Extração Pitanga
Extração Pitanga
Extração Pitanga
w
i
logd
i
n
i-1
w
i
n
i-1
[2]
Onde: d
i
= (d
i
.d
i+1
)
0,5
; d
i:
abertura nominal da i-sima peneira (mm); d
i+1
: abertura nominal da
peneira maior que a i-sima peneira (mm); w
i
: massa do material retido na i-sima peneira.
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
43
4.2.4 Densidade aparente
Para a determinao da densidade aparente, utilizou-se o leito fixo de 300 cm
3
(extrator) como recipiente de volume padro. Por 10 vezes seguidas, completou-se o seu
volume com a semente de Pitanga triturada e depois de retirada do extrator, a massa foi
mensurada em um bquer previamente tarado. A densidade aparente foi obtida pela relao
entre a mdia das massas e o volume do leito fixo.
4.3 Obteno dos Extratos com CO
2
Supercrtico
4.3.1 Processo de extrao
O procedimento de extrao consistiu em promover o contato entre as sementes
trituradas, que estavam acondicionadas no extrator de leito fixo de 300 cm
3
, com o CO
2
supercrtico em condies pr-estabelecidas de presso (P) e temperatura (T) em um
delineamento experimental. O controle da presso foi realizado por uma bomba de alta
presso, enquanto que a temperatura de operao foi mantida atravs de um banho
termostatizado, no qual o extrator foi acondicionado. O extrato, separado do gs, foi
continuamente coletado em um frasco coletor imerso em banho de gelo e o CO
2
quantificado em um rotmetro, medidor de vazo de gs s condies ambientes. Ao final
do processo, os extratos foram pesados e relacionados com a massa de sementes secas
acondicionadas no extrator para o clculo do rendimento global. A Figura 5 mostra o
equipamento utilizado no presente experimento e o produto final do processo, o extrato
supercrtico.
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
44
A
B
1: cilindro de CO2; 2: manmetro do cilindro; 3: banho termostatizado; 4: tanque de refrigerao do CO2; 5:
bomba HPLC; 6: painel de comando do banho termostatizado; 7: banho termostatizado do extrator; 8: tanque
pulmo; 9: manmetros tipo Bourbon do tanque pulmo (esquerda) e do extrator (direita); 10: extrator; 11:
vlvulas de estanque e vlvulas micromtricas; 12: medidor de vazo em condies ambiente.
Figura 5 - Sistema de extrao com CO
2
supercrtico do LTAPPN, FZEA/USP (A). Extrato
supercrtico de semente de Pitanga (B).
4.3.2 Delineamento Composto Central Rotacional
As condies operacionais do procedimento experimental foram definidas de acordo
com o Delineamento Composto Central Rotacional (DCCR)
com P e T como variveis
independentes. Foram considerados cinco nveis com quatro pontos estrela e triplicatas no
ponto central (Tabela 3) (RODRIGUES; IEMMA, 2009).
Tabela 3 - Nveis dos dois fatores, presso e temperatura, no DCCR.
Fatores
Nveis
- -1 0 +1 +
Presso P (Kgf.cm
-2
) 83 110 175 240 267
Temperatura T (C) 31 35 45 55 59
= 1,41
Esse delineamento experimental gerou uma matriz com 11 ensaios (Tabela 4), os
quais foram realizados aleatoriamente. Para todos os testes, foi padronizado um tempo de
equilbrio esttico de 16h (perodo em que a matriz fica em contato com o CO
2
nas
condies supercrticas definidas no DCCR, sem ocorrer o arraste do extrato) e o tempo de
extrao dinmica, tambm padronizado para todos os ensaios, foi de 6h.
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
45
Tabela 4 - Matriz do DCCR de dois fatores incluindo trs pontos centrais para o estudo do
efeito da presso e temperatura nos extratos da semente de Pitanga.
Ensaios
Variveis codificadas Variveis
P T (P) (Kgf.cm
-2
) T (
C)
1 -1 -1 110 35
2 +1 -1 240 35
3 -1 +1 110 55
4 +1 +1 240 55
5 -1.41 0 83 45
6 +1.41 0 267 45
7 0 -1.41 175 31
8 0 +1.41 175 59
9
e
0 0 175 45
10
e
0 0 175 45
11
e
0 0 175 45
e = pontos centrais
4.3.3 Extrao supercrtica com co-solvente (SC-EtOH)
Com o objetivo de comparar com os extratos obtidos pelo uso somente do CO
2
supercrtico, fez-se uma extrao supercrtica utilizando Etanol (EtOH) padro analtico
(Synth, BR) como co-solvente (SC-EtOH). Adicionou-se 30 mL de etanol em 72 g de
sementes trituradas, o suficiente para umedec-las e acondicionou-se a matriz embebida
em EtOH no extrator e procedeu-se a extrao nas condies de 175 Kgf.cm
-2
e 45C, as
condies do ponto central do DCCR tambm com 16h de tempo de equilbrio esttico e 6h
de extrao.
4.3.4 Purificao do extrato supercrtico obtido com co-solvente
Extratos obtidos com EtOH e outros solventes polares normalmente extraem taninos
com alto grau de polimerizao de matrizes vegetais. Sendo as sementes ricas em taninos e
visando estudar a composio da frao dos extratos supercrticos obtidos por SC-EtOH
isentos destes taninos com alto grau de polimerizao, diluiu-se 100 mg do extrato bruto,
obtido pelo emprego do co-solvente (SC-EtOH), em 2,5 mL de metanol (MeOH) de grau
cromatogrfico (J.T.Baker, USA) e adicionou-se 32,5 mL de clorofrmio padro analtico
(Synth, BR). Esta soluo foi estocada a 4C durante 3h na ausncia de luz e logo em
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
46
seguida, centrifugada (FANEN 215, BR) a 4.000 rpm e 5C durante 10 min. O sobrenadante
separado do decantado foi rotaevaporado uma presso de 600 mmHg (YAMATO RE-41,
JP), temperatura ambiente e ausncia de luz (LHUILLIER et al., 2007).
4.4.5 Cintica de extrao
Baseando-se nas condies operacionais que favoreceram os mais altos rendimentos,
selecionou-se o ponto central do DCCR (175 Kg.cm
-2
e 45C), estudou-se a cintica durante
18h de extrao dinmica, com trocas de frascos de coleta a cada 20 min. Foram
mensuradas as vazes volumtricas e a massa do extrato obtido para cada intervalo. Os
valores experimentais da taxa de transferncia de massa para cada 20 min geraram a curva
cintica (Origin v. 8.0, USA), que tambm foi expressa em funo da vazo volumtrica de
CO
2
.
4.4 Caracterizao dos Extratos
4.4.1 ndice de refrao
O ndice de refrao dos extratos supercrticos de semente de Pitanga foi mensurado
em refratmetro (LAMBDA 2WAJ, ATTO Instruments Co, HK), em funo da luz de sdio no
comprimento de onda de 589,3 nm e temperatura de 20C e 40C. A calibrao do
aparelho foi feita com gua destilada, cujo ndice de refrao de 1,3330 a 20C (IAL,
2008). Para manter a temperatura constante durante as mensuraes, circulou-se gua
proveniente de um banho termostatizado na temperatura de leitura.
4.4.2 Caracterizao dos extratos em cromatografia em camada delgada (CCD)
A anlise foi feita em todos os extratos obtidos a uma concentrao de 5.000 ppm, em
MeOH de grau cromatogrfico (J.T.Baker, USA).
Para a visualizao da presena de terpenos nos extratos foi utilizado como revelador
uma soluo cida de Anisaldedo (Sigma Aldrich, GE) preparada conforme descrito por
Wagner e Bladt (2009). Como fase estacionria utilizou-se placas de Slica Gel 60 F
254
e
como fase mvel, uma soluo de tolueno (Merck,GE), acetato de etila grau cromatogrfico
(Mallinckrodt Chemicals, USA) (93:7, v:v). Aps a eluio da amostra, o Anisaldedo foi
aspergido sobre a placa, seco com o auxlio de um secador de cabelos (Airstyle 130, BR) e
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
47
aquecido com uma pistola trmica (Steinel, HL 1605S, USA) at que se visualizassem as
bandas eludas com colorao variada.
Para cada banda visualizada na cromatoplaca, relacionou-se as distncias percorridas
pelas bandas e a distncia percorrida pelo solvente (eq.3) para se obter o fator de reteno
(R
f
) relativo a cada banda. O R
f
uma constante fsica de uma determinada substncia,
desde que se observem as condies de corrida (caractersticas da cromatoplaca, a
qualidade e quantidade da fase mvel, a temperatura, o volume e a concentrao das
substncias aplicadas) (COLLINS; BRAGA; BONATO, 1995).
R
f
=
distncia {cm, mm{ percorrida pela substncia
distncia {cm, mm{ percorrida pela frente da fase mvel
[3]
Na anlise da atividade antioxidante nos extratos, utilizou-se como fase mvel uma
soluo de tolueno (Merck, GE), acetato de etila (Mallinckrodt Chemicals, USA) (95:5, v:v) e
como revelador, uma soluo metanlica de 0,05% do radical 2,2-difenil-1-picrilhidrazil
(DPPH) (Sigma Aldrich, GE) aspergido sobre a placa aps eluio e secagem. As placas
foram incubadas temperatura ambiente e ao abrigo da luz e ento ocorreu a visualizao
das bandas. Aquelas que apresentaram colorao amarela sob o fundo roxo mostraram o
indicativo de reao de oxi-reduo, indicando componentes com atividade antioxidante.
4.4.3 Anlise do perfil de volteis por cromatografia gasosa acoplado a espectrmetro
de massas (CG/EM)
A composio voltil dos extratos, a uma concentrao de 400 ppm em MeOH foi
analisada por meio de cromatgrafo gasoso com espectrmetro de massas acoplado
(CG/EM) (QP 2010 Plus, Shimadzu, JP) com injetor automtico (AOC-5000, SWI). Nesta
anlise utilizou-se uma coluna capilar Rtx
C
40
(Fluka, GE), que foi analisado no CG/EM nas mesmas condies dos extratos e os
tempos de reteno, bem como as respectivas temperaturas.
KI {x{= 100P
z
+ 100
(logRT {x{- logRT (P
Z
)
logRT {P
Z+1
{- logRT {P
Z
{
[4]
Onde: RT(x) o tempo de reteno do analito; RT(P
z
) o tempo de reteno do alcano
imediatamente anterior ao do analito; RT(P
z+1
) o tempo de reteno do alcano
imediatamente posterior ao do analito.
AI (x)=100Pz+100
T{x{ - T {Pz{
(T (P
Z+1)
- T {P
Z
{)
[5]
Onde: T(x) a temperatura no tempo de reteno do analito; T(P
z
) a temperatura no
tempo de reteno do alcano imediatamente anterior ao do analito; T(P
z+1
) a temperatura
no tempo de reteno do alcano imediatamente posterior ao do analito.
Com vistas a quantificar os sesquiterpenos em maior concentrao nos extratos,
utilizou-se o mtodo de normalizao externa e, como padro o monoterpeno R-(+)-
limonene (Sigma Aldrich, GE) em diferentes concentraes nas mesmas condies de
anlise de CG/EM que os extratos, e fez-se uma curva padro com o eixo das ordenadas
sendo as reas dos picos e o eixo das abscissas sendo as concentraes em ppm das
diluies (Figura 6).
A partir da equao gerada com o ajuste linear dos pontos experimentais, quantificou-
se os sesquiterpenos relacionando-os concentrao em Equivalente de Limoneno
(EqLim). A concentrao dos terpenos nos extratos tambm foi uma resposta analisada no
DCCR, utilizando a anlise de superfcie de resposta (ASR).
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
49
Figura 6 Curva padro de Limoneno para o clculo da concentrao de sesquiterpenos
expresso em Equivalente de Limoneno (EqLim) dos extratos de semente de Pitanga.
4.4.4 Anlise de compostos fenlicos totais (CFT)
Compostos polifenlicos so relevantes por agirem contra as patologias cardacas,
hipertenso arterial e degenerao relacionada idade. Polifenis totais so comumente
quantificados pelo mtodo Folin-Ciocalteu. Uma srie de estudos tem apresentado o
contedo total de polifenis de produtos alimentares, a fim de estabelecer comparaes com
outros produtos similares e informaes mais detalhadas sobre este sub-grupo de
antioxidantes que compreendem, principalmente os flavonides, ligninas e taninos
(WOOTTON-BEARD; MORAN; RYAN, 2011).
A concentrao de compostos fenlicos totais foi determinada usando a metodologia
descrita por Singleton e Rossi (1965). Foram adicionados 1 mL dos extratos diludos em
MeOH grau cromatogrfico (J.T.Baker, USA) 1.000 ppm, a 5 mL de soluo de reagente
de Folin-Ciocalteu (Haloqumica, BR) diluda em gua destilada (1:10, v:v). Aps 10 min, 4
mL de soluo aquosa com 7,5% de carbonato de sdio anidro padro analtico (Synth, BR)
foi adicionado. Depois de 2h em temperatura ambiente sem a presena de luz, as medidas
das absorbncias foram feitas em espectrofotmetro (Biospectro SP 22, BR) com
comprimento de onda variando entre 400 e 800 nm. O branco foi preparado similar aos
extratos, porm com 1mL de MeOH em substituio soluo contendo os extratos.
0 20 40 60 80 100 120 140 160
0
500.000
1.000.000
1.500.000
2.000.000
2.500.000
3.000.000
3.500.000
y = 48221,1229 + 21191,0373x
R
2
= 0,9957
r
e
a
d
o
p
i
c
o
Concentrao de Limoneno (ppm)
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
50
cido Glico (Fluka, SWI) foi utilizado na determinao da curva padro (0, 20, 30, 40
e 60 ppm) (Figura 7). A concentrao de fenlicos totais foi calculada e expressa em mg
equivalente de cido Glico (GAE) por 100 g de sementes de Pitanga secas.
Figura 7 - Curva padro de cido glico para determinao quantitativa de compostos
fenlicos totais.
4.4.5 Atividade antioxidante pelo mtodo DPPH
DPPH um radical livre, estvel a temperatura ambiente, que produz uma soluo
violeta em etanol. Na redox, ele reduzido na presena de molculas antioxidantes,
resultando no descoloramento da soluo para amarelo (MENSOR et al., 2001). Em um
tubo de ensaio, adicionou-se a 3,9 mL da soluo metanlica (J.T.Baker, USA) 610
-5
M
de DPPH (Sigma Aldrich, GE) e uma alquota de 0,1 mL de diferentes concentraes de
todos os extratos. As leituras foram realizadas em espectrofotmetro (Biospectro SP 22, BR)
a 515 nm, sendo todas as determinaes realizadas em triplicata e acompanhadas de um
controle sem o antioxidante. A queda na leitura da densidade tica dos extratos adicionados
de radical DPPH foi correlacionada com o controle, estabelecendo-se a porcentagem de
descolorao do DPPH, a qual indicou a atividade antioxidante para os extratos obtidos nos
diferentes testes (BRAND-WYLLIANS et al., 1995).
0 10 20 30 40 50 60
0,000
0,100
0,200
0,300
0,400
0,500
0,600
0,700
y = 0,00169 + 0,0104x
R
2
= 0,9998
A
b
s
o
r
b
n
c
i
a
cido glico (ppm)
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
51
4.4.6 Atividade antioxidante pelo mtodo ABTS
Para a determinao da atividade antioxidante pelo mtodo do radical cido 2,2'-
azinobis-(3-etil-benzotiazolino-6-sulfnico) (ABTS
+
) (Sigma Aldrich, GE), usou-se a
metodologia descrita por Re et al. (1999), com adaptaes de Rufino et al. (2007).
Inicialmente o ABTS
+
foi formado a partir da reao de 7 mM de ABTS
+
com 140 mM de
persulfato de potssio padro analtico (Synth, BR). Esta soluo foi incubada a temperatura
ambiente e na ausncia de luz por 16 h. Transcorrido esse tempo, a soluo foi diluda em
etanol padro analtico (Synth, BR) at a obteno de uma soluo com absorbncia de
0,70 ( 0,02) no comprimento de onda de 734 nm. No momento da mensurao da atividade
antioxidante, foram misturados 30 L de todos os extratos diludos em diferentes
concentraes com 3 mL da soluo contendo o radical e determinou-se a absorbncia em
espectrofotmetro (Biospectro SP 22, BR) a 734 nm, aps 9 horas de reao, perodo
necessrio para o alcance da estabilidade das leituras das absorbncias. Como soluo
padro, usou-se o antioxidante sinttico Trolox (Sigma Aldrich, GE) nas concentraes de
100 a 2.000 M em EtOH e a resposta da ativao deste antioxidante nas reaes de oxi-
reduo com o ABTS
+
(Figura 8) indicada pela queda da absorbncia com a concentrao
de antioxidante foi utilizada para indicar a atividade antioxidante dos extratos. Todas as
leituras foram realizadas em triplicata, e os resultados foram expressos em mM de Trolox
por 100g de sementes secas.
Figura 8 - Curva padro que relaciona a concentrao de Trolox com a resposta da inibio
do ABTS+ com leitura feita a 734 nm.
0 500 1000 1500 2000
0,100
0,200
0,300
0,400
0,500
0,600
A
b
s
o
r
b
n
c
i
a
Concentrao de Trolox (M)
y = - 2,9356E-4x + 0,6838
R = 0,9804
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
52
4.4.7 Determinao da atividade antimicrobiana - concentrao inibitria mnima
A determinao da atividade antimicrobiana foi realizada no Laboratrio de
Microbiologia e Micotoxicologia de Alimentos na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de
Alimentos (FZEA/USP). Estas anlises foram realizadas para os extratos obtidos com CO
2
supercrtico, ponto central do DCCR, com o CO
2
supercrtico e etanol como co-solvente (SC-
EtOH), via Soxhlet e a frao purificada do extrato obtido na extrao SC-EtOH. Os testes
utilizaram as cepas Pseudomonas aeruginosa ATCC 15442, Bacillus subtilis ATCC 6623,
Escherichia coli ATCC 25922 e Staphylococcus aureus ATCC 25923 (CEFAR, BR),
conforme metodologia descrita por Andrade et al. (2010) e DallStella (2008).
As cepas puras das bactrias foram repicadas em 10 mL de caldo nutriente (Oxoid,
UK) e incubadas a 35C, 24 h antes do teste. Aps as 24 horas de incubao, as
absorbncias dos tubos contendo o caldo e os micro-organismos foram comparados com a
absorbncia do tubo 0,5 da escala de MacFarland, equivalente a 1,510
8
unidades
formadoras de colnias pra cada mL (UFC.mL
-1
), por meio de densitmetro UV (Suspension
Turbidity Detector, DEN-1, LV) em comprimento de onda de 625 nm.
O teste consistiu em inocular assepticamente os extratos diludos em MeOH (1.000;
500; 250; 125; 62,5; 31,25 e 15,625 ppm) no caldo Mueller-Hinton (Oxoid, UK) j contendo
as bactrias incubadas (1,510
8
UFC.mL
-1
) e aps mais 24 h de incubao a 37C, avaliou-
se a concentrao inibitria mnima (CIM), definida como a mais baixa concentrao onde
no ocorre desenvolvimento microbiano. Esta anlise constituiu em verificar a ausncia da
turbidez no tubo contendo a amostra, como um indicativo da inibio do crescimento das
bactrias. A organizao das diluies dos extratos bem como os controles (tubos 8 e 9)
est listada na Tabela 5.
O controle negativo (tubo 8) se faz necessrio para eliminar a possibilidade de
resultados falso-positivos em funo da turbidez apresentada pelo extrato. O controle
positivo (tubo 9) indica o crescimento dos microorganismos, sem a influncia das amostras,
nas mesmas condies do ensaio. A leitura do resultado, atravs da anlise visual da
turbidez, foi realizada pela comparao de cada tubo com o controle negativo, sendo
considerado como CIM a menor concentrao da amostra nas diluies estudadas em que
no houve crescimento bacteriano, verificada pela limpidez da amostra contida nos tubos.
Todos os ensaios foram realizados em duplicata.
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
53
Tabela 5 Diluio e contedo dos tubos de ensaio para determinao da Concentrao
Inibitria Mnima.
Tubo Diluio Contedo
1 1:1ou 1000 ppm 1 mL do extrato
2 1:2 ou 500 ppm 1 mL do extrato e 1 mL de caldo Mueller Hinton
3 1:4 ou 250 ppm 1 mL do 2 tubo e 1 mL de caldo Mueller-Hinton
4 1:8 ou 125 ppm 1 mL do 3 tubo e 1 mL de caldo Mueller-Hinton
5 1:16 ou 62,5 ppm 1 mL do 4 tubo e 1 mL de caldo Mueller-Hinton
6 1:32 ou 31, 25 ppm 1 mL do 5 tubo e 1 mL de caldo Mueller-Hinton
7 1:64 ou 15,625 ppm mL do 6 tubo e 1 mL de caldo Mueller-Hinton
8 - 1:64 ou 15,625 ppm (controle negativo)
9 - 1mL de caldo (controle positivo)
4.4.9 Inibio da enzima arginase
A determinao da inibio da enzima arginase foi realizada no Laboratrio de
Imunologia e Parasitologia da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da
Universidade de So Paulo (FZEA/USP). A enzima arginase foi obtida de duas fontes, a
partir do fgado de rato e replicada atravs do protozorio Leishmania amazonensis,
modificado geneticamente na sua forma pr-mastigota, que cresce em ambiente extracelular
e possui flagelo. Para a produo da enzima no protozorio, primeiramente o gene
responsvel pela produo da arginase foi isolado e amplificado em reao em cadeia de
polimerase (PCR), adicionado a um organismo vetor, neste caso, a E. coli BL21 como
plasmdio e finalmente conjugado a outros protozorios, que uma vez assimilando o DNA
com alta expresso de arginase, iniciam a sua produo (SILVA et al., 2008). As enzimas
provenientes do fgado de rato e da Leishmania amazonensis foram purificadas por tcnicas
de cromatografia de afinidade com metal imobilizado e cromatografia de troca inica. O
eluato foi ento usado para teste de inibio da arginase neste trabalho.
Para este teste, foram utilizados os seguintes extratos, com composio diferentes: (1)
o extrato supercrtico de sementes de Pitanga obtido nas condies de 175 Kgf.cm
-2
e 45C,
ponto central do DCCR, (2) extrato obtido pelo mtodo Soxhlet, (3) extrato supercrtico em
que se utilizou Etanol como co-solvente (SC-EtOH) e (4) frao purificada do extrato SC-
EtOH. Todos os extratos foram diludos a 1.000 ppm em MeOH grau cromatogrfico
(J.T.Baker, USA). O ensaio de inibio continha 10 mL de arginase de fgado de rato, 100
mM de L-arginina (pH 9,6) como substrato e 40 mL dos extratos que compunham o volume
final de reao de 100 mL aferindo com gua destilada. A mistura de reao foi incubada
por 15 minutos a 37C. Para a arginase da Leishmania, o procedimento foi o mesmo
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
54
diferindo somente a procedncia da enzima. O controle para os experimentos foi um a
mistura contendo o substrato, o solvente e a enzima arginase. Atividade de arginase foi
determinada por ensaio espectrofotomtrico, no qual a leitura da absorbncia do tubo
contendo os extratos foi relacionada com as leituras do controle negativo, sem os analitos
(BERGMEYER, 1985). A enzima utilizada neste ensaio foi capaz de produzir 100 mM de
uria por minuto. Todos os testes foram realizados em triplicata.
4.5 Anlise Estatstica
As anlises de caracterizao da amostra (umidade, densidade aparente e extrato
etreo) foram apresentadas apenas em mdias seguidas dos desvios padres. As variveis
dependentes obtidas como respostas, tais como o rendimento da extrao, a concentrao
de compostos fenlicos totais e os compostos sesquiterpnicos majoritrios de interesse,
foram analisados por ASR do DCCR com as duas variveis independentes (P e T)
(BARROS; SCARMINIO; BRUNS, 1996). A anlise de superfcie foi feita empregando o
programa STATISTICA v.7.0 (USA). Os resultados de bioatividade (ao antioxidante,
antimicrobiana e inibio da enzima arginase) foram apresentados em mdias de triplicatas
das anlises.
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
55
5 RESULTADOS E DISCUSSO
5.1 Caracterizao da Semente de Pitanga
As sementes de Pitanga secas e trituradas apresentaram uma porcentagem de
umidade aproximada de 13% (Tabela 6). Vale ressaltar que tal resultado expressa as
condies em que a semente se encontrava no momento da extrao supercrtica aps a
secagem (38C por 54h), e no o seu verdadeiro contedo de gua, o qual, segundo Bagetti
et al. (2009), chega a ser 58,6%. O valor mdio de extrato etreo obtido foi de 0,52%. Como
a preparao da amostra para anlise no influencia no teor de lipdios, estes esto
similares ao encontrado por Bagetti et al. (2009).
Tabela 6 - Umidade e extrato etreo da semente de Pitanga seca e triturada.
Ensaio % Umidade % Extrato etreo
1 12,50 0,56
2 12,80 0,59
3 12,90 0,41
Mdia 12,73 0,17 0,52 0,07
O valor mdio da densidade aparente (
a
) medida empiricamente foi de 0,482 g.cm
-3
para as sementes de pitanga trituradas. As massas das sementes acondicionadas no
extrator nos dez ensaios e seu respectivo valor so apresentadas na Tabela 7.
Tabela 7 - Densidade aparente da amostra de semente de Pitanga seca e triturada.
Ensaio Massa da semente (g) Densidade (g/cm
3
)
1 143,74 0,479
2 145,04 0,483
3 145,69 0,486
4 143,28 0,477
5 144,31 0,481
6 145,93 0,486
7 145,93 0,486
8 144,95 0,483
9 143,56 0,478
10 144,90 0,483
Mdia 144,73 0,92 0,482 0,003
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
56
Com as massas retidas nas seis peneiras da srie Tyler indicada para anlise de
granulometria (Tabela 8), obteve-se o dimetro mdio das partculas de 0,48 mm. Este valor
foi obtido pela relao entre a massa de sementes retida em cada peneira como demonstra
a eq.(2). De acordo com Oliveira (2010), esse parmetro muito importante, pois est
relacionado com a resistncia interna transferncia de massa. Muitas vezes, para
aumentar o rendimento de extrao, pode-se reduzir o tamanho das partculas, com a
finalidade de aumentar a rea de contato entre o slido e o solvente, diminuindo, desta
forma, a distncia que o soluto percorre no interior da partcula porosa para a superfcie.
Porm, a reduo da granulometria do slido no pode ser realizada de forma indefinida,
pois partculas muito pequenas tendem a formar aglomerados e interromper a passagem do
solvente pelo leito, alm de proporcionar perda de compostos volteis em matrizes vegetais
ricas em leos essenciais, por exemplo. De um modo geral, so utilizadas partculas com
dimetro mdio entre 0,25 e 2 mm. O dimetro encontrado nesse estudo est dentro do
intervalo de trabalho recomendado.
Tabela 8 Massa de sementes de Pitanga secas e trituradas retidas nas peneiras usadas
na determinao do dimetro mdio das partculas.
Mesh Abertura (mm) Massa retida (%) Massa retida (g)
10 1,700 0,02 0,05
14 1,180 4,49 8,99
20 0,850 20,38 40,75
28 0,600 16,15 32,30
35 0,425 12,42 24,83
48 0,300 16,24 32,49
Resduo < 0,300 30,15 60,31
* As fraes de Tyler/Mesh 10 e o resduo no entraram no clculo do dimetro mdio.
5.2 Determinao de Rendimento Global
O rendimento global das extraes supercrticas (R) foi obtido pela relao entre a
massa do extrato obtido no final da extrao e a semente de Pitanga empacotada no
extrator de leito fixo. Alm do rendimento, a Tabela 9 apresenta os valores de outros
resultados como a quantidade de compostos fenlicos totais (CFT), e a concentrao dos
principais compostos volteis, -elemeno e germacrone, expresso em EqLim. As diferentes
condies operacionais de P e T influenciaram em cada uma destas respostas e as anlises
de superfcies de respostas (ASR) iro indicar se esta influncia foi significativa ou no.
.
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57
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
58
(CO
2
= 674,89 kg.m
-3
) foi to elevado quanto aquele obtido no ensaio 2 (CO
2
= 896,08
kg.m
-3
) e isto se deve influencia da temperatura que no ensaio 8 de 59C enquanto que
no ensaio 2 de 35C (Tabela 9).
Nas proximidades do ponto crtico do solvente um pequeno aumento na presso
aumenta substancialmente a densidade do solvente e, consequentemente, aumenta o poder
de solvatao do fluido. Por outro lado, um pequeno aumento na temperatura perto do ponto
crtico diminui a densidade do solvente e, consequentemente, seu poder de solvatao.
Assim, a solubilidade de solutos em fluidos supercrticos aumenta abruptamente, prximo ao
ponto crtico com a elevao da presso em condies isotrmicas. Apesar do aumento da
temperatura diminuir o poder de solvatao do solvente, isso eleva a presso de vapor do
soluto. Portanto, a variao da solubilidade com a temperatura depende da presso e este
fato explica o rendimento dos extratos (Figura 9).
Este comportamento comum em extratos vegetais e foi tambm observado por
Boutin e Badens (2009), quando obtiveram extratos supercrticos de sementes oleaginosas
e por Kopcapk e Mohamed (2005) no estudo da solubilidade de cafena.
Figura 9 Rendimento das extraes de semente de Pitanga em funo da densidade do
CO
2
supercrtico.
Os rendimentos dos extratos supercrticos de semente de Pitanga variaram de 0,16%
a 0,48%, sendo a mdia de 0,38%. Como os maiores valores de rendimento foram obtidos
no ponto central, usou-se essa condio operacional na extrao com o co-solvente (SC-
EtOH). Porm, na extrao com o co-solvente, foi obtido um rendimento de apenas 0,35%.
Isso pode ser explicado pela alterao na polaridade do fluido e consequentemente na sua
solubilidade resultante da incorporao do etanol. Considerando o rendimento obtido
-1,11E-15
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
0,4
0,45
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Densidade do fluido supercrtico (Kg/m)
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
59
quando o co-solvente foi usado, nota-se que as condies de presso e temperatura
estudadas neste ensaio no so as condies que levam a um rendimento aumentado com
a adio de EtOH, e mais estudos seriam necessrios para se chegar s condies
operacionais adequadas para otimizar o processo quando EtOH empregado como co-
solvente, mesmo porque o aumento da polaridade do fluido supercrtico ocasionado pela
adio do EtOH ir proporcionar a solubilizao de compostos polares diferentes daqueles
obtidos quando somente o CO
2
supercrtico utilizado como solvente.
Analisando a influncia dos fatores estudados (P e T) no rendimento da extrao
com CO
2
supercrtico, o diagrama de Pareto (Figura 10) mostra na anlise de efeitos, que
apenas a presso foi significativa para esta resposta, ao nvel de 95% de significncia.
Figura 10 - Diagrama de Pareto das variveis (P e T) estudadas no rendimento de extratos
supercrticos de semente de Pitanga.
Os coeficientes de regresso da equao preditiva do rendimento dos extratos de
sementes de Pitanga (R) em funo das variveis independentes (P e T) so apresentados
na Tabela 10. Nos modelos matemticos gerados a partir destes coeficientes (eq.6 e 7)
nota-se que os coeficientes significativos foram aqueles relacionados presso e, nem
mesmo a interao entre P e T, apresentou coeficientes significativos nos modelos.
Na anlise de varincia (ANOVA) apresentada na Tabela 11, para os delineamentos
experimentais de primeira e segunda ordem para o rendimento da extrao supercrtica,
nota-se que ambos os modelos, linear e quadrtico comprovam que h efeito significativo de
pelo menos uma das variveis estudadas, j que o valor do teste F calculado (F
calc
),
comparado com o F tabelado (F
tab
) para uma distribuio F a 95% de confiana foi maior. Os
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
60
coeficientes de determinao (R
2
) (Modelo linear 0,76 e Modelo quadrtico 0,95) calculados
sugerem que o modelo de segunda ordem possui um bom ajuste dos dados experimentais
reta de regresso, apresentando uma boa capacidade preditiva para o rendimento do
extrato.
Tabela 10 - Coeficientes de regresso significativos para modelos linear e quadrtico que
simulam o rendimento dos extratos de semente de Pitanga obtidos com CO
2
supercrtico.
Resposta Coeficientes de regresso
Linear
Quadrtico
R = 0,394 +0,105P
R = 0,22 + 0,05P - 0,035P
[6]
[7]
Tabela 11 - ANOVA para os modelos de primeira e segunda ordem do DCCR para o
rendimento (%) dos extratos.
Modelo linear ou de primeira ordem
Fonte de
Variao
Soma dos
Quadrados SQ
Graus de
Liberdade GL
Quadrado
mdio QM
F
calculado
F
tabelado
Regresso (R) 0,057 1 0,057 95 6,61
Resduo (r) 0,003 5 0,0006
Total (T) 0,060 6
Modelo quadrtico ou de segunda ordem
Fonte de
Variao
Soma dos
Quadrados SQ
Graus de
Liberdade GL
Quadrado
mdio QM
F
calculado
F
tabelado
Regresso (R) 0,114 2 0,057 152 4,46
Resduo (r) 0,003 8 0,000375
Total (T) 0,117 10
Ftabelado com 95% de confiana .
O Fcalc. (QMR/QMr) maior que o Ftab. no nvel de 95% de confiana
Ainda possvel visualizar, atravs da anlise de superfcie de resposta (ASR) gerada
pelo modelo de segunda ordem (Figura 11) que para o intervalo de P e T estudado a regio
otimizada aquela com maiores valores de P para toda a faixa de T. O fato de poder operar
o equipamento em uma regio com baixas temperaturas obtendo um bom rendimento
acarreta na garantia da integridade das substncias termossensveis. Desse modo, a
extrao com CO
2
supercrtico pode apresentar grande vantagem em relao aos mtodos
convencionais, nos quais algumas vezes, obrigatoriamente, devem ser usadas altas
temperaturas. Ainda, com emprego de temperaturas brandas, o consumo de energia
menor o que representa uma considerao econmica a ser analisada.
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
61
Figura 11 - Superfcie de resposta gerada pelo modelo de segunda ordem que mostra os
efeitos das variveis independentes no rendimento da extrao.
5.3 Determinao de Cintica de Extrao
Uma vez que os investimentos na construo de uma unidade de EFS so elevados, a
otimizao das condies operacionais do processo so essenciais no sentido de tornar a
tcnica economicamente atraente. Este o objetivo da modelagem matemtica dos
experimentos, atravs da qual as curvas cinticas de extrao so analisadas a fim de se
determinar parmetros relacionados ao desenvolvimento de processos. As curvas cinticas
de extrao fornecem informaes consistentes relacionadas presso, temperatura e
vazo de solvente, auxiliando o desenvolvimento e aumento de escala de processos de
extrao supercrtica (TAKEUCHI, 2009).
A curva cintica do ensaio cujos maiores rendimentos foram obtidos (175 Kgf.cm
-2
e
45C) ponto central do DCCR esto expressas em taxa de massa em funo do tempo
(Figura 12) e razo de massa em funo da vazo de CO
2
(Figura 13). As curvas obtidas
mostram o comportamento tpico da cintica de extrao com fluido supercrtico. Na primeira
regio da curva a transferncia de massa controlada pela conveco do soluto presente
na superfcie da matriz vegetal; a segunda regio expressa a diminuio da transferncia de
massa ocasionada pela difuso do soluto do centro da matriz para a superfcie e pela
conveco, e a terceira na qual no se tem soluto facilmente disponvel na matriz e a
difuso do centro para a superfcie o principal mecanismo de obteno do extrato.
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
62
Nas curvas cinticas da extrao supercrtica de sementes de Pitanga (Figuras 12 e
13) observa-se que duas fases merecem maior ateno. Na primeira fase ocorre um rpido
aumento acumulado da massa de extrato em um curto perodo o que reflete na rpida
solubilizao do extrato pelo CO
2
supercrtico e a segunda fase (plat da curva) indica que a
mobilidade do extrato das sementes para o solvente quase nula. comum no visualizar
distintivamente todas as trs fases tpicas de uma curva de cintica, principalmente quando
a solubilidade do extrato alta no CO
2
supercrtico.
Figura 12 Massa acumulada de extrao em funo do tempo de extrao.
Na extrao do leo de vetiver estudado por Danh et al. (2009), foram observadas
apenas duas fases. Inicialmente, o aumento na quantidade total de CO
2
supercrtico
utilizado resultou em um aumento acentuado no rendimento. No entanto, medida em que
mais CO
2
supercrtico foi utilizado na extrao, incrementos menores na produo de leo
foram ocorrendo. Os resultados podem ser explicados com base na distribuio de leos
dentro das clulas da raiz. Na fase inicial, o leo extrado da superfcie das partculas, e a
solubilidade do leo em CO
2
supercrtico controla a transferncia de massa. Na ltima
etapa, o leo a partir de clulas intactas vai se difundido e a transferncia de massa
controlada pela difuso do leo de dentro das partculas. A taxa de transferncia de massa
baixa e incrementos de rendimento de leo so insignificantes em comparao com o
perodo de extrao rpida.
0 250 500 750 1000 1250
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
Extrao 1
Extrao 2
M
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(
g
)
Tempo acumulado de extrao (min)
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
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Figura 13 Massa acumulada de extrao em funo do volume acumulado de CO
2
.
No estudo da cintica de extrao de alecrim-do-campo (PIANTINO et al., 2008), o
primeiro perodo foi quase inexistente, cerca de 50% do extrato foi obtido com
aproximadamente 20 g de CO
2
(primeiro perodo) e os outros 50% com 400 g de CO
2
. Neste
estudo tambm foi notado que no existe uma tendncia de combinar os rendimentos
globais a diferentes dimetros mdios de partculas aps longos perodos de tempo,
indicando que a difuso no o nico fenmeno que limita a extrao durante o perodo de
diminuio das taxas de extrao.
5.4 Caracterizao dos Extratos
Em complementao ao estudo da otimizao do processo de extrao, os extratos
tambm foram preliminarmente caracterizados com relao presena de terpenos, e sua
indicao de respectiva atividade antioxidante, e quantitativamente quanto concentrao
dos compostos volteis e concentrao de compostos fenlicos totais (CFT) presentes, alm
da sua bioatividade (efeito antioxidante in vitro, ao antimicrobiana e de inibio da enzima
arginase). Algumas de suas caracterizaes foram tratadas como respostas s diferentes
condies operacionais, as quais foram analisadas por anlise de superfcie de resposta
(ASR).
0 350 700 1050 1400 1750
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
Extrao 2
Extrao 1
M
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Vazao acumulada (m
3
)
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
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5.4.1 ndice de refrao e cromatografia em camada delgada
O ndice de refrao de uma substncia a relao entre a velocidade da luz no
vcuo e a velocidade da luz na substncia testada (JORGE; LOPES, 2003) e constitui um
dos mais importantes parmetros pticos dos materiais, desempenhando um papel
importante em caracterizaes fsicas e qumicas das substncias. Medies precisas do
ndice de refrao de lquidos e variaes neste ndice, dependendo da concentrao de
solues, indicam as propriedades moleculares de compostos qumicos e a caracterizao
de lquidos em processos qumicos. Um conhecimento preciso do ndice de refrao
apresenta uma viso sobre a pureza e a reprodutibilidade do material para instrumentao
ptica (SAMEDOV, 2006).
A Figura 14 apresenta o ndice de refrao a 20 e 40 C dos extratos supercrticos de
semente de Pitanga, os quais variaram de 1,503 a 1,519 a 20C e de 1,490 a 1,510 a 40C.
Destaca-se tambm a similaridade dos ndices de refrao para os ensaios E9, E10 e E11,
os quais foram obtidos nas mesmas condies operacionais.
Figura 14 ndice de refrao dos extratos SFE de sementes de Pitanga a 20 e 40C.
O ndice de refrao encontrado nos extratos est de acordo com o que Baser e
Buchbauer (2010) afirmam, que para leos essenciais este ndice fica em uma escala de
1,4500 a 1,5900, a 20 C. Assim, pode-se dizer que os componentes presentes nos extratos
supercrticos de semente de Pitanga possuem esta caracterstica de leo essencial. Os
dados deste estudo esto similares aos de leos essenciais obtidos por outros mtodos,
como no trabalho de Bousbia et al. (2009), que obteve leo essencial de alecrim por micro-
ondas e hidrodifuso e para os dois mtodos, encontrou valores de 1,468 e 1,470,
1,475
1,480
1,485
1,490
1,495
1,500
1,505
1,510
1,515
1,520
E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7 E8 E9 E10 E11
n
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Extratos de Semente de Pitanga
20C
40C
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
65
respectivamente. O leo essencial de tomilho obtido na pesquisa de Golmakani e Rezaei
(2008) por tcnicas como hidrodestilao assistida por micro-ondas e hidrodestilao
convencional tambm apresentou um ndice de refrao similar ao dos extratos da semente
de Pitanga, 1,503 a 20C.
A Figura 15 mostra a revelao de diversos compostos terpnicos em cromatoplacas,
totalizando sete substncias diferentes. Porm, nem todas aparecem em todos os extratos.
A exemplo, o composto 7 no aparece nos extratos 1, 2, 3 e 5. A presena destes
compostos terpnicos nos extratos Soxhlet, SC-EtOH e SC-EtOH purificado tambm so
diferenciados, havendo menor nmero de bandas que indicam os terpenos revelados. A
determinao qualitativa de terpenos por CCD revelou a presena destes compostos em
todos os extratos analisados, sugerindo que possuem leo essencial em sua composio, o
que convm com a anlise de ndice de refrao. Os leos essenciais so misturas
complexas que podem conter 100 ou mais compostos orgnicos. Seus constituintes podem
pertencer s mais diversas classes de compostos, porm os terpenos e os fenilpropenos
so as classes de compostos mais comuns. Os terpenos encontrados com maior frequncia
nos leos essenciais so os mono- e sesquiterpenos, bem como os diterpenos, que so
constituintes minoritrios (CASTRO et al., 2004).
Figura 15 Cromatograma dos extratos das sementes de Pitanga, em placa de Slica Gel
60 F254 com fase mvel tolueno e acetato de etila (93:7 v:v) e revelador Anisaldedo para a
deteco de terpenos.
Naturalmente, os leos essenciais desempenham um papel importante na proteo
das plantas que os contm. Apresentam funes como agentes antibacterianos, antivirais,
antifngicos, inseticidas e tambm contra herbvoros por reduzir seu apetite pelas plantas.
Eles tambm podem atrair alguns insetos para favorecer a disperso de plen e sementes,
ou repelir outros indesejveis. Atualmente, cerca de 3.000 leos essenciais so conhecidos,
dos quais 300 so comercialmente importantes, principalmente para as indstrias
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
66
farmacutica, odontolgica, de alimentos, agronmica, sanitria, indstrias de cosmticos e
perfumes, para os mais diversos fins (BAKKALI et al., 2008).
Atravs da relao entre a medida da eluio dos compostos revelados e da fase
mvel na CCD, calculou-se o ndice de reteno para todos os componentes encontrados
(Tabela 12). Os extratos que tiveram o etanol como co-solvente na extrao supercrtica SC-
EtOH ou SC-EtOH purificado a apresentaram um componente distinto dos demais (C
6
) com
maior ndice de reteno e menor polaridade que os demais.
Terpenos provenientes de leos essenciais de plantas slica Gel 60 F
254
usando como
fase mvel tolueno e acetato de etila (93:7) mostram que alguns destes compostos tm
ndice de reteno em uma zona que varia de 0,2 0,9 aproximadamente (WAGNER;
BLADT, 2009), o que coincide com os ndices determinados experimentalmente neste
trabalho (Tabela 12).
Tabela 12 ndice de reteno dos compostos revelados pela Cromatografia em Camada
Delgada dos extratos das sementes de Pitanga, em placa de Slica Gel 60 F
254
com fase
mvel tolueno e acetato de etila (93:7 v:v) e revelador Anisaldedo.
EXTRATO C
1
C
2
C
3
C
4
C
5
C
6
C
7
SC-1 0,23 0,29 0,40 0,55 0,68 - -
SC-2 0,25 0,32 0,41 0,53 0,65 - -
SC-3 0,23 0,33 0,41 0,53 0,63 - -
SC-4 0,23 0,32 0,43 0,55 0,65 - 0,81
SC-5 0,21 0,33 0,43 0,55 0,68 - -
SC-6 0,21 0,32 0,43 0,55 0,68 - 0,86
SC-7 0,21 0,32 0,41 0,57 0,71 - 0,88
SC-8 0,18 0,23 0,34 0,44 0,72 - 0,89
SC-9 0,18 0,25 0,34 0,44 0,69 - 0,88
SC-10 0,18 0,25 0,34 0,44 0,69 - 0,86
SC-11 0,18 0,26 0,35 0,46 0,68 - 0,86
SOXHLET 0,20 0,26 - - 0,68 - 0,89
SC-EtOH - - - - - 0,78 0,91
SC-EtOH Purificado 0,20 0,26 - - - 0,78 0,94
Utilizando a mesma fase mvel, mas revelando com o radical livre DPPH, com o intuito
de verificar a atividade antioxidante, foi possvel visualizar manchas amarelas, indicativas da
inibio do radical livre (Figura 16). Assim, possvel que os terpenos revelados tenham
atividade antioxidante, tal como revela Souza et al. (2007), o qual afirma que comprovada
a ao provedora e termotolerncia, fotoprotetora e antioxidante de monoterpenos de
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
67
plantas, relacionadas especialmente sua capacidade de captar radicais de oxignio
oriundos do processo fotossinttico.
Figura 16 Cromatograma dos extratos das sementes de Pitanga em Cromatografia de
Camada Delgada, em placa de Slica Gel 60 F
254
com fase mvel tolueno e acetato de etila
(93:7 v:v) e revelador uma soluo 0,05% do radical DPPH.
Em trabalho realizado por Zhao J. e colaboradores (2010), com leos essenciais de
diferentes espcies de crcuma a anlise de CCD, com revelador constitudo do radical
DPPH a 0,04%, indicou que os padres utilizados (curzereno, germacrone e furanodienone)
demonstraram atividade antioxidante. Nesta anlise os autores identificaram previamente
alguns compostos existentes no leo essencial com base no ndice de reteno. Ainda,
placas reveladas foram escaneadas para determinar a contribuio da ao antioxidante de
cada composto.
O efeito protetor de leos essenciais foi estudado, via modelagem, na bicamada
lipdica de membranas celulares por Beretta et al. (2011). Eles mostraram que alguns
componentes de leos essenciais exercem uma ao antiperoxidante por interagir rpido e
de maneira estvel com a face externa da bicamada fosfolipdica das membranas celulares
sendo este mais um indicativo de ao antioxidante de leos essenciais.
5.4.2 Composio voltil dos extratos
As Figuras 17 e 18 apresentam os cromatogramas de ons totais dos extratos
supercrticos de sementes de Pitanga, ensaios de 1 a 8 e de 9 a 11, respectivamente, bem
como o extrato Soxhlet. Na Figura 18 observa-se em destaque a ampliao da regio onde
os principais picos se concentram. Os extratos obtidos com CO
2
supercrtico modificado pelo
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
68
co-solvente (EtOH), diludos na mesma concentrao dos extratos obtidos quando SC-CO
2
foi empregado, no apresentaram os compostos volteis visualizados nas Figuras 18 e 19.
Nos cromatogramas, os picos que mais se destacam aparecem nos tempos de reteno
28,53 e 33,72 min, sendo, respectivamente, -elemeno e germacrone. Para cada extrato, a
Tabela 13 mostra a rea percentual dos volteis encontrados.
Entre os extratos supercrticos, os teores dos volteis majoritrios, -elemeno e
germacrone expressos pela soma da rea percentual dos picos, variaram de 75,18% a
81,60% nos extratos. Para o germacrone, a rea percentual dos picos variaram para as
diferentes condies operacionais, de 33,04% para o ensaio 6 at 38,02% para os ensaios 1
e 7. O -elemeno apresentou variao na rea percentual dos picos de 36,70% para o
ensaio 5 at 46,14 % para o ensaio 4.
Os extratos obtidos pelo mtodo de extrao Soxhlet tambm apresentam os volteis
majoritrios, porm em menores quantidades quando comparadas aos obtidos pelo
emprego de SC-CO
2
. O -elemeno aparece nos extratos entre 1,65 at 3,21 ppm em EqLim,
o furanodieno est presente de 0,57 a 0,80 ppm e a concentrao do germacrone varia de
1,85 at 2,72 ppm. Isso pode ser explicado pela alta temperatura empregada nesta
extrao, que ao longo das 6h de extrao promove a degradao das substncias mais
sensveis, a exemplo dos compostos terpnicos.
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SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
71
Como ferramentas de identificao dos componentes presentes nos extratos, utilizou-
se primeiramente as bibliotecas NIST e NIST08 acopladas ao software. Os espectros de
massa do -elemeno e do germacreno dos extratos apresentaram uma porcentagem de
similaridade de 91 a 93% em comparao com os espectros existentes no programa. A
Figura 19 mostra o espectro de massa do -elemeno e do germacrone dos extratos de
semente de Pitanga bem como os espectros de massa dos mesmos compostos da
biblioteca NIST.
Em segunda instncia, calculou-se o ndice de Kovatz (eq.3) para os componentes e
comparou-se com os valores reportados na literatura, como mostrado na Tabela 13. Os
valores de IK calculados para os componentes volteis da semente de Pitanga so prximos
dos valores referenciados.
Em relao ao terceiro componente mais intenso, o furanodieno, a similaridade
mostrada pela biblioteca NIST e NIST08 indicava ser o curzereno, com valores de 71 a 77%
de semelhana entre o composto proveniente dos extratos e o padro apresentado pela
biblioteca. Calculando o ndice de Kovatz para esse componente observou-se uma grande
diferena com os valores de KI para o curzereno disponveis na literatura, em torno de 1470
e o valor encontrado neste estudo, 1650.
Um estudo recentemente realizado por Chang e colaboradores (2011) analisou a
influncia das condies de anlise de cromatografia gasosa sobre a quantificao de
substncias termossensveis como os compostos volteis em leo essencial de Pitanga. Foi
visualizada a converso estrutural de furanodieno a curzereno sob condies de
aquecimento da rampa de temperatura da coluna similares realizada neste estudo, e, sob
condies brandas de corrida esta converso no foi verificada pelo autores. De acordo com
esse trabalho, possvel que se tenha concentraes parciais de cada um dos compostos
(furanodieno e curzereno) nos extratos, porm, levando em considerao o KI calculado e
aqueles reportados na literatura, foi considerado que a substncia presente na frao voltil
da semente de Pitanga o furanodieno.
Os componentes encontrados, germacrone, furanodieno e -elemeno pertencem ao
grupo dos sesquiterpenos germacranos, aos quais so atribudos vrios efeitos, tais como
de intermedirios de biossntese de vrios sesquiterpenos, como feromnios sexuais e de
alarmes, anti-inflamatrio, agentes anticancergenos, atividade antiplasmodial, atividades
antibacteriana e antifngica, atividade fitotxica, inibidor de necrose tumoral, atividade
nematicida, atividade citotxica, atividade inibitria de tirosinase e outras diversas atividades
biolgicas (ADIO, 2009).
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72
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
73
Estudos sobre a atividade biolgica do germacrone so limitados. No entanto,
pesquisas demonstraram que este composto exerce atividade antitumoral pela induo a
apoptose de clulas de cncer de pulmo (ZHONG et al., 2011). Na China, o leo essencial
de Curcuma zedoaria administrado como medicamento e o germacrone, que aparece na
sua formulao como um dos principais componentes, to importante que chega a ser
considerado uma substncia chave no controle de qualidade da produo deste leo
essencial (ZHAO, Y. et al., 2010).
Furanodieno, o terceiro sesquiterpeno mais intenso nos extratos de semente de
Pitanga, foi identificado por possuir efeitos analgsicos, efeitos anti-inflamatrios e efeitos
protetores sobre leso heptica induzida por D-galactosamina/lipopolissacardeo ou de
necrose tumoral fator-alfa. Este resultado demonstrou que furanodieno tem efeito de
proteo sobre a funo imunolgica. O furanodieno no s tem ao antitumor direta, mas
tambm pode ter outras atividades, tais como melhorar a funo imunolgica do corpo e
ativar a capacidade antitumoral do prprio organismo, o que indica que furanodieno
vantajoso em comparao com as atuais drogas clnicas quimioterpicas. Ele mostra
potencial para ser um agente antitumor clinicamente eficaz, devido ao seu potente efeito
anticncer e baixa toxicidade (BA et al., 2009).
Para compreender de que forma as variveis operacionais influenciam a presena de
um componente isolado no extrato, foi aplicada a metodologia de superfcie de resposta
para chegar s condies operacionais que favoreceriam o fracionamento desses
compostos. A concentrao destes sesquiterpenos foi determinada por normalizao
externa como descrito no item 4.4.3. A concentrao (ppm) dos dois principais componentes
presentes no extrato (germacrone e -elemeno) em equivalente de limoneno (EqLim) foi
determinada para os 11 ensaios (Tabela 9).
Em relao ao germacrone, o diagrama de Pareto (Figura 20) mostra que a presso e
a interao entre presso e temperatura exerceram influncia significativa, ao nvel de 95%
de significncia, na obteno deste sesquiterpeno nos extratos. Para o -elemeno, pode ser
observado que somente a interao entre a presso e temperatura foi significativa.
A Tabela 14 mostra os modelos matemticos, linear e quadrtico, que relacionam o
comportamento das variveis (P e T) com a concentrao de germacrone (eqs. 8 e 9) e -
elemeno (eqs. 10 e 11) presentes nos extratos. Para o germacrone, o coeficiente de
regresso para o modelo de primeira ordem 0,80 e de segunda ordem 0,72. Pelo valor
dos coeficientes, nota-se que os modelos no tm uma boa capacidade preditiva. O mesmo
pode-se dizer para os coeficientes de regresso para os modelos de -elemeno, os quais
so 0,83 para o de primeira ordem e 0,53 para o de segunda ordem.
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
74
A
B
Figura 20 - Diagrama de Pareto das variveis (P e T) estudadas na obteno de
germacrone (A) e -elemeno (B) nos extratos supercrticos de semente de Pitanga.
Tabela 14 - Coeficientes de regresso para modelos linear e quadrtico que simulam a
concentrao dos sesquiterpenos (Germacrone e -elemeno) nos extratos de semente de
Pitanga obtidos com CO
2
supercrtico.
Resposta Coeficientes de regresso
Concentrao de Germacrone (ppm EqLim)
Linear
Quadrtico
R= 18,673 - 5,615P 7,960PT
R= 14,363 - 2,660P + 3,475P - 7,960PT
[8]
[9]
Concentrao de -elemeno (ppm EqLim)
Linear
Quadrtico
R= 21,457 7,185PT
R= 18,072 - 7,185PT
[10]
[11]
Em concordncia com o diagrama de Pareto e os modelos apresentados, as anlises
de varincia (Tabelas 15 e 16) demonstram, atravs da comparao dos valores de F
calculado (F
calc
) e o F tabelado com 5% de probabilidade (F
tab
), que h pelo menos uma das
variveis influenciando a concentrao destes sesquiterpenos no extrato supercrtico das
sementes de Pitanga j que o F
calc
foi consideravelmente maior que o F
tab
para os dois
componentes.
Similar ao que ocorre com o germacrone, embora no se tenha modelos que
consigam predizer adequadamente os valores experimentais para o -elemeno, a anlise de
varincia mostrou significncia ao nvel de 95% para os modelos linear e quadrtico, como
apresenta a Tabela 16.
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
75
Tabela 15 - ANOVA para os modelos de primeira e segunda ordem do DCCR com dois
fatores para a concentrao de germacrone (ppm EqLim) dos extratos.
Modelo linear ou de primeira ordem
Fonte de
Variao
Soma dos
Quadrados SQ
Graus de
Liberdade GL
Quadrado
mdio QM
F
calculado
F
tabelado
Regresso (R) 509,452 2 180,241 98,762 6,94
Resduo (r) 5,182 4 1,825
Total (T) 514,634 6
Modelo quadrtico ou de segunda ordem
Fonte de
Variao
Soma dos
Quadrados SQ
Graus de
Liberdade GL
Quadrado
mdio QM
F
calculado
F
tabelado
Regresso (R) 534,547 3 178,183 240,78 4,35
Resduo (r) 5,182 7 0,740
Total (T) 539,729 10
Ftabelado com 95% de confiana
O Fcalc. (QMR/QMr) maior que o Ftab. no nvel de 95% de confiana
Tabela 16 - ANOVA para os modelos de primeira e segunda ordem do DCCR com dois
fatores para a concentrao de -elemeno (ppm EqLim) dos extratos.
Modelo linear ou de primeira ordem
Fonte de
Variao
Soma dos
Quadrados SQ
Graus de
Liberdade GL
Quadrado
mdio QM
F
calculado
F
tabelado
Regresso (R) 410,917 1 410,917 140,87 6,61
Resduo (r) 14,584 5 2,9168
Total (T) 425,501 6
Modelo quadrtico ou de segunda ordem
Fonte de
Variao
Soma dos
Quadrados SQ
Graus de
Liberdade GL
Quadrado
mdio QM
F
calculado
F
tabelado
Regresso (R) 505,239 1 505,239 311,68 5,12
Resduo (r) 14,585 9 1,621
Total (T) 519,824 10
Ftabelado com 95% de confiana
O Fcalc. (QMR/QMr) maior que o Ftab. no nvel de 95% de confiana
Na avaliao das variveis operacionais dos modelos de segunda ordem para a
concentrao dos dois sesquiterpenos, a anlise da superfcie de resposta indicou que,
dentro da faixa estudada, altas temperaturas e baixas presses proporcionam uma maior
concentrao destes volteis nos extratos (Figura 21). Estas condies so inversas ao
rendimento do extrato. Valores de alta temperatura favorecem a extrao de componentes
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
76
volteis demonstrando que, para estas situaes, a influncia desta varivel na presso de
vapor dos componentes pode ser o fator mais importante a ser considerado na extrao
supercrtica, tal como pode ser visualizado na Tabela 9.
A
B
Figura 21 - Superfcie de resposta gerada pelo modelo de segunda ordem que mostra os
efeitos das variveis independentes na concentrao de germacrone (21.A) e -elemeno
(21.B) nos extratos.
Embora no se possa avaliar pontualmente a influncia de altos valores da
temperatura e baixas densidades, j que a faixa de temperatura estudada nestes ensaios
so relativamente baixas, de 30 a 60
C. Essa temperatura
dentro do delineamento experimental aplicado nesse estudo elevada, mas comparado a
outros mtodos de extrao, como o arraste a vapor, ainda pode ser considerada branda.
Na verdade, hidrocarbonetos monoterpenos como compostos no-polares de peso
molecular relativamente baixo so muito solveis em SC-CO
2
e, portanto, altamente
provvel que eles possam ser completamente extrados da matriz. Devido sua alta
volatilidade, no entanto, eles se separam apenas parcialmente do CO
2
gasoso e se
precipitam no coletor; e uma outra parte escapa dissolvida no gs. Assim, no caso de
monoterpenos mais correto medir a eficincia da coleta do extrato do que o rendimento de
extrao (BOCEVSKA; SOVOV, 2007).
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
77
5.5 Anlise da Bioatividade do extrato Supercrtico de Semente de Pitanga
5.5.1 Quantificao dos compostos fenlicos totais
Compostos fenlicos so substncias ativas provenientes do metabolismo secundrio
encontrados em muitas plantas, mas suas propriedades antioxidantes e vrias outras aes
biolgicas especficas ainda no so bem conhecidas. Eles so empregados com frequncia
como antioxidantes naturais em alimentos, produtos farmacuticos e cosmticos (PIANTINO
et al., 2008).
A Tabela 9 mostra os resultados da concentrao de compostos fenlicos totais dos
extratos supercrticos para cada ensaio baseado no DCCR. Os compostos fenlicos totais
variaram de 18,08 a 73,48 ppm de GAE nos extratos. Verifica-se que os extratos obtidos
tm uma quantidade considervel de compostos fenlicos totais devido a baixa polaridade
que no se apresenta favorvel a extrao desta classe, mas quando feita a equivalncia
para a massa da semente, devido ao rendimento baixo das extraes em geral, a
concentrao final diminui (0,010 a 0,034 mg GAE100
-1
g sementes).
Neste estudo, o comportamento das variveis estudadas (P e T) na quantidade de
compostos fenlicos totais, mostra que nenhum destes fatores influenciou na extrao de
mais ou menos compostos fenlicos quando estas variveis foram modificadas no processo.
A no significncia de cada uma destas variveis no processo ou mesmo da interao entre
elas pode ser visualizada atravs do diagrama de Pareto (Figura 22).
Figura 22 - Diagrama de Pareto das variveis (P e T) estudadas na quantidade de
compostos fenlicos dos extratos de semente de Pitanga.
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
78
Como era esperada, a anlise de varincia mostrou que no houve significncia das
fatores estudados no processo ao nvel de 95% do limite de confiana para ambos os
modelos (dados no mostrados). Os coeficientes de determinao (R
2
) calculados foram
0,50 para o modelo linear e 0,71 para o modelo quadrtico e este fato indica tambm que os
modelos gerados no possuem boa capacidade preditiva quanto ao comportamento da
concentrao de fenlicos totais nos extratos quando diferentes condies de T e P so
empregadas no processo.
Muito do interesse dos compostos fenlicos das plantas so em flavonides. Os
flavonides so alguns dos compostos antioxidantes mais poderosos e eficazes disponveis
para os seres humanos que so incapazes de produz-los, por isso devem ser ingeridas a
partir dos alimentos e suplementos. Vrios estudos tm mostrado que a ingesto normal de
flavonides atravs da ingesto de uma variedade de frutas e legumes no suficiente para
manter os nveis recomendados de radicais livres sob controle (PALANISAMY et al., 2008).
5.5.2 Quantificao da atividade antioxidante
O mtodo DPPH baseado na medio espectrofotomtrica da variao da
concentrao de DPPH resultante da reao do DPPH com um composto antioxidante.
Durante a reao, a molcula de DPPH com um eltron de valncia desemparelhado no
tomo de nitrognio reduzido por um tomo de hidrognio a partir do antioxidante. A
atividade antioxidante dos compostos analisados determinada a partir da cintica desta
reao (DAWIDOWICZ; WIANOWSKA; OLSZOWY, 2012).
A Tabela 17 apresenta o percentual de inibio do radical DPPH pelos diferentes
extratos de semente de Pitanga. A atividade antioxidante dos extratos obtidos por EFS
baixa se comparado aos demais, pois nesse estudo utilizou-se concentraes dos extratos
em at 10.000 ppm e no se chegou a 50% de atividade redutora do radical DPPH. Os
extratos supercrticos de rambutam, planta nativa do sudeste asitico, tambm no exibiram
qualquer atividade antioxidante frente ao radical DPPH (PALANISAMY et al., 2008), porm
os seus resduos quando extrados com etanol apresentaram potencial similar aos extratos
etanlicos obtidos neste trabalho. O extrato supercrtico das folhas de Pitanga tambm
exibem uma atividade bastante reduzida frente ao radical DPPH (MARTINEZ-CORREA et
al., 2011). O mtodo que avalia a atividade antioxidante pelo uso de DPPH no o mais
adequado para os extratos obtidos por EFS, pois este radical interage mais especificamente
com compostos hidroflicos e os extratos provenientes da extrao supercrtica sem
modificadores so de maneira geral hidrofbicos.
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
79
O uso do co-solvente (SC-EtOH) de fato aumentou a capacidade antioxidante deste
extrato, destacando a atividade de 94,20% para a concentrao de 5.000 ppm. Diferente do
que seria esperado, as concentraes maiores de extrato exibem uma atividade antioxidante
menor. Esse comportamento tpico de atividade pr-oxidante e faz parte do mecanismo de
ao das substncias antioxidantes. Uma vez ultrapassado a concentrao antioxidante
mxima, o excesso assume uma caracterstica oposta e induz mecanismos de oxidao. Dai
e Mumper (2010) afirmam que antioxidantes fenlicos se comportam como pr-oxidantes
nas condies que favoream sua auto-oxidao, por exemplo, em pH elevado, com altas
concentraes de ons de metal de transio e em presena de molcula de oxignio.
Fenlicos de cadeia curta que so facilmente oxidados, como a quercetina, cido glico,
possuem atividade pr-oxidantes, enquanto alto peso molecular de compostos fenlicos,
como taninos condensados hidrolisveis, tm atividade pr-oxidante pouca ou nenhuma.
Tabela 17 Atividade antioxidante dos extratos de semente de Pitanga pelo percentual de
inibio do radical DPPH em trs concentraes e pelo mtodo de varredura do radical
ABTS.
Extratos
DPPH ABTS
(M Trolox ppm
-1
extrato)
10.000 ppm 7.500 ppm 5.000 ppm
SC (ensaio 1 E1) 12,99 7,56 6,07 0,089
SC (ensaio 2 E2) 16,99 8,17 5,94 0,074
SC (ensaio 3 E3) 10,67 5,59 4,99 0,073
SC (ensaio 4 E4) 21,4 17,06 5,38 0,102
SC (ensaio 5 E5) 17,58 10,35 5,37 0,021
SC (ensaio 6 E6) 22,29 15,23 6,68 0,117
SC (ensaio 7 E7) 12,62 15,43 6,68 0,040
SC (ensaio 8 E8) 11,83 13,25 6,53 0,079
SC (ensaio 9 E9) 13,02 14,1 6,33 0,070
SC (ensaio 10 E10) 14,45 9,99 6,71 0,073
SC (ensaio 11 E11) 13,80 7,60 7,89 0,141
Soxhlet 35,51 34,79 14,60 0,040
SC-EtOH 19,85 24,94 94,20 0,611
SC-EtOH Purificado 13,05 11,60 34,52 0,136
Mdias de trs repeties; Extrato supercrtico (SC); Extrato supercrtico com etanol como co-solvente (SFE-
EtOH), frao purificada do extrato supercrtico com etanol como co-solvente (SFE-EtOH Purificado).
Ultimamente, tem sido proposto que a ao pr-oxidante poderia ser um mecanismo
de ao importante para as propriedades anticncer e induo de apoptose do resveratrol.
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
80
Alm disso, foi demonstrado que h uma correlao interessante entre as atividades
antioxidante e pr-oxidante e citotoxicidade de polifenis na dieta. Cada antioxidante na
verdade um agente redox (reduo-oxidao) e, portanto, pode se tornar um pr-oxidante
para acelerar a peroxidao lipdica e/ou induzir danos ao DNA em condies especiais.
Estudos tm revelado efeitos pr-oxidantes das vitaminas antioxidantes e vrias classes de
polifenis derivados de plantas, tais como flavonides, taninos e curcumina (LASTRA;
VILLEGAS, 2007).
Provavelmente, as concentraes do extrato supercrtico com co-solvente nas anlises
de atividade antioxidante encontravam-se na faixa de transio antioxidante/pr-oxidante j
que a atividade foi menor para as maiores concentraes (Tabela 17). O extrato SC-EtOH
purificado, tambm conservou essa caracterstica, porm com uma capacidade antioxidante
menor, 34,52%. A purificao do extrato aplicada neste trabalho foi direcionada para
eliminao de taninos com alto grau de polimerizao. O procedimento adotado pode, se as
propores de solvente no forem mantidas, extrair tambm outros compostos fenlicos.
Pelo fato dos extratos obtidos com SC-EtOH certamente no possurem elevada quantidade
de polmeros com alto grau de polimerizao, possivelmente outros componentes foram
eliminados no processo de purificao.
A Tabela 17 apresenta os resultados dos ensaios de atividade antioxidante pelo
mtodo de varredura do radical ABTS. Os resultados expressam a quantidade, em M, de
Trolox equivalente em 1 ppm de extrato. Como pode ser observado, os extratos possuram
diferentes respostas, que variaram no extrato de 0,021 a 0,611 M Trolox.ppm
-1
de extrato.
Esses valores so considerados baixos quando comparados com polpas de frutas, que em
estudo de Kuskoski et al. (2005), reportou valores de 2,0 (polpa de cupuau) a 67,6 (polpa
de acerola) M de Trolox equivalente para diversas polpas de frutas estudadas. Mais uma
vez, o extrato obtido pela extrao supercrtica com o co-solvente obteve a maior
concentrao de Trolox equivalente. O extrato supercrtico E5, proveniente da extrao em
condies brandas e com a menor densidade do fluido, foi o que apresentou a menor
capacidade antioxidante.
De acordo com Wootton-Beard, Moran e Ryan (2011), pode-se identificar diferenas
entre os resultados que podem ser atribudos aos mecanismos dos prprios mtodos. Em
primeiro lugar, o ensaio ABTS
+
uma transferncia de eltrons, em que compostos
antioxidantes diferentes doam um ou dois eltrons para reduzir o radical catinico.
Independentemente do potencial de doao de antioxidantes individuais, todos eles tm
tempo para reagir completamente dando uma medio precisa da atividade antioxidante
total no ponto final do ensaio. O ensaio de inibio do radical DPPH baseada na reao
normal de transferncia de tomo de hidrognio que ocorre entre os antioxidantes e os
radicais peroxila. Em vez de radicais peroxila, radicais de nitrognio mais estveis e menos
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
81
transitrios so criados, com a qual alguns antioxidantes reagem mais lentamente do que
seria com o radical peroxila em um sistema biolgico.
5.5.3 Determinao da atividade antimicrobiana
A atividade antimicrobiana do extrato supercrtico, daquele obtido por Soxhlet, do
extrato obtido pelo SC-EtOH e da sua respectiva frao purificada foi testada para
Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa e Bacillus subtilis. As
diluies empregadas e a metodologia seguida esto descrita no item 4.4.7 deste trabalho.
Os testes aplicados tiveram por objetivo a determinao da concentrao inibitria mnima
(CIM) e sua relao com a composio dos diferentes extratos ricos em compostos
terpnicos extrados via Soxhlet ou utilizando CO
2
supercrtico ou em compostos com maior
polaridade, como aqueles dos extratos provenientes da extrao com co-solvente e a sua
frao purificada.
A Figura 23 mostra a diluio seriada das amostras submetidas anlise da CIM,
segundos aps a incubao e depois de 24h. A interpretao dos resultados foi feita pela
anlise visual dos tubos contendo o caldo e os microrganismos comparando-os com o
controle negativo, sem crescimento bacteriano.
A concentrao inibitria mnima ou a mais baixa concentrao onde no ocorre
desenvolvimento microbiano foi de 125 ppm para todos os extratos (Tabela 18). Embora se
conhea que as bactrias Gram (-) so mais resistentes agresso de substncias
antibiticas oriundas de plantas pela complexidade maior da sua parede celular do que as
bactrias Gram (+), neste trabalho no houve diferenas na atividade dos extratos aplicados
entre as cepas utilizadas. Assim como no estudo realizado por Bouzada et al. (2009), os
resultados no evidenciam a maior sensibilidade das bactrias Gram (+).
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
82
Tubos logo aps a inoculao dos extratos com os micro-organismos
Tubos 24 horas aps a inoculao dos extratos
Figura 23 - Diluio seriada do extrato supercrtico de semente de Pitanga para
determinao da concentrao inibitria mnima.
Os resultados apontaram que uma concentrao dos diferentes extratos de 125 ppm
capaz de inibir o crescimento dos micro-organismos testados. Alguns estudos indicam que
os leos essenciais tm uma maior atividade antibacteriana do que uma mistura de seus
principais componentes. Isso porque os componentes minoritrios presentes no leo
essencial so importantes para a atividade dos componentes principais, e a combinao
entre eles pode produzir um efeito sinrgico. Exemplificando, cnfora e eucaliptol,
componentes gerais dos leos essenciais de muitas plantas, possuem grupos oxigenados
em sua estrutura e estes grupos so responsveis por aumentar a atividade antimicrobiana
de terpenides. Desse modo, pela composio dos leos essenciais, as combinaes de
diferentes componentes bioqumicos podem aumentar a eficcia antimicrobiana
distintamente (LV et al., 2011).
A literatura cientfica divulga a CIM de alguns extratos obtidos por extrao com fludo
supercrtico, por exemplo, Oliveira (2010) analisou extratos supercrticos de bagao de uva
obtidos em diferentes condies de P e T e apresentou valores de CIM superiores a 500
ppm para S. aureus e acima de 1.000 ppm para E. coli. Extratos supercrticos de cogumelo
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
83
shiitake foram testados por Kitzberger (2005), em Micrococcus luteus e Bacillus cereus. e
para os seus diferentes extratos, a menor CIM foi de 250 ppm. Outro estudo, realizado por
Busatta (2006), com extrato supercrtico de organo e manjerona no indicou atividade
antibacteriana logo no teste de formao do halo de inibio. Em comparao com todos
esses estudos, nota-se que os resultados encontrados com os extratos de semente de
Pitanga so promissores, indicando uma alta inibio do crescimento de micro-organismos,
visto que a concentrao inibitria encontrada foi menor que todos os estudos
referenciados.
Tabela 18 - Concentrao inibitria mnima (ppm) dos diferentes extratos de semente de
Pitanga.
Micro-organismos Gram
Extratos
Extrato-9 Soxhlet SC-EtOH Purificado
Escherichia coli - 125 125 125 125
Staphylococcus aureus + 125 125 125 125
Pseudomonas aeruginosa - 125 125 125 125
Bacillus subtilis + 125 125 125 125
Mdias de 3 repeties.
Em estudo realizado por Bouzada et al. (2009), que utilizou extrato metanlico de
folhas de Pitanga, chegou-se a altos valores de atividade antimicrobiana, com zonas de
inibio de 1,9 e 2,2 cm contra Salmonella typhimurium e Shigella sonnei, respectivamente.
Ao contrrio do que era esperado, o extrato etanlico das folhas de Pitanga no exibiu
qualquer efeito antimicrobiano contra Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa e
Staphylococcus aureus (COUTINHO et al., 2010). A divergncia entre resultados oriundos
de uma mesma matriz refora a ideia de que a escolha do mtodo de extrao crucial para
a visualizao de diversas atividades biolgicas.
5.5.4 Determinao da inibio da enzima arginase
Na Leishmania, a arginase responsvel pela produo da ornitina, um aminocido
precursor de poliaminas requeridas na proliferao do parasita, desta forma a ao inibitria
desta enzima age no controle desta doena.
Os extratos utilizados nestes experimentos foram: o extrato supercrtico (SC) obtido
nas condies de 175 Kgf.cm
-2
e 45C, ponto central do DCCR (Tabela 9), extrato obtido
pelo mtodo Soxhlet, extrato supercrtico em que se utilizou etanol como co-solvente (SC-
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
84
EtOH) e a frao purificada do extrato supercrtico com etanol como co-solvente (SC-EtOH
Purificado) todos diludos a 1.000 ppm em metanol. Na Tabela 19 visualiza-se a
porcentagem de inibio da arginase isolada de fgado de rato e produzida da prpria
Leishmania para estes diferentes extratos determinada por ensaio espectrofotomtrico.
Tabela 19 - Porcentagem (%) da atividade de inibio da arginase isolada de fgado de rato
e da Leishmania
Arginase de fgado de rato
Extrato SC SC-EtOH SC-EtOH Purificado Soxhlet
14,99 42,37 23,66 33,65
Arginase de Leishmania
SC SC-EtOH SC-EtOH Purificado Soxhlet
21,01 48,48 17,93 37,59
Mdias de 3 repeties.
Os resultados mostram que o extrato obtido quando etanol foi usado como co-solvente
na extrao supercrtica (SC-EtOH) foi o que apresentou maior atividade inibitria da
arginase. Este comportamento indica que os compostos com maior polaridade, que so
extrados devido alterao da solubilidade do CO
2
pelo etanol (solvente polar) agem com
maior eficincia na inibio desta enzima. Nada se pode inferir sobre o modo de inibio da
enzima, mas sabe-se que algumas substncias conseguem se ligar ao complexo arginase-
L-arginina e desse modo deslocar o on hidrxido que ligado ao stio de mangans
presente na enzima. O deslocamento desse on hidrxido faz a enzima perder a sua funo
e dessa forma ela no consegue metabolizar a arginina (TORMANEN, 2003).
A importncia da inibio da arginase pode ser vista por dois prismas. O primeiro
que quando esta enzima inativada, prejudica o metabolismo vital do protozorio
Leishmania, atividade com enfoque neste trabalho e, desse modo pode contribuir no
controle da patologia causada por ele (SILVA et al., 2002). Por outro lado, estudos tm
mostrado que a inibio da arginase aumenta a funo endotelial e diminui a presso
sangunea em mamferos, o que pode contribuir para o desenvolvimento de novas drogas
que combateriam a hipertenso arterial (BAGNOST et al., 2009).
Com os resultados obtidos, constata-se que o extrato supercrtico de sementes de
Pitanga, principalmente aqueles obtidos quando etanol foi usado como co-solvente pode ser
objeto de estudos no desenvolvimento de medicamentos que possam atuar na inibio da
arginase no controle da leishmaniose e como medicamento para hipertenso.
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
85
6 CONCLUSES
Os extratos supercrticos de sementes de Pitanga foram caracterizados com relao a
presena de alguns componentes e foram realizados testes de bioatividade cujos resultados
mostram possveis aplicaes em campos diversificados. O rendimento da extrao mostrou
ser maior quando realizado sob altas presses, e a no influencia da temperatura indica que
baixos valores desta varivel podem ser usados no processo, o que no agride os
componentes termolbeis, alm de economizar no consumo de energia. Os compostos
fenlicos apresentaram uma concentrao elevada nestes extratos. Mesmo o CO
2
supercrtico no tendo afinidade pela extrao de compostos polares tanto que nenhum dos
fatores estudados influenciaram positiva ou negativamente na sua obteno.
O perfil de volteis realizado por CG/EM indicou como componentes majoritrios nos
extratos os sesquiterpenos -elemeno e germacrone, que desempenham inmeras
atividades biolgicas como reporta a literatura. A presena de volteis, terpenos, foi
demonstrada previamente por CCD, que tambm apresentou resultados positivos para a
respectiva atividade antioxidante. Assim, estes compostos apolares altamente solveis em
CO
2
supercrticos tambm tm esta bioatividade.
A atividade antioxidante embora presente, quantitativamente mostrou ser baixa, tanto
quando analisada pelo mtodo de inibio do radical DPPH quanto pelo ABTS. Porm, o
extrato obtido quando etanol foi usado como co-solvente mostrou-se mais ativo, diferente
dos demais. Ele tambm se destacou na inibio da arginase, com quase 50% de atividade
inibidora desta enzima. Quanto ao ensaio antimicrobiano, todos os extratos, independente
da polaridade do solvente de extrao, obtiveram uma concentrao mnima inibitria
elevada, superior a muitos outros extratos supercrticos.
Frente ao exposto, nota-se que estudo da semente de Pitanga atravs da aplicao da
tecnologia supercrtica gerou uma caracterizao inovadora e que abre espao para mais
pesquisas, direcionadas a busca por resultados mais promissores.
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
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7 SUGESTO PARA TRABALHOS FUTUROS
Este grupo de pesquisa sentiu-se motivado a investigar uma matriz vegetal pouco
estudada tal como a semente de Pitanga, pertencente a uma planta com inmeras
propriedades reconhecidas pela literatura. Porm, sabe-se que numa pesquisa cientfica
coerente, necessrio delimitar os objetivos do trabalho de modo a torn-lo executvel
dentro de um determinado prazo. Sendo assim, esta dissertao, que aborda o estudo dos
extratos supercrticos de sementes de Pitanga apresentou resultados consistentes com os
objetivos vislumbrados. Entretanto, o estudo de tais extratos ser continuado, com vistas a
abranger aspectos diferenciados da sua caracterizao. Dessa forma, em complementao
ao trabalho apresentado, ainda esto previstas anlises futuras com os extratos
supercrticos de sementes de Pitanga, como apontado a seguir:
Quantificao do teor de flavonides presentes, visto que outros estudos apontam ser
este o principal grupo constituinte da frao fenlica quantificada neste estudo;
Anlise do perfil sensorial dos extratos por CG-olfatometria (Sniffing), onde se
pretende determinar a contribuio odorfera de cada composto voltil na composio
do perfil sensorial dos extratos;
Anlise de perfil de cidos graxos, para determinar qual classe de lipdios (saturados
ou polinsaturados) est presente nos extratos e
Quantificao da atividade antioxidante pelo mtodo do -caroteno, que se configura
como o mtodo mais adequado para visualizao desta bioatividade em extratos
constitudos na grande maioria por compostos apolares.
SANTOS, D. N. Extrao com dixido de carbono supercrtico e estudo da composio dos extratos de sementes de Pitanga (Eugenia uniflora L.)
87
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