Improvisação Musical
Improvisação Musical
Improvisação Musical
AULA 1
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Baseado nas discussões
do filósofo da música Theodore Gracyk, Elliott e Silverman (2015)
afirmam a
importância de se pensar a interdependência entre fazer e escutar música na
improvisação. Os autores também citam a interrelação constante entre os músicos
indianos
Ravi Shankar e Ali Akbar Khan e suas trocas musicais contínuas em
improvisações musicais.
Raga é como são chamados os
“modos” de se construir uma prática musical nas tradições
e atividades musicais
indianas. Trata-se de uma frase musical de maior ou menor proporção
que dá
origem a uma prática musical por meio de uma grande flexibilidade para improvisações.
Busque escutar algum raga indiano e procure observar elementos da
relação entre os músicos
e elementos que indiquem a improvisação nesta prática
musical.
Saiba mais
Coriúm Aharonián
(2011) organizou o livro Musica/Musicologia y colonialismo,
disponibilizado
gratuitamente, que indica a presença da improvisação musical como atividade
frequente nas práticas dos povos tradicionais na América Latina. Além disso, os
textos
debatem as dificuldades de uma historiografia da música na América
Latina devido a olhares
muitas vezes excludentes e pela falta de registros
documentais, como no caso da música
tradicional nas Américas antes das
colonizações.
Saiba mais
A música de
gamelão é uma prática que se utiliza de muitos instrumentos de alturas
definidas que são geralmente percutidos e outros instrumentos musicais
diversos. Trata-se de
uma prática muito comum nas ilhas de Java e Bali na
Indonésia. José Miguel Wisnik (1989)
destaca que essa prática musical está
relacionada com uma circularidade na execução a partir
de uma repetição
constante de ideias musicais e a proposta de variações melódicas e rítmicas
que
acabam abrindo espaço para práticas de improvisação articuladas coletivamente pelos
músicos.
Atividade prática
Como foi destacado, a
exploração sonora está presente em toda a nossa vida. Se
trabalhamos com a
educação musical, por que não fornecer espaços para que a exploração de
diferentes fontes sonoras seja possível?
Como atividade
prática, recomendamos que o professor selecione uma série de objetos
do
cotidiano, tais como tampinhas, pratos de metal, cabides, sapatos etc. Com uma
turma
com idades apropriadas ao grau de dificuldade que se pretende na
atividade, peça para que
um por vez selecione um objeto e mostre para os
colegas como realizar sons diferentes. Em
um segundo momento, cada aluno pode
selecionar um objeto e o professor orienta para uma
atividade de “perguntas e
respostas” por meio de sons diferentes produzidos com os objetos
selecionados.
A imprevisibilidade abre margem para sons simultâneos e inesperados e linhas
de
raciocínio sonoro podem começar a ser exploradas por meio de um exercício de
improvisação coletiva.
Atividade prática
Esta atividade se
fundamenta principalmente na improvisação musical estruturada de
maneira a
considerar a construção de melodias.
Com crianças, podemos
propor a improvisação melódica por meio de um objeto como
uma bola pequena ou
outro material. Em um primeiro momento, uma criança segura o objeto e
busca
desenhar no espaço um movimento melódico. Talvez seja interessante estabelecer
alguns parâmetros, por exemplo, os sons graves estão mais embaixo no plano
espacial. A
criança deve ser orientada a realizar uma melodia e a executar.
Outros elementos expressivos
podem ser adicionados, por exemplo, cantar
“triste”, “cansado” etc. Em um segundo momento,
uma criança realiza a melodia
no plano espacial e todo o grupo busca reproduzi-la de formas
individuais, mas
articuladas no coletivo a partir das ideias criadas naquele momento pelo
colega
que está conduzido a atividade.
Figura
2 – Possibilidades de traços melódicos
Com crianças
maiores ou adultos, pode-se adaptar a mesma atividade. Recomenda-se a
utilização do manossolfa, que é um modelo de regência gestual
desenvolvido por Zoltán
Kodály (Silva, 2012) que auxilia na indicação gestual
das notas a serem executadas (a seguir).
Tendo o gesto de cada nota, os alunos
podem criar frases melódicas como indicadas
anteriormente. Outros graus de
complexidade podem ser adicionados por meio de
proposições diversas sobre
expressividade ou técnica (duas vozes simultâneas). Em ambas as
atividades
descritas, a criação/improvisação ocorre no momento em que é executada, a
melodia é construída por meio de uma relação constante entre as pessoas
envolvidas.
Figura 3 – Manossolfa
NA PRÁTICA
Para esta aula, vamos propor uma prática para orientar nossos
primeiros caminhos em
atividades de improvisação na educação musical. Essa prática
está fundamentada na improvisação
rítmico-corporal. A ideia de trazer o ritmo e
o corpo parte do entendimento de que estes elementos
costumam ser articulados
de alguma forma nas atividades de improvisação musical em práticas
específicas
e na educação musical.
Para o primeiro momento, vamos pensar em uma atividade que parte
de uma base rítmica
realizada de maneira corporal. Sugerimos que a base rítmica
seja adequada em grau de
complexidade para o público-alvo e suas respectivas
habilidades. A seguir temos uma sugestão de
uma base rítmica realizada com o
corpo:
Figura 4 – Modelo de
percussão rítmico-corporal
FINALIZANDO
Recapitulando, nesta aula nós estudamos alguns aspectos teórico‑conceituais
sobre a
improvisação musical e buscamos delinear brevemente algumas práticas de
improvisação na
história da música ocidental. Outro tópico estudado foi a
improvisação como exploração sonora,
tocar, cantar e criar, principalmente com
o foco nas fontes sonoras, sua manipulação e os
contextos sociais.
Nos últimos dois temas desta aula, também vimos a improvisação
na aprendizagem musical e
articulamos ideias sobre sua utilização como
ferramenta pedagógica. Além disso, destacamos
algumas curiosidades, breves
atividades práticas-reflexivas e uma atividade final de improvisação
rítmico‑corporal.
REFERÊNCIAS
AHARONIÁN, C. (Coord.). Musica/Musicologia y colonialismo.
Montevidéu: Centro Nacional
de Documentación Musical Lauro Ayestarán, 2011.
DICIONÁRIO GROVE DE MÚSICA. Rio de Janeiro:
Zahar, 1994.
ELLIOTT, D. J.; SILVERMAN, M.
Music matters: a philosophy of music education. 2. ed. New
York: Oxford
Press, 2015.
GROUT, D. J.; PALISCA, C. V. História da
música ocidental. 5. ed. Lisboa: Gradiva, 2007.
MICHELS, U. Atlas de música. Madrid: Alianza,
1985. v. 1.
ROMANELLI, G. G. B. Planejamento de aulas de
estágio. In: MATEIRO, T.; SOUZA, J. (Orgs.).
Práticas de ensinar música. Porto
Alegre, Sulina, 2008, p. 130-142.
_____. Antes de falar as crianças cantam!
Considerações sobre o ensino de música na
educação infantil. Rev. Teoria e
Prática da Educação, v. 17, n.3, p. 61-71, 2014.
SILVA, W. M. Zoltán Kodály: alfabetização e
habilidades musicais. In: MATEIRO, T.; ILARI, B.
(Org.). Pedagogias em educação
musical. Curitiba: InterSaberes, 2012. p. 55-87.
VELOSO, F. D. D. Improvisação e o ensino de
música: aportes à prática docente. Curitiba:
InterSaberes, 2020.
WISNIK, J. M. O som e o sentido: uma outra
história das músicas. São Paulo: Companhia das
Letras, 1989.