Volume II | Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa • 9
Bibliografia Geral
Volume III
Introdução
Metodologia Geral
Texto Literário
Contos Angolanos
Bibliografia Geral
10 • Projecto de Formação de Formadores de Professores para o Ensino Primário em Angola
II
METODOLOGIA GERAL
LEITURA E ESCRITA
Apesar de hoje, em Angola, uma alta percentagem das crianças ter a língua
portuguesa como língua materna, particularmente nas cidades, o facto é que a
língua portuguesa não é a língua materna de muitas outras, designadamente
dos meios rurais e suburbanos (e, provavelmente, dos seus professores). Assim,
no seu ensino, têm de se adoptar metodologias adequadas, capazes de mino-
rar as dificuldades de acesso a uma língua que nem sempre se aprende desde
o berço, de modo a promover o sucesso dos alunos, como estudantes e como
cidadãos, como temos vindo a referir.
14 • Projecto de Formação de Formadores de Professores para o Ensino Primário em Angola
Como referido, a leitura não é uma actividade natural, nem espontânea; ca-
rece de ensino explícito e sistematizado e a sua aprendizagem aprofunda-se e
prolonga-se ao longo da vida dos sujeitos. É certo que a finalidade essencial da
leitura é a fluência, o que pressupõe rapidez de decifração, condição essencial
para a compreensão do material que se lê. De igual forma, os objectivos de leitu-
Volume II | Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa • 15
ra, quer dizer as finalidades que estabelecemos quando lemos (para estudo, para
informação, por prazer…), assim como o género textual, quer seja informativo,
narrativo, ou outro, são determinantes na construção da significação.
1. A decifração
Afinal o que é saber ler? Para uns, é transformar sinais gráficos em sonoros,
entendendo-se a leitura como um acto mecânico. Para outros, é ser-se capaz de
compreender o significado de uma mensagem escrita, entendendo-se a leitura
como um acto cognitivo.
Por conseguinte, são duas as vias de acesso à decifração: a via lexical - as pala-
vras - (global e rápida) e a via sub-lexical – as letras e as sílabas escritas (indirecta,
perceptiva, ortográfica). As metodologias de aprendizagem da leitura devem ac-
tivar estas duas vias: a global e a de correspondência fonema-grafema.
Sabemos hoje que há algumas determinantes para aprender a ler com suces-
so. São elas:
- as experiências que se têm sobre a língua escrita antes de saber ler, quer
dizer, o conhecimento prévio dos princípios gráficos que regulam a linguagem
escrita (a sua função, a sua organização e o conhecimento do código gráfico), o
que é difícil numa língua segunda.
Deste modo, para aprender a ler numa língua materna e sobretudo numa
língua segunda, como é o caso do Português para muitas crianças angolanas, é
fundamental respeitar cinco grandes princípios. São eles:
2. A compreensão de textos
Contudo, por mais comum (banal) que possa parecer a realização de uma
leitura, não se trata de uma tarefa simples. Como se viu, a leitura pode ser apenas
sinónimo de decifração. No entanto, não basta somente descodificar. Ler signifi-
ca compreender o que foi lido, o que implica que o leitor contextualize o que leu
e lhe atribua significado, melhor dizendo, que construa a significação; em suma:
seja proficiente.
Durante a leitura, é fundamental prestar atenção ao que se lê, sem o que não
se compreende; perceber a estrutura do texto (compreendemos de forma di-
ferente uma história, uma notícia ou uma instrução); ler com mais ou menos
velocidade consoante a dificuldade do texto; ler de novo cada parágrafo e pro-
curar a informação nova (o que se diz aqui de novo?); adivinhar pelo contexto
o significado de palavras novas; parafrasear, isto é, dizer por outras palavras, e
tomar notas durante a leitura; usar materiais de referência (dicionários, enciclo-
pédias); sintetizar à medida que se avança. Estes passos são fundamentais para
incrementar a compreensão.
- reconhecimento de pormenores;
24 • Projecto de Formação de Formadores de Professores para o Ensino Primário em Angola
- compreensão de instruções;
- elaboração de resumos;
- (…)
Para finalizar, uma nota sobre avaliação da leitura, especificamente sobre ava-
liação da compreensão textual. Não se pode avaliar o que não se ensinou; assim,
a avaliação da leitura deverá seguir as mesmas etapas do seu ensino e a que
acabámos de nos referir.
Procedimentos
a) de formação na EMP
A velha e a bicharada
O gato miava,
A velha dizia:
O cão ladrava,
O gato miava,
A velha dizia:
O galo cantava,
O cão ladrava
O gato miava,
A velha dizia:
O porco roncava,
O galo cantava,
O cão ladrava,
O gato miava,
A velha dizia:
Volume II | Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa • 31
O burro zurrava,
O porco roncava,
O galo cantava,
O cão ladrava,
O gato miava,
A velha dizia:
O boi berrava,
O burro zurrava,
O porco roncava,
O galo cantava,
O cão ladrava,
O gato miava,
A velha dizia:
32 • Projecto de Formação de Formadores de Professores para o Ensino Primário em Angola
O velho falava,
O boi berrava,
O burro zurrava,
O porco roncava,
O galo cantava,
O cão ladrava,
O gato miava,
A velha dizia:
- cada aluno substitui o nome do animal por outro à sua escolha, substituin-
do, igualmente, o modo de este se expressar; em seguida, repete para a turma;
Sugestão: afixar o cartaz na parede da sala de aula onde cada aluno ilustra o
animal que “criou”.
Esta actividade pode ainda ser desenvolvida com meios visuais, utilizando
imagens.
b) de sala de aula do EP
A actividade proposta pode ser aplicada numa sala de aula do Ensino Pri-
mário. Os estudantes da EMP deverão adaptá-la em função da classe em que a
implementem. Podem também escolher outra lengalenga, que se encontre no
manual.
Procedimentos:
a) de formação na EMP
da garrafa
de rum
do rei da Rússia
b) de sala de aula do EP
A actividade proposta pode ser aplicada numa sala de aula do Ensino Primá-
rio. Os estudantes da EMP podem também escolher outro trava-línguas.
Volume II | Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa • 35
Procedimentos:
a) de formação na EMP
O COELHO BOTELHO
Numa ilha muito distante vivia um rei e uma rainha cujo filho havia desa-
parecido... Desde então a sua única distracção era o seu animal de estimação: o
coelho Botelho. O rei e a rainha estavam embevecidos pela beleza de Botelho.
Este era muito vaidoso e passava o tempo a contemplar-se ao espelho.
O coelho Botelho já tinha ouvido muitas histórias fantásticas sobre este ca-
minho… mas, nunca tinha tido coragem de nele se aventurar!
Um dia, estando mais uma vez a olhar-se ao espelho, ouviu uma voz melo-
diosa que lhe disse:
- Para além do teu espelho há tanto por descobrir… aventura-te pelo caminho
mágico que ao príncipe te há-de conduzir!
- terceira leitura expressiva da história em que dois alunos (um com um tam-
bor e outro com uma pandeireta) tocam os instrumentos musicais sempre que
o(a) professor(a) disser, respectivamente, palavras com “lh” ou “nh”.
Sugestão: esta leitura pode ser repetida as vezes que se considerar necessá-
rio ou até todos os alunos terem participado, tocando um instrumento musical;
- os alunos, a pares, inventam outros nomes com “nh” e “lh” para as persona-
gens da história;
b) de sala de aula do EP
A actividade proposta pode ser aplicada numa sala de aula do Ensino Primá-
rio pelos estudantes da EMP.
38 • Projecto de Formação de Formadores de Professores para o Ensino Primário em Angola
Procedimentos:
a) de formação na EMP
- leitura, em voz alta, por 4 ou 5 alunos. O texto da lengalenga deve ser distri-
buído a todos os alunos ou, caso não seja possível, passado no quadro;
LAGARTO PINTADO
- Lagarto pintado,
quem te pintou?
- Lagarto verde,
quem te esverdeou?
- Lagarto azul,
quem te azulou?
que me molhou.
- Lagarto amarelo,
quem te amarelou?
- Lagarto encarnado,
quem te encarniçou?
- leitura pelos alunos, em pares, das perguntas com alteração das respostas.
Exemplos:
- Lagarto pintado,
quem te pintou?
- Foi um menino
- Lagarto verde,
quem te esverdeou?
- Lagarto azul,
quem te azulou?
que me apanhou.
- Lagarto amarelo,
quem te amarelou?
- Lagarto encarnado,
quem te encarniçou?
- leitura pelos alunos, em pares, com alteração da cor do lagarto nas pergun-
tas. Exemplos:
- Lagarto laranja,
quem te alaranjou?
Volume II | Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa • 41
- Lagarto roxo,
quem te arroxeou?
- Lagarto branco,
quem te branqueou?
- Lagarto cinzento,
quem te acinzentou?
b) de sala de aula do EP
A actividade proposta pode ser aplicada numa sala de aula do Ensino Primá-
rio pelos estudantes da EMP. A sua realização na aula de Metodologia permite-
-lhes uma intervenção mais adequada.
Procedimentos:
a) de formação na EMP
- de onde vêm?
-(…)
b) de sala de aula do EP
A actividade proposta pode ser aplicada numa sala de aula do Ensino Primá-
rio pelos estudantes da EMP. A sua realização na aula de Metodologia de Ensino
da Língua Portuguesa permite-lhes reflectir sobre as possibilidades de uma in-
tervenção mais adequada na prática pedagógica.
Procedimentos:
a) de formação na EMP
SALADA DE FRUTAS
-RECEITA-
Ingredientes:
Caju
Manga
Ananás
44 • Projecto de Formação de Formadores de Professores para o Ensino Primário em Angola
Banana
Açúcar
Instruções:
Lave e descasque os frutos. Em seguida, corte-os aos bocados para uma taça
misturando, muito bem, com a ajuda de uma colher. Por fim, adicione o açúcar.
- (…)
- escrita, pelos alunos, da nova receita com os frutos que gostariam de incluir
na salada de frutas;
- recolha pelos alunos, junto de familiares, de outras receitas. Escrita das recei-
tas, em aula, com indicação dos ingredientes e das instruções.
b) de sala de aula do EP
Procedimentos:
a) de formação na EMP
Para conhecer a inteligência dos seus súbditos, um sultão pediu que lhe apre-
sentassem a solução de um problema de difícil resolução: quem seria capaz de,
ao mesmo tempo, andar a cavalo e a pé, e de chorar e rir. A quem apresentasse a
solução, prometia nomear seu conselheiro.
Ninguém se atrevia.
Mas, certo dia, um moleiro atreveu-se, e disse ao sultão: se se sentar num cava-
lo pequeno e os seus pés tocarem o chão, pode cavalgar e andar ao mesmo tempo.
Se se rir de si mesmo enquanto corta uma cebola, não pára de chorar.
e) Cansar-se muito
a) Divertido
b) Vaidoso
c) Estúpido
d) Engenhoso
e) Idiota
a) O sultão caprichoso
c) O pobre moleiro
a) A filha em casamento
c) Riquezas infindáveis
Volume II | Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa • 47
b) de sala de aula do EP
Procedimentos:
a) de formação na EMP
b) de sala de aula do EP
1 Para a realização do “mobile” são necessários os seguintes materiais: paus ou canas, fios,
cartolinas, preferencialmente de cores diferentes, tesoura e caneta.
Volume II | Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa • 49
Procedimentos:
a) de formação na EMP
TEXTO
a) 4anos
b) 6anos
c) 10 anos
d) 2 anos
b) de sala de aula do EP
Esta actividade pode ser aplicada numa sala de aula do Ensino Primário pelos
estudantes da EMP. Chamar-se-á a atenção dos alunos que se trata de um pro-
blema de Matemática cuja realização exige a compreensão do texto.
Procedimentos:
a) de formação na EMP
Texto
Não lhe apetecia ir para casa. O avô Felisberto, ao saber do seu estenderete,
iria torcer a bigodaça e carregar o sobrolho de tristeza.
(Adaptado)
Das respostas que se apresentam a seguir, escolhe a correcta para cada uma
das questões.
3– O avô do João…
b) de sala de aula do EP
Esta actividade pode ser aplicada numa sala de aula do Ensino Primário pelos
estudantes da EMP de acordo com as classes que leccionam.
Procedimentos:
a) de formação na EMP
52 • Projecto de Formação de Formadores de Professores para o Ensino Primário em Angola
Da escola
De vontade e de alegria
- Das respostas que se apresentam a seguir, escolhe a correcta para cada uma
das perguntas.
b) Da fábrica
c) De Portugal
d) De Luanda
e) Não se sabe.
a) Para o divertimento
a) No livro
b) Na escola
d) No aeroporto.
a) pelo mundo
c) por Benguela
54 • Projecto de Formação de Formadores de Professores para o Ensino Primário em Angola
d) por Luanda.
a) O livro e os leitores
b) O livro na escola
c) O livro e as crianças
d) O livro viajante.
b) de sala de aula do EP
Esta actividade pode ser aplicada numa sala de aula, do Ensino Primário pe-
los estudantes da EMP tendo em atenção as classes que leccionam. Destina-se,
preferencialmente, à 4ª classe e seguintes.
Procedimentos:
a) de formação na EMP
Os Vícios
Volume II | Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa • 55
- Das respostas que se apresentam a seguir, escolhe a correcta para cada uma
das questões.
a) Tabaco
b) Jogar
c) Fazer compras
d) Álcool.
56 • Projecto de Formação de Formadores de Professores para o Ensino Primário em Angola
a) Um brincalhão;
b) Um mentiroso;
c) Um sonhador;
d) Um doente.
b) Viver feliz;
c) Tornar-se milionário;
a) Tuberculose;
b) Paludismo;
c) Cólera;
d) HIV – SIDA
b) de sala de aula do EP
Esta actividade pode ser aplicada numa sala de aula, do Ensino Primário pe-
los estudantes da EMP, tendo em atenção as classes que leccionam. Destina-se,
preferencialmente, à 4ª classe e seguintes.
Volume II | Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa • 57
Procedimentos:
a) de formação na EMP
O acordo
E procurava. Procura que procura, eis senão quando numa floresta depara
nada mais, nada menos do que com um urso. Os dois se defrontam. O caçador
apavorado pela selvajaria do animal. O animal apavorado pela civilização em
forma de rifle do caçador. Mas foi o urso que falou primeiro.
- Eu – disse o caçador – procuro uma bela pele com a qual possa abrigar-me
no Inverno.
- E você?
- Eu – disse o urso – procuro algo para o jantar porque há três dias que não
como.
b) de sala de aula do EP
Esta actividade pode ser aplicada numa sala de aula, do Ensino Primário pelos
estudantes da EMP. Destina-se, preferencialmente, à 6ª classe.
Volume II | Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa • 59
http://ww.ait.pt/recursos/dic_term_ling/index2.htm
1 Esta listagem constitui uma súmula das dificuldades referidas pelos próprios
professores.
Volume II | Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa • 61
- O que é a textualidade?
(i) progressão – um texto deve apresentar informações novas para ter in-
teresse comunicativo. Se no texto se repete, ainda que de formas diferentes, a
mesma informação, dizemos que não é interessante;
(iii) não contradição – para ser considerado bom, é necessário que um texto
não apresente contradições internas. Um período ou uma frase não pode forne-
cer informação que esteja em contradição com o que é veiculado quer implícita,
quer explicitamente pelo texto. Por exemplo: no mesmo texto, não se pode afir-
mar, simultaneamente, que “a casa do Sr. João é grande” e, a seguir, afirmar que
é pequena, isto é, não afirmamos “A” numa frase e “não A” na seguinte, tal como
o texto não pode contradizer o mundo a que se refere;
(iv) relação - um texto será um bom texto quando entre os factos tratados
houver relação, isto é, quando entre A e B se estabelecerem relações pertinentes
quer sejam de causa, de condição, de consequência ou outras. Por exemplo, se
uma história se passa na Antárctida, as personagens, provavelmente, não po-
dem andar despidas, devido às temperaturas negativas.
2. Tipos de texto
Narrativo
Descritivo
Por oposição ao anterior, este tipo de texto descreve lugares, objectos, esta-
Volume II | Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa • 63
dos de espírito.
Exemplos: descrição literária integrada num romance, guia turístico, listas, in-
ventários, etc.
Explicativo/ informativo
Argumentativo
Injuntivo (instrucional)
Texto cuja função é prescrever, dar instruções, dizer o que deve ser feito ou
mesmo impor. São os “escritos para fazer”.
Retórico
Preditivo
Conversacional
3. Competências de escrita
Ser capaz de produzir textos diversos, com funções distintas, é uma exigência
da sociedade actual. Por isso, cabe à escola o desenvolvimento das competên-
cias necessárias à produção de um documento escrito. São elas:
a. Competência compositiva
(iii) esta fase implica ainda definir com precisão os objectivos da escrita; o que
Volume II | Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa • 65
b. Competência gráfica
- dimensão da letra.
Deve ainda ser ensinado à criança que a organização da página de texto aju-
da a leitura, no sentido em que facilita a procura de informação de forma rápida
e eficaz.
c. A Competência ortográfica
cultural que temos. Ao incentivá-los a chegar a esse ponto, a escola deve também
valorizar as etapas intermédias, mostrar o valor do que já conseguem fazer, do que
acertam, e medir tudo com justa medida. (L. Cagliari, 2005)
Para a criança que está a aprender a ler, todas as palavras são difíceis. Assim,
é normal que cometa erros ortográficos.
Cartazes de ortografia
Intervenientes Objectivo Tarefa
Expor as palavras “com Inventário de séries de
dificuldade” para serem palavras
Alunos e professor
consultadas permanen-
temente
Listas de Palavras
Intervenientes objectivo Tarefa
Trabalho com texto
- os antónimos.
Volume II | Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa • 69
2. O desenvolvimento da escrita
A planificação não pára por aqui, pois o próprio texto já escrito e a situação
de comunicação estabelecida desencadeiam novas ideias e outras formas de as
dizer e de organizar o texto, o que leva a pensar a linguagem durante o próprio
processo de escrita.
Redigir é antes de mais uma actividade social – o próprio acto de escrita está
condicionado por um contexto social e cultural. É pois fundamental que se criem
oportunidades de escrita com sentido para as crianças, permitindo-lhes a desco-
berta da importância da escrita nas suas vidas.
por parte dos alunos, de uma boa relação e adesão1 à escrita, bem como con-
fiança na sua própria capacidade para produzir textos com sentido. É pois fun-
damental que os alunos trabalhem uns com os outros e com o professor, que
deverá funcionar como assessor dos seus alunos.
2. A avaliação da escrita
Efectivamente, tem-se vindo, cada vez mais, a dar atenção ao aluno enquanto
indivíduo e como principal construtor da sua aprendizagem e da sua personali-
dade e a abandonar a avaliação pontual e externa, aprofundando-se mais uma
concepção formativa e formadora da avaliação. Auto-avaliação, auto-regulação
e auto-controlo constituem as palavras-chave do conceito de avaliação forma-
dora porque motoras de todo o processo de aprendizagem, melhor dizendo, o
aluno vai-se auto-avaliando, regulando e controlando o seu próprio processo de
aprendizagem.
A maioria dos modelos de escrita distingue três fases durante a escrita: plani-
ficação, textualização (composição) e revisão, como já se referiu. A maioria apon-
ta também para uma valorização dos processos de revisão no processo global
da produção escrita.
A socialização dos textos, isto é, a partilha dos textos por todos, constitui uma
oportunidade para a co-avaliação, que pode ser feita em pares ou em grupo,
podendo escolher-se para análise um único trabalho ou vários, consoante a ex-
tensão dos escritos e o tempo disponível. Deste modo, em interacção, os alunos
são forçados a explicitar e a organizar melhor as suas ideias e a tornar clara a sua
expressão, tornando-se melhores ouvintes e melhores auto-avaliadores quando
discutem o seu trabalho e o reconsideram sob novas perspectivas.
78 • Projecto de Formação de Formadores de Professores para o Ensino Primário em Angola
Ortografia e Criatividade e
Estrutura Vocabulário Apresentação
pontuação imaginação
Do que dissemos, pressupõe-se pois que a avaliação da escrita deverá ter ob-
jectivos claros e precisos, compreendidos por todos os participantes, basear-se
em várias produções do aluno e, sobretudo, contribuir para motivar e melhorar
as práticas de escrita.
Procedimentos
a) de formação na EMP
- recortar cada uma das imagens de modo a poderem ser facilmente recons-
truídas;
- título;
- identificação do aluno;
- identificação do material;
- descrição da imagem.
ter em atenção que os recortes que efectuar nas imagens devem permitir uma
construção fácil das mesmas pelo que não deve recortá-las em partes pequenas.
Procedimentos:
a) de formação na EMP
Ingredientes e quantidades
- a água ferve ou a água deve ferver; deve deixar-se a água ferver, ou coloca a
água a ferver, ou ainda coloque a água a ferver.
- Após a realização desta tarefa, as receitas devem ser analisadas por outro
estudante que verifica por exemplo se a estrutura decidida foi respeitada, se os
tempos dos verbos são, também, os adequados, se existem erros ortográficos
ou sintácticos.
- O professor sugere aos estudantes que, tal como num livro de receitas, estas
devem ser agrupadas. Exemplo: bolos, doces, carnes, peixes, molhos, (…)
1 A edição de uma pequena brochura pode ser dispendiosa mas, também, pode ser
posteriormente vendida pelos estudantes e professores e servir assim como fonte de receita para
este e outros trabalhos que se venham a realizar.
86 • Projecto de Formação de Formadores de Professores para o Ensino Primário em Angola
O professor pode organizar com os seus alunos a confecção de uma das re-
ceitas recolhidas. Esta actividade pode ser muito enriquecedora devido à sua
dimensão interdisciplinar, pois, ao trabalhar a Língua Portuguesa, o professor
pode introduzir conteúdos de outras áreas. Alguns exemplos: medidas de ca-
pacidade e fracções (Matemática), alimentos, alimentação saudável (Ciências),
desenho, recorte e colagem (Expressões), …
Objectivos:
Procedimentos
a) de formação na EMP
- Em grupo, vão descobrir quais as secções que compõem o jornal. Por exem-
plo: secção de desporto, de cultura, de sociedade, de política, de lazer, …
- Após esta fase, dividem-se tarefas e cada grupo fica responsável por uma
secção. Como obter os conteúdos a editar será tarefa da responsabilidade dos
grupos de trabalho.
- Para a realização deste trabalho estabelece-se uma data, finda a qual o ma-
terial a inserir no jornal tem de estar pronto (já revisto por outros colegas e pelo
professor).
- O jornal deve ser feito em computador e reproduzido em folhas A4, não es-
quecendo a paginação. As folhas podem dobrar-se ao meio, obtendo-se vários
cadernos que se agrupam segundo as secções e a paginação. O jornal deverá
conter secções tais como: Desporto; Economia; Política; Cultura e Lazer num mo-
delo permanente, facilitando a recolha e actualização constante da informação
b) de sala de aula no EP
A actividade proposta pode ser aplicada numa sala de aula do Ensino Primá-
rio. Contudo, devido à idade dos alunos e aos meios disponíveis nas escolas do
Ensino Primário, sugere-se que seja elaborado um jornal de parede.
88 • Projecto de Formação de Formadores de Professores para o Ensino Primário em Angola
ACTIVIDADE nº 4 – Narrativa
Material: matriz para narrativa (esta matriz pode ser adaptada e completa-
da pelo professor)
- um príncipe
- uma princesa
- um viajante
- uma rapariga
- um marinheiro
Volume II | Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa • 89
- um comerciante
- um rapazinho
- uma menina
- …
Imagine o que ela deseja, o que lhe faz falta para ser feliz. Por exemplo:
- um casamento de amor
- um animal mágico
- a sabedoria
- um tesouro
- um remédio
- …
- uma fada
- um mágico
- um velho sábio
90 • Projecto de Formação de Formadores de Professores para o Ensino Primário em Angola
- um animal
- um sonho
- um viajante
- …
- uma fada
- um animal
- um outro aventureiro
- um soldado
- um príncipe
- uma rapariga
Volume II | Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa • 91
- uma velha
- …
- má sorte ou encantamentos
- animais hostis
- enigmas, adivinhas
- ladrões, piratas
- doenças, sofrimentos
- …
- uma ilha
92 • Projecto de Formação de Formadores de Professores para o Ensino Primário em Angola
- um castelo, um palácio
- um país desconhecido
- uma floresta
- um templo
- uma cidade
- …
- um monstro
- um diabo
- um feiticeiro, um mágico
- um extraterrestre
- um sábio louco
- um gigante, um anão
- …
- ferido
- considerado morto
- feito prisioneiro
- metamorfoseado
- vítima de um feitiço
- condenado à morte
- …
10
- curando-o
- libertando-o
- dando-lhe um arma
- dando-lhe um conselho
- libertando-o de um feitiço
- …
94 • Projecto de Formação de Formadores de Professores para o Ensino Primário em Angola
11
- elementos adversos
- animais
- monstros
- obstáculos naturais
- seres fantásticos
- armadilhas, emboscadas
- tentações
- …
13
(traduzido e adaptado)
Procedimentos
a) de formação na EMP
b) de sala de aula EP
No tem-
Num
Vou es- po
Há mui- No tem- dia de Numa
colher
o início tos po No ca- noite em que
uma
da mi- cimbo… os ani-
anos das fa- grande de Na-
nha his- mais
atrás… das… chuva- tal…
tória fala-
da…
vam…
Quem
será
herói da Pala- ima-
minha vras gens
histó-
ria?
O local
onde
se vai
passar
a minha
histó-
ria…
A minha
perso-
nagem
boa…
Tenho
de es-
colher a
perso-
nagem
má…
Final- E nunca
E assim Mas a mente mais
O final Todos Viveram nin-
história esta
da mi- acabou ficaram felizes
não história guém
nha his- esta muito para
acabou che- ouviu
tória história felizes. sempre
bem.. gou ao falar
fim… deles
Volume II | Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa • 97
Procedimentos
a) de formação na EMP
- O professor pede aos estudantes que levem para a sala de aula diferentes
peças de artesanato angolano. Organiza os estudantes em grupos. Os grupos
devem ser tantos, consoante o número de peças que o professor levar.
- Em seguida, pede a cada estudante que observe a peça do seu grupo e pen-
se numa palavra que a peça lhe sugere e a escreva.
re a palavra que a peça lhe sugere. As sete ou oito palavras encontradas (o núme-
ro depende do número de elementos do grupo) são registadas pelo responsável
do grupo. De seguida, perante estas palavras vão tentar definir um tema que
emerge das diferentes palavras sugeridas e registadas. Exemplo:
- Peça - pensador;
- nº de elementos do grupo – 7;
VARIANTES
-…
b) de sala de aula do EP
Esta actividade pode ser realizada com qualquer classe do Ensino Primário.
Contudo, sugere-se que os materiais a utilizar sejam de fácil percepção pelas
Volume II | Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa • 99
Procedimentos
a) de formação na EMP
Texto
Angola é um rico e belo país; ficou devastado pela guerra, que a assolou du-
rante vários anos. Durante a guerra, colocaram-se muitas minas e outros enge-
nhos explosivos no solo angolano. Muitas explodiram e deixaram de ser perigo-
sas, mas muitas ficaram por explodir.
- Com base neste texto, o professor faz as seguintes perguntas aos alunos:
3) Achas que no nosso país este problema está solucionado? Justifica a tua
resposta.
4) Como sabes, hoje em Angola, utilizam-se várias formas para localizar e des-
truir (tecnologias) as minas espalhadas pelos campos do nosso país.
Achas que estas tecnologias têm sido suficientes para combater este flagelo?
Porquê?
b) de sala de aula do EP
Procedimentos:
a) de formação na EMP
O Operário em construção
E assim o operário ia
Adiante um apartamento
Um operário em construção.
Ao constatar assombrado
Exercer a profissão.
Vinicius de Morais
- Podem ir para a sala dos computadores e utilizar o programa Paint para rea-
lizar estes poemas visuais.
- Podem ir para a sala dos computadores e utilizar o programa Paint para rea-
lizar estes poemas visuais.
b) de sala de aula do EP
Esta actividade pode ser realizada nas classes do Ensino Primário desde que
se escolha um poema adequado ao seu nível etário e de desenvolvimento.
Procedimentos:
a) de formação na EMP
No dia seguinte, o professor pediu ao Paulo para explicar o que tinha assisti-
do e escutado no mesmo programa.
E acrescentou:
E continuou:
- O professor pede aos alunos que, durante uma semana, vejam o programa
diário “Ecos e factos” e registem os principais acontecimentos.
b) de sala de aula do EP
Esta actividade pode ser realizada com as classes do Ensino Primário. Natural-
mente, pressupõe ensinar a elaborar notícias.
Procedimentos
106 • Projecto de Formação de Formadores de Professores para o Ensino Primário em Angola
a) de formação na EMP
- a partir deste mapa, os alunos vão construir um texto expositivo sobre este
tema.
a) de sala de aula do EP
Esta actividade pode ser realizada com as classes do Ensino Primário. Natu-
ralmente, o tema em análise deverá enquadrar-se no nível de desenvolvimento
dos alunos e estar integrado nos temas abordados nos programas, por exemplo:
animais, ciclo da água, etc.
Volume II | Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa • 107
Variantes
Objectivos
Procedimentos:
a) de formação na EMP
- Cada grupo tem direito a substituir 2 cartas, quer seja para ampliar a sua
história, quer seja para garantir a coerência.
BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO, Flora (2003). Ensinar e aprender a escrever – Através e para além do erro.
Porto: Porto Editora.
BETTELHEIM, Bruno (1991). Psicanálise dos Contos de Fadas. Lisboa: Livraria Ber-
trand.
CARDOSO, Adriana, COSTA, Manuel Luís e PEREIRA, Susana (2002). Para uma
tipologia de erros. Ler Educação nº2, 2ª série. Lisboa: Escola Superior de Edu-
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COELHO, Nelly (1984). Literatura Infantil: História, Teoria, Análise. São Paulo: Qui-
ron.
FARIA, Isabel Hub et al. (1996). Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lis-
boa: Caminho.
GOMES, Álvaro (2006). Ortografia para todos – para ensinar a escrever sem erros.
Porto: Porto Editora.
SIM SIM, Inês (2007). O ensino da leitura – a compreensão de textos. Lisboa: ME/
DGIDC.
STACHAK, Faly (2004). Écrire, un plaisir à la portée de tous. 350 techniques d’écri-
ture créative. Paris: Editions Eyrolles.