Currículos Diferenciados Das Escolas Indígenas, Quilombolas e Caiçaras
Currículos Diferenciados Das Escolas Indígenas, Quilombolas e Caiçaras
Currículos Diferenciados Das Escolas Indígenas, Quilombolas e Caiçaras
Domingos Nobre
(IEAR/UFF)
Prefácio, 7
Apresentação, 15
Capítulo I
O contexto das reformas educacionais neoliberais
e o refluxo nos movimentos de reorientação
curricular progressistas, 19
Capítulo II
Currículos integrados e diferenciados, o que
é isso?, 45
Capítulo III
Etapas da metodologia de construção curricular
pela via do tema gerador em redes temáticas e
da pedagogia de projetos, 123
Capítulo IV
Implicações político-pedagógicas de um
movimento de reorientação curricular no
enfrentamento ao neoliberalismo na
educação, 263
I. Membro do FCT – Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba; Pes-
quisador comunitário em saneamento ecológico do OTSS – Observatório de Territórios Sustentáveis
e Saudáveis da Bocaina. Fundador do IPECA – Instituto de Permacultura e Educação Caiçara.
um fato muito importante. E acho que pra nós foi um ganho, impor-
tante mesmo, para a educação pública. Porque eles queriam, como
sempre, privatizar, colocar a educação com os institutos privados,
como a Fundação Roberto Marinho, entre outros. A UFF teve esse
papel importante, junto à comunidade e ao Coletivo de Educação
Diferenciada. Não aceitamos a privatização da educação, queremos
fazer um ensino regular nas comunidades com a Universidade, nas
formações de professores.
Outro ponto importante, é que mesmo fazendo tudo isso com a
colaboração da UFF, a Secretaria Municipal de Educação não cumpre
com o dever deles e não dão o suporte que deveríamos ter. E sabemos
que nesses anos que a gente está nessa luta, a Secretaria de Educação
tem se omitido em cumprir o acordo que ela fez. O acordo que fez
com a UFF, com o Coletivo, inclusive com o Ministério Público. Ainda
temos então essa defasagem da Prefeitura, da Secretaria Municpal
de Educação. Esse é ainda um dos grandes entraves que temos com o
Poder Público. A gente precisa avançar”.
II. Membro do FCT – Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba; Pes-
quisadorcomunitário em saneamento ecológico do OTSS – Observatório de Territórios Sustentáveis
e Saudáveis da Bocaina. Presidente e membro da Diretoria da Associação de Moradores Originários
da Praia do Sono, por diversas gestões, desde 2002.
sofrido essas ameaças a partir dos projetos políticos das escolas, que
nada mais são do que um projeto que sonega e nega a informação.
Nega àquelas pessoas que deveriam ter seus direitos garantidos, de
várias formas, principalmente na área de uma educação crítica,
emancipadora e libertadora.
O nosso município o tempo todo sonega essas informações, refle-
tindo na formação dos nossos professores, deformando o profissional
da educação, consequentemente, deformam também a consciência dos
alunos em sala de aula. E com isso, os alunos formam uma consciência
capitalista, apenas de reprodução do sistema, em que a importância é
somente acúmulo de riqueza e bens materiais. E quando falamos da
construção do nosso currículo, da nossa metodologia diferenciada e
do nosso projeto político pedagógico dos movimentos sociais, é uma
construção de uma formação na qual se estabeleçam todas as divisões
de uma sociedade que nós queremos combater. De um sistema que
queremos derrubar a todo custo. Porque esse sistema não é criado por
nós e nem para nós, ele é imposto, apenas para que sigamos, repro-
duzindo a imagem dele. Precisamos combater a isso, e que possamos
construir uma sociedade muito mais equilibrada, uma sociedade que
tenha argumento e senso crítico, não isso que vemos hoje em dia. Isso
reflete muito na educação das comunidade tradicionais, as comuni-
dades infelizmente estão debaixo desse sistema altamente negativo.
A metodologia diferenciada, é feita com o nosso território, cons-
truído aqui em suas bases. Ela é muito importante. Porque nós con-
9
que ter a sua própria face. Seus próprios dizeres, sua linguagem, sua
forma de ver o mundo, suas críticas, complexidades e sua diferença.
Não podemos seguir essa estrutura velha, em que não podemos criar
algo em torno da educação própria para o nosso povo. Temos que lutar
para que essas resoluções possam garantir isso para nós.
Estamos em um território diferenciado que tem esse direito.
Não podemos continuar aceitando essa velha política de apenas re-
produção do sistema. A escola é da comunidade e se a comunidade
não estivesse ali, garantindo a estadia desta escola, talvez ela hoje ela
nem existisse, quando começamos a dialogar sobre este projeto que
alcance esses nossos anseios.
Ela deve ser protagonizada por toda comunidade escolar. E
a prefeitura apenas tem o dever enquanto estado de garantir as
políticas públicas”.
III. Educador popular e músico ativista. Membro do FCT – Fórum de Comunidades Tradicionais de
Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba; Presidente da AMOQC – Associação de Moradores do Quilom-
bo do Campinho. Coordenador Nacional da CONAQ – Coordenação Nacional de Articulação das
Comunidades Negras Rurais Quilombolas; Foi Presidente fundador da ACQUILERJ – Associação de
Comunidades Remanescentes de Quilombos do Estado do Rio de Janeiro; Ex-Secretário Municipal
de Cultura de Paraty.
professores. Quando falamos de construção de projeto de currículo,
a comunidade fica aquém dessa compreensão. Acho importante es-
tabelecer dois momentos que podem se encontrar, mas são distintos;
um de formação de professores e outro, formação para pais e mães
da comunidade. Para que a comunidade não fique fora dessa cons-
trução, fora desse debate. Em resumo, acho que o acompanhamento
e direcionamento da comunidade é o que realmente “dá liga” nessa
história, nessa construção.
Acho fundamental divulgar essa metodologia de trabalho. Lá atrás
quando o Fórum de Comunidades Tradicionais disse para o poder
público que não queria consultoria privada para nossos processos de
formação, na nossa construção do projeto; nós fizemos uma aposta
com a Universidade Federal Fluminense, que além de conhecer a
instituição, que é pública, relevante, nós conhecíamos os atores en-
volvidos. Foi uma aposta que fizemos e acho ter sido muito positiva.
As dificuldades que estamos tendo não é de metodologia e sim de
gestão. Algo em como se constróem condições efetivas, para o professor
que atua ou também em como conquistamos o professor. Um projeto
político, precisa não só alcançar a mente, mas também o coração e
às vezes o professorado está um pouco distante da proposta política.
Acho que este projeto, esta proposta metodológica, se consolidando
aqui no território, é vanguarda para ser disseminada e levado a outros
espaços, outras experiências. É fundamental.
Em minha opinião, há bastante tempo que as gestões municipais
12
IV. Educador Guarani desde 1983, fundador e diretor da Escola Indígena Guarani Kyringue Yvotyty, hoje:
Colégio Indígena Estadual Guarani Karai Kuery Renda; Cursou Magistério Indígena, pela SEE-SC
e Licenciatura em Educação do Campo, pela UFRRJ. Presidente indígena do CEEEI-RJ – Conselho
Estadual de Educação Escolar Indígena do Rio de Janeiro.
problemas existem e o Estado não age para melhorar ou sequer tentar
resolver essa situação que nos encontramos. Além disso temos outros
problemas como construção de escolas, falta de concurso público, etc.
Em relação a metodologia, a comunidade, mais especificamente,
nossos professores indígenas em conjunto com a UFF, nos encontramos
ainda em processo de adequação ao método. Mas acho interessante,
temos que divulgar e usar no nosso trabalho. Precisamos nos apri-
morar ainda mais com essa proposta, que é muito legal, porque não
existe, ao meu ver, uma escola no Brasil ainda realmente adequada
nessa questão de metodologia de educação diferenciada e de fato vem
acontecendo no Rio de Janeiro.
O MEC e a Constituição Federal garante isso, mas dificilmente
construímos sozinhos e digo isso como professor. Os professores Guarani
ainda não estão preparados e aprimorados como queremos, pois ainda
não temos um curso superior, uma Licenciatura Indígena e por isso
é tão difícil. Mas graças a UFF, que vem trabalhando a muito tempo
conosco, embora com todas as dificuldades e problemas, pois uns não
aceitam, podemos conseguir. Em geral a metodologia é muito bacana.
O currículo da escola com a comunidade é importantíssimo. Em
geral esse currículo deve ser construído com a comunidade inteira,
para ser bem elaborado. Currículo não é uma coisa simples, nem
fácil ou rápido de se fazer e por isso deve ser discutido com todos da
comunidade educativa. No Rio de Janeiro não temos ainda currículo
específico diferenciado, não temos calendário próprio. E esse calen-
14
(Menezes, 2012).
Luiz Carlos de Menezes coordenava na USP o órgão de coo-
peração com a comunidade – a Coordenadoria Executiva de Coo-
peração e de Atividades Especiais (CECAE) quando, mais adiante,
Paulo Freire assumiu a Secretaria Municipal de Educação de São
Paulo (SME-SP), em 1989, na gestão de Luiza Erundina do PT e
assinou um convênio de cooperação entre a SME-SP e a Univer-
sidade. A Equipe do Projeto da Inter, como foi chamada, agregou
diversos físicos, como: Alice Pierson, Demétrio Delizoicov, João
Zanetic, José Angotti, Marta Pernambuco e Rubens Camargo.
Muenchen & Delizoicov (2012) afirmam, em pesquisa reali-
zada sobre os três momentos metodológicos (3 MP) do processo
de apropriação e incorporação dos elementos freireanos nos
projetos de ensino de Ciências/Física desenvolvidos e discutidos
na Guiné Bissau (Delizoicov, 1982), no Rio Grande do Norte
(Pernambuco, 1981; 1993; 1994) e no município de São Paulo (São
Paulo, 1990; 1992), que eles (os 3MP) possibilitaram efetivamente
a construção de processos didático-pedagógicos dialógicos na
elaboração curricular.
Outros pesquisadores, como Pernambuco (1993, 1994), Deli-
zoicov, Angotti e Pernambuco (2002a) aprofundam e exemplificam
o papel dos 3MP como estruturador do planejamento de ações
que envolvem coletivos em seções de trabalho que se ocupam de
processos formativos, particularmente de professores em servi-
ço, e na elaboração de planos de ensino e de aula, como indicam
Muenchen & Delizoicov (2012).
Conforme apontou Aguiar (2008), foram propostas da admi-
nistração de Freire, à frente da SME-SP, além do Movimento de
Orientação Curricular: o Projeto Interdisciplinar, os Grupos de
Formação para Professores, Coordenadores Pedagógicos e Diretores
de Escola; o Projeto Gênese (Programa voltado para a informática
23
1 PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais (1997); RCNEInf. – Referencial Curricular Nacional para
a Educação Infantil (1998); Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas (1998), entre
outros.
Uma característica importante dessa reforma educacional
empreendida pelo Governo Federal nas gestões do então Ministro
Paulo Renato de Souza: uma descentralização centralizadora, ou
uma desconcentração (Oliveira, 1999). Nobre explica:
2 BBB = “Bancada do Boi, da Bala e da Bíblia” – referindo-se ao loby político-partidário dos latifun-
diários do agro-negócio, dos fabricantes e comerciantes de armas e dos evangélicos, organizados
hoje em frentes e bancadas parlamentares hegemônicas na Câmara e no Senado.
Segundo Moreira (2000):
3 “A origem do Movimento Todos Pela Educação se deu através de outro movimento, o chamado
“Faça Parte”, cujos objetivos se assemelham aos do “Todos Pela Educação”, ou seja, pensar a
melhoria da qualidade da educação nacional, através de programas e projetos relacionados à
formação de professores, gestão eficiente, materiais didáticos, etc. Formalmente, o “Todos Pela
Educação” nasce em setembro de 2006 através de um esforço concentrado de seus associados
em atuar mais diretamente em projetos educacionais.” (Malini, 2009 apud Araujo, 2012).
cação.4 Além disso há vultosos recursos públicos sendo transferidos
para a iniciativa privada através de Institutos, Fundações e ONGs,
o que despolitiza o debate sobre a necessidade de regulamentação
do regime de colaboração e ignora a problemática da dinâmica
federativa quanto à oferta da escolarização obrigatória (Araújo,
2012). O problema é que talvez essa nebulosidade tenha permiti-
do que setores do empresariado paulista ligados ao movimento
TPE – “Todos pela Educação”, ocupando lugares estratégicos no
Governo (como é o caso do CNE) imprimissem a lógica de mer-
cado dos ADEs, numa perspectiva empresarial de territorialidade,
redes entre municípios, protagonismo dos atores locais e visão
estratégica que despolitiza o regime de colaboração. (Idem, p. 527)
Araújo (2012) analisa criticamente o significado da
Segundo ele:
41
Tal Programa foi iniciado em 2015 através da formação con-
tinuada dos professores indígenas e não indígenas do Colégio
Indígena Estadual Guarani Karai Kuery Renda, em parceria
com a SEEDUC-RJ; agrega-se em 2016 a implantação do segundo
segmento nas escolas caiçaras nas praias do Sono e do Pouso da
Cajaíba, em Paraty; inicia-se em 2017 a formação continuada com
os professores em educacão escolar quilombola, do Quilombo do
Campinho e do Cabral (Paraty) e recentemente em 2018, incorpo-
ra-se a formação continuada do primeiro segmento em educação
escolar caiçara em toda a Zona Costeira de Paraty, este, em parceria
com o NEPEDIF – Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação
Diferenciada do CPII – Colégio Pedro II, Unidade Humaitá. Os
programas em Educação Escolar Caiçara e Quilombola são todos
iniciativas da Secretaria Municipal de Educação de Paraty, que o
IEAR/UFF coordena, a partir de Acordos de Cooperação Técni-
ca. Finalmente, em julho de 2018, é implantado o Ensino Médio
com Habilitação em Magistério Indígena Guarani, através de um
Acordo de Cooperação Técnica entre o IEAR/UFF e a SEEDUC-RJ.
O Programa estabeleceu uma parceria com os movimentos
sociais através do FCT – “Fórum de Comunidades Tradicionais
de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba” e de seu “Coletivo de Apoio
à Educação Diferenciada” – duas organizações populares que
atuam há muitos anos na região na luta pela defesa do território
das comunidades tradicionais e suas demandas sociais:
42
2.2.1- O Multiculturalismo
era questionado.
[...] é nessa força original que permite que a classe dominante possa
definir a sua cultura como a cultura, mas nesse mesmo ato de
definição oculta-se a força que torna possível que ela possa impor
essa definição arbitrária. Há, portanto, aqui, dois processos em
funcionamento: de um lado, a imposição e, de outro, a ocultação,
que aparece, então como natural. (SILVA, 1999, p. 35)
Comunitária:
Porque conduzida pela comunidade indígena, de acordo com
seus projetos, suas concepções e seus princípios. Isto se refere
tanto ao currículo quanto aos modos de administrá-la. Inclui
liberdade de decisão quanto ao calendário escolar, à pedagogia,
aos objetivos, aos conteúdos, aos espaços e momentos utilizados
para a educação escolarizada.
68
Intercultural:
Porque deve reconhecer e manter a diversidade cultural e lingüís-
tica; promover uma situação de comunicação entre experiências
socioculturais, lingüísticas e históricas diferentes, não conside-
rando uma cultura superior à outra; estimular o entendimento e
o respeito entre seres humanos de identidades étnicas diferentes,
ainda que se reconheça que tais relações vêm ocorrendo históri-
camente em contextos de desigualdade social e política.
Bilingue/multilingue:
Porque as tradições culturais, os conhecimentos acumulados, a
educação das gerações mais novas, as crenças, o pensamento e
a prática religiosos, as representações simbólicas, a organização
política, os projetos de futuro, enfim, a reprodução sociocultural
das sociedades indígenas são, na maioria dos casos, manifestados
através do uso de mais de uma língua. Mesmo os povos indígenas
que são hoje monolingues em língua portuguesa continuam a usar
a língua de seus ancestrais como um símbolo poderoso para onde
confluem muitos de seus traços identificatórios, constituindo,
assim, um quadro de bilingüismo simbólico importante.
Específica e diferenciada:
Porque concebida e planejada como reflexo das aspirações par-
ticulares de povo indígena e com autonomia em relação a deter-
minados aspectos que regem o funcionamento e orientação da
escola não-indígena. (p. 25)
I. Princípios Político-pedagógicos:
a) A produção de material didático deve estar inserida no âmbito
de um processo maior de discussão do PPP – Projeto Político
70
7 Extraído de: “Proposta Curricular do Segundo Segmento de Educação Escolar Indígena do Colégio
Indígena Estadual Guarani Karai Kuery Renda” – SEEDUC-RJ, Nobre (Org.), 2016a.
aos objetivos, quanto ao espaço dedicado para a língua indígena e
quanto ao valor dado ao bilingüismo e à língua indígena.
O objetivo do “bilinguismo de transição para a língua majo-
ritária” é inserir o educando na língua e na cultura majoritarian,
enquanto que o objetivo do “bilinguismo de manutenção ou de
resistência”, desenvolvido nos programas de vitalização da língua
minoritária é preparar o educando para as relações com a sociedade
majoritária, incluindo o domínio da língua, ao mesmo tempo em
que fortalece a língua minoritária.
O espaço dedicado por cada modelo de bilinguismo para a
língua indígena, no caso do “bilinguismo de transição” é menor
a cada ano, pois é de instrução nos dois primeiros anos, e passa a
“aula de língua” nos modelos adaptados, enquanto que no “bilin-
guismo de resistência” a língua indígena é a língua de instrução
em todo o curso.
Quanto ao valor dado por cada modelo ao bilinguismo e à
língua indígena, para o “bilinguismo de transição” o bilinguismo
é uma dificuldade e a língua indígena tem papel na escola até que
não seja mais necessária, enquanto que para o “bilinguismo de
resistência” o bilinguismo é uma riqueza e a escola trabalha com
estratégias para sua valorização e para a ampliação das compe-
tências do falante nas duas línguas.
É preciso então discutir com mais profundidade qual o mo-
delo de bilinguismo que efetivamente vem sendo desenvolvido
87
O Bilinguismo no Currículo
90
8 Para compreender esse fenômeno numa escala mundial, assistir o documentário: “Escolarizando
o Mundo. O Último Fardo do Homem Branco”, de Carol Black, 2011.
afirma Chiodi (1993), pelo contrário, pois podem continuar a atuar
como agentes de castelhanização (pra nós, aportuguesamento) e
deslocamento das línguas maternas indígenas. Ele aponta o limi-
tado alcance que as oficinas de capacitação tem frente às enormes
demandas de formação do magistério indígena, assim como as
políticas educacionais nacionais que continuam a ignorar a exi-
gência de implementar escolas normais para professores bilíngues.
A responsabilidade do professor bilíngue no compromisso de
um trabalho de promoção e revitalização das línguas e culturas
indígenas não é tão simples assim, já que ele, muitas vezes, foi
formado sob a influência de um sistema educativo que implícita
ou explicitamente inculca valores de desprestígio, mesmo quando
o discurso oficial se pronuncia pelo respeito. (Idem)
Chiodi (1993) defende a tese de que a teoria da educação bilín-
gue se sustenta no suposto de que quanto maior seja o nível de
competência oral e escrita no idioma materno, tanto mais rápida e
eficazmente se produzirá no segundo, portanto nos anos iniciais,
a educação bilíngue consiste, entre outras coisas, no ensino da
leitura e escrita em língua vernácula, na aprendizagem oral do
Português (pra nós) e na transferência à escrita desta língua das
habilidades já desenvolvidas em L1.(p. 177)
Ele descreve que é frequente encontrar professores bilíngues
que por insegurança ou falta de orientação metodológica ensinam
castelhano como primeira língua, seguindo os procedimentos
91
10 Texto dos professores Diogo M. Cirqueira (IEAR/UFF) e Ediléia Carvalho (Novamerica) com Rafael
Atalah (Boslsista de Extensão PROEX, 2018) e Pedro Neves (Bolsista de Extensão PROEXT, 2016-2018)
também, a despeito da generalidade da Resolução, as propostas
em Educação Escolar Quilombola devem ser contextualizadas e
condizentes com a realidade e anseios de cada comunidade, tendo
em vista a diversidade destas no território brasileiro. Assim, como
veremos, há a tentativa de agenciar o cotidiano e as práticas cul-
turais dos quilombos do Campinho e do Cabral como princípios
norteadores na construção dos currículos.
Deve ser ressaltado que o projeto em desenvolvimento nos
quilombos se articula como outras ações de reorientação curri-
cular em comunidades caiçaras e indígenas, todos abrigados em
um Programa “guarda-chuva” denominado: “Escolas do Territó-
rio”. Como já dito anteriormente na apresentação deste livro, o
Programa “Escolas do Território” tem por objetivo implementar
um programa de formação continuada com os professores nessas
comunidades, subsidiando pedagogicamente o processo de cons-
trução de currículos diferenciados e um movimento de reorien-
tação curricular na rede municipal de Paraty-RJ e na Educação
Escolar Indígena. Assim, ainda que o foco aqui sejam as escolas
quilombolas, deve-se tem em mente a influência mútua e a troca
de experiências que envolvem esses três grupos de população
tradicional na região da Costa Verde.
O texto deste tópico está organizado da seguinte forma: pri-
meiramente apresentaremos uma interpretação das diretrizes da
Educação Escolar Quilombola; posteriormente será descrita a luta
99
11 Conceitos utilizados pelo autor em artigo publicado na Revista Eletrônica Carta Maior do dia 21/09/16.
táculos à mercantilização da terra, aos avanços da monocultura e
do capitalismo de uma forma geral. Questões estas, implicitamente
vinculadas à luta política e simbólica em torno da educação, uma
vez que é cada vez mais recorrente percebermos a fórmulação de
projetos de lei que visam projetar sobre a escola a mesma lógica
mercantilista, monocultural, homogeneizadora e acrítica.
Contrapondo a toda esta lógica, Carpenedo (2011) afirma que
as políticas educacionais que nascem da premissa do reconheci-
mento das diferenças representam uma conquista que resulta de
inúmeras iniciativas e lutas de movimentos e organizações sociais.
Entretanto, chama atenção para o quanto ainda é necessário
avançar. Essa constatação desloca a ideia de que essas conquistas
foram delegadas pelo Estado ou pela situação política, para a
afirmação de que estas resultam de importantes movimentos de
lutas. Desse modo, é fundamental compreendermos como essas
políticas educacionais foram se constituindo em forma de leis
e pareceres como garantia de manter as tradições culturais, os
costumes e modos de vida historicamente construídos.
Podemos citar como exemplo dessas políticas, as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola
(Brasil, 2012), nova modalidade de educação no Brasil. Esta ini-
ciativa, em conjunto com outras ações12 e circunstâncias – ainda
que atualmente algumas se encontrem em estado de extinção,
contribuiu/contribui para a ampliação do debate público e acadê-
101
13 O I Encontro Nacional das Comunidades Negras Rurais Quilombolas foi realizado durante a Marcha
Zumbi dos Palmares de 17 a 20 de novembro em Brasília-DF onde foi criada a Comissão Nacional
Provisória das Comunidades Rurais Negras Quilombolas.
Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho),
promulgada pelo decreto 5.051, de 2004, que garante o direito a
uma educação apropriada às diferenças das populações étnicas;
o Plano Nacional de Desenvolvimento de Populações Tradicio-
nais (Decreto 6.040, 2007), que aponta para a necessidade de se
produzir modalidades de educação adequadas aos modos de vida
das populações tradicionais; e a Resolução nº 7 de 2010 do CNE
(Conselho Nacional de Educação), que avança na garantia de uma
educação diferenciada ao mencionar a necessidade de respeito por
parte das escolas que atendem às populações do campo, direitos
humanos às comunidades quilombolas e aos povos indígenas, bem
como às populações das áreas rurais e ribeirinhas, assegurando
condições de ensino e aprendizagem adequadas e específicas aos
educadores e educandos e a consolidação de ações afirmativas de
inclusão da população afrodescendente e de reconhecimento dos
direitos quilombolas no Programa Nacional de Direitos Huma-
nos (Decreto nº 7.037 de 21 de dezembro de 2009, atualizado pelo
Decreto nº 7.177 de 12 de maio de 2010).
Outros importantes marcadores desse processo de constru-
ção das políticas se deram no ano de 2010. Em maio se realizou
a Conferência Nacional de Educação (CONAE, 2010) na qual se
discutiu a necessidade de formulação de políticas específicas na
educação para atender às especificidades das comunidades qui-
lombolas, visto que a Lei 10.639/03 e suas respectivas diretrizes
103
de. Então quando você pede a ela para escrever sobre aquilo ela
escreve, entendeu? Então a gente acha que a escola ela tem que
valorizar a cultura, ela tem que reconhecer, entender, reconhecer
e valorizar a cultura, porque a criança quando chega na escola
os valores dela deveriam ser o mais importante, a escola deveria
reconhecer isso, mas a escola é um outro mundo, eu digo que
uma criança tipo a Lalá... (Lalá aparece onde estávamos e fica
um bom tempo atenta, ouvindo a nossa entrevista) Lalá pula
em árvore, corre, come fruta, vê passarinho, ela tem uma série
de conhecimentos, agora quando ela chega dentro da escola...
Primeiro que a escola é um espaço confinado, uma sala confi-
nada, um regime militar e de cárcere privado, você põe a criança
ali, um atrás do outro, não pode falar, não pode se mexer você
está no final da quarta série, falei para a escola: “Vocês têm seus
alunos mortos, de corpo presente, que se mata para passar de
ano e quando ele termina não se lembra mais de nada do que ele
aprendeu.” (Laura, julho de 2013).
14 Ronaldo dos Santos e Daniele Elias foram eleitos pra Diretoria da AMOQC no final de 2018.
Em linhas gerais, compreendemos que é pelo viés da resistên-
cia a uma escola branca, monocultural e homogeneizante que a
luta por uma escola quilombola no Campinho da Independência
ganha corpo e se sustenta, abrindo caminhos e inaugurando outras
possibilidades neste histórico de relação entre escola-comunidade,
ao protagonizar uma experiência outra de construção de educação
e de escola no presente momento.
122
C apítulo I I I
15 Texto dos professores Diogo M. Cirqueira (IEAR/UFF) e Ediléia Carvalho (Novamerica) com Rafael
Atalah (Bolsista de Extensão PROEX, 2018) e Pedro Neves (Bolsista de Extensão PROEXT, 2016-2018)
cumprir os anseios da comunidade por uma educação diferenciada.
Concluiu-se que a escola como um espaço de subjetivação pode
ser um instrumento importante na luta pela defesa dos territórios
quilombolas.
Na oficina “Diferença, Racismo e Práticas Pedagógicas” foi
debatido as problemáticas da diferença e do racismo no espaço
escolar, bem como as probabilidades de mobilização dessas questões
no processo pedagógico. O objetivo foi refletir sobre a necessidade
de se pensar a identidade cultural como um condicionante dos
processos educativos. Assim, pensar a identidade, bem como, as
diferenças, é importante, pois nos leva a pensar sobre as espe-
cificidades e necessidades dos sujeitos e grupos no processo de
ensino-aprendizado. Como ficou explícito no debate, isso não é um
processo simples, mas, marcado por conflitos e contradições – o
que também deve ser incorporado como mobilizador pedagógico.
O debate também permitiu a desconstrução de idealizações de
uma identidade única acerca das comunidades quilombolas. Os
quilombos são diversos, complexos, e para se pensar um currículo
diferenciado, é fundamental ponderar tanto sobre as especificidades
quanto sobre diversidade interna e externa dessas comunidades.
Na terceira oficina – “História e Cultura Afro-Brasileira”, o
objetivo foi debater o sentido dessa História e Cultura Afro-Bra-
sileira e refletir sobre como essa cultura/história tem ressonância
em nossa sociedade e na escola. Um dos princípios norteadores
126
Tradicional
Liberais Tecnicista
Construtivismo Piagetiano
Libertadora
Progressistas Libertária
2.1.1- Ciências17
Epistemologia:
O Ensino de Ciências no Brasil ainda é algo relativamente
131
Concepção da área
Como já mencionado anteriormente, as etapas históricas do
ensino de Ciências são reflexo das concepções de cada época, das
exigências sociais, políticas e econômicas. Existem duas caracte-
rísticas da Ciência: a primeira é que se trata de uma investigação
humana que nunca acaba, e é influenciada pelos pensamentos da
sua época, construindo um conhecimento partilhado e constante-
mente revisto. A segunda é a sua não linearidade e que, apresenta
contradições, pois o desenvolvimento da ciência não foi linear
133
Conceitos Unificadores
Estes conteúdos escolares significativos e bastante úteis nas
séries iniciais do ensino fundamental nos ajudam a superar o
problema da fragmentação, pois superam as áreas específicas
das Ciências Naturais e os chamamos de conceitos unificadores.
São exemplos
Origem da vida Sistemas
Evolução e revolução
Reações químicas
Escala
Regulações e equilíbrio Divisão celular
Escala
Sol, água e ar em movimento
Ocorrem nos
Elementos químicos Processos de transformação
Fotossíntese Ocorre
Consumo
Produção
137
Velocidade Animais
Adaptado de: Prefeitura Municipal de São Paulo. SME. Visão de Área. 1992, pela profª
Nelza Galosse
No primeiro ciclo – durante o 2º, 3º e 4º anos – os conceitos
unificadores que aparecem, vão inserir o aluno no estágio inicial
do processo de aprendizagem na área de Ciências com os conceitos
primários. São eles: Espaço, Tempo, Matéria Viva e Não Viva –
com os quais o aluno começa a perceber a realidade e estabelecer
relações com o mundo externo. O Ensino de Ciências vai desen-
volver essas habilidades e capacidades que serão trabalhadas em
conjunto com a formação da noção de número no educando e no
ensino de leitura e escrita, não sendo esgotados e retornando em
formas mais complexas ao longo do processo de aprendizagem.
Processos de Transformações – este conceito é o que marca o
primeiro ciclo, compreendendo as transformações de um objeto
em estudo no espaço e no tempo, como a diferença da tempera-
tura; forma; tamanho; cor e aspecto, pois todos os objetos estão
em constantes transformações e a investigação científica tem a
função de sistematiza-los, classifica-los e regulariza-los.
Na transição do primeiro para o segundo ciclo temos o
conceito integrador Regularidades e Invariâncias em que as
regularidades potencializam a busca pelas invariâncias, possibili-
tando a busca. Possibilita a busca de comportamento, facilitando
o estudo dos assuntos científicos. Este conceito está presente em
todos os ramos das Ciências Naturais, pois interpretam proces-
sos. Nesta etapa, o educando começa a perceber os ciclos como
sequências de transformações. Os ciclos são uma continuidade
138
Epistemologia:
Segundo Soares (2002), a disciplina Língua Portuguesa tem
sua inclusão tardia no currículo escolar brasileiro, o que só ocorreu
nas últimas décadas do século XIX.
No Brasil colonial, segundo a autora, conviviam o Português,
a Língua Geral (prevalente no cotidiano e provinda de línguas
141
Concepção de Área18:
Segundo Geraldi (1984) fundamentalmente, três concep-
ções de linguagem podem ser apontadas no campo do Ensino
de Português:
18 Baseado e adaptado de: NOBRE, Domingos. “Alfabetização: Revisões e Avanços Sobre o Processo de
Aquisição da Escrita”, trabalho apresentado na 19a Reunião Anual da ANPEd, Caxambu. MG. 1996
possibilitar uma transmissão de informações de um emissor a
um receptor, a linguagem é vista como um lugar de interação
humana. Por meio dela, o sujeito que fala pratica ações que não
conseguiria levar a cabo, a não ser falando; com ela o falante age
sobre o ouvinte, constituindo compromissos e vínculos que não
preexistiam à fala.
Conceitos Unificadores:
Há um relativo consenso no campo dos estudos sobre ensino
de Português de que os objetivos da área são: Ler e escrever com
proficiência e refletir sobre a língua, portanto: ler textos, produzir
textos e refletir linguisticamente sobre a língua e a linguagem, são
também os conceitos integradores da Disciplina, que se confundem
com seus objetivos.
Nos PCNs de Português estes objetivos aparecem como: Eixos.
Nos RCNEInd., os objetivos são:
3.2.1.2- Artes19
Epistemologia:
A história do Ensino de Arte no Brasil inicia-se com os Padres
152
19 Extraído e adaptado de: “Proposta Curricular do Ensino Fundamental II do Colégio Indígena Estadual
Guarani Karai Kuery Renda”, com texto originalmente elaborado pela Profa Elaine Cristina Senemo.
2015.
Com a presença da família imperial portuguesa no Brasil,
inicia-se o ensino formal das Artes com a implantação da Academia
Imperial de Belas Artes em 1816, sob a tutela da Missão Artística
Francesa. Predominava o ensino do exercício do desenho dos
modelos vivos, da estamparia e a produção de retratos, sempre
obedecendo a um conjunto de regras rigorosamente técnicas. O
ingresso ao estudo das artes era permitido somente a uma pequena
elite. Principalmente na década de 1870 o ensino de Arte voltou-se
apenas para a formação de desenhistas.
A Proclamação da República (1889) dá lugar a transformações
sociais, políticas e econômicas no cenário brasileiro e a educação
passa a ser um campo estratégico de efetivação dessas mudanças aos
olhos dos liberais e dos positivistas. O ensino de arte concentra-se
no desenho como linguagem da técnica e da ciência, valorizadas
como meio de redenção econômica do país e da classe obreira, que
engrossara suas fileiras como recém-libertos. (BARBOSA, 2002c. p. 30).
A partir dos anos 1920 o ensino de Arte foi incluído no cur-
rículo escolar como atividade de apoio a outras disciplinas es-
colares, porém prevaleceu o exercício das cópias. O ano de 1922
tornou-se o marco transformador do ensino de Arte na escola com
a Semana de Arte Moderna que trazia o ideal da livre expressão
preconizado por Mário de Andrade e Anita Malfatti. Esse ideário
transformava a atividade de arte em expressão dos sentimentos
da criança; a arte não precisava ser ensinada, mas expressada
153
Tendências Pedagógicas
O ensino de Arte no Brasil possui três grandes tendências
conceituais, que, didaticamente, classificamos em: (1) Ensino de
Arte Pré-Modernista; (2) Ensino de Arte Modernista; e (3) Ensino
de Arte Pós Modernista ou Pós-Moderno.
Na Tendência Pré-Modernista, encontraremos a concepção
de Ensino da Arte como Técnica; já na Tendência Modernista,
vamos encontrar a concepção de Ensino da Arte como Expres-
são e também como Atividade; e finalmente na Tendência Pós
Modernista, a concepção de ensino da Arte como Conhecimento.
O Ensino de Arte como técnica (Pré-Modernista): A ideia
de ensino de Arte como técnica está ligada à origem do ensino de
Arte no Brasil. Com a presença dos Jesuítas, em 1549, iniciou-se o
ensino de Arte na Educação Brasileira através de processos infor-
mais, caracterizados pelo ensino da Arte em oficinas de artesões.
O objetivo era catequizar os povos da terra nova, utilizando-se,
como um dos instrumentos, o ensino de técnicas artísticas. Na
educação formal, o ensino de Arte tem a sua gênese marcada pela
155
Conceitos Integradores:
Os conteúdos de Arte estão articulados em três eixos norte-
adores de aprendizagem: a produção, a fruição e a reflexão, que
157
Epistemologia:
A Educação Física escolar teve início no Brasil com a Reforma
Couto Ferraz, em 1851, nas escolas da Corte. Em 1882, Rui Barbosa,
um dos patronos da Educação Física, defendeu a obrigatoriedade
da disciplina nas instituições de ensino. Entretanto, somente a
partir de 1920 que alguns estados incluíram-na em suas reformas
educacionais, com o nome de Ginástica.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) indicam que a
disciplina sofre ao longo do tempo influências de diferentes cor-
rentes de pensamento filosófico, tendências políticas, científicas
e pedagógicas. Como explica Darido (2001, p. 7): “Os conteúdos
escolares não existiam na sua forma atual, eles têm um caráter
histórico, eles vão sendo elaborados e reelaborados conforme as
necessidades de cada época e dos interesses sociais vigentes”.
E, como nos aponta o estudo de Reorientação Curricular da
Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (1992), os interes-
ses da época eram totalmente relacionados ao tema do cuidado
físico com o corpo:
O final dos anos 70 e início dos anos 80 trazem à cena uma outra
concepção de corpo: a de corpo objeto. Esse é o momento no qual
podemos apreender o corpo, apropriado por um sistema que o
torna “coisa” e o transforma assim através de diferentes práticas
corporais, esportivas ou não, em elemento fomentador de toda
uma “indústria corporal”. O corpo é consumido em modelos,
em formas de movimentar-se, em adereços. O corpo objeto é
consumo, é venda, é lucro. (p. 13)
Conceitos Integradores:
I. Reflexão sobre o Movimento / Teoria dos Esportes e Jo-
gos: Ter consciência do corpo não passa apenas pela percepção de
aspectos anatômicos, biomecânicos, fisiológicos ou biológicos, o
que a define, essencialmente, é a sua compreensão a respeito dos
signos tatuados em nosso corpo pelos aspectos sócio-culturais de
momentos históricos determinados. (SME-SP, 1992, p. 12)
166
Epistemologia:
A história do Ensino da Matemática é um elemento funda-
mental para se compreender e analisar como teorias e práticas da
área foram criadas, desenvolvidas e utilizadas ao longo dos tempos.
Conceitos Unificadores:
Os conceitos unificadores dão pistas para se estabelecer novos
critérios de seleção e ordenação sequencial dos conteúdos de Ma-
temática que sejam essenciais para a compreensão e organização
da área/disciplina. Os conceitos unificadores aparecem ao longo
da vida escolar se complexificando à medida que o aluno avança
177
Epistemologia:
A História passou a existir como disciplina escolar no Brasil
com a criação do Colégio Pedro II em 1837. No mesmo ano, foi
criado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), que
instituiu a História como disciplina acadêmica. Alguns professo-
res do Colégio Pedro II faziam parte do IHGB e construíram os
programas escolares, os manuais didáticos e as orientações dos
conteúdos que seriam ensinados. (SEE-PR, 2009)
Essas produções foram elaboradas sob influência da Histó-
ria metódica e do positivismo, caracterizadas, em linhas gerais,
por uma racionalidade histórica orientada pela linearidade dos
fatos, pelo uso restrito dos documentos oficiais como fonte e
verdade histórica e, por fim, pela perspectiva da valorização
política dos heróis.
A narrativa histórica produzida justificava o modelo de nação
brasileira, vista como extensão da História da Europa Ociden-
tal. Propunha uma nacionalidade expressa na síntese das raças
branca, indígena e negra, com o predomínio da ideologia do
branqueamento. Nesse modelo conservador de sociedade, o cur-
rículo oficial de História tinha como objetivo legitimar os valores
aristocráticos, no qual o processo histórico conduzido por líderes
excluía a possibilidade das pessoas comuns serem entendidas
179
Tendências Historiográficas25
I- Nova História
A Nova História surge nos anos de 1960, influenciada pelos
acontecimentos de maio de 1968 em Paris, da Primavera de Praga,
dos movimentos feministas, pelas lutas contra as desigualdades
raciais nos Estados Unidos da América, entre outros. Jacques Le
Goff (1970) torna-se um marco no pensamento historiográfico,
trazendo novas abordagens, novos problemas e novos objetos.
A noção de mentalidades se referia aos modos de pensar e
de se comportar dos sujeitos em determinadas épocas e locais.
182
25 Extraído e adaptado de: “Diretrizes Curriculares da Educação Básica – História”. SEED-PR. 2008
historiadores problematizavam e seriavam um conjunto imenso
de documentos produzidos por uma sociedade num período de
longa duração.
A partir desta seriação, os historiadores decifravam e anali-
savam as grandes estruturas sociais, econômicas ou culturais e as
suas respectivas relações e transformações, construindo, assim,
grandes contextos espaço-temporais para a demarcação de seus
múltiplos objetos. Dentre esses objetos podem ser incluídas ins-
tituições como a família, as profissões, fenômenos como a morte,
os sentimentos, os imaginários, organizações sociais como vilas,
cidades e regiões. Para abordá-los, os historiadores seriavam novos
conjuntos de documentos como objetos arqueológicos, imagens,
registros oficiais e não-oficiais, tabelas, gráficos, registros orais
entre outros.
Uma contribuição para o pensamento histórico moderno foi
a abertura para novos problemas, novas perspectivas teóricas e
novos objetos desenvolvidos a partir das propostas historiográficas
das gerações anteriores dos Annales. Outra foi a contraposição
à uma racionalidade histórica linear com a introdução de novas
temporalidades ligadas às durações (curtas, médias e longas) e
à valorização das estruturas que determinam a ação humana
e suas relações, bem como suas transformações. Isso permitiu
a construção de contextos espaço- temporais que delimitam os
objetos de estudo abordados sem levar em conta uma linha do
183
Conceitos Unificadores
Segundo Bittencourt (1994), há algumas noções básicas no
ensino de História, que devem ser consideradas em suas dimensões
mais amplas e perpassar os vários temas, enfoques e abordagens
históricos, como: Tempo e Espaço; e Identidade e Diferença – que
aqui chamamos de Conceitos Unificadores ou Integradores e in-
cluímos Temporalidades; Relações de Trabalho, Poder e Cultura
e finalmente, Memória.
I) Tempo e Espaço
A noção de tempo, base do ensino de História e que segundo
Bittencourt (1994), não pode ser concebida separadamente da noção
de Espaço, tem que ser enfrentada em toda a sua complexidade, pois
194
qual, por sua vez, remete aos movimentos mais lentos da história,
à estrutura. (p. 83).
Há que se tomar cuidado em não se reduzir o episódio ao
conjuntural e este ao estrutural. O episódio tem sua particula-
ridade, sua singularidade, porém não se resume a ela, trazendo
também indiretamente, as dimensões conjuntural e estrutural.
Davies (2001) aponta que aqui reside uma das maiores dificuldades
no tratamento dos conteúdos de História: como compatibilizar o
episódio com a conjuntura e a estrutura sem diluir qualquer uma
destas temporalidades? E afirma:
199
Quadro 4: Mapa Conceitual dos Conceitos Unificadores de História
Fato histórico
Sujeito histórico
Memória
Tempo histórico
Narrativa histórica
Temporalidades
26 Texto do Prof. Lício Monteiro (IEAR/UFF), com contribuições de Rodrigo Cascabulho (Bolsista
PROEXT – Licenciatura Geografia).
pulação através de trabalhos de campo, levantamentos estatísticos
e produção cartográfica que vieram a incrementar os conteúdos
escolares, muitas vezes com cursos promovidos pelo próprio IBGE
para professores. Por fim, em 1934 foi fundada a Associação dos
Geógrafos Brasileiros (AGB), que vem a completar a instituciona-
lidade adquirida pela Geografia nos anos 1930.
A Geografia brasileira acompanhou a partir de então os
desdobramentos da Geografia nos centros tradicionais da difusão
acadêmica, como a França, a Alemanha, a Inglaterra e os EUA, mas
com as peculiaridades próprias ao panorama intelectual nacional. A
evolução da geografia acadêmica seguiu as demandas de formação
de professores para as escolas, dentro de um sistema de ensino que
se nacionalizou a partir dos anos 1930, num país extremamente
diverso e que se pretendia unificado e coeso, com uma demanda
enorme de crianças e jovens pela entrada nos diferentes níveis de
ensino, o que se cumpriu em ritmo bem lento ao longo do século
XX. Outra importante aplicação do conhecimento geográfico foi
no planejamento e na gestão estatal, nos quais o saber técnico
dos geógrafos contribuíram para o reconhecimento, a produção
e a reprodução de uma imagem do país, de seu território e de sua
natureza. Entre os anos 1930 e os anos 1970, a visão predominante
dentro da geografia foi marcada pela construção dos quadros
regionais estabelecidos pelas características da geografia física
de cada região e lugar, identificada pelas paisagens e pelas classi-
202
211
Quadro 5 – Exemplo de um bloco do questionário
14) Quais são os jogos e brincadeiras juriá que você mais pratica?
Bracuhy Paraty
Futebol 18 11 Corrida
Esconde-esconde
Quemada 5 2
Pique pega
Basquete 2 Handball
Vôlei 3 Vídeo game
Vôlei
Vídeo game 2 1
Basquete
Handball 1 Queimado
Pique pega 1 Futebol
0 5 10 15 20
Esconde-esconde 1
Corrida 1 Paraty Bracuhy
das escolas.
27 Texto dos professores Diogo M. Cirqueira (IEAR/UFF) e Ediléia Carvalho (PUC-RJ) com Rafael Atalah
(Bolsista de Extensão PROEX) e Pedro Neves (Bolsista de Extensão PROEXT)
28 FOFA – Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças. Técnica de diagnóstico participativo
popular, muito difundida na Educação Popular, na EJA e em projetos sociais que demandam
Planejamento Estratégico.
Nas duas primeiras oficinas, buscou-se compreender e discutir
a história e o território dos quilombos do Campinho e do Cabral.
No primeiro encontro foram realizadas reflexões sobre as ideias de
tempo e história como construções humanas e instâncias passíveis
de transformação e ressignificação. Nesse sentido, as histórias dos
quilombos não estão prontas e acabadas, além disso, qualquer
modificação subjetiva no presente altera a forma de se conceber
e significar o passado dessas comunidades. Como produto dessa
oficina, foram construídas linhas do tempo que articulavam a
história dos quilombos do Campinho e do Cabral com as histórias
municipal, estadual e nacional. O objetivo foi demonstrar que a
história das comunidades estava ligada (afetando e sendo afetada)
a outras escalas da produção histórica.
214
Quadro 6: Linha do Tempo das Escolas dos Quilombos
Bernada
Fonte: Relatório de Formação Continuada de Profs. do 1º ao 5º ano Quilombola. 2018
No segundo encontro foi realizado uma Oficina de Carto-
grafia Social com professores e comunidade escolar. Tal oficina
primeiramente buscou constatar os aspectos estruturais e simbó-
licos do território: os lugares importantes, os núcleos, os locais de
trabalho e lazer, os caminhos etc. Posteriormente foi mapeado as
localidades de residência dos alunos e a trajetória realizada por
eles até as escolas. Os produtos dessas oficinas foram: a confecção
de croquis dos territórios quilombolas e mapas com a localização
216
Croquis produzidos pelas professoras/es sobre as escolas nos territórios do Quilombo do
Cabral e do Campinho respectivamente. Registro: Cirqueira, D. M., 2017.
Fortalezas
Professores eficientes/ Espaço muito rico para Muita famílias estão atentas
atenciosos aproveitar à educação em casa
Confiança na relação
Escola no território Participação dos pais mães/pais-professores
Luta da comunidade
Restaurante do quilombo Resistência da comunidade
pela escola
Oportunidades
Mai educação (capoeira
O TBC
e outro)
Fraquezas
Ausência de 2º Não informação dos pais
Baixos salários
segmento sobre a sala de estudo dirigido
Não aceitar orientações Falta de discussão e socialização
Falta do EJA na escola
de professores do calendário escolar
Falta de equipe
A rodovia Evasão escolar no Campinho
multidisciplinar
Falta de uma Falta de mais inspetores
biblioteca de alunos
Ameaças
Mudanças de leis que, Turistas que querem morar na
imponham conteúdos polêmicos comunidade (sem ligação)
Falta de acompanhamento
As drogas
no ônibus na BR
Sair da comunidade para Violência de facções nos
estudar na cidade bairros
Defasagem de
A rodovia
aprendizagem
Fortalezas
Oferta de aula no turno Boa qualidade da merenda Atuação da madrinha da
da manhã escolar escola “Escola de comer”
Boa presença na Abertura da comunidade para Presença dos pais na escola,
reunião de pais ouvir a escola quando solicitados
Permanência do Bom vínculo com a
Boa frequência dos alunos
professor na escola merendeira
Existência de um posto Escola dentro da
de saúde na escola comunidade
Oportunidades
Realização de dois turnos Possibilidade de trabalhar na
na escola comunidade, no Alambique
220
Ameaças
221
3.4- IV Etapa – Elaboração da Rede Temática
A Rede Temática se mantém por uns dois anos, até que novo diag-
nóstico sócio cultural se imponha. Ao realizar novo Diagnóstico,
uma nova Rede será construída, servindo de base pra elaboração
de novos Projetos Pedagógicos/Pesquisas. (NOBRE, 2016b, p. 10)
· Identificar valores
· Identificar valores transmitidos transmitidos pela família e as
pela família e as influências influências contemporâneas
contemporâneas de sua de sua vivência
vivência
· Refletir criticamente sobre
· Refletir criticamente sobre os limites da liberdade a
os limites da liberdade a autonomia
autonomia
229
(MOREIRA, 1998, p. 1)
31 David Paul Ausubel foi o criador do conceito de aprendizagem significativa. Nasceu em Nova Iorque
em 1918 e graduou-se em Psicologia e Medicina. Nos últimos anos de vida dedicou-se a escrever
sobre Psicologia Educacional: uma visão cognitiva. Faleceu em 2008. (MOREIRA, 1997)
é a aprendizagem significativa, que em definição, “(...) é o processo
através do qual uma nova informação (um novo conhecimento
se relaciona de maneira não arbitrária e substantiva (não-literal)
à estrutura cognitiva32 do aprendiz”. (MOREIRA et al., 1997, p. 1).
Ou seja, a aprendizagem é significativa quando o novo conheci-
mento passa a significar algo para o aprendiz e ele é incorporado
(ancorado) à aspectos relevantes da estrutura cognitiva do aluno,
interagindo com o conhecimento prévio que este possui.
Os conhecimentos preexistentes na estrutura cognitiva do
indivíduo, que servem de ancoragem para novas informações, é
chamado por Ausubel de “subsunçores”. O processo é dinâmico,
pois na medida em que essa interação cognitiva ocorre, entre o
novo conhecimento e o já existente, ambos se modificam. “(...)
os subsunçores vão adquirindo novos significados, se tornando
mais diferenciados, mais estáveis (...). A estrutura cognitiva está
constantemente se reestruturando durante a aprendizagem sig-
nificativa”. (MOREIRA, 1998, p. 5)
Existem três formas de aprendizagem significativa, segundo
Moreira (2013). A forma mais comum é a aprendizagem significativa
subordinada. O novo conhecimento se ancora nos conhecimentos
existentes. Na aprendizagem significativa superordenada há uma
reorganização cognitiva, de modo que um conhecimento passa a
ser hierarquicamente superior a outro. Por fim na aprendizagem
significativa combinatória o novo conhecimento exigirá um con-
231
235
33 São professores não indígenas que assumiram em 2015 a implantação do Segundo Segmento de
Ensino Fundamental (6º/9º Ano Guarani).
34 Professores da Zona Costeira de Paraty, que assumiram em 2016 a implantação do Segundo
Segmento do Ensino Fundamental
Os dois primeiros mapas que apresentaremos a seguir, foram
elaborados pela professora não indígena do 6º ao 9º Ano Guarani,
do Colégio Indígena Estadual Guarani Karai Kuery Renda, da
Aldeia Sapukai, em Angra dos Reis e pela professora das Escolas
Municipais Martin de Sá, na Praia do Sono e Cajaíba, na Praia
do Pouso da Cajaíba, na Zona Costeira de Paraty.
O primeiro mapa (Quadro 15) faz referência aos Conceitos
Integradores da área da Geografia, que são os conceitos mais
inclusivos: Lugar – Território – Espaço Geográfico – Paisagem.
238
Quadro 15 – Mapa Conceitual dos Conceitos Integradores da área
de Geografia
239
Autora: Profa Ana Carla, do Colégio Indígena Estadual Guarani Karai Kuery Renda: 2015
Observamos no mapa que a professora Ana Carla fez uma
associação dos Conceitos Integradores: o conceito de Lugar
está associado diretamente ao conceito de Território; este por
sua vez está associado aos conceitos de Espaço Geográfico e
Paisagem; e o conceito de Espaço Geográfico é composto pelo
conceito de Paisagem.
O Conceito Integrador de Lugar expressa uma realidade de
escala local ou regional, sendo entendido como um espaço onde
se estabelecem as relações sociais e de afetividade com o ambiente.
(LISBOA, 2002). Observamos no mapa conceitual que o conceito
de lugar está relacionado ao da Identidade, pois cada localidade
possui características próprias, ou seja, com identidade própria,
produzindo assim uma Cultura.
As relações sociais podem ser complementares e conflitantes,
estando associadas as relações de poder. Isto pode ser identificado
no mapa conceitual quando a professora associa o conceito de
Lugar com o Conceito Integrador de Território, que é entendido
por relações de poder de um determinado agente, de apropriação.
De acordo com Lisboa o Conceito Integrador de Espaço Ge-
ográfico é resultado da ação humana e “(...) o mais abrangente,
apresentando-se como ‘um todo’ do qual derivam os demais con-
ceitos e com o qual eles se relacionam”. (2002, p. 26). Sendo assim,
o Conceito Integrador de Paisagem está relacionado a tudo que a
percepção humana pode perceber e apreender da realidade desse
240
241
Autora: Professora Iaci Sagnore das Escolas Municipais Pouso da Cajaíba (Praia do
Pouso da Cajaíba) e Martins de Sá (Praia do Sono), em Paraty: 2016
Os três conceitos que estão localizados em cima, dentro dos
círculos, são os conceitos integradores da Língua Portuguesa, os
conceitos que estão dentro do retângulo, à esquerda, são as ativida-
des que serão realizadas ao longo do projeto, e os conceitos à direita
são os conteúdos que serão trabalhados a partir destas atividades.
Os Conceitos Integradores de Apreciação Leitura/Escrita e
Produção Leitura/Escrita, na concepção da professora Iaci, per-
mitem que se trabalhe os diferentes Modelos de Gênero Textual.
Dentro do conceito Reflexão Linguística é possível estudar a Gramá-
tica Normativa, que prescreve as normas da língua, padronizando
a mesma, e sendo composta pela Ortografia, Sintaxe e Morfologia.
Este conceito permite também estudar a Tipologia Textual, que é
a forma como um texto se apresenta, ou seja, como os textos são
classificados quanto às suas estruturas textuais. Segundo a pro-
fessora Iaci, a tipologia textual é composta por textos: Injuntivo,
Argumentativo, Descritivo e Narrativo. (Poderia ser – Gêneros
de Discurso: Discursos Literário, Científico, Jurídico, Religioso,
Político, etc e diferentes tipos de textos de cada gênero discursivo).
Quando um professor é capaz de criar um mapa conceitual
do projeto, ele consegue ter uma visualização completa a partir
dos conceitos e das relações entre esses conceitos, de tudo que foi
trabalhado no projeto e consegue relacionar os conteúdos progra-
máticos com os conceitos integradores da sua área.
Concluímos que a técnica de utilização dos Mapas Conceituais
242
2 DESENVOLVIMENTO
· Elaboração do auto retrato
· Pinturas
· Vídeo
Poema do M. Quintana
– Produção artística
– Produção textual
– Debate sobre a produ-
ção (sistematização)
– árvore Genealógica
245
246
247
248
249
250
251
252
253
254
255
256
257
258
3.8- Um currículo em permanente construção
261
C apítulo I V
Implicações político-pedagógicas de um
movimento de reorientação curricular no
enfrentamento ao neoliberalismo na educação
A experiência de construção curricular aqui sistematizada
reveste-se de uma adicional importância nesse momento histórico
de crises, ilegalidades e retrocessos no campo dos direitos sociais
básicos que atravessamos.
Nesse sentido, a sistematização da metodologia que vem
sendo experimentada, aponta pra algumas implicações políticas,
epistemológicas e pedagógicas do trabalho.
São implicações políticas, o fato de a proposta inserir-se
num movimento de reorientação curricular de base progressista
articulado a um programa de formação continuada de professores,
o que, portanto, indica uma política de formação de professores e
um planejamento educacional voltado pra mudanças curriculares
que estimulam a autonomia pedagógica dos professores.
Tal perspectiva vai de encontro à tendência neoliberal he-
gemônica estimulada pelo MEC hoje, que propõe a BNCC – Base
Nacional Curricular Comum, as avaliações externas, os rankings
entre as escolas, o sistema de premiação meritocrático, etc., ou
263
CASTRO, Iná Elias de. Das dificuldades de pensar a escala numa pers-
pectiva geográfica dos fenômenos. In: Colóquio “O discurso geográfico
na aurora do século XXI ”. Florianópolis: UFSC, 1996.
, Iná Elias de; GOMES, Paulo César da Costa & CORRÊA, Roberto.
Geografia conceitos e temas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996.
CAVELLUCCI, Lia Cristina Barata. Mapas conceituais: uma breve revisão.
Brasília: MEC, 2009.
CHIODI, Francesco. Los problemas de la educación bilíngüe intercultural
en el área de lenguaje. In: KUPER, Wolfgang. (Comp.). Pedagogia
intercultural bilíngüe. Fundamentos de la educación bilíngüe. Quito:
Abya-Yala, 1993.
COLETIVO DE APOIO À EDUCAÇÃO DIFERENCIADA do FCT – Fórum de
Comunidades Tradicionais. A Educação escolar das comunidades
tradicionais de Paraty. Um Balanço de 2 anos do Plano Municipal
de Educação. (2015-2017). Paraty. 2018
CUNHA, Luiz Antônio. Educação, estado e democracia no Brasil. São
Paulo: Cortez, 2009.
DARIDO, Suraya Cristina. Diferentes concepções sobre o papel da Edu-
cação Física na escola. In: Universidade Estadual Paulista. Prograd.
Caderno de formação: formação de professores didática geral. São
Paulo: Cultura Acadêmica, 2012. p. 34-50, v. 16. Disponível em:
<https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/41556/1/Ca-
derno_blc2_vol6.pdf>
, Os conteúdos da educação física escolar: influências, tendên-
cias, dificuldades e possibilidades. Perspectivas em educação física
escolar. V. 2, n. 1, p. 5-25, Niterói, 2001.
D‘AMBRÓSIO, Ubiratan. Educação matemática: da teoria à prática. Cam-
pinas: Papirus, 1996.
, Ubiratan. Etnomatemática: arte ou técnica de explicar e
conhecer. 4ª ed. São Paulo: Ática, 1998.
D’ANGELIS, Wilmar. Educação escolar indígena: um projeto étnico ou
um projeto étnico-político? In: VEIGA, Juracilda; SALANOVA, Andrés
P. (Orgs.). Questões de educação escolar indígena: da formação do
professor ao projeto de escola. Campinas/Brasília: ALB/Dedoc-Funai,
pp. 35-56, 2001.
, Kaingáng: questões de língua e identidade. In: LIA MES, no
2, p. 105-128, 2002.