Anísio Teixeira RJ e BA
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ANÍSIO TEIXEIRA1
Resumo Abstract
O presente trabalho deriva de um projeto The present work derives from a broader
de pesquisa mais amplo, cujo objetivo foi research project, whose objective was to
constatar a presença, bem como attest Anísio Teixeira`s “Scientific Spirit”,
identificar influências, desenvolvimentos e its developments, as well as identify
permanências de um Espirito Cientifico em possible influences. This study is,
Anísio Teixeira. Trata-se, portanto, de um therefore, an excerpt, in which we
recorte no qual apresentamos o físico e introduce the American physicist and
professor norte-americano Ellwood professor Ellwod Patterson Cubberley as
Patterson Cubberley como mais uma another relevant influence on Dr. Anísio's
relevante influência para o pensar de Dr. thinking. The data presented is based on
Anísio. Os dados apresentados baseiam-se publications and letters about the topic
na leitura de publicações e cartas sobre o and focuses on Anísio Teixeira`s time in
tema, e centram-se em gestões de Anísio office in Rio de Janeiro (1931-1935) and
Teixeira no Rio de Janeiro (1931-1935) e Bahia (1947-1945). From this study we
na Bahia (1947-1945). A partir do conclude that Dr. Anísio was influenced by
presente estudo, concluímos que o Dr. Professor Cubberley's scientific thinking,
Anísio foi influenciado pelo pensamento as evidenced by policies developed and
científico do Professor Cubberley, applied during his time in charge of Rio de
evidenciado por políticas desenvolvidas e Janeiros`s Education Department. He
aplicadas na gestão do Rio de Janeiro would go on to reapply the same
cujos princípios foram replicados na principles on a later posting as head of
gestão da Bahia. Bahia`s Education Department.
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Introdução
O professor Cubberley, assim como Jonh Dewey, foi uma das referências
americanas aportadas por Anísio Teixeira ao retornar ao Brasil após concluir o Master
of Arts no Teachers College, da Columbia University. As maiores influências deste
estudioso sobre o pensar de Dr. Anísio localizam-se, principalmente, no como gerir
cientificamente sistemas educacionais públicos, conforme explicita carta4
enviada por Anísio Teixeira a Leonard S. Kenworthy, membro do “staff” da UNESCO,
cujo original, em inglês, encontra-se arquivado no Centro de Pesquisa e
Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Escola de Ciências
Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), com a referencia AT1948.05.26, e cujo
recorte de versão traduzida anexamos a seguir:
Na referida carta Dr. Anísio explicita que o seu objetivo era “tentar fazer a
mesma coisa que havia tentado 12 anos atrás”, (TEIXEIRA, 1948, s/p) se referindo,
portanto, ao período em que esteve na direção do Departamento de Educação do
Distrito Federal – Rio de Janeiro. Com esta afirmação Dr. Anísio valida,
consequentemente, o que foi realizado nesta gestão a ponto de tentar seguir a
mesma linha em um novo período de gestão da educação na Bahia. O que sugere,
portanto, uma continuidade a uma forma de administrar que foi ceifada pela
implantação do Estado Novo no Brasil.
Sendo assim, o presente texto teve como objetivo apresentar, através de
pesquisa documental e bibliográfica, o professor Cubberley e alguns aspectos de
suas linhas doutrinárias, conforme nomeia Anísio Teixeira na carta, estabelecendo
relações com planejamentos e ações das gestões deste, na Diretoria do
Departamento de Educação do Distrito Federal – Rio de Janeiro e na Secretaria de
Educação e Saúde - Bahia, governo de Otávio Mangabeira.
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Linhas doutrinárias traçadas por Cubberley em gestões de Anísio Teixeira
Cabe lembrar que cartas de pessoas ligadas aos mais variados ramos do
conhecimento constituem documentos importantes para a História da Cultura, como
Freud preferia nomear a História da Civilização, uma vez que o missivista relata fatos
de uma determinada época fazendo referência a eventos ou contextos narrados de
forma muitas vezes mais informal, mas nem por isso menos importante que os
reportados pelos documentos oficiais.
Desta forma, a carta entre Aniso Teixeira e Kenworthy é tão importante para a
História da Educação, quanto as cartas trocadas entre o físico Albert Einstein e
Sigmund Freud, para a História da Ciência. Destas últimas destacamos as datadas de
30 de julho de 1932, às vésperas da invasão nazista à Áustria, e na qual o professor
Freud questiona “se existiria alguma forma de livrar a Humanidade da ameaça de
uma 2º Guerra Mundial?” (EINSTEIN, 1932, s/p.) Questão formulada com o objetivo
de encontrar resposta para as inquietações da Sociedade das Nações, também
conhecida como Liga das Nações, precursora da ONU, e de seu Instituto
Internacional para a Cooperação Intelectual, localizado em Paris. Além desta, duas
outras questões formuladas, e identificadas por Einstein como sendo de curiosidade
mais pessoal, são relevantes, ou seja, “Como os mecanismos de poder conseguem
despertar nos homens um entusiasmo extremado, a ponto de sacrificarem suas
vidas?” e se “É possível controlar a evolução da mente do homem de modo a torná-
lo à prova das psicoses do ódio e da destrutividade?” (EINSTEIN, 1932, s/p.) Estas
últimas indagações, somadas à primeira, ocasionaram a histórica missiva enviada por
Freud, como resposta, em setembro do mesmo ano.
Cabe lembrar que entre os anos de 1914 e 1918, o mundo vivenciou o maior
conflito, ou seja, a 1ª Guerra Mundial, até então travado entre as principais
potências, em decorrência da ampla rivalidade de caráter político e econômico que
havia entre nações europeias, sintetizada no conceito de Imperialismo e que gera
grandes tensões nos anos seguintes.
Desta forma, torna-se importante destacar que as preocupações observadas
nas interlocuções estabelecidas entre Freud e Einstein nas referidas cartas de 1932
justificam-se e que estas eram compartilhadas na época por outros intelectuais e
entre estes, Anísio Teixeira, como poderá ser constatado ao longo do
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obra Emilio, de Rousseau, como de gregos, jesuítas, Locke, Comte, Stuart Mill,
Spencer e Kant, bem como Escola Nova e autores como Maria Montessori, Ovidio
Decroly e John Dewey, que deveriam embasar dissertações de fim de curso; aborda,
também, questões relacionadas à realidade vivenciada à época e que já sinalizava
um crescimento do fascismo em força e penetração. Assim, na gestão de Anísio
Teixeira, o Sistema Educacional do Rio de Janeiro foi implementado dentro da crença
de empoderamento da educação para fazer frente a novos conflitos, ou seja,
buscando veicular a cultura da paz.
Cabe ressaltar que na gestão da antiga capital do Brasil, Dr. Anísio já defendia
que a Metodologia Científica Experimental de Dewey fosse apreendida e trabalhada
por educandos e profissionais atuantes no sistema de ensino e instituições afins. Isso
por acreditar que as contínuas mudanças em curso, a nível nacional e internacional,
demandariam sempre novas perguntas e, consequentemente, pesquisas para
encontrar novas respostas. Nesse sentido Dr. Anísio mobiliza-se para criar, ao tempo
que implanta o Instituto de Educação, o Departamento de Educação, ao qual este
passa a vincular-se e que foi estruturado conforme a configuração do organograma
original, arquivado no CPDOC/FGV e disponibilizado a seguir.
Figura 1 - Cronograma Departamento de Educação.
Fonte: CPDOC/FGV
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Referências
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Linhas doutrinárias traçadas por Cubberley em gestões de Anísio Teixeira
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MATTA, Raymundo. Anísio Teixeira e a arte de identificar vocações para a
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TEIXEIRA, Anísio. Carta enviada a Leonard S. Kenworthy em 15 de Fevereiro de
1948.
XAVIER, Libânia e PINHEIRO, José Gledson. Da Lab School às escolas
experimentais do Rio de Janeiro nos anos 1939. Hist. Educ. (Online) Porto
Alegre v. 20 n. 50 Set./dez., 2016 p. 177-191.
1
Esse artigo resulta da tese de doutorado defendida em 2018 no Programa de Pós-Graduação em
Educação e Contemporaneidade – PPGEduC/UNEB.
2
Professora Doutora do Departamento de Educação – Campos I - Universidade do Estado da Bahia
(UNEB) e-mail: llbritto@yahoo.com.br
3
Professora Doutora do Departamento de Educação – Campos I - Universidade do Estado da Bahia
(UNEB) e-mail: jacimnz@hotmail.com
4
Original em inglês, traduzido por Luiz Rogério Goes de Britto, bacharel em Línguas Estrangeiras
Modernas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
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