Peça 2 - Apelação
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Peça 2 - Apelação
1ª VARA CRIMINAL DA
COMARCA DE FLORIANÓPOLIS-SC
Processo nº xxxxxxx
Breno, já devidamente qualificado nos autos do processo em epígrafe, não se conformando com a
sentença proferida por este juízo, vem, por meio de seu advogado que esta subscreve, infra assinado,
INTERPOR RECURSO DE APELAÇÃO, com fundamento no art. 593, I do CPP.
Ante ao exposto, requer que seja recebido e processado o presente recurso, e encaminhado com as
inclusas razões ao Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina.
RAZÕES DE APELAÇÃO
APELANTE: Breno
APELADO: Justiça Pública
Autos Nº XXX
RECURSO DE APELAÇÃO,
com fulcro no art. 593, I e 598, do Código de Processo Penal, ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de
Santa Catarina.
I - DOS FATOS
Em 3 de novembro de 2017, Breno, 19 anos, conheceu Carlos em uma festa cuja censura era 18 anos.
Juntos, resolveram praticar roubo a mão armada em uma loja de conveniência de um posto de gasolina,
quando foram surpreendidos por policiais militares, que os encaminharam à delegacia. Lá, foi constatado
que Carlos era menor de 16 anos e que arma de fogo utilizada no crime estava municiada e era capaz de
efetuar disparos. Constatou-se, ainda, que Breno respondia a 3 inquéritos policiais e tinha 5 ações penais em
curso, nenhuma delas transitado em julgado.
Foram realizadas diligências que confirmavam a acusação, através de filmagens. Em 05 de junho de
2019, Breno foi denunciado pelo Ministério Público, perante a 1ª Vara Criminal da Comarca de
Florianópolis/SC como incurso nas sanções penais do Artigo 157, § 2º, inciso II e § 2º-A, inciso I, do
Código Penal e do Art. 244-B da Lei no 8.069/90, na forma do Art. 70 do Código Penal.
Durante audiência de instrução e julgamento, o magistrado optou por perguntar diretamente para as
testemunhas de acusação e defesa, não oportunizando manifestação das partes, tendo a defesa demonstrado
seu inconformismo com a conduta. A vítima confirmou os fatos, destacando que ficou muito assustada
porque Breno e Carlos eram muito altos e fortes, parecendo jovens de aproximadamente 25 anos de idade.
Destacou, ainda, que o dinheiro do caixa não foi subtraído devido a intervenção policial.
Na condenação, em sua primeira fase, o magistrado fixou a pena base dos crimes de roubo e
corrupção de menores acima do mínimo legal, em razão da personalidade do réu, que seria voltada para
prática de crimes, conforme indicaria sua folha de antecedentes criminais, restando a pena do roubo em 4
anos e 06 meses de reclusão e 12 dias multa e da corrupção em 01 ano e 02 meses de reclusão. Na terceira
fase, a pena base do crime de corrupção de menores foi confirmada como definitiva, enquanto a pena de
roubo foi aumentada em 2/3, em razão do emprego de arma de fogo, diante das previsões da Lei nº
13.654/18, restando a pena definitiva do roubo em 07 anos e 06 meses de reclusão e 20 dias multa, já que
não foram reconhecidas causas de diminuição de pena. O regime inicial fixado foi o fechado, em razão da
pena final de 8 anos e 8 meses de reclusão e 20 dias multa. O Ministério Público, intimado da sentença,
manteve-se inerte.
II – DO DIREITO
1. DAS NULIDADES – 564 CPP: A nova redação dada ao art. 212 do CPP, em vigor a partir de agosto de
2008, determina que as vítimas, testemunhas e o interrogado sejam perquiridos direta e primeiramente pela
acusação, e na sequência, pela defesa, possibilitando ao magistrado complementar a inquirição quando
entender necessário quaisquer esclarecimentos. Ocorre que, no caso em tela, o magistrado optou por
perguntar diretamente para as testemunhas de acusação e defesa, ferindo o supracitado artigo. Mesmo a
defesa mostrando seu inconformismo com a conduta, tal ato praticado em desacordo com o modelo legal
causou prejuízos ao réu. Assim, a audiência deve ser anulada, tendo em vista que a defesa do réu manifestou
seu inconformismo e não foi atendida. Como as partes não puderam
complementar a inquirição realizada pelo magistrado, tal conduta do juiz representou cerceamento de defesa
e violação ao princípio da ampla defesa, elencado no art. 5º, inciso LV, da CF/88.
2. No tocante a condenação pelo crime de corrupção de menores, tal crime não se configurou, pois o réu
também foi enganado: eles se conheceram em uma festa onde era proibida a entrada de menores, momentos
antes do crime. Daí, o réu supôs que ele fosse maior de idade. Aliás, se soubesse de sua idade real, ele
jamais o admitiria nessa empreitada. Ademais, corrobora com o imaginário do réu o depoimento da vítima,
que relatou que ambos eram altos, fortes e aparentavam ter 25 anos de idade. Daí, no que se refere ao crime
de corrupção de menores, o réu deve ser absolvido, nos termos do Art. 386, III, do CPP, pois o fato não
constitui ação penal. No caso em tela, o ocorrido se enquadra em erro de tipo, o que afasta o dolo e a culpa.
3. A pena base fixada pelo magistrado não encontra amparo legal, pois não foi reconhecida qualquer
circunstância desfavorável ao réu, que estaria elencada no art. 59 do CP, pois o agente responde por outros
delitos, entretanto nenhum deles fora transitado em julgado. Majorar a pena com base em inquéritos
policiais ou suposta personalidade voltada para a prática do crime representa a violação do princípio da
presunção de inocência, elencado no art. 5º, LVII da CF/88. Ademais, conforme a Súmula 444/STJ, “É
vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base”. Daí, a
inconstitucionalidade dessa circunstância atenta contra a democracia e o devido processo legal, devendo ser
revista.
4. O magistrado não reconheceu a atenuante da pena constante no art. 65, I do Código Penal. Na data do
fato, o agente era maior de 18 anos, porém, menor de 21. Daí, encontra-se no que a doutrina nomeia de
menoridade relativa, que é a atenuante aplicável aos réus menores de 21 anos ao tempo do fato, pouco
importando a data da sentença. Essa atenuante tem como fundamento a imaturidade do agente, que por tal
motivo merece uma pena mais branda.
4. O aumento de pena imputado ao réu não se faz legítimo, pois o crime foi cometido em 2017 e a Lei
13.654, que majora a pena do crime de roubo praticado com concurso de pessoas e emprego de arma de
fogo, foi aprovada em 2018. Logo, a aplicação deste diploma legal no caso em tela fere o princípio
constitucional da legalidade, consubstanciando no art. 5º, XXXIX da CF/88 – “Não há crime sem lei anterior
que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.” Deveras, no caso em tela, há, em tese, a causa de
aumento de pena devido ao emprego de arma de fogo municiada e com potencial ofensivo. Porém, tal
majoração não deveria ser de 2/3, conforme fora aplicado. Conforme
5. Não houve a consumação do crime. O que ocorrera foi uma mera tentativa, pois o crime não se consumou
por circunstâncias alheias a vontade dos autores, consubstanciando o que preconiza o art. 14, II do CP. E,
conforme o mencionado artigo, a pena deve ser reduzida de um a dois terços em razão da tentativa.
6. Diante dos fatos acima expostos, o regime inicial de pena também deve ser abrandado para o regime
aberto, ou, pelo menos, semi-aberto, conforme preconizado pelo art. 33 do Código Penal, pois a pena base
deveria ser a mínima a ser aplicada no tipo penal em análise, já que o réu é primário.
Ante o exposto, requer que seja conhecido e provido o presente recurso, para reformar a sentença
proferida;
Termos em que,