7 Uma Igreja Na Trilha Do Cristo Pastor - Arquidiocese de Maringá
7 Uma Igreja Na Trilha Do Cristo Pastor - Arquidiocese de Maringá
7 Uma Igreja Na Trilha Do Cristo Pastor - Arquidiocese de Maringá
Eram outros os tempos, sem dúvida. O cuidado de bispos e padres centrava-se na manutenção e incre-
mento da vida sacramental, praticamente a única maneira então em voga de identificar um católico compro-
metido com sua Igreja. Tanto é assim que, ainda em nossos dias, para boa parte das pessoas, a distinção entre
bom e mau católico reside na diferente freqüência aos ritos litúrgicos celebrados no interior do templo.
Dever primordial de um bispo, portanto, ao tomar posse de sua diocese, era prover as paróquias de
padres em número suficiente para “atender o povo”, aí compreendido gastar seu tempo em conferir batismos,
ouvir confissões, celebrar missas, assistir casamentos, visitar enfermos portando a sagrada unção e o viático,
oficiar exéquias, ministrar bênçãos, aconselhar pessoas... No exercício dessas funções sagradas praticamente
se esgotavam as atribuições de um padre para com os fiéis entregues ao seu zelo de pastor. Respeitados, a par
disso, os momentos para cultivo de sua vida interior e exercício da administração paroquial, o tempo quiçá
ainda disponível devia bastar para o cuidado do “catecismo” das crianças e do imprescindível acompanhamen-
to das pias associações de fiéis.
Datam desse tempo − os mais antigos o recordam − algumas organizações que marcaram fortemente a
história de nossas paróquias. Destinavam-se a segmentos distintos da comunidade e tinham como característi-
ca visível uma fita colorida que ornava o peito dos seus membros. Para as crianças havia a Cruzada Eucarística
Infantil, com sua fita amarela e atividades voltadas ao catecismo e ao grupo de coroinhas. Adolescentes e
jovens do sexo feminino reuniam-se na Pia União das Filhas de Maria, identificadas pela fita azul, enquanto o
Apostolado da Oração, que usava fita vermelha, reunia naquela época quase exclusivamente senhoras casadas;
ainda existente, o AO é integrado hoje também por senhores, além de jovens de ambos os sexos. Para homens
mais maduros e piedosos, existia um sodalício conhecido como Irmãos do Santíssimo Sacramento; em vez de
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Congregação Mariana, Pia União das Filhas de Maria e Apostolado da Oração com padre Teófilo Carlos Almazán, primeiro vigário da
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Paróquia Santíssima Trindade (atual Catedral). O coroinha do centro, de mãos postas, é hoje padre José Olavo Pires Trindade. Foto
do dia 10 de junho de 1951, em frente à antiga casa paroquial, espaço hoje ocupado pela Cúria Metropolitana. Os 50 anos da Diocese de Maringá
Com sua participação eficiente e discreta, o AO não fazia notar sua presença na vida paroquial. Era
claramente visível, por outro lado, a sua ausência lá onde não existia. No AO agrupavam-se as melhores li-
deranças femininas maduras das comunidades sobre cujos ombros repousava o peso maior de trabalhos que
muita gente temia enfrentar. Impossível encontrar um único templo católico no Norte do Paraná que se tenha
erguido sem a colaboração dedicada do AO. A sua devoção ao Sagrado Coração de Jesus e a prática das nove
primeiras sextas-feiras tornaram-na uma das associações mais conhecidas da Igreja nos últimos tempos. Sobre
o cinqüentenário da encíclica Haurietis acquas (15/05/1956) do papa Pio XII, que fala da devoção ao Sa-
grado Coração de Jesus, manifestou-se recentemente o cardeal Martini, arcebispo de Milão:
Ela (a devoção) me havia sido infundida por minha mãe, com a prática das primeiras sex-
tas-feiras do mês. Nesse dia, minha mãe nos fazia levantar cedo para ir à igreja paroquial
e tomar a comunhão. [...] Um grande mérito dessa devoção foi, portanto, ter chamado
a atenção para a centralidade do amor de Deus como chave da história da salvação. Mas,
para perceber isso, era necessário aprender a ler as Escrituras, a interpretá-las de maneira
unitária, como uma revelação do amor de Deus pela humanidade. A encíclica Haurietis
acquas marcou um momento decisivo desse caminho (MARTINI, 2006, p. 34).
Conta dom Jaime que, em visita pastoral a uma paróquia, reuniu as diversas associações para ouvir relato
do trabalho que realizavam na paróquia. Deixou, de propósito, o AO por último. À sua vez, muito humilde,
a presidente disse: “Nós não fazemos nada, dom Jaime. Só rezamos”. E o bispo, sorrindo: “Pois são vocês
que sustentam tudo que os outros fazem. Se não fosse a oração de vocês, eles não fariam nada daquilo que
contaram”.
Até nos centros maiores, mas de forma predominante no interior do Brasil, congregados marianos,
filhas de Maria e Apostolado da Oração eram praticamente os únicos espaços humanos com que contavam
então os sacerdotes para a descoberta e o cultivo de lideranças laicais.
O Concílio Vaticano II recuperou para a Igreja o conceito de povo de Deus e restituiu ao cristão leigo,
de modo especial no decreto Apostolicam Actuositatem, a sua missão de evangelizador juntamente com os
ministros ordenados, recordando-lhe que “existe na Igreja diversidade de serviços, mas unidade de missão”
(AA 2). Para quem veio depois dos anos 60 e convive com as tantas modalidades de formação à disposição
dos leigos torna-se difícil avaliar a importância de filhas de Maria, de congregados marianos e do AO na evan-
gelização do Brasil e particularmente no Norte do Paraná.
Como qualquer pastor de Igreja jovem, também o bispo de Maringá, desde a posse, em 1957, in-
quietou-se com o reduzido número de padres face à multidão de diocesanos que recebeu. Para uma área de
14.902,67km² − que compreendia 24 municípios, 14 paróquias instaladas e uma criada, ainda por prover de
vigário −, seu clero diocesano não ia além de 7 padres. Importa não esquecer que a quase totalidade dos que
vinham adquirir terra por estes lados tinham em mente o plantio de café, monocultura da época e carro-chefe
na pauta de exportações brasileiras para o mercado internacional. Diferentemente da pecuária e da produção de
outros grãos, o café sempre exigiu abundante mão-de-obra. Tudo fazia prever para a região nos anos futuros
um forte crescimento populacional. A comprovação ficou demonstrada na gritante diferença do número de
municípios existentes entre a criação da diocese e a sua instalação, um ano depois. A bula de criação relacionou
somente oito, todos instalados até o ano de 1952. Para quem conhece como se deram os fatos, o motivo é ób-
vio: a mobilização em torno da nova diocese teve início após a reunião provincial convocada por dom Manuel
da Silveira D’Elboux, em 1953. Os estudos relacionaram os municípios existentes na ocasião; não mais que
os oito citados na bula papal. No momento da instalação canônica, porém, em março de 1957, a mesma área
abrigava um total de 24 municípios. Conclui-se que, em menos de quatro anos, o número triplicou.
Longe de se entusiasmar com esse dado, o novo bispo viu crescerem motivos de preocupação. Como
atender com sete padres do clero diocesano uma região que se expandia nessa proporção? Não obstante o
fato de contar também com 22 sacerdotes do clero regular, a experiência, como ficou demonstrado, não
lhe trouxe grande alento, pelo menos nos primeiros encontros. Além de que, sabia-o bem, o atendimento
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A Missão Nipo-Brasileira
Alçado à fama, desde o início da colonização, pela fertilidade de suas terras, o Norte do Paraná tornou-
-se atração agrícola, além de campo aberto ao exercício de outras atividades para muitos japoneses e seus
descendentes originários, em sua maioria, da Alta Paulista, Sorocabana e Noroeste, regiões do vizinho Estado
de São Paulo. Conhecidos por sua devoção ao trabalho e forte disciplina, para cá se transferiram dispostos a
melhorar o padrão de vida, sem medo do desconforto que os esperava no mato e nos incipientes lugarejos,
transformados, com o passar dos anos, em cidades de porte nada desprezível. Há notícia da presença, desde a
década de 1930, de grupos nipônicos que, para manter vivos os valores culturais do país de origem, reuniram-
-se em colônias japonesas, muito atuantes e interessadas em se integrarem à sociedade local.
Na área da diocese de Maringá, famílias japonesas concentravam-se, com maior intensidade, nos mu-
nicípios de Maringá, Marialva, Floresta, Nova Esperança e Paranavaí. Em relatório à nunciatura apostólica,
o bispo informava, no ano de 1960, a existência de uma colônia japonesa composta por aproximadamente
20.500 pessoas. Cerca de 12.500 tinham sido batizadas, mas apenas 1000 eram católicos praticantes. Destes,
o número mais expressivo (40 famílias) concentrava-se em Floresta, onde representava 20% das 200 famílias
ali sediadas; algumas, descendentes dos mártires de Nagasaki (1597) (COELHO, 1961, f. 10).
Conforme dados da Missão Católica Nipo-Brasileira de Maringá, remontam a 1953 as primeiras infor-
mações de atendimento católico a japoneses e nisseis na cidade. No dia 24 de outubro daquele ano foi reque-
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1 Em 1969, a Missão Nipo-Brasileira perdeu duas religiosas, vítimas de acidente automobilístico: irmã Josefa Umeki, que faleceu em
10 de outubro, quando era conduzida a Sorocaba, e irmã Dionilce Kobata, em novembro, no Hospital Santa Lúcia, de Maringá,
depois de semanas de cuidados das co-irmãs e de padre Pedro Ryo Tanaka.
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2 Natural de Paraguaçu Paulista (SP), Banki, padre jesuíta, estudava na Universidade Sofia, em Tóquio. Em 1967, sabedor da ida
de dom Jaime ao Japão, recepcionou-o no aeroporto. De volta ao Brasil, permaneceu algum tempo na Companhia, pedindo, mais
tarde, para ser aceito como padre diocesano em Maringá.
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Aconteceu de novo
Sacerdotum sors improvisa mors – morte repentina é o destino dos padres. É um adágio
antigo que os jovens de hoje desconhecem. Os mais velhos, do tempo em que estudávamos
latim, lembramos de memória um punhado deles. Em menos de quatro meses, em Maringá,
padres Bernardo e Tanaka confirmaram seu doloroso acerto. Ambos foram vítimas de um co-
ração que não acompanhava o ritmo do seu trabalho pelo Reino de Deus.
Tanaka surpreendeu pela pouca distância entre seu falecimento e o de Bernardo. E tam-
bém por tê-lo a irmã morte vindo buscar quando já tínhamos esquecido as muitas vezes em
que, anteriormente, sua vida estivera por um fio. Ao contrário de Bernardo, tinha enfrentado
situações que sinalizavam o fim próximo. Pelo menos em três oportunidades esteve entre a vida
e a morte. Assustou-nos a todos, que o dávamos por morto em poucos dias. Nunca, porém,
encenou drama nenhum por conta disso. A cada vez, voltava ao trabalho como se nada hou-
vesse acontecido. Como se fosse o mais saudável dos homens. Sua dedicação às pessoas e obras
para as quais vivia não sofria queda no ritmo de uma atividade desempenhada sem descanso.
Dava a impressão de pressa, como sabendo que, com aquele coração, não podia contar com
muito tempo para tudo o que pretendia realizar.
Amigos testemunham a consciência que manifestava de sua partida próxima. Com a
serenidade do servo fiel, dizia-se pronto para responder ao chamado do Pai. Mas continuava
trabalhando, como quem dispõe de uma vida inteira pela frente.
No velório, uma cena chamou a atenção. Pessoas adultas − surpreendentemente, as mais
humildes − e crianças, muitas, aproximavam-se para fazer um carinho em seu rosto imóvel.
Nenhum sinal do misterioso medo que, às vezes, a morte espalha à sua volta. Era o irmão que
acariciavam. Como a dizer: “Não tive antes a oportunidade de mostrar quanto você é querido
para mim”. Logo para ele que, em vida, até por temperamento, jamais fora dado a grandes
arroubos de ternura. Os mais simples, na clareza de quem tudo enxerga com o olhar de Deus,
conseguiram descobrir a profundeza daquele amor que ele ofereceu por toda a vida.
Num mundo pejado por tantas mostras de desamor, experimentamos profunda carência
dos sinais do Reino. Estamos cansados do grotesco espetáculo da ganância, da sede de poder,
do brilho falso das alegrias que o dinheiro imagina comprar. Padre Tanaka provou que há ou-
tro jeito de viver. Bem mais sólido e verdadeiro (ROBLES, 2001, p. 2).
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Com a ascensão ao trono de Pedro do cardeal milanês Ambrogio Damiano Achille Ratti, que escolheu
o nome de Pio XI (1922-1939), a consciência dos cristãos leigos foi sacudida por forte apelo evangelizador.
Na sua primeira encíclica Ubi Arcano, de 23 de dezembro de 1922, criou “a Ação Católica, particularmente
importante para a Itália, que conclama os laicos católicos de tôda idade, estado e sexo a participarem do
apostolado da hierarquia, a fim de renovar tôda a sociedade segundo o espírito de Cristo” (BIHLMEYER;
TUECHLE, 1965, v. 3, p. 611). No Brasil, duas décadas mais tarde, em 1935, foi oficializada a Ação Católica
Brasileira (ACB) que, seguindo as linhas da matriz italiana, tinha como objetivo formar católicos leigos para
transformar o mundo.3
Sob influência dos modelos belga e francês, a ACB se converteria, em 1950, em Ação Católica Especiali-
zada (ACE), no esforço de alcançar uma atuação mais presente e decisiva da Igreja no meio dos trabalhadores,
estudantes e operários. Entre o clero brasileiro havia larga influência do pensamento social de padre Lebret.
Muitos sacerdotes daqui faziam curso na França, assim como padres franceses vinham com freqüência ao
Brasil. A ACE ia colher nas fileiras da juventude católica os seus membros, agrupando-os em segmentos iden-
tificados pelas cinco vogais: JAC – Juventude Agrária Católica, para o meio rural; JEC – Juventude Estudantil
Católica, para estudantes dos antigos níveis secundário e médio; JIC – Juventude Independente Católica, para
a classe média; JOC – Juventude Operária Católica e, finalmente, JUC – Juventude Universitária Católica. O
método observado era invariavelmente o conhecido ver-julgar-agir da JOC, fundada em 1923, pelo padre
belga Joseph Cardijn (1882-1967).
No Brasil, a JAC atuou predominantemente no Nordeste e no extremo Sul onde fomentou boas lideran-
ças na zona rural. Nos centros industriais revelou-se muito operante a JOC, construtora de um espírito cristão
e associativista entre os operários, aliado à defesa dos seus direitos. A JOC brasileira formou seus primeiros gru-
pos ainda nos anos 30, mas foi oficializada só em 1948, ano em que Cardijn visitou o país. Nos ambientes uni-
versitários, sobretudo das regiões Leste, Sudeste e Sul, a presença da JUC foi determinante para a consciência
das transformações político-sociais exigidas pelo pós-guerra e pelo processo de urbanização do Brasil. A JIC se
3 Em sua estrutura a ACB seguia a italiana com movimentos de juventude e de adultos, feminino e masculino: Homens da Ação Católica
(HAC), Liga Feminina da Ação Católica (LFAC), Juventude Católica Brasileira (JCB-masc.) e Juventude Feminina Católica (JFC). No
setor da juventude surgiram as primeiras especializações com as JEC, JOC e JUC. As outras duas (JAC e JIC) surgiram mais tarde.
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JEC de Maringá, primeiro encontro diocesano, JEC em encontro que reuniu jovens de Maringá e de Paranavaí,
em 1959. no ano de 1960.
Desde a posse do bispo, foi-se delineando a fisionomia da nova diocese do Norte do Paraná. Em 1960
registraram-se importantes eventos. Com a criação, só naquele ano, de sete novas paróquias, foi atingido o
número de trinta, nada desprezível para uma diocese de três anos. De 24 a 27 de março foi celebrado o 1º
4 Irmã Dorilda (Dorilva Farias da Costa) trabalhou em Maringá de 1960 a 1966. Deixou a congregação em maio de 1971, segundo
informação obtida por e-mail, em 21 de novembro de 2006, junto à sede geral da congregação das Irmãs Missionárias de Jesus
Crucificado, situada em Campinas (SP).
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Regional Sul II
Até 1964 o Paraná pertencia, em termos de administração pastoral, juntamente com São Paulo, ao
Secretariado Regional Sul I, que agrupava as dioceses de ambos os Estados. Na terceira fase do Concílio Vati-
cano II, durante a 6ª Assembléia Geral da CNBB, realizada em Roma, no dia 30 de setembro daquele ano, foi
criado o Secretariado Regional Sul II, com sede em Curitiba. O coordenador, hoje conhecido como presiden-
te, na época intitulava-se secretário; a atual função de secretário era então exercida pelo subsecretário. Dom
Jaime foi eleito primeiro secretário (presidente) do Regional Sul II da CNBB, cargo que exerceu durantes os
primeiros seis meses do Regional. Eram então distintos os papéis de presidente do Conselho Episcopal Regio-
nal e de coordenador do Secretariado Regional. Hoje cada um dos 17 Regionais da CNBB é regido por um
Conselho Episcopal Regional, à frente do qual se coloca um bispo eleito para o cargo de presidente. No livro
do Tombo da Cúria Metropolitana de Curitiba o chanceler, monsenhor Pedro Fedalto, anotou em 1974:
Desde 1963 começou a tomar corpo o movimento pela criação da diocese de Paranavaí. Assim que
tomou posse da Igreja de Maringá, dom Jaime deu-se conta da ingente tarefa que significava reger uma dio-
cese com tais dimensões. Se houve, particularmente após a grande geada de 1975, forte esvaziamento dos
municípios menores, deve-se recordar que, por obra das lavouras de café, a população era abundante nos anos
60, ao mesmo tempo em que faltavam veículos automotores com um mínimo de conforto, estradas segu-
ras, telefone, jornal, televisão, e-mail e outros recursos hoje comuns. Torna-se impossível atualmente avaliar
quanto era penoso atender os diocesanos, do continente ou ilhéus, de cidades como Querência do Norte,
Santa Cruz do Monte Castelo, Itaúna do Sul, Diamante do Norte, Porto Rico e outras. Muito cedo o bispo
se convenceu da necessidade de abrir mão, em vista do bem maior dos fiéis, de uma parte do território que
lhe fora consignado.
Depois de exaustivos estudos e da tramitação que precede ações dessa natureza, pela constituição apostó-
lica Nil gratius (= nada mais agradável), em data de 20 de janeiro de 1968, o papa Paulo VI criou a diocese de
Paranavaí. Integralmente desmembrado da diocese de Maringá, o território da nova diocese nasceu composto
pelos municípios: Alto Paraná, Amaporã, Diamante do Norte, Guairaçá, Itaúna do Sul, Loanda, Mirador, Nova
Aliança do Ivaí, Nova Londrina, Paraíso do Norte, Paranavaí, Planaltina do Paraná, Porto Rico, Querência do
Norte, Santa Cruz do Monte Castelo, Santa Isabel do Ivaí, Santo Antonio do Caiuá, São Carlos do Ivaí, São
João do Caiuá, São Pedro do Paraná, Tamboara e Terra Rica; um total de 22 dos quais 11, exatamente a meta-
de, não passavam de vilarejos em 1957, quando foi instalada a diocese de Maringá. Em onze anos (1957-1968)
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A carta traz a data de 22 de fevereiro. Está suficientemente claro que, mais de um mês após a visita a
Paranavaí, dom Jaime acreditava na futura criação da diocese. Que, no entanto, estava criada há mais de um
mês. Até hoje Fedalto estranha a proximidade entre a visita feita a Paranavaí e a data de criação. “Se no dia
15 de janeiro”, argumenta, “a nunciatura esperava as providências que Paranavaí tardava em tomar, como a
diocese foi criada no dia 20? Em cinco dias teria sido possível fazer tudo que normalmente leva meses?”5 Em
pleno mês de fevereiro, Tagliaferri fazia crer que ainda estava em caminho um evento já acontecido em 20
de janeiro. A surpresa de Fedalto encontra abrigo no teor da carta de 15 de fevereiro, escrita por Tagliaferri
ao bispo de Maringá, na qual diz textualmente: “nas circunstâncias em que se encontra agora o processo de
ereção da diocese de Paranavaí”, dando a entender que ainda se achava em trâmite um processo cuja resolu-
ção se dera quase um mês antes. Posteriormente, no dia 7 de março, enviou outra carta, protocolada sob nº
16633, sub secreto pontificio, onde declara:
5 Fedalto expressou sua perplexidade em conversa telefônica que manteve, desde Curitiba, com o autor destas notas, no dia 23 de
outubro de 2006. Prometeu mais detalhes no livro que publicará sobre a história da Igreja do Paraná.
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Diocese de Paranavaí
20/01/1968
Dio
Diocese de Maringá
20/01/1968
Mapa 4 - Com a criação da diocese de Paranavaí, em 1968, a diocese de Maringá assumiu nova configuração.
Depois da posse, em 7 de julho de 1968, de dom Benjamin, bispo de Paranavaí, naturalmente mudaram
a vida e os desvelos do bispo de Maringá. De uma área total de 14.902,67km², baixou para 6.203,07km²,
menos da metade, portanto, a extensão do território a ser percorrido, para o atendimento espiritual. A po-
pulação, antes calculada em 1.285.730 pessoas por cuja evangelização se sentia responsável, viu-a dom Jai-
me reduzida a pouco mais da metade. No momento da instalação da diocese de Paranavaí, em seus limites
se enumeravam 15 paróquias, que abrangiam 25 municípios e abrigavam 559.810 habitantes distribuídos
numa área de 8.699,60km². Aos cuidados pastorais do bispo de Maringá restou depois um total de 725.810
habitantes, dos quais três sobre quatro professavam-se católicos, embora só 20% pudessem considerar-se
praticantes. Muito esforço, como se percebe, prosseguia sendo exigido tanto do pastor da Igreja quanto dos
seus colaboradores.
6 As salas tinham sido transferidas pelas Paulinas à Mitra Diocesana, em pagamento do imóvel da Praça Napoleão Moreira da Silva
onde instalaram a primeira livraria, precursora da atual.
7 Depois de um ano, Robles foi designado cooperador da catedral, ficando apenas Almeida no serviço da coordenação da pastoral
diocesana.
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Visto assim à distância, não deixa hoje de surpreender o corajoso endosso episcopal à proposta das Co-
munidades Eclesiais de Base num tempo em que não havia suficiente clareza a seu respeito. Brotadas da vida
pobre dos cristãos da Igreja latino-americana, as CEBs não representavam unanimidade entre o episcopado.
Se, após reflexão madura, os padres e demais agentes da pastoral diocesana decidiram assumi-las como eixo
orientador da vida cristã local, aí se descobre a lucidez da coordenação de Almeida. O mesmo se diga de dom
Jaime, mestre e evangelizador primeiro, que sempre respaldou o seu trabalho. Poucas vezes terá havido no
Paraná entre bispo e presbitério sintonia tão íntima quanto a diocese de Maringá conheceu naqueles dez anos
(1972-1982). Animado com a linha seguida, o bispo enviou à Santa Sé o IV Plano de Pastoral Orgânica da
Diocese de Maringá – 1976, colhendo a satisfação de ver estampadas no L’Osservatore Romano nada menos
que 14 colunas de apreciação do documento, além de fotos da cidade de Maringá e de sua catedral. O órgão
oficioso da Santa Sé anotou que com muito gosto dava a conhecer o plano, esperando que ele despertasse o
interesse de assinantes e leitores, “começando por os levar a apreciar a dedicação inteligente, metódica e edi-
ficante com que o Episcopado Brasileiro se consagra à implantação e ao desenvolvimento do Reino de Deus
em terras de Santa Cruz” (IV PLANO..., 1976, p. 5-8).
Para a configuração do “rosto” que a Igreja de Maringá apresentou durante seguidos anos, foi decisiva
a caminhada feita na década de 1972 a 1982. Nesse tempo, apesar de jovem, a diocese firmou-se como uma
das mais fiéis às diretrizes adotadas em nível nacional e regional.
O Plano de Pastoral de Maringá de 1976, na edição em português do semanário L’Osservatore Romano, órgão oficioso da Santa Sé, publicado em várias línguas.
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Catequese, a educação da fé
Depois dos dois anos de estudo na Europa, ao reassumir a coordenação da pastoral diocesana, Almei-
da se deu conta das mudanças que a diocese experimentara no período. Muita coisa, inegavelmente, havia
mudado para melhor. Mas persistiam falhas pungentes, das quais continuava como mais sentida o reduzido
número de padres. As muitas frentes de trabalho, que mais e mais se abriam, estavam a reclamar um número
de operários maior do que o disponível. Por isso, além da evangelização de toda a arquidiocese, que lhe com-
petia orientar globalmente, viu-se obrigado, na falta de outros, a tomar sob seu encargo também a condução
diocesana da catequese infantil, dos adolescentes e dos jovens.
Sua ligação com a catequese vinha dos tempos de Curitiba, do contato que os seminaristas do Se-
minário Rainha dos Apóstolos tiveram a felicidade de estabelecer com o catequista-mor do Paraná, padre
Albano Cavallin, mais tarde bispo responsável pela catequese no Brasil e em toda a América Latina. Quando,
em 1965, o Regional Sul II abriu seu departamento de catequese, os ainda seminaristas Almeida e Robles
foram convidados a lecionar no curso para formação de catequistas. Coordenava-o padre Cláudio Ortigara,
missionário saletino cujo nome se inscreveu, ao lado de padre João Batista Megale, CMF, nos primórdios do
departamento de catequese do Regional. Ministrado no Colégio Divina Providência, em Curitiba, inspirava-
se no ISPAC – Instituto Superior de Pastoral Catequética, do Rio, e destinava-se a formar catequistas para
as paróquias da capital. Foi o precursor do ISPAC do Paraná (1968) e da atual “Escola Catequética Emaús”
(1990), de reconhecidos frutos para todas as Igrejas do Regional Sul II da CNBB.8
Na diocese de Maringá, os dois coordenadores de pastoral deram início, em 1968, à formação de ca-
tequistas em cursos dados nas paróquias, começando por Santa Maria Goretti, São Jorge do Ivaí e Paiçandu.
Em meados de 1969, estando Almeida já em Roma, irmã Judite Arboite, missionária de Jesus Crucificado, e
Robles, cooperador da catedral de Maringá, ministraram dezenas de cursos para formação de catequistas entre
as professoras das escolas pertencentes ao Núcleo Regional de Ensino de Maringá.
8 Um apanhado histórico do caminho percorrido pela catequese do Regional Sul II pode ser visto em Chiquim, (2005, p. 290-297).
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Encontros de jovens
Equipe de cozinha - 22 de dezembro de 1973. Masculino - 10 de agosto de 1975. Feminino - 12 de outubro de 1975.
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Acostumamo-nos a vê-los como parte da nossa vida. Sua presença ao nosso lado, e a nos-
sa no meio deles pareciam-nos as coisas mais naturais do mundo. Éramos padres jovens, apenas
concluídos os estudos. Não sentíamos distância deles, todos ainda estudantes.
Eles nos tinham como orientadores, mas nós assim não nos considerávamos. Éramos
tão somente irmãos mais velhos. Viam-nos tão próximos que nunca nos chamavam padres.
Ninguém, no entanto, jamais nos tratou com tamanho respeito.
Ouvíamos suas angústias, discutíamos seus problemas, acompanhávamos suas lutas. En-
trávamos em suas casas como se fossem nossas. Seus pais se habituaram a ver-nos como gente
da família.
Não havia preocupação de horário. Era comum começarmos uma reunião às onze da
noite, depois da faculdade, como se falava na época. Ninguém estranhava que o Lauria¹ voltas-
se, às duas da madrugada, para Nova Esperança. Eram outros tempos. Talvez não fôssemos tão
exigidos como hoje. Ou, quem sabe, mais novos, tivéssemos maior disposição para o trabalho
e não nos cansássemos com facilidade.
Cresceram conosco. Amadurecemos com eles. Ensinamos e aprendemos. Foi uma troca
tão intensa de vida que o tempo não conseguiu destruir.
Acompanhamos os namoros. Abençoamos os casamentos. Batizamos os filhos. Celebra-
mos a Eucaristia com eles e com as crianças.
A dura batalha da sobrevivência dispersou-os. Encontram-se um pouco por todo canto.
Hoje são adultos que, com nosso amor e nossa fraqueza, ajudamos a formar. Para nós, conti-
nuam o que sempre foram: os nossos meninos.
Agora entendemos o que sentem os pais quando os filhos crescem. E, como os pais,
experimentamos quanto pode doer o carinho que lhes dedicamos.
Sempre os alertamos para a rudeza da vida. Para a necessidade da fortaleza interior. Para
a construção de uma personalidade sólida, fundada na fé, sustentada na fidelidade a valores que
não passam. Nunca lhes escondemos que o heroísmo é exigência de cada dia.
Lá no fundo, porém, provavelmente alimentássemos a esperança de que não precisassem
comprová-lo. Ou que o fizessem muito, muito mais tarde, quando já não estivéssemos presen-
tes. Quando não mais precisassem de nós na hora da cruz.
É natural supor que os mais velhos sejam chamados primeiro. Pensávamos que, como o
Lauria, iríamos também na frente. Não podíamos imaginar que nos precederiam à casa do Pai
gente jovem como o Singh² e o João Carlos³, que conhecemos meninos. Os nossos meninos
(ROBLES, 1995, p. 12).
___________________
¹ Padre Berniero Lauria, pároco de Nova Esperança, faleceu em Eboli, Itália, no dia 15 de outubro de 1983.
² José Roberto Singh morreu de câncer, em Maringá, a 8 de julho de 1995.
³ João Carlos Clemente faleceu, vítima de ataque cardíaco, aos 12 de agosto de 1995, em Cascavel.
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O trabalho de Odorizzi visava, em essência, ajudar os párocos a implantar CEBs em suas paróquias.
Como se tratava de proposta nova, muitos acusavam dificuldade para a sua execução. Mais do que recomen-
dação teórica sobre seu valor e oportunidade, a diocese oferecia, através da Pastoral dos Bairros, uma ajuda
prática para o despertar das CEBs. O grande instrumental criado por Odorizzi foi o CAC – Curso de Atuali-
zação Cristã, onde eram formados líderes para as comunidades. Valendo-se de um treinamento de 30 horas,
com estudo do conteúdo básico da fé, do PPC e exercícios práticos da criatividade comunitária − os “16
9 Na Igreja de Maringá, Cursilho de Cristandade e MFC revelaram-se, desde o início, perfeitamente integrados às diretrizes da pastoral
diocesana.
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10 O seminário, na verdade, chamou-se de Pastoral Rural, mas versava sobre CEBs, com a apresentação de paróquias-piloto estruturadas
em CEBs (como Mandaguaçu, paróquia-piloto da diocese de Maringá). Em carta de 23 de maio de 1972, padre Élio J. Dall’Agnol,
em nome do arcebispo de Curitiba, agradeceu a Almeida o “envio das Conclusões do Seminário sobre as C.E.B.”, ressaltando o
“trabalho de peritos no assunto, principalmente tendo como coordenador um mestre sobre C.E.B. que é você, pe. Almeida”.
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Província de Londrina
Pertence ao início dos anos 70, mais precisamente, ao dia 31 de outubro de 1970, a criação da arqui-
diocese de Londrina, antigo desejo, entre outros, do bispo de Maringá, que sempre considerou o Norte do
Paraná identificado muito mais com o vizinho São Paulo do que com o Sul do Estado. Passada a veleidade do
Estado do Paranapanema, entendia o bispo de Maringá que do ponto de vista eclesial, o Paraná representava
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Projeto Igrejas-irmãs
Vivamente aconselhado pela CNBB, em vista das grandes desigualdades regionais, o projeto Igrejas-
irmãs tem por objetivo levar as Igrejas mais dotadas de recursos humanos, pastorais e financeiros a assumir
fraternalmente Igrejas em situação de maior carência, prestando-lhes ajuda para superação de seus problemas.
Durante a 14ª Assembléia Geral da CNBB, de 19 a 27 de novembro de 1974, em Itaici, dom Marcelino
Sérgio Bícego, capuchinho italiano, bispo-prelado de Carolina (MA), lançou ao plenário um pedido de ajuda,
recebendo de dom Jaime a aceitação de Carolina como Igreja-irmã de Maringá, fraternidade oficializada em
julho do mesmo ano. O primeiro contato do bispo de Maringá com a Igreja-irmã aconteceu nos dias 16-21
de dezembro de 1975, tendo-o Bícego recebido em Imperatriz, única cidade do Maranhão, além da capital,
a receber aviões de grande porte. Em 1976 deu-se intercâmbio de visitas, com a vinda de dom Marcelino a
Maringá no dia 10 de maio, aniversário da cidade. Visitando a paróquia de Marialva, mostrou-se surpreso com
a intensa participação cristã dos jovens. Apoiado por dom Jaime que o acompanhava, praticamente exigiu que
padre Orivaldo Robles, o pároco, acompanhado de jovens da diocese de Maringá, se deslocasse a Carolina
para lá promover dois encontros, um masculino, outro feminino, com jovens da prelazia. Tudo aconteceu de
forma muito rápida, ficando acertado que, já no próximo mês de julho, deveriam estar no Maranhão.
O livro do Tombo da paróquia de Marialva registrou o fato, situando a saída dos jovens no dia 6 de
julho. Nos assentos referentes a julho de 1976, lê-se:
6 – Saída para Carolina dos jovens que me acompanharão nos encontros que faremos
com jovens de lá. Foi uma luta a preparação. Superadas mil dificuldades de toda ordem
(familiar, econômica, intelectual, de maturidade, de transporte etc.), ficou decidido:
Pe. Almeida me substituirá na Paróquia, residindo na mesma casa que eu. Fará compa-
nhia, inclusive, à jovem esposa do Ademir Boschini, que também irá a Carolina. Cui-
dará dela, pois está grávida e teve problemas de saúde. Registro o fato, pois me parece
comovedor: a amizade e confiança deste casal, a total fraternidade com os sacerdotes.
Esperam o primeiro filho e aceitam separar-se por quase duas semanas, indo ele para
um trabalho apostólico a mais de 2.000 km e ficando ela confiada aos cuidados de
um padre amado e aceito como irmão. Os jovens que vão a Carolina são oito, quatro
rapazes e quatro moças, de Maringá e Marialva. De Maringá: Yassushi Shima, Amauri
Meneghetti, Wilson Saenz Surita Jr e Maria Christina Macedo Alves. De Marialva:
Ademir Boschini (o único casado), Alice Boschini (sua irmã), Maria Geralda Vieira e
Neuza Maria Dada. Viajam numa camioneta Chevrolet, modelo Veraneio, alugada para
isso. Viajarei depois de amanhã, de avião, indo a Imperatriz e, de lá, a Carolina.
12-13 – Curso-retiro para jovens no Seminário de Carolina. O primeiro para rapazes, o
segundo para moças. O comportamento dos nossos oito jovens da diocese de Maringá
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Em Carolina os jovens da diocese e Robles encontraram dom Jaime, que passou todo o mês de julho
em autêntica visita pastoral percorrendo cada uma das comunidades da prelazia. Anteriormente, como re-
presentantes da diocese de Maringá, já haviam permanecido pelo espaço de uma semana em Carolina padre
Almeida, irmã Antona Dröge, Atair e Cláudia Niero, que desenvolveram trabalho missionário na linha da
catequese e da formação de agentes pastorais. Almeida voltou ainda outras vezes para ajudar no processo de
planejamento pastoral. A prelazia de Carolina foi elevada à condição de diocese no dia 7 de dezembro de
1979, ao mesmo tempo em que dom Marcelino Sérgio Bicego se tornou primeiro bispo diocesano. Convida-
do por este, após participar da assembléia de Puebla, entre os dias 11 e 17 de novembro de 1979, dom Jaime
esteve em Carolina para ministrar curso sobre as conclusões daquela assembléia continental. No dia 23 de
fevereiro de 1980, consternada, Maringá recebeu a notícia do falecimento, dia anterior, às 16h00, em Belém,
vitimado por leptospirose, de dom Marcelino, o bispo que se tornou profundamente querido entre nós. Com
a Igreja-irmã sem bispo, dom Jaime lá voltou, no dia 19 de março de 1980, para ordenar presbítero o diáco-
no Tarcísio Cardoso da Silva, daquela Igreja. O segundo bispo de Carolina, dom Alcimar Caldas Magalhães
(1981-1990) também visitou Maringá, permanecendo aqui por vários dias. Decorrido não muito tempo, o
projeto de fraternidade entre as duas dioceses entrou em declínio, até ser abandonado, conforme dom Jaime,
por desinteresse do então bispo da Igreja maranhense.
Na mesma linha da CNBB nacional, entre os anos 1989-1995, o Regional Sul II cultivou um trabalho
missionário motivando as Igrejas Particulares do Paraná a se abrirem às carências de outras regiões, através do
“Programa Igrejas Irmãs”. O objetivo era colaborar oferecendo equipes de padres, religioso(a)s e leigo(a)s
para áreas de migração populacional daqueles que, saídos do Paraná, se transferiram para Rondônia e Mato
Grosso. Depois de 1995, o programa deixou de ser regional e foi assumido pelas dioceses.
Irmã Antona, dom Marcelino, Curso de catequese em Carolina, 1976. Irmã Antona com jovens
padre Almeida, irmã Hermínia. Sentado no pára-lama, frei Defendente Rivadossi; catequistas da prelazia.
atrás dos jovens, irmã Hermínia, gaúcha das irmãs
de Santa Teresa; padre Almeida ao volante 251
(do lado direito: veículo europeu antigo).
Os 50 anos da Diocese de Maringá
Desde os inícios da década passada, Maringá vinha mantendo parceria com a Igreja da Amazônia. Aten-
dendo pedido de dom Geraldo Verdier, bispo de Guajará-Mirim (RO), pelo espaço de três anos, padres que
lecionavam no Seminário Arquidiocesano de Maringá deslocaram-se, nas férias escolares, até à sede daquela
diocese, na fronteira com a Bolívia, a fim de ministrar aulas a alunos do curso de Filosofia. Entre 1992-1994
lá cumpriram temporadas letivas os padres Júlio Antônio da Silva, Leomar Antônio Montagna, Paulo Campos
e Luiz Antônio Bento. A partir dessa ajuda, Verdier pediu a Maringá, por “empréstimo”, um padre dispos-
to a fazer uma experiência de missão. Por três anos inteiros (2002-2004), trabalhou como missionário em
Guajará-Mirim padre Francisco Gecivam Vieira Garcia. No biênio 2005-2006 substituiu-o padre Luiz Carlos
de Azevedo que, por sua vez, no início de 2007, cedeu lugar a padres Obelino Silva de Almeida e Maurício
Vicente de Oliveira.
Desde então, além do envio de padres, Maringá tem recebido, todos os anos, seminaristas dos cursos de
Filosofia e Teologia das dioceses de Guajará-Mirim e de também de Carolina, colaborando assim na forma-
ção do clero dessas Igrejas. O programa Igrejas-irmãs procura manter aguçada na arquidiocese de Maringá a
sensibilidade para com o sofrimento de outras Igrejas em situação semelhante (quando não pior) à enfrentada
por dom Jaime nos idos dos anos 50.
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Espetáculo
Padre Júlio Hartmann, vigário de Tamboara, era um gaúcho imen-
so. Além de alto como um pinheiro, ostentava uma gordura descomunal.
Sua massa corpórea próxima dos 200kg tornava-o uma ameaça para cadei-
ras e camas. Quando vinha ao retiro espiritual no seminário, era preciso
“importar” da Santa Casa uma cama de hospital, de estrutura de ferro,
suficientemente forte para não arriar com o ocupante. Por um tempo,
em 1967, esteve na paróquia de Mandaguaçu ajudando padre Berniero
Lauria. Por mais que tentassem, as pessoas não conseguiam disfarçar a
curiosidade. Era volumoso demais para não atrair os olhares. Cansado de
servir de diversão, quando via alguém tentando disfarçar o riso, padre Júlio
não perdia a calma: “Pode rir. Você provavelmente nunca se divertiu com
algo tão honesto”.
Receita
Quem viajou, antes de 1960, pelas estradas deste Norte do Paraná,
jamais vai esquecer. Não era só a poeira, fina como talco, que penetrava
nos poros: ao fim de uma viagem de poucos quilômetros, do rosto do via-
jante se só se viam os olhos. Nem só a lama, que deixava atolados centenas
de carros. A consistência da terra era outro desafio. Duas horas depois da
chuva, o barro secava assumindo a rigidez do vidro. Os veículos da época,
quase sempre utilitários rudes, não ofereciam o conforto nem a maciez de
hoje. Resultado: problemas de coluna, lombalgias, o corpo inteiro dolo-
rido. O mineiro dom Geraldo Fernandes, bispo de Londrina, com dores
nas costas, foi, um dia, ao médico, que diagnosticou: − “Com esses bicos-
-de-papagaio, sua coluna não agüenta solavancos de jipe nessas estradas. É
melhor o senhor andar de Impala” (carro da Chevrolet lançado em 1957,
importado por ricos). E o bispo, com ar maroto: − “Gostei do remédio,
doutor. O senhor não tem amostra grátis?”.
Telefone
Pai dos padres Antônio Carlos e José Maria, o construtor Marcos
Baggio, com sua opa vermelha de irmão do Santíssimo, era figura obri-
gatória na catedral em todos os pontificais de dom Manuel da Silveira 253
Acolhida
Quando abriu diante de dom Benjamin o mapa da diocese de Para-
navaí, que se estende de Alto Paraná até as ilhas do rio Paraná, dom Jaime
lhe garantiu: “Ninguém pode me acusar de egoísmo. Ao contrário, sou
tão generoso que dei a maior parte da minha diocese para você.” No dia da
posse, em Paranavaí, ao descerem do carro, inadvertidamente dom Jaime
bateu a porta na mão do novo bispo. Embora leve, a ferida apresentou
discreto sangramento. E dom Jaime, rápido: “Está vendo, dom Benjamin?
Ninguém pode dizer que você não derramou o sangue pela sua diocese”.
Nisso, algumas religiosas correram para cumprimentar o recém-chegado.
Na época, era costume beijar o anel do bispo. Ao ver o grupo que se apro-
ximava, dom Benjamin, bonachão, não teve dúvida: tirou do dedo o anel e
o entregou à primeira, recomendando: “Irmã, beije e passe para as outras.
Depois, as senhoras me devolvem”.
Pipoca
Tempo houve em que Maringá inteira conhecia o Corcel preto 1975,
que o bispo mesmo dirigia, sem precisão de motorista. Conhecido pela
palavra fácil, correção lingüística e oratória inflamada, nas missas costuma-
va estender a homilia para além dos costumeiros dez ou quinze minutos
dos padres nas paróquias. Por causa da pregação, alguns consideravam
sua missa demasiado longa. Certo domingo, um senhor acompanhado do
filhinho chegou à catedral. Ao passar pelo pipoqueiro que ali faz ponto, o
garoto pediu: “Papai, compra pipoca”. E o pai: “Depois da missa, papai
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Irmãos
No princípio dos anos 90, para a paróquia São José, regida pelos pa-
dres jesuítas, foi nomeado padre Silvino Pedro Rabuske, vigoroso rapagão
que, pela sua pouca idade e cara de menino, era chamado de Pedrinho.
Tinha-se ordenado há pouco, tanto que nem recebeu nomeação de páro-
co, mas de administrador paroquial. Padre Arthur Frantz, seu auxiliar, ao
contrário, já passara dos setenta. Ambos jesuítas, de sólida formação para
a vida comum, sua convivência era admirada como algo raro, sobretudo
porque o mais novo exercia o comando e o mais velho era seu subordi-
nado. Certo dia, não contendo a curiosidade, alguém quis saber: “Padre
Arthur, o senhor tem mais de setenta anos, padre Pedrinho, só uns trinta:
vocês combinam bem? Como é que vivem na mesma casa?” Com a maior
tranqüilidade, o velho padre respondeu: “Ora, vivemos como irmãos”. E
emendou, para esclarecer: “Brigamos todos os dias.”
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