Textos Literários em Sala de Aula
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Textos Literários em Sala de Aula
HORA DA LEITURA:
Práticas Teatrais para a Exploração de Textos Literários nas Aulas
de Língua Portuguesa
São Paulo
2008
HORA DA LEITURA:
Práticas Teatrais para a Exploração de Textos Literários nas Aulas
de Língua Portuguesa
Data: ____/____/____
Banca Examinadora:
Agradecimentos
Às Profas. Dras. Alice Vieira, Ingrid Koudela e Jacqueline Barbosa pelos questionamentos
e orientações.
A Regina Cândida Elero Gualtieri e Roseli Cassar Ventrella pelo estímulo para que eu
enfrentasse esta empreitada.
suas aulas. Há, no entanto, um grupo de professores, em especial, que vem articulando
práticas de leitura e práticas teatrais. São aqueles que atuam na Hora da Leitura, um projeto
implantado em 2005 pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, que introduz
uma aula semanal dedicada à leitura de textos literários na matriz curricular das escolas
classes. There is a group of teachers, in particular, who is gathering reading practices and
theatrical classes. These teachers carry out the Reading Time, a project introduced in 2005,
by Secretariat of Education of São Paulo State, who established a weekly class seeking on
the reading of literary texts. This class was included on the basic curriculum of the second
This work examined the purposes and the development of these practices.
Furthermore, it also brought about an experiment which encompassed the reading of texts
and theatrical improvisation games led by a group of teachers from the Reading Time
project. This experiment resulted in a relevant experience to the group regarding the
understanding process of the theatrical phenomenon and the audience’s attitude concerning
the scene.
theoretical bases which support the theatrical improvisation games were resorted, as well
as the linguistic theories which support the Portuguese Language, especially regarding the
reader’s training.
Introdução ............................................................................................................................ 2
I – Hora da Leitura para quê? ......................................................................................... 5
Concepções de linguagem e propostas para o ensino de Língua Portuguesa..................... 6
A instauração de uma aula dedicada à leitura................................................................... 16
II – Quando no plano de aula está escrito “dramatização”, leia-se... ................. 32
Motivações que justificam o desenvolvimento de práticas teatrais.................................. 37
Relações entre o que se quer, o que se desenvolve e o que se pode alcançar .................. 50
III – Hora da Leitura: Uma boa hora para os jogos de improvisação teatral .... 57
Jogos de improvisação teatral........................................................................................... 60
O caráter lúdico do jogo ............................................................................................... 61
O caráter democrático do jogo ..................................................................................... 62
O caráter crítico e emancipatório do jogo .................................................................... 63
O jogo estético-ficcional............................................................................................... 64
O jogo criativo e transformador ................................................................................... 66
A investigação que leva à compreensão de aspectos do ato de leitura......................... 67
A investigação que leva à leitura.................................................................................. 68
A investigação a partir da leitura.................................................................................. 69
Jogos improvisacionais – uma abordagem histórica ........................................................ 71
O conceito de drama infantil ou jogo dramático infantil.............................................. 71
A concepção francesa de jogo dramático ..................................................................... 74
O sistema de jogos teatrais ........................................................................................... 80
IV – Experimento com professores da Hora da Leitura – Práticas teatrais no
desenvolvimento de atividades com textos literários ............................................. 87
V – Conclusão ................................................................................................................ 149
VI – Bibliografia ............................................................................................................ 159
Introdução
Em geral quando se fala em ensino, uma questão que é
questões.
Muitos professores que atuam no Ciclo II2 do Ensino Fundamental têm utilizado
práticas teatrais nas aulas de Língua Portuguesa. Se estes profissionais fossem questionados
a respeito do quando atividades como estas são incorporadas às suas aulas, é possível que
com leitura; uma vez por bimestre; uma vez por semestre, uma vez ao ano etc.). Se
perguntássemos sobre o que é trabalhado nas aulas que envolvem práticas teatrais, é bem
provável que a resposta revelasse a articulação destas atividades com a leitura de textos
poderíamos obter respostas que incluiriam leituras expressivas feitas pelo professor para os
roteiros adaptados de obras literárias com apresentação para toda a comunidade escolar.
Portuguesa não só ao professor, mas também às bases teóricas que sustentam o ensino de
1
GERALDI, 1984, p. 42.
2
Ciclo que corresponde à etapa que vai da 5ª à 8ª série.
2
Língua Portuguesa, em especial àquelas relacionadas à leitura, e ainda às que estão no bojo
dos estudos voltados para a apreensão do fenômeno teatral, quais seriam as respostas?
leitura do texto literário com outras linguagens artísticas, sobretudo com a linguagem
teatral.
trinta anos, vêm delineando mudanças na forma de se pensar o ensino da língua materna e
procura refletir sobre como estas mudanças interferiram nas práticas de leitura em sala de
aula. Além disso, situa a Hora da Leitura neste contexto e apresenta um histórico de sua
implantação.
Zona Leste da cidade de São Paulo e da região de São João da Boa Vista, no interior do
Estado.
3
Uma das ações do Programa de Enriquecimento Curricular da Secretaria de Estado da Educação, implantado
no ano de 2005.
3
O percurso teórico para compreender os jogos de improvisação teatral como meio
enriquecedora nas aulas de leitura está no Capítulo III que, além disso, faz uma breve
4
I – Hora da Leitura para quê?
Roxane Rojo4
Este capítulo pretende responder à pergunta “o que é ler na escola?” na ótica dos
as propostas curriculares surgidas nas últimas décadas e também sob o ponto de vista do
A temática desenvolvida neste capítulo, bem como o percurso traçado para a sua
Ao percorrer este trajeto, pretendemos encontrar justificativas ou, pelo menos, pistas
para uma análise mais profícua sobre a inserção de práticas teatrais nas aulas de leitura de
na Hora da Leitura.
4
ROJO, 2006.
5
Por isso, neste capítulo, traçaremos um panorama acerca de estudos lingüísticos
que, nos últimos trinta anos, vêm delineando mudanças na forma de se pensar o ensino da
língua materna e traremos a reflexão sobre como estas mudanças interferiram nas práticas
de leitura em sala de aula. Além disso, situaremos a Hora da Leitura neste contexto e
Nas três últimas décadas, houve uma paulatina e progressiva alteração das práticas
pedagógicas nas aulas de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental, antes muito centradas
infanto-juvenil.
entendem a língua como um código capaz de transmitir ao receptor uma certa mensagem.
português” com uma epígrafe, de Mikhail Bakhtin, que encerra uma reflexão a respeito do
Na realidade, toda a palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato
de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui
6
justamente o produto de interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão
a um em relação ao outro.5
A epígrafe escolhida por Geraldi aponta para a relevância atribuída aos estudos
compreende como uma forma de inter-ação que vai além da transmissão de informações de
um emissor para um receptor, mas que possibilita a interação entre um sujeito que age
sobre o outro, “constituindo compromissos e vínculos que não pré-existiam antes da fala”.6
uma vez que situa a linguagem como lugar de constituição de relações sociais, onde os
falantes se tornam sujeitos. Nesse sentido, a língua só tem existência no jogo que se joga na
“condições que devem ser preenchidas por um falante para falar da forma que fala em
deles voltou-se para pesquisas sobre as variedades lingüísticas, que fizeram surgir duas
5
BAKHTIN, apud GERALDI, 1984, p. 41.
6
GERALDI, 1984, p. 43.
7
Ibid., p. 43.
8
Ibid., p. 44.
7
correntes sobre o ensino da Língua Portuguesa: uma, daqueles que consideravam que o
Entretanto, uma outra vertente, em que Geraldi se situa, flexibilizou a rigidez das
variedade local.
[...] me parece que cabe ao professor de língua portuguesa ter presente que as
atividades de ensino deveriam oportunizar aos seus alunos o domínio de uma outra forma de
falar o dialeto padrão, sem que isto signifique a depreciação da forma de falar predominante
em sua família, em seu grupo social, etc. Isto porque é preciso romper com o bloqueio de
da década de 80, compondo uma vasta bibliografia que, segundo Geraldi, pode ser reunida
ângulos, de dados a propósito das práticas pedagógicas na área e de seus produtos – a leitura
redações, para citar apenas alguns dos temas desta variada bibliografia.
De outro lado, lastreando-se ou não nos resultados apresentados por tais pesquisas,
cujo objetivo último é ultrapassar as constatações – a escola como ela é – para interferir na
9
Ibid., p. 46.
8
realidade e construir alternativas – a escola como poderia ser. Novamente, os mesmos temas
ensino/aprendizagem.10
Curricular de Língua Portuguesa para o 1º grau do Estado de São Paulo, que veio em
reação ao currículo cristalizado nos Guias Curriculares Nacionais e na prática escolar – que
para atender a um outro perfil de aluno que passava a ocupar os bancos escolares, em época
Secretaria de Estado da Educação de São Paulo (SEE), que mobilizou todos os profissionais
que atuavam na rede pública estadual, segundo Passarelli, muitos professores buscaram
10
GERALDI, apud PASSARELLI, 2002.
11
ROJO, 2006.
12
PASSARELLI, 2002, p. 38.
9
cenário propício para novas formulações acadêmicas, para o surgimento de novas propostas
Não há dúvida de que esses singulares acontecimentos de toda uma década são
nossa realidade de após golpe de 64, tais como: o movimento pela anistia, que restituiu a
Diretas Já, marco culminante da luta pela redemocratização, pondo um ponto final à longa
irradiou para a década seguinte. Ao longo dos anos 90, entretanto, outros fatores,
Portuguesa – que já haviam deslocado seu objeto de ensino dos conteúdos conceituais para
gêneros textuais, na perspectiva das esferas discursivas em que eles circulam. Tal
orientação é sustentada por uma base teórica que, no bojo de uma concepção que relaciona
natureza das interações dos sujeitos com relação aos diferentes campos de atuação humana
13
Ibid.
10
No plano da linguagem, a aprendizagem dos diversos gêneros discursivos que
socialmente circulam entre nós não somente amplia a competência lingüística e discursiva
dos alunos, como também lhes aponta inúmeras formas de participação social que eles,
mas, sobretudo, das práticas prosaicas que diferentes usos da linguagem fazem do discurso,
amplo campo da comunicação mediada, seja aquela processada por meios de comunicação
de massas ou das modernas mídias digitais, sobre o qual, evidentemente, Bakhtin nada disse
gêneros, uma vez que esta se apresenta como essencial para a continuidade dos estudos,
para a atuação e atualização profissional, para a fruição do que a cultura produz e para a
14
FAUSTINONI, 2007.
15
MACHADO, 2005, p. 152.
16
Ibid.
11
apreensão crítica de toda a construção e circulação de sentidos que constituem o conteúdo
Nos últimos dez anos, todas estas reflexões entraram pelos portões da escola por
documentos.
teóricos que sustentam a mudança do currículo para o ensino de Língua Portuguesa nas
últimas décadas, obrigamo-nos a abrir mão de tal abordagem, uma vez que, ao segui-la,
No entanto, faz-se necessário, pelo menos, refletir, mesmo que brevemente, sobre
algumas informações que as avaliações externas nos fornecem com relação aos níveis de
compreensão leitora dos alunos do Ensino Fundamental, que é uma outra forma de analisar
o que está na base do ensino de Língua Portuguesa nas escolas públicas de nosso Estado.
17
Informações retiradas de documento de circulação interna da SEE, cedido pela equipe de Língua
Portuguesa da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas.
12
[...] somente poucas e as mais básicas das capacidades leitoras têm sido ensinadas,
avaliadas e cobradas pela escola. Todas as outras são ignoradas. É o que mostram os
SAEB, PISA, tidos como altamente insuficientes para a leitura cidadã numa sociedade
alunos desenvolvam apenas uma pequena parcela das capacidades envolvidas nas práticas
letradas exigidas pela sociedade abrangente; são aquelas que, por meio de um efeito
bumerangue, retornam para a própria escola no atendimento das capacidades que ela
entende como apropriadas para a continuidade dos estudos, ou seja, “de repetir, de revozear
relativas a este gênero20 e nos deparamos com uma prática em sala de aula que tem
18 ROJO, 2006.
19 ROJO, 2004.
20 SÃO PAULO, 2005. De acordo com o Sumário Executivo do Sistema de Avaliação do Rendimento
Escolar de São Paulo – Saresp 2005, na 8ª série do Ensino Fundamental, somente os alunos que alcançaram o
nível 3 na escala de proficiência em leitura conseguiram reconhecer elementos organizacionais e estruturais
no poema. Apenas conseguiram localizar informações explícitas e reconhecer os efeitos de sentido
decorrentes do uso de recursos semânticos e estilísticos no poema aqueles que alcançaram o nível 4. Inferir
informação implícita e reconhecer o tema no poema só foi possível para os alunos que alcançaram o nível 5, o
mais alto da escala.
13
caráter humanizante a ser experienciados. Mas por que é tão importante esta experiência
para o aluno?
humor”.22
ser humano poder fruir a partir de uma elaboração artística, quando nos revela que “a
maneira pela qual é comunicado o mundo imaginário pressupõe certa atitude em face deste
perspectiva do leitor, defendemos a idéia de que, à maneira pela qual nos apropriamos do
corresponde uma certa atitude compreensiva em face das experiências a que somos
expostos, ou seja, quanto maior o acesso aos variados fenômenos literários e seus modos
artísticas e às formas de recepção que cada uma delas suscita, maior será o nosso repertório
pensar o mundo e interagir com ele nas relações humanas que se estabelecem.
21
CANDIDO, 1995, p. 17.
22
Ibid.
23
ROSENFELD, 1994, p. 17.
14
Na perspectiva de uma abordagem sócio-interacionista24, podemos concluir que as
gêneros literários) confrontam-se nas práticas sociais e na história e fazem com que a
humano cria o seu ambiente e ao mesmo tempo reage a ele, produzindo novas formas de
consciência.25
gênero literário e sua relevância na formação do aluno, voltemos a refletir sobre as práticas
do fenômeno literário, na riqueza de experiências que ele pode proporcionar, com práticas
texto?
nas avaliações externas. Por esse motivo, a partir da análise destes resultados, e orientada
pela concepção de que “as práticas sociais de uso da língua devem receber destaque na
orientação do trabalho escolar, em razão do valor social e histórico que têm em nossa
e ações de formação para professores (de Ensino Fundamental e Médio) com enfoque nas
24
Para saber mais sobre a teoria sociohistórica, elaborada por Vygotsky, cf. REGO, 1995.
25
REGO, 1995, p. 34.
26
BRASIL, 2006, p. 34.
15
nas escolas27 e a inclusão de uma aula semanal na matriz curricular do Ensino Fundamental
para práticas de leitura. Esta última desencadeou um projeto denominado Hora da Leitura.
surgiu no primeiro semestre de 2004, quando os relatórios estatísticos acerca dos resultados
Educação de São Paulo (SEE) desencadeou uma série de ações (fomento às bibliotecas
Leitura voltado para todos os alunos do Ciclo II do Ensino Fundamental das escolas
27
Pra saber mais, cf. Resolução SE 16/2005. Disponível em:
http://siau.edunet.sp.gov.br/ItemLise/arquivos/16_05.htm. Acesso em: 2 fev. 2008.
28
Informações retiradas de documento de circulação interna da SEE, cedido pela equipe de Língua
Portuguesa da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas.
16
A regulamentação do projeto
leitura.
Artigo 1º. As escolas que mantêm ensino fundamental, com dois turnos diurnos,
Com esta Resolução foi instituído, portanto, um projeto de leitura cuja finalidade
além das disciplinas constantes da matriz curricular30, incluindo neste grupo a Língua
29
Disponível em: <http://siau.edunet.sp.gov.br/ItemLise/arquivos/16_05.htm> Acesso em: 2 fev. 2008.
30
A matriz curricular organiza as áreas do conhecimento bem como as diferentes disciplinas do currículo de
um determinado nível de ensino e atribui a elas o número de aulas diárias, semanais e anuais. No ano de 2005,
o Ciclo II do Ensino Fundamental da rede estadual funcionava com uma matriz de 25 aulas semanais em cada
período.
17
Portuguesa, tradicionalmente responsável pelo desenvolvimento das habilidades e
Artigo 3º. O projeto de leitura visa enfatizar a leitura de textos representativos dos
também está indicado no texto da Resolução, que, além disso, determina a freqüência das
uma aula semanal por classe, dentro do período regular de aulas da classe.33
complementar de enriquecimento curricular, dispõe normas para que ele seja acrescido às
vinte e cinco aulas semanais que compõem a matriz semanal do Ciclo II do Ensino
Fundamental, ou seja, que o projeto de leitura se constitua na vigésima sexta aula da matriz
horária.
31
Disponível em: <http://siau.edunet.sp.gov.br/ItemLise/arquivos/16_05.htm> Acesso em: 2 fev. 2008.
32
O caráter complementar do projeto refere-se à inclusão de mais aula semanal na matriz horária do Ensino
Fundamental em vigor no ano de 2005. A julgar pela sua natureza, ele é essencial, porque amplia as
possibilidades do aluno em praticar a leitura para além das atividades já desenvolvidas nas demais disciplinas,
sobretudo nas aulas de Língua Portuguesa.
33
Ibid.
18
competências leitora, escritora, de fala e escuta – as atividades de compreensão leitora, de
acordo com a política educacional dos últimos anos, ratificada pela proposta curricular
vigente para a rede pública do Estado de São Paulo, devem constar do planejamento das
diferentes disciplinas.
científica, por exemplo, está na aula de Ciências, em que o texto está sendo utilizado para o
estudo de determinado tema científico sugerido pelo professor. Não há situação mais
alguns aspectos da recepção, produção e circulação relativos ao gênero, do que aquela que
constituição das demais competências, tanto as gerais como aquelas associadas a disciplinas
aprendizagem e avaliação cabe a todos os professores, que devem transformar seu trabalho
Portuguesa e das outras linguagens e códigos que fazem parte da cultura, bem como das
34
SÃO PAULO, 2008, p. 18.
19
matéria de um documento publicado pela Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas
Em que pese a possibilidade que a Resolução oferece para o trabalho com diferentes
gêneros textuais, o documento inicial orienta para atividades com textos que circulam em
O Projeto “Hora da Leitura” é uma proposta de trabalho que visa enfatizar a leitura
35
Documento disponível em: http://cenp.edunet.sp.gov.br/Hora_leitura. Acesso em: 3 set. 2007.
20
No projeto inicial, a delimitação dos gêneros a ser trabalhados tinha o propósito de
orientar e, ao mesmo tempo, viabilizar a implementação do projeto, uma vez que a Hora da
Leitura não seria capaz de abordar eficientemente os diferentes gêneros textuais com
Além disso, um projeto cujo propósito era ampliar as atividades de leitura para além
ensino da língua materna, ou seja, o projeto não poderia dar margens à interpretação de que
professor da Hora da Leitura, nem poderia passar a idéia de que a Língua Portuguesa, bem
para as práticas de leitura, a CENP, elaboradora do projeto inicial, vai buscar, nos
resultados do rendimento escolar apontados pelo Saresp 200337, a indicação dos gêneros em
que uma porcentagem significativa de alunos obteve desempenho insatisfatório nos itens da
prova que testavam habilidades mais relacionadas aos gêneros que circulam nas esferas
projeto:
36
Há uma diversidade de gêneros textuais que circulam em cada uma das esferas de atuação humana. Só para
se ter uma idéia da quantidade de gêneros que podem circular na escola como objeto de ensino, vamos
destacar algumas esferas que deveriam ser trabalhadas nas aulas de Língua Portuguesa: artístico-literária,
jornalística, científica/escolar, política, publicitária, do trabalho, entre outras.
37
Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo.
21
• Propiciar um intenso e sistematizado contato dos alunos com diferentes
para conhecer;
da literatura universal;
gosto pela leitura”39. Alguns trechos da justificativa do projeto reforçam este aspecto e
diferentes textos que compõem o repertório literário, as obras de autores mais consagrados e
as dos autores contemporâneos, de tal forma que se perceba a riqueza dos diversos estilos e
linguagens.
[...]
intermediação da passagem do leitor de textos de seu cotidiano para o leitor de textos mais
38
Documento disponível em: http://cenp.edunet.sp.gov.br/Hora_leitura. Acesso em: 3 set. 2007.
39
Ibid.
40
Ibid.
22
Entretanto, o desenvolvimento do gosto da leitura, alcançado por um trabalho de
sedução, cuja elaboração envolve uma maneira gostosa e lúdica de estimular o desejo de ler
Leitura não pode ser uma seqüência de atividades de leitura divorciada de um propósito
aprendizagem e avaliação.
ler, a Hora da Leitura deve estar conciliada com os objetivos da disciplina de Língua
Artigo 4º. Os avanços alcançados pelo aluno nas atividades do projeto de leitura
coletivas;
41
Resolução SE 16/2005. Disponível em: http://siau.edunet.sp.gov.br/ItemLise/arquivos/16_05.htm. Acesso
em: 2 fev. 2008.
23
• a participação dos alunos nas atividades propostas como produtos, que
Esses aspectos serão importantes para a avaliação global do aluno nas reuniões do
literários dos mais variados matizes não somente na escola, mas em outros círculos sociais
ao longo da vida, a Hora da Leitura busca fortalecer o vínculo dos alunos com o texto
literário por meio de oficinas de aprendizagem em que diferentes recursos pedagógicos são
utilizados: atividades permanentes, como leituras de pequenos textos trazidos pelos alunos
ou pelo professor (haicais, fábulas, crônicas ou contos) para iniciar as aulas com o
ser desenvolvidas em quatro ou cinco aulas, que incluam, além de estratégias de leitura,
articulações do texto literário com outras linguagens artísticas (música, dança, teatro e artes
visuais) ou com a pesquisa em outras áreas (por exemplo, a relação entre os contos de terror
42
Disponível em: http://cenp.edunet.sp.gov.br/Hora_leitura. Acesso em: 3 set. 2007.
24
Artigo 5º. As aulas serão atribuídas pelo diretor da escola a docentes em exercício
na unidade escolar, ou admitidos para esse fim, portadores de licenciatura plena, habilitados
a descrição do perfil pede, antes de tudo, um profissional que goste de ler e que seja capaz
de irradiar no aluno o gosto pela leitura; só depois discorre sobre a formação inicial
A Hora da Leitura exige um professor que goste de ler qualquer gênero, que tenha
autores querem revelar para seus leitores. É importante que o professor tenha sensibilidade
para a literatura clássica, contemporânea e a popular. Para esse trabalho é importante que ele
alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental. No ano de 2007, terceiro ano da
Hora da Leitura. No ano de 2008, porém, o projeto teve continuidade apenas nas Escolas de
43
Disponível em: http://siau.edunet.sp.gov.br/ItemLise/arquivos/16_05.htm. Acesso em: 2 fev. 2008.
44
Disponível em: http://cenp.edunet.sp.gov.br/Hora_leitura. Acesso em: 3 set. 2007.
25
política educacional da atual gestão que, para a implementação de uma nova proposta
do leitor literário.45
Ações de formação
período de 2005 até meados de 2007; por isso, o que relataremos sobre a natureza das ações
noventa Diretorias Regionais de Ensino (DEs) de todo o Estado de São Paulo (sessenta e
duas localizadas no interior do Estado e vinte e oito na Grande São Paulo). Eram
45
Para saber mais sobre as prioridades da política educacional da Secretaria de Estado da Educação (SEE)
para o ano de 2008, acesse <<http://educacao.sp.gov.br>>. Acesso em: 2 abr. 2008.
26
convocados46 para assistir às videoconferências do Projeto Hora da Leitura um assistente
Havia, ainda, a publicação periódica de artigos sobre leitura e literatura, de textos relativos
subsidiar as ações descentralizadas nas DEs. Por isso, eram dirigidos aos assistentes
implementação do projeto nas DEs, além de aprofundar temas relacionados à teoria literária
ou à formação do leitor.
especialistas convidados em contato direto com os professores; por esse motivo, eram
46
Convocação é um recurso legal que permite a saída do funcionário público de sua dedicação principal para
exercer uma outra atividade. Para a escola, a convocação permite que ela atribua as aulas do professor ausente
para o professor eventual da casa. Nas ações de formação dos profissionais da educação, a convocação deve
ser publicada no Diário Oficial do Estado com antecedência de, pelo menos, sete dias.
47
http://cenp.edunet.sp.gov.br/Hora_leitura.
27
Tais videoconferências traziam como objetivo demonstrar maneiras possíveis de
28
VIDEOCONFERÊNCIA – dias 8 e 9 de junho de 2005
“Hora da Leitura”
HORÁRIO: 10h às 12h
BLOCO 1 Abertura. Dicas:
Material de Apoio:
10h - 10h05 CENP: Regina Resek ou Rozeli Frasca. 1. PowerPoint telas de 1 a 4.
República 3.
(05’)
BLOCO 2 1. Apresentação da pauta do dia. Dicas:
2. Por que começamos a criar histórias? Materiais de Apoio:
10h05 – 10h20 3. Diferenças entre contos, lendas, fábulas e 2. PowerPoint telas 5. a 8.
contos de fadas. 3. PowerPoint tela 9. Antes da leitura,
(15’) 4. Leitura da história – O jovem tigre. colocar as músicas.
5. Leitura da história – O touro e o homem. 4. PowerPoint tela 10.
6. Proposta de atividade local. 5. PowerPoint telas 11 e 12.
(15’) República 3.
BLOCO 4 Interação. Dica: passar de 3 em 3 DEs. Depois de 3,
Ana Luísa comenta.
10h35 - 10h50 Ana Luísa Lacombe.
República 3.
(15’)
BLOCO 5 1. Reflexões sobre sabedoria e inteligência Dicas:
e sabedoria popular. Materiais de Apoio:
10h50 – 11h 2. Proposta de atividade de contação de 1. PowerPoint telas de 13 a 16.
histórias de experiências pessoais que 2. PowerPoint tela 17.
(10’) envolveram aprendizagem e transformação.
(15’) República 3.
BLOCO 7 Interação. Dica:
Passar de 3 em 3 DEs. Depois de 3, Ana
11h15 - 11h30 Ana Luísa Lacombe. Luísa comenta.
(15’) República 3.
BLOCO 8 1. Recursos para contação de histórias. Dicas:
2. Leitura da história Nasrïn. Materiais de Apoio:
11h30 - 11h50 1. PowerPoint telas de 18 a 32.
2. PowerPoint tela 33. Antes da leitura,
(20’) Ana Luísa Lacombe. colocar as músicas.
República 3 e Recepção.
29
Uma vez que, pelas características da videoconferência enquanto meio de
comunicação a distância, não era possível fazer abordagens mais aprofundadas sobre o
professores a conhecer mais sobre o assunto, sugerindo leituras de outras obras do mesmo
gênero ou autor como também livros ou artigos de cunho teórico sobre leitura e literatura.
A indicação bibliográfica feita pelos especialistas, bem como artigos escritos por eles e
outros escritos pela própria equipe da CENP, eram disponibilizados no site desta
assistentes técnico-pedagógicos das Diretorias Regionais de Ensino, foi o que nos revelou a
promovia e o que nos motivou para a elaboração do objeto deste pesquisa: um experimento
objetivo era o de criar condições para que o grupo experienciasse diferentes possibilidades
de apresentar o texto literário ao aluno, a partir de uma atividade lúdica (com objetivos bem
Como já foi dito, o propósito dos encontros presenciais coordenados pela CENP era
orientações da CENP voltava-se para a elaboração do plano de ação das DEs para a
48
<<http://cenp.edunet.sp.gov.br/Hora_leitura>>. Acesso em: 3 fev. 2008.
30
implementação do projeto nas escolas sob sua jurisdição. Este plano deveria contemplar
projetos de leitura e escrita das escolas de sua região; 3. orientar as escolas para a
professores no sentido de cultivar o gosto pelo prazer estético dos textos literários, discutir
com bases teóricas a leitura como compreensão e propor situações diferenciadas de leitura
(roda de leitura, leitura expressiva, jogos improvisacionais com textos, entre outras).
Além das avaliações feitas pelos participantes acerca das videoconferências e dos
encontros presenciais coordenados pela CENP, não há um registro formal que avalie e dê
professor o material necessário para que pudéssemos compreender em que medida práticas
de leitura foram integradas a práticas teatrais e com que expectativas de aprendizagem estas
31
II – Quando no plano de aula está escrito “dramatização49”, leia-se...
A nossa pesquisa, como ressaltado anteriormente, foi motivada pelo fato de existir
leitura que desenvolve com seus alunos. Referimo-nos aos professores que estão imbuídos
professores que, no processo de atribuição de aulas (que acontece no início de cada ano
curricular da rede de escolas públicas do Estado de São Paulo, cuja proposta envolve a
e sistematizado contato dos alunos com o gênero literário, especialmente no que se refere
ao ler para apreciar/fruir de forma lúdica e prazerosa”, tem incluído práticas teatrais nas
suas estratégias.
práticas teatrais na Hora da Leitura – com que regularidade elas são incorporadas às aulas
de leitura, o que é trabalhado nas aulas que envolvem práticas teatrais, como e com que
49
Neste capítulo, utilizaremos o termo “dramatização” sempre que nos referirmos à definição que os próprios
professores atribuíram, nas respostas ao questionário, à prática teatral que desenvolvem com seus alunos.
32
Elaboração e aplicação dos questionários
pudéssemos obter informações sobre o professor: sua situação funcional (tipo de vínculo
que ele tem com o Estado, tempo de magistério, sua licenciatura ou habilitação, número de
Nacionais. No segundo bloco, todas as perguntas estão relacionadas à inserção das práticas
teatrais em suas aulas: natureza das atividades, número de alunos envolvidos, formas de
gêneros textuais trabalhados nas práticas teatrais, quando e com que expectativas de
aprendizagem elas são utilizadas, busca de subsídios para a elaboração destas atividades.
– Leste 3 oferecia múltiplas escolhas em grande parte das questões. O professor deveria,
algumas respostas. Então, para a aplicação dos questionários nas Diretorias Leste 4 e São
João da Boa Vista, reformulamos as questões para que as respostas fossem elaboradas pelo
próprio professor.
Diretoria de Ensino.
50
Termo utilizado pela Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas e pelas Diretorias Regionais de
Ensino para identificar encontros de formação pontuais de curta duração, em que se discutem
encaminhamentos para a implementação de projetos (organização, desenvolvimento, formas de avaliação etc.)
ou, ainda, oficinas relacionadas a algum componente curricular.
33
Aplicamos o questionário ao grupo da Leste 4 no dia do experimento de oito horas
que forneceu elementos para a análise que compõe o texto do Capítulo 4. Na ocasião,
informações de treze professores que costumam desenvolver práticas teatrais em suas aulas.
respondidos pelos professores da Hora da Leitura, dos quais apenas nove são titulares de
cargo (concursados), trinta deles têm mais de cinco anos no magistério e quarenta possuem
devido à natureza e organização curricular dos cursos de Letras. A maior oferta nos cursos
esperada se confirmou: dos treze professores que responderam ao questionário, três têm
51
No capítulo anterior, informamos sobre os critérios que permitem a atribuição da Hora da Leitura para
outras licenciaturas ou habilitações.
52
Mais recentemente, houve uma grande expansão de oferta para cursos de licenciaturas da Língua
Espanhola.
34
No entanto, entre os professores da Zona Leste da Capital de São Paulo, o cenário é
declararam outra habilitação ou licenciatura. Entre eles, nove atuam na área de Linguagens
provavelmente se desloca para diferentes espaços (atuação em mais de uma escola), o que
Além disso, o professor que ministra aulas de duas ou mais disciplinas cumpre uma rotina
avaliações, registros, participação em reuniões) bastante diferenciada para cada uma das
dedicações. Diante deste cenário, é bem provável que este profissional, em face a tantas
da Zona Leste da Capital, o que nos faz concluir que o grupo de professores da capital
enfrenta uma instabilidade de vínculo com a rede estadual muito maior do que aquela
35
enfrentada pelos profissionais do interior. Esta vulnerabilidade pode motivá-lo a procurar
Toda a investigação que repousa sobre a prática destes professores nas escolas
públicas não pode prescindir da análise sobre as relações que se estabelecem entre o
passam necessariamente pelo contexto sócio-histórico em que este cidadão está inserido. As
que precisa manter minimamente o seu padrão de vida e subsistência, seja ele qual for.
Isto posto, lembramos que a Hora da Leitura é mais um projeto que entrou para o
professor da Hora da Leitura54, há uma grande probabilidade de que haja entre eles aqueles
53
É muito significativo o fato de que outras habilitações ou licenciaturas que o professor de Língua
Portuguesa possui recaiam sobre disciplinas que conquistaram espaço na matriz curricular do Ensino
Fundamental (Arte, no Ciclo I), do Ensino Médio (Filosofia) e nas Escolas de Tempo Integral (Língua
Espanhola) nos últimos cinco anos.
54
Vide capítulo anterior.
36
aulas são professores não concursados, visto que este número de aulas não compõe um
cargo. Este fato contribui para a grande rotatividade de profissionais atuantes na Hora da
Leitura que, a cada ano, vai contar com novos profissionais. Tal situação dificulta a
Para completar o perfil dos professores, quisemos saber se eles já tinham lido os
promoveríamos a articulação entre duas linguagens. Por isso, àqueles professores que
Para o bloco seguinte, analisaremos a resposta de trinta professores, uma vez que
onze deles declararam não utilizar práticas teatrais nas suas aulas.
37
leitura dramatizada, fazendo teatro, atuação, apresentação teatral, transposição para a
transformação em peça teatral, dublagem, quadro vivo etc.), mas o que cada uma delas
significa? Qual é a natureza destas atividades? Como são desenvolvidas? Com que
algumas pistas para uma possível compreensão das motivações que justificam o
Hora da Leitura.
professores declararam desenvolvê-las uma vez por bimestre; outros, uma vez por semestre;
e outros, ainda, afirmaram desenvolvê-las uma vez por ano. Há um grupo, entretanto, que
declarou utilizar práticas teatrais em aulas de leitura “em algum momento, se o texto
entanto, percebemos que todos, sem exceção, citam experiências apenas com textos
Hora da Leitura. Alguns professores referem-se ao gosto dos alunos por esta prática e à
38
condição que ela propicia para o desenvolvimento de habilidades de leitura. Outros
atribuem o fato de optarem pela articulação das práticas teatrais com as atividades de leitura
dos alunos no que se refere à sua inserção social no meio escolar. Este grupo levantou
[Utilizei práticas teatrais] para que houvesse mais participação dos alunos. Mostrar
[...] para que o aluno adquira desenvoltura, pratique leitura ao se envolver com o
trabalho e se socialize cada vez mais com os colegas. (Profa. Miriam Binatti)
[...] para maior desenvoltura e participação dos alunos. (Profa. Tatiana Iglesias
Gumieri)
[...] porque o teatro é uma arte que eleva a auto-estima do aluno, permitindo que ele
seja o protagonista através da leitura e do entendimento dos textos. (Profa. Juliana Estevam
Ferreira)
interesse dos alunos. As aulas também são fundamentais para o respeito uns com os outros e
39
Outro grupo compreende a inserção das práticas teatrais como estratégia eficiente
para as aulas de leitura porque o gosto pela atuação irradia o gosto pela leitura, o teatro
Todas as vezes que trabalhamos com teatro, percebemos que os alunos se soltam
os alunos estão acostumados no rotineiro convívio escolar. (Profa. Silvania Ribeiro Mafra)
Gosto muito de teatro. Acredito que o aluno que faz uma leitura mais profunda do
texto, entende melhor. Ao fazer um teatro, o aluno tem que fazer essa leitura, por isso
entende melhor o texto. [...] Vou plagiar uma frase de Flávio Império: "Depois de fazer
teatro e ter que vestir uma realidade, quando você vê a realidade, não consegue se
Uma professora revelou a sua preocupação em tornar as aulas mais atraentes para
alunos que “esperavam mais que leitura” em suas aulas. Outra encontrou na leitura
expressiva que ela faz para seus alunos uma forma de atraí-los para a aula e, ao mesmo
40
Por ser uma metodologia mais descontraída. O aluno da Hora da Leitura não espera
somente ler neste período de aula e, por sua vez, o professor, por ter apenas uma aula, tem
que fazer algo que torne a Hora da Leitura uma aula prazerosa, onde o aluno participe.
Bom, eu adoro dramatizar, acho que com a Hora da Leitura tudo se encaixou.
Comecei nas aulas mudando de voz nas leituras entre um e outro personagem. Percebi que
os alunos gostavam daquele suspense que fazia durante as leituras... Daí pra frente, só fui
“realçando o sabor” de cada história e começamos a fazer trocas de leitura ... até chegarmos
em eventos escolares como um bom motivo para desenvolver “algo diferente” com os
alunos. O segundo ressalta o fato de que há um ato de leitura que se evidencia na cena, uma
[Utilizo práticas teatrais] para fazer algo diferente com os alunos para as Feiras
[...] por desenvolver o interesse da classe toda. O contato do aluno com o teatro traz
mais uma ferramenta a ser usada em favor da leitura. (Profa. Joyce Siqueira)
Praticamente metade dos professores declarou que a motivação para que eles
tivessem incluído práticas teatrais em suas aulas foi o próprio aluno porque “eles
Duas professoras referiram-se a algum projeto específico, alegando que “o escritor remete a
41
O uso do lúdico para ensinar a arte. Através da linguagem teatral, a classe vive uma
experiência gratificante, em que cada um é capaz de criar seu próprio espaço, preenchendo-
o com seus conhecimentos e habilidades de forma adequada. (Profa. Silvania Ribeiro Mafra)
subsídios para a atuação em um projeto novo e que estes foram encontrados em ação de
aulas. E sempre fui muito preocupada com a educação, sempre gostei de dar aulas
que tive na D.E. foi-nos apresentado um conto lindo (O Violino Cigano – de Regina
Machado). Cheguei em casa apaixonada. Lia e relia porque queria contar para meus alunos
ao invés de lê-lo. Foi demais! A dramatização foi ótima, sentia isto no rostinho de meus
professores assumiam as aulas e imediatamente entravam em sala de aula sem tempo para a
apropriação dos conceitos básicos que orientam o referido projeto. Algumas Diretorias de
Ensino, mais organizadas e constituídas por uma equipe mais experiente, promoveram uma
corrida contra o tempo para fornecer subsídios e orientar os seus profissionais. Outras, no
experiência pessoal, que lhe forneceu ferramentas para constituir uma personalidade ousada
43
Minha formação na graduação foi diferenciada e me deu oportunidade de conhecer
diferentes práticas que pudessem facilitar o processo ensino-aprendizagem dos alunos e que
O que me incentivou a trabalhar tais práticas foi esta minha mania de ousar, de
acreditar que a educação se faz de maneira diferenciada e que nossos alunos não têm hábito
de leitura, e para despertar este interesse tinha de ser da forma que eles gostam. (Profa.
segundo a maioria das respostas dos professores ao questionário. Todos ou quase todos os
leituras com eles, até que o grupo sinta-se “à vontade com o tema” para, depois, ensaiar e,
finalmente, “dramatizar”.
que será dramatizado; poucos permitem que o aluno escolha o texto que deseja
“dramatizar” a partir de uma seleção prévia de textos. Alguns sugerem nas suas respostas
44
Não é fácil. Com uma aula semanal é quase impossível e o resultado bem
de cada um. Quando os alunos já estão familiarizados com o texto, vou distribuindo as
atividades, claro que eles podem escolher, indicar, colaborar. (Profa. Luciana Madeira
Tente)
Depois de uma encenação em sala de aula, reservo algumas horas semanais para
ensaiar a peça teatral com as crianças envolvidas como personagens. Outros grupos
trabalham com o cenário; após algumas orientações, passam a desenvolver essas atividades
Algumas respostas sugerem um possível trabalho com leitura como provocação para
o debate sobre um tema que pode ser levado à cena, embora duas delas não dêem pistas de
como as atividades são desenvolvidas. Entre estas, há um grupo de respostas que deixa a
Trabalhar o tema em sala de aula. Depois pedir para que os alunos façam
Costumo desenvolver sempre em grupo, deixando que eles escolham o que irão
apresentar através dos textos lidos. [...] O texto é criado de forma coletiva e aos poucos as
barreiras são ultrapassadas, começa a fluir intensamente até chegar no roteiro final. (Profa.
Paula)
45
[Desenvolvo as atividades] montando grupos e dando a liberdade para cada um
construir os seus textos e desenvolver como achar melhor. (Profa. Adelina Máximo
Fonseca)
Muitas vezes na sala de aula, as crianças em forma de círculo fazendo a platéia e assim
texto.
Na análise do item 12, concluímos que suas respostas foram induzidas pela
construção do referido item. Nos questionários entregues aos professores das duas
Diretorias de Ensino da capital, este item oferecia alternativas e pedia para que o professor
apenas assinalasse.
46
12. Freqüentemente, as práticas teatrais são utilizadas em uma seqüência de atividades
a. no início, para
( ) ajudar na concentração e/ou descontração do grupo.
( ) construir o sentido de pertencimento e de integração entre o grupo em atividades
criativas.
( ) estimular o grupo para outras leituras relacionadas ao texto que deu origem à
atividade.
( ) outros_________________________________________________________.
c. no final, para
( ) avaliar o nível de compreensão do grupo em relação ao texto.
( ) registrar o trabalho produzido pelos alunos em sala de aula.
( ) apresentar uma criação coletiva, em outra linguagem, a partir da leitura de um texto.
( ) apresentar uma dramatização a partir da leitura de um texto.
( ) outros _________________________________________________________.
quase todos se colocaram, também, nos subitens “a” e “b”, ou seja, quase todos afirmavam
determinado texto você utiliza práticas teatrais: no início, durante ou no final? Por quê?”. O
das atividades, uma vez que apenas dois professores declararam que as práticas teatrais
47
Os objetivos da Hora da Leitura e as práticas teatrais
elaboração das atividades para as aulas deste projeto é vista por muitos professores, se não
pela maioria deles, como um meio eficiente do aluno compreender o texto que está sendo
várias leituras que são feitas para que se possa encenar, o que, no entendimento destes
cena como uma forma de transformar em ação as palavras do texto. Para isso, usam
Costa)
Madeira Tente)
O aluno sente-se mais próximo do texto por vivenciar a história na prática. (Profa.
de letras, pontos e vírgulas em movimentos, falas e gestos [...]. (Profa. Joyce Siqueira)
Para chegar a um teatro, o aluno selecionará o texto (para isso recorrerá a vários
gêneros); conhecerá novas palavras [...]. (Profa. Alessandra Cristina Alves Rodrigues)
48
Para se produzir um bom texto (dramático), é necessário [...] pesquisar diversos
livros e autores, o que lhe interessem para realizar este (trabalho). Isso de uma forma
prazerosa, já que sabem que só assim será possível dar continuidade ao trabalho proposto.
Através do texto teatral é possível abordar diversos temas: imaginários e cotidianos, que
tornam os alunos argumentativos, com uma mente mais aberta para a leitura a fim de obter
alunos.
despertar para o gosto da leitura [...] e colaboram para a execução de textos fabulosos.
[As práticas teatrais são utilizadas] para aproximar o aluno da leitura fazendo com
que ele tenha uma concentração e melhor interação entre os colegas. (Profa. Adelina
Máximo Fonseca)
A socialização, essas práticas desinibem os alunos, fazem com que eles se sintam
49
Quando se fala em produzir sentimentos e sentido, a prática teatral é fundamental.
texto literário para o aluno e reconheceu que as práticas teatrais colaboram nesse sentido.
aluno a apreciar novas possibilidades e isto tem sido um dos pontos que as práticas teatrais
colaboram no caso das aulas de Hora da Leitura. (Profa. Mônica Ferreira Batista)
Hora da Leitura, os professores que participaram desta pesquisa investem em objetivos que
eles próprios estabeleceram para suas aulas. Enquanto profissionais de educação, este grupo
ele e seus alunos ou entre os próprios alunos; de desenvolvimento pessoal de seus alunos no
com os colegas; de participação para que todos sejam capazes de colocar a sua voz e de
ouvir o outro – sobretudo quando ele recorre a práticas teatrais para desenvolver atividades
50
Muitas seqüências de atividades foram desveladas nas respostas dos professores, e
expectativas relatadas no parágrafo anterior. Vamos retornar a elas, desta vez analisando-as
sob a ótica de alguns pressupostos do ensino da Língua Portuguesa e também daqueles que
como alguns a denominam) de histórias para seus alunos. Atuam para eles como forma de
do texto literário para que ele seja capaz de compreender e fruir no texto55, estas atividades
momento da compreensão de outros textos. O ato cognitivo de leitura do texto escrito traz
55
Uma das metas dos programas de enriquecimento curricular a que se vincula o projeto Hora da Leitura é
elevar o nível de rendimento nas habilidades e competências testadas nos sistemas de avaliação externa.
51
as possibilidades de conhecimento da estrutura textual. Nas palavras de Kleiman56, “quanto
mais conhecimento textual o leitor tiver, quanto maior a sua exposição a todo tipo de texto,
mais fácil será a sua compreensão, pois, o conhecimento de estruturas textuais e de tipos de
Ao analisar a leitura expressiva de uma história feita pelo professor para seus
alunos, sob o ponto de vista do teatro que poderia ser praticado na escola, a atividade
continua sendo preparatória (para descontrair e divertir), uma vez que assistir à atuação do
professor, sem que se criem condições para que os alunos participem de um processo
criativo (por exemplo, jogando coletivamente com vozes e gestos possíveis para uma
contação ou para uma leitura expressiva elaborada por eles), impede que os participantes
exprimam seu ponto de vista, sua percepção e seu posicionamento sobre o conteúdo
manifestado no texto.
no entanto, aqueles que estimulam seus alunos para que produzam leituras expressivas na
sala de aula. Segundo seus depoimentos, eles esperam que seus alunos consigam “desinibir-
se” ou “praticar a oralidade” ou, ainda, “ser ouvidos”. É recomendável que, para desinibi-
los, a atividade seja um processo coletivo de construção, visto que os alunos estariam
construindo a sua narrativa experimentando gestos e vozes, e seria muito difícil para eles
aluno “praticar a oralidade” ou “ser ouvido”, compreendemos que não é só ler ou contar a
história, mas é lê-la ou contá-la a partir das elaborações do grupo de alunos sobre a história,
56
KLEIMAN, 2000, p. 20.
52
de “exercitar o músculo da imaginação, de conceber algo diferente, próprio, de pensar de
uma outra maneira”57, que é uma forma de exercer a liberdade de “elaborar maneiras
concerne à vida pessoal quanto no que se refere às questões sociais, coletivas”.58 Estamos
nos referindo às criações e resoluções artísticas para os fatos, em vez de representar pela
imitação os fatos narrados no texto. Se não for assim, o objetivo do professor de praticar a
oralidade do aluno e de criar condições para que ele seja ouvido não estará acontecendo. Da
mesma forma que ler não é só decodificar, que escrever não é só registrar uma seqüência de
letras e palavras, a prática da oralidade, tanto nas situações mais cotidianas de sala de aula
como no interior de uma elaboração artística, precisa ser um processo crítico e produtivo
atividades que se inicia com a leitura do texto e se encerra com a dramatização. Podemos
A primeira prática refere-se a um grupo de professores que traz um texto (ou uma
seleção de textos para que o aluno escolha o que mais lhe agrada) e, por meio de muitas
57
DESGRANGES, 2006, p. 136.
58
Ibid.
59
ROJO, 2004.
53
Esta forma de coordenar o processo de dramatização do texto tem um nível de
adesão muito grande entre os alunos, de acordo com o depoimento destes professores. Há,
entretanto, uma dificuldade que os professores confessam enfrentar nestas atividades e que
compromete a ação pedagógica, uma vez que exclui grande parte dos alunos de um
dramatização final leva em torno de cinco a seis aulas para ser concluído. Durante este
período, o professor só consegue desenvolver estratégias que incluem todos os alunos nos
alunos ficam apartados do processo de elaboração do discurso cênico, soltos nos cantos da
cena, muitas vezes confeccionados nas suas casas. Não foi possível saber, pelos
depoimentos dos professores, sobre a natureza de sua participação neste processo, ou seja,
se ele se coloca como um diretor que orienta para o que ele deseja que os alunos façam na
quando necessário.
feita por um grupo reduzido de alunos, fora das atividades de sala de aula e nem sempre
com a coordenação do professor. Estes professores encontraram uma saída para evitar que,
54
nas suas aulas, os demais alunos fiquem ociosos enquanto o elenco60 participa da
aqueles que acompanham as atividades dos alunos até que finalizem toda a seqüência
relacionada à leitura e deixam para que eles próprios façam, livremente (no entendimento
pelos alunos que estão atuando nelas trazem a compreensão daquele pequeno grupo. Se o
elaboração das cenas, será acrescido o olhar crítico que faltava sobre o processo, que trará
alunos.
grupo de atores e também de espectadores e os momentos de intervenção que faz com que
60
Termo utilizado por alguns professores para identificar o grupo de alunos que participam como atores na
dramatização (definição mais comumente utilizada pelos professores quando se referem às práticas teatrais
desenvolvidas por eles).
55
eles, aos poucos, se desprendam das narrativas e linguagens já conhecidas, arriscando-se a
aluno em suas aulas e as práticas teatrais desenvolvidas por eles, podemos atribuir os
percalços que colaboram para que elas não sejam concretizadas, em grande parte, ao
desconhecimento que estes professores têm acerca da linguagem teatral e suas formas de
56
III – Hora da Leitura: Uma boa hora para os jogos de improvisação
teatral
ainda, as diferentes expectativas que estas práticas suscitam nestes profissionais, no cerne
dos vários argumentos utilizados por eles está a idéia de que as práticas teatrais são
emitir opiniões oralmente, integra o grupo e dirige o seu foco para um determinado
A julgar pela forma como tais atividades são desenvolvidas, pode-se afirmar que o
professor vive uma contradição entre o que ele acredita e o que ele pratica. Como é possível
para este profissional alcançar êxito em alguns objetivos educacionais (que, em tese, devem
ser perseguidos em prol de todos os alunos) se ele só trabalha, segundo suas palavras, com
nas práticas teatrais? Na medida em que o professor estabelece parâmetros para o seu
democrático e que, portanto, deve ser alcançado por todos, ele precisa desenvolver práticas
pedagógica, há o desconhecimento por parte dos professores de que existem outras formas
57
de trabalhar a linguagem teatral com as quais ele pode envolver todos os alunos,
desenvolvidas.
Língua Portuguesa que atua na Hora da Leitura sugere uma prática que tem o propósito de
apresentar um produto artístico como finalização de um processo que iniciou com a leitura
[Utilizo práticas teatrais] no final porque todos já conhecem bem [o texto] e estão
aptos a criar e dar sugestões de como transformar em peça teatral. (Profa. Luciana Madeira
Tente)
trabalhando bem o texto em questão utilizando todas as etapas: 1ª. Etapa: leitura em casa
dos textos selecionados na classe trazidos pelo professor. Na próxima aula, a leitura de cada
texto na classe e a escolha; 2ª. Etapa: criação do roteiro (o que é roteiro? / o que é essencial
nele? / suas etapas?); 3ª. Etapa: roteiro definitivo; 4ª. Etapa: distribuição das tarefas e
grupo de alunos-atores para uma platéia (os demais alunos da classe ou outros alunos da
escola) que, com seu olhar externo ao processo, assiste a um espetáculo sustentado por um
texto e alguns adereços de cena. Esta prática exclui grande parte dos alunos da turma e
58
impede a todos (até àqueles que atuaram) a participação em um processo democrático,
crítico e criativo que, na dialética dos jogos de improvisação teatral, poderia promover a
Capítulo I.
Leitura, o qual “permite o contato dos alunos com diferentes linguagens, sobretudo a
daquilo que é do outro e afeta o grupo com aquilo que é do grupo e afeta o outro, os jogos
61
Projeto Inicial. Disponível em: http://cenp.edunet.sp.gov.br/Hora_leitura. Acesso em: 3 set. 2007.
59
de improvisação teatral harmonizam-se com postulações sobre situações de aprendizagem
implica promover situações de aprendizagem que façam sentido para ele. Exercer o
convívio social no âmbito escolar favorece a construção de uma identidade pessoal, pois a
socialização se caracteriza por um lado pela diferenciação individual e por outro pela
espetaculares, permitem que atividades teatrais sejam experienciadas por todos os alunos de
uma turma. Divididos em dois, três, quatro ou mais grupos, eles participam ativamente,
assumindo ora a função de jogadores-atores (alunos que atuam em cena), ora a função de
mas a compreensão que o grupo tem a respeito deste conteúdo, enquanto o grupo de
62
BRASIL, 1998, p. 43.
60
em que expõe sua reação ao que foi apresentado e, conseqüentemente, sua compreensão da
de alguma questão apresentada na cena ou, ainda, sugerir uma pesquisa sobre o assunto
abordado caso ele perceba que o grupo (e também ele) não tem repertório suficiente para
colaborar com formulações interessantes na discussão sobre determinado tema sem que
Nas avaliações das cenas apresentadas, o grupo, coordenado pelo professor, pode
conversar tanto sobre as questões relativas à vida social, presentes nas improvisações,
por cada grupo, com o intuito de aprimorar a capacidade dos alunos de conceber um
discurso cênico. 63
organizados pelo seu caráter formativo, que consideramos relevantes para o seu
parametrizadas pelas regras que o orientam. A tensão entre liberdade de ação e regras a ser
observadas torna o jogo uma atividade lúdica que promove prazer e fruição.
63
DESGRANGES, 2006, p. 135.
61
Ryngaert64, em suas reflexões acerca do desenvolvimento de jogos dramáticos no
meio escolar, ressalta características do jogo para que possamos compreender por que
liberdade e regra são aspectos tão relevantes que fazem do jogo dramático um processo
lúdico.
No jogo, o sujeito esquece o real, nega a atividade séria, liberta-se dos quadros
constrangedores que suporta na execução de suas atividades diárias. Mas, ao mesmo tempo,
elabora regras que se torna indispensável respeitar, sob pena de se fechar numa atividade
O jogo permite uma relação metonímica com o real, ou seja, possibilita que o
jogador migre para uma situação convencionada por regras para investigar, com liberdade
de ação, uma situação não-convencional extraída do real. Este deslocamento faz do jogo
uma experiência lúdica na medida em que cria condições para que o jogador, por meio de
um “ensaio sem risco”, interrompa, reconsidere e recomece uma proposta que oferece
dificuldade.
O aluno tem o poder de dominar o tempo, de parar uma situação que não se sente
capaz de prosseguir; tem o direito de voltar atrás se considerar que não teve tempo
64
RYNGAERT, 1981.
65
Ibid., p. 36-37.
66
Ibid., p. 37.
62
distribuição de papéis ou funções diferenciadas entre os participantes de acordo com suas
processo investigativo, a alternância de papéis entre os jogadores que ganham voz, ora
eles na avaliação está entre os preceitos que regem o caráter formativo dos jogos de
improvisação teatral.
Nas sessões de Jogo Dramático deve vigorar um espírito aberto para as idéias dos
formas de resolução dos jogos propostos. Para isso, o coordenador precisa cuidar para
desinteressantes para o coordenador, que precisa ter cuidado até mesmo para evitar uma
63
massa), já que no início, os participantes costumam recorrer às narrativas e linguagens
conhecidas.67
emancipação e formação crítica para os jogadores. Para isso, é importante evitar a prática
elaboração criativa pelo esgotamento das possibilidades do grupo, tanto no que se refere ao
O jogo estético-ficcional
texto literário, permitem ao aluno experimentar o prazer de transitar pelo universo ficcional
– domínio em que residem ambas as artes – a partir de uma perspectiva que requer a
67
DESGRANGES, 1981, p. .98.
68
Ibid.
64
se organiza e se evidencia enquanto discurso cênico, a partir da abordagem e dos jogos
criação do discurso cênico, com soluções que podem ser aprimoradas. Na medida em que
estimulados a criar sempre novas possibilidades, cada vez mais refinadas, de estruturação
das resoluções cênicas. Na medida em que os jogadores revezam-se, ora como atores, ora
cumulativo.
fragmentos de textos literários, além do prazer conquistado por meio da ludicidade que o
jogo promove, da tensão entre liberdade de ação e regras, da apreensão do fenômeno teatral
conquistada por meio de um processo crítico e emancipatório, o aluno tem a seu favor
meios eficientes para a compreensão da arte literária e dos recursos expressivos de que ela
faz uso.
65
entre outros) utilizados para a elaboração da cena, os jogadores podem mobilizar tais
linguagem literária.
oportunidades para que os jogadores tornem-se sensíveis às diferentes percepções que estas
tempo todo aos jogadores são mecanismos transformadores que, uma vez disparados,
reflita sobre si, e invente a si mesma, abrindo-se para diferentes formas de compreender e
lhe permite analisar os fatos e circunstâncias, e traçar parâmetros para a sua criação e a sua
69
COELHO, 1988.
70
DESGRANGES, 2006, p. 137.
66
A investigação que leva à compreensão de aspectos do ato de leitura
A investigação nos jogos de improvisação teatral traz sempre em seu bojo, mesmo
que de modo discreto ou com pesos diferentes, inquietações pessoais e apreensões de cunho
social que são representadas pela ótica de diferentes olhares. Este aspecto dos jogos de
improvisação teatral faz com que eles sejam sustentados por um mosaico de significações
os participantes (pares, trios, divisão em dois, três ou mais grupos) permitem composições
Esta sutil variedade na construção coletiva do sentido do texto que surge na cena
relação a seus efeitos sobre o leitor, os mesmos que parecem não quantificáveis. A Teoria da
Literatura se encarregou disso, ao adotar novas idéias sobre a natureza do texto artístico e
autoprodutora de sentido. Segundo as novas teses, a obra literária é uma formação porosa,
porque constituída de vazios a serem preenchidos pelo leitor. Assim, embora compreensível,
67
o texto é incompleto, pois ele nunca exaure seu objeto, cujo significado se efetua quando o
formativo das crianças (que também se aplica aos jovens das séries finais do Ensino
afetivo. Neste artigo, Silva ressalta a importância do debate das diferentes formas
literários – eis aí um caminho coerente para o desenvolvimento do leitor infantil, sob todos
os aspectos. Isto porque “a leitura crítica sempre leva à produção ou construção de um outro
texto: o texto do próprio leitor. [...] a leitura crítica sempre gera expressão: o desvelamento
do ser do leitor”. Experienciar, pelo diálogo, pela partilha e pelo conflito, as várias
alternativas interpretacionais dos textos literários é, sem dúvida, uma condição essencial ao
alargamento da compreensão do mundo pela criança – compreensão esta que leva consigo o
e das aulas de leitura é o estímulo para que os jogadores leiam cada vez mais.
pesquisa e leitura com o intuito de aprimorar sua participação crítica. Ele vai à busca de
71
ZILBERMAN, 1989, p. 15.
72
SILVA, 1989, p. 51-52.
73
Ibid.
68
novos referenciais para melhorar o seu desempenho não só nos momentos em que está em
Por isso, quanto maior o seu repertório sobre o tema abordado, ou seu conhecimento
sobre determinado autor, ou ainda sua compreensão a respeito da obra desencadeadora dos
ele próprio percebe o sentido de ler e colhe os frutos deste ato prazerosamente.
preestabelecido pelo grupo de alunos ou pelo professor, a ação improvisada pode desvelar
determinadas concepções que o grupo nutre com relação ao tema e também as suas
grupo.
fragmentos de textos rompe com a forma mais tradicional de confrontar opiniões sobre o
escolha de cada solução para a elaboração do discurso cênico, ou seja, o ato de leitura se
Em vez da forma mais tradicional para checar o nível de compreensão do aluno, que
são as perguntas formuladas pelo professor na ótica de sua compreensão sobre o texto, no
69
momento da avaliação do jogo, a participação aberta a todos os jogadores que desejam se
das suas relações pessoais, quanto no que diz respeito às questões da sua comunidade e do
seu país, além de constituir-se em uma atividade que propõe o desenvolvimento do olhar
crítico, pois, durante o processo, os integrantes são incentivados a estarem atentos aos nós
das questões, a lançar “por quês” às situações apresentadas: por que isso é assim? Poderia
ser diferente?74
Na Hora da leitura, uma atividade com fábulas, por exemplo, permite que o grupo,
julgar sobre o certo e o errado, mas de relativizar os conflitos, analisando os vários aspectos
neles contidos, e, por meio de jogos de improvisação teatral, encontrar uma solução estética
para eles.
teatral como experiência enriquecedora nas aulas de leitura pelo seu caráter formativo com
harmoniza, sob vários aspectos, com enfoques a respeito da apreensão do texto literário e
da formação do leitor postulada pelo projeto Hora da Leitura, além de outros propósitos
74
DESGRANGES, 2006.
70
Para ampliarmos a compreensão desta relevância, consideramos importante que,
neste ponto do trabalho, façamos uma abordagem que situe historicamente os pressupostos
Slade. Para ele, “o drama infantil pode ser considerado como uma forma de arte no seu
verdadeiro sentido; não é uma atividade que tenha sido inventada por alguém, mas um real
criança”.77
75
Embora não seja matéria de nossa pesquisa, não podemos deixar de citar o trabalho de Beatriz Ângela
Vieira Cabral, que introduziu no Brasil o pensamento e a pesquisa relacionados ao drama como método de
ensino (CABRAL, 2006) e que vem enriquecendo as pesquisas no campo da Pedagogia do Teatro.
76
SLADE, 1978. Segundo Pupo (2005), uma obra de referência para compreender o pensamento de Slade foi
publicada na Inglaterra, em 1954. A tradução publicada no Brasil em 1978 é obra posterior e apresenta seu
pensamento de modo relativamente superficial.
77
In: SOUSA, 2003, p. 19.
71
infantil do agir como se proporciona um envolvimento profundo e absoluto no ato de
representar. Para Slade, entre o jogo pessoal do faz-de-conta, em que a criança assume um
abstrato.
Pupo, em artigo que visa “tornar mais precisos alguns dos conceitos que
fundamentam a pedagogia teatral”, relaciona o jogo dramático que diz respeito às acepções
de Slade à brincadeira espontânea infantil e nos lembra de que a experiência infantil do agir
como se é cultural e está presente nos mais variados agrupamentos sociais e nas mais
aprender com Piaget – nada mais é do que a manifestação de uma fase particular do
mundo. Quando uma criança de cinco anos faz de conta que é um sino, se balança de modo
pendular e emite o som correspondente, está se apropriando de uma noção específica através
da representação. De modo simbólico, sua percepção daquele objeto está sendo manifestada.
profundamente por ela, a ponto de estabelecer magicamente uma realidade outra, a do faz-
de-conta.78
Na formulação de Slade, o jogo dramático infantil não tem relação com a arte teatral
e deve ter como pressuposto as atividades lúdicas que as crianças desenvolvem entre si,
sobretudo sua espontaneidade. Para ele, criar no jogo dramático é da natureza da criança;
78
PUPO, 2005.
72
por isso, o lugar privilegiado para a criança é estar no jogo, e vai contra esta natureza
Segundo Slade, ainda que o jogo infantil seja cotejado por parâmetros educacionais,
Subjaz à proposta de Slade uma visão datada da cena. Ao identificar a arte teatral
com a convenção e a rigidez nos moldes de um determinado teatro vigente na época em que
escreveu, nosso autor considera essa arte incompatível com a perspectiva educacional.79
palco-platéia pode conferir ao jogo dramático e alerta para os danos que a inserção
Por isso, a elaboração de Slade para a utilização do jogo dramático infantil sob uma
infantil para as dramatizações improvisadas dos jovens e, mesmo neste estágio, uma
79
Ibid.
73
A concepção francesa de jogo dramático
representação teatral.
Dullin, por sua vez, preocupou-se com o desenvolvimento de um método que fosse
A expressão jogo dramático (jeu dramatique) foi proferida pela primeira vez, na
década de trinta, por Léon Chancerel, discípulo e amigo de Copeau, que a definia como
Empregamos o termo “jogo” porque implica, por um lado, que esta atividade é uma
atividade normal da criança e, por outro lado, que inclui regras e convenções.
e de representação pública, é porque “dramático” se afasta desta noção e a união dos dois
80
SOUZA, 2003, p. 23.
81
PUPO, 2005.
82
SOUZA, 2003, p. 23.
74
termos indica que a criança se exprime pela ação, para o seu prazer e para o seu
desenvolvimento.83
ao teatro para crianças e com crianças. Nesta perspectiva, conseguiu reunir pedagogos e
coordenador.
observações pessoais. Têm por objetivo aumentar e guiar os seus desejos e as suas
75
aprendizagem através do prazer de brincar e da tensão criativa. Neste período, Miguel
Demuynck85, ex-aluno de Charles Dullin, foi um dos primeiros instrutores dos Centres
de férias e professores do Ensino Fundamental para a aplicação dos jogos dramáticos nos
CEMEA.
Cada vez mais reconhecido pelo seu valor educacional, o jogo dramático foi foco de
pelo grupo que atuava, em vez da reprodução das formas teatrais consagradas.86
francesa do jogo dramático é o fato de que ambas advogam pela não sobreposição da
intenção pedagógica ao prazer do aqui e agora, já que tal procedimento colidiria com a
jogo “aqui e agora”. Se este desaparece, o conceito do jogo desaparece também. Ora, ele é
refere-se à relação que estabelecem com a linguagem teatral. Para Slade, o fundamento que
sustenta a exploração das possibilidades mais espontâneas da criança nos jogos prescinde
85
Para saber mais sobre a atuação de Miguel Demuynck nos CEMEA, cf. Vers L’Education Nouvelle, Paris,
n. 497, nov. 2000. Disponível em: <<http://www.cemea.fr/spip.php?rubrique263>>. Acesso em: 12 mar.
2008.
86
PUPO, 2005.
87
RYNGAERT, 1981, p. 35.
76
sentido do agir como se, está apartada do “compromisso estrito com a depuração da
teatro”.88
atividade coletiva que visa à análise da realidade “a partir de um discurso produzido numa
século XX, mais precisamente na década de 70, Ryngaert90 fez a revisão de todas as
práticas relacionadas aos jogos dramáticos até então, reconstruindo um caminho eficiente,
jogo dramático com as experiências e inovações modernas da cena teatral e, a partir deste
Desgranges nos dá uma boa medida do que representaram “as revoluções da cena
uma questão que passa a ser fundamental e norteadora para o desenvolvimento da cena, e
que movimenta os artistas até os dias de hoje: qual o papel do espectador no evento teatral?
88
PUPO, 2005.
89
RYNGAERT, 1981, p. 34.
90
Ibid.
77
[...]
encenadores [...] surgidos nas primeiras décadas do século XX, despertando na platéia uma
atitude produtiva em face da cena. A cena teatral, para isso, precisaria ser apresentada como
teatral.91
modelos lingüísticos que o ajudam a definir o teatro como linguagem artística, traz outra
palavras, textos e sonoridades, entre outros códigos, passam a ser explorados nos jogos.
linguagem artística completa que tem as suas regras próprias e permite comunicar de
[...]
O teatro como objeto semiótico, quer dizer, como objeto artístico construído sob o
modelo das língua naturais, segue esquemas de comunicação estabelecidos para estas. A
atividade teatral supõe um emissor que fabrica uma mensagem e um receptor que a decifra.
Consideração que tem uma grande importância para a nossa maneira de encarar a prática do
jogo dramático.
91
DESGRANGES, 2006, p. 33-34.
78
Um processo deste tipo transforma a hierarquia dos componentes da representação
tal como era admitida anteriormente; tudo o que constitui a linguagem teatral ganha uma
mensagem. O mesmo acontece com os trajes, a maquiagem, a iluminação, o jogo dos atores,
que os jogos dramáticos devem cultivar. Segundo ele, o jogo dramático é uma atividade
coletiva em que o indivíduo se constitui a partir de uma elaboração “para si” que se faz e
refaz na relação com o outro. Para Ryngaert, este processo de elaboração que acontece a
cada um do grupo volta-se (ou, pelo menos, deveria voltar-se) para o aprimoramento do
elabora “para si” e com os outros. Mas não poderia manter-se fechado sem cair no
O jogo dramático não visa uma reprodução fiel da realidade, mas sim a sua análise
naturalismo.
[...]
92
RYNGAERT, 1981 p. 59-60.
93
Ibid., p. 34.
79
O jogo dramático não está subordinado ao texto. Este é substituído pela palavra
espacial de quem atua e com o olhar do espectador que o acompanha. Sua flexibilidade,
portanto, possibilita que o jogo dramático acomode-se perfeitamente nos espaços escolares
94
Ibid.
80
experimentação de novas formas de comunicação e que pesquisas neste sentido eram
desmonta a idéia de talento natural, quando defende a atuação em cena como habilidade
Para Spolin, em primeiro lugar, teatro é algo que se aprende. Não é um apanágio
[...]
idéia de um artista todo poderoso, que trabalha no sentido de iludir, cativar ou mesmo
ensinar uma platéia, passa longe de seu sistema. Pelo contrário, em Viola Spolin, palco e
platéia são parceiros num jogo de criação de uma realidade ficcional, dependente das duas
criação coletiva, todos os aspectos da existência humana podem e devem vir à tona, para
Game File97, traduzido por Ingrid Dormien Koudela e publicado no Brasil com o título de
95
SPOLIN, 2005.
96
PAIS, 2000, p. 52.
97
SPOLIN, 1975.
81
Jogos teatrais: o fichário de Viola Spolin.98 Este, atualiza Improvisação para o teatro e traz
uma nova organização: jogos tradicionais e jogos teatrais (fichas do tipo A); jogos que
exploram a estrutura dramática Quem, Onde, O quê (fichas do tipo B); jogos teatrais
jogos teatrais, foi bastante inspirado em Stanislávski, “no período em que este priorizava as
ações físicas como procedimento na formação de atores”, e também em Neva Boyd, com
Spolin, tomando por base os jogos de regras, cria um sistema de exercícios para o
teatrais “que pode ser desenvolvido por todos que desejem se expressar através do teatro,
Nos jogos teatrais, a evolução dos jogos está pautada por problemas a ser
98
SPOLIN, 2001.
99
DESGRANGES, 2006, p. 109.
100
Ibid., p. 110.
101
KOUDELA, 2002, p. 40.
102
SPOLIN, 2001, p. 348.
82
[...] coloca o aluno-ator em ação (fisicaliza); o problema prefigura um resultado; [...] na
solução do problema está implícito como atuar; afasta o planejamento prévio; apresenta uma
simples operação estrutural (como em um objeto), de forma que qualquer pessoa, com
Uma das idéias-chave para a compreensão dos jogos teatrais é, segundo Koudela, “a
criação coletiva onde os jogadores fazem parte de um todo orgânico motivado pela ação
lúdica”.104
Aliada a essa condição (a criação coletiva) está a eliminação dos papéis tradicionais
o apelo da aprovação/desaprovação.105
1. Foco
relacionam os jogadores que estão na área do jogo e na platéia. Foco, portanto, é para onde
103
Ibid.
104
KOUDELA, 1984, p. 147.
105
Ibid., p.148.
83
convergem as atenções do jogador em cena, da platéia e do coordenador – ponto de
dar realidade ao objeto, que nesse caso é a corda imaginária. A dupla de jogadores no palco
2. Instrução
coordenador detentor de todo o processo. Em vez disso, o coordenador age como parceiro
jogadores a manter o foco, sem impedir, no entanto, que estes imprimam sua própria
Além de canalizar o curso do jogo para o foco, “a instrução busca intensificar o jogo
até o auge de energia e percepção dos jogadores”107, ou seja, até o ponto no qual “a
espontaneidade do aluno aparece para enfrentar uma crise no palco; o momento de deixar
3. Avaliação
No momento em que parte do grupo está na área de jogo, os demais jogadores são
106
KOUDELA, 2002, p. 46.
107
SPOLIN, 2001, p. 31.
108
Ibid., 2005, p. 348.
84
exteriorizam ao grupo suas impressões e se integram com os jogadores-atores rumo aos
outras palavras, foco, instrução e avaliação são aspectos que postulam a ampliação das
estrutura dramática (onde, quem, o quê) nas áreas de experiência do jogo. Assim, nos jogos
processo; o teatro improvisacional é processo; para que a estória (peça) adquira vida, é
preciso dividi-la em partes ou pulsações (desarmar), para que ela possa se tornar processo
crítica aplicada durante as avaliações” na relação entre jogadores, ora atores ora
Nas páginas conclusivas do livro Jogos teatrais, Koudela discorre sobre a estória e a
109
Ibid., p. 339 e 346.
85
O processo de Jogos Teatrais visa efetivar a passagem do teatro concebido como
ilusão para o teatro concebido como realidade cênica. A mesma revolução que ocorre com a
trabalho do ator quando ele compreende a diferença entre estória e ação dramática. Ao
improvisacionais disseminadas em nosso país. Elas são a base teórica que sustenta a
110
KOUDELA, 1984, p. 148.
86
IV – Experimento com professores da Hora da Leitura – Práticas teatrais
no desenvolvimento de atividades com textos literários
impulsionados pelos propósitos definidos pelo projeto (Capítulo I), reúnem experiências
teatrais e de leitura nas suas práticas com vistas à formação do leitor – preceito que está no
bojo do referido projeto. No entanto, enfrentam algumas dificuldades para transitar com
produtivo, autoral e artístico. Em vez de se deter à tarefa de descobrir o que o texto quer
projeto, foram utilizados alguns jogos de improvisação teatral para mostrar algumas
expectativas de aprendizagem que estes profissionais podem sustentar acerca de sua prática
87
exploração de possibilidades verbais e não-verbais para a elaboração de um discurso cênico
(produção oral, fluência verbal, variação tonal, gestos, deslocamento espacial...) para que,
de posse desta análise, pudéssemos indicar algumas ações de formação voltadas para esses
profissionais.
fenômeno teatral.
jogar com o texto literário (partindo da leitura ou motivando para a leitura) e experienciar
Percalços da elaboração
que atua nas escolas estaduais de Ensino Fundamental da Diretoria Regional de Ensino da
Capital – Leste 4. Esta Diretoria de Ensino abrange os bairros de Vila Matilde, Cidade
88
Primeiramente, havíamos pensado em organizar um experimento de dezesseis horas,
com quatro encontros semanais de quatro horas cada um, para que fosse possível finalizar
de uma semana entre um encontro e outro favoreceria o processo, uma vez que, neste
período, o professor teria tempo de refletir sobre a experiência anterior e trazer novas
Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (SEE) que restringia a saída de professores
da sala de aula para atender a convocações da Diretoria de Ensino para orientações técnicas
nas Oficinas Pedagógicas.111 Esta medida limitava também o número de horas que uma
o máximo permitido para a convocação dos professores com o mínimo necessário para que
ele fosse viável apenas para os propósitos da pesquisa, mas que proporcionasse aos
professores uma experiência significativa que pudesse desencadear uma nova percepção
111
Setor da Diretoria de Ensino responsável pelas ações descentralizadas de formação dos professores. As
ações centralizadas são de responsabilidade da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas da
Secretaria da Educação.
89
sobre o fenômeno teatral e também um desejo de ler e conhecer mais sobre o universo
literário.
dimensão de seus conhecimentos neste universo? O que será descoberta para eles no
com a clareza de que não teríamos condições de contemplar todos os gêneros literários e
tampouco propor uma seqüência de jogos que garantisse o refinamento artístico das cenas.
para ativar a imaginação, uma parte expositiva que traria formas diferenciadas de narrar na
escolar, por ser ele o portador de um dos modos de contar (aquele que desvela somente a
112
PUPO, 2003.
90
palavra essencial e resiste em fazer a mediação entre esta e o leitor na elaboração da cena
encaminhamento adequado para um trabalho com o gênero dramático sem cair nas
literários
das atividades. Em seguida, fizemos uma rápida exposição dos objetivos do encontro e
um fio analítico para compreender o trajeto percorrido pelo grupo na apreensão de todo o
processo. Para isso, ao final de cada conjunto de atividades, seria solicitado a eles que
exterior, ou seja, registros que não fossem provocados por perguntas ou excertos sobre o
assunto, mas que desvelassem suas impressões após o experimento. Durante a leitura da
programação do dia, cuidamos para que a descrição de cada uma das atividades não fosse
91
demasiadamente detalhada para garantir a participação do grupo desvencilhada de
círculo.
mas de desprender as amarras que impedem uma participação mais espontânea. Por isso,
atividades lúdicas, bem como de suscitar neles o prazer de estar ali e de brincar, provocar
neles o desejo de enfrentar desafios e deixá-los estimulados para a participação nos jogos
produzido em quatro tempos, nos quais dois tempos eram marcados com a batida das mãos
sobre as coxas, seguida de palmas (um tempo) e, finalmente, o estalo de dedos que
marcavam a sílaba forte do nome pronunciado. A regra acordada com o grupo era de que
coordenação motora, ritmo, concentração e tensão113 na medida em que exigia que cada um
113
O termo “tensão”, neste contexto, tem o sentido de apreensão vigilante, um estado de alerta pronto para
responder aos estímulos externos.
92
A segunda atividade114 foi apresentada como um desafio, já que acrescentaria à
para a direita e para a esquerda em oito, quatro, dois e um tempo, ao som rítmico produzido
prepará-lo para a participação nos jogos de improvisação teatral que viriam ao longo do dia;
após as investigações ao longo do dia. Para tanto, foram sugeridos, de início, desafios
possíveis de ser cumpridos coletivamente para que cada um dos participantes não se
Pode-se afirmar que os objetivos foram alcançados, uma vez que todo o grupo
próximo passo.
114
Adaptação de jogo preparatório que propõe a exploração de ritmos e gestos extraído do livro Pedagogia do
teatro: provocação e dialogismo (DESGRANGES, 2006, p. 105).
93
Apresentamo-nos de forma descontraída, usando ritmo. Foi diferente e ajudou-nos
A apresentação foi muito divertida, depois do impacto da explicação, pois fez com
Foi um momento que, além de diferente, (foi) também descontraído, ou seja, foi
uma apresentação totalmente diferente devido aos movimentos. (Profa. Maria de Jesus
extraíram delas ações pedagógicas possíveis de ser desenvolvidas com seus alunos.
manifestado por alguns em palavras ou expressões faciais, da exposição diante dos colegas,
uma vez que as propostas envolviam o desempenho do corpo para o seu desenvolvimento.
tema do artigo discorrendo sobre como o Ocidente, de um modo geral, “avaliou o corpo a
115
In: VILLAÇA, GÓES, 2001, p. 131.
94
partir de pré-conceitos morais, estéticos, ideológicos e filosóficos, comprometendo o
Parafraseando a máxima existente neste artigo de que “não se representa o corpo por
si mesmo, mas em função da idéia que dele formamos”, podemos afirmar que não se espera
do corpo os movimentos que ele é capaz de coordenar nem o que ele é capaz de expressar
por si mesmo, mas em função dos limites expressivos e de movimento impostos a ele
com as diferentes manifestações artísticas, a percepção de que o corpo traduz, nas suas
papel que exerce no mundo em que está inserido a partir das lentes constituídas por uma
Em que momento histórico estamos vivendo? Qual é a nossa relação com o corpo e
de que forma nos colocamos diante do mundo? Um outro fragmento do artigo de Villaça e
Góes nos informa, sob um ponto de vista filosófico, sobre as ondas de ascensão e queda
95
configurações culturais dão testemunho de um corpo lúdico, de um corpo participativo que
homem nas narrativas de tradição oral, nos poemas épicos, nos contos e lendas africanas ou
orientais, na ficção científica, nas lendas urbanas etc, que desvela ora um corpo heróico,
Seria muito relevante para os professores que atuam na Hora da Leitura que
possibilidades do corpo por meio de jogos. Tais ações poderiam também promover uma
reflexão mais apurada acerca das representações do corpo na literatura como, por exemplo,
Concluímos, após a análise dos registros dos professores no diário de bordo que a
de seu próprio corpo observadas no momento da explicação do jogo foram superadas, como
Deprá Grillo)
116
Ibidem. p.132.
96
Muito criativo, não conhecia essa apresentação; trabalha com a memória e o corpo.
Foi uma dinâmica, uma atividade diferente para descontrair e utilizar a mente e o
participantes deste grupo apresentaram impressões mais focadas no prazer de jogar. Eles
Braga)
das mesmas. Para narrar a cena, o jogador deveria ler a fotografia produzida pelos colegas e
117
Jogos adaptados de experimento desenvolvido pelo ator e diretor Luiz Gustavo Trestini, em orientação
técnica para assistentes técnico-pedagógicos responsáveis pelo projeto Hora da Leitura, promovida pela
Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo (SEE)
no ano de 2007.
97
investigação seria uma narrativa que traria a cena fixada na fotografia e a visão conotativa
Este jogo foi escolhido para o experimento com professores de Língua Portuguesa
considerar pelo efeito que está implicado pela obra, e a experiência do leitor, que demanda
entre os dois lados da relação texto e leitor. Ou seja, entre o efeito, como o momento
sociedade.118
Os vinte e oito professores dividiram-se em dois grupos. Foi solicitado a cada grupo
que escolhesse uma situação do cotidiano e montasse três cenas fixas que fossem capazes
de mostrar a história, como se fosse uma tirinha de jornal, mas sem falas. Descrição e
118
JAUSS, 2002, p. 73.
98
4. Terminada a montagem, o narrador volta-se para o grupo-atuante, observa a
sua observação.
segunda fotografia.
terceira fotografia.
saber da história acordada pelo grupo-atuante, narrou aos colegas a leitura que fazia da
mesma, surgindo daí uma outra história. O grupo-espectador fez seus comentários, o grupo-
trajetória: “Uma mãe que vira a filha e seus amigos de escola fumando maconha durante
uma reunião de grupo na sala de sua casa (fotografia 1); desesperada, telefonou para o
Diretor da escola com o propósito de ser aconselhada sobre como deveria proceder em tal
situação (fotografia 2) e foi com a filha até a escola para que o Diretor conversasse com a
99
filha, que continuava com o ‘baseado’ na mão num gesto desafiador (fotografia 3)”. O
pela Diretora da escola (fotografia 1); esta ligou imediatamente para o pai da aluna que foi
flagrada com o cigarro na mão (fotografia 2); ele veio até a escola e, mesmo diante do pai e
O relato do narrador foi bastante parecido com a história retratada nas fotografias,
mas houve a inversão dos papéis da mãe, que passou a ser a Diretora da escola, com a do
Diretor que passou a ser o pai. Esta inversão também foi responsável pelo deslocamento da
ação para a escola. No confronto das duas narrativas, perguntamos aos dois grupos o que
poderia ser alterado para que se tornasse mais evidente o papel da mulher. O grupo-
expressão facial a surpresa e o choque de quem flagra a filha e que se colocasse de modo
furtivo – olhando pela fresta de uma porta entreaberta, por exemplo – para indicar que a
muita polêmica e merece uma descrição detalhada de cada uma das fotografias.
Fotografia 1: Três pessoas sentadas ao redor de uma mesa: uma escrevendo em algo
que poderia ser uma máquina de escrever ou um notebook; a segunda, olhando para a
100
primeira com as mãos postas sobre a mesa; e a última olhando para as outras duas pessoas,
com os cotovelos sobre a mesa, os pulsos reunidos e as mãos postas de modo que braços,
da outra. Uma delas segurando folhas de papel com as duas mãos erguidas mais ou menos
segunda fotografia, sentadas em fileiras de três cadeiras, uma falando ao celular, outra
entediada, outra com as pernas espremidas entre duas cadeiras, as demais simplesmente
telefonema de uma outra pessoa que está sendo esperada (fotografia 1); esta os avisa que
vai atrasar-se porque está presa no trânsito (fotografia 2); mas ela não consegue chegar
ocorrência.
mas, naquele dia, tudo estava acontecendo na cidade e a delegacia superlotou. A advogada,
perdida em meio à multidão, tentava comunicar-se com sua cliente pelo celular.
101
No confronto das duas narrativas, alguns componentes do grupo-atuante
defenderam as escolhas feitas dizendo que, na primeira fotografia, haviam trabalhado com a
imagem da mulher com os punhos unidos como uma forma de comunicar a mensagem que
havia recebido pelo telefone, ou seja, colega presa no trânsito; na terceira fotografia, o
das escolhas feitas para a construção do discurso e declararam que teriam defendido outras
tentou contá-la. Para isso, recorreu a estratégias de jogos de adivinhação em que o jogador
revelador do enigma. Optando por esta solução, o grupo não tornou visível aos
pretendia mostrar.
Spolin119 que se define pela capacidade do jogador-ator tornar visível aos jogadores-
espectadores ações, objetos ou funções sem o uso de recursos cênicos (figurinos, adereços,
119
SPOLIN, 2005, p. 13-15.
120
Ibid.
102
Quando o ator aprende a comunicar-se diretamente com a platéia através da
linguagem física do palco, seu organismo como um todo é alertado. Empresta-se ao trabalho
e deixa sua expressão física levá-lo para onde quiser. No teatro de improvisação, por
exemplo, onde pouco ou quase nenhum material de cena, figurino ou cenário são usados, o
ator aprende que a realidade do palco deve ter espaço, textura, profundidade e substância –
isto é, realidade física. É a criação dessa realidade a partir do nada, por assim dizer, que
torna possível dar o primeiro passo, em direção àquilo que está mais além. O ator recria a
Perguntamos aos dois grupos o que poderia ser alterado para que as fotografias
conseguissem comunicar a história que o grupo-atuante desejava mostrar. Foi sugerido pelo
Fotografia 2: Mulher falando ao celular, olhando para seu relógio, e homem à mesa,
colega.
haviam imposto a sua proposta de montagem das fotografias aos demais ficaram
discurso elaborado por eles tentou sustentar. Por outro lado, a réplica dos jogadores-atores
121
Ibid.
103
também é bastante relevante, uma vez que ela explica o projeto inicial e permite que, sem
de Esopo. O primeiro grupo deveria montar três fotografias que narrassem a fábula A
mulher e a galinha122 e o segundo grupo deveria montar fotografias que narrassem O lavrador e a
serpente congelada.123
A mulher e a galinha
Uma viúva tinha uma galinha que punha um ovo por dia. Imaginando
que, se desse à galinha mais cevada, ela poria dois ovos, passou a fazer isso.
Mas a galinha ficou gorda e já não podia botar nem mesmo um ovo por dia.
sentiu pena dela, pegou-a e a pôs em seu colo. Aquecida, ela voltou ao
122
ESOPO, 2004.
123
Ibid.
104
O grupo-atuante de A mulher e a galinha utilizou as escadas que levavam ao palco
como poleiros.
protagonista se destacava das demais, colocando-se mais à frente, botando ovos (folhas de
botadeira foi substituída por uma colega de constituição corpórea maior para demonstrar
grupo-atuante havia trabalhado com uma fábula de Esopo, mas ignorava qual delas teria
sido, apresentou-se para narrar aos demais a leitura que fazia de cada fotografia
apresentada. Sua narrativa aproximou-se bastante da história original. Além disso, sua
parabenizando os colegas pela atuação. O grupo-atuante, feliz com seu desempenho, deu
Com a intenção de suscitar uma reflexão mais apurada do jogo, perguntamos aos
jogadores-atores por que haviam feito a opção de trocar a protagonista para comunicar a
proposta que os deixou mais seguros para mostrar a história. Outras propostas foram
105
Então, perguntamos aos jogadores-espectadores se haveria uma outra solução que
primeiro grupo, ou seja, sem a possibilidade de uso de recursos externos ao jogador, a troca
corporal. O jogo proposto não possibilitava o uso da linguagem verbal, mas proporcionava
a exploração das possibilidades expressivas corporais. Um outro aspecto que restringiu suas
uma relação visual inequívoca (galinha magra / mulher magra; galinha gorda / mulher
gorda).
reconhecer, apreciar e fazer uso de metáforas em textos verbais, mas, quando o texto a ser
produzido deve surgir das possibilidades expressivas de seu próprio corpo, o salto para o
a uma floresta constituída por muitas árvores secas pelo inverno e, à esquerda da cena, jazia
em seu colo.
Fotografia 3: A serpente está mordendo a perna do lenhador, que jaz sobre o solo da
106
Como não houve a apresentação espontânea de um narrador, destacamos um dos
participantes do grupo-espectador para narrar aos demais a leitura que fazia de cada
fotografia apresentada.
da boca. Segundo eles, em vez de uma língua bifurcada, aquele acessório mais parecia
representar dois grandes dentes de esquilo, fato que prejudicou um pouco o entendimento
da história. Perguntamos o que poderia ser alterado para que a comunicação fosse
sinuosa. Para isso, sugeriram uma cobra representada por dois jogadores. O grupo-atuante
acatou a sugestão, incorporando-a em uma nova composição que foi aceita por todos.
algo que deveria ser rejeitado de antemão a algo que poderia ser considerado para a
construção democrática da cena. Aos poucos, a idéia de intervenção caia por terra e se
107
A criatividade de narrar através de fotografias, ou seja, cenas representadas pelos
professores, é muito importante e faz com que nós reflitamos sobre a cena e criemos uma
apresentando. Aos poucos a pessoa se liberta e interage de forma mais completa. (Profa.
quadro a quadro, construa ganchos para engatá-los um ao outro, ou seja, formule previsões
narra aos demais uma história que não vem de seu repertório de experiências e cujo final
ele desconhece .
Toda a vez que o leitor chega a reconhecer no universo da fábula [...] a atuação de
uma ação que pode produzir uma mudança no estado do mundo narrado, introduzindo assim
novos cursos de eventos, ele é induzido a prever qual será a mudança de estado produzida
124
ECO, 1986, p. 93.
125
O termo fábula está empregado, neste parágrafo, na concepção dos formalistas russos, retomada por Eco
(1986, p. 85): “Fábula é o esquema fundamental da narração, a lógica das ações e a sintaxe das personagens, o
curso de eventos ordenado temporalmente. [...] O enredo, pelo contrário, é a história como de fato é contada,
conforme aparece na superfície, com as suas deslocações temporais, saltos para frente e para trás (ou seja,
antecipações e flash-back), descrições, digressões, reflexões parentéticas”.
108
[...] é sem dúvida por passeio inferencial que num filme de bangue-bangue – se o
xerife está apoiado no balcão do bar do saloon e o bandido lhe aparece pelas costas –
prevemos que o xerife o perceba no espelho atrás das garrafas de bebida e se vire de repente,
confirmação (ou não) dos mesmos, na continuidade da atividade, com a exibição das
[...] o ato de narrar uma cena sem saber do assunto foi muito bom, pois as formas
Ver nem sempre significa saber o que estamos observando; então narrar o que as
pessoas estão mostrando não é sempre o que realmente é. (Profa. Tatiana Iglesias Gumieri)
professores que atuam nas salas de Ensino Fundamental, é como planejar atividades
significativas e ao mesmo tempo interessantes para os alunos, afim de que todos se sintam
envolvidos e com vontade de participar. Com o foco voltado para esta problemática, um
por eles como um fator favorável para a sua aplicabilidade em sala de aula.
126
Ibid., p. 94-99.
109
Gostei muito dessa forma de narrar, pois precisa da colaboração e atenção de todos
prática docente também foi evidenciada como um dos resultados conquistados no processo
de investigação.
Observar às vezes é um ato que passa despercebido no dia-a-dia, assim com essa
atividade podemos nos policiar melhor e observar os alunos na hora da leitura. (Profa.
Regina da S. Braga)
coletivamente, em que cada um colabora com sua experiência. Segundo estes professores,
proposta.
110
Foi muito interessante, uma dinâmica interacional, onde foi aplicada a questão da
visão de mundo individual e coletiva. Também neste momento foi possível ter um momento
organizar em tópicos principais, para que a essência do que fora investigado se ordenasse
de modo a facilitar futuras leituras e reflexões ou, ainda, para extrair uma síntese de todo o
processo.
Narrando o que estava nas fotografias, relatando. (Profa. Miriam Ap. dos S.
Ontoria)
demais jogadores-espectadores, por sua vez, confrontavam a leitura feita pelos jogadores-
atores na elaboração das fotografias, com a leitura das imagens transformada em história
111
Jogos de improvisação teatral como este são excelentes oportunidades para que seja
recepção. Um outro aspecto que pode ser explorado neste jogo é o ato de leitura enquanto
uma saudável e necessária fluidez processual, que solicita do leitor o desapego à rigidez de
mulher de mãos atadas em uma delegacia. / Ela estava sentada ao lado do delegado e da
escrivã. / A mulher estava escrevendo o que o delegado ditava. / Etc.) Nenhum dos
menos explícito. Ambos fizeram a descrição das fotografias como se os demais não as
estivessem vendo, como se fossem narradores esportivos de uma estação de rádio. Neste
momento, instruíamos para que eles focassem na elaboração da história. Não houve, nesta
vontade diante de um gênero muito conhecido e trabalhado por eles, o que descartou a
112
3. Jogo com texto: leitura do poema A última nau
Xi – A Última Nau
127
PESSOA, 1980, p. 58.
128
Esta atividade foi inspirada na seqüência de jogos desenvolvida nas aulas de Ingrid Dormien Koudela na
disciplina “Teoria e prática da peça didática de Bertolt Brecht”, no curso de pós-graduação em Artes Cênicas
da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, no ano de 2005.
113
Variação de caminhada no espaço129 – Foco: sentir o espaço com o corpo todo e se
movimentar no espaço
espaço. Seguindo nossas instruções, enquanto caminhavam, dirigiam sua percepção para a
forma do corpo no espaço e para como este corpo invade e abre caminho pelo espaço.
Variação de extensão da visão130 – Foco: ver o outro e se deixar ver pelo outro
Os jogadores teriam de olhar nos olhos do outro, ver o outro e se deixar ver pelo outro,
deixar ver até que o grupo estivesse pronto para o jogo seguinte.
Ler e ouvir – Foco: ler o texto para si, para o outro e ouvir a leitura do outro
129
SPOLIN, 2001, fichas A6, A7 e A8.
130
Ibid., ficha A20.
114
sempre que se sentissem prontos a dizê-lo, mas sem que atropelassem um outro colega. O
jogo foi sustentado até que um coro formou-se espontaneamente. Aqueles que haviam
o primeiro grupo apresentasse as duas primeiras estrofes inspirando-se na idéia do coro que
havia surgido no jogo e que o segundo elaborasse a apresentação das duas últimas estrofes
explorando o espaço. Os dois grupos, depois de elaborarem suas propostas, deveriam reuni-
física que estavam disponíveis no ambiente. Enquanto remavam, liam o poema. No entanto,
o fato de ainda estarem presos à leitura e, portanto, tendo de segurar uma folha de papel em
uma das mãos, impossibilitava que a cena se concretizasse tal como havia sido pensada
pelo grupo. Na avaliação com todos os jogadores, surgiu então a idéia de substituir os
bastões e marcar o ritmo da leitura das duas primeiras estrofes com a batida dos pés, como
que se dispersava, a partir da “nau” constituída pelo outro grupo, para diferentes direções
conseguiram proferir com maior naturalidade o primeiro verso por causa da interjeição
“Ah” que o introduz. Concordando com a nossa sugestão, o grupo retornou ao campo de
115
jogo e, apenas com os três primeiros versos daquela estrofe, jogaram com a variação de tom
desta atividade, que envolveu uma variação de jogos teatrais com a leitura de um texto,
comunicá-lo.
Muito bom esse momento. O primeiro grupo lia no meio do salão as duas primeiras
estrofes; a nau. O segundo grupo lia de forma dolorida, introspectiva, as duas últimas
estrofes. Foi o momento em que mais percebi que devemos fazer o aluno gostar do texto, e
Com esta atividade podemos ver que, quando estamos concentrados em algo, não
importa o barulho ao redor que não atrapalha e também (podemos) perceber as diferentes
são possíveis de se trabalhar em sala de aula e aqueles que não o são. Já o professor Isaac
116
talvez tenha relacionado a sua experiência no jogo com algumas representações construídas
Leitura é que eles permitem ao professor desenvolver com seus alunos a noção de
sobre a atividade por lhes escapar, naquele momento, o conceito mais adequado, dois
outras vias, no caso, por meio da elaboração coletiva de um discurso cênico apoiado nas
Uma leitura que trabalha várias formas e olhares diferentes. Leitura silenciosa ou
Outros registros enfatizaram o uso que poderiam fazer daquela experiência para a
[...] já estou cheia de idéias para a sala de aula. (Profa. Maria de Jesus Machado
Pires Ferraz)
117
Exercício lúdico [...], utilizando o sincronismo de leitura e movimentos. Um
exercício que tira a pessoa da mesmice de uma simples narração. (Profa. Maristela Deprá
Grillo)
Esta leitura também foi um momento de criação, válido para a prática na sala de
aula e da leitura, tratando de maneira lúdica o texto literário. (Profa. Vanessa Cristina
Barboza Alves)
Uma outra categoria de registros é composta por depoimentos que externaram, entre
trecho do texto e assim modifica o sentido do mesmo. (Profa. Patrícia Aparecida Moreira)
Foi surpreendente, adorei trabalhar com a entonação (dos) Ah! Ah... (Profa. Maria
A leitura do poema caminhando foi bom, depois frente a frente, em trios e enfim
uma breve apresentação dos conceitos básicos dos jogos de improvisação teatral, bem como
118
do contexto histórico em que eles ganham amplitude. Em seguida, relacionamos alguns de
Após a pausa para o almoço, precisávamos retomar o ritmo das atividades e resgatar
o nível de concentração alcançado pelos jogadores no final da manhã. Para isso, iniciamos
com um jogo aparentemente simples, que não envolvia deslocamentos espaciais, mas que
trabalhar no sentido de reacender neles o prazer de narrar e ouvir histórias. Alem disso, o
O jogo
dos integrantes do grupo iniciaria uma história e, sempre que fizéssemos um sinal, o
participante, sentado ao lado daquele que iniciou, teria de dar continuidade à narrativa que
119
Experiências anteriores em cursos de formação de professores nos ensinaram que,
encontradas pelo uso de expressões ou enunciados como “de repente”, “aí, ele acordou” ou
ainda “tudo não passava de um sonho”, que permitem uma alteração aguda do enredo e
facilitam o ajuste da proposta de continuidade que eles vinham elaborando desde o início da
atividade.
Para evitar tal recurso e manter a tensão do improviso, apresentamos duas regras ao
de cada uma delas, os jogadores escolheram duas personagens e um lugar (quem e onde). O
motivo (o quê) das personagens estarem no lugar escolhido deveria ser construído pelo
O grupo sugeriu que a história envolvesse uma médica e uma bailarina e que se
120
História 1131
131
Fatos ordenados que sustentam o texto original produzido oralmente pelos professores.
121
A história, que deveria ser encerrada com o participante à direita de quem iniciou,
foi concluída antes de chegar à metade do círculo formado por vinte e nove pessoas
Questionamos sobre a causa da narrativa ter sido construída sobre uma estrutura cíclica, em
que o enredo sempre se repetia por gerações e gerações de irmãs médicas e bailarinas que
personagens na história em apenas uma, que era, ao mesmo tempo, médica e bailarina. Esta
“pretendente” para a médica-bailarina, com quem ela casou e teve duas filhas que
grupo onde os acontecimentos a ser narrados deveriam acontecer de acordo com a sugestão
do próprio grupo. Junto com a resposta, veio a constatação de que a perda da referência do
onde acordado pelo grupo (no palco de um teatro) diluiu no tempo e no espaço o conteúdo
nasceram meninas que cresceram, casaram, deram à luz outras meninas, que cresceram,
casaram, indefinidamente.
122
Estas reflexões desequilibraram os participantes e os fizeram perceber a distinção
grupo com objetivos bem definidos a ser conquistados, ou seja, elaborar uma narrativa com
os elementos essenciais de que ela necessita para ser conceituada como tal: enredo,
do grupo diante do percurso insólito para o qual a história enveredava – a face da reflexão
O jogo foi reiniciado pela participante à esquerda daquela que havia encerrado a
História 2133
132
GANCHO, 1995, p. 9-29.
133
Fatos ordenados que sustentam o texto original produzido oralmente pelos professores.
123
São animais de toda espécie: cães, gatos, capivaras, jacarés...
Até que o casal se separa e vai para o tribunal lutar pela guarda da criança.
A família da garota tem uma vida harmoniosa, o que faz o rapaz pensar na mãe e tentar
uma reaproximação.
O rapaz comenta com o pai, que pede para a polícia investigar a ex-mulher.
enredo na segunda história; ainda assim, enfrentou algumas dificuldades para concentrar a
narrativa em algo relevante da experiência das personagens que precisa ser contado. Ao
124
Em que pese o fato das duas produções orais do grupo terem reduzido as narrativas
No contexto em que a primeira atividade da tarde foi aplicada, não era realmente
esperado que se extraísse dela uma grande elaboração. Muitos fatores conspiravam para
que isto não ocorresse. Os professores que, até então, não se conheciam, ainda tateavam na
relação uns com os outros, o que impedia um pouco mais de segurança e espontaneidade na
disso, a tensão provocada pela participação em uma atividade de criação oral, desenvolvida
sob uma atmosfera inspirada pelo lúdico, fez com que os professores descuidassem de
elementos da estrutura da narrativa que são constantemente trabalhados por eles em sala de
jogo suas impressões sobre a co-participação autoral de cada um deles e suas implicações
Esta atividade é realmente desafiadora, pois nunca sabemos como a história será
Barboza Alves)
125
Narrar é deixar a imaginação flutuar, sem tirar os pés do chão, para dar seqüência
para o improviso.
deve-se continuar a história de onde o colega anterior parou. (Profa. Roseli Aparecida da
Costa)
Foi muito interessante porque exige rapidez na criatividade e daí surgem coisas
requerida na atividade.
Brincar de narrar fez com que nós criássemos a partir de um objeto que não
126
Criar de maneira lúdica; buscar maneiras concretas para a execução de histórias.
A brincadeira, digo dinâmica em que se jogam palavras e todos têm que continuar a
história, é muito difícil, pois intimida e assusta quando você tem que participar desta mesma
momentos vivenciados pelo grupo. Confrontamos alguns pontos destes aspectos com as
O narrador
alertava para o fato de que “a arte de narrar está em vias de extinção”. Segundo ele, tal
experiência cotidiana nos avisa de que um homem não é um narrador, mas o narrador – esta
sutilmente delineadas e, ainda assim, a sua figura só nos é tangível quando o nosso olhar
134
BENJAMIN, 1994, p. 197-206.
127
Narrar é trocar experiências significativas, daí decorre o desconforto e o
constrangimento das pessoas quando lhes é solicitado que narrem uma história para um
grupo.
devidamente porque cada vez mais “as ações da experiência estão em baixa”. Benjamin
referenciados por dois grupos: do narrador que irrompe do viajante ou do forasteiro que
narrador que brota do homem fixado na sua terra e que, portanto, conserva consigo toda a
memória do lugar.
si, mesmo que de forma latente, alguma dimensão utilitária, que pode consistir em um
[...] o narrador é um homem que sabe dar conselhos. Mas, se “dar conselhos”
parece hoje algo de antiquado, é porque as experiências estão deixando de ser comunicáveis.
[...] O conselho tecido na substância viva da existência tem um nome: sabedoria. A arte de
narrar está definhando porque a sabedoria – o lado épico da verdade – está em extinção.136
135
Ibid.
136
Ibid.
128
Benjamin elucida historicamente o advento da informação como ação privilegiada
Ela não está interessada em transmitir o “puro em si” da coisa narrada como uma
retirá-la dele. Assim se imprime na narrativa a marca do narrador, como a mão do oleiro na
argila do vaso. [...] Assim, seus vestígios estão presentes de muitas maneiras nas coisas
Benjamin em seu ensaio, a autoridade que nos impõe a narrativa de não se explicar para
Quando o rei Psammenit foi derrotado e reduzido ao cativeiro pelo rei persa
Cambises, este resolveu humilhar o seu cativo. Deu ordens para que Psammenit fosse posto
137
Ibid.
138
Ibid.
129
Organizou esse cortejo de modo que o prisioneiro pudesse ver sua filha degradada à
silencioso e imóvel, com os olhos no chão; e, quando logo em seguida viu seu filho,
Mas, quando viu um dos seus servidores, um velho miserável, na fila dos cativos,
experiências não comunicáveis da guerra, a que Benjamin se refere no texto, com a situação
seu papel social. Outros relacionaram-nas à degradação humana imposta pelo conflito que
se esconde sob o manto da normalidade nas grandes metrópoles e que inflige às pessoas um
estado de subjugação constante. Neste caso, a figura ameaçadora do soldado inimigo pode
se revestir de cidadão comum que, no trânsito da cidade, nos estádios de futebol, nas
pelos correios eletrônicos. Quantas mensagens uma pessoa recebe por dia? Quantas delas
são direcionadas estritamente a ela? Pessoas de uma lista de contatos recebem mensagens
do valor da amizade.
130
Mediocridade e loucura. Teixeira aponta algumas provocações lançadas pelo poeta e
ensaísta. Uma delas seria a meta da televisão “em chegar ao não-programa, ao zero de
significado e transmitir sinais eletrônicos que geram apenas o equivalente massificado dos
significado?
jogadores. Aquele que fala é ouvido pelos demais porque repousam neste diálogo as
soluções para o problema abordado ou o alimento para novas inquietações, como foi o caso
posicionamentos de outros colegas, até que estes se sintam à vontade e seguros para fazê-lo
elaborações criativas.
para enrolar folhas de papel de alumínio) e orientamos para que cada um olhasse para ele,
imaginasse um objeto possível e, com um verbo de ação, completasse a frase: “Com esse
140
Ibid., p. 29.
131
objeto eu posso...”, acompanhado de gesto que expressasse a tal ação. Se o objeto
imaginado fosse, por exemplo, uma bengala, a frase seria “Com essa bengala eu posso
caminhar com segurança”. A regra estabelecida com o grupo foi de que não houvesse
repetição.
No início do jogo, surgiram frases feitas para comunicar situações práticas do dia-a-
dia (Com esse objeto eu posso mexer na panela, bater um bolo, abrir a massa, varrer a
casa...). Aos poucos, foram surgindo sentidos contestatórios para os objetos (levantar uma
bandeira por aumento de salário, lutar pelos meus direitos, defender os meus princípios...)
e, por fim, surgiram soluções mais alegóricas para o objeto (nariz de pinóquio para mentir,
mesmo. Desta vez, todos deveriam imaginar que aquele objeto era uma espada: “Com esta
espada eu posso...”. Assim, a variação não seria mais com o objeto e a ação, mas somente
imaginar vinte e oito objetos diferentes para um cilindro de papelão. Vencido o primeiro
desafio, a proposta de que todos teriam de pensar em vinte e oito ações diferentes para uma
O grupo conseguiu criar vinte e oito diferentes possibilidades para a espada. Como
no exercício anterior, os jogadores partiram de soluções mais óbvias até chegar às propostas
esgrima, matar meu inimigo, lutar pelo meu país...); depois, como instrumento para o corte
(ceifar a mata, abrir uma picada...), uma posição ou uma ocupação (ser um samurai,
132
trabalhar em um circo...), um estado de espírito (ser justa, ficar com a espada sobre a
A superação das relações mais comuns entre o objeto e a ação pelo esgotamento das
possibilidades dos jogadores fez o grupo principiar uma caminhada “pelos bosques da
A parte que mais gostei, pois leva a pessoa a pensar nas mais inusitadas formas de
Grillo)
Nós pudemos enxergar mais além do que o concreto. Usamos a imaginação. (Profa.
141
Referência ao livro Seis passeios pelo bosque da ficção, de Umberto Eco, em que ele discorre sobre os
modos de recepção nos textos ficcionais (ECO, 2002}.
133
As diferentes possibilidades surgidas durante a atividade – para além dos aspectos
mais evidentes dos objetos – foram lembradas em muitos registros como um exercício para
a imaginação.
Raciocinar, refletir, criar. Dar “asas” à imaginação, mil idéias surgem. (Profa. Vera
Alencar)
Foi uma atividade que, além da criatividade, foi divertida. (Profa. Maria de Jesus
Gersivânia S. Brito)
6. Um parêntese necessário
professores a perceber que, assim como os textos literários, outras produções artísticas
134
poderiam ser colocadas em jogo e que a investigação acerca do ato de leitura com os alunos
nas escolas não precisa ficar restrita às obras literárias. Além disso, a atividade pretendia
aguçar o professor a romper com a forma tradicional de receber a obra, ou seja, aquela em
que o leitor preocupa-se essencialmente com a fábula que está presente no enredo, e voltar
a sua atenção também para o sentido produzido na forma em que se constitui o texto.
literário.
espera ansiosa pelo final (o happy end), acompanhado de um forte envolvimento na ação.
Pedimos aos professores que, além das perguntas que normalmente fazemos para
compreender o conteúdo de algo que nos é comunicado (O que aconteceu? Quando e onde
isso aconteceu? Quem estava envolvido? Quem está falando conosco? Por que aconteceu
142
DELDIME, 1990, p. 96.
135
desta maneira?), que também se perguntassem “Que escolhas foram feitas para narrar?”, “O
que isto significa?”, uma vez que, nesta atividade, nosso interesse estava mais direcionado à
conteúdo narrado, embora esta não possa ser ignorada para a compreensão daquela.
Paroara
143
FAGNER, HOLANDA e NILO, 1990.
144
FURTADO, 2003.
145
WEBBER, 2003.
146
BURTON, 2005.
136
Catamos os bagulhos da gente
Nossas maravalhas
Joguei um balde d’água num crente
Que encheu a cara
Guardei minha jaqueta de veludo
Tava uma fornalha
O gringo andava todo saliente
Com a minha Theda Bara
– Tá na hora
– Paroara
– Vam’embora
– Pau-de-arara
– Theda Bara
– Pau-de-arara
– Sayonara
deseja satisfazer todas as suas expectativas com relação a viver em um grande centro
metropolitano. O olhar do narrador salta de uma cena para a outra como a lente de uma
câmera de cinema e descreve os flashes extraídos do cotidiano das ruas do centro da cidade
com camelôs, videntes, brigas, mercados de troca. A compra de uma jaqueta de veludo em
ascensão. Cenas de degradação se seguem até que ele “cata os seus bagulhos e cura o
seqüência de recortes de conversas e desentendimentos indicam que tudo vai culminar com
chegada ou a de seus pais em São Paulo. Alguns narraram a sensação impactante e o medo
recordaram da primeira roupa que compraram. Uma das professoras confessou que veio
137
para São Paulo ainda criança e que o seu sonho era ver a chuva e, no dia em que chegou,
estava chovendo!
quando solicitamos a eles que opinassem a respeito dos recursos utilizados pelos autores
para nos contar aquela história, mesmo estimulados por perguntas (Como o narrador vê os
eventos? Ele está parado, está caminhando? Como os seus olhos observam o entorno?),
poucos se arriscaram.
Sinopse:
precisa desesperadamente de trinta e oito reais para impressionar a garota dos seus sonhos,
Sílvia, que mora no prédio em frente e trabalha como balconista em uma loja de artigos
femininos. Ajudado por seu amigo Cardoso, e depois também pela colega de trabalho
Marinês, André faz muitos planos para conseguir dinheiro, e todos dão certo, mas por causa
e André percebe que não tem dinheiro suficiente para pagar todos os itens, iniciando uma
negociação para saber o que vai e o que fica. A moça do caixa sugere que ele deixe para
trás o que ainda não passou pela leitura eletrônica, mas ele argumenta que precisa dos
fósforos. O gerente é chamado para desbloquear o caixa e usa dos mesmos argumentos da
138
moça, mas André, que só tem onze reais e poucos centavos, está irredutível. Ele precisa dos
fósforos!
pessoas que espera pela definição do impasse sem se manifestar. Os vazios silenciosos da
diária, de sua mãe, de seus desenhos, de seu trabalho, de sua colega de trabalho, do seu
patrão, Seu Bolha,, da esposa do patrão, Dona Bolha, e do bolhinha. O narrador, para
enfatizar a falta de perspectiva e o tédio que a rotina do trabalho impõe a ele, utiliza o
fotocopiadora.
Sinopse:
Século XVII, Delft, Holanda. Por causa de dificuldades financeiras, uma jovem
moça de família protestante vê-se obrigada a trabalhar como empregada doméstica na casa
de Johannes Vermeer, um renomado pintor holandês. Aos poucos, ela vai chamando a
atenção do pintor pelo interesse que demonstra ter pela pintura e, assim, conquista a sua
139
confiança, até que o pintor elege a jovem sua musa inspiradora para a execução do quadro
patrões católicos, vai pela primeira vez limpar o estúdio do pintor Johannes Vermeer.
O artista, rigoroso nos detalhes, não permite que nada seja retirado do lugar; por
isso, o estúdio não pode ser freqüentado nem mesmo pela esposa do pintor. Esse fato
alimenta uma grande curiosidade na criada. Um dia, ela é incumbida de limpar o estúdio.
Sua expectativa sobre o que ela pode encontrar em um ambiente tão sacralizado pelas
pessoas da casa e as antecipações que passam pela sua mente enquanto se move pelo
corredor rumo ao estúdio são marcadas por closes do seu rosto ansioso e tomadas do
corredor que, ao fundo, oferece a visão de uma porta entreaberta que resplandece de uma
luz extremamente clara, anunciando a grande descoberta que está por vir.
Sinopse:
Rússia resolvem reunir seus interesses de ascensão social, por um lado, e fuga da falência,
por outro, com o casamento de seus filhos. No dia do ensaio da cerimônia de casamento,
140
Victor e Victoria se conhecem. Durante o ensaio, Victor mostra-se desastrado e desatento
ao proferir os votos nupciais, motivo que leva o padre a adiar a cerimônia. Constrangido e
humilhado, Victor sai caminhando pela floresta, indignado com sua performance, e começa
a ensaiar sozinho, até que, ao conseguir dizer todos os votos, casa-se acidentalmente com a
noiva cadáver.
história, em vez de utilizar a voz de um narrador, prefere tecer um fio narrativo puxado por
uma borboleta azul que sai pela janela do quarto do protagonista. Destacando-se em meio
pessoas e seus hábitos diários. Com o seu vôo sinuoso, ela ajuda na elaboração da
Mesmo com uma exibição única e, no caso dos filmes, de uma única cena, não foi
copiava porque estes se faziam notar pelo emprego da primeira pessoa. As personagens
141
corredor), em Moça com brinco de pérola, não foi registrada pelos professores. Nem a
delicadeza de uma borboleta azul que traçava em linhas sinuosas a atmosfera e o ambiente
palavras e enunciados); no entanto, para os dois últimos filmes, nenhum comentário foi
feito.
acabamos de relatar.
vida) ao qual ele dá forma e acabamento por meio de um material determinado – verbal, no
caso de que tratamos – que submete ao seu desígnio artístico, ou seja, ao desígnio que
reduzir-se apenas a um processo de elaboração do material verbal (do dado lingüístico), ele
142
deve ser, acima de tudo, processo de elaboração de um conteúdo determinado que, todavia,
códigos feitas pelos autores das obras apresentadas resultaram na elaboração do conteúdo
da narrativa. O narrador implícito em Moça com brinco de pérola dirige o nosso olhar e os
nossos sentidos para a cena, enquanto que o narrador de A noiva cadáver nos envolve no
podermos jogar com outras produções artísticas, acabou por revelar dificuldades dos
como o conteúdo, o material e a forma. Demonstrou, ainda, como esta circunstância impede
que estes professores efetuem para si (e, conseqüentemente, promovam para seus alunos)
147
BAKHTIN, 2000, p. 206.
143
7. Pinturas e poemas
produzissem uma cena inspirados pelas experiências do dia. Para tanto, solicitamos aos
XX. Propusemos a eles que escolhessem uma pintura e um poema e que, no confronto das
artes visual e literária, constituíssem um tema e tentassem dar a ele uma forma teatral. Para
tanto, solicitamos a cada grupo que utilizasse alguns recursos cênicos experimentados nos
jogos anteriores.
Eles poderiam, por exemplo, usar o recurso da imagem fixada como se fosse uma
visto na terceira atividade. Para a inserção do texto, eles poderiam lançar mão do recurso da
Primeira cena
O primeiro grupo a se apresentar elaborou a cena a partir do óleo sobre tela Meio-
144
a folha seca
dança no espaço
por todo o espaço cênico e ao redor dos “lavradores” como redemoinhos desenhados pelos
Segunda cena
148
ANDERSON, 1995.
149
BANDEIRA, 1993, p. 252.
145
[...]
A mesa posta,
Após uma caminhada pelo espaço, em que quatro jogadores repetiam várias vezes
os versos Quando a Indesejada das gentes chegar/ Encontrará lavrado o campo, a casa
limpa,/ A mesa posta,/ Com cada coisa em seu lugar, o grupo reproduziu a disposição dos
operários na pintura. Para isso, o grupo fez uso de um banco e dos degraus que levam ao
palco.
Terceira cena
150
PESSOA, 1980, p. 152.
151
PINACOTECA, 2003.
146
Se eu interrogasse e me espantasse
fosse um lavrador que insistia em ficar na sua terra, enquanto os demais componentes,
As apresentações das cenas marcaram o final das atividades do dia. Nas três
da manhã com o poema A última nau. O segundo grupo recorreu à idéia da fotografia e
encerrou a apresentação com uma cena fixa. O último grupo trabalhou com variantes de
147
adequadamente e demonstraram um significativo aprimoramento na compreensão do
teatral são eficientes para a apreensão sensível das produções literárias. Por outro lado,
prática, e socialização de experiências para esses professores, não só no que diz respeito à
leitor literário, foco do trabalho destes profissionais. Estas reflexões estão desenvolvidas na
148
V – Conclusão
Nos últimos trinta anos, uma grande concentração de estudos sobre a linguagem
passou a concebê-la como uma forma de interação entre os sujeitos no bojo das relações
sociais reside no interior das esferas de atuação humana, dada a situação de uso e
intencionalidade do mesmo.
si, da comunidade em que está inserido e do mundo? Ao longo destes trinta anos, estes e
Língua Portuguesa, deslocando-o do estudo das grandes categorias gramaticais para o uso
da língua.
grande onda provocada pela intensa produção teórica, neste período, atingiu (e vem
atingindo, porque estamos nos referindo a ela na esteira destas mudanças) de forma
recente desta distância. Ainda que alguns profissionais que atuam na escola procurem
149
que orientam o currículo, a sala de aula recebe reflexos enfraquecidos das novas
concepções sobre o ensino, uma vez que esta reflexão chega de forma fragmentada e
descontinua.
para acompanhar as mudanças, integra-as ao seu discurso, trazendo para a sua fala ecos da
expectativas de mudança, ele passa a alterar o seu discurso, inserindo nele uma seleção de
Portuguesa que orienta para a prática em sala de aula com os diferentes gêneros textuais.
participação.
do currículo entram pelos portões da escola, está presente nas respostas dos questionários
aspectos relacionados a elas e de promover, para seus alunos, situações de interação com o
150
atitudes de convivência entre seus alunos consigo mesmo e com os colegas. As atividades
humanizante presente nos objetivos declarados pelos professores, uma vez que a
experiência estética exercita a reflexão, nos coloca em relação com o outro, apura a nossa
outro e da complexidade do mundo. Sua prática, entretanto, não encontra caminhos para
refere-se à garantia de espaços para o aluno praticar a oralidade e ser ouvido pelos outros.
jogos improvisacionais nos quais se fazem presentes as vozes dos seus atores no conteúdo
manifestado. Além disso, os jogos de improvisação teatral valorizam a voz dos jogadores
também no momento da avaliação, uma vez que aquele que fala é ouvido pelos demais
porque repousam neste diálogo as soluções para o problema abordado ou o alimento para
novas inquietações.
Assim, os alunos serão ouvidos pelo que eles têm a dizer, em vez de fazer ecoar
soluções artísticas em vez de sugerir a eles que repisem sobre as mesmas proposições e
151
O projeto Hora da Leitura surgiu com características muito focadas na
sensibilização do aluno para o ato de ler. Enquanto ação pedagógica, ele precisa de
aprendizagem e avaliação. Por isso, as ações de formação dos professores inseridos neste
projeto, além de oferecerem algum subsídio teórico sobre literatura e formação de leitores,
abordagem, não há nenhuma publicação que oriente o professor na sua atuação. Este fato é
muito relevante na medida em que a Hora da Leitura, por ter um número considerável de
professores não concursados, sofre uma grande alteração no seu quadro de professores todo
menos em linhas gerais, o sucesso de suas ações. As ações de formação destinada aos
professores da Hora da Leitura também são afetadas pela grande rotatividade destes
152
No experimento que desenvolvemos com um grupo de professores da Hora da
leitura, recorremos aos jogos de improvisação teatral como ato de leitura a partir de análises
relação com ele. Com isso, conseguimos reunir revelações surpreendentes e estimulantes
professores como experiência significativa de superação das expectativas que eles cultivam
exemplo, foram capazes de abandonar cadeiras, blocos de notas e canetas para coordenar, a
dia. Aos poucos, o sentido de intervenção indesejada caiu por terra e se consolidaram as
experiência que, uma vez desencadeada, passa a ser um referencial nas relações que o
sujeito vai estabelecer com o outro e com o mundo ao longo de sua vida.
153
possibilidade de envolvimento de todos os integrantes do grupo que os jogos promovem. A
comunicá-la.
jogadores para que eles se manifestem, ora como elaboradores do discurso cênico, ora
Além disso, o ambiente de negociação instaurado nos jogos oferece aos jogadores a
ouvir e respeitar o ponto de vista dos colegas e de buscar soluções em favor do refinamento
respeito às escolhas dos jogadores e às opiniões proferidas por eles na avaliação está entre
os preceitos que regem o caráter formativo dos jogos de improvisação teatral. Isto quer
dizer que as formas de participação instauradas nos jogos prevêem uma interação
perceberam que não eram capazes de transferir habilidades que, provavelmente, possuem
154
de produção de textos escritos para a produção oral de um gênero tão amplamente
desfecho. É bem possível que este profissional que, atualmente, está na sala de aula com a
formação em que muito foi falado sobre a língua e pouco foi praticado em relação à leitura
e à escrita.
prática de leitura e escrita para a sua própria formação de leitor e produtor de texto, para
professores, no momento da avaliação, para a perda do foco. Sem ele, todo o processo
deixava de ser lúdico para ser entretenimento. A partir da investigação sobre os porquês do
grupo não ter conseguido construir uma narrativa, os professores começaram a construir um
outro significado para a atividade lúdica dos jogos, compreendendo que ela está pautada
por objetivos a ser alcançados e, portanto, requer concentração, foco na proposta e busca de
parametrizadas pelas regras que os orientam. A tensão entre liberdade de ação e regras a ser
observadas torna o jogo uma atividade lúdica que promove prazer e fruição. Um outro
aspecto que faz do jogo uma atividade lúdica é a possibilidade deste interromper,
155
O grupo, composto de professores de Língua Portuguesa, também se sentiu muito
incomodado quando percebeu que suas habilidades para criar ou reconhecer, apreciar e
fazer uso de metáforas em textos verbais auxiliaram-no muito pouco na hora em que
precisou produzir relações metonímicas nos jogos das cenas fixas, como no caso da troca
de jogadores para representar a galinha magra que ficou gorda de tanto comer ou no uso da
língua bifurcada de papel que, na tentativa de auxiliar na identificação do jogador que era a
cobra, acabou por confundir os espectadores, que acharam que eram dentes de esquilo.
eficiente para a leitura, mas, no ato de leitura em si, produzido coletivamente e evidenciado
na elaboração do discurso cênico. Este aspecto dos jogos se concilia com os objetivos da
Hora da Leitura porque permite ao professor desenvolver com seus alunos a noção de
manifestado no jogo surge de uma compreensão leitora do jogador em relação à obra. Além
disso, o ato de leitura de que se constitui o jogo solicita do leitor o desapego à rigidez de
fragmentos de textos literários, além do prazer conquistado por meio da ludicidade que o
jogo promove, pela tensão entre liberdade de ação e regras, pela apreensão do fenômeno
teatral conquistada por meio de um processo crítico e emancipatório, o aluno tem a seu
favor meios eficientes para a compreensão da arte literária e dos recursos expressivos de
156
que ela faz uso. Em outras palavras, o reconhecimento e a compreensão dos efeitos de
entre outros) utilizados para a elaboração da cena possibilita aos jogadores poderem
discurso artístico-literário. A provocação que fizemos a eles para que tentassem observar os
recursos utilizados para construir um modo de narrar lhes parecia incompreensível, quase
indecifrável. Uma atividade que pretendia apenas apontar para possibilidades de articulação
entre literatura e outras linguagens artísticas acabou por revelar dificuldades dos
Seria muito relevante para os professores que atuam na Hora da Leitura a promoção
157
As inseguranças enfrentadas na provocação para uma leitura transversal do texto
do teatro poderiam ser sanadas se eles compreendessem um pouco mais sobre a natureza do
fenômeno teatral. Uma formação pautada pelos jogos de improvisação teatral capacitaria
apropriação e exploração dos aspectos relacionados ao discurso cênico com seus alunos.
Um aspecto importante presente nos jogos de improvisação teatral que uma formação deve
provocador da participação democrática dos alunos, sem que seja, evidentemente, violado o
improvisação teatral como ato de leitura sensível das produções literárias, para que possam
desenvolver sua articulação com as atividades de leitura do texto literário. Por outro lado,
ficou evidenciada a falta de oportunidades que estes profissionais têm para investirem na
sua formação e refletirem sobre sua prática. Falta-lhes também espaço para a socialização
de experiências entre eles, uma vez que os momentos de formação são escassos, além de
não conseguirem incluir todos eles. Soma-se a isto a ausência de referenciais que possam
158
VI – Bibliografia
AMARAL, Tarsila do. Tarsila do Amaral. Projeto Cultural Artistas do Mercosul. Brasil:
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164
ANEXOS
ORIENTAÇÃO TÉCNICA PARA PROFESSORES DA “HORA DA LEITURA”
“PRÁTICAS TEATRAIS NO DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES COM TEXTOS LITERÁRIOS”
MANHÃ
Aplicação de jogos de improvisação teatral com o objetivo de
o refletir sobre a ação pedagógica na “Hora da Leitura”;
o compreender os conceitos de prazer e ludicidade aplicados aos jogos de improvisação teatral;
o nos fazer perceber alguns aspectos das linguagens literária e teatral e, por conseguinte, favorecer o trânsito de uma para a outra com mais segurança.
12h30 • Almoço
TARDE
Desenvolvimento de jogos de improvisação teatral para que, ao final das atividades, os professores sejam capazes de
o reconhecer alguns recursos expressivos presentes na literatura, no cinema e na música;
o identificar e compreender o uso de alguns recursos expressivos no fazer teatral;
Narrativa: criar sob tensão Objetos utilizados: Rolo vazio de papel alumínio e maleta.
13h30 o Grupo narra história construindo o conflito, a partir da
apresentação de duas personagens e um onde;
às o Regras: não pode virar sonho e não pode usar a expressão
“de repente”
14h30 Soltar a imaginação: criar sob tensão
Com este objeto eu posso... Registro no DB
Construção do discurso expressivo : formas de narrar Formas de Narrar
14h30 • Apresentação de narrativas na música e no cinema: foco na construção
às do discurso – a perspectiva do narrador. *Paroara - CD Entre Amigos
15h20 • Comentários e registro escrito
O homem que copiava
15h20 • Intervalo
Continuação: Construção do discurso expressivo por meio de jogos de Pinturas de Tarsila do Amaral, Van Gogh e Almeida
15h40 improvisação teatral Júnior
3 grupos – 3 temas extraídos de pinturas e poemas diferentes para cada Poemas de Manuel Bandeira, Fernando Pessoa e Cláudio
às grupo, com vistas à montagem de uma cena Feldman
Registro final
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES
Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas
HORA DA LEITURA:
Práticas Teatrais para a Exploração de Textos Literários nas Aulas de
Língua Portuguesa
Outra:
(06) Inglês
(01) Espanhol
(02) Filosofia
(02) Pedagogia
(05) não
1. Você desenvolve atividades cujos encaminhamentos incluem práticas teatrais em sala de aula?
(XXXXX) alguns alunos que atuam enquanto os demais se encarregam do figurino, cenário...
(XX) alternando: um grupo de alunos que demonstra o desejo de participar ou alguns alunos
(XXXX) Dramatização
(XXXXX) Teatro
(X) Representação
Para que houvesse mais participação dos alunos. Mostrar as habilidades dos mesmos. (Profa.
Porque é necessário que o aluno conheça todo tipo de texto. Porque é preciso fazer o aluno
Para fazer algo diferente com os alunos para as Feras Culturais das escolas. (Profa. Adelina
Máximo Fonseca)
Penso que a dinâmica do teatro retira o aluno do cotidiano e permite que ele pratique tudo o
que aprendeu ou o que possui como bagagem (Profa. Eliane de Jesus Silva)
Porque os próprios alunos interessaram-se pelo teatro, gostam deste tipo de atividade, além
disso desenvolve a prática da leitura e da escrita. (Profa. Vanessa Cristina Barboza Alves)
Para enriquecer as aulas e instigar os alunos (despertar o gosto pela leitura). (Profa. Gersivânia
Santos Brito)
Para que o aluno adquira desenvoltura, pratique leitura ao se envolver com o trabalho e se
Para motivar uma aula diferente. Buscar nos alunos uma espectativa maior pela leitura.Levá-
los a interagir com o conteúdo do texto, assimilar. (Profa. Maria de Lourdes Reis Ramalho)
Para que os alunos usem a sua criatividade através dos personagens. (Profa. Elenice Felipe de
Oliveira)
Para que os alunos usem a sua criatividade e motivação. (Profa. Miriam Ap. dos Santos
Ontória)
Uma atividade dinâmica, atrativa e diferenciada dos alunos exporem suas interpretações dos
Não faço sempre, inclui só em um tema do projeto, pois as aulas são limitadas p/ o nº de
Para maior desenvoltura e participação dos alunos (Profa. Tatiana Iglesias Gumieri)
Assim os alunos se soltam mais e sua aprendizagem melhora. (Profa. Márcia da Silva
Domingues)
(alternativa escolhida) Percebi que era possível construir sentidos coletivos para o texto.
Os alunos gostam de brincar. São cômicos e interagem com o texto nesta veia de
Os alunos se sentem motivados a isso. A aula de leitura por sua vez, é uma aula lúdica e
Sair da rotina do dia-a-dia, mostrar ao aluno que eles podem aprender com o teatro. (Profa.
bimestre eles leram o “Doente Imaginário” de Molière. O livro tem um roteiro teatral e eles
desejaram apresentar. Isso demonstra que uma (ou a) leitura é capaz de despertaR algo
adormecido. No caso desses alunos, não foi o fato de eles serem solícitos ou amigáveis o
motivo pelo qual desejaram contracenar o texto e sim o fato do mesmo ter despertado neles o
desejo de viver uma história, ou vida, diferente da deles. (Profa. Eliane de Jesus Silva)
O interesse dos próprios alunos e porque a prática da leitura está envolvida no processo de
Fiz um teste e obtive êxito na aplicação de tais práticas. Mediante o resultado comecei a
Os alunos se desenvolveram mais fazendo uma leitura com mais dinamismo. (Profa. Maria de
Para que as aulas se tornem mais dinâmicas. (Profa. Elenice Felipe de Oliveira)
Para que os alunos aprendam a improvisar, criar e motivar. (Profa. Miriam Ap. S. Ontória)
Eu amo teatro, e também meu curso de Arte, fez com que eu descobrisse essa forma de
O tema dava liberdade do aluno criar e interpretar. (Profa. Camila Cíntia de Paula)
Alguns alunos participavam da escola da família e com isso, eles deram sugestão para
diferentes práticas que pudessem facilitar o processo ensino-aprendizagem dos alunos e que
pudessem ser variadas, não caindo da mesmice da prática do giz-lousa-saliva. (Profa. Mônica
Ferreira Batista-)
O que me incentivou a trabalhar tais práticas foi esta minha mania de ousar, de acreditar que a
educação se faz de maneira diferenciada e que nossos alunos não tem hábito de leitura e para
despertar este interesse tinha de ser da forma que eles gostam. (Profa. Izabel C. A. S.Prates )
Trabalhar o tema em sala de aula. Depois pedir para que os alunos façam apresentação em
Jograis é um bom caminho p/ iniciar e desinibir o grupo e até o professor. Depois um texto em
Lima)
Primeiro, uma leitura geral sobre o texto, depois as escolhas dos personagens. Após, a
Montando grupos e dando a liberdade para cada um construir os seus textos e desenvolver
Sempre em grupos. Divido-os em grupos para que possam aprender e ensinar uns com os
Divido a classe em dois ou três grupos; lemos textos diferentes; escolhemos um texto e depois
Muitas vezes na sala de aula, as crianças em forma de círculo fazendo a platéia e assim
Em pequenos grupos, em três aulas eu participo com eles, e nas outras cinco aulas eles
Mostrar que leitura não é só ler em voz alta, mas sim, a leitura envolve várias práticas como,
por exemplo: discussão de temas polêmicos, através de gestos, linguagem não verbal e verbal
(desenhos, charges, tiras, piadas, poemas, poesias, músicas, histórias em quadrinhos etc.
Aparecida da Costa)
Motivar os alunos e proporcionar uma aula a qual eles possam interagir com professor e
Ler, refletir e concluir que o aprendizado é eterno. (Profa. Eliane de Jesus Silva)
Seu objetivo é desenvolver a prática de leitura a partir de vários gêneros literários, para que o
aluno aumente sua percepção do mundo que o rodeia, além de desenvolver seu senso crítico,
produz textos maravilhosos! A criatividade flui de maneira gostosa. Ler e conhecer vários
gêneros também faz parte dos objetivos. (Profa. Gersivânia Santos Brito)
Que o aluno adquira a habilidade da leitura e possa efetivamente usá-la em seu cotidiano.
Conduzir o aluno a inserir em uma sociedade onde ele deve se sentir preparado para vida,
onde não vai se atrapalhar quando tiver que elaborar uma redação, redigir um texto, ou mesmo
conversar desinibidamente em qualquer ambiente, por mais sofisticado que seja. Despertar o
gosto pela leitura acima de tudo. (Profa. Maria de Lourdes Reis Ramalho)
Desenvolver o gosto pela leitura e a criatividade do aluno. (Profa. Elenice Felipe de Oliveira)
Desenvolver o gosto pela leitura e a criatividade do aluno. (Profa. Miriam Ap. Santos Ontória)
Levar o aluno ao conhecimento epistêmico. (Profa. Maria Aparecida Alves Moreira Bartolo)
Incentivar os alunos a ler, não só textos como o mundo. (Profa. Tatiana Iglesias Gumieri)
imaginação para fora e alguns escrevem e falam coisas maravilhosas. (Profa. Márcia Silva
Domingues)
8. Na sua opinião, em que sentido as práticas teatrais colaboram para o alcance de tais objetivos?
Silva Gama)
Para aproximar o aluno da leitura fazendo com que ele tenha uma concentração e melhor
Que o aprendizado é constante. Não é só na escola que aprendemos, a casa, a família, os amigos
e os outros também nos ensinam algo e aprende algo com... (ilegível- conosco?). E aí que a
prática teatral entra, pois ele pede o desprendimento de todos os receios para que o aprendizado
Os alunos começam a se comunicar melhor, ter um maior contato com o mundo exterior e
As práticas teatrais ajudam os alunos a interagirem de maneira lúdica; auxilia no despertar para
Sim, pois o aluno ao ler o texto que será apresentado, está de uma maneira agradável, também,
Motivação – criatividade – gosto pela leitura – dinamismo. (Profa. Elenice Felipe de Oliveira)
Os alunos ficam mais a vontade para passar suas emoções. (Profa. Márcia da Silva Domingues)
O texto literário quando apresentado desde cedo serve de estímulo a leitura e a compreensão do
mesmo, quando tardiamente, o processo é mais complicado, pois o aluno já apresenta uma série
possibilidades e isto tem sido um dos pontos que as práticas teatrais colaboram no caso das
tipo de aula. E assim sem que percebam vão tomando gosto pela leitura. (Izabel Cristina A. de
9. Na sua opinião, que outros objetivos são possíveis de se alcançar quando se recorre a práticas
Objetivos são: associar o seu cotidiano. (Temas polêmicos, gravidez precoce, violência no geral,
corrupção e outros) fazer a comparação das escolas literárias com os dias de hoje. (Profa.
Reconhecimento de que cada texto tem sua função, de que cada texto deve ser lido com uma
Com as práticas teatrais os alunos podem vivenciar situações com o texto literário, além de ser
Os benefícios são infinitos: podemos trabalhar vários gêneros, podemos incluir temas polêmicos
Binatti)
Sim. O grupo se torna mais interagido com o conteúdo e com os colegas. (Profa. Maria de
Felipe de Oliveira)
Ontória)
A descoberta da personalidade de cada personagem. (Profa. Maria Ap. Alves Moreira Bartolo)
Fazer com (que?) o aluno exponha livremente seu desenvolvimento de interpretação. (Profa.
Maior incentivo na busca de ler novas obras. (Profa. Tatiana Iglesias Gumieri)
Uma maior desenvoltura do aluno no ambiente intra e extra escolar. Tive alunos que eram
extremamente tímidos e começaram a ser mais participativos através das práticas teatrais.
10. Você recorre às práticas teatrais no desenvolvimento das atividades da Hora da Leitura em
(X) assinalou duas alternativas: todas as seqüências de atividades planejadas para o ano e
( ) textos dramáticos.
a. no início, para
atividades criativas.
(XXXXXXXXXX) estimular o grupo para outras leituras relacionadas ao texto que deu
origem à atividade.
percepção.
c. no final, para
de um texto.
(X) Outros: demonstrar aos participantes a arte que construíram em cima do texto.
13. Na sua opinião, a utilização de práticas teatrais, aliada às atividades de leitura de textos
literários, pode permitir que o aluno, ao final do ano letivo, seja capaz de
da leitura do gesto.
linguagens.
( ) ________________________________________________________.
14. Quando você resolveu inserir práticas teatrais nas suas aulas, ou seja, transitar da linguagem
literária para a linguagem teatral, você procurou conhecer mais sobre esta linguagem? De que
forma?
Sim, através de colega (professora que trabalha muito bem peças teatrais). Sempre estou
pedindo para ela idéias, criatividade para trabalhar com meus alunos. Integração professor X
professor – professora da manhã Maria Rita (Ensino Médio) (Profa. Marineide Gomes da
Silva Gama)
Quando fiz a faculdade de Letras tive orientação para tal.(Profa. Roseli Aparecida da Costa)
Através de leituras e pesquisas na Internet (Profa. Adelina Máximo Fonseca)
Sim, procurei por estruturas narrativas, produção de roteiros e técnicas de reprodução de texto,
uma vez que os alunos escreveriam e reescreveriam o roteiro produzido por eles. (Profa.
Tive a idéia ano passado quando acabei de ler algumas das obras de Shakespeare e de Edgar
Allan Poe.Fiz a leitura com os alunos, de uma coletânea de textos de Poe e os próprios alunos
deram a idéia de fazermos uma peça e vi que despertou-se nos alunos o interesse por outras
Na realidade, eu sempre trabalhei as duas linguagens. Quando percebi que realmente surtia
efeito, procurei ajuda a um colega formado em Artes plásticas que atualmente faz algumas
apresentações. Ele sempre transmite idéias excelentes. (Profa. Gersivânia Santos Brito)
Pesquisando e interagindo com professores que já realizaram tais atividades. (Profa. Miriam
Binatti)
Lembrar dos meus aprendizados da faculdade, usar meus conhecimentos práticos. Levá-los a
observar das pequenas palavras do texto e das mais simples mensagens. (Profa. Maria de
Sim, através de pesquisa e troca de experiência com os colegas de trabalho e também com
Através de pesquisas, integração e troca de experiências. (Profa. Miriam Ap. dos Santos
Ontória)
Muito pouco, utilizei muito do que eu conheço peças teatrais, meu objetivo maior não é
construir um grande teatro porém, um teatro de grande importância na vida de cada aluno.
O trabalho é feito junto com a profa. de Arte da U.E. e a parte de leitura é feita para
Sim. Conversando com o professor e com a professora de Artes. (Profa. Tatiana Iglesias
Gumieri)
Por gostar de teatro e assim passar para os alunos para que eles se desenvolvam em sala de
aula. A forma é com textos para apresentação. (Profa. Márcia da Silva Domingues)
(alternativa escolhida) Procurei compreender um pouco mais sobre o uso de práticas teatrais
como metodologia. (Comentário) Na época da graduação desenvolvi uma série de projetos que
músicas e cantigas de roda.Durante minha graduação, bem como depois, sempre durante o
aulas utilizo os PCNs. como uma fonte de pesquisa. (Profa. Mônica Ferreira Batista – Leste 3)
Fui juntamente com eles (os alunos) fazendo pesquisas sobre teatro cheguei a levar alguns a
exposição para que tivessem contato com outras formas de leitura. (Profa. Izabel C. A. de
HORA DA LEITURA:
Práticas Teatrais para a Exploração de Textos Literários nas Aulas de
Língua Portuguesa
(01) Pedagogia
Outra:
(03) Inglês
(01) Pedagogia
(00) não
1. Que práticas teatrais você costuma desenvolver em suas aulas?
leitura por personagens, com a devida entonação. Após várias leituras lanço a idéia de
Transposição de vários gêneros textuais para a prática teatral. Peça teatral para leitura
matriz para que seja realizado um bom espetáculo. E é por meio da dramaturgia
própria que se cria um teatro com identidade, que fale de nossa gente, de nossa
Ribeiro Mafra)
Na sala de aula desenvolvo uma “1ª leitura” com o gênero (teatro); depois escolho
alguns alunos para fazer a encenação da peça, primeiramente dentro da sala. (Profa.
Leitura de textos de uma forma bem expressiva, com gestos e entonações de acordo
com a situação que aparece no texto. Teatro baseado em leitura de texto ou filme.
próprios alunos já sugerem para que o texto seja transformado em peça teatral e assim
sendo fazemos a montagem da mesma. Isto ocorre com fábulas, contos, etc. (Profa.
Leitura de peças de teatro; pesquisa; dublagem (dividi a classe em grupos de 10: 5 faz
poses das figuras representadas em quadros famosos); recitação de coral (ler em voz
Poucos, nosso elenco conta com 12 alunos (6ª., 7ª. E 8ª. Séries). (Profa.Juliana
Estevam Ferreira)
Poucos, nosso elenco conta com 12 alunos da 6ª., 7ª. e 8ª. Séries e 1º e 2º Colegiais.
O ideal seria toda a sala participar, mas não é o que acontece. Normalmente a
Todos os alunos, divididos por turma. (Profa. Elisabete Maria Ribeiro Atolini)
Geralmente alunos desinibidos. Por incrível que pareça ... muitas vezes os mais
Seria pretensão minha dizer que há o envolvimento de toda a sala, mas 80%
participam por obrigação e 50% por prazer. (Prof. Ageu Rivair de Carvalho Cândido)
A participação indireta é de todos os alunos, mas os que encenam essas práticas são
Projeto “Lendo com Lobato”. Fazemos leitura dos livros e da biografia de Monteiro Lobato
Projeto “Lendo com Lobato”. Fazemos leitura dos livros e da biografia de Monteiro Lobato
para ser representada como fechamento do Projeto. (Profa. Eloísa Corsi Brando)
Ferreira)
Além do diário gosto de fotografar e fazer um relatório, com observações e depoimentos
Costa Casagrande)
até o final desse projeto, finalizando com a dramatização interpretada pelos alunos. (Profa.
De uma forma simples, registrando todos os passos. (Profa. Ana Paula Leme de Carvalho)
Bem, quando estamos estudando o texto ou encenando o mesmo em sala de aula registro no
livro de chamada e caderno dos alunos, mas as apresentações para a escola em ocasiões
especiais registro no portfólio com os textos, fotos, etc. (Profa. Maria da Graça Honorati)
Porque o teatro é uma arte que eleva a auto-estima do aluno, permitindo que ele seja o
Porque o teatro é uma arte que eleva a auto-estima do aluno, permitindo que ele seja o
protagonista através da leitura e do entendimento dos textos. (Profa. Eloísa Corsi Brando)
Por ser uma metodologia que atrai mais alunos, a aula fica mais dinâmica. (Profa. Roselene
Alves Ferreira)
Para despertar o prazer, para praticar a entonação na linguagem falada e até para tentar
Toda a vez que trabalhamos com teatro, percebemos que os alunos se soltam mais e
componentes do grupo, várias possibilidades de expressão nas áreas em que se sentem mais
alunos. As aulas também são fundamentais para o respeito uns com os outros e uma elevada
Devido ao interesse dos alunos, de interpretarem o que foi lido “texto literário” foi o caso
de alguns textos trabalhado nas 1as. e 2as. séries, exemplo: Chapeuzinho Vermelho; A
Formiga e a Cigarra, entre outros. Obs.: (estes textos foram o que as crianças mais
aulas mudando de voz nas leituras entre um e outro personagem. Percebi que os alunos
gostavam daquele suspense que fazia durante as leituras... Daí pra frente só fui “realçando o
sabor” de cada história e começamos a fazer trocas de leitura ... até chegarmos ao teatro.
Por ser uma metodologia mais descontraída. O aluno da Hora da Leitura não espera
somente ler neste período de aula e por sua vez, o professor, por ter apenas uma aula, tem
que fazer algo que torne a Hora da Leitura uma aula prazerosa, onde o aluno participe.
Gosto muito de teatro. Acredito que o aluno que faz uma leitura mais profunda do texto,
entende melhor; ao fazer um teatro o aluno tem que fazer essa leitura, por isso entende
melhor os textos. Nas apresentações trabalho com a oralidade, com o desinibir de alunos
tímidos, com a auto-estima ..., faz com que o aluno conheça o mais íntimo que há nele, o
poder de encantar. Vou plagiar uma frase de Flávio Império "Depois de fazer teatro e ter
que vestir uma realidade, quando você vê a realidade, não consegue se desprender
Quando comecei a dar aula P.H.L. me interessei pelo livro Ensinar e Aprender da
muito interessante: teatro, após a leitura resolvi trabalhar esse projeto com os alunos e logo
fui percebendo que eles se interessavam muito. Não são todos que tem facilidade em se
expressar, muitas vezes por serem inibidos, mas se for só em sal de aula já se sentem mais à
Por desenvolver o interesse da classe toda. O contato do aluno com o teatro traz a
A iniciativa do Projeto, o próprio escritor nos remete a essa prática. A descoberta das
A iniciativa do Projeto, o próprio escritor nos remete a essa prática. A descoberta das
Sempre tive gosto por esta arte. E acho que nossos alunos têm poucas oportunidades com o
O uso do lúdico para ensinar a arte. Através da linguagem teatral, a classe vive uma
experiência gratificante, em que cada um é capaz de criar seu próprio espaço, preenchendo-
capacidade de liderança; são tão aproveitáveis no contexto teatral, quanto aqueles que
muitas vezes, aquele aluno que não se destaca o suficiente dentro das avaliações escolares
O gosto, particularmente pessoal, que tenho pelo gênero e também por envolver a maioria
músicas, figurinos, adereços, objetos de cena, etc. Tudo isso incentiva muito os alunos, eles
alunos superaram as minhas expectativas em relação a esse aspecto. (Profa. Elisabete Maria
Ribeiro Atolini)
A necessidade. Em 2005 quando foi incluída a Hora da Leitura, só peguei essas aulas. E
sempre fui muito preocupada com a educação, sempre gostei de dar aulas interessantes que
desperte no aluno a vontade de “querer mais”. Na primeira capacitação que tive na D.E. foi-
apaixonada. Lia e relia porque queria contar para meus alunos ao invés de lê-lo. Foi
demais! A dramatização foi ótima, sentia isto no rostinho de meus alunos... (Profa.
Por ser uma prática que atrai os alunos. (Profa. Ana Paula Leme de Carvalho)
O gosto, a motivação nas primeiras práticas e com certeza o reconhecimento dos próprios
alunos. Ano passado, ao trabalhar com o conto A Cartomante, Machado de Assis, com uma
determinada sala, os próprios alunos criaram uma versão para o conto, onde Rita, Vilela e
Camilo moravam em uma fivela, ficou muito bom. Estas e outras criatividades de meus
O que me motivou foi o grande interesse de alguns alunos, no ponto de criarem seus
próprios textos, de tomarem todas as iniciativas antes mesmo da professora pedir ou dar
dando resultados positivos nas aulas de Hora da Leitura em que ele ministrava. Os
Não é fácil. Com uma aula semanal é quase impossível e o resultado bem demorado.
um. Quando os alunos já estão familiarizados com o texto, vou distribuindo as atividades,
claro que eles podem escolher, indicar, colaborar. (Profa. Luciana Madeira Tente)
Costumo desenvolver sempre em grupo, deixando que eles escolham o que irão apresentar
através dos textos lidos. Vale salientar que toda a conseqüência desse trabalho como
figurino, cenário etc., são confeccionados pelos próprios alunos, de forma artesanal
abrangendo outras áreas disciplinares. O texto é criado de forma coletiva e aos poucos as
barreiras são ultrapassadas, começa a fluir intensamente até chegar no roteiro final. (Profa.
Depois de uma encenação em sala de aula, reservo algumas horas semanais para ensaiar a
peça teatral com as crianças envolvidas como personagens. Outros grupos trabalham com o
cenário; após algumas orientações passam a desenvolver essas atividades como lição de
Através de muitas conversa com os alunos, pesquisa, ensaios, leitura de vários gêneros
desse passo gosto que meu aluno conheça o gênero, conheça a história. O aluno participa se
Escolho um texto ou filme que poderá se transformar numa peça teatral. (Profa. Ana Paula
Leme de Carvalho)
Faço uma leitura direcionada; separo qual autor trabalhar; no momento estou trabalhando
com Clarice Lispector; Separo grupos na sala; e os próprios alunos investem nos ensaios.
Sempre que possível. Se a iniciativa parte dos próprios alunos, se o texto é criação dos
mesmos, faço a correção junto com eles, se o texto já está pronto e foi idéia minha encenar
determinada peça também sentamos juntos para que eles possam conhecer o texto, ver as
ações, cenário, etc., ensaiamos e tomamos assim todas as providências cabíveis para que
encenar uma peça que foi apresentada no final do ano letivo de 2005. Sugeri que
poderíamos estar levando a peça para outras escolas (municipal, estadual e APAE). O
Recitação de coral; dublagem; quadro vivo; roteiro livre: desenvolver a imaginação através
da criação de roteiros dde ação, a partir de um texto. A atividade é realizada em etapas: 1ª.
Etapa: leitura em casa dos textos selecionados na classe trazidos pelo professor. Na
2ª. Etapa: criação do roteiro (o que é roteiro?/ o que é essencial nele?/ suas etapas?);
4ª. Etapa: distribuição das tarefas e papéis, de acordo c/ o roteiro. (Profa. Joyce Siqueira)
7. Quais são os seus objetivos na Hora da Leitura?
Que o aluno leia por prazer, que desenvolva o gosto pela leitura. E possa viajar pelos livros,
através da imaginação. E isso alcançado, irá acompanhá-lo pelo resto da vida. (Profa.
Incentivar o gosto pela leitura, ler por prazer produzindo sentimentos e sentidos numa
mundo literário;
Despertar, através do lúdico que é uma maneira prazerosa, o desejo de ler. Entre outros.
Despertar o interesse no aluno em ler por prazer; ampliar seu vocabulário no universo das
palavras; conhecer os mais diversos gêneros textuais; ter domínio da oralidade. (Profa.
Diferenciar um gênero do outro (por exemplo, explicar o porquê de um texto ser um conto,
Cultivar o gosto pela leitura; trabalhar com diversos gêneros literários; ler por prazer; ler
para aprender, ler para praticar em voz alta, ler para obter uma informação de caráter geral,
ler para comunicar um texto a um auditório (teatro). (Profa. Elisabete Maria Ribeiro
Atolini)
Fazer com que o aluno se interesse por leitura, não somente a leitura de livros, mas também
Os meus objetivos são muitos: fazer com que os alunos criem o hábito de leitura e sintam
prazer ao ler, conheçam também todos os tipos de textos literários, que aprendam a
absorver da leitura mensagens que possam servir como crescimento, tornando-os assim
melhores como seres humanos que são, enfim que leiam para se informar, divertir, viajar,
fatos, fazer os alunos ler nas entrelinhas dos textos assim os compreendendo. Apresentar
aos meus alunos os diversos gêneros literários e textuais (identificar a finalidade do texto de
acordo com o seu gênero/ inferir uma informação implícita no texto/ ordem seqüencial de
de cada apresentação procuro mudar os grupos. (Prof. Ageu Rivair de Carvalho Cândido)
A socialização, essas práticas desinibem os alunos, fazem com que eles se sintam seguros
A socialização, essas práticas desinibem os alunos, fazem com que eles se sintam seguros
O texto é vivenciado pelos alunos, aproximando da realidade deles. (Profa. Roselene Alves
Ferreira)
No sentido de que a leitura bem feita pode despertar o gosto e a criatividade. (Profa.
Para se produzir um bom texto (dramático), é necessário uma boa carga literária, e através
desse incentivo os alunos pesquisam diversos livros e autores, o que lhe interessem para
realizar este. Isso de uma forma prazerosa, já que sabem que só assim será possível dar
temas: imaginários e cotidianos; que tornam os alunos argumentativos, com uma mente
mais aberta para a leitura a fim de obter maiores conhecimentos. (Profa. Silvania R. Mafra)
No sentido do trabalho em equipe. (Profa. Regina Dutra Corali)
Para chegar a um teatro o aluno selecionará o texto (para isso recorrerá a vários gêneros);
conhecerá novas palavras; lê o que interessa e quando tem o texto escolhido em mãos vai
O aluno sente-se mais próximo do texto por vivenciar a história na prática. (Profa. Ana
O próprio teatro necessita de uma leitura melhor e trabalha com a oralidade. (Prof. Ageu
participam mais porque ajudam na elaboração da peça. (Profa. Maria da Graça Honorati)
Joyce Siqueira)
9. Na sua opinião, que outros objetivos são possíveis de se alcançar quando se recorre a
Ferreira)
Brando)
Conhecer mais profundamente os textos, os personagens, o cenário. Vivenciando as cenas,
estas serão mais compreensíveis. Desperta o interesse em querer conhecer vários textos
Madeira Tente)
Qualquer objetivo pode ser alcançado, uma vez que leituras são atividades de atos de
produzir sentimentos e de produzir sentidos numa conversa com o texto. (Profa. Adriana C.
Costa Casagrande)
À partir dos textos teatrais, associados aos textos literários, é possível equilibrar a liberdade
Alves Rodrigues)
Torna um texto mais complexo, menos enfadonho para o aluno; através do figurino,
maquiagem, o aluno tem uma visão mais ampla da época, costumes, no caso se for uma
Eu acho que essas práticas colaboram muito no sentido de fazer com que os alunos fiquem
mais participativos, mesmo que não seja encenando, mas colaborando para que tudo saia
bem, e tudo isso faz o interesse fluir mais. (Profa. Maria da Graça Honorati)
10. Com que freqüência você recorre às práticas teatrais no desenvolvimento das
Infelizmente, uma vez no ano (1º bimestre) porque (é) quando a leitura e o escritor
facilitam essa prática e nos outros bimestres procuramos outras habilidades. (Profa.Juliana
Estevam Ferreira)
Infelizmente, uma vez no ano (1º bimestre) porque (é) quando a leitura e o escritor
facilitam essa prática e nos outros bimestres procuramos outras habilidades. (Profa. Eloísa
Corsi Brando)
Uma a cada bimestre. Ou quando trabalho um tema específico para alguma comemoração.
Não é possível realizar com muita freqüência. Já realizei com duas turmas, durante um ano
transporte para um mundo de sonhos ou mesmo da dura realidade que nos cerca, buscando
realizar a partir destas reflexões, que servirão de lições para uma vida toda. (Profa. Silvania
Ribeiro Mafra)
Quando os alunos estão muito motivados e gostaram muito do texto literário. (Profa.
A dramatização (contar histórias) quase todos os dias. Já a peça teatral de vez em quando.
Duas vezes no ano, uma no primeiro semestre e outra no segundo. (Profa. Ana Paula Leme
de Carvalho)
Procuro utilizá-las em todos os textos lidos, mas necessito de outras práticas, pois não há
Depende, este ano já encenamos 3 peças, sendo que duas delas foram criadas pelos alunos.
A outra já tínhamos apresentado em 2005, mas com algumas modificações, isto é, as alunas
incrementaram mais, o que fez com que o público se divertisse bastante, pois se trata de
Geralmente trabalho no 4º. Bimestre para que no encerramento do ano letivo fechemos com
11. Na sua opinião, com que gênero textual ou gênero literário é possível desenvolver
práticas teatrais?
A própria peça teatral, também adaptar fábulas e contos para as encenações. (Profa. Regina
Dutra Corali)
Penso que todos. Uma poesia pode virar uma peça; uma crônica, ... Será que não são todos
divertida; gostosas de serem trabalhadas. As crônicas também são bem interessantes para o
trabalho. Podendo contar com uma variedade imensa de livros de autores consagrados.
porque eu trabalho com 1ª e 2ª séries) e as crianças nessa idade gostam muito de “Contos
Adoro contos, talvez seja a razão pela qual digo ser a “mais possível”. Mas não é a única
Todos os gêneros. Vai depender do tema que o professor escolher se tornar interessante.
Conto, geralmente, mas isso não impede de utilizar outros gêneros. (Prof. Ageu Rivair de
Carvalho Cândido)
Eu acho que tudo é possível, porque quando os alunos querem tudo acontece, mas a
comédia é mais fácil para eles, também peças que passam alguma moralidade. (Profa.
Depende da narração (do texto) e do envolvimento dos alunos com o mesmo. (Profa.Juliana
Estevam Ferreira)
Depende da narração (do texto) e do envolvimento dos alunos com o mesmo. (Profa. Eloísa
Corsi Brando)
Com a leitura inicial do texto original e depois comparando com a adaptação. (Profa.
Durante: para o debate sobre o texto; fazendo o aluno posicionar-se como personagem
(valores);
Após esse processo o texto está sujeito à modificações para o quesito teatral, isso sem
desperta maior atenção: isso para ser satirizado ou dar um ar mais triste, visando atrair
No final, porque todos já conhecem bem e estão aptos a criar e dar sugestões de como
o timbre de voz durante toda a história); quando os alunos lêem, peço para que façam o
leitura” terminando com uma dramatização. (Profa. Elisabete Maria Ribeiro Atolini)
Geralmente é durante porque inicialmente gosto de trabalhar o antes da leitura “de onde
veio..., quem é o autor... o assunto... chego a discutir sobre o assunto; depois de preparar o
aluno aí que vou para a dramatização. (Profa. Alessandra Cristina Alves Rodrigues)
Desde o início, com a leitura do texto, fazendo o aluno entrar no “clima” da história. Desta
forma, o aluno se sensibiliza com o texto lido e aproxima-se mais do personagem. (Profa.
No final, pois com a leitura feita, o aluno poderá dar formas aos textos. (Prof. Ageu Rivair
de Carvalho Cândido)
Já trabalhei textos em que encenaram durante e também o final. Eles gostam muito,
desperta mais o interesse pela leitura, aumenta a expectativa, eles ficam eufóricos. (Profa.
No final, depois de que todos estejam envolvidos e trabalhando bem o texto em questão
Siqueira)
13. Quais são as suas expectativas em relação à aprendizagem do aluno quando você
Estevam Ferreira)
Elevar a auto-estima, trabalho em grupo, o espírito crítico, a cidadania. (Profa. Eloísa Corsi
Brando)
Que eles sintam-se capazes de entender e representar qualquer tipo de texto independente
se o texto for atual ou histórico. Esse método tem atraído mais os alunos, até mesmo
aqueles que antes não mostravam interesse. (Profa. Roselene Alves Ferreira)
entonação, socializar com outras turmas e querer sempre ler. (Profa. Luciana Madeira
Tente)
Fazê-los enxergar um mundo novo que não esteja preso à sala de aula, mas que os levem ao
espírito de equipe.
Demonstrar que o professor é uma pessoa que interage com seus interesses não só como o
“saber supremo”, mas sim como um amigo capaz de ensinar através do lúdico.
Levar os alunos a trazer a tona seus dons, de certa forma escondidos, talvez por timidez ou
Ribeiro Mafra)
Observo que meus objetivos são alcançados de forma lúdica, pois para o aluno estar
Esperando que a criança: se relacione melhor com seus colegas; leia mais; improvisação;
É fascinante. Em leitura é o recurso que mais aprecio. Sei lá... quando chego para a última
aula da manhã ou da tarde... ou qualquer outra tenho que despertar meu aluno, muitas vezes
fazê-lo acordar... interessar-se. Então quando inicio a aula, alguns até me perguntam “qual é
a história prof.?”. Isso para mim é um estímulo. Quando chego na dramatização, aquele
suspense, aquele voz baixa, de repente aquele barulho... É muito gostoso... alguns olhinhos
até brilham. Na minha opinião a dramatização é um forte recurso que o professor possui.
O aluno aprende muito mais e toma gosto pela prática teatral. (Profa. Ana Paula Leme de
Carvalho)
Acredito que o aluno que gosta ou consegue pegar o gosto pelo teatro terá mais facilidade
As minhas expectativas são positivas porque noto que quando lanço mão dessa
proporciona, traz para dentro da Hora da Leitura, uma nova dinâmica às aulas, um gosto
textos literários nas suas aulas, ou seja, transitar da linguagem literária para a
linguagem teatral, você procurou conhecer mais sobre esta linguagem? De que forma?
Lendo algumas peças infantis e interagindo com a professora de Artes. (Profa. Roselene
Alves Ferreira)
Sim. Lendo, pesquisando e contando com a ajuda de pessoas da comunidade que já têm
experiência com a prática. É interessante observar que (para) aplicar tal prática
pedagógica é preciso saber que a 1 hora da leitura não será suficiente, vamos trabalhar
além do horário e que sozinhos não vamos conseguir, é preciso conquistar, além dos
Casagrande)
De certo modo sim, pois a linguagem literária é mais correta e formal. Já a teatral é a dos
sensibilizar e trazer realidade aos demais. A leitura de peças já famosas e o contato visual
com estas me serviram de boa base para instruir os alunos nesta nova forma de
conhecimentos que já havia tido com a dramaturgia. (Profa. Regina Dutra Corali)
Com certeza não só em textos literários, todos os textos esforço-me ao máximo para
“sulgar” tudo o que possui. Afinal trabalho com o “antes/durante e depois da leitura”.
Lendo livros sobre o assunto, peças, jograis. (Profa. Ana Paula Leme de Carvalho)
Procurei ler mais, pesquisar mais e encontrei vários materiais que me auxiliavam muito
para desenvolver minhas aulas. Ano passado trabalhei com o conto O enfermeiro,
Machado de Assis, após a leitura passei o filme, os alunos passaram a compreender mais
o que Machado dizia, por isso não somente os alunos passaram a compreender melhor,
pesquisas e assim desenvolver o meu trabalho dentro das condições que temos e até
Pesquisa em livros, Internet, e com outros professores de leitura. (Profa. Joyce Siqueira)