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Ebook Psicologia Na Pratica v1c

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Psicologia

na Prática
Um guia de atuação diante do
comportamento suicida

Psi. Maria Emilia


Autora

Maria Emília Pereira Nunes. Psicóloga e supervisora.


CRP 12/10591. Mestrado Multidisciplinar em Saúde (UFSC).
Especialização em Gestalt-terapia (Comunidade
Gestaltica). Residência Integrada Multiprofissional em
Saúde (HU/UFSC). Vide currículo lattes.

Em 2012 passei a ter contato na prática com


pessoas que tentaram suicídio. Mas foi a partir de
2015, quando assumi o cargo de psicóloga
hospitalar no setor de emergência, que essa passou
a ser minha principal demanda de trabalho e foco
de estudo.
Este livro é resultado dessa experiência: é uma
síntese de alguns pontos que considero essenciais
para uma prática clínica ética, humanizada e de
qualidade.
Mas não cheguei aqui sozinha, sou quem sou a
partir das relações que estabeleci com outras
pessoas. Sou muito grata aos pacientes,
profissionais e professores que encontrei nessa
jornada. Em especial, agradeço a Lucienne Martins
Borges, Karina Fukumitsu e Neury Botega que tanto
me ensinaram e ainda ensinam sobre o cuidado e
o manejo necessário para a prevenção do suicídio.

Desejo uma boa leitura a todos!

Psi. Maria Emilia


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
SUMÁRIO

PREFÁCIO ............................................................................................... 4
Aviso importante ......................................................................... 5
Aviso aos psicólogos ................................................................ 6
ASPECTOS TEÓRICOS ....................................................................... 7
Comportamento suicida ........................................................ 8
O que significa uma tentativa de suicídio .................... 9
Exemplos do que fazer ............................................................ 10
Conceitos importantes ............................................................. 11
Características do comportamento suicida .............. 13
Você sabia ..................................................................................... 15
ASPECTOS PRÁTICOS ..................................................................... 16
Atendimento após tentativa de suicídio ....................... 17
Atendimento psicológico ....................................................... 19
Roteiro de avaliação ............................................................... 23
Rede de apoio ............................................................................. 28
CONCLUSÃO DA AVALIAÇÃO ..................................................... 31
Baixo risco ...................................................................................... 32
Risco moderado ......................................................................... 33
Alto risco ......................................................................................... 34
Proposta complementar ....................................................... 35
O que é possível fazer ............................................................ 37
Opções de encaminhamento ........................................... 40
Plano para manejo de crise ................................................ 41
ACOMPANHAMENTO ..................................................................... 42
Psicoterapia .................................................................................. 43
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 45
Referências ................................................................................... 46
Mantenha contato .................................................................... 47

Psi. Maria Emilia


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
PREFÁCIO

Suicídio: é preciso falar.


Sem dúvida, isso é verdade.

Temos que ajudar a desconstruir o tabu que ainda


envolve o tema. No entanto, não podemos falar sobre
suicídio de qualquer jeito, sem o devido cuidado e
atenção. 

Mais do que falar sobre o suicídio, precisamos


garantir que o sofrimento seja ouvido e
acolhido.
Com o acompanhamento e apoio necessários, a
pessoa pode vir a compreender o verdadeiro sentido
e significado do seu sofrimento, assim como desvelar
qual a necessidade que está por trás e o que ela
realmente precisa para se sentir melhor.

Nós, enquanto psicólogos, precisamos estar


preparados para ouvir e acolher essa demanda.

Neste livro você encontrará aspectos teóricos e


práticos que poderão ajudá-lo a ajudar seus
pacientes a atravessarem o momento difícil que
estão vivenciando.

Psi. Maria Emilia 4


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
Aviso importante

O conteúdo foi elaborado especialmente para


psicólogos já formados ou em formação.

Se você está em sofrimento e tem pensamentos


suicidas, busque ajuda profissional.

Você deve buscar atendimento em algum serviço de


saúde (por exemplo, posto de saúde, UPA - Unidade de
Pronto Atendimento - ou hospital). Veja o que está
disponível mais perto de você e solicite atendimento. 

Outra alternativa é agendar uma consulta direto com um


psiquiatra e ou psicólogo. 

Além da ajuda profissional, não esqueça de


compartilhar o que está sentindo com alguém de sua
confiança.

Você também pode ligar para o Centro de Valorização


da Vida (CVV) pelo número 188 ou entrar em contato
pelo site https://www.cvv.org.br. 

Psi. Maria Emilia 5


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
Aviso aos psicólogos

Leia este livro digital com atenção e cuidado.

Ele foi escrito de forma simples para facilitar a


compreensão, mas assim como a imagem do Iceberg
na capa, ele é apenas uma pequena parte de todo o
conteúdo teórico disponível e de todas as possibilidades
que podem ser exploradas na prática psicológica. 

O objetivo deste material é ser um ponto de partida, um


norte para a atuação diante da ideação suicida e da
tentativa de suicídio; mas jamais um fim em si mesmo.

O tema é complexo e deve ser tratado como tal. 

Busque mais conhecimento sempre, troque com outros


profissionais, busque supervisão e tenha cautela na
prática.

Se tiver dúvidas diante de um paciente em crise suicida,


sugiro que você erre pelo excesso de cuidado do que
pela omissão. Solicite ajuda adicional, tanto para você
quanto para ele. É melhor, posteriormente, avaliar que
exagerou, do que sentir por não ter feito mais.

Psi. Maria Emilia 6


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
ASPECTOS TEÓRICOS

SUICÍDIO

É considerado um fenômeno multifatorial, com


influência biomédica, psicológica, social e filosófica.
É uma questão de saúde pública.¹

A cada 45 segundos, morre uma pessoa por


suicídio no mundo. E para cada suicídio existem
muitas outras tentativas.¹

TENTATIVAS DE SUICÍDIO

Para cada pessoa que é atendida em um serviço de


saúde após tentar suicídio, muitas outras estão em
sofrimento intenso nesse exato momento.²

CRISE SUICIDA

Refere-se a uma dor psíquica intolerável (relacionada


a exacerbação de uma doença mental existente ou a
vivência de um colapso existencial) que pode
desencadear o desejo de cessar o viver para
interromper a dor.¹

Psi. Maria Emilia 7


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
comportamento suicida

Os comportamentos suicidas incluem os


pensamentos, planos e as tentativas de suicídio.

Uma pessoa que está pensando em suicídio ou


planejando o ato não necessariamente tentará suicídio
no futuro.

Mas, sem dúvida, o pensamento suicida é um sinal de


sofrimento psíquico que merece uma avaliação
criteriosa.

LEMBRE-SE: Uma tentativa de suicídio é o


principal fator de risco para um futuro
suicídio.

O risco de suicídio é considerado uma urgência


médica.

Psi. Maria Emilia 8


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
o que significa uma
tentativa de suicídio?

A pessoa quer matar a dor, mas como a dor é muito


intensa e ela própria se entende como foco de origem
da dor, a pessoa acaba por tentar matar a si mesma.
A pessoa acaba por projetar na morte as
possibilidades daquilo que não tem em vida. ³ ⁴

Por exemplo, paz, descanso, calma, um fim para o


drama que está vivendo.

Será que a tentativa é, realmente, de


morrer ou seria mais uma tentativa de
viver de um modo diferente?

O que ela gostaria de matar para que


pudesse viver?
(Karina Fukumitsu)

Não devemos confundir a pessoa com o seu ato.


Precisamos evitar rótulos e reduções.

Não podemos ter preconceito ou discriminar a


pessoa pela tentativa de suicídio.

Precisamos, inclusive, ajudar a minimizar o


preconceito e a discriminação em relação ao tema.

Psi. Maria Emilia 9


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
EXEMPLOS do que fazer

Se você ouvir alguém dizendo:

"Tanta gente lutando pela vida e


precisamos perder tempo com quem está
querendo morrer". (ou algo semelhante).

Responda:

"Imagino que ela esteja em um momento


desesperador, buscando uma vida melhor
do que a que tem hoje. Precisamos ajudá-
la a passar por isso".

ou
Se você ouvir alguém dizendo:

"Não acredito que ela tentou suicídio só


porque terminou com o namorado. Ela é
tão jovem, tão bonita, logo vai conseguir
outro".

Responda:

"Eu me pergunto, o que mais deve ter


acontecido ou estar acontecendo na vida
dela para levá-la a pensar que a vida não
tem mais sentido sem aquele
relacionamento".

Psi. Maria Emilia 10


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
CONCEITOS IMPORTANTES

FATORES PREDISPONENTES
São aqueles que predispõem a pessoa ao longo da
sua vida a apresentar comportamentos suicidas no
futuro. Estatisticamente, as pessoas que tentam
suicídio ou se suicidam, apresentam um ou mais
desses fatores.¹

FATORES PRECIPITANTES
São aqueles que acontecem antes do ato em si. São
os fatores mais próximos temporalmente, mais
facilmente identificados e relacionados com a
tentativa ou o suicídio. ¹

Fonte: Botega, 2015 ¹

Psi. Maria Emilia 11


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
Conceitos importantes (continuação)

FATORES DE RISCO
São as condições que aumentam o risco de suicídio.
Incluem os fatores predisponentes e precipitantes.

Os principais são:
Tentativa prévia de suicídio
Presença de transtorno mental

FATORES DE PROTEÇÃO
São as condições que reduzem o risco da pessoa vir a
tentar suicídio no futuro.

Fonte: Botega, 2015 ¹

Psi. Maria Emilia 12


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
CARACTERÍSTICAS DO
COMPORTAMENTO SUICIDA
AMBIVALÊNCIA
A pessoa quer viver e quer morrer.
Mas uma parte não anula a existência
da outra.

É comum a pessoa ter uma parte em si que realmente


contempla a morte como a melhor possibilidade, mas é
comum ter também viva dentro dela uma parte que tem
planos para o futuro, que quer viver melhor, de um jeito
diferente.

A falta de compreensão desse ponto, muitas vezes


contribui para o preconceito.

EXEMPLO
Se você ouvir alguém dizendo:
"Se ela quisesse mesmo se matar não teria
pedido ajuda depois. Ela estava era
querendo chamar a atenção".

Responda:
"Realmente é possível que ela esteja
chamando a atenção para algo
importante, mas isso não significa que
esteja consciente disso. E é preocupante
que ela tenha se colocado em risco para
isso. Ela não deve estar conseguindo fazer
de outra maneira. Precisamos ajudá-la".

Psi. Maria Emilia 13


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
Características do comportamento
suicida (continuação)

RIGIDEZ DE PENSAMENTO
A pessoa não consegue avaliar outras
possibilidades além do suicídio como forma de
resolução do conflito vivenciado.

IMPULSIVIDADE
A pessoa age primeiro, e pensa depois.

ATENÇÃO aos 3Ds:

Desespero: Não consegue mais esperar


Desamparo: Não percebe nenhum amparo
Desesperança: Tem esperança, mas sem
perspectiva de realização

LEMBRE-SE
A tentativa de suicídio é uma parte
que aparece de um sofrimento
existencial imenso.
É essa parte que aparece que
permite que o reconhecimento,
aproximação e intervenção.
Precisamos ter cuidado e respeito.

Psi. Maria Emilia 14


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
VOCÊ SABIA?

É muito comum as pessoas buscarem


atendimento em serviços de saúde nos dias ou
semanas que antecedem a tentativa de suicídio.

Nem sempre por questões de saúde mental.


Muitas vezes são queixas físicas ou inespecíficas.
Esse fato aponta para a importância da escuta
qualificada.

Precisamos ouvir com atenção o que é


expresso por palavras, pelo corpo, por atos ou
emoções. 

Existem muitos mitos sobre o suicídio que


contribuem para o estigma e o preconceito em
saúde mental. Precisamos combatê-los com
informação baseada em evidências.

EXEMPLO
- "Pessoas que falam sobre suicídio não tem
intenção de se matar". (É MITO)

- "Muitas pessoas que se suicidaram falaram


ou deram sinais de sua intenção nos dias ou
semanas anteriores". (É VERDADE)

Psi. Maria Emilia 15


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
ASPECTOS PRÁTICOS

Toda pessoa que expresse ideação suicida deve


receber atenção e deve passar por uma avaliação
cuidadosa para investigação do risco de suicídio.

O psicólogo pode encontrar um paciente em crise


suicida no seu consultório particular ou em alguma
instituição em que trabalhe. Independentemente do
local, em um primeiro momento, é preciso acolher e
manter a pessoa segura.

Precisamos ganhar tempo e incentivar a continuidade


do tratamento.

É importante que o profissional articule a


curiosidade e a tranquilidade na escuta da
experiência do paciente com a prontidão para
agir e protegê-lo.¹

Deve-se ainda oferecer apoio e esclarecimentos aos


familiares, para que eles possam auxiliar a manter a
pessoa o mais segura possível em casa.

Psi. Maria Emilia 16


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
ATENDIMENTO APÓS
TENTATIVA DE SUICÍDIO
Caso a pessoa mencione que cometeu uma
tentativa de suicídio, é importante encaminhá-la
para avaliação médica de urgência. 

LEMBRE-SE: Uma tentativa de suicídio


é considerada uma emergência
médica.

Precisamos ter certeza de que a pessoa está fora


de risco clínico imediato para realizar a avaliação
psicológica com calma e cuidado.

O ATENDIMENTO PSICOLÓGICO HOSPITALAR:


É recomendado após o atendimento médico.
Deve englobar o paciente, a família e a equipe.

ANTES DO ATENDIMENTO, busque informações


preliminares com a equipe e no prontuário que
auxiliem na definição das condutas posteriores.

Por exemplo, as circunstâncias da tentativa; do


resgate; da rede de apoio; do quadro clínico atual;
tratamento recomendado.

Psi. Maria Emilia 17


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
Atendimento após tentativa de suicídio
(continuação)

O PSICÓLOGO DIANTE DO PACIENTE:


Realiza o atendimento, acolhe, oferece apoio, avalia
o risco de suicídio, propõe intervenções para ampliar
a compreensão do paciente acerca do conflito que
está vivenciando.
Em conjunto com a avaliação da equipe, propõe um
encaminhamento para a continuidade do cuidado
em saúde mental.
Avalia quem são as pessoas de referência para o
paciente e busca auxiliar na comunicação e
organização da rede de apoio.

O PSICÓLOGO DIANTE DA FAMÍLIA:


Realiza o atendimento, acolhe, oferece apoio.
Realiza orientações quanto às medidas de
segurança e encaminhamentos.
Auxilia a organização da rede de apoio para
oferecer suporte ao paciente após a alta.

O PSICÓLOGO DIANTE DA EQUIPE DE SAÚDE:

Contribui para a redução do estigma e do


preconceito associado aos transtornos mentais e
tratamento.
Ajuda a equipe a reconhecer os próprios limites, mas
não usá-los como justificativa para se isentar da
responsabilidade por suas ações.
Orienta os colegas que não conseguimos controlar
nossos sentimentos, mas sim nossa forma de reagir
a eles.

Psi. Maria Emilia 18


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
ATENDIMENTO PSICOLÓGICO

Independentemente do local de
atendimento, a ENTREVISTA CLÍNICA, se bem
estruturada e conduzida, é o melhor método
para avaliação do risco de suicídio.

Existem escalas e questionários que ajudam na


mensuração do risco, mas em si mesmos não são
suficientes para realizar a avaliação.

ENTREVISTA CLÍNICA
Além de coletar informações, a entrevista também
possibilita o apoio emocional e o estabelecimento de
vínculo.⁵

Sugiro deixar a primeira


parte da entrevista mais
aberta para que o
paciente possa falar
livremente e assim, reduzir
a ansiedade.

Psi. Maria Emilia 19


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
Atendimento psicológico (continuação)

DICA: Comece se apresentando e deixando


claro qual o objetivo do atendimento.

EXEMPLO:
Oi, <nome do paciente>. Eu me chamo Maria Emília, sou
psicóloga e gostaria de te atender. Aqui no hospital,
além da preocupação com a saúde física, também
nos preocupamos com a parte emocional. Por isso, eu
gostaria de entender melhor o que você está passando
para ver se posso te ajudar de alguma forma. Você
poderia me contar um pouco sobre você e o que te fez
vir ao hospital?

Neste exemplo, a primeira pergunta após a


apresentação é mais subjetiva e mais aberta,
permitindo que o paciente escolha por onde
começar a falar.

Mas você também pode iniciar com uma pergunta


mais objetiva. Como por exemplo:
- "Você já teve contato com algum psicólogo
antes?"

Essa pergunta ajuda a dar indícios das


fantasias que o paciente pode estar fazendo
em relação ao atendimento, assim como já
traz alguma informação sobre o histórico de
saúde mental e tratamentos.

Psi. Maria Emilia 20


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
Atendimento psicológico (continuação)

DICA: Se o paciente for mais silencioso ou


estiver menos disponível para falar,
você pode começar com algumas
perguntas mais objetivas e gerais.

EXEMPLO:

"De onde é?" "Com quem mora?" "Com o que


trabalha?"

Só não comece com um automático:


- "Oi, tudo bem?"
Isso pode aumentar a hostilidade e resistência do
paciente, já que provavelmente não está tudo bem.

Concentre-se na pessoa que está falando, busque


se conectar com ela, estabelecer um vínculo de
confiança.

MAS COMO SE FAZ ISSO?

Mostre que você está interessado em


compreender o que ela está passando.
Repita ou resuma o que ouviu, para checar se
entendeu o que ela disse. Mesmo que você tenha
entendido algo errado, você vai demonstrar que
está querendo entender melhor.
Reconheça e valide as expressões emocionais.

Psi. Maria Emilia 21


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
Atendimento psicológico (continuação)

Apesar de sugerir que você deixe uma primeira


parte da entrevista mais livre, recomendo
fortemente que você tenha um roteiro semi-
estruturado com as perguntas que você não
pode deixar de fazer para ser capaz de avaliar o
risco de suicídio e definir um encaminhamento
adequado àquela pessoa.

No início, sugiro que você leve uma cópia com


você. Não para preencher em estilo de
questionário, mas para você poder "colar" em
alguns momentos que não souber por onde ir.
Ou pelo menos, para olhar antes de finalizar a
entrevista para ver se não esqueceu de avaliar
algo importante.
Com a prática e o estudo, aos poucos você vai
conseguir internalizar as perguntas-chave e talvez
não precise mais levar o instrumento com você.

A seguir, será apresentado um roteiro de avaliação


semi-estruturado como uma possibilidade de
caminho a seguir.
Não encare como um modelo rígido, o único possível
ou o melhor existente. Mas sim, como um instrumento
que pode ajudar a nortear o atendimento e manter o
foco necessário para concluir a avaliação.

Psi. Maria Emilia 22


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
ROTEIRO DE AVALIAÇÃO

INFORMAÇÕES QUE DEVEM SER COLETADAS:

ESTADO MENTAL ATUAL


Qual a condição da pessoa para realizar o
atendimento? Ex. Está lúcida, orientada, comunicativa?
Apresenta alguma alteração significativa no
pensamento, atenção, memória?

ANTECEDENTES
Ex. Diagnóstico ou tratamento prévio em saúde mental
(ou sinais sugestivos de transtorno mental sem
tratamento); tentativas de suicídio prévias; histórico
de saúde; uso de substâncias psicoativas;
O histórico familiar de suicídio ou tentativas de suicídio
também deve ser avaliado, por se tratar de um fator
de risco para o suicídio.

ASPECTOS RELACIONADOS A TENTATIVA DE SUICÍDIO


ATUAL (se for o caso)
Faça perguntas que ampliem a comunicação e a
compreensão do ato. Ex. fatores precipitantes e
predisponentes; letalidade potencial do método e
visão subjetiva da pessoa sobre a letalidade. Nível de
planejamento; possibilidade de resgate; grau de
ambivalência; como avalia a tentativa de suicídio; há
arrependimento?

Psi. Maria Emilia 23


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
Roteiro de avaliação (continuação)

IDEAÇÃO SUICIDA

Você não pode ter medo de falar sobre isso. Mas você
pode fazer de forma gradual. É necessário explorar a
intencionalidade e o planejamento (tanto em relação
a tentativa atual quanto à possibilidade de novas
tentativas).

Caso sejam observados pensamentos suicidas, você


precisará avaliar a frequência e intensidade, e como o
paciente tem reagido a esses pensamentos. Ou seja,
você precisa avaliar qual o nível de autocontrole que
a pessoa tem e também de apoio externo (por
exemplo, familiares e amigos).

Caso seja observado planejamento, é preciso avaliar


o grau de planejamento: se tem acesso ao método
(por ex. medicamentos, arma de fogo, andar que
mora) e quais medidas já foram tomadas para
realizar a ação.

Fonte: Botega, 2015¹

Psi. Maria Emilia 24


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
Roteiro de avaliação (continuação)

SENTIMENTOS NEGATIVOS
Sentimentos como desamparo, desesperança,
desespero, solidão são fatores de risco. Avalie se a
pessoa "sente-se um fardo", "sente-se sem saída".
Nesses casos, tente instilar a esperança em relação
ao futuro. Você pode, inclusive, começar a apresentar
o tratamento como um caminho para chegar lá.

FATORES DE RISCO

São os fatores predisponentes e precipitantes (alguns


apresentados na figura da página 12). Lembre-se que
os principais são: tentativas prévias de suicídio e
presença de transtornos mentais.

ESTRESSORES PRÉVIOS E ATUAIS


Qual o problema que o suicídio está tentando
resolver? O que está acontecendo em sua vida que
está difícil de lidar?

FATORES DE PROTEÇÃO

O que vincula a pessoa à vida? Quais são as suas


potencialidades? Caso esteja arrependida, o que fez
ela se arrepender do ato? O que a fez buscar ajuda?
Quem são as pessoas importantes em sua vida? Com
quem ela se preocupa? Quais são/eram seus planos
para o futuro?

COMPOSIÇÃO FAMILIAR
Considere todos os vínculos afetivos. Valorize os que
fazem sentido para a pessoa. Mapeie a rede de apoio,
o mais importante é encontrar alguém que poderá
ajudar após a alta.

Psi. Maria Emilia 25


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
Roteiro de avaliação (continuação)

RECURSOS DE ENFRENTAMENTO
Como ela reage diante dos problemas? O que a
ajuda ou já ajudou no passado? Ex. São mais
focalizados no problema, na emoção, na religiosidade,
no apoio social.

FUNCIONAMENTO ATUAL
Tenha atenção especial aos sinais de ruptura e
instabilidade.

TRATAMENTO
Não somente os convencionais. Incluir todas as
alternativas buscadas pela pessoa para resolver o
problema. O que fez? Quais foram os resultados
percebidos e os fatores que acha que interferiram nos
resultados?

DISPONIBILIDADE E MOTIVAÇÃO PARA


ACOMPANHAMENTO

É preciso tentar garantir a continuidade da linha de


cuidado. Apresente as possibilidades existentes. Veja
se a pessoa tem alguma perspectiva de melhora no
futuro. Qual a sua capacidade de buscar ajuda, se
necessário? Quem poderá ajudá-la. Ajude a construir
um plano para lidar com a crise.

Psi. Maria Emilia 26


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
Roteiro de avaliação (continuação)

LEMBRE-SE: Enquanto coleta as


informações e avalia, você precisa
estar atento às possibilidades de
intervenção.

INTERVENÇÕES POSSÍVEIS:

Escute e acolha o que for expresso.


Estimule e auxilie na comunicação.
Aceite a falta de sentido, a ambivalência e os
sentimentos negativos.
Reforce os aspectos que expressam a vontade de
viver.
Valorize projetos e perspectivas de vida.
Valorize as relações e vínculos positivos com a rede
de apoio familiar, social e institucional.
Ajude a organizar estratégias para manejo dos
conflitos.
Estimule a busca de apoio e ajuda nas situações de
crise.
Sensibilize para busca e adesão aos
encaminhamentos em saúde mental.
Ajuste as expectativas.
Oriente sobre os efeitos e possíveis resultados do
tratamento em saúde mental.
Ofereça esperança.

Psi. Maria Emilia 27


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
REDE DE APOIO

Você precisa definir com o paciente quem será a


pessoa de referência durante a internação e após a
alta para receber as orientações de proteção e
encaminhamentos quanto ao tratamento.

CONTATO COM A REDE DE APOIO


Mas não é quebra de sigilo?
Como e quando é indicado realizar esse tipo de
contato?

Para responder, é importante ter clareza de quais


são os objetivos do atendimento com o familiar.

OBJETIVOS DO CONTATO:

Orientar sobre as medidas de proteção.


Especialmente, quanto a importância de não deixar
o paciente sozinho após a tentativa de suicídio e
restringir o acesso a meios potencialmente letais
(ex. medicamentos, venenos, corda, facas).
Nenhuma dessas medidas exclui a possibilidade do
paciente vir a tentar suicídio novamente.
No entanto, contribui para que o paciente em crise
receba ajuda mais rapidamente. E principalmente,
ajuda a minimizar o componente impulsivo da
tentativa de suicídio.

Psi. Maria Emilia 28


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
Rede de apoio (continuação)

É comum que a tentativa de suicídio ocorra em um


momento de desespero. Mas se a pessoa estiver
acompanhada e não tiver acesso aos meios, ela
precisará planejar um método. E, ao parar para pensar,
a emocionalidade acalma e é possível que ela
considere também outras possibilidades para além do
suicídio. E nesse meio tempo, terá alguém por perto
para oferecer apoio.

Ajudar a organização da rede de apoio. Pensar


quem poderá ficar junto ou quais aspectos da rotina
familiar podem ser modificados no momento.

Orientar sobre aspectos gerais da tentativa de


suicídio, no sentido de reduzir o preconceito e o
estigma associados.

Orientar sobre manejo de crise e


encaminhamentos. Ex. em que situações deve levar
ao hospital ou chamar o SAMU. Como agir e o que
não deve fazer quando a pessoa falar em suicídio.

Durante o contato, também é possível oferecer um


espaço de escuta e acolhimento.
Sem perder de vista que o compromisso principal é com
o paciente.
Se for identificada a necessidade de acompanhamento
em saúde mental, você deverá realizar algum
encaminhamento para o familiar.

Psi. Maria Emilia 29


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
Rede de apoio (continuação)

Você PODE e DEVE ser franco com o paciente em


relação aos objetivos do atendimento.
Esclareça que o principal deles é ajudar a
mantê-lo em segurança. E que você, sozinho,
não terá condições de fazer isso.
Explique que você falar com alguém, nessa
situação, é um sinal de cuidado e não de
desrespeito.
Em geral, as objeções estão relacionadas ao
paciente achar que ninguém se importa ou não
querer preocupar ninguém.
Você precisará abordar esses pontos.
Mas não é você quem vai escolher a melhor
pessoa para fazer o contato. É importante que o
paciente participe do processo de decisão. Ele
pode e deve escolher para quem pedir ajuda.

E SE AINDA ASSIM O PACIENTE NÃO AUTORIZAR O


CONTATO?
Você pode quebrar o sigilo.
Entenda que a rigidez do pensamento é um fator de
risco importante, e é melhor que o paciente fique
chateado com você, mas esteja em segurança.

DICA: Aborde a questão do sigilo e solicite


contatos de emergência no contrato
terapêutico com todos os pacientes.
Mesmo que a questão do suicídio não
seja um tema a priori.

Psi. Maria Emilia 30


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
CONCLUSÃO DA
AVALIAÇÃO
A grande questão aqui é interpretar os dados
coletados, considerando principalmente o grau de
ideação suicida, assim como o peso e a relação
entre os FATORES DE RISCO e de PROTEÇÃO.

A avaliação não é simples. Na prática, os fatores de


risco e de proteção são muitos e é difícil pesá-los
com clareza.

Lembre-se: os aspectos envolvidos são dinâmicos e


mutáveis com o passar do tempo.

Então, a avaliação não significa uma previsão, mas é


uma maneira de identificar qual é a ação prioritária
que deve ser tomada.

Psi. Maria Emilia 31


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
BAIXO RISCO

Os FATORES DE PROTEÇÃO superam os FATORES DE


RISCO naquele momento.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS QUE SUGEREM UM


BAIXO RISCO:
A pessoa teve alguns pensamentos suicidas, como
“eu não consigo continuar”, “eu gostaria de estar
morto”, mas não tem nenhum plano. Está
arrependida, consegue avaliar o problema de forma
mais amena. Está aberta quanto a possibilidade de
tratamento. Rede de apoio presente e disponível
para ajudar.

ATENÇÃO: Refere-se ao baixo risco imediato de tentar


suicídio. Não significa que a pessoa está fora de risco
dali em diante. Lembre-se que uma tentativa de
suicídio é o principal fator de risco do suicídio.

PROVIDÊNCIAS INICIAIS:
Escuta e apoio. Faça um plano para manejo da
crise. Incentive a vinculação com a rede de apoio
familiar, social e institucional. Proponha a
realização da psicoterapia e avaliação
psiquiátrica. Incentive a adesão ao tratamento.

Psi. Maria Emilia 32


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
RISCO MODERADO

Quando os FATORES DE RISCO estão


contrabalanceados com alguns FATORES DE
PROTEÇÃO.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS QUE SUGEREM UM


RISCO MODERADO:

A pessoa tem PENSAMENTOS E PLANOS, mas não tem


planos de cometer suicídio imediatamente.
Está AMBIVALENTE em relação ao suicídio, mas
demonstra ABERTURA quanto a possibilidade de
tratamento.
A REDE DE APOIO é presente e está minimamente
organizada para ajudar.

PROVIDÊNCIAS INICIAIS:
Escuta e apoio. Faça um plano para manejo da
crise. Faça um acordo de não suicídio. Solicite
autorização e acione a rede de apoio. Encaminhe
para uma avaliação psiquiátrica o mais breve
possível. Incentive a adesão ao tratamento e
proponha a psicoterapia o mais breve possível.

Psi. Maria Emilia 33


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
ALTO RISCO

Quando os FATORES DE RISCO superam em muito os


FATORES DE PROTEÇÃO.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS QUE SUGEREM UM


ALTO RISCO:
A pessoa tem um PLANO definido, tem os MEIOS para
fazê-lo e planeja fazê-lo PRONTAMENTE.
Muitas vezes, já tomou algumas providências prévias
e parece estar se despedindo.
Está RESISTENTE em relação a perspectiva de
resolução do problema e/ou do tratamento em saúde
mental.
Sem rede de apoio ou rede de apoio com muitos
conflitos e com pouca condição para ajudar.

PROVIDÊNCIAS INICIAIS:
Nesses casos, NÃO DEIXE A PESSOA SOZINHA.
Solicite autorização e acione a rede de apoio.
Considere o caso como uma emergência e
encaminhe a pessoa até um hospital ou para
avaliação psiquiátrica de urgência.
A internação hospitalar pode ser necessária.

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PSICOLOGIA NA PRÁTICA
PROPOSTA COMPLEMENTAR
UMA PROPOSTA COMPLEMENTAR

A tabela a seguir me ajudou muito no início da minha


prática profissional. Ela é parte de um trabalho muito
interessante que recomendo a leitura. ⁶

Esta TABELA aborda diferentes fatores


envolvidos na avaliação do risco de
suicídio e faz uma classificação
baseada em cores, em que VERMELHO
indica o maior risco e VERDE, o menor
risco.

Fonte: Macchiaverni, 2013⁶.

Psi. Maria Emilia 35


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
O QUE É POSSÍVEL FAZER?

Precisamos respeitar que o suicídio é uma


solução válida, mas que pode ser adiada e
reavaliada. Para isso, precisamos ajudar a
pessoa a recuperar a noção de liberdade.

Você já parou para pensar que


liberdade tem a ver com escolha?

Se a pessoa só está conseguindo considerar


o suicídio como opção, será que ela está
realmente livre para escolher?

APRESENTE UMA ALTERNATIVA:


Você NÃO pode e NÃO deve apontar uma solução.
Mas você PODE compartilhar essa reflexão com a
pessoa.
Você PODE e DEVE apontar o tratamento como uma
alternativa que visa ampliar as possibilidades de
escolha da pessoa, ajudando a encontrar uma nova
estratégia na busca pela solução. 

Psi. Maria Emilia 37


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
O que é possível fazer? (continuação)

EXEMPLO:

- "Sinto muito por tudo que você está


vivendo.

Infelizmente, não tenho nenhuma proposta que vá


aliviar o seu sofrimento rapidamente, nem que vá
resolver o seu problema agora. Mas eu acredito que
seja possível lidar com ele de outra forma e acho que o
tratamento pode ajudar nisso.
A psicoterapia, a avaliação do psiquiatra e, às vezes, o
uso de alguma medicação também podem ser úteis
para minimizar os sintomas e o nível do sofrimento.
Geralmente, em 3 meses já é possível perceber alguma
melhora e pensar em outras alternativas. Gostaria,
sinceramente, que você se permitisse essa nova
tentativa, que você me ajudasse a te ajudar. Eu estou
disponível para te acompanhar nesse período.
O que você acha?"

Nesse exemplo, mencionei a psicoterapia e o


acompanhamento psiquiátrico como alternativas
de encaminhamento. Esta combinação é
considerada a melhor opção terapêutica para
prevenção do suicídio na maioria dos casos.

Mencionei o período de 3 meses, pois esse é o


tempo previsto de acompanhamento no
ambulatório de psicoterapia breve e costuma ser
suficiente também para que a medicação atingir
o potencial terapêutico.

Psi. Maria Emilia 38


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
O que é possível fazer? (continuação)

Isso não significa que todos os pacientes,


necessariamente, tem um transtorno
mental e deverão ser medicados. Mas
considero a avaliação psiquiátrica sempre
bem-vinda em casos de ideação suicida
ou tentativa de suicídio.

A psicoterapia também não é, necessariamente, a


melhor opção para todos. Nem todos estarão
disponíveis ou terão os recursos (internos e/ou
ambientais) para realizar. Ainda assim, considero
que esta possibilidade seja oferecida a todos.

LEMBRE-SE: O melhor encaminhamento é


aquele construído de acordo com a realidade
da rede local de saúde e das condições e
disponibilidade da pessoa para acessar.

Escolha, com a participação do paciente, um local


que facilite a adesão ao tratamento. Considere as
experiências prévias e vínculos positivos.
Se possível, realize contato com o serviço que irá
receber o paciente e considere a possibilidade de
entregar um encaminhamento por escrito.

Psi. Maria Emilia 39


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
OPÇÕES DE ENCAMINHAMENTO

SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE


UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE (UBS)
AMBULATÓRIOS ESPECIALIZADOS
CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS)
UNIDADES DE PRONTO ATENDIMENTO (UPA)
HOSPITAIS (gerais ou psiquiátricos)

PLANOS DE SAÚDE OU PARTICULAR


AVALIAÇÃO MÉDICA: buscar, preferencialmente, um
psiquiatra.
PSICOTERAPIA: buscar, preferencialmente, um
psicólogo. No caso dos planos de saúde, para acessar
é necessário um encaminhamento do médico.
ATENDIMENTO HOSPITALAR.

LEMBRE-SE de realizar o registro do


atendimento no prontuário e, se
atuar em serviço multiprofissional,
comunique sua equipe 

Psi. Maria Emilia 40


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
PLANO PARA MANEJO DE CRISE

De forma simplificada, o OBJETIVO do plano é


ajudar a pessoa a organizar uma estratégia de
ação e enfrentamento para essas situações.

PRINCIPAIS PONTOS A SEREM ABORDADOS:

Quais são os gatilhos para o pensamento suicida.


Como é possível reagir aos pensamentos, sem se
colocar em risco.
Quais são os motivos para continuar vivo.
Compromisso de tentar evitar o suicídio.
Identificar uma ou duas pessoas que possam
auxiliar nos momentos mais difíceis. Registrar os
nomes e telefones.
Ofereça informações sobre como acessar os
profissionais que o acompanham ou, pelo menos,
quais serviços de saúde poderá buscar em
momentos de crise.
Apresente o contato do CVV (Ligue 188).

Esse PLANO pode ser elaborado


verbalmente e também registrado
por escrito. Você pode escolher o
formato, mas a ideia é reforçar as
orientações e garantir que o paciente
tenha acesso a elas posteriormente.

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PSICOLOGIA NA PRÁTICA
Acompanhamento

Após as primeiras providências para manter o


paciente seguro já terem sido tomadas, é importante
dar continuidade ao atendimento.

Nesse momento, a psicoterapia é um importante


recurso que pode ser utilizado.

Diante da crise suicida, é indicada uma abordagem


com FOCO em manter o paciente estável.

A postura mais ativa do terapeuta é recomendada


nesse primeiro momento.

A PSICOTERAPIA é uma forma de


ampliar as vias de comunicação,
ajudando a pessoa a passar do ato
para a fala.

A partir da organização e ressignificação pela fala,


os comportamentos suicidas passam a ser menos
frequentes e menos necessários.

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PSICOLOGIA NA PRÁTICA
PSICOTERAPIA

A PSICOTERAPIA DEVE TENTAR RESPONDER ÀS


SEGUINTES QUESTÕES:
Qual é o pedido que está por trás da ideação ou da
tentativa de suicídio?
Qual é o desejo que não está conseguindo ser
realizado em vida?
Qual é a mensagem existencial de um ato suicida?

O VÍNCULO é o principal recurso terapêutico que


temos à nossa disposição. A empatia,
espontaneidade, calma confiante e os limites
claros auxiliam no estabelecimento da relação
de confiança que precisa ser estabelecida.

Busque reforçar os aspectos sadios da


personalidade e os recursos de enfrentamento mais
adaptativos.

Auxilie no manejo do conflito desencadeador da


crise.

O FOCO é minimizar os sintomas e aumentar a


esperança, autoconfiança e autoestima do paciente.

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PSICOLOGIA NA PRÁTICA
Psicoterapia (continuação)

Para que o paciente se mantenha estável a longo


prazo, ele precisará realizar mudanças que ajudem a
melhorar significativamente sua qualidade de vida.

DIFICULDADES ENCONTRADAS NA CLÍNICA:


Dificuldade no estabelecimento de vínculo
Atuações
Abandono do tratamento
Medo que o paciente se mate
Encaminhamento para seguimento de longo
prazo
Solidão do terapeuta

É essencial que o profissional considere o seu nível


de disponibilidade interna para atender pacientes
em crise suicida.

Este tipo de atendimento é desafiador e pode


despertar uma série de sentimentos no terapeuta
que podem dificultar o processo.

A SUPERVISÃO é um recurso que pode e deve ser


utilizado nesse tipo de situação.

Além disso, o autocuidado do profissional é essencial.


CUIDE DE SI MESMO!

Psi. Maria Emilia 44


PSICOLOGIA NA PRÁTICA
CONSIDERAÇÕES FINAIS

LEMBRE-SE: Prevenção do
suicídio não significa previsão
do suicídio.

Nem todo suicídio pode ser evitado. Nem nós, nem


a família somos onipotentes. Mas trabalharemos
incansavelmente para tentar evitar esse triste
desfecho.

O cuidado é um importante fator de proteção.


Cuidar não significa fazer pelo outro, mas estar com
ele em sua jornada em direção ao crescimento.

PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO:

Tratamento dos transtornos mentais e promoção


de saúde mental.
Restrição de acesso aos meios. Não ter acesso
fácil aos meios, minimiza o risco de um ato
impulsivo.
Falar sobre o sofrimento, ajuda a pessoa a sair da
condição de isolamento.

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PSICOLOGIA NA PRÁTICA
Referências

(1) BOTEGA, N. J. Crise Suicida: avaliação e manejo. Porto Alegre:


Artmed, 2015.

(2) BOTEGA, N. J. et al . Prevalências de ideação, plano e tentativa


de suicídio: um inquérito de base populacional em Campinas, São
Paulo, Brasil. Cad. Saúde Pública,  Rio de Janeiro ,  v. 25, n. 12, p.
2632-2638,  dez.  2009.  

(3) FUKUMITSU, K. O.; SCAVACINI, K. Suicídio e manejo


psicoterapêutico em situações de crise: uma abordagem
gestáltica. Rev. abordagem gestalt.,  Goiânia  v. 19, n. 2, p. 198-204,
dez.  2013.  

(4) FUKUMITSU, K. O. O psicoterapeuta diante do comportamento


suicida. Psicol. USP,  São Paulo ,  v. 25, n. 3, p. 270-275,  Dec.  2014.

(5) BERTOLOTE, J. M.; MELLO-SANTOS, C; BOTEGA, N. J.. Detecção do


risco de suicídio nos serviços de emergência psiquiátrica. Rev.
Bras. Psiquiatr., São Paulo, v.32, pp. 87-95, 2010

(6) MACCHIAVERNI, J. Fluxograma de encaminhamentos aos


pacientes atendidos na emergência adulto do hospitaol
universitário por tentativa de suicídio. Dissertação de mestrado
orientada por Lucienne Martins Borges, Lecila Duarte Barbosa.
Florianópolis: UFSC, 2013.

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