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Dimensao Antropologica

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Porto Amboim*** Material de Apoio de Filosofia do professor e aluno

FILOSOFIA

11ª Classe
2.º CICLO DO ENSINO SECUNDÁRIO GERAL

ANO LECTIVO - 2022/2023

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Porto Amboim*** Material de Apoio de Filosofia do professor e aluno

UNIDADE#2: DIMENSÃO ANTROPOLÓGICA

CULTURAL E ÉTICA DO HOMEM

1. DIMENSÃO ANTROPOLÓGICA, CULTURAL E ÉTICA DO


HOMEM

Falar da dimensão antropológica, cultural e ética do homem implica


partir do conceito de cada dimensão. Pois, o homem é um conjunto de
complexibilidade e tendências.
A dimensão antropológica do homem subscreve-se desde o ser do
homem. Aliás, antropologia, etimologicamente, é o tratado sobre o homem;
No sentido restrito é o estudo sistemático do homem e a sua obra.
O termo antropologia é muito denso de sentido, e por isso mesmo
plurissémico. Ou seja, não corresponde a uma simples ciência, mas ao
conjunto de todas as ciências referente ao homem considerado individual e
coletivamente. A antropologia é pois uma enciclopédia de tudo quanto
diretamente diz respeito ao homem e a sua humanidade.
Esta enciclopédia, estuda-o desde Perspectiva diferentes;
desdobrando-se no próprio estudo sobre o homem (antropologia), no seu
modus vivendi (cultura), no seu comportamento (ética), etc.
Quanto a dimensão cultural do homem, importa destacar o carácter
ontogenético inacabado do homem que carece de uma completude; isto é, o
homem é um ser mutilado que luta para a sua auto superação aprendendo
e criando continuamente até firmar-se na existência, desde os pressupostos
da sua cultura. A exemplo disto, temos a necessidade do homem em
aprender a comer, assentar-se, a andar, a falar, em suma até os mais
simples gestos. Daqui depreendemos que uma das diferenças entre o
homem e outros animais “cultura”, pois ela engloba o universo de
aprendizagem, desde simples fazer, até do pensar, do que tange a esfera
do existir humano.
Etimologicamente o termo cultura, vem do latim (colo, is, ere, ui, tum)
significa o cultivo dos campos. Com o filosofo Cícero passou a designar não
só a atividade campestre, mas e, sobretudo o cultivo do espírito. É de notar
que os autores só farão o termo cultura, como formação do espírito a partir

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do século XVIII, entendendo a cultivo progresso intelectual de uma pessoa


ou ainda o trabalho necessário a este processo.
Taylor, define a cultura como sendo um conjunto complexo que inclui
conhecimento, crença, arte, moral, lei, costumes e outras várias aptidões e
hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.
Quando a ética; podemos notar que o termo é de origem grego “êthos”
cujo significado é costume. No tratado sobre o bonus, iustus e o virtus,
existe a ética como substantivo e ética como adjetivo. A ética como
substantivo indica um saber que é parte da filosofia que se relança aos atos
morais, atos humanos considerando-os desde o ponto de vista, “o bom, o
justo e o virtuoso”; e como adjetivo expressa uma qualidade da pessoa
relacionada com a sua responsabilidade.
Numa síntese da dimensão antropológica, cultural e ética do homem
podemos considerar a presença de cada dimensão está contida na outra ou
seja há uma relação intrínseca, pois como podes notar não podemos
estudar o homem fora do seu contexto cultural, do mesmo modo que não
podemos falar da cultura sem admitirmos a existência do homem, sendo
dele o elemento fulcral da cultura, agente e criador da cultura; isto porque,
“toda a cultura é uma cultura da vida, num duplo sentido em que a vida
constitui a voz do sujeito desta cultura e seu objeto. É uma ação que a vida
exerce sobre si mesma e pelo que se transforma a si mesma, enquanto que
é ela mesma (a cultura) é a que transforma (a vida do homem) e o que é
transformado”10 assim como também, da ética como elemento valorativo
da cultura e do homem; toda a cultura tem a sua base numa ética que a
fundamenta (o valor de ser da cultura) e todo homem seguia a partir da
mesma ética cultural, e ao mesmo tempo é este homem que dita os
critérios de valor.

1.1. NATUREZA E ESSENCIA DO HOMEM

O homem é por natureza um ser que diz “eu “um ser pensante; e é
desde o pensar que se distingue de outros seres. Quer isto, que a essência
do homem é pensar a pensar-se, isto é antropocentrismo. É bem
verdade que o homem não só pensa-se em si, também pensa fora de si.

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O homem desde a sua essência sente-se insignificante no meio dos


infinitos, por saber o que é, e por ter a consciência do seu futuro (isto é,
porque pensa). É miserável se conhecer como miserável, mas é
grande conhecer que se é miserável, esta é a grandeza do homem
que consiste no seu novo modo de pensar. Este pensar (a essência do
homem) é que o ajuda a averiguar as coisas, não como podem ser, mas
como devem ser, isto é, a ação criadora e recriadora.

2. A PESSOA HUMANA

Quando falamos dos critérios morais estamos a nos referir aos


verdadeiros valores éticos da pessoa humana. Toda vida humana tem o seu
valor em si mesmo, por isso não podemos fazer da vida o que queremos. O
problema está em determinar quando é que aparece esta vida. A vida
humana participa do ministério da pessoa.
Todas as ações que se impõe a vida humana, como toda a espécie de
homicídio, genocídio, suicídio voluntário, aborto e eutanásia; tudo o que
viola a integridade da pessoa humana, como mutilações, os tormentos
corporais; tudo quanto ofende a dignidade da pessoa humana, como
condições infra-humanas, as prisões que não têm fundamento na lei, a
escravidão, o nudismo, a prostituição e também as condições degradantes
de trabalho em que muitos são submetidos são atentados contra a
dignidade da pessoa humana.
A noção de pessoa humana é ambígua, uma vez que tanto se refere, a
condição existencial de qualquer homem como a uma potência carecida de
atualização. Esta ambiguidade é resolvida se considerarmos “pessoa” como
um conceito normativo: cada homem é uma pessoa e deve ser tratado
como tal, mesmo quando não se encontre em condições de atualizar todas
as potencialidades supostas pelo conceito. Neste caso, o único problema é
de saber quando estamos perante uma pessoa humana. Por outro lado se
tomarmos um conceito descritivo, tal noção suscitara desde logo, o
problema de saber se os embriões, as crianças de tenra idade, os loucos e
os doentes mentais profundos podem ser considerados como pessoas. Em
sentido afirmativo pode argumentar-se, em primeiro lugar, que neles já se
encontram as mesmas condições de vida e individualidade que

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permitem dizer que alguém é uma pessoa. Neste sentido, porém a


pessoa não ultrapassa o indivíduo. Depois, pode dizer-se que possuem em
potência vida espiritual semelhante à das outras pessoas, apenas se
encontrando afastados dela por razões de imaturidade, de formação ou
qualquer outro impedimento não constitutivo do seu ser. Ora só a mesma
----a pessoa----pode transitar da potência ao ato e não a sua
individualidade.
Ser uma pessoa na própria noção de pessoa humana implica três
aspectos ou dimensões: a corporal, em torno do corpo vivo; a individual,
do sujeito idêntico a si mesmo e a comunicativa, do sujeito aberto ao que
está fora de si.
A esta distinção pode corresponder uma distribuição de bens e até de
direitos: bens automáticos como: a vida, a saúde, a força, a energia e a
beleza; bens psíquicos, como a consciência de si, as cognições básicas, as
várias “identidades” e tudo o que for necessário para a formação da
personalidade; bens éticos, como a liberdade, a igualdade, o amor, a
lealdade, as várias formas de participação na comunidade e outros bens a
que, por regra, correspondem as virtudes sociais. De fora ficam
apenas os bens externos, susceptíveis de posse ou propriedade.
A pessoa é o ser humano na integralidade das suas dimensões. Mais
do que uma corpo vivo, servido pelas informações do genoma, do sistema
neuroendócrino e do comportamento biológico, mas também, mais do que
um indivíduo, o que supõe, além do organismo, a consciência de si, a
intencionalidade e a inteligência deliberativa e emocional, o direito tende a
considerar a pessoa humana como sujeito ético. Se encarece a pessoa
apenas como corpo bastar-lhe-ia garantir, por assim dizer, os valores
somáticos: transmissão dos genes, sobrevivência da espécie, nutrição,
resistência as doenças, adaptação funcional dos comportamentos, sem
descurar até práticas como eugenia, a eutanásia, o suicídio e o aborto em
relação aos organismos menos aptos ou menos viáveis. Se encarasse a
pessoa humana essencialmente como indivíduo, garantiria, por sua vez,
apenas os valores correspondentes: a identidade pessoal, a maximização
dos interesses de cada um, a capacidade de ação, a expressão das emoções
e a obtenção de bem-estar, desinteressando-se de problemas como o da
proteção dos mais fracos ou do estabelecimento da confiança nas relações

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entre as pessoas. Enquanto indivíduo, a pessoa humana reconhece-se, de


facto, como um sujeito idêntico a si mesmo capaz de opor a sua ação a
natureza e a sociedade. Apenas pela força ou por contrato verá reduzida a
sua esfera potencial de ação, não admitindo, porém, o instinto, o hábito ou
adaptação funcional como fontes de obrigação social.
Para a pessoa humana a afirmação da autoridade será sempre
problemática. Em contrapartida, enquanto pessoa, o homem solicitado pela
experiência de comunicação de espírito a espírito, com a sua promessa de
afirmação e cultura de valores comuns e a sua atitude de permanente
abertura ao mundo e aos outros (ser-com), sem perder com isso a sua
individualidade. Ser a uma requer, portanto, não apenas a autonomia moral
---- com a distinção entre bem e mal, o óptimo e o satisfatório, e entre o
menor e o pior de males, agindo cada um em conformidade com estas
valorizações ----, mas também que o homem seja fonte de valores comuns,
que incessantemente são propostos, cultivados e se degradam das
circunstancias sociais, valores que, por definição, ultrapassam a legítima
defesa que cada um deve poder fazer dos seus interesses, das suas
emoções e da sua capacidade de ação.
Concluímos com o estudo da pessoa humana expondo alguns conceitos
mais aceitáveis sobre a pessoa: Severino Boécio define a pessoa como
“uma substancia individual de natureza racional”; e, para S. Tomás de
Aquino, “a pessoa significa o que há de mais nobre no universo”.
A Filosofia personalista (sec. XX), cujo E. Mounier é o representante,
encontra seis (6) pilares que identificam a pessoa humana: a pessoa é uma
existência incorporada; é transcendência da pessoa com relação a
natureza; é abertura em direção aos outros e ao mundo por meio da
comunicação; é dinamismo, pois a pessoa busca até a morte uma contínua
realização; é vocação específica, pois cada pessoa não pode ser
substituída por ninguém e é liberdade, entendida como “proposta e dom”.

2.1. VÍNCULO ÉTICO DA PESSOA: AMOR, ÓDIO,


INDIFERENÇA E SOFRIMENTO

Todas as culturas elaboraram mitos para justificar as relações sociais.


Na cultura do Ocidente por exemplo, são familiares a figura de Moisés ao

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receber, no monte Sinai, a tábua dos dez mandamentos divinos e o mito de


Prometeu, segundo o qual terá roubado o fogo dos deuses por amor aos
homens que viviam sem fogo mas este veio a ser castigado pelos deuses
devorando-lhe o fígado pelos abutres durante o dia todo e renovando o
mesmo fígado todas as noites. Esta dimensão confere um senso ético de
amor, ódio, indiferença e sofrimento. O vínculo entre moralidade e amor
consolidou-se de tal forma que muitos acreditam que nisso pode haver
moral sem amor ao outro. Segundo esse ponto de vista, a ética se torna
alterada.
Pós o amor é o único ponto comum que leva o sujeito para um
“objeto” considerado “bom”. Isto é dar-se, doar-se para o outro. Este amor
é benevolência.
Ao lado do amor encontramos os seus contravalores, ódio, indiferença
e sofrimento isto porque onde há um verdadeiro amor ágape, há ódio,
indiferença e sofrimento de outra parte, exemplo disto temos a figura
evangélica de Jesus Cristo que doou-se pelo amor aos homens, mas apesar
de seu amor não foi acolhido (indiferença), foi perseguido (sofrimento) e
morto crucificado (ódio). Em resumo, a esta realidade dirá S. Francisco de
Assis que neste mundo o amor não é amado.
Portanto, é nesta base que encontramos o vínculo ético da pessoa
entre o amor, ódio, indiferença e sofrimento.

3. O HOMEM COMO PRODUTO DA CULTURA

A cultura é sempre um conjunto complexo, criação do homem, que é


recebida como herança dentro do grupo em que cada pessoa nasce e entra
em contato. A isto dirá Maurice Merleau-Ponty que o homem é uma
mistura de natureza e da cultura, por tanto, fruto não só da
natureza como tal, mas sobretudo da sua cultura.
O homem ao nascer é um ser não cultural que se há- de inculturar, um
ser desprovido de critérios ou padrões ético-cultural. Ao desenvolver-se, ele
mesmo transformar-se-á e, individuo membro de um grupo onde está
inserido, condicionado pelos valores e normas do seu grupo, adquirindo
assim os seus modelos de comportamento. O homem torna-se assim

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produto da cultura onde está inserido que por sua vez vai acrescentar as
suas contribuições tornando-se assim produtor de cultura.

3.1. A CULTURA E O HOMEM

Nos referimos acima que a cultura, é aquilo que é criado pelo homem.
No entanto, a palavra cultura pode também, exprimir a totalidade, ou uma
parte do pensamento e das ações que distinguem uma sociedade de outras.
Assim, podemos dizer que o fator cultural na vida dos povos, é o que de
mais essencial faz perpetuar a sua maneira de ser e de estar no mundo.
Deste modo, podemos afirmar que há uma pluralidade de culturas que com
vivem em diferentes tempos e lugares.
A cultura em si, é aquilo que faz com que o homem seja aquilo que é,
numa sociedade específica e num tempo próprio. Falar de cultura é
essencialmente, falar do homem, das suas faculdades, do seu
desenvolvimento, da sua maneira de ver e entender o cosmos, de
compreender o sobrenatural.
Mas, de certo é que tal ser, possui grande porção de energia que lhe
permite a libertação, percepção e transmissão por intermédio de uma ação
social e cultural. Como o homem não vive sozinho, tal ação é uma interação
por se tratar de uma ação conjugada, de esforços congregados. Por isso se
tem afirmado que o “mundo da sociedade implica cultura, e o homem
é um conjunto uma unidade individualizada na qual se integra.”11.
O homem vive dentro de uma dimensão se sociocultural e a cultura se
compreende dentro de uma sociedade antropológica.
Estes mundos (cultural e antropológico) não se compreendem de
forma separado mas sim articulam-se e se compreendem conjuntamente.
“Só o homem é produtor e portador de cultura não apenas um
ser social, mas também um ser cultural, visto que a cultura, neste
termo, é atributo exclusivo das sociedades humanas e não das
sociedades animais ou vegetais”.12

3.2. O HOMEM PERANTE A SITUAÇÃO LIMITE: MORTE

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O homem é um ser em situação, porque o seu implica um ex-sistire,


um ser lançado a vulnerabilidade. Disto dirá Sartre, perante a
impossibilidade do homem superar-se vê o homem como uma paixão inútil
e que viver é angustia, sofrimento e náuseas. Aqui deparamo-nos com um
pressuposto muito forte do existir, pois só o homem existe, as coisas são;
porque existir é ser lançado ao naufrágio, morte, alheias porque só o
homem morre, as coisas perecem.
Por outras palavras enquanto homem é na sua existência, as coisas
são no seu ser ou no seu não sendo. Existir é viver condicionado pelo drama
do proposito do existir.
No dizer de K. Jaspers, o homem não terá consciência de si mesmo
enquanto não reconhecer em sua volta as “situações limites”, como a luta,
a culpa, o sofrimento e morte.
A situação limite equivale a um momento da existência em que toda
expressão se torna vaga perante o problema. É uma situação para além da
qual já não existe linguagem, isto é, em si para si.
A filosofia cristã perante este em si, colocará “o mistério”, realidade
transcendente ao parente criado. A morte mas plenitude da condição
humana, tal como muito bem expressa o filósofo e teólogo africano S.
Agostinho: “o meu coração não estará em paz enquanto não repousar
em meu Deus”, quer dizer, o que há de mais duro não é a morte mas o
percurso da vida, onde até Jesus em muitos momentos clamou: “Meu Deus!
meu Deus! porque me abandonaste?”; “afaste-se de mim este cálice...”.
Esta é a dureza da vida, e a plenitude do homem surge quando “tudo está
consumado”. Portanto, a morte não é dor mas passagem de uma vida
mundana para uma vida celestial, imaculada e eterna.
Numa outra perspectiva encontramos Schopenhauer, com o seu
pessimismo exagerado, chegará a concluir que a vida, necessariamente
ligada ao sofrimento e a dor, constitui um mal e não merece ser vivida.
Teses como essas, tem merecido muita análise dentro das atitudes
filosóficas perante “a situação limite”. Como já se disse acima, o homem
é um ser enclausurado pela sua existência e perante o grande grama da
vida (morte); só tem três caminhos: ou analcotisar-se para sentir os
efeitos do drama, ou procurar refugiar-se em deuses como uma terapia
psicológica perante o drama, ou enfrentar cara-a-cara o drama, sem

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analcótico, nem deuses. Deste modo consumar-se-á o verdadeiro sentido


de uma vivência autentica de ser homem.
Nietzsche, constituirá o baluarte do problema de um modo mais sério
desembocando no niilismo, isto é, afirmação da Morte de Deus, a base da
moral dos escravos. Para este, o homem deve procurar realizar-se no
super-homem.

4. PROBLEMÁTICA DOS VALORES

Não podemos falar do valor, na perspectiva filosófica, sem fazermos


menção ao seu âmbito geral. A este respeito é imperativo nos remetermos
a axiologia sendo ela a filosofia do valor.
Axiologia, ou teoria do valor, é a abordagem filosófica do valor em
sentido amplo. Sua importância reside principalmente no novo e mais
extenso significado que atribuiu ao termo valor e na unidade que trouxe ao
estudo de questões econômicas, éticas, estéticas e logicas que eram
tradicionalmente consideradas em separado.
É bem verdade que perante vários problemas axiológicos ao longo da
história da filosofia muitas respostas diferentes foram dadas a pergunta “o
que é intrinsicamente bom ou mal?” os hedonistas dizem que é o
prazer; os pragmáticos, a satisfação o crescimento ou a adaptação; os
humanistas, a auto-realização harmoniosa; os cristãos o amor a Deus, etc.
Nietzsche deu estatuto filosófico aos valores, mas foi Max Sheler quem
atuou no campo da pesquisa dos valores, na descrição dos fenômenos ou
das essências puras que ocorrem na consciência.
A humanidade necessita de critérios que a norteiem. Scheler já
anunciava esta ausência de critérios como causa dos conflitos que afligem a
humanidade como um todo, e que apenas o desenvolvimento de valores
potencializaria o desenvolvimento do ser humano em condições individuais
e sociais. Não é possível encontrar o propósito da vida sem esses valores
que estão registados no ser profundo, ainda que adormecidos na mente e
latentes na consciência do indivíduo.

4.1. DEFINIÇÃO DOS VALORES

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Originalmente, o termo valor referia-se principalmente ao valor de


troca, como na obra do economista inglês do século XVIII Adam Smith.
Durante o século XIX, o termo passou a ser empregado em outras áreas do
conhecimento, sob a influência de diversos pensadores e escolas: os
neokantianos Rudolf Lotze e Albrecht Ritscehl; Friedrich Nietzsche, autor de
uma teoria sobre a transposição dos valores; e Eduard Von Hartmann,
filosofo do inconsciente.
Este tema dos valores é um dos temas mais vivos e debatidos, e está
entre aqueles que mais interesse despertam em nosso tempo.
O valor existe, mas não em si, ele pode ser apresentado de forma
positiva ou negativa. Por exemplo: existem coisas que consideramos boas,
outras más, umas úteis, outras prejudiciais; porém nenhuma
absolutamente indiferente.
Quando de uma coisa enunciamos que é boa, má, bela, feia, santa ou
profana, o que é que enunciamos dela? A filosofia contemporânea
emprega muitas vezes a distinção entre juízos de existência e juízos de
valor; é esta uma distinção frequente na filosofia; e assim os juízos de
existência serão aqueles juízos que enunciam de uma coisa aquilo que
essa coisa é, enunciam propriedades, atributos, predicados dessa coisa, que
pertencem ao ser dela, tanto do ponto de vista da existência como este,
como do ponto de vista da essência que a define. Enfrente a estes juízos da
existência, a filosofia contemporânea põe ou contrapõe os juízos de valor.
Os juízos de valor enunciam acerca de uma coisa ou algo que não
acrescente nem tira nada no ser existencial e essencial da coisa. Enunciam
algo que não se confunde nem o ser quanto existência nem com o ser
enquanto essência da coisa. Se dizemos, por exemplo, que uma ação é
justa ou “injusta, o significado por nós do termo justo ou injusto não se
refere a realidade da ação, nem enquanto efetiva e existencial, nem quanto
aos elementos que integram sua essência.
Então daqui podemos tirar-se duas consequências. A primeira
consequência é a seguinte: os valores não são coisas nem elementos
das coisas. E dessa consequência primeira tirou-se esta outra segunda
consequência: dado que os valores não são coisas nem elementos das
coisas, então os valores são impressões subjetivas de agrado ou
desagrado que as coisas nos produzem e que nós projetamos sobre

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as coisa. Recorreu-se então ao mecanismo da projeção sentimental;


recorreu-se ao mecanismo de uma objetivação e se disse: essas impressões
gratas ou ingratas que as coisas nos produzem, nós as tiramos do nosso eu
subjetivo e as projetamos e objetivamos nas mesmas coisas e dizemos que
as mesmas são boas ou más, ou santas ou profanas.13

4.2. CLASSIFICAÇÃO, HIERARQUIA E POLARIDADE DOS


VALORES

Vamos adoptar uma classificação mais aceitável de todas de todas a


classificações dos valores a nível axiológico, que é a classificação de Scheler
no seu livro O formalismo na ética e a ética material dos valores.
Segundo esta classificação, poder-se-iam agrupar os valores nos seguintes
grupos ou classes:

1. Valores uteis; por exemplo, adequado, inadequado,


conveniente, inconveniente.
2. Valores vitais; como, por exemplo, forte, fraco.
3. Valores lógicos; como verdade, falsidade.
4. Valores estéticos; como belo, feio, sublime, ridículo.
5. Valores éticos; como justo, injusto, misericordioso,
desapiedado.
6. Valores religiosos, como santo, profano.

Pois bem; entre essas classes ou grupos de valores existe uma


hierarquia. Que quer dizer esta hierarquia? Quer dizer que os valores
religiosos se afirmam superiores aos valores éticos; que os valores éticos,
afirmam-se superiores aos valores estéticos; que os valores estéticos
afirmam-se superiores aos lógicos, e que estes por sua vez se afirmam
superiores aos vitais, e estes por sua vez superiores aos úteis. E este
afirma-se superior, que quer dizer? Pois quer dizer, se
esquematicamente assinalarmos um ponto com o zero para designar o
ponto de indiferença, os valores, seguindo sua p olaridade, agrupar-se-
iam a direita ou a esquerda deste ponto em valores positivos ou valores
negativos e a maior ou menor distância do zero. Uns valores se afastarão,

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se desviarão pouco do ponto de indiferença, como os valores úteis; estarão


próximos do ponto de indiferença. Outros valores, o grupo seguinte (os
vitais) se afastarão algo mais do ponto de indiferença. Quer dizer, que
postos a escolher entre sacrificar um valor útil ou sacrificar um valor vital,
sacrificaremos com mais gosto o valor útil que o valor vital, por exemplo,
um gesto generoso. Mas estes valores vitais, por sua vez importam-nos
menos que os valores intelectuais. Quer dizer, que os valores intelectuais se
afastam mais do ponto de indiferença e são ainda menos indiferentes que
os valores vitais, e assim sucessivamente.
Se nós tivermos que optar entre salvar a vida de uma criança, que é
uma pessoa, e, portanto, contém valores morais supremos, ou deixar que
se queime um quadro, preferimos que se queime o quadro. Haverá quem
não tenha a intuição dos valores estéticos e então preferirá salvar um livro
de uma biblioteca antes que um quadro. Isto é o que quer dizer a hierarquia
dos valores.
No ápice das hierarquias coloca Scheler os valores religiosos. Que
quer dizer isto? Pois quer dizer que para quem seja cego aos valores
religiosos (coisa que pode acontecer), para quem tenha a intuição dos
valores religiosos estes têm hierarquia superior a todos os demais. Desta
maneira chegamos a última categoria ontológica da esfera dos valores.
Em suma, atendendo a classificação dos valores, a sua hierarquia
explica-se na multiplicidade de valores; pois estes valores múltiplos são
todos eles valores, ou seja, modo do valer, como as coisas são modo de
ser, mas estes modos de valer são modos da não-indiferença. Todo valor
tem seu contra valor. Ao valor conveniente contrapõe-se o valor
inconveniente (contra valor); o bom contrapõe-se mal, a generoso
contrapõe-se mesquinho, a belo contrapõe-se feio; a sublime contrapõe-se
ridículo; o santo contrapõe-se profano. Não há, não pode haver um só valor
que seja só. Neste caso, a polaridade, está fundada e enraizada na essência
mesma do valer, que é a não-indiferença; porque toda não-indiferença pode
sê-lo por afastar-se, positiva ou negativamente, do ponto de indiferença.
Quer dizer “O homem vive, toma parte, cré numa multiplicidade de valores,
hierarquiza-os e dá assim um sentido a sua existência, mediante opções
que ultrapassam insensatamente as fronteiras do seu conhecimento
efetivo”14.

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4.3. OBJECTIVIDADE E SUBJECTIVIDADE DOS VALORES

Importa fazer compreender que o valor moral tem dois aspectos que
são o objetivo e o subjectivo.
No valor objetivo encontramos a ação moral concreta e exteriorizada.
É aqui onde se situa a ética. No objetivo encontramos a boa ou mal vontade
que faz referência a ação humana, exemplo: não gosto de assistir ao
telejornal, ou ainda, gosto de novelas. O específico do valor moral está no
compromisso intencional do sujeito o qual subjectiviza tanto a dimensão a
dimensão subjectiva como a ação subjectiva da moral.
O valor moral faz referência direta e imediata a subjectividade
humana, no modo entender a realidade. Esta subjectividade é entendida
como intencionalidade, como liberdade e como compromisso interno.
Uma vez que “facto” se relaciona com objectividade e “valor” implica
subjectividade, a relação entre os dois conceitos é de fundamental
importância para uma teoria objectiva do valor e dos juízos de valor.
Enquanto as ciências descritivas como a Sociologia, a Psicologia e a
Antropologia procuram determinar com critérios práticos o que é dotado de
valor e as qualidades do que é valorizado, a Filosofia permanece dedicada a
tarefa de questionar a qualidade objetiva daqueles critérios.
Algo tem valor porque é desejado ou se é desejado porque tem
valor? Ambas as abordagens supõem que os juízes de valor têm uma
propriedade cognitiva. Elas divergem quanto a existência
independentemente do valor como atributo de um objeto, sem interferência
do interesse humano. Os não-cognitivistas negam a qualidade cognitiva aos
juízos de valor e atribuem a eles uma função emotiva. Os existencialistas,
como Jean- Paul Sartre, destacam a liberdade de escolha dos valores de
cada pessoa e rejeitam uma relação lógica ou ontológica entre facto e
valores.

4.4. CRISE DOS VALORES NO MUNDO CONTEMPORÂNEO E EM


ANGOLA

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A humanidade caminha, hoje, para um beco sem saída, um beco cuja


a entrada é larga e a saída parece não existir; é um caminho em formato de
um funil.
O percurso do qual o homem se debruça parece não ter consciência
dele. Numa visão míope, se encontra imergida a raça humana de hoje, o
que se traduz num projecto de escombros definhados pelo mal e orgulho de
se afirmar como autossuficiente com as suas ideologias. Levantam teorias
sobre teorias sem prever as consequências que podem nascer delas. O que
gera uma vida com crises sem fronteiras.
Nesta nossa época, coisas horríveis sucedem sem cessar, fruto do
saber científico e da técnica que brutalmente quer patentear-se, descorando
a ética, o que tem criado grande repercussões na vida diária do próprio
homem, tal como podemos constatar as guerras que se levantam fazendo
milhares de vítimas, os genocídios, campos de concentrações (Auschwitz,
Hiroshima, Nagasaki, os Holocaustos dos judeus, as câmaras de gás, as
duas Grandes Guerras, a Guerra do Irac, a Guerra Fria, a Batalha de Iwo
Jima, as Noites de Longos Punhais, as injustiças sociais, os grandes
fenómenos da homossexualidade, a pedofilia, a lesbicalidade, etc.), o que
indica uma desventura do homem que não querer viver-se preferindo viver
como um mendigo da sua personalidade num universo em que tudo há para
que ele seja ele mesmo.
Esta mesma atitude constitui e é mesmo tempo uma crise cultural15.
Há que fundamentar a cultura; e isto passa por um saber humilde e
crítico desde nós mesmos. Isto, requer um equilíbrio, um saber posicionar-
se, um saber agir (ajuizar) perante os vários âmbitos da vida. Para isto, é
necessário que a cidade se configure a padrões de condutas que permitam
ascender ou valorizar a cultura como sendo a fonte da humanização.
No mundo de hoje, nota-se que já não cai bem falar de uma crise
cultural, pois, falar de crise cultural seria como encarar a crise como
consequência de um fenômeno ocasionalmente imprevisto. Mas o que se vê,
é que o homem de hoje tem consciência, mas insiste no sem-sentido,
pondo em risco todos os valores humanizadores. Por isso, é ideal denominar
esta crise como “destruição da cultura”. Querer dizer, o homem já se
encontra, parecendo que não, aborrecido de viver dentro do seus padrões
culturais originais deixando-se levar pelo “sem sentido”.

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A cultura é a base dos belos saberes, belos produzires e belos


iluminares da vida quotidiana.
Realmente a tecnologia afetou a ética da vida, a cultura e a
humanidade e a todas as suas realizações, lançados para um profundo
abismo os que seriam os fundamentos humanizadores.
Dizia K. Popper que “estamos estúpidos mais do que nunca e sem
espirito crítico face a tudo que consideramos moderno”16. Na
realidade muitas crises intelectuais de hoje, estão na base uma não
educação no passado, tudo porque se educou o homem, muito mais no
âmbito tecnológico, pondo de parte a filosofia, sendo ela uma área que
garante uma vivencia equilibrada perante o mundo; mesmo assim,
caminhamos cada vez mais a saberes anti-humanistas (física atômica) sem
precavermos o futuro da humanidade ou as consequências deste pomposo
evoluir da técnica.
Esta realidade, ganha espaço na medida em que o homem tenta
desprender-se da atividade filosófica. Inegavelmente, num percurso da
história da humanidade, sempre que se pretendeu viver sem filosofa ou
querer submeter a filosofia, a humanidade recuou um passo; o homem não
se poderia conceber como homem, mais como um homem escravo dos seus
instintos ou desejos. Todo porque, só a filosofia é a única que compreende a
realidade significativamente. A única fonte de sentido. Outros saberes
baseando-se na factualidade e nas probabilidades cientificas, a eles só cabe
explicar a realidade e nunca compreende-la. Por isso, se considera a
filosofia como hermenêutica. A crise social encontramo-la no acto do
desapego filosófico na vida quotidiana.

4.5.RESGATE DOS VALORES

A destruição da cultura é sinônimo de uma ruína e incivilização


humana. Frente a esta realidade, é necessário rebuscar o sentido originário
da cultura perante a crise cultural e para isso, é importante delinear filosofia
desde a sua necessidade e utilidade, porque crise como esta sossega o
espírito criativo do homem que é a ferramenta para a transcendência que
compromete a uma vivência salutar da humanidade; trata-se de um

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percurso pedagógico, que rigorosa e criticamente deve ser aplicado com o


fim de dar valor ao que é valor.
Hoje mais do que nunca “a verdade pedagógica é a tele. E, com ela a
comunicação, mediática, a existência mediática. As encostas, as opiniões,
do que se fala, os estereótipos de todo o gênero, a nova civilização da
imagem, tudo isto tem de ser ensinado por professores, servir diante a
atualidade, diante o dogma social, transmutados em telespectadores,
convertidos em tão receptivos, e tão fúteis como eles”17.
Neste caso, tem a palavra a filosofia ou o filósofo, porque a ciência,
embora se considere como super, há domínios dos quais ela não tem
palavra senão a filosofia que sai em plena noite a procura das mais
obscuras realidades. Frente a este facto, dizer que a ciência é o saber
supremo, seria como um simples sabujar, isto é, falar sem consistência, um
afirmar ilusório e falacioso.
Na verdade, só tomando consciência da crise, se pode restaurar os
valores humanizadores de uma sociedade como a nossa. Valores estes que
visam a vivência digna do homem autenticamente homem, cujos horizontes
é de procurar constantemente a alcançar o seu destino, ou seja, o seu
projecto de vida numa liberdade e criatividade. Porque na realidade uma
sociedade como a de hoje, a vida requer ser vivida na profundidade, fora
disso se estará mediocridade.
A vida, encontra-se esquinada cuja essência está camuflada pelos
dragões dirigentes ou promotores deste teatro no qual a sociedade actual
se encontra. Torna-se precária uma época como esta que não pode
capitalizar os seus sonhos, e nem consegue dar-se conta de que a razão da
sua calamidade consiste, em grande medida, na exaltação da ciência e da
técnica pondo de parte a questão ética.
A ciência e a técnica são os monstruosos combatentes que têm
obstaculizados a vivência quotidiana, gerando agressões, destruições,
obediências condicionais aos líderes autoritários, monstros estes que o seu
rumor e crueldade é de uma escala mundial, o que gera um grande risco
para vida. Quer dizer, a ciência e a técnica são os obstáculos que alienam a
liberdade humana, submetendo-a ao seu domínio e ao dos déspotas.
É aqui também, onde aparece uma cultura de massa, uma noção de
progresso exacerbado e a omnipotência da técnica esquecendo-se do

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homem como indivíduo; como sendo aquele que diz “eu sou”, isto é, o
indivíduo capaz de escolher ou nomear os seus desejos autonomamente.
O que seria o suporte que dá sentido à vida tornando-a serena, apesar
dos condicionamentos e circunstâncias naturais dos indivíduos, é perjurado.
A vida hoje, se refere mais num viver de conformismo, que numa relação
humana que faz coabitar os indivíduos a um único destino, sem a alienação
da realidade pessoal como ela mesma. Quer dizer, unir esforço para em
conjunto se edificar a humanidade sem perder de vista o homem na sua
singularidade que também tem os seus deveres apesar dos deveres
comunitários; todo o homem em particular, deve fazer suas opções
responsavelmente, mas tendo em vista a humanidade. Este, sim, é o
caminho que nos dirige a uma humanidade mais humana, uma vez que nela
encontramos o outro que é o nosso espelho, capaz de nos mostrar a
mancha que em nós se encontra, antes de sairmos a caminho, e que uma
vez dirimida com jovialidade caminhamos, sem preconceitos, sem medos e
sem desconfiança.
Parafraseando Heidegger, a existência do homem é sempre
coexistência e que no entanto a sua vida é na relação com outras pessoas;
relações estas que já não devem se limitar ao nível da banalidade do dia-a-
dia, do mesquinho conformismo que exclui a verdadeira comunicação e faz
da pessoa uma simples palha de tal modo que, para recuperar a verdadeira
autenticidade humana, só torna-se possível ao homem o caminho da solidão
em confronto com a morte. Pois, o único é o destino da humanidade guiado
pelos próprios homens, este destino é que impulsiona o homem a uma
solidariedade sublime na vida quotidiana; mas este destino, é só impessoal
curso da história, que o homem pode reconhecer ou ignorar, mas não
modificar.
Perante esta decadência dos valores humanizadores na sociedade
actual, a filosofia terá sempre a expressão última, por isso, afirma Hegel
que a filosofia chega sempre muito tarde, para dizer como é que deve ser o
mundo, pois chega somente depois dos factos consumados, como a coruja
de Minerva.
Isso não significa que a filosofia é apática, amórfica, passiva porque
ela não se concebe só na sua manifestação pública, mas desde o silêncio, a
solidão que é o estado puro da filosofia.

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O mundo de hoje, é um mundo sem finalidade, onde o fim último é o


funcionamento das máquinas, definindo-se esta ação como política de
crescimento, não importa qual seja a máquina. Parafraseando Garaudy a
máquina é o único credo inconfessado, isto é, tudo o que é tecnicamente
possível, é necessário e desejável, tal como fabricar bombas atômicas, ir à
lua, destruir o futuro com os resíduos radioativos das centrais nucleares.
Esta torna-se a era da grande decadência dos valores humanizantes
que não permite que a nossa vida tenha um sentido e a nossa história uma
finalidade; que cada um coopere na busca desse sentido e na realização
desta finalidade, rompendo com os princípios e estruturas que obstaculizam
a auto-realização que se traduzirá numa realização comunitária. Quer isto
dizer, implantar um humanismo aberto que possa elaborar uma cultura que
não se traduza nos privilégios de alguns, que não feche o homem em si
próprio, mas uma cultura que possibilita a realização humana de todos e o
que abra a uma criação sem fim do futuro pela emergência do filosofar,
expondo tudo quanto concorre a revitalizar a vida quotidiana a luz dos
valores humanizadores.

4.6.DIMENSÃO ÉTICO-POLÍTICO DOS VALORES

Desde as palavras as obras de Hesíodo e Homero até as tragédias


gregas, encontramos importantes discussões sobre a justiça, a ética e a
política. Alguns diálogos de Platão se referem muito bem a esta realidade,
assim como Aristóteles na obra Ética Nicômaco, onde a ética é vista no
sentido do estudo dos problemas individuais e política no sentido de estudo
dos problemas sociais. Notamos aqui que a ética em certa medida não se
dissocia a política, vice e versa.
Sendo a política a arte de governar a polis, como afirmava Aristóteles,
há um imperativo ético em cada cidadão cultivar em si a noção a virtude. É
praticamente aqui onde encontramos a dimensão ética político dos valores.
Valores como virtudes que propiciam ao cidadão a um bem governarem.
Maquiavel, na modernidade restaura uma ética praticada da política
criticando as repúblicas arquitetadas pela imaginação. Para ele, o
importante na política não são as atitudes, mas a capacidade de um poder
superior que rege a cidade. O povo não quer ser mandado nem oprimido

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pelos grandes, enquanto os grandes desejam comandar e oprimir o povo.


Nesta luta de classe se vincula uma nova ética política. Porque a moral, a
virtude e a honestidade deixam de ser as características essências dos
governantes (o príncipe), e retoma em seu lugar a astúcia e maleabilidade.
O governante deve de certa forma ou de outra garantir o poder sempre se
associando ao povo. Quer isto dizer, astuciosamente, o príncipe deve
parecer sempre ser bondoso, apesar de necessitar muitas vezes ser o
contrário da sua imagem.
Fazer política para este filósofo não é mas senão estar amarrado a
ética e a moral. Isto é importante para a sociedade mas para um príncipe,
não deve observar todas aquelas coisas pelas quais os homens são
considerados bons.
Jean- Jacques Rousseau dirá que o homem é visto como um animal
político e livre quando se identifica com a ética, este identifica-se
corresponde a uma liberdade convencional. O interesse comum deve ser a
base de toda a política.
Kant em oposição a Maquiavel, sublinha que a metafisica dos costumes
é que deve investigar a ideia e os princípios de uma possível vontade pura,
e não as ações e as condições do querer humano em geral.
Com isto surge o imperativo categórico, que constitui o princípio
subjetivo do meu querer, da minha vontade.
Portanto, diante de multiplicidade de perspectiva, percebe-se duas
vertentes. De um lado Maquiavel que funda os valores ético-político no
facto e os outros na razão, tal como Kant.

4.6.1.NORMAS E VALORES MORAIS

Normas são conjunto de regras e prescrições a respeito do


comportamento, estabelecidas e aceitas por determinada comunidade
humana em um determinado contexto e época.
Frente a pessoa humana, o objeto, o acontecimento e os
comportamentos, se atribuem constantemente alguns valores: positivos e
negativos (aprovar / desaprovar). Em parâmetros gerais, o valor denomina
o carácter daquilo que é direita ou indiretamente valorizado pela pessoa.

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O valor em filosofia é tomado de uma concepção moral, para designar


aquilo que dá normas a condutas. Apesar disso, a sua natureza é
concebida de modo diferente conforme os sistemas filosóficos:
transcendental em Platão; historicamente variável em Nietzsche; dados a
todo o momento pela liberdade radical do sujeito no existencialismo.
Mas apesar de tudo, se pode salientar que o valor é uma maneira de
ser, de pensar e agir que quer o indivíduo, quer a sociedade, tem
considerado como modelo ideal por meio do qual orientam os
comportamentos. Para isso, os valores aparecem como artífice das condutas
(normas morais).
A maior parte dos seres humanos partilham, em formas gerais,
qualidade de valores como a solidariedade, justiça, a igualdade, como
também a liberdade. Esta expressão (valor), entende-se muitas vezes como
sinónimo de bem e ideal.
Contudo, se pode identificar diversos tipos de valores dentro da
convivência comportamental de um indivíduo com o grupo social. Os mais
fundamentais são: valores éticos, valores estéticos e valores religiosos.

 Valores éticos – são os que referem essencialmente com as


relações que as pessoas fixam entre si e com os outros. São valores que de
certa maneira, cedem ao próprio indivíduo justificar nos seus actos.
Orientam os homens para determinadas decisões e acima de tudo também
têm sido o substrato das normas sociais.
 Valores estéticos – se dirigem para diferentes modalidades
de beleza. Ao se referir de algo de algo belo versos feio, se está referir
deste campo de valor. Tais valores têm pouco haver com as normas ou
regras de comportamento sociais, mas com o prazer ou falta de prazer que
uma coisa pode estimular.
 Valores religiosos- o termo religião quer significar ligação do
homem com Deus e com os outros seres humanos. Implica ainda a
diferenciação entre duas realidades, isto é: sagrado e profano. Nisto se
pode encarar que num mundo onde o indivíduo esta primado pelo material,
muitas vezes tem a tendência de ir além da sua realidade, do visível, de
modo a encontrar uma interligação com O Divino. Assim a expressão da

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crença da Divindade no interior de uma comunidade religiosa é


efetivamente, a partilha de valores normas e rituais.
Em linhas gerais, se pode sublinhar que os valores estão de uma outra
maneira, inter relacionados, com o propósito de compor um sistema
hierarquizado.

4.6.2. ORIGEM E NATUREZA DA CONSCIÊNCIA MORAL:


LIBERDADE E RESPONSABILIDADE

O Surgimento Da Consciência Moral


O problema do surgimento da consciência moral tem provocado muitos
conflitos na nossa sociedade, visto que muitos afirmam que a consciência
surge quando a pessoa atinge a idade da razão. Porém este pensamento é
errado.
A consciência moral é a dimensão valorativa que acompanha o homem
quando este se abre aos valores morais. Esta dimensão aparece no homem
do seguinte modo:
 Ela surge mediante uns mecanismos psicossociais que podemos
concretizar do seguinte modo: mecanismo de identificação o qual supõe a
introjeção do parental na própria vida psíquica; mecanismo de negação ou
de oposição a todo o alheio; mecanismo de idealização do eu.
 Ela surge também uma interiorização do processo genético da
consciência. A consciência moral não poderia dar-se no homem se esse não
estiver dentro da personalidade, do exercício dos mecanismos interiores do
indivíduo.
Estes dois mecanismos psicossociais interiorização são coerentes
quando admitimos que a pessoa é uma realidade ao mesmo tempo
autônoma e aberta as outras realidades.
Portanto, a consciência moral é uma realidade dinâmica dentro do
homem. Desde que a pessoa estiver constituída, a consciência moral
também estará constituída. Neste sentido não se define a consciência moral
em nenhuma idade. A sua formação é um processo para toda a vida.
Desde os primeiros anos da vida, a criança desperta para o
conhecimento e para prática interior dos valores morais reconhecida pela

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consciência moral. Uma boa formação de consciência, evita o medo, o


egoísmo, o orgulho, etc. e garante a liberdade pessoal dos indivíduos.
Depois de termos visto isto, agora estamos em condições de falarmos
do valor desta consciência moral.

O Valor Da Consciência Moral


Antes de desenvolvermos o assunto, surge em primeiro lugar de forma
crítica uma questão: Quê valor ou quê sentido tem a ação da
consciência moral? Quanto a esta pergunta temos a dizer que a
consciência moral tem o melhor juízo que é a norma autorizada. Porque por
ela passa todas as valorizações morais das ações humanas.
O sentido desta afirmação, podemos desenvolve-lo nos seguintes
aspectos:
Força normativa, quer dizer, nenhuma ação humana pode
considerar-se boa ou mal, senão fizer referência a consciência.
Inviolabilidade, isto é, ninguém pode violar a consciência do ser
humano. É assim que podemos concluir que o dever mais fundamental do
ser humano é formar a sua consciência.
A consciência moral tem em nossa vida uma força decisiva. É dela que
julgamos se uma ação é boa ou é má.
Para que exista u m comportamento em consciência é preciso
rectitude, verdade e certeza.
Rectitude de consciência, isto é consciência reta. É a qualidade
fundamental da consciência moral. Ela é necessária na qualificação dos
nossos atos de cada dia. Tem os a obrigação moral de seguirmos aquilo que
diz a consciência reta e direitos a fazer.
Na nossa vida de cada dia pode existir uma rectitude verdadeira e
falsa. Diz-se verdadeira quando se tem a intenção de salvar alguém que
está num estado de vida crítica. E diz-se falsa quando se movimenta
alguém sem se cumprir as normas da sociedade. Estes dois casos
acontecem principalmente nos acidentes de viaturas, no momento em que
se movimenta o veículo ou a pessoa sem a autorização do trânsito.
Verdade de consciência. Aqui importante é procurar adaptar-se a
verdade objetiva. Mas só há consciência verdadeira quando há uma
adequação entre consciência objectiva e consciência subjectiva.

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Certeza de consciência. Esta última qualidade diz que devemos agir


com uma consciência certa sem sombras de dúvidas. Esta consciência certa
é a regra da moralidade, por isso, sem dito na dúvida não se age.
Em certos problemas que acontece na vida as vezes é difícil actuarmos
com uma consciência certa.
Há mais responsabilidade nos actos humanos quando se actua com
consciência certa. O homem tem o direito de agir em consciência e
liberdade a fim de tomar pessoalmente decisões morais. O homem não
deve ser obrigado a agir contra a sua consciência.
Em muitos casos, a consciência moral vem deformada por causa de
algumas psicopatologias. O descuido habitual dos meios têm deturpado
muito a consciência moral devido o ambiente onde a pessoa está inserida,
os influxos das paixões e dos males pessoais. Assim pode surgir a
consciência laxa, a qual afirma sem fundamento algum, a razão dos seus
males. Neste tipo de consciência há um minimalismo exagerado que
consiste em dizer que tudo está bem.
Estas deformações ou psicopatologias da consciência também podem
ser farisaicas que a pessoa seja muito sensível em alguns actos exteriores,
pelo que permite cometer sem nenhum escrúpulo em matéria de grande
importância. Este tipo consciência é falsa.
A última deformação é a consciência escrupulosa, a qual afirma sem
fundamento, teme haver cometido algum mal. Aqui aparece muito o
complexo de culpa. Segundo Rodriguez Luño Angel a característica principal
deste tipo de consciência é o não fundamento, o temor e a ansiedade
desproporcionada e se destingue lentamente da consciência delicada18.
A pessoa neste caso, dificilmente age, porque teme errar, é tímido, é
um espectador passivo.

Natureza Da Consciência Moral


O ser da consciência moral, entende-se muitas vezes por sentimento
moral. A verdadeira natureza da consciência moral consiste na distinção do
bem e do mal. A pessoa humana nasce com uma lei natural que lhe ajuda a
fazer o bem e a evitar o mal, quer dizer, a natureza moral é uma evidência
do coração humano.

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Descartes nos faz compreender de que se temos a inteligência da


verdade, não podemos fiar-nos no mundo das qualidades sensíveis quer
dizer, não devemos julgar as coisas somente a partir das coisas sensíveis
mas também das insensíveis 19. Quando se tem o amor pelo bem, tem de
ser feito aos outros e não a si mesmo. Parafraseando Pascal a fraqueza
moral está na origem da psicologia rudimentar que pretende limitar o
horizonte da consciência dos sentimentos claros e distintos 20.
Muitas vezes a consciência julga os nossos actos quando a primeira
vista nos fingimos não saber de alguma coisa, mas mais tarde refletimos
sobre ela e vemos que é mal ou bem o que fizemos.
Neste sentido leva-nos consciência a entender de que todo o ser
humano sente dentro de si uma voz que lhe diz que certos actos soa bons e
outros são maus, que os obriga a executar (bem) ou a omitir (mau) que o
acusa ou o louva.
A consciência é razão enquanto dá a conhecer o bem e o mal; é
vontade livre, enquanto aceita o bem e rejeita o mal. E amor porque auxilia
a vontade à cumprir o bem.
Na vida quotidiana o problema da consciência moral em muitos lugares
é pouco acentuado visto que muitos matam os outros, roubam, praticam
assassínios sem fazer um juízo crítico sobre a tal ação se é boa ou má. Para
estas pessoa, dificilmente aceitam os critérios da vontade livre que é de
fazer o bem e evitar o mal.
Os juízos morais muitas vezes são acompanhados de sentimentos que
são os remorsos ou dor moral, quer dizer, a pessoa humana procura
superar os males cometidos através do arrependimento. Depois da pessoa
saber o que é a consciência moral, então, já poderá julgar a mesma
consciência.
Temos liberdade de escolha das nossas ações. Liberdade implica não
apenas sabermos distinguir o bem do mal, o justo do injusto, mas
sobretudo de agir em função de valores que nos próprios escolhemos. Não
há comportamento moral ssem certa liberdade.
Somos responsáveis pelas nossas decisões e por tanto pelas
consequências das mesmas. A responsabilidade implica, em sentido global,
sermos responsáveis por nós próprios, mas também pelas outras
pessoas.

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Liberdade
As nossas ações envolvem
ou implicam consequências
Responsabilidade
para outros
outros
Eu Mundo
(Agente da Outro (Humanidade)
ação)

Dever moral
As nossas ações são
enquadradas por leis,
Consciência moral instituições, etc.

4.6.3. SOCIEDADE, LIBERDADE E PESSOA

Partindo do conceito de cada termo, sociedade, no sentido mais


restrito é o conjunto de seres humanos cujas relações são organizadas por
instituições e, eventualmente, garantidas por sansões (explicitas ou difusas)
que fazem sentir cada membro o peso do coletivo.
Liberdade é um estado do ser que apenas obedece a sua vontade,
independentemente de qualquer constrangimento exterior. É bem verdade
que o conceito de liberdade é multidimensional tendo em vista a sua
natureza.
Desde o étimo, o termo pessoa nos remete a noção de personagem
isto é, do papel que se tem na sociedade.
O homem vive em sociedade. Viver é, não apenas estar no mundo,
mas relacionar-se com, viver com. A multiplicidade destas relações (de
coexistência, de convivência, de colaboração, de conflito, de confronto,
etc.), permanentemente faz emegir a necessidade de se estabelecerem e se
acatarem normas, padrões e valores que possibilitem harmonizar ações
muito distintas. Por isso Xavier Zubiri afirmava que o homem para além de
fazer a sua vida com as coisas, a faz também com os outros homens.
“O homem sem a sociedade dos homens, não será mais do que um
monstro. As crianças selvagens as que foram muito cedo ou por acaso ou
intencionalmente da atmosfera educativa humana, as que abandonadas e

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seguiram pelos seus próprios recursos sobreviver ao afastamento,


representam fenômenos de simples deformidade”21.
No entanto, nota-se que o homem é realmente, se por ventura crescer
e desenvolver no mesmo ambientes com outros seres humanos. Neste
sentido ser homem implica de certa forma, pertencer a um grupo,
coadjuvar na execução de determinados objetivos comuns, propagando por
conseguinte, toda sua capacidade de realização do conhecimento desde a
liberdade. Daí a necessidade de viver no meio eminentemente social.
O homem é livre: não está sujeito ao determinismo natural. Isto
porque pode, graças aos conceitos (dimensão do significado signo),
representar mentalmente a realidade circundante. Esse poder de
representar conceptualmente a realidade, conferiu ao homem possibilidade
de planear antecipadamente as suas ações, de se recordar do passado e de
antecipar o futuro.
Ao poder transmitir ao outros informações precisas sobre os seus
estados mentais, o homem, progressivamente, desenvolveu uma vontade
autônoma, libertando-se dos grilhões do instinto, ao mesmo tempo que a
vida social se tornava mais complexa e diversificada.
Com isto nasceu o sentimento e consciência da nossa individualidade,
complementada pelo sentimento de pertença a grupos sociais que dão
sentido e amplitude as nossas ações.
A consciência individual vem acompanhada da vontade, do poder de
escolher o que queremos e de rejeitar o que não queremos. E aqui surge
algo verdadeiramente importante: esse querer, na sua radicalidade, não é
comandado nem pelo instinto, nem pela interação com os outros homens,
ele nasce do nosso eu e é a sua mais espontânea e genuína expressão.

4.6.4. ÉTICA, ESTADO E DIREITO

Poderíamos recuperar a filosofia Ricoeuriano de intercessão entre estas


três dimensões, para nele introduzir algumas alterações e mesmo para o
alargar a outros horizontes. Invés de pensarmos estas três dimensões como
círculos separados, com pequenas sobreposições apenas, devíamos pensar
neles de modo concêntrico, sendo o círculo da ética é o mais abrangente.
Dentro dele estará o círculo do estado, como sociedade organizada, dotada

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de um governo e considerada como instância moral face as outras


sociedades organizadas de modo semelhante. Nesse sentido, não há parte
nenhuma do círculo do estado que esteja fora do âmbito ético. Ao mesmo
tempo, a círculo do direito seria mais reduzido e estaria dentro do estado,
pois nenhuma atividade jurídica deveria dar-se fora de um contexto da
política do estado –muito menos, claro está, fora da abrangência ética.
Aquilo que exige esta concentricidade dos âmbitos da ação humana é,
precisamente, o seu centro, que é a pessoa humana, enquanto tal. Nesse
sentido, toda ética, estado e direito estarão sempre marcadas por uma
antropologia e é a perspectiva antropológica fundamental –enquanto
concepção de ser humano e do seu sentido- que determina todos os outros
círculos, assim como a sua relação concêntrica.
Em que medida esta fundamentação antropológica acaba por
não se aguentar por si mesma, é uma questão que nos abre para a
possibilidade –senão mesmo a necessidade- de relacionar o centro de todos
os círculos da atividade humana com um fundamento transcendente que,
não se identificando com nenhum dos círculos em questão nem com o seu
centro, estaria presente em todos eles, como seu fundamento e seu
sentido: tratar-se-ia da dimensão teológica da própria ética e, por extensão,
do Estado e do Direito.

4.6.5. DIREITOS HUMANOS

Direitos humanos são aqueles que o homem possui pelo simples facto
de existir. São inerentes a pessoa e se proclamam sagrados, inalienáveis,
imprescritíveis, fora do alcance de qualquer poder político.
Quanto ao seu fundamento para alguns afirmam que são uma
constante histórica, com nítida raiz no mundo clássico; para outros são
provenientes do cristianismo e da defesa que realizou da pessoa e da sua
dignidade. Para os demais, são direitos surgidos na Idade Moderna.
A medida que se consolida o Estado Moderno, começa-se a falar-se em
Direitos Humanos decorrentes dos períodos de conflitos colectivos.
Consolidam-se, mais adiante, em declaração de direitos, permitindo sua
inclusão aos direitos fundamentais, dotados de garantias. Estabelecem-se
no direito internacional na época da II Guerra Mundial, a partir da qual são

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elaborados inúmeros documentos destinados a especificá-los, garantir sua


proteção, ressaltar sua importância e a necessidade de respeitá-los.
É desde esta perspectiva em que encontramos o direito natural que
defende a dignidade da pessoa humana; tal como o direito canônico, a
declaração universal sobre dos direitos do homem, onde se baseiam várias
convenções, cartas, constituições e tantos outros documentos de cunho
jurídico.
Todos estes documentos, consagram o direito à vida como o mais
nobre, e consequentemente a defesa da mesma (direito a proteção, a
segurança, a liberdade, a justiça, a paz, a habitação, a alimentação, etc.).

5. ÉTICA AMBIENTAL OU ECOLÓGICA

O ponto de vista ético, a sociedade humana é predominantemente


humano-centrado (antropocêntrico). Desta forma, os princípios básicos de
uma teoria da ética ambiental serão, a princípio, confundidos por muitos. A
condição moral da ética humana é o “respeito pelas pessoas”. Em adição as
obrigações morais que humanos têm entre seus pares, humanos, também
possuem deveres para com o meio que o rodeia, o ecos.
As obrigações com o meio ambiente estão baseadas no seu status de
entidades possuidoras de bem inerente. Este possui um tipo de valor que
pertence a ele por meio de sua própria natureza, e é o valor que torna
equivocado trata-lo como se existisse apenas como mero meio para
possibilitar ações humanas. É pelo bem dele que seu bem deve ser
promovido ou protegido. Assim como os humanos devem ser tratados com
respeito, o meio ambiente também deve ser tratado.
Assim como os códigos de ética são criados para estabelecerem
padrões e regras que definem os direitos e deveres que regem a conduta
entre os humanos. Para cada área do conhecimento, também, são
estabelecidos códigos com padrões e regras específicos.
Na verdade, regras específicas só terão valor real para a natureza,
quando se estabelecer uma ética ambiental, onde os seres vivos do mundo
natural possuem um valor simplesmente em virtude do facto de serem uma
parte deste meio ambiente (do ecos). Tal valor não deriva da possibilidade
de uso dos mesmos pelos humanos.

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A complexidade em estabelecer regras de conduta para as atividades


dos humanos, diante da visão ambiental, tem desfiado os teóricos. Estes
buscam formular teorias que apresentem regras coerentes para guiarem as
ações humanas, permitindo um desenvolvimento ambientalmente
sustentável, com menor impacto possível para a natureza.
É necessário aprofundar o assunto, com estudos para identificar de
que modo é possível adequar o desenvolvimento humano a uma ética
ambiental.

6. EXPERIÊNCIA RELIGIOSA

A experiência religiosa, também conhecida como experiência mística,


espiritual, é uma experiência subjectiva em que um indivíduo diz ter tido
um encontro ou uma união com uma entidade divina, ou ter tido contacto
com uma realidade transcendental.
Muitas tradições religiosas e místicas vêm a experiência religiosa como
encontros directos com Deus, o Absolutamente Absoluto.
O contacto com outras realidades e a visão científica normalmente
afirma que a experiência religiosa é uma experiência normal do cérebro
humano que evoluiu em algum momento durante o curso da evolução do
cérebro.
A experiência religiosa com suas características comuns, tem
diferentes nomes em diferentes culturas, como: Experiência Mística;
Experiência Sacra; Experiência Espiritual; Unio Mystica (Cabala);
Gnosis (Filosofia Helenística); Ifran (Islamismo – Sufismo); Samadhi
(Hindismo – Vedanta); Moksa (Jainism); Theosis (Cristianismo Místico);
Henosis (Neoplatonismo); Nirvana, Satori, Samadhi (Budismo);
Consciência pura.

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Diagrama de uma experiência religiosa

Diagrama de uma Experiência Religiosa


 1 – As características do cérebro (como: inteligência, situação
emocional, etc.);
 1.2 – A herança cultural da pessoa (como: crenças religiosas, visões
de mundo);
 2 – Técnica usada para obter a experiência religiosa (como:
meditação, reza, música, etc.);
 3 – Substância ou equipamento usado para obter uma experiência
religiosa (como: enteógenos, estimulação de cérebro com campos
magnéticos, etc.);
 4 – Uma experiência religiosa particular;
 5 – Mudanças permanente no cérebro após uma experiência religiosa
(como: mudanças nos valores morais, mudanças nas crenças
religiosas, mudanças no sentido da vida);
 5.1 – Descrições de uma experiência religiosa (descrições por escrito
ou descritas por meio da fala);

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Porto Amboim*** Material de Apoio de Filosofia do professor e aluno

 5.2 – Pontos de vista sobre a experiência religiosa que a pessoa teve


(como: “eu tive um contacto com Jesus”, “eu tive uma união com
Deus”, etc.).

ROTEIRO PARA REVISÃO

1. O que é a axiologia?
2. Que tipo de valores conheces?
3. O que é que caracteriza o valor ético?
4. Dê um exemplo de valores que sofreram uma evolução nas
relações sociais.
5. O que são direitos humanos?
6. Desenvolva as etapas fundamentais da defesa dos direitos
humanos.
7. Como se origina o sentimento de pertença religiosa?
8. O que é a experiência religiosa?
9. Que significado possui a auto-transcendência?
10. Qual o modo do homem manifestar o
conhecimento de Deus?
11. Qual é a base dos direitos humanos?
12. Em que consiste o problema ético. Quais
são os seus aspectos principais?
13. Quais são as questões que se lastima o ser
humano ou que entendemos por uma interrogação radical?
14. Como se forma o sujeito moral a
consciência?
15. Tudo o que gostar, serve. Se serve, está
bem. Eu faço o que me agrada; isto é, o que está bem.
16. Quando é que um acto humano pode ser
considerado moralmente bom?
17. Um bom fim justifica a utilização de
qualquer meio para consegui-lo?
18. Não faço mal a ninguém. Então é bom?

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Porto Amboim*** Material de Apoio de Filosofia do professor e aluno

19. Basta a boa intenção para transformar os


actos humanos em actos moralmente bons?
20. É legítimo, portanto é bom?
21. Atendendo a dimensão da ética como
substantivo e adjetivo, procura distingui-lo nos exemplos a
seguir:
a) Estou com rancor.
b) Eticamente não poço fazer...
c) Este homem não tem ética.

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