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A Psicanálise

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A psicanálise

Os sonhos são uma pintura muda, em que a imaginação a portas fechadas, e às escuras,
retrata a vida e a alma de cada um, com as cores das suas ações, dos seus propósitos e dos
seus desejos.”·                                  Padre Vieira, no Sermão de São Francisco Xavier
Dormindo· ”.

Cabe um esclarecimento inicial ao leitor: procurei montar esta página com o pensamento
original de Freud, apesar de estar consciente de que vários dos postulados originais da
psicanálise foram revisados e modificados - vários deles considerados ultrapassados pelo
próprio Freud em seus últimos anos. Também não abordarei aqui a doutrina freudiana em
toda a sua extensão e implicações. Por isso, aconselho o leitor a procurar um psicanalista
licenciado que possa orientá-lo corretamente nessa matéria.

A Psicanálise é ao mesmo tempo um modo particular de tratamento do desequilíbrio mental


e uma teoria psicológica que se ocupa dos processos mentais inconscientes; uma teoria da
estrutura e funcionamento da mente humana e um método de análise dos motivos do
comportamento; uma doutrina filosófica e um método terapêutico de doenças de natureza
psicológica supostamente sem motivação orgânica. Originou-se na prática clínica do
médico e fisiologista Josef Breuer, devendo-se a Sigmund Freud (1856-1939) a valorização
e aperfeiçoamento da técnica e os conceitos criados nos desdobramentos posteriores do
método e da doutrina, o que ele fez valendo-se do pensamento de alguns filósofos e de sua
própria experiência profissional.

A formulação da Psicanálise representou basicamente a consolidação em um corpo


doutrinário de conhecimentos existentes, como a estrutura tripartite da mente, suas funções
e correspondentes tipos de personalidade, a teoria do inconsciente, o método terapêutico da
catarse, e toda a filosofia pessimista da natureza humana difundida na época. Além de
alicerçar-se - como método terapêutico -, nas descobertas do médico austríaco Josef Breuer,
como doutrina tem em seus fundamentos muito do pensamento filosófico de Platão e do
filósofo alemão Arthur Schopenhauer. No entanto, ao serem esses conhecimentos
incorporados na Psicanálise, foi aberto o caminho para um número grande de conceitos
subordinados que eram novos, como os de atos sintomáticos, sublimação, perversão, tipos
de personalidade, recalque, transferência, narcisismo, projeção, introjeção, etc. A
psicanálise constituiu-se, por isso, em um modo novo de abordar as condições psíquicas
correspondentes a estados de infelicidade e a comportamentos anti-sociais, e deu
nascimento ao tratamento clínico psicológico e psiquiátrico moderno.

A extraordinária popularidade da psicanálise poderá, talvez, ser explicada, em parte, pela


sua ousada concepção da motivação humana, ao colocar o sexo - objeto natural de interesse
das pessoas e também sua principal fonte de felicidade -, como único e poderoso móvel do
comportamento humano. O mundo civilizado, pouco antes chocado com a tese
evolucionista de que o homem descendia dos chimpanzés, já não se surpreendia com a tese
de que o sexo dominava o inconsciente e estava subjacente a todos os interesses humanos.
A novidade foi recebida com divertido espanto e prazerosa excitação. Em que pese os
detalhes picarescos de muitas narrativas clínicas, a abordagem do sexo sob um aspecto
científico, em plena era vitoriana, representou uma sublimação (para usar um conceito da
própria psicanálise) que permitiu que a sexualidade fosse, sem restrições morais, discutida
em todos os ambientes, inclusive nos conventos. Essa permeabilidade subjetiva confundiu-
se com profundidade científica, e a teoria foi levada a aplicação em todos os campos das
relações sociais, nas artes, na educação, na religião, em análises biográficas, etc. Porém, a
questão da motivação sexual foi causa de se afastarem do círculo de Freud aqueles que
haviam inicialmente se entusiasmado pela psicanálise como método de análise do
inconsciente, entre eles Carl Jung, Otto Rank, e Alfred Adler que decidiram por outras
teses, e fundaram suas próprias correntes psicanalíticas. No seu todo, a psicanálise foi
fortemente contestada por outras correntes, inclusive a da fenomenologia, a do
existencialismo, e a da logoterapia de Viktor Frankl.

O pensamento de Freud está principalmente em três obras: "Interpretação dos Sonhos", a


mais conhecida, que publicou, em 1900; "Psicopatologia da Vida Cotidiana", publicada em
1901 e na qual apresenta os primeiros postulados da teoria psicanalítica, e "Três Ensaios
sobre a Teoria da Sexualidade", de 1905, que contem a exposição básica da sua teoria.

Em "Mal Estar na Civilização", publicado em 1930, Freud lança os conceitos de culturas


neuróticas, mais os conceitos de projeção, sublimação, regressão e Transferência. Em
"Totem e Tabu (1913/14) e "O Futuro de uma Ilusão"(1927) expõe sua posição sobre a
religião. Os postulados da teoria são numerosos, e seu exame completo demandaria um
espaço muito extenso, motivo porque somente os aspectos usualmente mais conhecidos da
doutrina e do método serão examinados nesta página.

Importância do instinto sexual. Freud notou que na maioria dos pacientes que teve desde o
início de sua prática clínica, os distúrbios e queixas de natureza hipocondríaca ou histérica
estavam relacionados a sentimentos reprimidos com origem em experiências sexuais
perturbadoras. Assim ele formulou a hipótese de que a ansiedade que se manifestava
através dos sintomas (neurose) era conseqüência da energia (libido) ligada à sexualidade; a
energia reprimida tinha expressão nos vários sintomas neuróticos que serviam como um
mecanismo de defesa psicológica. Essa força, o instinto sexual, não se apresentava
consciente devido à "repressão" tornada também inconsciente. A revelação da "repressão"
inconsciente era obtida pelo método da livre associação (inspirado nos atos falhados ou
sintomáticos, em substituição à hipnose) e pela interpretação dos sonhos (conteúdo
manifesto e conteúdo latente). O processo sintomático e terapêutico compreendia:
experiência emocional - recalque e esquecimento - neurose - análise pela livre associação -
recordação - transferência - descarga emocional - cura.

Estrutura tripartite da mente. Freud buscou inspiração na cultura Grega, pois a doutrina
platônica com certeza o impressionou em seu curso de Filosofia. As partes da alma de
Platão correspondem ao Id, ao Superego e ao Ego da sua teoria que atribui funções físicas
para as partes ou órgãos da mente (1923 - "O Ego e o Id").
O Id, regido pelo "princípio do prazer", tinha a função de descarregar as tensões biológicas.
Corresponde à alma concupiscente, do esquema platônico: é a reserva inconsciente dos
desejos e impulsos de origem genética e voltada para a preservação e propagação da vida..

O Superego, que é gradualmente formado no "Ego", e se comporta como um vigilante


moral. Contem os valores morais e atua como juiz moral. É as partes irascíveis da alma, a
que correspondem os vigilante “, - na teoria platônica”.

Também inconsciente, o Superego faz a censura dos impulsos que a sociedade e a cultura
proíbem ao Id, impedindo o indivíduo de satisfazer plenamente seus instintos e desejos. É o
órgão da repressão, particularmente a repressão sexual. Manifesta-se á consciência
indiretamente, sob a forma da moral, como um conjunto de interdições e de deveres, e por
meio da educação, pela produção da imagem do "Eu ideal", isto é, da pessoa moral, boa e
virtuosa. O Superego ou censura desenvolve-se em um período que Freud designa como
período de latência, situado entre os 6 ou 7 anos e o inicio da puberdade ou adolescência.
Nesse período, forma-se nossa personalidade moral e social (1923 "O Ego e o Id").

O Ego ou o Eu é a consciência, pequena parte da vida psíquica, subtraída aos desejos do Id


e à repressão do Superego. Lida com a estimulação que vem tanto da própria mente como
do mundo exterior. Racionaliza em favor do Id, mas é governado pelo "princípio de
realidade" ou seja, a necessidade de encontrar objetos que possam satisfazer ao Id sem
transgredir as exigências do Superego. É a alma racional, no esquema platônico. É a parte
perceptiva e a inteligência que devem, no adulto normal, conduzir todo o comportamento e
satisfazer simultaneamente as exigências do Id e do Superego através de compromissos
entre essas duas partes, sem que a pessoa se volte excessivamente para os prazeres ou que,
ao contrário, imponha limitações exageradas à sua espontaneidade e gozo da vida.

O Ego é pressionado pelos desejos insaciáveis do Id, a severidade repressiva do Superego e


os perigos do mundo exterior. Se se submete ao Id, torna-se imoral e destrutivo; se se
submete ao Superego, enlouquece de desespero, pois viverá numa insatisfação insuportável;
e se não se submeter á realidade do mundo, será destruído por ele. Por esse motivo, a forma
fundamental da existência para o Ego é a angústia existencial. Estamos divididos entre o
principio do prazer (que não conhece limites) e o principio de realidade (que nos impõe
limites externos e internos). Tem a dupla função de, ao mesmo tempo, recalcar o Id,
satisfazendo o Superego, e satisfazer o Id, limitando o poder do Superego. No indivíduo
normal, essa dupla função é cumprida a contento. Nos neuróticos e psicóticos o Ego
sucumbe, seja porque o Id ou o Superego é excessivamente forte, seja porque o Ego é
excessivamente fraco.

O inconsciente, diz Freud, não é o subconsciente. Este é aquele grau da consciência como
consciência passiva e consciência vivida não-reflexiva, podendo tomar-se plenamente
consciente. O inconsciente, ao contrário, jamais será consciente diretamente, podendo ser
captado apenas indiretamente e por meio de técnicas especiais de interpretação
desenvolvidas pela psicanálise.

Atos falhos ou sintomáticos. Os chamados Atos sintomáticos são para Freud evidência da
força e individualismo do inconsciente: e sua manifestação é comum nas pessoas sadias.
Mostram a luta do consciente com o subconsciente (conteúdo evocável) e o inconsciente
(conteúdo não evocável). São as lapsus linguae, popularmente ditas “traições da memória",
ou mesmo convicções enganosas e erros que podem ter conseqüências graves.

Motivação. Para explicar o comportamento Freud desenvolve a teoria da motivação sexual


(sobrevivência da espécie) e do instinto de conservação (sobrevivência individual). Mas
todas as suas colocações giram em torno do sexo. A força que orienta o comportamento
estaria no inconsciente e seria o instinto sexual;

Fases do desenvolvimento sexual. Freud contribuiu com uma teoria das fases do
desenvolvimento do indivíduo. Este passa por sucessivos tipos de caráter: oral, anal e
genital. Pode sofrer regreção de um dos dois últimos a um ou outro dos dois anteriores,
como pode sofrer fixação em qualquer das fases precoces.  Essas fases se desenvolverão
entre os primeiros meses de vida e os 5 ou 6 anos de idade, e estão ligadas ao
desenvolvimento do Id:

(1) Na fase oral, ou fase da libido oral, ou hedonismo bucal, o desejo e o prazer localizam-
se primordialmente na boca e na ingestão de alimentos e o seio materno, a mamadeira, a
chupeta, os dedos são objetos do prazer;

(2) Na fase anal, ou fase da libido ou hedonismo anal, o desejo e o prazer localizam-se
primordialmente nas excreções e fezes. Brincar com massas e com tintas, amassar barro ou
argila, comer coisas cremosas, sujar-se são os objetos do prazer;

(3)Na fase genital ou fase fálica, ou fase da libido ou hedonismo genital, o desejo e o prazer
localizam-se primordialmente nos órgãos genitais e nas partes do corpo que excitam tais
órgãos. Nessa fase, para os meninos, a mae é o objeto do desejo e do prazer; para as
meninas, o pai.

Tipos de personalidade. .

Aqueles que se detêm em seu desenvolvimento emocional, e por algum motivo se fixam em
qualquer uma das fases transitórias (Freud. 1908), constituem tipos e subtipos de
personalidade nomeados segundo a fase correspondente de fixação.

O tipo que se detém na fase oral é o Oral receptivo, pessoa dependente - espera que tudo
lhe seja dado sem qualquer reciprocidade; ou o Oral sadístico, o que se decide a empregar a
força e a astúcia para conseguir o que deseja. Explorador e agressivo, não espera que
alguém lhe dê voluntariamente qualquer coisa.

O Anal sadístico é impulsivamente avaro, e sua segurança reside no isolamento. São


pessoas ordenadas e metódicas, parcimoniosas e obstinadas.

O tipo genital é a pessoa plenamente desenvolvida e equilibrada

*
Complexos de Édipo. Depois de ver nos seus clientes o funcionamento perfeito da estrutura
tripartite da alma conforme a teoria de Platão, Freud volta à cultura grega em busca de mais
elementos fundamentais para a construção de sua própria teoria.

No centro do "Id", determinando toda a vida psíquica, constatou o que chamou Complexo
de Édipo, isto é, o desejo incestuoso pela mãe, e uma rivalidade com o pai. Segundo ele, é
esse o desejo fundamental que organiza a totalidade da vida psíquica e determina o sentido
de nossas vidas. Freud introduziu o conceito na sua Interpretação dos Sonos (1899). O
termo deriva do herói grego Édipo que, sem saber, matou seu pai e se casou com sua mãe.
Freud atribui o complexo de Édipo às crianças de idade entre 3 e 6 anos. Ele disse que o
estágio geralmente terminava quando a criança se identificava com o parente do mesmo
sexo e reprimia seus instintos sexuais. Se o relacionamento prévio com os pais fosse
relativamente amável e não traumático, e se a atitude parental não fosse excessivamente
proibitiva nem excessivamente estimulante, o estagio seria ultrapassado harmoniosamente.
Em presença do trauma, no entanto, ocorre uma neurose infantil que é um importante
precursor de reações similares na vida adulta. O Superego, o fator moral que domina a
mente consciente do adulto, também tem sua parte no processo de gerar o complexo de
Édipo. Freud considerou a reação contra o complexo de Édito a mais importante conquista
social da mente humana. Psicanalistas posteriores consideram a descrição de Freud
imprecisa, apesar de conter algumas verdades parciais.

Complexo de Eletra. O equivalente feminino do Complexo de Édipo é o Complexo de


Eletra, cuja lenda fundamental é a de Electra e seu irmão Orestes, filhos de Agamemnon e
Clytemnestra. Eletra ajudou o irmão a matar sua mãe e o amante dela, um tema da tragédia
grega abordado, com pequenas variações, por Sófocles, Eurípedes e Esquilo.

Narcisismo. Conta o mito que o jovem Narciso, belíssimo, nunca tinha visto sua própria
imagem. Um dia, passeando por um bosque, encontrou um lago. Aproximou-se e viu nas
águas um jovem de extraordinária beleza e pelo qual apaixonou-se perdidamente. Desejava
que o jovem saísse das águas e viesse ao seu encontro, mas como ele parecia recusar-se a
sair do lago, Narciso mergulhou nas águas, foi ás profundezas á procura do outro que fugia,
morrendo afogado. Narciso morrera de amor por si mesmo, ou melhor, de amor por sua
própria imagem ou pela auto-imagem. O narcisismo é o encantamento e a paixão que
sentimos por nossa própria imagem ou por nós mesmos, porque não conseguimos
diferenciar um do outro. Como crítica à humanidade em geral - que se pode vislumbrar em
Freud - narcisismo é a bela imagem que os homens possuem de si mesmos, como seres
ilusoriamente racionais e com a qual estiveram encantados durante séculos.

Mecanismos de defesa são processos subconscientes que permitem à mente encontrar uma
solução para conflitos não resolvidos ao nível da consciência. A psicanálise supõe a
existência de forças mentais que se opõem umas às outras e que batalham entre si. Freud
utilizou a expressão pela primeira vez no seu "As neuroses e psicoses de defesa", de 1894.
Os mecanismos de defesa mais importante são:

Repressão, que é afastar ou recalcar da consciência um afeto, uma idéia ou apelo do


instinto. Um acontecimento que por algum motivo envergonha uma pessoa pode ser
completamente esquecido e se tornar não evocável.
Defesa de reação, que consiste em ostentar um procedimento e externar sentimentos ambos
opostos aos impulsos verdadeiros, quando estes são inconfessáveis. Um pai que é pouco
amado, recebe do filho uma atenção por vezes exagerada para que este convença a si
mesmo de que é um bom filho.

Projeção. Consiste em atribuir ao outro um desejo próprio, ou atribuir a alguém, algo que
justifique a própria ação. O estudante cria o hábito de colar nas provas dizendo, para se
justificar, que os outros colam ainda mais que ele.

Regressão é o retorno a atitudes passadas que provaram ser seguras e gratificantes, e às


quais a pessoa busca voltar para fugir de um presente angustiante. Devaneios e memórias
que se tornam recorrentes, repetitivas. Aplica-se também ao regresso a fases anteriores da
sexualidade, como acima..

Substituição. O inconsciente, em suas duas formas, está impedido de manifestar-se


diretamente à consciência, mas consegue fazê-lo indiretamente. A maneira mais eficaz para
essa manifestação é a substituição, isto é, o inconsciente oferece à consciência um
substituto aceitável por ela e por meio do qual ela pode satisfazer o Id ou o Superego. Os
substitutos são imagens (representações analógicas dos objetos do desejo) e formam o
imaginário psíquico que, ao ocultar e dissimular o verdadeiro desejo, o satisfaz
indiretamente por meio de objetos substitutos (a chupeta e o dedo, para o seio materno;
tintas e pintura ou argila e escultura para as fezes, uma pessoa amada no lugar do pai ou da
mãe, de acordo com as fases da sexualidade, como acima).

Além dos substitutos reais, o imaginário inconsciente também oferece outros substitutos, os
mais freqüentes sendo os sonhos, os lapsos e os atos falhos. Neles, realizamos desejos
inconscientes, de natureza sexual. São as satisfações imaginárias do desejo. Alguém sonha,
por exemplo, que sobe uma escada, está num naufrágio ou num incêndio. Na realidade,
sonhou com uma relação sexual proibida. Alguém quer dizer uma palavra esquece-a ou se
engana, comete um lapso e diz uma outra que o surpreende, pois nada terá a ver com aquela
que queria dizer: realizou um desejo proibido. Alguém vai andando por uma rua e, sem
querer, torce o pé e quebra o objeto que estava carregando: realizou um desejo proibido.

Sublimação. A Ética pede a renúncia às gratificações puramente instintuais por outras em


conformidade com valores racionais transcendentes. A sublimnação consistitui a adoção de
um comportamento ou de um interesse que possa enobrecer comportamentos que são
instintivos de raiz  Um homem pode encontrar uma válvula para seus impulsos agressivos
tornando-se um lutador campeão, um jogador de football ou até mesmo um cirurgião. Para
Freud as obras de arte, as ciências, a religião, a Filosofia, as técnicas e as invenções, as
instituições sociais e as ações políticas, a literatura e as obras teatrais são sublimações, ou
modos de substituição do desejo sexual de seus autores e esta é a razão de existirem os
artistas, os místicos, os pensadores, os escritores, cientistas, os líderes políticos, etc.

Transferência. Freud afirmou que a ligação emocional que o paciente desenvolvia em


relação ao analista representava a transferência do relacionamento que aquele havia tido
com seus pais e que inconscientemente projetava no terapeuta. O impasse que existiu nessa
relação infantil criava impasses na terapia, de modo que a solução da transferência era o
ponto chave para o sucesso do método terapêutico. Embora Freud demorasse a considerar a
questão inversa, a da atratividade do paciente sobre o terapeuta, esse problema se
manifestou tão cedo quanto ainda ao tempo das experiência de Breuer, que teria se deixado
afetar sentimentalmente por sua principal paciente, Bertha Pappenheim.

Os mecanismos de defesa são aprendidos na família ou no meio social externo a que a


criança e o adolescente estão expostos. Quando esses mecanismos conseguem controlar as
tensões, nenhum sintoma se desenvolve, apesar de que o efeito possa ser limitador das
potencialidades do Ego, e empobrecedor da vida instintual. Mas se falham em eliminar as
tensões e se o material reprimido retorna à consciência, o Ego é forçado a multiplicar e
intensificar seu esforço defensivo e exagerar o seu uso. É nestes casos que a loucura, os
sintomas neuróticos, são formados. Para a psicanálise, as psicoses significam uma severa
falência do sistema defensivo, caracterizada também por uma preponderância de
mecanismos primitivos. A diferença entre o estado neurótico e o psicótico seria, portanto,
quantitativa, e não qualitativa. 

Perversão. Porém, assim como a loucura é a impossibilidade do Ego para realizar sua dupla
função (conciliação entre Id e Superego, e entre estes e a realidade), também a sublimação
pode não ser alcançada e, em seu lugar, surgir uma perversão ou loucura social ou coletiva.
O nazismo é um exemplo de perversão, em vez de sublimação. A propaganda, que induz no
leitor ou espectador desejos sexuais pela multiplicação das imagens de prazer, é outro
exemplo de perversão ou de incapacidade para a sublimação.

Os sonhos: conteúdo manifesto e conteúdo latente. (Significados conscientes e


subconscientes). A vida psíquica dá sentido e coloração afetivo-sexual a todos os objetos e
a todas as pessoas que nos rodeiam e entre os quais vivemos. As coisas e os outros são
investidos por nosso inconsciente com cargas afetivas de libido. Assim, sem que saibamos
por que, desejamos e amamos certas coisas e pessoas e odiamos e tememos outras.

É por esse motivo que certas coisas, certos sons, certas cores, certos animais, certas
situações nos enchem de pavor, enquanto outras nos trazem bem-estar, sem que saibamos o
motivo. A origem das simpatias e antipatias, amores e ódios, medos e prazeres desde a
nossa mais tenra infância, em geral nos primeiros meses e anos de nossa vida, quando se
formaram as relações afetivas fundamentais e o complexo de Édipo.

A dimensão imaginária de nossa vida psíquica - substituições, sonhos, lapsos, atos falhos,
prazer e desprazer, medo ou bem-estar com objetos e pessoas - indica que os recursos
inconscientes surgem na consciência em dois níveis: o nível do conteúdo manifesto
(escada, mar e incêndio, no sonho; a palavra esquecida e a pronunciada, no lapso; o pé
torcido ou objeto partido, no ato falho) e o nível do conteúdo latente, que é o conteúdo
inconsciente verdadeiro e oculto (os desejos sexuais). Nossa vida normal se passa no plano
de conteúdos manifestos e, portanto, no imaginário. Somente uma análise psíquica e
psicológica desses conteúdos, por meio de técnicas especiais (trazidas pela psicanálise), nos
permite decifrar o conteúdo latente que se dissimula sob o conteúdo manifesto.

A psicanálise e a psicologia de Schopenhauer, Brentano e Hartmann


Os críticos consideram impressionante o quanto possivelmente Brentano influenciou a
Freud. Este assistiu suas aulas por pelo menos dois anos, e exatamente na época que
Brentano publicou seu famoso livro de 1874, Psychologie vom empirischen Standpunkte
(Psychology from an Empirical Standpoint. Trad. de A. C. Rancurello, D. B. Terrell, and L.
L. McAlister. Ed. Routledge & Kern Paul, Londres, 1973; 448 p. - "A Psicologia de um
ponto de vista empírico") em que seu equacionamento entre o físico e o psíquico, o
psicossomático, é mais salientado.  Arthur Schopenhauer é citado inúmeras vezes no
referido livro, onde Brentano também discute amplamente Karl von Hartman, filósofo
alemão chamado "o filósofo do inconsciente", autor de "A filosofia do inconsciente", de
1983, e o faz precisamente na questão dos estados mentais inconscientes. Brentano gozava
de grande popularidade em meio aos estudantes, entre os quais estavam, além de Sigmund
Freud, o psicólogo Carl Stumpf, e o filósofo Edmund Husserl.

O quanto Freud retirou de Schopenhauer foi provavelmente através de Brentano. Alguns


críticos de Freud dizem que ele não fez muito mais que desenvolver na Psicanálise as idéias
que o filósofo apresentou em seu livro "O mundo como vontade e representação". E o mais
importante, Schopenhauer articula a maior parte da teoria freudiana da sexualidade. A
começar pela sua teoria dos instintos, o poder dos complexos com origem na inibição
sexual, do incesto, fixação materna e complexa de Édipo, correspondem perfeitamente  à
Vontade opressora que, na psicologia de Schopenhauer, dirige as ações do homem, e o faz
de modo total, não apenas no instinto sexual (Eros) como também no instinto de morte
(Tanatus) uma manifestação da mesma Vontade condutora da natureza.

O conceito de “Vontade” de Schopenhauer conte também os fundamentos do que viriam a


ser os conceitos de "inconsciente" e "Id" da doutrina freudiana. A Vontade como coisa
absoluta e auto-suficiente, tem ela própria "desejos". Quando se manifesta na forma de uma
criatura ela busca se perpetuar por via dos meios de reprodução dessa criatura. Por isso o
sexo é básico para a Vontade perpetuar a si própria. Resulta que o impulso sexual é o mais
veemente de todos os apetites, o desejo dos desejos, a concentração de toda nossa vontade.

O que Schopenhauer escreveu sobre a loucura antecipou a teoria da repressão e a


concepção da etiologia das neuroses na teoria da Psicanálise e inclusive o que veio a ser a
teoria fundamental do método da livre associação de idéias utilizado por Freud. .

Rubem Queiroz Cobra            


Doutor em Geologia e bacharel em Filosofia

Lançada em 21/04/2003

Direitos reservados. Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. - A Psicanálise. COBRA PAGES:
www.cobra.pages. Nom.Br, Internet, Brasília, 2003.
("Geocities.com/cobra_pages" é "Mirror Site" de COBRA.PAGES)

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