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Urbanização Turistica

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ASOCIACIN CA NARIA DE ANTROPOLOG A

Prepublicacin de GUIZE nmero 4

URBANIZAO TURSTICA UM NOVO NEXO ENTRE O LUGAR E O MUNDO * Maria Tereza D.P. Luchiari* Analisar a atividade tu rstica como um dos setores mais emergentes da economia mundial c o n tempornea demasiadamente genrico. H tantas formas de turismo como possibilidades d e an lise dest a atividad e. Refinar a a nlise sociolgica e g eogrfica d e uma da s expresses mais marcantes deste fenmeno na atualidade - a urbanizao tur stica - um desafio a ser enfrentado. Primeiramente podemos considerar as contrad ies mais visveis desta atividade que desponta com ndices elevados de crescimento no contexto e c o nmico mundial, mas que tambm desencad eia processos de degradao ambiental, com a destruio de importantes ecossi stemas natur ais. O turismo coloca-se, muitas vezes, como nica possibilidade de desenvo lvimento econmico para um lug ar, um a cida de, um a regi o... e muita s vezes t ambm submet e as populaes locais a uma o rdem extern a, de sarticu land o cultur as tradicion ais, como o caso da maio ria d as nossa s comu nida des lito rne as. uma atividad e que no depend e mais exclusivamente da vocao natur al da regi o, pois pode ser construda artificialmente pelo poder econmico e poltico atravs da criao de parques tem ticos, de uma natureza artificial, de uma autenticidade histrica reinventada para saborearmos costum es, hbitos e tradies sociais que foram perdidas na corrida frentica dos lugares para obter um papel no processo de globalizao contem porneo. Deste modo, podemos acompanha r o ressurgimento das casas de farinha dos caiaras do litoral norte paulista, de prticas artesanais de grupos indgenas, de festas tradicionais, de comidas tpicas, de mulheres girafas da Tailndia. No impo rta se a fun o socia l de d eterm inad as fo rmas e prtica s no a m esma. O turismo reinventa e cria novas funes, recupera antigas prticas e bens culturais atravs do folclore, e monta atraes tursticas para a regio. Podemos perguntar: Este processo legtimo? tico? No possvel responder rapidamente. Assim como no possvel analisar, ao mesmo tem po, todos os aspectos desta atividade. O que se prope aqui, respeitando algumas prov ncias do saber, como a sociologia e a geografia, tomar a atividade turstica considerando-a, hoje, um dos vetores mais importantes para associar o mun do ao luga r, o global ao local. Por isto, antes de abordarmos o processo de urbanizao tur stica, importante situar a an lise do ponto de vista deste bin m io global-local. A globalizao , hoje, parece ser um conceito evidente e inevitvel. Ela est presente nos discursos sobre a economi a, s o b re a cultura , no sen so comum, na academia, no atacado e no varejo de no ssas prticas sociais cotidianas. H alguns anos atr s, dizia-se que a glo baliza o iria d estruir as diferenas locais, homogeneizando o espao e a sociedade. Hoje, o debate no se coloca mais nestes termo s . Tanto as peculiaridades locais, os locali smos, os regionalismos emergiram deste global, quanto a prpria globa lizao econm ica passou a valorizar as diferenciaes do s lugares, fazendo desta diferenciao um atrativ o para o capital.

A primeira verso deste texto foi apresentada no II Encontro Nacional de Turismo com Base Local (Fortaleza/CE, 1998), e publicada nos Anais do mesmo congresso. * Ge grafa, pro fessora do Instituto de Geocincias (IG), e do Curso de Graduao em Cincias da Terra da Universidade de Campinas (Unicamp).

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E o local, o lugar, o que ? o resultado de um feixe de relaes que soma as particularidades (poltic as, e co n micas, sociais, culturais, ambientais...) s demandas do global que o atra vessa. An tes d a atual fase de desenvolvimento tecnolgico alguns lugares e regies ainda podia m manter-se isolados, e suas populaes limitar a percepo do espao social que le necessrio a pr pria r eprod uo. Atual men te, os im perativos de uma ordem internacional c o l o cam-se como uma refern cia inevitvel. que hoje uma nova janela perceptiva a briu-se par a os homens e, pela primeira vez na histria da humanidade, como nos lembra M ilton Santo s (1996), ns vivemos uma universa lidade em prica. O mundo t o d o po d e nos servir como referncia ao ligarm os, em casa, o computador na internet. Isto para citar um e x em plo banal, mas podemos pensar tamb m n os fluxo s turstico s, que ca rrega m os lug ares p ara todos os lugares. Conduzidos pela urbanizao tur stica os lugares entram rapidamente no fluxo de in forma es, bens e pessoas, e inserem-se no m ovimento global. Ainda caberia outra distino im portante entre o global e o local. Se pensarmos no espao, no conceito mesmo, como uma abstrao (j que no abarcamos o espao c o m o um t o d o, apenas temos uma perc e p o d ele), vemos que ele s se realiza, s se torna concreto atravs das prticas sociais que erg uem a s paisag ens, est a b e le c em as relaes de poder entre os territrios, os limites poltic os, econmicos e naturais das regies, e constrem a identidade vivida cotidianamente nos lugares. E justamente a diversidade de lugares, regies, paisagens, territrios em sua dinmica, i m pulsionada pelas demandas sociais, que proporciona uma realidade global fragmentada e articulada, pulverizada de particularismos e singularidades em conexo com o geral. O lugar recebe deter mina es ext erna s e as com bina s nar rativa s locais. Assim, a gestao de um a nova configurao scio-espacial p r e nhe do mundo e do lugar. O lugar supe o mundo que no primeiro se manifesta, pondo em movimento uma conexo dialtica. Alguns processos contemporneos possuem um papel fund amenta l nesta articulao entre os lugares e o mundo. Um destes processos, e o que mais nos inte ressa aqui, aquele relacionado atividade turstica, fenmeno complexo que envolve outro s fenm enos so ciais, cul turais e econmicos da sociedade contempornea. Escolhen do uma expresso deste fen meno, a urbanizao turstica, possvel analisar o importante papel desta ati v i d ade na conexo do lugar com o mundo. Se a co n cluso mais fcil nos leva constatao de que o processo de produo de lugares para o consumo acaba por consumir e degradar os prprios lugares; numa outra perspectiva podemos consid erar q ue esta s n o vas paisagens da urbanizao turstica representam tambm as formas conte mpor nea s de espa cializ ao social, por meio das quais estamos construindo novas form as de so ciabili dad e, ma is hbri das e m ais flex veis. As cidad es turst i ca s representam uma n ova e extraordin ria forma de urba nizao, porque elas so or ganiz ada s no para a pr oduo, como o foram as cidades industriais, mas para o consumo de bens, servios e paisagens. Enquanto - desde a Revoluo Urbana - as cidades eram construdas para a produo e para as necessidades bsicas, estas cidades erguem-se u n ic a m ente voltadas para o consumo e para o lazer. Este um dos motivos que levou algun s autor es a considerarem as cidades tursticas como um exemplo expressivo de cidade ps-moder na (M ullins, 1991). A urbanizao tur stica coloca as cidades no m ercado de pa is age ns naturais e artific iais. Algumas cidades chegam a redefinir toda sua vida econ mica em funo do desenvolvimento turstico, reorganizando-se para produzir paisagens atrativas para o consumo e para o lazer. Assim, estabelece-se uma relao entre antig as paisa gens e ve lhos uso s e nova s form as e fun es. E este movimento entre o velho e o novo impulsiona a rela o do lugar com o m undo que o atravessa com novos costumes, h bitos, maneir as de falar, m ercador ias, modo s de agir...A ssim,

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tambm a identidade do lugar constantemente re c r ia d a, produzindo um espao social hbrido, onde o ve lho e o novo fundem-se d ando lug ar a uma nova orga nizao scio-espacial. Este movimen to entre o velh o e o novo, a celerado pe la urbanizao turstica, ge ra novas paisag ens, consome outras, trs cena novos sujeitos socia is, elimi na ou mar ginal iza o utros e redesenha as formas de apropriao do espao urbano, substituindo antigos usos e elegendo novas paisagens a serem valorizadas para o lazer. A criao destrutiva da urbaniza o turstica desafia a todo instante a sobrevivncia de antigas paisagens e a resistncia do lugar. O turismo pode reproduzir a natureza, a cultura e a autenticidade de prticas sociais. Mas o que d senti do a o con sumo d estes simulacros a subjetividade d o indivduo e dos grupos sociais que passa m a v a l o r i z ar a prpria reproduo. No assim que a Disney conquista a cada ano legies de consumidores frenticos e vorazes? No isso que ocorre com a reproduo de parque s tem ticos? O turismo alimenta a repr oduo de pseudo-acontecimentos , hiper-realidades, ou simulacros ( MacCa nnell, 1976; Krippendorf, 1989; Featherstone, 1995; Urry, 1996). O turismo de mass a in d uz a produo de atraes inventadas que valorizam mais a tcnica da reproduo do que a prpria autenticidade. Estes turistas, protegem-se do es tranhamento do lugar ficando circunscritos em uma bolha ambiental 1 : guias, monitores, hotis, ambientes climati zados, enclaves urbanos... A liberdade destes turistas condicionada pelos pontos tursticos que eles devem visitar, em total segurana. Para Mac Cann ell, os turistas buscam a autenticidade e a experincia com o sagrado que est sempre em outro lugar e em outro tempo. Enquanto Boorstin afirma que a busca pelo inautntico inerente ao indivduo contemporneo, MacCannell considera que a autenticidade encenada construda pelas relaes sociais do turismo. Em torno da qualificao da experincia turstica contemporne a alguns autores vo associ-la aos rit uais d e passagem, analisados por Turner 2 , em relao aos peregrinos. Urry (199 6:26 ) sintetiz a a a nlise de Tu rner q ue, par a algu ns auto res, apr oxim a os per egrin os dos t uristas: Importantes rites de passage esto presentes no movimento de um estgio para outro. Esses estgios so trs: o prim eiro deles a separao social e espacial do lugar normal de residncia e dos laos sociais convencionais; o se gundo a liminaridade, onde o indivduo encontra-se em uma antiestrutura... fora do lugar e do tem po - os laos convencionais so suspensos, vivenciada uma communitas, na qual as li g a es so intensas e ocorre uma experincia direta do sagrado e do sobren atural; o terceir o a reintegrao, em que o indivduo reintegrado ao grupo social anterior, habitualmente em um status social mais elevado Ortiz (1997:25-26), ao explorar o significado da viagem, do viajante e d a cultura popular, parte de uma afirmao inicial: a vi a g em u m deslocamento no espao. Este deslocamento, ao situa r o via jante e m um territ rio fluid o entr e dois p onto s - a partida e o regresso , assemelha-se a um rito de passagem. A co ndio de limin aridade est presente no te mp o, e no espao - ou no lugar onde o viajante se defrontar com outros territrios, c om vitalidad es culturais diver sas.
1

Esta concep o foi desenvolvida po r Boorstin (1 964) em The Image: a gu ide to pseu do-events in A merica , New York, Harper, e retomada po r vrios autores. O exemplo mais utilizado para exemplificar a imagem de uma bolha ambiental, ou do turismo em guetos, a do Clube Mditerrane (Krippendorf, 1989:73-74), idealizado como um paraso turstico isolado do meio. 2 Ver especialmente The center out there: pilgrims goal in History of Religion, 12:191:230 e The Ritual Process, Harmondsworth, Penguin, 1974.

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Porm, ao considerar que o mun do se d esterrit orial izou, q ue as fro nteira s se desintegraram em uma srie de fluxos que pem em comunicao todos os lugares, e que os lugares da modernidade-mun d o so compostos por paisagens similares, Ortiz (1997 :39) recua: o viajante moderno viaja sem sai r do lu gar, p ois o ou tro la do p arte in tegra nte d o ima ginr io da queles qu e se locomovem. Neste caso, o rito de passagem perderia sua substncia. Esta anlise assemelha-se a de Urry (1996:181), para quem o olhar turista foi universalizado na cultura contempor nea, e passou a ser considerado um a postura, um modo de ver o mund o. Mas, pa rte esta semelha na, Urry va i em outra d ireo. Para Urry o (ps)turista na cultura (ps)moder na no um viajante no tempo, nem um colecionador de autenticidades cultura is; um realista irresoluto, um intruso consciente e, antes de ser um viajante, um consumidor exigente. Para ele, incorreto considerar que a busca de autenticidade seja a base da o rga n i z a o do turismo. Segundo U rry, o mais importante a diferenciao entre a pr tica cotidiana no mundo do trabalho e a prtica, at certo ponto, livre de normas, do lugar do turismo. No a busca do sagrado, da autenticidade ou do lugar diferente que transforma o olhar do cidado comum em olhar turista. esta diviso binria bsica entre o cotidiano/ordinrio e o anticodidiano/extraordinrio. Nesta m e s m a direo, Krippendorf (1989:62) atribui ao desejo de evaso da vida cotidiana um papel muito ma is imperativo da mobilidade contempornea do turismo do que ao intere sse por d iferen tes regi es e popu lae s. O olhar m oderno voltou-se para a s paisagens tursticas valoriz ando nelas o sentido que havia sido perdido no ritmo veloz com o qual passamos pelas paisagens sem v-l as. O cotidiano absorvido no traba lho , n a f a m lia, na s vias exp ressas d as cida des, no s out-d oors, d entro dos ca rros, dos transportes coletivos, da urbe roubo u d e ns o sentido d o olhar que agora olh a e no v. O olhar do turista contemporneo conduziu o imaginrio coletivo a revalorizar a natureza, a cultura e mesmo o simulacro que, queiramos ou no, natureza e cultura construdas socialmente. V i v e m o s n a sociedade da repro duo, valorizan do espetculos e sabores que h muito perderam a autenticidade. Isto nos leva a considerar que, no perodo atual a capacidade tcnica da reprodutibilidade to ou ma is importante que a prpria autenticida de perdid a. Afinal, a identidade dos lugares no a cristalizao de um passado sacralizado. Ela est sempre em constr uo (M assey, 1 995 ), e os luga res esto sempr e eivad os por fl uxos glo bais. As prticas de consumo atuais conjugam o caf expre s so , o fast-food, os equipamentos eletrn icos, as marca s dos carros e as griffes da s roupas aos souvenirs loca is, ao artesana to, aos remanescentes florestais e culturais. Esta a realidade em q u e v i ve m os. Ela hbrida. E a urbanizao tur stica a sua traduo mais completa.

O Turismo de massa e o lugar: de struio ou transformao? At a ascenso d a sociedad e urbana industrial o tem po do tra balho e d o no-t rab alho, ou do trabalho e do cio no eram concebidos como uma ord enao binria da vida. o trabalho assalariado que institui o cio como o no-trabalho e, posteriormente, conquista as frias remuneradas como um tempo de lazer em oposio ao tem p o de trabalho. O capitalismo industrial destroi a ociosidade como norma e institui o trabalh o como va lor universal (Depr est, 1997:1 2). neste perod o que a conce po c ontem por nea d e turism o tom a form a e, ao s pouco s, vai se afastando da esfera restrita das elites para satisfazer a um leque maior de p o p ulao assalariada que, por meio de presses sociais e sindicais, tambm vai conquistando tempo livre. Ou seja, o tempo livre para o turismo das classes populares vai sendo incorporado e admitido no corao do mundo do trabalho.

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A exploso da atividad e turstica est e streitamente associada insatisfao com a vida cotid iana . As cid ades, embe bida s pe lo mundo do traba lho, le vam suas pop ula es mobilidade. Esta mobilidade tem, ento, um carter de evaso, de fuga planejada para o anticotidiano, que se coloca em contrap o sio desum aniza o do lugar de mor adia (K rippendor f, 1986:1 7). O mund o do traba lho fa z com que as pe ssoas ne cessitem das frias para de scansar, e do descanso par a voltar a tr abalha r. A s o c iedad e ocidental naturalizou a compartimentalizao da vida entre trabalho e no-trabalho, obrigao e liberdade, ou seja, uma existncia divid ida que assume a humanizao e a desumanizao como dois atributos de um mesmo projeto. As condies de vida na cidade t o r n o u a viag em um a nor ma, q uase um a coer o, j que tod os so le vado s, embora sem resistncia, esta prtica social. Fazer turismo no c ura a contradio, mas abranda o contnuo processo de desumanizao da vida cotidiana. A racionalidade espaci al das cidades, fruto da revoluo ind ustrial, separou o trabalho, o lazer e a moradia em formas/funes isoladas, articuladas apenas por frias vias de acesso, restrito aos automveis. Se a preocupao com a racionalizao tivesse cedido lugar humanizao, as sociedades no necessitariam fugir para d escansar, caracterstica cada vez mais freqen te aos h abita ntes d os gra ndes c entro s urban os. As frias remuneradas, o desenvolvimento das tecnologias de transporte e a organizao de um mercado ind ustrial da atividade turstica foram fator es fundamentais para a democra tizao do turismo. Primeiramente o tr e m , no final do sculo XIX, depois o a utomvel e, em seguida, o avio deram a sustentao necessria a generalizao do deslocamento. Atualmente, possvel distinguir um turismo de massa e um turismo de elite (ecolgico, cultural, de aventura, cientfico etc.), mas se considerarmos o turismo como um fe nmeno de consumo de massa, as formas alterna tivas no so mais que diversificaes mercadolgica s para garantir um amplo leque d e consumid ores (Deprest, 199 7:18). O termo turismo de massa difundiu-se aps os anos cinqenta, no ps-guerra, com a institucionalizao das frias remuneradas, mas definir uma prtica social como um fenmeno de massa faz o sujeito da ao desaparecer. O turismo de massa apoia-se na concepo de sociedade de massa, concepo advinda da produo em srie de bens materiais. Essa derivao inadequada pois o turismo nun ca restringiu -s e produo de mercadorias, pressupondo sempre o acesso ao intangvel. Para Urry (1996:31), o c o nsumo de m assa, fo rdista , apro xima -se do t urismo de m assa pela padr o n i z a o de seus produtos; enquanto o consumo p s-fordista estaria relacionado a um turismo flexvel, mercantil i z a d o e segmentado, correspondendo, na cultura, a estetizao contempornea do consumo. Logo, a associao estende-se, tambm, a uma srie de bens imateriais, de servios e de rela es. O lugar da a t r a o turstica transforma-se em produto, o tempo da estadia, juntamente aos servios e infra -estrutura, em p acote, e o im aginrio do idea l de lazer em uma me rcadoria produzida pela publicidade. A alienao do trabalho en contra seu p ro longamento na alienao da indstria do turismo. O turista, este sujeito/objeto, aliena-se nas regras de uma estrutura rgida que comanda seus trajetos, seus horrios e seu olhar. Partindo do pressuposto que a relao do turismo de massa com o meio dest rutiva, a indstria turstica controla seus fluxos, fazendo a mediao entre o turista e o lugar. O turista no , ento, livre para estabelecer os seus prprios tempos e os seus itinerrios no meio. Para a economia, a gesto dos fluxos uma mediao necessria, legitimada pela necessidade de preservao. O turismo de massa acusado por vrios autores de ser um destruidor de lu gares. Mult ide s, edificaes, barulho, crime, elementos de um cenrio banal d os destinos tursticos so os responsveis por uma destruio da aura do lugar. Um outro argumento, semelhante a este,

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desen volve-se em torno da idia de um neo -colonialismo, referindo-se rela o primeiro mundo/terceiro mundo, na qual o primeiro impe seus hbitos, necessidades e at perversidades (mercado de drog as, trabalho infantil, prostituio). A transferncia de modelos de urbanizao e de h bi t o s d e consumo em lugares tursticos ainda provincianos, tambm concebida como um a forma de colonialismo. Alguns autores chegam a lembrar que o turismo de massa emerge no perodo de decad ncia do m odelo colo nial, funcionando assim como uma substituio ao antigo modelo (Aisner, P. e Plss, 1983). Contudo, se lembrarmos que os fluxos turismo funcionam como um vetor de tra n s fo r m ao e no a pena s de do mina o d e lugar es provi ncianos, chegaremos concluso de que os lugares tursticos no se asseme lham s prov ncia s co l o ni zadas. A possibilidade da populao local obter autonom ia econmica com a atividade turs tica impe a constatao de que a idia de um neocolonialismo no se sustenta. Por outr o l a do, aqueles que se pem em defesa da preservao das comunidades locais, tradicion ais, incluindo a a man uteno d e uma econ omia d e subsistncia, arcaica, inco r r e m , m a is do que os primeiros, em uma concepo colonialista de distanciamento e exclus o do s grupo s trad iciona is. Uma outra constatao que os excessos do turismo de massa, ou da democratizao do turismo e a conseqente popularizao d os lugares t ursticos, tem vulgarizado os parasos do turismo de elite. Nesta lgica, as elites descobrem e valorizam paisagens pouco humanizadas, mas so segu idas pe los grup os socia is mais p opula res que m acula m tai s santu rios. O olhar turista que v a l o r i za a beleza natural intocada aproxima-se de um tipo de olhar romntico (Urry, 199 6:70-72). Por estar sempre procurando paisagens novas e desconhecidas, fora do circuito comercial do turismo de massa, o olhar romn tico acaba por difundi-las, valorizando-as e colocando-as no mercado. Para estes turistas alternativos, que aventuram-se na natureza selvagem, que tentam ser amistosos com a populao local, e buscam obte r um c o nhecimento distinto da regio, os turista s so os o utros (Kripp endo rf, 19 89:8 5), aq ueles que so co mpa rad os a hordas selvagens, a brbaros irresponsveis e a massa em contnua ebulio. Os modelos de evoluo dos lugares tursticos, generalizados na dcada de 1980, reproduzem esta lgica de descoberta/explorao3 /destruio, conferindo aos aventureiros e s elites o primeiro pr ocesso, e ao turismo de massa o s dois lti m o s . A de s co b erta e a inveno - termo muito utilizado nas anlises tursticas -, no possuem o mesmo significado, mas convergem na emergn cia dos lug ares tur sticos. Na descoberta o turista o primeiro a revelar a existncia d e um lugar. Na inveno o turista o criador das representa es valorativas de certas paisagens (Deprest, 1997:1 01). Estes dois processos associados que d o visibilidade s paisagens. No desta forma que os meios de comunicao de massa, principalmente as redes de televiso ao apresentarem os lugares exticos, tm m ediado a descoberta dos aventureiros, o interesse das elites e produzido a inven o siste mti ca de paisag ens tur sticas? Se existe uma v iola o tran sform ado ra da natur eza d o luga r nest e p ri me iro processo que ela ocorre, e no na emergncia do turismo de massa, quando a transformao j havia sido instalada. Mas na maioria das anlises do fenmeno turstico, os lugares atrativos vo sendo descobertos por aventureiros, incorporados pelas elites e pelo mercado, saturados pelo turismo d e massa e substitudos por novo s lugares. Quanto m ais prximo, m ais atraente ou acessvel aos centros emissores mais rapidamen te o processo se instala, prenunciando o esgotamen to de um lugar ou, na concepo eco n m ica, o final do ciclo de vida do produto, despertando no turismo de

Alguns autores indicam a fase pioneira, ou p rimeira fase como explora o mas utilizand o tal con ceito como sinnimo de descoberta.

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elite e no mercado a necessidade da descoberta de um novo lug ar/prod uto. Nesta abor dagem , a morte dos lugares tursticos naturalizada em seu ciclo de explorao4 . Base a d o s nesta m orte a nunci ada do s lugare s turstico s, vrio s autor es naci ona is e intern acion ais, grande parte das polticas e diretrizes para o setor, e a prpria Organizao Mundia l do Turismo (OMT) recorreram idia de um limite de crescimento da a t iv i d a d e, utilizando-se para isto dos conceitos de impacto, de capacidade de carga (carrying capacity ) e de suste ntab ilida de. M as, como definir o limite suportvel de um me i o quando o estamo s relacionan do um a prtica socia l e formas distintas de territorialidade? Se estamos ana lisa ndo grupo s sociais ex trem ame nte d iversos, como medir o lim ite do impa cto cultural, econ mico, poltico, a mbienta l e tecnolgico sem c o n si der a r a diferenciao do meio e a relatividade social no tempo e no espao? Como saber quando a presso turstica no s traz novas forma s para a reorganiza o do lugar, mas deforma o meio e a sociedade local? A idia de impacto pressupe que um lugar possu a uma resistncialimite, mas d o pon to de vista d o mei o e da popula o lo cal, co mo p ossvel prever este limite utilizando variveis quantitativas (frequentao, fluxo, n m ero de leitos etc.), com o faz a m aioria das anlises de impacto, de ciclo ou de capa cidade de carg a? Para Depr est (1997:1 59), a capacidade de carga se inscr eve em uma rede conceptual que nega a produo do lugar, ignora, minimiza ou submete natureza, o poder de criao e de inovao da sociedade. Os lugares possuiriam um limite. Mas como uma cincia social pode definir o limite d a sociedade: o fim da histria? Os modelos de ciclo, de impacto e de capacidade de carga tomam os lugares tursticos como se estes fossem sistemas fechados, passveis de terem seus fluxos controlados. A transferncia de modelos da ecologia, da biologia, e da fsica tem sido utilizada para garantir medidas de preci so e legitimidade cientfica. Porm, t o m ar a sociedade como sujeito da construo dos lugares tursticos implica em aceitar a existncia de um a infin idad e de va rivei s subjetiva s, no sujeitas quan tifica o, alm de um a srie d e com bina es po ssveis e im previsv eis. Em meados da dcada d e 1980, a preocupa o com a intensifica o dos fluxos tursticos possibilitou uma abord agem ma is refinada e, por que no dize r, cientfica da atividade, tra tada at ento, com raras excees, do ponto de vista do gerenciamen to e da ad ministrao , em uma espcie de manual de como fazer. n este perodo que a concepo de desenv o lvimento sustent vel incorporada s an lises da ativid ade turstica. Apesar desta abordagem ser um avano, em relao aos mod elos qua ntita tivos m ais estrit os, ela tambm possui limitaes. Partindo da constatao de que o ambiente o foco de atrao do turismo, a proteo ambiental torna-se o pressuposto de uma atividad e turstica durve l. O turismo sustentvel, termo utilizado principalmente para as modalidades de ecoturismo, apia -se nos pr incpio s de uso sustentvel dos recursos naturais, de manuteno da diversidade natural e cultural, de envolvimento e inte grao das comunid ades locais, de um marketing responsvel, da necessidade de pesquisas, entre outros (Eve r, 1992 ). Os principais objetivos expressos revelam uma traduo, para o turismo, dos d ocumento s oficiais e do ide rio sobre o desenvo lvimento sustent vel. O co nceito de desenvolvimento sustentvel, derivado da idia de ecodesenvolvimento, tem sua principal referncia no relatrio Nosso Futuro Comum, elaborado p e la C o m isso de Me io Ambiente e Desenvolv imen to, em 198 7. A pa rtir d este do cumen to os fa tores so ciocult urais e ecolgicos foram inc orporad os s polticas econm icas, socializados no imagin rio coletivo, e absorvidos ao prprio mercad o que passou a vender produtos ecolgicos e bens distintivos de identida de cultural.

Como exemplo ver Butler, J.M. The concept of a tourist area cycle of evolution: implications for management of resources in Canadi an Geogr afer, 1980, XXIV, n. 1, pp.5-12.

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A sustentabilidade passou a ser, ento, a senha de um novo modelo de desenvolvimento, que supostamente se esboa va. A c oncep o d e natu reza como estoque infinit o de r ecursos substituda pela natu reza com o um bem de capital futuro : a nova eco nomia dos recursos natur ais prev a sua utilizao a longo prazo, a substituio de antigas tecnologias, e a produo de bens de consumo cada vez mais inusitados. A lgica do modelo de desenvolvimento no se alterou, apenas refinou antigos meca nismos opera cionais p o r meio de uma conjuno mais eficaz entre cincia, tecnologia e p roduo (Serrano & Luchiari, 1 993). A incorporao destes pressupostos anlise turstica gerou a derivao turismo sust en t vel. Esta proposta preocupa-se com a conservao ambiental, e busca regularizar o mercado da indstria do tu r is m o d e m assa e do turismo alternativo. Para os analistas do turismo sustentvel a escala de anlise remete-se ao lugar ou ao contexto regional, mas apesar do conceito de desenvolvimento sustentvel ser reconhecido como cientificamente legtimo ele , antes de tudo, um instrum ento p oltico e, nesse sentido, funciona como uma panacia que ir garantir a explorao econmica ao longo do tempo e na escala planetria. A maio ria d estas an lises t o ma a paisagem turstica como ambiente natural, naturalizando o conceito de paisagem e dando-lhe a u to n o m ia em rela o co nstru o socia l da q ual ela se origina. Os autores que naturalizam as paisagens, concebendo-as como recursos tursticos, acabam por concluir que as paisagens so recursos no-renovveis e que, portanto , podem ser ex tintas - o que incorreto. Se consideramos que as paisagens so construdas s o cialmente, elas no se esgotam, o que se esgo ta ou d egrad a um deter mina do re curso natural o u dete rmin ado s usos da s paisag ens. A morte da paisagem significaria o desaparecimento do modelo que tornou possvel a valorizao esttica do meio pela sociedade contempornea, e para este fato no h nenhuma evidncia (Roger, 1989). Um recurso natural um recurso em relao sociedade , uma concepo histrica da relao com a matria que cria a natureza scio-p oltica e scio-econm ica (Raffestin, 1993:225). Da me s ma forma, as paisagens tursticas s existem em relao sociedade. Elas no existem a priori, como um dado da natureza. Mesmo a vocao de uma r egio faz pa rte de uma seleo de atributos que a sociedade elege historicamente. No isto que nos ensina Corbin (1989), ao discorrer sobre a va lorizao das praias e d os banh os de m ar no im agin rio ocid ental, a penas a p artir d o sculo XV III? O olhar qu e l a n ado sobre o lugar em diferentes perodos inventa paisagens numa construo social que no cessa. E n to, se admitimos que a paisagem um a representao e no um dado da natureza , no podem os concordar que ela seja um recu rs o no-renovvel - como quer o discur so ambientalista. Ela se reproduz, se renova, se regenera tal qual as sociedades. Em relao s paisagens a sociedade explora a representao e no depende, exclusivamente, das paisagens natur ais, que ela pode buscar alhures sempre que uma primeira paisagem explorada for degrada d a, ou reconstru-las artificialmente, possibilidade que tem ganhado cada vez m ais status na sociedade contempornea. A o r g a nizao territorial dos lugares tursticos no responde somente lgica do lugar, do meio, e da popula o local, ela a reproduo de atributos valorizados nos centros urbanos emis sores, sintetizando, na materialidade das cidades que se expandem, as novas representaes sociais imprimidas ao uso do territrio. Por isto, os lugares no permanecero provincianos, selvagens ou autnticos , porque estes atributos n o representam mais a socieda de. O fenmeno contemporneo do turismo coloca-se como um vetor de transformao contrad itrio e emblemtico: acentua a produo d e lugares d e consu mo e o consum o do s lugare s. Mas no pode ser toma do apenas do ponto de vista negativo, como um desarticulador vo raz de antigas formas e funes sociais que, num processo linear, destri o velho substituindo -o pelo novo. A mediao entre o global e o local empreendida pelo turismo possibilita tomarmos o lugar e o

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mundo em sua unidade. Permite tambm trazermos luz novas formas de sociabilidade, articuladas em funo do processo contemporneo de revalo rizao das paisagens para o lazer. Este movimento, ao invs de contrapor o tradicional ao moderno, o lugar ao mundo, o natural ao artificia l, impulsiona a restruturao das relaes do lugar com o mundo e a formao d e organizaes scio-espaciais cada vez mais hbridas, cujas form as e lgicas antigas associadas s novas originam uma nova composio. O que analisado como d eclnio dos lug ares tur sticos pe lo ad ensam ento d as resid ncia s, das infra -estrutur as, pela conce ntra o d e pesso as e p e lo apinhamento das paisagens, pode ser sinal de uma transformao histrica dos lugares, os quais deixam para trs a determinao turstica para produzir um novo lugar em conexo sistmica com o mundo.

As paisagens mutantes do turismo contemporneo Enquanto os traos do passado haviam se cristalizado lentamente nas paisagens, definindo uma geografia funcionalmente isolada entre as regies; a natureza das paisagens do turismo contemporneo trouxe a mutao permanente destas formas em relao funcional e sistmica com as regies e o mundo. A racionalidade do turismo contemporneo ideologisa o trabalho e o no-trabalho, impe novos usos ao territrio e confere um novo ritm o ao tempo social. Quer na urba nizao turstica para residncias secundrias, quer na urbanizao associada a ou t r as m o d alidades de alojamen to turstico, o uso fugaz do territrio, marcado pela transitoriedade, responsvel por processos de desterritorializao e reterritorializao (Rod rigues, 1996). O tempo, marcado por ritmos planejados (frias, feriados, altas temporadas), impe um novo ritmo regio, depois recua, e as territorialidades locais se recom pem mas j sobre o utras rugosidades. As regies, as cidades, os lugares turstico s vestem -se de n ovas m ateria lidad es: gale rias, sho pping c enter s, edific aes, condomnios fecha dos, infra-estrutura viria e uma infinidade de objetos e servios especializados para o turismo. O tempo e as paisagens - categorias fundamenta is para o turismo - so transformados em bens de consumo e produto turs tico . A atratividade dos lugares (paisagens naturais ou construdas) precisa ser constantemente vendida, e nto , ela constantemente recriada, ou melhor, padronizada em estilo, esttica e atendimento. Os prprios servios relacionados ao turismo produzem um novo fluxo de relaes entre os sujeitos envolvidos (turistas, profissionais do setor tercirio , adm inistra dore s) na m ateria lidad e ofere cida pelo seto r (red e de h otis, restau rant es, redes de fast food, boutiques, parques, museus etc.). Em muitos casos, principalmente em rela o ao t urismo intern acion al, os a trativ os tursti cos orig inais d a regi o s o suplanta dos pela prpria estrutura oferecida pelo setor . Como o bserva Gua ttari (1994 ), Os turistas fazem suas viagens quase sem sair do lugar, confinados nos mesmos nibus, nas mes mas cabines de avio, nos me smos quartos climatizados dos hotis e desfilam diante de monumentos, paisagens que j viram centenas de vezes nos jornais, pros pectos e nas tel inhas de T .V. A reorganizao scio-espacial imprimida pela urbanizao turstica responde a uma deman da especfica d e grupos sociais que imp em um tecid o materia l tecnolo gicamen te mais moderno. Ou seja, um novo sistema de objetos introduzido nos lugares para adequar e dar familiarid ade ao novo sistema de aes trazido pela demanda social do turismo. A natureza como um dom e a cultura como diversidade so destitudas de sua autenticidade ou reprodu z i d as artificialmente como mercadorias de consumo. Estas, mesmo que simblicas, so vend idas pela mdia, pelas construtoras, pelas agncias imobilirias e de turismo.

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A natureza , ento, transformada em espetculo com tempo certo de durao. Filme s, cartazes, guias tursticos, anncios vendem as representaes da paisagem enquanto a ideologia do turismo faz da geografia uma das formas de consumo de massa: multides cada vez mai s numerosas so tomadas por uma verdadeira vertigem faminta de paisagens, fontes de emoes estticas, mais ou menos codificadas (Lacoste, 19 88:34). Entre o setor turstico e as comunidades receptoras o primeiro ga nha a h egemon ia das represe nta es da paisagem. A populao local, dominada pelo olhar externo, faz uma reavaliao seletiva de si mesma e de sua regio. Este proce sso altera as perce pes in divid uais e imprime uma nova valor ao da pa isagem circundante e da cultura local, com a substituio de hbitos e comportamentos, com a implantao de outras formas de apropriao da natureza e de um n o v o estilo de vida tomado como referncia para relativizar a sociedade local e seu modo de vida. Claro que, ta nto en tre os produtores c o mo entr e os consumidores do turismo ocorre uma estratificao scio -e co n mica m uito gr and e. Por ist o os pacotes, os agentes e as reas tursticas diferenciadas diversificam o setor e respondem demandas sociais especficas: turismo popular, de ma ssas, de elite, cultural, ecolgico, de negcios, da terceira idade, esotrico, esportivo, nutico, entre outros. O que comum a quase todos que a produo do setor - ao mesmo tem po - o c o n su m o d e seu produto, ento, todo o tempo, o setor reinventa paisagens e prticas a serem consumidas pelo turismo. Novas vias de acesso, edificaes, equip ame ntos colet ivos, m ercad orias, maior circulao de informaes, de pessoas consumindo e recriando vorazmente as paisagens natur al e hist orica men te con strud as. Algumas caractersticas mais marcantes definem a urbanizao tur stica, distinguindo- a do proce sso tradicional de urbanizao e de produo das cidades industriais. Lembrando que os lugares so nicos e assimilam estas caractersticas de form as d iferenciadas, levantamos alguns aspecto s princip ais: - o consumo mais importante que a pro du o, o que no sig nifica que n o haja prod uo m as, que esta orientada para o consumo turstico, - a mo-de-obra concentra-se na construo civil e no setor de servios: do prprio setor turstico, dos transpor tes, comunica o etc., - h uma valoriz ao esttica d a p ais agem da cidade (natural e/ou construda), e utilizao de estratgias de marketing na produo de cartes-postais, - h uma reva loriza o n o uso d o solo u rban o, inte nsifica ndo a especu lao imob iliria e o pro cesso de segrega o residencial, - h um crescimento acelerado da populao e da fora de trabalho, impulsionado por fluxos migr atr ios, - no caso de cidades com vocao natural para o turismo (litorneas, serranas etc.) os postos de traba lho po ssuem o fertas sa zon ais, - a atividade turstica promove empregos mas, na maiori a d os casos, para uma mo-de-obra qualificada vinda de fora, e sazonal, com contratos de trabalho precrios (tempo parcial, mo- d eobra infan til, feminina etc.), - a urbanizao turstica promove a ascenso de pequenos capitais (com erciantes, construto res...), favorecend o a forma o de um a nova elite lo cal, - este novo segmento social, constri efetivamente as cidades tursticas, e consegue muito poder na poltica local, - a org aniz ao de m orad ores (soc ieda des d e am igos d e bair ros, associaes de m orado res etc.) um trao forte nestas cidades, geralmente refl etindo as expectativas e necessidades locais em relao aos turistas e s necessidades do setor,

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- embora a cidade turstica possa ter como caracterstica a produo especfica de determinados bens de consumo (confeco, artigos em couro, madeira, produtos alimentcios etc.), o custo de vida para a popu lao local geral men te ma is alto n as tem pora das, - produo de novos lugares de consumo, reconhecidos mundialmente como ambientes domesticados pelo cotidiano da modernidade (shopppings, galerias, redes de fast food, aero porto s, condomnios etc.) - os no-lugares de Alg (1993) e os espaos fora do ch o de Chesneaux (1995), - inser o de u m no vo sistem a de o bjetos ca rrega dos d e novo s smb o los de status e identidade da moderna sociedade de consumo. Poderamos levantar, a inda, outr os indicad ores da urba nizao turstica, mas este procedimento classificatrio s se justifica atravs da reflexo sobre a urbanizao, sobre as estratgias polticas e sobr e a i m p o rtncia do turismo como um vetor de transformao do lugar. Devido a brevida de deste artig o, esta reflexo no poder ser aprofundada aqui. Contudo, considerando a dinamizao deste mercado e a reengenharia do turismo brasileiro, almejada pelo governo, importante con statar que tod as as polticas e instrumentos de regulamentao do uso do solo, da atividade turstica e da preservao e conservao do meio ambiente nortearo, inevitavelmente, a nova co nfigurao territorial do s lugares tursticos. Do confli to e s tabelecido entre as dive rsas com petn cias pol ticas, u m no vo pro jeto de orga niza o s cio-espa cial se esboar. Nesse sentido, e visando estimular anlises futuras, cabe fazer ainda trs consideraes funda men tais. A primeir a , sobre a importncia da participao dos vrios segmentos da sociedade na promoo e implementao de diretrizes para o desenvolvimento turstico local ou regional. Esta uma tarefa difcil, na medida em que neste processo emergem interess e s co ntraditrios. Ainda assim, esta a melho r forma d e mapea r, prevenir e solucion ar problem as de orga nizao territorial, evitando a necessidade de criar, no futuro, uma infinidade d e solues paliativas. a mobilizao dos vrios grupos de interesse para debater e adequar o planejamento local, em funo da implantao das polticas de turismo e de preserva o ambiental, que determina a fora do lugar. Se os prprios municpios no se organizarem, priorizando as demandas locais, eles sero submetidos s regulamentaes de zoneamento e uso do solo elaboradas por uma lgica de preservao indiferente s territorialidades e necessidades locais. Alm do mais, a atividade turstica local ser regulamentada pelas polticas mais gerais, obrigando a adequao dos interesses locais a uma n orm atiza o d o mer cado sem a q ual os r ecursos fi nan ceiros se ro e stanca dos. A segunda considerao sobre a importnc i a do papel do Estado na estruturao dos plan o s de desenvolvimento turstico local/regional. fundamental a atuao do Estado e dos poderes locais na regulamentao das diretrizes bsicas para a conciliao dos interesses p rivad os, da preserva o dos pa trimnio s naturais ou ed ificados, e dos inte resses da popula o local. Todas as poltica s n a cionais e regionais, discutidas atualmente para a atividade turstica, possuem um aspecto altamente positivo. Afinal, se os governos (federal, estadual e municipal) no se apressa rem e m reg ulam enta r o setor, certamente a iniciativa privada no tardar em implementa r suas prprias estratgias de expanso neste mercado altamente lucrativo. Cabe ao Estado conciliar os interesses diferenciados na gesto da paisagem. E um ltimo ponto refere-se ao uso, esvaziado de sentido social, do conceito de sustentabilidade n a e x p a n so de uma atividade econmica. O desenvolvimento regional pode ser planejado, equacionando da melhor m aneira as relaes entre interesses econmico s, sociais, polticos e daqueles que lutam pela preservao de ecossistemas naturais. Mas dificilmente ele ser sustentvel em toda s estas dimenses. A s n o e s d e d esenvolvimento econmico e sustentabilidade (natural e social) so quase antagnicas, podendo colocar em risco a seriedade ou a credibilida de de um planejamen to srio. A ideo logia da sustenta bilidade lim itada pela prpria

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econom ia de mercado. Um bom planejamento urbano e regional no precisa incluir este disc urso equivo ca do para legitimar e pr em prtica o reordena mento territorial e o desenvolvim ento econm ico regiona l. Ao adjetivar o de senvol vimen to com o susten tvel e o turism o com o ecol gico leg itimo u-se prticas econm ica s agor a ma tizad as pela aura de um a na turez a que, su postam ente, t orno u-se sujeito. A explorao da natureza que maculou toda a sociedade da produo industrial agora pode ser justificada pela e x p l o r a o racional que inclui em seu bojo a preocupao com a preservao da natureza e com as nece ssidad es futura s da soc ieda de. Co ntud o, a ge sto d estas pa isagen s no se reduz capacidade tcnica para contr olar a de grada o am biental ou a d estruio do lug ar, ela envolve uma nova orientao em relao nature za e sociabilidade no espao urbano, inserindose no mbito das conexes sistmicas entre o lugar e o mundo. A c o ns e rv a o e a justia social no deve ser o ap ndi ce do crescim ento e con mico , mas o s pressupo stos para o desenvolvim ento. esta lgica que o planejamento urbano contemporneo deve apreender. Sem dvida, a atividade turstica no mais nociva que a indstria com chamins que, alis, impulsionou todo o nosso processo de urbanizao. Mas preciso planejar para que a urbaniza o turstica n o gere cida des to ind esejveis quanto o fez a urbaniza o industria l.

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