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7 Uma Igreja Na Trilha Do Cristo Pastor - Arquidiocese de Maringá

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7 Uma Igreja na

trilha do Cristo pastor

Formação de lideranças cristãs jovens para um mundo em mudança.


Primeiro BR3 (Base de Reencontro e Reflexão Religiosa), 1975.
Não será exagero declarar que, em 1º de fevereiro de 1956, quando foi anunciada a criação da diocese
de Maringá, o Norte do Paraná assemelhava-se muito mais à terra descoberta por Cabral no seu desembar-
que do que à região como a conhecemos em nossos dias. Há consenso em reconhecer que o Brasil alcançou,
nos últimos 50 anos da sua história, desenvolvimento incomparavelmente superior ao conseguido nos 450
anteriores. Isso é ainda mais exato se aplicado ao Norte do Paraná. Não apenas quando se considera o pro-
gresso econômico-social da região. No tocante à vida interna da Igreja e à sua ação evangelizadora, as cinco
últimas décadas atestam uma transformação realmente notável. Se, por algum artifício de mágica impossível,
um túnel do tempo sugasse hoje um católico norte-paranaense de volta a 1956 ou 1957, ele teria dificuldade
de reconhecer a sua terra e, até com maior razão, a sua Igreja. Por mais que alguns insistam na idéia de que a
Igreja Católica estacionou no tempo, é preciso reconhecer que ela empreendeu mudanças não pequenas, em
especial, a partir da década de 1960.
Ao tempo da criação e instalação canônica da diocese de Maringá, a Igreja Católica orientava-se por um
referencial doutrinário e evangelizador ligado fortemente às diretrizes do Concílio de Trento (1545-1563).
Era compreensível, de vez que não se fizera sentir ainda o impacto que iria provocar em todo o mundo o
Concílio Vaticano II (1962-1965), nascido não “como um fruto de prolongada consideração, mas como uma
flor de inesperada primavera”, no dizer de João XXIII, a quem ocorreu a inspiração de convocá-lo. A diocese
de Maringá foi instalada cinco anos antes daquele que se tornaria o mais importante evento eclesial do século
XX. O Concílio Ecumênico Vaticano II surpreendeu-a engatinhando, ainda em fase de organização.
A quem participa da vida eclesial de nossos dias talvez pareçam descabidas disposições em vigor na
época. Normas que às gerações de hoje configuram desmedida concentração de poder eram então admiti-
das como praxe não só de rotina senão por inteiro justificadas. Encerrado às pressas, por causa da situação
política reinante na Itália, o Concílio Vaticano I (1869-1870) conseguiu elaborar a doutrina do primado do
romano pontífice, mas não dispôs de tempo necessário para aprofundar a teologia do episcopado. Se, de uma
parte, definiu a infalibilidade do papa, quando este se pronuncia ex cathedra sobre questões de fé e costumes,
de outra, não levou adiante questões vitais para a Igreja, a exemplo da sacramentalidade do episcopado, da
evangelização do mundo confiada aos bispos, e do múnus do bispo como pai e mestre de sua Igreja... Por
conseqüência, não foi difícil, durante longo período, encontrar quem visse no bispo uma categoria de auxiliar
ou representante do papa, em vez de legítimo sucessor dos apóstolos, responsável, juntamente com o colégio
episcopal e por força do mandato de Cristo, pela evangelização de todos os povos, razão de ser da Igreja. Era
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Os 50 anos da Diocese de Maringá


justificável, assim, que o recém-empossado bispo de Maringá solicitasse à Santa Sé licença para conservar o
Santíssimo Sacramento em capela particular da sua residência. A eclesiologia hodierna estranha que um bispo
em comunhão com o sucessor de Pedro requeira autorização para conservar a sagrada Eucaristia que ele,
liturgo maior de sua Igreja, tem como encargo presidir e confeccionar em favor dela.
Na cédula nº 8521, de 17 de maio de 1957, a Nunciatura Apostólica respondeu remetendo em anexo
“o Rescrito N. 2280/57, de 7 do corrente”, pelo qual Roma concedia a faculdade de conservar o Santíssimo
Sacramento na “Capela particular do Palácio Episcopal”. Quem conheceu em 1957 a residência do bispo não
contém o riso ao ler os termos “capela” e “palácio”. A capela não passava de um cubículo imitando um armá-
rio embutido, onde só cabiam um mini-altar e dois genuflexórios minúsculos. Para usá-la havia que deixar as
portas abertas; fechadas, encostavam nos genuflexórios. De palácio, por sua vez, a casa não guardava a mais re-
mota aparência. Se, passados 50 anos, depois de inúmeras reformas, ainda é impossível chamá-la assim, menos
ainda em 1957, quando era muito mais acanhada. O rescrito redigido em latim apresenta o seguinte teor:

Sagrada Congregação dos Sacramentos


Prot. N. 2280/57
Beatíssimo Pai
O Exmo. e Revmo. Dom Jaime Luiz Coelho, bispo de Maringá, humildemente requer a
Vossa Santidade licença para conservar o divino Sacramento em sacrário na residência
episcopal da referida diocese.

A Sagrada Congregação para a disciplina dos Sacramentos, em virtude das faculdades a


ela concedidas pelo Santo Padre, nosso papa Pio XII, atendendo ao exposto, concede
ao Excelentíssimo Orador a licença pedida, a vigorar durante seu encargo na referida
diocese, desde que a capela seja devidamente preparada e dotada de suficiente mobili-
ário, aí seja, ao menos uma vez por semana, celebrado o santo sacrifício da missa, seja
mantido sob chave o tabernáculo, dia e noite esteja acesa a lâmpada diante do SSmo.
Sacramento, sejam as sagradas Espécies renovadas conforme as rubricas, e se observe
tudo o mais conforme o costume. Revogam-se quaisquer disposições contrárias.
Dado em Roma, no edifício da mesma Sagrada Congregação, no dia 7 de maio de 1957.
(assinatura ilegível) (SAGRADA CONGREGAÇÃO DOS SACRAMENTOS, 1957, 1 f.).

Eram outros os tempos, sem dúvida. O cuidado de bispos e padres centrava-se na manutenção e incre-
mento da vida sacramental, praticamente a única maneira então em voga de identificar um católico compro-
metido com sua Igreja. Tanto é assim que, ainda em nossos dias, para boa parte das pessoas, a distinção entre
bom e mau católico reside na diferente freqüência aos ritos litúrgicos celebrados no interior do templo.
Dever primordial de um bispo, portanto, ao tomar posse de sua diocese, era prover as paróquias de
padres em número suficiente para “atender o povo”, aí compreendido gastar seu tempo em conferir batismos,
ouvir confissões, celebrar missas, assistir casamentos, visitar enfermos portando a sagrada unção e o viático,
oficiar exéquias, ministrar bênçãos, aconselhar pessoas... No exercício dessas funções sagradas praticamente
se esgotavam as atribuições de um padre para com os fiéis entregues ao seu zelo de pastor. Respeitados, a par
disso, os momentos para cultivo de sua vida interior e exercício da administração paroquial, o tempo quiçá
ainda disponível devia bastar para o cuidado do “catecismo” das crianças e do imprescindível acompanhamen-
to das pias associações de fiéis.
Datam desse tempo − os mais antigos o recordam − algumas organizações que marcaram fortemente a
história de nossas paróquias. Destinavam-se a segmentos distintos da comunidade e tinham como característi-
ca visível uma fita colorida que ornava o peito dos seus membros. Para as crianças havia a Cruzada Eucarística
Infantil, com sua fita amarela e atividades voltadas ao catecismo e ao grupo de coroinhas. Adolescentes e
jovens do sexo feminino reuniam-se na Pia União das Filhas de Maria, identificadas pela fita azul, enquanto o
Apostolado da Oração, que usava fita vermelha, reunia naquela época quase exclusivamente senhoras casadas;
ainda existente, o AO é integrado hoje também por senhores, além de jovens de ambos os sexos. Para homens
mais maduros e piedosos, existia um sodalício conhecido como Irmãos do Santíssimo Sacramento; em vez de
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A Igreja que brotou da mata


fita, portavam uma opa vermelha. Aos rapazes e homens adultos era franqueada a congregação mariana, com
a inconfundível fita azul, que representou um marco na atuação apostólica dos cristãos leigos. Diferentes das
Ordens Terceiras, mais ligadas a mosteiros e a Ordens religiosas; diferentes dos Oratórios, com uma forma de
vida mais festiva e pouco estruturada; distintas ainda das conferências vicentinas, cuja atuação prioriza a visita
domiciliar a famílias necessitadas, as congregações marianas distinguiam-se por seu caráter estritamente laical,
embora sob condução hierárquica de um diretor espiritual nomeado pelo provincial jesuíta mais próximo, e
que, nas paróquias, evidentemente, era função do padre.
Criada pelo jesuíta belga Jean Leunis para os alunos do Colégio Romano, a primeira congregação
mariana recebeu aprovação da Igreja em 1584, quando Gregório XIII propôs as normas da Prima Primária,
como ficou conhecida, erigindo-se em modelo para todas as demais do mundo inteiro. O papa confiou a
nova associação à responsabilidade direta do superior geral dos jesuítas, ligando indissociavelmente as con-
gregações marianas à Companhia de Jesus. Com tal patrocínio cresceram de forma notável propiciando aos
seus membros vida espiritual intensa, garantida pelos exercícios espirituais de Santo Inácio. Juntamente com
a Companhia de Jesus acabaram supressas, em 21 de julho de 1773, as 2.500 congregações filiadas à Prima
Primária de Roma. Quando, em 7 de agosto de 1814, a Companhia de Jesus foi restaurada, elas voltaram a
existir, mas enfrentaram não poucas dificuldades até que, em 1948, Pio XII publicou a constituição apostólica
Bis saeculari die, que lhes devolveu as características de origem e restabeleceu os exercícios inacianos como
espinha dorsal de sua espiritualidade.
Ao longo de décadas, antes do advento do Concílio Vaticano II, a congregação mariana impôs-se como
única escola de formação dos leigos, além de celeiro onde os vigários garimpavam os melhores agentes paro-
quiais. Não se voltava sobre si mesma, antes, preparava os congregados para ação apostólica destinada a setores
específicos da paróquia e da sociedade: crianças do catecismo, jovens, atletas, operários, encarcerados, enfer-
mos, indigentes, prostitutas etc. Em muitos lugares os marianos se tornavam conhecidos ainda por bom time
de futebol e por competente banda de música. Na organização interna, um dos segredos do êxito repousava
no papel exercido pela instrução, verdadeira catequese de aprofundamento da fé católica. Dentre os cargos da
diretoria um dos mais importantes era o de instrutor; a partir dele se delineava o perfil de uma congregação.
À semelhança da congregação mariana para homens e moços, também a Pia União − sob orientação do
sacerdote ou de religiosas, onde as havia −, constituía para jovens do sexo feminino uma escola de formação de
vida. Por ela passavam as moças “de família” que, uma vez casadas, normalmente ingressavam no Apostolado
da Oração.

Congregação Mariana, Pia União das Filhas de Maria e Apostolado da Oração com padre Teófilo Carlos Almazán, primeiro vigário da
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Paróquia Santíssima Trindade (atual Catedral). O coroinha do centro, de mãos postas, é hoje padre José Olavo Pires Trindade. Foto
do dia 10 de junho de 1951, em frente à antiga casa paroquial, espaço hoje ocupado pela Cúria Metropolitana. Os 50 anos da Diocese de Maringá
Com sua participação eficiente e discreta, o AO não fazia notar sua presença na vida paroquial. Era
claramente visível, por outro lado, a sua ausência lá onde não existia. No AO agrupavam-se as melhores li-
deranças femininas maduras das comunidades sobre cujos ombros repousava o peso maior de trabalhos que
muita gente temia enfrentar. Impossível encontrar um único templo católico no Norte do Paraná que se tenha
erguido sem a colaboração dedicada do AO. A sua devoção ao Sagrado Coração de Jesus e a prática das nove
primeiras sextas-feiras tornaram-na uma das associações mais conhecidas da Igreja nos últimos tempos. Sobre
o cinqüentenário da encíclica Haurietis acquas (15/05/1956) do papa Pio XII, que fala da devoção ao Sa-
grado Coração de Jesus, manifestou-se recentemente o cardeal Martini, arcebispo de Milão:

Ela (a devoção) me havia sido infundida por minha mãe, com a prática das primeiras sex-
tas-feiras do mês. Nesse dia, minha mãe nos fazia levantar cedo para ir à igreja paroquial
e tomar a comunhão. [...] Um grande mérito dessa devoção foi, portanto, ter chamado
a atenção para a centralidade do amor de Deus como chave da história da salvação. Mas,
para perceber isso, era necessário aprender a ler as Escrituras, a interpretá-las de maneira
unitária, como uma revelação do amor de Deus pela humanidade. A encíclica Haurietis
acquas marcou um momento decisivo desse caminho (MARTINI, 2006, p. 34).

Conta dom Jaime que, em visita pastoral a uma paróquia, reuniu as diversas associações para ouvir relato
do trabalho que realizavam na paróquia. Deixou, de propósito, o AO por último. À sua vez, muito humilde,
a presidente disse: “Nós não fazemos nada, dom Jaime. Só rezamos”. E o bispo, sorrindo: “Pois são vocês
que sustentam tudo que os outros fazem. Se não fosse a oração de vocês, eles não fariam nada daquilo que
contaram”.
Até nos centros maiores, mas de forma predominante no interior do Brasil, congregados marianos,
filhas de Maria e Apostolado da Oração eram praticamente os únicos espaços humanos com que contavam
então os sacerdotes para a descoberta e o cultivo de lideranças laicais.
O Concílio Vaticano II recuperou para a Igreja o conceito de povo de Deus e restituiu ao cristão leigo,
de modo especial no decreto Apostolicam Actuositatem, a sua missão de evangelizador juntamente com os
ministros ordenados, recordando-lhe que “existe na Igreja diversidade de serviços, mas unidade de missão”
(AA 2). Para quem veio depois dos anos 60 e convive com as tantas modalidades de formação à disposição
dos leigos torna-se difícil avaliar a importância de filhas de Maria, de congregados marianos e do AO na evan-
gelização do Brasil e particularmente no Norte do Paraná.
Como qualquer pastor de Igreja jovem, também o bispo de Maringá, desde a posse, em 1957, in-
quietou-se com o reduzido número de padres face à multidão de diocesanos que recebeu. Para uma área de
14.902,67km² − que compreendia 24 municípios, 14 paróquias instaladas e uma criada, ainda por prover de
vigário −, seu clero diocesano não ia além de 7 padres. Importa não esquecer que a quase totalidade dos que
vinham adquirir terra por estes lados tinham em mente o plantio de café, monocultura da época e carro-chefe
na pauta de exportações brasileiras para o mercado internacional. Diferentemente da pecuária e da produção de
outros grãos, o café sempre exigiu abundante mão-de-obra. Tudo fazia prever para a região nos anos futuros
um forte crescimento populacional. A comprovação ficou demonstrada na gritante diferença do número de
municípios existentes entre a criação da diocese e a sua instalação, um ano depois. A bula de criação relacionou
somente oito, todos instalados até o ano de 1952. Para quem conhece como se deram os fatos, o motivo é ób-
vio: a mobilização em torno da nova diocese teve início após a reunião provincial convocada por dom Manuel
da Silveira D’Elboux, em 1953. Os estudos relacionaram os municípios existentes na ocasião; não mais que
os oito citados na bula papal. No momento da instalação canônica, porém, em março de 1957, a mesma área
abrigava um total de 24 municípios. Conclui-se que, em menos de quatro anos, o número triplicou.
Longe de se entusiasmar com esse dado, o novo bispo viu crescerem motivos de preocupação. Como
atender com sete padres do clero diocesano uma região que se expandia nessa proporção? Não obstante o
fato de contar também com 22 sacerdotes do clero regular, a experiência, como ficou demonstrado, não
lhe trouxe grande alento, pelo menos nos primeiros encontros. Além de que, sabia-o bem, o atendimento
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A Igreja que brotou da mata


paroquial por religiosos significava uma etapa provisória do seu governo; devia prolongar-se apenas até que a
nova Igreja diocesana estivesse devidamente estruturada. Daí a busca incessante por novos colaboradores e a
criação, quando se oferecia o ensejo, de novas paróquias, embora sempre em quantidade longe da ideal.
Em face das necessidades, comunidades paroquiais novas foram surgindo. Em 1958, o bispo criou três:
Paranacity, São Jorge do Ivaí e Floraí; em 1959, quatro: Santa Isabel do Ivaí, Marumbi, São Pedro do Ivaí e
Itambé; em 1960, oito: Cruzeiro do Sul, Ivatuba, Santo Antônio de Pádua (Maringá), Graciosa, Planaltina do
Paraná, Santa Cruz do Monte Castelo e Floresta; em 1961, Atalaia; em 1962, Santo Cura d’Ars (Paiçandu);
em 1964, quatro paróquias novas: Nossa Senhora das Dores (Paranavaí), São Carlos do Ivaí, Inajá e Santa
Maria Goretti (Maringá); em 1965, duas: Kaloré e Querência do Norte.
O ano de 1965 assinala também a implantação de importante medida administrativo-pastoral. Depois
de muita reflexão e consulta, foram criados cinco decanatos ou regiões pastorais em que se subdividirá, do-
ravante, a diocese. Cada decanato agrupará um número aproximadamente igual de paróquias, ao redor de
uma, erigida como cabeça de região. Estabelecidos em função do melhor governo e dos melhores frutos no
trabalho pastoral, os cinco decanatos receberam como sedes as paróquias: Catedral, Jandaia do Sul, Loanda,
Nova Esperança e São Jorge do Ivaí.
A partir de 1968, criada a diocese de Paranavaí, a área desde Alto Paraná até o rio Paraná acabou sub-
traída à administração do bispo de Maringá. No território que lhe restou, porém, foi sentindo, ao longo de
seu governo, a necessidade de implantar outras 20 paróquias: Bom Pastor (Mandaguari, 1968); Cristo Res-
suscitado e Divino Espírito Santo (Maringá, 1969); Presidente Castelo Branco e Aquidaban (1970); Doutor
Camargo (1971); São Miguel Arcanjo (Maringá, 1975); São Francisco de Assis (Maringá, 1978); Nossa Se-
nhora das Graças (Sarandi, 1979); Sagrado Coração de Jesus (Maringá, 1980); Menino Jesus de Praga/São
Francisco Xavier, Nossa Senhora de Lourdes/São Judas Tadeu, Santa Isabel de Portugal (Maringá, 1990) e
Santa Teresinha do Menino Jesus (Sarandi, 1990); Nossa Senhora de Guadalupe (Maringá, 1992); São Sil-
vestre I, Papa (Maringá, 1994); Nossa Senhora da Liberdade e Beato Pedro Jorge Frassati (1995), e as três
últimas em 1997, seu último ano como arcebispo metropolitano: Santa Rosa de Lima (Iguatemi), Jesus Bom
Pastor (Paiçandu) e São Mateus Apóstolo (Maringá).
Em seu período de 40 anos à frente da Igreja de Maringá, dom Jaime criou 41 novas paróquias, das
quais 7 (sete) passaram a compor, a partir de março de 1968, a diocese de Paranavaí, integralmente desmem-
brada do território da diocese original.
Por sua inadequação ao novo contexto, também a divisão administrativa da Igreja-mãe exigiu refor-
mulação. Assim, no segundo semestre de 1968, a partição em decanatos, que vigorava desde 1965, sofreu
mudança passando a três regiões pastorais apenas, nucleadas em torno das paróquias da Catedral, de Jandaia
do Sul e de Nova Esperança, absorvendo esta as paróquias do antigo decanato de São Jorge do Ivaí. Foi tam-
bém admitida nova sistemática para reuniões do clero: estabeleceram-se duas reuniões gerais, uma em cada
semestre, e reuniões mensais em cada setor ou região pastoral.
Ao mesmo tempo em que diligenciava para conseguir mais padres e criava novas paróquias lá onde
verificava a premência, o bispo empenhou-se, desde sua chegada, em suscitar nos diocesanos uma clara cons-
ciência vocacional. À época, a palavra “vocação” guardava quase exclusivamente a conotação sacerdotal e
religiosa, e ele esforçou-se para que os fiéis se sentissem comprometidos com o número e com a qualidade dos
ministros sagrados. Incentivou as paróquias a promoverem semanas vocacionais, além de voltar constante-
mente ao assunto nos programas radiofônicos, em artigos de jornal e, de modo particular, nas visitas pastorais
em seus encontros com crianças e jovens. Sua pregação incessante se fazia em torno da oração e trabalho por
“numerosos e santos” operários para a messe.
Mesmo que houvesse, algum dia, sacerdotes em grande número (e não era o caso), com certeza não
bastaria disseminar paróquias por todos os cantos. Existia, já naquele tempo, clareza bastante sobre os limites
da pastoral paroquial praticada, capaz de reunir os convertidos, mas não de atrair à conversão os afastados.
Conquanto apresente conteúdo invariável, a evangelização submete-se às exigências específicas de cada parce-
la da população. Não escapava ao senso pastoral do bispo as nuances só conhecidas de quem mergulha na re-
alidade do seu meio. Desde cedo, inquietou-o a situação religiosa dos japoneses natos e de seus filhos, comu-
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Os 50 anos da Diocese de Maringá


nidade numerosa e impermeável para estranhos à sua cultura. Preocupavam-no também os jovens, sobretudo
estudantes; os professores, muitos vindos de fora onde tinham deixado família; o povo da zona rural, morador
das extensas plantações de café distantes das cidades; os bairros de Maringá, que se esparramavam pelos lotes
desmatados, enchendo-se de gente, enquanto faltava quem lhes levasse a pregação da fé católica. É revelador
penetrar na visão que possuía de sua Igreja Particular, oito meses depois da posse. É sua a descrição:

Na diocese tôda, de modo geral, é consolador o espírito religioso. O povo simples do


campo conserva a religião e a pratica como é possível, diante da falta imensa de clero.
Aqui se realiza a palavra da Escritura: o povo pede pão, e não há quem o distribua.
[...] Embora o número de acatólicos não seja grande, há, contudo, a disseminação do
êrro entre as camadas mais simples, que laboram em grande ignorância religiosa. Na
chamada alta sociedade, salvo honrosas exceções, predomina o catolicismo cômodo
e inoperante, apenas de tradição, sem a verdadeira vida sobrenatural. Como por aqui
aportaram visando mais a situação econômica, pouco ou nada fizeram para se aproxi-
marem de Deus. Não obstante, com a graça de Deus, nota-se um interesse para com a
prática da religião, e os nossos esforços estão voltados para êsse objetivo de despertar a
todos e atraí-los para a Igreja.
Quanto à propaganda herética, está como causa principal a angustiante falta de clero.
Os sacerdotes que trabalham na Diocese, embora se lhes reconheça o valor do sacrifí-
cio, da abnegação e do seu pioneirismo, quase todos estrangeiros, estão a braços com
a desproporção de fôrças no campo de luta. Poucos sacerdotes para imensas paróquias,
tôdas elas num crescimento contínuo, e tôdas com parte de sua população flutuante,
que busca num e noutro lugar o seu sustento material.
O Sacerdote, percorrendo a paróquia, algumas delas com quatro municípios, v.g Lo-
anda, Nova Esperança, pouco pode fazer em favor do crescimento da vida espiritual.
Chegado a uma Capela, [...] o Padre atende ràpidamente as confissões, celebra a Santa
Missa, e todo o tempo é dedicado aos batizados, aos casamentos ou processos ma-
trimoniais. Há pouco tempo para Reuniões das Associações Religiosas ou catecismo.
Segue-se, pois, a falta de verdadeira formação da vontade e ilustração da inteligência.
Esta conseqüência – a ignorância religiosa – é campo fértil para propaganda protes-
tante, espírita, etc. Convergindo para o norte do Paraná pessoas das mais diferentes
regiões do país, e também do estrangeiro, cada qual traz a carga de seus princípios já
recebidos, e em meio à escassez da vida religiosa, pouco a pouco se abrem às seitas
heréticas, ou se tornam indiferentes (COELHO, 1957, f. 1-2).

A Missão Nipo-Brasileira
Alçado à fama, desde o início da colonização, pela fertilidade de suas terras, o Norte do Paraná tornou-
-se atração agrícola, além de campo aberto ao exercício de outras atividades para muitos japoneses e seus
descendentes originários, em sua maioria, da Alta Paulista, Sorocabana e Noroeste, regiões do vizinho Estado
de São Paulo. Conhecidos por sua devoção ao trabalho e forte disciplina, para cá se transferiram dispostos a
melhorar o padrão de vida, sem medo do desconforto que os esperava no mato e nos incipientes lugarejos,
transformados, com o passar dos anos, em cidades de porte nada desprezível. Há notícia da presença, desde a
década de 1930, de grupos nipônicos que, para manter vivos os valores culturais do país de origem, reuniram-
-se em colônias japonesas, muito atuantes e interessadas em se integrarem à sociedade local.
Na área da diocese de Maringá, famílias japonesas concentravam-se, com maior intensidade, nos mu-
nicípios de Maringá, Marialva, Floresta, Nova Esperança e Paranavaí. Em relatório à nunciatura apostólica,
o bispo informava, no ano de 1960, a existência de uma colônia japonesa composta por aproximadamente
20.500 pessoas. Cerca de 12.500 tinham sido batizadas, mas apenas 1000 eram católicos praticantes. Destes,
o número mais expressivo (40 famílias) concentrava-se em Floresta, onde representava 20% das 200 famílias
ali sediadas; algumas, descendentes dos mártires de Nagasaki (1597) (COELHO, 1961, f. 10).
Conforme dados da Missão Católica Nipo-Brasileira de Maringá, remontam a 1953 as primeiras infor-
mações de atendimento católico a japoneses e nisseis na cidade. No dia 24 de outubro daquele ano foi reque-
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A Igreja que brotou da mata


rido à Secretaria Estadual de Educação e Cultura o funcionamento da Escola Mista São José, a mesma que
em 1960 receberia dom Jaime como diretor. Depois, católicos japoneses da diocese foram ocasionalmente
atendidos por frei Anacleto de Vescovana, que atuava em todo o Norte do Paraná desde o início de 1955, e
por padre Inácio Shigeo Takeuchi, SJ, que vinha de São Paulo.
Já em 1957, com a mediação do núncio apostólico, o primeiro bispo de Maringá entabulou entendimen-
tos com o Japão, solicitando o envio de um missionário japonês. Obteve feliz resultado com a cessão pelo bispo
de Fukuoka de um padre de sua diocese, Miguel Yoshimi Kimura, que chegou ao Brasil em 25 de junho de
1958, passando a morar na residência episcopal, ao mesmo tempo em que iniciava o aprendizado da língua por-
tuguesa. Na época, morou também em casa de dom Jaime, durante alguns meses, o padre espanhol Francisco
Peregrina López, mais tarde vigário ecônomo de Nova Esperança. Com maiores conhecimentos de português,
ele colaborava no ensino de Kimura. De temperamento galhofeiro, no entanto, divertia-se ensinando palavras
erradas ao “aluno” que depois, precisava receber do bispo paciente correção. Kimura espalhou o seu zelo mis-
sionário por toda a diocese de Maringá que, na época, ainda incluía a de Paranavaí. É de sua responsabilidade a
criação da Missão Nipo-Brasileira em Maringá num tempo em que havia carência de quase tudo por aqui. A ele
é devido ainda o Centro Cultural e Social São Francisco Xavier, fundado em 3 de dezembro de 1960, e a Escola,
hoje Colégio São Francisco Xavier, cuja pedra fundamental foi lançada em 2 de setembro de 1962. Para sua
direção dom Jaime conseguiu as Irmãzinhas da Imaculada Conceição, dentre as quais algumas irmãs nisseis.1 Em
12 de fevereiro de 1965 chegaram a Maringá as irmãs Teresa Ayako Onichi e Clara Sumiko Ko, das Carmelitas
da Caridade de Vedruna, que deram inestimável cooperação ao trabalho da Missão Nipo-Brasileira. A primeira
retornou ao Japão para tratamento de saúde em 1972, voltando ao Brasil em 1977. Doente de novo, em 1998
regressou ao Japão onde faleceu a 25 de março de 2006. Irmã Clara, depois de 40 anos ininterruptos de tra-
balho, no Colégio Santa Cruz e na evangelização de japoneses e de nisseis, entregou a Deus sua bela alma de
missionária, na madrugada do dia 4 de junho de 2005, em Maringá. O presbitério de Maringá foi enriquecido,
a 7 de dezembro de 1966, com a ordenação do primeiro padre nissei, Pedro Watar (Wataru) Makiyama. Ano
seguinte, quando se encontrava em visita a familiares no Japão, monsenhor Kimura foi internado no hospital da
Universidade de Kyushu de Fukuoka e, no dia 14 de agosto de 1967, docemente a morte o levou. Passado ano
e meio, Maringá recebeu novo missionário japonês. No dia 13 de dezembro de 1968 chegou ao Brasil padre
Pedro Ryo Tanaka, da diocese de Sapporo. Sob sua coordenação, o trabalho iniciado por Kimura conheceu
extraordinário avanço, alargando-se a ação da Igreja Católica para novos espaços que o fervor missionário de
Tanaka abriu: núcleos de catequese, grupos de reflexão, orientação espiritual e psicológica para casais, evangeli-
zação de feirantes, atuação sistemática junto ao cemitério municipal etc. A ele se deve a construção da igreja São
Francisco Xavier, do Centro Comunitário São Maximiliano Kolbe, no Jardim Tabaetê, da capela da Vila Emília e
do santuário de Nossa Senhora de Fátima. Com ele a Missão Nipo-Brasileira de Maringá expandiu-se a outras ci-
dades do Paraná como Ubiratã, Toledo, Assis Chateaubriand, Terra Roxa, Iporã, Guaíra, Jesuítas, Nova Aurora,
Foz do Iguaçu, Paraíso do Norte, Diamante do Norte, ao Mato Grosso do Sul, Paraguai e Bahia. Em setembro
de 1971, veio trabalhar em Maringá padre Lucas Daiju Chiba, da arquidiocese de Tóquio. Logo depois, no dia
8 de dezembro do mesmo ano, com a ordenação sacerdotal de Roberto Takeshi Kuriyama, Maringá recebeu o
segundo membro nissei do seu presbitério. No dia 16 de novembro de 1972, padre Tanaka sofreu um ataque
cardíaco, submetendo-se a tratamento até que, no dia 30 de março do ano seguinte, em São Paulo, foi operado
para implante de pontes de safena no coração. Não perdeu, por isso, o bom humor; ao contrário, fazia troça
com o seu “coração vagabundo”, parafraseando a melodia brega cantada por Lindomar Castilho. A partir de
27 de janeiro de 1974, com a presença, em Paiçandu, de padre Ângelo Banki, a Missão Nipo-Brasileira recebeu

1 Em 1969, a Missão Nipo-Brasileira perdeu duas religiosas, vítimas de acidente automobilístico: irmã Josefa Umeki, que faleceu em
10 de outubro, quando era conduzida a Sorocaba, e irmã Dionilce Kobata, em novembro, no Hospital Santa Lúcia, de Maringá,
depois de semanas de cuidados das co-irmãs e de padre Pedro Ryo Tanaka.
231

Os 50 anos da Diocese de Maringá


um reforço precioso.2 Padre Lucas Chiba deixou Maringá, em 8 de janeiro de 1975, indo trabalhar em Ribeirão
Preto. Entre 1981 e 1982, com graves problemas de saúde, Tanaka esteve no Japão durante onze meses, sendo
substituído por Banki. No dia 20 de dezembro de 1992 dom Jaime conferiu o presbiterato ao terceiro nissei
da arquidiocese de Maringá, padre Hélio Takemi Sakamoto. Com plano de permanecer por seis meses, Tanaka
voltou ao Japão no início de 1993 em busca de recursos para a Escola São Francisco Xavier. Substituiu-o no
cuidado da Missão Nipo-Brasileira, durante esse período, o padre Sidney Fabril. No Japão, Tanaka adoeceu tão
gravemente que pouca esperança restou de que viesse a sobreviver. Os seis meses previstos transformaram-se em
três anos, ao fim dos quais, surpreendendo a todos, ele retornou, sendo recebido com festa no dia 21 de janeiro
de 1995. Em vista do crescimento da comunidade, dois meses mais tarde, a 24 de março, o Oratório São Fran-
cisco Xavier foi elevado a paróquia dedicada ao Menino Jesus de Praga e São Francisco Xavier, recebendo como
pároco padre Sidney Fabril e como vigário paroquial monsenhor Pedro Ryo Tanaka. Em vista da peculiaridade
do trabalho com japoneses e seus descendentes, em 5 de dezembro do ano 2000, o arcebispo dom Murilo
Krieger criou a paróquia pessoal São Francisco Xavier para japoneses, designando Tanaka como pároco e Saka-
moto como vigário paroquial. No dia 18 de março de 2001, depois das atividades normais de um domingo (até
celebrara duas missas), jantando em casa de amigos, às 19h15m, monsenhor Pedro Ryo Tanaka foi acometido
por ataque cardíaco, vindo a falecer momentos depois, apesar do imediato socorro que recebeu. Padre Tanaka,
como era conhecido, tinha 64 anos e se encontrava em Maringá desde dezembro de 1968, à frente da Pastoral
Nipo-Brasileira, na continuidade do trabalho pioneiro de monsenhor Miguel Yoshimi Kimura.
As inúmeras atividades da Missão Nipo-Brasileira de Maringá só se tornaram possíveis graças ao espírito
comunitário e participativo da valorosa colônia japonesa. Ao lado de bispos, religiosas, seminaristas, cristãos
leigos e de outros padres, na caminhada que começou em 1958, merecem recordar-se ainda trabalhos oca-
sionais na diocese de Maringá prestados por frei Alécio Broering, OFM, durante muitos anos, responsável
nacional pela PANIB – Pastoral Nipo-Brasileira; padres Lino Stahl, SJ, da PANIB do Paraná, e Paulo Riichi
Doi, SJ, de São Paulo, além de padre Haruo Sasaki, de abnegado trabalho em São Jerônimo da Serra (PR). A
paróquia pessoal São Francisco Xavier para japoneses, em Maringá, está hoje entregue aos cuidados pastorais
de padres Hélio Takemi Sakamoto e Ângelo Banki, respectivamente pároco e vigário paroquial.

2 Natural de Paraguaçu Paulista (SP), Banki, padre jesuíta, estudava na Universidade Sofia, em Tóquio. Em 1967, sabedor da ida
de dom Jaime ao Japão, recepcionou-o no aeroporto. De volta ao Brasil, permaneceu algum tempo na Companhia, pedindo, mais
tarde, para ser aceito como padre diocesano em Maringá.
232

A Igreja que brotou da mata


Memória, quase história

Aconteceu de novo

Sacerdotum sors improvisa mors – morte repentina é o destino dos padres. É um adágio
antigo que os jovens de hoje desconhecem. Os mais velhos, do tempo em que estudávamos
latim, lembramos de memória um punhado deles. Em menos de quatro meses, em Maringá,
padres Bernardo e Tanaka confirmaram seu doloroso acerto. Ambos foram vítimas de um co-
ração que não acompanhava o ritmo do seu trabalho pelo Reino de Deus.
Tanaka surpreendeu pela pouca distância entre seu falecimento e o de Bernardo. E tam-
bém por tê-lo a irmã morte vindo buscar quando já tínhamos esquecido as muitas vezes em
que, anteriormente, sua vida estivera por um fio. Ao contrário de Bernardo, tinha enfrentado
situações que sinalizavam o fim próximo. Pelo menos em três oportunidades esteve entre a vida
e a morte. Assustou-nos a todos, que o dávamos por morto em poucos dias. Nunca, porém,
encenou drama nenhum por conta disso. A cada vez, voltava ao trabalho como se nada hou-
vesse acontecido. Como se fosse o mais saudável dos homens. Sua dedicação às pessoas e obras
para as quais vivia não sofria queda no ritmo de uma atividade desempenhada sem descanso.
Dava a impressão de pressa, como sabendo que, com aquele coração, não podia contar com
muito tempo para tudo o que pretendia realizar.
Amigos testemunham a consciência que manifestava de sua partida próxima. Com a
serenidade do servo fiel, dizia-se pronto para responder ao chamado do Pai. Mas continuava
trabalhando, como quem dispõe de uma vida inteira pela frente.
No velório, uma cena chamou a atenção. Pessoas adultas − surpreendentemente, as mais
humildes − e crianças, muitas, aproximavam-se para fazer um carinho em seu rosto imóvel.
Nenhum sinal do misterioso medo que, às vezes, a morte espalha à sua volta. Era o irmão que
acariciavam. Como a dizer: “Não tive antes a oportunidade de mostrar quanto você é querido
para mim”. Logo para ele que, em vida, até por temperamento, jamais fora dado a grandes
arroubos de ternura. Os mais simples, na clareza de quem tudo enxerga com o olhar de Deus,
conseguiram descobrir a profundeza daquele amor que ele ofereceu por toda a vida.
Num mundo pejado por tantas mostras de desamor, experimentamos profunda carência
dos sinais do Reino. Estamos cansados do grotesco espetáculo da ganância, da sede de poder,
do brilho falso das alegrias que o dinheiro imagina comprar. Padre Tanaka provou que há ou-
tro jeito de viver. Bem mais sólido e verdadeiro (ROBLES, 2001, p. 2).

233

Os 50 anos da Diocese de Maringá


A participação dos leigos
Não havia, no final dos anos 50, a profusão de movimentos eclesiais que hoje reúnem leigos católicos
em multidões capazes de lotar estádios. Vivia-se o clima anterior ao Concílio Vaticano II, tempo de uma Igre-
ja mais clerical e voltada sobre si mesma. Era pouco sentido o anseio missionário do anúncio, a inquietação
de levar a fé aos indiferentes e afastados. Verificava-se, é verdade, nas pessoas fervorosas o sincero anseio da
santificação pessoal, desvinculado, porém, do encargo de transformar o mundo a partir da vivência dos sacra-
mentos do batismo e da crisma. A vida cristã cultivava a perfeição interior, nem sempre atenta às necessidades
dos irmãos. Significativamente, no encerramento das missões populares pregadas pelos redentoristas erguia-se
um grande cruzeiro com a inscrição “Salva tua alma”. Foi preciso o sopro renovador do Concílio Vaticano
II para em seu lugar escrever “Unidos em Cristo”, que ilustra o sentido comunitário da Igreja. Por obra de
uma teologia tridentina nem sempre bem compreendida, o ex opere operato sacramental facilmente enveredava
por um “sacramentalismo” gerador, como pensavam alguns, de uma santificação automática e sem conversão.

Até a década de 1920, a política de participação dos leigos ateve-se, majoritariamente, às


associações devocionais e à religiosidade praticada no interior do templo. A romanização
contribuiu para a importação de cultos e ritos europeus que tinham como objetivo subs-
tituir as devoções católicas, historicamente consolidadas e praticadas sem a presença do
padre. O clero reformado, somado ao europeu, contribuiu para substituir a religiosidade
pessoal pela sacramental, reforçou a mudança de hábitos, implantou devoções e crenças
em santos alheios à fé e à cultura do povo brasileiro (CHIQUIM, 2005, p. 232).

Com a ascensão ao trono de Pedro do cardeal milanês Ambrogio Damiano Achille Ratti, que escolheu
o nome de Pio XI (1922-1939), a consciência dos cristãos leigos foi sacudida por forte apelo evangelizador.
Na sua primeira encíclica Ubi Arcano, de 23 de dezembro de 1922, criou “a Ação Católica, particularmente
importante para a Itália, que conclama os laicos católicos de tôda idade, estado e sexo a participarem do
apostolado da hierarquia, a fim de renovar tôda a sociedade segundo o espírito de Cristo” (BIHLMEYER;
TUECHLE, 1965, v. 3, p. 611). No Brasil, duas décadas mais tarde, em 1935, foi oficializada a Ação Católica
Brasileira (ACB) que, seguindo as linhas da matriz italiana, tinha como objetivo formar católicos leigos para
transformar o mundo.3
Sob influência dos modelos belga e francês, a ACB se converteria, em 1950, em Ação Católica Especiali-
zada (ACE), no esforço de alcançar uma atuação mais presente e decisiva da Igreja no meio dos trabalhadores,
estudantes e operários. Entre o clero brasileiro havia larga influência do pensamento social de padre Lebret.
Muitos sacerdotes daqui faziam curso na França, assim como padres franceses vinham com freqüência ao
Brasil. A ACE ia colher nas fileiras da juventude católica os seus membros, agrupando-os em segmentos iden-
tificados pelas cinco vogais: JAC – Juventude Agrária Católica, para o meio rural; JEC – Juventude Estudantil
Católica, para estudantes dos antigos níveis secundário e médio; JIC – Juventude Independente Católica, para
a classe média; JOC – Juventude Operária Católica e, finalmente, JUC – Juventude Universitária Católica. O
método observado era invariavelmente o conhecido ver-julgar-agir da JOC, fundada em 1923, pelo padre
belga Joseph Cardijn (1882-1967).
No Brasil, a JAC atuou predominantemente no Nordeste e no extremo Sul onde fomentou boas lideran-
ças na zona rural. Nos centros industriais revelou-se muito operante a JOC, construtora de um espírito cristão
e associativista entre os operários, aliado à defesa dos seus direitos. A JOC brasileira formou seus primeiros gru-
pos ainda nos anos 30, mas foi oficializada só em 1948, ano em que Cardijn visitou o país. Nos ambientes uni-
versitários, sobretudo das regiões Leste, Sudeste e Sul, a presença da JUC foi determinante para a consciência
das transformações político-sociais exigidas pelo pós-guerra e pelo processo de urbanização do Brasil. A JIC se

3 Em sua estrutura a ACB seguia a italiana com movimentos de juventude e de adultos, feminino e masculino: Homens da Ação Católica
(HAC), Liga Feminina da Ação Católica (LFAC), Juventude Católica Brasileira (JCB-masc.) e Juventude Feminina Católica (JFC). No
setor da juventude surgiram as primeiras especializações com as JEC, JOC e JUC. As outras duas (JAC e JIC) surgiram mais tarde.
234

A Igreja que brotou da mata


compôs com moças católicas da classe média dos grandes aglomerados urbanos; foi a menos expressiva das cin-
co. Na fase provisória da adolescência, a JEC mostrou-se vigorosa para meninas e rapazes que, posteriormente,
se definiam pela JUC, no caso de ingressarem na universidade, ou pela JOC, se entravam para o trabalho na
fábrica. Concentrando então o melhor da inconformidade e do idealismo juvenil, é fácil compreender que JOC
e JUC tenham fornecido os melhores quadros à resistência juvenil nos anos negros da ditadura militar. Moni-
toradas pelos órgãos de segurança, de vez que a mesma Igreja Católica vivia sob vigilância e até perseguição,
não lhes restou, em particular à JUC, outro caminho senão a clandestinidade para a qual se bandearam jovens
promessas de renovação da sociedade. Daí para o ingresso em partidos de esquerda, de orientação marxista,
trotskista ou maoísta, ou até mesmo para a luta armada, não foi preciso mais que um passo.
Através da JOC e da JUC, a ACE firmava-se em capitais e em centros maiores. Cidades do interior,
como a Maringá do final dos anos 50, o máximo que podiam almejar era montar um núcleo da JEC. E foi o
que providenciou o bispo para reunir estudantes não dispostos a engrossarem as fileiras dos congregados ma-
rianos e filhas de Maria. Ainda no primeiro semestre de 1959, foi realizado um encontro diocesano de JEC,
o primeiro da diocese. Os “jecistas” daqui compunham um grupo do qual faziam parte, entre muitos outros:
João Waldecir Scramin, Adilson Irineu Schiavoni, Oswaldo Pereira Ayres, Odival Bettoni, Hugo Hoffmann,
Adroaldo Knabben, José Sversutti, Ben-Hur Maiochi, João Falavigna, Massataka Murata, Irineu Muchagata,
Lorete Girardi, Maria Elisa Jarreta, Sandra Valente, Márcia Dutra de Oliveira, Djanira Knabben, Vanir Cecília
Maiochi e Sulamita Knabben. A orientação espiritual assegurava-lhes o próprio bispo e, na sua ausência, irmã
Dorilda,4 religiosa das Missionárias de Jesus Crucificado em cuja escola eram feitas as reuniões. Na arquidio-
cese de Maringá, pelo caráter de ação evangelizadora junto aos jovens, a JEC, iniciada em 1958, deve ser
reconhecida como berço da Pastoral da Juventude. Com o advento do Concílio Vaticano II e as mudanças
introduzidas, a partir de 1964, no panorama político do Brasil, não houve mais clima para as atividades da
JEC. Os jovens se dispersaram, mas a maioria mantém até hoje presença atuante na Igreja.

JEC de Maringá, primeiro encontro diocesano, JEC em encontro que reuniu jovens de Maringá e de Paranavaí,
em 1959. no ano de 1960.

Desde a posse do bispo, foi-se delineando a fisionomia da nova diocese do Norte do Paraná. Em 1960
registraram-se importantes eventos. Com a criação, só naquele ano, de sete novas paróquias, foi atingido o
número de trinta, nada desprezível para uma diocese de três anos. De 24 a 27 de março foi celebrado o 1º

4 Irmã Dorilda (Dorilva Farias da Costa) trabalhou em Maringá de 1960 a 1966. Deixou a congregação em maio de 1971, segundo
informação obtida por e-mail, em 21 de novembro de 2006, junto à sede geral da congregação das Irmãs Missionárias de Jesus
Crucificado, situada em Campinas (SP).
235

Os 50 anos da Diocese de Maringá


Congresso Eucarístico Diocesano, em preparação ao 7º Congresso Eucarístico Nacional, que aconteceu de 5
a 8 de maio seguinte, na capital do Estado. O ano de 1957 assinalou ainda a entrega pelos padres palotinos
da catedral à responsabilidade do clero diocesano. Em 1960 verificou-se a histórica ordenação presbiteral de
Benedito Vieira Telles, primeiro padre das jovens cidade e diocese de Maringá. Também é desse ano a insta-
lação, na diocese, do MFC – Movimento Familiar Cristão, fundado no Uruguai, em 1950, por padre Pedro
Richards e um grupo de casais.

Regional Sul II
Até 1964 o Paraná pertencia, em termos de administração pastoral, juntamente com São Paulo, ao
Secretariado Regional Sul I, que agrupava as dioceses de ambos os Estados. Na terceira fase do Concílio Vati-
cano II, durante a 6ª Assembléia Geral da CNBB, realizada em Roma, no dia 30 de setembro daquele ano, foi
criado o Secretariado Regional Sul II, com sede em Curitiba. O coordenador, hoje conhecido como presiden-
te, na época intitulava-se secretário; a atual função de secretário era então exercida pelo subsecretário. Dom
Jaime foi eleito primeiro secretário (presidente) do Regional Sul II da CNBB, cargo que exerceu durantes os
primeiros seis meses do Regional. Eram então distintos os papéis de presidente do Conselho Episcopal Regio-
nal e de coordenador do Secretariado Regional. Hoje cada um dos 17 Regionais da CNBB é regido por um
Conselho Episcopal Regional, à frente do qual se coloca um bispo eleito para o cargo de presidente. No livro
do Tombo da Cúria Metropolitana de Curitiba o chanceler, monsenhor Pedro Fedalto, anotou em 1974:

Em fins de 1964, o Paraná passou a constituir-se Secretariado regional à parte, denomi-


nando-se Sul II. Em reunião em Roma, foi escolhido pelo episcopado paranaense como
Secretário, Sua Excia. Revma. Dom Jaime Luiz Coelho, bispo de Maringá. A 22 de
janeiro de 1965, em reunião do Secretariado, foi nomeado Sub-Secretário, o Revmo.
Sr. Frei Agostinho de Capinzal, capuchinho, Diretor Arquidiocesano das Religiosas e
secretário da CRB – secção do Paraná. Em março, o Bispo de Maringá pedia demissão
do cargo, em vista das atividades apostólicas e da distância de Curitiba. A 28 de março
de 1965, em reunião do episcopado em Londrina, foi eleito secretário o Arcebispo de
Curitiba. O Secretariado Regional Sul II é o setor da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil que abrange todas as dioceses do Paraná. É o centro coordenador das ativida-
des das dioceses (CHIQUIM, 2005, p. 269).

Desde 1963 começou a tomar corpo o movimento pela criação da diocese de Paranavaí. Assim que
tomou posse da Igreja de Maringá, dom Jaime deu-se conta da ingente tarefa que significava reger uma dio-
cese com tais dimensões. Se houve, particularmente após a grande geada de 1975, forte esvaziamento dos
municípios menores, deve-se recordar que, por obra das lavouras de café, a população era abundante nos anos
60, ao mesmo tempo em que faltavam veículos automotores com um mínimo de conforto, estradas segu-
ras, telefone, jornal, televisão, e-mail e outros recursos hoje comuns. Torna-se impossível atualmente avaliar
quanto era penoso atender os diocesanos, do continente ou ilhéus, de cidades como Querência do Norte,
Santa Cruz do Monte Castelo, Itaúna do Sul, Diamante do Norte, Porto Rico e outras. Muito cedo o bispo
se convenceu da necessidade de abrir mão, em vista do bem maior dos fiéis, de uma parte do território que
lhe fora consignado.
Depois de exaustivos estudos e da tramitação que precede ações dessa natureza, pela constituição apostó-
lica Nil gratius (= nada mais agradável), em data de 20 de janeiro de 1968, o papa Paulo VI criou a diocese de
Paranavaí. Integralmente desmembrado da diocese de Maringá, o território da nova diocese nasceu composto
pelos municípios: Alto Paraná, Amaporã, Diamante do Norte, Guairaçá, Itaúna do Sul, Loanda, Mirador, Nova
Aliança do Ivaí, Nova Londrina, Paraíso do Norte, Paranavaí, Planaltina do Paraná, Porto Rico, Querência do
Norte, Santa Cruz do Monte Castelo, Santa Isabel do Ivaí, Santo Antonio do Caiuá, São Carlos do Ivaí, São
João do Caiuá, São Pedro do Paraná, Tamboara e Terra Rica; um total de 22 dos quais 11, exatamente a meta-
de, não passavam de vilarejos em 1957, quando foi instalada a diocese de Maringá. Em onze anos (1957-1968)
236

A Igreja que brotou da mata


onze novos municípios foram criados. Poucas regiões do Brasil conheceram algo parecido.
A publicação oficial da criação saiu no dia 15 de março de 1968, juntamente com o nome do novo
bispo, cônego Benjamin de Sousa Gomes, vigário geral da diocese de Sorocaba. No dia 9 de junho seguinte,
na catedral sorocabana, Gomes recebeu a sagração episcopal, como se dizia na época. Sua posse em Paranavaí
aconteceu a 7 de julho de 1968, na igreja matriz de São Sebastião, atendida pelos frades carmelitas que, por
um tempo, funcionou como catedral provisória.
Não foi totalmente serena a criação da nova diocese. Na contramão do empenho do bispo de Maringá
e da população interessada, os carmelitas alemães não revelavam entusiasmo pela nova diocese nem concor-
riam para a implementação das providências exigidas. No dia 29 de novembro de 1967, monsenhor Mario
Tagliaferri, encarregado de negócios da nunciatura apostólica, revelou a dom Pedro Fedalto, bispo auxiliar de
Curitiba, com quem se encontrou em reunião no Rio: “A diocese e o bispo de Paranavaí não sairão enquanto
não for construída a residência com as dependências para a cúria. Que a culpa não seja lançada à nunciatura
apostólica” (COELHO, 1968, 1 f.). Atendendo pedido de dom Jaime, Fedalto acompanhou-o, no dia 15 de
janeiro de 1968, a Paranavaí, quando ambos comprovaram in loco o pouco interesse com que era tratada a
instalação da diocese, e ouviram dos carmelitas que a responsabilidade cabia ao bispo. Com a capacidade, que
todos conhecem, de tomar decisões difíceis, dom Jaime ameaçou levar a nova sede diocesana para Loanda,
cujas lideranças se dispunham a montar a infra-estrutura necessária. O mesmo fez saber, depois, por carta, à
nunciatura apostólica, deixando claro, porém, que sua preferência era por Paranavaí, pólo regional mais ex-
pressivo que Loanda. Escrevendo a dom Manuel, arcebispo de Curitiba, relatou o episódio:

Estive em Paranavaí e coloquei um dilema: ou Diocese em Paranavaí ou em Loan-


da. Logo todos se decidiram por Paranavaí, foi comprada a casa para o Bispo (NCr$
25.000,00), já em construção. Fiz a indicação de mudanças necessárias, local para a
Cúria, etc. Dentro de 60 dias estará pronta. Já enviei à Nunciatura a planta da casa, bem
como comuniquei já a posse de três alqueires para futuro Seminário, terreno (3 datas)
para futura residência, se o Bispo assim o desejar, tudo com Escrituras registradas, e o
projeto de lei na câmara para doação de um terreno em uma praça, para futura catedral.
No próximo dia 29 terei uma reunião com todos os Padres das paróquias que compo-
rão a futura Diocese, para estudo de outras coisas necessárias. Espero, assim, que logo
se resolva a criação da Diocese (COELHO, 1968, 1 f.).

A carta traz a data de 22 de fevereiro. Está suficientemente claro que, mais de um mês após a visita a
Paranavaí, dom Jaime acreditava na futura criação da diocese. Que, no entanto, estava criada há mais de um
mês. Até hoje Fedalto estranha a proximidade entre a visita feita a Paranavaí e a data de criação. “Se no dia
15 de janeiro”, argumenta, “a nunciatura esperava as providências que Paranavaí tardava em tomar, como a
diocese foi criada no dia 20? Em cinco dias teria sido possível fazer tudo que normalmente leva meses?”5 Em
pleno mês de fevereiro, Tagliaferri fazia crer que ainda estava em caminho um evento já acontecido em 20
de janeiro. A surpresa de Fedalto encontra abrigo no teor da carta de 15 de fevereiro, escrita por Tagliaferri
ao bispo de Maringá, na qual diz textualmente: “nas circunstâncias em que se encontra agora o processo de
ereção da diocese de Paranavaí”, dando a entender que ainda se achava em trâmite um processo cuja resolu-
ção se dera quase um mês antes. Posteriormente, no dia 7 de março, enviou outra carta, protocolada sob nº
16633, sub secreto pontificio, onde declara:

Tenho o prazer de comunicar a Vossa Excelência Reverendíssima que o Santo Padre


se dignou criar a nova diocese de Paranavaí, com território desmembrado da diocese
de Maringá. Ao mesmo tempo, foi nomeado primeiro bispo da recém-criada diocese o

5 Fedalto expressou sua perplexidade em conversa telefônica que manteve, desde Curitiba, com o autor destas notas, no dia 23 de
outubro de 2006. Prometeu mais detalhes no livro que publicará sobre a história da Igreja do Paraná.
237

Os 50 anos da Diocese de Maringá


Diocese de Paranavaí Reverendíssimo Cônego Benjamin de Sousa Gomes, atual Vigário Geral da diocese de
Sorocaba. A publicação se fará no dia 15 de março (TAGLIAFERRI, 1968, 1 f.).
20/01/1968

Diocese de Paranavaí
20/01/1968

Dio

Diocese de Maringá
20/01/1968

Mapa 4 - Com a criação da diocese de Paranavaí, em 1968, a diocese de Maringá assumiu nova configuração.

Depois da posse, em 7 de julho de 1968, de dom Benjamin, bispo de Paranavaí, naturalmente mudaram
a vida e os desvelos do bispo de Maringá. De uma área total de 14.902,67km², baixou para 6.203,07km²,
menos da metade, portanto, a extensão do território a ser percorrido, para o atendimento espiritual. A po-
pulação, antes calculada em 1.285.730 pessoas por cuja evangelização se sentia responsável, viu-a dom Jai-
me reduzida a pouco mais da metade. No momento da instalação da diocese de Paranavaí, em seus limites
se enumeravam 15 paróquias, que abrangiam 25 municípios e abrigavam 559.810 habitantes distribuídos
numa área de 8.699,60km². Aos cuidados pastorais do bispo de Maringá restou depois um total de 725.810
habitantes, dos quais três sobre quatro professavam-se católicos, embora só 20% pudessem considerar-se
praticantes. Muito esforço, como se percebe, prosseguia sendo exigido tanto do pastor da Igreja quanto dos
seus colaboradores.

Coordenação da Pastoral diocesana


Não se descurou o 1º bispo, como foi dito, de levar aos mais distantes pontos da diocese a mensagem da
fé. O grande salto de qualidade na evangelização da Igreja de Maringá teria seu ponto de partida numa daque-
las decisões cujos desdobramentos nem ele mesmo era capaz de antever. Para receber três novos padres em 7
de dezembro de 1966, data de seu jubileu de prata sacerdotal, obteve da Santa Sé licença de ordenar presbítero
Antônio de Pádua Almeida no final do 3º ano de Teologia. No início de 1967, enquanto os recém-ordenados
padres Pedro Watar Makiyama e Orivaldo Robles foram designados respectivamente para Nova Esperança e
para o Seminário Menor Nossa Senhora da Glória, o jovem padre Almeida voltou a Curitiba para iniciar o 4º
238

A Igreja que brotou da mata


ano do curso de Teologia. Quando o concluiu, veio integrar o presbitério maringaense da “ativa”.
Na primeira reunião do clero de 1968, realizada em 7 de fevereiro, no Seminário Diocesano Nossa
Senhora da Glória, Almeida e Robles foram apresentados como coordenadores diocesanos de pastoral e passa-
ram a morar na residência episcopal. Explicou dom Jaime que ambos estavam, a partir daquela data, liberados
para qualquer ação pastoral que um padre quisesse implementar em sua comunidade: palestra, curso, encon-
tro, formação de agentes... Quem, além disso, precisasse de férias, poderia combinar com eles sua substituição
na paróquia pelo tempo de descanso.
Era compreensível a falta de clareza sobre o papel do coordenador. Fruto do Plano de Pastoral de Con-
junto, resposta pioneira do Brasil ao pedido de planejamento feito por João XXIII à Igreja do mundo inteiro,
ninguém conhecia ao certo em que consistia esse serviço. Também aqui, ainda uma vez, o bispo de Maringá
ousou. Foi o primeiro a liberar não um, mas dois padres de uma vez, para o serviço da coordenação da ação
evangelizadora da sua Igreja.
Dúvidas foi o que não faltou aos dois coordenadores iniciantes. Nomeados para um cargo de cuja natu-
reza não faziam a menor idéia, a eles o bispo confiou três salas no último piso do Edifício Três Marias, ponto
central de Maringá, de propriedade da Mitra Diocesana, para montarem o escritório de onde se irradiaria a
coordenação de pastoral para as paróquias.6 Ao lado de uma escrivaninha nua, contemplando as luzes da cida-
de que, lá embaixo, resfolegava após um dia de trabalho, por noites e noites seguidas, ambos se questionavam
sobre o que seria coordenar a evangelização de uma Igreja que entrava agora em seu 11º ano de vida.
Providencialmente, em casa do médico Walter Álvaro da Silva, encontrava-se por aqueles dias, seu
cunhado, padre José Carlos Bruzzi, da diocese de Mariana (MG), que informou a realização em Belo Ho-
rizonte, no mês seguinte, de um curso justamente sobre coordenação pastoral, esse ainda pouco conhecido
ministério na Igreja. Na capital mineira, juntamente com vários outros, igualmente confusos e preocupados,
os novos coordenadores puderam, finalmente, compreender o serviço que lhes fora confiado.
Com a feliz escolha de Almeida para o cargo,7 a Igreja de Maringá imprimiu, durante a década de 1972
a 1982, grande desenvolvimento à sua ação evangelizadora. Primeiramente, ele teve oportunidade de estudar
Teologia Pastoral na Europa pelo espaço de dois anos: em 1969-1970 na Pontifícia Universidade Lateranense
de Roma; depois, em 1970-1971 no Instituto “Lumen Vitae” de Bruxelas, filiado à Universidade de Lovaina, na
Bélgica. Sua dissertação acadêmica versou sobre Comunidades Eclesiais de Base, iniciativa latino-americana que
provocou, durante anos, ácidas manifestações de teólogos e pastoralistas europeus. Habituados à secular roma-
nização da Igreja Católica, incapazes de admitir que também em outras plagas o Espírito Santo espargisse dons
de sabedoria e de ciência, homens de Igreja tentavam, por várias formas, desacreditar o sopro de vida que partia
do povo pobre do pouco valorizado 3º mundo. Tornou-se um desafio para bispos, padres e cristãos leigos da pe-
riferia convencer a Igreja tradicional de que as CEBs da América Latina diferiam inteiramente das comunidades
de base européias, estas, sim, contestatárias da Igreja institucional e pregoeiras de uma pretensa Igreja brotada
do povo através de um “assembleísmo” de cunho sócio-político, quando não revolucionário e iconoclasta.
De volta à diocese em outubro de 1971, Almeida reassumiu as funções da coordenação. Sempre res-
paldado por dom Jaime, descortinou para a Igreja maringaense os caminhos de uma pastoral orgânica de
íntima comunhão com as linhas da CNBB Regional e Nacional. Prova-o o 1º Plano de Pastoral Orgânica da
Diocese de Maringá – 1973, que o bispo fez questão de apresentar não como “um som isolado na harmonia
da Pastoral de Conjunto no Brasil”, mas como inspirado

na metodologia e quadros de referência pastoral do Plano de Pastoral de Conjunto


da CNBB, bem como está unido ao Plano Regional de Pastoral Orgânica do Paraná,

6 As salas tinham sido transferidas pelas Paulinas à Mitra Diocesana, em pagamento do imóvel da Praça Napoleão Moreira da Silva
onde instalaram a primeira livraria, precursora da atual.

7 Depois de um ano, Robles foi designado cooperador da catedral, ficando apenas Almeida no serviço da coordenação da pastoral
diocesana.
239

Os 50 anos da Diocese de Maringá


Regional Sul II. Cada linha do nosso Plano consta de três partes: I – Justificativa e con-
ceituação; II – Dados da realidade; III – Programação. E como fruto de um trabalho
de reflexão conjunta, chegou-se à meta de se estruturar as Paróquias em Comunidades
Eclesiais de Base – CEB – desenvolvendo as seis áreas da vida da Igreja segundo o
nosso Plano de Pastoral de Conjunto, para o sucessivo crescimento do Reino de Deus
(IGREJA CATÓLICA, 1973, p. 5).

Visto assim à distância, não deixa hoje de surpreender o corajoso endosso episcopal à proposta das Co-
munidades Eclesiais de Base num tempo em que não havia suficiente clareza a seu respeito. Brotadas da vida
pobre dos cristãos da Igreja latino-americana, as CEBs não representavam unanimidade entre o episcopado.
Se, após reflexão madura, os padres e demais agentes da pastoral diocesana decidiram assumi-las como eixo
orientador da vida cristã local, aí se descobre a lucidez da coordenação de Almeida. O mesmo se diga de dom
Jaime, mestre e evangelizador primeiro, que sempre respaldou o seu trabalho. Poucas vezes terá havido no
Paraná entre bispo e presbitério sintonia tão íntima quanto a diocese de Maringá conheceu naqueles dez anos
(1972-1982). Animado com a linha seguida, o bispo enviou à Santa Sé o IV Plano de Pastoral Orgânica da
Diocese de Maringá – 1976, colhendo a satisfação de ver estampadas no L’Osservatore Romano nada menos
que 14 colunas de apreciação do documento, além de fotos da cidade de Maringá e de sua catedral. O órgão
oficioso da Santa Sé anotou que com muito gosto dava a conhecer o plano, esperando que ele despertasse o
interesse de assinantes e leitores, “começando por os levar a apreciar a dedicação inteligente, metódica e edi-
ficante com que o Episcopado Brasileiro se consagra à implantação e ao desenvolvimento do Reino de Deus
em terras de Santa Cruz” (IV PLANO..., 1976, p. 5-8).
Para a configuração do “rosto” que a Igreja de Maringá apresentou durante seguidos anos, foi decisiva
a caminhada feita na década de 1972 a 1982. Nesse tempo, apesar de jovem, a diocese firmou-se como uma
das mais fiéis às diretrizes adotadas em nível nacional e regional.

O Plano de Pastoral de Maringá de 1976, na edição em português do semanário L’Osservatore Romano, órgão oficioso da Santa Sé, publicado em várias línguas.
240

A Igreja que brotou da mata


Pelo tempo que lhe consagrou e pela visão teológico-pastoral demonstrada, avulta ainda a atuação de
padre Vicente Costa, antes de tudo no biênio 1985-1986, quando esteve liberado para o serviço da coorde-
nação pastoral da diocese. Sob seu lúcido comando a ação evangelizadora da Igreja de Maringá atingiu − sem
nenhum ressaibo de lisonja − um nível eminente. Sempre em nível de coordenação, respondeu conjuntamen-
te pelo conselho de presbíteros, pelas CEBs, pela catequese e pela pastoral de juventude, além de ministrar
aulas no Seminário Arquidiocesano, em cujo prédio residia. Mostrou-se operário incansável na descoberta
de respostas pastorais às necessidades, em seu tempo, da Igreja local. Em confirmação do que vai afirmado,
recomenda-se vivamente a leitura dos XIII e XIV Planos de Ação Pastoral da arquidiocese. Após o doutorado
feito em Roma e Jerusalém, padre Vicente reassumiu o cargo no período 1993-1997, acumulando-o desta
vez com ofícios pastorais que lhe cobravam demasiada atenção e tempo.
Nos períodos intermédios dessa fase e nos últimos dez anos, a arquidiocese não reuniu condições de
liberar um padre unicamente para a coordenação da ação evangelizadora, o que comprometeu, em parte, a
organicidade da pastoral. Ainda assim, importa reconhecer o trabalho desenvolvido por muitos de nossos
presbíteros que, com grande sacrifício, deram o melhor de si no desempenho desse serviço. Acumulando-o
com outras designações (quase sempre as de párocos), exerceram a coordenação arquidiocesana, inclusive em
mais de uma oportunidade, os vigários episcopais dos anos 80, além de padres Júlio Antônio da Silva, Antônio
Alczuk, Luiz Antônio Bento, Sidney Fabril, Antônio de Pádua Almeida e Israel Zago.
Não obstante a dedicação com que todos se desincumbiram da função existe consenso na reconhecida
necessidade de um padre liberado exclusivamente para esse serviço. Por carência de material humano, nessa
condição a Igreja de Maringá contou com somente dois sacerdotes ao longo dos 50 anos de sua história:
Almeida, por oito anos, e Vicente, por dois. Tudo indica não haver engano em situá-los como os dez mais
produtivos anos da caminhada evangelizadora de nossa Igreja Particular.

Catequese, a educação da fé
Depois dos dois anos de estudo na Europa, ao reassumir a coordenação da pastoral diocesana, Almei-
da se deu conta das mudanças que a diocese experimentara no período. Muita coisa, inegavelmente, havia
mudado para melhor. Mas persistiam falhas pungentes, das quais continuava como mais sentida o reduzido
número de padres. As muitas frentes de trabalho, que mais e mais se abriam, estavam a reclamar um número
de operários maior do que o disponível. Por isso, além da evangelização de toda a arquidiocese, que lhe com-
petia orientar globalmente, viu-se obrigado, na falta de outros, a tomar sob seu encargo também a condução
diocesana da catequese infantil, dos adolescentes e dos jovens.
Sua ligação com a catequese vinha dos tempos de Curitiba, do contato que os seminaristas do Se-
minário Rainha dos Apóstolos tiveram a felicidade de estabelecer com o catequista-mor do Paraná, padre
Albano Cavallin, mais tarde bispo responsável pela catequese no Brasil e em toda a América Latina. Quando,
em 1965, o Regional Sul II abriu seu departamento de catequese, os ainda seminaristas Almeida e Robles
foram convidados a lecionar no curso para formação de catequistas. Coordenava-o padre Cláudio Ortigara,
missionário saletino cujo nome se inscreveu, ao lado de padre João Batista Megale, CMF, nos primórdios do
departamento de catequese do Regional. Ministrado no Colégio Divina Providência, em Curitiba, inspirava-
se no ISPAC – Instituto Superior de Pastoral Catequética, do Rio, e destinava-se a formar catequistas para
as paróquias da capital. Foi o precursor do ISPAC do Paraná (1968) e da atual “Escola Catequética Emaús”
(1990), de reconhecidos frutos para todas as Igrejas do Regional Sul II da CNBB.8
Na diocese de Maringá, os dois coordenadores de pastoral deram início, em 1968, à formação de ca-
tequistas em cursos dados nas paróquias, começando por Santa Maria Goretti, São Jorge do Ivaí e Paiçandu.
Em meados de 1969, estando Almeida já em Roma, irmã Judite Arboite, missionária de Jesus Crucificado, e
Robles, cooperador da catedral de Maringá, ministraram dezenas de cursos para formação de catequistas entre
as professoras das escolas pertencentes ao Núcleo Regional de Ensino de Maringá.

8 Um apanhado histórico do caminho percorrido pela catequese do Regional Sul II pode ser visto em Chiquim, (2005, p. 290-297).
241

Os 50 anos da Diocese de Maringá


A partir de outubro de 1971, no seu retorno, Almeida tornou-se responsável por implantar uma sólida
coordenação catequética da qual fizeram parte, em épocas diferentes, catequistas como irmãs Judite Arboite,
(†)Antona Dröge, Virma Barion, Petronila Maria Batisti, Maria Oda (Úrsula) Feit, Maria Beatriz Fernandes Fer-
reira, Judite Delmassa e cristãs leigas do porte de Cleuza Garutti, Maria Lúcia Guastala, Maria Aparecida Guelfi,
Marta Maria Ramalho, Gracínia da Silva Batista, Maria de Fátima Palioto, Elenice Aparecida Esposte, Cristiane
Gardiolo, e Regina Helena R. F. Mantovani, ao lado de muitas outras nas paróquias da hoje arquidiocese.
Uma passada de olhos, ainda que rápida, sobre a história da catequese diocesana dá a conhecer um sem-
número de pessoas, de iniciativas, de eventos e de material produzido − tudo endereçado a formar para a vida
cristã desde os pequeninos até os adultos nas comunidades.
Nos primeiros quinze anos vigorou a catequese tradicional do Brasil de então. Pelo esforço de cada
padre em sua paróquia, com a inestimável colaboração de irmãos ou irmãs onde os havia, formavam-se cate-
quistas saídos do meio dos congregados marianos, filhas de Maria e senhoras do Apostolado da Oração para
levar as crianças à 1ª comunhão, festa anual que mobilizava as comunidades católicas. Exigia um ano de pre-
paração, durante o qual era estudado, na forma de perguntas e respostas, o 2º Catecismo da Doutrina Cristã
que, na 99ª edição, do ano de 1991, esclarecia: “Este Catecismo apresenta substancialmente o mesmo texto
aprovado pelos Srs. Bispos do Sul do Brasil, em 1903, com ligeiras alterações” (SEGUNDO..., 1991, p. 4).
Em 1972, surgiu a 1ª Equipe Diocesana de Catequese que, por falta de prédio da diocese no centro
da cidade, instalou-se em sala cedida pela paróquia São José Operário. Atendendo pedido do bispo, as Mis-
sionárias do Santo Nome de Maria cederam irmã Antona Dröge para coordenar a catequese diocesana. A
módica remuneração da equipe era garantida pela diocese com ajuda da organização alemã Adveniat. No ano
seguinte, foi criado o Centro Catequético Diocesano. Com esse nome funcionou até 1977, quando passou a
chamar-se Secretariado de Pastoral, sediado junto à igreja São José.
Ao lado de irmã Antona, Almeida lançou-se à produção de apostilas, impressas com estafante trabalho
no mimeógrafo Gestetner de tantas glórias, conseguido também com recursos de Adveniat. Ainda em 1972 ele
ofereceu à diocese Adão, onde estás? – curso básico para catequistas, apresentado como subsídio do Secretariado
Diocesano de Catequese. É desta época a iniciativa de separar a catequese paroquial da catequese escolar. Com
o incentivo à formação de catequistas, houve significativo aumento do seu número em todas as paróquias. A 1ª
Eucaristia, celebrada nas paróquias e comunidades, fazia-se anteceder de uma preparação de dois anos.
Eram muitas as frentes a serem atacadas, desde a catequese das criancinhas até a dos adultos reunidos
em grupos de reflexão. Em 1973, por iniciativa de irmã Neli Faccin, de Nova Esperança, que veio integrar
a equipe central de catequese, aconteceu a primeira concentração diocesana de adolescentes, episódio que
marcou o início da chamada catequese de perseverança, destinada aos que tinham feito a 1ª Eucaristia. Foi
também um período notável de produção, sob influxo do coordenador de pastoral, de abundante material
catequético diocesano. Para uso do clero de Maringá, Almeida publicou, ainda em 1973, o trabalho Comuni-
dade Eclesial de Base: Caminhos para a Pastoral de uma Diocese, re-elaboração de sua dissertação defendida no
Instituto Lumen Vitae de Bruxelas. Pela mesma época saiu Para Converter os Batizados, material de catequese
de adultos, destinado a iniciantes.
Entre 1973 e 1975, apareceu o curso denominado Sinais e Apelos de Deus em Nossa Vida, em duas
etapas, a segunda com um total de 43 encontros (ainda chamados de aulas), que começou a ser utilizada
em 1975. O material serviu de base à catequese infantil preparatória à 1ª Eucaristia, em dois anos, na épo-
ca. Como a segunda etapa continha muitos encontros, alguns começaram a desmembrá-la, introduzindo
uma terceira. Esse curso registra a influência de padre Vicente Costa, vigário ecônomo de São Jorge do Ivaí
(1973-1978): o coordenador de pastoral se encarregava de estender a todas as comunidades as experiências
paroquiais bem sucedidas. No ano de 1975, Almeida brindou a diocese com excelente apostila, na qual for-
necia orientações e um roteiro mínimo para formação de grupos de reflexão, denominada A todas as gentes:
roteiro de curso-encontro missionário. Na sua feitura contribuíram, conforme o autor, “indiretamente, todo o
clero da diocese de Maringá; diretamente, padres Berniero Lauria, Vicente Costa, Valério Odorizzi e Edwin
Parascandalo” (ALMEIDA, 1975, f. 30).

242

A Igreja que brotou da mata


No ano de 1974, a diocese produziu Promover o homem todo e todos os homens – subsídios para cursos na
“linha 6”, com reuniões sobre os temas: higiene, verminose, alimentação, pronto-socorro, obstetrícia e pueri-
cultura; interessante trabalho num tempo em que não se ouvia falar de Pastoral da Criança nem de Pastoral da
Saúde. No dia 22 de maio de 1976, Almeida apresentou o excelente Família, mão educadora do Pai, roteiro
para reuniões de pais dos catequizandos, produzido por padre Vicente Costa, quando vigário de São Jorge
do Ivaí, e assumido então pela diocese.
Em 1978, a equipe foi reforçada com a presença de irmã Oda Feit que, ainda no mesmo ano, com o afas-
tamento de irmã Antona, assumiu a coordenação catequética. Nesse ano foi lançado Somos Crianças de Deus
- manual do catequista para pré-catequese, com 26 encontros além de rito de acolhida na comunidade. O cargo
de coordenadora da catequese foi confiado, em 1980, a irmã Beatriz Ferreira, que nele permaneceu até 1985.
Almeida produziu, no início de 1979, Pescadores de Homens – curso básico para formação de catequistas,
em duas etapas, com apostila própria para cada uma, que saíram como publicação mimeográfica, sob égide da
já arquidiocese de Maringá. Compôs também, com ajuda da equipe arquidiocesana, o manual de catequese
infantil preparatório à 1ª Eucaristia − livro do catequista e livro do catequizando − em dois volumes, um para
cada etapa. Com a contribuição de padre Vicente Costa, pároco de Sarandi (1979-1983), o manual foi aper-
feiçoado fixando-se em três etapas (três anos) o período de catequese infantil, como se faz até hoje.
Em 1981 teve início a produção do temário anual Ninguém Cresce Sozinho, para reuniões dos grupos
de reflexão paroquiais. O nome pretendeu salientar a catequese como crescimento, ao longo de toda a vida,
“na unidade da fé e no conhecimento do Filho de Deus” até chegarmos “ao estado de adultos, à estatura do
Cristo em sua plenitude” (EFÉSIOS 4, 13). Lembrava também a dimensão comunitária da Igreja, corpo de
Cristo (cf. 1CORÍNTIOS 12, 12-31), à qual a catequese deve integrar o catequizando, qualquer que seja sua
idade. Com o mesmo nome e em dois volumes, foi publicado, no ano de 1983, um manual de iniciação à vida
cristã comunitária, manual de catequese dos pequeninos (por volta dos 5-6 anos). Para a catequese infantil e
dos adolescentes a diocese adotou, desde o lançamento, a coleção “Crescer em Comunhão”, publicada pelo
Regional Sul II, a partir da experiência catequética pioneira de Francisco Beltrão (PR), acrescida da contribui-
ção de Curitiba e das sugestões de todas as Igrejas do Paraná. Ainda nos anos 80, para formar animadores de
CEBs, Almeida criou o subsídio Deus Mora Aqui.
Em 1984, construídas as instalações da Cúria Metropolitana, o secretariado passou a ocupar algumas
salas do novo prédio. Irmã Antona voltou a coordenar a catequese e, ao lado de padre Vicente Costa, de 13
a 18 de outubro de 1986, participou da 1ª Semana Brasileira de Catequese, em Itaici, município de Indaia-
tuba (SP). Ano seguinte, em 25-26 de junho, preparando a 1ª SEPAC − Semana Paranaense de Catequese,
Maringá sediou o 1º Congresso Provincial de Catequese, com a presença de padre José Geeurickx, MSC, do
Regional Sul II. Participaram cerca de 800 catequistas da Província Eclesiástica de Maringá. A 1ª SEPAC teve
lugar em Curitiba, nos dias 6-10 de outubro de 1988, com 10 catequistas de cada diocese do Regional. Aí se
afirmou a necessidade de maior formação para os catequistas, decidindo-se pela criação da Escola Catequética
Regional Emaús, coordenada por irmã Araceli Glória Xavier da Roza.
Em 1989, a coordenação arquidiocesana contou com o catequista Ivanir Teixeira de Carvalho, ao tem-
po em que irmã Antona se dedicava ao PROMEC, em Sarandi. Entrando os anos 90, foram realizados três
congressos arquidiocesanos de catequese, embora sempre se chamassem “diocesanos”: o primeiro, na cidade
de Marialva, em 1990; o segundo, em Mandaguaçu, em 1992; o terceiro, em Sarandi, no ano de 1996. Em
trágico acidente automobilístico na Serra do Cadeado, veio a falecer, no dia 25 de novembro de 1992, irmã
Antona Dröge, a grande catequista a quem a arquidiocese será para sempre devedora de gratidão inacabável.
Em 1993, assumiu a coordenação arquidiocesana irmã Judite Delmassa, que permaneceu até o final de 2001.
Mais tarde, Delmassa publicou, em 1995, rico trabalho destinado à formação do espírito missionário das
crianças, a Noveninha da criança missionária. Com a participação de Delmassa, a catequese diocesana com-
pletou 30 anos de entrega à competência das zelosas Missionárias do Santo Nome de Maria.
Em 2002, a coordenação passou às mãos da catequista Regina Helena Mantovani. Dois textos produzi-
dos em Maringá foram assumidos pelo Regional Sul II e, apresentados por dom Albano Cavallin, mereceram
publicação pela Editora Vozes, de Petrópolis. Em 1994 veio a lume Crescer com Jesus – Iniciação à Catequese,
243

Os 50 anos da Diocese de Maringá


da autoria de Josie Agatha Parrilha da Silva e Regina Helena R. F. Mantovani, livro do catequista e fichas do
catequizando. Em 2005 foi publicado o livro Semeadores da Palavra – Formação de Catequistas Iniciantes,
dos autores Cacilda Gonçalves Gasparin, Cristiane Gardiollo, Ir. Judite Delmassa, Geraldo Conte Júnior e
Regina Helena Ribeiro de Faria Mantovani.
Ainda no ano de 2005, na paróquia Santa Maria Goretti, aconteceu o 1º Seminário Arquidiocesano
de Catequese que, no entender de Mantovani, em vez de seminário, poderia ter sido realizado como 4° con-
gresso arquidiocesano.
Na qualidade de coordenador da ação evangelizadora, Almeida foi responsável ainda pela seriedade com
que a diocese de Maringá assumiu a preparação dos sacramentos, em especial, do batismo. As paróquias se
beneficiaram de bem elaborados roteiros para pais e padrinhos, que integravam o compromisso batismal à in-
serção das pessoas numa comunidade concreta. Casavam-se, dessa forma, o interesse dos fiéis pelo sacramento
com o modelo eclesial das CEBs proposto pela diocese. O senso de unidade e o pulso de pastor acompanha-
ram dom Jaime no respaldo jamais negado às decisões conjuntas do presbitério. Os mais antigos recordam a
expressão “paróquias-esgoto”, duro qualificativo criado por ele para condenar a jamais admitida anomia de
conferir sacramentos com desprezo das orientações teológico-pastorais diocesanas. À época, em diocese vizi-
nha, tornaram-se famosas duas paróquias que, aos domingos, recebiam dezenas de ônibus de “pára-quedis-
tas” interessados unicamente no rito batismal. Esgotadas as tentativas de diálogo com os vigários, as cobranças
de providências foram encaminhadas ao bispo. Sem resultado, entretanto. Numa reunião interdiocesana, ao
receber, pela enésima vez, queixa contra um dos renitentes padres, o pobre bispo desabafou: “Que vocês
querem que eu faça? Que eu mate o padre?”.

Jovens, a montagem do futuro


No tocante à pastoral com jovens o papel de Almeida revestiu igualmente importância capital. Em
1973, depois do CLC – Curso de Liderança Cristã, que fez em Mendes (RJ), deu início ao trabalho precursor
de uma pastoral da juventude daquele tempo. Ao primeiro encontro do TLC – Treinamento de Liderança
Cristã levou um grupo pioneiro de jovens maringaenses do qual participaram, entre outros, Vera Rodrigues,
Sumie Shima, Maria Auxiliadora de Souza Pedrosa (Síli), Vitória Maria Bornadelli, Antônio Mamprin, Pedro
Vier, Edson Cantadori Filho, Pedro Fonzar, José Antônio Sapata e Nelson Elias Aiex (Turco). Alguns volta-
ram com Almeida para encontros de continuidade.
Pela mesma época, em Marialva, Robles desenvolvia trabalho paroquial com jovens, a partir do “Dia da
Verdade”, dirigido por gente de Londrina, no final de 1972. O grupo londrinense era assistido por padre Tra-
jano M. Horta, salesiano de imensa aceitação entre a moçada daquela cidade. De início, Robles participou oca-
sionalmente dos encontros de Londrina promovidos por Trajano. Depois, juntou-se a Almeida para montagem
do projeto de formação de jovens da diocese, reclamado também aqui. Foi necessário o auxílio de rapazes e
moças de Londrina ou de Apucarana que vinham, no começo, colaborar com nossos dias de formação. Os mais
vividos recordam figuras, prenomes e alcunhas que se tornaram caros entre nós, como Macapá, José Antônio,
Tainha, Suzy, de Londrina, e Caramori, de Apucarana. Padre Berneiro Lauria, pároco de Nova Esperança, a
quem os jovens dedicavam imenso carinho, logo se integrou a Almeida e Robles. Ex-missionário na Indonésia
e sacerdote exemplar, sua presença enriqueceu o trabalho daqueles primeiros tempos. Apesar dos diferentes
nomes e pequenas variações em cada lugar, o movimento de jovens apresentava-se basicamente como reprodu-
ção do Cursilho de Cristandade. Consagrava o esquema de encontros masculinos ou femininos em três noites
e três dias de curso intensivo, seguido pelo engajamento dos grupos que continuavam reunindo-se na base
paroquial. Coube a Almeida, com sua criatividade, elaborar um encontro de jovens tipicamente maringaense,
com dinâmica e temário próprios, além de inserir na sua estrutura a participação de pais, mães e também de
crianças, formatando-o à vida comunitária da Igreja, dando-lhe um cunho de família. Na busca de uma pastoral
orgânica, integrou o movimento jovem dentro das seis linhas do PPC, possibilitando a formação, desde cedo,
de lideranças paroquiais comprometidas com a ação evangelizadora da Igreja conduzida pelos seus legítimos
pastores, os bispos. O “movimento” juvenil da diocese não se caracterizava então por nenhum dos senões de
244

A Igreja que brotou da mata


que se acoimam por vezes os movimentos; ao contrário, integrava-se harmonicamente às diretrizes da Igreja
diocesana, regional e nacional. Além de Almeida, Robles e Lauria, no trabalho que se estendeu por anos a fio,
também outros deram ajuda preciosa: dom Jaime, que no meio dos jovens não se mostrava distante nem pela
idade nem pelo cargo, padres Roberto Kuriyama, Vicente Costa, Edwin Parascandalo, Francisco Jobard, Mário
Tesio, José Vieira da Silva, José Bortolotte e, excepcionalmente, outro que mostrasse disposição.
Para garantir aos jovens engajados, depois do encontro inicial, a solidez de líderes cristãos, lentamente
foi tomando corpo algo novo que, por fim, se definiu como “BR3 – Base de Reencontro e Reflexão Religio-
sa”. Escolhido por Almeida, o nome remetia ao sucesso musical de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, defen-
dido no V Festival Internacional da Canção, em 1970, por Antônio Vianna Gomes, conhecido no mundo
artístico por Tony Tornado, “porque dançava feito um furacão”. Do BR3 cuidaram tão somente os criadores
Almeida e Robles. Tratava-se de um modelo básico de formação, distribuída por 60 horas praticadas em co-
munidade e distribuídas em estudo, oração individual e comunitária, celebrações litúrgicas e para-litúrgicas,
trabalho, teatro e recreação conjunta. Dividido em duas etapas separadas por intervalo de um mês, o BR3
integrava rapazes e garotas, ao tempo em que lhes propiciava uma experiência de profunda amizade, respeito,
alegria e espiritualidade da Igreja. Pelo testemunho dos seus participantes e pelos frutos que até hoje subsis-
tem, passados mais de 30 anos, para quem o conheceu o BR3 firmou-se como o mais sólido programa levado
a efeito em Maringá na evangelização de jovens do meio urbano. A posse como pároco de Mandaguaçu, no
final de 1979, obrigou Almeida a se distanciar do trabalho que, por tanto tempo, tinha desenvolvido com
brilhantismo no rumo de uma pastoral de juventude na diocese.
A partir dos anos 80, a evangelização de adolescentes e jovens na arquidiocese foi entregue à respon-
sabilidade de vários padres, de religiosas e de cristãos leigos que buscaram, sempre com louvável dedicação,
responder às exigências pastorais dessa rica e desafiadora parcela da Igreja e da sociedade. Para um conhe-
cimento do atual trabalho com jovens desenvolvido pela arquidiocese de Maringá, especialmente a partir
da assessoria de padre Ivaldir Camaroti dos Reis, pode-se recorrer à consulta na Internet, acessando o site
http://www.pjbmaringa.pop.com.br.

Encontros de jovens

Equipe de cozinha - 22 de dezembro de 1973. Masculino - 10 de agosto de 1975. Feminino - 12 de outubro de 1975.

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Os 50 anos da Diocese de Maringá


Memória, quase história

Crônica para nossos meninos

Acostumamo-nos a vê-los como parte da nossa vida. Sua presença ao nosso lado, e a nos-
sa no meio deles pareciam-nos as coisas mais naturais do mundo. Éramos padres jovens, apenas
concluídos os estudos. Não sentíamos distância deles, todos ainda estudantes.
Eles nos tinham como orientadores, mas nós assim não nos considerávamos. Éramos
tão somente irmãos mais velhos. Viam-nos tão próximos que nunca nos chamavam padres.
Ninguém, no entanto, jamais nos tratou com tamanho respeito.
Ouvíamos suas angústias, discutíamos seus problemas, acompanhávamos suas lutas. En-
trávamos em suas casas como se fossem nossas. Seus pais se habituaram a ver-nos como gente
da família.
Não havia preocupação de horário. Era comum começarmos uma reunião às onze da
noite, depois da faculdade, como se falava na época. Ninguém estranhava que o Lauria¹ voltas-
se, às duas da madrugada, para Nova Esperança. Eram outros tempos. Talvez não fôssemos tão
exigidos como hoje. Ou, quem sabe, mais novos, tivéssemos maior disposição para o trabalho
e não nos cansássemos com facilidade.
Cresceram conosco. Amadurecemos com eles. Ensinamos e aprendemos. Foi uma troca
tão intensa de vida que o tempo não conseguiu destruir.
Acompanhamos os namoros. Abençoamos os casamentos. Batizamos os filhos. Celebra-
mos a Eucaristia com eles e com as crianças.
A dura batalha da sobrevivência dispersou-os. Encontram-se um pouco por todo canto.
Hoje são adultos que, com nosso amor e nossa fraqueza, ajudamos a formar. Para nós, conti-
nuam o que sempre foram: os nossos meninos.
Agora entendemos o que sentem os pais quando os filhos crescem. E, como os pais,
experimentamos quanto pode doer o carinho que lhes dedicamos.
Sempre os alertamos para a rudeza da vida. Para a necessidade da fortaleza interior. Para
a construção de uma personalidade sólida, fundada na fé, sustentada na fidelidade a valores que
não passam. Nunca lhes escondemos que o heroísmo é exigência de cada dia.
Lá no fundo, porém, provavelmente alimentássemos a esperança de que não precisassem
comprová-lo. Ou que o fizessem muito, muito mais tarde, quando já não estivéssemos presen-
tes. Quando não mais precisassem de nós na hora da cruz.
É natural supor que os mais velhos sejam chamados primeiro. Pensávamos que, como o
Lauria, iríamos também na frente. Não podíamos imaginar que nos precederiam à casa do Pai
gente jovem como o Singh² e o João Carlos³, que conhecemos meninos. Os nossos meninos
(ROBLES, 1995, p. 12).

___________________
¹ Padre Berniero Lauria, pároco de Nova Esperança, faleceu em Eboli, Itália, no dia 15 de outubro de 1983.
² José Roberto Singh morreu de câncer, em Maringá, a 8 de julho de 1995. 
³ João Carlos Clemente faleceu, vítima de ataque cardíaco, aos 12 de agosto de 1995, em Cascavel.

246

A Igreja que brotou da mata


Comunidades Eclesiais de Base
Desde a chegada a Maringá, dom Jaime mostrou-se inquieto com o crescimento dos bairros, já que não
dispunha de padres para encaminhar a novas paróquias que entendia necessárias, mas sem condição de erigir.
Buscava a colaboração das religiosas, pedindo-lhes que, nos finais de semana, saíssem de casa, encaminhan-
do-se a algum trabalho evangelizador em áreas afastadas do centro da cidade. A partir de 1971, finalmente,
conseguiu atender ao anseio alimentado por tantos anos. Confiou a responsabilidade da assistência pastoral
dos bairros ao recém-ordenado padre Valério Odorizzi, que recebeu ajuda das comunidades religiosas, cada
uma ocupando-se de um setor, além do reforço de lideranças leigas suscitadas pelo MCC – Movimento de
Cursilhos de Cristandade. Nascido no meio da JACE – Juventude da Ação Católica Espanhola, da diocese de
Palma de Mallorca, com grande incentivo do bispo diocesano, dom Juan Hervás, o MCC foi organizado a
partir de agosto de 1948, em vista da grande peregrinação de jovens para Santiago de Compostela. Em 1953,
dom Hervás usou pela primeira vez o nome “cursillos de cristiandad”, querendo referir-se não à cristandade
medieval, mas ao modelo de vida das primeiras comunidades cristãs dos Atos. No Brasil o primeiro cursilho
aconteceu em Valinhos (SP), no ano de 1962. Em 1970, a diocese de Maringá começou a encaminhar candi-
datos a Londrina e Curitiba. A partir de 1972, com seu estabelecimento na diocese, o MCC entrou a fornecer
agentes de pastoral que deram sustento ao trabalho de Odorizzi. Depois dos saudosos tempos do marianis-
mo, outra força despertava agora na Igreja para dotar a comunidade de líderes cristãos.9 Em conexão com o
coordenador de pastoral, vivamente interessado na implantação do novo modelo eclesial representado pelas
CEBs, Odorizzi lançou-se à formação de comunidades nos bairros. Assim, em 1974, publicou seu I Plano de
Pastoral Orgânica dos Bairros da Cidade de Maringá, em cuja apresentação, dom Jaime escreveu:

Eu tive um sonho [...] quando, em 1957, eu cheguei a Maringá, encontrando a imensa


cidade com apenas duas paróquias e os bairros crescendo e se povoando, eu sonhava
como dar assistência religiosa a esses bairros. Onde encontrar aqueles que pudessem ser
a longa mão do Bispo para chegar a todos esses lares, a essas praças, ruas e vilas. O tra-
balho começou lento, com a dedicação apostólica das Congregações Marianas, Filhas
de Maria e Senhoras do Apostolado da Oração. Foi acrescido com a ajuda das Irmãs,
que foram chegando a Maringá. Desenvolveu-se com a abertura de Casas Religiosas
nos Bairros, Colégios, Obras de Assistência Social e o imenso desejo de conservar
Maringá para Cristo. E hoje, posso dizer: Eu tive um sonho que se tornou realidade!
É este [...], baseado em nosso 2º Plano de Pastoral Orgânica da Diocese de Maringá,
que tem a sua origem no dedicado trabalho do querido Padre Valério Odorizzi na Pas-
toral dos Bairros, coadjuvado pelas dedicadas Religiosas e nossos Leigos cristãos que
descobriram o Cristo e O querem levar a seus irmãos. Quando hoje se processa uma
renovação na estrutura das paróquias, pensando-se nas Comunidades Eclesiais de Base
como ponto válido de partida para uma tomada cristã de consciência, nos moldes do
Vaticano II, só tenho motivos para agradecer a Deus a realidade do meu sonho − uma
assistência espiritual aos bairros com o despertar da valorização da pessoa humana em
todos os ângulos − e para abençoar o abnegado e valoroso trabalho de todos esses
queridos colaboradores (ODORIZZI, 1974, p. 1).

O trabalho de Odorizzi visava, em essência, ajudar os párocos a implantar CEBs em suas paróquias.
Como se tratava de proposta nova, muitos acusavam dificuldade para a sua execução. Mais do que recomen-
dação teórica sobre seu valor e oportunidade, a diocese oferecia, através da Pastoral dos Bairros, uma ajuda
prática para o despertar das CEBs. O grande instrumental criado por Odorizzi foi o CAC – Curso de Atuali-
zação Cristã, onde eram formados líderes para as comunidades. Valendo-se de um treinamento de 30 horas,
com estudo do conteúdo básico da fé, do PPC e exercícios práticos da criatividade comunitária − os “16

9 Na Igreja de Maringá, Cursilho de Cristandade e MFC revelaram-se, desde o início, perfeitamente integrados às diretrizes da pastoral
diocesana.
247

Os 50 anos da Diocese de Maringá


sistemas” do método criado pelo sociólogo Waldemar De Gregori − o CAC capacitava agentes comunitários,
levando-os à responsabilidade por uma comunidade concreta. A equipe formada por Odorizzi compunha-se
de 9 religiosas de várias congregações e de 16 casais despertados pelo cursilho, dos quais fizeram parte nomes
conhecidos na cidade, como Atair Niero, Tomás Negreiros, Ermelindo Bolfer, João Penha, Antônio Scramin,
Benedito Souto Maior, Said Felício Ferreira, Paulo Jacomini, Hélio Moreira, Osvaldo Vieira, Luiz Icizuka,
Said Jacob, Wilson Surita, Aníbal Bianchini da Rocha, José Mário Paro, Wanderley Batista da Silva e muitos
outros. Foi a partir desse notável trabalho que surgiram CEBs, ainda hoje atuantes, em bairros como Jardim
Alvorada, Morangueira, Mandacaru e Jardim Santa Isabel.
Escusado dizer que a Pastoral de Bairros, assim como qualquer outra iniciativa de Igreja, mantinha ín-
tima unidade com a coordenação diocesana. Os anos 70 representaram para a Igreja de Maringá um período
de grande vigor, em parte devido à liderança de Almeida, auxiliar direto do bispo, a quem acompanhava nas
grandes reuniões de estudos e decisões de âmbito regional e nacional. Mais de uma vez o episcopado parana-
ense requisitou a sua liberação para ocupar a secretaria executiva do Regional Sul II da CNBB, mas a diocese
não podia abrir mão de um colaborador indispensável. Por essa razão, seu nome não consta no rol dos secre-
tários executivos do Regional, do qual fazem parte frei Agostinho Sartori, dom Pedro Fedalto, padres Albano
Cavallin, Ives Pouliquen, Miguelangelo Rameiro, Ângelo Perin, Silvino Chiamolera, Filberto Penisson e Car-
los Alberto Chiquim (CHIQUIM, 2005, p. 275). Sua capacidade atestam, além de Maringá, muitas dioceses
que o convidaram repetidas vezes para cursos de formação e ajuda no processo de planejamento pastoral. Um,
entre vários exemplos, foi o seminário sobre CEBs, de responsabilidade do Regional Sul II, acontecido em
1972.10 Conforme previsão do 2º Plano Regional de Pastoral Orgânica do Paraná (1971-1972), foi realizado
em Maringá, de 1º a 3 de maio de 1972, o Seminário sobre CEBs ao qual se fizeram presentes representantes
da arquidiocese de Londrina e das dioceses de Apucarana, Jacarezinho, Maringá, Campo Mourão, Paranavaí,
Palmas e Toledo. Não enviaram representação: Curitiba, Paranaguá, Ponta Grossa e Guarapuava. O encontro
constou de uma visão da realidade, com depoimentos sobre as experiências concretas de CEBs postas em
prática em uma paróquia-piloto de cada diocese do Regional. Na seqüência, à luz de critérios específicos, foi
apresentada uma interpretação crítica dessas experiências comunitárias. Neste ponto houve necessidade de
recurso a peritos especialmente convidados: para análise teológica, padre Antônio de Pádua Almeida; para in-
terpretação sócio-econômica, professor Oscar Sanches; para aportar critérios metodológicos, professor Paulo
Simião. Almeida focou a “conceituação da eclesiologia que sustenta a atual pastoral das CEBs”. Por atual
entenda-se a situação eclesiológica e pastoral de então. Com base na reflexão dos peritos sobre a realidade
apontaram-se sugestões e diretrizes para as CEBs do Paraná.
Como proveitoso saldo de um período de compromisso explícito com as CEBs, perdura na Igreja de
Maringá o cuidado de conferir à paróquia o caráter de núcleo aglutinador de comunidades, em vez de reduzi-
-la a uma central de “produtos” religiosos, como não é difícil de encontrar em alguns lugares. Dada a sua na-
tureza de Igreja em ponto menor, a CEB assegurou à organização de muitas paróquias da diocese uma tônica
de direcionamento para a vida comunitária e, ao mesmo tempo, para a descoberta e formação de lideranças
leigas em função da evangelização inculturada, comprometida com suas quatro exigências intrínsecas: serviço,
diálogo, anúncio e testemunho de comunhão. Isso, porém, não exclui as provações que a Igreja, comunidade
divino-humana sujeita às leis da história, se vê impelida a enfrentar, malgrado toda a proteção que lhe garante
aquele que a sustenta com o poder do alto. Apesar dos muitos obstáculos, a Igreja de Maringá caminhou
desde o início dos anos 70 até 1996, pela senda das CEBs como forma de viver a fé, incorporando as novas
situações que a realidade ia suscitando. Assim, a grande assembléia arquidiocesana do dia 8 de novembro de
1992, conduzida por padre Vicente Costa, ensejou o lançamento do XVI Plano de Ação Pastoral, que apre-
sentou no marco operacional três prioridades pastorais. A primeira e ainda principal forma de realizar a Igreja

10 O seminário, na verdade, chamou-se de Pastoral Rural, mas versava sobre CEBs, com a apresentação de paróquias-piloto estruturadas
em CEBs (como Mandaguaçu, paróquia-piloto da diocese de Maringá). Em carta de 23 de maio de 1972, padre Élio J. Dall’Agnol,
em nome do arcebispo de Curitiba, agradeceu a Almeida o “envio das Conclusões do Seminário sobre as C.E.B.”, ressaltando o
“trabalho de peritos no assunto, principalmente tendo como coordenador um mestre sobre C.E.B. que é você, pe. Almeida”.
248

A Igreja que brotou da mata


em Maringá continuava apontando para as mesmas Comunidades Eclesiais de Base dos primeiros tempos do
serviço de coordenação pastoral. As demais prioridades, entretanto, expressavam anseios de novos espaços
humanos. Para o período 1993-1996, a Igreja de Maringá definiu como segunda prioridade pastoral a evan-
gelização da cultura urbana e, como terceira, a educação. Como notou padre Vicente, a análise da realidade,
“feita pelo arcebispo, padres, irmãos e irmãs, leigos e leigas engajados na vida da Igreja” marcou essas opções
como prioridades, isto é, como destinatárias da maior soma de recursos espirituais, humanos, intelectuais,
operacionais e financeiros da Igreja na arquidiocese. Essa assembléia arquidiocesana de pastoral concluiu pela
manutenção dos três vicariatos episcopais, reconhecendo a necessidade de subdividir o vicariato centro em 3
grupos de paróquias, que passaram a integrar o centro-1, centro-2 e centro-3.
A partir da grande geada de 1975, a vitalidade das CEBs na vida diocesana sofreu duro impacto. So-
mado à transformação que os governos militares impuseram à economia nacional, o fenômeno climático
acelerou o esvaziamento da zona rural, determinando mudança drástica no perfil dos municípios menores
e inchaço dos centros de região. Parte considerável da população da diocese emigrou para novas fronteiras
agrícolas no Triângulo Mineiro, Mato Grosso, Bahia e Maranhão; para áreas industriais da grande Curitiba,
Campinas, Americana, Jundiaí e São José dos Campos, ou ainda decidiu tentar a sorte no exterior, em países
como Japão, Espanha, Portugal, Inglaterra e Estados Unidos da América. Em termos regionais, houve forte
mobilização de gente do interior da diocese e de outras origens para a região metropolitana, representada por
Maringá com as vizinhas Sarandi e Paiçandu (estendendo-se, em menor grau, até Marialva, Mandaguaçu e
Mandaguari). O afluxo de novos habitantes ao único pólo regional da diocese não veio, porém, acompanhado
do atendimento às necessidades humanas fundamentais como emprego, moradia, saneamento, escola, saúde,
segurança, transporte e demais exigências de uma vida digna. Despojada das antigas identidade e participação
que conhecia nas CEBs, muita gente precisou sujeitar-se à nova situação – de perda do referencial comuni-
tário, de desenraizamento das origens, de solidão e anonimato na vida urbana, de esgarçamento dos laços
familiares – e a outros desafios para os quais não se encontrava minimamente capacitada.
Por outro lado, também sobre a população da diocese incidiu de forma inescapável o fenômeno da
globalização e da chamada “pós-modernidade” com os conhecidos efeitos de massificação, busca da eficácia
técnico-científica e da satisfação imediata, individualismo ético, culto do subjetivismo e valorização do emo-
cional. As novas modalidades do agronegócio e dos serviços, assim como a corrida atrás do sonho do milagre
brasileiro, exacerbaram a diferença entre uma minoria bem sucedida e a maioria que apenas sobrevive, às
vezes, mergulhada em sofrimento atroz.
Pelo seu caráter intimista e pela expectativa de satisfação imediata das necessidades individuais, as novas
propostas religiosas reforçaram, em não pouco, as dificuldades para o exercício do “ethos” solidário e co-
-responsável pregado pelas CEBs. Mesmo dentro da Igreja Católica, novos movimentos eclesiais aos poucos
foram, senão obscurecendo, pelo menos relativizando alguns apelos fortes do Concílio Vaticano II, expressos
em particular, nas constituições Lumen Gentium e Gaudium et Spes.
Todas essas variáveis apontam para uma Igreja em busca de posições possivelmente inéditas, reclamadas
pela hora atual. Entrando no novo século e novo milênio, cabe-lhe confrontar realidades e situações antes
desconhecidas: a cultura urbana; a economia com suas injustiças de raiz; as tecnologias na comunicação; a
fé para uma sociedade pluralista; os questionamentos inéditos para a teologia moral (da bioética, por exem-
plo); a situação das minorias; as necessidades vitais da juventude... Tal como a Elias, o anjo do Senhor segue
advertindo os modernos profetas da Igreja de Maringá: “Levanta-te e come. Ainda te resta longo caminho a
percorrer” (1REIS 19, 7).

Província de Londrina
Pertence ao início dos anos 70, mais precisamente, ao dia 31 de outubro de 1970, a criação da arqui-
diocese de Londrina, antigo desejo, entre outros, do bispo de Maringá, que sempre considerou o Norte do
Paraná identificado muito mais com o vizinho São Paulo do que com o Sul do Estado. Passada a veleidade do
Estado do Paranapanema, entendia o bispo de Maringá que do ponto de vista eclesial, o Paraná representava
249

Os 50 anos da Diocese de Maringá


pelo menos duas realidades inteiramente distintas a serem, como tais, regidas. Assim, foi com satisfação que
recebeu a criação da nova Província Eclesiástica, cabendo-lhe a honra de, em nome dos bispos sufragâneos,
saudar dom Geraldo Fernandes, CMF, na sua posse como primeiro arcebispo de Londrina, cargo que exerceu
até a morte, ocorrida em 29 de março de 1982. Com a sé vacante, dom Jaime foi nomeado administrador
apostólico de Londrina. Durante dez meses governou as duas Províncias Eclesiásticas do Norte do Paraná,
de vez que Maringá, desde 1979, era também sé metropolitana. Exerceu o múnus de administrador apostó-
lico de Londrina até 28 de janeiro de 1983, ocasião em que foi empossado o novo arcebispo, dom Geraldo
Majella Agnelo, bispo de Toledo (PR) até àquela data. Na condição de arcebispo das duas províncias, dom
Jaime foi eleito, em 1978, juntamente com o arcebispo de Curitiba, dom Pedro Fedalto, para integrar, em
nome do Regional Sul II, o grupo dos 37 bispos brasileiros enviados a participar da III Conferência Geral
do Episcopado Latino-americano, em Puebla, no México, prevista para o mesmo ano, o décimo depois da
assembléia de Medellín (1968). Tendo em vista o falecimento, em 6 de agosto de 1978, do papa Paulo VI, só
no ano seguinte, reassumida e convocada pelo papa João Paulo II, foi possível a realização, de 27 de janeiro
a 13 de fevereiro de 1979, da conferência de Puebla.

Projeto Igrejas-irmãs
Vivamente aconselhado pela CNBB, em vista das grandes desigualdades regionais, o projeto Igrejas-
irmãs tem por objetivo levar as Igrejas mais dotadas de recursos humanos, pastorais e financeiros a assumir
fraternalmente Igrejas em situação de maior carência, prestando-lhes ajuda para superação de seus problemas.
Durante a 14ª Assembléia Geral da CNBB, de 19 a 27 de novembro de 1974, em Itaici, dom Marcelino
Sérgio Bícego, capuchinho italiano, bispo-prelado de Carolina (MA), lançou ao plenário um pedido de ajuda,
recebendo de dom Jaime a aceitação de Carolina como Igreja-irmã de Maringá, fraternidade oficializada em
julho do mesmo ano. O primeiro contato do bispo de Maringá com a Igreja-irmã aconteceu nos dias 16-21
de dezembro de 1975, tendo-o Bícego recebido em Imperatriz, única cidade do Maranhão, além da capital,
a receber aviões de grande porte. Em 1976 deu-se intercâmbio de visitas, com a vinda de dom Marcelino a
Maringá no dia 10 de maio, aniversário da cidade. Visitando a paróquia de Marialva, mostrou-se surpreso com
a intensa participação cristã dos jovens. Apoiado por dom Jaime que o acompanhava, praticamente exigiu que
padre Orivaldo Robles, o pároco, acompanhado de jovens da diocese de Maringá, se deslocasse a Carolina
para lá promover dois encontros, um masculino, outro feminino, com jovens da prelazia. Tudo aconteceu de
forma muito rápida, ficando acertado que, já no próximo mês de julho, deveriam estar no Maranhão.
O livro do Tombo da paróquia de Marialva registrou o fato, situando a saída dos jovens no dia 6 de
julho. Nos assentos referentes a julho de 1976, lê-se:

6 – Saída para Carolina dos jovens que me acompanharão nos encontros que faremos
com jovens de lá. Foi uma luta a preparação. Superadas mil dificuldades de toda ordem
(familiar, econômica, intelectual, de maturidade, de transporte etc.), ficou decidido:
Pe. Almeida me substituirá na Paróquia, residindo na mesma casa que eu. Fará compa-
nhia, inclusive, à jovem esposa do Ademir Boschini, que também irá a Carolina. Cui-
dará dela, pois está grávida e teve problemas de saúde. Registro o fato, pois me parece
comovedor: a amizade e confiança deste casal, a total fraternidade com os sacerdotes.
Esperam o primeiro filho e aceitam separar-se por quase duas semanas, indo ele para
um trabalho apostólico a mais de 2.000 km e ficando ela confiada aos cuidados de
um padre amado e aceito como irmão. Os jovens que vão a Carolina são oito, quatro
rapazes e quatro moças, de Maringá e Marialva. De Maringá: Yassushi Shima, Amauri
Meneghetti, Wilson Saenz Surita Jr e Maria Christina Macedo Alves. De Marialva:
Ademir Boschini (o único casado), Alice Boschini (sua irmã), Maria Geralda Vieira e
Neuza Maria Dada. Viajam numa camioneta Chevrolet, modelo Veraneio, alugada para
isso. Viajarei depois de amanhã, de avião, indo a Imperatriz e, de lá, a Carolina.
12-13 – Curso-retiro para jovens no Seminário de Carolina. O primeiro para rapazes, o
segundo para moças. O comportamento dos nossos oito jovens da diocese de Maringá

250

A Igreja que brotou da mata


foi alguma coisa de grandioso. A presença e atuação desta gente maravilhosa dificil-
mente poderiam ser melhores. Muito mais que o trabalho que fiz como padre valeu o
testemunho vivo dos nossos rapazes e meninas. Dom Jaime passou praticamente todo
o mês de julho visitando, uma por uma, todas as paróquias da Igreja-irmã. Sua presença
e companhia trouxeram um colorido particular ao nosso trabalho. Dom Marcelino, frei
Defendente, frei Humilde e irmã Hermínia nos renovaram em nossa fé e amor à santa
Igreja de Deus. Nosso trabalho serviu-nos como renovação espiritual mais intensa que
um retiro inaciano de 30 dias. A Igreja é, de fato, uma obra de amor do próprio Deus.
Só ele seria capaz de realizar algo assim. Pensávamos levar algo: na verdade, nós é que
ficamos enriquecidos espiritualmente. Não há o que explique esta experiência de vida
cristã: só o vivê-la permite avaliar seu real dimensionamento (PARÓQUIA DE N. S.
DE FÁTIMA DE MARIALVA, 1951, f. 70).

Em Carolina os jovens da diocese e Robles encontraram dom Jaime, que passou todo o mês de julho
em autêntica visita pastoral percorrendo cada uma das comunidades da prelazia. Anteriormente, como re-
presentantes da diocese de Maringá, já haviam permanecido pelo espaço de uma semana em Carolina padre
Almeida, irmã Antona Dröge, Atair e Cláudia Niero, que desenvolveram trabalho missionário na linha da
catequese e da formação de agentes pastorais. Almeida voltou ainda outras vezes para ajudar no processo de
planejamento pastoral. A prelazia de Carolina foi elevada à condição de diocese no dia 7 de dezembro de
1979, ao mesmo tempo em que dom Marcelino Sérgio Bicego se tornou primeiro bispo diocesano. Convida-
do por este, após participar da assembléia de Puebla, entre os dias 11 e 17 de novembro de 1979, dom Jaime
esteve em Carolina para ministrar curso sobre as conclusões daquela assembléia continental. No dia 23 de
fevereiro de 1980, consternada, Maringá recebeu a notícia do falecimento, dia anterior, às 16h00, em Belém,
vitimado por leptospirose, de dom Marcelino, o bispo que se tornou profundamente querido entre nós. Com
a Igreja-irmã sem bispo, dom Jaime lá voltou, no dia 19 de março de 1980, para ordenar presbítero o diáco-
no Tarcísio Cardoso da Silva, daquela Igreja. O segundo bispo de Carolina, dom Alcimar Caldas Magalhães
(1981-1990) também visitou Maringá, permanecendo aqui por vários dias. Decorrido não muito tempo, o
projeto de fraternidade entre as duas dioceses entrou em declínio, até ser abandonado, conforme dom Jaime,
por desinteresse do então bispo da Igreja maranhense.
Na mesma linha da CNBB nacional, entre os anos 1989-1995, o Regional Sul II cultivou um trabalho
missionário motivando as Igrejas Particulares do Paraná a se abrirem às carências de outras regiões, através do
“Programa Igrejas Irmãs”. O objetivo era colaborar oferecendo equipes de padres, religioso(a)s e leigo(a)s
para áreas de migração populacional daqueles que, saídos do Paraná, se transferiram para Rondônia e Mato
Grosso. Depois de 1995, o programa deixou de ser regional e foi assumido pelas dioceses.

Projeto Igrejas-irmãs no Maranhão

Irmã Antona, dom Marcelino, Curso de catequese em Carolina, 1976. Irmã Antona com jovens
padre Almeida, irmã Hermínia. Sentado no pára-lama, frei Defendente Rivadossi; catequistas da prelazia.
atrás dos jovens, irmã Hermínia, gaúcha das irmãs
de Santa Teresa; padre Almeida ao volante 251
(do lado direito: veículo europeu antigo).
Os 50 anos da Diocese de Maringá
Desde os inícios da década passada, Maringá vinha mantendo parceria com a Igreja da Amazônia. Aten-
dendo pedido de dom Geraldo Verdier, bispo de Guajará-Mirim (RO), pelo espaço de três anos, padres que
lecionavam no Seminário Arquidiocesano de Maringá deslocaram-se, nas férias escolares, até à sede daquela
diocese, na fronteira com a Bolívia, a fim de ministrar aulas a alunos do curso de Filosofia. Entre 1992-1994
lá cumpriram temporadas letivas os padres Júlio Antônio da Silva, Leomar Antônio Montagna, Paulo Campos
e Luiz Antônio Bento. A partir dessa ajuda, Verdier pediu a Maringá, por “empréstimo”, um padre dispos-
to a fazer uma experiência de missão. Por três anos inteiros (2002-2004), trabalhou como missionário em
Guajará-Mirim padre Francisco Gecivam Vieira Garcia. No biênio 2005-2006 substituiu-o padre Luiz Carlos
de Azevedo que, por sua vez, no início de 2007, cedeu lugar a padres Obelino Silva de Almeida e Maurício
Vicente de Oliveira.

Projeto Igrejas-irmãs nos anos 90

Pe. Francisco Gecivam em Guajará-Mirim-RO.

Desde então, além do envio de padres, Maringá tem recebido, todos os anos, seminaristas dos cursos de
Filosofia e Teologia das dioceses de Guajará-Mirim e de também de Carolina, colaborando assim na forma-
ção do clero dessas Igrejas. O programa Igrejas-irmãs procura manter aguçada na arquidiocese de Maringá a
sensibilidade para com o sofrimento de outras Igrejas em situação semelhante (quando não pior) à enfrentada
por dom Jaime nos idos dos anos 50.

252

A Igreja que brotou da mata


O que ninguém escreveu
Episódios pitorescos vividos por nossos padres
dos primeiros tempos, alguns já chamados à casa do Pai.

Espetáculo
Padre Júlio Hartmann, vigário de Tamboara, era um gaúcho imen-
so. Além de alto como um pinheiro, ostentava uma gordura descomunal.
Sua massa corpórea próxima dos 200kg tornava-o uma ameaça para cadei-
ras e camas. Quando vinha ao retiro espiritual no seminário, era preciso
“importar” da Santa Casa uma cama de hospital, de estrutura de ferro,
suficientemente forte para não arriar com o ocupante. Por um tempo,
em 1967, esteve na paróquia de Mandaguaçu ajudando padre Berniero
Lauria. Por mais que tentassem, as pessoas não conseguiam disfarçar a
curiosidade. Era volumoso demais para não atrair os olhares. Cansado de
servir de diversão, quando via alguém tentando disfarçar o riso, padre Júlio
não perdia a calma: “Pode rir. Você provavelmente nunca se divertiu com
algo tão honesto”.

Receita
Quem viajou, antes de 1960, pelas estradas deste Norte do Paraná,
jamais vai esquecer. Não era só a poeira, fina como talco, que penetrava
nos poros: ao fim de uma viagem de poucos quilômetros, do rosto do via-
jante se só se viam os olhos. Nem só a lama, que deixava atolados centenas
de carros. A consistência da terra era outro desafio. Duas horas depois da
chuva, o barro secava assumindo a rigidez do vidro. Os veículos da época,
quase sempre utilitários rudes, não ofereciam o conforto nem a maciez de
hoje. Resultado: problemas de coluna, lombalgias, o corpo inteiro dolo-
rido. O mineiro dom Geraldo Fernandes, bispo de Londrina, com dores
nas costas, foi, um dia, ao médico, que diagnosticou: − “Com esses bicos-
-de-papagaio, sua coluna não agüenta solavancos de jipe nessas estradas. É
melhor o senhor andar de Impala” (carro da Chevrolet lançado em 1957,
importado por ricos). E o bispo, com ar maroto: − “Gostei do remédio,
doutor. O senhor não tem amostra grátis?”.

Telefone
Pai dos padres Antônio Carlos e José Maria, o construtor Marcos
Baggio, com sua opa vermelha de irmão do Santíssimo, era figura obri-
gatória na catedral em todos os pontificais de dom Manuel da Silveira 253

Os 50 anos da Diocese de Maringá


D’Elboux, arcebispo de Curitiba. De integridade a toda prova e católico
exemplar, era queridíssimo do arcebispo, a quem, por sua vez, dedicava
profunda veneração. Sua construtora tinha erguido o Seminário São José,
em Orleans, inaugurado em 1959, além de outras obras da arquidiocese.
Por causa da idade, já não cuidava dos negócios. Tinha passado a empresa
ao filho Marquinhos, que a tocava com o cunhado e sobrinhos. Mas con-
tinuava indo, todos os dias, ao escritório para ocupar a escrivaninha onde,
por décadas, tinha despachado. Lia os jornais, olhava o movimento, con-
versava com algum dos muitos conhecidos que entravam... Um dia retiniu
o telefone e, por infeliz coincidência, no escritório, ninguém, a não ser o
patriarca. “Telefone!” gritou, na esperança de que alguém viesse atender.
Nada. Entre as suas muitas virtudes, contudo, a origem italiana não in-
cluíra a mansidão. Incomodado, olhou para todo canto, procurando um
filho de Deus no escritório. Nem sinal. E o ruído irritante insistindo, sem
trégua. Com o rosto afogueado, caminhou até o aparelho, ergueu o fone
e berrou: “− Prrrronto, demôôôônio!!!”. Do outro lado, uma voz muito
educada, perguntou: “− É o senhor Marcos?” “− Siiiim!!!” explodiu. E a
voz: “− Aqui é o arcebispo...” O velho construtor jamais soube o que o
arcebispo queria. Atordoado, ficou surdo e mudo. Levou meses para olhar
de novo dom Manuel nos olhos.

Acolhida
Quando abriu diante de dom Benjamin o mapa da diocese de Para-
navaí, que se estende de Alto Paraná até as ilhas do rio Paraná, dom Jaime
lhe garantiu: “Ninguém pode me acusar de egoísmo. Ao contrário, sou
tão generoso que dei a maior parte da minha diocese para você.” No dia da
posse, em Paranavaí, ao descerem do carro, inadvertidamente dom Jaime
bateu a porta na mão do novo bispo. Embora leve, a ferida apresentou
discreto sangramento. E dom Jaime, rápido: “Está vendo, dom Benjamin?
Ninguém pode dizer que você não derramou o sangue pela sua diocese”.
Nisso, algumas religiosas correram para cumprimentar o recém-chegado.
Na época, era costume beijar o anel do bispo. Ao ver o grupo que se apro-
ximava, dom Benjamin, bonachão, não teve dúvida: tirou do dedo o anel e
o entregou à primeira, recomendando: “Irmã, beije e passe para as outras.
Depois, as senhoras me devolvem”.

Pipoca
Tempo houve em que Maringá inteira conhecia o Corcel preto 1975,
que o bispo mesmo dirigia, sem precisão de motorista. Conhecido pela
palavra fácil, correção lingüística e oratória inflamada, nas missas costuma-
va estender a homilia para além dos costumeiros dez ou quinze minutos
dos padres nas paróquias. Por causa da pregação, alguns consideravam
sua missa demasiado longa. Certo domingo, um senhor acompanhado do
filhinho chegou à catedral. Ao passar pelo pipoqueiro que ali faz ponto, o
garoto pediu: “Papai, compra pipoca”. E o pai: “Depois da missa, papai
254

A Igreja que brotou da mata


compra, querido”. Nisso pára o carro preto e, de dentro, salta dom Jaime.
O garotinho dirige-se a ele: “É você que vai ‘dar’ a missa?” Ante a resposta
positiva do bispo, o menino desolado volta-se para o pai: “Papai, compra
pipoca agora!”.

Irmãos
No princípio dos anos 90, para a paróquia São José, regida pelos pa-
dres jesuítas, foi nomeado padre Silvino Pedro Rabuske, vigoroso rapagão
que, pela sua pouca idade e cara de menino, era chamado de Pedrinho.
Tinha-se ordenado há pouco, tanto que nem recebeu nomeação de páro-
co, mas de administrador paroquial. Padre Arthur Frantz, seu auxiliar, ao
contrário, já passara dos setenta. Ambos jesuítas, de sólida formação para
a vida comum, sua convivência era admirada como algo raro, sobretudo
porque o mais novo exercia o comando e o mais velho era seu subordi-
nado. Certo dia, não contendo a curiosidade, alguém quis saber: “Padre
Arthur, o senhor tem mais de setenta anos, padre Pedrinho, só uns trinta:
vocês combinam bem? Como é que vivem na mesma casa?” Com a maior
tranqüilidade, o velho padre respondeu: “Ora, vivemos como irmãos”. E
emendou, para esclarecer: “Brigamos todos os dias.”

255

Os 50 anos da Diocese de Maringá

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