Tipos de Agricultura 1
Tipos de Agricultura 1
Tipos de Agricultura 1
1 Agricultura convencional
A agricultura convencional é a forma de produção mais utilizada hoje, deno-
minada agricultura moderna. Há várias fases desenvolvidas nesse sistema,
podendo alguns agricultores praticá-las ou não, a depender do nível de tecnifi-
cação da propriedade e dos recursos disponíveis. Essas fases são, entre outras,
remoção da vegetação nativa ou uso de área já aberta anteriormente; aração;
calagem; gradagem; semeadura; adubação mineral simultânea à semeadura e
em cobertura; aplicação de defensivos agrícolas para controle de plantas infes-
tantes, pragas e doenças; capina mecânica ou uso de herbicidas; e colheita
(há culturas em que se faz a dessecação com herbicida antes da colheita).
O sistema convencional de praticar agricultura passou por grande trans-
formação com a chamada Revolução Verde, que começou com os avanços
tecnológicos pós-guerra, mas recebeu esse nome na década de 1970.
O precursor da Revolução Verde foi Norman Borlaug (1914-2009), americano
de Iowa, formado em Agronomia pela Universidade de Minnesota. Em parceria
com a Fundação Rockefeller, Norman iniciou um programa de melhoramento
genético com o trigo no México, em 1944, para resolver o problema da fome,
agravado pela ferrugem que dizimou as lavouras de trigo naquele país.
Borlaug cultivou o trigo ao nível do mar e em altitude de 2.500 metros,
em diferentes latitudes e climas, o que resultou em plantas que podiam ser
cultivadas em diferentes regiões do mundo. Esse cientista aplicou nas plantas
elevadas doses de fertilizantes e obteve alta produtividade, mas os colmos não
suportaram o peso das espigas e tombaram. Então, foi necessário o segundo
momento do melhoramento, quando Borlaug buscou, no Japão, uma variedade
de trigo anão e realizou cruzamento. O resultado foi o trigo anão do México, com
porte mais baixo, colmos fortes e alta produtividade.
A técnica de melhoramento de Borlaug tornou-se modelo. Foi também
aplicada ao arroz, ao milho e a muitas outras culturas. O modelo de cultivo
iniciado por ele no México foi levado em seguida para vários países, como Índia,
Paquistão, China e Brasil, e continuou sendo propagado. Os próprios países
desenvolvidos também adotaram esse método e diminuíram as importações
de alimentos. O trabalho desse cientista tinha como objetivo erradicar a fome
no planeta, preocupação causada pela explosão populacional, mas utilizando
intensamente as áreas já abertas em vez de abrir outras.
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2 Agricultura transgênica
A partir de 1953, quando se descobriu a estrutura tridimensional do DNA,
surgiu a possibilidade de modificar, de forma precisa, a informação genética.
As pesquisas em biotecnologia foram evoluindo, e seus primeiros feitos na
agricultura foram com o tabaco e o tomate geneticamente modificados nos
Estados Unidos. Hoje em dia, a cultura e a prática de cultivo dos transgê-
nicos estão difundidas em praticamente todo o planeta, sendo a inovação
tecnológica mais utilizada na história da agricultura. Os principais alimen-
tos transgênicos produzidos hoje no mundo são arroz, soja, tomate, milho,
batata, linho, mamão, morango, melancia, melão, abóbora, maçã, ervilhas,
feijão, beterraba e cebola. O Brasil é o segundo país com maior área plantada
com organismos geneticamente modificados (OGMs), com destaque para as
culturas de milho, soja, algodão e canola.
A agricultura transgênica é baseada na utilização de OGMs em laboratório,
com o objetivo de incorporar em uma espécie características de outras. É uma
transferência controlada dos genes de interesse. Essa técnica permite que genes
de qualquer ser vivo, como vírus, bactérias e animais, sejam inseridos no DNA
de qualquer outro ser, a exemplo das plantas.
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3 Agricultura familiar
A agricultura familiar tem-se desenvolvido muito nos últimos tempos.
É praticada por pequenos produtores com áreas de até quatro módulos
fiscais, em que o regime de trabalho é predominantemente da família.
O módulo fiscal é uma unidade de medida que o Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra) fixou, em hectare, para os municí-
pios, dependendo de sua localização. Foi calculado de acordo com o tipo de
exploração predominante no município (hortifrutigranja, cultura perma-
nente, cultura temporária, pecuária ou florestal); com a renda obtida
dessa exploração; e com outras explorações expressivas do município,
embora não predominantes por conta da renda ou da área que utilizam
8 | Tipos de agricultura
Amazônia legal
5 - 20 70 - 80
22 - 35 90 - 95
40 - 50 100 - 110
55 - 65
4 Agricultura hidropônica
Também chamada de ciência, história e arte, é o método de cultivar plan-
tas sem solo ou outro substrato. O fornecimento de nutrientes é feito via
solução nutritiva.
A hidroponia pode ser conduzida tanto como uma simples horta no quintal
de casa em um sistema mais rústico quanto em um ambiente de estufa prote-
gido, com produção em larga escala. Há várias formas de se montar um sistema
hidropônico de maneira simplificada, para o que são necessários uma estrutura
que dê sustentação às plantas, um reservatório ou tanque para a solução nutri-
tiva e um mecanismo em que as raízes possam ter acesso à solução nutritiva.
A palavra hidroponia, originada do grego hidro, que significa água, e ponos, que
significa trabalho, é um sistema bem antigo, mas somente na década de 1930 é
que foi desenvolvido pelo Professor W. F. Gericke, da Universidade da Califórnia.
Por meio de estudos em laboratório, esse professor criou um sistema hidropô-
nico, isto é, um processo em que a planta se desenvolve e produz sem solo.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o exército dos Estados Unidos criou um
sistema de hidroponia em várias ilhas do Pacífico e do Atlântico para alimentar os
soldados, o que foi feito também pelos japoneses em Chofu, em uma área de mais
de 22 hectares, também para alimentar os soldados. Mas os cultivos comerciais
eram poucos. Somente na década de 1960 é que a hidroponia foi alavancada como
cultivo comercial, por meio dos trabalhos do inglês Allen Cooper, cujo sistema
não exigia grande volume de água. Em vez de ser utilizado um reservatório,
chamado de sistema floating, foram usados canais com pequena inclinação por
onde circulava a solução nutritiva para o cultivo das plantas. No Brasil, a hidropo-
nia comercial teve início na década de 1980 em São Paulo, o maior produtor.
Uma das principais vantagens desse sistema é que as raízes não ficavam
totalmente submersas, facilitando sua respiração. O sistema dispunha de um
reservatório que poderia ser menor do que o do método antigo, para manejar a
solução nutritiva e facilitar a sua recirculação. Assim, esse tipo de agricultura se
consolidou em vários países (Fig. 3).
De acordo com Martinez e Clemente (2011), os sistemas hidropônicos podem
ser classificados quanto ao substrato (duas ou três fases) e quanto ao forneci-
mento da solução (não circulante, circulante e solução estática aerada).
A nutrição da planta é feita a partir do uso de uma solução que contém
macronutrientes, como nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre;
e micronutrientes, como ferro, manganês, boro, cobre, zinco, molibdênio, cloro e
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5 Cultivo protegido
O plantio de plantas em ambiente protegido consiste em cultivá-las em
locais onde é viável controlar alguns fatores envolvidos no processo produ-
tivo, adaptando o ambiente às plantas e ampliando o período de produção
mesmo em áreas consideradas inadequadas à agricultura. Podem ser utili-
zadas estruturas complexas, como as casas de vegetação climatizadas, ou
estruturas mais simples, como as coberturas apenas para sombreamento.
Entre as principais vantagens do cultivo em ambiente protegido com
fertirrigação por gotejamento, podem-se destacar o controle do ambiente, que
permite a produção de diversas culturas em diferentes regiões e épocas do ano;
a menor severidade da grande maioria das doenças da parte aérea; a proteção
contra chuva, granizo e geada; o controle do vento e da radiação solar; a melhor
condição de trabalho para os funcionários; a diminuição do ciclo da planta; o
prolongamento do período de colheita; o aumento da produtividade da cultura;
a melhor qualidade do produto; a oferta de produto durante todo o ano e com
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7 Agricultura biodinâmica
A agricultura biodinâmica é um modelo que visa à retomada da força
original da agricultura, por meio da construção de um ambiente autos-
sustentável e com o mínimo de intervenção exterior. Dessa forma, uma
propriedade rural deve ser capaz de prover tudo de que necessita, criando
um ambiente vivo, equilibrado e protegido.
A base dessa corrente de pensamento antroposófico são as conferências do
filósofo austríaco Rudolf Steiner (1861-1925) na Fazenda Koberwitz, próxima a
Breslau, na Polônia. Um dos temas principais de suas palestras foi a importância
de se ter um solo de boa qualidade para a saúde das plantas. Ele propôs aditivos
para reestimular as forças naturais do solo, os chamados preparados biodinâmi-
cos, utilizados até hoje pelos praticantes desse segmento de agricultura. Além
desses preparados, as atividades na propriedade são regidas somente por calen-
dário próprio, chamado de calendário biodinâmico.
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8 Agricultura sintrópica
É um tipo de agricultura agroecológica desenvolvida como sistema produ-
tivo pelo pesquisador e agricultor suíço Ernst Götsch, a partir de suas
observações de sistemas tradicionais de cultivo praticados por indígenas
da Costa Rica e, sobretudo, de sua experiência de mais de 40 anos na Mata
Atlântica da Bahia.
O termo sintropia é definido como o contrário de entropia, conceito da
termodinâmica que consiste no nível de desorganização de um sistema, sendo
essa uma tendência universal (unidades complexas e com energia organizada
transformam-se em unidades simples, com energia dispersa). Na agricultura
sintrópica ocorre o processo inverso, de modo que um sistema menos estrutu-
rado e complexo (baixa biodiversidade, baixo estoque de C e nutrientes, poucas
interações ecológicas) é redesenhado e manejado no sentido de aumentar a
qualidade e complexidade da vida, acumular recursos e energia (solo, biomassa,
interações ecológicas), em um processo que mimetiza a regeneração natural de
solos e florestas por meio da produção de alimentos. Essa agricultura trabalha
com sistemas agroflorestais (SAFs) fundamentados na dinâmica natural das
florestas para promover um processo combinado de produção de alimentos e
forragem e recuperação florestal.
Alguns princípios da agricultura sintrópica são a cobertura sistemá-
tica dos solos com matéria orgânica, a biodiversidade, a sucessão vegetativa,
a estratificação (aérea e radicular) do sistema e a poda racional das plantas,
gerando sincronização sistêmica e pulsos de crescimento.
A cobertura dos solos com troncos, galhos e folhas é o princípio essencial
ao promover sua recuperação e conservação e o aumento da fertilidade, da ativi-
dade biológica e da infiltração da água da chuva, bem como a diminuição da
erosão laminar e da evaporação da água do solo. Essa prática, por sua vez, aponta
outros dois pontos centrais desses SAFs: a presença de plantas (principalmente
árvores) para o fornecimento da matéria orgânica e sua poda sistemática e racio-
nal para a cobertura do solo.
Como se trata de um sistema produtivo, o desempenho dessas funções
ambientais em um SAF deve estar associado à produção diversificada e suces-
siva de alimentos e/ou forragem. Nesse sentido, para se estabelecer um SAF
ecologicamente funcional e economicamente produtivo, é necessário utilizar
espécies adaptadas e adequadas aos objetivos de cada sistema, mediante a
adoção de planejamento, desenho e manejo criteriosos. Tudo isso para evitar
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9 Permacultura
Permacultura, ou cultura permanente, é uma expressão criada pelos ingle-
ses Bill Mollison e David Holmgren, na década de 1970, que abrange diversos
segmentos do conhecimento de várias áreas científicas, com o propósito de
criar ambientes humanos sustentáveis, produtivos e que respeitem o ecos-
sistema local, estando, assim, em harmonia com a natureza.
Há três éticas que norteiam sua forma de trabalho e são baseadas na obser-
vação do ecossistema onde a propriedade está inserida. A primeira ética é cuidar
da terra, a segunda é cuidar das pessoas e a terceira é cuidar do futuro. A perma-
cultura tem por objetivo buscar uma forma sustentável de interação com o meio
para a produção e para a sobrevivência humana.
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Manejo
da terra e
da natureza Espaço
construído
Economia Educação
e finanças e cultura
Saúde e
bem-estar
espiritual
Fig. 4 Princípios da
permacultura
Fonte: UFSC (s.d.).
Referências bibliográficas
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