Ap Epistolas Gerais 2
Ap Epistolas Gerais 2
Ap Epistolas Gerais 2
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 3
HEBREUS .......................................................................................................... 4
TIAGO ............................................................................................................... 8
1ª PEDRO ......................................................................................................... 11
2ª PEDRO ......................................................................................................... 14
1ª JOÃO ............................................................................................................ 16
2ª JOÃO ............................................................................................................ 19
3ª JOÃO ............................................................................................................ 20
JUDAS ............................................................................................................... 21
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INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO
EPÍSTOLAS GERAIS
INTRODUÇÃO
As Epístolas Gerais foram escritas durante uma era de perseguição e apostasia. No primeiro
século depois de Cristo, os crentes propagavam o evangelho e “gozavam de certa paz”.
Entretanto, por volta do ano 60 d.C., as coisas mudaram. Os cristãos passaram a ser
incompreendidos pelo grande público, que interpretava erroneamente as doutrinas: de um
Deus invisível, de um Salvador ressurreto e de um julgamento futuro que acabaria com os
poderes políticos. Por esta razão, durante o reinado do imperador Nero, surgiu uma feroz
reação contra os cristãos, ocasião em que ocorreu a prisão e morte do apóstolo Paulo.
As Epístolas Gerais são compostas por oito livros: Hebreus, Tiago, I e II Pedro, I, II e III João e
Judas. Por que são chamadas de Epístolas Gerais? São chamadas assim porque são de natureza
e alcance universais; não se dirigem especificamente a nenhum grupo, indivíduo ou
congregação em particular (com exceção de II e III João que tem cunho pessoal). O intuito dos
autores era preservar a unidade da fé cristã e encorajar cada crente nos tempos difíceis. Por um
tempo a igreja cristã foi unicamente constituída de judeus crentes em Jesus Cristo. Mas, depois
os gentios também se converteram a Jesus, fazendo parte da igreja cristã já existente.
Observamos isso nas Epístolas Gerais. A expansão da doutrina cristã foi muito grande entre os
gentios, mas, a convivência entre os gentios e os judeus cristãos acarretou certos problemas.
Os crentes judeus achavam, por exemplo, que eles deviam guardar a Lei Mosaica. O conflito
surgiu e ocasionou a reunião do Concílio em Jerusalém (At. 15). Essas epístolas são muito
importantes, pois, elas proporcionam um panorama completo da Igreja do Novo Testamento.
Cada um dos autores é de origem e experiências distintas, e escreve de maneira diferente um
do outro. Os livros que integram as Epístolas Gerais, foram aceitos como livros canônicos até o
final do século IV.
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HEBREUS
INTRODUÇÃO
“Não há parte das Escrituras cuja autoria seja mais controversa, nem cuja inspiração seja
mais incontroversa”.
Conybeare e Howson.
II – Autoria
Hebreus é anônimo, embora algumas das primeiras edições de Almeida Corrigida Fiel
tenham impresso o nome de Paulo como parte do título do livro. A igreja oriental dos primeiros
séculos (Dionísio e Clemente, ambos de Alexandria) sugeriu Paulo como autor. Após muitas
dúvidas, esse ponto de vista passou a prevalecer a partir da época de Atanásio, de forma que o
Ocidente finalmente concordou. Hoje, contudo, poucos sustentariam a autoria de Paulo. O
teólogo Orígenes concordou que o conteúdo era de Paulo, e que há algumas influências do
apóstolo na epístola, mas o estilo no original é muito diferente do paulino. Isso não descarta a
autoria dele, pois um gênio literário pode alterar seu estilo.
Vários autores foram sugeridos através dos anos: Lucas, cujo estilo é similar e que era
familiar às pregações de Paulo, além de Barnabé, Silas, Filipe e até Áquila e Priscila.
Lutero sugeriu Apolo, homem que combina com o estilo e o conteúdo do livro: forte no
conhecimento do AT e muito eloquente. Alexandria, terra natal de Apolo, era famosa pela
retórica. Um argumento contra Apolo é a constatação de que nenhuma tradição de Alexandria
preserva tal teoria, situação improvável se uma pessoa natural de Alexandria o tivesse escrito.
Por alguma razão o Senhor considerou adequado manter o autor desconhecido. Uma
hipótese é que Paulo escreveu a epístola, mas de propósito escondeu sua autoria devido ao
preconceito dos judeus contra ele. Embora isso seja possível, as antigas palavras de Orígenes
não podem ser descartadas: "Apenas Deus sabe com certeza quem escreveu a epístola".
III – Data
Apesar da autoria humana ser anônima, é possível datar a epístola com bastante
aproximação.
As evidências externas impõem uma redação do século I, uma vez que Clemente de Roma
utilizou o livro em 95 d.C. Embora Policarpo e Justino Mártir citem a carta, eles não nomeiam o
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autor. Dionísio de Alexandria cita o livro de Hebreus como escrito por Paulo, e Clemente de
Alexandria diz que Paulo o escreveu em hebraico e Lucas o traduziu. Da leitura do livro,
contudo, não dá para concluir que é uma tradução. Ireneu e Hipólito achavam que Paulo não
escrevera Hebreus, e Tertuliano achava que Barnabé o fizera.
As evidências internas levam a crer que o autor é um cristão da segunda geração (2.3 e
13.7), e assim o livro não seria tão remoto como Tiago ou 1ª Tessalonicenses (cf. Hb. 10.32).
Uma vez que não há menção às guerras judaicas (começando em 66 d.C), e os sacrifícios no
templo aparentemente ainda continuavam (8.4; 9.6; 12.27; 13.10), impõe-se uma data antes de
66, certamente antes da destruição de Jerusalém no ano 70. As perseguições são mencionadas
(12.4), mas os cristãos "não haviam ainda resistido até o derramamento de sangue". Se a Itália é
o destino da carta, a perseguição sangrenta de Nero (64) faz a carta retroceder, para o mais
tardar, meados de 64. É bastante provável uma data entre 63 e 65.
IV – Contexto e Tema
De modo geral, Hebreus trata da fantástica batalha que ocorre ao se trocar um sistema
religioso por outro. Há a violenta ruptura dos antigos laços, os estresses e as tensões do
afastamento e as enormes pressões exercidas sobre o renegado para voltar.
Nessa epístola, porém, não se trata apenas do problema de deixar um antigo sistema por
um novo de igual valor. Ao contrário, a questão era deixar o judaísmo por Cristo, e, como
mostra o autor, isso envolvia substituir o intangível pelo tangível, o ritual pela realidade, o
prévio pelo definitivo, o temporário pelo permanente; em suma, o bom pelo melhor.
O problema também incluía trocar o popular pelo impopular, a maioria pela minoria, os
opressores pelo oprimido. E isso precipitava muitos problemas sérios.
A carta foi escrita para o povo de origem judaica. Esses hebreus tinham ouvido o
evangelho pregado pelos apóstolos e outros irmãos, durante a primeira fase da Igreja, e tinham
visto os poderosos milagres do Espírito Santo que confirmavam a mensagem. Eles tinham
respondido às boas-novas de três maneiras:
1. Alguns creram no Senhor Jesus e foram genuinamente convertidos.
2. Outros professaram tornar-se cristãos, foram batizados e assumiram seus postos nas
igrejas locais, contudo nunca nasceram de novo pelo Espírito Santo de Deus.
3. Outros ainda, indiferentes, rejeitaram a mensagem da salvação.
Esta epístola trata dos dois primeiros casos: os hebreus verdadeiramente salvos e os que
nada tinham além de uma fachada de cristianismo.
Quando um judeu deixava a fé de seus antepassados, era visto como vira-casaca e um
apóstata (meshummed), e muitas vezes era punido com uma ou mais das penas seguintes:
• privação do direito de herança pela família;
• excomunhão da congregação de Israel;
• perda de emprego;
• perda de bens;
• tormento mental e tortura física;
• ridicularização pública;
• prisão;
• martírio.
É evidente que sempre havia uma rota de fuga. Se esse judeu renunciasse a Cristo e
voltasse ao judaísmo, seria poupado de novas perseguições. Como se lê nas entrelinhas desta
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carta, podemos detectar alguns fortes argumentos usados para persuadi-lo a retornar à antiga
fé:
• o rico patrimônio dos profetas;
• o proeminente ministério dos anjos na história do antigo povo de Deus;
• a associação com Moisés, o ilustre legislador;
• laços nacionais com Josué, o brilhante comandante militar;
• a glória do sacerdócio de Arão;
• o sagrado santuário que Deus escolheu para nele habitar entre seu povo;
• a aliança da lei concedida por Deus por meio de Moisés;
• os utensílios divinamente escolhidos no santuánrio e o magnífico véu;
• os serviços no santuário, especialmente o ritual do grande dia da Expiação (Yom Kippur, o
mais importante dia do calendário judaico).
Podemos praticamente ouvir os judeus do século I apresentando todas essas glórias de
sua antiga e ritualística religião e depois perguntando com desdém: "O que vocês, cristãos,
têm? Nós temos tudo isso. O que vocês têm? Nada senão uma simples sala, uma mesa e pão e
vinho sobre a mesa! Vocês querem dizer que deixaram tudo aquilo por isso?”
A epístola aos Hebreus é realmente uma resposta à pergunta: "O que vocês têm?" Em
uma palavra, a resposta é Cristo. Em Cristos, temos:
• aquele que é maior do que os profetas;
• aquele que é maior do que os anjos;
• aquele que é maior do que Moisés;
• aquele que é maior do que Josué;
• aquele cujo sacerdócio é superior ao de Arão;
• aquele que serve em melhor santuário;
• aquele que apresentou melhor aliança;
• aquele que é o antítipo dos utensílios típicos e do véu;
• aquele cuja oferta de si, feita uma vez por todas, é superior aos repetidos sacrifícios de bois e
cabritos.
Assim como as estrelas perdem o brilho diante da glória maior do sol, também os tipos e
a intangibilidade do judaísmo tornam-se insignificantes diante da glória superior da pessoa e da
obra de Jesus.
Havia ainda o problema da perseguição. Os que professavam ser seguidores do Senhor
Jesus enfrentavam oposição amarga e fanática. Para os verdadeiros cristãos isso poderia
conduzir ao desalento e desespero. Eles, portanto, precisavam ser encorajados a ter fé nas
promessas de Deus, precisavam de perseverança em vista do futuro galardão.
Para os que eram apenas cristãos nominais havia o perigo da apostasia. Após professar
ter recebido Cristo, eles poderiam renunciar a ele completamente e retornar à religião
ritualística. Isso era tão ruim quanto pisotear o Filho de Deus, profanando seu sangue e
insultando o Espírito Santo. Para esse pecado intencional, não havia arrependimento ou
perdão. Contra esse pecado, há repetidas advertências.
Em 2.1, ele é descrito como desviar-se da mensagem de Cristo. Em 3.7-19, é o pecado da
provocação, ou de endurecer o coração. Em 6.6, é o cair ou cometer apostasia. Em 10.25, é
deixar de congregar-se. Em 10.26, é o pecado deliberado ou voluntário. Em 12.16, é
mencionada a venda do direito de primogenitura por uma simples refeição. Finalmente, em
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12.25, é chamado recusa em ouvir aquele que está falando do céu. Mas todas essas
advertências referem-se aos diferentes aspectos do mesmo pecado: a apostasia.
A mensagem de Hebreus é oportuna hoje como foi no primeiro século da Igreja.
Precisamos ser constantemente lembrados dos privilégios e das bênçãos eternas que são
nossas em Cristo. Necessitamos de coragem para perseverar, apesar da oposição e das
dificuldades. E todos os que professam ser cristãos precisam ser alertados contra o retorno à
religião de cerimoniais depois de ter provado e visto que o Senhor é bom.
V – Esboço
I. A pessoa de Cristo é superior (1.1—4.13)
A. Cristo é superior aos profetas (1.1-3)
B. Cristo é superior aos anjos (1.4—2.18)
C. Cristo é superior a Moisés e a Josué (3.1—4.13)
II. O sacerdócio de Cristo é superior (4.14—10.18)
A. O sumo sacerdócio de Cristo é superior ao de Arão (4.14—7.28)
B. O ministério de Cristo é superior ao de Arão (8)
C. A oferta de Cristo é superior aos sacrifícios do Antigo Testamento (9.1—10.18)
III. Advertências e exortações (10.19—13.17)
A. Advertência para não desprezar Cristo (10.19-39)
B. Exortação à fé pelos exemplos do Antigo Testamento (11)
C. Exortação à esperança em Cristo (12)
D. Exortação às várias virtudes cristãs (13.1-17)
IV. Bênçãos finais (13.18-25)
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TIAGO
Introdução
“[Tiago é] pregador, mas fala como profeta. [...] Com exceção dos pronunciamentos de
Jesus, a veemência de sua linguagem não tem paralelo na literatura cristã do século I”.
Theodor Zahn
II – Autoria
Vários nomes bíblicos sofreram alterações na tradução do hebraico para o grego, latim e
outras línguas. Nenhum deles é tão diferente do original quanto Tiago, tradução do nome grego
lakobos, que vem do hebraico Yaakov (Jacó). Havia muitos judeus com o nome Yaakov, e o NT
fala de quatro indivíduos assim denominados. Todos eles foram considerados possíveis autores
desta epístola, mas com diferentes graus de probabilidade e corroboração acadêmica.
1. Tiago, o apóstolo, filho de Zebedeu e irmão de João (Mt. 4.21). Se o apóstolo Tiago
fosse o autor, a aceitação da carta não teria demorado tanto (cf. a seguir). Ademais, ele foi
martirizado em 44 d.C., provavelmente antes da redação desta epístola.
2. Tiago, filho de Alfeu (Mt. 10.3). Exceto pela presença de seu nome nas listas dos
apóstolos, é praticamente desconhecido. O fato do autor referir-se a si mesmo como "Tiago",
sem nenhum título distintivo, mostra que era bastante conhecido na época.
3. Tiago, pai de Judas (não Iscariotes; Lc. 6.16). Por ser ainda mais desconhecido, é
razoável descartá-lo como autor da carta.
4. Tiago, o meio-irmão do Senhor (Mt. 13.55; Gl. 1.19). Quase certamente é o autor. Era
bastante conhecido, porém modesto, uma vez que não menciona seu parentesco com Cristo
(cf. tb. a Introdução à epístola de Judas). Foi ele quem presidiu o Concílio de Jerusalém e
passou os últimos dias de vida nessa cidade. Era conhecido como um cristão judeu zeloso, de
estilo de vida extremamente austero. Em resumo, é lembrado pela história (Josefo) e pela
tradição da Igreja como cristão qualificado para escrever esta epístola.
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Evidências Externas
A epístola de Tiago é uma das que possuem menos testemunhos externos; é apenas
mencionada, mas não citada de forma direta, pelos primeiros pais da Igreja. Também não faz
parte do cânon muratoriano1, provavelmente pelo fato de ter sido enviada de Jerusalém aos
judeus orientais e porque, para muitos, dá a impressão de contradizer Paulo acerca da justi-
ficação pela fé.
Não obstante, Tiago é citado por Cirilo de Jerusalém, Gregório de Nazianzo, Atanásio e
Jerônimo. Eusébio informa que era um dos livros contestados (antilegomena) por alguns
cristãos, mas ele o cita como parte das Escrituras Sagradas.
Evidências Internas
Tiago apresenta fortes evidências internas. Harmoniza com aquilo que Atos e Gálatas
revelam sobre o estilo de Tiago e também com a história da dispersão, relatada em outras
fontes. Não haveria motivos para forjar um livro como este, que não contém nenhum
acréscimo doutrinário importante (como ocorre com todas as obras heréticas escritas no século
II). De acordo com Josefo, Tiago conquistou sólida reputação entre os judeus devido a sua
devoção à lei, mas foi martirizado por contrariar as proibições da época e dar testemunho do
Messias. Esse historiador judeu afirma que Tiago foi apedrejado por ordem do sumo sacerdote
Ananias. Pelo relato de Eusébio, Tiago foi lançado do pináculo do templo e espancado com
porretes até a morte. Hegésipo combina as duas tradições.
O argumento segundo o qual o estilo grego da epístola de Tiago é "esmerado demais"
para um judeu palestino reflete uma ignorância imprópria acerca dos talentos intelectuais
extraordinários do povo escolhido.
III – Data
Josefo afirma que Tiago foi morto em 62 d.C., de modo que a carta é anterior a essa data.
Tendo em vista a ausência de qualquer menção às decisões tomadas no concílio de Jerusalém
(48 ou 49 d.C.) presidido por Tiago (At. 15), costuma-se datá-la entre 45 e 48 d.C.
IV – Contexto e Tema
Tiago talvez tenha sido o primeiro livro escrito do NT e, portanto, possui um tom
claramente judaico. Não obstante, seus ensinamentos não devem ser relegados a uma época
passada, pois são aplicáveis e ainda relevantes aos dias atuais.
A atualidade dos temas se deve ao fato de Tiago ter-se baseado em grande escala nos
ensinamentos de Jesus no Sermão do Monte, como se pode ver claramente nestas
comparações:
Tema Tiago Paralelo com Mateus
Adversidade 1.2,12; 5.10 5.10-12
Oração 1.5; 4.3; 5.13-18 6.6-13
1
Em 1740, foi publicada uma lista dos livros do Novo Testamento em latim por Lodovico Antonio Muratori,
distinto antiquário e teólogo em sua época, a partir de um códice copiado no século VII ou VIII no Mosteiro de
Bobbio, na Lombardia, mas que depois veio a ser guardado na Biblioteca Ambrosiana (da qual Muratori fora, por
algum tempo, curador), em Milão. Continua armazenada lá, sob o número de catálogo J 101 sup., fólios 10a-11a. O
documento é melhor entendido como uma lista de livros do Novo Testamento reconhecidos como portadores de
autoridade escritural pela igreja romana da época. Além de listar os livros, faz várias observações sobre eles,
refletindo a opinião contemporânea de alguns líderes eclesiásticos.
Fonte: http://porquecreio.blogspot.com.br/2012/04/o-fragmento-muratoriano.html.
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Os bons olhos 1.8; 4.8 6.22-23
Riquezas 1.10-11; 2.6-7 6.19-21,24-34
Ira 1.19-20 5.22
A lei 1.25; 2.1,12-13 5.17-44
Mera profissão 1.26-27 6.1-18
A lei régia 2.8 7.12
Misericórdia 2.13 5.7
Fé e obras 2.14-26 7.15-27
Raiz e frutos 3.11-12 7.16-20
A verdadeira sabedoria 3.13 7.24
O pacificador 3.17-18 5.9
Julgar outros 4.11-12 7.1-5
Tesouros enferrujados 5.2 6.19
Juramentos 5.12 5.33-37
Tiago refere-se à lei com frequência. Chama-a de “lei perfeita” (1.25), “lei régia” (2.8) e
“lei da liberdade” (2.12). Não ensina que seus leitores precisam se sujeitar à lei como meio de
salvação ou regra de vida. Antes, cita partes da lei como "educação na justiça" daqueles que
vivem sob o regime da graça. Outra palavra-chave em Tiago é irmãos. Ocorre dez vezes e nos
lembra que Tiago escreve para cristãos, embora pareça, ocasionalmente, dirigir-se também a
incrédulos.
A carta se assemelha a Provérbios no estilo irregular, intenso, vívido e difícil de
esquematizar. A palavra sabedoria aparece reiteradamente. Em alguns sentidos, é a carta mais
autoritária do NT, pois contém mais instruções do que todos os outros escritos. Encontramos,
no curto espaço de cento e oito versículos, nada menos que cinquenta e quatro imperativos.
V – Esboço
I - Saudação (1.1)
II - Provações e tentações (1.2-17)
III - A palavra de Deus (1.18-27)
IV - Favoritismo condenável (2.1-13)
V - Fé e obras (2.14-26)
VI - Uso e abuso da língua (3.1-12)
VII - A verdadeira e a falsa sabedoria (3.13-18)
VIII - A causa e a cura da cobiça (4)
IX - Os ricos e seu remorso futuro (5.1-6)
X - Exortação à paciência (5.7-12)
XI - Oração e cura dos enfermos (5.13-20)
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1ª PEDRO
Introdução
“Se não soubéssemos quem escreveu a carta, seríamos obrigados a dizer: Eis um homem
semelhante a uma rocha, cujas palavras refletem seu caráter, cuja alma se encontra firmada
sobre um alicerce inabalável, e cujo testemunho poderoso visa a fortalecer a alma de outros
para resistir às pressões das tempestades de sofrimento que se aproximavam e fundamentá-los
na verdadeira rocha".
Wiesinger
II – Autoria
Evidências externas
As evidências externas de que Pedro escreveu esta epístola são antigas e praticamente
universais. Eusébio conta 1ª Pedro entre os livros aceitos por todos os cristãos
(homologoumena). Policarpo e Clemente de Alexandria o consideram autêntico. O fato de não
aparecer no "cânon" de Márcion não deve causar surpresa, pois ele aceitou somente as cartas
de Paulo. O cânon muratoriano não inclui 1ª Pedro, mas é possível que seja devido à natureza
fragmentária desse documento.
É bem possível que 2ª Pedro 3.1 seja a atestação mais antiga de 1ª Pedro. Mesmo quem
nega a autoria petrina de 2ª Pedro (cf. introdução a 2ª Pedro) considera a epístola antiga o
suficiente para validar seu testemunho em favor de 1ª Pedro, caso 2ª Pedro 3.1 se refira, de
fato, a esta primeira carta.
Evidências internas
O excelente nível do grego empregado na carta é uma evidência interna que provoca
dúvida quanto à autoria petrina. Um pescador galileu seria capaz de escrever tão bem? Muitos
dizem que não. Como nossa cultura mostra através de vários exemplos, no entanto, pessoas
com habilidade linguística natural podem desenvolver o uso da linguagem de forma
11
extraordinária sem instrução formal em universidade ou seminário. Pedro tinha trinta anos de
experiência como pregador, sem falar na inspiração do Espírito Santo e, provavelmente, na
contribuição de Silvano para a redação da carta. Quando Atos 4.13 diz que Pedro e João eram
"iletrados e incultos", refere-se apenas a sua falta de instrução rabínica.
A primeira epístola de Pedro faz diversas referências à vida e ao ministério do apóstolo,
como evidenciam os detalhes a seguir:
Em 1.8 o autor deixa implícito que viu jesus de forma diferente da experiência de seus
leitores. Diz: "A quem, não havendo visto, amais", e não "amamos". Como observaremos em
outras passagens, o autor havia desfrutado da companhia do Senhor.
Ao apresentar Cristo como Pedra Angular, 1ª Pedro 2:1-10 remete ao episódio em
Cesaréia de Filipe (Mt. 16.13-20). Quando Pedro confessou Jesus como o Cristo e o Filho do
Deus vivo, o Senhor Jesus anunciou que sua igreja seria construída sobre esse alicerce, a saber,
o fato de que Cristo é o Filho do Deus vivo. Ele é a Pedra Angular e o Alicerce da Igreja.
A referência às pedras que vivem, em 2.5, traz à memória o episódio descrito em João
1.42, no qual o nome de Simão é mudado para Cefas (aramaico) ou Pedro (grego), isto é, pedra.
Por meio da fé em Cristo, Pedro se tornou uma pedra viva. Não é de surpreender, portanto,
que discorra sobre pedras no capítulo 2. Em 2.7, o autor cita Salmos 118.22: "A pedra que os
construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular", a mesma passagem que
Pedro mencionou ao ser interrogado perante as autoridades, anciãos e escribas em Jerusalém
(At. 4.11).
A instrução do apóstolo para que seus leitores se sujeitem às autoridades governamentais
(2.13-17) lembra o episódio em que o próprio Pedro se rebelou e cortou a orelha do servo do
sacerdote (Jo. 18.10). O conselho do apóstolo não só é inspirado, como corroborado por sua
experiência pessoal!
O capítulo 2.21-24 parece indicar um conhecimento de primeira mão do julgamento e da
morte do Senhor Jesus. Pedro nunca se esqueceu da resignação mansa e do sofrimento
silencioso do Salvador. Em 2.24, encontramos uma referência à forma de execução do Salvador:
a crucificação. A descrição assemelha-se às palavras do próprio Pedro em Atos 5.30 e 10.39.
Quando instrui seus leitores a se converterem ao Pastor e Bispo de suas almas (2.25), é
possível que tenha em mente a própria restauração (Jo. 21.15-19) depois de haver negado o
Senhor.
A lembrança de que "o amor cobre multidão de pecados" (4.8) pode se referir à pergunta
de Pedro: "Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete
vezes", ao que Jesus lhe respondeu: "Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete"
(Mt. 18.21-22). Em outras palavras, um sem-número de vezes.
De acordo com 4.16, quem sofre como cristão não se deve envergonhar, mas sim
glorificar a Deus com esse nome. Compare essa declaração com Atos 5.40-42, em que Pedro e
os demais apóstolos, depois de terem sido açoitados "se retiraram do Sinédrio regozijando-se
por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome".
O autor da epístola se identifica como testemunha dos sofrimentos de Cristo (5.1). A
expressão "co-participante da glória que há de ser revelada" pode ser uma alusão à
transfiguração. Como sabemos, Pedro estava presente nas duas ocasiões.
O conselho pastoral e amável para "[pastorear] o rebanho de Deus que há entre vós" (5.2)
traz à memória as palavras de Jesus a Pedro: "Apascenta os meus cordeiros [...] Pastoreia as
minhas ovelhas [...] Apascenta as minhas ovelhas..." (Jo. 21.15-17).
A expressão em 5.5 "cingi-vos todos de humildade" lembra João 13, em que Jesus se
cingiu com a toalha do servo e lavou os pés de seus discípulos. Na verdade, a seção sobre
12
orgulho e humildade (5.5-6) se torna ainda mais significativa quando nos lembramos da
arrogância de Pedro ao declarar que jamais trairia o Senhor (Mc. 14.29-31) e quando, logo em
seguida, nega o Salvador três vezes (Mc. 14.67-72).
Por fim, é possível que 5.8 também esteja ligado à experiência pessoal de Pedro: "O
diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para
devorar". Talvez ao escrever essas palavras, Pedro tivesse em mente a circunstância em que
Jesus lhe disse: "Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo” (Lc.
22.31).
III – Data
Muitos consideram a afirmação de que o governo é, em geral, benéfico para quem deseja
fazer o que é certo (1ª Pe. 2.13-17) conciliatória demais para ter sido escrita depois do início da
perseguição feroz aos cristãos empreendida por Nero (64 d.C). De qualquer modo, a carta não
foi escrita muito antes ou depois desse período, provavelmente em 64 ou 65 d.C.
IV – Contexto e Tema
Como observamos antes, Pedro trata particularmente do sofrimento na vida cristã. Até
então, seus leitores haviam sido ultrajados e ridicularizados por causa de Cristo (4.14-15). Ao
que parece, a prisão, o confisco dos bens e a morte violenta ainda eram tribulações que
estavam por vir. Mas esta carta magnífica não trata apenas do sofrimento. Fala das bênçãos
herdadas por aqueles que aceitam o evangelho e de como os cristãos devem relacionar-se com
o mundo, o estado, a família e a igreja. Também fornece instruções sobre os presbíteros e a
disciplina eclesiástica.
O apóstolo escreve da "Babilônia". O nome pode se referir literalmente à cidade junto ao
rio Eufrates, onde havia uma comunidade judaica, ou figurativamente à Babilônia espiritual, ou
seja, a cidade de Roma à beira do rio Tiber. Os destinatários se encontram nas províncias
orientais da atual Turquia.
V – Esboço
I - Os privilégios e os deveres do cristão (1.1—2.10)
A) Saudação (1.1-2)
B) Sua posição como cristão (1.3-12)
C) Sua conduta à luz dessa posição (1.13—2.3)
D) Seus privilégios na nova casa e sacerdócio (2.4-10)
II - Os relacionamentos do cristão (2.11—4.6)
A) Como peregrino em relação ao mundo (2.11-12)
B) Como cidadão em relação ao governo (2.13-17)
C) Como servo em relação ao senhor (2.18-25)
D) Como esposa em relação ao marido (3.1-6)
E) Como marido em relação à esposa (3.7)
F) Como irmão em relação à congregação (3.8)
G) Como sofrer em relação aos perseguidores (3.9-4.6)
III – O serviço e o sofrimento do cristão (4.7-5.14)
A) Imperativos urgentes para os últimos dias (4.7-11)
B) Exortações e explicações acerca do sofrimento (4.12-19)
C) Exortações e saudações (5.1-14)
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2ª PEDRO
Introdução
“[A segunda epístola de Pedro] irradia a Pessoa de Cristo e aguarda sua consumação”.
E. C. Homrighausen
F.
I – Posição Singular no Cânon
A citação introdutória acima é especialmente expressiva porque seu autor, como tantos
hoje, nega que foi Pedro quem escreveu a epístola. Também reconhece que se trata de um
texto "petrino em caráter e espírito". Por ironia, essas duas declarações resumem de forma
bastante sucinta a contribuição única de 2ª Pedro.
Em meio à propagação das trevas da apostasia, esta breve epístola olha para o futuro,
para a vinda do Senhor. Traz à memória a vida e a personalidade de Pedro, mas, de fato, irradia
a Pessoa de Cristo a todos os que permitem que esta pequena carta fale por si mesma.
II – Autoria
Conforme disse um importante estudioso do NT: "Como Daniel e Isaías no AT, 2ª Pedro é
o divisor de águas entre adultos e crianças no tocante à ortodoxia rigorosa na crítica bíblica".
Não é raro comentaristas modernos procurarem contestar a autoria petrina de 2ª Pedro e
pressupor como fato comprovado que Pedro não escreveu a epístola. A aceitação da
autenticidade desta carta é mais problemática que a de qualquer outro livro do NT. Na
realidade, porém, as objeções não são tão fortes quanto parecem.
Evidências externas
Policarpo, Inácio e Irineu não citam 2ªPedro. Se, contudo, Judas é posterior a 2ª Pedro,
como ensinava a igreja primitiva, encontramos uma atestação do século I para 2ª Pedro na
Epístola de Judas (cf. Introdução a Judas). O estudioso alemão Zahn a considera suficiente.
Depois de Judas, o próximo a citar 2ª Pedro é Orígenes, seguido de Metódio de Olimpo
(martirizado pelo imperador Diocleciano) e Fumiliano de Cesaréia. Eusébio reconheceu que a
maioria dos cristãos aceitava 2ª Pedro, embora ele próprio não estivesse plenamente
convencido.
O cânon muratoriano não traz 2ª Pedro, mas também não inclui 1ª Pedro, e além disso é
um documento fragmentário. Apesar de estar ciente das dúvidas acerca da autenticidade de 2ª
Pedro, Jerônimo, juntamente com os outros dois grandes pais da igreja, Atanásio e Agostinho,
considerava a carta genuína. A igreja como um todo seguiu essa linha até o tempo da Reforma.
Por que 2ª Pedro possui atestação externa tão fraca em comparação com outros livros?
Em primeiro lugar, trata-se de um livro curto e, ao que parece, com poucas cópias; também não
possui muito conteúdo novo. Esse último ponto serve de argumento em favor de sua
autenticidade, pois os livros heréticos sempre acrescentavam doutrinas que contradiziam, ou
pelo menos complementavam de forma estranha, os ensinamentos apostólicos. É possível,
portanto, que este seja o principal motivo pelo qual 2ª Pedro era tratado com tanta cautela nos
primeiros séculos. Na época, não faltavam "pseudo-epígrafos" (escritos falsos), como "O
Apocalipse de Pedro", que usavam o nome do apóstolo para promover heresias gnósticas.
Por fim, é importante saber, que apesar de 2ª Pedro ser um dentre vários livros colocados
em dúvida por alguns (antilegomena), ele nunca foi rejeitado como espúrio por nenhuma
igreja.
14
Evidências internas
Aqueles que rejeitam a autoria petrina enfatizam a diferença de estilo entre 1ª e 2ª
Pedro. De acordo com a explicação de Jerônimo, ela se deve ao fato de Pedro ter usado
amanuenses distintos. A diferença entre as duas cartas, porém, não é tão grande quanto sua
dessemelhança em relação ao restante do NT. As duas epístolas empregam um vocabulário
amplo e vívido, que coincide em vários aspectos com os sermões de Pedro em Atos e com
acontecimentos de sua vida.
As referências da carta a eventos do passado de Pedro são usadas como argumentos
favoráveis e contrários à autoria tradicional. Alguns dos estudiosos que rejeitam a autoria
petrina afirmam que deveria haver mais alusões; outros dizem que há um excesso de alusões e,
portanto, a carta só pode ser falsa! Que motivos alguém teria para forjar um livro como 2ª
Pedro? Aqueles que rejeitam sua autenticidade se mostraram extremamente criativos na
tentativa de formular teorias, mas não foram capazes de apresentar nenhum argumento
satisfatório. Ao estudar a epístola, porém, descobrimos várias evidências internas de que ela
foi, de fato, escrita por Pedro.
Em 1.3, o autor diz que os cristãos foram chamados para a glória e virtude do Senhor.
Essa afirmação remete a Lucas 5.8, em que Pedro ficou tão maravilhado com a glória do Senhor
que clamou: "Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador".
Quando o autor prescreve medidas para que seus leitores não venham a tropeçar (1.5-
10), lembramos de imediato a queda de Pedro e a tristeza que esta lhe trouxe.
O versículo 14 do capítulo 1 é particularmente importante, pois mostra que o escritor
recebeu do Senhor Jesus uma revelação acerca de sua própria morte. A declaração se encaixa
perfeitamente com João 21.18-19, em que Jesus revelou a Pedro que o apóstolo seria morto
em idade avançada.
Os termos "tabernáculo" (ou "tenda") e "partida" (ou "êxodo") em 1.13-15 também são
empregados por Lucas no relato da transfiguração (Lc. 9.31-33).
Uma das provas mais convincentes da autoria petrina é a referência à transfiguração em
1.16-18. Uma vez que o autor estava presente no monte sagrado, a carta só pode ter sido
escrita por Pedro, Tiago ou João (Mt. 17.1). A introdução da carta indica que seu autor é Pedro
(1.1), e não Tiago ou João.
Em 2.14,18 encontramos o verbo "engodar", uma tradução de deleagõ, atrair com
engodo, isca. O termo faz parte do vocabulário de um pescador e, portanto, é especialmente
apropriado a Pedro.
Em 3.1 o autor se refere a uma carta anterior, provavelmente 1ª Pedro. Em 3.15 fala de
Paulo em termos bastante pessoais, de modo coerente com a relação entre os apóstolos.
O versículo 17 do capítulo 3 traz uma palavra que remete à experiência de Pedro.
"Firmeza" vem da mesma raiz de "fortalecer", o verbo usado por Jesus em Lucas 22.32:
"Quando te converteres, fortalece os teus irmãos". Também é traduzido por "firmar" em 1ª
Pedro 5.10 e "confirmados" em 2ª Pedro 1.12.
Por fim, como nas epístolas pastorais, temos a impressão de que a condenação mordaz
dos apóstatas por Pedro explica parte considerável da hostilidade moderna contra 2ª Pedro
como produto genuíno da vida e da pena do apóstolo.
Ao estudar a epístola, podemos encontrar outras evidências internas que a associam ao
apóstolo Pedro. O mais importante, porém, é entender o que o Senhor nos diz por meio desta
carta.
15
III – Data
A datação de 2ª Pedro depende, evidentemente, da questão de sua autenticidade. Quem
acredita que a carta é uma falsificação escolhe datá-la do século II. Tendo em vista nossa
conclusão de que a igreja estava correta ao reconhecer a canonicidade de 2ª Pedro, tanto do
ponto de vista histórico quanto espiritual, podemos datá-la de pouco antes da morte do
apóstolo (67 ou 68 d.C), ou seja, de 66 ou 67.
IV – Contexto e Tema
Duas linhas antagônicas podem ser observadas ao longo de todo o texto: a palavra
profética (1.19-21) e a licenciosidade (cap. 2). Pedro vê surgir no horizonte os falsos mestres
com suas "heresias destruidoras" que permitem um modo de vida libertino e ridicularizam o
julgamento vindouro (3.1-7). Aquilo que no tempo de Pedro era vislumbrado como futuro pode
ser visto infiltrando-se na igreja no tempo de Judas (v. 4). Quando a cristandade perdeu seu
amor pela vinda de Cristo e se acomodou no mundo (de Constantino em diante), os valores
morais da igreja decaíram assustadoramente. O mesmo se aplica aos dias de hoje. O
reavivamento do interesse no conteúdo profético das Escrituras visto no século XIX
praticamente desapareceu de vários círculos, e a vida licenciosa de algumas igrejas mostra que
Pedro foi inspirado a escrever sobre verdades de grande relevância para toda a era cristã.
V – Esboço
I - Saudação (1.1-2)
II - Chamado para desenvolver um caráter cristão firme (1.3-21)
III - Predição do surgimento de falsos mestres (2)
IV - Predição do surgimento de escarnecedores (3)
1ª JOÃO
Introdução
“Não somos chamados a imitar Cristo em sua caminhada sobre as águas, mas em sua
caminhada comum”.
Martinho Lutero
16
A primeira epístola de João é incomum em vários sentidos. Apesar de ser, de fato, uma
carta enviada a alguém, não cita o nome do autor nem do destinatário. Sem dúvida, as duas
partes se conheciam bem. Outra característica que chama a atenção neste magnífico livro é o
fato de verdades espirituais extremamente profundas serem expressas em frases curtas e
simples, com um vocabulário igualmente despretensioso. Quem disse que uma verdade
profunda precisa ser enunciada com frases complicadas? Infelizmente, alguns sermões ou
textos elogiados por sua "profundidade" talvez sejam apenas obscuros ou confusos.
O texto de 1ª João merece longas meditações e estudo sincero. O estilo aparentemente
repetitivo na verdade apresenta algumas diferenças sutis e são justamente essas nuanças de
sentido que precisam ser observadas.
II – Autoria
As evidências externas em favor da autoria de 1ª João são antigas e convincentes. João, o
autor do quarto Evangelho, é citado especificamente como autor da epístola por Ireneu,
Clemente de Alexandria, Tertuliano, Orígenes e seu discípulo Dionísio.
Como o autor de Hebreus, o escritor de 1ª João não menciona seu nome. Ao contrário de
Hebreus, porém, 1ª João possui evidências internas convincentes de sua autoria.
Os quatro primeiros versículos mostram que o escritor conhecia bem a Jesus e passou
tempo com ele, fato que reduz consideravelmente as possibilidades de autoria e coincide com a
tradição que aponta para o apóstolo João.
A tradição é corroborada pelo tom apostólico da carta: o autor escreve com autoridade,
com o carinho de um líder espiritual mais velho ("filhinhos") e até mesmo de forma dogmática.
Os conceitos e termos empregados pelo autor ("permanecer", "luz", "novo",
"mandamento", "Verbo", "vida eterna", "dar a vida", "passar da morte para a vida", "Salvador
do mundo", "tirar os pecados", "obras do diabo" e outros) coincidem com o quarto evangelho e
com as outras duas epístolas de João.
Semelhantemente, o estilo hebraico de paralelismo e estrutura simples das frases
caracteriza tanto o evangelho quanto esta epístola. Em resumo, se consideramos o apóstolo
João autor do quarto evangelho, não devemos ter dificuldade em lhe atribuir também a autoria
desta epístola.
III – Data
Há quem considere que João escreveu suas três cartas canônicas na década de 60 em
Jerusalém, antes de os romanos destruírem a cidade. É mais comum, porém, datar seus textos
do final do século I (80-95 d.C.) O tom paternal das epístolas é coerente com a tradição antiga,
segundo a qual o apóstolo João, já idoso, dizia quando era carregado para o meio de uma
congregação: "Filhinhos, amai-vos uns aos outros".
IV – Contexto e Tema
João escreveu na época do surgimento de uma seita conhecida como gnosticismo (do
grego, gnosis = conhecimento). Os gnósticos se diziam cristãos, mas afirmavam possuir
conhecimento adicional, superior aos ensinamentos dos apóstolos. Para eles, uma pessoa só
encontrava a plenitude depois de ser iniciada nessas "verdades" mais profundas. Alguns
ensinavam que a matéria era maligna e, portanto, que o Homem Jesus não podia ser Deus.
Faziam distinção entre Jesus e Cristo. "O Cristo" era a emanação divina que desceu sobre Jesus
em seu batismo e o deixou antes de sua morte, talvez no jardim do Getsêmani. De acordo com
os gnósticos, Jesus morreu de fato, mas Cristo não morreu. Como explica Michael Green, eles
17
insistiam em que "o Cristo celestial era santo e espiritual demais para se contaminar pelo
contato permanente com a carne humana". Em resumo, negavam a encarnação, que Jesus era
Cristo e que Jesus Cristo era Deus e Homem. João sabia que os gnósticos não eram cristãos
verdadeiros e advertiu seus leitores a esse respeito. Mostrou que os adeptos do gnosticismo
não possuíam as características de verdadeiros filhos de Deus.
De acordo com o apóstolo, um indivíduo é filho de Deus ou não é; não existe um estágio
intermediário. Por isso a epístola é repleta de opostos como luz e trevas, amor e ódio, verdade
e mentira, morte e vida, Deus e o diabo. Ao mesmo tempo, devemos observar que o apóstolo
gosta de descrever as pessoas de acordo com seu comportamento habitual. Ao discernir entre
cristãos e não-cristãos, por exemplo, não baseia sua conclusão num ato pecaminoso isolado,
mas naquilo que caracteriza a pessoa. Até um relógio quebrado indica a hora certa duas vezes a
cada vinte e quatro horas! O relógio que funciona corretamente, porém, indica a hora certa o
tempo todo. Assim, o comportamento diário e geral de um cristão é santo e justo, e indica que
ele é filho de Deus. João usa repetidamente a palavra "conhecer" e termos relacionados. Os
gnósticos diziam conhecer a verdade, mas o apóstolo apresenta os fatos acerca da fé cristã que
podem ser conhecidos com certeza. Descreve Deus como luz (1.5); amor (4.8,16); verdade (5.6)
e vida (5.20). Isso não significa que Deus não é uma Pessoa; antes, mostra que Deus é a fonte
dessas quatro bênçãos. João também diz que Deus é justo (2.29; 3.7), puro (3.3) e sem pecado
(3.5).
Apesar de usar palavras simples, João expressa ideias profundas e, por vezes, difíceis de
entender. Ao estudar este livro, devemos, portanto, pedir ao Senhor que nos ajude a
compreender o significado de sua palavra e obedecer à sua verdade revelada.
V – Esboço
I - Prólogo: A comunhão cristã (1.1 -4)
II - Formas de manter a comunhão (1.5—2.2)
III - Características dos participantes da comunhão cristã (1a parte): obediência e amor (2.3-11)
IV - Estágios do crescimento na comunhão (2.12-14)
V - Dois perigos para a comunhão: o mundo e os falsos mestres (2.15-28)
VI - Características dos participantes da comunhão cristã (2a parte): justiça, amor e a certeza
resultante (2.29—3.24)
VII - A necessidade de discernir entre verdade e erro (4.1 -6)
VIII - Características dos participantes da comunhão cristã (3a parte) (4.7—5.20)
A) Amor (4.7-21)
B) Sã doutrina (5.1 a)
C) Amor e obediência resultantes (5.1 b-3)
D) Fé que vence o mundo (5.4-5)
E) Sã doutrina (5.6-12)
F) Certeza por meio da palavra (5.13)
G) Confiança ao orar (5.14-17)
H) Conhecimento das realidades espirituais (5.18-20)
IX - Apelo final (5.21)
18
2ª JOÃO
Introdução
“[A segunda epístola de João] revela-nos um novo aspecto do apóstolo: mostra-o como
pastor de almas pessoal. [...] Seja dirigida a uma igreja local, seja [...] a uma senhora cristã [...],
é por amor a cada pessoa, individualmente, e pela qual tem grande interesse que ele envia esta
carta”.
A. Plummer
II – Autoria
As evidências externas em favor de 2ª João são menos expressivas que aquelas em favor
de 1ª João, sem dúvida por causa de sua concisão e de seu caráter pessoal. Ireneu a cita, mas,
como vários outros, a considerava parte de 1ª João (a divisão de capítulos e versículos só foi
feita séculos depois). Orígenes tinha suas dúvidas acerca desta epístola, mas Clemente e
Dionísio, ambos de Alexandria, citam-na como de autoria joanina. Cipriano refere-se
especificamente ao versículo 10 como palavras do apóstolo João.
As evidências internas consistem na correspondência entre o estilo e o vocabulário desta
carta e os do evangelho de João e as primeira e terceira epístolas. Apesar de 2ª e 3ª João não
começarem como 1ª João, são tão semelhantes que poucos se disporiam a negar que todas são
provenientes do mesmo autor e foram escritas, ao que tudo indica, na mesma época.
Não existem motivos convincentes para duvidar da atribuição tradicional de 2ª João ao
apóstolo (cf. mais detalhes na introdução a 1ª João).
III – Data
Como no caso de 1ª João, temos duas possibilidades. A primeira é de uma data mais
antiga (década de 60 d.C.) anterior à destruição de Jerusalém. A segunda é de uma data mais
recente (85-90 d.C). No primeiro caso, a epístola provavelmente foi enviada de Jerusalém; no
segundo caso, de Éfeso, onde o apóstolo idoso passou seus últimos dias.
IV – Contexto e Tema
O contexto desta epístola é o ministério amplamente difundido de pregadores itinerantes
na igreja primitiva, ainda praticado hoje em alguns meios. Evangelistas e ministros da Palavra
eram acolhidos nas congregações e lares que visitavam e dos quais recebiam alimento e, por
vezes, dinheiro. Infelizmente, falsos mestres e charlatães religiosos não hesitavam em usar esse
costume como forma de obter lucro fácil e propagar heresias como o gnosticismo (cf.
Introdução a 1ª João).
19
Se já era necessário advertir acerca de hereges e "aproveitadores religiosos" no século I, o
que o apóstolo João diria se visse a miscelânea de falsas religiões e seitas de nossos dias?
O tema central de 2ª João é a importância de não cooperar com alguém que espalha
doutrinas falsas acerca da Pessoa de nosso Senhor (v. 10-11).
V – Esboço
I - A saudação do apóstolo: graça, misericórdia e paz (v. 1-3)
II - A alegria do apóstolo: filhos obedientes (v. 4)
III - A ordem do apóstolo: andar em amor (v. 5-6)
IV - A preocupação do apóstolo: os enganadores (v.7-11)
V - A esperança do apóstolo: uma visita pessoal (v. 12-13)
3ª JOÃO
Introdução
“Este vislumbre final da vida cristã na era apostólica presta-se, em sua totalidade, a um
estudo mais demorado. As circunstâncias aqui retratadas estão longe do ideal, mas dão
testemunho da liberdade e vigor de uma fé em crescimento”.
B. F. Westcott
II – Autoria
As evidências externas em favor de 3ª João são semelhantes às de 2ª João. Estas cartas
são tão breves e pessoais que é fácil entender a falta de uma atestação tão ampla quanto a de
1ª João.
Orígenes e Eusébio classificaram 3ª João como anti-legomena, ou seja, parte dos livros
controversos. Clemente e Dionísio, ambos de Alexandria, bem como Cirilo de Jerusalém,
aceitavam 3ª João.
As evidências internas associam esta carta de modo bastante próximo a 2ª João e
também, claramente, a 1ª João. Juntas, as três epístolas corroboram a autenticidade umas das
outras.
Não há nenhum motivo convincente para duvidar da visão tradicional de que o apóstolo
João escreveu 3ª João juntamente com as outras duas cartas atribuídas a ele.
20
III – Data
Como no caso de 1ª e 2ª João, duas datas gerais são propostas para a terceira epístola. Se
João escreveu de Jerusalém antes da destruição da cidade, a carta pode ser datada da década
de 60 d.C. Em geral, porém, os estudiosos costumam datar a carta do período posterior durante
o qual João viveu e ministrou em Éfeso, isto é, por volta de 85-90 d.C.
IV – Contexto e Tema
O contexto histórico desta carta sucinta nos permite ver de forma rápida, porém clara, a
vida da igreja na segunda metade do século I. Com apenas algumas linhas de sua pena, o
apóstolo esboça três personagens: Caio, homem hospitaleiro e espiritual; Demétrio, homem de
caráter louvável; e Diótrefes, homem egoísta e desamoroso. Diótrefes talvez ilustre a
personalidade forte e obstinada que aparece em toda a congregação. Em contrapartida, é
possível que aponte para a tendência de um presbítero adquirir primazia dentro de um
conselho constituído, anteriormente, por presbíteros com o mesmo nível de autoridade. Essa
tendência se transformou no "episcopado monárquico" (governo de um presbítero ou bispo
dominante) observado no governo eclesiástico a partir do século II.
V – Esboço
I. Saudação (v. 1-4)
II. Gaio: homem piedoso (v. 5-8)
III. Diótrefes: líder tirano (v. 9-11)
IV. Demétrio: cristão devoto (v. 12)
V. O plano e a bênção do apóstolo (v. 13-14)
JUDAS
Introdução
“Uma epístola de poucas linhas, mas repleta de palavras poderosas de graça celestial”.
Orígenes
21
A igreja tem uma dívida eterna para com Judas pela bênção magnífica com a qual ele
encerra esta carta. Ainda que breve, ela é essencial em nossos tempos de apostasia crescente.
II – Autoria
Evidências externas
Apesar da concisão, do uso de material extracanônico e do fato de não ter sido escrita por
um apóstolo (v. 17), Judas apresenta atestação mais ampla no tocante às evidências externas
que 2ª Pedro.
Hermas, Policarpo e, provavelmente, Atenágoras tomaram material emprestado desta
epístola. Tertuliano se refere de forma específica ao uso que Judas fez de Enoque. Eusébio
classifica Judas entre os livros controversos (antilegomena). O cânon muratoriano inclui Judas
como livro autêntico.
Evidências internas
Judas (uma variação do nome Judá, hebraico Yehudah) era um nome judeu bastante
comum. Dos sete Judas mencionados no NT, três são sugeridos como "Judas [...] irmão de
Tiago" e autor desta epístola:
1. O apóstolo Judas (não Iscariotes, que cometeu suicídio). Uma vez que o versículo 17
parece diferenciar o autor dos apóstolos, ainda que uma associação com eles pudesse
fortalecer sua posição, o apóstolo Judas é um candidato improvável.
2. Judas, líder enviado a Antioquia com Paulo, Barnabé e Silas (At. 15.22). É uma possibilidade,
mas não há nenhuma evidência que o associe a esta carta.
3. Judas, um dos meio-irmãos mais novos de nosso Senhor e irmão de Tiago (cf. introdução a
Tiago) é o candidato mais forte. Como o Senhor Jesus e Tiago, ele usa ilustrações da natureza
e tem um estilo enérgico e vívido. Aceitamos a atribuição da epístola a ele.
Como seu irmão Tiago, Judas era humilde demais para explorar seu parentesco natural
com o Salvador. Afinal, é o relacionamento espiritual com o Senhor Jesus que conta. Não foi
Cristo quem disse: "Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão,
irmã e mãe" (Mt. 12.50)? E, em outra ocasião, ensinou que era mais bem-aventurado o que
ouve a palavra do Pai e a pratica do que o parente consanguíneo próximo do Filho (Lc. 11.27-
28). Como Tiago, Judas assume a posição de "servo", uma atitude apropriada, tendo em vista
que os dois irmãos só creram em seu Meio-lrmão divino depois da ressurreição. Judas era
casado e sua esposa o acompanhava nas viagens missionárias (1ª Coríntios 9.5). Os netos de
Judas foram levados perante o imperador Domiciano na década de 90 d.C. e acusados de serem
cristãos. Ao ver as mãos deles calejadas por anos de trabalho na lavoura, o imperador os
libertou, considerando-os apenas judeus inofensivos.
III – Data
Não há como afirmar categoricamente se Pedro tomou emprestado do texto de Judas ou
se Judas adaptou 2ª Pedro (ou ainda, se ambos usaram uma fonte comum). As semelhanças
entre as duas epístolas são grandes demais para serem consideradas coincidências. Pedro diz
em sua segunda epístola (2.1; 3.3) que "haverá" falsos mestres e escarnecedores, e Judas diz
que esses homens "se introduziram" na igreja (v. 4). É provável, portanto, que Judas tenha
escrito sua epístola mais tarde, talvez entre 67 e 80 d.C. A ausência de qualquer menção sobre
a destruição de Jerusalém (70 d.C.) pode sugerir que a epístola de Judas tenha sido escrita
antes desse acontecimento, provavelmente entre 67-70 d.C. Pode indicar, ainda, que Jerusalém
já havia sido destruída há algum tempo (caso a epístola tenha sido escrita em 80 ou mesmo 85
22
d.C, supondo que Judas viveu tanto tempo). Outra possibilidade é que o acontecimento fosse
traumático demais para ser usado como ilustração por um cristão judeu.
IV – Contexto e Tema
O tema central de Judas é a apostasia. Mesmo em seu tempo, a igreja do Senhor já
enfrentava a infiltração de quinta-colunistas religiosos, homens que se faziam passar por servos
de Deus. Na realidade, porém, eram inimigos da cruz de Cristo. O objetivo de Judas é
desmascarar esses traidores e descrever seu destino final.
O apóstata é uma pessoa que professa ser um cristão verdadeiro, mas que, na verdade,
nunca foi regenerado. Pode ser batizado e participar plenamente de todos os privilégios de
uma congregação, mas depois de algum tempo toma a decisão afrontosa de abandonar a fé e
negar o Salvador. Nega a divindade de Cristo, sua obra redentora no Calvário, sua ressurreição
física ou outras doutrinas fundamentais.
Não se trata de abandonar a fé, pois o apóstata nunca foi convertido. Não vê nenhum
problema em rejeitar deliberadamente o único caminho oferecido por Deus para a salvação. É
endurecido na incredulidade e obstinado na oposição ao Cristo de Deus.
A apostasia não consiste apenas em negar o Salvador. Pedro, um verdadeiro cristão,
cedeu sob a pressão de uma crise e negou Jesus. Ainda assim, amava ao Senhor
verdadeiramente e demonstrou que sua fé era real por meio do arrependimento e da
restauração subsequentes.
Judas Iscariotes era apóstata. Professava ser discípulo, por conviver cerca de três anos
com Jesus. Chegou até a servir como tesoureiro do grupo, mas, por fim, revelou sua verdadeira
natureza ao trair o Senhor por trinta moedas de prata.
A apostasia é um pecado que conduz à morte e está além das responsabilidades de
oração do cristão (1ª João 5.16b). É impossível restaurar um apóstata por meio do
arrependimento, uma vez que ele crucifica para si mesmo o Filho de Deus e o expõe à
ignomínia (Hb. 6.6). Para aqueles que pecam deliberadamente, depois de terem recebido o
conhecimento da verdade "já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa
expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários" (Hb. 10.26-27).
As sementes da apostasia já haviam sido lançadas na igreja primitiva. Paulo advertiu os
presbíteros efésios que depois da partida dele lobos vorazes apareceriam e não poupariam o
rebanho; do meio dos próprios efésios surgiriam homens falando coisas pervertidas para
granjear discípulos (At. 20.29-30). Em sua primeira epístola, João fala dos anticristos que
haviam feito parte da comunhão cristã, mas que manifestaram sua falsidade ao deixá-la, ou
seja, ao abandonar a fé (1ª João 2.18-19).
De acordo com 2ª Tessalonicenses 2.2-4, o Dia do Senhor será antecedido de grande
apostasia. A nosso ver, os acontecimentos se darão na seguinte sequência:
Primeiro, o Senhor virá nos ares para levar a Igreja à casa do Pai (Jo. 14.1-3; 1Ts. 4.13-18).
Em seguida, haverá apostasia geral da parte dos cristãos nominais que ficaram para trás.
O homem de iniquidade surgirá no cenário mundial.
Então, terá início o Dia do Senhor, o período de sete anos de tribulação.
O homem de iniquidade será o maior dos apóstatas. Além de se opor a Cristo, exigirá ser
adorado como se fosse Deus.
Pedro fornece uma descrição detalhada dos falsos mestres apóstatas que surgirão nos
últimos dias (2Pe. 2). Encontramos paralelos próximos entre sua descrição e a de Judas.
Podemos observar as semelhanças por meio da seguinte comparação:
23
Na verdade, porém, as diferenças entre as duas passagens são mais expressivas que as
semelhanças. Judas não menciona Noé, o dilúvio ou Ló. Pedro não fala dos israelitas que foram
tirados do Egito, de Miguel, Caim, Corá, nem da profecia de Enoque. Não fornece tantas
informações quanto Judas sobre os anjos que pecaram. Diz que os falsos mestres negaram o
Senhor que os comprou, enquanto Judas explica que "transformam em libertinagem a graça de
nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo" (Jd. 4).
Em vez de considerar os dois capítulos simples cópias, devemos entender que o Espírito
Santo selecionou conteúdos coerentes com seus propósitos, em cada caso, e que a
sobreposição entre os dois capítulos pode não ser tão extensa quanto parece inicialmente. O
estudo dos quatro evangelhos e a comparação das epístolas de Efésios e Colossenses revelam
que o Espírito de Deus não se repete desnecessariamente. As semelhanças e diferenças sempre
apresentam significados espirituais implícitos e podem ser vistos por quem se mostra disposto
a vê-los.
V – Esboço
I – Saudação (v. 1-2)
II – Os apóstatas são desmascarados (v. 3-16)
III – O papel do cristão em meio à apostasia (v. 17-23)
IV – A bênção magnífica (v. 24-25)
__________________________
Bibliografia:
Comentário Bíblico Popular, William MacDonald, Editora Mundo Cristão, 1ª edição, setembro
de 2008, S. Paulo.
Bíblia de Estudos Apologética
24