Diss 2021 HellenLopes mprofITVDS
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Belém / PA
2021 1
HELLEN DA SILVA LOPES
Belém / PA
2021
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
S
L864 Lopes, Helen da Silva
Biologia reprodutiva de sete espécies de Asteraceae na Serra dos
Carajás com potencial para uso em recuperação ambiental / Hellen da
Silva Lopes – Belém, 2021.
70 f. : il.
Data de aprovação:
Banca examinadora:
_____________________________________________________________
Dr. Maurício Takashi Coutinho Watanabe
Orientador - Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável (ITV DS)
_____________________________________________________________
Dra. Tereza Cristina Giannini
Membro interno - Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável (ITV DS)
_____________________________________________________________
Dra. Nádia Roque
Membro externo - Universidade Federal da Bahia (UFBA)
_____________________________________________________________
Dr. Arthur Domingos de Melo
Membro externo - Universidade Federal de Pernabuco (UFPE)
AGRADECIMENTOS
Hellen da Silva Lopes
Agradeço a Deus por me guiar sempre com clareza, amor e determinação! Sem
ti Senhor, eu nada seria, toda honra e glória somente a ti!
A minha amada e linda família que juntos trilhamos cada passo dessa
caminhada. As minhas filhas que mesmo diante da sua ingenuidade entenderam e
encararam da melhor forma cada momento de ausência. Em especial a minha amada
mãe Lenimar Bandeira que sempre me acolheu com muito amor e cuidou das minhas
pequenas nos momentos difíceis.
Ao meu amado pai Bento Lopes, que mesmo não estando fisicamente ao meu
lado sei que está olhando e me protegendo sempre, trago comigo cada valor e
ensinamento de honestidade que ele sempre me passou. Saudades eternas de ti
paizinho obrigada por tudo que sempre fez por mim, por ter sido ao lado de minha
mãe meu alicerce.
Ao meu amado esposo José Estevão pela compreensão e companheirismo de
sempre, por acreditar em mim e lutar ao meu lado por dias melhores, por ser esse pai
tão maravilhoso e presente. Sem você nada teria sido possível, obrigada por seu amor
e companheirismo. Aos meus irmãos, parentes, amigos e colegas de trabalho que
sempre me apoiaram nessa caminhada.
Agradecer a minha querida secretária Ivanete mais conhecida como tia Net, por
sempre cuidar de nós com tanto amor. Obrigada por sua amizade e contribuições
positivas em minha vida.
Aos meus queridos orientadores Dr. Maurício Takashi Coutinho Watanabe e
Drª. Ana Carolina Galindo da Costa, que mesmo diante de tanto conhecimento,
sempre os compartilharam da melhor forma possível com humildade e paciência.
Muito orgulho de ter sido orientada por vocês, dois seres humanos incríveis. Obrigada
por sempre acreditarem em mim, mesmo sabendo das minhas tantas atribuições.
Mestres como vocês fazem toda diferença durante a vida acadêmica. Por mais
mestres assim! Gratidão e admiração!
Aos meus colegas de turma, professores e colaboradores do Programa
de Mestrado Profissional em Uso Sustentável de Recursos Naturais em Regiões
Tropicais do Instituto Tecnológico Vale (ITV), que sempre me incentivaram e me
ajudaram de todas as maneiras possíveis. Sem vocês tudo teria sido bem mais difícil,
obrigada por cada palavra de carinho e pelo companheirismo prestado. A Mayara
Pastore, por suas contribuições durante o desenvolvimento desse trabalho, gratidão
pelos conhecimentos e gentileza compartilhada.
Ao Instituto Tecnológico Vale (ITV), pela oportunidade e confiança. Muito
feliz em poder contribuir para a compreensão das espécies botânicas do
ecossistema canga. Sem dúvida uma das experiências mais enriquecedoras da
minha vida. Muito obrigada!
Enfim, meus eternos agradecimentos a todos que contribuíram direta ou
indiretamente para que esse momento se concretizasse. Gratidão!
RESUMO
RELATÓRIO TÉCNICO
Sob autoria de
Hellen da Silva Lopes ...
PROD.TEC.ITV.DS. - N006/2021
DOI 10.29223/PROD.TEC.ITV.DS.2021.06.Lopes
Belém / PA
Março / 2021
15
1 INTRODUÇÃO
Estudos fenológicos contribuem para o entendimento da reprodução das
plantas, da organização temporal dos recursos dentro da comunidade, das interações
planta-animal e da evolução da história de vida dos animais que dependem das
plantas para alimentação, como polinizadores, herbívoros e dispersores
(MORELLATO, 1991; MORELLATO & LEITÃO-FILHO, 1992). Compreender estas
interações e as estratégias reprodutivas de plantas nativas de um dado ecossistema
são ferramentas fundamentais para manejo, conservação de áreas naturais e
recuperação de áreas degradadas (MORELLATO et al., 2000; GARCIA, et.al, 2009).
Um aspecto importante para a compreensão dos processos reprodutivos é
analisar como os fatores climáticos, tais como temperatura, precipitação, umidade e
fotoperíodo estão relacionados diretamente com eventos fenológicos das espécies
(MORELLATO et al., 1991). A possível correlação dos eventos fenológicos com os
fatores climáticos permite uma melhor compreensão sobre a dinâmica funcional dos
biomas florestais (BATALHA & MANTOVANI, 2000), como o amazônico.
A Amazônia, situada na porção norte da América do Sul, possui extensão de
aproximadamente seis milhões de km2, abrangendo nove países. O Brasil dispõe da
maior parte desse território e abriga muitas espécies nativas, sendo considerado, em
virtude disso, o país de maior biodiversidade do mundo (PERCOPE et al., 2011; TER
STEEGE et al., 2013). Nesse bioma, destacamos a Serra dos Carajás, um complexo
montanhoso que dispõe de um relevo acidentado com presença de platôs de
afloramentos de rochas ferruginosas isoladas, com uma vasta concentração de
recursos minerais em seu interior (VIANA et al., 2016).
A Floresta Nacional (FLONA) de Carajás, localizada na Serra dos Carajás,
apresenta dois ambientes fitofisionômicos distintos: um ambiente predominantemente
arbóreo, representado por formações florestais, e outro com características herbáceo-
arbustivas, denominado canga, que também apresenta formações de capão (com
predominância de arvoretas e árvores).
A vegetação da canga apresenta características peculiares, tais como solos
ácidos com altas concentração de metais e pobres em nutrientes, além de
temperaturas elevadas e alta sazonalidade (MOTA et al., 2015). Essas características
estão associadas a estreita relação com solos ricos em minério de ferro e ambientes
de variação extrema, seja pela amplitude térmica diária ou pelo regime sazonal bem
marcado (NUNES, 2009). Além disso, é composta por 1.042 espécies botânicas
16
incluindo, dentre estas, 38 endêmicas (GIULIETTI et al., 2019). Por estarem
associadas à substratos ferríferos, estas espécies estão submetidas a atividade
mineradora para extração do minério de ferro, um importante recurso no contexto da
matéria prima nacional. Desta forma a estabilidade dessas populações e do
ecossistema de canga é comprometida (GARCIA et al., 2010).
Neste contexto, a família Asteraceae é uma das mais ricas no ambiente de
canga na FLONA de Carajás, representada por 26 gêneros e 34 espécies, incluindo
dois gêneros e quatro espécies endêmicas (CRUZ et al., 2016; MOTA et al., 2018;
GIULIETTI et al., 2019). Algumas espécies do grupo são indicadas como potenciais
para recuperação de áreas degradadas (RAD), em virtude de sua grande produção
de sementes, estarem associadas aos afloramentos ferríferos e serem nativas e/ou
endêmicas, tornando-as espécies críticas para RAD (GIANNINI et al., 2016; ZAPPI et
al., 2018).
Devido a sua representatividade na flora local, para este estudo selecionamos
espécies nativas e/ou endêmicas da família Asteraceae das cangas da Serra dos
Carajás, tais como Cavalcantia glomerata (G.M.Barroso & R.M.King) R.M.King &
H.Rob, Cavalcantia percymosa R.M.King & H.Rob, Lepidaploa arenaria (Mart.exDC.)
H.Rob., Lepidaploa paraensis (H.Rob.) H.Rob., Lepidaploa remotiflora (Rich.) H.Rob.,
Monogereion carajensis G.M.Barroso & R.M.King e Parapiqueria
cavalcantei R.M.King & H.Rob., com possível potencial para RAD.
Foram investigados aspectos da biologia floral reprodutiva destas espécies,
tais como fenologia, morfologia floral, sistema reprodutivo e interação planta-
polinizador. Com este estudo foi possível ampliar o conhecimento sobre as espécies
das cangas de Carajás, apontamo o período e o modo de reprodução destas plantas
e o principal período para coleta de sementes para utilização em programas de
conservação e recuperação de áreas degradadas, uma vez que existem poucos
estudos com essa abordagem para espécies de canga (GARCIA, et.al, 2009). Desta
forma, a partir desses dados levantados, este estudo auxiliará na adoção de
estratégias eficazes para conservação do ecossistema de canga e planejamento para
recuperação de áreas mineradas da FLONA de Carajás
17
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Avaliar a biologia reprodutiva das espécies nativas da vegetação de canga,
tais como Cavalcantia glomerata, C. percymosa, Lepidaploa arenaria, L. paraensis,
L. remotiflora, Monogereion carajensis e Parapiqueria cavalcantei pertencentes à
família Asteraceae.
18
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 FENOLOGIA
Estudos fenológicos abordam acontecimentos biológicos repetitivos
relacionados ao clima, como os eventos de floração e frutificação, auxiliando na
compreensão dos padrões reprodutivos das plantas (LIETH, 1974; MORELLATO,
1995). A relação das diferentes fenofases (botão, flor, fruto imaturo e fruto maduro)
com as variáveis ambientais permitem a compreensão da dinâmica reprodutiva das
espécies (WRIGHT, 1991; MORELLATO & LEITÃO-FILHO ,1992; FUNCHS et al.,
2003; MUNHOZ & FELFILI, 2003; CHAMBERS et al., 2013; SOUZA et al., 2014).
Dentre os aspectos da dinâmica de populações e comunidades que o
conhecimento dos ciclos fenológicos reprodutivos das plantas proporcionam,
podemos destacar: (1) a biologia floral das espécies e suas estratégias reprodutiva
(GLEESON, 1981); (2) a interação planta-polinizador (GUSSON et al., 2006); (3) a
interação planta-dispersor (CONCEIÇÂO et al., 2007); (4) a distribuição de recursos
na comunidade (FREITAS et al., 2014); (5) a conservação das espécies
(MANTOVANI et al., 2003); (6) os efeitos das mudanças climáticas nos ciclos
reprodutivos (MORELLATO et al., 2016); e (7) a recuperação de áreas degradadas e
plano de manejo de áreas (BUISSON et al., 2017).
Dados fenológicos podem direcionar o período adequado para estudos sobre
a reprodução das espécies vegetais (PIEDADE-KIILL et al., 1999; DUTRA et al., 2009;
SOUZA et al., 2014). Além disso, possibilitam avaliar as interações plantas-
polinizador e planta-dispersor, que estão relacionados a oferta dos recursos florais,
frutos e sementes, respectivamente, disponíveis na comunidade (CONCEIÇÂO et al.,
2007; FREITAS et al., 2014).
Os fatores abióticos exercem influências sobre o ciclo reprodutivo das plantas.
Mudanças climáticas podem afetar as interações planta-animal devido a possíveis
deslocamentos temporais da data do período reprodutivo das plantas, afetando a
oferta de recursos florais na comunidade, podendo resultar em consequências
negativas para os visitantes e para a reprodução das plantas (DONNELLY et al.,
2011; MORELLATO et al., 2016). Ainda, o conhecimento sobre a dinâmica dos ciclos
reprodutivos das espécies pode direcionar o processo de conservação, recuperação
e plano de manejo de áreas (MANTOVANI et al., 2003; REYS et al., 2005; BUISSON
et al., 2017).
19
3.1.1 FENOLOGIA E BIOLOGIA REPRODUTIVA DE ESPÉCIES AMAZÔNICAS
O levantamento de informações sobre a biologia reprodutiva das espécies da
vegetação canga na Amazônia, apresenta-se como uma ferramenta no
direcionamento do manejo e conservação desse ecossistema (SHEAFER et al.,
2016). No entanto, estudos fenológicos de espécies amazônicas se apresentam de
forma fragmentada, estando voltados principalmente para espécies com potencial
econômico (MUNIZ, 2008).
Nesse contexto, os estudos de biologia reprodutiva ainda são limitados em
florestas tropicais, estando, principalmente, voltados a vegetações herbáceo-
arbustivo em áreas campestres (CONCEIÇÃO et al., 2007). Há uma escassez de
trabalhos sobre fenologia, geralmente de curta duração, com enfoque para espécies
arbóreas ou lenhosas (MORELLATO, 2007), havendo também poucos estudos
voltados para o estrato herbáceo arbustivo (GALDIANO, 2017).
Embora até o momento não haja estudos publicados sobre fenologia de
espécies ocorrentes de canga na Amazônia, Vasconcelos et al. (in prep.), realizaram
um estudo sobre fenologia de algumas espécies endêmicas das cangas na FLONA
de Carajás. No estudo mencionado, todas as espécies avaliadas apresentaram ciclo
reprodutivo anual. Além disso, foi determinado no presente estudo o pico de cada
fenofase para cada espécie com todas as populações apresentando pico de
floração em março, pico de frutos imaturos em maio e pico de frutos maduros em
junho. Ainda, todas as espécies apresentaram sazonalidade para as diferentes
fenofases, sendo a água um importante estímulo para a floração.
Nas cangas do Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais, Garcia et al. (2009)
realizaram um estudo fenológico e demostraram que as espécies avaliadas
apresentam padrões fenológicos distintos, com espécies com floração anual
(Calyptranthes sp. e Miconia sellowiana), subanual (Coccoloba acrostichoides) e
contínua (Alibertia vaccinioides). Além disso, Garcia et al. (2009) elencaram também
a importância dos conhecimentos fenológicos para a seleção de espécies que
dispersam em diferentes períodos, mantendo a relação planta-dispersor ao longo do
ano, contribuindo para o sucesso reprodutivo das populações em programas de RAD.
Portanto, para a adoção de estratégias eficazes de conservação e recuperação
de áreas, torna-se fundamental a compreensão da dinâmica reprodutiva das espécies
alvo (MONASTERIO & SARMIENTO, 1976; MONTEIRO et al., 2006; ANTUNES,
2013). A ausência de dados sobre os padrões fenológicos na Amazônia dificulta o
20
planejamento e utilização de espécies nativas em projetos de recuperação de áreas
degradadas neste ecossistema (GARCIA et al., 2009).
23
4 METODOLOGIA
4.1 LOCAL DE ESTUDO
O estudo foi realizado na FLONA de Carajás, pertencente ao bioma
Amazônico, localizada na Serra dos Carajás, no sudeste do Pará, mais
especificamente nos platôs N1 (6°01'55" S, 50°17'27" W) e N2 (6°03'32" S, 50°15'03"
W) da Serra Norte e S11A (6°20'57" S, 50°26'56" W), S11B (6°21'17" S, 50°23'28" W)
e S11C (6°22'59" S, 50°23'07" W) da Serra Sul (Figura 1). O estudo ocorreu nestes
platôs devido serem as áreas de ocorrência das espécies selecionadas.
Figura 1 - Mapa de localização das áreas de estudo no interior da Floresta Nacional de Carajás,
situada na Serra dos Carajás, sudeste do Pará.
.
Fonte: COSTA, 2019.
25
Cavalcantia glomerata e C. percymosa são caracterizadas pelos ramos com
folhas basais deltoides e opostas, e as apicais lanceoladas e alternas com margem
denteada. Cavalcantia glomerata apresenta capitulescência glomeruliforme e
brácteas involucrais bisseriadas, enquanto C. percymosa dispõe de capitulescência
paniculiforme e brácteas involucrais em uma série (CRUZ et al., 2016).
Lepidaploa arenaria, L. remotiflora e L. paraensis apresentam algumas
características florais morfológicas em comum, tais como capítulos lilases a roxos em
arranjos escorpioides, o que dificulta a diferenciação entre elas (CRUZ et al., 2016).
Estas espécies podem se diferenciar principalmente a partir de suas características
vegetativas (CRUZ et al., 2016).
Monogereion carajensis possui tricomas pubescentes glandulares ao longo
dos ramos, pecíolos, folhas e pedúnculos, oferecendo à planta leve odor e textura
pegajosa, além de dispor de capitulescência corimbiforme ou capítulo solitário (CRUZ
et al., 2016).
Parapiqueria cavalcantei é uma erva que se caracteriza por apresentar folha
séssil, linear, capitulescência em panículas tirsóides e capítulos laxos, flores
desprovidas de pápus e corola com 4 lobos. Difere-se das demais Asteraceae
principalmente por seu tamanho de até 15 cm de altura e por ser adaptada a
ambientes úmidos e sombreados, desenvolvendo-se entre rachaduras de rochas que
ocorrem em associação com cursos d’agua intermitente (CRUZ et al., 2016).
Dentre as espécies estudadas, Cavalcantia glomerata, Lepidaploa paraensis,
Monogereion carajensis e Parapiqueria cavalcantei são endêmicas da Serra dos
Carajás, sendo indicadas, com exceção de P. cavalcantei, para restauração de áreas
mineradas (ZAPPI et al., 2018). Além disso, em função da abrangência de C.
glomerata e L. paraensis ser menor que 5000 km², porém maior que 100 km2, são
consideradas espécies endêmicas de alcance restrito. Parapiqueria cavalcantei além
de microendêmica, é considerada altamente restrita em função da sua extensão de
ocorrência ser < 100 km2, condições que a torna espécie crítica para conservação.
Monogereion carajensis é endêmica, porém possui abrangência > 5.000 km2 não
sendo classificada como espécie de alcance restrito (GIULIETTI et al., 2019). As
espécies apresentam diferentes padrões de distribuição no ambiente estudado. Foi
observado que C. percymosa, C. glomerata, L. remotiflora e M. carajensis ocupam
preferencialmente bordas de capão ou áreas perturbadas, como bordas de
26
estradas/caminhos, enquanto as demais estão predominantemente distribuídas em
ambientes menos perturbados (ou mais homogêneos) nas áreas de canga.
As espécies selecionadas neste estudo têm características que as tornam
potenciais para recuperação de áreas degradadas, tais como uma expressiva
produção de sementes, dispersão pelo vento (anemocoria), desenvolvimento em
solos inóspitos e a distribuição restrita de algumas espécies (GIANNINI et al., 2016).
4.3 FENOLOGIA
Foram selecionados de 10 a 30 indivíduos com distância mínima de um metro
de cada espécie em fase reprodutiva para o monitoramento da fenologia nas áreas
de estudo. Já para P. cavalcantei a seleção foi contínua, sendo a seleção inicial de
10 indivíduos sendo analisado um total de 35 indivíduos. Entretanto, ao longo do
monitoramento, à medida que os indivíduos selecionados morriam era realizada uma
nova remarcação, levando e consideração para a seleção dos novos indivíduos a
semelhança da fenofase, tamanho e proximidade do indivíduo substituído. Os
indivíduos foram avaliados quanto à intensidade de floração, botão e flor, e
frutificação, fruto imaturo e fruto maduro.
As fenofases foram monitoradas mensalmente, no período de abril de 2019 a
fevereiro de 2020, sendo aplicado para essa avaliação o índice de intensidade de
Founier (1974) que atende uma escala de cinco categorias que variam de 0 a 4: (0)
ausência de fenofase, 0%; (1) intensidade da fenofase entre 1 e 25%; (2) intensidade
da fenofase entre 26 e 50%; (3) intensidade da fenofase entre 51 e 75%; e (4)
intensidade da fenofases entre 76 e 100%.
Devido a pandemia de Covid-19 não foi possível coletar dados em campo para
o último mês da amostra fenológica (março de 2020). Para obtenção deste dado foi
calculado o valor médio do mês anterior, fevereiro, e do mês posterior, abril, para
cada indivíduo de cada população de cada espécie. Entretanto, este cálculo não foi
realizado para L. remotiflora, que passou a ser monitorada no mês de maio 2019, não
sendo possível realizar o fechamento da amostra fenológica de um ano.
Para cada população de cada espécie, o percentual de intensidade de Fournier
foi calculado mensalmente por meio do somatório dos valores individuais das
categorias de intensidade obtidos para todos os indivíduos, dividido pelo número total
de indivíduos multiplicado por quatro, de acordo com a fórmula [(Σ Fournier).(4N)-
1]100 (Fournier 1974). A partir desse método, foi possível avaliar o período e a
27
intensidade de ocorrência das diferentes fenofases em cada população.
A classificação quanto a estratégia de floração de cada espécie foi realizada
de acordo com os critérios de Newstrom et al. (1994): contínua (ocorrência ao longo
do ano), sub-anual (ocorre mais de uma vez por ano), anual (um evento a cada ano)
e supra-anual (a cada dois anos ou mais). Buscando avaliar a sincronia dessas fases
dentro das populações, foram avaliadas as seguintes variáveis a) data da primeira
floração, b) data do pico da floração, (c) data da primeira frutificação e (d) data do
pico de frutificação. Foram considerados eventos fenológicos assincrônicos: < 20%
de indivíduos apresentarem a mesma fenofase; sincronia baixa: 20-60% de indivíduos
na mesma fenofase e sincronia alta: > 60% de indivíduos na mesma fenofase
(BENCKE & MORELLATO, 2002).
Para verificar possível influência das condições ambientais nas diferentes
fenofases de cada espécie, foram obtidas variáveis ambientais como temperatura
média mensal, temperatura mínima mensal, temperatura máxima mensal, umidade
relativa do ar mensal e precipitação total mensal das áreas de estudo. Os dados
climáticos foram provenientes das estações meteorológicas do Instituto Tecnológico
Vale - Desenvolvimento Sustentável (ITV) do projeto Salobo (Serra Norte), no
município de Parauapebas (05° 58' 37" S 50° 08' 24" W, alt.: 209 m) e Sossego (Serra
Sul) em Canaã dos Carajás (06 ° 26 '35 "S, 50 ° 02' 05" W, alt .: 236 m), no Pará.
30
estímulo pelos fatores ambientais. As correlações foram realizadas utilizando o
software BioEstat 5.3. (AYRES et al., 2007).
Para avaliar possíveis diferenças no sucesso reprodutivo entre os tratamentos
para cada espécie estudada foi aplicado o teste Qui-quadrado utilizando o software
BioEstat 5.3. (AYRES et al., 2007).
31
5 RESULTADOS
5.1 FENOLOGIA REPRODUTIVA
Foi possível observar no presente trabalho que a maioria das espécies de
Asteraceae avaliadas apresentaram floração no primeiro semestre do ano e
frutificação no final do semestre em questão, com exceção para Monogereion
carajensis (N1/S11B) que apresentou o pico de floração e frutificação no mês de abril.
Abaixo detalhamos cada fenofase das espécies estudadas.
35
Tabela 1 - Estatística circular dos eventos fenológicos reprodutivos das espécies Cavalcantia glomerata, Cavalcantia percymosa, Lepidaploa arenaria,
Lepidaploa paraensis, Monogereion carajensis e Parapiqueria cavalcantei em área de canga na Floresta Nacional de Carajás, Pará.
36
Lepidaploa paraensis N1 92 abril 96.18° 14.50° 0.96 86.28 <0.01
Lepidaploa paraensis S11A 66 abril 92.32° 12.12° 0.97 63.10 <0.01
Monogereion carajensis N1 72 abril 93.31° 13.80° 0.97 67.94 <0.01
Monogereion carajensis S11B 92 abril 97.11° 16.01° 0.96 85.08 <0.01
Parapiqueria cavalcantei S11C 113 maio 122.38° 34.68° 0.83 78.33 <0.01
Cavalcantia glomerata N2 83 Abril 116.98° 25.49° 0.90 68.09 <0.01
Cavalcantia glomerata S11B 60 Maio 132.09° 19.94° 0.94 53.15 <0.01
Cavalcantia percymosa S11B 1 93 Maio 122.15° 28.35° 0.88 72.80 <0.01
Cavalcantia percymosa S11B 2 100 Abril 105° 21.79° 0.93 86.52 <0.01
Lepidaploa arenaria N1 97 abril 94.83° 12.86° 0.97 92.23 <0.01
Lepidaploa arenaria S11A 106 abril 108.84° 46.32° 0.72 55.13 <0.01
Fruto imaturo
Lepidaploa arenaria S11B 137 abril 112.79° 42.23° 0.76 79.56 <0.01
Lepidaploa paraensis N1 62 abril 96.71° 15.83° 0.96 57.44 <0.01
Lepidaploa paraensis S11A 33 abril 91.39° 12.26° 0.97 31.52 <0.01
Monogereion carajensis N1 26 abril 93.29° 16.68° 0.95 23.88 <0.01
Monogereion carajensis S11B 58 abril 95.98° 19.07° 0.94 51.91 <0.01
Parapiqueria cavalcantei S11C 38 junho 150.80° 12.32° 0.97 36.28 <0.01
Cavalcantia glomerata N2 100 mai 125.23° 27.07° 0.89 79.99 <0.01
Cavalcantia glomerata S11B 207 junho 177.64° 47.20° 0.71 104.99 <0.01
Cavalcantia percymosa S11B 1 253 junho 164.33° 45.94° 0.72 133.01 <0.01
Cavalcantia percymosa S11B 2 211 mai 137.08° 40.59° 0.77 127.71 <0.01
Lepidaploa arenaria N1 190 julho 191.09° 57.44° 0.60 69.52 <0.01
Lepidaploa arenaria S11A 280 junho 161.18° 61.45° 0.56 88.63 <0.01
Fruto maduro
Lepidaploa arenaria S11B 271 junho 161.25° 52.47° 0.65 117.12 <0.01
Lepidaploa paraensis N1 82 maio 148.43° 17.99° 0.95 74.29 <0.01
Lepidaploa paraensis S11A 64 junho 150.19° 22.15° 0.92 55.11 <0.01
Monogereion carajensis N1 36 abril 105.00° 23.21° 0.92 30.54 <0.01
Monogereion carajensis S11B 93 abril 106.67° 21.54° 0.93 80.74 <0.01
Parapiqueria cavalcantei S11C 141 junho 165.91 27.58° 0.89 111.82 <0.01
Fonte: elaborado pela autora, (2021).
37
Tabela 2 - Correlação entre variáveis ambientais, Temperatura média mensal e Precipitação total mensal, e as fenofases reprodutivas das espécies estudadas em área
de canga na Floresta Nacional de Carajás, Pará. Legenda: Prec atual: Precipitação do mês corrente; Prec 1: Precipitação de um mês anterior à fenofase; Prec 2:
Preciptação de dois meses anteriores à fenofase, Prec 3: Precipitação de três meses anteriores à fenofase; Temp atual: Temperatura média do mês corrente; Temp 1:
Temperatura média de um mês anterior à fenofase; Temp 2: Temperatura média de dois meses anteriores à fenofase; Temp 3: Temperatura média de três meses
anteriores à fenofase. Os Valores com correlação significativa estão destacados em negrito.
Espécie Platô Temp atual Prec atual Temp 1 Prec 1 Temp2 Prec 2 Temp 3 Prec 3
Botão
Cavalcantia glomerata N2
rs: -0.008; p= 0.97 rs: 0.4; p=0.17 rs: -0.39; p= 0.19 rs: 0.69; p< 0.01 rs: -0.68; p < 0.01 rs: 0.81; p< 0.01 rs: -0.64; p<0.01 rs: 0.61; p< 0.05
Cavalcantia glomerata S11B
rs: 0.14; p= 0.64 rs: 0.21; p= 0.50 rs: 0.22; p= 0.47 rs: 0.46; p= 0.12 rs: 0.02; p= 0.93 rs: 0.52; p= 0.07 rs: -0.25; p= 0.41 rs: 0.75; p< 0.01
Cavalcantia percymosa S11B
1 rs: 0.14; p= 0.64 rs: 0.21; p= 0.50 rs: 0.22; p= 0.47 rs: 0.46; p= 0.12 rs: 0.02; p= 0.93 rs: 0.52; p= 0.07 rs: -0.25; p= 0.41 rs: 0.75; p< 0.01
Cavalcantia percymosa S11B
2 rs: 0.32; p= 0.30 rs: 0.41; p= 0.18 rs: 0.0555; p= 0.86 rs: 0.57; p= 0.05 rs: -0.11; p= 0.73 rs: 0.36; p= 0.23 rs: -0.30; p= 0.33 rs: 0.70; p< 0.01
Lepidaploa arenaria
N1 rs: -0.17; p= 0.58 rs: 0.56; p< 0.01 rs: -0.65; p< 0.05 rs: 0.53; p= 0.07 rs: -0.49; p= 0.10 rs: 0.52; p= 0.08 rs: -0.35; p<= 0.25 rs: 0.28; p= 0.36
Lepidaploa arenaria S11A rs: -0.04; p= 0.89 rs:0.45; p= 0.13 rs: 0.16; p= 0.60 rs: 0.62; p< 0.05 rs: 0.28; p= 0.37 rs: 0.79; p< 0.01 rs: -0.04; p= 0.87 rs: 0.84; p< 0.01
Lepidaploa arenaria
S11B rs: -0.03; p= 0.92 rs: 0.41; p= 0.18 rs: 0.22; p= 0.48 rs: 0.53; p= 0.07 rs: 0.32; p= 0.30 rs: 0.77; p< 0.01 rs:-0.09; p= 0.76 rs:0.85; p< 0.01
Lepidaploa paraensis N1
rs: -0.17; p<=.58 rs: 0.56; p< 0.05 rs: -0.65; p< 0.05 rs: 0.53; p= 0.07 rs: -0.49; p= 0.10 rs: 0.52; p= 0.08 rs: -0.35; p= 0.25 rs: 0.28; p= 0.36
Lepidaploa paraensis
S11A rs: 0.32; p= 0.30 rs: 0.41; p= 0.18 rs: 0.05; p= 0.86 rs:0.57; p< 0.05 rs: -0.11; p= 0.73 rs: 0.36; p= 0.23 rs:-0.30; p= 0.33 rs:0.70 p< 0.01
Monogereion carajensis N1
rs: 0.04; p = 0.88 rs: 0.59; p<0.05 rs: -0.58; p< 0.05 rs: 0.65; p< 0.05 rs: -0.71; p< 0.01 rs: 0.73; p< 0.01 rs: -0.48; p= 0.10 rs: 0.42; p= 0.17
Monogereion carajensis
S11B rs: 0.32; p= 0.30 rs: 0.41; p= 0.18 rs: 0.05; p= 0.86 rs: 0.57; p< 0.05 rs: -0.11; p= 0.73 rs: 0.36; p= 0.23 rs-0.30; p= 0.33 rs: 0.70; p< 0.01
Parapiqueria cavalcantei S11C
rs: 0.082; p= 0.79 rs: 0.28; p= 0.36 rs: 0.25; p= 0.43 rs: 0.48; p= 0.11 rs: 0.04; p= 0.88 rs: 0.71; p< 0.01 rs: -0.27; p= 0.38 rs: 0.77; p< 0.01
Flor
Cavalcantia glomerata N2 rs: 0.70; p< 0.01
rs: 0.05; p= 0.85 rs: 0.38; p= 0.21 rs: -0.35; p= 0.25 rs: -0.70; p< 0.01 rs: 0.83; p< 0.01 rs: -0.68; p< 0.01 rs: 0.65; p< 0.05
Cavalcantia glomerata S11B rs: 0.21; p= 0.51 rs: 0.09; p= 0.76 rs: 0.30; p= 0.34 rs: 0.49; p= 0.10 rs: 0.05; p= 0.87 rs:0.53; p= 0.071 rs: -0.25; p= 0.45 rs: 0.70; p< 0.01
Cavalcantia percymosa S11B
1 rs: 0.20; p= 0.52 rs: 0.14; p= 0.64 rs: 0.27; p= 0.38 rs: 0.48; p= 0.11 rs: 0.02; p= 0.93 rs: 0.54; p= 0.06 rs: -0.27; p= 0.37 rs: 0.72; p< 0.01
Cavalcantia percymosa S11B
2 rs: 0.38; p= 0.22 rs: 0.34; p= 0.27 rs: 0.1109; p= 0.73 rs: 0.59; p< 0.05 rs: -0.11; p= 0.73 rs: 0.38; p= 0.21 rs:- 0.32; p= 0.30 rs: 0.68; p< 0.01
Lepidaploa arenaria
N1 rs: -0.17; p= 0.58 rs: 0.59; p< 0.05 rs: -0.58; p< 0.05 rs:0.65; p< 0.05 rs:-0.71; p< 0.01 rs:0.71; p< 0.01 rs:-0.48; p= 0.10 rs: 0.42; p= 0.17
Lepidaploa arenaria S11A
rs: -0.00; p= 0.98 rs: 0.30; p= 0.33 rs: 0.27; p= 0.39 rs 0.62; p< 0.05 rs: 0.22; p= 0.48 rs:0.71; p< 0.01 rs: -0.17; p= 0.58 rs: 0.80; p< 0.01
Lepidaploa arenaria
S11B rs: 0.07; p= 0.82 rs: 0.35; p= 0.256 rs: 0.17; p= 0.58 rs:0.35; p= 0.25 rs: 0.31; p= 0.32 rs:0.52; p= 0.07 rs: -0.11; p= 0.71 rs: 0.78; p< 0.05
Lepidaploa paraensis N1
rs: 0.04; p= 0.88 rs: 0.59; p< 0.05 rs: -0.58; p< 0.05 rs: 0.65; p< 0.05 rs: -0.48; p= 0.10 rs: 0.73; p< 0.01 rs: -048; p= 0.10 rs: 0.42; p= 0.17
Lepidaploa paraensis
S11A rs: 0.12; p= 0.69 rs:0.57; p< 0.05 rs: -0.11; p< 0.72 rs:0.39; p= 0.20 rs: -0.14; p= 0.65 rs:0.27; p= 0.38 rs: -0.25; p= 0.42 rs: 0.64; p< 0.05
38
Monogereion carajensis N1
rs: 0.04; p= 0.88 rs: 0.59; p< 0.05 rs: -0.58; p< 0.04 rs: 0.65; p< 0.05 rs: -0.70; p< 0.01 rs: 0.73; p< 0.01 rs: -0.48; p= 0.10 rs: 0.42; p= 0.17
Monogereion carajensis
S11B rs: 0.32; p= 0.30 rs: 0.41; p= 0.18 rs: 0.05; p< 0.86 rs: 0.57; p< 0.05 rs: -0.11; p= 0.73 rs: 0.36; p= 0.23 rs-0.30; p= 0.33 rs: 0.70; p< 0.01
Parapiqueria cavalcantei S11C
rs: 0.05; p= 0.85 rs: 0.02; p= 0.93 rs: 0.40; p< 0.18 rs: 0.42; p= 0.17 rs: 0.14; p= 0.66 rs: 0.75; p< 0.01 rs: -0.22; p= 0.47 rs:0.67; p< 0.01
Fruto imaturo
Cavalcantia glomerata N2
rs: 0.09; p= 0.77 rs: 0.36; p= 0.24 rs: -0.30; p= 0.33 rs: 0.68; p< 0.01 rs: -0.71; p< 0.01 rs: 0.84; p< 0.01 rs:-0.66; p< 0.01 rs: 0.64; p< 0.05
Cavalcantia glomerata
S11B rs: 0.10; p= 0.75 rs: -0.05; p= 0.87 rs:0.38; p= 0.22 rs: -0.40; p= 0.18 rs: 0.13; p= 0.66 rs: 0.56; p< 0.05 rs: -0.18; p= 0.56 RS: 0.65; p< 0.05
Cavalcantia percymosa S11B
1 rs: 0.21; p= 0.51 rs: 0.09; p= 0.76 rs: 0.30; p= 0.34 rs: 0.49; p= 0.10 rs: 0.05; p= 0.87 rs: 0.53; p= 0.07 rs: -0.25; p= 0.42 rs: 0.70; p< 0.01
Cavalcantia percymosa S11B
2 rs: 0.35; p= 0.25 rs: 0.37; p= 0.22 rs: 0.08; p= 0.79 rs: 0.57; p< 0.05 rs: -0.11; p= 0.73 rs: 0.37; p= 0.22 rs: -0.31; p= 0.31 rs: 0.69; p< 0.01
Lepidaploa arenaria
N1 rs: 0.04; p= 0.88 rs: 0.59; p= 0.04 rs: -0.58; p< 0.05 rs:0.65; p< 0.05 rs: -0.71; p< 0.01 rs: 0.73; p< 0.01 rs:-0.48; p= 0.10 rs: 0.42; p= 0.17
Lepidaploa arenaria S11A
rs: -0.04; p= 0.88 rs: 0.23; p= 0.47 rs:0.21; p= 0.50 rs; 0.54; p= 0.06 rs: 0.26; p= 0.39 rs: 0.65; p< 0.01 rs: -0.13; p= 0.68 rs: 0.86; p< 0.01
Lepidaploa arenaria
S11B rs: -0.003; p= 0.58 rs: 0.29; p= 0.35 rs: 0.06; p= 0.83 rs: 0.47; p= 0.11 rs: 0.24; p= 0.43 rs: 0.50; p= 0.09 rs: 0.07; p= 0.82 rs: 0.82; p< 0.01
Lepidaploa paraensis N1
rs: 0.04; p= 0.88 rs: 0.59; p< 0.05 rs: -0.58; p< 0.05 rs: 0.65; p< 0.05 rs: -0.71; p< 0.01 rs: 0.73; p< 0.01 rs: -0.48; p= 0.10 rs: 0.42; p= 0.17
Lepidaploa paraensis
S11A rs: 0.12; p= 0.69 rs:0.57; p< 0.05 rs: -0.11; p= 0.72 rs:0.39; p= 0.20 rs: -0.14; p= 0.65 rs:0.27; p= 0.38 rs: -0.25; p= 0.42 rs: 0.64; p< 0.05
Monogereion carajensis N1
rs: 0.02; p= 0.93 rs: 0.60; p< 0.05 rs: 0.58; p< 0.05 rs: 0.63; p< 0.05 rs: -0.70; p< 0.01 rs: 0.73; p< 0.01 rs: -0.46; p= 0.12 rs: 0.40; p= 0.19
Monogereion carajensis
S11B rs:0.29; p= 0.34 rs: 0.42; p= 0.16 rs: 0.04; p= 0.89 rs: 0.56; p< 0.05 rs: -0.09; p= 0.76 rs: 0.35; p= 0.25 rs: -0.27; p= 0.37 rs: 0.71; p< 0.01
Parapiqueria cavalcantei S11C
rs:-0.04; p= 0.88 rs: -0.49; p= 0.09 rs: 0.52; p= 0.07 rs: 0.09; p= 0.77 rs:0.27; p= 0.38 rs: 0.46; p= 0.12 rs: -0.01; p= 0.95 rs: 0.25; p= 0.42
Fruto maduro
Cavalcantia glomerata N2
rs: 0.10; p= 0.73 rs:0.28; p= 0.37 rs:-0.23; p= 0.47 rs: 0.67; p< 0.01 rs: -0.68; p< 0.01 rs: 0.83; p< 0.01 rs: -0.70; p<0.01 rs: 0.69; p< 0.01
Cavalcantia glomerata
S11B rs: -0.17; p= 0.59 rs:-0.75; p< 0.01 rs: 0.05; p= 0.87 rs: -0.40; p= 0.18 rs: -0.06; p= 0.84 rs: -0.05; p= 0.86 rs: -0.02; p= 0.94 rs: -0.30; p= 0.33
Cavalcantia percymosa S11B
1 rs: -0.10; p= 0.74 rs: 0.67; p< 0.01 rs: 0.04; p= 0.89 rs: -0.41; p= 0.17 rs: -0.03; p= 0.92 rs: 0.01; p= 0.97 rs: -0.02; p= 0.80 rs: 0.33; p= 0.28
Cavalcantia percymosa S11B
rs-0.02; p= 0.93 rs: -0.30; p= 0.33 rs: 0.01; p= 0.96 rs: 0.08; p= 0.78 rs: 0.04; p=0.90 rs: 0.36; p= 0.23 rs: -0.07; p= 0.82 rs: 0.65; p< 0.05
2
Lepidaploa arenaria N1
rs: 0.47; p= 0.11 rs:-0.68; p< 0.01 rs: 0.33; p= 0.280 rs:-0.33; p= 0.28 rs: -0.19; p= 0.53 rs: 0.00; p= 0.98 rs:-0.40; p= 0.19 rs: 0.30; p= 0.33
Lepidaploa arenaria
S11A rs: -0.11; p= 0.71 rs: 0.67; p< 0.01 rs: -0.08; p= 0.79 rs: -0.24; p= 0.43 rs: -0.11; p= 0.72 rs: 0.12; p= 0.70 rs: 0.03; p= 0.99 rs: 0.44; p= 0.14
Lepidaploa arenaria S11B
rs: -0.07; p= 0.81 rs: -0.61 p< 0.05 rs: -0.18; p= 0.55 rs: -0.13; p= 0.68 rs: -0.03; p= 0.90 rs: 0.12; p= 0.69 rs: 0.20; p= 0.52 rs: 0.37; p= 0.22
Lepidaploa paraensis
N1 rs: 0.04; p= 0.88 rs: -0.31; p= 0.32 rs: 0.21; p= 0.50 rs: 0.10; p= 0.75 rs: -0.12; p= 0.70 rs: 0.55; p< 0.05 rs: -0.45; p= 0.13 rs: 0.64; p= 0.02
Lepidaploa paraensis S11A
rs: -0.22; p= 0.48 rs: -0.47; p= 0.11 rs: -0.18; p= 0.56 rs: -0.10; p= 0.75 rs: 0.44; p= 0.14 rs: 0.22; p= 0.47 rs: 0.14; p= 0.65 rs: 0.42; p= 0.17
Monogereion carajensis
N1 rs: 0.08; p= 0.79 rs: 0.58; p< 0.05 rs: -0.53; p= 0.07 rs; 0.64; p< 0.05 rs: -0.73; p< 0.01 rs: 0.75; p< 0.01 rs: -0.47; p= 0.11 rs: 0.41; p= 0.17
Monogereion carajensis S11B rs:0.38; p= 0.22 rs: 0.34; p= 0.27 rs: 0.11; p= 0.73 rs: 0.58; p< 0.05 rs: -0.11; p= 0.73 rs: 0.38; p= 0.21 rs: -0.32; p= 0.30 rs:0.68; p< 0.01
Parapiqueria cavalcantei
S11C rs: -0.42; p= 0.17 rs: -0.70; p< 0.01 rs: 0.05; p= 0.85 rs: -0.19; p= 0.53 rs: 0.28; p= 0.36 rs: 0.11; p= 0.72 rs: 0.31; p= 0.32 rs:0.29; p= 0.35
39
Tabela 3 - Valores percentuais da classificação do sincronismo da primeira data e atividade máxima da floração das espécies Cavalcantia glomerata,
Cavalcantia percymosa, Lepidaploa arenaria, Lepidaploa paraensis, Monogereion carajensis e Parapiqueria cavalcantei em área de canga na Floresta Nacional
de Carajás, Pará.
Espécie Platô Floração
1° DATA (%) PICO
(%)
Cavalcantia glomeraa N2 100 100
40
Tabela 4 - Calendário de frutos maduros das espécies avaliadas na Serra dos Carajás, no Pará. O X indica o mês de maior porcentagem da fenofase, a cor
cinza claro, o período em que há a presença da fenofase na população em menor intensidade e na cor cinza escuro, a data média destes frutos maduros das
espécies estudadas.
Mês
Espécie Platô
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Cavalcantia
N2
glomerata X
Cavalcantia
S11B
glomerata X
Cavalcantia S11B
percymosa 1 X
Cavalcantia S11B
percymosa 2 X
Lepidaploa
N1
arenaria X
Lepidaploa
S11A
arenaria X
Lepidaploa
S11B
arenaria X
Lepidaploa
N1
paraensis X
Lepidaploa
S11A
paraensis X
Monogereion
N1
carajensis X
Monogereion
S11B
carajensis X
Parapiqueria
S11C
cavalcantei X
Fonte: elaborado pela autora, (2021).
41
Tabela 5 - Valores percentuais da classificação do sincronismo da primeira data e atividade máxima da frutificação das espécies Cavalcantia glomerata,
Cavalcantia percymosa, Lepidaploa arenaria, Lepidaploa paraensis, Monogereion carajensis e Parapiqueria cavalcantei, em área de canga na Floresta
Nacional de Carajás, Pará.
Espécie Platô
Frutificação
1° DATA (%) PICO (%)
Cavalcantia glomerata N2 60 100
Monogereion N1 50 50
carajensis
Parapiqueria S11C 60 70
cavalcantei
Fonte: elaborado pela autora, (2021).
42
Figura 3 – Gráficos circulares das fenofases reprodutivas de Cavalcantia glomerata na Serra Norte (A-D) e Sul (E-H) de Carajás: A e E: fenofases de botão;
B e F: fenofases de flor; C e G: fenofases de fruto imaturo; e D e H: fenofases de fruto maduro. Seta apontando direção da data média e tamanho da seta
relativo ao comprimento do vetor r, representando o grau de agregação temporal dos dados fenológicos.
43
Figura 4 – Gráficos circulares das fenofases reprodutivas de Cavalcantia percymosa S11B 1 (A-D) e S11B 2 (E-H) de Carajás: A e E: fenofases de botão; B
e F: fenofases de flor; C e G: fenofases de fruto imaturo; e D e H: fenofases de fruto maduro. Seta apontando direção da data média e tamanho da seta
relativo ao comprimento do vetor r, representando o grau de agregação temporal dos dados fenológicos.
44
Figura 5 – Gráficos circulares das fenofases reprodutivas de Lepidaploa arenaria na Serra Norte (A-D) e Sul S11 A (E-H) , S11B (I-L) de Carajás: A , E e I:
fenofases de botão; B , F e J: fenofases de flor; C , G e K: fenofases de fruto imaturo; e D, H e L: fenofases de fruto maduro. Seta apontando direção da data
média e tamanho da seta relativo ao comprimento do vetor r, representando o grau de agregação temporal dos dados fenológicos.
46
Figura 7 – Gráficos circulares das fenofases reprodutivas Monogereion carajensis na Serra Norte (A-D) e Sul (E-H) de Carajás: A e E: fenofases de botão; B
e F: fenofases de flor; C e G: fenofases de fruto imaturo; e D e H: fenofases de fruto maduro. Seta apontando direção da data média e tamanho da seta
relativo ao comprimento do vetor r, representando o grau de agregação temporal dos dados fenológicos.
47
Figura 8 – Gráficos circulares das fenofases reprodutivas de Parapiqueria cavalcantei na Serra Sul (A-D) de Carajás: A: fenofases de botão; B: fenofases de
flor; C: fenofases de fruto imaturo; e D: fenofases de fruto maduro. Seta apontando direção da data média e tamanho da seta relativo ao comprimento do
vetor r, representando o grau de agregação temporal dos dados fenológicos.
48
5.2 BIOLOGIA FLORAL
As flores das espécies estudadas apresentaram características morfológicas
semelhantes, tais como a disposição agrupada em capítulos, simetria actinomorfa e o
cálice modificado em pápus, corola gamopétala, pentâmeras, hermafroditas e
androceu com cinco estames. Verificamos que as anteras bitecas, sinânteras, são
soldadas entre si e formando um tubo que envolve o estilete bífido. O gineceu é
formado por um ovário ínfero, dois carpelos, um lóculo e um óvulo. Embora tenham
apresentado semelhanças na quantidade das estruturas do gineceu, dispõem de
tamanhos distintos de ovário.
Verificamos que o número de flores variou entre as espécies, M. carajensis
apresentou o maior número de flores por capítulo com média de 39 ± 6,21 mm e
Cavalcantia percymosa o menor com média de 5 ± 0,67 mm (Tabela 6).
O comprimento e diâmetro das flores foi distinto para cada espécie, sendo a
flor (comprimento da corola e ovário) de Lepidaploa arenaria a maior (10,09 ± 0,38
mm) e a de Parapiqueria cavalcantei a menor (1,41± 0,11 mm). Além disso, exibiram
coloração que variam de lilás a roxo, nas espécies do gênero Lepidaploa e
Monogereion, e flores brancas, nas espécies do gênero Cavalcantia e Parapiqueria.
Comprimento da 2.67±0.29 3±0.17 10.09 ± 9.51 ± 0.84 5.35±2.76 4.48 ± 0.26 1.41± 0.11
flor 0.38
Diâmetro da 1± 0.24 1.15± 0.12 3.38 ± 0.51 2.85 ± 0.74 0.72±0.26 1.1 ± 0.11 0.41± 0.07
corola
Comprimento da 1.54± 0.18 1.69± 0.12 8.31 ± 0.54 7.51 ± 0.72 4.60±1.48 2.86 ± 0.18 0.59± 0.06
corola
Comprimento do 0.91± 0.95 0.9± 0.54 5.32 ± 0.26 4.18 ± 0.5 3.52±0.3 1.74 ± 0.11 0.36± 0.12
Filete
Tamanho da 0.56± 0.06 0.52± 0.20 3.26 ± 0.4 2.49 ± 0.18 1.41± 0.02 0.85 ± 0.12 0.1± 0.03
Antera
Comprimento do 1.13± 0.14 1.32± 0.09 1.78 ± 0,12 2 ± 0.18 0.75± 0.01 1.62 ± 0.14 0.82± 0.06
ovário
49
Diâmetro do 0.3± 0.06 0.38± 0.04 0.88 ± 0.05 0.98 ± 0.07 0.31± 0.01 0.39 ± 0.04 0.14± 0.04
ovário
Estilete + 2.94± 0.38 2.29± 0.20 8.63 ± 0.19 7.88 ± 0.77 5.07± 0.15 3.57 ± 0.42 0.69± 0.06
estigma
Fonte: elaborado pela autora, (2021).
50
Tabela 7. Sistema reprodutivo de Cavalcantia glomerata, Cavalcantia percymosa, Lepidaploa arenaria,
Lepidaploa paraensis, Lepidaploa remotiflora e Monogereion carajensis, em área de canga na Floresta
Nacional de Carajás, Pará. Legenda: AG: Autopolinização e/ou Geitonogamia espontâneas; C:
Controle.
Espécie Local Tratamento Nº de Nº de Nº de Sucesso Teste
indivíduos flore frutos reprodutivo estatístico
s (%)
Cavalcantia S11B AG 12 155 107 69.0 χ2:0.331; g.l.:1;
glomerata S11B C 14 281 182 64.7 p:0.6
Cavalcantia S11B AG 20 103 65 63.1 χ2:1.314; gl:1;
percymosa S11B C 31 145 109 75.1 p:0.28
Lepidaploa S11B AG 26 541 495 91.4 χ2:1.863; gl:1;
arenaria S11B/ C 29 598 594 99.3 p:0.18
N1
Lepidaploa S11B/ AG 9 166 161 96.9 χ2:1.206; gl:1;
paraensis N1 p:0.29
S11B C 10 163 140 85.8
Lepidaploa S11B AG 10 227 208 91.6 χ2:0.604; gl:1;
remotiflora S11B C 8 180 178 98.8 p:0.46
Monogereion S11B AG 4 19 19 100 χ2:0.274; gl: 1;
carajensis S11B C 6 30 25 83.3 p:0.70
Fonte: elaborado pela autora, (2021).
51
L. remotiflora e M. carajensis apresentaram razão P/O maior que 2000, sendo
classificadas como xenógamas. Já P. cavalcantei apresentou menor razão pólen
óvulo (154,7), sendo classificada como uma espécie autógama facultativa. Os valores
obtidos estão apresentados na tabela 8.
52
K). Lepidaploa remotiflora foi visitada por duas espécies de abelhas, uma pertencente
à família Halictidae e Apis mellifera, e uma de borboleta (Figura 1 L – N).
Monogereion carajensis foi visitada por quatro visitantes florais, um besouro e
quatro abelhas (Fig. 1 O – S), dentre elas Apis mellifera (Fig. 1 Q) e Tretragona sp.
(Fig. 1 S). Embora M. carajensis tenha sido visitada por apenas insetos de duas
ordens, apresentou, juntamente com C. glomerata e L. arenaria o maior número de
visitantes florais.
Figura 9 - Visitantes florais das espécies de vegetação de canga da família Asteraceae selecionadas
para o presente estudo: (A) Cavalcantia glomerata, (G) Cavalcantia percymosa, (H) Lepidaploa
arenaria, (L) Lepidaploa remotiflora, (O) Monogereion carajensis.
53
6 DISCUSSÃO
A floração anual e sazonal identificada nas espécies estudadas está associada
ao período de maior precipitação da Serra dos Carajás. Os fatores climáticos como
chuva e temperatura geralmente estão associados a fenofase de floração
(BORGIGNON & PICCOLO 1981; MORELLATO & LEITÃO -FILHO, 1990). A água
estimula o desenvolvimento e maturação das estruturas florais e posterior abertura
dos botões florais (MORELLATO, 1992; PEREIRA & MANTOVANI, 2007; BELO et al.,
2013). Dessa forma, durante o período de estiagem as fenofases de botão e flor
apresentam baixa intensidade ou estão ausentes (PEREIRA et al., 2008). O padrão
de floração anual apresenta maior regularidade, quando comparado aos demais
padrões de floração, estando a fenofase de floração geralmente associada a uma
época do ano (NESWTRON et al., 1994). Esse padrão de floração também foi
observado para outras espécies de Asteraceae (KARAM et al., 2002; COSTA et al.,
2016; ARAÚJO et al., 2011; CORRÊA et al. 2018).
Neste estudo, a precipitação dos meses anteriores foi correlacionada
positivamente com as fenofases de floração. Os atrasos de estímulos principalmente
para as espécies anuais, podem estar relacionados ao esforço inicial da planta para o
desenvolvimento vegetativo, sendo alocado posteriormente, esse esforço para
desenvolvimento reprodutivo (JANSEN, 1967).
Para espécies anuais, que possuem período de floração e frutificação muito
curto, como Parapiqueria cavalcantei e Monogereion carajensis, a umidade
proporcionada pela precipitação dos meses anteriores apresenta-se como um fator
essencial para induzir a rápida germinação e desenvolvimento das fenofases
reprodutivas (RAMÍREZ, 2002; VASCONCELOS et al., in prep.). Já para espécies
perenes com floração contínua, como Lepidaploa arenaria a água atua como indutor
da floração, havendo pico desta fenofase no período chuvoso (VASCONCELOS et al.,
in prep.). Entretanto, a presença de floração ao longo do ano com menor intensidade,
possivelmente ocorre em função da capacidade da planta em reservar energia,
diminuindo assim o intervalo de floração e frutificação na população
(RAMÍREZ, 2002). Dessa forma, as plantas perenes e anuais, como as estudadas
nesta dissertação, direcionam seus recursos e esforços reprodutivos de acordo com
a disponibilidade hídrica, conforme seus ciclos de vida e estratégias reprodutivas
(LEHTILA & LARSSON, 2005).
A sazonalidade ambiental devido a precipitação e temperatura também é um
54
fator relacionado ao alto sincronismo de floração apresentado pela maioria das
espécies, uma vez que a disponibilidade de água associada a temperaturas elevadas
contribui para a disponibilidade de nutrientes e posterior florescimento dos indivíduos
(MORELLATO, 1992). A alta sincronia contribui também para o processo de
polinização, visto que o florescimento simultâneo entre os indivíduos de uma mesma
espécie favorece maior atração de polinizadores. Porém, quando esse sincronismo
ocorre simultaneamente entre as espécies, pode promover a competição por
polinizadores, comprometendo a eficiência da interação planta polinizador
(MITCHELL et al, 2009).
Entretanto, em populações anuais com rápida floração como Parapiqueria
cavalcantei e Monogereion carajensis, pode ocasionar efeitos negativos para
polinização cruzada em virtude da quantidade de recursos ofertados simultaneamente
entre os indivíduos de cada espécie. Esse processo pode reduzir a intensidade de
transferência do pólen pelos polinizadores saciados mais rapidamente, além de
favorecer a herbívoria (ELZINGA et al. 2007). Para espécies de floração contínua
como Lepidaploa arenaria, a segregação da floração ao longo do ano reduz a
competição por polinizadores e predadores, favorecendo o processo reprodutivo da
espécie (ELZINGA et al. 2007).
O início do período de frutificação das espécies estudadas na estação chuvosa
e pico de frutos maduros no início da estação seca, está associado a fatores que
viabilizem o sucesso da dispersão e consequente desenvolvimento de novas plântulas
destas espécies (MORELLATO et al. 2000; PEDRONI et al. 2002).
A presença dos frutos maduros das espécies estudadas no período seco
favorece o processo de dispersão, uma vez que a presença de pápus na maioria das
espécies viabilizam a dispersão dos frutos pelo vento (anemocoria). Desta forma, o
período e duração de frutificação em ambientes com estações distintas bem definidas,
como verificado em Carajás, está diretamente relacionado ao tipo de fruto e síndrome
de dispersão verificado nas espécies estudadas (MORELLATO et al., 1989). Esse
processo de dispersão apresenta-se como uma importante estratégia reprodutiva em
ambientes naturais, uma vez que a dispersão ao final do período seco e inicio do
chuvoso, favorece a germinação através do processo de hidratação e posterior
estabelecimento de novas plântulas (PIRANI et al., 2009). Esse padrão de frutificação
também foi observado para outras espécies de Asteraceae em ambientes sazonais
(ANTUNES, 2013; COSTA et al., 2016 CORRÊA et al., 2018).
55
A indicação do período de pico de frutos maduros das espécies estudadas entre
maio e junho, favorece o planejamento de coleta de sementes viáveis antes de sua
dispersão no ambiente, viabilizando a formação de banco de sementes para a
utilização em programas de conservação e recuperação de áreas degradadas
(MERRITT et al., 2011).
Os dados fenológicos obtidos neste estudo, também se apresentaram como
uma ferramenta na compreensão de outros aspectos da biologia floral e reprodutiva
das espécies estudadas, permitindo melhor compreensão dos processos de
polinização e sistemas reprodutivos (GLEESON, 1981; GUSSON et al., 2006). As
espécies estudadas apresentam características florais relacionadas a um sistema de
polinização generalista (OLLERTON et al., 2007). Dentre os atributos podemos
destacar, flores pequenas, abertas e com fácil acesso (FAEGRI & PIJL, 1979;
OLLERTON et al., 2007; MARTINS & FREITAS, 2018), características comuns em
Asteraceae (CRUZ et al., 2016; VIEIRA et al., 2012). Logo, os atributos morfológicos,
aliados ao fácil acesso dos recursos disponíveis para os diferentes grupos de
visitantes, viabilizaram essa generalização (MARTINS & FREITAS, 2018; OLLERTON
et al. 2007).
Além disso, o alto grau de sincronismo da fase de floração entre os indivíduos
de cada espécie pode estar associado a com presença de diferentes ordens de
visitantes florais, tais como Coleoptera, Diptera, Hymenoptera e Lepdoptera
observadas nestas espécies. Quanto maior a quantidade de indivíduos floridos de
uma mesma espécie, maior quantidade de recursos disponíveis, intensificando a
atração de visitantes (ELZINGA et al., 2007; GARCIA et al., 2009). A presença de
diferentes ordens de visitantes florais registrados, confirma o generalismo ecológico
nas espécies estudadas (ARROYO et al., 1982; OLLERTON et al. 2007).
Trabalhos sobre polinização na família vem apontando este sistema de
polinização em diversas espécies. Em trabalho realizado por Grombone-Guaratini et
al. (2004) com Bidens alba, B. pilosa, B. subalternans e Avelino (2005) com
Lychnophora ericoides também identificaram diferentes ordens de insetos visitantes,
como Coleoptera, Diptera, Hymenoptera e Lepidoptera. Em estudo de redes de
interações realizado em ambiente de canga por Pinto et al. (2019) na Serra dos
Carajás, eles apontam frequência na ocorrência de um sistema generalista em
diferentes espécies e localidades de canga, ressaltando a importância desse sistema
para a estabilidade das interações planta polinizador. Além disso, alguns estudos de
56
polinização em angiospermas, vêm identificando interações generalistas e apontando
essas interações como bastante frequentes na natureza ( PINTO et al, 2019;
BARONIO et al., 2016; FENSTER et al., 2004; WASER & OLLERTON 2006;
WASER et al., 1996).
Embora os visitantes florais possam atuar como possíveis polinizadores
realizando a reprodução cruzada entre diferentes indivíduos, verificamos alta
formação de frutos por autopolinização e/ou geitonogamia espontâneas. A
hercogamia espacial, um mecanismo morfológico que geralmente impede a
autopolinização espontânea (WEBB & LOID, 2011), presente nas espécies estudadas,
não impediu este modo de reprodução. A autogamia pode ter sido viabilizada em
virtude da apresentação secundária do pólen em Asteraceae, que através da
elongação do estilete promove o arraste e acúmulo dos grãos de pólen no tubo
formado pelas anteras sinânteras (LEPPIK, 1970; GROMBONE-GUARATINI et al.,
2004). Além disso, o tamanho pequeno das flores, viabiliza a partir de uma hercogamia
curta, o contato dos polinizadores com a estrutura reprodutivas da mesma flor,
favorecendo ainda mais essa estratégia reprodutiva (CRUDEN, 1977, WEBB & LOID,
2011). Ainda, a idade das flores também pode contribuir para o sucesso por
autopolinização, promovendo a partir do envelhecimento a aproximação das
estruturas reprodutivas, induzindo a autofecundação tardia (GOODWILLIE & WEBER,
2018).
Já a geitonogamia, que ocorre entre flores distintas do mesmo indivíduo, pode
ser viabilizada em função das flores estarem muito próximas em um mesmo capítulo,
apresentando a vantagem de haver maior variabilidade genética quando comparada
a autopolinização na mesma flor (CARDOSO et al., 2018)
Embora se espere baixa razão pólen/óvulo nas espécies com apresentação
secundária de pólen, a razão pólen/óvulo verificada nas espécies estudadas indica
que as mesmas produzem um número de grãos de pólen muito maior do que o
necessário na autopolinização, podendo ser esse fator, uma tentativa dessas espécies
de viabilizar a polinização cruzada (CRUDEN, 2000).
Portanto, a formação de frutos por autopolinização e/ou geitonogamia
espontâneas e a possibilidade de realização de reprodução cruzada encontradas nas
espécies estudadas é uma estratégia reprodutiva vantajosa, uma vez que além de
disporem de polinizadores em condições naturais que podem realizar a polinização
cruzada, há alto sucesso reprodutivo por autopolinização e/ou geitonogamia
57
espontâneas, evidenciando independência de polinizadores para as espécies
avaliadas. Resultados semelhantes foram observados em representantes de
Asteraceae, tais como Eupatorium intermedium (Cruz, 2009), Eremanthus
erythropappus (Vieira et al., 2012) e Adesnostemma brasilianum (Godinho, 2007), que
apresentaram sistema de reprodução misto, podendo reproduzir-se tanto por
xenogamia como por autogamia.
Nessa perspectiva, a autogamia para pequenas populações, como espécies
endêmicas, apresenta-se como uma importante estratégia, pois além de assegurar a
reprodução na ausência de polinizadores favorece a permanência de genes mais
aptos ao ambiente, viabilizando a distribuição dessas espécies através desse
sistema reprodutivo (PIRATELLI et al., 1998; HOLSINGER, 2000; BARRINGER ,
2007; EBAR & LANGLOTZ, 2005). Entretanto, a xenogamia favorece a variabilidade
genética, redução da depressão endogâmica, e o desenvolvimento de progênie com
maior flexibilidade adaptativa, aumentando a capacidade de colonização
(PATERNIANI, 1974; OLIVEIRA & MARUYAMA, 2014; NUCCI, 2017). Assim,
espécies xenógamas e autógamas simultaneamente, dispõem de vantagens
evolutivas no ambiente que as tornam mais aptas a colonização de novas e extensas
áreas (SCARIOT et al.,1991).
Portanto, as espécies estudadas apresentam vantagens reprodutivas no
ambiente por dispor de ambas as estratégias reprodutivas. Ainda, a distribuição em
borda como vistos para C. percymosa, C. glomerata, L. remotiflora e M. carajensis é
um indicativo da capacidade de colonização dessas espécies. Dessa forma,
sugerimos que estas espécies podem ter grande potencial para uso em programas de
conservação e recuperação de áreas degradadas. Entretanto, estudos com com
abordagem em biologia reprodutiva em espécies de cangas ainda são escassos,
tornado-se necessário mais estudos que levantem informações sobre a reprodução
dessas plantas e contribua para a utilização de espécies nativas em programas de
conservação e RAD (GARCIA, et.al, 2009).
58
7 CONCLUSÃO
Neste estudo abordamos diversos aspectos da reprodução das espécies
Cavalcantia glomerata, C. percymosa, Lepidaploa arenaria, L. paraensis, L.
remotiflora, Monogereion carajensis e Parapiqueria cavalcantei, plantas nativas e/ou
endêmicas das cangas da Amazônia. Destacamos a verificação do período de
reprodução destas plantas, indicando que as espécies de Asteraceae avaliadas
apresentaram início da floração no período chuvoso entre com pico de botão e flor no
mês de abril, e período de frutificação variados, com pico de produção de frutos com
sementes maduras entre os meses de maio e julho. Os eventos fenológicos das
espécies foram sazonais.
A floração e frutificação foram correlacionados, principalmente, com a
precipitação. A maioria das espécies estudadas foram classificadas com padrão de
floração anual, apresentando Lepidaploa arenaria padrão de floração contínua. As
flores das espécies estudadas apresentaram características morfológicas
semelhantes, apresentando hercogamia espacial, sendo a maioria das espécies
classificadas como xenógamas facultativas. Além, disso foi possível determinar que
as espécies se reproduzem por autopolinização e/ou geitonogamia espontâneas,
havendo também alta formação de frutos no tratamento controle. Nas espécies em
que foi possível realizar registros dos visitantes verificamos que elas são
ecologicamente generalistas, havendo diferentes guildas de insetos nas flores.
Dessa forma, a partir destas informações, este estudo contribui para a
compreensão da biologia reprodutiva dessas espécies. Além disso, direciona o melhor
período para coleta de sementes em campo, auxiliando no planejamento mais eficaz
para utilização das espécies estudadas em programas de conservação e recuperação
de áreas mineradas.
59
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