Esteadmiravelmundolouco
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MUNDO LOUCO
Ruth Rocha
Ilustrações Walter Ono
PROJETO DE LEITURA
Elaboração:
Carolina Nóbrega
Coordenação:
Maria José Nóbrega
SOBRE A AUTORA
Ruth Rocha nasceu em São Paulo, capital, onde sempre viveu. É graduada em
Sociologia e Política, pela Universidade de São Paulo, e pós-graduada em Orien-
tação Educacional, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
nanzi
Antes de ter revelado seu incomparável talento como escritora de livros infantis,
© Iara Ve
2
texto, ora construindo metáforas em imagem, como a do menino Enuncia essa fala ao se deparar com um número grande de náu-
que aos poucos se transforma em palhaço. fragos de um navio que surge em sua ilha. Foi inspirado nessa fala
O desfecho do conto alude à ditadura militar quando narra que, em 1932, o escritor inglês Aldous Huxley deu a seu livro o
que Generalino Caradura ocupou o lugar do presidente, que estava nome de Admirável mundo novo. Bastante conhecido e lido por
gripado, e não quis mais sair. Termina com a narradora contando diversas gerações, o livro trata de um futuro hipotético no qual as
que vai jogar futebol pelo sobrinho, enquanto ele vai provar uma pessoas são preconcebidas biologicamente e condicionadas psico-
roupa para ela. O que deixa claro que a situação não mudou e que logicamente a viverem em harmonia com as leis e regras sociais,
os absurdos seguem acontecendo. dentro de uma sociedade organizada em castas.
Ruth Rocha, ao escolher como título de seu livro Este admi-
rável mundo louco, está claramente fazendo referência ao famo-
3. “Quando a escola é de vidro”
so livro de Aldous Huxley. Assim como ele escreve seu livro tendo
“Naquele tempo eu até achava natural que as coisas fossem como pano de fundo a história de seu país, a Inglaterra, Ruth Rocha
daquele jeito. Eu nem desconfiava que existissem lugares muito escreve num Brasil pós-ditadura militar, e seus contos também re-
diferentes...” A realidade à qual o narrador se refere nessas frases é fletem a atmosfera do período.
a de sua escola, em que os alunos eram acondicionados em vidros
A ideia recorrente de que um elemento diferente pode colocar
durante as aulas.
em questão toda uma realidade estabelecida remete ao mito da
Mais do que criar uma realidade fantástica, a autora proble- caverna, de Platão, em que homens presos se acostumam a ver as
matiza aqui questões do autoritarismo presente nas escolas, mas sombras do mundo real e achar que isso é a realidade, até que um
também o clima da ditadura militar. Ruth faz críticas duras à escola deles sai, confronta-se com o mundo exterior à caverna e percebe
como um espaço de ausência de liberdade, no qual se tenta forma- que até então vivera uma realidade falsa.
tar os estudantes ignorando sua individualidade. Quando a autora introduz o pronome “este” no título, apon-
O recreio e as aulas de educação física são apresentados ta claramente para a atualidade, para o nosso próprio mundo. Na
como os únicos momentos de menor controle. Entretanto, evi- capa, o demonstrativo “este” parece ter sido introduzido como um
denciam que, por se tratar de momentos curtos e espaçados, os lembrete. Substituir “novo” por “louco” também reforça a ideia de
estudantes muitas vezes se tornam excessivamente excitados, não ser outro, mas o nosso mundo, o que implica a avaliação de
agressivos ou se isolam, incapazes de romper os moldes impostos nossa realidade: ela é incoerente, sem lógica, caótica.
a eles; alguns se mantêm dentro dos vidros até mesmo em suas
próprias casas.
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
As coisas começam a mudar com a chegada de alguém di-
Antes da leitura
ferente, Firuli, um menino pobre. Não havia vidro para colocá-Io.
1. Pergunte aos alunos a respeito dos aparatos tecnológicos
Ele era melhor do que os outros em muitas coisas, o que deixava
que têm ou gostariam de ter – celular, iPod, pendrive, te-
os professores incomodados e os colegas invejosos. Aos poucos,
levisão, video game, computador etc. Questione-os sobre
alguns começam a não querer mais permanecer nos vidros, até o
quanto tempo do dia passam utilizando esses objetos e se
dia em que provocam uma bagunça e os quebram todos.
conseguem imaginar sua vida sem eles.
Muito imersos naquela realidade, os alunos haviam perdido a
2. Depois, comente um pouco o quão recentes são essas in-
capacidade de enxergar outras possibilidades. O contato com al-
venções e como as pessoas passaram muitos anos vivendo
guém diferente, em outra situação, os fez, aos poucos, perceber
sem precisar desses aparelhos.
que as coisas poderiam ocorrer de outra maneira.
3. Desafie os alunos a produzirem um desenho imaginando
A ilustração brinca com os dois extremos da história: estar como será o mundo no futuro, daqui a muitos e muitos
preso – as crianças parecem sufocadas e sem movimento – e anos.
estar solto – as crianças se mostram extremamente expansivas
4. Leia para a turma as três primeiras frases da quarta capa
e alongadas.
do livro e convide-os a imaginar como seria se essas coisas
Ao final, o menino conta que começaram a surgir muitas “Es- acontecessem ou se o mundo fosse assim.
colas Experimentais”, deixando claro que os rumos de sua escola
5. Pergunte aos alunos o que entendem por liberdade, em
se repetiram em vários outros lugares.
que momentos se sentem livres ou presos, como se sentem
quando recebem ou devem cumprir ordens, quando acham
MAIS ALGUNS COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA que elas são justas ou não.
“Admirável mundo novo! Pra conter tanta gente assim!” Esta 6. Depois, debruce-se um pouco sobre a ideia da diferença:
é uma fala de Miranda, personagem da peça A tempestade, de pergunte a eles se convivem com pessoas de universos di-
William Shakespeare. Ela havia passado toda a sua vida solitá- ferentes do deles e se conseguem imaginar como deve ser
ria numa ilha, convivendo apenas com o pai e mais um homem. viver em uma realidade muito diferente.
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Durante a leitura 2. Outro filme interessante que coloca em questão a realidade
1. Peça aos alunos que prestem bastante atenção às situações aparente e trabalha com a ideia do mito da caverna é O
narradas. Pergunte se acham que elas correspondem a al- Show de Truman, dirigido por Peter Weir, que se encontra
guma coisa da vida deles ou se são apenas fantasia. em DVD, distribuído pela Paramount Pictures.
2. Enquanto leem o livro, proponha que selecionem notícias 3. Com relação ao tema do diferente e do contato com se-
e reportagens publicadas em jornais ou revistas que se re- res de outros planetas, dois filmes interessantes são: Lilo &
lacionem com os eventos narrados ou com os temas abor- Stitch, da Disney, em DVD, distribuído pela Buena Vista Home
dados no livro. Entertainment, e E.T. – o extraterrestre, de Steven Spielberg,
em DVD, distribuído pela Universal Pictures Brasil Ltda.
3. Peça para assinalarem passagens em que uma pessoa de
uma procedência diferente consegue intervir em uma reali-
dade que se apresenta à maioria. • Nas ondas do som
4. Chame a atenção para o fato de que os nomes dos perso- 1. Pode-se ouvir com os alunos a canção Admirável gado
nagens do livro aludem a outras palavras. Peça para ano- novo, de Zé Ramalho, cujo título também claramente reme-
tarem esses nomes e pensarem nos efeitos de sentido que te ao do livro de Aldous Huxley. A letra explora a imagem
Ruth Rocha pretendeu provocar quando as nomeou assim. de uma massa humana obrigada a participar de uma engre-
nagem, como gado.
Depois da leitura 2. Outra canção que se refere ao título do livro de Huxley é
Admirável chip novo, de Pitty, em cuja letra se descreve
1. Peça para os alunos trazerem as matérias de jornais ou de
um homem robotizado que desempenha as funções de um
revistas que separaram e converse com eles sobre as ana-
computador.
logias que estabeleceram entre elas e o livro. Organize-os
em grupos de acordo com os temas das matérias coletadas 3. A canção 2001, composição de Tom Zé e Rita Lee, também
e peça que produzam cartazes com as matérias e palavras- é interessante por revelar como o universo do mundo tec-
-chave que indiquem os assuntos abordados. nológico já é parte da vida das pessoas.
2. Discuta com a turma as reflexões a respeito dos nomes das
personagens e ajude os alunos a descrever cada uma delas a LEIA MAIS...
partir do significado das palavras com que foram nomeadas. • Da mesma autora
Por exemplo, Sintomático de Aquino. Além de a primeira pa-
No tempo em que a televisão mandava no Carlinhos – São Paulo:
lavra transformar um adjetivo em nome próprio, o sobreno-
FTD, 2000.
me faz referência a Tomás de Aquino, considerado o maior
teórico e filósofo católico. Esse recurso também foi utilizado Uma história de rabos presos – São Paulo: Salamandra, 2004.
em Admirável mundo novo, no qual duas personagens têm O reizinho mandão – São Paulo: Quinteto Editorial, 1997.
nomes que remetem a figuras conhecidas: Bernard Marx – O rei que não sabia de nada – São Paulo: Salamandra, 2003.
referência a Karl Marx, um dos precursores do socialismo
científico – e Lenina Crowne – referência a Lênin, líder dos
primeiros anos da Rússia comunista.
• Sobre o mesmo gênero
O menino da lua, de Ziraldo – São Paulo: Melhoramentos, 2006.
3. Proponha aos alunos que escrevam uma carta para um alie-
nígena, tentando explicar para ele como é a sua própria Frankenstein, de Mary Shelley (recontado por Ruy Castro) – São
vida. Lembre-os de que precisam levar em consideração Paulo: Cia. das Letras, 1994.
que o tal alienígena não sabe nada sobre o nosso mundo.
Estimule-os a colocar na carta coisas que consideram erra- • Leitura desafio
das e que deveriam ser diferentes.
“Manual de instruções”, conto que integra o livro Histórias de
Finalizado o trabalho, troque as cartas entre eles para que
Cronópios e de Famas, de Julio Cortázar, editado pela Civilização
escrevam a resposta do alienígena à carta elaborada por
Brasileira, no qual o autor dá instruções para se fazer coisas coti-
um dos colegas. Para tanto, é preciso imaginar como é o
dianas, como subir escada, dar corda no relógio e chorar, provoca
mundo do alienígena e de que jeito conseguiria explicá-lo.
um efeito semelhante ao do primeiro conto do livro de Ruth Rocha.
Outro conto interessante, também de Cortázar, é “A autoes-
• Nas telas do cinema trada do sul”, de Todos os fogos o fogo, também editado pela
1. Para estimular a imaginação acerca do futuro, um bom filme Civilização Brasileira, no qual o autor desenvolve uma ideia similar
a se assistir com a turma é Matrix, de 1999, direção de Andy à do conto “Uns pelos outros”: um congestionamento que paralisa
e Larry Wachowski, em DVD, distribuído pela Warner Bros. uma região.