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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) FEDERAL DA 13ª VARA

FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE PERNAMBUCO

Processo nº 0808375-09.2020.4.05.8300

PAJ nº 2021/038-00491

RONALDO SOARES SILVEIRA, devidamente qualificado nos autos em epígrafe,


assistido pela Defensoria Pública da União, vêm, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, apresentar, com fulcro no parágrafo único do artigo 396-A do Código de
Processo Penal, a presente RESPOSTA À ACUSAÇÃO, consoante as razões de fato e de
direito a seguir delineadas.

I – SÍNTESE PROCESSUAL

O acusado possui uma empresa intitulada “PLANET MAGAZINE” e realiza a venda


de aparelhos celulares na internet, por meio da plataforma de compra “MERCADO LIVRE”,
contudo, sempre esteve em conformidade com o código penal brasileiro, sem a prática de
possíveis delitos.

No dia 05/07/2017, na sede o Centro de Tratamento de Encomendas - CTE em


Recife/PE, foi apreendido um "TELEFONE CELULAR SAMSUNG GALAXY S7EDGE"
que tinha como remetente a empresa RONALDO S. SILVEIRA INFORMÁTICA ME, cujo
nome de fantasia é PLANET MAGAZINE no valor de R$ 2.499,97 (dois mil, quatrocentos e
noventa e nove reais e noventa e sete centavos). A posteriori, no dia 15/05/2017, na mesma
sede e remetida pela mesma empresa jurídica, outro a "CELULAR XPERIA - XA, ULTRA,
SONY” foi apreendido. No entanto, o impasse do suposto crime versa sobre que os bens
estavam desacompanhados de documentação comprobatória de aquisição no mercado interno
e/ou da regular importação, configurando o art. ao delito previsto no art. 334, § 1º, inciso III,
do Código Penal Brasileiro em continuidade delitiva (art. 71 do Código Penal).
O montante de tributos suprimido foi de R$ 1.723,95 (mil setecentos e vinte e três
reais e noventa e cinco centavos). Somando-se à multa, totalizou R$ 3.336,92 (três mil
trezentos e trinta e seis reais e noventa e dois centavos), com o somatório das multas de
ambos os aparelhos telefônicos.

Isto posto, o acusado se compromete em apresentar as notas fiscais dos produtos nesta
demanda. Vieram, então, os autos a esta Defensoria, para apresentação da Resposta à
acusação.

II. DAS PRELIMINARES

No processo penal, o pagamento de custas nas ações públicas se dá ao fim, no caso de


eventual condenação, a teor do art. 804, CPP.

No caso de réus pobres, a imposição de do pagamento das custas processuais pesa


demasiadamente provocando a piora do já difícil quadro social.

Daí porque o Código de Processo Civil de 2015, que, em seu art. 1.072, revogou o art.
12 Lei 1.060/50[1], estabeleceu a possibilidade de, mesmo no caso de processos penais,
suspender a condenação de custas processuais a fim de evitar o agravamento
socioeconômico da situação de pessoas já socialmente fragilizadas.

Em que pese à referida revogação, o novo dispositivo a ser aplicado, qual seja, o art.
98, § 3º do CPC/15, não traz mudanças significativas em relação ao revogado. Veja-se a
dicção de ambos os dispositivos:

Código de Processo Civil de 2015:


Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira,
com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas
processuais e os honorários advocatícios tem direito à
gratuidade da justiça, na forma da lei.
[...]
§ 3o Vencido o beneficiário, as obrigações decorrentes de sua
sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e
somente poderão ser executadas se, nos 5 (cinco) anos
subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as
certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação
de insuficiência de recursos que justificou a concessão de
gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações
do beneficiário.
Lei de Assistência Judiciária – 1.060/50:
Art. 12. A parte beneficiada pelo isenção do pagamento das
custas ficará obrigada a pagá-las, desde que possa fazê-lo, sem
prejuízo do sustento próprio ou da família, se dentro de cinco
anos, a contar da sentença final, o assistido não puder satisfazer
tal pagamento, a obrigação ficará prescrita.
Tendo em vista que o CPC/15 manteve a suspensão da exigibilidade do pagamento
das custas processuais durante 5 anos após os trânsito em julgado da sentença, justamente o
que esta Defensoria Pública da União requer, a técnica utilizada na consolidada
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, mesmo com fulcro no art. 12 da Lei 1.060/50,
deve ser reproduzida. Confira-se:

Superior Tribunal de Justiça: HC 224.414/MG; Relator(a)


Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE; QUINTA TURMA;
Julgamento: 25/09/2012; v.u.
EMENTA: HABEAS CORPUS IMPETRADO EM
SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO PREVISTO NO
ORDENAMENTO JURÍDICO.
1. NÃO CABIMENTO. MODIFICAÇÃO DE
ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL. RESTRIÇÃO DO
REMÉDIO CONSTITUCIONAL. MEDIDA
IMPRESCINDÍVEL À SUA OTIMIZAÇAO. EFETIVA
PROTEÇÃO AO DIREITO DE IR, VIR E FICAR.
2. ALTERAÇÃO JURISPRUDENCIAL POSTERIOR À
IMPETRAÇÃO DO PRESENTE WRIT . EXAME QUE VISA
PRIVILEGIAR A AMPLA DEFESA E O DEVIDO
PROCESSO LEGAL.
3. ISENÇÃO DE CUSTAS PROCESSUAIS.
INVIABILIDADE. ART. 804 DO CPP.BENEFICIÁRIO DA
JUSTIÇA GRATUITA. ART. 12 DA LEI 1.060/1950.
SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE. EXAME QUE DEVE
SER FEITO PELO JUÍZO DAS EXECUÇÕES.
4. REINCIDÊNCIA E CONFISSÃO ESPONTÂNEA.
COMPENSAÇÃO. POSSIBILIDADE. ERESP Nº
1.154.752/RS 5. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.
ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, buscando a
racionalidade do ordenamento jurídico e a funcionalidade do
sistema recursal, já vinha se firmando, mais recentemente, no
sentido de ser imperiosa a restrição do cabimento do remédio
constitucional às hipóteses previstas na Constituição Federal e
no Código de Processo Penal. Louvando o entendimento de que
o Direito é dinâmico, sendo que a definição do alcance de
institutos previstos na Constituição Federal há de fazer-se de
modo integrativo, de acordo com as mudanças de relevo que se
verificam na tábua de valores sociais, esta Corte passou a
entender ser necessário amoldar a abrangência do habeas corpus
a um novo espírito, visando restabelecer a eficácia de remédio
constitucional tão caro ao Estado Democrático de Direito.
Precedentes.
2. Atento a essa evolução hermenêutica, o Supremo Tribunal
Federal passou a adotar decisões no sentido de não mais admitir
habeas corpus que tenha por objetivo substituir o recurso
ordinariamente cabível para a espécie. Precedentes. Contudo,
considerando que a modificação da jurisprudência firmou-se
após a impetração do presente habeas corpus, devem ser
analisadas as questões suscitadas na inicial no afã de verificar a
existência de constrangimento ilegal evidente, a ser sanada
mediante a concessão de habeas corpus de ofício, evitando-se,
assim, prejuízos à ampla defesa e ao devido processo legal.
3. Não há de se falar em isenção das custas judiciais, ainda que
se trate de beneficiário da justiça gratuita, porquanto o art. 804
do Código de Processo Penal determina a condenação do
vencido em custas. No entanto, é possível a suspensão da
exigibilidade do pagamento, pelo prazo de 5 (cinco) anos,
nos termos do que disciplina o art. 12 da Lei n.º 1.060/1950,
devendo a situação econômica do condenado ser aferida
pelo Juízo das Execuções.
4. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, no
julgamento dos Embargos de Divergência n.º 1.154.752/RS,
assentou a compreensão de que é possível a compensação entre
a agravante da reincidência e a atenuante da confissão
espontânea.
5. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício,
apenas para compensar a agravante da reincidência com a
atenuante da confissão espontânea. (sem grifos no original).
Na decisão supracitada, o relator, de maneira acertada, não concedeu isenção, mas
tão-somente suspensão da exigibilidade do pagamento de custas processuais. Veja-se que, no
caso, interpretou o art. 804 do CPP em conjunto com a Lei 1.060/50. Essa interpretação não
mudará com a aplicação do art. 804, CPP c/c o art. 98, § 3º do CPC.

Enfim, é de se ressaltar que o sentenciado se enquadra no perfil social para a


suspensão da exigibilidade das custas processuais, tanto é que está sendo atendido pela
DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO , daí porque merece ser contemplado com a suspensão do
pagamento de tais valores, nos termos do art. 98, § 3º, do CPC/2015.
III – DO MÉRITO
Quanto às matérias relativas ao mérito da causa e a elaboração de uma defesa
minuciosa, cabe referida atitude para um momento futuro, qual seja, por ocasião da
apresentação das alegações finais, quando já devidamente instruído o processo com dados,
elementos e informações imprescindíveis para a apreciação da matéria e do conjunto fático-
probatório dos autos.

Brilhante ilação acerca do assunto é a de Paulo Rangel, segundo o qual:

A defesa técnica não deve, nesta peça processual, esmiuçar sua


tese defensiva, mostrando ao Ministério Público sua bateria de
provas, pois o ato de recebimento da denúncia já ocorreu e
de nada adianta agora uma profunda contestação (...). A
matéria alegada na RPA é mais processual e nem tanto de
mérito, salvo um caso raro de atipicidade visível ou de total
exclusão da culpabilidade [1] (g.n).

Diante desses termos, ao réu reserva-se ao direito de apresentar os argumentos


contrários em momento oportuno, antecipando-se em dizer apenas que os fatos imputados são
excessivos e dissidentes da realidade.

IV – DAS PROVAS A SEREM EVENTUALMENTE PRODUZIDAS

Considerando o ônus imposto à defesa técnica pelo artigo 396-A, caput, do CP e,


ainda, sendo determinado o prosseguimento da presente persecução penal, protesta o
denunciado provar o alegado por todos os meios admitidos em Direito.

Outrossim, embora tenha sido empreendido esforços para estabelecer comunicação


com o acusado, a DPU não obteve êxito. Assim, requer que lhe seja reservado o direito de
apresentar as testemunhas de defesa quando da audiência de instrução,
independentemente de intimação prévia.

V – DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer-se:

a. A intimação pessoal da Defensoria Pública da União de todos os atos do processo, nos


termos do art. 44, inc. I, da Lei Complementar nº 80/94;
b. Subsidiariamente, a continuidade da persecução penal, com a produção das provas
alhures indicadas;
c. Com a continuidade do processo, a oitiva de eventuais testemunhas de defesa que
compareçam à audiência de instrução, juntamente com o ora assistido,
independentemente de intimação do juízo;
d. Ao final, no mérito, requer-se a improcedência da denúncia em relação ao ora
denunciado, absolvendo-se o acusado da imputação contra si articulada.

Nesses termos, pede deferimento.

Recife, 04 de Fevereiro de 2021.

FRANCISCO DE ASSIS NASCIMENTO NÓBREGA


Defensor Público Federal

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