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ENRIQUECIMENTO ARARA - Meio Ambiente

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS


DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA E ZOOLOGIA

AVALIAÇÃO DE DIFERENTES ENRIQUECIMENTOS AMBIENTAIS PARA


ARARA-CANINDÉ (ARA ARARAUNA LINNAEUS, 1758)

LARISSA MOREIRA VICTORIA

FLORIANÓPOLIS
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA E ZOOLOGIA

Larissa Moreira Victoria

AVALIAÇÃO DE DIFERENTES ENRIQUECIMENTOS AMBIENTAIS PARA


ARARA-CANINDÉ (ARA ARARAUNA LINNAEUS, 1758)

Trabalho de Conclusão de Curso


submetido ao Centro de Ciências
Biológicas da Universidade Federal de
Santa Catarina para a obtenção do Grau
de Bacharel em Ciências Biológicas.

Orientador: Prof. Dr. Renato Hajenius Aché de Freitas


Co-orientador: Msc. Victor Michelon Alves

Florianópolis, junho de 2017.


AGRADECIMENTOS
Muitos foram aqueles que participaram dessa longa caminhada e que contribuíram de
alguma maneira nesse processo. Sou muito grata por cada conselho, palestra, exemplo ou dica
que me foi dada. Porém, alguns estiveram sempre presentes e merecem um agradecimento
especial, por tudo o que fizeram e representaram durante todo esse tempo. Cada um de vocês
está em todas as linhas deste trabalho e em todos os espaços do meu ser.
Aos meus pais, por uma vida inteira de dedicação, incentivo, cuidado, amor e
paciência. Por estarem sempre presentes, mostrando que seguir em frente é sempre a melhor
solução, independente dos obstáculos que surgirem. Por proporcionarem todo conforto
possível para que todas fossem sempre além.
Às minhas irmãs, minhas melhores amigas. Que sorte a minha! Companheiras,
confidentes, conselheiras e parceiras. Obrigada por dividirem tanto comigo, sejam histórias,
risadas, problemas, angústias, alegrias... enfim, a vida. O apoio e a presença de vocês foram e
são fundamentais pra mim.
Ao Vinícius, por toda ajuda, paciência, compreensão e prestatividade, não só na
execução deste trabalho, mas também durante todo o curso. Por sempre se interessar e
acreditar em mim e no meu trabalho, por me incentivar e admirar até os pequenos detalhes.
Por me permitir florir.
Aos meus estimados orientadores, parceiros e amigos, Renato e Victor, pela
orientação, dedicação, preocupação e incentivo. Pelos empréstimos de materiais para que
fosse possível a realização do trabalho, por buscarem referências, pelas dicas, pelos
pensamentos do dia, por compartilharem experiências pessoais e pela paciência durante todo
esse tempo. Obrigada por aceitarem fazer parte deste trabalho.
Aos meus amigos Kellen, Lígia, Luciano, Marina e Raphael, por todas as noites
estudando, por todas as aulas perdidas, por todo sufoco antes das provas, por todas as horas
felizes e barzinhos, por sempre terem assunto para conversar, mesmo nos dias ruins e pelo
incentivo de sempre, afinal somos todos muito decididos. Luciano, para a próxima a gente
começa a estudar antes.
Às lindas Amanda e Jamille, por nossas tardes de brincadeiras que fizeram meus dias
mais alegres.
Ao meu amigo Felipe, por passar anos dividindo comigo as angústias do curso técnico,
das nossas faculdades e principalmente da vida. Por ter sempre muita paciência. Obrigada por
me ensinar como fazer o vestibular da UFSC.
Ao meu irmão de coração Marcos, por ser um exemplo de pessoa e por sempre
mostrar que quando se quer, não existe distância que afaste ou impeça algo de acontecer.
Ao professor Luiz Fernando Gonçalves Figueiredo e a querida monitora e irmã Isabel,
do Núcleo de Abordagem Sistêmica do Curso de Design/UFSC, por cederem a sala e os
equipamentos necessários para a confecção dos enriquecimentos, e também por ajudarem e
comerem coco comigo durante todos os procedimentos.
A caríssima professora Andrea Marrero, por ser uma pessoa tão especial, tão delicada
e atenciosa, percebendo os detalhes e as particularidades de cada um. Obrigada por
disponibilizar seu tempo para me ouvir e me aconselhar.
À FATMA, por conceder a autorização para a realização desse trabalho e
principalmente, por manter o trabalho realizado dentro do parque.
Aos queridos companheiros da R3, em especial nas pessoas da Cris, Josieli e Matheus,
por abrirem as portas para que eu pudesse realizar esse trabalho e por me permitirem conhecer
melhor esses lindos seres com os quais tive a oportunidade de conviver. A todos os tratadores
e voluntários, por cuidarem tão bem das araras e de todos os animais do parque. Mas também
as lindas Carol e Mari, por alterarem suas rotinas para não interferirem nas minhas gravações
e por fazerem o tempo passar mais rápido. Ao Vanderlei por ser muito prestativo e
preocupado com o tempo que eu ficava de pé durante as gravações, arrumando até um
banquinho para mim.
Aos meus amores de outra espécie, Charlotte, Raul, Ozzy e Dora, só mesmo estas
criaturas maravilhosas para nos acompanharem nas diversas noites sem dormir, para
escutarem nosso choro sem precisar saber o motivo, para fazerem aquele carinho e estarem
sempre prontos para também receber.
Por último, agradeço a esse grupo de seres inteligentes, curiosos e encantadores que
são as araras, por me permitirem invadir o seu já limitado espaço.
RESUMO
A intensificação das atividades humanas que degradam os ambientes naturais, aliada ao
ganancioso comércio de animais silvestres, têm contribuído para que, cada vez mais, diversas
espécies necessitem de programas voltados para a sua conservação ex situ, ou seja, em
ambientes controlados pelo ser humano. Por serem locais restritos e que diferem muito da
vida natural, esses ambientes favorecem o surgimento de comportamentos considerados
anormais e que prejudicam o bem-estar dos animais. A utilização de técnicas de
enriquecimento ambiental objetiva aumentar a complexidade do ambiente e assim melhorar as
condições físicas e psicológicas dos indivíduos cativos. O presente estudo avaliou o efeito que
os enriquecimentos físico e social (promovidos com o manejo para novo recinto), social
(introdução de indivíduos coespecíficos), físico (introdução de objetos) e alimentar e
cognitivo (introdução de recipientes para alimentação) provocaram no comportamento de 23
indivíduos cativos de araras-canindé no Núcleo de Tratamento e Recuperação de Animais
Silvestres do Parque Estadual do Rio Vermelho em Florianópolis. A coleta de dados foi
realizada com a filmagem dos recintos dos animais em duas fases distintas, sendo a fase 1
constituída nas etapas: Recintos Separados (RS), Enriquecimento Físico e Social Novidade
(EFS NOV.) e Não Novidade (EFS NÃO NOV.), e a fase 2 nas etapas: Pré-enriquecimento
(PRÉ-ENR.), Enriquecimento Social Novidade (ES NOV.) e Não Novidade (ES NÃO NOV.),
Enriquecimento Físico Novidade (EF NOV.) e Não Novidade (EF NÃO NOV.),
Enriquecimento Alimentar e Cognitivo Novidade (EAC NOV.) e Não Novidade (EAC NÃO
NOV.) e Pós-enriquecimento (PÓS-ENR.). Ao total as duas fases somaram 25 horas de
gravação em um período de 15 dias. As informações coletadas durante as análises das
gravações foram organizadas em tabelas, utilizando o método animal focal, combinado com o
registro de todas as ocorrências e o registro contínuo. Foram descritos 54 comportamentos
para os indivíduos e esses agrupados em 13 categorias comportamentais. As mudanças mais
significativas no repertório comportamental dos animais foram obtidas com o Enriquecimento
Físico e Social (EFS). Os enriquecimentos aplicados nesse trabalho, principalmente nas etapas
denominadas ‘novidade’, reduziram alguns comportamentos considerados problemáticos para
o bem-estar dessas aves, resposta que não se manteve nas etapas ‘não-novidade’. Isso reforça
e necessidade de se manter um caráter de novidade nos itens oferecidos, pois a exposição
prolongada aos enriquecimentos leva a uma habituação e perda de interesse pelos animais.

Palavras-chave: aves, bem-estar animal, cativeiro, comportamento animal, psitacídeos.


LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1. Mapa de Florianópolis indicando a localização do Parque Estadual do Rio
Vermelho .................................................................................................................................. 20

FIGURA 2. Esquema demonstrativo das diferentes fases e etapas do estudo ......................... 21

FIGURA 3. Esquema demonstrativo da variação no número amostral do início ao fim da


pesquisa .................................................................................................................................... 22

FIGURA 4. Recintos A, B, C e D, localizados no Núcleo de Tratamento e Recuperação de


Animais Silvestres do Parque do Rio Vermelho ...................................................................... 24

FIGURA 5. Artefato utilizado como enriquecimento físico do tipo “Rede de escalada” para
as araras-canindé (Ara araruna) do Núcleo de Tratamento e Recuperação de Animais
Silvestres do Parque do Rio Vermelho ..................................................................................... 25

FIGURA 6. Artefato utilizado como enriquecimento físico do tipo “Laço” para as araras-
canindé (Ara araruna) do Núcleo de Tratamento e Recuperação de Animais Silvestres do
Parque do Rio Vermelho .......................................................................................................... 25

FIGURA 7. Artefatos utilizados como enriquecimento alimentar e cognitivo para as araras-


canindé (Ara araruna) do Núcleo de Tratamento e Recuperação de Animais Silvestres do
Parque do Rio Vermelho .......................................................................................................... 26

FIGURA 8. Artefatos utilizados como enriquecimento alimentar e cognitivo para as araras-


canindé (Ara araruna) do Núcleo de Tratamento e Recuperação de Animais Silvestres do
Parque do Rio Vermelho .......................................................................................................... 27

FIGURA 9. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos nas
etapas Recintos Separados, EFS-Novidade e EFS-Não Novidade ........................................... 33
FIGURA 10. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos que
apresentaram valores de média menores que 10% nas etapas Recintos Separados, EFS-
Novidade e EFS-Não Novidade ............................................................................................... 33

FIGURA 11. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos nas
etapas Pré-enriquecimento, ES-Novidade e ES-Não Novidade............................................... 34

FIGURA 12. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos que
apresentaram valores de média menores que 10% nas etapas Pré-enriquecimento, ES-
Novidade e ES-Não Novidade ................................................................................................. 35

FIGURA 13. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos nas
etapas Pré-enriquecimento, EF-Novidade e EF-Não Novidade............................................... 36

FIGURA 14. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos que
apresentaram valores de média menores que 10% nas etapas Pré-enriquecimento, EF-
Novidade e EF-Não Novidade ................................................................................................. 36

FIGURA 15. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos nas
etapas Pré-enriquecimento, EAC-Novidade e EAC-Não Novidade ........................................ 37

FIGURA 16. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos que
apresentaram valores de média menores que 10% nas etapas Pré-enriquecimento, EAC-
Novidade e EAC-Não Novidade .............................................................................................. 38

FIGURA 17. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos nas
etapas Recintos Separados, Pré-enriquecimento e Pós-enriquecimento .................................. 39

FIGURA 18. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos que
apresentaram valores de média menores que 10 % nas etapas Recintos Separados, Pré-
enriquecimento e Pós-enriquecimento ..................................................................................... 39
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Tabela de registro diário dos comportamentos, com informações sobre o dia,
recinto, indivíduo, ação, sigla, descrição, duração e observações sobre os comportamentos. . 28

Tabela 2. Etograma elaborado para as araras-canindé (Ara ararauna) do Núcleo de


Tratamento e Recuperação de Animais Silvestres, do Parque do Rio Vermelho..................... 30
12

SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 13

2. OBJETIVOS .................................................................................................................... 19

2.1. Objetivo geral ............................................................................................................ 19

2.2. Objetivos específicos ................................................................................................. 19

3. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................. 19

3.1. Local de estudo .......................................................................................................... 19

3.2. Método amostral ........................................................................................................ 21

3.2.1. Delineamento experimental ............................................................................... 21

3.2.2. Número amostral ................................................................................................ 22

3.2.3. Recintos .............................................................................................................. 22

3.2.4. Técnicas de enriquecimento ambiental .............................................................. 24

3.2.5. Coleta de dados .................................................................................................. 27

3.2.6. Análise das gravações ........................................................................................ 28

3.2.7. Análise estatística ............................................................................................... 29

3.2.8. Declaração de ética ............................................................................................ 30

4. RESULTADOS ................................................................................................................ 30

5. DISCUSSÃO ................................................................................................................... 40

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 45

7. REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 47

8. APÊNDICES .................................................................................................................... 54

8.1. Valores de H e p obtidos através do teste Kruskal Wallis......................................... 54

8.2. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo das categorias comportamentais
e seus respectivos comportamentos em cada etap ............................................................... 55

9. ANEXOS ......................................................................................................................... 58

9.1. Aprovação do estudo pela CEUA ............................................................................. 58

9.2. Aprovação do estudo pela FATMA .......................................................................... 59


13

1. INTRODUÇÃO
Formado por uma área que representa quase a metade da América do Sul (8,5 milhões
km²), o Brasil é um dos países que possui a maior biodiversidade do planeta (Galetti et al.,
2002; MMA, 2017). Composto pelos biomas da Floresta Amazônica, Pantanal, Cerrado,
Caatinga, campos dos Pampas e a Mata Atlântica, o País abriga uma enorme variedade de
flora e fauna, representando 20% do número total de espécies do planeta (MMA, 2017).
Conhecido como o “Continente das Aves”, a América do Sul possui uma das mais
ricas diversidades de aves do mundo (Piacentini et al., 2015; Sick, 1997). Somente para o
Brasil são registradas 1919 espécies, sendo que destas, 277 são endêmicas (Piacentini et al.,
2015). Além disso, o País é o maior em número de Psittacidae (Sick, 1997), com 86 espécies
oficialmente reconhecidas (CBRO, 2015). Essa abundância rendeu às terras brasileiras o
título de “Terra dos Papagaios”, sendo a arara-vermelha (Ara chloropterus) o primeiro
psitacídeo brasileiro registrado por Pero Vaz de Caminha (Teixeira e Papavero, 2014).
A ordem Psittaciformes é composta pelos papagaios, cacatuas, periquitos, araras,
maracanãs, entre outros, e dentro da classe das aves, é uma das mais facilmente identificáveis
devido a características morfológicas particulares, como o bico alto e recurvado, além de um
pé com quatro dedos, dois voltados para frente e dois para trás, denominado zigodáctilo
(Sick, 1997). A ordem é dividida em três famílias: Cacatuidae, Strigopidae e Psittacidae
(Sousa, 2014; Olah, 2016).
A família Psittacidae é a maior da ordem, possuindo ampla distribuição pelas zonas
tropicais do globo, porém também alcança zonas subtropicais e frias como a Patagônia
(Forshaw, 1989; Galetti et al., 2002). Sua plumagem muito colorida e a alta complexidade
cerebral faz com que sejam muito apreciados como animais de estimação, pois aprendem
facilmente a proferir palavras e diversas espécies chegam a latir, rir, entre outros (Sick,
1997).
Os maiores representantes da família são as araras. Esses são animais de grande porte,
com média de 80 cm de comprimento e podendo chegar a 1,5 kg. Ao total são seis espécies
de araras verdadeiras reconhecidas para o Brasil, dentre elas a arara-canindé Ara ararauna
(Linnaeus, 1758), também conhecida pelos nomes de arara-de-barriga-amarela e arara-
amarela (Sick, 1997). Seu corpo tem coloração azul na parte superior, com a coroa em verde,
e amarelo na parte inferior, com a região da garganta negra e região perioftálmica nua em
toda a face, com a presença de algumas linhas formadas por pequenas penas (Bianchi, 1998;
14

Sick, 1997). Sua área de distribuição vai desde o Panamá, até o sudeste do Brasil (Almeida,
2016).
Assim como a maioria dos psitaciformes, as araras-canindé são monogâmicas e não
apresentam dimorfismo sexual (Francisco e Moreira, 2012; Juniper e Parr, 1998). Nidificam
em cavidades como os troncos ocos de árvores e, às vezes, em paredões rochosos (Juniper e
Parr, 1998). O período reprodutivo pode variar de acordo com a região em que ocorrem
(Bianchi, 1998; del Hoyo et al., 1997), constando os intervalos entre fevereiro e junho nas
Guianas, dezembro e fevereiro na Colômbia e janeiro e março no Suriname (Bianchi, 1998;
Collar, 1997).
Em vida livre os psitacídeos baseiam sua alimentação em frutos e sementes (Roth,
1984), sendo a arara-canindé uma apreciadora de frutos de combaru (Dipteryx alata), jatobá
(Hymenaea sp.), mandovi (Sterculia apetala) e pequi (Caryocar brasiliense) (Sick, 1997).
Além disso, costumam também visitar barreiros (Roth, 1984) para se alimentar de terra e
suprir suas necessidades de minerais (Sick, 1997).
O encantamento humano pelos psitacídeos é documentado há muitos anos. Com a
descoberta do Novo Mundo, araras e papagaios passaram a estampar pinturas e tapeçarias
europeias (Sick, 1997). O avanço da exploração de novas terras culminou em um
crescimento no já estabelecido tráfico de animais, como em um dos casos mais famosos de
contrabando do Brasil colônia, onde entre outros, 300 macacos, 600 papagaios e 3.000 peles
de Panthera onca foram carregados à Europa no navio francês “La Pélerine” (Teixeira e
Papavero, 2014).
Nos dias de hoje, associado aos fatores históricos, toda beleza e capacidade cognitiva
coloca os psitacídeos entre as famílias de aves mais ameaçadas de extinção, com
aproximadamente 26% de suas espécies ameaçadas (Collar, 2000). Segundo dados da União
Internacional para Conservação da Natureza e Recursos Naturais (IUCN), atualmente na
América do Sul, a família conta com 45 espécies ameaçadas de extinção, sendo cinco delas
enquadradas na categoria ‘criticamente em perigo’ (IUCN, 2017). Entre os principais fatores
que contribuem para esse número estão a perda de habitat devido à intensa degradação
ambiental, o comércio ilegal internacional (Beissinger e Bucher, 1992; Wright et al., 2001),
maturidade sexual tardia (em média a partir dos cinco anos para Ara e Amazona) (Abramson
et al., 1995), baixas taxas reprodutivas e alto índice de mortalidade (Almeida, 2016; Collar,
2000; Wright et al., 2001).
Apesar de se enquadrar na lista das espécies ameaçadas como “pouco preocupante”
(LC) (IUCN, 2017), A. ararauna é uma das espécies de aves mais facilmente encontradas em
15

criadouros particulares e residências (Bianchi, 1998). Em países como a Venezuela, a espécie


não se encontra mais em regiões onde antes era vista (Desenne e Strahl, 1994), assim como
no Brasil, onde a espécie já teve sua distribuição estendida até o estado de Santa Catarina
(Sick, 1997).
Diversas espécies da fauna e flora vêm sendo devastadas pelas transformações
causadas pelas atividades humanas e a melhor maneira de protegê-las em longo prazo é com
a preservação das comunidades naturais no ambiente selvagem, ou in situ (Primack e
Rodrigues, 2001). Porém, para algumas espécies as estratégias ex situ, ou seja, que
mantenham ambientes artificiais sob supervisão humana parecem ser a única opção na
tentativa de frear seus processos de extinção (Diegues e Pagani, 2007; Primack e Rodrigues,
2001).
Zoológicos, aquários e bancos de sementes são exemplos de instalações ex situ
(Primack e Rodrigues, 2001) que contribuem substancialmente para o conhecimento
biológico e comportamental das espécies cativas (Almeida et al., 2008). No caso de espécies
animais, visam também o desenvolvimento de técnicas de produção e manejo, treinamento de
pessoal técnico científico e a educação ambiental (Diegues e Pagani, 2007).
Existem casos em que a utilização complementar das técnicas in situ e ex situ permite
que indivíduos de populações cativas possam ser integrados em populações existentes na
natureza (Primack e Rodrigues, 2001). No caso dos Centros de Triagem de Animais
Silvestres (CETAS) do Ibama, os animais recebidos são reabilitados para quando possível,
serem destinados à soltura (IBAMA, 2017).
Porém, mesmo em situações como esta, a vida em cativeiro pode provocar muitas
mudanças nos comportamentos dos animais (Almeida et al., 2008; McPhee e Carlstead,
2010). Nesses ambientes, as barreiras impostas pela limitação espacial, a facilidade no acesso
à comida e a ausência da dinâmica presentes na vida selvagem resultam em grandes desvios
comportamentais (Almeida et al., 2008; Newberry, 1993 apud Newberry, 1995; Pulz, 2013).
O comportamento pode ser definido como tudo aquilo que um animal realiza ou deixa
de realizar (Del-Claro, 2004), podendo ser instintivo, determinado geneticamente ou mesmo
aprendido (Weber e Krause, 2008). Quando um ambiente de cativeiro é pobre em estímulos,
a dificuldade em manifestar comportamentos naturais da espécie pode resultar em uma
redução na qualidade de vida do animal, ou seja, no seu bem-estar (Almeida et al., 2008;
Pulz, 2013).
16

O termo bem-estar refere-se ao estado em que se encontra o indivíduo em relação às


suas tentativas de adaptar-se ao ambiente (Broom, 1986; Broom e Molento, 2004), variando
entre muito bom e muito ruim (Broom, 2011). Esse estado considera as características físicas
e psicológicas dos animais (Broom e Molento, 2004), envolvendo, assim como em humanos,
sensações de prazer, contentamento, medo e frustração (Dawkins, 2006).
Enquanto ciência, o bem-estar animal é uma área recente, presente há menos de 30
anos nas discussões acadêmicas (Molento, 2007). Porém, as preocupações com o assunto
tiveram início na década de 1960, após a publicação do livro “Animal machine”, por Ruth
Harrison (Broom, 2011; Pulz, 2013), que impulsionou os questionamentos sobre a forma
como os animais de produção eram tratados (Pulz, 2013).
Como resultado das discussões surgidas, tem-se o que hoje é conhecido como o
conceito das “cinco liberdades” (Broom, 2011). Internacionalmente aceito, o conceito é
considerado uma referência nas avaliações das condições de bem-estar dos animais cativos
(Pulz, 2013), indicando que os animais devem viver (1) livres de fome e sede; (2) livres de
desconforto; (3) livres de medo e estresse; (4) livres de dor, doenças e lesões e (5) livres para
expressar seu comportamento normal (Young, 2003).
Para avaliar o nível de bem-estar em que se encontra um animal, é preciso conhecer a
biologia e a história natural dos indivíduos (Gonyou, 1994; Vasconcellos, 2009), utilizando-
se de parâmetros fisiológicos e comportamentais (Broom, 2011). Lesões, doenças,
desnutrição, aumento da frequência cardíaca, estresse e presença de comportamentos
anormais são alguns indicativos de um bem-estar ruim (Broom e Molento, 2004; Dawkins,
1998).
Em ambientes de cativeiro, onde as condições de alojamento suprimem situações
vividas em ambiente natural (Newberry, 1993 apud Newberry, 1995; Swaisgood e
Shepherdson, 2006), muitas vezes as necessidades dos animais não são satisfeitas,
caracterizando um estado ruim do bem-estar (Broom e Molento, 2004).
Essas situações favorecem o surgimento de comportamentos anormais nos animais
(Hosey, 2005), que são definidos como “comportamento que difere em padrão, frequência ou
contexto daquele que é mostrado pela maioria dos membros da espécie em condições que
permitem ampla gama comportamental” (Fraser e Broom, 1990 apud Broom, 1991). Assim,
a automutilação, canibalismo em suínos, bicar de penas em aves, excesso de agressividade e
estereotipias representam comportamentos que diferem do considerado normal (Almeida,
2016; Broom e Molento, 2004; Formentão, 2014).
17

As estereotipias são caracterizadas como movimentos repetitivos, invariantes e sem


função aparente (Dantzer, 1986; Garner et al., 2003; Keiper, 1969; Mason, 1991). Em aves
são apresentados por atos como o andar de um lado para o outro e o movimentar a cabeça de
um lado para o outro repetidamente (Mason e Rushen, 2006 apud Almeida, 2016). Essas
situações variam muito entre os indivíduos (Garner, 2005) e podem indicar uma tentativa dos
animais em lidar com o estresse do ambiente (Mason, 1991). De toda forma, a presença de
um ou mais comportamentos anormais indica que o animal se encontra em pobres condições
de bem-estar, ou bem-estar ruim (Broom e Molento, 2004; Sanders e Feijó, 2007).
Com o crescimento acerca da preocupação com os animais e das legislações vigentes,
que tentam regulamentar e amparar as necessidades básicas dos animais, sejam eles de
pesquisa, zoológicos ou de companhia (Dawkins, 2008; Sanders e Feijó, 2007), diversas
medidas vêm sendo tomadas na tentativa de amenizar as alterações provocadas pelo ambiente
do cativeiro. Dentre elas, destaca-se o emprego das técnicas de enriquecimento ambiental
(Mason et al., 2007), que podem ser entendidas como quaisquer técnicas utilizadas com o
objetivo de proporcionar melhores condições no ambiente físico ou social dos indivíduos
cativos (Boere, 2001; Newberry, 1995).
O reconhecimento da importância do ambiente físico e social para o bem-estar dos
animais foi primeiramente descrito por Yerkes em 1925 (Mellen e MacPhee, 2001). Segundo
Yerkes o animal cativo deve ser exposto a diferentes artefatos em seu ambiente para que
assim mantenha-se ativo e exercite diferentes reações, mesmo que estas atividades não
estejam diretamente ligadas à sobrevivência (Yerkes, 1925 apud Pizzutto et al., 2009).
Todas as técnicas de enriquecimento ambiental objetivam diminuir o estresse do
animal, tornando o ambiente mais complexo e interativo através da ocupação do tempo,
redução ou eliminação de comportamento anormais e estereotipias, aumento da exploração
do ambiente, aumento de atividades sociais, aumento na expressão de comportamentos
naturais da espécie, entre outros (Boere, 2001; Rupley e Simone-Freilicher, 2015; Young,
2003). Elas devem atender as necessidades comportamentais específicas de cada espécie,
aproximando ao máximo de possíveis situações encontradas na natureza (Boere, 2001) e
melhorando as funcionalidades biológicas do animal (Newberry, 1995).
As técnicas se dividem em cinco grandes categorias: enriquecimento social,
enriquecimento físico, enriquecimento ocupacional, enriquecimento sensorial e
enriquecimento alimentar (Bloomsmith et al., 1991). Segundo Bosso (2013), o
enriquecimento social consiste em proporcionar interações inter e intra-específicas. O físico
18

está relacionado com mudanças no tamanho e estrutura do recinto. O ocupacional objetiva


estimular as capacidades cognitivas dos indivíduos. Ainda de acordo com o mesmo autor, as
técnicas de enriquecimento sensorial buscam incentivar o uso dos cinco sentidos dos animais,
e as de enriquecimento alimentar promover mudanças na alimentação, seja no cardápio ou
nas formas apresentação do alimento.
Como em ambiente natural os animais se deparam com diversas situações, a aplicação
de técnicas combinadas de enriquecimento ambiental deve ser considerada (Powell, 1997),
proporcionando um estímulo para diferentes comportamentos (Swaisgood e Shepherdson,
2006). Para uma aplicação eficaz das técnicas em questão, é necessário que os planos de
enriquecimento considerem a história natural da espécie (Mellen e MacPhee, 2001),
assegurando que as modificações propostas façam sentido biológico para o indivíduo
(Pizzutto et al., 2009; Swaisgood e Shepherdson, 2006). Além disso, os itens oferecidos
devem apresentar um caráter de novidade no ambiente (Militão, 2008 apud Almeida, 2016),
pois a habituação pode resultar em perda de interesse pelo enriquecimento oferecido
(Formentão, 2014; Pereira Junior, 2011; Resende e Izar, 2011).
Embora seja difícil avaliar a eficácia de um programa de enriquecimento ambiental,
muitos estudos têm comprovado eficácia na redução de comportamentos anormais e
aparecimento de comportamentos característicos da espécie (Newberry, 1995; Novak e
Suomi, 1988 apud Pizzutto et al., 2009; Wilson, 1982). Lumeij e Hommers (2008),
constataram que o aumento no tempo de forrageamento, acarretou em uma diminuição de
auto-mutilações em papagaios (Psittacus erithacus); Formentão (2014) observou mudanças
nos comportamentos estereotipados anormais em fêmeas de chimpanzés (Pan troglodytes);
Meehan e Mench (2002) demonstraram que o enriquecimento pode também reduzir
comportamentos associados ao medo em curicas (Amazona amazonica) e Silva (2011)
registrou diminuição de comportamentos sexuais, agonísticos e de demarcação em indivíduos
de onça-pintada (Panthera onca).
Assim, este trabalho buscou avaliar o repertório comportamental de araras-canindé
frente aos enriquecimentos físico e social proporcionados pela mudança de ambiente e físico,
alimentar e cognitivo com a utilização de artefatos simples para estimular a movimentação e
cognição das araras-canindé, considerando a estadia temporária dos animais estudados em
cativeiro, mas também os efeitos que esse confinamento pode provocar no desenvolvimento
dos comportamentos em animais com altas capacidades cognitivas, como os psitacídeos.
23

de entrada dos recintos, a parte superior também era revestida com tela de ferro (malha de 3,0
cm), porém essa última estava parcialmente coberta com lona plástica preta. Os recintos
variaram entre si de acordo com as estruturas presentes, tal como a quantidade de poleiros e a
presença ou ausência de ninho artificial, além de suas dimensões, sendo o recinto A com uma
área de 5,6 m², o recinto B com 5,8 m² e o recinto C com 9,1 m².
Na segunda etapa da F1 todos os indivíduos foram transferidos para um recinto maior,
(recinto D, Figura 4). O recinto D também estava localizado dentro das dependências do
NUTRAS e contava com uma área total de 46,6 m². Diferentemente dos outros, neste o solo
era arenoso e a porta era de metal. O recinto possuía ainda um grande espaço cimentado no
fundo, criando uma plataforma com três espaços vagos, além de uma porção coberta com
telhas do tipo Brasilit e um ninho artificial.
As áreas onde se encontravam os recintos não eram disponíveis para visitação, pois
eram espaços exclusivos para animais em tratamento. Somente tratadores e voluntários
tinham acesso permitido.
Durante todo o período da pesquisa, não houve nenhuma modificação na alimentação
dos indivíduos ou na manutenção e limpeza dos recintos. Todos esses procedimentos eram
realizados diariamente no turno da manhã pela equipe da R3 Animal
25

10 cm

FIGURA 5. Artefato utilizado como enriquecimento físico do tipo “Rede de escalada” para as araras-canindé
(Ara araruna) do Núcleo de Tratamento e Recuperação de Animais Silvestres do Parque do Rio Vermelho.
Fotos: Larissa M. Victoria.

10 cm

FIGURA 6. Artefato utilizado como enriquecimento físico do tipo “Laço” para as araras-canindé (Ara araruna)
do Núcleo de Tratamento e Recuperação de Animais Silvestres do Parque do Rio Vermelho. Fotos: Larissa M.
Victoria.
26

Como enriquecimento alimentar e cognitivo (EAC), seis novos recipientes para


alimentação feitos de coco seco (Cocos nucifera), corda de sisal, corda de plástico e madeira
Angelim (Figuras 7 e 8) foram distribuídos no recinto. Os recipientes foram confeccionados
dividindo-se os cocos ao meio e retirando seu conteúdo. Em quatro artefatos, foram feitos
cinco orifícios em apenas uma das metades dos cocos, e dois na outra metade. Nos três
orifícios do topo do coco, as cordas de plástico serviram como união do coco com as cordas
de sisal. Nos orifícios opostos das duas metades, as cordas de plástico uniram as metades de
cada coco (Figura 7).

10 cm

FIGURA 7. Artefatos utilizados como enriquecimento alimentar e cognitivo para as araras-canindé (Ara
araruna) do Núcleo de Tratamento e Recuperação de Animais Silvestres do Parque do Rio Vermelho. Fotos:
Larissa M. Victoria.
27

Nos outros dois artefatos, cinco pequenos orifícios foram feitos em cada metade dos
cocos, três na parte superior, três na inferior e um em cada lado oposto. As cordas de plástico
foram utilizadas para unir as duas metades dos cocos através dos orifícios laterais e também
para unir cada metade dos cocos com as cordas de sisal (Figura 8).

10 cm

FIGURA 8. Artefatos utilizados como enriquecimento alimentar e cognitivo para as araras-canindé (Ara
araruna) do Núcleo de Tratamento e Recuperação de Animais Silvestres do Parque do Rio Vermelho. Fotos:
Larissa M. Victoria.

3.2.5. Coleta de dados


Ao todo foram realizadas 25 horas de gravação durante um período de 15 dias, sendo
todas realizadas no período da manhã, no intervalo entre as 7h30min e 12h30min.
28

A primeira etapa da F1 se constituiu no tempo destinado às filmagens nos três


recintos em que os animais se encontravam subdivididos em pequenos grupos (recintos A, B
e C). Cada recinto foi filmado durante uma hora, totalizando três horas por dia. As filmagens
foram realizadas em um total de cinco dias aleatórios e, em todas as ocasiões, a sequência de
filmagem de cada recinto foi alternada.
A segunda etapa (enriquecimento físico e social novidade - EFS NOV.) da F1 foi
realizada no dia do manejo dos animais para um novo recinto (recinto D). O procedimento
foi acompanhado sem a realização de filmagens e, somente quando todos os indivíduos já
estavam no novo recinto, se iniciou a gravação que teve duração de uma hora. Após um
intervalo de 10 dias, foi feita a terceira etapa da fase 1 (enriquecimento físico e social não
novidade - EFS NÃO NOV.) também com duração de uma hora.
Na F2 as imagens foram feitas em oito dias de coleta de dados, sendo um dia para
cada etapa da fase. Em todas essas etapas as gravações tiveram duração de uma hora por dia.
Nessa fase o intervalo entre enriquecimento ‘novidade’ e enriquecimento ‘não novidade’
também foi de 10 dias. O intervalo entre o Pré-enriquecimento (PRÉ-ENR.) e o
Enriquecimento Social Novidade (ES NOV.) foi de cinco dias, enquanto que do
Enriquecimento Alimentar e Cognitivo Não Novidade (EAC NÃO NOV) ao Pós-
enriquecimento (PÓS-ENR.) foi de dois dias.
O equipamento utilizado na pesquisa consistiu em uma câmera Canon PowerShot Pro
Series S5 e um tripé em alumínio da marca Viola modelo PV-33CG.

3.2.6. Análise das gravações


O método utilizado para obter uma descrição detalha dos comportamentos foi o
animal focal, combinado com o registro de todas as ocorrências (Lehner, 1996) e o registro
contínuo (de Freitas e Nishida, 2011). Todas as informações coletadas durante as análises das
gravações foram organizadas diariamente em tabelas, com o registro sequencial de cada
comportamento observado nas duas fases do estudo (Tabela 1).

Tabela 1. Tabela de registro diário dos comportamentos, com informações sobre o dia, recinto, indivíduo, ação,
sigla, descrição, duração e observações sobre os comportamentos.
Dia Recinto Indivíduo Ação Sigla Descrição Duração No vídeo
29

Na etapa ‘recintos separados’, quando os indivíduos ainda estavam dispostos em


cativeiros distintos, cada animal era observado durante uma hora. Após o término dessa uma
hora, o vídeo era reiniciado e iniciava-se a observação de outro animal. Contudo, por conta
da estrutura dos recintos, por vezes algum animal mantinha-se fora do campo de visão no
vídeo, normalmente quando estava no chão do recinto, resultando em uma diminuição do
tempo total de análise de seus comportamentos. Consequentemente os dados foram utilizados
proporcionalmente ao tempo de observação individual.
O mesmo procedimento foi adotado para a F2, nessa fase o recinto maior possuía
mais “pontos cegos”. Somado a isso, o grande número de indivíduos convergindo para os
mesmos “pontos cegos” impossibilitava uma distinção entre os animais, resultando também
em um menor tempo total de observação do que o tempo real de gravação.
Não foram considerados os comportamentos ‘vocalizar’ e ‘defecar’ devido à grande
dificuldade em distinguir os animais que realizavam esses comportamentos nas imagens e
sons dos vídeos.

3.2.7. Análise estatística


Os tempos de cada comportamento foram comparados entre as etapas pelo teste não
paramétrico de Kruskal-Wallis. Esses dados foram relativos à porcentagem de tempo de cada
comportamento em relação ao tempo total de observação individual. Optou-se por um teste
não paramétrico em virtude dos dados não atingirem a normalidade (Teste de Kolmogorov-
Smirnov) e homocedasticidade (Levene), além de não ser possível analisar a dependência dos
dados entre as etapas, uma vez que os animais não foram marcados e não era possível
individualizá-los ou reconhecê-los entre cada etapa de gravação. As comparações entre os
comportamentos dentro de cada etapa foram feitas com aqueles que apresentaram valores
maiores que 15% do tempo total, utilizando-se o teste de Wilcoxon. Todos os testes foram
realizados através do software Statistica 13.0 utilizando-se o nível de significância de 5% (α
= 0,05), e os valores encontram-se no APÊNDICE 1.
Considerando que as duas fases que constituem o estudo representam momentos
bastante distintos, as etapas foram comparadas estatisticamente dentro das fases. Portanto, na
F1, a etapa ‘recintos separados’ (RS) foi comparada com as etapas ‘novidade’ e ‘não
novidade’ do enriquecimento físico e social (EFS), e estas comparadas entre si. Já na F2, a
etapa de ‘pré-enriquecimento’ (PRÉ-ENR.) foi comparada com todas as outras seguintes
funcionando como um nível de referência do repertório comportamental da espécie nessas
30

condições. Porém, os enriquecimentos foram comparados somente dentro das suas etapas
‘novidade’ e ‘não novidade’, e não com os outros enriquecimentos. Somente a etapa ‘recintos
separados’ da F1 foi comparada com as etapas ‘Pré’ e ‘Pós-enriquecimento’ da F2, visto que
a primeira representa a condição inicial de todo o estudo, o ‘Pré-enriquecimento’ a condição
de referência da F2 e a última representa a condição final sem os enriquecimentos físico,
alimentar e cognitivo.

3.2.8. Declaração de ética


Todos os procedimentos utilizados na obtenção de dados, foram submetidos a
aprovação pelas organizações competentes, sendo considerados adequados pela Comissão de
Ética no Uso de Animais da Universidade Federal de Santa Catarina (CEUA/UFSC) e pela
Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (FATMA-SC), sob os protocolos nº
6726180916 e nº 03/2017, respectivamente (ANEXOS 1 e 2).

4. RESULTADOS
A partir das informações registradas nas tabelas de registros diários e tendo como
base um catálogo comportamental elaborado por Almeida (2016), os comportamentos das
araras-canindé foram agrupados em 13 categorias comportamentais. As descrições desses
comportamentos estão compiladas no etograma (Tabela 2).

Tabela 2. Etograma elaborado para as araras-canindé (Ara ararauna) do Núcleo de Tratamento e Recuperação
de Animais Silvestres, do Parque do Rio Vermelho. Os comportamentos marcados com * foram descritos no
presente estudo e os outros comportamentos foram descritos com base no estudo de Almeida (2016).

Sigla Categoria comportamental Descrição dos comportamentos


-Parado no poleiro (R1) observando atividades dentro ou fora do
recinto, movimentando ou não a cabeça;
R Repousar -Parado em cima do ninho (R2*) observando atividades dentro ou
fora do recinto, movimentando ou não a cabeça;
-Dormindo (R3).
-Parado na tela frontal (P1), em posição vertical observando
atividades dentro ou fora do recinto, movimentando ou não a
cabeça;
-Parado na tela de cobertura (P2) na posição vertical ou horizontal
P Parado na tela observando atividades dentro ou fora do recinto, movimentando
ou não a cabeça;
-Parado na porta do recinto (P3*), em posição vertical observando
atividades dentro ou fora do recinto, movimentando ou não a
cabeça.
31

-Parado na lateral da gaiola (PG*), em posição vertical


PG Parado na gaiola observando atividades dentro do recinto, movimentando ou não a
cabeça.
-Andar (D1);
D Deslocar-se -Voar (D2);
-Escalar (D3*) usando o bico e as patas.
Modificação da postura sem deslocamento:
-Esticar uma (M1) ou duas asas (M2);
-Levantar uma (M3) ou duas asas (M4);
M Movimentar-se
-Sacudir a cabeça (M5*) ou o corpo todo (M6*);
-Sacudir as asas (M7*) ou as retrizes (M8*);
-Regurgitar (M9*).
AL Alimentar-se -Ingerir alimento ou água (AL).
-Bicar telas (IO1), arames (IO2*), cordas (IO3*) ou gaiola (IO4*);
IO Interagir com objeto -Descascar o poleiro (IO5*) ou interagir com lascas de madeira do
poleiro (IO6*).
-Bicar as cordas, madeiras ou cocos (IE1*);
-Repousar no enriquecimento (IE2*);
IE Interagir com enriquecimento -Deslocar-se pelo enriquecimento (IE3*);
-Interagir com os artefatos de alimentação tentando pegar o
alimento (IE4*).
-Preening (limpar, organizar e impermeabilizar as penas) (MA1);
MA Manutenção da higiene
-Esfregar o bico no poleiro ou na parede (MA2*).
-Alopreening (fazendo) (IS+1);
-Tocar os bicos levemente (IS+2*);
-Tocar os bicos com movimentos de regurgitação (IS+3*);
IS+ Interação social positiva
-Copular (IS+4*);
-Estar junto a outro indivíduo movimentando-se delicadamente
(IS+5*).
-Usar o bico agressivamente para atingir o outro (IS-1*);
-Usar as patas agressivamente para atingir o outro (IS-2*);
IS- Interação social negativa -Usar bico e patas agressivamente para atingir o outro (IS-3*);
-Puxar as penas de outro indivíduo (IS-4*);
-Roubar alimento de outro indivíduo (IS-5).
CC Coçar a cabeça -Usar uma das patas para coçar a cabeça (CC*).
-Movimentar a cabeça para frente e para trás repetidamente
(CA1);
-Movimentar a cabeça para os lados repetidamente (CA2);
-Movimentar a cabeça para cima e para baixo repetidamente
CA Comportamento anormal
(CA3*);
-Movimentar a cabeça e o pescoço em movimentos ondulatórios
lentamente (CA4*);
- Movimentar a cabeça e o pescoço em movimentos ondulatórios
32

rapidamente (CA5*);
-Balançar o corpo lateralmente sem deslocar-se (CA6*);
-Bater as asas sem deslocar-se (CA7);
-Movimentos rápidos e curtos de bater as asas sem deslocar-se
(CA8);
-Pendurar-se pelo bico e/ou patas no poleiro (CA9*)
-Pendurar-se pelo bico e/ou patas nas telas (CA10);
-Esfregar a cabeça na asa rapidamente (CA11*).

A partir dos comportamentos descritos, foram calculados os valores de média e


desvio padrão individualmente, assim como os de cada categoria comportamental ao logo das
duas fases do estudo (APÊNDICE 2).
Ao analisar a distribuição dos comportamentos nas três primeiras etapas do estudo
que compõe a F1 é possível observar que as categorias que apresentaram maiores frequências
dentro de cada etapa foram ‘repousar’ (R) e ‘parado na tela’ (P) (Figura 9). Somente na etapa
novidade do enriquecimento físico e social (EFS NOV.) houve mudança nesse padrão, onde
‘manutenção da higiene’ (MA) foi o segundo comportamento mais observado. Os
comportamentos ‘repousar’ (R) (H = 11,79; p = 0,01), ‘parado na tela’ (P) (H = 13,62; p =
0,01), ‘manutenção da higiene’ (MA) (H = 12,08; p = 0,01), ‘movimentar-se’ (M) (H =
10,57; p = 0,01), ‘interação social positiva’ (IS+) (H = 14,38; p = 0,01), ‘interação social
negativa’ (IS-) (H = 11,56; p = 0,01) e ‘comportamento anormal’ (CA) (H = 8,43; p = 0,01)
apresentaram diferenças significativas nas comparações entre as três primeiras etapas
(Figuras 9 e 10). Logo após o manejo para o recinto maior (EFS NOV.) houve queda no
tempo em ‘repousar’ (R), seguido de um aumento no tempo desse comportamento na EFS
NÃO NOV., igualando-se assim ao visto na RS. O comportamento ‘parado na tela’ (P)
mostrou diferença na etapa novidade do enriquecimento em relação às outras duas etapas,
que foram iguais entre si. Já o comportamento ‘manutenção da higiene’ (MA) não diferiu nas
duas primeiras etapas, mas apresentou aumento significativo quando o enriquecimento não
representava mais uma novidade.
As interações sociais também tiveram diferenças nessa fase do estudo. Na categoria
‘interação social positiva’ (IS+), a primeira e a terceira etapa foram semelhantes, mas
diferentes da segunda, onde houve redução do comportamento. Para as ‘interações sociais
negativas (IS-), a primeira etapa foi a que diferiu das posteriores.
Os comportamentos ‘movimentar-se’ (M) e ‘comportamento anormal’ (CA)
apresentaram diferenças entre a primeira e terceira etapa, mas obtiveram valores menores que
10%. Estes são apresentados na Figura 10 juntamente com as ‘interações sociais negativas’
33

(IS-) e os demais comportamentos que não apresentaram diferenças significativas entre eles
nem entre as etapas comparadas.

120
A
TEMPO TOTAL DO COMPORTAMENTO (%)

a
100

80
A AB
a ab
60 A
a
A B
b b
40 B
b b a
b a

6,485

4,422
7,351
20
b

0
0
R P MA IS+

Recintos Separados EFS-Novidade EFS-Não Novidade

FIGURA 9. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos nas etapas Recintos
Separados, EFS-Novidade e EFS-Não Novidade. Comportamentos que apresentaram valores de média menores
que 10% são indicados acima das barras. Letras minúsculas diferentes representam diferenças significativas
entre as etapas. Letras maiúsculas diferentes representam diferenças significativas entre os comportamentos
com mais de 15% de frequência dentro da etapa. Legenda: (R) Repousar, (P) Parado na tela, (MA) Manutenção
da higiene e (IS+) Interação social positiva.

20 NS
NS
18
TEMPO TOAL DO COMPORTAMENTO (%)

16
14
12
NS
10
8
6 ab
4 a
ab a
NS
2 b a b
b b
0
D M CC AL IO IS- CA

Recintos Separados EFS-Novidade EFS-Não Novidade

FIGURA 10. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos que apresentaram valores
de média menores que 10% nas etapas Recintos Separados, EFS-Novidade e EFS-Não Novidade. Letras
minúsculas diferentes representam diferenças significativas entre as etapas, enquanto NS representa diferença
não significativa. Legenda: (D) Deslocar-se, (M) Movimentar-se, (CC) Coçar a cabeça, (AL) Alimentar-se, (IO)
Interagir com objeto, (IS-) Interação social negativa e (CA) Comportamento anormal.
34

Na segunda fase do estudo (F2), entre as etapas de ‘pré-enriquecimento’ (PRÉ-ENR.),


‘enriquecimento social novidade’ (ES NOV.) e ‘enriquecimento social não novidade’ (ES
NÃO NOV.), somente os comportamentos ‘deslocar-se’ (D) (H = 15,23; p = 0,01) e
‘alimentar-se’ (AL) (H = 18,46; p = 0,01) tiveram diferenças significativas (Figuras 11 e 12),
sendo que o primeiro apresentou diminuição de tempo ao longo desse período. Quando
observado dentro de cada etapa, os comportamentos ‘repousar’ (R) e ‘parado na tela’ (P)
foram diferentes entre si na novidade do enriquecimento social (ES NOV.), onde ‘parado na
tela’ (P) representou quase 50% das atividades. Todos os outros comportamentos
representaram menos de 2% do repertório comportamental e não apresentaram diferenças
nessas etapas. O comportamento ‘parado na gaiola’ (PG), que foi resultado da introdução dos
novos animais no recinto, mesmo apresentando um caráter de novidade no ambiente, aparece
com menos de 1% no tempo total do comportamento (Figura 12).

NS
100
A
NS
TEMPO TOTAL NO COMPORTAMENTO (%)

90
80 A
A
70
A
60 NS
A
50
B A
40
30
9,748

7,374

20 a

10 b b
0

0
R P MA AL

Pré-enr. ES-Novidade ES-Não Novidade

FIGURA 11. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos nas etapas Pré-
enriquecimento, ES-Novidade e ES-Não Novidade. Comportamentos que apresentaram valores de média
menores que 10% são indicados acima das barras. Letras minúsculas diferentes representam diferenças
significativas entre as etapas, enquanto NS representa diferença não significativa. Letras maiúsculas diferentes
representam diferenças significativas entre os comportamentos com mais de 15% de frequência dentro da etapa.
Legenda: (R) Repousar, (P) Parado na tela, (MA) Manutenção da higiene e (AL) Alimentar-se.
35

10
a
TEMPO TOTAL DO COMPORTAMENTO (%)
9
a
8
7
NS
6
NS NS
5
4
NS NS
3 b
NS NS
2
1
0
D M CC IO IS+ IS- CA PG

Pré-enriquecimento ES-Novidade ES-Não Novidade

FIGURA 12. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos que apresentaram valores
de média menores que 10% nas etapas Pré-enriquecimento, ES-Novidade e ES-Não Novidade. Letras
minúsculas diferentes representam diferenças significativas entre as etapas, enquanto NS representa diferença
não significativa. Legenda: (D) Deslocar-se, (M) Movimentar-se, (CC) Coçar a cabeça, (IO) Interagir com
objeto, (IS+) Interação social positiva, (IS-) Interação social negativa, (CA) Comportamento anormal e (PG)
Parado na gaiola.

Em relação às etapas que contavam com a presença do novo enriquecimento físico no


recinto (Figuras 13 e 14), somente os comportamentos da categoria ‘deslocar-se’ (D) (H =
6,21; p = 0,04) mostraram-se diferentes entre as etapas. No momento em que o
enriquecimento era novidade (EF NOV.), depois de ‘parado na tela’ (P) e ‘repousar’ (R),
‘deslocar-se’ (D) foi o comportamento mais executado pelos animais.
Os comportamentos de ‘interagir com enriquecimento’ (IE) e ‘manutenção da
higiene’ (MA) se apresentaram de maneira oposta nas etapas ‘enriquecimento físico
novidade’ (EF NOV.) e ‘enriquecimento físico não novidade’ (EF NÃO NOV.). Com o
surgimento da categoria ‘interagir com enriquecimento’ (IE), o tempo despendido em
‘manutenção da higiene’ (MA) caiu, oposto ao observado na etapa novidade do
enriquecimento físico e social (EFS NOV.), quando os valores de ‘manutenção da higiene’
(MA) se aproximaram do percentual de tempo da condição inicial na etapa ‘recintos
separados’ (RS).
36

NS
90 NS
A
TEMPO TOTAL DO COMPORTAMENTO (%)

A
80

70
A
A
60
A NS
50
A
40 A

30 A

6,15
20

10

0
R P MA

Pré-enriquecimento EF-Novidade EF-Não Novidade

FIGURA 13. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos nas etapas Pré-
enriquecimento, EF-Novidade e EF-Não Novidade. Comportamentos que apresentaram valores de média
menores que 10% são indicados acima das barras. NS representa diferença não significativa entre as etapas.
Letras maiúsculas diferentes representam diferenças significativas entre os comportamentos com mais de 15%
de frequência dentro da etapa. Legenda: (R) Repousar, (P) Parado na tela e (MA) Manutenção da higiene.

25
NS
TEMPO TOTAL DO COMPORTAMENTO (%)

20
NS

a
15 b
NS

NS
10 ab

5 NS
NS NS
NS

0
D M CC AL IO IS+ IS- CA IE

Pré-enriquecimento EF-Novidade EF-Não Novidade

FIGURA 14. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos que apresentaram valores
de média menores que 10% nas etapas Pré-enriquecimento, EF-Novidade e EF-Não Novidade. Letras
minúsculas diferentes representam diferenças significativas entre as etapas, enquanto NS representa diferença
não significativa. Legenda: (D) Deslocar-se, (M) Movimentar-se, (CC) Coçar a cabeça, (AL) Alimentar-se, (IO)
Interagir com objeto, (IS+) Interação social positiva, (IS-) Interação social negativa, (CA) Comportamento
anormal e (IE) Interagir com enriquecimento.

Com a introdução dos enriquecimentos alimentar e cognitivo (EAC NOV.), a


comparação com a etapa ‘pré-enriquecimento’ (Figuras 15 e 16) mostra que, mais uma vez,
37

os comportamentos ‘deslocar-se’ (D) (H = 15,68; p = 0,01) e ‘movimentar-se’ (M) (H =


14,47; p = 0,01) foram os que apresentaram diferenças significativas entre as etapas. Para o
‘deslocar-se’ (D), a etapa ‘não novidade’ foi a que mostrou diferença em relação às
anteriores; já o ‘movimentar-se’ (M) obteve diferença entre as etapas ‘pré-enriquecimento’ e
‘enriquecimento alimentar e cognitivo novidade’ (EAC NOV.).
Assim como no enriquecimento aplicado em momento anterior, nesse os
comportamentos da categoria ‘interagir com enriquecimento’ (IE) se deram em maior
número na etapa ‘novidade’ (EAC NOV.), chegando a um valor nulo na etapa ‘não
novidade’ (EAC NÃO NOV.). Os outros comportamentos não foram diferentes
significativamente entre si ou entre as etapas.

NS
100
A
TEMPO TOTAL DO COMPORTAMENTO (%)

90 A
NS
80
A
70
A
60
A NS
50
A A
40
30 a
a
4,733
6,429

20 b
1,774

10
0
R P D MA

Pré-enriquecimento EAC-Novidade EAC-Não Novidade

FIGURA 15. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos nas etapas Pré-
enriquecimento, EAC-Novidade e EAC-Não Novidade. Comportamentos que apresentaram valores de média
menores que 10% são indicados acima das barras. Letras minúsculas diferentes representam diferenças
significativas entre as etapas, enquanto NS representa diferença não significativa. Letras maiúsculas diferentes
representam diferenças significativas entre os comportamentos com mais de 15% de frequência dentro da etapa.
Legenda: (R) Repousar, (P) Parado na tela, (D) Deslocar-se e (MA) Manutenção da higiene.
38

12
TEMPO TOTAL DO COMPORTAMENTO (%)

NS
10 NS

4 NS

a NS

2 ab NS
NS NS
b
0
M CC AL IO IS+ IS- CA IE

Pré-enriquecimento EAC-Novidade EAC-Não Novidade

FIGURA 16. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos que apresentaram valores
de média menores que 10% nas etapas Pré-enriquecimento, EAC-Novidade e EAC-Não Novidade. Letras
minúsculas diferentes representam diferenças significativas entre as etapas, enquanto NS representa diferença
não significativa. Legenda: (M) Movimentar-se, (CC) Coçar a cabeça, (AL) Alimentar-se, (IO) Interagir com
objeto, (IS+) Interação social positiva, (IS-) Interação social negativa, (CA) Comportamento anormal e (IE)
Interagir com enriquecimento.

As Figuras 17 e 18 demonstram a variação no tempo despendido em cada


comportamento em momentos anteriores e posteriores a aplicação dos enriquecimentos.
Assim como na maioria das etapas, ‘repousar’ (R) e ‘parado na tela’ (P) são os
comportamentos que mais se destacam entre todos, apresentando valores mais expressivos
que os demais nas três situações.
Nessa comparação, ‘repousar’ (R) e ‘parado na tela’ (P) diferem entre si na etapa
‘recintos separados’ (RS), mas não entre as etapas. Somente o ‘movimentar-se’ (M) (H =
12,97; p = 0,01) apresenta diferença entre as etapas ‘recintos separados’ (RS) e ‘pré-
enriquecimento’ (PRÉ-ENR.).
Apesar de não apresentar diferença estatisticamente significativa, ‘manutenção da
higiene’ (MA) é o terceiro comportamento mais executado quando observado o tempo total
do comportamento, somando mais de 20% em duas das três etapas.
39

NS
90
A
TEMPO TOTAL DO COMPORTAMENTO (%)

80
NS
70
A
A
A
60
A NS
50
A
40 A
B
30

7,351
20

10

0
R P MA

Recintos Separados Pré-enriquecimento Pós-enriquecimento

FIGURA 17. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos nas etapas Recintos
Separados, Pré-enriquecimento e Pós-enriquecimento. Comportamentos que apresentaram valores de média
menores que 10% são indicados acima das barras. NS representa diferença não significativa entre as etapas.
Letras maiúsculas diferentes representam diferenças significativas entre os comportamentos com mais de 15%
de frequência dentro da etapa. Legenda: (R) Repousar, (P) Parado na tela e, (MA) Manutenção da higiene.

14
NS
TEMPO TOTAL DO COMPORTAMENTO (%)

12
NS
NS
10 NS

4 NS
ab
2 NS NS
a b

0
D M CC AL IO IS+ IS- CA

Recintos Separados Pré-enriquecimento Pós-enriquecimento

FIGURA 18. Dados médios (± desvio padrão) do tempo relativo dos comportamentos que apresentaram valores
de média menores que 10 % nas etapas Recintos Separados, Pré-enriquecimento e Pós-enriquecimento. Letras
minúsculas diferentes representam diferenças significativas entre as etapas, enquanto NS representa diferença
não significativa. Legenda: (D) Deslocar-se, (M) Movimentar-se, (CC) Coçar a cabeça, (AL) Alimentar-se, (IO)
Interagir com objeto, (IS+) Interação social positiva, (IS-) Interação social negativa e (CA) Comportamento
anormal.
40

5. DISCUSSÃO
O presente estudo avaliou o repertório comportamental de araras-canindé mantidas em
cativeiro em momentos bastante distintos, onde foi possível observar como os animais
reagiram frente à mudança de recinto, socialização em um grupo maior e também com a
introdução de artefatos de enriquecimentos físico, alimentar e cognitivo.
Durante praticamente todo o período do estudo, observou-se uma predominância dos
comportamentos ‘repousar’ (R) e ‘parado na tela’ (P), seguidos por ‘manutenção da higiene’
(MA) e ‘deslocar-se’ (D). Repousar também foi um dos comportamentos mais observados
por Almeida (2016) em estudo sobre a influência do enriquecimento ambiental nessa mesma
espécie e por Sgarbiero (2009) para indivíduos de araras-piranga (Ara macao) e também para
A. ararauna.
A primeira fase do trabalho foi a que apresentou a maior quantidade de variações entre
os comportamentos. As comparações feitas na etapa ‘novidade’ dessa fase mostram uma
redução significativa do comportamento ‘repousar’ (R) ao mesmo tempo em que houve
grande aumento no tempo ‘parado na tela’ (P) e um crescimento do ‘movimentar-se’ (M).
Essa situação pode ser explicada pela exploração do recinto novo, pois um ambiente mais
amplo e com maior área com cobertura de tela possibilita uma maior movimentação dos
animais. Soma-se a isso o fato de que no dia da realocação, nem todos os poleiros tinham
sido instalados no recinto novo (comunicação pessoal da bióloga Josiele Felli do NUTRAS).
Na etapa ‘não novidade’ do enriquecimento físico e social (EFS NÃO NOV.), os
comportamentos ‘deslocar-se’ (D), ‘repousar’ (R) e ‘parado na tela’ (P) voltaram a apresentar
valores semelhantes aos obtidos em ‘recintos separados’ (RS), o que leva a crer que as
mudanças foram resultado da novidade provocada pelo ambiente, já que a habituação com o
novo recinto fez com que houvesse um retorno para o mesmo tempo despendido nesses
comportamentos no estado inicial da F1. Além disso, na data da realização da etapa ‘não
novidade’, novos poleiros já haviam sido instalados no recinto, permitindo sua ampla
utilização por todos os indivíduos.
Almeida (2016) e Pimenta et al. (2009), em seus trabalhos com A. ararauna e arara-
azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus) respectivamente, também encontraram altos
valores para atividades relacionadas às telas dos recintos em etapas de enriquecimento.
Segundo Guedes et al. (1992, apud Pimenta et al., 2009), assim como a vocalização, essas
atividades podem estar relacionadas com a demarcação e defesa territorial em cativeiro. No
caso em questão, essa seria uma explicação bastante plausível, pois o novo recinto pode ter
reorganizado as relações de dominância existentes até então. Porém, como já mencionado
41

anteriormente, como neste trabalho não foi possível registrar e individualizar o


comportamento ‘vocalizar’ sugere-se que em estudos futuros isso seja levado em
consideração para um possível efeito de correlação.
Outro dado relevante nessa fase do estudo foram as reduções significativas nas
interações sociais, tanto positivas quanto negativas na etapa ‘novidade’ do enriquecimento
físico e social (EFS NOV.), onde ‘interação social positiva’ (IS+) chegou a apresentar valor
nulo. De maneira geral os psitacídeos são animais bastante sociáveis que vivem e dormem
em bandos (Sick, 1997). Contudo, são também neofóbicos (Wilson e Luesche, 2006 apud
Péron e Grosset, 2014), portanto, a exposição às novidades no recinto pode ter provocado
essa redução nas interações sociais. Essa mesma lógica pode ser usada para explicar o
aumento, mesmo que não significativo, nos ‘comportamentos anormais’ (CA), pois
condições altamente estressantes (como toda a logística de manejo para o novo recinto e o
contato com o novo espaço) são favoráveis ao desenvolvimento de estereotipias (Mason,
1991). A ideia da relação da neofobia com os dois casos torna-se ainda mais convincente
quando observadas as variações ocorridas da segunda para a terceira etapa, quando houve
aumento nas ‘interações sócias positivas’ (IS+) e queda nos ‘comportamentos anormais’
(CA) (Figuras 9 e 10).
A categoria ‘manutenção da higiene’ (MA), que não apresentou diferença significativa
entre as duas primeiras etapas, teve um aumento muito expressivo na terceira, alcançando
valor praticamente igual ao tempo em repouso. De fato, os comportamentos relacionados à
manutenção fazem parte do repertório comportamental dos psitacídeos (Santos et al., 2011;
Sick, 1997). Entretanto, quando ocorrem de maneira excessiva, podem ser caracterizados
como um grave problema para as aves, levando muitas vezes a automutilação dos animais,
através da extração e/ou mastigação das penas (Meehan et al., 2003), acarretando em um
comprometimento físico e, consequentemente do seu bem-estar (Mertens, 1997). Lumeij e
Hommers (2008) propuseram o termo ‘pterotillomania’ para designar essa estereotipia, em
referência ao problema semelhante encontrado em humanos que consiste em arrancar os
cabelos (tricotilomania).
Apesar de não ter sido observado nenhum indivíduo sem penas, ‘manutenção da higiene’
(MA) foi um comportamento bastante presente durante todo o estudo, sendo que os menores
valores foram observados nas etapas em que os enriquecimentos (EFS, ES, EF e EAC) eram
novidades no ambiente. A redução da manutenção da higiene com a introdução de
enriquecimentos também foi constatada nos trabalhos de Van Hoek e King (1997) com
42

tiribas-de-barriga-vermelha (Pyrrhura perlata perlata), Lumeij e Hommers (2008) com


papagaio-cinzento (Psittacus erithacus) e Santos et al. (2011) com A. ararauna e arara-
vermelha-grande (Ara chloropterus).
Na segunda fase do estudo, dentro da etapa de ‘pré-enriquecimento’, nenhum dos
comportamentos com médias mais altas diferiu significativamente de outro. Quando
comparada com as etapas do enriquecimento social, a diferença se deu apenas para ‘deslocar-
se’ (D) na ‘não novidade’ e ‘alimentar-se’ (AL) na ‘novidade’. Contudo, é necessário
ressaltar que as mudanças do ‘alimentar-se’ foram influenciadas pela dinâmica de trabalho
dos tratadores e voluntários responsáveis pela alimentação dos animais e higiene dos
recintos. Os momentos em que o comportamento aparece com uma grande variação entre as
etapas comparáveis foram os dias em que a alimentação foi fornecida instantes antes do
início das gravações.
Por ser um enriquecimento exclusivamente de introdução de coespecíficos, era esperado
um aumento nas relações de interação social nas etapas do ‘enriquecimento social’, pois
como mencionado anteriormente, os comportamentos sociais são hábitos dos psitacídeos.
Mesmo não sendo diferentes entre si, esse aumento foi observado na etapa ‘novidade’ tanto
para a ‘interação social positiva’ (IS+) (em maior número) quanto para ‘interação sociail
negativa’ (IS-), seguido de redução na etapa ‘não novidade’.
Para a etapa que teve a introdução de artefatos utilizados como enriquecimentos físicos
(EF NOV.), as ‘interações com enriquecimento’ (IE) representaram pouco mais de 8% das
atividades dos animais, obtendo valores próximos ao de ‘deslocar-se’ (D) e maiores que os
de ‘manutenção da higiene’ (MA). Isso parece ter afetado o tempo dos comportamentos
‘repousar’ (R) e a própria ‘manutenção da higiene’ (MA), que apresentaram uma redução,
embora não significativa, e ‘deslocar-se’ (D) que, por sua vez, aumentou o tempo na etapa
‘novidade’. Essas modificações são esperadas nas avaliações de enriquecimento ambiental,
pois demonstram eficácia na promoção do bem-estar dos animais, através do aumento da
locomoção e redução de comportamentos potencialmente prejudiciais, respostas que já foram
encontradas em diferentes espécies animais (Grejianin, 2010; Melo, 2017; Nascimento, 2010;
Van Hoek e King, 1997).
Um indicativo da intensa utilização dos artefatos de enriquecimento físico pelas araras
foi que no último dia de observação, na etapa ‘não novidade’, os artefatos praticamente não
existiam mais, restando somente parte da rede de escalada pendurada por apenas um gancho
e sem nenhum pedaço de madeira (comunicação pessoal da tratadora Mariana Favero Silvano
do NUTRAS).
43

Para as outras categorias comportamentais observaram-se resultados contrários aos


mencionados anteriormente na mesma etapa, como por exemplo, o aumento do tempo
‘parado na tela’ (P), além da diminuição das ‘interações sociais positivas’ (IS+) e aumento
das ‘interações sociais negativas’ (IS-). É possível que essa alteração nas interações negativas
tenha se dado devido ao número de artefatos disponibilizados no recinto, que pode não ter
sido suficiente considerando os 23 indivíduos presentes no ambiente. Essa situação pode
gerar uma disputa pelos itens oferecidos, fato observado por Andrade e Azevedo (2011) em
seu estudo com papagaios-verdadeiros (Amazona aestiva) no CETAS de Belo Horizonte,
onde o aumento dos comportamentos agonísticos foi creditado à uma defesa dos itens de
enriquecimento pelos animais. Desse modo, sugere-se que em estudos futuros o número de
itens oferecidos seja mais proporcional ao número de indivíduos, a fim de evitar aumento nas
interações negativas.
Quanto à novidade do enriquecimento alimentar e cognitivo (EAC NOV.), os mesmos se
mostraram ineficazes na redução do comportamento ‘repousar’ (R) e aumento do
‘movimentar-se’ (M). Por outro lado, assim como no enriquecimento anterior, foram
positivas as respostas no aumento do comportamento ‘deslocar-se’ (D) e redução de
‘manutenção da higiene’ (MA), além de redução também das ‘interações com objetos’ (IO) e
‘comportamentos anormais’ (CA). Redução em comportamentos considerados anormais com
a introdução de enriquecimentos também foram encontrados por Melo et al. (2014) em
papagaios-verdadeiros (Amazona aestiva) e em bugios (Alouatta guariba) por Melo (2017).
Almeida (2016) faz uma observação muito pertinente quanto ao comportamento de
interação com os objetos (que não os de enriquecimento) presentes no recinto. Segundo a
autora, a redução nesses comportamentos é benéfica para os animais, pois quanto menor o
desgaste das instalações, menor será a frequência com que as mesmas precisariam ser
trocadas, evitando a constante presença de tratadores no recinto. No caso deste trabalho,
diversas foram às vezes em que os funcionários do NUTRAS tiveram que fazer as trocas dos
poleiros nos recintos das araras devido ao intenso desgaste dos mesmos, provocando
oscilações na quantidade desse objeto nos recintos (observação pessoal).
Ao contrário do observado na fase anterior, nessa o comportamento ‘movimentar-se’
(M) apresentou queda nos valores quando houve a introdução dos enriquecimentos alimentar
e cognitivo, contrastando com os resultados obtidos por Almeida (2016) que, ao introduzir
dispositivos de enriquecimento físico, cognitivo e alimentar em indivíduos de A. ararauna,
provocou aumento na movimentação dos animais.
44

Ainda sobre os enriquecimentos alimentar e cognitivo, é preciso considerar que as


respostas na etapa ‘não novidade’ podem ter sido afetadas pelos acontecimentos no intervalo
de tempo entre a ‘novidade’ e ‘não novidade’. Nesse período, os enriquecimentos
permaneceram no recinto e deveriam ser utilizados todos os dias como os únicos recipientes
de alimentação para os animais. Porém, nem sempre o mesmo funcionário era o responsável
por disponibilizar o alimento, e alguns voluntários tinham medo de permanecer no recinto.
Portanto, não é possível afirmar que os artefatos foram utilizados todos os dias pelos animais.
De maneira geral, nas etapas que contavam com a presença dos enriquecimentos
físico, alimentar e cognitivo, as interações foram maiores sempre quando os mesmos
representavam uma novidade no recinto, corroborando com a ideia de que os animais tendem
a se habituar ao ambiente e aos seus componentes (Formentão, 2014; Pereira Junior, 2011;
Rezende e Izar, 2011). Esse fator torna-se ainda mais relevante quando observado uma
redução no tempo que os animais despenderam nos comportamentos que se deseja diminuir,
como foi o caso da categoria ‘manutenção da higiene’ (MA), que obtiveram valores menores
nessas mesmas etapas, em relação a momentos anteriores.
Quando analisada a última comparação feita no estudo, entre as etapas ‘recintos
separados’, ‘pré-enriquecimento’ e ‘pós-enriquecimento’, é reforçada a predominância dos
comportamentos ‘repousar’ e ‘parado na tela’ nas três etapas. É possível constatar também,
uma tendência que comportamentos como ‘repousar’, ‘parado na tela’, ‘deslocar-se’,
‘manutenção da higiene’ e ‘movimentar-se’ apresentaram em obter valores iguais ao da
primeira condição avaliada (etapa recintos separados).
Outra observação importante referente aos comportamentos das araras é que muitos
deles podem ter sido afetados por conta da alteração dos tratadores responsáveis pela
manutenção nos recintos. Apesar de não terem sido feitas imagens com a presença dos
funcionários no ambiente, foi possível observar que nos dias em que algum voluntário da R3
ou outro tratador do NUTRAS diferente do qual as araras estavam acostumadas adentrava no
recinto, os animais apresentavam comportamentos visivelmente mais agitados e agressivos
(observação pessoal). Essa mesma conclusão foi apresentada por Almeida (2016), que
reconheceu maiores expressões de estresse nas araras-canindé quando algum desconhecido
dos animais entrava no recinto.
Assim como mencionado por Fox e Millam (2007), cada indivíduo apresenta
diferentes reações para as diversas situações que lhes são impostas. Porém, como não são
conhecidas as histórias de vida de cada um dos 23 indivíduos envolvidos no estudo, nem
houve uma distinção entre eles, não foi possível estabelecer relações entre informações
45

individuais e as reações ou respostas apresentadas pelos indivíduos deste estudo, mesmo que
esses fatores possam muitas vezes estar relacionados (Fairbanks e McGuire, 1988; Meehan e
Mench, 2002; Meehan et al., 2003).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da escassez no número de estudos com araras-canindé em vida livre, o que
prejudica o manejo desses animais e dificulta à compreensão de diversas situações
encontradas em cativeiro, o presente estudo utilizou técnicas de enriquecimento ambiental na
tentativa de proporcionar melhora no bem-estar dos indivíduos cativos. O enriquecimento
físico buscou apresentar uma novidade para o ambiente, enquanto o enriquecimento
alimentar e cognitivo foi proposto considerando que todo o grupo de animais observados
iriam para soltura2, situação na qual os alimentos não são obtidos tão facilmente.
Como todas as técnicas envolvendo enriquecimento ambiental devem ser pensadas de
maneira que não representassem nenhum perigo aos animais (Boere, 2001; Young, 2003) e,
considerando a rotina intensa de trabalho dos tratadores e voluntários da R3 Animal, os
enriquecimentos foram produzidos com o máximo possível de material natural (coco, sisal e
madeira), proporcionando maior segurança aos animais e gerando um mínimo de resíduos,
visto que materiais sintéticos poderiam acarretar em um aumento no tempo de limpeza e
higienização do recinto.
É preciso ressaltar que a forma como foi realizada a coleta de dados, impossibilitou
que diversos comportamentos observados pela autora, como vocalizar, cavar, espirrar,
construir ninho, dentre outros, fossem individualizados e analisados estatisticamente, mas
isso não significa que não fazem parte do repertório da espécie. Por esses motivos, sugere-se
que trabalhos futuros tentem avaliar esses comportamentos, fazendo com que todo o
ambiente seja vídeo filmado e que os animais sejam marcados para que seja possível
individualiza-los nas imagens. Além disso, as diferenças nas condições climáticas se
mostraram variáveis que devem ser consideradas na escolha do equipamento de gravação,
pois as oscilações na luminosidade foram fatores determinantes para a análise das imagens
obtidas. Assim também foi com o posicionamento desse equipamento, que apesar de ter sido
pensado de maneira a interferir minimamente na dinâmica de trabalho dos tratadores e
voluntários da R3, acabou de certa maneira limitando o campo capturado pela câmera. Um
posicionamento mais adequado poderia permitir uma visualização mais ampla do ambiente,
2
Publicação sobre a soltura dos animais pode ser vista em:
https://www.facebook.com/associacaor3animal/posts/10155124412847798
46

incluindo o chão nas imagens, e assim possibilitaria um acompanhamento ininterrupto das


atividades realizadas por cada indivíduo.
Neste trabalho também não foram considerados os dados fisiológicos dos animais,
porém, é consenso nas avaliações de bem-estar animal, que a união de informações
comportamentais, fisiológicas e psicológicas é a melhor maneira de avaliar o real estado de
bem-estar de um animal (Broom e Molento, 2004), seja com ou sem a aplicação de técnicas
de enriquecimento ambiental e isso pode ser levado em conta em estudos futuros.
Apesar de não ter representado mudanças significativas no repertório comportamental
dos animais, a aplicação dos enriquecimentos apresentados nesse trabalho, principalmente
nas etapas denominadas ‘novidade’, reduziu alguns comportamentos considerados
problemáticos para o bem-estar dessas aves. Assim, é sugerido que outras técnicas que
envolvam enriquecimento ambiental sejam pensadas para os outros animais do parque, seja
com os que estão em tratamento ou na trilha, pois muitos estudos tem demonstrado a
influência positiva que modificações no ambiente podem provocar no bem-estar de animais
cativos, seja através da diminuição de comportamentos considerados anormais ou no
aumento daqueles observados em ambientes naturais.
Mesmo não sendo o ambiente ideal para se manter qualquer animal durante toda sua
vida, é preciso reconhecer a importância que ambientes como o estudado têm na conservação
de espécies ameaçadas, no combate ao comércio de animais e na educação ambiental. Ainda
que possuam uma estrutura limitada devido a carência de recursos financeiros, essas
instituições contam com grupos capacitados para o tratamento e manutenção de animais
silvestres que se encontram em situações vulneráveis, e com seus esforços somados aos da
Polícia Militar Ambiental, muitos indivíduos acabam tendo a chance de sobreviver em um
ambiente um pouco mais adequado, com um pouco mais de qualidade, quando não
conseguem reabilitação suficiente para voltar ao seu habitat natural.
Por fim, ressalta-se que nenhum ambiente de cativeiro, seja ele enriquecido ou não, é
capaz de suprir todas as necessidades dos animais. Ainda que muitos esforços sejam
empregados para melhorar as condições de vida dos animais cativos, nada substitui a
dinâmica e a liberdade existente no habitat natural. Portanto, é preciso que cada vez mais,
medidas que envolvam a conservação das espécies na natureza sejam incentivadas, além da
aplicação de punições severas para crimes contra a fauna e flora.
47

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M 0,4558 ± 0,2772 1,3187 ± 1,1544 1,3216 ± 0,8509 1,6736 ± 0,8822 1,0060 ± 1,0368 0,5288 ± 0,5606 1,1454 ± 1,1913 1,1987 ± 0,9000 0,0937 ± 0,1792 0,6753 ± 0,8746 0,6403 ± 0,3702

AL 2,755 ± 5,705 0,000 ± 0,000 0,398 ± 1,594 0,000 ± 0,000 10,682 ± 7,448 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 2,253 ± 6,372 0,704 ± 1,505 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000

IO1 0,375 ± 0,715 0,304 ± 0,425 0,788 ± 1,684 1,894 ± 3,390 0,367 ± 0,656 0,092 ± 0,233 3,479 ± 9,085 1,021 ± 1,340 0,222 ± 0,637 2,972 ± 5,829 0,264 ± 0,383

IO2 0,197 ± 0,334 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000

IO3 0,012 ± 0,042 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000

IO4 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,016 ± 0,063 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000

IO5 0,504 ± 0,497 0,025 ± 0,074 2,348 ± 5,661 0,000 ± 0,000 0,054 ± 0,147 0,720 ± 2,037 0,523 ± 1,734 0,222 ± 0,629 0,064 ± 0,203 0,823 ± 2,178 3,807 ± 7,030

IO6 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 1,863 ± 7,451 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,126 ± 0,419 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,324 ± 0,681

IO 1,0879 ± 0,9844 0,3285 ± 0,4118 4,9994 ± 12,7809 1,8941 ± 3,3903 0,4368 ± 0,6454 0,8120 ± 2,0137 4,1279 ± 9,0668 1,2431 ± 1,7676 0,2865 ± 0,6448 3,7954 ± 5,7455 4,3951 ± 7,5369

IE1 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 4,143 ± 9,360 0,127 ± 0,485 0,040 ± 0,161 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000

IE2 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 1,441 ± 3,281 0,094 ± 0,265 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000

IE3 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 1,319 ± 2,715 0,021 ± 0,059 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000

IE4 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 2,034 ± 6,431 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000

IE 0,0000 ± 0,0000 0,0000 ± 0,0000 0,0000 ± 0,0000 0,0000 ± 0,0000 0,0000 ± 0,0000 0,0000 ± 0,0000 8,7862 ± 13,0323 0,3681 ± 1,0078 2,0980 ± 6,6346 0,0000 ± 0,0000 0,0000 ± 0,0000

MA1 6,917 ± 3,553 6,466 ± 7,906 29,350 ± 20,844 22,935 ± 19,545 9,735 ± 7,560 7,374 ± 7,619 6,104 ± 6,579 15,434 ± 12,717 4,685 ± 8,076 12,983 ± 15,539 17,126 ± 19,831

MA2 0,406 ± 1,013 0,010 ± 0,042 0,028 ± 0,068 0,000 ± 0,000 0,013 ± 0,029 0,000 ± 0,000 0,031 ± 0,125 0,000 ± 0,000 0,030 ± 0,120 0,000 ± 0,000 0,005 ± 0,021

MA 7,3510 ± 3,4858 6,4846 ± 7,9093 29,3778 ± 20,8078 22,9346 ± 19,5451 9,7480 ± 7,5532 7,3743 ± 7,6191 6,1499 ± 6,5400 15,4342 ± 12,7167 4,7328 ± 8,0465 12,9835 ± 15,5393 17,1381 ± 19,8214

IS+1 3,704 ± 5,463 0,000 ± 0,000 11,200 ± 16,304 0,697 ± 1,001 1,582 ± 3,000 0,000 ± 0,000 0,304 ± 0,592 0,594 ± 1,657 0,019 ± 0,061 0,000 ± 0,000 0,833 ± 1,449

IS+2 0,083 ± 0,092 0,000 ± 0,000 0,612 ± 1,510 0,005 ± 0,013 0,055 ± 0,099 0,037 ± 0,082 0,126 ± 0,201 0,031 ± 0,058 0,011 ± 0,035 0,010 ± 0,025 0,278 ± 0,735

IS+3 0,102 ± 0,116 0,000 ± 0,000 0,313 ± 0,511 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,014 ± 0,044 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000

IS+4 0,041 ± 0,108 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,399 ± 0,739 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000

IS+5 0,492 ± 0,556 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,061 ± 0,183 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,804 ± 2,212 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000

IS+ 4,4223 ± 5,6832 0,0000 ± 0,0000 12,1240 ± 17,2193 0,7015 ± 1,0093 1,6986 ± 3,0827 0,0375 ± 0,0824 0,4305 ± 0,7003 1,0243 ± 2,2578 0,8489 ± 2,2011 0,0095 ± 0,0252 1,1111 ± 2,0728

IS-1 0,113 ± 0,140 0,068 ± 0,136 0,084 ± 0,144 0,055 ± 0,086 0,899 ± 1,713 0,042 ± 0,056 0,697 ± 1,174 0,153 ± 0,215 0,142 ± 0,278 0,033 ± 0,061 0,221 ± 0,302
57

IS-2 0,023 ± 0,040 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,133 ± 0,356 0,008 ± 0,024 0,020 ± 0,043 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,010 ± 0,025 0,000 ± 0,000

IS-3 0,164 ± 0,212 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,066 ± 0,248 0,000 ± 0,000 0,109 ± 0,360 0,000 ± 0,000 0,020 ± 0,062 0,000 ± 0,000 0,043 ± 0,074

IS-4 0,001 ± 0,003 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,008 ± 0,031 0,000 ± 0,000 0,010 ± 0,026 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000

IS-5 0,007 ± 0,018 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000

IS- 0,3079 ± 0,3441 0,0679 ± 0,1362 0,0837 ± 0,1442 0,0551 ± 0,0856 1,1070 ± 2,0961 0,0500 ± 0,0776 0,8363 ± 1,5011 0,1528 ± 0,2152 0,1620 ± 0,3376 0,0420 ± 0,0855 0,2643 ± 0,3689

CC 0,158 ± 0,157 0,170 ± 0,247 0,364 ± 0,352 0,170 ± 0,174 0,249 ± 0,254 0,612 ± 1,144 0,213 ± 0,200 0,240 ± 0,191 0,056 ± 0,148 0,190 ± 0,208 0,289 ± 0,315

CA1 0,004 ± 0,011 0,025 ± 0,074 0,000 ± 0,000 0,045 ± 0,119 0,279 ± 1,052 0,000 ± 0,000 0,043 ± 0,142 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000

CA2 0,014 ± 0,033 0,000 ± 0,000 0,010 ± 0,028 0,065 ± 0,172 0,033 ± 0,132 0,000 ± 0,000 0,085 ± 0,207 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,028 ± 0,073 0,000 ± 0,000

CA3 0,082 ± 0,179 0,000 ± 0,000 0,073 ± 0,193 0,065 ± 0,082 0,067 ± 0,187 0,150 ± 0,424 0,270 ± 0,601 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,036 ± 0,094 0,000 ± 0,000

CA4 0,027 ± 0,059 0,353 ± 1,035 0,102 ± 0,303 0,000 ± 0,000 0,005 ± 0,021 0,000 ± 0,000 0,371 ± 1,176 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000

CA5 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,020 ± 0,079 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000

CA6 0,034 ± 0,059 0,037 ± 0,111 0,013 ± 0,052 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,142 ± 0,267 1,442 ± 4,782 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,019 ± 0,050 0,332 ± 0,853

CA7 0,030 ± 0,059 0,068 ± 0,184 0,011 ± 0,026 0,035 ± 0,064 0,017 ± 0,041 0,004 ± 0,012 0,035 ± 0,056 0,017 ± 0,033 0,019 ± 0,061 0,012 ± 0,031 0,008 ± 0,014

CA8 0,836 ± 1,586 1,264 ± 2,817 0,049 ± 0,194 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,008 ± 0,015 0,025 ± 0,084 4,108 ± 11,406 0,000 ± 0,000 0,075 ± 0,199 0,060 ± 0,157

CA9 0,111 ± 0,420 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,037 ± 0,147 0,005 ± 0,021 0,042 ± 0,167

CA10 0,022 ± 0,072 0,036 ± 0,108 0,000 ± 0,000 0,030 ± 0,080 0,104 ± 0,356 0,000 ± 0,000 0,028 ± 0,065 0,295 ± 0,835 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000

CA11 0,000 ± 0,000 0,028 ± 0,054 0,000 ± 0,000 0,025 ± 0,066 0,000 ± 0,000 0,000 ± 0,000 0,008 ± 0,018 0,035 ± 0,041 0,000 ± 0,000 0,016 ± 0,042 0,028 ± 0,039

CA 1,1675 ± 1,6634 1,8109 ± 2,8697 0,2579 ± 0,4429 0,2656 ± 0,2299 0,5250 ± 1,0665 0,3040 ± 0,4538 2,3065 ± 4,9708 4,4549 ± 12,2323 0,0783 ± 0,1893 0,1976 ± 0,3013 0,5222 ± 1,0765

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