3.10.COC - Metabolismo 2
3.10.COC - Metabolismo 2
3.10.COC - Metabolismo 2
da Vida
Profa. Annielle Mendes Brito da Silva
BLOCO 3. METABOLISMO II
Olá alunos, neste bloco aprenderemos sobre os metabolismos de lipídios e proteínas,
biomoléculas muito importantes para a geração de energia e estruturação do
organismo. Além disso, veremos como as vias metabólicas trabalham em conjunto e
como essas vias podem ser reguladas por hormônios, enzimas, produtos e
metabólitos. Ao final deste bloco, você poderá entender a importância das funções
metabólicas para o organismo e para a manutenção do equilíbrio dinâmico dos seres
vivos.
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energia, que é usada quando há necessidade. Esse evento de síntese e
armazenamento é chamado de lipogênese.
Além de serem obtidos através da dieta, os ácidos graxos podem ser sintetizados a
partir de aminoácidos, carboidratos e álcool advindos da alimentação. A biossíntese de
ácidos graxos ocorre no citosol hepático a partir do excesso de grupos acetil que são
produzidos pelo metabolismo de carboidratos e de lipídios. Essa via de síntese inicia-se
com a transformação de acetil-CoA, com 2 carbonos, em malonil-CoA, molécula de 3
carbonos. O primeiro ácido graxo a ser sintetizado é o ácido palmítico, com 16
carbonos em sua extensão, que vai sendo alongado e/ou desnaturado para a formação
de insaturações. O NADPH, que foi produzido na via das pentoses fosfato, é utilizado
como agente oxidante (VOET e VOET, 2013).
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favorece a entrada dos ácidos graxos para o interior da mitocôndria, onde serão
oxidados para a geração de energia num processo chamado de β-oxidação
(MARZZOCO e TORRES, 2018).
A oxidação dos ácidos graxos de cadeia longa é uma via central liberadora de energia
em animais. A β-oxidação consiste em uma sequência de quatro reações, de forma
que, em cada ciclo, o ácido graxo vai sendo decomposto e torna-se outro ácido graxo
encurtado em 2 átomos de carbono, liberando Acetil-CoA. Isso se repete até esgotar os
carbonos da cadeia do ácido graxo. Para os ácidos graxos insaturados, é necessária
mais uma reação que irá mudar a conformação da dupla ligação antes da sua
degradação completa. As moléculas de Acetil-CoA geradas na β-oxidação podem ser
direcionadas para o ciclo de Krebs, onde são completamente oxidadas a CO2.
Em períodos de jejum prolongado, principalmente quando há redução drástica dos
níveis de carboidratos circulantes e das reservas, no fígado, o Acetil-CoA gerado pela β-
oxidação pode ser convertido em corpos cetônicos. Os corpos cetônicos, também
chamados de cetoácidos, são combustíveis hidrossolúveis que são exportados para o
cérebro e outros tecidos quando não se tem glicose disponível. Isso ocorre, pois, em
períodos de jejum prolongado, há o aumento exacerbado da liberação de ácidos
graxos, devido ao desequilíbrio entre a formação de triacilglicerol e a lipólise
(MARZZOCO e TORRES, 2018).
O fígado tenta reverter essa situação realizando a captação de ácidos graxos livres,
direcionando-os para a mitocôndria. Dessa forma, a β-oxidação fica acelerada nas
mitocôndrias hepáticas, o que excede a taxa de captação do ciclo de Krebs, formando
intermediários, os corpos cetônicos.
Os corpos cetônicos gerados no jejum são direcionados para a síntese de colesterol e
para ser combustível para oxidação pelas mitocôndrias de vários tecidos,
principalmente músculo, coração e cérebro, órgãos que dependem bastante do
consumo de carboidratos para a geração de energia.
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peptidases ou proteases, pois quebram as ligações peptídicas que unem os
aminoácidos entre si. Essas enzimas específicas para a digestão de proteínas são
encontradas no suco gástrico, entérico e pancreático, catalisando as reações no lúmen
do estômago e do intestino delgado (e também no interior dos enterócitos). A
hidrólise das proteínas e polipeptídeos consiste na ruptura (pela água) das ligações
peptídicas com libertação dos aminoácidos envolvidos na ligação (MARZZOCO E
TORRES, 2018).O tubo digestivo apresenta pH propício para a atividade dessas enzimas
digestivas. A digestão das proteínas inicia-se no estômago. O pH do lúmen do
estômago é ácido, entre 1 e 2, o que desnatura as proteínas da dieta e cria o pH
adequado à ação da pepsina. O quimo ácido é neutralizado quando chega ao duodeno
porque os sucos pancreático e biliar contêm bicarbonato. O pH neutro do lúmen do
duodeno e do intestino é adequado à ação das enzimas que atuam neles. As proteínas
são degradadas a oligopeptídeos e aminoácidos livres (HARVEY e FERRIER, 2012).
Os aminoácidos e pequenos peptídeos são absorvidos pelos enterócitos através de
transportadores específicos. Alguns di ou tripeptídeos são degradados em aminoácidos
pelas aminopeptidases intracelulares. Os aminoácidos são transferidos para corrente
sanguínea e transportados para o fígado para a síntese de novas proteínas.
Os seres vivos não são capazes de armazenar aminoácidos nem proteínas e, portanto,
satisfeitas as necessidades de síntese de proteínas, os aminoácidos excedentes são
degradados.
Nos animais, os aminoácidos podem sofrer degradação oxidativa em três
circunstâncias metabólicas diferentes (MARZZOCO e TORRES, 2018; HARVEY e
FERRIER, 2012):
1. Durante a síntese e a degradação normais das proteínas celulares, que fazem parte
da renovação das proteínas, alguns dos aminoácidos liberados, durante a quebra das
proteínas, sofrerão degradação oxidativa, caso não sejam necessários para a síntese de
novas proteínas.
2. Quando, devido a uma dieta rica em proteínas, os aminoácidos são ingeridos em
excesso, com relação às necessidades corporais de biossíntese de proteínas, o
excedente é catabolizado, já que os aminoácidos livres não podem ser armazenados.
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3. Durante o jejum severo ou o diabetes mellitus, quando os carboidratos estão
inacessíveis ou não são utilizados adequadamente, as proteínas corporais serão
hidrolisadas e seus aminoácidos empregados como combustível.
Após a absorção, além de serem degradados a compostos mais simples, os
aminoácidos passam pela retirada do nitrogênio e a cadeia carbônica deverá ser
reutilizada para fins energéticos. A cadeia carbônica pode ser direcionada para a
produção de um composto final que é intermediário da síntese de glicose ‒ este é
chamado de aminoácido glicogênico. Os aminoácidos cetogênicos produzem como
produto final o Acetil-CoA. Os aminoácidos glicocetogênicos produzem tanto acetil-
CoA, quanto intermediários na produção da glicose.
Os aminoácidos passam por três etapas para que ocorra a degradação. A primeira fase
consiste na transferência do grupamento amino de um aminoácido para um cetoácido,
por ação de transaminases. Esse evento é seguido pela desaminação, reação que
corresponde à retirada do grupamento amino pelas desaminases e produção de
amônia. Por fim, a amônia, que é tóxica ao organismo quando em grandes
concentrações, necessita ser convertida em uma forma menos tóxica para ser
excretada. Dessa forma, a amônia é direcionada para o fígado, onde é convertida em
ureia, numa via metabólica chamada de ciclo da ureia (MARZZOCO e TORRES, 2018).
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O processo de turnover de proteínas, que aparentemente é um desperdício, pode ser
mencionado uanto eliminação de proteínas anormais, cu o ac mulo poderia causar
danos célula, e permi r a regulação do meta olismo celular, por meio da eliminação
de en imas e de proteínas reguladoras ue não são mais necessárias.
A síntese de novas proteínas será abordada de forma mais completa em bloco
posterior desta disciplina. O evento da síntese proteica acontece devido à demanda do
organismo. Nesse processo, é necessário que aconteça primeiramente, no núcleo
celular, a síntese de RNA a partir de um DNA de interesse. Essa molécula de RNA é
transportada para o citoplasma da célula, onde, em contato com os ribossomos, é
decodificado na forma de proteínas, evento este chamado de tradução. A mensagem
impressa no RNA é decodificada na forma de aminoácido, sendo que, a cada 3
nucleotídeos (códon) lidos, um aminoácido, dentre os 20 disponíveis, é adicionado à
sequência e ligado por meio de ligação peptídica (Figura 1). Esses aminoácidos são
aqueles que foram adquiridos pela alimentação e encontram-se disponíveis no
organismo para essa finalidade. É importante ressaltar que o processo de produção de
proteínas pelas células não é aleatório, acontecendo sob demanda e de acordo com a
estrutura e funcionalidade celular.
Após a sequência de estrutura primária ser obtida, acontece o enovelamento,
processamento e direcionamento das proteínas. Esses eventos são chamados de pós-
traducionais e têm como finalidade enovelar a proteína recém-sintetizada em sua
conformação tridimensional apropriada, conferindo a sua forma biologicamente ativa.
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Figura 1. Síntese proteica acontecendo no ribossomo. Note que, assim que faz a leitura
do códon, acontece o acréscimo de um aminoácido. Adaptado de Shutterstock.
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pode ser convertida em ácidos graxos, ou pode ser degradada para a geração de
energia na glicólise e no ciclo do ácido cítrico (MARZZOCO e TORRES, 2018).
Alguns triacilgliceróis derivados dos lipídios digeridos também vão para o fígado, onde
os ácidos graxos são usados numa variedade de processos, como serem convertidos
em outros triacilgliceróis, colesterol ou lipoproteínas plasmáticas para o transporte e
armazenamento nos adipócitos. Os ácidos graxos também podem ser oxidados para
produzir ATP ou formarem corpos cetônicos.
Os aminoácidos são usados para sintetizar as proteínas do fígado e do plasma ou os
seus esqueletos carbônicos podem ser convertidos em glicose e glicogênio pela
gliconeogênese; a amônia restante, proveniente dos grupamentos amina, é convertida
em ureia antes de ser excretada (MARZZOCO e TORRES, 2018).
O músculo esquelético tem a importante função de contração e trabalho mecânico,
para isso, durante essas atividades, o glicogênio é fermentado a lactato (fermentação
láctica), fornecendo ATP. Durante a recuperação, o lactato é reconvertido em glicose
(pela gliconeogênese) e glicogênio para ser armazenado no fígado e músculo.
O cérebro é um órgão de extrema importância para o funcionamento do organismo e
usa apenas glicose como fonte de energia. Nos períodos de jejum e desnutrição, o
cérebro costuma utilizar corpos cetônicos para a geração de energia.
O sangue integra todos os órgãos, unindo-os, através do transporte de nutrientes,
metabólitos e hormônios. Os hormônios são mensageiros químicos secretados por
glândulas, servindo para regular a atividade de outros tecidos. A concentração de
glicose no sangue é regulada por hormônios, dessa forma, flutuações na glicose
sanguínea devido à captação na dieta ou exercício vigoroso são contrabalançadas por
uma variedade de alterações desencadeadas por hormônios (VOET e VOET, 2013).
A adrenalina, hormônio produzido pelas glândulas adrenais, prepara o organismo para
aumentar a sua atividade, mobilizando a glicose sanguínea a partir do glicogênio e
outros precursores. A glicose sanguínea baixa leva à liberação do hormônio glucagon,
produzido pelas células alfa das ilhotas pancreáticas, que estimula a liberação de
glicose a partir do glicogênio hepático e desloca o metabolismo energético no fígado e
nos músculos para a degradação de ácidos graxos, poupando a glicose para uso pelo
cérebro. No período alimentado, o aumento da glicose sanguínea estimula a liberação
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de insulina, que aumenta a captação de glicose pelos tecidos e favorece o
armazenamento de triacilglicerol e glicogênio (VOET e VOET, 2013; HARVEY e FERRIER,
2012).
Conclusão do Bloco 3
Neste bloco, você aprendeu sobre o metabolismo de lipídios e de proteínas, além de
entender como esse metabolismo é integrado. Você aprendeu como os lipídios podem
ser usados para gerar e armazenar energia, por meio da β-oxidação e da lipogênese,
respectivamente. Você também aprendeu que, em um período de jejum, há o
consumo dos triacilgliceróis que estão presentes no tecido adiposo e, em níveis mais
críticos de jejum, há uma grande metabolização dos ácidos graxos, o que leva à
geração dos corpos cetônicos. As proteínas são quebradas em aminoácidos, que são
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absorvidos, mas não podem ser armazenados. Aproveitando o seu esqueleto
carbônico para a geração de energia, e excluindo as aminas, na forma de ureia. Por
fim, você aprendeu que há integração bioquímica entre os órgãos e tecidos, e há
regulação hormonal desse metabolismo.
Referências do Bloco 3
HARVEY, Richard A.; FERRIER, Denise R. . radução de André
rumel ortella e e uipe e isão técnica de Carla Dalma . 5. ed. Porto Alegre: Artmed,
2012.
MARZZOCO, Anita; TORRES, Bayardo Baptista. Bioquímica básica. 4. ed. reimpr. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.
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