E-Book Coisas - Prof. Maitê Damé
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Direito Civil
Direito das Coisas
SUMÁRIO
Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso
preparatório para a 2ª Fase OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as
respectivas aulas. Além disso, recomenda-se que o aluno assista as aulas
acompanhado da legislação pertinente.
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito das Coisas | Prof. Maitê Damé
Existe muita discussão acerca do conceito de posse. Alguns entendem ser um mero fato e,
outros, entendem ser um direito (é o que a maioria da doutrina entende). Neste sentido, Tartuce 1
afirma que:
Nessa linha igualmente me posiciono doutrinariamente. Isso porque a posse pode ser
conceituada como sendo o domínio fático que a pessoa exerce sobre a coisa. A partir
dessa ideia, levando-se em conta a teoria tridimensional de Miguel Reale, pode-se afirmar
que a posse constitui um direito, com natureza jurídica especial. Como dito no capítulo
anterior, a posse é um conceito intermediário, entre os direitos pessoais e os direitos reais.
Mas esse caráter híbrido não tem o condão de gerar a conclusão de que não constitui um
direito propriamente dito.
A posse é, pois, o domínio físico que alguém tem sobre a coisa, que vem a ser protegido
pelo Direito, sendo, portanto, concedido efeitos jurídicos a este domínio. Segundo Loureiro 2,
posse “é o exercício, em nome próprio, das prerrogativas inerentes a um direito real”, “é o
exercício de fato de um dos poderes inerentes à propriedade”. Assim, é domínio físico/fático
sobre a coisa, mas também direito, pois assim a lei reconhece.
O conceito de posse vem explicado por duas grandes teorias justificadoras: a teoria
subjetivista de Savigny e a teoria objetivista de Jhering.
1
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 32. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.
2
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Curso Completo de Direito Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 761.
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito das Coisas | Prof. Maitê Damé
• para esta teoria, a posse seria o poder físico sobre a coisa (corpus) e a vontade de
ser dono desta coisa (animus domni), ou seja, de ter a coisa para si próprio. No
exemplo da locação, o locatário de um imóvel tem o poder físico sobre a coisa, mas
não a intenção de tê-la para si.
• para esta teoria, a posse seria a disposição física da coisa, ou seja, o poder
físico/fático sobre a coisa, dispensando o “animus domni”, mas agindo, o agente,
com o intuito de explorar a coisa de forma econômica. Esta é a teoria adotada pelo
Brasil, pois o art. 1.196, CC, ao tratar da posse, prevê: “Considera-se possuidor todo
aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade”.
3
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 40. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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meio da autotutela4, nos termos do enunciado 493 das Jornadas de Direito Civil: “O detentor (art.
1.198 do Código Civil) pode, no interesse do possuidor, exercer a autodefesa do bem sob seu
poder” (Enunciado n. 493).
Mas é possível transformar a detenção em posse, desde que rompida a subordinação,
conforme entendimento do enunciado n. 301 das Jornadas de Direito Civil: “É possível a
conversão da detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na hipótese de exercício
em nome próprio dos atos possessórios”.
O STJ tem entendimento firmado de que a ocupação indevida de bem público também se
configura em detenção: “Súmula 619, STJ. A ocupação indevida de bem público configura mera
detenção, de natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização por acessões e
benfeitorias”.
O mesmo Tribunal decidiu que no caso de um proprietário que deixa seu veículo na
concessionária para a realização de reparos, que a concessionária é detentora do bem, não
detendo sua posse e, com isto, não podendo retê-lo em caso de falta de pagamento pelo serviço
prestado. O STJ entendeu que a concessionária tem a detenção do veículo, que “ficou sob sua
custódia por determinação e liberalidade da proprietária, em uma espécie de vínculo de
subordinação” (STJ, REsp 1.628.385/ES, 3.ª Turma, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j.
22.08.2017, DJe 29.08.2017).
3. Posse – classificação
Estudar a classificação da posse é importante em razão dos efeitos desta posse, pois,
conforme for ela de boa ou má-fé, justa ou injusta, direta ou indireta, serão os efeitos advindos
daí.
4
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 37. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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Essas duas posses são coexistentes, ou seja, uma não anula a outra (art. 1.197, CC) e
ambas podem ser tuteladas.
Ex.: possuidor indireto (locador) pode utilizar-se dos interditos proibitórios para defesa de
seu direito contra terceiros, mas não pode exercer contra o possuidor direto (locatário), pois este
último exerce a posse em razão de um contrato (uma relação pessoal)5.
Ex.: o possuidor direto (locatário) pode exercer sua posse contra terceiros e, também,
contra o possuidor indireto, mesmo que este seja proprietário do imóvel.
Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma
exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros
compossuidores.
A composse ocorre quando existir uma posse comum sobre uma coisa, isto é, quando
duas ou mais pessoas possuírem o domínio fático da coisa. Neste caso, há um condomínio de
posse e este pode ser derivado da herança ou de ato inter vivos (contrato).
Cada compossuidor pode usar a coisa e exercer direitos possessórios contra terceiros, mas
não pode impedir que os demais compossuidores também a utilizem. Assim, tem-se como
exemplo a situação dos herdeiros, que, pela transmissão da herança (princípio da saisine)
recebem os bens que compõe o acervo hereditário como um todo unitário e indivisível (art. 1.791,
CC). Os herdeiros são compossuidores dos bens da herança. Podem usá-los durante o período
5
No caso de inadimplemento dos valores de aluguel, por exemplo, a ação cabível não é reintegração de posse,
mas sim, ação de despejo por falta de pagamento. Lembre-se que a posse direta é oriunda de um contrato de
locação.
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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da indivisão (do óbito até a efetivação a partilha), mas não podem impedir que os outros herdeiros
também os usem.
O STJ decidiu em 2010 que os herdeiros podem manejar as possessórias, uns contra os
outros, sempre que houver turbação ou esbulho da posse de um dos herdeiros por parte dos
outros.
Princípio saisine. Reintegração. Composse. Cinge-se a questão em saber se o
compossuidor que recebe a posse em razão do princípio saisine tem direito à
proteção possessória contra outro compossuidor. Inicialmente, esclareceu o Min.
Relator que, entre os modos de aquisição de posse, encontra-se o ex lege, visto que, não
obstante a caracterização da posse como poder fático sobre a coisa, o ordenamento
jurídico reconhece, também, a obtenção desse direito pela ocorrência de fato jurídico – a
morte do autor da herança –, em virtude do princípio da saisine, que confere a transmissão
da posse, ainda que indireta, aos herdeiros independentemente de qualquer outra
circunstância. Desse modo, pelo mencionado princípio, verifica-se a transmissão da posse
(seja ela direta ou indireta) aos autores e aos réus da demanda, caracterizando, assim, a
titularidade do direito possessório a ambas as partes. No caso, há composse do bem
em litígio, motivo pelo qual a posse de qualquer um deles pode ser defendida todas
as vezes em que for molestada por estranhos à relação possessória ou, ainda,
contra ataques advindos de outros compossuidores. In casu, a posse transmitida é a
civil (art. 1.572 do CC/1916), e não a posse natural (art. 485 do CC/1916). Existindo
composse sobre o bem litigioso em razão do droit de saisine é direito do
compossuidor esbulhado o manejo de ação de reintegração de posse, uma vez que
a proteção à posse molestada não exige o efetivo exercício do poder fático – requisito
exigido pelo tribunal de origem. O exercício fático da posse não encontra amparo no
ordenamento jurídico, pois é indubitável que o herdeiro tem posse (mesmo que indireta)
dos bens da herança, independentemente da prática de qualquer outro ato, visto que a
transmissão da posse dá-se ope legis, motivo pelo qual lhe assiste o direito à proteção
possessória contra eventuais atos de turbação ou esbulho. Isso posto, a Turma deu
provimento ao recurso para julgar procedente a ação de reintegração de posse, a
fim de restituir aos autores da ação a composse da área recebida por herança.
Precedente citado: REsp 136.922-TO, DJ 16.03.1998” (STJ, REsp 537.363/RS, Rel. Min.
Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJRS), j. 20.04.2010).
A composse pode ser pro diviso ou pro indiviso. Quando os compossuidores possuírem
apenas uma fração ideal da posse, esta composse será pro indiviso, como no caso dos
herdeiros sobre os bens da herança, onde todos os herdeiros são detentores da posse sobre
uma fração ideal da coisa. No caso em que os compossuidores sabem, no plano fático, a parte
da coisa sobre a qual exercem a posse, está-se diante da composse pro diviso, como no caso
de dois sujeitos que exercem a posse sobre um terreno grande, um deles, na parte da frente e,
o outro, na parte dos fundos, havendo uma cerca que divide o terreno ao meio. Neste caso,
embora ambos exerçam a posse sobre o terreno, cada um está sobre uma porção real do imóvel.
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.
A posse justa, conforme a redação do art. 1200, CC é aquela que não for violenta,
clandestina ou precária, ou seja, ela não ofende a previsão legal, tendo sido adquirida de forma
legítima e merecendo proteção legal. Trata-se de uma posse limpa.
A posse injusta, é aquela obtida de forma violenta, clandestina ou precária, de forma que
sua aquisição tenha sido ilícita, ou seja, viciada por ter sido adquirida por violação da lei. Assim,
a posse violenta é a retirada da coisa do antigo possuidor contra a sua vontade, “obtida por
meio de esbulho, for força física ou violência moral”6. A posse precária é aquela adquirida a
partir do abuso de confiança ou do abuso de direito, que resulta da “retenção indevida da coisa
que deve ser devolvida ao seu possuidor indireto”7. Por fim, a posse clandestina é aquela obtida
de forma oculta, às escondidas (não pública).
Os vícios (posse injusta) estão ligados ao momento de sua aquisição, de forma que até
podem deixar de existir.
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como
não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de
cessar a violência ou a clandestinidade.
Contudo, há entendimento que, mesmo nestes casos, a posse não deixa de ser injusta,
pois sua origem derivou de uma forma contrária a lei.
A posse de boa-fé é aquela na qual o possuidor acredita ser proprietário da coisa, por
ignorar existência de vício que impeça a aquisição da mesma. A boa-fé é do possuidor que, no
momento da aquisição da coisa não sabia que estava lesando o direito de alguém, ou seja, o
6
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 45. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.
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LOUREIRO, Luiz Guilherme. Curso Completo de Direito Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 771.
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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possuidor não tinha ideia de que existisse algum obstáculo que impedisse que ele viesse a
adquirir a propriedade da coisa.
A doutrina afirma que a boa-fé implica um “desconhecimento não culposo”, isto é, se o
indivíduo, na aquisição, recebeu a posse por um justo título, sem saber da existência de um
defeito que impedisse a aquisição da propriedade. Neste aspecto, Tartuce 8 afirma que:
[...] o possuidor de boa-fé é aquele que ignora os vícios que inquinam sua posse. Esses
vícios podem ser os da violência, os da clandestinidade ou os da precariedade, mas não
necessariamente, ou seja, os vícios estão presentes, mas são por ele desconhecidos. Daí, sua
ausência de consciência significar boa-fé subjetiva.
Assim, a existência de um justo título, pela redação do art. 1.201, parágrafo único, presume
a boa-fé (um contrato de promessa de compra e venda, uma cessão de direitos possessórios,
etc.). O enunciado 312 das Jornadas de Direito Civil traduz esta situação: “Pode ser considerado
justo título para a posse de boa-fé o ato jurídico capaz de transmitir a posse ad usucapionem,
observado o disposto no art. 113 do Código Civil”. Ainda, o enunciado 313 das Jornadas de
Direito Civil traz a previsão do instrumento de cessão de direitos como sendo justo título, embora
não exista a necessidade de estar a transmissão materializada por instrumento:
Considera-se justo título, para a presunção relativa da boa-fé do possuidor, o justo motivo
que lhe autoriza a aquisição derivada da posse, esteja ou não materializado em
instrumento público ou particular. Compreensão na perspectiva da função social da posse.
Contudo, se ele não observou os deveres de cuidado que uma pessoa normal deveria ter,
se ele foi negligente quanto a aquisição da coisa, equipara-se a posse de má-fé. De má-fé é,
também, a posse em que o indivíduo sabia que sua conduta, ao adquirir a coisa, violava direito
de outrem, pois ele tinha consciência de sua conduta.
A posse de boa-fé pode transformar-se em posse de má-fé a partir do momento em que o
possuidor toma ciência do vício ou que possui a coisa indevidamente.
8
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 53. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.
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Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em
que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui
indevidamente.
A posse com título é aquela na qual a transmissão da posse se deu, de um indivíduo para outro,
baseada em uma causa representativa, especialmente por um documento. De se observar que não se
exige a formalização deste documento, mas sim a existência de uma causa representativa da
transmissão da posse.
A posse sem título é quando inexiste (ou aparentemente não existe) esta causa representativa de
transmissão do domínio. Ex.: alguém que encontra uma faca com cabo de prata e ouro no meio do
campo e toma posse dela. O indivíduo não tinha a intenção de encontrar a faca, e, neste caso, não
havendo uma vontade relevante para que se perfectibilize o ato, torna este como um ato-fato jurídico
(não há uma vontade juridicamente relevante para a existência do ato).
Esta classificação da posse, em razão do tempo de exercício, traz efeitos processuais, pelo
uso ou não, do procedimento previsto no art. 558 e seguintes do CPC/2015.
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A posse nova é aquela que conta com menos de ano e dia, ou seja, é a posse de até um
ano.
A posse velha é que possui, pelo menos, um ano e um dia.
Significa dizer, então, que se a aquisição da posse se deu de forma viciada, os vícios
também são transmitidos ao atual possuidor, mesmo que ele esteja de boa-fé. Donizetti e
Quintella9 apresentam o seguinte exemplo:
Silvio, que havia furtado a coisa, vende-a a Helena. A posse de Silvio era injusta
(clandestina) e, por mais que Helena se torne possuidora de boa-fé, por desconhecer o
defeito da posse que lhe foi transmitida, terá posse injusta.
Assim, salvo prova em contrário, a posse mantém o mesmo caráter com o qual foi adquirida
(art. 1.203, CC).
1.2.9 Apossamento
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1.2.10 Tradição
A aquisição derivada ocorre pela tradição, ou seja, quando o antigo possuidor transmite ao
atual possuidor o domínio fático da coisa. A tradição independe de existência de documento
escrito transferindo a coisa, bastando a conduta de entregar (antigo possuidor) e receber (atual
possuidor) a coisa.
A tradição pode ser real – quando há a efetiva entrega da coisa pelo antigo possuidor –,
simbólica – quando a transmissão não é da coisa em si, mas de algo que represente a coisa
(chaves de um imóvel, por exemplo) – ou ficta – é a que ocorre por presunção, pela transmissão
de um documento, sem que exista qualquer contato com a coisa (inquilino que adquire, por
compra e venda, a propriedade do imóvel em que reside).
Trata-se de uma forma de aquisição derivada, pelo modo simbólico, pois a coisa não é
entregue de forma física, apenas simbólica, mas a posse é transmitida. Ocorre o constituto
possessório quando houver uma cláusula de convenção, pela qual o cedente, ainda que
transmita a coisa, permanece na posse dela, como possuidor, em nome do adquirente.
Ex.: o proprietário de um apartamento vende o imóvel, mas segue alugando o mesmo do
novo proprietário.
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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A posse pode ser adquirida: pela própria pessoa e, neste caso, ocorrer diretamente ou por
seu representante; ou por terceiro, sem mandato de representação, dependendo, neste último
caso, de ratificação do ato por parte da pessoa em nome de quem se adquire.
A partir daí, verifica-se que o representante legal ou convencional da parte não é possuidor
da coisa, mas mero detentor (art. 1.198, CC).
Uma vez que tenha ocorrido a morte, abre-se a sucessão e a herança é transmitida aos
herdeiros como um todo unitário e indivisível (princípio da saisine). Assim, na sucessão, quando
se está diante de uma sucessão a título universal, existe uma continuidade na posse, por parte
dos sucessores com relação ao falecido10. A posse é a mesma, transmitindo-se com todos os
vícios ou qualidades, ou seja, não se trata de nova posse, mas a mesma exercida pelo
antecessor.
Já na aquisição a título singular, o novo possuidor pode escolher entre continuar o tempo
da posse do antecessor ou iniciar nova posse. Ex.: aquele que adquire um imóvel por compra e
venda pode optar por somar sua posse à posse do antecessor/vendedor ou, então, zerar a
contagem e iniciar novo prazo de posse. De toda forma, a transmissão da posse ocorre com as
mesmas características anteriores.
10
Aqui vale observar que, tanto na sucessão legítima, quanto na sucessão testamentária (mesmo no caso do
legado que é sucessão a título singular), o sucessor continua a posse do falecido.
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Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não
autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a
violência ou a clandestinidade.
Os atos de permissão ou tolerância não induzem posse. Este é o caso do detentor, que
conserva a posse em nome do dono (art. 1.198, CC).
De igual forma, os atos clandestinos ou violentos não autorizam a aquisição da posse.
Significa que nos casos de conflitos de terra, por exemplo, em que haja a tomada violenta da
posse da área, estes não poderão adquirir a posse, em razão da violência do ato. Contudo,
depois que cessar a violência ou a clandestinidade poderão eles adquirir a posse.
Assim, a proteção liminar nas ações possessórias, havendo violência e clandestinidade, só
ocorre quando estas datarem de menos de ano e dia, nos termos do art. 558, CPC/2015.
O Código Civil estabelece, dos arts. 1.210 ao 1.222 os efeitos da posse. Tais efeitos podem
ser de ordem material ou processual.
Os efeitos materiais dizem respeito a percepção dos frutos e suas consequências, ao
direito a indenização e retenção das benfeitorias, as responsabilidades e ao direito de usucapião.
Já os efeitos processuais dizem respeito a possibilidade de utilização dos interditos
possessórios, as ações possessórias e a legítima defesa da posse e do desforço imediato.
Quanto a percepção dos frutos, deve-se, por primeiro, considerar se a posse é de boa ou
má-fé. Assim, o Código Civil prevê os seguintes dispositivos quanto ao recebimento (ou não) dos
frutos.
Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos
percebidos.
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser
restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser
também restituídos os frutos colhidos com antecipação.
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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O possuidor de boa-fé tem direito aos frutos percebidos (colhidos). Já os frutos pendentes
(ainda não colhidos) devem ser restituídos, assim como aqueles que tenham sido colhidos por
antecipação. Já o possuidor de má-fé deve devolver todos os frutos colhidos ou pendentes, bem
como aqueles que deixou de colher por culpa sua (art. 1.216, CC), devendo, neste último caso,
ser responsabilizado no caso de perecimento dos frutos não colhidos por sua culpa (reparação
de danos – responsabilidade civil). Mas tem direito, o possuidor de má-fé a ser indenizado pelas
despesas de produção e custeio.
Os frutos naturais são aqueles provenientes da coisa principal (frutas, por exemplo). Estes,
tão logo sejam separados da coisa principal consideram-se colhidos.
Os frutos industriais são aqueles que derivam de uma atividade humana (tudo o que venha
a ser produzido em uma fábrica, por exemplo). Estes, assim, como os naturais, logo após
separados consideram-se colhidos.
Os frutos civis derivam de uma relação jurídica ou econômica (rendimentos de aplicações
financeiras, aluguel de imóveis, por exemplo). Estes são percebidos na data prevista para
vencimento do aluguel ou do “aniversário” da aplicação financeira.
Conforme estudado na parte geral, as benfeitorias são acessórios que se agregam a coisa
principal, ou seja, obras artificiais, realizadas pelo homem, na estrutura da coisa principal – já
existente – com o propósito de conservá-la, melhorá-la ou embelezá-la. Estas benfeitorias podem
ser classificadas em necessárias, úteis e voluptuárias11.
11
São necessárias as benfeitorias realizadas para evitar um estrago iminente ou deterioração da coisa principal
(reparos realizados na viga; troca do telhado). São úteis aquelas realizadas com o objetivo de facilitar a utilização
da coisa (abertura de uma nova entrada para servir de garagem para a casa). São voluptuárias aquelas feitas para
o mero prazer, sem aumento da utilidade da coisa (decoração do jardim). Art. 96, CC.
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Benfeitorias necessárias.
Benfeitorias úteis.
Benfeitorias voluptuárias.
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Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa,
a que não der causa.
Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa,
ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela
na posse do reivindicante.
1.3.4 Usucapião
Dentro dos efeitos da posse encontra-se a possibilidade que o possuidor tem de se utilizar
das ações possessórias (ou interditos possessórios) para proteção e defesa de sua posse.
Importante observar que as ações possessórias tanto podem ser exercidas pelo proprietário
detentor da posse, como também por aquele que, embora não tenha a propriedade, se encontra
na posse da coisa.
Quanto a proteção possessória, o CC prevê os seguintes dispositivos:
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação,
restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de
ser molestado.
§ 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua
própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não
podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
§ 2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade,
ou de outro direito sobre a coisa.
Art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-se-á
provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifesto que a obteve de alguma
das outras por modo vicioso.
Art. 1.212. O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra
o terceiro, que recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era.
Art. 1.213. O disposto nos artigos antecedentes não se aplica às servidões não
aparentes, salvo quando os respectivos títulos provierem do possuidor do prédio
serviente, ou daqueles de quem este o houve.
Interdito proibitório
12
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 72. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.
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Estas diferenciações são fundamentais para fins de exame da OAB, mas, processualmente
falando, existe o princípio da fungibilidade e da instrumentalidade das formas, ou seja, mesmo
que se ingresse com uma ação de manutenção e a ação adequada seja a de reintegração, será
processada (art. 554, CPC).
Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que
o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos
pressupostos estejam provados.
§ 1º No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de
pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no
local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do
Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência
econômica, da Defensoria Pública.
§ 2º Para fim da citação pessoal prevista no § 1º, o oficial de justiça procurará os
ocupantes no local por uma vez, citando-se por edital os que não forem
encontrados.
§ 3º O juiz deverá determinar que se dê ampla publicidade da existência da ação
prevista no § 1º e dos respectivos prazos processuais, podendo, para tanto, valer-
se de anúncios em jornal ou rádio locais, da publicação de cartazes na região do
conflito e de outros meios.
Havendo várias pessoas no polo passivo das possessórias, será procedida citação pessoal
dos ocupantes encontrados no local e por edital dos demais. Haverá intimação do Ministério
Público e, caso envolva pessoas em situação de hipossuficiência econômica (como nos casos
de invasões de terras). Nestes casos, ainda, o juiz determinará a publicidade da existência da
ação e dos prazos processuais através de jornais, rádios, publicação em meio digital (no site do
Tribunal, por exemplo).
Importante, ainda, considerar que as ações possessórias adotarão o procedimento
especial, previsto no art. 554 e seguintes do CPC sempre que se tratar de ação de força nova
(art. 558, CPC). Considera-se de força nova as possessórias ingressadas dentro do prazo de
ano e dia (lembre-se da diferença entre posse nova e posse velha), cabendo medida liminar. Se
a posse for de mais de ano e dia, considera-se a possessória de força velha e, neste caso, não
cabe a respectiva liminar e deve-se utilizar o procedimento comum. Merece, ainda, destaque, a
previsão do art. 565, CPC, que permite a concessão de medida liminar, nas ações possessórias
coletivas, desde que realizada previamente uma audiência de conciliação.
Nas ações possessórias que tramitem pelo procedimento especial (de força nova), é
admitido cumulação de pedidos (art. 555, CPC) e, ainda, que seja imposta medida para evitar
19
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito das Coisas | Prof. Maitê Damé
nova turbação ou esbulho ou cumprir a tutela provisória ou final (podendo ser requerida multa,
portanto):
Nas ações possessórias não se permite propor ação de reconhecimento de domínio, salvo
contra terceira pessoa (art. 557, CPC). Se o réu provar a falta de idoneidade financeira do autor
para eventual sucumbência ou responsabilidade pelos danos, nos casos de manutenção ou
reintegração de posse, o juiz lhe concederá prazo de 5 dias para prestar caução, sob pena de
depósito da coisa litigiosa, ressalvada a impossibilidade da parte hipossuficiente (art. 559, CPC).
Ainda, importante é a possibilidade prevista no art. 1.210, § 1º, CC, que permite a legítima
defesa da posse e o desforço imediato, como formas de autotutela ou autodefesa. Quando
13
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 80. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.
20
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito das Coisas | Prof. Maitê Damé
houver ameaça ou turbação viável a legítima defesa da posse. Havendo esbulho, cabe o
desforço imediato. Para que esses institutos possam ser utilizados, deve-se ter uma defesa
imediata, que o possuidor, ao agir, deve fazer dentro do limite do indispensável para
retomar/recuperar sua posse, evitando-se qualquer tipo de abuso. São considerados como
parâmetro o fim social e econômico, a boa fé objetiva e os bons costumes.
Contudo, sendo o caso de judicializar a demanda que discute a posse, o CPC, além das
disposições gerais quanto as ações possessórias, ainda apresenta disposições específicas para
cada as ações de manutenção e reintegração de posse e interdito proibitório.
Ações possessórias
Além das três típicas ações possessórias: manutenção e reintegração de posse e interdito
proibitório, existem outras formas de proteção da posse, o que será discutido neste item.
Reintegração de posse
A ação de reintegração de posse tem lugar quando a posse de alguém for esbulhada, ou
seja, quando de forma violenta, precária ou clandestina alguém retira a posse de outrem.
Os arts. 560 a 566, CPC fundamentam a ação de manutenção e reintegração de posse
para as ações de posse nova, ou seja, com menos de ano e dia. As ações de posse velha, com
mais de ano e dia, devem ser propostas pelo procedimento comum.
Segundo o art. 561, CPC o autor, na inicial, deve provar sua posse, o esbulho ou turbação
praticados, bem como a data em que ocorreu e a perda ou continuação da posse, embora
turbada. Recebendo a inicial e estando devidamente instruída, o juiz deferirá a liminar de
manutenção ou reintegração de posse independentemente da oitiva do réu. Não havendo a
devida instrução, o réu será citado para a audiência de justificação da posse, onde o autor deverá
prove/justifique a alegação de turbação ou esbulho (art. 562, CPC) e, considerando suficiente,
expedirá o mandado de manutenção ou reintegração (art. 563, CPC). Contra as pessoas jurídicas
de direito público não serão deferidas as liminares de reintegração e manutenção sem prévia
audiência.
21
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito das Coisas | Prof. Maitê Damé
Manutenção de posse
A ação de manutenção de posse tem lugar quando a posse de alguém for turbada, ou seja,
quando há um incômodo da posse. Significa que o possuidor segue exercendo a posse, mas
alguém está lhe importunando, incomodando no exercício desta posse.
Em termos de procedimento, devem ser analisados, tanto os arts. 560 a 566, CPC, os quais
fundamentam tanto a ação de manutenção, quanto a de reintegração de posse, para as ações
de posse nova (neste sentido, observar o que foi descrito no item relativo a reintegração de
posse). Além destas disposições específicas, devem ser observadas as disposições gerais sobre
as ações possessórias, previstas nos arts. 554 a 559, CPC.
Interdito proibitório
A nunciação de obra nova, apesar de não prevista no CPC/2015 é uma ação que visa
impedir a continuação de obras no terreno vizinho que prejudiquem o possuidor ou proprietário
de uma coisa. Ex.: vizinho que inicia a construção de um muro fora do lugar, invadindo o terreno
alheio em alguns metros.
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito das Coisas | Prof. Maitê Damé
A ação de dano infecto visa prevenir que o vizinho que está demolindo seu prédio ou em
que haja um vício de construção, cause prejuízo ao autor. Visa uma espécie de caução por
eventuais danos futuros. Pouco usada na prática.
Segue o procedimento comum.
Embargos de terceiro
A ação de imissão de posse deve ser manejada por aquele que pretenda ingressar na
posse de um bem que nunca teve. Trata-se de uma ação petitória e não possessória.
Geralmente, decorre do direito de propriedade. Ex.: alguém que adquire em uma alienação
judicial um imóvel e não consegue tomar posse.
Ação publiciana
A ação publiciana também é uma ação petitória, que se fundamenta no domínio. Também
segue procedimento comum do CPC.
Perda da posse
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito das Coisas | Prof. Maitê Damé
A perda da posse ocorre quando alguém deixa de agir como se dono/proprietário fosse.
Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor,
o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196.
Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho,
quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la,
é violentamente repelido.
A perda pode ocorrer de várias formas, mas quatro delas são as principais: derrelicção, ou
abandono voluntário da coisa; tradição, que é quando há a transmissão voluntária da posse a
terceiro; esbulho, que é quando a posse é tomada/subtraída do seu possuidor, contra sua
vontade; destruição da coisa, ou seja, quando a coisa deixa de existir.
VII - o direito do
promitente
VI - a habitação; VIII - o penhor; IX - a hipoteca; X - a anticrese.
comprador do
imóvel;
XI - a concessão
XII - a concessão
de uso especial
de direito real de XIII - a laje.
para fins de
uso; e
moradia;
14
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Curso Completo de Direito Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 792.
24
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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III. Propriedade
Propriedade – conceito
O direito de propriedade é um direito real que determina que uma coisa fica submetida a
vontade de uma pessoa, limitada pela lei e pela função social ou cláusulas derivadas da vontade
impostas sobre a coisa. Seu conceito está mais direcionado aos atributos do direito de
propriedade do que, propriamente, a uma definição. Este direito consiste em poder usar, gozar
e dispor do bem, podendo, também, reaver contra aquele que injustamente detenha ou possua.
Apenas para ilustrar, dos vários conceitos apresentados pela doutrina, Tartuce 15 entende que a
propriedade é
15
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 133. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito das Coisas | Prof. Maitê Damé
Como visto o direito de propriedade é direito fundamental, inscrito no art. 5.º, XXII, da CF
que pode ser oponível contra todos os membros da sociedade (direito erga omnes). Deve atender
a uma função social, em benefício da coletividade. Por fim, seu conceito/definição está
diretamente ligado aos atributos ou faculdades relativas à propriedade: usar, gozar, dispor e
reaver (art. 1.228, CC), sendo, portanto, um direito exclusivo do titular e complexo.
16
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 135. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.
17
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 136. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito das Coisas | Prof. Maitê Damé
A ação reivindicatória é, pois, uma ação real, que visa a restituição da coisa, provando-se
que o proprietário tinha a posse e injustamente a perdeu. Esta ação segue o procedimento
comum.
Estes quatro atributos da propriedade: Gozar, Reivindicar, Usar e Dispor, são resumidos na
expressão GRUD. Se uma pessoa tiver todos estes atributos terá a propriedade plena. Contudo,
faltando algum deles ou, caso esses atributos sejam divididos entre duas ou mais pessoas,
haverá a propriedade restrita.
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de
reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades
econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o
estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e
o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
§ 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou
utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.
§ 3º O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por
necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso
de perigo público iminente.
§ 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir
em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de
considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou
separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico
relevante.
27
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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EM SÍNTESE:
Em outras palavras, a propriedade deve servir para que a sociedade se mantenha
saudável, para que as pessoas tenham acesso aos bens de que necessitam e para que a
economia seja impulsionada, gerando empregos e renda. Em termos específicos, será
necessário analisar cada bem, para então descobrir qual é a sua função social.
Assim, ao mesmo tempo em que uma fazenda de 1000 hectares pode se prestar para o
cultivo de lavouras de soja, consorciada com a criação de gado, estando, com isto, cumprindo
com sua função social; uma mesma fazenda de 1000 hectares pode encontrar-se abandonada,
com sua casa em ruínas e tomada pelo mato, de forma a não cumprir com sua função social. Em
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito das Coisas | Prof. Maitê Damé
termos do § 2.º, poderia ser usado como exemplo a demolição de um casarão histórico
devidamente tombado. Este ato traz prejuízos a sociedade. Tartuce 18 ainda apresenta um
exemplo, tratando do § 2.º, onde um proprietário de apartamento faz festas em seu imóvel todas
as noites, e o excesso de barulho prejudica aos vizinhos. Esta situação envolve uma
responsabilidade civil objetiva.
O § 3.º do art. 1.228, CC trata das sanções pela inobservância da função social da
propriedade, através da desapropriação da coisa por necessidade ou utilidade pública ou
interesse social e da requisição no caso de perigo. A própria CF prevê no art. 5.º, XXV, a
possibilidade da desapropriação e da requisição de bens particulares.
Os §§ 4.º e 5.º do art. 1.228, CC tratam da chamada desapropriação privada por posse
trabalho, que, na realidade é a possibilidade de desapropriação de imóvel, quando se configurar
em área extensa que esteja sendo ocupada por um considerado número de pessoas, que
exerçam posse ininterrupta e de boa-fé por mais de 5 anos, tendo nela realizado obras e serviços
de interesse social e econômico relevante. Em situações como esta será o imóvel desapropriado,
fixada indenização justa, a ser paga ao proprietário pelos possuidores, que só adquirem a
propriedade com o pagamento e o registro da sentença no Cartório de Registro de Imóveis (ver
julgamento do STJ no caso conhecido como Favela Pullman).
Importante mencionar alguns enunciados das Jornadas de Direito Civil sobre essa temática.
Enunciado 82 - É constitucional a modalidade aquisitiva de propriedade imóvel prevista nos §§ 4º e 5º
do art. 1.228 do novo Código Civil.
Enunciado 83 - Nas ações reivindicatórias propostas pelo Poder Público, não são aplicáveis as
disposições constantes dos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do novo Código Civil.
Enunciado 84 - A defesa fundada no direito de aquisição com base no interesse social (art. 1.228, §§
4º e 5º, do novo Código Civil) deve ser argüida pelos réus da ação reivindicatória, eles próprios
responsáveis pelo pagamento da indenização.
Enunciado 240 - A justa indenização a que alude o § 5º do art. 1.228 não tem como critério valorativo,
necessariamente, a avaliação técnica lastreada no mercado imobiliário, sendo indevidos os juros
compensatórios.
Enunciado 241 - O registro da sentença em ação reivindicatória, que opera a transferência da
propriedade para o nome dos possuidores, com fundamento no interesse social (art. 1.228, § 5º), é
condicionada ao pagamento da respectiva indenização, cujo prazo será fixado pelo juiz.
Enunciado 304 - São aplicáveis as disposições dos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do Código Civil às ações
reivindicatórias relativas a bens públicos dominicais, mantido, parcialmente, o Enunciado 83 da I
Jornada de Direito Civil, no que concerne às demais classificações dos bens públicos.
Enunciado 305 - Tendo em vista as disposições dos §§ 3º e 4º do art. 1.228 do Código Civil, o Ministério
Público tem o poder-dever de atuar nas hipóteses de desapropriação, inclusive a indireta, que encerrem
relevante interesse público, determinado pela natureza dos bens jurídicos envolvidos.
18
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 153. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.
29
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
Direito Civil – Direito das Coisas | Prof. Maitê Damé
Enunciado 306 - A situação descrita no § 4º do art. 1.228 do Código Civil enseja a improcedência do
pedido reivindicatório.
Enunciado 307 - Na desapropriação judicial (art. 1.228, § 4º), poderá o juiz determinar a intervenção
dos órgãos públicos competentes para o licenciamento ambiental e urbanístico.
Enunciado 308 - A justa indenização devida ao proprietário em caso de desapropriação judicial (art.
1.228, § 5º) somente deverá ser suportada pela Administração Pública no contexto das políticas
públicas de reforma urbana ou agrária, em se tratando de possuidores de baixa renda e desde que
tenha havido intervenção daquela nos termos da lei processual. Não sendo os possuidores de baixa
renda, aplica-se a orientação do Enunciado 84 da I Jornada de Direito Civil.
Enunciado 309 - O conceito de posse de boa-fé de que trata o art. 1.201 do Código Civil não se aplica
ao instituto previsto no § 4º do art. 1.228.
Enunciado 310 - Interpreta-se extensivamente a expressão "imóvel reivindicado" (art. 1.228, § 4º),
abrangendo pretensões tanto no juízo petitório quanto no possessório.
Enunciado 496 - O conteúdo do art. 1.228, §§ 4º e 5º, pode ser objeto de ação autônoma, não se
restringindo à defesa em pretensões reivindicatórias.
O art. 1.231, CC diz que se presume ser plena a propriedade, até que seja provada sua
limitação.
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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A propriedade tem características muito próximas das características dos direitos reais. A
propriedade possui características de ser um direito fundamental, constante no art. 5.º, XXII e
XXIII da CF, determinando sua proteção e sua função social. Como qualquer direito real é
oponível contra todos, ou seja, é erga omnes. O proprietário pode usar da coisa conforme seu
interesse, desde que não se oponha ao direito de terceiro e nem viole a lei. Assim, o proprietário
não deve tolerar a intromissão de terceiros em sua propriedade. É um direito exclusivo,
complexo, absoluto e perpétuo. A propriedade é o direito real mais complexo. Embora se fale
em direito absoluto, é certo que a propriedade pode ser relativizada em algumas situações, como
nos casos de desapropriação em razão do não cumprimento da função social. É um direito
exclusivo, pois uma coisa, por regra, pertence a uma pessoa, salvo nos casos de condomínio ou
copropriedade. O direito de propriedade é perpétuo, ou seja, independente do exercício, ou seja,
não sendo extinta pelo não uso, somente quando houver causa modificativa ou extintiva do direito
deixará de existir a propriedade (usucapião, por exemplo).
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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1.3.7 Descoberta
Os arts. 1.233 a 1.237 do CC tratam da descoberta, que nada mais é do que o achado de
uma coisa alheia que esteja perdida.
Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou
legítimo possuidor.
Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se não o
encontrar, entregará a coisa achada à autoridade competente.
Art. 1.234. Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antecedente,
terá direito a uma recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e à
indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e transporte da
coisa, se o dono não preferir abandoná-la.
Parágrafo único. Na determinação do montante da recompensa, considerar-se-á o
esforço desenvolvido pelo descobridor para encontrar o dono, ou o legítimo
possuidor, as possibilidades que teria este de encontrar a coisa e a situação
econômica de ambos.
Art. 1.235. O descobridor responde pelos prejuízos causados ao proprietário ou
possuidor legítimo, quando tiver procedido com dolo.
Art. 1.236. A autoridade competente dará conhecimento da descoberta através da
imprensa e outros meios de informação, somente expedindo editais se o seu valor
os comportar.
Art. 1.237. Decorridos sessenta dias da divulgação da notícia pela imprensa, ou do
edital, não se apresentando quem comprove a propriedade sobre a coisa, será esta
vendida em hasta pública e, deduzidas do preço as despesas, mais a recompensa
do descobridor, pertencerá o remanescente ao Município em cuja circunscrição se
deparou o objeto perdido.
Parágrafo único. Sendo de diminuto valor, poderá o Município abandonar a coisa
em favor de quem a achou.
Assim, quem encontrar, deverá restitui-la ao dono e a não devolução constitui crime de
“apropriação de coisa achada”. Se não souber quem é o dono, deverá entregar à autoridade
competente, que deverá dar conhecimento da descoberta através da imprensa. Se passados 60
dias da publicação da notícia ou do edital não aparecer o proprietário, o bem deverá ser levado
a hasta pública, deduzidos o valor da recompensa e despesas do descobridor e o saldo
pertencerá ao Município onde a coisa foi descoberta. Deve ser observado que aquela máxima
de que “achado não é roubado” não é de todo verdade, pois o descobridor, aquele que encontra
a coisa perdida, não se torna proprietário da coisa, pois lembre-se que o direito de propriedade
não se extingue pelo não uso.
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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Contudo, o descobridor tem direito a receber uma recompensa que não pode ser inferior a
5% o valor da coisa, além do reembolso das despesas para a conservação da coisa e localização
do proprietário. Caso não haja o pagamento, o proprietário pode abandonar a coisa e, neste
caso, o descobridor pode adquirir a propriedade pela ocupação.
O descobridor não tem responsabilidade quanto aos danos sofridos pela coisa, salvo se
proceder com dolo, ou seja, se intencionalmente causar dano, devendo, neste caso, indenizar o
proprietário.
Assim como ocorre na posse, a propriedade pode ser adquirida de forma originária ou de
forma derivada. Tartuce19 apresenta um esquema sobre a aquisição da propriedade no qual é
possível se ter a visualização das formas:
ilhas
aluvião
Acessões avulsão
álveo abandonado
Formas plantações e construções
originárias
Usucapião
Formas de
aquisição a
propriedade
imóvel
Registro do título
Formas
derivadas
Sucessão
hereditária
19
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 190. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020.
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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Formas Originárias
1.3.9 Acessão
Enquanto forma de aquisição originária refere-se ao direito do proprietário sobre tudo o que
for incorporado ao bem, ou seja,
[...] a acessão pode ser conceituada como um modo originário de aquisição do domínio
pelo aumento do volume ou do valor da coisa, de modo que ficará pertencendo ao
proprietário tudo aquilo que a ela aderir ou incorporar, tendo em vista o princípio geral do
direito que “o acessório segue o principal”. Destarte, o dono do principal também será dono
do acessório20.
Para fins do direito civil, as ilhas que se formarem em rios não navegáveis ou particulares,
pertencem ao domínio particular.
20
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Curso Completo de Direito Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 817.
21
DONIZETTI, Elpídio; QUINTELLA, Felipe. Curso Didático de Direito Civil. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 756.
34
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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No caso do inciso II, as ilhas formadas do meio para uma margem, pertencerão aos
proprietários daquela margem, proporcionalmente a sua testada, conforme esboço abaixo:
22
DONIZETTI, Elpídio; QUINTELLA, Felipe. Curso Didático de Direito Civil. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 758-
759.
35
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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Por fim, no caso do inciso III, as ilhas que se formarem em razão de um “novo braço do rio”
continuam a pertencer aos proprietários dos terrenos da margem em que se constituíram,
conforme representação:
1.3.11 Aluvião
Aluvião são acréscimos formados por depósitos e aterros naturais de forma quase
imperceptível.
Estes acréscimos formam-se em razão do desvio natural do leito de rios ou por depósito de
sedimentos e adere a propriedade do terreno em que houve o acréscimo, sem que haja o dever
de indenização por parte deste proprietário.
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1.3.12 Avulsão
Art. 1.251. Quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de
um prédio e se juntar a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo,
se indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém
houver reclamado.
Parágrafo único. Recusando-se ao pagamento de indenização, o dono do prédio a que se
juntou a porção de terra deverá aquiescer a que se remova a parte acrescida.
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2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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Álveo abandonado ocorre quando um curso d’água muda seu curso, de forma natural.
Assim, o curso anterior (álveo) acaba sendo abandonado.
Plantações e construções
Como regra geral, a respeito das plantações e construções, que são bens móveis que
acedem ao imóvel por conduta humana, o art. 1.253, CC estabelece que elas se presumam feitas
pelo proprietário do terreno e a sua custa, salvo prova em contrário.
38
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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Art. 1.253. Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo
proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário.
Art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes, plantas
ou materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor,
além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé.
Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do
proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a
indenização.
Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do
terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo,
mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo.
Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as sementes,
plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões.
Parágrafo único. Presume-se má-fé no proprietário, quando o trabalho de construção, ou
lavoura, se fez em sua presença e sem impugnação sua.
Art. 1.257. O disposto no artigo antecedente aplica-se ao caso de não pertencerem as
sementes, plantas ou materiais a quem de boa-fé os empregou em solo alheio.
Parágrafo único. O proprietário das sementes, plantas ou materiais poderá cobrar do
proprietário do solo a indenização devida, quando não puder havê-la do plantador ou
construtor.
Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em
proporção não superior à vigésima parte deste, adquire o construtor de boa-fé a
propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte, e
responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a
desvalorização da área remanescente.
Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o
construtor de má-fé adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção
à vigésima parte deste e o valor da construção exceder consideravelmente o dessa parte
e não se puder demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a construção.
Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima
parte deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e
danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida
e o da desvalorização da área remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o que
nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro.
Plantações e construções sempre acedem ao solo, ou seja, são bens acessórias, que não
vivem sem o principal. Desta forma, o art. 1.254, CC, estabelece que aquele que planta ou
constrói em terreno próprio, com materiais ou sementes alheias, tem o dever de indenizar o dono
pelo seu valor, sem prejuízo de eventuais perdas e danos, no caso de ter agido de má-fé.
O art. 1.255, CC determina que aquele que usar suas sementes e materiais na plantação
ou construção em terreno alheio, perde estes para o proprietário do solo, podendo receber
indenização pelo valor respectivo se tiver agido de boa-fé. Ademais, se a plantação ou a
construção exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que plantou ou construiu
adquire a propriedade do solo, devendo indenizar o proprietário pelo valor ajustado ou, caso não
haja acordo, pelo valor fixado judicialmente.
O art. 1.256, CC determina que se ambas as partes (aquele que planta ou edifica em terreno
alheio e, também, o proprietário do solo) estiverem de má-fé, o proprietário do solo adquire a
39
2ª Fase Civil 35º Exame de Ordem
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propriedade das acessões, mas deverá ressarcir o valor das mesmas. Considera-se de má-fé o
proprietário quando a atuação se deu em sua presença e sem impugnação.
Quando a construção invade o prédio vizinho em porção igual ou inferior a vigésima parte
deste, o art. 1.258, CC, prevê duas situações. Quando a construção for feita por o construtor de
boa-fé, este adquire a propriedade do solo invadido quando o valor da construção exceder o
valor do solo, devendo indenizar o valor da área e a desvalorização a remanescente. Ex.: Terreno
invadido que vale R$200.000,00; construção que vale R$50.000,00 e não ultrapassa a vigésima
parte do terreno invadido (10.000,00). Neste caso, deverá indenizar em R$10.000,00 e pela
desvalorização da área remanescente.
Neste mesmo caso, se o construtor estiver de má-fé e a construção ultrapassar
consideravelmente o valor da fração invadida, adquirirá a propriedade se pagar 10 vezes o valor
da área perdida e da desvalorização e, ainda, não for possível demolir a porção invasora sem
grave prejuízo para a construção. Ex.: Terreno invadido que vale R$200.000,00; construção que
vale R$500.000,00 e não ultrapassa a vigésima parte do terreno invadido (10.000,00). Neste
caso, deverá indenizar em R$10.000,00 + desvalorização da área remanescente = total x 10.
Quando a construção invade o prédio vizinho em porção superior a vigésima parte.
Também, neste caso, há a previsão de boa-fé e má-fé. Se o construtor age de boa-fé, ele adquire
a propriedade da porção invadida e indenizará o proprietário do terreno invadido em quantia que
corresponda a valorização que a construção terá pela invasão + indenização pelo valor da porção
invadida + desvalorização da área remanescente. Ex.: Terreno invadido que vale R$200.000,00.
Invasão foi de 50% do terreno (100.000,00). A área remanescente passou a valer (80.000,00),
tendo havido desvalorização da área remanescente de R$20.000,00. Construção que invadiu
valorizou R$80.000,00 a mais. Assim, o valor a ser pago é: 80.000 (valorização da construção)
+ 100.000 (área invadida) + 20.000 (desvalorização da área invadida) = 200.000. Se o construtor
estiver de má-fé, deverá demolir o que construiu e pagar perdas e danos em dobro.
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Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir
como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-
fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de
título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o
possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado
obras ou serviços de caráter produtivo.
23
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Curso Completo de Direito Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 820.
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Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver
sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo
cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem
estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e
econômico.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o
possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado
obras ou serviços de caráter produtivo.
Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua
como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural
não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua
família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
Esta modalidade de usucapião também é conhecida como usucapião constitucional, por ter
previsão no art. 191 da CF ou, ainda, de usucapião pro labore, por exigir produtividade.
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Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta
metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a
para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja
proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à
mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§2º O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao mesmo
possuidor mais de uma vez.
Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem
oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m²
(duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge
ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua
família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro
imóvel urbano ou rural. (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011)
§1º O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de
uma vez.
Introduzido no CC pela lei que institui o programa Minha Casa Minha Vida.
Requisitos: posse ad usucapionem exercida de forma direta; lapso temporal incontestado
e ininterrupto de 2 anos; área urbana de até 250m², usada para moradia (posse direta); do qual
o usucapiente seja proprietário em conjunto com ex-cônjuge ou companheiro que tenha
abandonado o lar; não ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
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Art. 10. Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco
anos e cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos
e cinquenta metros quadrados por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos
coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel
urbano ou rural. (Redação dada pela lei nº 13.465, de 2017)
§1º O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo,
acrescentar sua posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas.
§2º A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz,
mediante sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro de
imóveis.
§3º Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor,
independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de
acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo frações ideais diferenciadas.
§4º O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção,
salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos,
no caso de execução de urbanização posterior à constituição do condomínio.
§5º As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão
tomadas por maioria de votos dos condôminos presentes, obrigando também os
demais, discordantes ou ausentes.
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Daí deriva a máxima de que “quem não registra não é dono”, pois somente o registro do
título translativo é que a propriedade será adquirida. Enquanto não houver o registro, o imóvel
continua em nome do alienante e, caso ele, agindo de má-fé, aliene o imóvel a outra pessoa e
esta leve o título ao registro, esta adquirirá a propriedade e, o primeiro adquirente apenas poderá
demandar a responsabilização civil do alienante.
Segundo o art. 1.784, CC, no exato instante da morte do proprietário, seus bens, sua
herança, transmite-se aos herdeiros. Esta transmissão ocorre como um todo, unitário e indivisível
(art. 1.791, CC), e há a necessidade de realização da partilha da herança entre os herdeiros e o
registro dos formais de partilha para que se efetive a transmissão da propriedade no Registro de
Imóveis e reste regularizada a propriedade. Contudo, desde a morte do autor da herança, seus
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bens já são de propriedade dos sucessores (embora não tenha havido, ainda, a individualização
dos bens ou quotas parte).
A aquisição da propriedade móvel pode se dar, assim como da propriedade imóvel, por
aquisição originária e derivada. São formas de aquisição da propriedade móvel: usucapião,
ocupação, achado de tesouro, tradição, especificação, confusão, comissão (comistão) e
adjunção.
Os bens móveis também são sujeitos a aquisição originária através da usucapião. Existem
duas formas de usucapião: ordinária e extraordinária.
Art. 1.260. Aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e incontestadamente
durante três anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a propriedade.
Art. 1.261. Se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos, produzirá
usucapião, independentemente de título ou boa-fé.
Art. 1.262. Aplica-se à usucapião das coisas móveis o disposto nos arts. 1.243 e
1.244.
Usucapião ordinária.
Usucapião extraordinária.
1.4.4 Ocupação
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Art. 1.263. Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire a
propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei.
É quando alguém toma para si coisa que não tem dono, adquirindo, assim, sua propriedade.
Tanto pode ser objeto da ocupação uma coisa sem dono, como, também, uma coisa
abandonada. O requisito mais importante desta forma aquisitiva é a “coisa sem dono”. Ex.:
alguém que pesca um peixe no rio, adquire-lhe a propriedade.
Havendo dono, é coisa perdida. Ex.: alguém que encontra um livro e pega para si. Neste
caso, alguém esqueceu ou perdeu.
Se a coisa é sem dono, há justo título. Se a coisa é perdida ou esquecida (tem dono), não
há justo título (achado de coisa perdida = descoberta – art. 1.233, CC).
Art. 1.264. O depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não haja
memória, será dividido por igual entre o proprietário do prédio e o que achar o
tesouro casualmente.
Art. 1.265. O tesouro pertencerá por inteiro ao proprietário do prédio, se for achado
por ele, ou em pesquisa que ordenou, ou por terceiro não autorizado.
Art. 1.266. Achando-se em terreno aforado, o tesouro será dividido por igual entre o
descobridor e o enfiteuta, ou será deste por inteiro quando ele mesmo seja o
descobridor.
Aquele que achar coisas de valor, preciosas, tesouros, que estejam ocultas e que não se
sabe ou não se tem memória de quem seja seu dono, adquire metade dos bens, pois a outra
metade é do proprietário do prédio onde o tesouro foi encontrado. Ex.: um pedreiro que está
demolindo uma parede e encontra uma pepita de ouro no meio dos tijolos.
Se o próprio proprietário do terreno ou prédio encontrar o tesouro (ou alguém a seu mando),
adquirirá a propriedade de todo o achado.
Por fim, o art. 1.266, CC regula o achado em terreno aforado. O aforamento refere-se a
enfiteuse, instituto que passou a ser proibido pelo CC/2002. Contudo, ainda existem enfiteuses
de Marinha, em terras na costa brasileira. Nestas situações há a divisão em domínio direto e
domínio útil. O domínio direito fica nas mãos do proprietário das terras e o domínio útil nas mãos
do enfiteuta. Este último poderá usar, fruir, dispor e reivindicar o bem, pagando um foro ou
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laudêmio. O tesouro será dividido por igual entre o descobridor e o enfiteuta ou integralmente
deste último se ele for o descobridor.
Ocorre especificação quando alguém, por seu trabalho, altera a coisa, transformando-a em
outra. Ex.: artista que transforma mármore em obra de arte.
Assim, se a matéria-prima (mármore) pertence ao artista (chamado de especificador), a
obra de arte (escultura) por ele desenvolvida lhe pertence.
A questão é saber quando a matéria-prima não pertence total ou parcialmente ao
especificador.
O art. 1269 estabelece que se a matéria-prima pertence parcialmente a terceiro, o
especificador adquire a propriedade.
Se a matéria-prima for totalmente alheia, o art. 1270 determina que o especificador de
boa-fé adquire a propriedade da espécie nova, desde que não possa desfazê-la, reconstituindo
a matéria ao estado anterior. Se for possível desfazer, o dono da matéria a reaverá. Não sendo
possível e tendo o especificador agido de má-fé, o dono da matéria adquire a propriedade da
espécie nova. Contudo, se o valor da espécie nova ultrapassar consideravelmente o valor da
matéria-prima, o especificador adquire a propriedade.
O proprietário da matéria-prima tem direito a ser indenizado pelos prejuízos sofridos.
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DONIZETTI, Elpídio; QUINTELLA, Felipe. Curso Didático de Direito Civil. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 771.
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1.4.8 Da tradição
Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes
da tradição.
Parágrafo único. Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a
possuir pelo constituto possessório; quando cede ao adquirente o direito à
restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente
já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico.
Art. 1.268. Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena a propriedade,
exceto se a coisa, oferecida ao público, em leilão ou estabelecimento comercial, for
transferida em circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer
pessoa, o alienante se afigurar dono.
§1º Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a propriedade,
considera-se realizada a transferência desde o momento em que ocorreu a tradição.
§2º Não transfere a propriedade a tradição, quando tiver por título um negócio
jurídico nulo.
A propriedade de coisas móveis transfere-se pela tradição/entrega da coisa, que pode ser
real (entrega da própria coisa), simbólica (entrega de algo que simbolize a coisa) ou ficta (que se
dá por presunção, por possuir a coisa em nome alheio e passar a pertencer em nome próprio).
Quanto ao art. 1267, Tartuce25 afirma que entende-se por tradição:
O art. 1268 determina que a tradição feita por terceiro que detém a coisa, mas não é
proprietário, não aliena a propriedade (traditio a non domino). Seria ineficaz tal alienação (terceiro
25
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 4. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 279. E-book.
Disponível em: https://grupogen.vitalsource.com/#/books/9788530989354/cfi/6/10!/4/8/2@0:0. Acesso em 16 out.
2020
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degrau da escala ponteana). Existe a exceção, prevista na parte final do caput, que se refere as
situações em que a coisa é ofertada em leilão, aparentando que o alienante seja o dono.
Como a herança é transmitida como um todo unitário e indivisível, desde o óbito, não
importando se trata-se de bens móveis ou imóveis, deve-se considerar que a sucessão
hereditária é forma de aquisição derivada de bens móveis.
Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade:
I - por alienação;
II - pela renúncia;
III - por abandono;
IV - por perecimento da coisa;
V - por desapropriação.
Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e II, os efeitos da perda da propriedade
imóvel serão subordinados ao registro do título transmissivo ou do ato renunciativo
no Registro de Imóveis.
Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não
mais o conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem,
poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade
do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas respectivas circunscrições.
§1º O imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá
ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade da União,
onde quer que ele se localize.
§2º Presumir-se-á de modo absoluto a intenção a que se refere este artigo, quando,
cessados os atos de posse, deixar o proprietário de satisfazer os ônus fiscais.
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1.4.11 Alienação
Por esta forma, ao mesmo tempo em que a propriedade é adquirida (por aquisição
derivada) por aquele que “compra”, é perdida por aquele que “vende”. Ex.: contrato de compra e
venda; troca/permuta; doação.
No caso de imóveis, há a necessidade de registro no Cartório de Registro de Imóveis para
efetivar a transmissão e, no caso de móveis, há a necessidade da tradição.
1.4.12 Renúncia
Ocorre quando o proprietário abre mão do seu direito. Ex.: renúncia da herança – art. 1804
e seguintes do CC. Para a eficácia da renúncia de bem imóveis, há que se ter o registro do título
renunciativo.
1.4.13Abandono
Ocorre quando o dono abandona a coisa, deixa ela com a intenção de não tê-la mais para
si. Também chamada de derrelicção, ou seja, ato praticado com a intenção de perder a
propriedade. A propriedade originária da coisa abandonada pode ser adquirida por ocupação
(móveis) ou por usucapião (móveis ou imóveis).
O art. 1276, § 2.º, CC estabelece, quanto aos bens imóveis, que haverá presunção do
abandono quando o proprietário, além da derrelicção, parar de pagar os impostos referentes ao
imóvel.
Ocorre quando a coisa, o bem, é perdido, ou seja, quando algum fenômeno excluir o objeto
do direito de propriedade do mundo fático. Ex.: uma casa que é demolida; um quadro que pega
fogo; o colar da Rose, jogado em alto mar em Titanic. Os direitos de propriedade sobre esses
bens são perdidos.
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1.4.15 Desapropriação
Ocorre quando o poder público, por necessidade, finalidade púbica ou interesse social
adquire a propriedade através do pagamento de justa e prévia indenização. A desapropriação é
revista no art. 5.º, XXIV, da CF. A desapropriação independe da vontade do proprietário,
podendo, apenas, discutir o valor da indenização.
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