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Fernanda deOliveiraPeres Revisado

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE QUÍMICA DE SÃO CARLOS

Fernanda de Oliveira Peres

Estudo da dissociação de ibuprofeno utilizando matrizes de


quitosana e montmorilonita/quitosana

Exemplar revisado

O exemplar original encontra-se em

acervo reservado na Biblioteca do IQSC-USP

São Carlos

2014
Fernanda de Oliveira Peres

Estudo da dissociação de ibuprofeno utilizando matrizes de quitosana


e montmorilonita/quitosana

Dissertação apresentada ao programa de Pós-


Graduação em Química Analítica e Inorgânica, no
Instituto de Química de São Carlos, da Universidade
de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em
Química Analítica e Inorgânica.

Área de concentração: Química Analítica e Inorgânica

Orientadora: Profa. Dra. Carla Cristina Schmitt


Cavalheiro

São Carlos

2014
Aos meus queridos pais Antonio e Lucia, ao meu irmão Felipe,
e ao meu namorado Fernando.
Agradecimentos

À Deus por me amparar nos momentos difíceis, me dar força para superar as
dificuldades e mostrar os caminho nas horas incertas.
A meus pais Antonio e Lucia e ao meu irmão Felipe pelo apoio, confiança, paciência e
incentivo em todos os momentos da minha vida.
Ao meu namorado Fernando Marreto pelo seu carinho e amizade, paciência e
incondicional apoio que sempre demonstrou, pelas conversas e palavras de coragem nos
momentos difíceis, ouvinte das minhas duvidas, desânimos e sucessos.
A minha orientadora Prof. Dra. Carla Cristina Schmitt Cavalheiro, obrigado por ter
aceitado ser minha orientadora, obrigado pelo acompanhamento contínuo, pela
experiência, amizade, sabedoria, paciência, atenção e dedicação ao longo do mestrado.
Ao Prof. Dr. Eder Tadeu Gomes Cavalheiro pela amizade, carinho, incentivo,
colaboração e pelos momentos de risadas.
Ao Prof. Dr. Gilberto Chierice pela disponibilidade do laboratório, pela amizade e pelos
ensinamentos.
A todos os colegas do LATEQS, GQATP e o Grupo de Fotoquímica pela ajuda,
conversas e companheirismo.
Aos professores do IQSC/USP por todos os conhecimentos transmitidos
As técnicas do LATEQS Priscila e Ana Paula, muito obrigada por tudo que vocês
fizeram por mim.
A técnica Alessandra, obrigado pela ajuda, pelos ensinamentos e pela amizade.
A todos que contribuíram de forma direta ou indireta para a execução deste trabalho.

Muito Obrigada!
“Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água
no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota”
Madre Teresa de Calcuta

“Talvez não tenha conseguido fazer o melhor, mas lutei para que o melhor fosse feito.
Não sou o que deveria ser, mas Graças a Deus, não sou o que eu era antes”.
Marthin Luther King
Resumo

A quitosana tem se mostrado muito atrativa para a indústria farmacêutica,


visando principalmente matrizes de liberação controlada com fármacos amplamente
utilizados pela população em altas dosagens ou em períodos prolongada tal como o
Ibuprofeno. O uso de combinado de polímeros e materiais como a argila é uma opção
interessante, unindo as propriedades de ambos os materiais, minimizando o efeito
colateral do fármaco. No presente trabalho descreve-se a preparação de um complexo
iônico contendo quitosana e ibuprofeno por meio de uma reação ácido base entre
ambos. Em uma segunda etapa, foi preparado um nanocompósito de
montmorilonita/quitosana contendo o fármaco ibuprofeno. As matrizes foram
caracterizadas por diferentes técnicas, incluindo análise elementar, ressonância
magnética nuclear (RMN) de 13C e 1H, termogravimetria (TG), calorimetria exploratória
diferencial (DSC), difração de raios X (DRX) e espectroscopia de infravermelho com
transformada de Fourrier (FTIR). O grau de desacetilação (GD) da quitosana obtido por
titulação potenciométrica foi de 80,0%. Esses resultados foram confirmados por
medidas de RMN 1H e RMN 13
C. O estudo dissociação do fármaco, na presença e na
ausência de argila, foi avaliado por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) e
por espectroscopia de absorção eletrônica UV-VIS. A dissociação do fármaco em meio
aquoso foi avaliada em pH 2 e 7, que correspondem aos valores encontrados no
estômago e no intestino, respectivamente. Os resultados indicaram que a dissociação do
ibuprofeno das matrizes é dependente do pH e que a presença da argila retarda a
dissociação do fármaco na matriz.

Palavras chave: Quitosana, Ibuprofeno, Montmorilonita.


Abstract

Due to its interesting properties chitosan has attracted interest regarding several
applications including drug carrier in pharmaceutical industry, mainly for actives
consumed in high doses for long periods, as Ibuprofen. The combined use of materials
such as polymers and the clay is an interesting option, combining the properties of both
materials while minimizing the side effects of the drug. A chitosan-ibuprofen ionic
complex had been prepared from the acid-base reaction between both of them. In a
second step a montmorilonite/chitosan nanocomposite containing ibuprofen was also
prepared. The complex and the nacomposite containing ibuprofen had been
13
characterized by several techniques including elemental analysis, C e 1H, nuclear
magnetic resonance (NMR), thermogravimetry (TG), differential scanning calorimetry
(DSC), X-ray diffraction (XRD) and Fourrier transform infrared spectroscopy (FTIR).
The chitosan degree of deacetylation (DD) was determined by potentiometry as 80.0%.
These results were confirmed by 13C e 1H NMR. The dissociation of the pharmaceutical
from the complex and nanocomposite was investigated by high performance liquid
chromatography (HPLC) and electronic spectroscopy in the UV-vis (UV-vis). The
dissociation of the pharmaceutical from the complex in aqueous media was evaluated in
pH 2 and 7, corresponding to the stomach and intestines respectively. Results revealed
that such dissociation is dependent of the pH of the medium as well as that release of
Ibuprofen from the matrices is dependent on the pH and the presence of the clay slows
the dissociation of the drug from the matrix.

Keywords : Chitosan , Ibuprofen , Montmorillonite.


Listas de figuras

Figura 1: Fórmula estrutural da unidade de repetição da Quitosana, sendo Gd = fração


desacetilada e Ga = fração acetilada, na qual se considera quitosana, quando Gd ≥
50%..................................................................................................................................14

Figura 2: Possibilidades de modificações na estrutura biopolimérica da quitosana em


seu grupo amino livre......................................................................................................16

Figura 3: Representação de uma folha (a) tetraédrica e (b) octaédrica vista lateralmente
e (c) estrutura de um argilomineral 2:1...........................................................................18

Figura 4: Estrutura molecular do ibuprofeno.................................................................20

Figura 5: Concentração do fármaco após administração: (a) forma farmacêutica


convencional e (b) sistema de liberação controlada........................................................26

Figura 6: Gráfico de pH em função de volume de NaOH contendo a curva de titulação


potenciométrica e sua primeira derivada da quitosana. A solução padronizada de NaOH
0,09788 mol L-1 e solução patronizada de HCl 0,1238 mol L-1......................................39

Figura 7: Espectro de RMN 1H da quitosana, em destaque núcleo de hidrogênio do


grupo metila do grupo acetamido (1) e os picos do núcleo de hidrogênio na posição 2 do
anel de glicosamino (2)....................................................................................................41

Figura 8: Representação estrutural do complexo iônico de quitosana e ibuprofeno,


considerando 100% de substituição dos grupos amino livres na matriz da quitosana e as
águas de hidratação..........................................................................................................43

Figura 9: Espectros de FTIR da quitosana (CTS), do ibuprofeno (IBU), da mistura


física (MF/CTS/IBU) e do complexo (CTS/IBU) em pastilhas de KBr..........................45
Figura 10: Curvas TG, DTG e DTA da quitosana em atmosfera de ar, com vazão de
100 mL min -1, massa de amostra em torno de 6 mg, em cadinho de α-alumina e razão
de aquecimento de 10ºC min-1........................................................................................47

Figura 11: Curvas TG. DTG e DTA do Ibuprofeno em atmosfera de ar, m≈6 mg, com
vazão de 100 ml min -1, em cadinho de α-alumina, razão de aquecimento de 10ºC min-
1
........................................................................................................................................48

Figura 12: Curvas TG e DTA da quitosana, ibuprofeno, mistura física e complexo


ionico em atmosfera de ar, m≈6 mg, com vazão de 100 ml min -1, em cadinho de α-
alumina, razão de aquecimento de 10ºC min-1................................................................49

Figura 13: DSC do Ibuprofeno com ciclos de aquecimento (1º e 3º) e de resfriamento
(2ºC) com razão de aquecimento de 10ºC e vazão de 50 mL min-1................................51

Figura 14: DSC do Ibuprofeno com ciclos de aquecimento (A) e de resfriamento (R)
com razão de aquecimento de 2,5; 5 e10ºC min-1 e vazão de 50 mL min-1.....................52

Figura 15: DSC do Ibuprofeno, Mistura física e do Complexo Iônico com razão de
aquecimento de 10ºC min-1 e vazão de 50 mL min-1, m≈ 3,5 mg...................................53

13
Figura 16: Espectros de RMN C do ibuprofeno, quitosana e complexo iônico e as
estruturas com os carbonos enumerados.........................................................................54

Figura 17: Espectros na região do UV-Vis para o ibuprofeno na concentração de


1,7x10-3 mol L-1 em pH 2,0 e pH 7,0...............................................................................55

Figura 18: Gráfico da absorbância (264 nm) em função de diferentes concentrações de


ibuprofeno em pH 2.........................................................................................................56

Figura 19: Gráfico da absorbância (264 nm) em função da concentração de ibuprofeno


em pH 7...........................................................................................................................57
Figura 20: Gráfico da dissociação cumulativa do ibuprofeno em função do tempo na
concentração 1 g L-1 do complexo iônico em 264 nm a 37ºC.........................................58

Figura 21: Curva analítica do IBU em pH 2,0. Equação de regressão linear: y =


2349,47 + 571152,31X e coeficiente de correlação linear (r), r = 0,982........................ 59

Figura 221: Curva analítica do IBU em pH 7,0. Equação de regressão linear:


y=28609,14 + 5,95x106X e r = 0,999.............................................................................59

Figura 23: Comparação da concentração do Ibuprofeno em função do tempo, utilizando


0,1 g L-1 do complexo iônico, no comprimento de onda de 220 nm, a 37ºC .................60

Figura 24: Esquema da dissociação do complexo iônico CTS/IBU..............................61

Figura 25: Difratogramas de raios-X das amostras montmorilonita, ibuprofeno, hibrido


MMT/IBU, mistura física da MMT/IBU, quitosana, do compósito com IBU e da
mistura física do compósito MMT/CTS/IBU..................................................................63

Figura 26: Espectros de absorção na região do infravermelho das amostras da argila


montmorilonita, ibuprofeno, hibrido MMT/IBU, mistura física da MMT/IBU,
quitosana, do compósito com IBU e da mistura física do compósito
MMT/CTS/IBU...............................................................................................................66

Figura 27: Curvas TG e DTA das amostras ibuprofeno, montmorilonita, hibrido


MMT/IBU, da mistura física MMT/IBU, da quitosana, do compósito CTS/MMT/IBU e
da mistura física CTS/MMT/IBU em atmosfera de ar, com vazão de 100 mL min-1,
massa de amostra em torno de 6 mg, em cadinho de α-alumina e razão de aquecimento
de 10ºC min-1...................................................................................................................68

Figura 28: Comparação da dissociação cumulativa do Ibuprofeno em função do tempo,


em pH 2,0 e 7,0, utilizando 0,1 g L-1 do compósito, no comprimento de onda de 220 nm,
a 37ºC..............................................................................................................................69
Lista de tabelas

Tabela 1: Reagentes utilizados e a procedência dos mesmos.........................................30

Tabela 2: Variação nas concentrações de H+ e nas relações de concentração [Ibu-


]:[HIbu] e [CTS]:[HCTS+], em função do pH, segundo a Equação de
Handerson e Hasselbach*.............................................................................42

Tabela 3: Resultados de análise elementar do ibuprofeno, quitosana e o complexo


iônico............................................................................................................44

Tabela 4: Intervalos de perdas de massa e temperatura da amostra de quitosana..........47

Tabela 5: Perda de massa e intervalos de temperatura das amostras de CTS, Ibu, CI e


MF.................................................................................................................49

Tabela 6. Distância interlamelar e valores de 2θ para a argila MMT e MMT/IBU,


mistura física, e dos nanocompósitos MMT/CTS/IBU................................64
Lista de Abreviaturas e siglas

5-FU 5-fluoracil
AFM Microscopia de Força Atômica
CI Complexo Iônico
CTS Quitosana
CTS/MMT/IBU Quitosana/montmorillonita/ibuprofeno
DLS Espalhamento Dinâmico de Luz
DRX Difração de Raios X
DSC Calorimetria Exploratória Diferencial
DTA Análise Térmica Diferencial
DTG Termogravimetria Derivada
FTIR Espectroscopia no Infravermelho por transformada de Fourier
GA Grau de acetilação
GD Grau de desacetilação
IBU Ibuprofeno
ICTAC Conselho da Confederação Internacional de Análise Térmica e
Calorimetria
MMT montmorilonita
MMT/IBU Montmorillonita/Ibuprofeno
RMN Ressonância Magnética Nuclear
TG Termogravimetria
UV-Vis Espectroscopia na região do Ultravioleta Vísivel
Sumário
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................14
1.1 Quitosana.................................................................................................................14
1.2 Argila Montmorilonita............................................................................................17
1.3 Ibuprofeno................................................................................................................20
1.4 Matrizes de quitosana com fármacos.....................................................................23
1.5 Uso combinado de polímeros e fármacos para a liberação controlada de
fármacos.........................................................................................................................24
2 OBJETIVO..................................................................................................................29
3 PARTE EXPERIMENTAL.......................................................................................30
3.1 Materiais e Métodos................................................................................................30
3.1.1 Reagentes e soluções.............................................................................................30
3.2 Metodologia experimental......................................................................................30
3.2.1 Purificação da quitosana......................................................................................30
3.2.2 Obtenção do Complexo Iônico Quitosana-Ibuprofeno (CTS/IBU)..................31
3.2.3 Obtenção do híbrido montmorillonita/ibuprofeno (MMT/IBU)......................31
3.2.4 Obtenção da matriz quitosana/montmorillonita/ibuprofeno
(CTS/MMT/IBU)...........................................................................................................31
3.3 Caracterização.........................................................................................................32
3.3.1 Determinação do Grau de Desacetilação Titulação Potenciométrica..............32
3.4 Técnicas....................................................................................................................33
3.4.1 Análise elementar.................................................................................................33
3.4.2 Espectroscopia de absorção na região do infravermelho com transformada de
Fourrier..........................................................................................................................34
3.4.3 Análise Térmica....................................................................................................34
3.4.3.1 Medidas termogravimétricas (TG)..................................................................35
3.4.3.2 Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC)................................................35
3.3.5 Ressonância Magnética Nuclear1H e 13C............................................................36
3.3.6 Dissociação do complexo iônico CTS/IBU..........................................................37
3.3.7 Difração de raio X (DRX)....................................................................................38
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................39
4.1 Determinação do Grau de Desacetilação (GD) da Quitosana por Titulação
Potenciométrica.............................................................................................................39
4.2 Determinação do Grau de Acetilação e Grau de Desacetilação (GD) da
Quitosana por RMN de 1H............................................................................................40
4.3 Obtenção do Complexo iônico CTS/IBU...............................................................41
4.4 Análise Elementar....................................................................................................44
4.5 Espectroscopia na região do Infravermelho (FTIR)............................................45
4.6 Análise Térmica.......................................................................................................46
4.6.1 Curvas TG/DTG e DTA da quitosana, ibuprofeno e do complexo iônico.......46
4.6.2 Calorimetria Exploratória Diferencial...............................................................50
4.7 RMN 13C...................................................................................................................53
4.8 Estudos da Dissociação do complexo iônico CTS/IBU utilizando a
Espectroscopia na região do UV-Vis............................................................................55
4.9 Estudos da Dissociação do Ibuprofeno utilizando Cromatografia Líquida de
alta eficiência (CLAE)...................................................................................................58
4.10 Caracterização do nanocompósito montmorilonita-quitosana contendo
ibuprofeno......................................................................................................................62
4.10.1 Difração de Raios – X.........................................................................................62
4.10.2 Espectroscopia de absorção de infravermelho com transformada de
Fourrier..........................................................................................................................65
4.10.3 Termogravimetria..............................................................................................67
4.10.4 Estudos da dissociação do compósito de MMT/CTS/IBU..............................69
5 CONCLUSÃO............................................................................................................71
6 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................72
15

1 INTRODUÇÃO

1.1 Quitosana
A quitosana, cuja estrutura molecular é apresentada na Figura 1, é obtida a partir
da reação de desacetilação da quitina em soluções alcalinas concentradas
(GONÇALVES JR et al, 2010; MAJETI; KUMAR, 2000; SANTOS et al, 2003), sendo
solúvel em ácidos diluídos como o ácido acético, ácido fórmico e ácido lático, entre
outros (MAJETI; KUMAR, 2000; SANTOS, 2003). Entretanto, a solubilidade depende
de fatores como o grau de desacetilação, devido à quantidade de grupos amino
protonados, pois, quanto maior a quantidade destes grupos, maior repulsão de cargas na
cadeia polimérica, aumentando o poder de solvatação em água, além da concentração do
biopolímero, viscosidade, massa molar e da força iônica (SANTOS et al, 2003;
SANTOS, 2004).

Figura 1: Fórmula estrutural da unidade de repetição da Quitosana, sendo Gd = fração


desacetilada e Ga = fração acetilada, na qual se considera quitosana, quando Gd ≥ 50%.

OH
O OH
HO O
O
NH2 O
HO NH
Gd Ga
H3C O

A quitina pode ser encontrada em exoesqueletos de crustáceos como camarões,


caranguejos, lagostas e outros artrópodes, em alguns fungos e gládios de lulas. É um
polissacarídeo de cadeia linear e catiônico em soluções ácidas (SIGNINI; FILHO, 1998,
SANTOS, 2004).
Os copolímeros 2-amino-2-desoxi-D-glicose e 2-acetamindo-2-desoxi-D-glicose
representam o termo quitosana, nos quais o grau médio de desacetilação (GD)
(SANTOS et al, 2003), que representa a percentagem de grupos NH2 livres, é maior que
50%. (SANTOS, 2004)
O grau médio de acetilação (GA) é usado para caracterizar o conteúdo médio de
unidades de N-acetil-D-glicosamina de quitina e quitosana. Dependendo do processo de
desacetilação podem-se obter quitosanas com grande variedade de GA, alterando as
propriedades físico-químicas como pKa, solubilidade e viscosidade. Quitosana com
16

elevado grau de desacetilação é difícil de ser obtida, pois, conforme este grau aumenta a
possibilidade de degradação do polímero também é aumentada (SILVA, SANTOS,
FERREIRA, 2006).
As características físico-químicas como solubilidade, viscosidade, grau de
acetilação, entre outros, podem ser determinadas por vários métodos, como a
espectroscopia de absorção na região do infravermelho, espectroscopia na região do
ultravioleta visível, espectroscopia de ressonância magnética nuclear (RMN) de 1H e
13
C, titulação potenciométrica, análise elementar, entre outras (HORN, 2008; SANTOS
et al, 2003). Devido à grande polidispersividade, os fabricantes referem-se
principalmente à viscosidade em vez de massa molecular, pois essa é deduzida a partir
da viscosimetria ou da cromatografia de exclusão de tamanho (CROISIER; JEROME,
2013).
A quitosana pode ser aplicada em diversas áreas como no tratamento de água
agindo como um floculante e coagulante, na remoção de metais pesados (BRANT,
2008); em fotografias devido a sua resistência à abrasão, às suas características ópticas e
à capacidade de formação de filmes (MAJETI; KUMAR, 2000). Também nos
cosméticos, uma vez que este biopolímero se torna viscoso ao ser neutralizado com
ácido, podendo ser usado como loções e até em esmaltes (MAJETI; KUMAR, 2000;
BRANT, 2008); no desenvolvimento de substratos para a substituição de pele
(MAJETI; KUMAR, 2000; BRANT, 2008); na oftalmologia, devido às características
como claridade óptica, estabilidade mecânica, correção óptica, permeabilidade ao gás
oxigênio e compatibilidade imunológica (MAJETI; KUMAR, 2000); na agricultura,
como agente antifúngico no controle de doenças de plantas (BRANT, 2008); na
veterinária, como aditivo para alimentos de animais (BRANT, 2008); na indústria de
papel e têxtil, para acabamentos (BRANT, 2008); na liberação controlada de fármacos,
em que a quitosana desperta grande interesse (MAJETI; KUMAR, 2000; BRANT,
2008); na indústria alimentícia, como aditivo alimentar e agente antimicrobiano entre
outros (SHAHIDI; ARACHCHI; JEON, 1999).
Em 2011, Tavaria e colaboradores destacaram as atividades biológicas da quitosana,
entre elas, a atividade anti-fúngica e antimicrobiana, cicatrizações de feridas,
antioxidante, anti-inflamatório, anti- carginogênico e anti-coagulante (TAVARIA et al,
2011).
Os biopolímeros quitosana e quitina tem chamado atenção devido à sua
potencialidade como bioativo natural, apresentando biocompatibilidade,
17

biodegradabilidade e baixa toxicidade. (LARANJEIRA: FAVERE, 2009). Além dessas


propriedades também se deve considerar a mucoadesividade, devido à forte atração
eletrostática que a quitosana apresenta, frente à proteína do muco, a mucina (SOGIAS et
al., 2012).
Além da estrutura da cadeia polimérica ser flexível, a quitosana apresenta grupos
funcionais muito reativos, como grupos amino (-NH2) e vários grupos hidroxila
primários e secundários, que apresentam forte afinidade com a água. As modificações
nestes grupos podem ser usadas em diversas aplicações, tanto em atividades de pesquisa
quanto como industrial. Os grupos amino na quitosana, protonados em pH≈3 e com a
cadeia polimérica positivamente carregada permitem a solubilização da mesma,
formando soluções viscosas. Sendo assim, a solubilidade é dependente da concentração
de grupos protonados (-NH3+) na cadeia polimérica (SANTOS, 2004).
Na Figura 2, observam-se diferentes modificações que podem ser utilizadas na
matriz biopolimérica pelo seu grupo amino livre.

Figura 2: Possibilidades de modificações na estrutura biopolimérica da quitosana em


seu grupo amino livre.

Fonte: SANTOS, J. E. Preparação, caracterização e estudos termoanalíticos de bases de


Shiff biopoliméricas e seus complexos de cobre. 2004. 124f. Tese (Doutorado em
Ciências – Química Analítica), Departamento de Química - Universidade Federal De
São Carlos, São Carlos, 2004.
18

1.2 Argila Montmorilonita

Minerais do tipo argilas apresentam propriedades, tais como inchamento,


adsorção, propriedades reológicas e coloidais, plasticidade, entre outras. Seu uso e
aplicações se estendem desde as indústrias de cerâmica, petrolífera, de papel, até as de
metalúrgica por essa razão são amplamente utilizados como matéria-prima e de grande
importância para a agricultura e indústria (ZHANH et al, 2010).
Determinadas propriedades são importantes para caracterizar os argilominerais.
Dentre estas se podem destacar: a estrutura em camadas com uma dimensão em escala
nanométrica; com espessura das camadas variando de 0,7 nm a 1,0 nm, anisotropia das
camadas ou partículas, facilidade com que a superfície externa e também a interna
podem ser modificada (por adsorção, troca iónica, ou enxerto); plasticidade e
endurecimento por secagem, o que se aplica a maioria dos argilominerias (BERGAYA;
THENG; LAGALY, 2006).
A argila montmorilonita, MMT, Figura 3, é um argilomineral, cuja fórmula
química geral é Mx(Al4-xMgx)Si8O20(OH)4, tendo sua estrutura organizada em folhas ou
camadas. Por serem muito finas, tendem a se agregar no processo de secagem e quando
colocadas em meio aquoso, apresentam boa capacidade de delaminação. As
montmorilonitas pertencem ao grupo dos filossilicatos 2:1, na qual lamelas são
caracterizadas por estruturas constituídas por duas folhas tetraédricas, com uma folha
central octaédrica.
As folhas tetraédricas são formadas por tetraedros de silício e oxigênio ligados
entre si covalentemente, resultando em um arranjo onde seus ápices se encontram todos
na mesma posição, e suas bases estão todas em um mesmo plano (Figura 3a). Os átomos
de silício podem ser trocados por átomos de alumínio, formando assim, uma carga
negativa na folha tetraédrica (VAN OLPHEN, 1977).
As folhas octaédricas (Figura 3b) originam-se pela condensação de octaedros
Mg(OH)6-4 ou Al(OH)6-3. Cada átomo é compartilhado por três octaedros, porém dois
octaedros podem compartilhar somente dois átomos de oxigênio vizinhos. Nestas
folhas, os octaedros estão arranjados de modo a formar uma rede hexagonal, que é
repelida para formar a folha. Esta folha é densamente empacotada, sendo composta de
um plano denso de átomos de Mg ou Al intercalados entre dois planos de
oxigênios/hidroxilas.
19

Os arranjos dos átomos nas folhas tetraédricas e octaédricas ajustam-se entre si,
formando camadas ou lamelas de espessura nanométrica e dão origem a uma série de
argilominerais. (Figura 3c).

Figura 3: Representação de uma folha (a) tetraédrica e (b) octaédrica vista lateralmente
e (c) estrutura de um argilomineral 2:1.

(c)

Fonte: Adaptado de Thomas JK – Chem. Rev., 93:301, 1993.

Uma propriedade importante das argilas esta relacionada a presença de uma


carga líquida negativa em suas camadas. A substituição de átomos de Si4+ das folhas
tetraédricas por átomos de Al3+ou a substituição de Al3+ por Mg2+ nas folhas
octaédricas, resulta em um excesso de carga negativa. Este excesso é compensado pela
adsorção de cátions nas superfícies externas das camadas. Devido ao tamanho dos
átomos serem similares estas substituições não acarretam na distorção da estrutura
interlamelar e são chamadas de substituições isomórficas.
O grau da substituição isomórfica, correspondente à magnitude das cargas nas
camadas. Essa magnitude é medida pela quantidade de cátions adsorvidos com o intuito
de neutralizar as cargas negativas nas camadas do material. Esta medida é chamada de
capacidade de troca catiônica (CTC).
A superfície da argila carregada negativamente exibe uma acentuada preferência
por cátions orgânicos comparados a cátions inorgânicos. Geralmente, a interação entre
os cátions inorgânicos e as camadas da argila se principalmente através de forças
eletrostáticas. Quando cátions orgânicos estão presentes a interação ocorre também por
forças não eletrostáticas.
20

Quando as argilas são modificadas pela troca do cátion inorgânico, geralmente


Na+ ou Ca+, por cátions orgânicos, obtém-se um complexo cátion orgânico–argila, com
propriedades distintas do material de partida. (VAN OLPHEN, 1977; THOMAS,1993).
O objetivo da modificação de argilas está direcionado à ciência dos materiais, na
obtenção de argilas organofílicas para aplicação em nanocompósitos poliméricos.
(PAIVA; MORALES; DÍAZ, 2008).
A MMT apresenta mucoadesividade para atravessar a barreira gastrointestinal e
adsorver toxinas bacterianas e metabólicas. MMT é comumente usada como excipiente
em formulações farmacêuticas, nas quais os fármacos catiônicos podem ser intercalados
em MMT por troca iônica e a regulação da quantidade e da taxa de liberação do fármaco
é difícil quando a droga é intercalada por permuta iônica (HUA et al, 2010).
A quitosana pode formar nanocompósitos com a argila MMT, na forma de
filmes e nanopartículas, e seu uso na liberação de drogas tem chamado atenção nos
últimos anos (HUA et al, 2010).
Há um grande número de trabalhos que trata da interação de quitosana-
montmorillonita. A interação se dá pela troca do sal sódio da argila pelo biopolímero de
quitosana As características da quitosana (massa molar e grau de desacetilação) podem
gerar compostos que possuem diferentes características para promover adsorção de
compostos orgânicos (LERTSUTTHIWONG et al, 2012).
A capacidade da MMT de formar complexos de moléculas orgânicas
intercaladas, de interesse farmacêutico tem sido amplamente estudada. (FORTEZA;
GALAN; CORNEJO, 1989). Existem muitos produtos farmacêuticos no mercado que
incluem argilas como excipientes em suas formulações, por exemplo, Mebendazol,
Deltaflan, Calferon, entre outros (TEIXEIRA NETO; TEIXEIRA-NETO, 2009).
Lin e colaborados, estudaram o 5-fluoracil (5-FU) com a montmorilonita
intercalando 5-FU na argila otimizando-se temperatura, tempo, pH, concentração. Foi
feita a caracterização por Espectroscopia na região do Ultravioleta Vísivel (UV-Vis),
FTIR (Espectroscopia no Infravermelho por transformada de Fourier), difração de raios
X (DRX), Termogravimetria (TG), Análise Térmica Diferencial (DTA). Obteve-se um
compósito que poderá , segundo os autores, ser utilizado no tratamento do câncer (LIN
et al, 2002).
O fármaco carvedilol foi intercalado na MMT por Lakshmi e colaboradores. O
híbrido de Carvedilol/Montmorilonita foi preparado por três métodos diferentes:
“Solution intercalation”, “Melt intercalation” e o “Grinding intercalation” entre eles o
21

de solução, sendo estes caracterizados por análise elementar, FTIR, DRX, TG,
Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) e microscopia de transmissão. Os estudos
mostraram que o método de preparo em solução para intercalar o carvedilol em MMT
foi o mais satisfatório (LAKSHMI et al, 2010).
A intercalação de ibuprofeno (IBU) em MMT foi investigada como um
transportador na liberação controlada de fármacos. Os compostos de intercalação foram
caracterizados por diferentes técnicas entre elas: XRD e FTIR. O espaçamento basal de
montmorilonita aumentou indicando que houve intercalação do IBU. Os experimentos
de liberação in vitro revelaram que o IBU foi liberado na MMT de forma constante e
dependente do pH (ZHENG et al, 2005).

1.3 Ibuprofeno

O ibuprofeno, cuja estrutura molecular é apresentada na Figura 4, quimicamente


denominado como ácido 2-(4-isobutilfenil)-propiônico, ácido α-metil-4-(2-metilpropil)
benzenoacético ou ácido p-isobutilhidratópico, é um sólido cristalino e incolor, pouco
solúvel em água e solúvel em solventes orgânicos e em soluções aquosas de hidróxidos
alcalinos e carbonatos (FERRAZ, 1993).
Trata-se de um agente antiinflamatório não-esteróide, pertencente à classe do ácido
propiônico, usado para reduzir a inflamação, febre e dor. É indicado ainda no alívio da
dor após procedimentos cirúrgicos (MOTRIM, 2012, GERALDO, 2008), ou no
tratamento da artrite reumatoide e na osteoartrite (ZHENG et al, 2007).

Figura 4: Estrutura molecular do ibuprofeno.


22

Entretanto, o ibuprofeno causa efeitos colaterais no trato gastrointestinal,


causando úlceras, hemorragias e disfunção renal (GERALDO, 2008), além de efeitos no
sistema nervoso (ZHENG et al, 2007). Em adição, o estudo da liberação controlada do
ibuprofeno pode ter como consequência, o seu uso em menores dosagens, minimizando
sua quantidade em efluentes, o que causa um bioacúmulo e danos no meio ambiente.
(MENDES et al, 2010). Por isso, a liberação controlada do ibuprofeno tem sido muito
estudada a fim de minimizar os efeitos colaterais.
Diversos fármacos que estão em uso apresentam limitações, devido a efeitos
colaterais, que muitas vezes são consequências de altos níveis plasmáticos após a
administração de formulações convencionais. Em sistemas de liberação controlada, a
concentração desejada de fármaco pode ser mantida sem alcançar o nível tóxico maior,
ou cair abaixo do nível mínimo necessário para sua eficácia. Para o efeito de liberação,
a interação do fármaco com um biopolímero como a quitosana pode ser uma maneira de
minimizar estes efeitos. (GRIFFIN, 1998).
A atividade anti-inflamatória do ibuprofeno e a maioria dos seus outros efeitos
farmacológicos estão relacionadas com a inibição da conversão de ácido araquidônico
para prostagladinas, que são mediadores do processo inflamatório. O ibuprofeno é um
potente inibidor da ciclo-oxigenase (Cox), in vitro e in vivo, reduzindo desse modo a
síntese de prostaglandinas, prostaciclina e produtos de tromboxano (TITA et al,
2010).Parte da ação anti-inflamatória é justificada pela diminuição das prostaglandinas
nos tecidos inflamados. A ação analgésica se deve também a atividade das
prostaglandinas, a ação antitérmica por ação no centro hipotalâmico de regulação de
calor, as ações anti-reumática e antigotosa por mecanismos anti-inflamatórios e
analgésicos (não há estimulação do eixo hipófise-suprarenal e nem ação corretora da
hiperucemia (BPR, 2010)
Tita e colaboradores em 2010, estudaram o comportamento térmico e a cinética
do ibuprofeno, sob condições não isotérmicas. Observou-se que o ibuprofeno se
decompõe após a fusão, em uma única etapa, sob atmosfera de nitrogênio, de acordo
com a cinética de primeira ordem. Os valores dos parâmetros cinéticos foram
determinados por métodos diferenciais e integrais. Os autores concluíram que o estudo
da cinética da decomposição térmica pode ser usado para avaliar a qualidade do
produto, pois através do ponto de fusão do fármaco, caracteriza-se a pureza (TITA et al,
2010).
23

Dudognon e colaboradores em 2008 propuseram um trabalho para pesquisar a


existência de uma forma cristalina polimórfica do ibuprofeno, utilizando as técnicas de
DRX para identificar novas fases cristalinas e DSC, para acompanhar a evolução
termodinâmica das formas em função da temperatura. Os resultados obtidos indicam
que a forma cristalina convencional apresenta a fusão em 349 K e nova fase polimórfica
funde em 290 K. Através do diagrama de energia observou-se a estabilidade
termodinâmica de dois polimorfos. Concluiu-se que o ibuprofeno pode existir em duas
fases cristalinas diferentes, constituindo um sistema monotrópico, de uma nova forma
meta estável.( DUDOGNON et al, 2008).
Já Feiteira em 2010, cristalizou o ibuprofeno em diferentes solventes tais como
acetona, n-hexano e submeteu as amostras a analises de DSC, DRX e FTIR. A partir
dos resultados obtidos por DSC, observou-se que a amostra cristalizada em acetona e
em n-hexano, ambas em temperatura ambiente, apresentavam um pico de fusão
composto, sendo indicativo de polimorfismo. Entretanto através dos estudos por DRX e
FTIR esta hipótese não foi suportada, pois a divisão dos picos deve-se ao tamanho das
partículas formadas durante o crescimento dos cristais. O autor diz que esta hipótese
deve ser confirmada em outro trabalho e destacou a importância de utilizar diferentes
técnicas no estudo de polimórficos (FEITEIRA, 2010).
Rodriguez e colaboradores, 2003, estudaram o ibuprofeno associado com
polímeros catiônicos como celulose, goma guar, observando as interações. Estudaram-
se as dispersões aquosas. As moléculas da droga interagem fracamente com os
polímeros através de interações hidrofóbicas e iônicas. Quando um surfactante foi
adicionado a estes sistemas, os coeficientes de difusão diminuíram ainda mais, o que
sugere a formação de novas estruturas associadas. com um processo de liberação
dependente do pH. Em pH ácido, a afinidade de fármaco-polímero é mantida,
impedindo a liberação do fármaco. Por outro lado, em pH 8, as interações são
quebradas e o processo de liberação é sustentado por mais de 4 horas. Sendo assim, as
interações ibuprofeno com polissacarídeos catiônicos determinam fortemente o
desempenho de suas dispersões aquosas e hidrogéis (RODRIGUEZ; ALVAREZ-
LORENZO; CONCHEIRO, 2003).
24

1.4 Matrizes de quitosana com fármacos


O biopolímero quitosana tem sido alvo constante de investigação devido à sua
aplicação em diferentes áreas da ciência, inclusive seu uso farmacêutico, pois se trata de
um material orgânico de baixa toxicidade.
A combinação dos termos de busca “quitosana e transporte de drogas” no Web
of Science leva a mais de 10.000 artigos, tornando inviável uma revisão bibliográfica
com tais termos. Alguns exemplos representativos são apresentados a seguir. Entretanto,
associando o termo quitosana ao fármaco ibuprofeno e à análise térmica, há uma
restrição significativa nesse volume de publicação.
A quitosana pode formar complexos de ibuprofeno com vários compostos, como
alginato, enzimas, β-ciclodextrina e carboximetilcelulose, glutaraldeído e carragenina.
(CHUNYIN; LIU, 2012; BALAU; AELENEI; POPA, 2009; WIN et al., 2005; JI et al.,
2011, LIU; HE; QIAN, 2011, RASSOL, et al., 2010) Estes complexos podem ser
caracterizados através de diversas técnicas, entre ela: Difração de raio X (JI et al.,
2011), FT-IR (CHUNYIN; LIU, 2012; BALAU; AELENEI; POPA, 2009; JI et a.l,
2011; QANDIL, et al., 2009), ressonância magnética nuclear no estado líquido 1H
(QANDIL, et al, 2009; LIU, 2010), espectroscopia no UV-Vis (JI et al., 2011),
microscopia de força atômica (AFM) (BALAU; AELENEI; POPA, 2009) e
espalhamento dinâmico de luz (DLS)(BALAU, 2009). Além destas, existem estudos
reológicos como viscosidade (BODEK, 2000), a influência do pH (BALAU; AELENEI;
POPA, 2009; RASOOL et al., 2010; LIU, 2010), estudos biológicos (SAKKINEN et al,
2003; RASOOL et al., 2010) e estudos in vitro (JI et al., 2011).
Rasool et al. desenvolveram um gel de quitosana com ibuprofeno para uso
tópico, num sistema de liberação controlada, acompanhada por CLAE (RASOOL et al.,
2010).
Entretanto, poucos artigos envolvem análise térmica na caracterização dos
complexos com o ibuprofeno. Particularmente, a análise térmica foi usada para
caracterizar alguns carregadores como são descritos nos seguintes trabalhos.
Balau e colaboradores registraram curvas termogravimétricas que possibilitaram
a caracterização dos processos de degradação de um complexo de quitosana-alginato de
sódio e ibuprofeno, e concluíram que o mecanismo de degradação é fortemente
influenciado pela metodologia pela qual o complexo é preparado (BALAU; AELENEI;
POPA, 2009).
25

Qandil e colaboradores prepararam complexos de quitosana de alta e baixa


massa molecular com ibuprofeno. Foi observada interação do fármaco com os diferentes
tipos de quitosana. Seus resultados mostraram que a complexação se dá por interação
iônica com o ânion carboxilato do ibuprofeno, confirmando que a complexação é mais
eficiente, quando se usa quitosana de baixa massa molecular. Foram obtidas curvas
DSC para o complexo ibuprofeno/quitosana e também para a mistura física. Quando é
feita apenas uma mistura física da droga com a matriz, os picos observados são os
mesmos, que são observados quando os componentes estão isolados, já quando se trata
do complexo, o pico característico do ibuprofeno não é mais observado (QANDIL et
al., 2009).
Liu e colaboradores. através de um derivado de quitosana com o carboximetil-
hexanol quitosana, prepararam um hidrogel com o ibuprofeno para liberação controlada,
estudando a influência dos substituintes no inchamento da quitosana e suas
consequências na liberação da droga. DSC foi utilizado como ferramenta para avaliar a
presença de água nos hidrogéis (LIU et al., 2010).
Popa e colaboradores prepararam microesferas de quitosana/alginato com
diferentes drogas como a ciprofloxacina, cetoprofeno, ibuprofeno e ácido tânico, em que
se avaliou o comportamento térmico dos fármacos isolados e na presença das matrizes.
Foi observado que no caso alginato/ibuprofeno/quitosana a presença do alginato
diminuiu significativamente a energia de ativação para a etapa de degradação. (POPA;
LISA; AELENEI, 2008).
Estudos realizados anteriormente, mostraram a preparação do sal de captopril,
um antihipertensivo diurético, com a quitosana, e a avaliação do efeito do pH na
liberação do fármaco, utilizando a cromatografia líquida de alta eficiência. Este sal de
quitosana e captopril foi caracterizado por FTIR, TG, entre outras técnicas (LUPPI,
2009), mostrando grande dependência da liberação em função do pH do meio.

1.5 Uso combinado de polímeros e fármacos para a liberação controlada de


fármacos

A nanotecnologia possibilita entender e manipular materiais em escala de


átomos e moléculas, atuando em diversas áreas como robótica, biológica, química,
física e medicina. Assim, a nanotecnologia está presente na medicina, principalmente
em sistemas de liberação controlada de fármacos. Esses sistemas de liberação
26

controlada de fármacos surgiram em 1970, com o objetivo de liberar quantidades


determinadas de fármacos por um período de tempo. Assim, a administração desses
sistemas possibilita a liberação dos fármacos em locais específicos, tais como tumores
ou tecidos doentes, a fim de minimizar os efeitos colaterais indesejados dos fármacos
em outros tecidos (SAFARI; ZARNEGAR, 2012).
Os sistemas de liberação controlada de fármacos apresentam uma série de
vantagens quando comparados a outros, de dosagem convencional, tais como
diminuição significativa da toxicidade e aumento no tempo de permanência na
circulação, maior eficácia terapêutica, com liberação progressiva e controlada do
fármaco, a partir da degradação da matriz, natureza e composição dos veículos variada e
sem predomínio de mecanismos de instabilidade e decomposição do fármaco,
administração segura, sem reações inflamatórias locais, sendo atrativo, devido ao menor
número de doses, direcionamento a alvos específicos, sem imobilização significativa
das espécies bioativas, tanto substâncias hidrofílicas quanto lipofílicas podem ser
incorporadas, com menor dosagem (AZEVEDO, 2002).
Assim, as formas farmacêuticas de liberação controlada requerem
administrações menos frequentes em relação as formas convencionais, onde a
concentração do fármaco apresenta um aumento na corrente sanguínea, em que atinge
um máximo e depois diminui (LYRA, et al, 2007).
As devantagens destes sistemas de liberação são o risco de acúmulo, caso a
velocidade de eliminação do fármaco seja lenta, maior custo inicial do que a forma
convencional, dificuldade de interromper o tratamento em caso de intoxicação ou de
intolerância, dependência entre a cinética de liberação e a forma farmacêutica (SOUSA,
2009).
Deste modo, as formas farmacêuticas usuais apresentam algumas limitações,
entre elas a baixa acumulação do fármaco no sítio de ação que não proporciona uma
adequada absorção do mesmo e, finalmente, o fato de serem formas farmacêuticas
pouco eficazes para proteger a droga de uma metabolização e a excreção prematura.
Assim, existem duas maneiras para controlar a liberação, e consequente absorção dos
fármacos. Uma delas é baseada na sua modificação, a outra é baseada na modificação da
forma farmacêutica (ALMEIDA, 2009)
27

Figura 5: Concentração do fármaco após administração: (a) forma farmacêutica


convencional e (b) sistema de liberação controlada (SOUSA, 2009).

Fonte: Sousa, A. Híbridos de Gel Polimérico em Sílica Mesoporosa Estruturalmente


Ordenada para Liberação Controlada de Fármacos. Tese de Doutorado em Engenharia
Química. UFMG, 2009.

Diversos tipos de materiais podem ser utilizados na liberação controlada de


fármacos tais como: nanopartículas inorgânicas metais e sílicas mesoporosas,
nanoparticulas baseadas em polímeros, entre outros. Dentre os metais, o ouro se destaca
pelas propriedades ópticas e eletrônicas. (SAFARI; ZARNEGAR, 2013).
Lee e colaboradores estudaram clusters de monocamadas de ibuprofeno com
ouro derivatizado com tiol, foram preparados por amidação de ibuprofeno com álcool
13
ou aminofenol. Os compostos foram caracterizados por RMN de C e 1H, UV-Vis,
FTIR e microscopia. Através dos resultados obtidos os autores acreditam que o
ibuprofeno com nanoparticulas de ouro pode ser um candidato promissor no tratamento
da artrite reumatóide (LEE; SHENG; HUANG, 2013).
As sílicas mesoporosas são interessantes, devido à estabilidade dos poros, o que
facilita a encapsulação de fármacos, proteínas e outras moléculas, sendo as mais
utilizadas as sílicas M41S, SBA, MSU e HMS (SAFARI; ZARNEGAR,2013)
Hwang e colaboradores, em 2010, sintetizaram sílica SBA-15 funcionalizadas
com diferentes grupos funcionais, tais como amino, diamina, e os grupos de ácido
28

sulfônico para utilizar como materiais de suporte na liberação de fármacos. As


partículas foram caracterizadas através de microscopia eletrônica de varredura,
microscopia eletrônica de transmissão e medidas de potencial zeta. Usando o ibuprofeno
como uma droga modelo, verificou-se que a taxa de liberação aumentou, com o
aumento do pH. A diferença na velocidade de liberação está relacionada com a
interação eletrostática entre o fármaco e a superfície de partícula, que foi causado pela
funcionalização de superfície. (HWANG et al, 2010)
Sistemas baseados em polímeros são interessantes, devido às suas propriedades.
Para o uso de polímeros em liberação controlada de fármacos, ele deve possuir
características como ser biocompatível, biodegradável sem a formação de subprodutos
que sejam tóxicos, solúvel em vários solventes, entre outros. Podem-se utilizar
diferentes tipos de estruturas poliméricas, tais como: micelas poliméricas,
nanopartículas poliméricas, dendrímeros (SAFARI; ZARNEGAR, 2013; MISHRA et
al, 2010).
Podem-se usar também lipossomos e nanopartículas de lipídeos sólidos e
nanotubos de carbono.
Existe uma série de carregadores que podem ser utilizados na liberação
controlada de fármacos, entre eles, destacam-se as nanocápsulas poliméricas do tipo
reservatório, nas quais a substância encontra-se envolvida por uma membrana
polimérica, isolando o núcleo do meio externo e as nanoesferas poliméricas em que o
fármaco encontra-se homogeneamente disperso ou solubilizado no interior da matriz
(AZEVEDO, 2002).
Os biopolímeros, como a quitosana, permitem diminuir ou eliminar
inconvenientes como a sensibilidade gastrointestinal, que determinados fármacos
apresentam (SILVA et al, 2006).
Dentre os métodos de preparação para os sistemas de liberação controlada,
destacam-se homogeneização de alta pressão, coacervação, co-precipitação, salting out,
nanoprecipitação, solvente emulsificação-difusão e métodos utilizando o fluido
supercrítico (MISHRA et al, 2010).
O método de coacervação, os complexos iônicos são formados espontaneamente
em um processo a partir de 2 fases líquidas, em que resulta na interação de dois
polieletrólitos com cargas opostas, sob agitação em solução aquosa. Este processo leva
à formação de partículas micrométricas e nanométricas, dependendo do pH,
temperatura, peso molecular, força iônica e concentração dos polieletrólitos. Entretanto,
29

este método apresenta baixa estabilidade do fármaco e da eficiência no seu


carregamento, melhorando através de intercruzamento no complexo, tais como o
glutaraldeído (MISHRA et al, 2010).
Dessa maneira este trabalho propõe a preparação de complexos iônicos entre a
quitosana e o fármaco ibuprofeno e também um compósito com a argila do tipo
montmorilonita, visando contribuir com o entendimento do comportamento do fármaco
em solução aquosa dissociando-se das matrizes, sendo uma contribuição ao
desenvolvimento e entendimento de sistemas de liberação controlada.
30

2 OBJETIVO

O trabalho objetiva a preparação de um complexo iônico formado por quitosana


e ibuprofeno, pela reação de neutralização entre ambos a fim de se obter uma matriz
para um sistema de liberação controlada.
Com a finalidade de dissociar o fármaco lentamente da matriz de quitosana foi
preparado um nanocompósito de montmorilonita/quitosana contendo ibuprofeno,
compondo uma matriz.
Caracterizar as amostras preparadas usando técnicas espectroscópicas (FTIR,
DRX) e termoanalíticas (TG/DTG, DTA e DSC).
Avaliar o comportamento dos sistemas preparados em solução aquosa, com
ênfase na dissociação do fármaco a partir dos suportes.
31

3 PARTE EXPERIMENTAL

3.1 Materiais e Métodos

3.1.1 Reagentes e soluções

Os reagentes utilizados neste trabalho foram de grau analítico. A quitosana


passou por um processo de purificação de acordo com a literatura (SIGNINI;
CAMPANA FILHO, 1998).
As procedências dos reagentes são descritos na tabela abaixo:

Tabela 1: Reagentes utilizados e a procedência dos mesmos.

Grau de
Reagentes Procedência
Pureza

Quitosana Aldrich -
Ibuprofeno Purifarma comercial
Acido acético Mallinckrodt PA
Hidróxido de sódio Spectrum PA

Ácido clorídrico J. T. Baker PA

Ácido fosfórico Mallinckrodt PA

Na2HPO4.7H2O Spectrum PA
KH2PO4 J. T. Baker PA
Montmorillonita Clay Minerals -
SWy-1 Society

3.2 Metodologia experimental

3.2.1 Purificação da quitosana

A quitosana fornecida pela Aldrich proveniente de cascas de caranguejos, com


massa molar baixa (Mw~ 160 g mol-1).
32

Inicialmente, a quitosana (CTS) foi purificada dissolvendo-se o produto


comercial em solução de ácido acético 1% sob agitação durante 18 horas. Em seguida, a
solução foi filtrada em um funil de vidro sinterizado de porosidade de 5µm.
Posteriormente foi adicionado NH4OH concentrado para a precipitação da
quitosana sendo o precipitado lavado com água deionizada até alcançar o pH = 7, em
seguida lavado com etanol absoluto. O precipitado foi seco em temperatura ambiente e
armazenado em dessecador (SIGNINI; CAMPANA FILHO, 1998).

3.2.2 Obtenção do Complexo Iônico Quitosana-Ibuprofeno (CTS/IBU)

Quantidades apropriadas do fármaco e da quitosana foram adicionadas em 50,0


mL de água e o sistema mantido sob agitação durante 72 horas a temperatura de 40°C.
Após esse período o produto da reação foi lavado com água, e seco em estufa a 50ºC.
A mistura física do complexo iônico foi preparada misturando quantidades
adequadas na proporção 1:1 (m/m), sendo macerada em um pistilo e almofariz.

3.2.3 Obtenção do híbrido montmorillonita/ibuprofeno (MMT/IBU)

O ibuprofeno foi dissolvido em solução aquosa em pH ajustado a 8 com NaOH


0,1 mol L-1. A argila foi dispersa em 2 litros de água em pH 8. A solução de argila foi
agitada durante aproximadamente 15 horas para completa dispersão. Em seguida, a
solução de ibuprofeno foi gotejada com auxílio de bureta na suspensão de argila. A
suspensão de argila contendo ibuprofeno permaneceu sob agitação, por cerca de mais15
horas. Então, centrifugada durante 30 minutos a 3500 rpm e em seguida liofilizada
(ZHENG et al, 2007).
A mistura física do híbrido MMT/IBU foi preparada misturando quantidades
adequadas na proporção 1:1 (m/m), sendo macerada em um pistilo e almofariz.

3.2.4 Obtenção da matriz quitosana/montmorillonita/ibuprofeno (CTS/MMT/IBU)

A incorporação da quitosana na argila seguiu a metodologia descrita por


KEVADIYA et al, 2012 modificada. A preparação do sistema quitosana/argila envolve
a suspensão de quantidades adequadas de argila em água por 24h. O biopolímero foi
dissolvido em solução de ácido acético 1%.
33

Em seguida o pH da solução de quitosana foi ajustado para 5,5 e adicionada uma


suspensão de montmorilonita, com auxílio de uma bomba peristáltica para um
gotejamento lento e controlado. A mistura foi agitada por 48h a 50°C. O compósito
resultante foi obtido por centrifugação. O material foi lavado e centrifugado até as águas
de lavagem estarem livres de acetato. Segundo a metodologia descrita por KEVADIYA
et al a melhor proporção quitosana:montmorilonita é de 4:1 (m/m). Sendo essa mesma
proporção escolhida no presente trabalho.
Pesou-se 1,25 g de compósito de quitosana/montmorilonita foi suspendido em
500 mL de água por 30 minutos. Em seguida, adicionou-se de 200 mL uma solução de
ibuprofeno 5 g L-1. O material permaneceu sob agitação durante 24h a temperatura
controlada em banho termostático à 25°C. Decorrido esse tempo o material resultante
foi lavado e recolhido por centrifugação e liofilizado.
A mistura física do compósito CTS/MMT/IBU foi preparada misturando-se
quantidades adequadas na proporção 1:0,25:1 (g/g), sendo macerada em um pistilo e
almofariz.

3.3 Caracterização

3.3.1 Determinação do Grau de Desacetilação Titulação Potenciométrica

A literatura descreve diversas metodologias para determinar o grau de


desacetilação (GD) (SANTOS, et al, 2003; SIGNINI; FILHO, 1998; NIETO,
PENICHE-COVAS,PADRÓN, 1991;.RAYMOND, MORIN, MARCHESSAULT,
1993.), podendo-se destacar a titulação potenciométrica como uma das mais utilizadas
por ser um método simples, de baixo custo, não destrutivo e utilizar um pHmetro com
eletrodo de vidro. Essa técnica permite determinar o ponto de equivalência entre o
número de mols de OH- ou (H3O+) que esteja presente no analito (SKOOG et al, 2006).
Como é necessário se conhecer a massa de quitosana para reagir estequiometricamente
com o ibuprofeno, foi realizado o experimento de titulação potenciométrica para a
determinação do grau de desacetilação e assim foi possível calcular a massa molar
média da quitosana, estimando a massa do biopolímero necessária para reagir
estequiometricamente com o fármaco.
34

A partir dos dados experimentais determinou-se a primeira derivada da curva de


titulação. A partir dessa curva determinou-se o volume de base que foi utilizado para
calcular o grau médio de desacetilação conforme descrito na Equação 1.

𝑉𝑁𝑎𝑂𝐻 ∙𝑚𝑁𝑎𝑂𝐻
𝐺𝐷 = � � ∙ 100 (1)
�𝑚𝑄 −�𝑉𝑁𝑎𝑂𝐻 ∙𝑚𝑁𝑎𝑂𝐻∙161,22��
(𝑉𝑁𝑎𝑂𝐻 ∙𝑚𝑁𝑎𝑂𝐻 )+
203,22

Na qual, VNaOH é o volume da base, mNaOH é a concentração da base em mol L-1,


mQ é a massa de quitosana utilizada na titulação, 161,22 é a massa molar da unidade
desacetilada e 203,22 corresponde a massa molar da unidade acetilada.
Para a determinação do grau de desacetilação utilizou-se a metodologia adaptada
de Tolaimate et al. Cerca de 300 mg de quitosana foram adicionados em 20 mL de
solução padronizada de ácido clorídrico (0,1238 mol L-1) sob agitação contínua até a
total dissolução da amostra. Em seguida a solução foi titulada com solução padronizada
de hidróxido de sódio (0,09788 mol L-1). As variações do pH foram acompanhadas
durante a titulação com um pHmetro contendo eletrodo de vidro Corning pH meter 430
(TOLAIMATE et al, 2000)
Em razão da quitosana ser higroscópica foi levado em consideração o teor de
água obtido pela curva TG para a determinação da massa de biopolímero necessária
para reagir estequiometricamente (1:1) com o fármaco.

3.4 Técnicas

3.4.1 Análise elementar

Os teores de carbono, hidrogênio, nitrogênio da amostra de quitosana e do


fármaco foram investigados por análise elementar. As diferenças nos teores dos
elementos C, N e H foram úteis para determinar a presença do fármaco na matriz,
quando comparados com a quitosana.
Foram pesadas cerca de 2 mg de amostra e analisadas em um analisador
elementar da marca CE Instruments, modelo EA 1110, CNHS-O, utilizando o Hélio
como gás de arraste.
35

3.4.2 Espectroscopia de absorção na região do infravermelho com transformada de


Fourrier

Espectros na região do infravermelho foram registrados em um Bomem MB-102


na região de 400-4000 cm-1. Os espectros foram obtidos utilizando pastilhas preparadas
a partir do KBr, previamente seco em estufa, e a mistura da amostra foi homogeneizada
em um almofariz. Em seguida a mistura foi prensada em uma prensa hidráulica para
formar uma pastilha.

3.4.3 Análise Térmica

A definição de Análise Térmica adotada pelo Conselho da Confederação


Internacional de Análise Térmica e Calorimetria (ICTAC) em 2006 e publicada por
Rouquerol em 2007:

“Análise Térmica é o estudo da relação entre uma propriedade da amostra e


sua temperatura, enquanto a amostra é aquecida ou resfriada de maneira
controlada” (ROUQUEROL; WADSON; HAINES, 2007).

A termogravimetria (TG) é a técnica termoanalítica que acompanha as variações


da massa em função da temperatura. Seus resultados permitem avaliar a estabilidade
térmica, teor de massa perdida durante o aquecimento, teores de água e cinzas,
intermediários de decomposição, oxidação, entre outros (IONASHIRO, 2005)
Na termogravimetria derivada (DTG), a derivada da variação de massa em
relação ao tempo (dm/dt) é registrada em função da temperatura ou do tempo. As
vantagens da DTG, são apresentar com exatidão as temperaturas do inicio em que a
velocidade de reação é máxima, distinguir reações sucessivas, que não são facilmente
observadas pela curva TG e em determinações quantitativas em que as áreas dos picos
correspondem exatamente ao ganho ou perda de massa (IONASHIRO, 2005).
A análise térmica diferencial (DTA) é a técnica na qual se medida a diferença de
temperatura entre um material de referencia termicamente inerte e a amostra, à medida
que ambos são aquecidos ou resfriados em um forno. Estas medições de temperatura
são diferenciais, pois se registra a diferença entre a temperatura da referência, Tr, e a da
amostra Ta, ou seja, ΔT = Tr – Ta, em função da temperatura ou do tempo, no qual o
36

aquecimento ou resfriamento são sempre feitos linearmente (dT/dt = Cte)


(IONASHIRO, 2005).
Portanto, é de se esperar que resultados importantes possam ser obtidos em
relação à composição e várias propriedades físicas e químicas de um material, usando-
se tais técnicas.

3.4.3.1 Medidas termogravimétricas (TG)

As medidas termogravimétricas foram realizadas no Q600 da TA Instruments,


utilizando cerca de 7 mg de amostra, suporte de amostra de platina, razão de
aquecimento de 10 °C mim-1, sob atmosfera de ar com vazão de 100 mL mim-1.

3.4.3.2 Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC)

A calorimetria exploratória diferencial (DSC) permite avaliar as variações


energéticas às quais a amostra está sendo submetida sob uma programação controlada
de temperatura. Neste caso, fusões, transições de fase e outros eventos térmicos, que
não envolvem perda de massa podem ser avaliados, além de estudos do comportamento
a baixas temperaturas (IONASHIRO, 2005).
As medidas de calorimetria exploratória diferencial foram realizadas no Q10 da
TA Instruments, utilizando cerca de 3 mg de amostra, razão de aquecimento de 10 °C
mim-1, sob atmosfera de nitrogênio, com vazão de 50 mL mim-1. O suporte de amostra
utilizado foi um cadinho de alumínio com tampa. Um suporte de amostra vazio foi
utilizado como referencia.
Tanto a amostra como a referencia foram resfriados até -30°C utilizando
nitrogênio líquido. Submeteu-se a amostra a um ciclo de aquecimento de -30°C até
100°C em N2 com vazão de 50 mL mim-1 e razão de aquecimento de 10 °C mim-1.
Estudos complementares foram feitos sob as seguintes condições: ciclos de
aquecimento (A) e de resfriamento (R) com razão de aquecimento de 2,5; 5 e 10ºC min-
1
e vazão de 50 mL min-1.
37

3.3.5 Ressonância Magnética Nuclear1H e 13C

A ressonância magnética nuclear (RMN) é uma das técnicas mais utilizadas na


determinação do grau de desacetilação por utilizar pequenas quantidades de amostra em
cada analise. Além disso, permite a investigação tanto em estado líquido (1H) como em
sólido (13C).

RMN 13C
Equipamento: Bruker Avance III-400, operando num campo magnético de 9.4T (399.94
MHz para o núcleo de hidrogênio), equipado com uma sonda para análise de amostras
em estado sólido com giro em torno do ângulo mágico (MAS-4mm).
Preparo da amostra: as amostras (em pó) foram empacotadas em um rotor de 4mm de
zircônia. O rotor foi girado em torno do ângulo mágico a uma rotação de 5KHz.
A análise foi feita em temperatura ambiente (23ºC)
Experimento realizado: a sequencia de pulsos utilizada foi a de polarização cruzada
com supressão de bandas laterais (CPTOSS), com observação do núcleo de carbono-13
(frequência de 100.575MHz). Em ambas as amostras (CTS e CTS/IBU) esta sequência
de pulsos foi aplicada com os seguintes parâmetros: tempo de reciclo de 3s, tempo de
contato de 2ms, tempo de aquisição de 34ms, janela espectral de 295,9ppm. Para a
amostra de CTS foram feitas 2048 varreduras e para a amostra CTS/IBU foram
acumuladas 5120 varreduras.

RMN 1H
Equipamento: Bruker Avance III-400, operando num campo magnético de 9.4T
(400.132 MHz para o núcleo de hidrogênio), equipado com uma sonda para análise de
amostras em solução, equipado com uma sonda de detecção indireta para tubos de 5mm
autossintonizável e com gradiente máximo em z de 53,5 G/cm.
Preparo da amostra:uma massa de 10mg do material foi dissolvido em uma mistura de
595uL de água deuterada e 5uL de HCl (600uL no total). A temperatura foi controlada
em 70ªC.
Experimento realizado: foi utilizada uma sequência com pré-saturação do sinal do
solvente com um tempo de reciclo de 1s, tempo de aquisição de 4.1s e janela espectral
de 20ppm. Foram acumuladas 64 varreduras.
38

3.3.6 Dissociação do complexo iônico CTS/IBU

Para acompanhar a dissociação do fármaco da matriz de quitosana utilizaram-se


duas técnicas experimentais. A primeira foi a técnica de UV-Vis e a segunda foi através
da técnica de cromatografia líquida, do inglês High Performance/Pressure Liquide
Chromatography (HPLC). Para esses estudos as soluções do fármaco foram preparadas
com soluções: tampão fosfato pH 7,0 e ácido clorídrico pH 2,0.
As soluções para a curva de calibração foram feitas em pH 2,0 e 7,0, sendo que
em pH 2 o fármaco foi dissolvido numa quantidade mínima em etanol e depois o
volume completado com ácido clorídrico, sendo a quantidade de etanol desprezível. Em
pH 7,0 o fármaco foi diluído em tampão fostato pH 7,0.
Os espectros de UV-Vis foram obtidos em um espectrofotômetro Multispec
1501 da Shimadzu. Foram retiradas alíquotas da cela termostatizada (37ºC) em
intervalos regulares de tempo, durante 9 horas de acompanhamento.
Os cromatogramas das amostras foram obtidos num cromatógrafo líquido
modelo LC-20AD Shimadzu, coluna C18 Phenomenex 5,0um, 250 mm x 4,6 mm .
O complexo iônico CTS/IBU foi dissolvido em soluções de tampão fosfato à pH
7 e solução de HCl à pH 2, as soluções contendo os complexos foram colocadas em
uma cela termostatizada a 37°C e mantidas sob agitação constante durante o tempo de
estudo da dissociação (180 min). Foram retiradas alíquotas, que foram filtradas
utilizando-se filtro cromatográfico para seringa (Simplepure, 0,45 µm), em intervalos
regulares de tempo. As diferentes alíquotas foram analisadas técnicas de UV-Vis e
CLAE para determinar o perfil de dissociação do complexo iônico CTS/IBU, visando
quantificar o teor do fármaco livre.
Os métodos propostos para determinação pela técnica de CLAE foram adaptados
dos métodos descritos por Rasool et al, 2010 e por Battu e Reddy, 2009. Em pH 2, o
método utilizou a fase móvel H3PO4 0,01 mol L-1 e acetonitrila (55:45) com o fluxo de 2
mL min-1 e o volume da injeção de 20 µL. O detector ultravioleta (UV) foi utilizado no
comprimento de onda de 220 nm e o tempo de foi de 17 minutos para o Ibuprofeno. Em
pH 7, o método utilizou a fase móvel Tampão Fosfato pH 7 e acetonitrila (55:45) com o
fluxo de 1 mL min-1 e o volume da injeção de 20 µL, no comprimento de onda de 220
nm e o tempo de retenção foi de 3,7 minutos para a amostra analisada de Ibuprofeno.
39

3.3.7 Difração de raio X (DRX)

Para as medidas de raios X, foi utilizado um Difratômetro de raios X


RigakuRotaflex, modelo RU 200B, operado a 40 kV e 30 mA. A radiação de cobre foi
utilizada como fonte, com λ=0,154 nm.
40

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Determinação do Grau de Desacetilação (GD) da Quitosana por Titulação


Potenciométrica

A Figura 6 apresenta o gráfico da primeira derivada das titulações de quitosana


realizadas como descrito na parte experimental item 3.3.1. A partir da curva da primeira
derivada foi possível determinar os pontos de inflexão que correspondem ao início e
término da desprotonação dos grupos aminos, 5 mL e 21 mL respectivamente. A
titulação ocorre em duas etapas, na primeira a titulação leva à neutralização dos íons
hidrogênio em excesso, no ponto em que ocorre a neutralização verifica-se o aumento
acentuado do pH (primeiro pico). Na segunda etapa, ocorre a neutralização dos prótons
dos grupos amina da quitosana, e quando a neutralização é atingida ocorre outro
aumento acentuado do pH (segundo pico). As titulações são equivalentes, sendo a
principal diferença o volume de base necessária para desprotonação dos grupos amino.
O grau médio de desacetilação determinado pela titulação potenciométrica, de acordo
com a Eq. 1, foi de 80,03% e o grau de acetilação foi de 19,97%, com desvio padrão de
3,34 e massa média de 0,2363 g.

Figura 6: Gráfico de pH em função de volume de NaOH contendo a curva de titulação


potenciométrica e sua primeira derivada da quitosana. A solução padronizada de NaOH
0,09788 mol L-1 e solução patronizada de HCl 0,1238 mol L-1.

14 2,5
21 mL
12
5 mL 2,0

10
1,5

8
Derivada

1,0
pH

0,5
4

0,0
2

0 -0,5
-5 0 5 10 15 20 25 30

Volume NaOH (mL)


41

4.2 Determinação do Grau de Acetilação e Grau de Desacetilação (GD) da


Quitosana por RMN de 1H

A fim de comparar os resultados obtidos na titulação potenciométrica, utilizou-


se a espectroscopia de RMN1H, pois esta é quantitativa nas análises de amostras de
quitosana em relação aos valores de GA (grau de acetilação) e GD (grau de
desacetilação).
A Figura 7 apresenta o gráfico de RMN 1H da Quitosana. O sinal de
deslocamento químico dos hidrogênios correspondentes aos carbonos anoméricos dos
monômeros desacetilados aparecem em aproximadamente 5,4 ppm (H1) e os sinais
correspondentes ao hidrogênio dos monômeros acetilados corresponde a 5,0 ppm (H4).
A região de 4,2 até 4,5 apresentam sinais correspondentes aos hidrogênios ligados aos
carbonos 3, 4 e 5 e 6 da unidade polimérica, e o sinal localizado em 3,6 ppm (H2)
corresponde ao hidrogênio ligado O grau de acetilação médio foi determinado por
RMN1H da quitosana, utilizando a área do pico na região de 2 ppm atribuído aos
núcleos de hidrogênio da metila do grupo acetamido (ACH3) e a área do pico em 3,2 ppm
atribuído ao núcleo de hidrogênio na posição 2 do anel de glicosamino (AH2), conforme
a equação 2. (SIGNINI; CAMPANA FILHO, 1998).

%GA = (ACH3/3AH2) x 100 (2)

%GD = 100 – [(ACH3/3AH2) x 100] (3)


42

Figura 7: Espectro de RMN 1H da quitosana, em destaque núcleo de hidrogênio do


grupo metila do grupo acetamido (1) e os picos do núcleo de hidrogênio na posição 2 do
anel de glicosamino (2).

1
2

6 5 4 3 2
ppm

A relação de áreas representada pela Equação 2 estão relativamente livres das


influências do pico de HOD (d = 3,8 ppm), por isso, utiliza-se as áreas relativas a
núcleos dos grupos metila presentes no grupo acetamido e ao núcleo na posição 2 do
anel de glicosamino, (SANTOS et al, 2003).
Através da Equação 2, o grau de acetilação calculado foi de 19,44% e o grau de
desacetilação de 80,56%. A determinação do grau médio de desacetilação, GD, por
titulação potenciométrica apresentou concordância com os valores de GD obtidos por
RMN 1H.

4.3 Obtenção do Complexo iônico CTS/IBU

O complexo iônico (CI), foi obtido através da reação da quitosana com o


ibuprofeno em meio aquoso, com base nos seguintes equilíbrios:

-
HIBU IBU +H+ (pKa =4,5; POTTHAST et al, 2005) (4)

HCTS+ CTS + H+ (pKa=6,3;GONSALVES et al, 2011) (5)


43

-
HIBU + CTS HCTS+ + IBU- → HCTS+IBU (6)

Esses equilíbrios mostram que é possível promover uma reação de neutralização


entre a forma ácida do ibuprofeno e a os grupos -NH2 livres da quitosana, com formação
de um complexo iônico nos sítios desacetilados do biopolímero, conforme representado
na Eq. 6. Em termos experimentais foi possível verificar que o valor de pH do meio
reacional contendo quitosana e ibuprofeno, na mesma solução aquosa, variou de pH 6
para pH 5 após 72 h de reação. Essa diminuição de pH sugere que a quitosana teria sido
protonada, formando o complexo iônico, enquanto o excesso de Ibuprofeno presente no
meio reacional liberaria H+, pelo equilíbrio representado na Eq. 4, pois seu pKa é menor
que o da HCTS.

A Equação de Henderson Hasselbalck (Eq. 7), permite avaliar a relação de


concentrações de ácido e base conjugados presente em solução, considerando seu pKa.

pH = pKa + log [A-]/[HA] (7)

Usando essa equação foram calculadas as relações de [Ibu-]:[HIbu] e


[CTS]:[HCTS+], presentes em diferentes valores de pH, conforme se apresenta na
Tabela 2. Assim, foi possível prever a reação em meio aquoso, visto que a reação
começou em pH 6 e ao término da reação o pH estava em 5.

Tabela 2: Variação nas concentrações de H+ e nas relações de concentração [Ibu-


]:[HIbu] e [CTS]:[HCTS+], em função do pH, segundo a Equação de
Handerson e Hasselbach*

pH [H+] / 10-7mol L-1 [Ibu-]:[HIbu] [CTS]:[HCTS+]


7,5 0,316 1000: 1 10:1
6,5 3,16 100:1 1:1
6 10,0 31,6:1 1:3,16
5,5 31,6 10:1 1:10
5 100 3,16:1 1:31,6
4,5 316 1:1 1:100
*Considerando os pKa’s de 4,5 e 6,5 para o IBU e CTS, respectivamente.
44

De acordo com os dados da Tabela 2, é possível observar que em pH 5 a


quantidade de HIbu é maior que em pH 6.
A Figura 8 representa um modelo de como ocorreria a formação do complexo
iônico envolvendo o ibuprofeno e o biopolímero quitosana. A interação ocorreria entre
o grupo carboxílico do ibuprofeno (-COOH) e o grupo amina da quitosana (-NH2). Esta
reação é dificultada pela baixa solubilidade do fármaco, entretanto com o aumento da
temperatura e o tempo de reação foi possível promovê-la, tendo como base os
equilíbrios representados nas Eqs. 4-6.

Figura 8: Representação estrutural do complexo iônico de quitosana e ibuprofeno,


considerando 100% de substituição dos grupos amino livres na matriz da quitosana e as
águas de hidratação.

OH
OH
O
O
+
NH3
O .xH O
2
OH - O
O NH
OH
O H 3C O

GD 1-GD

Além da formação do complexo iônico, outras interações podem agir em um


sistema desse tipo. Segundo Rodriguez, Alvarez-Lourenzo e Concheiro, a presença de
regiões apolares e os grupos amônio nos polissacarídeos catiônicos podem aumentar a
intensidade da interação tanto com o anel aromático do fármaco, quanto com seu grupo
carboxílico, tornando possível combinar a hidrofobicidade e as forças de Coulomb
(RODRIGUEZ; ALVAREZ-LOURENZO; CONCHEIRO, 2003).
45

4.4 Análise Elementar

Os teores de carbono, hidrogênio, nitrogênio e oxigênio da amostra de quitosana,


do fármaco e dos produtos de reação, foram determinados por análise elementar para
avaliar a formação do complexo iônico.
A Tabela 3 apresenta os teores de N, C e H dos compostos de partida e do
complexo iônico formado.

Tabela 3: Resultados de análise elementar do ibuprofeno, quitosana e o


complexo iônico.

Elemento / %, exp(calc)a
Amostra
N C H

Ibuprofeno 0(0) 77,1 (75,8) 8,7 (8,8)

Quitosana 7,4 (8,3) 40,0 (42,6) 7,3 (6,5)

CI 72 h (aquoso) 4,6 (3,7) 57,7 (59,8) 7,9 (7,6)

a- exp = teores obtidos experimentalmente; calc. = valores calculados

Por meio da análise elementar foi confirmada a massa molar para o complexo
iônico (MMCI) calculada utilizando-se a Equação 8. Para esse cálculo, considerou-se o
grau de desacetilação da quitosana como sendo 100% de substituição dos grupos amino
livres. O teor de água na quitosana foi determinado por termogravimetria, sendo da
ordem de 12,48% (sessão 4.6). Uma proposta da estrutura do complexo iônico (CI) é
apresentada na Figura 8.

MMCI= [(MMIbuxGd)+(MMQuitosana desacetiladaxGd)+(MMquitosana acetiladaxGa)]/0,8752 (8)

Tendo em vista que o teor de carbono e hidrogênio no ibuprofeno são maiores


em relação à quitosana, deve-se esperar que haja aumento nos teores desses elementos,
quando o ibuprofeno é incorporado à matriz do biopolímero. Já o teor de nitrogênio
46

deve ser menor no complexo iônico em relação ao composto de partida, pois ele está
presente apenas na quitosana.

4.5 Espectroscopia na região do Infravermelho (FTIR)

A Figura 9 apresenta os espectros de FTIR obtidos para a quitosana, ibuprofeno,


mistura física de quitosana e ibuprofeno e o complexo iônico CTS/IBU.

Figura 9: Espectros de FTIR da quitosana (CTS), do ibuprofeno (IBU), da mistura


física (MF/CTS/IBU) e do complexo (CTS/IBU) em pastilhas de KBr.

CTS/IBU

20%
MF/CTS/IBU
1508
2954
2924

1718 IBU

1594 1383
1671
3480 CTS
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
número de onda (cm-1)
Na Figura 9, observaram-se as bandas características da quitosana tais como, a
banda de estiramento axial de OH centrada em 3480 cm-1. Essa banda é sobreposta à
banda de estiramento N-H (3360 cm-1). A deformação axial C=O da amida é observada
em 1671 cm-1; a deformação angular de N-H encontra-se em 1594 cm-1; a deformação
angular simétrica em 1383 cm-1 é atribuída ao CH3; a deformação axial de -CN de
amida e a deformação axial de -CN de grupos amino são encontradas em 1429 cm-1 e
47

1318 cm-1, respectivamente. Além de bandas de estruturas polissacarídicas na região de


890 a 1156 cm-1 (BRUGNEROTTO et al, 2001; SANTOS et al, 2003)
Para o ibuprofeno as principais bandas observadas foram: uma banda de
estiramento intensa e característica em 1718 cm-1 da carbonila C=O do ácido
carboxílico, o estiramento do C-H aromático em 3089 cm-1, o estiramento do CH3 em
2954 cm-1 e o estiramento do CH2 em 2924 cm-1 (BANNACH et al, 2010).
Comparando-se o espectro da quitosana com o complexo iônico de
Quitosana/Ibuprofeno, observou-se que a banda referente à carbonila C=O (1665 cm-1
na quitosana) é deslocada para 1637 cm-1 no complexo iônico. Segundo Qandil et al.,
quando ocorre a formação da interação eletrostática entre o fármaco e a quitosana a
banda da carbonila do Ibuprofeno deixa de ser observada e ocorre um deslocamento da
carbonila da quitosana para números de onda menores, indicando a formação do
complexo iônico CTS/IBU. Quando o pico da carbonila aparece em torno de 1720 cm-1,
é uma indicação de que o ibuprofeno está livre na forma ácida e considera-se que a
complexação não foi completa (QANDIL et al, 2009).

4.6 Análise Térmica

4.6.1 Curvas TG/DTG e DTA da quitosana, ibuprofeno e do complexo iônico

A Figura 10 apresenta o comportamento térmico da quitosana, em relação às


curvas TG, DTG e DTA.
48

Figura 10: Curvas TG, DTG e DTA da quitosana em atmosfera de ar, com vazão de
100 mL min -1, massa de amostra em torno de 6 mg, em cadinho de α-alumina e razão
de aquecimento de 10ºC min-1.

1,2
100 0,5
1,0
0,4
80

DTA (ºC mg-1)


0,8

DTG ( % ºC-1)
0,3
60 0,6
Massa (%)

0,2
40 0,4
0,1
0,2
20
0,0
0,0
0 -0,1
-0,2
0 200 400 600 800 1000
Temperatura (°C)

Analisando a curva TG da quitosana pode-se observar três perdas de massa. O


primeiro corresponde à desidratação, o segundo da decomposição do biopolímero, e o
terceiro a queima do material carbonizado (SANTOS et al, 2003). O detalhamento dos
intervalos de temperatura, perdas de massa e picos DTA, são apresentados na Tabela 4.

Tabela 4: Intervalos de perdas de massa e temperatura da amostra de quitosana


Δm1(%)/ºC Δm2(%)/ºC Δm3(%)/ºC Resíduo

12,48 (21-180ºC) 42,37(180-400ºC) 45,15 (400-660ºC) 0 (660-1000ºC

Na curva TG do ibuprofeno (Fig. 11), pode-se observar apenas uma perda de


massa entre 120ºC até 250ºC, sem resíduo no cadinho ao final do experimento. Através
da curva DTA, observou-se a fusão do fármaco, representada por um pico endotérmico
em 74,85ºC, o qual concorda com os resultados descritos por BANNACH et al
(BANNACH et al, 2010).
Após a perda de massa, a curva DTA mostra um evento endotérmico em
296,73°C e outro exotérmico em 679,93°C, referentes à decomposição de resíduos e
queima de traços de material carbonizado, respectivamente.
49

Figura 11: Curvas TG. DTG e DTA do Ibuprofeno em atmosfera de ar, m≈6 mg, com
vazão de 100 ml min -1, em cadinho de α-alumina, razão de aquecimento de 10ºC min-1.

3,0 6
100
4
2,5
80

DTA (ºC mg-1)


2

DTG (% ºC-1)
2,0 0
60
Massa (%)

-2
1,5
40 -4
1,0
-6
20
0,5 -8

0 -10
0,0
-12
0 200 400 600 800 1000

Temperatura (ºC)

A Figura 12 apresenta os perfis termogravimétricos dos produtos obtidos pela


mistura física da quitosana e do ibuprofeno na relação 1:1 (m/m) e daquele proveniente
da reação em meio aquoso por 72h, juntamente com as curvas TG dos precursores para
comparação.
50

Figura 12: Curvas TG e DTA da quitosana, ibuprofeno, mistura física e complexo


ionico em atmosfera de ar, m≈6 mg, com vazão de 100 ml min -1, em cadinho de α-
alumina, razão de aquecimento de 10ºC min-1.

100 Ibuprofeno
Complexo iônico Quitosana
Mistura Física 3
Complexo Iônico
80 Ibuprofeno Mistura Física
Quitosana 2

DTA (mg ºC-1)


60
Massa (%)

40
0

20
-1

0
-2
0 200 400 600 800 1000
0 200 400 600 800 1000
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºC)

Comparando-se os resultados obtidos para os precursores e produtos, observa-se


que na curva TG da mistura física, os eventos térmicos são bem definidos em 4 etapas,
envolvendo a desidratação da quitosana, seguida pela decomposição do Ibu e
decomposição do biopolímero. A semelhança de perfis permite concluir que se trata de
curva que coincide com aquelas dos precursores, revelando que não há interação entre
eles. O detalhamento dos intervalos de temperatura e perdas de massa estão
apresentados na Tabela 5.
Tabela 5: Perda de massa e intervalos de temperatura das amostras de CTS, Ibu, CI e
MF.
Amostra Δm1(%)/ºC Δm2(%)/ºC Δm3(%)/ºC Δm4(%)/ºC Resíduo

CTS 12,48 42,37 45,01 0,14

(21-180ºC) (180-400ºC) (400-660ºC) (660-1000ºC)

Ibu 99,54% 0,46%

(21-249ºC) (249-1000ºC)

CI 11,16% 42,69% 19,74% 26,14% 0,27%

(21-111ºC) (111-219ºC) 219-308ºC 308-566ºC 566-1000ºC

MF 2,58% 44,41% 25,12% 27,40ºC 0,34%

(21-100ºC) 100-216ºC 216-400ºC 400-650ºC 650-1000ºC


51

Nas curvas do produto obtido após 72 h de reação, observa-se, inicialmente, uma


perda de massa referente à desidratação, seguida de uma nova perda de massa que se
assemelha à do Ibu e duas outras semelhantes às da quitosana.
O patamar entre 230-338 °C para o complexo iônico é bastante discreto, por
outro lado, esse patamar é distinto nas curvas da CTS e da mistura física, assim como
muda o perfil da última etapa, cujas temperaturas de início e fim são inferiores àquelas
observadas na curva TG do biopolímero.
Essas observações são corroboradas pelos resultados apresentados na Fig. 12,
que mostra as curvas DTA dos precursores, da mistura física e do produto de reação
após 72 h de reação. Nestas curvas é evidente que há a fusão do Ibu, além dos processos
de decomposição do fármaco e do biopolímero, em temperaturas semelhantes àquelas
observadas para os compostos originais.
Na curva DTA do produto após 72 h de reação a principal constatação é
ausência do pico de fusão do fármaco, assim como uma atenuação significativa na
intensidade dos picos de decomposição. Isso mostra forte interação entre o fármaco e o
biopolímero, que associada aos resultados de FTIR descritos na sessão anterior
reforçam a hipótese da formação do complexo iônico.

4.6.2 Calorimetria Exploratória Diferencial

Curvas DSC do ibuprofeno, foram obtidas com ciclos de aquecimento e de


resfriamento, sob razão de aquecimento de 10ºC min-1 e vazão de 50 mL min-1, entre -
30 e 100 ºC. Analisando os resultados obtidos, observou-se na primeira rampa de
aquecimento apenas o pico de fusão do fármaco em 76,9 ºC, neste intervalo de
temperatura. No resfriamento não foi observado nenhum evento térmico, sugerindo que
a amostra manteve-se amorfa. Entretanto, na segunda rampa de aquecimento, notou-se
antes da fusão em 76,8 ºC, um pico exotérmico alargado, como mostra a Figura 13.
52

Figura 13: DSC do Ibuprofeno com ciclos de aquecimento (1º e 3º) e de resfriamento
(2ºC) com razão de aquecimento de 10ºC e vazão de 50 mL min-1.

3ºCiclo

0,5

Fluxo de Calor (W mg-1)


2ºCiclo

0,5

1ºCiclo

-40 -20 0 20 40 60 80 100 120


Temperatura (°C)

A fim de investigar o pico exotérmico antes da fusão, o ibuprofeno foi


submetido a vários ciclos de aquecimento/resfriamento, com diferentes razões de
aquecimento. Observou-se que em 2,5 ºC min-1 na rampa de aquecimento, o pico
exotérmico em 37,0ºC ficou mais definido. Já com a razão de 5ºC min-1, o pico foi
deslocado para 48,9ºC, como mostra a Figura 14.
53

Figura 14: DSC do Ibuprofeno com ciclos de aquecimento (A) e de resfriamento (R)
com razão de aquecimento de 2,5; 5 e10ºC min-1 e vazão de 50 mL min-1.

-1
2 A (10ºC min )

-1
R (10ºC min )
4
-1
A (5ºC min )
8
Fluxo de Calor (W °C-1)

-1
R (5ºC min )
4
-1
A (2,5ºC min )
8
-1
R (2,ºC min )
5
-1
A (10ºC min )
12

-40 -20 0 20 40 60 80 100


Temperatura (°C)

Desta forma pode-se concluir que o Ibu não se cristaliza na rampa de


resfriamento, mantendo-se amorfo. Porém, ao ser reaquecido o fármaco cristaliza-se e
torna a fundir.
Bannach e colaboradores observaram fenômeno semelhante a partir de curvas
DSC, usando ciclos de aquecimento/resfriamento, sob N2 com vazão de 100 mL min-1, a
razão de aquecimento de 20 ºC min-1, massa aproximadamente de 2,5 mg e cadinho de
alumínio. Os autores propuseram que o ibuprofeno retorna ao estado sólido lentamente
após a fusão (BANNACH et al, 2010).
Entretanto, isso não explicaria porque o fármaco só cristaliza-se na rampa de
aquecimento, mesmo sob razões de resfriamento tão lentas quanto 2,5 °C min-1. Uma
possibilidade poderia ser que a cristalização ocorre mediante uma energia de ativação,
proveniente do aquecimento, que leva à mudança da fase amorfa para cristalina no
sólido.
54

Por outro lado, comparando-se as curvas DSC do ibuprofeno, da mistura física e


do produto após 72 h de reação (Fig. 15), observou-se que a mistura física e o fármaco
apresentam o picos de fusão em 76,8ºC e 76,9ºC respectivamente. Entretanto, no
produto de reação após 72 h de reação, não é possível observar o pico de fusão do
fármaco, a exemplo do que já se havia sido observado a partir das curvas DTA.
Dessa maneira, sendo a técnica de DSC sensível, evidencia a proposição de que
existe uma interação entre a quitosana e o ibuprofeno, ou seja, reforça a idéia da
formação do complexo iônico.

Figura 15: DSC do Ibuprofeno, Mistura física e do Complexo Iônico com razão de
aquecimento de 10ºC min-1 e vazão de 50 mL min-1, m≈ 3,5 mg.

CI

1W°C

MF

1W/°C

IBU

2 W/°C

-20 0 20 40 60 80 100
Temperatura (°C)

4.7 RMN 13C

A ressonância magnética nuclear RMN 13C foi utilizada para quantificar o grau
de substituição dos grupos amino (-NH2) da quitosana que foram substituídos pelo
ibuprofeno.
O grau de substituição foi calculado de acordo com o valor obtido pela área do
C3 do sal, que é referente ao pico do ibuprofeno (Fig.16) (obtido através da base de
55

dados “ Spectral Database for Organic Compounds (SDBS)”, dividindo pelo C1 da


quitosana (Figura 16) .
13
O grau de substituição obtido pelo RMN C, através da equação 9, foi de 55,55%.

GS= C3((Sal)/C1(CTS) x100 (9)

Na Figura 16, pode-se observar os espectros de RMN 13 C, obtidos para as amostras de


ibuprofeno, quitosana e do complexo iônico.

Figura 16: Espectros de RMN 13C do ibuprofeno, quitosana e complexo iônico e as


estruturas com os carbonos enumerados.

CI

C1(Q)
C7(Q)
C3(I)

CTS
C3, C5

C1 C6,C2
C4
C7 C8

IBU
C12, C13
C3
C1
C5-C9

250 200 150 100 50 0 -50


ppm

13
Através dos espectros de RMN C, foi calculado o grau de acetilação da quitosana
(GA), utilizando a relação do Carbono 7, com o carbono 1 da quitosana (Eq.10). Obteve-se
17,37% de acetilação e 82,63% de desacetilação. Comparando os resultados obtidos por
56

titulação (GD=80,03%), por RMN 1H (GD=80,56) e por RMN 13C (GD=82,63), observa-se que
os valores estão em concordância.

GA= [C7/(0,5xC1)]x100 (10)

4.8 Estudos da Dissociação do complexo iônico CTS/IBU utilizando a


Espectroscopia na região do UV-Vis

Os espectros de UV-Vis para o Ibuprofeno em pH 2,0 (HCl) e pH 7,0 (Tampão


Fosfato, TF) são apresentados na Figura 27. Observa-se que o Ibu apresenta duas
bandas, uma centrada em 220 nm e outra em 264 nm para ambos os valores de pH.
A equação 11 apresenta a equação Lambert-Beer (SKOOG et al, 2006) utilizada
para a determinação do coeficiente de absortividade molar.

A= ε.l.c (11)
Na qual, A= Absorbância

ε=coeficiente de absortividade molar (L mol-1cm-1.)

l= caminho óptico (cm)

c= concentração (mol L-1)


Figura 17: Espectros na região do UV-Vis para o ibuprofeno na concentração de
1,7x10-3 mol L-1 em pH 2,0 e pH 7,0.

0,5 3,0
IBU pH 2 IBU em pH 7
2,5
0,4

2,0
0,3

1,5
Abs
Abs

0,2
1,0

0,1
0,5

0,0 0,0

200 300 400 500 600 700 800 200 300 400 500 600 700 80
Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm)
57

A Figura 18 apresenta o gráfico da absorbância em função de diferentes


concentrações de ibuprofeno em pH 2,0. A partir dos pontos experimentais obteve-se a
equação da reta: y= 7,5x10-3 + 464,42X, r= 0,999, n=5. O coeficiente de absortividade
molar em pH 2 do ibuprofeno foi de 464,42 L mol-1cm-1.

Figura 18: Gráfico da absorbância (264 nm) em função de diferentes concentrações de


ibuprofeno em pH 2.

0,14

0,12

0,10

0,08
Abs

0,06

0,04

0,02

0,00

0,00000 0,00005 0,00010 0,00015 0,00020 0,00025


-1
Concentração (mol L )

A Figura 19, mostra o gráfico de absorbância em função da concentração de


ibuprofeno em pH 7,0. A partir do gráfico obteve-se a equação da reta y=2,13x10-
3
+422,53X, r = 0,999, n = 7. O coeficiente de absortividade molar em pH 7,0 do IBU foi
de 422,53 L mol-1cm-1.
58

Figura 19: Gráfico da absorbância (264 nm) em função da concentração de ibuprofeno


em pH 7.

0,4

Abs

0,2

0,0

0,0000 0,0002 0,0004 0,0006 0,0008 0,0010


-1
Concentração (mol L )

A dissociação do complexo iônico quitosana/ibuprofeno foi acompanhada


durante 9 horas em 264 nm em p.
A massa de complexo iônico colocada para reagir é composta de quitosana livre,
quitina e complexo iônico. A quantidade de matéria de ibuprofeno na amostra foi
calculada considerando-se o grau de acetilação, o grau de substituição e a massa molar
média do complexo iônico resultante por meio da equação 12.

(𝑚𝐶𝑇𝑆 + 𝑚𝐶𝑇𝑆/𝐼𝐵𝑈 )× (𝐺𝑆×𝑚𝐶𝐼 )


𝑛𝐼𝐵𝑈 = 𝑀𝑀𝐶𝐼
(12)

Sendo:
𝑚𝐶𝑇𝑆 = 𝑀𝑀𝐶𝑇𝑆 × %𝐶𝑇𝑆𝑙𝑖𝑣𝑟𝑒 (13)
𝑚𝐶𝑇𝑆/𝐼𝐵𝑈 = 𝑀𝑀𝐶𝐼 × 𝐺𝑆 (14)

Nas quais: nIBU representa o número de mols de ibuprofeno, mCTS é a massa de


quitosana, mCTS/IBU é a massa do complexo iônico, GS é o grau de substituição, mCI é a
massa do complexo iônico pesada, MMCI é a massa molar do complexo iônico, MMCTS
massa molar da quitosana, %CTSlivre é a massa de quitosana livre.
A partir da equação 12 foi possível calcular a massa total de ibuprofeno contida
na amostra e então a quantidade dissociada em função do tempo foi estimada, a partir
59

dos resultados obtidos por espectroscopia de UV-Vis, utilizando-se as curvas analíticas


previamente determinadas para o fármaco.
Comparando-se as duas dissociações cumulativas, Figura 20, pode-se perceber
que em pH 7,0, após 9 horas praticamente 100% do IBU dissocia-se da matriz de
quitosana. Em pH 2,0, observa-se que em 1 hora ocorre a máxima dissociação, em torno
de 20% de ibuprofeno se dissocia. Após esse tempo não se observa nenhuma variação.
Este fato pode ser adequado, pois em pH 2,0 (pH estomacal) o fármaco não será
totalmente dissociado, enquanto que em pH 7,0 (pH intestinal), praticamente todo
fármaco foi dissociado.

Figura 20: Gráfico da dissociação cumulativa do ibuprofeno em função do tempo na


concentração 1 g L-1 do complexo iônico em 264 nm a 37ºC
Dissociação cumulativa de Ibuprofeno (%)

100

80 pH 7
pH 2
60

40

20

0 2 4 6 8 10

Tempo (horas)

4.9 Estudos da Dissociação do Ibuprofeno utilizando Cromatografia Líquida de


alta eficiência (CLAE)

A cromatografia líquida foi utilizada para confirmar a dissociação do ibuprofeno


em pH 2,0 e 7,0. Foi utilizada a concentração de 0,1 g L-1 do complexo iônico.
Acompanhou-se a variação da concentração de ibuprofeno em 220 nm em função do
tempo e a calibração foi feita por padrão externo. O preparo das soluções foi realizado
conforme descrito na seção experimental 3.3.6. As curvas analíticas são apresentadas
nas Figuras 21 e 22.
60

Figura 21: Curva analítica do IBU em pH 2,0. Equação de regressão linear: y =


2349,47 + 571152,31X e coeficiente de correlação linear (r), r = 0,982.

60000

50000

40000
Area

30000

20000

10000

0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10


-1
Concentração (mmol L )

Figura 222: Curva analítica do IBU em pH 7,0. Equação de regressão linear:


y=28609,14 + 5,95x106X e r = 0,999.

6000000

5000000

4000000
Area

3000000

2000000

1000000

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0


-1
Concentração (mmol L )

A Figura 23 apresenta o gráfico de concentração de Ibuprofeno dissociada em


função do tempo.
61

Figura 23: Comparação da concentração do Ibuprofeno em função do tempo, utilizando


0,1 g L-1 do complexo iônico, no comprimento de onda de 220 nm, a 37ºC .

100

Dissociação cumulativa de ibuprofeno (%)


0,5 pH 2
pH 7 80
0,4
Concentração (mmol L-1)

60
0,3

40
0,2

20
0,1

0,0 0

-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200


Tempo (min)

Analisando-se o gráfico da Figura 23 pode-se observar que em pH 2,0, há um


tempo de indução, o que não é observado no pH 7,0. Em pH 7,0 com 20 minutos
ocorreu a dissociação de aproximadamente 40 % de IBU, indicando que a dissociação é
favorecida em pH 7,0.
Baseado nos resultados obtidos o perfil de dissociação do ibuprofeno em
diferentes valores de pH, pode-se propor um mecanismo de dissociação conforme
apresentado na Figura 24. O mecanismo leva em consideração o pH do meio, sendo
dissociação em pH 7,0 favorecida e dissociação em pH 2,0 desfavorecida.
62

Figura 24: Esquema da dissociação do complexo iônico CTS/IBU.

OH
OH
O
O
+
NH3
O .xH O 2
OH - O
O NH
OH
O H 3C O

GD 1-GD

-O
OH
O OH
O
O
+ +
NH3
O .xH O2
OH O
NH
OH
H 3C O
pKa = 4,5 GD 1-GD
-H + pKa = 6,3

+H + - H+
+ H+
HO
OH
O OH
O
O
(sólido) (sólido)
O
OH NH2 O
NH
OH
H 3C O

GD 1-GD
63

4.10 Caracterização do nanocompósito montmorilonita-quitosana contendo


ibuprofeno.

A incorporação da quitosana na argila seguiu a metodologia por KEVADIYA et


al., conforme descrito na seção experimental 3.2.4.
A caracterização do material preparado foi avaliado por difração de raios X,
FTIR e TG/DTA.

4.10.1 Difração de Raios – X

Para avaliar a extensão da intercalação do biopolímero na argila foram realizados


experimentos de DRX, para determinação da distância interbasal da argila, utilizando a equação
de Bragg (equação 15).
nλ = 2d sin θ (15)
Na qual,
n=1 - (equivale à ordem de difração)
λ=0,154 nm - (comprimento de onda da radiação incidente)
d - distância interplanar ou interlamelar
θ - máximo da intensidade do pico

A Figura 25 apresenta os difratogramas para as diferentes amostras preparadas e


a Tabela 6 mostra as distâncias interlamelares calculadas para as amostras estudadas.
Observa-se que a argila apresenta um pico em 2θ = 7, o ibuprofeno apresenta um
pico em 2θ= 6,0. Desta forma, a distância interlamelar (d001) da MMT é de 12 Å. Na
mistura física de MMT/IBU pode-se observar um o pico em 2θ= 6,0, relativo ao
ibuprofeno. Na argila modificada com ibuprofeno por intercalação em solução
(MMT/IBU), nota-se um pico mais alargado com máximos em 2θ = 6 e 2θ = 6,2,
atribuídos ao ibuprofeno e argila, respectivamente. O pico da argila (2θ = 7) é
deslocado para valores de menores de 2θ (6,2). Isso indica um aumento da distância
interlamelar devido à intercalação do ibuprofeno nas lamelas da argila.
Para o nanocompósito MMT/CTS contendo IBU, observou-se um deslocamento
do pico da argila para valores menores de 2θ (2θ ~ 3,7o) resultando em um aumento da
distância interlamelar, indicando que além da intercalação do IBU nas lamelas da argila
houve a intercalação do biopolímero. Observou-se também que o difratograma do
MMT/CTS/IBU apresenta características da quitosana como observado em 2θ=19,7. Na
64

mistura física do nanocompósito com IBU pode-se observar um o pico em 2θ=6,0,


relativo ao IBU, sendo que este não houve a intercalação do IBU.

Figura 25: Difratogramas de raios-X das amostras montmorilonita, ibuprofeno, hibrido


MMT/IBU, mistura física da MMT/IBU, quitosana, do compósito com IBU e da
mistura física do compósito MMT/CTS/IBU.

400 MMT/CTS/IBU_MF

1000 MMT_CTS_IBU
CTS
Intensidade

1000
1000 MMT/IBU_MF

1200 MMT/IBU

8000 IBU
800 MMT

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

65

Tabela 6. Distância interlamelar e valores de 2θ para a argila MMT e MMT/IBU,


mistura física, e dos nanocompósitos MMT/CTS/IBU.

Amostras 2θ d (Å)

MMT 7,4 12,0

IBU 6,0

MMT/IBU (MF) 6,0

MMT/IBU 6,0 e 6,2 14,7

MMT/CTS/IBU 3,7 23,9

MMT/CTS/IBU (MF) 6,0

Deste modo, através dos resultados obtidos foi possível observar que o tanto o
ibuprofeno quanto a quitosana intercalam na MMT quando preparados por intercalação
em solução.

Trabalhos anteriores de Lertsutthiwong et al., e Hua et al, descrevem a


intercalação em solução de quitosana em MMT. Lertsutthiwong et al., em 2012,
estudaram a influência da quitosana nas propriedades da matriz quitosana e
montmorilonita. Estudos de raios X, mostraram que a quitosana isolada apresentou um
pico de difração em 2θ = 10,5º e na montmorilonita de sódio foi observado um pico em
2θ = 7,1º. Após a mistura da quitosana com a argila foi observado que o pico de
difração da montmorilonita desapareceu e um novo pico foi observado em 2θ = 5,9-6,1º.
O movimento do pico de difração da montmorilonita de sódio até um ângulo inferior
indicou a formação de uma nanoestrutura intercalada, enquanto que o alargamento do
pico e intensidade diminuiu sugerindo a presença de uma estrutura intercalada ou
esfoliada desordenada (LETSUTTHIWONG et al, 2012).
Hua e colaboradores, em 2010, prepararam um hidrogel de quitosana e
montmorilonita com o fármaco ofloxacin (OFL), na qual através da difração de raios X,
observaram que a reflexão da quitosana em de 2θ apresentou característica de estrutura
cristalina hidratada, mas a sua intensidade foi largamente enfraquecida após a formação
66

das esferas OFL. As reflexões intensas, características em 6º e 10,9º devido à presença


de cristais de OFL desapareceram no padrão, indicando que a OFL estava dispersa em
nível molecular na matriz de polímero, ou intercalada para sistemas híbridos e não
foram encontrados cristais nas matrizes carregadas de drogas (HUA et al, 2010).

4.10.2 Espectroscopia de absorção de infravermelho com transformada de


Fourrier

A Figura 26 apresenta o espectro de FTIR da argila MMT, que é composto por


uma banda larga na região de 3000 – 3600 cm-1 devido ao estiramento da ligação O-H
(hidroxila) e uma banda 1000-1200 cm-1 característica do estiramento da ligação Si-O-
Si (silanol). O ibuprofeno apresenta uma banda característica em 1722 cm-1 referente ao
grupo carbonila C=O. No espectro da argila MMT contendo IBU, pode-se observar que
há bandas características de ambos.
67

Figura 26: Espectros de absorção na região do infravermelho das amostras da argila


montmorilonita, ibuprofeno, hibrido MMT/IBU, mistura física da MMT/IBU,
quitosana, do compósito com IBU e da mistura física do compósito MMT/CTS/IBU.

MMT/CTS/IBU_MF

40
1722 MMT/CTS/IBU

40
CTS
Transmitância (%)

30 MMT/IBU_MF

50
MMT/IBU
1722

40
IBU
1722

60 1722 MMT

20
1051

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500


Número de Onda (cm-1)

Segundo Kevadiya et al., a presença de bandas características nos compósitos de


CTS/MMT pode ser uma indicação da intercalação do biopolímero na argila.
(KEVADIYA et al, 2012).
68

4.10.3 Termogravimetria

O ibuprofeno apresenta apenas uma etapa de decomposição de 25 a 234°C,


observando a oxidação total do fármaco, sem a formação de resíduos carbonizados. Na
curva TG da argila MMT, observou-se 3 perdas de massa, a primeira etapa foi de
desidratação entre 25 a 77°C, a segunda perda ocorre entre 77 a 716°C, a partir de
716°C há a formação do resíduo final, em torno de 86% referente aos óxidos metálicos.
A curva TG da MMT/IBU apresenta quatro perdas de massas. A primeira perda
de massa ocorre entre 25 e 100°C refere-se a desidratação do material. Em seguida o
material anidro decompõe-se em três etapas de perda de massa consecutivas, sendo que
a primeira ocorre entre 100 e 243°C, a segunda entre 243 a 468°C e a terceira etapa
entre 468 a 1000°C, estas etapas de perda de massa referem-se a oxidação da matéria
orgânica levando a formação de cerca de 41% de resíduo devido a formação dos óxidos
de metais presentes na argila.
Na curva TG da mistura física, observa-se 3 etapas de decomposição, a primeira
ocorre entre 25 e 96°C devido a desidratação da mistura, em seguida 2 etapas de perda
de massa consecutivas entre 96 a 237°C e 237 a 704°C. O resíduo formado foi de 45%
devido aos óxidos metálicos.
Nos estudos referentes à degradação térmica da quitosana pode-se observar 3
perdas de massa. A primeira corresponde à desidratação 12,48% (21-180ºC), a segunda
da decomposição do biopolimero 42,37% (180-400ºC), e o terceiro a queima do
material carbonizado 45,15% (400-660ºC).
No compósito CTS/MMT/IBU observa-se 3 eventos de perda de massa, o
primeiro entre 20-100ºC referente a desidratação com 7,13%, sendo entre 100-343ºC
com 17,21% e a terceira perda entre 343-705ºC com 12,39%, e ao final apresentou
resíduo de 59,44%. Já na mistura física do CTS/MMT/IBU observa-se 4 eventos
térmicos o primeiro referente a perda de 5,49% de água entre 20-100ºC, o segundo entre
100-203ºC com 29,96% característico do ibuprofeno, o terceiro entre 203-320ºC com
18,61%, o quarto entre 320-580ºC com 26,94% resultando em 19% de resíduo.
Através dos resultados obtidos, Fig. 27, sugere-se que o ibuprofeno foi
intercalado na argila devido ao surgimento de uma etapa de decomposição e a
porcentagem de resíduo formado. Já no compósito sugere-se também que houve a
intercalação do ibuprofeno devido as diferenças observadas entre o compósito e a
mistura física.
69

Figura 27: Curvas TG e DTA das amostras ibuprofeno, montmorilonita, hibrido


MMT/IBU, da mistura física MMT/IBU, da quitosana, do compósito CTS/MMT/IBU e
da mistura física CTS/MMT/IBU em atmosfera de ar, com vazão de 100 mL min-1,
massa de amostra em torno de 6 mg, em cadinho de α-alumina e razão de aquecimento
de 10ºC min-1.

100 0,5
100
90 0,0 80 0,4
CTS 0,3
80 60
0,2
70 -0,2 40
0,1
60 MMT/IBU_MF 20 0,0
50 0 -0,1
40 -0,4
0,4
100 0,3

DTA (ºC mg-1)


100 -0,08 MMT_CTS_IBU_MF 0,2
90 80

Massa (%)
0,1
80 60 0,0
70 -0,16 -0,1
60 40 -0,2
50 MMT/IBU -0,24 20 -0,3
Massa (%)

DTA (ºC mg-1)

40 -0,4

0,1
100
102 0,0 0,0
100 90 -0,1
98 -0,1 MMT_CTS_IBU -0,2
96 80
-0,3
94
92 -0,2 70 -0,4
90 MMT 60 -0,5
88 -0,3 -0,6
86 0 200 400 600 800 1000
Temperatura (ºC)
0,1
100
80 0,0
60 IBU
40 -0,1
20
0 -0,2

0 200 400 600 800 1000


Temperatura (°C)

Ainda na Figura 27, são apresentadas as curvas DTA dos compostos isolados, do
compósito MMT/CTS/IBU da mistura física MMT/CTS/IBU, hibrido MMT/IBU e
mistura física de MMT/IBU. Observa-se os eventos relacionados aos eventos térmicos
observados nas curvas TG. Na curva DTA do ibuprofeno, observou-se um pico
endotérmico em 78°C referente à fusão do fármaco. Este pico também é observado na
mistura física e na MMT/IBU e na mistura física do compósito CTS/MMT/IBU.
Também são observados picos endotérmicos referentes à desidratação da amostra e
picos exotérmicos referentes à decomposição da matéria orgânica.
70

Na curva DTA do compósito CTS/MMT/IBU não se observa o pico do


ibuprofeno, sugerindo a interação entre o polímero, a argila e o fármaco.

4.10.4 Estudos da dissociação do compósito de MMT/CTS/IBU

A técnica de CLAE foi utilizada para avaliar a dissociação do ibuprofeno da


matriz montmorillonita e quitosana no pH 2 e 7. Foi utilizada a concentração de 0,1 g L-
1
do compósito.
Como se pode observar na Figura 28 a dissociação do ibuprofeno do compósito
MMT/CTS não é favorecida. Após 60 minutos a concentração de IBU dissociada foi da
ordem de 0,01 mmol L-1 para ambos os valores de pH. Enquanto a dissociação do IBU
do complexo iônico (CTS/IBU) decorrido esse tempo foi da ordem de 0,15 mmol L-1
para o pH 2,0 e 0,3 mmol L-1 para pH 7,0. Isso indica que a presença da argila no
nanocompósito favorece a retenção do IBU na matriz.

Figura 28: Comparação da dissociação cumulativa do Ibuprofeno em função do tempo,


em pH 2,0 e 7,0, utilizando 0,1 g L-1 do compósito, no comprimento de onda de 220 nm,
a 37ºC.

0,05
pH 7
pH 2

0,04
Concentração (mmol L-1)

0,03

0,02

0,01

0,00

-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

Tempo (min)

Comparando-se as dissociações nos dois valores de pH observa-se que em pH 7


a dissociação do IBU do material é menor que em pH 2. Resultados similares foram
obtidos por Kevadiya et al.. Os autores descreveram que a liberação do 5-FU foi
71

acompanhado nos pH 1,2 e 7,4. Os autores afirmam que a carga negativa da argila
aumenta com o aumento do pH, enquanto o farmaco (pKa = 8) permanece carregada
positivamente, mesmo em pH 7,4. Isto indica que o fármaco se liga mais fortemente à
argila, por isso é liberado lentamente depois de 12 horas a pH 7,4. A presença de
biopolímeros nos compósitos influencia a interação entre o fármaco e a argila, por sua
vez, acelera a liberação do fármaco a partir do fármaco-biopolimero/argila compósitos.
Assim, a liberação do fármaco era comparativamente mais rápida do que os compósitos
de argila pura em ambos pH. Assim, aumentando o teor de biopolímero nos compósitos
de biopolímero/argila podem aumentar a velocidade de liberação. A liberação de
fármacos podem ser controladas por meio do controle da quantidade de biopolímero no
compósito (KEVADIYA et al, 2012).
72

5 CONCLUSÃO

O complexo iônico foi obtido através de uma reação entre o grupo –NH2 da
quitosana e o grupo -COOH do ibuprofeno em meio aquoso.
A dissociação do ibuprofeno do complexo iônico é favorecida em pH 7 quando
comparado a pH 2. Este fato pode ser adequado, pois em pH 2 (pH estomacal) o
fármaco não será totalmente dissociado, enquanto que em pH 7 (pH intestinal),
praticamente todo fármaco estará dissociado.
No estudo da dissociação do ibuprofeno do nanocompósito MMT/CTS foi
observado retenção do ibuprofeno na matriz. Este resultado pode estar relacionado com
a intercalação do IBU na argila dificultando a dissociação.
O trabalho pode ajudar na compreensão dos mecanismos de liberação
controlada, visto que a dissociação do ibuprofeno é influenciado pelo pH e através do
biopolímero quitosana ou do compósito quitosana/argila.
73

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