Desestrutura Familiar
Desestrutura Familiar
Desestrutura Familiar
Maria Livanete Soares y Ronaldo Bernardo Junior (2018): “Desestrutura familiar e desinteresse
escolar: uma avaliação multidimensional.”, Revista Atlante: Cuadernos de Educación y
Desarrollo (septiembre 2018). En línea:
https://www.eumed.net/rev/atlante/2018/09/desestrutura-familiar.html
RESUMO
A família é a base de todo individuo, e com ela se formam as primeiras aprendizagens se
molda o caráter do ser humano; é a presença da família que modifica a criança, e o apoio
afetivo/familiar traz benefícios ao desenvolvimento cognitivo logo na infância. Em sentido
oposto, a desestrutura familiar pode ser nociva ao desenvolvimento da criança, trazendo
graves consequências nas mais variadas searas. Diversos autores descrevem que a
desestrutura familiar exerce grave influência no desinteresse escolar da criança. A partir disso,
o presente artigo tem o objetivo de investigar como se processa a relação entre desestrutura
familiar e desinteresse escolar. Para tanto, realizou-se o acompanhamento de uma criança do
4º ano, do ensino fundamental de uma escola municipal sobre o qual recaíam queixas em
relação à inquietação, falta de concentração, desinteresse e ausência familiar. Os resultados
foram avaliados de acordo com 4 dimensões: dimensão pedagógica, dimensão cognitiva,
dimensão afetivo/social, e dimensão corporal. Os achados os processos pelos quais a criança
do estudo, que não teve um acompanhamento escolar por parte de seus responsáveis e não
recebeu o devido afeto em casa, apresentou um prejuízo escolar e elevado desinteresse em
relação aos estudos. O método utilizado pode ser replicado em pesquisas futuras, e os
resultados são relevantes porque demonstra como são operacionalizados os mecanismos de
da família.
ABSTRACT
The family is the basis of every individual, and with it are formed the first learning forms the
character of the human being; is the presence of the family that modifies the child, and affective
/ family support brings benefits to cognitive development as early as childhood. On the other
hand, family disruption can be detrimental to the child's development, leading to serious
consequences in the most varied fields. Several authors describe that family dysfunction exerts
a serious influence on the children's lack of interest in school. From this, the present article aims
to investigate how the relationship between family disruption and school disinterest is
processed. In order to do so, a fourth-year child was followed, from the elementary school of a
municipal school, on which complaints were made about restlessness, lack of concentration,
lack of interest and family absence. The results were evaluated according to 4 dimensions:
pedagogical dimension, cognitive dimension, affective / social dimension, and body dimension.
The findings were the processes by which the study child, who did not have a school
attendance by their parents and did not receive due affection at home, presented a school loss
and high disinterest in relation to the studies. The method used can be replicated in future
research, and the results are relevant because it demonstrates how the mechanisms of the
family are operationalized.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Desestrutura familiar
Vários são os fatores que podem abalar estruturas familiares: mudanças climáticas, guerras,
transição de governos, recessões, separações, disputas por terras e heranças, mortes, álcool,
drogas, doenças, miséria, religião, modismos e até mesmo disparidades culturais entre
cônjuges causaram, e ainda causam, de alguma forma, impacto negativo na estrutura das
famílias. Desse modo, não há como proteger cabalmente qualquer grupo familiar, nem eximí-lo
de sofrer ataques do que quer que seja (JBEILI, 2009).
Partindo da idéia que a família é a base para o desenvolvimento de qualquer ser humano. A
família não se define somente por laços de sangue, mas também por laços afetivos; defini-se
família como um conjunto de pessoas que se une pelo desejo de estarem juntas, de
construírem algo e de se complementarem. E é através dessas relações que os seres
humanos tendem a tornar-se mais afetivos e receptivos. Eles aprendem a viver a afetividade de
maneira adequada; mas para que essa adequação ocorra é preciso que haja referências
positivas, responsáveis, encarregadas de demonstrar os limites necessários ao
desenvolvimento de uma personalidade com equilíbrio emocional e afetivo.
Para as crianças e adolescentes, as referências são pessoas, palavras, gestos que irão
proporcionar a formação da identidade; por isso, “crianças e jovens que estabeleçam vínculos
de harmonia nos seus momentos de decepções, e que possam receber carinho, atenção e
compreensão irão desenvolver uma identidade sadia, conseguindo suportar frustrações até o
momento adequado para realizar seus desejos” (RIGO, 2008 p. 02).
Por família atualmente, pode-se entender uma série de arranjos nas relações entre pessoas
ligadas por laços de aliança e afinidade. No entanto, é sabido que o grupo familiar atualmente
está em crise e, até mesmo, se extinguindo. Na verdade, o que vem ocorrendo são mudanças
na estrutura e nos papéis dos membros da família, em decorrência das alterações sociais que
por sua vez, acabam colocando para a existência de diversas formas de constituição e
modalidades de educação familiar, negando a construção histórica de um modelo de família
único e ideal (PEREZ, 2000).
Vale salientar que a influência da família é de fundamental importância para o desenvolvimento
da aprendizagem da criança, pois aquela que não tem um acompanhamento por parte da
família (pais) ou responsáveis pela aprendizagem apresenta obstáculos relacionados a
vinculação afetiva, causando prejuízo escolar. Nesse sentido, o contato com a família pode
trazer informações sobre fatores que interferem na aprendizagem e aponta os caminhos mais
adequados para ajudar a criança, e ressalta que os pais devem compreender a enorme
influência das relações familiares no desenvolvimento dos filhos; portanto, é imprescindível o
acompanhamento da família no contexto escolar dos filhos (SCOZ, 1994).
3. MÉTODO
3.1 Abordagem e tipo de pesquisa
O trabalho realizado foi baseado na pesquisa qualitativa que segundo Minayo et al (2004 p, 21
e 22),
“Responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências
sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja,
ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das
relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis.”
No entanto dentro da pesquisa qualitativa o estudo de caso se define como descritivo. Nesse
sentido Trivinos (2006, p.110), ressalta que os estudos descritivos exigem do pesquisador uma
série de informações sobre o que se deseja pesquisar. O estudo descritivo pretende descrever
“com exatidão” os fatos e fenômenos de determinada realidade. Já o estudo de caso tem o
objetivo de descrever determinada realidade, em que coleta e examina todos os dados
possíveis sobre o tema proposto (BACHRACH, 1975).
3.2 Participantes
O participante dessa pesquisa foi uma criança (L.J.S), do sexo masculino, atualmente com 11
anos, aluno do 4º ano, no turno matutino no ensino fundamental de uma escola municipal e que
teve como queixa principal que o aluno é muito inquieto não se concentra, não tem interesse,
não consegue escrever seu nome sem o crachá, não cuida de seus materiais escolares, não
consegue ficar muito tempo em sala.
3.3 Instrumentos
Para a realização do estudo de caso foram utilizados os seguintes instrumentos avaliativos:
anamnese com a mãe, Entrevista Operatória Centrada na Aprendizagem (EOCA) com a
criança, vários jogos terapêuticos, material didático, testes de discriminação auditiva e visual,
provas de esquema corporal e de lateralidade, atividade de coordenação motora fina, atividade
de conhecimento das cores, provas operatórias piagetianas e provas psicopedagógicas-
grafísmo.
3.4 Procedimentos
O contato inicial foi com a escola através de requerimento solicitando a realização do estágio, o
aluno em estudo foi selecionado pela equipe pedagógica da escola a qual o mesmo se
encontra matriculado, para avaliação e intervenção Psicopedagógica, como também a
autorização da Diretora através de oficio para o Centro de Referência da Assistente Social
(CRAS), Casa das Famílias, para a utilização da sala de Apoio Psicopedagógico. Em seguida
foi o contato com a mãe, onde ela assinou o Termo de Consentimento de Livre Esclarido
(TCLE) dando autorização para a realização da pesquisa. No entanto, para o possível
diagnóstico foram realizadas onze sessões a primeira com a escola a segunda anamnese com
a mãe, duas sessões para a realização da EOCA e atividades lúdicas, três sessões lúdicas
centradas na aprendizagem, uma sessão com provas pedagógicas, uma sessão com provas
operatórias, uma sessão com provas projetivas, e a última sessão a devolutiva com a mãe,
como também foi entregue a escola um Informe Psicopedagogico com os dados,
procedimentos e resultados da pesquisa e uma análise da criança diagnosticada.
3.5 Análise de dados
Os dados foram analisados através da técnica Análise de Conteúdo, que segundo Minayo et al
(2004. p. 74)
“existem duas funções na aplicação da técnica. Uma se refere à verificação
de hipóteses e/ou questões. Ou seja, através da análise de conteúdos,
podemos encontrar respostas para as questões formuladas e também
podemos confirmar ou não as afirmações estabelecidas antes do trabalho de
investigação (hipóteses). A outra função diz respeito à descoberta do que
está por trás dos conteúdos manifestos, indo além das aparências do que
está sendo comunicado.”
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Dimensão pedagógica
No aspecto pedagógico, o aluno apresenta uma modalidade de aprendizagem marcada pelo
surgimento de desinteresses, falta de motivação para realização das suas atividades, como
também necessita de aprovação constante no trabalho que realiza. Esse comportamento pode
ser fruto dos constantes fracassos no seu processo de conhecimento. Demonstra ainda um
comportamento marcado pelo desinteresse e indisciplina, além de pode ser observada falta de
conhecimento em relação à leitura e à escrita, pois apresenta deficiência quanto à competência
linguística ao não identificar consoantes e vogais.
A criança em questão não reconhece as letras. Isso foi observado na sessão lúdica centrada
na aprendizagem, quando diante do uso de um alfabeto de encaixe em que seriam colocadas
todas as peças sobre a mesa para que o mesmo encaixasse no lugar certo a criança começou
a pegar as peças sem observar a seqüência do alfabeto, e começou a encaixá-las em qualquer
lugar do encaixe. Quando a criança percebia que não encaixava pegava outra peça até
encontrar a forma correta de encaixar. Ainda nesta, sessão foi pedido à criança para escrever
seu nome em uma folha de papel, sendo que ela só sabia escreve a 1ª sílaba do seu nome, e o
restante das letras só sabia escrevê-las se fosse olhando um modelo, pois se fosse
pronunciada não reconhecia pelo som.
Em relação a atividades que envolviam cálculos mostrou a criança ter certo domínio. Ela
conhece os números, pois ao participar de um momento lúdico com um quebra-cabeça com
soma de números e resultados, apresentou habilidades em somar e procurar a peça do
resultado obtido, demonstrando assim habilidade no conceito numérico. Segundo Weiss (2008,
p.102) “na área pedagógica é preciso analisar a discrepância entre a frequência do aluno às
aulas, suas condições culturais verdadeiras e a metodologia usada na sala da aula,
principalmente durante o processo de alfabetização”.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo teve o objetivo de investigar a relação entre desestrutura familiar e
desinteresse escolar. Para isso, realizou-se o acompanhamento de uma criança do 4º ano, do
ensino fundamental de uma escola municipal sobre o qual recaíam queixas em relação à
inquietação, falta de concentração, desinteresse e ausência familiar.
Buscou-se abordar que a desestrutura familiar causa desinteresse escolar, pois através de
sessões psicopedagógica conseguiu descobrir que a falta de acompanhamento por parte da
família (pais) ou responsáveis causam obstáculos relacionados ao desinteresse escolar. Os
resultados encontrados mostraram que a criança não teve um acompanhamento escolar por
parte de seus responsáveis e que não recebe o devido afeto em casa, fazendo assim com que
ela apresentasse um prejuízo escolar, gerando um desinteresse em relação aos estudos. Faz-
se importante destacar que a influência da família é de fundamental importância para o
desenvolvimento da aprendizagem da criança.
A criança diagnosticada apresentou em seu aspecto pedagógico uma aprendizagem marcada
pelo surgimento de desinteresses, devido a falta de acompanhamento de seus responsáveis.
Na área cognitiva foram detectadas vacilações em relação à atenção e concentração. Na área
afetivo/social foram percebidos sentimentos de tristezas, solidão, timidez, e abandono pelo pai,
criando assim revolta, baixa auto-estima e um comportamento expresso pelo desinteresse e
indisciplina. Na área corporal a criança apresentou habilidades quanto à psicomotricidade e
coordenação motora fina.
Os resultados são relevantes porque demonstra tanto aos pais (ou responsáveis) por crianças
e até mesmo as instituições escolares a importância do acompanhamento e do apoio afetivo da
parte dos pais (ou responsáveis) para com as crianças em fase de desenvolvimento cognitivo.
Os métodos utilizados na presente pesquisa devem fornecer subsídios para a continuação de
estudos na área psicopedagógica. Portanto, espera-se que este estudo contribua, na prática,
para a sociedade, possibilitando aos indivíduos o conhecimento sobre a real importância da
presença da família no cotidiano escolar da criança.
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