Arte Na América Latina 2
Arte Na América Latina 2
Arte Na América Latina 2
O Artista-Cronista
I.
Viajante e a
Tradição Empírica
na América Latina
Pós-I ndependência
por Stanton L. Catlin
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uma parelha de patrão e artista. Eles se locomoviam entre o litoral e as mon- 3.5 Edward Walhouse Mark, Plaza Mavor, Bogotá (1846),
tanhas e através das selvas à procura do desconhecido ~ marcos de pedra aguarela sobre papel, 24,5x56,9 cm; Biblioteca Luis Angel
Arango, Bogotá.
primitivas, ruínas antigas, diferentes formas de habitats e uma infindável
3.6 Emeric Essex Vidal, Capataz da estância da época de
variedade de grupos tribais e tipos de mestiços camponeses, além de for- Artigas (1811-1820), aguarela, Museo Histor ico y Archivo
mas da vida na natureza que em geral surpreendiam o educado olho eu- Municipal, Montevidéu.
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3.11 Johann Moritz Rugendas, Vista dos arredores de Lima caçadas com boleadoras; carruagens particulares e carretas de estivadores;
(1843), óleo sobre tela, 34,7x45 crn.
uma incursão de índios em assentamento de brancos, figurando o momento
do ataque, o lugar em chamas, destruído, o rapto de uma prisioneira e o
seu retorno. Como cientista, dá o retrato da tipologia humana que encon-
trou, como índios vivendo tribalmente na Patagônia ou figuras específi-
cas da sociedade, na visão, por exemplo, de um batalhão de sargentos e
soldados a pé (no caso, a sanguinária infantaria colorada de Rosas). Como
geógrafo, registra picos montanhosos, colinas, pontes, rochedos, choupa-
nas, penínsulas, rios, baías, pores-do-sol, vistas panorâmicas de cidades.
Sob outro ângulo, no entanto, um inventário de tal ordem - que pode-
ria ser repetido em muitos dos países visitados por Rugendas em sua se-
gunda viagem americana -, transcende a função documental, servindo
como uma primeira ponte ligando a reportagem factual à arte expressiva.
Isso porque, antes de mais nada, seu estilo não muda muito radicalmente
de um país para outro ou de uma época para outra - ele é mais a manifes-
tação da visão pessoal e harmoniosa de como observa o artista os seus te-
mas, do que um registro literal daquilo que é enxergado, embora a fideli-
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3.12 Prilidiano Pueyrredón, Descanso 110 campo (c. 1860), ção de artistas nativos. Cada um tinha sua própria maneira de reproduzir
óleo sobre tela 0,76xl ,66111;Museo Nacional de Bellas
o pitoresco e muitas vezes o não tão pitoresco da vida portenha: as carre-
Artes, Buenos Aires.
tas de rodas absurdamente altas, o rude gaúcho, tipos de soldados, bazares
arrumados sob tendas, a elegante vida social nos teatros e nas festas, a ri-
validade das mulheres expressa nos vestidos e nas peinetas, os piqueniques
campestres, corridas de cavalo, caçadas de e ma, rodeios de gado e mata-
douros a céu aberto. A produção desses artistas - onde também se inclu-
em retratos em tamanho natural e em miniatura - estabeleceu uma nor-
ma essencialmente representativa e realista que enfatizava o particular, o
típico e o nativa mente característico, sem esquecer o irônico e o ridículo.
Esse modo de percepção e expressão continuou na Argentina, até a segunda
metade do século XIX, a influenciar a maneira de observar das novas ge-
rações genuinamente argentinas, bem como o sentido de pátria recém-
descoberto por elas. Foi também o que estabeleceu as bases para uma tra-
dição representativa e socialmente consciente na arte que antecipava, como
fez outra obra latino-americana desse gênero, a emergência, na Europa da
segunda metade do século XIX, de tendências fortemente nacionalistas,
como a vista nas obras, inspiradas em cenas típicas da vida espanhola, de
Sorolla, Zuloaga, Zubiaurre e Fortuny.
A partir do precedente desses primeiros trabalhos de inspiração realis-
ta, fartamente vistos através dos olhos daqueles que chegavam da Europa,
surgiram os primeiros exemplos que irão claramente diferenciar a arte na-
cional argentina: os retratos pintados por Carlos Morei e suas cenas de ba-
talha reproduzi das com muita sensibilidade, os retratos intirnistas, de Garcia
dei Molino, as panorâmicas vistas de formações militares na guerra no
Paraguai, de Cándido López, e os majestosos retratos e paisagens dos pampas
argentinos, de Prilidiano Pueyrredón [ilust. 3.12].
Morei e García dei Molino, os dois primeiros desses importantes artis-
tas argentinos, haviam sido alunos do pintor suíço JosefGuth que se esta-
belecera em Buenos Aires. Guth chegou de Paris em 1817 e, em um ano,
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reuniu uma turma de pintores, escritores, botânicos e cartógrafos que le- 3.16 Carmelo Fernández, Cultivadores mestiços de anis,
Província de OcaFia, Colômbia (1850-1859), aguarela;
varam dez (1850-1859 anos para mapear a geografia humana, fisica e po-
Biblioteca Nacional de Colombia, Bogotá.
lítica da vizinha república de Nueva Granada (posteriormente, Estados
Unidos da Colômbia), em cada uma de suas províncias, no litoral e nas 3.17 Carmelo Fernández, Notáveis da Capital, Província
de Santander, Colômbia (1850-1859), aguarela; Biblioteca
regiões montanhosas; eles deixaram um registro visual de cerca de duzentas Nacional de Colombia, Bogotá.
aquarelas desenhadas em perspectiva, sendo que entre as melhores figura-
vam muitas de Fernández [ilust. 3.16,17]. Apoiado pelo presidente colom-
biano da época, José Hilario López (1849-1853), o empreendimento foi
um descendente direto da missão de Humboldt, patrocinado pela coroa
espanhola cerca de cinqüenta anos antes. Ele também foi uma aplicação
mais aprofundada dos princípios do lluminismo europeu com relação à
investigação ernpir ica e à coleta de informações, agora associados ao con-
trole racional dos próprios assuntos por um gosto autônomo e, em parte,
levados a efeito por artistas locais para que se tivesse melhor compreen-
são do patrimônio nativo. Uma avaliação mais ampla do cenário dos ter-
ritórios e da diversidade de suas populações e, por fim, o reconhecimento
deste cenário como motivo de interpretação artística, foram o seu legado
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cinadas pelo estado. Mas a norma prevalecente de estilo não impedia va-
riações sobre temas nem a expressividade no tratamento por parte dos
professores e alunos que sabiam o que queriam e cujo impulso criativo se
rebelava contra a imitação de modelos importados. Embora a instrução na
academia mexicana - durante o longo período que vai do seu começo,
no século XVIII, até o fim da era de Díaz - se situasse dentro de uma fai-
xa de práticas gerais acadêmicas, em períodos de declínio, como mostra
Charlot, as inflexões nacionalistas podem ser percebidas nas poses, feições
e clima dos antigos temas copiados e nas frias posturas dos modelos vivos.
Por outro lado, nos períodos em que o apoio estatal e o controle externo
do curriculum e da instrução (através dos artistas europeus indicados para a
faculdade) se achavam no auge, a necessidade dos artistas de expressar
valores enraizados na experiência nativa atingia explosivas proporções. Já
na primeira década depois de sua fundação, houve uma reação contra o
pessoalda Academia San Carlos original, formado exclusivamente por aca-
dêmicos espanhóis. Mais tarde, com a revolução social no presente século,
veio a greve dos estudantes que deixou a escola fechada de 1910 a 1913.
Ela só voltou a abrir quando o novo diretor geral, Ramos Martínez, co-
meçou a dar aulas nos bairros da periferia de Santa Anita; ali, numa onda
de plein airismo, nos alegres bairros populares, resplandecentes de cores e
luzes, seria erguido o manto que encobria os sombrios e gélidos interio-
res neoclássicos.
O rigor e a tenacidade da tradição acadêmica no México pode, às ve-
zes, ter sido maior neste país do que no Brasil, no Chile, na Venezuela e
em outros lugares que também rendiam homenagens aos protótipos ar-
tísticos europeus, depois da era napoleônica. No entanto, em todos os paí-
ses onde o neoclassicismo foi instituído corno um meio a priori para a
regeneração artística, para que fosse preenchido o vazio deixado pelo ani-
quilamento dos critérios de criação baseados exclusivamente no sobre-
natural, ele estava destinado, no fim, a pôr em xeque a consciência da rea-
lidade nas mentes dos artistas. Aqueles que se desenvolveram num meio
empiricamente definido, e que, através da independência, fizeram desse
meio o seu próprio, instituíram um processo de autoliberação que con-
tinua até hoje.
No curso de sua história, corno observa mais adiante Charlot, a acade-
mia mexicana serviu como pano de fundo e mola para o impulso dado na
direção da independência criativa. Entre os artistas que lá se formaram, as
censuras impostas, ou mesmo os ensinamentos que lhes eram transmiti-
dos, produziram, ao longo dos anos, a firmeza de caráter e o domínio de
uma técnica necessários ao sucesso do renascimento do muralismo mexi-
cano. É o que afirma Orozco em sua vigorosa defesa dos anos que passou
na Academia San Carlos.
Os efeitos do rigor neoclássico sobre a arte latino-americana do sé-
culo XIX, nos muitos países onde esse rigor na formação de artistas pro-
fissionais - aqui incluídos também os de fora - estava centrado nas aca-
demias com patrocínio estatal, ainda está para ser avaliado. Uma conse-
qüência disso talvez seja o fato de que a racionalidade na arte sempre
esteve presente nas criativas composições latino-americanas. Até o final
do século, ela foi um freio, mas nunca um impedimento às tendências
individuais românticas. E na década de 1920, voltou a emergir, na forma
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11.Natureza, Ciência e
Pitoresco
NAS DÉCADAS que se seguiram à independência, o número de viajantes es-
trangeiros nas novas repúblicas cresceu fantasticamente. Na Europa, era
grande a curiosidade que aquelas terras ~ quase desconhecidas e em grande
parte ainda não mapeadas ~ despertavam em. cientistas e também em pes-
soas leigas ou ligadas ao comércio e à indústria; isso fez com que se pu-
blicasse uma avalanche de livros e álbuns magnificamente ilustrados que
iam desde minuciosos estudos sobre a flora e a fauna até pitorescas cenas
1
refletindo a vida dos lugares e seus habitantes.
Embora produzidos para consumo europeu, tanto os álbuns como as pin-
turas e gravuras dos artistas viajantes tornaram-se muito depressa conheci-
dos na América. A época em que apareceram, depois da independência, foi
de mudanças radicais na consciência política e social das novas nações ~ uma
época de autodescobrimento e de reformas, quando se passou a enxergar a
terra e suas oportunidades com novos olhos. Entre a "arte maior", de fei-
ção européia e praticada nas academias, e as tradições até certo ponto ocultas
da arte popular ~ retratos, ex-votos e imagens votivas pintados nas cidades
e vilarejos, durante o período colonial, por artistas locais quase sempre desco-
nhecidos=-, surgiu uma onda de criação de imagens condizentes com a nova,
ou recentemente percebida, realidade. A relação entre esta onda e a rique-
za tanto de informações como de um visual fora do comum, concretizada
na obra do cientista-artista viajante europeu, será explorada através de uma
série de confrontos visuais,através de" una conjrontacion de miradas" 2 Não
será pelo fato, ainda que verdadeiro, de o desenvolvimento da pintura paisa-
gística ~ para a qual não existiam muitos precedentes na América Latina ~
dever muito de seu caráter especial aos artistas viajantes e de o "costum.-
brismo ", que desde longa data fazia já parte do repertório de muitos artis-
tas latino-americanos, derivar do gosto europeu pelo exótico, que esta questão
poderá ser encarada como um simples caso de dependência. Há, sem dúvi-
da, uma diferença entre o instável viajante, que pinta ~ para ele ou ela ~ o
novo e estranho, e o artista residente, para quem. as coisas se apresentam sob
uma forma que sempre lhe foi familiar. Mas, ao mesmo tempo, esse mundo
familiar pode revelar seu potencial à investigação artística em resposta à visão
de um estranho e, nessa área, a adaptação dos modos europeus de represen-
tação à sensibilidade e às tradições locais ainda está por explorar.
A longa história das imagens da América segundo a visão do europeu
remonta aos primeiros contatos entre o Novo e o Velho Mundo." A inespe-
rada existência de outro continente, interrompendo a passagem ocidental
dos mercadores europeus para as ilhas do Oriente, ricas em especiarias,
tiveram profundo efeito sobre a consciência que tinha a Europa de si mesma
em relação ao resto do mundo. Os relatos sobre o novo continente ora
enfatizavam as semelhanças, ora as diferenças entre ele e. a Europa ~ em 3.1 íl Detalhe da ilust. 3.88.
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gios culturais dos primitivos habitantes tinham, em sua opinião, um valor histó-
rico independente de qualquer apreciação estética, mas por isso mesmo inte-
ressariam ao estudo "filosófico do homem"; com relação às paisagens, ele as
define como "pitorescas vistas dos lugares mais fantásticos do novo continente".
O projeto de Humboldt, que estabeleceu as bases para o moderno es-
tudo da geografia física e daquilo que, hoje, chamamos de ecologia, além,
naturalmente, da importância que emprestava à exatidão nos processos de
observar e medir, também promoveu a interligação do mundo natural com
sua estrutura, ou seja, da planta que é vista em seu liabitat (o mapeamento,
por exemplo, de todas as plantas do Chimborazo, segundo a altitude cor-
reta de suas localizações), e das culturas observadas dentro de seu ambiente
físico. Ele atribuía a superioridade das civilizações dos astecas e dos incas
ao fato de serem estes povos montanheses.
Embora haja relativamente pouco costumbrismo no Voyage ... , Humboldt
não deixou de retratar episódios que foi recolhendo durante suas viagens
e, no Atlas, encontramos um pequeno número de desenhos representati-
vos dos índios da região de Michoacán, em trajes típicos, que, na realida-
de, haviam sido desenhados em cima de figurinhas de madeira que trou-
3.26 Alexander von Humboldt, "Trajes desenhados por
xera consigo ao voltar para a Alemanha [ilust. 3.26]8
artistas mexicanos da época de Moctezuma", in Voyage de
Humboldt et de Bonpland, Premiêre Partie; Relation historique:
Atlas pittoresque: "v'les des Cordillêres et monuments des Muitos dos álbuns que apareceram depois do de Humboldt, no século XIX,
peuples indiyénes de l+Amérique", Paris, 1810;The British
Library Board. apesar de não terem tido o mesmo alcance universal que o seu, nem por
isso deixaram de abordar o lado pitoresco e matérias de cunho científico.
3.27 Alexander von Humboldt, "Trajes dos índios de
Michoacán", in Voyage de Humboldt et de Bonpland, Ramón de Ia Sagra, diretor dos jardins botânicos de Havana, publicou um
Premiêre Partie; Relation Historique: Atlas pittoresque: "Vues Atlas phvslque, politique et naturelle de Cuba [ilust. 3.28] e também uma
des Cordillêres et monuments des peuples indigênes de
l'Amérique'', Paris, 181 O;The British Library Board.
Histoire physique de I' Ile de Cuba em doze volumes. Claudio Gay, que morou
12 anos no Chile, publicou 24 volumes da Historia Física y Política de Chile,
acompanhados de um atlas de litografias (1854) em dois volumes. Um era
dedicado à fauna; o outro, com o título geral de Historia de Chile, não era
um livro de história no sentido convencional, mas uma seleção de pranchas
onde se misturavam paisagens, vistas de cidades, formas de recreação, reu-
niões sociais, tipos de profissões e indumentárias, inclusive os vestuários
usados pelos Índios araucanos. Como sucedera no caso de Humboldt, as
pranchas haviam sido feitas em cima do trabalho de vários artistas. Muitas
das litografias no atlas de Gay são de Lehnert, baseadas ou em esboços do
próprio Gay ou em desenhos daquele que foi o mais importante dos artis-
tas-viajantes, Rugendas. Gay utilizou não só paisagens mas também cenas
de gênero de Rugendas, como o quadro Costumes da gente do campo [ilust.
3.29], onde mostra um grupo de gaúchos. Essas pranchas, provavelmente,
serviram de fonte para o artista uruguaio Blanes, que pintou uma série de
quadros a óleo de pequena dimensão, mas de esmerada fatura, onde era
retratada a vida nos pampas. Seus gaúchos de ar melancólico, quase sempre
sós, são retirados de seu contexto costumbrista para ganhar significativos
títulos como Aurora, Crepúsculo, Amenecer e A tardecer [ilust. 3.31,32,33,34].
A coleção formada pelos três volumes do artista francês ]ean-Baptiste
Debret (ver capítulo 3: I), Voyage pittoresque et historique au Brésil, publicada
entre 1834 e 1839, até hoje é usada no Brasil como fonte de informações
etnográficas e sociais, independentemente de qualquer interesse artístico
que possa ter. Foi o próprio Debret quem fez todas as aquarelas e desenhos
para as pranchas da coleção. Elas constituem uma série extraordinária de
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1];, {}(;'YOJ Y frmJUU'II.">'. (;'//////
1/1'1- 1['1Df{vR01IHJl.
3.28 Rarnón de Ia Sagra, gravura in Alias pltysiq/4e,poliliq/4c et naturelle de Cubat Atlas, Paris (s/d);The Br itish Library Board.
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3.31 Juan Manuel Blanes, Aurora (s/d), óleo sobre 3.32 Juan Manuel Blanes, Crepúsculo (s/d), óleo sobre
papelão, 28x23 cm; Museo Municipal Juan Manuel papelão, 28x24 em; Museo Municipal Juan Manuel
Blanes, Montevidéu. Blanes, Montevidéu.
3.33 Juan Manuel Blanes, Amanhecer (s/d), óleo sobre 3.34 Juan Manuel Blanes, Entardecer (s/d), óleo sobre
tela, 38x30 cm; M use o Nacional de Artes Plásticas, tela, 36x30 cm; Museo Nacional de Artes Plásticas,
Montevidéu. Montevidéu.-
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NATUREZA, CIÊNCIA E PITORESCO
3.35 jean-Baptiste Debret, Aldeia de caboclos em 3.36 jeari-Baptiste Debret, Coleta de óbulos para a festa do
Cantagalo (c. 1820-1830), aquarela sobre papel, 19,8x26,8 Espírito Santo nos primeiros dias de julho. Festa do Divino
cm; Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (1826), aquarela sobre papel, 15,5x21,3 cm; Instituto do
Nacional!Museus Castro Maya, Rio de Janeiro. Patrimônio Histórico e Artístico Nacional! Museus
Castro Maya, R.io de Janeiro.
3.37 jean-Baptiste Debret, Banha de cabelos [sic] bem 3.38 jean-Baptiste Debret, Chefe dos bororenos partindo
cheirosa (1827), aquarela sobre papel, 15,8x21, 9 cm; para um ataque, (c. 1820-1830), aquarela sobre papel,
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional! 24,lx32,7 cm; Instituto do Patrimônio Histórico e
Museus Castro Mava , Rio de Janeiro. Artístico Nacional/Museus Castro Maya, Rio de Janeiro.
3.39 jean-Baptiste Debret, Goiaba (c. 1818), aquarela 3.40 Jean-Baptiste Debret, Negros vendendo galinhas e
sobre papel, 13x18,5 cm; Instituto do Patrimônio peru (c. 1820-1830), aquarela sobre papel, 18,8x27,6 cm;
Histórico e Artístico Nacional!Museus Castro Maya, Rio Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/
de Janeiro. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro.
NATUREZA, CIÊNCIA E PITORESCO
r c.vi.
virgem que é como se eles fizessem parte da natureza. Debret também re- 3.41 e 42 Joseph Skinner, A Minerva do PCrlI (1805);
coleção A. Burton-Garbett, Londres.
trata tipos de índios já "civilizados", em trajes europeus, geralmente aju-
dando bandos de soldados a capturar outros "vivendo ainda como selva-
gens" nas florestas [ilust. 3.61J. Esses bandos de desbravadores, que fica- 3.43 Jean-Baptiste Debret, Vendedor de alho e cebola
ram conhecidos como "bandeirantes", iam pelo Brasil adentro à procura (1826), aquarela sobre papel, 15,5x20,9 'crn.: Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/Museus
de escravos, mas são, hoje, honrados como pioneiros. Os hábitos e costu-
Castro Maya, Rio de Janeiro.
mes dos moradores das cidade foram retratados com olhos sardônicos.
Os álbuns que se tornaram mais conhecidos, entretanto, foram os que
continham vistas paisagísticas e cenas costumbristas, situadas naquelas áreas
em que a conirontaciôn de miradas entre artistas europeus e latino-america-
nos melhor se deixa apanhar.]oseph Skinner publicou The Present State o]
Peru (O estado atual do Peru), em 1805, onde se encontram gravuras de Índios
com trajes da mitologia européia, como a que leva o título de The Minerva
of Peru (A Minerva do Peru) [ilust. 3.41,42J. Daniel Thomas Egerton, um
dos melhores paisagistas ingleses que visitaram. a América Latina, é o au-
tor de Egerton's Views o] Mexico (Vistas do México de Egerton), publicado em
1840.Tipo perfeito do artista amador da época foi Emeric EssexVidal, que,
quando tesoureiro a bordo do Hvacinth, estacionado no rio da Prata, fez
uma série de desenhos e aquarelas reproduzindo a vida na nova república
- gaúchos, corridas nos campos, ruas e mercados; desses trabalhos, 25 fo-
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NATUREZA, CIÊNCIA E PITORESCO
rarn refeitos para sair na obra Picturesque Illustrations of Buenos Ayres and
Montivideo, de 1820.Augustus Earle, que se achava com Darwin no Beagle
em 1831, deixou certo número de esboços retratando a vida no Chile;
Edward Walhouse Mark é autor de aquarelas com motivos colombianos e
Chamberlain deixou cenas da vida brasileira. Claudio Linati, o artista ita-
liano que introduziu a litografia no México, é quem fez as ilustrações
costumbristas para a obra Travels in the Interior of Mexico 1823-1828 do te-
nente R.W. H. Hardy, publica da em Londres, em 1829.A própria obra de
Linati, Costumes civils, militaires et réligieux du Mexique, saída em Bruxelas
em 1828, é uma das mais expressivas e interessantes já publicadas no gê-
nero. Apesar do título, ela é mais do que um livro pitoresco sobre tipos de
indumentária, profissões e religiões (embora inclua também esses temas),
3.44 Henry Chamberlain, Ouitandciras da Lapa (s/d), pois contém retratos de personalidades históricas, cada uma acompanha-
aquarela sobre papel, 20,6x28 cm; Museu de Arte de São da de minuciosos comentários e escolhidas em função de seu claro com-
Paulo.
promisso com os ideais mexicanos de independência e com a reforma social.
A primeira das pranchas retrata Moctezuma e Hidalgo [ilust. 1.26) e in-
clui também as figuras de Morelos e Frey Gregório.
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NATUREZA, CIÊNCIA E PITORESCO
75
3.48 José Grijalva, Tmbalhadores naferrovia de Chiguancán (1907), óleo sobre tela, 72x93,5
cm; Museo de Arte Moderno, Casa de Ia Cultura Ecuatoriana, Quito,
3.49 Daniel Thornas Egerton, Rajada de vento 110 cimo.l zt acciliuatl (s/d), óleo sobre tela,
41 x35 cm; Banco Nacional de México S,N,C, Cidade do México,
3.50 Johann Moritz R.ugendas, O vulcão de Colima (s/d), óleo sobre tela, 67x48 cm; Banco
Nacional de México S.N.C., Cidade do México.
3.51 E.E Schute, Cachoeira de Paulo Afonso (1850), 1,16xl,52 m , óleo sobre tela; Museu de Arte de
São Paulo.
3.52 Nicola Antônio Facchinetti, Panorama de São Tomé das Letras (1876), óleo sobre tela, 52,2x92 cm; Museu
Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro.
3.53 Pedro Weingartrier, A derrubada (c. 1913), óleo sobre tela, 1, 17x1 ,48111; Museu Nacional de Belas-Artes,
Rio de Janeiro.
3.5-l R.afael Troya , Cotopoxi (187-l), óleo sobre tela, O,93x1 ,61 111;Museo "Guillermo Perez Chir iboga" deI
Banco Central deI Ecuador.
3.55 Andrés de Santa María, As ceifeiras (1895), óleo sobre linho, 0,80x1 ,06111; Museo de Arte Moderno de
Bogotá.
3.56-9 Frederick Catherwood, Vistas de monumentos
aI/figos América Central, Chiapas e Y//catáll (1844); Royal
I/a
lnstitute ofBritish Architects, British Architectural
Library, Londres.
NATUREZA, CIÊNCIA E PITORESCO
81
3.62-5 C. Nebel, quatro pranchas de Vo)'age pittoresque et
archéolooique dans Ia portie Ia plus intéressante du Mexique,
Paris, 1836;The British Library Board. .
3.66 C. Nebel, "Indígenas
carvoeiros", in Vayage
pittoresque et archéoiooique dans
Ia partie Ia plus intéressante riu
Mexique, Paris, 1836;The
British Library Board.
••
Ago (Longe e há muito tempo) nada tinha a ver com os limitados terrenos
de pastoreio da Europa. Os termos em que a dialética entre natureza e
civilização era entendida na Europa de então, da qual o pitoresco era apenas
3.7~_ Eduardo Laplante, litografia, in O livro dos ençetilios um aspecto, não correspondiarn à realidade americana e, quando se tornava
(18Y)-1857), Muse o Nacional, Palacio de Bellas Artes, possível ao viajante encontrar cenas que correspondessem a suas predis-
Havana.
posições, estas se fundamentavam totalmente em sua experiência européia
e não encontravam de pronto uma resposta satisfatória nos artistas locais.
Foi somente mais tarde neste século que artistas americanos como Velasco
desenvolveram uma forma distintiva de representar suas próprias paisagens.
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NATUREZA, CIÊNCIA E PITORESCO
deava. No Peru, o autodidata Pancho Fierro (ver capítulo 3:1) fez uma série
de aquarelas [ilust. 3.70-73] não só de tipos como o vendedor de bilhetes
de loteria e o homem dos fogos de artificio, mas também de tipos da
moderna Lima que não podem ser enquadrados na tradição costuinbrist a. 3.78 Gustavo Lazarini, Dama de Alltiglla (1941), aguarela
sobre papel, 49,5x34 cm;The Museum of Modem Art,
Estes chegavam a beirar a caricatura; era comum o caso de gravadores satíri- Nova York; Inter-American Fund.
cos que, além de colaborar em jornais ilustrados, podem ser considerados
pintores costumbristas.
O pintor cubano Victor Patricio Landaluze, que foi também diretor e
caricaturista-chefe da revista ilustrada satírica DOII [unlpero, pintou colo-
ridas cenas de rua e de dias de festa, além. de flagrantes humorísticos su-
gestivos dos modos e procedimentos afrancesados [ilust. 3.74,76,77]. A
ligação entre a caricatura e o costumbrisnio nos diferentes países da Améri-
ca Latina é evidente. O álbum de gravuras pitorescas, por exemplo, que
acompanha a Historia de Chile (1854), de Claudio Gay, contém duas dife-
rentes cenas de "tertúlia": uma em 1796 e outra em 1840, sendo que na
primeira se nota leve intenção caricatura! das maneiras provincianas. Há
grande quantidad de gravuras na Argentina dos anos de 1830 que satiri-
zam as extravagantes modas da época, como os gigantescos pentes de tar-
taruga usados pelas damas de sociedade que eram mostrados bloqueando
vãos de portas ou emaranhados nas barbas dos amantes.
Torres Méndez é um artista colombiano sem formação acadêmica que,
em 1824, aos quinze anos já trabalhava como aprendiz numa oficina de
estamparia. Ele é autor de algumas das mais espirituosas sátiras sobre a socie-
dade e os políticos de sua época, além de ter regularmente colaborado em
Los Matacliines lllustrados; fundado em 1855. Foi não apenas caricaturista mas
também um desenhista com enorme talento para captar cenas da vida; algu-
mas litografias, feitas a partir de seus desenhos e publicadas como Costumbres
Neo-Cranadinas, foram impressas em Paris. Foi também bom pintor de pai-
sagens e de retratos; por sinal, um dos últimos que fez foi o de Simón Bolí-
var, em comemoração do centenário de nascimento desse herói em 1883.
A representação das figuras do lugar bem como de festas e procissões,
em geral fazia parte do repertório dos artistas profissionais, como no caso
de Torres Méndez. No Equador, Ramón Salas pintou retratos e temas re-
85
NATUREZA, CIÊNCIA E PITORESCO
I ,.
J'"VI..':': rI?t c 'tI.' 'I ':.L. ~i.I..Ó
3.79 Rarnón Salas, Alcaide in dio COIII dos anjos (s/d), ligiosos ao lado de uma deliciosa série de aquarelas [ilust. 3.79,80,81] onde
aquarela sobre papel, 15,2xl1 ,5 cm; M useo de Arte reproduz tipos como o do Prefeito índio C0111 dois anjos e o do Vendedor de
Moderno, Casa de Ia Cultura Ecuatoriana, Quito.
água de Quito, que carregava seu fardo à tradicional maneira, com. uma
3.80 Rarnón Salas, Fantasia de inocentes: Beiermo, Mono e correia passando ao redor dos ombros.Joaquín Pinto que, como Salas, em
Baquero (s/d), aquarela sobre papel, 16,5x13,5 cm; Museo
de Arte Moderno, Casa de Ia Cultura Ecuator iana , Quito. época posterior da vida, se ligou à recém-fundada Escola de Belas-Artes
de Quito, mas que começara trabalhando no estúdio de outro artista, co-
3.81 Rarnón Salas, lndio a,{!/ladeiro de Q/lito (s/d),
aquarela sobre papel, 14,7x11 ,7 cm; Museo de Arte bre um largo campo de temas. Suas aquarelas retratam tanto "tipos" como
Moderno, Casa de Ia Cultura Ecuatoriana, Quito. costumes folclóricos e locais, além de temas religiosos, mitológicos e histó-
ricos [3.85]. Foi um dos pr imciros equatorianos a também. pintar paisa-
gens, sobretudo montanhosas, enquanto seu conterrâneo Rafael Troya de-
dicou-se principalmente a vistas tropicais [ilust. 3.54]. O brasileiro Miguel-
zinho Outra, em estilo muito 11 a 1, além de seus estudos sobre arquitetura,
deixou retratos e pinturas figurando tipos populares [ilust. 3.83,84].
Ao lado do costumbristno na pintura, havia também estatuetas feitas de
cera e papel, geralm.ente muito bem executadas e abrangendo uma grande
86
NATUREZA, CIÊNCIA E PITORESCO
87
3.87 José Agustín Arrieta, EI chinaco y Ia cliiua (s/d), óleo sobre tela, 1, 14xO,89m; coleção particular.
3.88 José Agustín Arrieta, EI costeiio (s/d), óleo sobre tela, 91x71 em; coleção particular.
3.89 Edouardo Pingret, Aguadeira (1852), óleo sobre tela
69x59 cm; Museo Nacional de Historia, Cidade do
México (lNAH).
91
NATUREZA, CIÊNCIA E PITORESCO
''fI'ffll a/~ •.• ~ & J2>h1mt illll'flOt'''f'lÍn: O/,}' cOII.J1:rl"O" I ,1/tiíllT'fIrrlulo rl':4tfltc,//;,;pr
3.94 Anônimo, ex-voto (1885), óleo sobre bronze, t1c1 ali". ,to Ji9/'i, tU,,"'J libtll' á. ó"/ trrriÍlr mal. 't/'(~/'."ha.",j•. !r, nctit'ittad df 1m..
35x50 cm; M useo de Bellas Artes, Caracas. L- "-_ e...__
.•• JL)"J ~~ ·11 -"
94
NATUREZA, CIÊNCIA E PITORESCO
97
3.108 Benito Panunzi , Família do chefe araucauo (1865),
impressão em albumina, 12,5x19 cm; coleção Hoffenberg.
3.112 Marc Ferrez, Viaduto sobre o rio São João (1879), foto
em papel com albume, 38x53,5 em; coleção Hoffenberg.
NATUREZA, CIÊNCIA E PITORESCO
francesa Flora Tristan não deixou de observar o fascinante efeito que este
quase completo disfarce produzia e também a liberdade que permitia:
"Não há lugar no mundo onde as mulheres sejam tão livres ... "14 As "da-
mas lirriefias" que aparecem no quadro de Rugendas, Vista de ~i/11a [ilust.
3.107], bem como os gaúchos nos pampas argentinos, têm sua correspon-
dência em fotografia, o que vem mostrar até que ponto a arte de docu-
mentar fotograficamente elaborou seus temas a partir dos estereótipos
existentes. No entanto, a fotografia, ao mesmo tempo, achava-se aberta à
realidade de um modo que fugia às possibilidades das cenas pitorescas
C0l110 tais, permitindo, inclusive, que o indivíduo fosse apanhado em con-
dições que, até o surgimento dos muralistas mexicanos e dos gravuristas
do século XX, não se enquadravam nos propósitos das belas-artes. O fo-
tógrafo anônimo que registrou a humilhação de uma jovem indígena 3.115 Anônimo, Prisioneira lndia (1895), foto em papel
[ilust. 3.115], ou aqueles que deixaram fotos, como a do chefe índio des- com albume, 20x11 ,5 cm; coleção Hoffenberg.
tituído de sua dignidade [ilust. 3.109] e a do araucano de ar desafiador
no cemitério de seu povo [ilust. 3.111], oferecem uma sombria contra-
partida do pitoresco na pintura.
99
4
José María Velasco
As PAISAGE S de Velasco dominam a pintura do México nas últimas déca- 4.1 Detalhe da ilust. 4.5.
das do século XIX. A nitidez e o naturalismo em sua obra, bem como a
apurada observação e o tratamento dado à luz nos detalhes de prim.eiro
plano já sugeriram. uma comparação dele com Corot e outros artistas da
escola de Barbizon e, ainda mais apropriadamente, com o Pissarro da pri-
meira fase; no entanto, há outros aspectos que o distanciam bastante des-
ses artistas. O mais evidente de todos era o seu amor a o grande panora-
ma que envolvia uma atitude, para com a paisagem e a natureza, bem. di-
ferente daquela da maior parte dos europeus da época. Para estes, a natu-
reza era para ser "fielmente vista em toda a sua variedade e vivacidade", 1
livre dos tropas do Classicismo ou do Romantismo e com o acanhado
motivo pintado ao vivo: árvores, pátios de fazenda, ruas de vilarejos, cam-
pos de milho, margens de rio. Velasco precisava encontrar meios que o
levassem a representar uma paisagem muito mais vasta que a Europa, im-
possível à maneira como então se retratava o pastoral e o selvagem. Con-
seguiu-os desenhando segundo duas antigas tradições de representar a
paisagem, as duas de origem européia, e a sua genialidade estava justam.ente
no modo que encontrou para adaptá-Ias às condições essencialmente mexi-
canas [ilust. ..U-7,9,13,14,16].
Essas tradições referem-se às clássicas paisagens originalmente criadas
no século XVII por Claude e por Poussin e pelas cenas topográficas dos
artistas viajantes europeus, impregnadas (ver capítulo 3: lI) de atitudes re-
lacionadas ao pitoresco e ao Romantismo. Ambas eram condicionadas por
uma dialética especificamente européia entre natureza e civilização que
faziam parte, no entanto, da formação de Velasco como artista. A paisa-
gem clássica foi trazida ao México pelo italiano Eugenio Landesio, que
101
JOSÉ MARíA VELASCO
102
-l.7 José Maria Velasco, O vale do México
(1875), óleo sobre tela, 35x48,8 cm;
Národní Muzeum, Praga.
105
JOSÉ MARíA VELASCO
tológica ou histórica. Com Velasco essas mudanças foram muito mais longe:
ele eliminou as molduras de árvores e colinas,jogou a linha do horizonte
para zonas bem mais altas na tela, com o ponto central de fuga, em vez de
acima, bem abaixo do horizonte. Isso dá uma ênfase muito maior aos as-
pectos de interesse ou espetaculares do primeiro plano que, agora, parece
estar caindo mais na direção do observador do que se distanciando dele e
dá uma ligeira sensação de desconforto que é mais de amplidão do que
de clausura. Em vez da luz prateada ou dourada e bem disposta de Claude
(que, em Landesio, aparece como um brilho rosado), a Iurninosidade de
Velasco é naturalista. Como Constable, ele fez estudos de nuvens, que usava
então em suas pinturas, para obter efeitos chamativos.
Se, agora, prosseguirmos comparando o Va/e do México, de 1875, com a
mais famosa obra de Velasco, Vista do Vale do México [ilust. 4.9], de 1877, é
possível ver não só aquilo que veio substituir a natureza "ideal" da paisa-
gem. clássica, como também de que modo conseguiu Velasco guardar o
equilíbrio da vista como um todo, e ainda aqueles aspectos selvagens e
agrestes que resistem aos olhos desejosos de maciez e uniformidade. As
insignificantes figuras de caráter pitoresco do primeiro plano do Vale do
México desapareceram para dar lugar a uma águia, mais embaixo à direita,
e a um cactos. Embora faça, é claro, parte do cenário natural, esses dois
elementos lembram o mito da fundação de Tenochtitlán, a capital asteca,
4.11 Anônimo, AgI/ia e cactl/S (1834), de uma folha
volante, in Papeles Varios; The British Library Board.
no lugar onde atualmente está a Cidade do México. Em 1325, reza a len-
da, o errante povo mexicano, seguindo o conselho de seu deus tribal,
4.12 Codex Mendo z a, MS Arch. Seld. A.l foI. 2r; Huitzilopochtli, estabeleceu-se no lugar onde uma águia com uma cobra
Bodleian Library, Oxford.
presa nas garras pousou sobre um cactos. Essa imagem [ilust. 4.11,12], cuja
I\. ~Q 1<if-c-'5-'''-'fJ~--;::=-;'''=S./...f. =ci5j~~~iID tradição é anterior à chegada dos espanhóis, tornou-se o emblema do
!" v ~".t..,.. ..,
..+-- - México. Igualmente, a significação da estrada que se alteia, ligando-se à
que vai ziguezagueando rumo à cidade, não teria passado despercebido do
público de Velasco. Era uma daquelas vias construídas para ligar as ilhas,
onde se localizava Tenochtitlán, às praias do lago Texcoco. (Atualmente, a
Cidade do México estendeu-se, ocupando quase toda a área.)
Dessa forma, a pintura como um todo relata claramente o nacionalis-
mo historicista (descrito no capítulo 2) e, através dela, o passado pré-his-
pânico era invocado para fortalecer a idéia do México como nação. A
estrutura e a iconografia da pintura adquirem novo sentido nesse con-
texto. O primeiro plano, em vez de ir aos poucos afastando-se do obser-
vador, vai, livre e desimpedido, distanciando-se à esquerda, sugerindo a
vastidão da terra, mas, ao mesmo tempo, a escura massa de répteis da co-
lina indica claramente a direção da cidade. As rochas, a vegetação e as en-
costas escarpadas não se põem como sinais de uma região agreste con-
trária ao homem e à civilização, da maneira como poderiam ser vistas por
um viajante adepto do pitoresco, e tampouco estão subordinadas a tipos
de uma natureza ideal, mas se mostram, antes, como uma característica
do México. Outras pinturas de Velasco compartilham o sentido da his-
tória mexicana entrevisto nas paisagens, como as que retratam o Banho
de Netzahualcóyot/, as vistas das pirâmides em Teotihuacán ou A Sabiua de
Papal/a, mas nenhuma delas tem a sutil e alegórica grandiosidade de seu
quadro México.
Já em vida, Velasco foi um artista de sucesso e muito comentado. Em
geral, a crítica lhe era favorável, mas assim mesmo foi alvo de um famoso
106
JOSÉ MARíA VELASCO
ataque da parte do poeta e crítico Altamirano. O conservadorismo e ca- ..L 13 José María Velasco, EI Citlaltépet! (1879L óleo sobre
tela, 1,05x1 ,60111; Museo Nacional de Arte, CIdade do
tolicismo de Velasco eram antipáticos a Altamirano, mas não era isto que
México (INBA).
estava na base das acusações que fez em seu artigo "Salón 1879-80, Impre-
siones de un Aficionado". Nele, Altam irano critica Velasco, primeiro por
estar demasiado preocupado COITl. a localidade e não com a arte, e, segun-
do, por restringir-se a paisagens monótonas e repetitivas, corno as secas
colinas castanho-amareladas do vale do México, com sua vegetação sempre
igual.Altamirano conclamava-o a procurar, em vez disso, os majestosos picos
das serras altas, as regiões tropicais com sua tlora aveludada e as pitorescas
cabanas de índios." Também criticava as paisagens de Velasco que pareciam
pintadas através de um telescópio, "o que nada tem de narural "."
É possível que essa crítica tenha intluenciado Velasco, pois ele passou
a pintar algumas cenas tropicais. Mas, mesmo nelas, quase sempre tem co-
1110 preocupação dominante o enaltecimento de outro importante aspecto
do México nesse período: a modernização do país. O quadro EI Citlaltépetl
[ilust. 4.131 reproduz um dos maiores feitos de engenharia, a estrada de
ferro da Cidade do México - Veracruz, concluída em 1872, que consti-
tuiu o desenvolvimento econômico mais importante da época." As foto-
grafias desse tempo reproduzem praticamente a mesma cena. Nos qua-
dros EI Citlaltépetl e Ponte e/li Metlac [ilust. 4.14],Velasco acrescentou uma
exuberante folhagem tropical, delicadamente pintada e iluminada con-
107
JOSÉ MARíA VELASCO
108
JOSÉ MARíA VELASCO
Quando Velasco foi a Paris para a Exposição Universal de 1889, onde 4.16 José María Velaseo, Paisagem mexicana COI/I vista do
lago Clialco (1885), óleo sobre tela, 49x71,6 em; Národní
estavam sendo exibidos 68 quadros seus, ele, pela primeira vez, deu de face Muzeum, Praga.
com o impressio nismo. Fascinado pela nova técnica, passou a pintar, en-
quanto estava na França, estudos que reproduziam árvores e paisagens mon-
tanhosas, totalmente de feição européia, e a usar a nova maneira, com to-
ques e pinceladas muito mais soltos. No entanto, será difícil encontrar
qualquer traço disso depois de sua volta ao México, e caberia a outros
artistas, como Clausell, levar o Irnpressionismo para lá.Velasco continuou
pintando vistas do vale que, apesar de serem, em sua maioria, telas meno-
res que as dos anos de 1870, não deixam de guardar a característica eorn-
binação de naturalismo com grandiosidade.
Para os contemporâneos europeus de Velasco, a "pintura de paisagem"
já não figurava mais na hierarquia acadêmica dos gêneros. Diferentes ati-
tudes para com a arte de retratar a natureza haviam produzido mudanças
radicais na própria pintura.Velasco, entretanto, permaneceu um pintor aca-
dêmico dentro do contexto mexicano (chegou, inclusive, a fazer cópias
de suas próprias pinturas). Contudo, transformou o gênero, ao manipular
as estruturas da paisagem clássica para reproduzir uma natureza cuja rea-
lidade está ligada a uma idéia do México.
109
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5
Posada e a
Tradição Gráfica
Popular
A ARTE GRÁFICA - sobretudo as gravuras satíricas e populares - tem, na Amé- 5.1 Detalhe da ilust. 5.22.
rica Latina, não somente uma tradição de continuidade conta também ex-
cepcional força. Pelo menos uma parte dessa força que lhe dá continuida-
de vem do trabalho do mexicano José Guadalupe Posada e da admiração
que sentiam os muralistas mexicanos por essa forma de arte. I Não fosse o
papel que tiveram em sua recuperação, essa obra talvez houvesse sido tão
efêrnera quanto o meio empregado originalmente para difundi-Ia - os
jornais satíricos ilustrados e a maciça produção de cartazes que tiveram
larga distribuição no século passado, mas que, no futuro, não passariam de
matéria para arquivo, com interesse apenas para historiadores políticos e
sociais. Será, pois, a obra de Posada que irá introduzir uma corrente do-
minante na pintura latino-americana e alimentar gerações de gravadores
- em especial a Taller de Gráfica Popular, fundada no México em 1937. A
mais recente curiosidade com relação a essa modalidade de expressão vi-
sual- a rica produção de gravuras pitorescas, satíricas e cômicas - tem ser-
vido mais para ressaltar do que diminuir seu singular papel.
Houve no século passado um considerável intercâmbio entre os jornais
e periódicos satíricos da Europa e da América. O Charivari, fundado em Paris
em 1833, e o Puucu, 01' tlie Loudon Cliarivari, fundado em 1841, ganharam
fama internacional e, reciprocamente, o mexicano EI Hijo del Ahuizote (1855-
1903), bem como o cubano Dou [unipero (1862) iriam tornar-se peças de
colecionadores." O mesmo pode-se dizer de La Orquesta (1861-1877), um
periódico liberal de grande influência para o qual alguns dos melhores li-
tógrafos da época, como Constantino Escalante, trabalharam. Fica eviden- 5.2 "Adeus 1862"1 (... )", Dali [uulpero, -I de janeiro de
1863; The Br itish Library Board.
te quando se vêem os cartuns de Escalante que ele conheceu o trabalho do
artista francês Grandville (Les Métamorplioses riu jour, por exemplo), cuja obra
Les Fleurs aniniées foi publicada no México em 1849. O trabalho dos cari-
caturistas europeus, principalmente dos franceses, podia ser visto em luga-
res como a Litografía en Ia Calle de Ia Palma:"Essa grande oficina litográ-
fica (... ), sem dúvida, possuía uma vasta e variada coleção de litografias e
de livros e periódicos ilustrados para serem usados como modelos ou fon-
te de inspiração" .:llntercâmbios desse tipo também se verificavam em outros
lugares. Em Cuba, o DO/l jlll1ípero, um "periódico satírico-jocoso con abun-
dância de caricaturas", incluía cartuns de outros periódicos, como o Punch,
além de criações espetaculares feitas por gente da casa, como a charge "adeus
ao ano velho" [ilust. 5.21, de autor desconhecido.
O artista italiano Claudio Linati estava entre os diretores de uma das
primêiras revistas editadas, EI lris (1826), "Periódico crítico y literário",
111
POSADA E A TRADiÇÃO GRÁFICA POPULAR
DON SIjJIP·LI(JIO. sua primeira página [ilust. 5.3] e tinha relativamente poucas ilustrações nas
páginas internas.Já EI Calavera, fundado em 1847, "periódico joco-serio,
pcrió~ico Burlcsro, \Crítico U ..filosófico, por unos 5implrs. político y literario ", como anunciava em sua primeira página, dava mais
ênfase ao conteúdo visual. O esqueleto (calavera), responsável pelo título,
i;::\:;~~:, :~~;~?::2.::;:'::,,=:
:'~~;'::: I '~~::'~~~:;;:'i:~~~~~,~~ii:~:f.~I:~:;::~~:;:: que é mostrado, caricaturalmente, com roupas modernas, era a voz mo-
; TOM.III. : U:~~:!lDbJ _,r~I1::I~ 6 ~:ll ~s~~- ·~í Mf:S J. {
ral-crítica do jornal; figurado com a verdade e a justiça do lado, ele expu-
rOltRESPOXDE:-.'('L\ I'JiIV.\lH Dt; D. til \1I'UCW. ""'1_" Y"
P.lo!~hiw,po;l(I"",,_Pi~.lula~<l\ltlIoe'ndan
P
dt:1al''',.;O,COIII<lb..,.uLreque»<>1,''''''
,·i.'",
,-, "na d ••q_ •.""" ou fCU't nha as mentiras do governo ou, através de uma significativa metáfora, pran-
••• '''' ••••. dcu:.",.
",.nd.r No. mijlC-lOl_.
TeJ>p;o
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Ax""", ••nun-ro: :qut"(>jtw:I_«h,,",ri~ura! C-'I<>"~(ot.-.dit.dd SaIlIO N,iIo
A1rabo,'I.IcI.bim
loeandso"",dM!ltf!<'.
n>eJ.cio, •• qller"'-"" ••.•.• !f;o,p<!<RWI q... •• 'konu.II'.l\ull ••.••
1•••.• Mdi'~rv>f',"'-...,.,'Ull>Qr;, ••••• lUe'
IOf,"" •.•.••
1•••• _de-pureoul'Ninr
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«>m<>lal""'lria.
teava o naufrágio do barco governamental. Esse jornal foi uma das muitas
o"""" •••' .•plj."""',,;n>epo-
~" ••••••••• ,porqoa_oorta.'I""Ia"'lUI\OlIO_ :p'" n. po.•• I·uririo-.q •••• piro,.!;ce 'I"" ,-•• .., dtp""OO«lItll_.'/Y'>
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ck-je ·qooe•••••••OItO'Oporacatrwdcns.
1r"~/ ••,...,r.tX"••_l"""'..-.Io ••,JHIl,...,..._krl.~.
••• fontes que inspiraram as famosas calaveras de Posada." Suas litografias e
Alie•• Simpl;"io:~.""",,~
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T"Y".befq.M:h""Y1
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•••• dOOdr: se _n_ ••••••••ln><~haq~'!n.i"''1
;.;..p~,:;: talvez para evitar perseguições,já que os diretores dos jornais satíricos iam
••• 0:.0sd..>1 pucl>lo_ un.cl,iIofI"
bII,\'CfO•. _pobl...,hoinf ••••"'loobc'l'pt.w..fln""'t..,tc:
oit, I"'"""' .•••. ~ Ilfopr un:t ~p<'Ieto de III~,. li~d.
•.•.,I<rJe....
mo"ir.nw.o;
Itq"; 1"~II"'''"<I'~~~
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constantemente presos. De uma maneira que lembra as pequenas revistas
lOol•••• y,"'iCJ'un ",....00 dfll"""'b....,.,.
'I"" n~<h di: .IIOI'r'" O!'>t~ _leal"" pri....:ro,
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112
POSADA E A TRADiÇÃO GRÁFICA POPULAR
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'I'vniblc cembntc entre li. Geró~
I p. Gerõniruo. alar-nado con la fatal
. nucva que Ic diô Ia aparicion. descu-
Una apericiou a.runcia á D. Go.rÓ"\ n-o todo (>1in 'crnal proveeto llel pa~
nimo que t.l padre Hipclito no COIl Ire Hipélito y se apercibe á "{'ngar Ia
tento COIl hubcrlc rcbudo Ia novie freutu que le trama su terrf ble rival.
piensn robarlc Ia hcrmuna i E~liÍ.vis tn RI dia destinado ai rapto 10 acecha
D. Gcrónimo, es hombre de sucrte l tras de una pucrtu.
I
De esta tcrrihle lucha, el diablo se D. Ger6nimo os cxcomulgado y se
llCV:110 que ('~ suj-o. .va secundo al son de su violino
-'~iil>'-
AL PUBLICO.
Hnbieudc tornado por su cuenta esta rcdaccion una imprcnla litográfica
de Ias mas modernas, tenemos c] gusto de anunciar que nos encar~amos de
tcdu clave de trabujos de esta espécie, hacicndo una no tablc rcbaja en to-
dos los precios hasta aho rn nr-ostumbrndos.
Las pcrsonas que desccn oc uparnoe, pueden dirigir~e :i la primer a ealle
de San .luon núm. 11 todos 108 (lias, tio doce ;:l.dos de Ia tarde, ó bien á Ias
alaccnas de D. Antonio y D. Cristôbul de Ia. Torre, portal de Mercadores.
Tallluien autorizamos' (l uuestros enn-espo nsules para {lue por su c.mduc-
to se 1108 pueda CII('(ll'gar cualquier clasc de irnbajo , deoién~lose indic~r cn
el pedido Ia clasc de papel que se dcsea, y ti ernus advertenclas flue 105 m.te..
rosados creun necesarias; en la inteligencia que cl prccio de 105 trabajos
que hagamos hu de ser mas económico que en cualquier ou-o cstablecimiento.
Esta rcdaccion responde de Ia exact ituâ, economia y breocdad en el des-
~~~. ernpeüo de Ias obras que se Je cncornienden.' .
Para nuestros antig uos suscritores, serão mas notables aú n Ias rebejas
EI caritativo-padre lIipõlito, salva de Ias garra. deI demonio á Ia jó.ou
que haremos en 105 precioso
berro. na de D. GerÓnimo.
mostram que ele estava bem familiarizado com a linguagem visual dos 5.5 Anônimo, "Chanzas de Cup ido ", in EI Tío
caricaturistas da Cidade do México, como a de Escalante, por exemplo. Nonillo, 30 de outubro de 1850;Yale University,
Sterling Memorial Library, Coleção latino-americana.
Apesar da rigorosa censura do governo de Porfirio DÍaz,6 continuavam
a florescer os periódicos ilustrados satíricos e alguns jornalecos de publi-
cação menos regular. Em León, Posada gozava de excelente reputação como
litógrafo; ensinava litografia e executava muitos trabalhos por encomen-
da: alguns de caráter topográfico e outros referentes aos serviços normais
de tipografia ("[ ... ] formulários para recibos, anúncios impressos, cartões
de visita, embalagens para charutos, rótulos, caricaturas, etc.").? Em 1888,
ele mudou-se para a Cidade do México, onde durante 25 anos ma con-
tribuir para mais de cinqüenta diferentes jornais e panfletos.
O primeiro trabalho regular exercido na capital foi em La Pátria Ilus-
trada (1886-1890). Seu estilo gráfico e humor lembram os de Escalante,
mas ele tem características próprias. Diferente de outros cartunistas, está
também à vontade com cenas e figuras a que dá um tratamento mais na-
turalista e compreensivo, embora seus desenhos satíricos se mostrem par-
113
POSADA E A TRADiÇÃO GRÁFICA POPULAR
114
CALAVER4Ul LA PENITENCIARIA
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5.8 José Guadalupe Posada, Calavera de Ias eleaioues 5.9 Manuel Manilla, Calavera de Ia penitenciaria; coleção
presideuciates, 1919. Arsacio Vanegas Arroyo, Cidade do México.
5.10 José Guadalupe Posada, Calaveraferrocarrilera, 1919. 5.11 José Guadalupe Posada, EI Panteou de Zapata.
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5.12 José Guadalupe Posada, Uma morte maltratada -
trombada de bonde com carro [únebre, água-forte em relevo,
9,7x15,3 crn , publicada em 1889 e 1895;The Museum of
Modern Art, Nova York; Larry Aldrich Fund.
116
POSADA E A TRADiÇÃO GRÁFICA POPULAR
trabalhos, nessa área, foi para Antonio Vanegas Arroyo, um editor de ca-
ráter decidido, que também empregara Manuel Manilla [ilust. 5.71. Além
da rotina de imagens devocionais da Virgem de Guadalupe e de outras
virgens e santos [ilust. 5.16J - tudo executado em papel fino e de acor-
do com o calendário de peregrinações e festividades religiosas -, Vanegas
Arroyo lançou folhas volantes e os chamados corridos, noticiando fatos sen-
sacionalistas - descarrilhamento de trem, incêndio em praça de touros,
trombada de bonde com carro fúnebre, catástrofe numa mina, mulher que
dá à luz três crianças e quatro iguarias, homem com corpo de porco, ete.
- que eram ilustrados por Posada, em estilo particularmente grotesco.
Havia corridos que versavam sobre a captura e execução de bandidos tipo
Robin Hood (exterminados por Díaz, mas exaltados como heróis an-
tigovernistas) e também sobre crimes monstruosos e mortes violentas
[ilust. 5.131. Posada fez numerosas gravuras em que figurava execuções
por pelotões de fuzilamento, que Vanegas Arroyo costumava usar mais de
uma vez, trocando apenas os nomes das vítimas [ilust. 5.151. O famoso
117
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LA CAL VERA
~ DEL EDITOR POPULAR *
AiNTONIO
. VANEGAS ARROYO
Esta si e la cnlavera Y millares de Iolleto-,
dei Editor popular, y bibliotecas enteras,
más fachosa v silamer.i que Ilevó élos esqueletos
como otra nunca han de ha llar, y ãtodas Ias calaveras,
81 fu~ quica nos publicaba Lo que es de boy en adelante
mil primores ele poesia, .1 cementerio será
que nuestra viela endulzaba 10. invitación más g'a laute
y llenaba de aleg-ría. que cue lquier mortal hara.
Teuíi.l. preciosas histor ias AUã encontraréis g-ustoso::.
que al más triste hacían gOZar. mil lec turas ag radabtes,
y dejaba eu Ias memorins mil cuentos maravif losos
no recuerdo sing nlar. v veraitos admirables.
1,08 alegres sin medida. . Hi...tori as estravag aute
levendo 5US oracionea oracioues fervorosas;
se·Jltíao tan corta Ia vida sucesos es pel uznautes
que prendían SUl) coraaoues .. ,. y con edi ••• muy hermosas.
Las muchachns que alocadaa AlIá Dou .Toncho Vanegas,
por el novio ni dormir COmo en el mundo hizo igual;
pueden Ias ... _enamoradas sig-ue l1enando taleglui
y no I, saben decir. v aumentando su caudal
Que le quieren,que I. adoran- • Aqui dejó •• su hijo Blas.
no se saben e:rpresar . . . . t que entre los vivos rezumba,
Y Ias desdichadas lIoran .. pero que <emite más
eJ Editor Popular. para el país de Uttratumba,
Da colecciones preciosas Aliá compra basta 01 demonio
pa ra poder escoger para escribírte á su diabla,
de mil cartas amorosae, lns cartas que Dou Antonio,
Ia 'lue í5Uste á Ia mujer, 4e puros amores na bla,
Y 10s tra tos arreglados Y tambiénvende á Ia muerte
108 novios pronto tenían
"regla •• pa echar Ia baraja'
y prometeu que abogados que, élla aplica diligente
de Dou Antonio serían y á Ios médicos desgaja., ..
Los uiãos ag-r:1decid~~ ..
Y todo aquello es ganar,
SU$ cuentos leyercn ya,
a llf cualquiera trabaja,
que sou tan entretenidos y el Editor Popular,
que los Iee ha.ta SI> papá .... ni muerto jamás se raja.
POSADA E A TRADiÇÃO GRÁFICA POPULAR
5.1 H José Guadalupe Posada.t'Alguma coisa podre 110
reino da Dinamarca", in EI Popular, 1 H de janeiro de 1 H97,
University ofTexas, Austin; coleção latino-americana
Nettie Lee Uenson.
H istorias extravagantes
oraciones fervorosas
sucesos espeluznantes
y comedias muy hermosas.!?
119
EL
E
r~R~AT~RW
~EL QUE \ ACE L
ARTI~TIm
S CAI~AVER
De 10sArtistas y Artesanos.
----~------ ~ ...••_ ------------
Eu este Pa,lrgat.oriosi•• segundo Los artistas se veu de todo JilBDdo.
Cft'lb
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OInb,..
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': coa fi mil,. t-inI ••Ut'I.laM~
(V\ll.• '*"- Lóln rlJCHlC1'd
Ta ~ I'o\lCt& craba •••.,
. I'ere t~ til dnIun:l
te hort\ 4c 'lU<' lUcras
r.at.Mcri tc~ mand •••,....lllf'l •••• t'fObt.k: cal-.c7JI,
Coe UnA 4eltrua ,.,.,. eo.J1'1I ••• ttot>riUf); ••V4Ir .DI •• pa-e14
Cat~Ç9JItll~'" Todo d munJo la li.ibt\ftó, dçja~ •••••. ..,que:aGlce..
AI PilMr íllll <ltra ,~!&,
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5.22 José Guadalupe Posada, Calavera dos jornais, gravura um novo tipo de imagem visual, espetacular, condensado e simplificado.
em metal-tipo, J 4,9x26,6 CI11, publicada em. 1889 e 1895;
Algumas vezes, usou recursos parecidos com os das primeiras caricaturas,
The M useurn of Modern Art, Nova York; Larry Aldrich
Fund. do tipo das rupturas de escala (posteriormente usado em fotomontagens
satíricas e cômicas), como no caso de A nietamorjose de Modero, na qual
comenta a súbita transição para o poder do novo presidente. Também trans-
formou a figura da tradicional cala/lera q.ue já havia, antes, representado
milhares de papéis numa série de imagens diretamente relacionadas com
a revolução. Numa das últimas gravuras que fez para a Cala/lera Revuelta.
ele introduz a figura de uma cala/lera segurando um bastão e indefesas hordas
que se viram apanhadas no meio de soldados em luta, possivelmente re-
5.23 José Guadalupe Posada, Encontro sal/gllil/ário dos
federais ((lI/IaS revolucionàrios (s/ d), gravura em chapa de presentativos da guerra civil, ou talvez da invasão estrangeira. Mas além
zinco, 9xl ~,5 em; Museo acional de La Estampa, dessa sombria visão, Posada fez muitas gravuras com imagens que mos-
Cidade do México (I NBA).
tram o custo humano da guerra civil [ilust. 5.23,241. As fotografias de
Casasola sobre a revolução foram, por ele, mais de uma vez diretamente
aproveitadas; entretanto, mais interessante do que qualquer dependência
de caráter externo foi o uso que fez da fotografia na construção de ima-
gens da revolução que caminharam paralelamente uma com a outra: o re-
pouso do Zapatista, a despedida do soldado, o soldado mulher, o recruta
garoto, o pelotão de fuzilamento.
Para os muralistas, que estavam à procura de uma maneira que os ligas-
se diretamente ao México revolucionário e os levasse à criação de uma
arte popular, Posada oferecia UI11.afonte diferente de tudo quanto existia
110 mundo da arte oficial. O ditador Díaz escolhera a Europa para impor-
tar de lá uma imensa exposição de arte, como parte dos muitos festejos
122
POSADA E A TRADiÇÃO GRÁFICA POPULAR
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