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TDR Pesquisa Antropologica Desnutricao 1

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TERMOS DE REFERÊNCIA

PESQUISA ANTROPOLÓGICA:
“OS DETERMINANTES SOCIAIS QUE INFLUENCIAM A
DESNUTRIÇÃO CRÓNICA NOS DISTRITOS DE
ANCUABE, BALAMA, MONTEPUEZ E NAMUNO
(PROVÍNCIA DE CABO DELGADO, MOÇAMBIQUE)”

Actividade a realizar no âmbito dos Convénios AECID:

18-CO1-1096: Melhorar a saúde da população, com incidência nos seus Determinantes


Sociais e especial enfoque na nutrição, através do fortalecimento dos Cuidados de Saúde
Primários como a melhor estratégia para garantir o Direito à Saúde e a colaboração da
sociedade civil, das instituições de pesquisa e do SNS.

18-CO1-1003: Fortalecimento da intervenção multissectorial pública e comunitária para a


redução da desnutrição crónica e aguda na Província de Cabo Delgado.

Data de início: Junho 2020


Prazo final: Junho 2021

Maputo, Maio de 2020


CONTEÚDO

1. ACRÓNIMOS ....................................................................................................... 3
2. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 4
3. CONTEXTO E ANÁLISE DE SITUAÇÃO ........................................................... 6
4. ENFOQUE DE GÉNERO NA DESNUTRIÇÃO INFANTIL .................................. 8
5. OBJECTIVOS DA PESQUISA ............................................................................ 8
6. ÂMBITO DA PESQUISA E ACTORES ENVOLVIDOS ....................................... 9
7. METODOLOGIA E FASES DO TRABALHO .................................................... 10
8. PRODUTOS ESPERADOS ............................................................................... 12
9. PROPOSTA DE CRONOGRAMA. .................................................................... 12
10. PREMISSAS BÁSICAS ................................................................................... 13
11. EQUIPA DE PESQUISA .................................................................................. 13
12. DOCUMENTOS A APRESENTAR, PRAZOS PARA CONCLUSÃO E
ORÇAMENTO.................................................................................................. 14
13. CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DAS PROPOSTAS. ........................................ 15
14. SUBMISSÃO DAS PROPOSTAS. .................................................................. 15

2
1. ACRÓNIMOS

CSP Cuidados de Saúde Primários


DPS Direcção Provincial de Saúde
DSS Determinantes Sociais da Saúde
IDH Relatório de Desenvolvimento Humano
IDS Inquérito Demográfico e de Saúde
INS Instituto Nacional de Saúde
MdM Médicos del Mundo
MISAU Ministério da Saúde
NIOP Núcleo de Investigação Operacional de Pemba
OMS Organização Mundial da Saúde
ONG Organização Não Governamental
PAMRDC Plano de Acção Multissectorial para Redução da Desnutrição Crónica
PMA Programa Mundial de Alimentos
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
SDAE Serviço Distrital de Actividades Económicas
SDEJT Serviço Distrital de Educação, Juventude e Tecnologia
SDPI Serviço Distrital de Planeamento e Infraestrutura
SDSMAS Serviço Distrital de Saúde, Mulher e Acção Social
SETSAN Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional
UNICEF Agência das Nações Unidas para a Infância
UniLúrio Universidade do Lúrio

3
2. INTRODUÇÃO

Desde o ano de 1994, a medicusmundi tem vindo a implementar diferentes


projectos em Moçambique, colaborando fundamentalmente com o MISAU e as suas
estruturas descentralizadas (DPS, distritos e municípios). Nestes 26 anos, foram
realizados projectos com o objectivo de reforçar os Cuidados de Saúde Primários
(CSP), focando-se nos níveis distrital, municipal e provincial. Nos diferentes
projectos / programas são sempre respeitados os princípios de alinhamento,
pertinência, seguimento e respeito pela liderança do MISAU e das autoridades
locais. Graças a esta consolidada relação, consideramos que temos uma ampla
experiência no desenvolvimento integral e horizontal do sector saúde, dos serviços
de atenção primária nacional, bem como um conhecimento dos seus mecanismos
de planificação e gestão.

Nos últimos anos, a medicusmundi tem vindo a ampliar a sua área de actuação e,
neste momento, não só trabalha com o MISAU para fortalecer a sua capacidade
para prestar serviços e implementar as políticas públicas, mas também se
compromete a trabalhar diretamente com a Direcção Provincial de Saúde e a
Direcção Provincial de Agricultura, Serviços Distritais (SDSMAS, SDAE, SDPI,
SDEJT), NIOP, INS, UniLúrio, ONGs e outros intervenientes para promover as
questões de Determinantes Sociais da Saúde (DSS), com enfoque em Nutrição,
incluindo o género e o meio ambiente, sobretudo, nos âmbitos académico e de
investigação.

Para além do impacto na defesa dos direitos humanos que a medicusmundi tem
tido no país, através da implementação de várias iniciativas que visam a melhoria ao
acesso e qualidade dos serviços básicos de saúde.

Médicine du Monde nasceu em 1979 duma excisão de Médicos Sem Fronteiras


com a crise dos boat people vietnamitas, pelo ex ministro francês Bernard Kouchner.
É uma associação independente de solidariedade internacional que trabalha para
cumprir o direito à saúde para todas as pessoas, especialmente aquelas que vivem
em situação de pobreza, desigualdade de gênero e exclusão social, ou são vítimas
da crise humanitária.

Em abril de 1990, faz já 30 anos, nasceu a Médicos del Mundo Espanha, que hoje
em dia trabalha em 20 países (ou territórios) em África, Asia e América Latina,
desenvolvendo projectos de Cooperação Internacional e Acção Humanitária.
Também trabalha na Espanha desenvolvendo projectos de inclusão social para as
pessoas mais vulneráveis e educação para o desenvolvimento (ou mobilização
social). É parte da Rede internacional de Médicine du Monde.

A Médicos del Mundo está presente em Moçambique desde o ano 2000, quando
foram inaugurados projectos em resposta à emergência provocada pelas
inundações na Província de Maputo. Atualmente, a organização desenvolve
projectos em duas províncias (Maputo e Cabo Delgado). Na província de Maputo, o

4
único distrito de intervenção é Matola. Os âmbitos nos que ela trabalha são:
prevenção e tratamento do HIV / AIDS (2000-2010), Atenção Primária em Saúde
(2000-2010), Saúde Sexual e Reprodutiva e planeamento familiar (2010 - ),
Prevenção e tratamento da Violência Baseada no Género (2013 - ). Estas atuações
sectoriais realizam-se a partir de: sensibilização para a população, especialmente
para as camadas jovens, capacitação de todos intervenientes nas temáticas
abordadas, desenvolvimento das capacidades institucionais dos parceiros, monitoria
e avaliação conjunta, e o trabalho em rede com outras organizações (ex., Grupo
Multissectorial para a Prevenção e o Combate contra a Violência Baseada no
Género).

Além do trabalho em rede com outras organizações, a Médicos del Mundo acredita
na atuação holística dentro do território e com um enfoque de direitos humanos e
género. Para conseguir este fim, trabalhamos com parceiros institucionais (Direção
Provincial da Saúde, Direção Provincial de Mulher e Acção Social, Serviço Distrital
de Saúde, Mulher e Acção Social), com organizações da Sociedade Civil
(Associação Comunitária para o Desenvolvimento da Mulher, Associação Jovem
pelo Jovem, Associação Nhamai, Fundação Wiwanana), e com a sociedade civil.

Os Determinantes Sociais da Saúde (DSS) são as circunstâncias em que as


pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem, incluindo o sistema de
saúde. Estas circunstâncias são o resultado da distribuição de poder e os recursos a
nível mundial, nacional e local, e dependem ao mesmo tempo das políticas
adoptadas. Os DSS explicam a grande maioria das iniquidades sanitárias, isto é, as
diferenças injustas e evitáveis observadas entre países, e no seio dos mesmos, em
relação à situação sanitária.

A Comissão dos DSS da OMS indicou que os danos causados à saúde colectiva e a
geração de desigualdades em saúde são o produto da combinação destes
determinantes sociais. A distribuição desigual dos problemas de saúde não é um
fenómeno aleatório ou natural, nem o produto de umas conductas pouco saudáveis;
pelo contrário, são, sobretudo, o resultado da combinação das políticas sociais e
económicas que são realizadas num determinado território ou país. Por isso, a
melhoria da saúde e da equidade requer realizar políticas, programas e intervenções
que abranjam todos os sectores sociais e ambientais fundamentais em cada
sociedade.

Actualmente, na medicusmundi, está a implementar um Convénio que visa


contribuir para atingir a cobertura universal da saúde e o direito à saúde da
população, através da pesquisa e advocacia sobre os principais Determinantes
Sociais da Saúde (DSS) e a revitalização dos princípios dos Cuidados de Saúde
Primários (CSP).

Por seu lado, na Médicos del Mundo, através de um Convénio AECID, se quer
implementar na Província de Cabo Delgado uma estratégia de atuação com uma
intervenção multissectorial pública para a redução da desnutrição crônica e aguda
no Distrito de Balama, analisando e atacando aquelas DSS e os factores culturais
que contribuem a perpetrar esta situação de malnutrição que atinge o 51,4% da
população da província, segundo o último relatório provincial do SETSAN realizado
em 2014.

5
Além disso, recentemente a MdM desenvolveu um Quadro Concetual da Abordagem
Antropológica, entendendo esta abordagem como um processo de abertura e de
aproximação de diferentes identidades, representações, práticas e conhecimentos
dos grupos com os quais nós trabalhamos, considerando que o pleno exercício do
direito à saúde é frequentemente condicionado pela ausência de reconhecimento
desta diversidade. A seguir, como ferramenta para operativizar esta abordagem, a
MdM elaborou uma Guia prática para a inclusão da abordagem antropológica nos
seus programas e projectos e incorporou, na equipa do Departamento de Estratégia
e Inovação, uma técnica de integração de enfoques transversais. Ditos passos
assinalam o compromisso da organização com a necessidade de tomar em
consideração todas as variáveis sociodemográficas incluídas na metodologia
relacionadas com as determinantes sociais da saúde em qualquer contexto em que
se trabalha, a fim de ter em conta a interseccionalidade, ou seja, o estudo da
sobreposição das identidades sociais e dos respectivos sistemas de opressão e
discriminação.

3. CONTEXTO E ANÁLISE DE SITUAÇÃO.

De acordo com o IV RECENSEAMENTO GERAL DA POPULAÇÃO E HABITAÇÃO


2017 do Instituto Nacional de Estatística1, Moçambique tem uma população
projectada de 27.909.798 habitantes, sendo 51,7% mulheres. O país tem uma das
mais altas taxas de mortalidade materna no mundo; os dados recentes nesta área
(PNUD, IDH 20192) apontam para 489 por 100.000 nascidos vivos. A taxa de
mortalidade de crianças menores de cinco anos é de 73,2 cada 1.000 nascidos vivos
(UNICEF, Mozambique Country Profile).3

3.1. Doenças da pobreza

Moçambique tem o perfil epidemiológico das "doenças da pobreza", com um alto


predomínio de doenças prevalentes na infância, além de uma alta prevalência de
desnutrição infantil. Através do Ministério da Saúde, o governo adoptou os Cuidados
de Saúde Primaria como a sua principal estratégia sócia sanitária para a melhoria da
saúde da população. Esta orientação tem teoricamente servido de referência para
todas as políticas de saúde, em consonância com as recomendações estabelecidas
pela própria OMS, que considera que os CSP podem resolver até 80% dos
problemas de saúde da população.

Moçambique tem paulatinamente vindo a registar melhorias na situação de vida da


sua população. Para o efeito o Estado e parceiros de cooperação, tanto privadas
como Organizações Não Governamentais, tem vindo a criar diversas oportunidades
que tem estado a contribuir para que as comunidades construam permanentemente
recursos que permitam melhorar suas condições de vida. Contudo, muitos esforços
precisam ainda a ser feitos no sentido de assegurar uma contínua e sustentável

1 Anuário Estatístico 2017. Moçambique: Instituto Nacional de Estatística.


2 Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Relatório do Desenvolvimento
Humano 2019. Além do rendimento, além das médias, além do presente: Desigualdades no
desenvolvimento humano no século XXI. Nueva York, 2019. Disponível em:
http://hdr.undp.org/en/2019-report
3 UNICEF Moçambique. Country Profile: https://data.unicef.org/country/moz/

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melhoria de vida das populações em diversos domínios, de entre os quais o da
nutrição.

3.2. Causas e consequências da desnutrição

Segundo o último IDS4, 43% das crianças menores de 5 anos sofrem de desnutrição
crónica moderada e 20% sofrem de desnutrição crónica grave, o que afecta
significativamente a mortalidade infantil e diminui a capacidade cognitiva dos que
sobrevivem. A desnutrição crónica pode provocar sequelas físicas e cognitivas
irreversíveis, o que concorre a médio e longo prazo.
As causas verificadas de desnutrição crónica podem ser classificadas em três
grupos principais, a saber: (1) causas imediatas relacionadas com a ingesta
alimentar e ao surgimento de infeções; (2) causas subjacentes, derivadas da
insegurança alimentar, falta de serviços de saúde e higiene, falta de saneamento
ambiental e falta de cuidados maternos e infantis adequados; (3) causas básicas e
estruturais segundo o nível socioeconómico (pobreza) e de acesso aos direitos
humanos (desigualdades).
A desnutrição crónica é reconhecida como um indicador de qualidade do capital
humano de um país. Esta é responsável por um terço das mortes em crianças
menores de cinco anos em Moçambique. Além do alto custo para o país, a elevada
incidência da desnutrição crónica compromete o alcance de muitos dos
compromissos de desenvolvimento. Portanto, uma em cada duas crianças menores
de 5 anos não consegue atingir o seu potencial de crescimento físico, mental e
cognitivo. A insegurança alimentar crónica afecta a 19% dos agregados familiares e
somente 60% tem a alimentação adequada (Estudo de Base SETSAN, 2013).
Segundo os dados do IDS, as províncias do norte do país têm as maiores
prevalências de desnutrição infantil, sendo 50,1% na província de Nampula e 51,4%
na província de Cabo Delgado. O baixo peso ao nascer para 2016 foi de 4,3%
(PNUD, IDH 20165). Apenas 58% dos bebés de um mês são alimentados com
amamentação materna exclusiva, baixando esse nível para 24,3% em bebés de
cinco meses. A recomendação da OMS é a amamentação exclusiva nos primeiros
seis meses de vida.
Com vista a inverter os elevados índices de doenças associados à malnutrição, o
Governo de Moçambique, através do Plano de Acção Multissectorial para Redução
da Desnutrição Crónica (PAMRDC 2011-2020), define como objectivo o
desenvolvimento de acções estratégicas que concorram para reduzir a desnutrição
crónica em menores de cinco anos de 44% em 2008, para 30% em 2015 e 20% em
2020. A coordenação multissectorial, a implementação e a monitoria e seguimento é
responsabilidade do Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional
(SETSAN), uma instituição tutelada pelo Ministério da Agricultura e Desenvolvimento

4 Inquérito Demográfico e de Saúde 2011. Instituto Nacional de Estatística. Ministério da Saúde,


Maputo, Moçambique.
5 Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo (PNUD). Informe sobre Desarrollo Humano

2016. Desarrollo humano para todos. Nueva York, 2016. Disponível em: http://hdr.undp.org/en/2016-
report . Este dato não está disponível no IDH 2019.

7
Rural (https://www.agricultura.gov.mz/). O SETSAN assume a liderança do Grupo
Técnico Multissectorial do PAMRDC. Diferentes sectores (saúde, educação, acção
social, agricultura, indústria e comércio, obras públicas e habitação, entre outros),
Agências de Nações Unidas e Organizações da Sociedade Civil, são membros do
Grupo Técnico Multissectorial. Acompanham e promovem o processo de
implementação e definem linhas diretrizes das acções. O plano prioriza um pacote
de intervenções que serão complementadas por acções contidas noutros planos
relevantes, como a Estratégia de Segurança Alimentar e Nutricional (ESAN II).

3.3. Enfoque de género na desnutrição infantil.

Os determinantes mais importantes de género que dificultam a melhoria do estado


nutricional da população infantil são os que se acham referenciados às
desvantagens e à discriminação que colocam em posição vulnerabilizada as
mulheres. Estes factores podem-se resumir em:

 Situação nutricional materna deficiente;


 Assistência pré-natal inadequada;
 Falta de direitos sexuais e reprodutivos;
 Carga desproporcional de trabalho físico e de cuidados que as mulheres
grávidas e lactantes devem suportar;
 Usos diferentes do tempo, dependendo do género e sexo;
 Baixo nível de educação das mulheres.

Remarcar também como a abordagem da interseccionalidade influencia nestas


situações de vulnerabilidade que se encontram as mulheres, uma situação já
normalizada contra a que se deve fazer uma incidência e sensibilização sobre o seu
direito ao bem-estar social.

Quando a discriminação contra as mulheres é generalizada e normalizada desde


uma visão hétero-patriarcal da sociedade, o mesmo acontece com a desnutrição
infantil independentemente dos dados económicos da região ou país. De acordo
com o PMA, um estudo mostrou que a educação das mulheres contribuiu para uma
redução de 43% na desnutrição infantil, enquanto a disponibilidade de alimentos
representou apenas 26%. Esta situação acontece também em Moçambique:

Relação entre o nível de escolaridade da mãe e a desnutrição das suas


crianças em Moçambique

Escolaridade da mãe % Desnutrição em filhos/as


Sem Escolaridade 47%
Escola Primária 43%
Secundária ou mais 26,9%
Fonte: Programa Mundial de Alimentos. 2015.

4. OBJECTIVOS DA PESQUISA

Objectivos gerais:

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Descrever e analisar com uma abordagem etno-antropológica, os
determinantes económicos, sociais, culturais, estruturais e políticos que
influenciam a saúde e o estado nutricional da população infantil, nos distritos
de Ancuabe, Balama, Montepuez e Namuno, da província de Cabo Delgado.
Descrever, analisar e avaliar a situação nutricional da população infantil (por
etapas da vida: a janela dos 1.000 dias e até 59 meses), sobretudo a
desnutrição crónica e aguda, na área de intervenção nos distritos de
Ancuabe, Balama, Montepuez e Namuno, da província de Cabo Delgado.

Objectivos específicos:

Identificar padrões de práticas alimentares, práticas higiénico-sanitárias,


práticas relacionadas com os determinantes sociais e com os
socioeconómicos (incluindo barreiras e/ou “tabus”) que influenciam a
desnutrição infantil
Avaliar os indicadores de segurança alimentar e nutricional dos agregados
familiares.
Verificar o nível de utilização dos serviços de saúde materno-infantil e as
causas e factores desagregados por género.
Identificar as desigualdades de género como DSS, tendo em conta as
categorias sociais que mas influenciam nelas, para o estado de saúde da
população em geral e o estado nutricional infantil especificamente.
Fornecer da informação que aprofunde a compreensão do problema e do
contexto e produzir recomendações específicas, com o fim de promover
acções complementarias dentro dos Convénios para a melhoria da situação
nutricional face ao contexto identificado, nos distritos de intervenção
(Ancuabe, Balama, Montepuez e Namuno).
Propor orientações de futuras intervenções sócio sanitárias na área de
estudo, com os próprios indicadores, e o plano de atuação e monitoria destas.
Apresentar novas linhas de investigação e pesquisa de determinantes sociais
para a desnutrição infantil.
Fornecer uma retroalimentação dos resultados preliminares aos actores e
grupos-alvo envolvidos.

5. ÂMBITO DA PESQUISA E ACTORES ENVOLVIDOS.

O estudo será realizado na Província de Cabo Delgado, concretamente nos distritos


de Ancuabe, Balama, Montepuez e Namuno.

Os trabalhos serão levados a cabo pela equipa pesquisadora colectiva/individual


contratada, em estreita colaboração com as equipas técnicas da medicusmundi e
Médicos del Mundo (na Espanha e em Moçambique), que – ao mesmo tempo serão
os elos de ligação – entre os diferentes actores envolvidos, prestando todo o apoio
que for necessário a partir dos seus escritórios em Maputo e em Cabo Delgado,
tanto ao nível organizacional, como logístico e técnico, sempre e quando este for
anteriormente planificado e não interferir com o decorrer de outras actividades.

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Privilegiar-se-á uma abordagem intersectorial e multissectorial, em conformidade
com as políticas e planos de acção em vigor a nível nacional e provincial, como é o
caso do PAMRDC.

Neste sentido, um estudo sobre os determinantes sociais obriga necessariamente à


realização de uma identificação e análise que vai mais além das questões de saúde,
tocando igualmente outros sectores que influem na situação nutricional tais como: a
segurança alimentar e nutricional; as condições de água e saneamento; a educação
e as formas de produção e transmissão cultural de conhecimentos, percepções,
tabus, etc.

O estudo deverá, portanto, contar com a participação das seguintes instituições e


actores, que serão ao mesmo tempo grupo-alvo e agentes de mudança.

 Direcção Provincial de Saúde;


 Direcção Provincial de Agricultura de Cabo Delgado;
 SETSAN do nível provincial em Cabo Delgado;
 Instituto Nacional de Saúde (INS);
 Núcleo de Investigação Operacional de Pemba (NIOP);
 Serviços Distritais: SDSMAS, SDAE, SDPI, SDEJT;
 Fundação Wiwanana - Promoção de Saúde Comunitária;
 As famílias e as comunidades dos distritos acima citados; e,
 Outros agentes e organizações que possam ser posteriormente identificadas.

A língua de trabalho entre a pessoa / equipa de pesquisa e a medicusmundi e


Médicos del Mundo, assim como a dos documentos e produtos realizados será a
língua portuguesa, de acordo com as normas adoptadas em Moçambique.

6. METODOLOGIA E FASES DO TRABALHO

Tipo de estudo: Transversal, etnográfico e analítico. O estudo combinará o uso de


métodos e técnicas qualitativas e quantitativas e terá como foco a questão
antropológica e os Determinantes Sociais da Saúde, aplicando a abordagem de
género e direitos humanos.

A população-alvo do estudo será a população infantil dos distritos de Ancuabe,


Balama, Montepuez e Namuno. A amostra da população será seleccionada
aleatoriamente, descrevendo-se com anterioridade o procedimento de validação
para definir a amostra representativa da população.

A variável ou as variáveis dependentes serão identificadas entre os indicadores


epidemiológicos do estado nutricional infantil tendo em conta estes ciclos de vida: a
“janela dos 1000 dias” e dos 24 aos 59 meses.

As variáveis independentes estarão relacionadas com os determinantes sociais da


saúde e a desnutrição infantil, tendo em conta os agregados familiares, para além da
situação específica de saúde e estado nutricional de população infantil, como por
exemplo:

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 Acessibilidade e qualidade dos serviços de saúde e os serviços de saúde
materno-infantil, e o uso dos mesmos, a partir de uma análise de género e
socio-económico;
 Segurança alimentar e nutricional;
 Desenvolvimento de serviços públicos como a educação, água e saneamento
com dados desagregados por género;
 Comportamento social, cultural e de culto;
 Papéis, relações e desigualdades de género e a partir de um enfoque
interseccional tendo presente: as categorias sociais mais influentes na vida
das mulheres, e como elas interagem nos espaços privados e públicos na
vida cotidiana das mulheres;
 Desenvolvimento de infraestruturas de transporte / deslocações e actividades
económicas e usos dos mesmos, desagregados por género;
 Situação socioeconómica comunitária e familiar, segundo os determinantes
de género na composição familiar
 Acção e apoios sociais e usos dos mesmos desagregados por género;
 Movimentos da sociedade civil e a sua organização e impacto no território;
 Outros.

Para a recolha de informação com a metodologia da Pesquisa Acçao-Participativa


com enfoque de género e de direitos humanos, serão tidas em conta as estratégias
utilizadas para evitar um viés ou possível distorção causada por aspectos
socioculturais, questões de percepção da linguagem, interpretação da informação e
dados retrospectivos, dificuldades físicas, etc.

Espera-se uma análise e inferência dos dados através do uso de ferramentas


epidemiológicas e/ou estatísticas, e outras técnicas de análise qualitativas
participativas que sejam consideradas oportunas, com o envolvimento comunitário
durante as diferentes fases da pesquisa.

A descrição pormenorizada da metodologia será analisada com especial interesse


durante a fase de avaliação das propostas recebidas.

O diagnóstico terá as seguintes fases de implementação:

1. Finalização do desenho do protocolo de pesquisa, incluindo:


- Indicadores e variáveis relativos aos determinantes sociais da desnutrição
crónica; a ser possível desagregados por género.
- Identificação das áreas geográficas, grupos de população e amostra, e
áreas de actuação para o trabalho de campo.
- Descrição e detalhes metodológicos como amostragem e respectivos
instrumentos de recolha e análise de dados, e ainda procedimentos para
sua recolha, tratamento, análise e avaliação.
2. Revisão de bibliografia
3. Trabalho de campo e recolha de dados nos distritos de acção na província de
Cabo Delgado.
4. Elaboração do relatório intercalar e final de pesquisa e discussão do mesmo
com as entidades participantes.
5. Devolução de resultados da pesquisa aos actores e grupos-alvo envolvidos
assim como as instituições públicas que estarão integradas.

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6. Elaboração do Plano de Acção operativo de implementação das
recomendações para cada distrito.

7. PRODUTOS ESPERADOS

Os produtos esperados desta consultoria são:

a) Um protocolo de pesquisa com a metodologia a ser usada para alcançar os


objectivos da pesquisa, para poder ser submetido e aprovado pelo CNBS.
b) Um plano da pesquisa e um cronograma, que serão acordados e aprovados
pelas equipas técnicas da medicusmundi e MdM. (identificando a equipa de
investigação em cada fase e as tarefas e responsabilidades de cada membro,
se houver mais de uma pessoa).
c) Um relatório intercalar após a realização de trabalho de campo onde devem
constar os principais dados preliminares da pesquisa.
d) Um relatório final de todo o processo da pesquisa, inclusive com resultados,
conclusões e recomendações.
e) Identificação de temáticas e pontos críticos que constituem barreiras na luta
contra a desnutrição, de modo que as mesmas possam ser usadas para
elaboração de campanhas de sensibilização para as comunidades tendo em
conta os seus grupos-alvo.
f) Plano de acção operativo de implementação das recomendações, após
retroalimentação com os agentes e atores envolvidos. Com cronograma
básico e resultados esperados em cada fase identificada, assim como a
lógica de implementação das acções planejadas, com os recursos materiais e
humanos previstos. Incluirá indicadores e suas respetivas metas, além de
estratégias-chave para a implementação das recomendações finais e
monitoria das mesmas.
g) Elaboração de 1 artigo científico para publicação em revistas científicas.

8. PROPOSTA DE CRONOGRAMA

O prazo de entrega do relatório final da pesquisa será de 12 meses. Na seguinte


tabela, apresentamos um cronograma indicativo com os produtos esperados.
Espera-se que as propostas recebidas desenvolvam o cronograma de forma mais
detalhada, tendo em conta também as fases de implementação e a metodologia
desenvolvida.

Junho - Novembro
Produto Abril - Maio Junho
Fase Outubro 2020 - Março
esperado 2021 2021
2020 2021
1.- Desenho da pesquisa
a), b)
e revisão bibliografia
2.- Trabalho de campo c)
3.- Relatório final e
d), e)
devolução de resultados
4.- Plano de acção f), g)

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9. PREMISSAS BÁSICAS

A equipa de pesquisa contratada deve manter em todos os momentos altos níveis


de profissionalismo (rigor, isenção e discrição) na execução das suas funções, bem
como a mais estrita confidencialidade sobre a informação recebida.

As premissas básicas de comportamento ético e profissional por parte da equipa de


pesquisa devem incluir:

 Responsabilidade. Qualquer discordância ou divergência de opinião que


possa surgir entre os membros da equipa ou entre eles e os responsáveis da
medicusmundi e MdM serão discutidas e acordadas no seio da entidade
adjudicadora dos trabalhos.
 Integridade. A equipa contratada tem a responsabilidade de destacar as
questões não especificamente mencionadas nos presentes termos de
referência, se necessário, para obter uma análise mais completa da
intervenção.
 Reconhecimento da informação. Cabe à equipa de pesquisa contratada
assegurar a precisão das informações recolhidas para a elaboração do
produto e, finalmente, a mesma é responsável pelas informações
apresentadas na versão final.
 Incidentes. Sempre que surgirem problemas durante a realização do trabalho
ou em qualquer outra fase dos trabalhos, estes devem ser comunicados
imediatamente às entidades adjudicantes (medicusmundi e Médicos del
Mundo). Caso contrário, a existência de tais problemas não poderá de
nenhum modo ser utilizada para justificar o fracasso em obter os resultados
previstos na presente declaração de Termos de Referência.
 Direitos de autor e de divulgação. Os produtos realizados serão
propriedade da medicusmundi e Médicos del Mundo. A medicusmundi e a
Médicos del Mundo, como entidades beneficiárias da prestação de serviços /
trabalhos efectuados tem o direito de poder usar o produto final, com o fim de
o implementar em futuros projectos em Moçambique.
 Penalidades/Sanções. Em caso de atraso na entrega dos produtos ou no
caso em que a qualidade dos mesmos for claramente inferior à exigida, serão
aplicadas as penalidades previstas no contrato a ser assinado.

10. EQUIPA DE PESQUISA

A equipa de pesquisa terá um perfil de investigação multidisciplinar nas áreas de


antropologia da saúde, nutrição, saúde pública, epidemiologia ou bioestatística e/ou
outras apropriadas.

A pessoa líder da equipa de pesquisa terá experiência demonstrada em pesquisas


transversais em antropologia, nutrição e/ou saúde pública, com um enfoque de
género e direitos.

Serão avaliadas positivamente:

- Experiência e/ou conhecimento da zona geográfica da intervenção.

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- Conhecimento das estruturas orgânicas e funcionais dos Ministérios de
Saúde e de Agricultura e Desenvolvimento Rural, incluindo o SETSAN (desde
o nível nacional até ao nível distrital).
- Conhecimento das políticas públicas de Moçambique e da província de Cabo
Delgado em matéria de redução da desnutrição crónica.
- Domínio dos Indicadores do Programa (nutrição, água e saneamento).
- Domínio da língua emakwa.

11. DOCUMENTOS A APRESENTAR, PRAZOS PARA CONCLUSÃO E


ORÇAMENTO.

As candidaturas serão submetidas em português devendo incluir os seguintes


itens:

1. Uma proposta técnica, onde se deve incluir o plano metodológico, bem


como todo material e equipamento que irá utilizar neste trabalho de
consultoria, de modo a alcançar os objectivos acima referidos;
2. Um cronograma de trabalho. Este deve respeitar os prazos indicados nos
TdR e deve apresentar uma correlação lógica entre as diferentes etapas
apresentadas no mesmo;
3. Um orçamento detalhado: considerando todos os itens, incluindo todo o tipo
de despesas, taxas, impostos e pagamento do protocolo no CNBS e demais
contingências derivadas da consultoria, incluindo as despesas de deslocação
e alojamento na província e nos distritos para a realização do estudo;
4. O CV dos candidatos, incluindo as principais características da equipa
técnica e assinalando a experiência de cada um em trabalhos de natureza
similar, e o papel de cada membro nas tarefas e responsabilidades na
pesquisa.
5. Três (3) cartas de referência de empresas ou organizações nos quais a
equipa (não em termos individuais) já prestou serviços semelhantes.
6. Uma carta de motivação.

O prazo de apresentação das propostas será de 8 de Maio a 7 de Junho de 2020.


O custo total dos serviços de consultoria, incluindo o IVA/IRPS e outros impostos,
viagens e demais contingências, é igual a 50.000 euros. Os pagamentos previstos
de acordo com a entrega dos produtos esperados em cada fase da pesquisa, são os
seguintes:

Produto esperado
Fase Pagamento
entregue
Assinatura do contracto 20%
1.- Desenho da pesquisa e revisão da bibliografia a), b) 20%
2.- Trabalho de campo c) 20%
3.- Relatório final e devolução de resultados d), e) 30%
4.- Plano de acção f), g) 10%

14
12. CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DAS PROPOSTAS.

Na proposta técnica serão considerados os seguintes critérios gerais de avaliação:

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
# PONTUAÇÃO
TOTAL: 100 PONTOS
Experiência e domínio de trabalho nesta área de elaboração,
desenho e condução de pesquisas na área de nutrição, antropologia
1 ou saúde pública. Apresentação de documentos de apoio e 30
documentos solicitados nos TdRs (CV, Cartas de referência, artigos
de relevância ou estudos relacionados, etc.).
Proposta técnica:
 Enquadramento.
 Domínio da área temática.
2 40
 Objectivos.
 Metodologia.
 Aspectos Éticos.
Proposta Financeira:
 Dentro do tecto orçamental disponível.
 Inclui todos os serviços e equipamentos necessários.
3  Inclui todas as despesas logísticas no orçamento 20
apresentado.
 Inclui todos os impostos e taxas.
 Recursos Humanos e suas Responsabilidades.
4 Cronograma detalhado 10
PONTUAÇÃO FINAL 100

13. SUBMISSÃO DAS PROPOSTAS.

As equipas consultoras (ou entidades colectivas) interessadas devem enviar a sua


proposta técnico-financeira e documentação complementar, indicando o assunto
“Pesquisa antropológica sobre Desnutrição em Cabo Delgado”, antes do dia 7
de Junho, aos seguintes endereços electrónicos:

- coordinacion.cd@medicusmundi.es,
- representacion.maputo@medicusmundi.es
- coordcabodelgado@medicosdelmundo.org

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