2006 - Estratégias Reprodutivas de Espécies Arbóreas e A Sua
2006 - Estratégias Reprodutivas de Espécies Arbóreas e A Sua
2006 - Estratégias Reprodutivas de Espécies Arbóreas e A Sua
Brasília - DF
2006
Universidade de Brasília
Instituto de Ciências Biológicas
Departamento de Ecologia
Tese de Doutorado
Brasília – DF
2006
Márcia Motta Maués
Banca Examinadora:
__________________________________________
Dr. Paulo Eugênio Alves Macedo de Oliveira
Orientador – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
__________________________________________
Dra. Isabel Alves dos Santos
Membro Titular – Universidade de São Paulo (USP)
__________________________________________
Dr. Milton Kanashiro
Membro Titular – Embrapa Amazônia Oriental
__________________________________________
Dr. José Felipe Ribeiro
Membro Titular – Embrapa Cerrados
__________________________________________
Dr. Eddie Lenza
Membro Titular – Universidade de Brasília (UnB)
__________________________________________
Dr. John Du Val Hay
Suplente – Universidade de Brasília (UnB)
CDD 581.1
AGRADECIMENTOS
Meu primeiro agradecimento é feito à vida, à natureza e seus mistérios, que tentamos
decifrar humildemente com nossos estudos.
Aos meus filhos adorados, Enzo e Iago, que me enchem de amor e orgulho, e
souberam me entender com muita paciência nesses anos de estudo e ausências, sempre me
cobrindo de carinho e alegria.
Ao meu marido, José Benito, companheiro de todos os momentos, meu porto seguro e
exemplo de virtude e perseverança, com todo o meu amor.
Aos meus pais, Heraldo e Angélica Maués, exemplo de caráter e dedicação à vida
acadêmica, que me deram as bases para o ingresso nessa carreira.
Ao meu orientador, professor Paulo Eugênio A. M. de Oliveira, pela orientação e
apoio constantes no desenvolver desse estudo.
Ao Milton Kanashiro, coordenador do Projeto Dendrogene, pela amizade, confiança e
valiosas discussões em todas as etapas desse estudo.
À Embrapa Amazônia Oriental, pela minha liberação para realizar o curso de
doutorado, apoio institucional, infra-estrutura de laboratórios, transporte e recursos humanos.
À Universidade de Brasília (UnB), especialmente ao Programa de Pós-graduação em
Ecologia e seu corpo docente, pela formação acadêmica proporcionada durante a realização
do curso de doutorado.
Ao Department for International Development (DFID), pelo apoio técnico e
financeiro recebido através do Projeto Dendrogene.
Ao Núcleo do Médio Amazonas e à Base Física de Belterra da Embrapa, pelo apoio
logístico nos trabalho de campo realizados na Floresta Nacional do Tapajós.
À gerência da Floresta Nacional do Tapajós – IBAMA, através do Dr. Ângelo de Lima
Francisco, pela permissão de uso dessa floresta como área de estudo.
Um agradecimento especial a quatro pessoas muito queridas, que foram mais do que
mestres, me ajudando em diversas ocasiões, a quem eu serei eternamente grata pela amizade e
honrada pelo convívio e ensinamentos: Prof. Amots Dafni (University of Haifa, Israel), Prof.
Ingrid Williams (Rothamsted Experimental Station, UK), Dr. David Roubik (Smithsonian
Tropical Research Station, Panama) e Prof. Peter Kevan (University of Guelph, Canada)
Aos membros da banca avaliadora, pela ajuda inestimável através das valiosas
sugestões para a melhoria desse trabalho.
Ao Dr. Fernando Silveira, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Dr.
David Roubik, do Smithsonian Tropical Research Station, Panamá, pela gentil colaboração na
identificação das abelhas.
Ao Dr. Rômulo Ribon, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e Dr.
Alexandre Aleixo, do Museu paraense Emílio Goeldi (MPEG), pela identificação das aves.
Ao Dr. Hilton Costi, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), pelo auxílio no uso
do Microscópio Eletrônico de Varredura.
Ao Dr. Scott Miller, Projeto LBA – University of Califórnia/USA, pela
disponibilização dos dados meteorológicos da área de estudo na Floresta Nacional do Tapajós.
À professora Dalva Ribeiro, da Universidade de Brasília (UnB), pela permissão de uso
do Laboratório de Anatomia Vegetal.
Aos colegas do Projeto Dendrogene, José do Carmo, Marivana Silva, Regina Célia,
Artur Noura, pela convivência, ajuda e discussões em diversos temas relacionados a esse
trabalho.
Ao colega Moacyr B. Dias-Filho, da Embrapa Amazônia Oriental, pela valiosa ajuda
nas análises estatísticas.
Ao colega Antônio Elielson Rocha, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), pela
confecção das ilustrações botânicas.
À Dra. Lyn Loveless, College of Wooster/USA, pela contribuição na definição desse
estudo e apoio na implementação das atividades de campo na Floresta Nacional do Tapajós.
Ao professor John Hay e à Fabiana, do Programa de Pós-graduação em Ecologia da
Universidade de Brasília (UnB), pelo apoio durante minha estadia em Brasília e pela ajuda à
distância, sempre com eficiência e presteza.
Aos funcionários do Laboratório de Entomologia da Embrapa Amazônia Oriental,
Francisco Frota, Domingos Araújo, Reginaldo Medeiros e Marcos Cordeiro, pelo auxílio nas
atividades de campo e laboratório.
Aos funcionários do Laboratório de Botânica da Embrapa Amazônia Oriental, Jair
Freitas, João Carlos e Miguel, pelo auxílio nas coletas de amostras botânicas.
Ao Francisco Frota, meu braço direito nas atividades de campo, pela responsabilidade
e bom-humor em todos os momentos.
A todos que ajudaram no trabalho de campo, Licurgo, Parente, Seu Lúcio, Gilson,
Mamá, Isaac, Demi, Preto, Buru, Benilson, Jorge Macedo, Marivana Silva, Ana Cláudia,
Peter Coventry, José Campolina, Manoel Aviz (nego), Seu Sabino, Seu Bebé, Seu Erny, Seu
João 40, Seu Jaca, Dona Ana...
Ao “amigos de Brasília” Clarissa, Raquel, Diana, Luís, Ali, Pablo, Sheila, José Brás,
Ana Paula, Saulo, Naomi e Joice, pela amizade e convivência.
Aos meus “pupilos” Fernando, Milene, Gleice e Iara, pela ajuda constante.
Aos “primos de Brasília”, Chris e Renan, e seus filhotes, Marcela e Rodrigo, pela
calorosa recepção e acolhida durante nossa estadia “fora de casa”.
Às minhas irmãs, Silvia e Renata, pela amizade incondicional e todos os momentos
felizes de convívio.
Aos meus queridos tios Beíta e Édson, por todo carinho que recebo sempre.
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“Gracias a la vida, que me ha dado tanto,
Me dio dos luceros, y cuando los abro,
Perfecto distingo lo negro del blanco,
Y en el alto cielo su fondo estrellado…”
Violeta Parra
(1917-1967)
1
SUMÁRIO
Sumário 1
LISTA DE TABELAS 6
LISTA DE FIGURAS 11
APRESENTAÇÃO 13
RESUMO 17
ABSTRACT 19
CAPÍTULO 1
I – FLORESTAS TROPICAIS, FRAGMENTAÇÃO DO HABITAT E BIOLOGIA 21
REPRODUTIVA
Resumo 21
Abstract 21
1. Introdução 23
2. Biologia reprodutiva e fragmentação de florestas tropicais, com ênfase na Amazônia 26
2.1. Fragmentação do habitat na Amazônia brasileira: causas e conseqüências 26
2.2. Efeitos da fragmentação no sucesso reprodutivo de espécies arbóreas tropicais 30
2.3. Ecologia reprodutiva de espécies arbóreas amazônicas: conhecimento atual 31
3. Manejo florestal e biologia reprodutiva 32
3.1. Exploração Convencional Madeireira na Amazônia 33
3.2. Exploração de Impacto Reduzido (EIR) 34
3.3. Manejo Florestal Sustentável: critérios e indicadores 35
4. Importância da biologia reprodutiva de espécies arbóreas como base conservacionista 36
para o manejo florestal
5. Referências bibliográficas 40
CAPÍTULO 2
II. BIOLOGIA REPRODUTIVA DE CINCO ESPÉCIES ARBÓREAS 51
IMPORTANTES PARA O MANEJO FLORESTAL NO ESTADO DO PARÁ
Resumo 51
Abstract 52
2
1. Introdução 54
2. Materiais e Métodos 55
2.1. Área de Estudo: Floresta Nacional do Tapajós 55
2.1.1. Histórico 55
2.1.2. Clima 55
2.1.3. Geomorfologia 56
2.1.4. Vegetação 56
2.1.5. Fauna 57
2.1.6. Área de estudo (Parcela de Estudo Intensivo – PEI ou Intensive Study 59
Plot – ISP)
2.1.7. Infra-estrutura para acesso ao dossel 63
2.2. Características taxonômicas e ecológicas das espécies estudadas 65
2.2.1. Pioneiras 65
2.2.2. Clímax de crescimento rápido ou demandante de luz 68
2.2.3. Clímax de Crescimento Lento ou Tolerante à Sombra 72
2.3. Estudos de biologia reprodutiva 73
2.3.1. Fenologia e duração dos eventos reprodutivos 73
a) Fenologia da população 73
b) Fenologia floral; número de flores abertas por dia; relação flor/fruto (fruit 74
set) e fruto/semente (seed set)
2.3.2. Biologia floral 75
a) Morfologia floral (variabilidade) 75
b) Produção de néctar e fragrância, recursos florais e horário da abertura da 75
flor (antese)
c) Apresentação e viabilidade do pólen 76
d) Quantificação do número de óvulos e estimativa do número de grãos de 76
pólen; razão pólen/óvulo
e) Localização de glândulas secretoras de aroma (osmóforos); determinação 77
de recursos florais (pólen, néctar) e atrativos aos visitantes
f) Receptividade do estigma 77
2.3.3 Polinização 77
a) Observação do comportamento dos visitantes florais 77
3
CAPÍTULO 3
III. EFEITO DA EXPLORAÇÃO DE IMPACTO REDUZIDO NO FLUXO DE 171
PÓLEN E NA FREQÜÊNCIA E COMPOSIÇÃO DOS GRUPOS DE
POLINIZADORES DE CINCO ESPÉCIES ARBÓREAS IMPORTANTES PARA O
MANEJO FLORESTAL NA FLORESTA NACIONAL DO TAPAJÓS (PA)
Resumo 171
Abstract 172
1. Introdução 174
2. Materiais e Métodos 176
2.1. Áreas de estudo e espécies selecionadas 176
2.1.1. Sistemas de polinização e distribuição espacial das espécies 177
2.2. Análise da deposição de pólen 178
2.3. Composição e freqüência dos grupos de polinizadores 180
3. Resultados 181
3.1. Taxa de deposição de pólen e percentual de fertilização dos pistilos 181
3.1.1 Taxa de deposição de pólen (TDP) 181
3.1.2. Percentual de fertilização dos pistilos (PFP) 183
3.2. Composição e freqüência dos grupos de polinizadores 185
4. Discussão 190
5. Considerações finais 194
6. Referências Bibliográficas 196
7. Anexos 200
CAPÍTULO 4
IV. A COMPLEXA INTEGRAÇÃO ENTRE A BIOLOGIA REPRODUTIVA DE 203
ESPÉCIES ARBÓREAS E O MANEJO FLORESTAL: ESTAMOS AVANÇANDO?
5
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO 1
Figura 1. Áreas sob Pressão Humana no Bioma Amazônia (fonte: Barreto et al., 2005) 27
Figura 2 Pólos e fronteiras madeireiras na Amazônia Legal (fonte: Barreto et al., 29
2005)
Figura 3 Exploração madeireira: a) operador de motosserra (fonte: IPAM); b) floresta 33
após exploração convencional (fonte: FFT)
CAPÍTULO 2
Figura 1 Localização geográfica da Floresta Nacional do Tapajós, Estado do Pará, à 58
margem direita do Rio Tapajós (fonte: MMA)
Figura 2 Mapa de localização da área de estudo na Floresta Nacional do Tapajós, 61
Estado do Pará. O círculo representa a área de exploração seletiva de madeira
do Projeto de Manejo Florestal Sustentado (IBAMA/ITTO), e a área em
vermelho a Parcela de Estudo Intensivo do Projeto Dendrogene
Figura 3 Torre de madeira utilizada para o acesso à copa das árvores na Floresta 64
Nacional do Tapajós, Estado do Pará
Figura 4 Desenho esquemático da torre de madeira construída na Floresta Nacional do 64
Tapajós, Estado do Pará
Figura 5 Valores médios quinzenais de precipitação pluviométrica e média diária de 74
temperatura das mesmas quinzenas na Floresta Nacional do Tapajós, nos
anos de 2001 a 2003
Figura 6 Armadilha para captura de pólen do tipo Megastigmata suspensa sob a copa 79
de uma árvore feminina de Bagassa guianensis na Floresta Nacional do
Tapajós, PA
Figura 7 Fenologia de Jacaranda copaia durante o período de outubro de 2001 a julho 84
de 2004, na Floresta Nacional do Tapajós: a) Floração (BFL = botão floral,
FLO = flor); b) Frutificação (FRU = fruto, DIS = dispersão); c) Mudança
foliar (DEP = desfolha parcial, DET = desfolha total)
Figura 8 Representação esquemática das características florais de Jacaranda copaia: 86
a) Pistilo; b) Antera; c) Flores; d) Estaminódio; e) Flor aberta mostrando os
6
CAPÍTULO 3
Figura 1 Taxa média + EP da deposição de pólen em cinco espécies arbóreas em dois 182
ambientes da Floresta Nacional do Tapajós, PA: floresta não explorada
9
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO 2
Tabela 1 Classificação do sistema reprodutivo de espécies vegetais sensu Cruden 77
(1977)
Tabela 2 Visitantes florais e agentes polinizadores coletados em Jacaranda copaia 90
(Bignoniaceae) na FLONA do Tapajós e Belém, no Estado do Pará, nos anos
de 2002 a 2004
Tabela 3 Percentagem (%) de frutificação através de tratamentos de polinização 95
controlada (manual) e polinização aberta ou natural (controle) em Jacaranda
copaia. Os dados correspondem a frutos iniciados e frutos maduros
(percentual de frutos formados e número absoluto de frutos formados em cada
tratamento), índice de auto-incompatibilidade (ISI) e índice de eficácia
reprodutiva (RE)
Tabela 4 Visitantes florais e agentes polinizadores coletados em Dipteryx odorata na 105
FLONA do Tapajós e Belém, no Estado do Pará, nos anos de 2002 a 2004
Tabela 5 Percentagem (%) de frutificação através de tratamentos de polinização 107
controlada (manual) e polinização aberta ou natural (controle) em Dipteryx
odorata. Os dados correspondem a frutos iniciados e frutos maduros
(percentual de frutos formados e número absoluto de frutos formados em cada
tratamento), índice de auto-incompatibilidade (ISI) e índice de eficácia
reprodutiva (RE)
Tabela 6 Visitantes florais e agentes polinizadores coletados em Carapa guianensis na 115
FLONA do Tapajós e Belém, no Estado do Pará, nos anos de 2002 a 2004
Tabela 7 Percentagem (%) de frutificação através de tratamentos de polinização 117
controlada (manual) e polinização aberta ou natural (controle) em Carapa
guianensis. Os dados correspondem a percentual de pólen germinado, pistilos
fertilizados e frutos maduros (percentual de frutos formados e número
absoluto de frutos formados em cada tratamento)
Tabela 8 Visitantes florais e agentes polinizadores coletados em Symphonia globulifera 127
na FLONA do Tapajós e Belém, no Estado do Pará, nos anos de 2002 a 2004
Tabela 9 Percentagem (%) de frutificação através de tratamentos de isolamento de 137
inflorescências de Bagassa guianensis com três tipos distintos de material
11
CAPÍTULO 3
Tabela 1 Média da taxa de deposição de pólen (TDP) e percentual de fertilização do 181
pólen (PFP) encontrado na superfície estigmática de cinco espécies arbóreas
em dois ambientes da Floresta Nacional do Tapajós, PA: floresta não
explorada (FNE) e floresta explorada (FE) + o erro padrão (EP)
Tabela 2 Análise de variância da taxa de deposição de pólen (TDP) em Dipteryx 182
odorata e Symphonia globulifera na Floresta Nacional do Tapajós, PA sob
duas condições de manejo (floresta não explorada – FNE e floresta explorada
– FE), e analisadas separadamente para cada condição
Tabela 3 Análise de variância da taxa de deposição de pólen (TDP) em Jacaranda 183
copaia, Dipteryx odorata, Carapa guianensis, Symphonia globulifera e
Bagassa guianensis na Floresta Nacional do Tapajós, PA sob duas condições
de manejo (floresta não explorada – FNE e floresta explorada – FE), e
analisadas em conjunto das espécies para cada condição
Tabela 4 Análise de variância do percentual de fertilização dos pistilos (PFP) em 184
Jacaranda copaia, Dipteryx odorata, Carapa guianensis, Symphonia
globulifera e Bagassa guianensis na Floresta Nacional do Tapajós, PA sob
duas condições de manejo (floresta não explorada – FNE e floresta explorada
– FE), e analisadas em conjunto das espécies para cada condição
Anexos
Tabela 1 Distribuição da visitas dos sete grupos de polinizadores de Jacaranda copaia 200
(Bignoniaceae) no período das 07:00 h às 16:00 h em dois ambientes da
FLONA do Tapajós, PA: floresta não explorada (FNE) e floresta explorada
(FE)
Tabela 2 Distribuição da visitas dos sete grupos de polinizadores de Dipteryx odorata 200
(Leg – Papilionoidae) no período das 05:00 h às 17:00h em dois ambientes da
12
APRESENTAÇÃO
O Capítulo IV faz uma análise sobre a complexa integração entre a ciência básica
e a aplicada, buscando integrar os conhecimentos sobre a biologia reprodutiva das espécies
arbóreas ao manejo florestal sustentado de espécies madeireiras na Amazônia.
16
17
RESUMO
A floresta amazônica ocupa uma área de 4,9 milhões de km2, porém, nas últimas três décadas,
14% da sua cobertura florestal foi removida, principalmente devido à expansão das atividades
madeireiras e da fronteira agrícola. A legislação florestal no Brasil tem apresentado avanços
significativos, mas ainda é necessário implementar mudanças ao nível técnico e operacional.
Para realizar o manejo florestal visando a sustentabilidade, é importante levar em conta as
informações sobre a biologia reprodutiva, para preservar a reprodução e manutenção da
diversidade genética das espécies arbóreas nas áreas manejadas. Esse estudo buscou
informações sobre o processo reprodutivo de cinco espécies arbóreas com diferentes
características ecológicas, no contexto da Exploração de Impacto Reduzido (EIR): Jacaranda
copaia (Aubl.) D. Don (Bignoniaceae), Dipteryx odorata (Aubl.) Willd. (Leguminosae –
Papilionoidae), Carapa guianensis Aubl. (Meliaceae), Symphonia globulifera L.f.
(Clusiaceae) e Bagassa guianensis Aubl. (Moraceae). Os estudos de campo foram realizados
numa área de floresta ombrófila densa da Floresta Nacional do Tapajós (PA) e em área de
plantios em Belém (PA). Foram examinados aspectos básicos sobre a fenologia reprodutiva,
biologia floral, sistema reprodutivo e agentes polinizadores. Além disso, investigou-se o
efeito da EIR sobre o fluxo de pólen e a freqüência dos grupos de polinizadores. Essas
investigações foram realizadas na FLONA do Tapajós, em duas situações de manejo: floresta
não explorada (FNE) e floresta explorada (FE). Foi obtida a taxa de deposição de pólen (TDP
= n° total de pólen encontrados no estigma / pelo nº total de estigmas analisados em cada
espécie) e o percentual de fertilização dos pistilos (PFP = n° de estigmas com tubos polínicos
penetrando nos óvulos / nº total de estigmas com presença de pólen na amostra de cada
espécie). Os resultados foram comparados por meio da análise de variância ANOVA. Os
polinizadores foram observados durante o período de maior florescimento de J. copaia, D.
odorata e S. globulifera, em turnos de seis horas, com observação direta do seu
comportamento e número de flores visitadas durante 15 minutos a cada hora. Foram
considerados nove grupos de visitantes: a) Abelhas de pequeno a médio porte; b) Abelhas de
grande porte; c) Vespídeos; d) Dípteros; e) Lepidópteros; f) Coleópteros; g) Passeriformes; h)
Beija-flores; i) Outras aves. Foi verificado que três espécies (J. copaia, C. guianensis e B.
guianensis) floresceram anualmente, enquanto D. odorata e S. globulifera tiveram
florescimento sub-anual, com dois eventos reprodutivos ao ano. O período de maior
percentual de florescimento ocorreu nos meses de menor precipitação pluviométrica (agosto a
novembro). A época de maturação dos frutos ocorreu principalmente no período chuvoso
(janeiro a maio). As características florais foram compatíveis com a lista de visitantes
observados e coletados nas flores. J. copaia e D. odorata foram classificadas como
melitófilas, uma vez que atraíram vasta diversidade de abelhas, (Centris, Euglossa, Eulaema e
Epicharis, entre outros). D. odorata apresentou grande diversidade de polinizadores (abelhas,
besouros, borboletas, mariposas, vespas e moscas). No caso de C. guianensis, as visitas de
microlepdópteros e abelhas-sem-ferrão ocorreram indiscriminadamente, e a espécie foi
considerada entomófila. S. globulifera foi a única espécie ornitófila, com visitas de
representantes de cinco famílias de aves (Thraupidae, Trochilidae, Icteridae, Picidae,
18
ABSTRACT
The Amazon Forest comprises an area of 4.9 km2 millions, although 14% of its forest cover
has been removed on the last three decades mainly due to timber industry and agriculture
activities. Brazilian forestry legislation has significantly improved, but it is necessary to
implement new actions on the technical and operational level. The ecological sustainability of
forest management practices must include criteria and indicators for genetic variability
maintenance and its correlated processes. In order to guarantee the forest management
sustainability, including the upholding of genetic diversity in managed forests, it is essential
to contemplate information on the reproductive biology of the target species. This study
provides information on the reproductive process of five woody trees, with different
ecological characteristics in the context of Reduced Impact Logging, or Low Impact Logging
(LIL): Jacaranda copaia (Aubl.) D. Don (Bignoniaceae), Dipteryx odorata (Aubl.) Willd.
(Leguminosae – Papilionoidae), Carapa guianensis Aubl. (Meliaceae), Symphonia
globulifera L.f. (Clusiaceae), and Bagassa guianensis Aubl. (Moraceae). The field studies
were carried out at the Tapajós National Forest, Western Amazon, and at the Experimental
Field of Embrapa Eastern Amazon, municipality of Belém, Pará State. Basic aspects of the
reproductive phenology, leaf changes, floral biology, reproductive system and pollination
were studied. Besides, the impact of LIL on the pollen flow and pollinators guilds were
accessed at the Tapajós National Forest under two situations: non-logged forest (NLF) and
logged forest (LF). The pollen deposition rate (PDR = n° of total pollen on the stigma / total
n° of stigmas analyzed per species) and the percentage of stigma fertilization (PSF = % of
stigmas with pollen tubes penetrating the ovules / total n° of stigmas with pollen per species)
were determined. These data were compared using analysis of variance ANOVA. The
pollinators were monitored during the main flowering period of J. copaia, D. odorata and S.
globulifera, in six hours schedules. Visual observation of the number of visits per flower and
behavior of the pollinators were accomplished each our, for 15 min, considering nine groups:
1) Small to middle sized bees; 2) Large bees; 3) Wasps; 4) Dipterans; 5) Lepidoterans; 6)
Beetles; 7) Passeriformes; 8) Hummingbirds; 9) Other birds. Among the five species, J.
copaia, C. guianensis and B. guianensis showed an annual flowering pattern, while D.
odorata and S. globulifera presented a sub-annual pattern. Within the annual flowering
species, the main flowering period was synchronized with the dry season (August to
November). The frutification occurred mainly at the wet season (January to May). Two
species (J. copaia and D. odorata) were mellithophilous, attracting a vast number of bees,
such as Centris, Euglossa, Eulaema and Epicharis. Although the floral visitors of D. odorata
were more diversified, as it was found also leaf beetles, scarab beetles, butterflies, moths and
hummingbirds as frequent visitors and pollinators. C. guianensis was considered an
enomophilous species, due to the visits of microlepidopterans and Stingless bees. S.
globulifera was the only ornithophilous species, where birds of five different families were
seen on the flowers (Thraupidae, Trochilidae, Icteridae, Picidae, Ramphastidae e Psittacidae).
The Passeriformes or perching birds of the Thraupidae family were considered the legitimate
pollinators. B. guianensis presented strong evidences of wind pollination, according to its
20
floral morphology, as well as the stigma and pollen biology. The role of thysanopterans as co-
pollinators is discussed. All the five species presented were self-incompatible (SI), with two
major SI systems: LSI (Late-acting Self-incompatibility) in J. copaia and D. odorata, and,
SSI (Sporophitic Self-incompatibility) in C. guianensis. Pollen deposition at the pistil were
different at the two situations when all the species were analyzed together. Separetely, the
PDR of D. odorata increased significantly at the logged forest (F1, 11 = 4,96; p = 0,05), but S.
globulifera showed the opposite answer, with a significant decrease of PDR at the logged site
(F1,13 = 4,59; p = 0,05). In the remaining species no significant difference was detected.
Concerning the PSF, there was an overall significant negative effect at the logged forest (F1,4
= 5,74; p = 0,018). J. copaia and D. odorata attracted the same groups of visitors, with
differences at the species level. J. copaia, C. guianensis and B. guianensis showed differences
in the composition of the floral visitors groups in both management conditions, strongly
noticed in D. odorata. The changes in the frequency and composition of pollinator guilds may
affect the pollination efficiency. The removal of trees decreased the population density and
increased the distance of flowering trees, which may have lead to changes on the pollinators’
ability to properly transfer the pollen grains among the remnant trees. The LIL affected the
pollination dynamics, changing the pollinators’ guilds composition, as well as the pollen
distribution among the trees remaining after logging.
Key words: Amazon, Low Impact Logging, phenology, floral biology, pollination,
reproductive system, fragmentation.
21
CAPÍTULO 1
Resumo:
A floresta amazônica abriga a maior diversidade de plantas e animais dentre todos
os biomas da Terra. Ocupa uma área de 4,9 milhões de km2, com cerca de 40% do
remanescente de florestas tropicais úmidas do mundo e desempenhando um papel
fundamental na manutenção da biodiversidade. Entretanto, nas últimas três décadas 14% da
sua cobertura florestal foi removida. A expansão das atividades madeireiras e da fronteira
agrícola na Amazônia vem ameaçando a integridade e funcionalidade dessa floresta. A
legislação florestal no Brasil tem apresentado avanços significativos, mas ainda é necessário
implementar mudanças ao nível técnico e operacional. A fragmentação do habitat reduz áreas
contínuas de floresta a pequenas porções isoladas, diminuindo o número efetivo de árvores de
uma população, o número de doadores de pólen e a quantidade provável de pólen compatível
depositado nos estigmas das flores, levando a redução na taxa de frutificação. Esses fatores
podem ainda diminuir população dos agentes polinizadores, aumentar a taxa de
autofecundação, e mudar a composição das espécies de. Para realizar o manejo florestal
visando a sustentabilidade, é fundamental também levar em conta as informações sobre a
biologia reprodutiva, para preservar a reprodução e manutenção da diversidade genética das
espécies arbóreas nas áreas manejadas. Além disso, sabendo-se que nas florestas tropicais
existem espécies que compartilham os mesmos polinizadores, estratégias adequadas de
manejo deveriam considerar também como as populações de polinizadores seriam
influenciadas pelas modificações na freqüência e composição das espécies florestais. Dentro
deste contexto o estudo buscou informações sobre o processo reprodutivo de cinco espécies
arbóreas com diferentes características ecológicas de crescimento no contexto da Exploração
de Impacto Reduzido, também chamada de Baixo Impacto. As espécies selecionadas
(Jacaranda copaia, Dipteryx odorata, Carapa guianensis, Symphonia globulifera e Bagassa
guianensis) fizeram parte do grupo de espécies prioritárias para o Projeto Dendrogene –
Conservação Genética em Florestas Manejadas na Amazônia, uma iniciativa da Embrapa
Amazônia Oriental e diversos parceiros, que buscou desenvolver ferramentas adequadas ao
desenvolvimento sustentável dos recursos florestais da região.
22
Abstract:
The Amazon Forest comprises an area of 4.9 km2 millions, equivalent to 40% of
the tropical world forests, with the greatest diversity of biodiversity on Earth. Despite its
importance on the biodiversity conservation, 14% of its forest cover has been removed on the
last three decades. Timber industry and agriculture activities are threatening the integrity and
functionality of the Amazon forest. Brazilian forestry legislation has significantly improved,
but it is necessary to implement new actions on the technical and operational level. The
ecological sustainability of forest management practices must include criteria and indicators
for genetic variability maintenance and its correlated processes. Habitat fragmentation reduces
continuous forest lands to small isolated areas, thus reducing the effective number of trees, the
number of pollen donors, and the amount of compatible pollen deposited on the flowers
pistils. This may lead to low fruit set. A decline on the pollinators’ population, increase on
inbreeding and changes on the pollinator species composition is also expected. In order to
guarantee the forest management sustainability, including the upholding of genetic diversity
in managed forests, it is essential to contemplate information on the reproductive biology of
the target species. Besides, the impact on the pollinators frequency and composition should
not be disregarded. Considering this, we looked for information on the reproductive process
of five woody trees, with different ecological characteristics in the context of Reduced Impact
Logging, or Low Impact Logging. The target species were: Jacaranda copaia, Dipteryx
odorata, Carapa guianensis, Symphonia globulifera and Bagassa guianensis. They were also
studied on the Dendrogene Project – Genetic Conservation on Managed Forests in
Amazonia, an initiative of Embrapa Eastern Amazon and several partners, aiming to provide
proper tools in order to improve the sustainable development of Amazonian natural resources.
1. Introdução:
Figura 1. Áreas sob Pressão Humana no Bioma Amazônia (fonte: IMAZON, 2005)
28
a b
Efeitos de ciclos repetidos de exploração podem ter conseqüências maiores, portanto é preciso
intensificar os cuidados na conservação do habitat.
modificações na freqüência e composição das espécies florestais, sabendo-se que nas florestas
tropicais existem grupos de espécies que compartilham os mesmos vetores de polinização
(Bawa, 1990a).
As espécies selecionadas para esse estudo fizeram parte do grupo de espécies
prioritárias para o Projeto Dendrogene – Conservação Genética em Florestas Manejadas na
Amazônia (http://www.cpatu.embrapa.br/dendro/index.htm). O projeto foi uma iniciativa da
Embrapa Amazônia Oriental e diversos parceiros nacionais e internacionais, com suporte
financeiro do Department for International Development (DFID), cujo objetivo principal foi
avaliar os impactos da exploração madeireira na biodiversidade florestal, visando o uso
sustentável da floresta. Dentre as atividades desenvolvidas pelo projeto, destacam-se as
pesquisas ecológicas e genéticas antes e após a exploração madeireira de sete espécies
arbóreas com importância ecológica e econômica na Amazônia, denominadas espécies-
modelo, que representaram três grupos ecológicos (pioneiras, clímax de crescimento rápido
ou demandantes de luz e clímax de crescimento lento ou tolerantes à sombra) e capresentaram
diferentes características reprodutivas (sistemas de reprodução, polinização,
incompatibilidade). Este projeto buscou desenvolver ferramentas para melhorar a conservação
em florestas manejadas na Amazônia brasileira e assim contribuir para o desenvolvimento
sustentável dos recursos naturais da região (Kanashiro et al., 2002). Após a geração das
informações básicas, o projeto previu a aplicação dos resultados gerados em modelos de
simulação genética, visando elucidar os processos e as conseqüências genéticas associadas a
exploração e a fragmentação florestal, utilizando o programa ECO-GENE (Degen et al., 1996;
Degen & Watson, 2004). A modelagem fundamentada na complexidade dos fatores
ecológicos e genéticos possibilita a avaliação de cenários, com mudanças em variáveis,
relacionadas à exploração nos planos de manejo (Silva, 2005), permitindo a geração de
critérios que sejam incorporados em programas computacionais de apoio à decisão de manejo
florestal, como o software Trema, que foi desenvolvido para ser uma ferramenta de uso nas
operações relativas ao inventário florestal e planejamento da exploração.
Dentro do contexto do Projeto Dendrogene, o objetivo principal desse estudo foi
gerar conhecimento sobre os processos reprodutivos de cinco espécies arbóreas amazônicas
de importância madeireira, com características distintas quanto aos sistemas de polinização,
buscando identificar pontos vulneráveis nos processos reprodutivos às intervenções florestais
da exploração de impacto reduzido (EIR), na Floresta Nacional do Tapajós, oeste da
Amazônia. Para isso, foi feita a caracterização da biologia reprodutiva das seguintes espécies:
39
Bagassa guianensis Aubl. Moraceae, Carapa guianensis Aubl. Meliaceae, Dipteryx odorata
(Aubl.) Willd. Leguminosae – Papilionoidae, Jacaranda copaia (Aubl.) D. Don Bignoniaceae
e Symphonia globulifera L.f. Clusiaceae, bem como a estimativa do efeito da EIR no fluxo de
pólen e na freqüência e composição das guildas de polinizadores. O trabalho finaliza com uma
discussão acerca das conseqüências da exploração madeireira sobre os processos reprodutivos
de espécies arbóreas de valor econômico na Amazônia.
40
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51
CAPÍTULO 2
Resumo:
A biologia reprodutiva de Jacaranda copaia (Aubl.) D. Don (Bignoniaceae),
Dipteryx odorata (Aubl.) Willd. (Leguminosae – Papilionoidae), Carapa guianensis Aubl.
(Meliaceae), Symphonia globulifera L.f. (Clusiaceae) e Bagassa guianensis Aubl. (Moraceae)
foi caracterizada. Os estudos de campo foram realizados na Floresta Nacional do Tapajós
(PA) e na área experimental da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém (PA). Foram
examinados aspectos básicos sobre a fenologia reprodutiva, biologia floral, sistema
reprodutivo e agentes polinizadores. Três espécies (J. copaia, C. guianensis e B. guianensis)
apresentaram padrão de florescimento anual, enquanto D. odorata e S. globulifera tiveram um
padrão sub-anual de florescimento, uma vez que o florescimento apresentou dois eventos ao
ano. Dentre as espécies anuais, o período de maior percentual de florescimento na população
ocorreu nos meses de menor precipitação pluviométrica (agosto a novembro). Em J. copaia,
esse evento teve duração de até quatro semanas por árvore e flores com longevidade de um
dia, inserindo-se na classificação de florescimento breve, porém ao nível de população o
florescimento foi considerado anual intermediário ou cornucópia. Em C. guianensis o
florescimento foi prolongado e intermitente, considerado anual estendido ou multiple bang,
enquanto que B. guianensis apresentou variação no padrão cornucópia, pois a floração
individual das árvores femininas durou entre três a quatro semanas, mas nas árvores
masculinas as inflorescências tiveram longevidade entre seis a oito semanas, sendo
classificada como anual intermediária. A época de maturação dos frutos ocorreu
principalmente na época chuvosa (janeiro a maio). Três espécies (J. copaia, D. odorata e S.
globulifera) têm flores perfeitas ou hermafroditas, C. guianensis é monóica e B. guianensis é
dióica. As características florais foram compatíveis com a lista de visitantes observados e
coletados nas flores. As espécies J. copaia e D. odorata foram classificadas como melitófilas,
uma vez que atraíram vasta diversidade de abelhas, (Centris, Euglossa, Eulaema e Epicharis,
entre outros), entretanto, os visitantes florais de D. odorata foram mais diversificados, sendo
encontradas abelhas, besouros, borboletas, mariposas, vespas e moscas. Essa diversidade de
polinizadores legítimos é vantajosa para a espécie, pois permite a manutenção dos serviços de
52
Abstract:
This study describes the reproductive processes of Jacaranda copaia (Aubl.) D. Don
(Bignoniaceae), Dipteryx odorata (Aubl.) Willd. (Leguminosae – Papilionoidae), Carapa
guianensis Aubl. (Meliaceae), Symphonia globulifera L.f. (Clusiaceae), and Bagassa
guianensis Aubl. (Moraceae). The field studies were carried out at the Tapajós National
Forest, Western Amazon, and at the Experimental Field of Embrapa Eastern Amazon,
municipality of Belém, Pará State. Basic aspects of the reproductive phenology, leaf changes,
floral biology, reproductive system and pollination were studied. Among the five species, J.
copaia, C. guianensis and B. guianensis showed an annual flowering pattern, while D.
odorata and S. globulifera presented a sub-annual pattern. Within the annual flowering
53
species, the main flowering period was synchronized with the dry season (August to
November). In J. copaia, this event lasted for three to four weeks per tree and four months in
the population, therefore it was considered a brief flowering species at the individual level and
cornucopia at the population level. C. guianensis demonstrated a different behavior, with a
long lasting flowering period among the population, however intermittent at the individual
level, classified as annual extended or multiple bang. B. guianensis showed a variation on the
cornucopia pattern, as the female inflorescences lasted up to four weeks and the male
inflorescences had a extended longevity of six to eight weeks, thus is was considered annual
intermediate. The fruit maturation occurred mainly at the wet season (January to May). J.
copaia, D. odorata and S. globulifera exhibit perfect flowers, afterward are hermaphoditic,
while C. guianensis is monoecious and B. guianensis is dioecious. Floral characteristics were
compatible with the visitors observed on the flowers. Two species (J. copaia and D. odorata)
were mellithophilous, attracting a vast number of bees, such as Centris, Euglossa, Eulaema
and Epicharis. Although the floral visitors of D. odorata were more diversified, as it was
found also leaf beetles, scarab beetles, butterflies, moths and hummingbirds as frequent
visitors and pollinators. This is an advantage for the species, since it allows the maintenance
of pollination services if a pollinator vector is absent. C. guianensis was considered an
enomophilous species, due to the visits of microlepidopterans and Stingless bees. S.
globulifera was the only ornithophilous species, where birds of five different families were
seen on the flowers (Thraupidae, Trochilidae, Icteridae, Picidae, Ramphastidae e Psittacidae).
The Passeriformes or perching birds of the Thraupidae family were the most frequent visitors,
followed by the hummingbirds. Considering the last species, B. guianensis, strong evidences
of wind pollination were found, according to its floral morphology, as well as the stigma and
pollen biology. In cooperation with the wind, the possibility of participation of tiny insects
belonging to the Thysanoptera order in the pollination process is discussed. Concerning the
reproductive system, all the species presented were self-incompatible (SI). The analysis of
controlled pollinated pistils under fluorescence microscopy, revealed two major SI systems,
LSI (Late-acting Self-incompatibility) in J. copaia and D. odorata, and, apparently, SSI
(Sporophitic Self-incompatibility) in C. guianensis. The vulnerability of the reproductive
processes of the five species is discussed in relation to logging practices.
1. Introdução:
2. Materiais e Métodos:
2.1.1. Histórico
As Florestas Nacionais, também chamadas FLONAs, são um dos 12 tipos de
Unidades de Conservação existentes no Brasil, pertencentes ao Grupo II, “Unidades de Uso
Sustentável”, nos quais é permitido o uso de parte dos seus recursos, uma vez que se assegure
sua conservação. Atualmente as FLONAS estão sob a administração do IBAMA, mas quando
foi criada no ano de 1974 pelo Decreto nº 73.684 de 19 de fevereiro de 1974, a FLONA do
Tapajós, estava subordinada ao extinto Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
(IBDF), órgão que era vinculado ao Ministério da Agricultura (Soares, 2004).
2.1.2. Clima
O clima, de acordo com a classificação de Köppen, é do tipo AmW, caracterizado
por um período seco de dois a quatro meses (com precipitação chegando até 60 mm)
(Espírito-Santo et al, 2005). A média anual de precipitação pluviométrica é de 2.000 mm,
variando entre 600 mm a 3.000 mm. As chuvas ocorrem com maior intensidade entre os
meses de dezembro a junho, período que concentra até 70% da precipitação anual. A umidade
56
relativa do ar é superior a 80% o ano todo (Soares, 2004). A temperatura média anual é de 25
°C, sendo que a temperatura mínima pode atingir 18,4 °C e a máxima 32,6 °C (Carvalho,
1992). Essa região pode passar por períodos severos de estiagem durante os anos de
ocorrência do fenômeno El Niño (Nepstad et al., 2001)
2.1.3. Geomorfologia
Geologicamente a região coberta pela FLONA do Tapajós é constituída pela
Formação Barreiras, do Período Cenozóico (RADAMBRASIL, 1976). É caracterizada por
apresentar duas unidades morfológicas bem distintas: o Planalto Rebaixado do Médio
Amazonas (PRMA) e o Planalto Tapajós-Xingu (PTX). O PRMA é uma unidade
morfoestrutural que se estende desde a Planície Amazônica acompanhando a margem direita
do Rio Amazonas até o PTX, nas proximidades do Rio Tapajós. O PRMA apresenta cotas
altimétricas de cerca de 100 m, relevos dissecados com a forma tabular, drenagem adensada
com insipiência de afundamento e a formação de lagoas. Possui ainda colinas com ravinas e
vales encaixados com superfícies aplainadas, inundadas periodicamente. O PTX apresenta
cotas de 120 a 170 m, sendo recortado pelo Rio Tapajós, com cotas de decaimentos entre o
planalto e a margem do Rio Tapajós de aproximadamente 150 m (RADAMBRASIL, 1976). É
formada por sedimentos de origem continental, como arenitos e argilitos e secundariamente
conglomerados. O tipo predominante de solo é o Oxisol (Haplustox), ocupando 37,1% da
área, dominado por argila mineral rica em Kaolinita, livre de “zona dura” (hardpan) ou óxido
de ferro nos primeiros 12 metros, também chamado de Latossolo Amarelo distrófico, pela
classificação brasileira, caracterizado por diferentes texturas, geralmente profundo, ácido,
friável e revestido por florestas densas. O segundo tipo principal encontrado é o Ultisol, ou
Argissolo Vermelho-Amarelo, que ocupa 25,3% da área (Silva et al., 1983; Espírito-Santo et
al., 2005). A altitude da região está a 175 m acima do nível do mar (Carvalho, 2001).
2.1.4. Vegetação
A cobertura vegetal da FLONA do Tapajós é constituída por floresta de terra
firme, classificada como Floresta Ombrófila Densa, segundo o IBGE (Carvalho, 2001) ou
floresta alta com emergentes e ocorrência rara de palmeiras. Em uma classificação mais
detalhada, Dubois (1976) distinguiu seis grandes tipos e diversos sub-tipos de vegetação: 1)
Floresta alta com babaçu (Orbignya phalerata Mart.); 2) Floresta alta sem babaçu; 3)
Complexo de florestas baixas; 4) Complexo de florestas cipoálicas e cipoal; 5) Florestas
57
2.1.5. Fauna
O conhecimento sobre a fauna da Floresta Nacional do Tapajós está restrito a
levantamentos sobre aves e mamíferos, com levantamentos sobre a avifauna da floresta e sub-
bosque (Henriques et al., 2003), efeito da fragmentação, corte de madeira e fogo na avifauna
(Barlow et al., 2006), distribuição da avifauna em clareiras e no sub-bosque (Wunderle et al.,
2005), predação de sementes de Bertholletia excelsa – Lecythidaceae por roedores (Peres et
al., 1997) e estratificação da comunidade de morcegos na floresta (Bernard, 2001).
58
Esse inventário resultou em uma lista com cerca de 180 táxons (considerando que
para alguns espécimes a identificação não foi além do gênero). Embora a diversidade de
espécies tenha sido relativamente elevada, a abundância foi concentrada em um grupo restrito
de espécies, que representam cerca de 50% do número total de espécies identificadas. Destas,
as mais comuns foram as do gênero Pouteria (Sapotaceae) com 10%, seguido por Manilkara
huberi (Sapotaceae) com 5,1%, o grupo dos tauaris (dominado por Couratari stellata –
Lecythidaceae) com 4,9% e Carapa guianensis (Meliaceae) com 4,7%. Ainda, apenas seis
espécies (ou 3,3% do número total de espécies) ocorreram numa quantidade superior a um
indivíduo por hectare, as quais foram: o grupo Pouteria – 3 árvores/ha; Manilkara huberi –
1,52 árvores/ha; o grupo Tauari – 1,45 árvores/ha; Carapa guianensis – 1,39 árvores/ha;
Lecythis lúrida – 1,04 árvores/ha; e, Minquartia guianensis – 1,01 árvores/ha. (A. Lacerda,
dados não publicados).
As espécies escolhidas para os estudos sobre a biologia reprodutiva representam
três grupos ecológicos (pioneiras, clímax de crescimento rápido ou demandantes de luz e
clímax de crescimento lento ou tolerantes à sombra) e foram selecionadas em função de sua
importância ecológica e comercial, considerando ainda diferentes sistemas de polinização e
expressão sexual, de forma que possam ser usadas como referência para outras espécies com
características reprodutivas semelhantes. A seleção de espécies foi realizada considerando
critérios como alto valor comercial da madeira, alta pressão de exploração, ampla distribuição
geográfica, escassez de informações ecológicas, vetores de fluxo de pólen e sementes,
fenologia de florescimento, distribuição espacial, e sistemas reprodutivos (Dendrogene 2000,
Relatório do Workshop de Implementação do projeto). Dessa forma, as seguintes espécies
foram selecionadas:
1) Pioneiras: Jacaranda copaia e Bagassa guianensis;
2) Clímax de Crescimento Rápido ou Demandantes de luz: Dipteryx odorata e
Carapa guianensis;
3) Clímax de Crescimento Lento ou Tolerantes à Sombra: Symphonia
globulifera.
Nesse trabalho não foram incluídas as espécies Manilkara huberi e Hymenaea
courbaril, devido a dificuldades na coleta de dados no campo. M. huberi é uma espécie que
apresentou florescimento supra-anual, sendo registrado seu florescimento somente no período
de maio a julho de 2001, quando estavam sendo selecionados os indivíduos que fariam parte
do monitoramento fenológico das sete espécies-alvo do Projeto Dendrogene, abrindo-se
63
trilhas nas parcelas para permitir a locomoção da equipe de campo e definindo-se os métodos
de coleta de dados. Por esse motivo, os dados sobre florescimento de M. huberi ficaram
prejudicados, uma vez que o início do monitoramento fenológico só ocorreu a partir do mês
de outubro de 2001, quando já não havia mais flores nos indivíduos selecionados. Durante os
três anos subseqüentes de monitoramento, a espécie não apresentou nenhum evento
reprodutivo. No caso de H. courbaril, a dificuldade de alcançar a copa das árvores em idade
reprodutiva (não menos que 50 metros de altura) constituiu uma limitação à instalação da
torre de madeira que permitiria o acesso às flores para as investigações sobre a biologia floral,
testes de polinização controlada e observação dos visitantes e polinizadores, prejudicando o
conjunto da proposta de estudo.
Estudos complementares sobre a biologia floral e sistema reprodutivo de C.
guianensis, D. odorata e J. copaia foram realizados em plantios existentes na Área
Experimental da Embrapa Amazônia Oriental, município de Belém (PA), em função da
facilidade ao acesso, proximidade entre os indivíduos e baixo porte das árvores. Essa área de
estudo está localizada nas coordenadas 01º24’36’’ e 01º25’41’’ S; 48º24’11’’ e 48º27’17’’ W.
O tipo climático de Belém segue o padrão Afi, de acordo com a escala de Köppen (1923),
caracterizado por temperatura média anual de 25,9 ºC (variando entre 21 ºC e 31,6 ºC);
umidade relativa do ar média de 84% e precipitação pluviométrica de 2.900 mm/ano. As
árvores que estudadas fazem parte de plantios com 25 a 50 anos de idade.
globulifera), a torre nº 2 permitia acesso a uma árvore de J. copaia, a torre n° 3 dava acesso à
copa de D. odorata e a torre nº 4 permitia acesso a uma árvore de B. guianensis. Assim,
houve acesso à copa de um indivíduo de cada espécie.
2.2.1. Pioneiras:
Jacaranda copaia (Aubl.) D Don: O gênero Jacaranda Jussieu reúne 49 espécies
Neotropicais, representados por árvores de tamanho médio a grande, bem como arbustos,
distribuindo-se desde a Guatemala e Antilhas até o norte da Argentina (Gentry, 1992). No
Brasil, a maioria das espécies ocorre nos cerrados e outros ambientes mais secos ao redor da
Amazônia (Bittencourt, 2003). Jacaranda copaia é a única espécie deste gênero amplamente
distribuída na Amazônia. Originalmente descrita como Bignonia copaia Aubl. (Embrapa
Amazônia Oriental, 2004b), trata-se de uma pioneira, normalmente encontrada colonizando
áreas de clareiras e/ou degradadas (Guariguata et al., 1995), podendo alcançar o dossel da
floresta, entretanto sendo mais comum no sub-bosque (Ribeiro et al., 1999). É conhecida pelo
nome de parapará ou caroba na Amazônia. Dentre os nomes mais usados em outros países
destacam-se: “cigarillo”, no Panamá e “puti” ou “futui”, na Guiana. O nome científico
Jacaranda copaia vem do nome vulgar “copaia”, da tribo dos Galibis, da Guiana Francesa.
Existem duas subespécies, J. copaia copaia e J. copaia spectabilis que diferenciam-se por
uma característica na bainha foliar: a subespécie copaia tem folhas menores, com 5 a 9 pinas,
folíolos oblongo-elípticos com a base simétrica e peciólulos com 2-4 mm, os quais quando
secos, são escuros na face abaxial, e frutos maiores: 9-13 cm x 710 cm. A subespécie
spectabilis tem folhas maiores, com 5 a 20 pinas, folíolos rombóideo-elípticos com base
assimétrica e sésseis, os quais quando secos, apresentam cor oliva na face abaxial, e frutos
menores: 6-12 cm x 3-6 cm (EMBRAPA Amazônia Oriental, 2004b). J. copaia copaia
apresenta distribuição espacial uniforme ou regular em ambientes naturais (Parrota et al.,
1995), sendo encontrada no Brasil (Pará, Amazonas, e Amapá), Guiana Francesa, Guiana e
Suriname (Vattimo, 1980).
Jacaranda copaia copaia possui folhas opostas, compostas, bipinadas com até
165 cm de comprimento, com 5 a 9 pinas, cada pina pode medir entre 5-25 cm, contendo de 5
a 9 folíolos. A nervura central dos folíolos não tem pêlos (tricomas), ou tem poucos, esparsos
e em ambas as faces, e a lâmina dos folíolos é glabra, medindo até 8 cm de comprimento. As
inflorescências estão dispostas em panículas terminais, com flores de cálice curto,
campanulado e estreitado na base, corola de cor azul-púrpura (violeta) na parte externa e nos
lóbulos e internamente de cor branca. Os filetes dos estames férteis estão fundidos à corola
pela base, onde são encontrados pelos glandulares. Os estames didínamos estão dispostos em
66
pares, sendo dois anteriores mais longos, e dois posteriores mais curtos. Há um quinto estame
não funcional (estaminódio) mais logo que os estames funcionais, pubescente desde a porção
média até a distal onde se nota um tufo de tricomas glandulares. O estigma é filiforme e
bilamelado, com sensibilidade táctil, fechando-se ao toque do visitante/polinizador (Gentry,
1974). O fruto é do tipo cápsula, plano, com duas valvas que se abrem quando as sementes
amadurecem. Depois da deiscência da cápsula, as sementes com alas membranosas, hialinas e
leves, ficam livres e são dispersas pelo vento (EMBRAPA Amazônia Oriental, 2004b). O
florescimento ocorre anualmente no período menos chuvoso (agosto a outubro), evidenciando
flores de cor violeta extremamente vistosas. O florescimento estende-se por até quatro
semanas na população. A frutificação ocorre no início do período chuvoso, de janeiro a março
(Maués et al., 1999a).
Gentry (1974) propôs um sistema de classificação para flores e os padrões de
fenologia de florescimento de Bignoniaceae. De acordo com esse sitema, as flores de J copaia
seriam do tipo Anemopaegma, sendo polinizadas por abelhas de médio a grande porte,
geralmente euglossinas e antophorinas, as quais fazem contato com estames e estigma com a
região dorsal do tórax. Essas flores podem também ser visitadas por polinizadores ilegítimos
e/ou pilhadores de pólen e néctar, dos grupos Trochlidae, Trigonini, Lepidoptera e Xylocopa
spp. Os padrões fenológicos propostos por Gentry estão relacionados à duração do
florescimento e quantidade de flores abertas por dia, o que teria ligação com as diferentes
estratégias dos polinizadores. Nesse sistema, a floração de J. copaia seria classificada no Tipo
3, denominado Cornucópia, caracterizado por apresentar uma floração massiva durante 3-10
semanas, concentrada em um ciclo na estação seca ou chuvosa, com inflorescências grandes e
vistosas, localizadas no nível do dossel, flores com duração de um dia de antese diurna e
pequena produção de néctar, e centenas de flores abrindo no ponto mais alto do florescimento.
Esse padrão de florescimento seria o mais primitivo na família Bignoniaceae.
A madeira de J. copaia possui como características gerais cerne e alburnos
indistintos, branco a branco-amarelado, anéis de crescimento pouco distintos, pouco brilho e
cheiro imperceptível, densidade leve, sendo utilizada em carpintaria, interiores, móveis,
laminados, compensados, caixas, etc. Devido a baixa densidade, vem sendo largamente
utilizada em indústrias de compensado (Loureiro et al., 1979). Os indivíduos adultos podem
alcançar entre 30 e 35 m de altura e até 75 (raramente 85) cm de diâmetro na FLONA do
Tapajós (Silva et al., 1985) em condições naturais. A utilização de J. copaia em sistemas
agroflorestais, programas de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas vêm sendo
67
forte aroma devido à presença da cumarina (Ducke, 1939). No Brasil os nomes comuns de D.
odorata são: cumaru amarelo, cumaru do Amazonas, cumaru-da-folha-grande, cumaru-ferro,
cumaru-rosa, cumaru-roxo, cumaru-verdadeiro, cumbari, muirapagé ou muira payé, kumbarú,
parú e cumbari, entre outros. Em inglês é conhecido como “Tonka bean tree” (Vasconcelos et
al., 2001).
As árvores de D. odorata apresentam folhas alternas, compostas de 4-8 folíolos
subopostos a alternos, coriáceos, com ráquis alada e com um prolongamento muito além do
último folíolo; 4 a 6 folíolos (em ramos estéreis até 8), alternos ou opostos, sem pontos
transparentes, nunca planos, fechando-se em forma de “V”, com base arredondada e ápice
acuminado, agudo ou cuspidado. Possui inflorescências em forma de panículas eretas e
terminais, medindo cerca de 7-22 cm de comprimento, com flores hermafroditas,
pedunculadas, bastante distanciadas entre si; cálice formado por duas sépalas marrom-
esverdeadas, pubérolas; corola pentâmera, com coloração branca a rosada, com um vexilo
(pétala estandarte), duas do tipo asa e duas do tipo carena; androceu composto por 10 estames
monadelfos, anteras rimosas introrsas; gineceu unicarpelar, uniloculado, ovário súpero e
estigma papiloso. O fruto é uma drupa com pericarpo amargo não comestível para o homem,
endocarpo lenhoso com uma semente aromática, que contém até 30% de um óleo amarelo-
claro conhecido por cumarina, utilizado na indústria cosmética e medicinal. O tronco é
cilíndrico, ritidoma de cor amarelo-cinza, casca pardo-amarelada claro, bastante lisa; alburno
amarelo com aroma de feijão verde ou ervilhas (Ducke, 1939; EMBRAPA Amazônia
Oriental, 2004c).
A madeira de D. odorata é muito pesada, possui parênquima axial distinto,
paratraqueal aliforme do tipo losangular, às vezes formando pequenos arranjos oblíquos;
poros visíveis a olho nu, numerosos, solitários na maioria, geminados e múltiplos de 3-5,
alguns contendo uma substância escura no seu interior; raios no topo, finos e numerosos, bem
distribuídos, só vistos com auxílio de lupa, na face tangencial são baixos e estratificados, na
radial bem distintos e contrastados; canais secretores ausentes; camadas de crescimento pouco
visíveis, demarcadas por fibras de parede mais espessas que formam zonas escuras
(Vasconcelos et al., 2001); cerne castanho-amarelo escuro; alburno bege-claro; grã revessa;
textura média; cheiro desagradável quando verde, desaparecendo após a secagem, gosto
indistinto; moderadamente difícil de serrar, moderadamente fácil de aplainar; é difícil de
pregar e aparafusar, recomendando-se uma pré-furação, por outro lado, a superfície aplainada
é lisa e recebe bom acabamento com tintas e vernizes; é usada na construção pesada,
70
comprimento, dividido no ápice em cinco lobos em forma de cone alongado, cada um com um
poro apical; os lobos estigmáticos ocupam os espaços entre os fascículos do androceu, de
modo que o poro do estigma fique na mesma altura que as anteras; uma secção longitudinal
nos lobos estigmáticos mostra a existência de um canal, cujas paredes internas são
constituídas de diversas camadas de células elongadas que podem atuar como tecido de
transmissão. Os frutos são do tipo baga globosa ou ovóide, indeiscentes, com paredes
delgadas a coriáceas, 1-2 sementes escuras (Bittrich & Amaral, 1996; Freitas et al., 1998; Gill
et al., 1998).
A madeira é moderadamente pesada, com cerne bege Rosado ou rosa claro
uniforme, alburno bege em claro e superfície lisa (Oliveira et al., 1998). O látex resinoso em
sido usado com propriedades medicinais pela população tradicional ou para calafetar canoas e
como cola. Uma vez que esse látex não tem cheiro quando é queimado, é também usado como
combustível para lamparinas (Stevens et al., 2001; Denis M. Kearns, Missouri Botanical
Garden, <http://www.mobot.org/MOBOT/research/ven-guayana/clusiaceae/symphoni.html>).
a) Fenologia da população:
Os estudos foram conduzidos na Parcela de Estudo Intensivo da FLONA do
Tapajós, no período de outubro de 2002 a julho de 2004, e consistiu em observações semanais
sobre a ocorrência dos eventos de floração (botão floral e flor), frutificação (fruto verde e
fruto maduro, disseminação) e mudança foliar (folha nova e folha madura; desfolha parcial e
desfolha total), segundo o método de Fournier & Charpantier (1975). Foram monitorados com
auxílio de binóculo com aumento mínimo de 10x25 cerca de 50 a 60 indivíduos de cada
espécie, da seguinte forma: C. guianensis (±60 árvores), D. odorata (±60 árvores), J. copaia
(±60 árvores), S. globulifera (±50 árvores) e B. guianensis (±60 árvores), representando um
total de cerca de 290 indivíduos. Sempre que necessário, foram coletadas amostras de plantas
em fase de florescimento para o preparo de exsicatas que foram depositadas no Herbário IAN
da Embrapa Amazônia Oriental. Os registros fenológicos foram inseridos em uma base de
dados denominada Base de Dados do Tapajós, desenvolvida nos anos de 2002-2004, em
FoxPro for Windows (A. Noura, dados não publicados). Os dados fenológicos foram
74
correlacionados a registros meteorológicos cedidos pelo Projeto LBA coletados em uma torre
de 45 metros de altura, situada a 5 km da área de estudo (Fig. 5). Os principais parâmetros
investigados foram a duração da floração na população, a ocorrência de sincronia ou
assincronia entre indivíduos, a frutificação ou aborto de frutos, a dispersão de frutos e
sementes, a periodicidade dos eventos reprodutivos – anual, sub-anual, supra-anual, (sensu
Newstron et al., 1994a, 1994b), o período médio de florescimento por árvore, o ponto médio
de florescimento (data) da população, o percentual de florescimento da espécie por ano e o
intervalo de florescimento de todas as árvores.
28 270
240
27
210
150
120
25
90
60
24
30
23 0
J F M A M J J A S O N D
Meses
b) Fenologia floral; número de flores abertas por dia; relação flor/fruto (fruit
set) e fruto/semente (seed set):
A fenologia floral foi investigada acompanhando-se o período compreendido
desde o lançamento da gema floral até a senescência, com ênfase no período compreendido
entre a antese e a abscisão, visando determinar a longevidade da flor. Foi determinado o
número médio de flores abertas por dia, a relação entre o número de flores lançadas e o
número de frutos resultantes da polinização natural (fruit set), bem como o número de
sementes por fruto (seed set), em até cinco inflorescências de cinco indivíduos das espécies C.
guianensis, D. odorata, J. copaia e S. globulifera. Para B. guianensis, essas características
75
f) Receptividade do estigma:
A receptividade do estigma foi testada com três reagentes: Peroxtesmo KO (Dafni
& Maués, 1998), peróxido de hidrogênio (H2O2) a 3% (Kearns & Inouye, 1993) e/ou DAB
(Rodrigues-Riano & Dafni, 2000). A solução de Peroxtesmo KO indica a presença da enzima
peroxidase e o local de maior receptividade do estigma adquire uma coloração azul ou roxa na
presença desta enzima. O peróxido de hidrogênio (H2O2) indica a receptividade por meio da
formação de bolhas de ar. O teste com DAB indica também a presença de atividade
enzimática e a região de maior receptividade no estigma torna-se marrom. Todos os reagentes
foram utilizados no campo em flores frescas, seguindo o mesmo procedimento: colocava-se
uma a duas gotas da solução sobre o estigma, aguardava-se cerca de 1 minuto e observava-se
diretamente ou com auxílio de lupa de mão.
2.3.3. Polinização:
procedimento foi realizado em todos os locais de estudo, sempre que possível. Durante as
visitas, o local de contato do visitante com as partes florais foi observado, bem como a
movimentação destes entre as flores.
Durante as observações sobre os visitantes florais, foram identificados os
visitantes ilegítimos, aqueles que visitam as flores em busca de recursos florais, mas não
contribuem para a polinização, quer seja por ter tamanho ou comportamento incompatíveis.
As interações entre esses visitantes e os visitantes legítimos (polinizadores efetivos) foram
observadas, registrando-se aquelas que possam afetar negativamente a ação dos polinizadores
(p. ex., comportamento territorialista), resultando em prejuízos ao sucesso reprodutivo.
Os insetos foram coletados com rede entomológica, montados e identificados por
especialistas e/ou por comparação com exemplares do acervo das coleções entomológicas da
Embrapa Amazônia Oriental e do Museu Paraense Emílio Goeldi. A identificação das abelhas
seguiu a classificação de Michener (2000). Espécimes “voucher” foram depositados na
coleção da Embrapa Amazônia Oriental. Para os demais visitantes (aves), não foram feitas
coletas e sim o registro fotográfico e observações visuais diretas. A identificação das aves
seguiu a classificação de Sick (1997).
recolhidas imediatamente. A cada duas horas, foram retiradas 4-5 palhetas aleatoriamente, as
quais foram acondicionadas em sacos de papel até ser feita a montagem das lâminas.
3. Resultados:
80
% de indivíduos
60
40
20
0
o n d j f m a m j j a s o n d j f m a m j j a s o n d j f m a m j j
60
40
20
0
o n d j f m a m j j a s o n d j f m a m j j a s o n d j f m a m j j
DEP DET
100 c
80
% de indivíduos
60
40
20
0
o n d j f m a m j j a s o n d j f m a m j j a s o n d j f m a m j j
2001 2002 2003
2004
1°dia 2°dia
100
80
% de germinação
60
40
20
0
7,5 15 20 25 35 40
concentração de sacarose
1°dia 2°dia
100
80
% pólen corado
60
40
20
0
08:00 09:00 10:00 11:00 12:00
hora
1
volume do néctar (µl)
0,8
0,6
0,4
0,2
0
09:00 10:00 11:00
hora
Figura 11. Quantidade do néctar produzido por flores de Jacaranda copaia, expresso em
volume médio no primeiro dia e no segundo dia após a abertura das flores.
89
50
% de açúcares
40
30
20
10
0
09:00 10:00 11:00
hora
Figura 12. Grau brix do néctar de flores de Jacaranda copaia, expresso em percentual de
açúcares no primeiro dia e segundo dia de abertura das flores.
Vespidae
Synoeca virginea (Fabricius, 1804) Bel/Tap O N
DIPTERA
Bibionidae
1 espécie não identificada Tap O P
Syrphidae
Ornidia obesa Fabricius, 1775 Bel O P
COLEOPTERA
Chrysomelidae
4 espécies não identificadas Tap O P
Scarabaeidade
Cnemida leprieuri Arrow 1899 Tap O P
Cnemida retusa (Fabricius, 1801) Tap O P
Scarabaeinae (2 espécies) Tap O P
LEPIDOPTERA
Pieridae
Phoebis statira (Cramer, 1777) Bel/Tap O, R N
Phoebis trite (Linnaeus, 1758) Tap O,R N
Lycaenidae
1 espécie não identificada Tap O N
Nymphalidae
Philaetria dido (Linnaeus, 1763) Tap O N
AVES
Trochilidae
Anthracothorax nigricollis (Vieillot, 1817) Bel/Tap O N
Glaucis hirsuta Gmelin (1788) Tap O N
Hylocharis sapphirina Gmelin (1788) Tap O N
Thalurania furcata (Gmelin, 1788) Bel O N
Topaza pella (Linnaeus, 1758) Tap O N
a b
c d
g
e f
h i
Dessa forma, a coleta passiva de pólen pelos Centridini parece ocorrer durante
todo o período de visitas, e ao sair das flores, as abelhas removem o pólen, transferindo para
as pernas posteriores, mas sempre permanecendo ainda grãos de pólen na região de contato
acima descrita, o que permite a transferência desses materiais (pólen) durante as próximas
visitas em outras plantas.
O período de visitação às flores estendeu-se das 7:30 h até às 17:00 h,
observando-se maior movimentação entre as 8:00 h e 10:30 h, com alta freqüência de abelhas
dos gêneros Centris, Euglossa, Bombus, Epicharis e Eulaema. Essas abelhas visitavam as
flores comportando-se como polinizadores legítimos, ou seja, entravam no tubo corolínico e
mantinham contato com os órgãos reprodutivos, tocando nas anteras e no estigma com o
corpo, enquanto realizavam a coleta de pólen ou néctar.
As abelhas dos gêneros Exomalopsis, Eufriesea, Oxaea e Ceratina, assim como os
dípteros, coleópteros, meliponinas e halictídeos foram visitantes esporádicos, com baixa
freqüência de visitas. As abelhas de tamanho diminuto, tais como as Exomalopsis,
meliponinas e halictídeos usavam o estaminódio como plataforma de pouso e guia para o
nectário.
As visitas de Xylocopa frontalis ocorreram intervalos irregulares, desde a antese
até o final do dia. Apesar de visitantes freqüentes, essas abelhas em nada contribuíam para o
sucesso da polinização. Suas visitas ocorreram desde a fase de pré-antese até o final do dia,
através da aproximação em vôo direto em direção às flores, que eram abraçadas pelo primeiro
par de pernas de forma a permitir o seu suporte na flor. Em seguida as abelhas introduziam as
peças bucais na base da corola, na altura do nectário, fazendo um orifício em forma de fenda
longitudinal, por onde inseriam a glossa para pilhar o néctar. Após a visita dos Xylocopinae,
lepidópteros do gênero Phoebis agiam como pilhadores secundários, aproveitando o orifício
para a pilhagem de néctar. Em algumas visitas, borboletas da família Lycaenidae introduziam
a probóscide de modo normal, pela abertura da corola, permanecendo por até 10 s coletando
néctar. As borboletas foram visitantes tardios, geralmente iniciando as visitas a partir das
09:00 h, prolongando-as até as 15:30 h, nas horas mais quentes do dia. Os beija-flores
visitaram esporadicamente as flores nas inflorescências que estavam posicionadas nos ramos
mais altos das árvores de J. copaia. O beija-flor-brilho-de-fogo (Topaza pella) foi a espécie
mais freqüente na Floresta Nacional do Tapajós, seguida pelo beija-flor-safira (Hylocharis
sapphirina) e o beija-flor-tesoura-verde (Thalurania furcata) foi a mais encontrada em
Belém. Esses visitantes introduziam a cabeça na corola para coletar o néctar acumulado ao
redor do disco nectarífero, e eventualmente recebiam uma pequena carga de pólen na porção
94
superior basal do bico ou na fronte, o que permitia a transferência do pólen para outras flores
nas visitas subseqüentes, sendo assim considerados polinizadores ocasionais.
Não foram observadas interações agonísticas entre os visitantes florais, uma vez
que tanto os polinizadores legítimos quanto os ilegítimos alternavam-se nas visitas sem
interações agressivas entre si.
a b
c d
e f
Figura 14. Jacaranda copaia: a - b) Fotomicrografia dos grãos de pólen (1.420x); c) Tubos
polínicos no estilete sob fluorescência; d) Tubos polínicos penetrando nos óvulos
sob fluorescência; e) Fotomicrografia do estigma (46x); f) Fotomicrografia da
porção terminal do estaminódio (38x).
97
50 BFL FLO a
40
% de indivíduos
30
20
10
0
j f m a m j j a s o n d j f m a m j j a s o n d j f m a m j j
80 FRU DIS b
60
% de indivíduos
40
20
0
j f m a m j j a s o n d j f m a m j j a s o n d j f m a m j j
DEP DET c
100
80
% de indivíduos
60
40
20
0
j f m a m j j a s o n d j f m a m j j a s o n d j f m a m j j
Figura 15. Fenologia de Dipteryx odorata durante o período de janeiro de 2002 a julho de
2004, na Floresta Nacional do Tapajós: a) Floração (BFL = botão floral, FLO =
flor); b) Frutificação (FRU = fruto, DIS = dispersão); c) Mudança foliar (DEP =
desfolha parcial, DET = desfolha total).
99
g
d
e
f
i j
Figura 16. Representação esquemática das características florais de Dipteryx odorata: a) Flor
aberta; b) Estames; c) Inflorescência; d) Vexilo; e) Antera; f) Pistilo; g) Carena ou
quilha; h) Ala ou asa; i) Lóbulos petalóides. J) Sépala. (ilustrador: A. E. Rocha)
101
100
% de grãos de pólen
80
60
40
20
0
09:00 11:00 13:00 15:00
hora
Figura 17. Viabilidade do pólen de Dipteryx odorata expresso em percentual de grãos corados
e não corados.
brix vol
40 2,5
2
38
% de açúcares
1,5
volume
36
34
0,5
32 0
1°d 2°d
idade da flor
Figura 18. Quantidade do néctar produzido no primeiro e segundo dia de abertura das flores
de Dipteryx odorata, expresso em volume (µl) (colunas) e grau brix, expresso em
percentual (%) de açúcares (linhas).
a a b
c d
e f
g h
Nymphalidae
Hamadryas arinome (Lucas, 1853) Tap O N
Philaetria dido (Linnaeus, 1763) Tap O N
AVES
Trochilidae Tap O N
Florisuga mellivora (Linnaeus, 1758) Bel/Tap P N
Thalurania furcata (Gmelin, 1788) Tap P N
Bel = Belém; Tap = Floresta Nacional do Tapajós
*
p = polinizador legítimo; o = polinizador ocasional; r = pilhador de pólen/néctar
+
Recursos florais utilizados pelos visitantes/polinizadores (N = néctar; P = pólen)
BFL FLO
100 a
80
% de indivíduos
60
40
20
0
o n d j f m a m j j a s o n d j f m a m j j a s o n d j f m a m j j
FRU DIS
100
b
80
% de indivíduos
60
40
20
0
o n d j f m a m j j a s o n d j f m a m j j a s o n d j f m a m j j
80
c
% de indivíduos
60
40
20
0
o n d j f m a m j j a s o n d j f m a m j j a s o n d j f m a m j j
Figura 21. Fenologia de Carapa guianensis durante o período de outubro de 2001 a julho de
2004, na Floresta Nacional do Tapajós: a) Floração (BFL = botão floral, FLO =
flor); b) Frutificação (FRU = fruto, DIS = dispersão); c) Mudança foliar (DEP =
desfolha parcial, DET = desfolha total).
110
g
b
c h
d i
k j
e
f
a b
c d
e f
g h
Figura 23. Características florais de Carapa guianensis: a) Flor masculina; b) Flor feminina;
c) Chrysomelidae em flor masculina; d – e) Riodinidae em flor feminina; f)
Partamona em flor masculina; g) Fotomicrografia do pólen (32.230x); h) Pistilo sob
fluorescência com grãos de pólen na superfície do estigma emitindo tubos polínicos
através do estilete.
114
A viabilidade média ficou acima de 80%, desde a abertura até cerca de 14:00 h,
período em que as flores estaminadas começavam a sofrer abscisão ao menor toque (Fig. 24).
A razão pólen/óvulo foi de 408,8, classificando a espécie como xenógama facultativa sensu
Cruden (1977).
80
% grãos corados
60
40
20
0
07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00
hora
entre as 5:30 h e 6:30 h da manhã, coincidindo com o período de que as flores apresentaram
maior intensidade de fragrância, que deve ser um atrativo a esses visitantes. Observou-se que
tanto os Riodinidae quanto os Lycaenidae visitavam flores pistiladas e estaminadas
indiscriminadamente, para coleta de néctar e pólen, em visitas que duravam até três minutos.
O seu comportamento foi compatível com o de polinizadores legítimos.
O outro grupo mais relevante de visitantes florais foi constituído por abelhas
nativas sem ferrão, Apidae – Meliponina, visitando principalmente as flores masculinas em
busca de pólen. Essas abelhas visitavam as flores entre as 5:30 h da manhã até cerca de 10:00
horas, em visitas de até 15 s de duração. Raramente as meliponinas visitavam as flores
femininas, portanto sua atuação como polinizadores legítimos é questionada, apesar da
compatibilidade de tamanho com as flores de C. guianensis. O horário de visitas coincide com
o período de liberação do pólen e receptividade do estigma, mas a freqüência reduzida e a
falta de visitação nas flores pistiladas não as tornam polinizadores eficientes.
Outros visitantes menos freqüentes foram os representantes das famílias
Chrysomelidae, Sarcophagidae e Blatellidae, que fizeram visitas noturnas, na maioria das
vezes para coleta de pólen, não sendo encontrados nas flores femininas. Ornidia obesa,
Synoeca virginea, Polybia sp. e os Sphecidae visitaram as flores masculinas durante o dia
para coletar néctar e pólen, mas não foram considerados polinizadores, ao contrário, as vespas
foram pilhadoras de pólen. A lista de visitantes florais consta da tabela 6.
ba
100 BFL FLO
80
% de indivíduos
60
40
20
0
j f m a m j j a s o n d j f m a m j j a s o n d j f m a m j j
60
40
20
0
j f m a m j j a s o n d j f m a m j j a s o n d j f m a m j j
80
% de indivíduos
60
40
20
0
j f m a m j j a s o n d j f m a m j j a s o n d j f m a m j j
Figura 25. Fenologia de Symphonia globulifera durante o período de outubro de 2001 a julho
de 2004, na Floresta Nacional do Tapajós: a) Floração (BFL = botão floral, FLO =
flor); b) Frutificação (FRU = fruto, DIS = dispersão); c) Mudança foliar (DEP =
desfolha parcial, DET = desfolha total).
120
Volume
80
70
60
volume (ml)
50
40
30
20
10
0
6.30 7.30 8.30 9.30 10.30 11.30 12.30 13.30 14.30 15.30
hora
Figura 27. Variação da produção do néctar das flores de Symphonia globulifera (volume +
DP) no período das 6:30h às 15:30h, na FLONA do Tapajós.
Concentração de açúcar
20
15
% de açúcar
10
0
6.30 7.30 8.30 9.30 10.30 11.30 12.30 13.30 14.30 15.30
hora
Figura 28. Variação da concentração de acúcares (grau brix + DP) do néctar das flores de
Symphonia globulifera (%) no período das 6:30h às 15:30h, na FLONA do Tapajós.
123
A deiscência das anteras ocorreu a partir das 6:00 h até cerca de 7:00 h. Uma vez
que o pólen está envolto numa substância pegajosa, não há meios de ocorrer a transferência e
deposição de pólen nos lobos estigmáticos pelo vento ou gravidade, seja entre flores distintas
ou na mesma flor. É obrigatória a existência de um vetor biótico para promover o fluxo de
pólen.
As flores continuam íntegras durante aproximadamente um dia, entrando em
senescência 24 horas após a antese, iniciada com o desprendimento das pétalas e conseqüente
abcisão da corola, permanecendo o gineceu e androceu desprotegidos por vários dias (até duas
semanas), desidratando gradativamente e caindo na ausência de fecundação.
A viabilidade do pólen é bastante elevada, atingindo até 100% entre as 8:00 h e
10:00 h, iniciando desde a antese e prolongando-se até o dia posterior, quando apresenta uma
discreta redução, ficando em 94%. Os grão de pólen são envoltos por substância viscosa,
evidente nas fotomicrografias em Microscópio Eletrônico de Varredura. Os grãos são
relativamente grandes (cerca de 44,3 µm), esferoidais, isopolar-radiosimétricos,
estefanoporados (5-6 porados), com exina tectada. Devido à apresentação do pólen envolto na
substância pegajosa, não foi possível fazer a contagem para estimar sua quantidade por flor, e,
conseqüentemente, obter a razão pólen/óvulo. A receptividade do estigma concentra-se no
ápice dos lobos, mais especificamente nos poros, ocorrendo desde a antese até o dia seguinte.
a b
c d
e f
g h
ig jh
k l
m n
o p
Figura 29. j – l)) Polinizadores, Thalurania furcata, Dacnis cayana ♂, Dacnis cayana ♀,
Cyanerpes cyaneus, Tangara punctata); m – n) Fotomicrografia do pólen; o)
Estigma sob flourescencia com tubo polínico; p) Fotomicrografia da antera.
127
Foram observadas visitas de insetos das ordens Hymenoptera e Lepidoptera nas flores
abertas. As abelhas coletavam néctar ou pólen, quase sempre perfurando a corola para ter acesso
ao néctar. As borboletas muitas vezes utilizavam os orifícios abertos pelas abelhas ou coletavam
o néctar que gotejava das flores. Nenhum foi considerado polinizador, uma vez que suas visitas
foram claramente ilegítimas.
Em Belém, as espécies mais freqüentes foram Ramphocelus carbo carbo (bico-de-prata)
e Thraupis episcopus episcopus (saí-guaçu-azul), seguidos por Thalurania furcata e Florisuga
mellivora. Os passeriformes visitavam as flores pela manhã e pela tarde, pousando nos ramos
próximos às flores para coletar o néctar. Os beija-flores foram mais freqüentes no período da
manhã, comportando-se de maneira característica para coletar néctar, pairando no ar e
inserindo o longo bico no exíguo espaço entre as pétalas e o tubo estaminal, em visitas rápidas
(2 a 4 segundos). Não se observou superposição de visitas intra ou interespecificamente.
Quanto ao sistema reprodutivo, apesar de não terem sido feitos testes de campo
com polinização controlada nesse estudo, Bittrich & Amaral (1996) sugeriram que a espécie
possui autocompatibilidade facultativa, uma vez que dentre 118 autopolinizações realizadas,
houve a formação de 28 frutos. Entretanto, estudos realizados por Degen et al. (2004) na
Guiana Francesa, mencionam uma elevada taxa de cruzamento multiloco (tm = 0,920),
indicando que a espécie é preferencialmente alógama, apesar da existência de uma parcela
significativa de endogamia biparental (tm – ts = 0,156), que os autores interpretaram como
resultado de uma dispersão de pólen limitada na área de estudo.
129
BFL FLO
100 a
80
% de indivíduos
60
40
20
0
j f m a m j j a s o n d j f m a m j j a s o n d j f
100
DEP DET b
80
% de indivíduos
60
40
20
0
j f m a m j j a s o n d j f m a m j j a s o n d j f
100
BFL FLO a
80
% de indivíduos
60
40
20
0
j f m a m j j a s o n d j f m a m j j a s o n d j f
FRU DIS
100
b
80
% de indivíduos
60
40
20
0
j f m a m j j a s o n d j f m a m j j a s o n d j f
80
c
% de indivíduos
60
40
20
0
j f m a m j j a s o n d j f m a m j j a s o n d j f
b c
g
d
a b
c d
e f
n° pólen FLO
300 60
250 50
quantidade de pólen
% de florescimento
200 40
150 30
100 20
50 10
0 0
9/7
13/7
15/7
20/7
22/7
27/7
28/7
29/7
5/8
18/8
24/8
31/8
período
Com base nesses resultados, podemos inferir que Bagassa guianensis comportou-
se como uma planta preferencialmente anemófila (Faegri & van der Pijl, 1979), com uma
reduzida participação de agentes bióticos, através dos insetos da ordem Thysanoptera, família
Thripidae, uma vez que estes insetos foram encontrados tanto nas inflorescências femininas
quanto nas masculinas, mas sua participação na transferência eficiente de pólen ainda é
questionada.
139
4. Discussão
4.1. Fenologia:
Padrões fenológicos reprodutivos de espécies tropicais arbóreas são definidos pela
época de ocorrência, duração e freqüência do florescimento (Gentry, 1974; Newstron et al.,
1994a, 1994b; Bawa et al., 2003). O sistema de classificação de Gentry (1974), descreve
cinco padrões de florescimento e os associa aos sistemas de polinização. Newstron et al.
(1994a; 1994b) propuseram uma nova classificação de padrões fenológicos baseados na
freqüência de ocorrência, duração, amplitude, período de ocorrência, sincronia e regularidade
dos episódios, que vem sendo adotada mais recentemente. Os padrões propostos por esses
autores são baseados em uma escala de tempo anual, como segue: a) Contínuo (florescimento
interrompido por intervalos curtos e escassos); b) Sub-anual (florescimento em ciclos
múltiplos e irregulares na maioria dos anos); c) Anual (florescimento concentrado em um
único ciclo principal no ano); Supra-anual (florescimento em ciclos multianuais). Essa
classificação foi usada no estudo de Sakai et al. (1999) para espécies arbóreas da Malásia.
A vasta literatura sobre a fenologia reprodutiva de plantas tropicais tem abordado
principalmente a época de ocorrência associada à sazonalidade do florescimento em nível de
comunidades (Frankie et al., 1974; Opler et al., 1980; Newstron et al., 1994a; 1994b), mas
alguns estudos vincularam a fenologia de florescimento a diferentes grupos de polinizadores
(Dulmen, 2001).
Nesse estudo, foi observado que três das espécies (Jacaranda copaia, Carapa
guianensis e Bagassa guianensis) apresentaram um padrão de florescimento anual (Newstron
et al.,1994a; 1994b), enquanto Dipteryx odorata e Symphonia globulifera tiveram um padrão
sub-anual de florescimento. O padrão anual é o mais previsível e comum nas plantas tropicais,
e geralmente ocorre na mesma época a cada ano, podendo ser dividido em três subclasses: a)
Anual breve: chamado big bang por Gentry (1974), com duração de quatro semanas, no
máximo; b) Anual intermediário: chamado cornucópia por Gentry (1974) e sazonal por
Frankie et al. (1974), com duração de dois a três meses; e c) Anual estendido: com duração
acima de três meses, sendo comum encontrar nessa subclasse espécies com florescimento
anual intermediário em nível de indivíduo e anual estendido em nível de população
(Newstron et al., 1994b).
Dentre as espécies anuais, o período de maior percentual de florescimento na
população foi sincronizado com os meses de menor precipitação pluviométrica (agosto a
140
novembro). Em J. copaia, esse evento fenológico teve duração de até quatro semanas por
árvore e flores com longevidade de um dia, inserindo-se na classificação de florescimento
breve (Newstron et al., 1994b) ou big bang, (Gentry, 1974), porém ao nível de população o
florescimento pode ser considerado anual intermediário (Newstron et al., 199ab) ou
cornucópia (Gentry, 1974). C. guianensis teve um comportamento distinto, com
florescimento bastante prolongado e intermitente, sendo considerado anual estendido sensu
Newstron et al. (1994b) ou multiple bang (Gentry, 1974). B. guianensis apresentou uma
variação no padrão cornucópia, pois a fase de “flor aberta” dos capítulos (inflorescências) das
árvores femininas durou entre três a quatro semanas para cada árvore, e, por conseguinte, as
flores tiveram a mesma longevidade, mas nas árvores masculinas as inflorescências tiveram
uma longevidade maior, entre seis a oito semanas por árvore. Dessa forma foi classificada
como anual intermediária sensu Newstron et al. (1994b)
Em D. odorata as plantas estudadas mostraram um padrão assincrônico de
florescimento, com no máximo 34,3% indivíduos florescendo em sincronia na época chuvosa
(2002) e 33,7% (2003) florescendo na época de estiagem, com uma alternância de épocas de
floração entre os anos de monitoramento. Uma vez que o florescimento ocorreu mais de uma
vez ao longo do ano na população de árvores estudadas, a espécie teve um padrão de
florescimento sub-anual, de acordo com Newstron et al. (1994b). Por outro lado, S.
globulifera apresentou três picos de florescimento no ano de 2002, com 64,1% em março,
35,1% em junho e 49,2% em setembro, e apenas um pico em 2003, com 73,2% em setembro,
sendo encontrado, de fato, as mesmas árvores florescendo duas vezes ao ano. Essa espécie foi
também classificada como sub-anual sensu Newstron et al. (1994b), que consideram esse
padrão o menos previsível entre as árvores tropicais, apresentando episódios múltiplos de
florescimento na maioria dos anos, com ciclos altamente irregulares, tendo sido chamado de
multiple-bang (Gentry, 1974), episódico (Bullock et al., 1983), intermitente (Berg, 1989) e
periódico (Haber & Frankie, 1989).
Esses padrões de floração têm relação direta com os processos reprodutivos e
sistemas de polinização, interferindo na competição e manutenção dos polinizadores
(Newstron et al., 1994b). Para os polinizadores, a duração do florescimento é importante no
sentido de permitir o estabelecimento de áreas de forrageamento baseadas em imagens
visuais. Dessa forma, há dois padrões claramente associados a diferentes grupos de
polinizadores, o florescimento estendido (FE), relacionado à polinizadores que utilizam linhas
de coleta (trapliners) e o florescimento massal (FM), ligado aos polinizadores oportunistas. O
primeiro tipo (FE) pode ser associado aos padrões contínuo, sub-anual e anual, enquanto que
141
o segundo tipo (FM), está mais ligado aos padrões sub-anual, anual breve ou supra-anual
sensu Newstron et al. (1994a, 1994b). O florescimento estendido favorece a polinização em
plantas com baixa densidade populacional, possibilitando o forrageamento à longa distância.
Para D. odorata, C. guianensis e S. globulifera, a presença de polinizadores trapliners
(abelhas, mariposas e aves, respectivamente) é vantajosa para a manutenção da integridade
dos processos reprodutivos. No caso das outras espécies, J. copaia, o florescimento massal e
sincronizado resulta na atração de uma grande variedade de polinizadores, e a abundância de
flores apesar de induzir os polinizadores a permanecerem forrageando na mesma planta,
também promove interações agonísticas entre os mesmos, que estimula a movimentação
desses agentes entre diferentes árvores em florescimento (Newstron et al., 1994b).
Na Amazônia, o período de menor precipitação pluviométrica concentra o
florescimento da maioria das espécies arbóreas (Carvalho, 1980; Alencar, 1988; 1994; Leão,
1990; Leão & Yared, 1999; Oliveira & Leão, 1999). Todas as cinco espécies estudadas
tiveram episódios de florescimento mais intensos nesse período, sendo que duas floresceram
exclusivamente na época de estiagem (J. copaia e B. guianensis). Entretanto, as demais
espécies (D. odorata, S. globulifera e C. guianensis) floresceram na época chuvosa e no
período de estiagem. Estudos anteriores feitos com as mesmas espécies, mostraram resultados
similares. B. guinensis floresceu nos terços finais do período e transição chuvas/estiagem,
entre os meses de junho a setembro na FLONA do Tapajós (PA) (Silva, 2005).Estudos
realizados na Amazônia têm mostrado grandes variações nos períodos de florescimento de D.
odorata, com registros de florescimento tanto no período chuvoso (Alencar et al., 1979;
Alencar, 1998; Leão & Carvalho, 2001) quanto na época de estiagem (Carvalho, 1999). S.
globulifera floresceu entre maio a setembro, coincidindo com o final do período chuvoso e
início de período de estiagem, no estuário do rio Amazonas (PA) (Freitas et al., 1998). Na
região de Manaus, C. guianensis, apresentou um período de florescimento mais intenso na
época chuvosa (dezembro a março) e no período de menor pluviosidade (outubro e novembro)
o florescimento foi mais discreto (Ferraz et al., 2002). Dessa forma, os resultados aqui
descritos são corroborados pelos estudos acima mencionados.
A fase de maturação e disseminação dos frutos das cinco espécies ocorreu,
principalmente, no final do período de estiagem e início do período chuvoso, com exceção de
D. odorata, que apresentou um fluxo contínuo de formação e disseminação de frutos.
As espécies J. copaia e B. guianensis foram classificadas como caducifólias, uma
vez que as árvores perderam completamente a folhagem em um determinado período do ano.
142
todas essas funções, sendo considerado um atributo fundamental na atratividade e seleção dos
polinizadores.
As flores de D. odorata por sua vez, possuem coloração branca a rosada, antese
diurna, presença de uma pétala modificada (vexilo) funcionando como plataforma de pouso,
forte odor adocicado, recursos florais e verticilos reprodutivos protegidos, produção de néctar
inclusive em flores no segundo dia após antese e grande quantidade de pólen, convergindo do
mesmo modo para a síndrome de polinização por abelhas (melitófila). O horário da oferta dos
recursos florais e a concentração de açúcares no néctar foram compatíveis com o tipo de
flores atrativas a abelhas. A intensidade do aroma exalado pelas flores abertas, do tipo
adocicado lembrando frutas frescas, também é um atrativo para esses polinizadores (Robacker
et al., 1988). As flores de Dipteryx panamaensis apresentam características muito
semelhantes às encontradas em D. odorata, com exceção da quantidade de néctar produzido
pelas flores de D. panamaensis, que pode alcançar até 12 microlitros (Perry & Starret, 1980).
As demais espécies apresentaram características totalmente distintas. C.
guianensis é uma planta com atributos que a qualificam para a polinização por mariposas,
pois diversas características encontradas nas suas flores são comuns em flores polinizadas por
mariposas, tais como a antese noturna, aroma forte (perceptível à longa distância) e agradável,
coloração branca ou creme, néctar e pólen produzidos em pequenas quantidades (Faegri &
van der Pijl, 1979). Apenas a forma tubular, tão característica de flores polinizadas por esses
agentes, não observada na espécie, o que possibilita a sua polinização por outros insetos
compatíveis com a morfologia floral. As espécies do gênero Carapa foram pouco estudadas
quanto as suas características reprodutivas, com exceção de alguns trabalhos sobre dispersão
de sementes realizados por Forget et al. (1999), Guariguata et al. (2002) com Carapa procera
e Ferraz et al. (2002) com C. guianenis e C. procera.
No caso de S. globulifera, as flores reúnem diversos atributos característicos de
ornitofilia (Faegri & van der Pijl, 1979; Proctor et al., 1996), tais como: coloração vermelho-
escarlate, extremamente atrativa a pássaros a curta e longa distância; ausência de aroma,
néctar produzido em abundância com baixa concentração de açúcares e armazenado na flor
por capilaridade; disponibilidade diurna de recursos; ovário protegido; estrutura dos tecidos
do perianto, gineceu e androceu bastante rígida e resistente; estames unidos; órgãos
reprodutivos expostos e posicionados longe da região de armazenamento de néctar; ausência
de aroma; e pólen envolto em um tipo de óleo-resina que facilita a aderência em superfícies
lisas como o bico dos pássaros.
145
4.3. Polinização:
De fato as características florais foram compatíveis com a lista de visitantes
observados e coletados nas flores de todas as espécies.
As duas espécies melitófilas, Jacaranda copaia e Dipteryx odorata, atraíram uma
vasta diversidade de visitantes florais, mas a primeira restringiu os polinizadores efetivos de
acordo com o tamanho corporal ou tamanho da língua, visto que abelhas de médio porte (p.
ex. Centris, Euglossa, Eulaema e Epicharis) foram os grupos mais eficientes na polinização.
Essas abelhas têm comportamento de forrageamento do tipo “traplining”, ou seja, seguem
uma rota de coleta que é percorrida diariamente. Isso favorece o fluxo de pólen na população
e a polinização cruzada. A câmara corolínica das flores de parapará é compatível com abelhas
de pequeno a médio porte, sendo assim um fator limitante à entrada de abelhas corpulentas.
Essas abelhas, por sua vez, representadas por algumas espécies de Epicharis, Bombus e
Oxaea até conseguiam penetrar na câmara, mas com alguma dificuldade. No caso de
Xylocopa frontalis, seu tamanho era completamente incompatível com o tamanho da flor, e o
comportamento registrado de pilhagem de néctar através de um orifício feito na base da
corola já foi registrado em muitas outras espécies da família Bignoniaceae (Vieira et al.,
1992; Galetto, 1995; Correia et al., 2005).
Os visitantes florais de D. odorata foram mais diversificados, sendo encontradas
abelhas de pequeno, médio e grande porte, besouros, borboletas, mariposas, vespas e moscas.
Porém, as abelhas dos gêneros Bombus, Centris, Epicharis, Eulaema, Eufriesea, Partamona e
Trigona foram os polinizadores legítimos, devido à compatibilidade entre seu tamanho e
comportamento na coleta dos recursos florais. Foram encontradas 27 espécies de abelhas nas
flores de D. odorata, uma diversidade semelhante à encontrada por Perry & Starret (1980) em
D. panamaensis. Flores que atraem abelhas de médio a grande porte tendem a apresentar
cores contrastantes, além de serem morfologicamente especializadas, como se encontra nas
famílias Bignoniaceae, Fabaceae (Leg-Papiplionoideae), Melastomtaceae e Orchidaceae
(Bawa, 1990). As abelhas de grande porte dos gêneros Eulaema (Apinae, Apini, Euglossina),
148
acuminata (Bruna et al., 2004). Para Bittrich & Amaral (1996), plantas polinizadas por beija-
flores raramente têm porte arbóreo, em contraposição a plantas polinizadas por passeriformes.
Foram ainda registradas visitas de insetos (abelhas e borboletas) em S. globulifera,
mas esses visitantes apenas pilhavam os recursos florais, não contribuindo para a polinização. As
abelhas muitas vezes perfuravam as a base das pétalas para alcançar o néctar o coletavam o pólen
envolto em óleo das anteras.
Algumas espécies da família Moraceae têm mecanismos complexos e
especializados de polinização, tais como o mutualismo entre vespas da família Agaonidae e
Ficus (Kjelberg et al., 2001), moscas galhadoras da família Cecidomyiidae, fungos
zigomicetos e Artocarpus (Sakai et al., 2000), assim como tripes e Castilla elastica (Sakai,
2001). A tribo Morae, que inclui a espécie Bagassa guianensis como proposto por (Datwyler
& Weiblen, 2004), possui uma condição aparentemente plesiomórfica quanto à presença de
estames inflexos na fase de botão floral, geralmente associados a um pistilóide. À medida que
o filete dos estames é alongado ainda na fase de botão, as anteras são orientadas ao longo do
pistilóide, de forma que com a abertura da flor estaminada as anteras são arremetidas e abrem
explosivamente, liberando o pólen em uma nuvem. Essa característica é associada à
polinização anemófila. Os resultados do experimento para captura de pólen em B. guianensis
evidenciaram nitidamente a presença de pólen aderido à armadilha Megastigmata, que foram
transportados pelo vento na área de estudo. Os testes de exclusão de pólen com sacos
impermeáveis (papel), semipermeáveis (pano) e permeáveis (polietileno) ao pólen,
corroboraram a importância do vento no sucesso reprodutivo da espécie. A presença de tripes
nas inflorescências masculinas e femininas levanta a possibilidade desses insetos serem
coadjuvantes no processo de polinização, atuando em co-participação na polinização. A
ocorrência de dois vetores efetivos de polinização, vento e insetos, é chamada ambofilia por
Bullock (1994), sendo encontrada em espécies anemófilas cujas flores permitem o acesso a
insetos visitantes. Entretanto, algumas flores anemófilas podem ser exploradas por insetos que
não contribuem para a polinização. A polinização anemófila é uma característica freqüente na
família Moraceae, e, como sugeriu Stebbins (1970) citado por Bullock (1980), deve ter sido
um atributo evoluído a partir de ancestrais anemófilos adaptados a ambientes de clima tropical
seco, que invadiram ambientes tropicais úmidos e desenvolveram adaptações secundárias à
polinização entomófila.
As evidências de anemofilia em B. guianensis foram reforçadas pelas seguintes
características:
150
B. guianensis é uma árvore emergente, cuja copa ultrapassa o estrato superior da floresta
(dossel), atingindo entre 45-55 metros de altura;
As inflorescências femininas são do tipo globoso e reúnem flores pistiladas diminutas,
praticamente aclamídeas (com corola tepalóide reduzida), estigma filiforme bipartido,
conferindo um aspecto pubescente ao capítulo;
As inflorescências masculinas são do tipo espiga, pedunculadas, com flores estaminadas
diminutas praticamente nuas (com corola tepalóide reduzida), com duas anteras
basifixas rimosas;
As inflorescências femininas permanecem entre duas e três semanas na fase de “flor” –
com os estigmas expostos – e quase não há diferença morfológica entre as fases com
botões florais, flores ou frutos, a não ser pela presença dos estigmas na fase com flores e
o aumento do tamanho dos capítulos – transformando-se em infrutescências – na fase de
desenvolvimento dos frutos;
As inflorescências estaminadas são pendentes e facilmente movidas pelo vento;
O pólen é pequeno e seco, e é liberado copiosamente pelas centenas de flores
estaminadas;
Os estigmas filiformes e curtos ajudam a capturar o pólen e a longevidade das flores
pistiladas, de até três semanas, aumentam as chances de fertilização;
Não há atrativos visuais nas flores estaminadas e pistiladas, ambas têm cor esverdeada a
marrom, sem se destacarem da folhagem das árvores;
O florescimento coincide com o período de menor pluviosidade e maior intensidade de
vento na região;
A visita de agentes bióticos resumiu-se a presença episódica de nuvens de minúsculos
insetos da família Thripidae, que pousavam nas flores pistiladas trazidos pelo vento,
sendo também encontrados nas flores estaminadas.
o caso. A família Bignoniaceae possui várias espécies com esse sistema de auto-
incompatibilidade, como está descrito para Chorisia e Tabebuia (Gibbs & Bianchi, 1993);
Dolichandra cynanchoides e Tabebuia nodosa (Gibbs & Bianchi, 1999), Tabebuia aurea e T.
ochracea (Barros, 2001); Jacaranda macrantha (Bittencourt, 1981 citado por Bittencourt,
2003); Jacaranda racemosa (Bittencourt, 2003). Estudos realizados por James et al. (1998)
comprovaram a auto-esterilidade de J. copaia, evidenciando taxas de polinização cruzada
multilocus (tm = 0.943 ± 0,044).
O mesmo tipo de sistema de auto-incompatibilidade (LSI) foi encontrado em D.
odorata, com a diferença que os frutos originados a partir de autopolinização induzida foram
gradativamente abortados até a 17a semana de desenvolvimento, apesar de que a maioria
sofreu abscisão na primeira semana após a fertilização. A distinção nesse caso, é que ocorria a
fertilização dos óvulos nos pistilos autopolinizados, de acordo com a terceira categoria
proposta por Seavey & Bawa (1986), onde ocorre a rejeição pós-zigótica. Esses resultados
foram bastante similares aos encontrados por Perry & Starret (1980) em D. panamensis, onde
foi verificada a ocorrência de um mecanismo de auto-incompatibilidade ovariana, atuando
tardiamente na rejeição de frutos originários de flores submetidas a autofertilizações, e queda
dos frutos imaturos até a oitava semana após as polinizações. Os resultados dos testes de
polinização controlada evidenciaram ainda que houve 10 vezes mais frutos formados nos
testes de polinização cruzada do que nos testes de autopolinização e polinização aberta
(controle). Em D. panamensis ocorreu uma baixa taxa de autopolinização (0,02%; n= 109)
comparado à polinização cruzada (0,28%; n = 77) e as flores expostas à visitação de insetos
(controle) resultaram em 0,04% (n = 68) de frutificação (Perry & Starret 1980).
Em um estudo de simulação proposto por Roubik & Degen (2004) para a mesma
comunidade arbórea da Floresta Nacional do Tapajós (PA), J. copaia e D. odorata foram
consideradas auto-estéreis. Para J. copaia, a distância média de dispersão de pólen foi de
147,9 m (± 42 m), considerando que a distribuição espacial da espécie nesse local é regular
(1,8 árvores ≥ 20 cm DAP por hectare), e para D. odorata a distancia média de dispersão do
pólen foi duas vezes maior (335,6 m ± 72,5 m), e sua distribuição espacial randômica (0,16
árvores ≥ 20 cm DAP por hectare), ou seja, apresentando uma densidade populacional dez
vezes menor que J. copaia. A diversidade de polinizadores de longo alcance de vôo seria uma
garantia à manutenção da saúde reprodutiva dessas espécies.
No caso de Carapa guianensis, não houve germinação do pólen nos pistilos
autopolinizados. A rejeição do pólen na superfície estigmática permite inferir que a espécie
153
5. Considerações finais
De uma forma geral todas as espécies aqui estudadas são xenógamas, o que requer
a presença de um vetor de polinização que faça a transferência eficiente de pólen entre as
árvores. Com exceção das evidências de anemofilia em Bagasa guianensis, houve
predominância de vetores de polinização bióticos, representados principalmente por abelhas,
além dos lepidópteros e aves. Existem diversos estudos apontando uma crise na polinização
de plantas tropicais devido, principalmente, à fragmentação do habitat, expansão agrícola, uso
de herbicidas e pesticidas, introdução de abelhas exóticas e as mudanças climáticas globais
(Kearns et al., 1998). A fragmentação do habitat tem o potencial de interferir negativamente
nas interações planta-polinizador, resultando em visitas menos eficientes e freqüentes, bem
como baixa resposta reprodutiva em remanescentes de florestas nativas, devido a mudanças
causadas nas comunidades de polinizadores (Harris & Johnson, 2004).
Considerando a saúde reprodutiva das espécies estudadas, o efeito da Exploração
de Impacto Reduzido de espécies comercialmente importantes poderia afetar mais as espécies
com polinizadores de baixa mobilidade, florescimento assincrônico e irregular, baixa
densidade populacional e obrigatoriamente xenógamas. Nesse sentido, C. guianensis seria
uma espécie mais susceptível, não fosse sua elevada densidade populacional, que conferiria
uma maior resiliência à manutenção da capacidade reprodutiva nas florestas manejadas. D.
odorata e S. globulifera, da mesma forma, seriam também mais sensíveis às mudanças na
estrutura populacional, considerando que sua densidade populacional já é bastante reduzida
em florestas primárias, e diminuiria ainda mais após a EIR. Essas três espécies parecem reunir
maiores evidências de susceptibilidade à exploração madeireira, e merecem atenção especial
nos planos de manejo. É importante atentar também para B. guianensis, que por ter baixa
densidade populacional e ser além disso dióica, deve sofrer maiores efeitos de um
planejamento de exploração que desconsidere essas características.
O sistema reprodutivo de uma planta determina sua dependência do polinizador
(Dafni, 1992). Plantas alógamas são inteiramente dependentes de um vetor para mediar a
transferência de pólen e, por conseqüência, alcançar o sucesso na fertilização (Bawa, 1990). O
grau de compatibilidade de uma planta pode afetar a probabilidade de sucesso na fertilização,
em função da escassez de seu polinizador, assim, a auto-incompatibilidade reduz o pool de
doadores potencias de pólen, aumentando a probabilidade de troca inadequada de pólen
compatível (Burd, 1994). Assim, além dos cuidados na preservação de estoques viáveis de
155
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21-28.
169
CAPÍTULO 3
Resumo:
Nesse estudo foi acompanhado o efeito da Exploração de Impacto Reduzido (EIR)
sobre aspectos relacionados ao processo reprodutivo de Jacaranda copaia (Aubl.) D. Don
(Bignoniaceae), Dipteryx odorata (Aubl.) Willd. (Leguminosae – Papilionoidae), Carapa
guianensis Aubl. (Meliaceae), Symphonia globulifera L.f. (Clusiaceae) e Bagassa guianensis
Aubl. (Moraceae) na Floresta Nacional do Tapajós, oeste do Pará. Investigou-se a
transferência do pólen na polinização natural, através da quantidade de pólen depositado na
superfície estigmática, o percentual de pistilos com pólen nos quais houve germinação do
pólen e/ou fertilização dos óvulos, bem como a composição e freqüência dos grupos de
polinizadores que visitaram as flores. Essas investigações foram realizadas em duas situações
de manejo, floresta não explorada (FNE) e floresta explorada (FE), numa área de 500 ha de
floresta ombrófila densa, buscando evidências do efeito da EIR. Foi obtida a taxa de
deposição de pólen (TDP = n° total de pólen encontrados no estigma / pelo nº total de
estigmas analisados em cada espécie) e o percentual de fertilização dos pistilos (PFP = n° de
estigmas com tubos polínicos penetrando nos óvulos / nº total de estigmas com presença de
pólen na amostra de cada espécie). Os resultados foram comparados individualmente para
cada espécie e para todas as espécies em conjunto, por meio da análise de variância ANOVA.
Os polinizadores foram observados durante o período de maior florescimento das espécies J.
copaia, D. odorata e S. globulifera, em turnos de seis horas, com observação direta do seu
comportamento e número de flores visitadas durante 15 minutos a cada hora. Foram
considerados nove grupos principais de visitantes: a) Abelhas de pequeno a médio porte; b)
Abelhas de grande porte; c) Vespídeos; d) Dípteros; e) Lepidópteros; f) Coleópteros; g)
Passeriformes; h) Beija-flores; i) Outras aves. Os resultados quanto à TDP das cinco plantas
investigadas mostraram que, de um modo geral, houve diferenças na quantidade de pólen
recebida nas flores dois ambientes da floresta (FNE e FE), sendo que em D. odorata a TDP
foi maior (F1, 11 = 4,96; p = 0,05) na floresta explorada, enquanto que para S. globulifera a
172
TDP foi maior (F1,13 = 4,59; p = 0,05) na floresta não explorada. Para J. copaia, C. guianensis
e B. guianensis não foi possível detectar diferença significativa entre a área explorada e não-
explorada quanto à TDP. Com relação ao PFP, foi verificado que na floresta explorada, de
uma maneira geral, houve um efeito negativo significativo da EIR no percentual de
fertilização das espécies após a exploração da floresta (F1,4 = 5,74; p = 0,018). As flores de J.
copaia e D. odorata receberam os mesmos visitantes, com variações em nível de espécies. S.
globulifera foi visitada por três grupos de aves. As três espécies mostraram diferenças na
composição dos grupos de visitantes florais entre as duas situações de manejo florestal, sendo
que D. odorata apresentou a variação mais acentuada na composição dos grupos de
polinizadores. As mudanças na freqüência e composição de polinizadores das espécies
estudadas podem interferir na eficiência da polinização. A remoção de árvores diminuiu a
densidade populacional das espécies e aumentou a distância média entre indivíduos
reprodutivos, o que pode ter levado a mudanças na capacidade dos vetores de polinização
realizar a transferência de pólen da mesma maneira que ocorria antes da EIR
Abstract:
This study examined the effect of Low Impact Logging (LIL) on aspects related to
the reproductive process of Jacaranda copaia (Aubl.) D. Don (Bignoniaceae), Dipteryx
odorata (Aubl.) Willd. (Leguminosae – Papilionoidae), Carapa guianensis Aubl. (Meliaceae),
Symphonia globulifera L.f. (Clusiaceae) and Bagassa guianensis Aubl. (Moraceae), at the
Tapajós National Forest, Western Amazon region. Investigations on the pollen flow from
open pollination were carried out, by means of the amount of pollen grains deposited at the
stigma surface. The percentage of pistils with pollen germination and ovule penetration, as
well as the frequency and composition of pollinators were verified. The study was conducted
under two situations, non-logged forest (NLF) and logged forest (LF), in a 500 ha plot. The
results covered the pollen deposition rate (PDR = n° of total pollen on the stigma / total n° of
stigmas analyzed per species) and the percentage of stigma fertilization (PSF = % of stigmas
with pollen tubes penetrating the ovules / total n° of stigmas with pollen per species). These
data were compared individually for each species and for all the species together, using
analysis of variance ANOVA. The pollinators were monitored during the main flowering
period of J. copaia, D. odorata and S. globulifera, in six hours schedules. Visual observation
173
of the number of visits per flower and behavior of the pollinators were accomplished each
our, for 15 min, considering nine groups: 1) Small to middle sized bees; 2) Large bees; 3)
Wasps; 4) Dipterans; 5) Lepidoterans; 6) Beetles; 7) Passeriformes; 8) Hummingbirds; 9)
Other birds. The results showed that pollen deposition at the pistil were different at the two
situations when all the species were analyzed together. Separetely, the PDR of D. odorata
increased significantly at the logged forest (F1, 11 = 4,96; p = 0,05), but S. globulifera showed
the opposite answer, with a significant decrease of PDR at the logged site (F1,13 = 4,59; p =
0,05). In the remaining species no significant difference was detected. Concerning the PSF,
there was an overall significant negative effect at the logged forest (F1,4 = 5,74; p = 0,018).
Considering the floral visitors, J. copaia and D. odorata attracted the same groups of visitors,
with differences at the species level. J. copaia, C. guianensis and B. guianensis showed
differences in the composition of the floral visitors groups in both management conditions,
strongly noticed in D. odorata. The changes in the frequency and composition of pollinator
guilds may affect the pollination efficiency. The removal of trees decreased the population
density and increased the distance of flowering trees, which may have lead to changes on the
pollinators’ ability to properly transfer the pollen grains among the remnant trees.
1. Introdução:
atividade dos polinizadores (Aizen & Feisinger, 1994; Cunningham, 2000), na deposição de
pólen compatível (Cunningham 2000; Ghazoul et al., 1998, 2000; Cascante et al., 2002), e na
produção de frutos e sementes (Aizen & Feisinger, 1994; Cascante et al., 2002; Cunningham,
2000; Fuchs et al., 2002; Ghazoul et al., 1998, 2000). Esses impactos são menos evidentes
nas plantas polinizadas por vetores de grande mobilidade, capazes de percorrer longas
distâncias e, dessa forma, manter a conectividade entre os indivíduos isolados, como mostram
os trabalho de Dick et al. (2003), Gribel & Gibbs (2002) e Herrerias-Diego et al. (2006).
Investigações sobre o impacto da EIR na reprodução de espécies arbóreas
tropicais ainda são escassas. Assim, esse estudo avaliou o efeito da EIR sobre o fluxo de
pólen e grupos de polinizadores em cinco espécies arbóreas na Floresta Nacional do Tapajós,
Estado do Pará, através da determinação de alterações na quantidade de pólen depositado na
superfície estigmática, germinação e fertilização dos óvulos, bem como na freqüência de
visitas e composição dos grupos de polinizadores que ocorreram em uma área explorada e
outra área não explorada dessa floresta.
Dessa forma, esse estudo buscou responder as seguintes perguntas:
1) A Exploração de Impacto Reduzido reduz a quantidade de pólen depositada nos
estigmas de Jacaranda copaia, Dipteryx odorata, Carapa guianensis, Symphonia globulifera
e Bagassa guianensis?
2) A Exploração de Impacto Reduzido altera a composição e a freqüência dos
grupos de agentes polinizadores de Jacaranda copaia, Dipteryx odorata e Symphonia
globulifera?
176
2. Materiais e Métodos
Os estudos foram realizados em uma área de 500 hectares que foi denominada
Parcela de Estudo Intensivo (PEI) ou Intensive Study Plot (ISP), uma vez que nesse local
foram realizados estudos sobre ecologia e genética de Bagassa guianensis Aubl. Moraceae
(tatajuba), Carapa guianensis Aubl. Meliaceae (andiroba), Dipteryx odorata (Aubl.) Willd.
Leguminosae – Papilionoidae (cumaru), Hymenaea courbaril L. Leguminosae –
Caesalpinioideae (jatobá), Jacaranda copaia (Aubl.) D. Don Bignoniaceae (parapará),
Manilkara huberi (Ducke) Standley Sapotaceae (maçaranduba) e Symphonia globulifera L.f.
Clusiaceae (anani), e denominadas espécies-modelo, no âmbito do projeto Dendrogene –
Conservação Genética em Florestas Manejadas na Amazônia, coordenado pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, Amazônia Oriental) em convênio com o
Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido (DFID).
Nessa parcela, foi realizado um inventário florestal incluindo todas as espécies
arbóreas com importância madeireira igual ou acima de 45 cm de Diâmetro à Altura do Peito
(DAP), sendo que para as sete espécies-modelo do projeto Dendrogene, o inventário incluiu
177
2001, para indivíduos com DAP ≥ 20 cm, foram encontrados os seguintes resultados: C.
guianensis = 6,14 indivíduos/ha; J. copaia = 1,8 indivíduos/ha; S. globulifera = 0,81
indivíduos/ha; D. odorata = 0,13 indivíduos/ha; e, B. guianensis = 0,34 indivíduos/ha (J. C.
Lopes, dados não publicados).
A caracterização detalhada dos processos reprodutivos das espécies acima
relacionadas, incluindo a fenologia, biologia floral, sistema reprodutivo e agentes
polinizadores consta do Capítulo 2 dessa tese.
Jacaranda copaia: nove árvores na floresta não explorada (350 pistilos) e sete árvores na
floresta explorada (450 pistilos);
Dipteryx odorata: sete árvores na floresta não explorada (330 pistilos) e nove árvores na
floresta explorada (390 pistilos);
Carapa guianensis: nove árvores na floresta não explorada (232 pistilos) e seis árvores na
floresta explorada (199 pistilos);
Symphonia globulifera: nove árvores na floresta não explorada (500 pistilos) e seis
árvores na floresta explorada (300 pistilos);
Bagassa guianensis: seis árvores na floresta não explorada (460 pistilos) e sete árvores na
floresta explorada (600 pistilos);
As coletas das flores foram feitas de forma aleatória no campo, durante o pico de
florescimento de cada espécie. Para alcançar as inflorescências, foi utilizada a técnica de
alpinismo arbóreo (Single Rope Technique – SRT), como descrito por Perry (1978). Após as
coletas, foram preservadas em etanol a 70% somente as flores senescentes, com pelo menos
um dia após a antese, para minimizar as chances de tempo insuficiente para ter havido a
deposição de pólen. O tamanho das amostras variou de acordo com a espécie, em função da
disponibilidade de flores e boas condições de acesso à copa das árvores em floração.
179
3. Resultados:
pólen na superfície estigmática das flores coletadas na área de floresta não explorada (Tabela
1). Já para S. globulifera, ocorreu o inverso, a TDP foi maior (F1,13 = 4,59; p = 0,05) na
floresta não explorada, como registrado na tabela 3, e detectado na contagem do pólen nos
estigmas das flores coletadas nesse ambiente (Tabela 2, Fig. 1).
48 FNE FE
40
% de fertilização
32
24
16
0
Jc Do Cg Sg Bg
80
% de visitas
60
40
20
0
abelha gr abelha pq vespídeos dípteros lepidópteros coleópteros beija-flores
80%
60%
40%
20%
0%
07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00
Figura 5. Distribuição da freqüência de visitas dos sete grupos de visitantes florais em flores
de Jacaranda copaia (Bignoniaceae) ao longo do dia, expressa em percentuais de
visitas por grupo de visitantes em cada horário, na Floresta Nacional do Tapajós,
PA. (a) Floresta não explorada; (b) Floresta explorada.
187
40
% de visitas
30
20
10
0
abelha gr abelha pq vespídeos dípteros lepidópteros coleópteros beija-flores
80%
60%
40%
20%
0%
05:00
06:00
07:00
08:00
09:00
10:00
11:00
12:00
13:00
14:00
15:00
16:00
17:00
05:00
06:00
07:00
08:00
09:00
10:00
11:00
12:00
13:00
14:00
15:00
16:00
17:00
Figura 7. Distribuição da freqüência de visitas dos sete grupos de visitantes florais em flores
de Dipteryx odorata (Leg-Pap.) ao longo do dia, expressa em percentuais de visitas
por grupo de visitantes em cada horário, na Floresta Nacional do Tapajós, PA. (a)
Floresta não explorada; (b) Floresta explorada.
Figura 8. Percentual de 70
não explorada explorada
(Clusiaceae) em dois 40
ambientes da Floresta 30
Nacional do Tapajós,
20
PA, floresta não
explorada e floresta 10
explorada. 0
passeriformes beija-flores outras aves
189
80%
60%
40%
20%
0% a
05:00
06:00
07:00
08:00
09:00
10:00
11:00
12:00
13:00
14:00
15:00
16:00
17:00
05:00
06:00
07:00
08:00
09:00
10:00
11:00
12:00
13:00
14:00
15:00
16:00
17:00
Figura 9. Distribuição da freqüência de visitas dos sete grupos de visitantes florais em flores
de Symphonia globulifera (Clusiaceae.) ao longo do dia, expressa em percentuais de
visitas por grupo de visitantes em cada horário, na Floresta Nacional do Tapajós,
PA. (a) Floresta não explorada; (b) Floresta explorada.
190
4. Discussão
impacto demográfico mensurável nas populações vegetais, uma vez que espécies diferentes de
polinizadores, ainda que dentro da mesma guilda, transportam quantidades diferentes de pólen
(Thomson, 2001).
Para as demais espécies não houve diferença significativa nas TDPs entre as duas
áreas de floresta (FNE e FE), o que pode estar relacionado à densidade populacional e alcance
de vôo dos polinizadores. J. copaia tem densidade média e é polinizada por abelhas solitárias,
Centris e Euglossa, principalmente. Os Euglossini costumam fazer vôos de longa distância,
com raio de ação de vários quilômetros (Janzen, 1971; Janzen et al., 1982), dessa forma o
fluxo de pólen em árvores remanescentes de J. copaia após a EIR continuaria sendo feito
satisfatoriamente. C. guianensis é polinizada por microlepidópteros e meliponinas, que têm
uma mobilidade mais restrita do que as abelhas que polinizam J. copaia, abelhas nativas de
pequeno porte, como os meliponíneos, têm um raio de ação muito menor, variando de 1,5 a
1,2 km para as espécies Cephalotrigona capitata e Melipona panamica, respectivamente
(Roubik & Aluja, 1983). Entretanto a elevada densidade populacional apresentada por C.
guianensis compensaria a reduzida mobilidade dos seus polinizadores, assegurando a
manutenção do fluxo de pólen entre os indivíduos remanescentes após a intervenção florestal.
No caso de B. guianensis, apesar de ser uma espécie dióica com fortes evidências
de anemofilia e baixa densidade populacional, não foi detectado nenhum efeito negativo da
EIR sobre a taxa de deposição de pólen. Analisando o sistema de cruzamento de B.
guianensis, Silva (2005) encontrou uma distância média de dispersão de pólen de 850 m.
Considerando-se ainda que a espécie ocupa o estrato emergente do dossel da floresta, o
transporte do pólen à longa distância mediado pelo vento minimizaria o efeito negativo da
remoção de árvores no fluxo de pólen.
O PFP apresentou diferença significativa entre as duas situações de manejo,
quando as espécies foram analisadas em conjunto, evidenciando um efeito negativo da EIR. A
fertilização está condicionada à presença de pólen compatível no estigma e sua germinação,
sendo um indicativo da formação inicial de frutos. Foi verificado que todas as espécies, com
exceção de B. guianensis foram afetadas de maneira significativa pela EIR. Observando-se
que não houve diferença na TDP entre as duas situações, mas houve uma redução
significativa na fertilização dos pistilos para J. copaia e D. odorata, podemos inferir que
houve um aumento na deposição de auto-pólen nos indivíduos da área explorada, situação
também observada em Shorea surinamensis por Ghazoul & McLeish (2001), na qual os
polinizadores visitavam as árvores isoladas e seguiam diretamente para a colônia, ao invés de
193
5. Considerações finais
6. Referências Bibliográficas
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Zar, J. H. 1998. Biostatistical Analysis (4th ed.). Prentice-Hall, Inc., Englewood Cliffs, New
Jersey.
7. Anexos:
Tabela 2. Distribuição da visitas dos sete grupos de polinizadores de Dipteryx odorata (Leg –
Papilionoidae) no período das 05:00 h às 17:00 h em dois ambientes da FLONA do
Tapajós, PA: floresta não explorada (FNE) e floresta explorada (FE)*.
O padrão fenológico anual foi encontrado em três espécies estudadas (J. copaia, D.
odorata e B. guianensis), com a ocorrência sincronizada de florescimento na população
em J. copaia e B. guianensis, e assincronizada em D. odorata. Duas espécies
floresceram pelo menos duas vezes ao ano, seja de forma assincrônica na população
(Carapa guianensis) ou sincronizada (Symphonia globulifera). Os padrões fenológicos
têm relação estreita com a dinâmica de forrageamento dos polinizadores e as interações
que possam advir entre esses organismos pela competição por recursos florais. A
duração do florescimento é importante no estabelecimento de áreas de forrageamento
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manejo pode e deve dar embasamento para avaliar a susceptibilidade dessas espécies quanto à
exploração florestal, visando a manutenção de suas capacidades reprodutivas.
Considerando que a maioria das espécies é polinizada por vetores bióticos, sendo
que as abelhas constituíram o grupo mais freqüente dentre os polinizadores, a proteção de
seus habitats, no âmbito das áreas remanescentes de florestas manejadas é vital para a saúde
reprodutiva do estrato arbóreo das florestas tropicais. Do mesmo modo, é importante abrir
buscar alternativas viáveis para assegurar condições favoráveis a sua nidificação de forma que
durante o processo da retirada de madeira, parte das árvores que potencialmente abrigariam
colônias de abelhas seja preservada, como forma de garantir a presença desses polinizadores
nas áreas remanescentes de floresta e assegurando assim a manutenção da diversidade
genética da população arbórea.
Esses resultados, embora para poucas espécies, mostram uma tendência geral de
impacto negativo da EIR sobre o fluxo de pólen, com reflexos na fertilização dos pistilos. As
práticas de EIR afetaram o sucesso reprodutivo das espécies estudadas provavelmente devido
às alterações na eficiência do transporte de pólen inter-árvores mediado pelos polinizadores
presentes na área explorada.
As cinco espécies investigadas têm representantes nos três grupos ecológicos
principais das florestas tropicais: pioneiras (J. copaia e B. guianensis), clímax de crescimento
rápido ou demandantes de luz (D. odorata e C. guianensis) clímax de crescimento lento ou
tolerantes à sombra (S. globulifera). O processo reprodutivo é o primeiro passo no
estabelecimento das plantas numa comunidade vegetal, e qualquer interferência em qualquer
das etapas desse processo trará conseqüências negativas às gerações futuras. Aspectos como a
regeneração de clareiras e ciclos de corte que atendam as necessidades da floresta se
recompor em termos de estrutura e composição florística, devem ser analisados sob a ótica
dos processos biológicos que regulam a saúde reprodutiva dos estoques remanescentes de
árvores.
A Lei n° 4.776/05 que regulamenta a gestão de florestas públicas, sancionada pela
Presidência da República em março desse ano, prevê o uso das florestas públicas para o
Manejo Florestal Sustentável - MFS, e, neste contexto, a real integração entre as informações
biológicas e as boas práticas de manejo florestal constitui um grande desafio a ser alcançado,
face à pressão humana crescente, resultando em taxas alarmantes de fragmentação do habitat.
A preservação dos serviços ambientais da Amazônia sejam esses os recursos genéticos,
seqüestro de carbono, ciclagem de nutrientes, regulação do clima e de gases, prevenção da
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